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Resumo

Introdução: Portugal tem, desde 1981, um Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM),
sendo um conjunto de entidades que cooperam com o objetivo de prestar assistência às
vítimas. O INEM é o organismo do Ministério da Saúde responsável por coordenar o
funcionamento do SIEM.
Objetivos: Observação da atuação dos profissionais do INEM nos diferentes meios de auxílio
às vítimas de doença súbita ou acidente.
Métodos: O estágio observacional no INEM teve uma carga horária total de 90 horas extra-
curriculares, distribuídas pelos meios SBV, SIV, VMER e CODU da Delegação Norte do INEM.
Discussão: Segundo estatísticas do INEM, as patologias que mais motivam a ativação dos
serviços de emergência médica pré-hospitalar são do foro cardiovascular e neurológico.
Por ano, morrem mais de 700.000 adultos na Europa, vítimas de doença cardiovascular,
fazendo desta a primeira causa de morte no mundo Ocidental. Destes, pelo menos 40%
morrem de morte súbita cardíaca, antes de chegarem ao hospital. Surgiram, por isso, as vias
verdes do EAM e o conceito de Cadeia de Sobrevivência, composta por quatro elos ou ações,
que visa aumentar a sobrevivência das vítimas de paragem cardiorrespiratória.
Conclusões: A abordagem da vítima no meio pré-hospitalar é feita seguindo o método ABCDE
e só é possível se houver comunicação entre os vários meios do INEM, tendo o CODU a
fulcral função de ativar os meios adequados às diversas situações, tendo cada um deles um
papel pré-definido. Este estágio permitiu-me conhecer melhor a função do INEM e dos seus
meios. Esta experiência foi muito enriquecedora, tanto a nível pessoal como profissional,
permitindo-me ter outra consciência da importância da abordagem pré-hospitalar. Acho que o
conceito de inter-ajuda e de cooperação com o INEM deveria ser implementado o mais cedo
possível na vida de cada cidadão. Pretendo passar a mensagem a cada vez mais pessoas.

I
Abstract

Introduction: Portugal has since 1981 an Integrated Medical Emergency System (SIEM), which
is a set of entities cooperating in order to provide assistance to the victims. INEM is the
organism of the Health Ministry responsible for the coordination of SIEM.
Objectives: Observation of INEM professionals in different ways of assistance to the victims of
sudden illness or accident.
Methods: The INEM observational stage had a total of 90 hours of extra-curricular workload
distributed by SBV, SIV, VMER and CODU of INEM Northern Delegation.
Discussion: According to statistics of INEM, the pathologies that most motivate the activation of
prehospital emergency’s medical services are the cardiovascular and neurological events.
Each year more than 700.000 adults die in Europe, victim of cardiovascular disease, making it
the leading cause of death in the Western world. From these ones, at least 40% die of sudden
cardiac death before reaching hospital. So, it was created the greenways of the EAM and the
concept of Survival Chain, composed by four links or actions aimed to ennhance the survival of
cardiac arrest victims.
Conclusions: The approach of victims in the prehospital environment is made following the
ABCDE method and it is only possible if there is communication between the different teams of
INEM, having CODU a central function in the activation of the ways adequate to different
situations, each of them having a predefined role. This internship allowed me to a best
comprehension from the function of the INEM and his means. This experience was very
rewarding both personally and professionally and allowed me to get another consciousness
from the importance of prehospital approach. I think the concept of mutual help and cooperation
with the INEM should be incorporated as soon as possible in the life of every citizen. I pretend
to pass the message to more people.

II
Agradecimentos

Apesar de estarem longe, nos Açores e em Lisboa, não deixo de lembrar e homenagear os
meus pais, irmão e madrinha; sem o seu amor não conseguiria chegar tão longe. Claro que
também quero agradecer muito à minha irmã, que tem partilhado comigo toda a experiência de
andar na faculdade e tem sido o meu grande pilar.
Quero agradecer ao meu namorado, que me tem apoiado nos momentos mais difíceis e me
motiva a nunca desistir, confiando sempre nas minhas capacidades, sem ele o meu percurso
teria sido muito mais difícil.
Quero agradecer ao senhor Fernando e dona Cidália pelas palavras de ternura e pela boa
disposição. Também quero deixar um obrigado à Dona Júlia pela paciência e atenção que me
dedicou nos anos do ciclo clínico do ICBAS.
Não esqueço, ainda, de algumas colegas com as quais estabeleci uma amizade verdadeira e
que me ajudaram muito em inúmeras circunstâncias, a Mara Serpa, a Manuela Bertão, a Diana
Anjos e a Ana Machado e que ainda hoje me sinto orgulhosa de ter tido a oportunidade de
trabalhar com elas. Um obrigada especial à colega Sofia Cunha que me ajudou muito na
realização deste trabalho.
Agradeço igualmente ao Prof. Dr. Humberto Machado por ter aceite ser o meu orientador,
dando-me a oportunidade de elaborar este trabalho e conhecer melhor o INEM e ao Dr. Luís
Meira.
Aos profissionais do INEM agradeço a disponibilidade, a partilha de conhecimentos e
experiências e a receção calorosa que me dispensaram em todos os turnos.

