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1.

Interação entre espécies de microrganismos

Há vários tipos de interações que se podem estabelecer entre os seres vivos que
ocupam o mesmo ecossistema.

As relações bióticas podem ser favoráveis ou positivas, quando não comportam


prejuízos, sendo benéficas para pelo menos um dos indivíduos intervenientes na
associação, ou podem ser desfavoráveis ou negativas, se pelo menos um dos
indivíduos intervenientes é prejudicado.

Quando a relação biótica ocorre entre indivíduos da mesma espécie, é


denominada intraespecífica (exemplos: competição pelo território, pela fêmea ou pelo
alimento; ou a formação organizada de grupos cujos elementos cooperam todos para
objetivos comuns, como acontece nas colónias e nas sociedades).

Uma comunidade ecológica consiste em todas as populações de todas as espécies


distintas que coexistem em uma determinada área. As interações entre espécies
diferentes dentro de uma mesma comunidade são chamadas de interações
interespecíficas.

Diferentes tipos de interações interespecíficas tem efeitos distintos nos dois


participantes, que pode ser positivo (+), negativo (-) ou neutro (0). Os principais tipos
de interações interespecíficas
incluem competição (-/-), predação (+/-), mutualismo (+/+), comensalismo (+/0),
and parasitismo (+/-).

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2. O Solo e a sua constituição

O solo é constituído essencialmente por matéria mineral e orgânica (fração sólida),


água (fração líquida) e ar (fração gasosa). As proporções de cada constituinte variam,
principalmente, de acordo com a natureza do solo.

A matéria orgânica do solo é constituída por restos de plantas e outros organismos, em


estado mais ou menos avançado de decomposição, acumulando principalmente na
superfície. A água e o ar do solo ocupam os espaços existentes entre as partículas
terrosas e entre agregados de partículas. O ar ocupa os espaços não preenchidos pela
água e a quantidade de água é variável em razão da precipitação e irrigação, à textura,
estrutura, relevo e teor em matéria orgânica, podendo estar associada a uma grande
variedade de substâncias.

O solo é o resultado de mudanças ocorridas nas rochas – denominadas meteorização


Ações dos ventos, chuvas e organismos vivos (processos físicos, químicos e biológicos)
são os responsáveis por este lento processo – calcula-se que cada centímetro do solo
se forma em intervalo de tempo de 100 a 400 anos. As condições climáticas existentes
são a principal influência das características de cada solo.

O perfil do solo é constituído por 5 parcelas, denominadas horizontes. Vale ressaltar


que nem todo solo possui todos os horizontes bem definidos:

- Horizonte O: Camada orgânica superficial. Drenado, com cor escura.


- Horizonte A: Constituído, basicamente, de rocha alterada e húmus, sendo a região
onde se fixa a maior parte das raízes e vivem
organismos decompositores e detritívoros.
- Horizonte E (ou B): Camada mineral constituída de
quantidade reduzida de matéria orgânica, acúmulo de
compostos de ferro e minerais resistentes, como o
quartzo. Pode ser atingido por raízes mais profundas.
- Horizonte C: Camada mineral pouco ou
parcialmente alterada.
- Horizonte R: Rocha não alterada que deu origem ao
solo.

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3. Importância dos microrganismos do solo para os ecossistemas

A microbiota do solo, definida como o conjunto de microrganismos que vive no solo,


como fungos, bactérias e vírus, é um fator determinante para a qualidade do solo na
agricultura.
Isso porque é ela que influencia na manutenção da biodiversidade, na participação da
ciclagem de nutrientes e na produção vegetal de forma indireta e direta, por meio do
estabelecimento de associação com as plantas. Em conjunto com a biota total e com a
vegetação superior, constituem um dos cinco fatores que integram o solo, sendo os
outros quatro: o clima, a topografia, o material parental e o tempo.
O acúmulo de matéria orgânica no solo sofre grande influência da temperatura e da
disponibilidade de oxigênio. Em climas mais frios, ela se degrada, tendendo a formar o
solo.

