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FORMAS DE RESOLUÇÃO

DE CONFLITOS

Coordenação: Lucas Andrade


Organizadora: Bárbara Bela
FORMAS DE RESOLUÇÃO
DE CONFLITOS

Coordenação: Lucas Andrade


Organizadora: Bárbara Bela

Belo Horizonte
1ª edição
2020

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Todos direitos reservados
Autores

Ana Cristina Magalhães Cerqueira


Psicóloga. Pós graduada em Sabrina Nagib de Sales Borges
“Educação para o transito”. Advogada não adversarial e
Advogada. Pós-graduada em Direito consultora jurídica. Mediadora
do Trabalho e Processual Trabalho. de conflitos no âmbito judicial
Membro do corpo clínico da Rede credenciada pelo TJMG, e mediadora
Mater Dei de Saúde. de conflitos no âmbito privado
certificada pelo ICFML- Instituto
Cláudia Murad Valadares de Certificação de Mediadores
Lusófonos. Mestranda em Gestão da
Isabel Moura Educação Superior pela Universidad
Advogada, jornalista, educadora, de Ciencias Empresariales y Sociales
arteterapeuta e facilitadora em (UCES), em Buenos Aires/Argentina,
Comunicação Não Violenta. acreditado pelo CONEAU, Resolução
Nº 332/11. Membro da Comissão de
Juliana Lima Mediação e Conciliação da OAB- MG.
Advogada e Secretária Geral da Docente credenciada pela PMMG
CAMINAS. para a disciplina Noções de Direito.
Membro do Grupo de Estudos de
Luana Figueiredo Juncal Mediação Empresarial Privada do
Graduada em Direito pela UFMG. Comitê Brasileiro de Arbitragem-
Mestranda em Ciência Política pela GEMEP | CBAr.
UFMG. Especialista em Direito de
Empresa pela PUC Minas. Oficiala Tiago Junqueira Nolasco
do Cartório de Registro Civil e Advogado. Mediador. Mestre em
Notas de Diogo de Vasconcelos-MG. Ciências Jurídico-Políticas com
Mediadora certificada pelo ICFML. menção em Direito Constitucional.
Especialista em Direito Público.
Luiz Felipe Calábria Lopes
Graduado em Direito pela
Universidade Federal de Minas
Gerais (2008). Mestrando em Direito
pela Universidade Federal de Minas
Gerais. Advogado de Lima Netto,
Carvalho, Abreu, Mayrink Sociedade
de Advogados (Belo Horizonte), com
atuação em contencioso judicial,
arbitragem e mediação. Capacitado
para atuar como mediador judicial
ou extrajudicial.
• 4

SUMÁRIO
Prefácio 

AULA 1 – Formas de Resolução de Conflitos

AULA 2 – As questões jurídicas nas formas de


resolução de conflitos

AULA 3 – Como acontece a jurisdição e qual a


sua função

Bibliografia 

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PREFÁCIO
O Programa Direito na Escola, iniciativa de
professores de Direito e advogados voluntários
de Minas Gerais, vem promovendo há muitos
anos o ensino da ciência do Direito na educação
básica, com o objetivo de promover a justiça,
a cidadania, a educação ambiental, os direitos
humanos e a prevenção da violência.

Com o intuito de promover a uniformidade


dos conteúdos abordados por membros
e professores do programa de todo país,
desenvolvemos a série de livros de Direito: “para
o ensino básico”. O conteúdo está disposto em
formato de aulas para facilitar a atuação dos
profissionais e enriquecer as discussões em sala.

A seguir estão apresentadas três aulas contendo


noções de Resolução de Conflitos. Além do
material de estudo, foram propostos também,
questionamentos e curiosidades pertinentes
sobre tema, a fim de proporcionar ao professor
ferramentas que contribuam para debates
interessantes com os alunos.

O objetivo é desenvolver aulas mais


participativas, em uma linguagem fácil e
acessível, desburocratizando o aprendizado de
um assunto que possui importante valor para o
desenvolvimento da cidadania.

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• 6

Aula 1
Formas de Resolução de Conflitos
Objetivo: Esclarecer os termos e definições da resolução de
conflitos presente no Direito, bem como revelar de modo
acessível o conjunto de técnicas e informações presentes na
temática. Com isso, busca-se através de uma contextualização
teórica promover uma reflexão acerca do assunto e possibilitar
uma mudança comportamental de convívio em sociedade.

1 - O que é conflito
(Ana Cristina M. Cerqueira e Cláudia Valadares)

Existem várias definições para a palavra conflito. Este termo


define uma situação que envolve um problema ou uma
dificuldade, geralmente, entre duas ou mais pessoas, cujos
interesses são opostos. Uma das características do conflito é a
insatisfação entre as pessoas, que podem ter diversas origens:
competição pelo poder, divergência de interesses, divisão de
recursos escassos e desacordo de ponto de vista.
No entanto o surgimento do conflito também
pode ser visto como a oportunidade de as pessoas
resolverem questões que estão há muito tempo
prejudicando o relacionamento. Se o conflito
não surge nunca, as pessoas acabam por se
distanciarem e amizades são perdidas de forma
definitiva.

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Os conflitos sempre são ruins?