III
Siglas e Abreviaturas

A Via Aérea
AESP Actividade Elétrica Sem Pulso
AVC Acidente Vascular Cerebral
AVDs Actividades da Vida Diária
AP Auscultação Pulmonar
ASS Assitolia
B Ventilação
Bpm Batimentos por minuto
C Circulação
CHP-HSA Centro Hospitalar do Porto -
Hospital de Santo António
CODU Centro de Orientação de Doentes
Urgentes
Cpm Ciclos por minuto
CVP Cruz Vermelha Portuguesa
D Disfunção neurológica
DAE Disfibrilhador Automático Externo
DPOC Doença Pulmonar Obstrutiva
Crónica
E Exposição com controlo de
temperatura
EAM Enfarte Agudo do Miocárdio
EAP Edema Agudo do Pulmão
ECG Electrocardiograma
EV Endovenoso
FA Fibrilhação Auricular
FC Frequência Cardiaca
FR Frequência Respiratória
GNR Guarda Nacional Republicana
HIC Hipertensão Intracraneana
HTA Hipertensão Arterial
HTP Hipertensão Pulmonar
ICC Insuficiência Cardiaca Congestiva
i.v. Intravenoso
INEM Instituto Nacional de Emergência
Médica

IV
IRC Insuficiência Renal Crónica
M Resposta Motora – Escala de
coma de Glasgow
MID Membro Inferior Direito
MIE Membro Inferior Esquerdo
O Resposta Oral – Escala de coma
de Glasgow
PA Pressão Arterial
PC Pares Craneanos
PCR Paragem Cardiorrespiratória
P.L.S. Posição Lateral de Segurança
PSP Policia de Segurança Pública
QT Quimioterapia
SatO2 Saturação de Oxigénio
SAV Suporte Avançado de Vida
SBV Suporte Básico de Vida
SDR Sinais de Dificuldade Respiratória
SIEM Sistema Integrado de Emergência
Médica
SIV Suporte Imediato de Vida
SU Serviço de Urgência
T Temperatura
TAE Técnico de Ambulância de
Emergência
TCE Traumatismo Crânio-Encefálico
V Resposta Verbal – Escala de coma
de Glasgow
VIC Viatura de Intervenção em
Catástrofe
VMER Viatura Médica de Emergência e
Reanimação

V
Índice Pág.
Introdução 1
Objetivos e Motivação 2
A Emergência Pré-Hospitalar 3
Relato das Ativações
Estágio SBV Porto 1 12
Estágio SBV Porto 6 20
Estágio SIV Gondomar 21
Estágio VMER Hospital de Santo António 27
Estágio VMER Hospital de São João 29
Discussão 32
Conclusões 40
Bibliografia 43
Anexos 45
Anexo I – Fichas de Realização de
Estágio em Meio INEM e no CODU
Anexo II – Certificado de Frequência no
Estágio
1. Ficha de Observação Médica
2. Registo de Verificação do Óbito
3. Check-list Fármacos / Carga

VI
Introdução

Portugal tem, desde 1981, um Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM).


O SIEM é de um conjunto de entidades que cooperam com o objetivo de prestar assistência às
vítimas de acidente ou doença súbita, tais como a PSP, a GNR, o INEM, os Bombeiros, a CVP
e os Hospitais e Centros de Saúde. O INEM é o organismo do Ministério da Saúde responsável
por coordenar o funcionamento, no território de Portugal Continental, do SIEM.
O estágio observacional, que realizei no INEM, teve uma carga horária total de 90 horas extra-
curriculares, distribuídas pelos meios SBV, SIV, VMER e CODU da Delegação Norte do INEM
(Tabela 1).

Tabela 1. Distribuição da Carga Horária do Estágio Observacional e Nº de Ativações.

Meio Local Carga Nº de Ativação por Ativação por Ativação


Horária Ativações Doença Trauma Abortada
(horas)
SBV Porto 24 14 8 6 0
Porto 1 e 6
SIV Gondomar 24 6 4 2 0
Gondomar
VMER Hospital de São 12 3 3 0 0
São João João
VMER Hospital de 18 2 2 0 0
Santo Santo António
António
CODU Delegação 12
Norte do INEM

As atividades desenvolvidas em cada estágio, bem como a opinião dos profissionais sobre a
minha frequência no mesmo, foram registadas nas Fichas de Realização de Estágio em Meio
INEM e no CODU, apresentadas em anexo (Anexo I). O Certificado de Estágio (Anexo II)
mostra a distribuição das horas do estágio, por dias e meios do INEM.
A escolha dos meios teve em conta a sua proximidade geográfica e o maior número de
ativações.
No relato das ativações selecionei, apenas, os casos com maior interesse.