Na água ou em solos com grandes quantidades de água, a vegetação que se deteriora


não tem acesso fácil a oxigênio e também acumula matéria orgânica. Toda essa
matéria orgânica decomposta (húmus), torna-se essencial para os solos cultivados,
pois:

 Solubiliza nutrientes nos solos minerais;


 Apresenta alta capacidade de troca de cátions (CTC);
 Libera lentamente fósforo, nitrogênio, enxofre e água;
 Melhora a nutrição das plantas em micronutrientes pela formação de
complexos;
 Aumenta a capacidade de retenção de água e melhora a estrutura do solo;
 Melhora a capacidade tampão do solo;
 Reduz toxidez aos pesticidas e outras substâncias;
 Favorece o controle biológico pela maior população microbiana;
 Exerce efeitos promotores de crescimento.

Nas culturas, de maneira geral, a matéria orgânica do solo influencia nos atributos
físicos, químicos e biológicos do solo, com reflexo na estabilidade e produtividade dos
ecossistemas da agricultura.

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Os microrganismos, por sua vez, são responsáveis pelos processos de mineralização,
pois representam uma quantidade considerável de nutrientes potencialmente
disponíveis para as plantas. Nos ecossistemas onde não há interferência humana, ou
seja, quando funciona de forma natural, a microbiota encontra-se em equilíbrio com o
solo, mantendo sua biodiversidade. Já em situações onde há intervenção nesse
ambiente, ocorrem mudanças que nem sempre são benéficas. Essa interferência pode
ocasionar na alteração ou diminuição da microbiota, prejudicando a fixação
temporária dos nutrientes, incrementando suas perdas e resultando no
empobrecimento do solo.
Os diferentes sistemas de manejos adotados nos cultivos agrícolas também têm
grande influência sobre seus estoques, pois podem diminuir, manter ou aumentar em
relação à vegetação nativa.

Por isso, para melhorar a qualidade do solo dos sistemas de plantio quando ocorrem as
alterações do solo, existem produtos que auxiliam na sua recuperação, fornecendo os
nutrientes necessários para a germinação das plantas, produção de folhas, sementes e
frutos.

Tais componentes agem diretamente no processo metabólico das plantas mesmo em


momentos de estresse e outros que atuam diretamente no processo de reconstrução
do solo, todos elaborados para que o produtor tenha maior produtividade nas
culturas, maior rentabilidade e o menor número possível de perdas.

As comunidades de organismos micro e macroscópicos que habitam o solo, realizam


atividades imprescindíveis para a manutenção e sobrevivência das comunidades
vegetais e animais. No solo as principais atividades dos organismos são, a
decomposição da matéria orgânica, produção de húmus, ciclagem de nutrientes e
energia, fixação de nitrogênio atmosférico, produção de compostos complexos que
causam agregação do solo, decomposição e controle biológico de pragas e doenças,
proporcionando assim, condições ideais para uma biodiversidade extremamente
elevada.

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A densidade de todos os grupos de organismos varia em função de
características edáficas e climáticas específicas de cada ambiente. As
bactérias representam o grupo mais numeroso. Os fungos, bactérias
e minhocas são aqueles que geralmente apresentam maior biomassa.
Em termos de biomassa os organismos do solo podem exercer mais
de 10 toneladas por hectare, quantidade esta equivalente ou até
maior que as melhores produções de certas culturas agrícolas.

A atividade biológica do solo é uma denominação genérica para a


ação dos organismos vivos do solo, tanto animais quanto vegetais. Esses organismos
têm forte influência na gênese e manutenção da organização dos constituintes do solo,
principalmente nos horizontes superficiais. As raízes das plantas, por exemplo, alteram
o pH do solo ao seu redor e, ao morrer e se decompor, deixam canais. Formigas,
cupins e minhocas manipulam, ingerem e excretam material de solo formando
microagregados e construindo poros.

Os microrganismos são as bactérias, fungos e algas. A microfauna são protozoários,


rotíferos, nematóides. A mesofauna são os ácaros, Collembolas, enquitríqueos. A
macrofauna é representada por minhocas, cupins, formigas, coleópteros, arachnídeos,
miriápodos, entre outros.

Os principais fatores que afetam os microrganismos do solo são: substratos e fontes de


energia, fatores de crescimento, nutrientes minerais, composição e força iônica da
solução do solo, pH, composição e pressão atmosférica, humidade, potencial redox,
temperatura e radiação solar, profundidade e cobertura vegetal, interações entre
organismos e impactos antropogénicos.