É importante entender que os conflitos


fazem parte da natureza humana e que
VOCÊ
nem sempre são negativos, podendo SABIA?
ter efeitos positivos, dependendo do
modo como são geridos. Eles podem,
por exemplo, conduzir a uma fonte
de criatividade, de mudança e de
produtividade, bem como ser um fator
motivacional na produção construtiva
de resolução de conflitos.

2 -Comunicação não violenta - CNV


(Isabel Moura e Sabrina Nagib de Sales Borges)
“A CNV se baseia em habilidades de linguagem e comunicação que
fortalecem a capacidade de continuarmos humanos, mesmo em
condições adversas. Ela não tem nada de novo: tudo que foi
integrado à CNV já era conhecido havia séculos.”
(Marshall Rosenberg)

2.1- Origem
Nos anos setenta, o psicólogo americano Dr. Marshall Rosenberg
desenvolveu o modelo da Comunicação Não-Violenta (CNV) como
resultado de sua especialização em psicologia social, de seus
estudos de religião comparada e de suas vivências pessoais. A CNV
é um processo de linguagem que utiliza ferramentas que podem
transformar potenciais conflitos em diálogos pacíficos, criando
conexões de autêntica compaixão. As técnicas sistematizadas neste
processo de entendimento envolvem dinâmicas e fatores
que facilitam a harmonização das necessidades entre as
pessoas de maneira empática.

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2.2 - Princípios da comunicação não violenta

A empatia é elemento fundamental para aprender uma linguagem


que nos permita construir uma relação de confiança com o próximo,
uma linguagem que aumente a disposição de cooperar e apoiar um
ao outro. Grande parte dos problemas entre as pessoas poderia ser
evitada apenas por palavras.
Para mantermos nossa capacidade de sermos compassivos é
essencial a mudança de foco, deixar de julgar nossos erros e os erros
alheios e se importar com as necessidades de todos.
Tudo que se faz na vida tem uma necessidade por trás. Tudo que a
gente faz ou diz tem como objetivo atender nossas necessidades ou
fazer com que estas sejam atendidas por outras pessoas. Quando
temos fome procuramos comida. Quando estamos cansados, vamos
dormir. E algumas necessidades precisam do apoio de outras
pessoas. Quando nós nos sentimos sozinhos, queremos a companhia
de outras pessoas. Quando queremos participar, contamos algo
ou cooperamos. A intenção da CNV é (re)criar uma conexão entre
pessoas, para que todas as necessidades possam ser atendidas sem
violência.
A CNV começa pela autorreflexão e possui quatro passos básicos:

1. Observação 2. Sentimento
O que foi dito ou feito? O que estou sentindo?
Sem avaliações nem Sem avaliações nem
interpretações ou interpretações sobre o
julgamentos; outro;

3.Necessidades 4.Pedido/Estratégia
De que preciso? Sem O que poderia acontecer
pensamentos relacionados para melhorar a minha
a ações concretas ou a vida? Pedir/perguntar em
certas pessoas; linguagem clara, positiva,
falando de ações concretas
sem fazer exigências.

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Diferenciar necessidades e valores. Existem expressões


que são habitualmente usadas para descrever sentimentos.
Entretanto, ou elas expressam os nossos pensamentos ou o
nosso julgamento e, concomitantemente, sempre contêm
uma avaliação ou interpretação sobre o comportamento ou os
motivos de outras pessoas.

Valores expressam um consenso social sobre ações e estratégias


que devem atender necessidades. São palavras que são usadas
para expressar necessidades, mas expressam valores ou desejos
gerais (pedidos não concretos): aceitação, aprovação, assistência,
competência, consideração, encorajamento, igualdade, justiça,
pontualidade, religião, respeito, solidariedade, tolerância,
dedicação, dignidade humana, direito, efetividade, eficiência,
ética, honra, influência, mérito, moral, obrigação, orgulho,
poder, produtividade, etc.

Necessidades expressam uma qualidade da


vivacidade que pode ser sentida fisicamente.
São necessidades humanas básicas que todos
compartilhamos: abrigo, água, alimento,
aceitação, amor, apoio, apreciação, autenticidade,
autonomia, autovalorização, beleza, comunhão
espiritual, celebrar a criação da vida e os
sonhos realizados, compreensão, comunhão,
confiança, consideração, contribuição para o
enriquecimento da vida, criatividade, diversão,
descanso, expressão sexual, elaborar as perdas
de entes queridos, sonhos etc. (luto), empatia,
encorajamento, escolher seus próprios sonhos,
objetivos e valores e o próprio plano para realiza-los,
harmonia, inspiração, honestidade, integridade,
interdependência, lazer, movimento, ordem, paz,
proteção, proximidade, riso, significado, toque,
etc.

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Quando as suas necessidades estão sendo atendidas,


provavelmente, você se sentirá: à vontade, agradecido,
alegre, aliviado, animado, bem-humorado, calmo, carinhoso,
compreensivo, concentrado, confiante, despreocupado,
encorajado, entusiasmado, envolvido, equilibrado, esperançoso,
estimulado, feliz, grato, inspirado, interessado, livre, motivado,
otimista, pleno, relaxado, satisfeito, seguro, sereno, tranquilo,
útil.