1
Objetivos e Motivação

Este estágio teve como principais objetivos:


- Assistir e vivenciar a atividade diária dos operacionais do INEM, possibilitando uma visão
global da atividade e da atuação do INEM, no domínio da emergência médica e do socorro pré-
hospitalar;
- Perceber as diferenças que existem entre cada meio do INEM;
- Contatar com os protocolos de abordagem de cada meio;
- Fazer um relatório das principais ativações em cada meio;
- Possibilitar a troca de experiências com colegas de diferentes áreas;
- Sensibilizar e informar outras pessoas sobre o trabalho que o INEM realiza.

O que me motivou a fazer este estágio foi o fascínio e curiosidade que sempre tive pela
atividade do INEM. Acho que este estágio me enriqueceu muito como futura profissional de
saúde, uma vez que tive a oportunidade de conhecer a realidade da emergência pré-
hospitalar portuguesa e aplicar algum do conhecimento académico às situações clínicas.

2
A Emergência Pré-Hospitalar

O conceito de atendimento pré-hospitalar define-se como “toda e qualquer assistência


realizada direta ou indiretamente, fora do âmbito hospitalar, através dos diversos meios e
métodos disponíveis, com uma resposta adequada à solicitação. Esta pode ir do simples
conselho ou orientação médica, ou ao envio de uma viatura de suporte básico ou suporte
avançado de vida ao local de ocorrência, visando a manutenção da vida e/ou minimização das
sequelas.” (Fontanella et al, 1992)

O conceito de SIEM é relativamente recente. A evolução histórica da Emergência Médica tem


sido lenta, com origem em sistemas militares.
O primeiro Sistema de Emergência foi criado pelo Cirurgião Francês, Dr. Dominique Larrey,
durante as Guerras Napoleónicas de 1792. A prioridade no tratamento das vítimas incluía a
intervenção cirúrgica e a estabilização de fraturas, a desinfeção e tratamento da dor. Na
segunda metade do Século XIX, são criados os primeiros Sistemas de Emergência Civis,
compostos por enfermeiros e membros de Ordens Religiosas ou Associações Humanitárias,
como a Cruz Vermelha, os Samaritanos, etc.

Em 1955, na França, foram criadas as primeiras unidades móveis de reanimação, tendo como
objetivo inicial a assistência médica às vitimas de acidentes de viação e suporte de doentes
sujeitos a transporte inter-hospitalar. Durante esta década, são redescobertas técnicas como o
choque , a desfibrilação e as manobras de suporte básico de vida, integradas, em 1959, nos
protocolos de emergência médica. (Lopes et al, 1999)
Em Portugal o socorro pré-hospitalar de doentes, inicia-se em 1965. O primeiro passo é dado
através da implantação do número nacional de socorro “115”, agora “112”; que servia, numa
primeira fase, para acudir a vítimas de acidentes na via pública, em Lisboa. Assim, era
acionada uma ambulância tripulada por polícias, que efetuavam o transporte para o hospital.
Nos anos seguintes, este serviço estende-se ao Porto, Coimbra, etc. Em 1971 é criado o
Serviço Nacional de Ambulâncias (SNA). O objetivo deste serviço era “assegurar a orientação,
coordenação e eficiência das atividades respeitantes à prestação de primeiros socorros a
sinistrados e doentes, bem como ao respectivo transporte”. Em 1980 é criado o SIEM e em
1981 é fundado o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).
Em 1982 tem início o funcionamento do Centro de Informação Antivenenos (CIAV).
O CODU-Porto abre em 1991 e, nesse ano, entra em funcionamento a VMER nos hospitais.

Atualmente, os pedidos de socorro são feitos através do Número Nacional de Emergência


“112”, mas o atendimento das chamadas cabe à PSP, nas centrais de emergência. Os de
ordem médica são encaminhados para o CODU da respectiva região.

3
CODU

O seu funcionamento é assegurado 24h por dia, por equipas de profissionais qualificados
(Médicos e Técnicos), com formação específica para efetuar, no mais curto espaço de tempo, o
atendimento, triagem, aconselhamento de pré-socorro, seleção e acionamento dos meios de
socorro mais adequados a cada ocorrência, preparando a receção hospitalar dos doentes, com
base em critérios clínicos, geográficos e de recursos da unidade de saúde de destino.

Sempre que o CODU aciona um meio de emergência, procura que seja o que está mais perto
do local da ocorrência, independentemente da entidade a que pertence (INEM, Bombeiros ou
CVP).

O INEM tem quatro CODU em funcionamento: Lisboa, Porto, Coimbra e Faro.


Assim sendo, são os CODU de cada região que coordenam os diversos meios de comunicação
e de atuação no terreno, como sejam as Ambulâncias INEM, as Ambulâncias CODU, as
VMER, as Viaturas de Intervenção em Catástrofe (VIC) e os Helicópteros de Emergência
Médica de acordo com:
1. A situação clínica das vítimas;

2. A proximidade do local de ocorrência;

3. A acessibilidade ao local de ocorrência.

Este serviço assegura o acompanhamento das equipas de socorro, no terreno, através das
informações clínicas recebidas. Para além da transmissão de dados, os profissionais do INEM
recorrem ao CODU para aconselhamento, orientação ou pedido de um meio mais diferenciado,
em determinadas situações.

