Você está na página 1de 4

RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO

I - IDENTIFICAÇÃO

Nome dos estagiários: Ingrid Barbosa Carvalho Aguilar e Fábio Natan Leal Moura

Supervisor responsável: César Rota Júnior

Período/Curso: 3º Período Psicologia (Matutino)

II - RELATO DAS ATIVIDADES REALIZADAS

A prática de estágio foi desenvolvida seguindo um formato remoto, via plataforma


Meet, de vídeo chamada, onde acadêmicos e orientador reuniam-se para o seguimento das
aulas. Objetivou a capacitação dos alunos enquanto entrevistadores, exercitando suas
capacidades de escuta alinhadas aos conhecimentos multidisciplinares. A proposta do
supervisor foi a realização de entrevistas com sujeitos idosos, que também foram público alvo
do projeto interdisciplinar. Os acadêmicos foram divididos em duplas, cuja função era
conduzir uma entrevista semiestruturada, sendo os sêniores os entrevistados. Buscava-se
saber a respeito do cotidiano dos participantes de maneira geral, investigando, ademais, a
influência da pandemia em suas vidas, a relação com a tecnologia, um dos únicos meios
possíveis de manter contato diante isolamento social, ou melhor, a maneira como o momento
pandêmico os afeta como um todo. Após o término da entrevista, o manejo era discutido
entre a sala e o orientador aperfeiçoava a condução dos alunos através de correções e
sugestões.

III – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DA EXPERIÊNCIA DO ESTÁGIO


Uma vez que os idosos foram escolhidos como tema central de investigação, houve a
necessidade de delimitar quais aspectos seriam estudados durante a pesquisa. Levando em
consideração o momento pandêmico vivenciado, os seniores ficaram em evidência uma vez
que, diante de várias pesquisas, como a levantada pelo Centro de Políticas Sociais da
Fundação Getúlio Vargas - FGV (2020), apontando “que as taxas de letalidade da doença
entre pessoas com 80 anos ou mais são 13 vezes maiores do que na faixa de 50 a 55 anos, e
75 vezes a letalidade da faixa de 10 a 19 anos”. Sendo uma idade já considerada fragilizada
em detrimento do Ageísmo, cunhado em 1969, pelo gerontólogo Robert Butler, para definir o
preconceito relacionado à idade, por serem considerados grupo de risco, ocorreu então a
explicitação da discriminação envolvendo a população idosa.

Por isso, através de uma série de entrevistas, nós, estudantes do curso de psicologia,
durante a execução do estágio, buscamos reconhecer os afetos que foram desencadeados pela
pandemia e que atingiram a população idosa. Pois, após a disseminação do coronavírus,
tiveram suas rotinas transformadas, sendo afastados de seus ciclos sociais, família e amigos, e
dos lugares que costumavam frequentar. Além de terem sido vítimas de forte preconceito
vindo tanto da população, quanto do próprio Estado, como consta em graves afirmações de
políticos, empresários, e até mesmo do presidente da República, que em entrevistas e
pronunciamentos oficiais tem se manifestado de modo que soa bastante indiferente às mortes
por COVID-19, principalmente no que se refere às vítimas idosas (SBT, 20/03/2020).

Portanto, coube a nós, acadêmicos, saber dos próprios seniores como é viver em meio
à pandemia, diante de um momento de aflição por consequência da doença, de isolamento,
afastados daqueles que amam e até de hostilidade, devido ao preconceito. Logo, duplas foram
organizadas para entrevistar um membro da população idosa, seguindo orientações do
supervisor que instruiu através de seus próprios conhecimentos e de fundamentação teórica
centrada na figura do analista, que coloca em prática as características do entrevistador no seu
exercício profissional. Especialmente o ato da escuta, porque, apesar de existir um
direcionamento por trás das perguntas, o objetivo era que o processo fluísse com uma
conversa, não planejado com antecedência. Dando, assim, espaço para que o entrevistado
também pudesse intervir e surpreender no rumo da entrevista. Para Macedo e Neumann, cabe
ao entrevistado, ou no caso de um processo de análise, ao paciente,

(...) comunicar tudo o que lhe ocorre, sem deixar de revelar algo que lhe
pareça insignificante, vergonhoso ou doloroso, enquanto que ao analista cabe
escutar o paciente sem o privilégio, a priori, de qualquer elemento de seu discurso.
Na efetivação dessa regra fundamental instaura-se a situação analítica, abrindo
possibilidades do desvelamento da palavra. (2005).