Por outro lado, quando as necessidades não estão sendo


atendidas, você pode se sentir: abatido, agitado, amedrontado,
angustiado, ansioso, apático, apreensivo, arrependido, assustado,
bravo, cansado, chateado, ciumento, confuso, culpado,
deprimido, desamparado, desanimado, desapontado, desatento,
desconfortável, desesperado, desencorajado, entediado,
envergonhado, frustrado, impaciente, incomodado, indiferente,
infeliz, inquieto, inseguro, insensível, instável, magoado, nervoso,
pessimista, preguiçoso, preocupado, receoso, sensível, solitário,
tenso, triste.

Em 1984, o Dr. Rosenberg fundou, na Califórnia,


o “Center for Nonviolent Communication
(CNVC)”, que se transformou em uma grande
organização internacional sem fins lucrativos.
O trabalho de programas de paz tem sido realizado
em várias instituições, empresas e em regiões
assoladas por guerras, como Sérvia e Croácia,
Burundi e Sri Lanka, e as técnicas de CNV estão sendo
ensinadas em escolas da Ex-Iugoslávia e de Israel.
Seu livro se tornou um best-seller internacional.

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3 - Forma de Resolução de Conflitos


(Tiago Nolasco)

Resolver os conflitos e problemas nem sempre é algo fácil.


Todos sabemos que é importante evitar os conflitos, afinal, não
há ninguém que goste de brigas. O que muita gente não sabe é
que existem diferentes formas de resolver um problema.
A forma mais antiga de solução de problemas foi a autotutela.
Hoje, no entanto, ela já não é permitida, ressalvada algumas
poucas exceções previstas na lei. Isso porque vivemos em
sociedade e o exercício da autotutela é proibido pelo Estado.
No Brasil a autotutela só é permitida em situações excepcionais,
estando a pessoa obrigada a demonstrar que agiu de forma
lícita. No passado, quando havia uma discussão, ou as
pessoas conseguiam chegar a um acordo ou uma delas era
obrigatoriamente submetida aos interesses da outra.

A violência já foi utilizada como


instrumento de resolução de conflitos?
Sim! VOCÊ
Basicamente através da autotutela que SABIA?
é a solução do conflito através do uso da
força e, como você já deve imaginar, é
proibida atualmente porque envolve
o uso da violência para tentar resolver um problema. Vale
lembrar que a solução dos problemas através da violência
é temporária, e acaba gerando mais violência – ao invés de
resolver o conflito.

Felizmente, já sabemos que existem outras formas de


resolução de conflito. Uma das mais famosas e mais utilizadas
em nosso dia a dia é a autocomposição. Em essência, ela se
caracteriza pelo esforço conjunto das pessoas para, através do
diálogo, por fim ao conflito e, por isso, reúne formas amigáveis
de resolução de conflitos. Alguns importantes exemplos de

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autocomposição que voltaremos a mencionar nos próximos


tópicos são a negociação, a conciliação e a mediação. Por
enquanto, o mais importante é observar que na autocomposição
são as próprias pessoas envolvidas no problema que irão,
através de seu próprio esforço (ainda que contem com a ajuda
de terceiro), construir a solução mais adequada para o conflito.

Outra importante forma de resolução de conflitos é a


heterocomposição, forma de composição em que o conflito é
levado à apreciação de um terceiro imparcial e independente.
Os principais exemplos de heterocomposição são a arbitragem
e a jurisdição, tópicos que estudaremos um pouco mais nos
próximos capítulos.

Sugestões de reflexão em sala:

01. Quando em razão de uma discussão


Vamos
com o colega procuramos o professor
para relatar e resolver um conflito, qual
Viajar!
é a forma de resolução de conflito que
estamos buscando?
02. Vamos conversar sobre situações em que vocês tentaram
resolver um conflito através da autotutela. Era a melhor maneira
de trabalhar aquele conflito?

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4 - Negociação
(Luana Figueiredo Junca)

4.1- O que é negociação?


A negociação é uma forma de conseguir aquilo o que se quer
de outra pessoa por meio do diálogo e da conversa. Duas ou
mais pessoas negociam para chegar a um acordo quando elas
têm alguns interesses em comum e outros interesses opostos.
Há diferentes maneiras de negociar. Geralmente, as pessoas
adotam uma postura competitiva e áspera na negociação. Já
outras pessoas assumem uma postura bondosa e tendem a
ceder seus interesses. Nesses dois casos, as pessoas ficam presas
em suas posições e tendem a barganhar.

4.2 - Negociações colaborativas

Embora a negociação baseada na


barganha seja mais comum, é possível
negociar com base na colaboração.
Neste tipo de negociação, as pessoas
colaboram entre si para atender, ao
mesmo tempo, os próprios interesses e
os interesses do outro. A chave é focar
na origem do conflito, procurar os
interesses comuns, usar a criatividade para enxergar soluções
de benefícios mútuos e buscar um acordo baseado em critérios
justos e objetivos, que não dependam da vontade individual
das pessoas.