Existem 3 áreas distintas com computadores e telefonistas no CODU:

1.O serviço de atendimento (12 operadores), que atende qualquer chamada nacional de
qualquer região do país (Figs. 3 e 4).

2.O serviço de acionamento regional (4 operadores) faz a triagem e gestão dos meios do
INEM do Norte do país, apenas. Vê as ambulâncias disponíveis e quais as mais próximas da
área da ocorrência (Figs. 1 e 2).

3. O serviço dos 2 médicos reguladores, que comunicam com o serviço de atendimento e


decidem que meios do INEM devem ser acionados, quando propostos por aqueles técnicos.
Interpretam, também, os ECGs recebidos diretamente das ambulâncias e dão instruções.

4
Fig. 1 Ambulâncias acionadas na região do Porto (para norte de Estarreja)

Fig. 2 Número de eventos pelo país inteiro

5
Fig.3 Caracterização sumária da ocorrência

Fig. 4 Número de eventos ativos

6
Ambulâncias SBV

Estão sedeadas em bases do próprio Instituto e em corpos de bombeiros por todo o país,
designados de Postos de Emergência Médica (PEM). Têm como objetivo principal a
estabilização de doentes que necessitem de assistência, durante o transporte, para uma
unidade hospitalar.

A sua tripulação é composta por 2 Técnicos de Ambulância de Emergência (TAE), que aplicam
medidas de Suporte Básico de Vida, mas que não estão autorizados a efetuar procedimentos
invasivos ou administrar fármacos.

Fig. 5 Ambulância SBV

Fig. 6 Sacos de via aérea e de trauma Fig. 7 Saco de via aérea Fig. 8 Aspirador de secreções

7
O saco de primeira abordagem contém ampolas de glicose a 30%, saco de vómito, insuflador
manual (ambu) de tamanho adulto e pediátrico, aspirina e nitroglicerina, sonda de aspiração,
tubos de guedel, medidor de glicemia capilar, medidor da TA, máscaras faciais, etc.

O saco de feridas contém ligaduras, pensos e material desinfetante.

Ambulâncias SIV

Existem no Norte do País desde 2007. Diferem das ambulâncias SBV na tripulação, nas suas
competências e no equipamento. A tripulação é composta por 1 Enfermeiro e 1 Técnico de
Ambulância de Emergência, que prestam cuidados de saúde diferenciados, tais como
manobras de reanimação e outros procedimentos invasivos, que estão devidamente
protocolados. Desta forma, garante-se uma melhor assistência pré-hospitalar em situações de
maior gravidade, até estar disponível uma equipa com capacidade de prestação de Suporte
Avançado de Vida. Ao nível dos recursos técnicos tem a carga de uma Ambulância de SBV,
acrescida de um monitor-desfibrilador (Lifepack) e diversos fármacos. A SIV só tem medicação
de “lifesaving”, ex: analgesia, não faz a sedação da vítima. O equipamento das SIV permite a
transmissão de electrocardiograma e sinais vitais.

Fig. 9 Ambulância SIV

8
Fig.11 Caixa de fármacos da mochila de primeira abordagem

Fig. 10 Mochila de Via Aérea e Trauma da Ambulância SIV

Fig. 12 Monitor-desfibrilhador (Lifepack)

VMER

A VMER é um veículo de intervenção pré-hospitalar destinado ao transporte rápido de uma


equipa médica ao local onde se encontra o doente, consistindo numa extenção do Serviço de
Urgência Hospitalar à comunidade.
As VMER atuam na dependência direta dos CODU e têm base hospitalar.

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A sua equipa é constituída por 1 Médico e 1 Enfermeiro e dispõe de equipamento de SAV.
O seu principal objetivo consiste na estabilização pré-hospitalar e no acompanhamento médico
durante o transporte de vítimas de acidente ou doença súbita, em situações de emergência.
É da responsabilidade do médico, em cada ativação, preencher a ficha de observação médica,
que apresenta um formato único com três cópias com destinos diferentes, a primeira cópia é
para arquivo no INEM, a segunda é entregue no Hospital e a terceira para arquivo na base
VMER. Tem como objetivo melhorar a prestação de cuidados por parte do INEM, criando uma
base de dado, que armazena a informação registada nas folhas de registo clínico (Anexo 1.
Ficha de Observação Médica).

Fig. 13 Carro da VMER e o material que transporta

O médico da VMER não pode passar a certidão de óbito, apenas faz a verificação de óbito (
Anexo 2. Registo de Verificação do Óbito). Um médico do hospital, ou do Instituto de Medicina
Legal, é que passa a certidão de óbito da vítima.