Para a surpresa dos acadêmicos, muitos dos idosos afirmaram que a pandemia não
havia provocado alterações muito significativas em suas rotinas, a não ser o distanciamento
das outras pessoas. Alguns deles já estavam acostumados a passar mais tempo em suas casas,
ou até mesmo em casas de temporada como sítios ou roças mais afastadas. Contaram que
seus afazeres rotineiros como ir ao mercado, fazer uma caminhada, não foram privados
justamente por serem considerados essenciais para toda a população, mas sempre muito
conscientes de tomar todas as precauções quando precisavam sair. Relatam que o que havia
sido forçado a fechar, como reuniões em instituições religiosas, continuaram de maneira
remota, bem como o contato social.

Em se tratando do uso das tecnologias, alguns demonstraram dificuldade, mas a


grande parte estava familiarizada com o básico que os aparelhos eletrônicos tem a oferecer,
como manter contato por mensagens ou telefonemas, o que houve de novidade foram as
vídeo chamadas que tornaram-se mais frequentes devido ao distanciamento social. Todavia, o
afastamento de fato afetou muitos dos entrevistados, que relataram sentir falta de parentes e
amigos, e afirmavam que o contato online não era a mesma coisa.

O entrevistado pela nossa dupla, constituída por Ingrid e Fábio, foi o senhor
Claudionor Pereira de Araújo. Inicialmente ele nos contou um pouco sobre si, não mencionou
sua idade, porém através de sua indicação soubemos que encontrava-se na faixa dos 70 anos.
Claudionor é eletricista, formado em engenharia na cidade de Belo Horizonte, hoje
aposentado. Trabalhou um tempo na capital São Paulo, entretanto, após a sua aposentadoria,
comprou um apartamento em Belo Horizonte, o que fez com que retornasse. Atualmente
mora em Brasília de Minas, mas também faz questão de visitar sua propriedade rural, pela
qual tem muito apreço. Ao referir-se sobre o local, diz ser privilegiado por conseguir se
manter afastado do risco e do bombardeio de informações sobre a pandemia, além das
notícias de óbitos de pessoas próximas, que o assustam diariamente.

Ademais, o entrevistado contou que preza muito pela sua liberdade, que mesmo
estando na cidade busca sair e realizar seus afazeres, sempre tomando todas as precauções.
Ademais, conversamos sobre sua juventude, sobre religião, casamento, valores, percorremos
por muitos assuntos que tangem não só sobre a vida do entrevistado, mas sobre lembranças e
aprendizados até os dias atuais. Por fim, perguntamos sobre os ensinamentos que vieram com
o momento pandêmico, e a resposta de Claudionor foi “a cada dia que passa, eu entendo da
seguinte maneira: o homem nunca deixa de aprender, e você aprende com os erros (...) eu
aprendo a cada dia, nunca parei de aprender, e respeito quem está me ensinando (...) a vida é
um aprendizado.”

IV – REFERÊNCIAS

MEDEIROS Kother Macedo, Mônica e NEUMANN de Barros Falcão, Carolina y (2005),


"A escuta na psicanálise e a psicanálise da escuta." Psychê, vol. IX, núm.15, pp.65-76
[Consultado: 23 de Junho ​de 2021]. ISSN: 1415-1138. Disponível em:
https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=30715905

COSTA Raíssa Maria Alves Soares Rev. Longeviver (2021), “Ageísmo em tempos de
pandemia: Desvelando o preconceito contra idosos no Brasil.” Rev. Longeviver, Ano III,
n. 9, Jan/Fev/Mar. São Paulo, 2021: ISSN 2596-027X. Disponível em:
https://revistalongeviver.com.br/index.php/revistaportal/article/view/866

Você também pode gostar