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Assim, destacamos quatro palavras-chave – pessoas, interesses,


opções e critérios –, essenciais para entendermos os princípios
da negociação colaborativa:

1. Separar as pessoas 2. Concentrar nos


do problema interesses, e não nas
Não leve a negociação posições.
para o lado pessoal e Não leve a negociação
foque no ponto central para o lado pessoal e
do conflito. O objetivo é foque no ponto central
encontrar soluções para do conflito. O objetivo é
um problema comum, encontrar soluções para
não é enfrentar as um problema comum,
pessoas. Lembre-se de não é enfrentar as
falar sempre sobre você pessoas. Lembre-se de
mesmo e sobre o que falar sempre sobre você
você pensa e não sobre o mesmo e sobre o que
outro: cuidado para não você pensa e não sobre o
colocar palavras na boca outro: cuidado para não
do outro. colocar palavras na boca
do outro.

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3. Criar várias opções antes de decidir o que fazer.


Tente criar mais de uma solução para o conflito, considerando
os interesses de todos. A ideia de uma solução única ou de
uma única resposta certa diminui as chances de a negociação
ser bem sucedida para ambas as partes. E, sim, é possível que
todos saiam ganhando. A negociação colaborativa combate a
ideia de que “para um ganhar o outro tem que perder”. Deixe
a criatividade fluir e tente inventar opções vantajosas para
você e para as pessoas envolvidas na negociação, sem julgá-
las. Quanto mais ideias melhor! Faça uma verdadeira “chuva
de ideias”, aqui até ideias malucas valem! O objetivo é criar
muitas soluções possíveis antes de escolher a melhor. Fique
atento para alguns obstáculos que prejudicam a criação de
opções: o pré-julgamento, a busca por uma resposta única
e pensar que o problema do outro não é seu problema
também. Depois que usamos a criatividade, passamos para o
momento de escolher uma opção.

4. Insistir para que o


acordo tenha por base
um critério objetivo.
Tente tomar a decisão
entre as opções criadas
com base em critérios
claros e imparciais, pois
são facilmente aceitos
pela sociedade em geral,
produzem a sensação de
que a solução é justa para
todos e não se baseiam na
vontade pessoal de cada
um.

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• 16

4.3 Os negociadores
Um bom negociador é aquele que colabora com a outra pessoa
para achar uma solução que atenda aos interesses de todos. O
objetivo é tentar que todos fiquem satisfeitos.
Afinal, quem não quer ser um bom negociador? Aqui vão algumas
atitudes de quem manja do assunto:
• O bom negociador sabe se colocar no lugar do outro e
consegue ver a situação tal como a outra pessoa enxerga.

• O bom negociador não culpa o outro por seu problema.

• O bom negociador deixa a outra pessoa desabafar e expressar


seu ponto de vista.

• O bom negociador não reage às reações emocionais e sabe


separar as pessoas do problema.

• O bom negociador pede desculpas.

E atenção para a comunicação! Se você não ouvir o que a outra


pessoa está dizendo, não haverá nenhuma comunicação. O melhor
que se pode fazer é mostrar para as pessoas que elas estão sendo
ouvidas e, para isso, precisamos usar a ferramenta da escuta ativa:
ao escutar, no lugar de pensar uma resposta ou dar uma sugestão,
tente compreender a outra pessoa do jeito que ela se vê. As
pessoas ouvem melhor quando sentem que você as compreende,
aumentando, assim, a chance de sucesso da negociação.

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• 17

RESUMO

Conflitos muitas vezes são entendidos como fatos negativos.


Entretanto os conflitos podem ser um instrumento de novos
aprendizados de acordo com os mecanismos que utilizamos para
resolvê-los.

Atualmente, as resoluções de conflitos são pontos importantes


para obtermos resultados satisfatórios para todos os interessados.
Vale lembrar:

EM CONFLITOS É IMPORTANTE SABERMOS NEGOCIAR.

SEMPRE BUSCAMOS UTILIZAR UMA COMUNICAÇÃO


NÃO VIOLENTA

OUVIR AS DUAS PARTES É O PONTO MAIS IMPORTANTE


PARA CHEGAR A UM ACORDO JUSTO PARA TODOS

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• 18

DINÂMICA
A história da laranja: para refletir em sala

Você conhece a história da laranja? Imagine uma casa em que


havia apenas 1 laranja e que, pela hora, os mercados da cidade
já estavam fechados e que os vizinhos não tinham laranjas para
emprestar. A irmã queria fazer um bolo e o irmão um suco de
laranja. Eles conversaram e identificaram que, para fazer o bolo,
a irmã precisaria das raspas da casca da laranja e que, para fazer
o suco, o irmão precisaria do interior da laranja. Assim, os dois
fizeram o que queriam com apenas 1 laranja e os interesses de
ambos foram alcançados. Agora imagine se eles não conversam
o suficiente para identificar os ingredientes que cada um
realmente precisa e resolvem partir a laranja ao meio para cada
um usar apenas metade da laranja. Qual solução é mais criativa
e benéfica para ambos?

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• 19

Aula 2
As questões jurídicas nas
formas de resolução de conflitos
Objetivo: Discutir sobre os principais pontos que norteiam as
formas de resolução de conflitos em uma linguagem mais
acessível. No decorrer das discussões definições de termos
jurídicos são esclarecidas, de modo a situar o leitor sobre
questões básicas que envolvem o processo jurídico.