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Fig. 14 Material da VMER Fig. 15 Mochila de primeira abordagem

Fig. 16 e 17 Caixa de fármacos da VMER

A mochila principal, contém todos os fármacos de uma ambulância SIV, mais os sedativos.
Esta mochila sai sempre do carro e acompanha o médico (Anexo 3. Check-list Fármacos /
Carga).

A mochila de trauma é igual à da ambulância SIV.

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Relato das Ativações

Ambulância SBV Porto 1 (19 de novembro de 2011)

2ª. Ativação

Hora: 17h35m

Sexo feminino de 85 anos

Motivo: hipoglicemia e respiração ruidosa.

Local: domicílio.

Saída com a VMER por hipoglicemia, com alteração do estado de consciência.

À nossa chegada a vítima apresenta-se sonolenta, não verbaliza, dirige o olhar e responde à
voz, Glasgow=10 (O-3; V-1; M-6). Glicemia capilar=28 mg/dL . Encontra-se semi-sentada na
cama, transpirada e pálida. Com caquexia.

A filha diz que ela come pouco e, por vezes, dá insulina a mais; já teve episódios semelhantes
no passado.

Antecedentes: DM tipo 2 insulinotratada com Humalog®.

Avaliação:

A- Via aérea patente;


B- Sem SDR, Sat O2=97% (ar ambiente);
C- TA=120/70 mmHg, FC=70 bpm, pálida;
D- Glasgow=10 (O-3; V-1; M-6), não verbaliza, dirige o olhar e responde à voz. Pupilas
isocóricas;
E- Transpirada, T = 36,8ºC.

Atuação: administração oral de papa de açúcar dissolvida em água com uma espátula. Quando
chegou a VMER administraram, intravenosamente, soro glicosado a 5% com 4 ampolas de
glicose hipertónica a 30% dissolvidas.

Foi revertida a hipoglicemia no local. Na nova medição da glicemia=170 mg/dL. Glasgow =15
(0-4, V-5, M-6).
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Hipótese de diagnóstico: Hipoglicemia por insulinoterapia não controlada.

Recusou o transporte para o S.U. do CHP-HSA para ser observada. Assinou o termo de
responsabilidade.

Ambulância SBV Porto 1 (19 de dezembro de 2011)

1ª. Ativação

Hora: 14h40m

Sexo feminino de 58 anos.

Motivo: queda da própria altura.

Local: via pública (loja de conveniência).

À nossa chegada vítima consciente, colaborante e orientada. Queixava-se de dor no lado


esquerdo da bacia. Apresentava-se em decúbito dorsal no chão, com rotação externa e
encurtamento do membro inferior esquerdo, levando a suspeitar de fratura do cólo do fémur ou
fratura trocantérica. Sem fraturas anteriores. Nega síncope. Com náuseas mas sem vómitos.
Refere ter batido com a cabeça, mas sem lesões visíveis no couro cabeludo.

Antecedentes: Osteoporose medicada com Bonviva® e Ideos®. Cancro do pulmão, rim e


mama. Ciclos de QT há 15 anos.

Avaliação:

A- Via aérea patente;


B- Sem SDR, Sat O2=98% (ar ambiente);
C- TA=121/66 mmHg, FC=75 bpm, corada;
D- Glasgow=15 (O-4; V-5; M-6), pupilas isocóricas;
E- Sem escoriações ou outras lesões visíveis. Dor à mobilização passiva do membro
inferior esquerdo.

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Atuação: imobilização em maca de vácuo e transporte em plano duro metálico. Encaminhada
para o S.U. do CHP-HSA.

Triagem de Manchester: amarelo.

2ª. Ativação

Hora:18h15m

Sexo feminino de 37 anos.

Local: via pública.

Motivo: queda na via pública, por alteração do estado de consciência.

Encontrada caída na via pública, a gemer. As pessoas que passavam julgavam-na alcoolizada
devido ao atordoamento e agitação motora que tinha quando recuperou a consciência.

À nossa chegada ao local a vítima apresentava-se agressiva, muito agitada e desorientada no


tempo e no espaço, Glasgow=14 (O-4; V-4; M-6). Urinada, com mordedura da língua, com
hematoma na testa, ferida sangrante na pirâmide nasal e no 5º dedo da mão direita. Nauseada,
vomitou conteúdo alimentar dentro da ambulância do INEM.

Refere que toma, sem falhas, a medicação para a epilepsia. Não bebeu café ou álcool. Há
meses que não tinha uma crise epilética. É seguida por um médico neurologista no H.S.João.

Antecedentes: epilepsia medicada com Diplexil®.

Avaliação:

A- Via aérea patente, mordedura na língua;


B- Sem SDR, Sat O2=96% (ar ambiente);
C- TA=138/97 mmHg, FC=109 bpm, pálida;
D- Glasgow=14 (O-4; V-4; M-6), pupilas isocóricas;
E- Transpirada, Temp.não avaliada. Hematoma na testa, ferida sangrante na pirâmide
nasal e 5º dedo da mão direita.

Atuação: curativo da ferida do nariz e do 5º dedo.