A diversidade biológica é definida como a variabilidade entre os organismos vivos. Os


organismos edáficos apresentam alta diversidade metabólica e fisiológica o que os
torna extremamente versáteis para ocupação dos diversos nichos ecológicos.
Dependendo da fonte de carbono utilizada (CO2 ou substâncias orgânicas), da fonte de
energia (luminosa ou química) e fonte de eletrões (inorgânica, orgânica ou água), os
organismos são classificados em:

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 Autotróficos e heterotróficos, respetivamente organismos que assimilam
carbono de fontes inorgânicas ou orgânicas;

 Fototróficos e quimiotróficos respetivamente organismos que obtém energia


da luz solar ou, da oxidação de moléculas orgânicas ou inorgânicas;

  

Os organismos do solo podem ser:

Biófagos

Organismos biófagos alimentam-se de seres vivos, constituindo uma das bases do


controle biológico – a predação.

Saprófagos

Organismos saprófagos alimentam-se de matéria orgânica morta. Também podem ser


chamados de onívoros, ou seja, que alimentam-se de tudo. A atividade dos saprófagos
está relacionada com a decomposição da matéria orgânica.

Simbiotróficos

Organismos simbiotróficos se nutrem de substâncias oriundas da simbiose com


organismos vivos. As simbioses se dividem em mutualistas e parasíticas. No primeiro
caso, os dois organismos são beneficiados e no segundo um deles é beneficiado e o
outro prejudicado. Importantes organismos simbiotróficos são os rizóbios e os fungos
micorrízicos (micorrizas).

O equilíbrio biológico de um ecossistema é baseado nas seguintes premissas: uma


elevada complexidade biológica garante relações diversas, as quais limitam a explosão
populacional gerando assim, condições de equilíbrio biológico do sistema. Uma
comunidade em equilíbrio com seu ambiente sofre menor efeito de fatores externos e
está sob estado denominado tampão biológico. Por outro lado, solos com comunidade
diversa de organismos são mais resilientes, ou seja, se recuperam melhor dos
estresses.
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A presença de um microrganismo em determinado solo é função das condições
ambientais dominantes e dos limites da sua bagagem genética. O sucesso de um
organismo em qualquer habitat é função da extensão e rapidez de suas respostas
fisiológicas às condições ambientais extremas de salinidade, temperatura, pressão e
pH sendo, portanto, encontrados em quase todos os ecossistemas terrestres, incluindo
solos.

Os microrganismos, por sua vez, participam da gênese do habitat onde vivem. Nos
estágios iniciais de formação do solo, carbono e nitrogênio são elementos deficientes,
deste modo, espécies fotossintéticas e fixadoras de nitrogênio (cianobactérias, líquens)
são importantes colonizadoras primárias de rochas.

4. A importância das leguminosas na fertilização dos solos

A atmosfera terreste contém 80% de azoto molecular (N2) gasoso mas, ao mesmo
tempo, este nutriente é considerado escasso nos solos e dispendioso para os
agricultores no plano de fertilização. De facto, a maior parte das plantas não consegue
usar azoto na forma gasosa, apenas assimilando na forma amoniacal (NH3) e na forma
nítrica NO3, ao nível do solo.

Contudo são conhecidos dois géneros de bactérias simbióticas fixadoras de azoto


(Rhizobium e Bradyrhizobium) vulgarmente conhecidos como rizóbios, capazes de
transformar o azoto molecular (atmosférico) em amónia quando se encontram em
associação simbiótica com plantas hospedeiras (leguminosas).

Estas bactérias, ao associarem-se às raízes das plantas hospedeiras (leguminosas),


formam nódulos, obtendo açúcares produzidos pelas mesmas e estas por sua vez,
fornecem azoto essencial para o seu crescimento.

Todas as plantas leguminosas são espécies fundamentais, na produção agrícola pois,


esta simbiose permite a transferência de azoto atmosférico para o solo, permitindo
assim uma adubação natural e contribuindo para a diminuição da adubação química
através da aplicação de adubos azotados por parte dos agricultores.

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Este tipo de adubação pode ser utilizada quer em produção integrada quer em
agricultura biológica, o azoto fixado pode suprir as necessidades da cultura
leguminosa, dispensando o uso de fertilizantes azotados, deixando no solo, alguma
reserva para a cultura seguinte, tornando assim, esta prática menos poluente para o
ambiente, menos dispendiosa para o agricultor e permitindo a obtenção de produtos
de melhor qualidade.