1- Mediação de Conflitos
(Cláudia Valadares e Sabrina Nagib de Sales Borges)
“O grande segredo, da mediação, como todo segredo, é muito simples,
tão simples que passa despercebido”. Não digo tentemos entendê-lo, pois
não podemos entendê-lo. Muitas coisas em um conflito estão ocultas,
mas podemos senti-las. Se tentarmos entendê-las, não encontraremos
nada, corremos o risco de agravar o problema.
Para mediar, como para viver, é preciso sentir o sentimento. O mediador
não pode se preocupar por intervir no conflito, transformá-lo. Ele tem
que intervir sobre os sentimentos das pessoas, ajudá-las a sentir seus
sentimentos, renunciando a interpretação.
Os conflitos nunca desaparecem, se transformam; isso porque, geralmente,
tentamos intervir sobre o conflito e não sobre o sentimento das pessoas.
Por isso, é recomendável, na presença de um conflito pessoal, intervir sobre
si mesmo, transformar-se internamente, então, o conflito se dissolverá (se
todas as partes comprometidas fizerem a mesma coisa).
O mediador deve entender a diferença entre intervir no conflito e nos
sentimentos das partes. O mediador deve ajudar as partes, fazer com que
olhem a si mesmas e não ao conflito, como se ele fosse alguma coisa
absolutamente exterior a elas mesmas.
Quando as pessoas interpretam (interpretar é redefinir), escondem-se ou
tentam dominar (ou ambas as coisas).
Quando as pessoas sentem sem interpretar, crescem.
Os sentimentos sentem-se em silêncio, nos corpos vazios de pensamentos.
As pessoas, em geral, fogem do silêncio. Escondem-se no escândalo das
palavras. Teatralizam os sentimentos, para não senti-los. O sentimento
sentido é sempre aristocrático, precisa da elegância do silêncio. As coisas
simples e vitais como o amor entende-se pelo silêncio que as expressam.
A energia que está sendo dirigida ao ciúme, à raiva, à dor tem que se

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• 20

tornar silêncio. A pessoa, quando fica silenciosa, serena, atinge a paz


interior, a não violência, a amorosidade. Estamos a caminho de tornarmo-
nos liberdade. Essa é a meta mediação.”
(WARAT, L.A. O Ofício do Mediador. Florianópolis: Fundação Boiteux,
2004. 424p., p.26).

1.1 - O que é a Mediação?

A mediação de conflitos é um processo autocompositivo, que


oferece àqueles que estão vivenciando qualquer conflito de
relação continuada (como, por exemplo, em casos de relações
familiares, brigas entre vizinhos, relações societárias, etc.) a
oportunidade e o espaço adequados para solucionar suas
questões, auxiliados por um terceiro neutro ao conflito, isto é,
sem interesse na causa, denominado mediador.

Desse modo, o mediador de


conflitos ajudará as pessoas a se
comunicarem melhor, por meio
de técnicas específicas a este
processo, a negociarem e, se
possível, a chegarem a um acordo.
As partes, ou mediados, poderão
expor seus pontos de vista sobre
o conflito que vivenciam, tendo a
oportunidade de solucionar tais
questões de maneira cooperativa
e construtiva sem o custo
emocional e financeiro de um
processo judicial.

Assim, na mediação, as partes poderão constituir um modelo


de conduta para futuras relações, num ambiente colaborativo
em possam dialogar produtivamente, não necessitando chegar
a um acordo. Ainda, o processo da mediação poderá ser

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encerrado a qualquer momento, sem que os mediados sofram


mais prejuízos referentes ao conflito em questão, devido a sua
voluntariedade.

1.2 - O desenrolar da mediação


Todas as matérias discutidas no processo são protegidas
pelo princípio da confidencialidade. Com a exceção do
acordo obtido, nada que foi dito na mediação será utilizado
judicialmente. Ainda, os mediadores são impedidos de
testemunhar sobre os casos em que atuaram, só estando
dispensados do sigilo na hipótese do conhecimento de prática
delituosa.
A mediação pode estar presente antes, durante ou após a
resolução judicial. Nesta via, o conflito de interesses poderá
ser submetido à mediação mediante solicitação das partes
envolvidas no conflito, que tenham necessidade ou desejo
de os gerir, quer com intuito preventivo, quer com intuito de
resolução, ou também, por solicitação de seus advogados,
diretamente a uma Câmara de Mediação, com a indicação dos
dados pessoais das partes, para que se possibilite o convite
ao comparecimento. Se os mediados desejarem, alcançado o
acordo, sua homologação será procedida tendo validade de
título executivo.

No Brasil, a Lei n° 13.140/2015


regula o processo de mediação
e determina que devam ser
observados os princípios de
imparcialidade do mediador,
isonomia entre as partes,
oralidade, informalidade,
autonomia da vontade das
partes, busca do consenso,
confidencialidade e boa-fé.