Hipótese de diagnóstico: crise convulsiva numa doente epilética.

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Recusou o transporte para o S.U. do H.S.João para ser observada. Assinou o termo de
responsabilidade.

3ª. Ativação

Hora: 19h25m

Sexo masculino de 66 anos.

Local: via pública.

Motivo: alteração do estado de consciência.

À nossa chegada estava sentado na berma do passeio, consciente, orientado e colaborante,


transpirado , com arrepios de frio e pálido. Uma farmacêutica tinha avaliado a tensão arterial
antes de chegarmos, TA=228/110mmHg. Refere pré-síncope acompanhada de vómito de
conteúdo alimentar, parestesias e diplopia. Nega síndrome vertiginoso. Nega sobresaltos.
Nega cefaleias. Refere não ter tomado a medicação para a HTA durante 5 dias seguidos.

Antecedentes: HTA e dislipidemia, medicado com Fositen.

Avaliação:

A- Via aérea patente;


B- Sem SDR, Sat O2=97% (ar ambiente);
C- TA=192/100 mmHg, FC=86 bpm, pálido;
D- Glasgow=15 (O-4; V-5; M-6), pupilas isocóricas;
E- Transpirado, Temp.não avaliada.

Glicemia capilar=143mg/dL.

Atuação: colocação de cobertor de aquecimento.

Hipótese de diagnóstico: crise hipertensiva.

Encaminhado para o S.U. do CHP-HSA.

Triagem de Manchester: amarelo.

15
Ambulância SBV Porto 1 (20 de fevereiro de 2012)

1ª. Ativação

Hora: 13h57m

Sexo feminino de 47 anos.

Local: via pública (quarto de hotel).

Motivo: disartria e perda da força.

À nossa chegada a vítima estava deitada na cama, consciente e colaborante, com fala
lentificada, com desorientação temporo-espacial, desiquilibrio e ataxia da marcha, Glasgow=14
(O-4; V-4; M-6). Apresentava ferida na parte interior do lábio superior, com sangue seco no
mesmo, que estava edemaciado. Possível queda ou agressão. Havia várias caixas de
comprimidos vazias, à sua volta. Concluiu-se ter havido ingestão de 30 comprimidos de 300mg
de Wellbutrin, 60 comprimidos de 2 mg de Rivotril, quantidade desconhecida de Olcadil e álcool
que não soube especificar.

Antecedentes psiquiátricos, 2ª tentativa de suicídio.

Medicação habitual: Olcadil e Rivotril para a epilepsia, Wellbutrin para a depressão.

Avaliação:

A- Via aérea patente, ferida cortante na parte interior do lábio superior, com sangue seco e
lábio edemaciado;
B- Sem SDR, Sat O2=98% (ar ambiente);
C- TA=129/90 mmHg, FC=106 bpm;
D- Glasgow=14 (O-4; V-4; M-6), pupilas isocóricas;
E- Temp.não avaliada, com várias caixas de comprimidos vazias à sua volta.

Glicemia capilar: 118mg/dl

Hipótese de diagnóstico: intoxicação medicamentosa.

Atuação: vítima encaminhada para o S.U. do CHP-HSA para tratar a fase aguda da
intoxicação. Depois será encaminhada para um hospital com valência psiquiátrica - H.S.João.

Triagem de Manchester: laranja

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2ª. Ativação

Hora: 16h30m

Sexo masculino de 26 anos.

Local: via pública.

Motivo: queda com síncope.

Devido a discussão e agressão física, a vítima caiu de costas no passeio, bateu com a cabeça
e teve síncope.

À nossa chegada a vítima estava em decúbito dorsal no passeio, consciente, colaborante e


orientado. Glasgow=15 (O-4; V-5; M-6). Sem parestesias. Sem prostração, nega sonolência ou
vontade de vomitar. Com dor localizada na zona do hematoma contido na zona parieto-occipital
direita. Sem exteriorização de sangue.

Sem antecedentes pessoais.

Avaliação:

A- Via aérea patente;


B- Sem SDR, Sat O2=93% (ar ambiente);
C- TA=111/63 mmHg, FC=96 bpm, corado;
D- Glasgow=15 (O-4; V-5; M-6), pupilas isocóricas, reativas;
E- Temp.não avaliada, com dor localizada na zona do hematoma contido na zona parieto-
occipital direita. Sem exteriorização de sangue.

Glicemia capilar: 91mg/dl

Atuação: imobilização do pescoço com colar cervical e imobilização do corpo em plano duro.

Hipótese de diagnóstico: TCE.

Vítima transportada para o S.U. do CHP-HSA para a unidade de cirurgia.

Triagem de Manchester: amarelo

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3ª. Ativação

Hora: 17h41m

Sexo masculino de 82 anos.

Local: via pública.

Motivo: queda da própria altura.

À nossa chegada a vítima estava consciente, colaborante e orientada. Diz ter tropeçado e
caído no passeio. Nega síncope. Com tonturas e visão enevoada. Com cefaleias pós-queda.
Apresenta ferida corto-contusa frontal esquerda, sangrante. Com diarreia há 3 semanas, que
não responde à medicação.