Muitos dos agricultores sabem da importância de efetuar rotações de culturas, com


plantas leguminosas como uma prática agronómica recomendável. Nos vários
sistemas de produção (produção integrada e agricultura biológica) integram nas
práticas culturais, leguminosas (fava, ervilha, feijão, tremoço) de forma a
beneficiarem das suas potencialidades nas culturas seguintes, para além da obtenção
do grão dessa cultura. São exemplos na Região a plantação de favas e posteriormente
a plantação da batata ou a cultura do feijão em consociação com o milho ou ainda a
plantação de feijão seguido da cultura da batata-doce.

Ciclo do Azoto ou do Nitrogénio


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5. Micorrizas

Micorriza ou Micorrhyzum é uma associação mutualística do tipo simbiótico, existente


entre certos fungos e raízes de algumas plantas.

Micorrizas são associações entre fungos e raízes de determinadas plantas. As hifas do


fungo associam-se às raízes das plantas e vão auxiliar na absorção de água e sais
minerais do solo (principalmente fósforo e nitrogênio), já que aumentam a superfície
de absorção ou rizosfera.

Deste modo, as plantas podem absorver mais água e adaptar-se a climas mais secos, e
em troca os fungos recebem das plantas glícidos e aminoácidos essenciais ao seu
desenvolvimento, estabelecendo assim uma interação ecológica onde há troca de
benefícios entre ambas as espécies.

Essa relação está presente na maioria das plantas atuais. Muito cientistas acreditam
que essas associações tenham sido fundamentais na adaptação das plantas a
ambientes terrestres, já que foram encontradas em plantas fósseis. Ocorrem
principalmente com fungos microscópicos, mas também há um grande número de
fungos macroscópicos que participam dessa simbiose.

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6. Processos de tratamentos de resíduos e a importância dos

microrganismos

Os microrganismos podem também ser usados em processos de tratamento de


resíduos.

6.1 Compostagem
É a decomposição dos resíduos orgânicos (biodegradáveis) pela ação de
decompositores e saprófitas, diminuindo o volume dos resíduos e produzindo o
composto, que pode ser usado como fertilizante, melhorando a textura e fertilidade do
solo.
O termo compostagem é hoje associado mais ao processo de tratamento dos resíduos
orgânicos do que ao processo para aproveitamento dos resíduos agrícolas e florestais.

A compostagem é um processo de oxidação biológica através do qual os


microrganismos decompõem os compostos constituintes dos materiais libertando
dióxido de carbono e vapor de água. Apesar de ser considerado pela maioria dos
autores como um processo aeróbio, a compostagem é também referida como um
processo biológico que submete o lixo biodegradável à decomposição aeróbia ou
anaeróbia e donde resulta um produto.

6.2 Tratamento biológico das águas residuais


As águas que foram utilizadas em atividades domésticas, industriais ou agrícolas e que
contêm uma grande variedade de resíduos, sofrem um tratamento que é feito em
estações de tratamento de águas residuais, ETAR. Nestas estações, as águas residuais
são sujeitas a tratamentos que removem os poluentes e o efluente final é devolvido ao
ambiente.
Neste processo há tratamento biológico, durante o qual bactérias aeróbias ou
anaeróbias decompositoras atuam nos resíduos das águas e eliminam até 90% da
matéria orgânica dissolvida.

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6.3 Biorremediação
A biorremediação é um processo natural de biodegradação, no qual seres vivos são
usados nas técnicas de tratamento de resíduos, para remediar ou eliminar as
contaminações no ambiente, através da introdução de fungos, bactérias, plantas
ou algas verdes, dependendo do tipo de contaminante que vai se degradar, para
acelerar o processo de decomposição dos resíduos, recuperando solo e águas
contaminadas. Este processo biológico pode regenerar os ecossistemas originais de
forma equilibrada, gerando menos ou nenhum tipo de poluição secundária.

O processo de biorremediação acontece porque o microorganismo utiliza substratos


orgânicos e inorgânicos, do agente contaminador, transformando-os em outras
moléculas. Os microorganismos vão metabolizar os resíduos tóxicos do meio, gerando
menos perturbações do que outros métodos não biológicos.

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