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1.3 - O papel do mediador de conflito


Os mediadores de conflitos são profissionais capacitados para
auxiliar as partes a identificar às questões que atendam as reais
necessidades de ambas as partes, ajudando-as a encontrar
alternativas criativas, que ultrapassam a questão financeira, por
meio da facilitação do diálogo colaborativo e positivo para o
alcance de um possível acordo.
Portanto, o mediador de conflitos não é juiz, pois não impõe
uma sentença, nem tem o poder outorgado pela sociedade para
decidir pelos demais. O mediador também não é um árbitro,
pois não emite pareceres técnicos, nem possui poder de decisão.
Na mediação acredita-se que não há ninguém melhor do que os
próprios envolvidos em uma disputa para saber tomar decisões
sobre si mesmos. Também, não é um negociador que assume
parte na negociação, com interesse direto nos resultados, pois
na mediação tudo deve acontecer entre as pessoas diretamente
envolvidas no conflito.

2 - Conciliação
(Ana Cristina M. Cerqueira e Isabel Moura)

2.1 - O que é conciliação


A conciliação é um dos métodos capazes de solucionar conflitos
oferecidos pela Resolução Alternativa de Disputas (RADs) – sigla
que originalmente significava métodos alternativos em relação ao
julgamento da demanda pelo Poder Judiciário, e que atualmente
é mais bem representada como resolução amigável de disputas.

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Em termos gerais, a conciliação é um processo autocompositivo,


no qual as partes são auxiliadas por uma terceira pessoa neutra,
sem interesse na causa, o conciliador, que irá assisti-las a solução
de um conflito. A conciliação possui flexibilidade procedimental
e maior celeridade. Geralmente, o processo acontece com apenas
uma sessão, na qual se utiliza uma linguagem informal e cotidiana
dos interessados

2.2 - Processo autocompositivo


Entende-se por processo
autocompositivo quando o
ato ou efeito de conciliar, de
se entrar em consenso, de se
colocar em acordo, aliar, unir,
combinar elementos, conseguir a
harmonização, cabe às próprias
pessoas envolvidas no conflito.
Enfim, os interessados têm o
controle durante o processo e no
seu resultado final.

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2.3 - Atuação do conciliador


Através de técnicas adequadas, o conciliador atua como um
facilitador entre as pessoas envolvidas, disposto a escutar opiniões
e harmonizar os ânimos, criando um ambiente saudável para o
entendimento mútuo e uma comunicação clara, adotando uma
posição ativa, porém neutra em relação ao conflito, com o objetivo
de orientá-las na construção de um acordo com enfoque na
aproximação de interesses e esclarecimento de dados objetivos,
fatos e direitos.
É permitido ao conciliador elaborar uma sugestão ou proposta
de acordo. Porém, somente as partes têm o poder de escolha: se
fazem um acordo e colocam um fim ao problema ou prosseguem
com a demanda no Poder Judiciário, cabendo a um terceiro, o
Juiz, resolver e tomar a decisão por eles.

Na conciliação não existem ganhadores ou perdedores, mas


sim a construção de uma solução para o conflito pelas próprias
partes, fazendo com que elas assumam o compromisso com
maior responsabilidade e, muitas vezes, resgatando a capacidade
de relacionamento.

Portanto, diferentemente da mediação, na conciliação o objetivo


é chegar a um acordo, podendo o conciliador orientar as partes
sobre soluções, conforme estabelece o Código de Processo Civil
(Lei nº 13.105/2015) no artigo 165, §2º: “O conciliador, que atuará
preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior
entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada
a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação
para que as partes conciliem.”

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O conciliador pode sair falando sobre o


processo ou escolher um lado?

Com base na política pública


VOCÊ
recomendada pelo Conselho Nacional SABIA?
de Justiça (CNJ), a utilização de técnicas
adequadas na conciliação pressupõe
que os profissionais resguardem alguns
princípios, tais como a confidencialidade
– tudo que foi conversado entre as partes durante a conciliação fica
limitado ao processo –, a imparcialidade – o conciliador não toma
partido de nenhuma das partes –, a autonomia da vontade das
partes – a decisão final, qualquer que seja ela, cabe tão somente
às partes, sendo proibido ao conciliador fazer qualquer imposição.

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RESUMO

CONFLITO

A medição
É solucionado
busca resoluções
com ajuda de
produtivas para
um mediador.
todos de forma
colaborativa.

Conflitos também Mediadores


podem ser são pessoas
solucionados por imparciais que
Conciliadores que irão conduzir
interferem de os envolvidos a
forma mais direta uma solução
no diálogo.

O objetivo da
Conciliação é
chegar a um
acordo.

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• 27

DINÂMICA
Fixando o conhecimento. Ao final da aula, passe as 5 perguntas
para a turma. Quem levantar a mão primeiro poderá responder.
Quem acertar o maior número de perguntas ganha uma prenda
(um bombom, por exemplo).

1) Qual o papel do mediador? Responda em suas palavras.

2) O mediador é um juiz. (SIM) ou (NÃO)

3) Mediação e conciliação são a mesma coisa. (SIM) ou (NÃO)

4) O mediador pode comentar informações do processo.


(SIM) ou (NÃO)

5) O mediador ou o conciliador pode ser amigo de


um dos envolvidos no processo. (SIM) ou (NÃO)

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• 28

Aula 3
Como acontece a jurisdição e qual
a sua função
Objetivo: Tratar as especialidades compreendidas na jurisdição.
Esclarecer termos e funções relacionadas ao processo judicial,
bem como orientar dos encargos envolvidos.