Antecedentes: colecistectomia, cancro do rim, problemas articulares (artroses). Com demência


senil.

Medicação: Cortisona em SOS e analgésicos.

Avaliação:

A- Via aérea patente;


B- Sem SDR, Sat O2=99% (ar ambiente);
C- TA=145/88 mmHg, FC=80 bpm, corado;
D- Glasgow=15 (O-4; V-5; M-6), pupilas isocóricas, pares craneanos sem alterações;
E- Temperatura (não avaliada), ferida corto-contusa frontal esquerda sangrante.

Glicemia capilar: 128mg/dl.

Atuação: limpeza da ferida com soro fisiológico e gaze. Vítima transportada para o S.U. do
CHP-HSA, para a pequena cirurgia.

Triagem de Manchester: amarelo

4ª. Ativação

Hora: 18h54m

Sexo feminino de 70 anos.

18
Local: domicílio.

Motivo: dispneia e dor torácica.

À nossa chegada a vítima estava consciente, sentada numa cadeira , com oxigénio por cânula
nasal a 3L/min, a hiperventilar e com queixas de dispneia e dor torácica pré-cordial. Sem
cianose central ou periférica.

Antecedentes: FA, I.C.Congestiva, Asma e DM tipo 2, HTA e carcinoma da tiróide há 30 anos.


Com obesidade mórbida, pernas com insuficiência linfática e com flictenas.

Medicação habitual: Miflonide, Ventilan®, Atrovent para nebulizar com Onbrez®, Risidon®,
Diltiazem®, Triatec®, Nitradisc® 10, Lasix®, Tromalyt®, Letter®, Voltaren Retard®, Lorenin®,
Tramadol em SOS, Amlodipina, Ramipril, Triticum®.

Avaliação:

A- Via aérea patente;


B- Com SDR, Sat O2=96% (3L/min), a hiperventilar, FR não avaliada;
C- TA=148/80 mmHg, FC=96 bpm, corada;
D- Glasgow=15 (O-4; V-5; M-6), pupilas isocóricas;
E- Tauricular: 36,9ºC.

Glicemia: 131mg/dl

Atuação: administração de O2 por máscara facial a 5L/min. Transporte para o S.U. do CHP-
HSA.

Triagem de Manchester: laranja.

19
Ambulância SBV Porto 6 (2 de abril de 2012)

1ª. Ativação

Hora: 14h07m

Sexo masculino de 40 anos.

Local: via pública.

Motivo: dor retroesternal, após ingestão de bebidas alcoólicas.

À nossa chegada a vítima apresentava-se consciente e colaborante, sentada no passeio, com


as mãos na cabeça e com queixas de tonturas e cefaleias. Muito ansiosa. Dor retroesternal, em
picada, de intensidade 5 em10. Sem palpitações. Intenso cheiro a álcool, com desiquilibrio da
marcha.

Antecedentes: Ex-consumidor de haxixe e cocaína fumadas. Desconhece problemas de saúde.

Avaliação:

A- Via aérea patente;


B- Sem SDR, Sat O2=92% (ar ambiente);
C- TA=131/89 mmHg, FC=89 bpm, corado e hidratado;
D- Glasgow=15 (O-4; V-5; M-6), pupilas isocóricas;
E- Sem alterações, T.auricular não avaliada. .

Atuação: transportado para o S.U. do CHP-HSA.

Triagem de Manchester: amarelo.

20
Ambulância SIV Gondomar (17 de dezembro de 2011)

1ª. Ativação

Hora: 15h35m

Sexo feminino de 91 anos.

Motivo: dispneia e cianose.

Local: domicílio.

À nossa chegada a doente apresentava-se agitada, sentada no sofá, com queixas de dispneia
e com utilização dos músculos acessórios. Com cianose labial, palidez da pele e extremidades
muito frias. Auscultação pulmonar: sibilos inspiratórios, sem EAP. Sem dor torácica. Tinha
vomitado conteúdo alimentar.

Antecedentes: HTA e hiperuricemia, medicada. Pacemaker cardíaco há 6 anos.

Avaliação:

A- Via aérea patente;


B- Com SDR, tiragem supra-costal, FR= 53cpm, Sat O2=87% (ar ambiente);
C- TA=90/40 mmHg, FC=68 bpm, palidez da pele, extremidades frias e cianose dos lábios,
ECG de 12 derivações: ritmo de pacemaker
D- Glasgow=15 (O-4; V-5; M-6), pupilas isocóricas;
E- T. auricular: 35ºC

Glicemia: 251mg/dL.

Atuação: administração de O2 por máscara facial de alta concentração (15L/min), acesso


venoso periférico, para administração de soro fisiológico NaCl a 0,9% 100ml i.v.

Hipótese de diagnóstico: choque.

Transporte para o S.U. do H.S.João. No H.S.João a vítima foi colocada na sala de emergência,
com triagem de Manchester vermelho.