2. Processo Judicial
(Luana Figueiredo Juncal)

1.1 Jurisdição
Quando não for possível resolver os conflitos de forma amigável,
você pode pedir ao Poder Judiciário que decida quem está certo
e quem está errado. Ao decidir, o Poder Judiciário brasileiro
exerce a jurisdição, que é uma função exclusiva do Estado, e
é representado pelas juízas e pelos juízes, que são aprovados
em concurso público e devem ser imparciais, devendo decidir
conforme o direito, e não conforme sua própria vontade.

Para tanto, quem sentir que


teve um direito violado precisa
se dirigir ao Poder Judiciário e
apresentar uma petição inicial
escrita pedindo ao juiz que
escute as pessoas envolvidas,
analisem as provas existentes
e decida a situação de acordo
com a constituição e as leis
brasileiras.

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• 29

Quem apresenta este pedido ao juiz está usando o seu direito de


ação, isto é, ao se sentir prejudicado em um conflito que não foi
possível resolver pelo diálogo, qualquer pessoa pode procurar o
Poder Judiciário para que ele julgue o caso.

Por sua vez, a pessoa que está sendo acusada de não respeitar
o direito do outro será avisada pela citação e também terá a
chance de explicar a sua versão dos fatos, apresentar provas e
pedir que não seja condenado. Esse momento é chamado de
contestação.

1.2 Juizados especiais


Para exercer o direito de ação e para apresentar contestação, as
partes na maioria das situações precisarão obrigatoriamente do
auxílio de um advogado ou defensor público. Porém, de acordo
com a Lei nº 10.259/2001, este auxílio será facultativo nos juizados
especiais federais, que processam conflitos de até 60 salários
mínimos, e, de acordo com a Lei nº 9.099/1995, nos juizados
especiais cíveis em conflitos de até 20 salários mínimos.

1.3 O desenrolar do processo Judicial


Primeiramente, as partes serão chamadas para uma audiência
de conciliação ou mediação a fim de que elas próprias tentem
resolver o conflito pelo diálogo. O juiz apenas julgará o conflito
se da conciliação ou da mediação não resultar acordo.
Nessa hipótese de não ter surgido acordo, o juiz convocará
as partes para a audiência de instrução e julgamento para
apresentar os pontos de dúvida sobre o conflito e escutar o
que elas têm a dizer. Após formar seu convencimento sobre
os fatos, o juiz então decidirá conforme o direito e explicará
os motivos da sua decisão em uma sentença.

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• 30

Se alguém não concordar com as razões apresentadas na sentença,


é possível apresentar recursos ao juiz ou ao tribunal para que a
sentença seja revista até que seja dada a decisão final. Quando não
é mais possível apresentar recurso, dizemos que ocorreu o trânsito
em julgado, que significa que se chegou a uma decisão final que
não poderá mais ser modificada.

Assim, o processo judicial é o


conjunto das etapas desde a petição
inicial que provoca o Poder Judiciário
até que seja dada a decisão final.

No Brasil, temos três tipos de


processo judicial: o processo civil,
o processo trabalhista e o processo
penal. O processo penal é usado
para processar acusações de crimes
e contravenções penais. O processo
trabalhista é usado para processar
conflitos referentes a relações do

trabalho. E o processo civil é usado para processar os outros conflitos


de maneira geral, como dívidas não pagas, cobranças indevidas,
produtos comprados com defeitos, conflitos de família, erros no
valor da aposentadoria e outros.

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• 31

2. ARBITRAGEM
(Luiz Felipe Lopes e Juliana Lima)

2.1 O que é arbitragem?


Arbitragem não é uma palavra usada só no futebol. No Direito
também se fala em arbitragem, mas com outro sentido. Para
o Direito, arbitragem é uma forma de as pessoas resolverem
seus problemas. A primeira coisa que você tem que saber sobre
arbitragem é que ela é sempre voluntária. Assim, se uma disputa
surge entre duas ou mais pessoas, elas só podem usar a arbitragem
se todos estiverem de acordo, porque ela não pode ser imposta a
ninguém.

Ao escolherem a arbitragem, as pessoas concordam que a


disputa não será resolvida pelo juiz – que é um funcionário público
concursado, geralmente formado em Direito, e que representa o
Poder Judiciário brasileiro – mas, sim, por um ou mais árbitros.
A função do árbitro é igual à do juiz: ouvir as partes, analisar as
provas e decidir quem está certo e quem está errado. Mas, ao
contrário do juiz, o árbitro não é um funcionário público nem
representa o Poder Judiciário. Para ser árbitro, basta ser uma
pessoa de confiança das partes; não é preciso ser formado em
Direito (ou outro curso superior), nem fazer concurso público.

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• 32

No Poder Judiciário, as pessoas não podem escolher qual juiz vai


julgar a disputa, mas na arbitragem, é possível escolher quem será
o árbitro. Isso é uma grande vantagem da arbitragem, pois, se a
disputa envolve, por exemplo, uma questão muito complicada de
engenharia, as pessoas podem escolher um árbitro engenheiro;
se a disputa envolve a interpretação de um contrato em chinês,
podem escolher um árbitro que seja fluente nessa língua; se a
disputa envolve a contabilidade de uma empresa, podem escolher
um árbitro contador.

Qualquer um pode ser o árbitro?

VOCÊ As partes não podem escolher qualquer


pessoa para ser o árbitro, porque o árbitro
SABIA? deve ser imparcial e independente.
Isso significa que, se você tiver alguma
relação com as partes, você não poderá
ser árbitro delas. Por exemplo, uma mãe
(ou um pai) não pode ser árbitro de uma
disputa envolvendo seu filho. O dono de uma empresa não pode
ser árbitro de uma disputa envolvendo a empresa. Em situações
como essas, a mãe, o pai, ou o dono da empresa são considerados
parciais, ou seja, eles têm interesse em julgar a disputa em favor
do filho ou da empresa. Por isso, a lei não permite que eles sejam
árbitros nessas situações.

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• 33

2.2 Quando usar a arbitragem


Não é qualquer disputa que pode ser resolvida por arbitragem.
A lei só permite o uso da arbitragem para solucionar conflitos
relativos a direitos patrimoniais e disponíveis. Direitos patrimoniais
são aqueles que se referem ao patrimônio, isto é, a coisas como
dinheiro, imóveis, carros, máquinas, construções, produtos e
serviços. Direitos disponíveis são aqueles direitos que as pessoas
podem negociar livremente, por meio de contratos. Assim, a
arbitragem não pode ser usada para resolver, por exemplo,
disputas de guarda de filhos ou divórcio, porque essas disputas
não se referem ao patrimônio, mas ao afeto entre os familiares
(é extrapatrimonial); nem para resolver disputas criminais, já que
a punição por um crime não pode ser negociada em um contrato
(é indisponível), nem se refere ao patrimônio, mas à liberdade das
pessoas (é extrapatrimonial).

Assim, a arbitragem só pode acontecer se: (i) a disputa envolve


direitos patrimoniais e disponíveis; (ii) as partes concordam em
usar a arbitragem; (iii) os árbitros escolhidos são imparciais e
independentes; e (iv) os árbitros aceitam a função de julgar o caso.

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• 34

2.3 Como tudo acontece


Os árbitros vão se reunir com as partes para entender qual é
o problema e quais são os argumentos defendidos por cada
parte; as partes podem apresentar petições e documentos, ouvir
testemunhas e pedir a ajuda de peritos (experts) para explicar
questões técnicas mais complicadas. Depois que todos tiverem
tido a oportunidade de apresentar suas provas e argumentos, os
árbitros vão decidir quem tem razão e proferir uma sentença.
A sentença do árbitro tem a mesma força da sentença de um
juiz. Isso significa que a parte que perder a arbitragem não pode
pedir ao juiz para mudar a sentença. E, se a parte que perdeu a
arbitragem não cumprir a sentença, a parte que ganhou pode
pedir ao juiz para forçar o cumprimento. Por exemplo, se a par-
te perdedora não paga a condenação, o juiz pode bloquear sua
conta bancária ou pode mandar a polícia apreender seu carro.
Essas tarefas de execução da sentença arbitral, que exigem o
uso da força (polícia, oficial de justiça, etc.) não podem ser reali-
zadas pelo árbitro, apenas pelo juiz, porque só o juiz representa
o Poder Judiciário brasileiro.

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arbitragem pode se realizar de duas formas: (i) institucional,


ou seja, o processo é administrado por uma instituição privada -
Câmaras de Mediação e Arbitragem, e obedecerão, a princípio, as
regras desta instituição; ou (ii) independentemente de qualquer
instituição. Neste caso, as partes, de comum acordo, nomeiam
os árbitros e administram elas próprias o processo. Essa forma é
conhecida como “Arbitragem Ad Hoc”.
A lei que regula a arbitragem no Brasil é a Lei Federal n. 9.307,
de 23 de setembro de 1996. Se você quiser saber mais sobre a
arbitragem, procure um advogado. Ele estará preparado para
tirar suas dúvidas.

RESUMO

CONFLITOS QUE NÃO SÃO


JURISDIÇÃO RESOLVIDOS PELA MEDIAÇÃO

COMPETÊNCIA PROCESSO
ARBITRAGEM
DO ESTADO JUDICIAL

UMA OU MAIS
PESSOAS DE-
É UTILIZADA EM
CIDEM QUEM
CONFLITOS
ESTÁ CERTO
PATRIMONIAIS
OU ERRADO -
ÁRBITROS

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DINÂMICA
Fixando o conhecimento. Ao final da aula, passe as perguntas
para a turma. Quem levantar a mão primeiro poderá responder.
Quem acertar o maior número de perguntas ganha uma prenda
(um bombom, por exemplo).

1 Fazer perguntas para assimilação do conhecimento

1.1 O que é arbitragem?

1.2 Quais situações podem ser resolvidas pela Arbitragem?

2 - Simular uma situação de arbitragem

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BIBLIOGRAFIA

FISHER, Roger; URY, William; PATTON, Bruce. Como chegar


ao sim: negociação de acordos sem concessões. 2 ed. Rio de
Janeiro: Imago Ed, 1991.

NASCIMENTO, Dulce Maria Martins do. Clube Mediação -


Transformar sonhos em realidade. 1 ed. Portugal/Brasil/Angola/
Cabo Verde: Chiado Editora, 2013.

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