21
2ª. Ativação

Hora:19h05m

Sexo masculino de 67 anos.

Motivo: hipotensão e palpitações.

Local: domicílio.

Palpitações de início súbito em repouso. Doente com cansaço habitual, ainda a recuperar de
cirurgia de amputação do membro inferior esquerdo há 3 semanas. Nega dor ou dispneia.
Nega ter-se enervado. Nega alterações do estado de consciência.

À nossa chegada o doente estava deitado na cama, transpirado e pálido. Sem cianose
periférica ou central. Familiares referem quadro recorrente de palidez, sudorese e hipotensão,
que são revertidos espontaneamente. Com queixas de dor ao urinar e diarreia há 5 dias,
medicado com Ultra Levure.

Antecedentes: Cardiopatia isquémica com cirurgia de revascularização em 2004. I. Arterial


(grau IV) por oclusão de bypass femoro-poplíteo com amputação do MIE. Neste momento com
dispneia e infeção urinária, não medicado. DM tipo 2, Dislipidemia.

Medicação habitual: Triticum® 150mg, Zarator® 20mg, Darob 160mg, Gabapentina 600mg,
Lexotan 1,5mg, Lisinopril 5mg, Tromalyt®150mg, Omeprazol 20mg, Clopidogrel 75mg,
Insulatard ® 18-24,

Avaliação:

A- Via aérea patente;


B- Sem SDR, FR=18cpm, Sat O2=99% (ar ambiente), AP normal;
C- TA=137/95 mmHg, FC=135 bpm, pulso amplo e rítmico, ECG de 12 derivações:
taquicardia auricular ectópica com bloqueio de ramo direito já pré-existente;
D- Glasgow=15 (O-4; V-5; M-6), pupilas isocóricas;
E- T. auricular: 35,7ºC

Glicemia capilar=409mg/dL.

Atuação: administração de soro fisiológico com NaCl 0,9% 100 ml iv.

Transporte para o S.U. do H.S.João. À chegada ao hospital apresenta-se sem queixas.

Triagem de Manchester: amarelo.

22
3ª Ativação

Hora: 20h50m

Motivo: 2 vítimas de atropelamento. Colisão entre 1 viatura ligeira e um casal que se


deslocava a pé.

Local: via pública.

PSP no local. As vítimas sopraram o balão, que não acusou álcool. O condutor da viatura
ligeira estava sob efeito de álcool (1,65 g de álcool no sangue).

Vítima 1: Sexo masculino de 45 anos.

À nossa chegada estava deitado na relva consciente e reativo. Queixas de dor no ombro
direito de intensidade 6 em 10, MID (pé) e grade costal direita. Foi projetado 2 metros no
passeio, sem perda de consciência.

Antecedentes: alergia à Penicilina. Nega antecedentes patológicos ou medicação habitual.

Avaliação:

A- Via aérea patente;


B- Sem SDR, FR=18cpm, Sat O2=99% (ar ambiente), AP normal;
C- TA=130/95 mmHg, FC=142 bpm, pulso amplo e rítmico, sem perdas sanguíneas
visiveis;
D- Glasgow=15 (O-4; V-5; M-6), pupilas isocóricas;
E- T. auricular não avaliada. Sem queixas de dor na cervical. Não consegue fazer a
mobilização do membro superior direito por dor. Nega formigueiro. Com escoriação e
pequeno hematoma no tornozelo direito.

Glicemia capilar= 140 mg/dl.

Atuação: Imobilização em plano duro com fixação cervical; é-lhe colocada manta de
aquecimento. Acesso i.v. com paracetamol 1 grama e NaCl a 0,9%.

Transporte para o S.U. do CHP-HSA.

Triagem de Manchester: amarelo.

23
Vítima 2: Sexo feminino de 45 anos

À nossa chegada encontrava-se de pé, com queixas de dor na perna esquerda e no hálux
esquerdo à mobilização. Hematoma na perna direita.

Sem antecedentes patológicos ou medicação habitual.

Avaliação:

A- Via aérea patente;


B- Sem SDR, FR=24cpm, Sat O2=99% (ar ambiente);
C- TA=130/80 mmHg, FC=80 bpm, pulso amplo e rítmico, sem perdas sanguíneas visiveis,
hematoma na perna direita;
D- Glasgow=15 (O-4; V-5; M-6), pupilas isocóricas;
E- T. auricular não avaliada, queixas de dor na perna esquerda e no hálux esquerdo à
mobilização.

Glicemia capilar =144mg/dL.

Atuação: não foi necessário administrar medicação. Acionada outra ambulância SBV de Rio
Tinto.

Transporte para o S.U. do CHP-HSA.

Ambulância SIV Gondomar (3 de abril de 2012)

1ª. Ativação

Hora: 14h50m

Sexo feminino de 90 anos.

Local: domicílio.

Motivo: lipotímia.

Muito dependente nas AVDs, acamada e mobilizada pelos familiares.


24
À nossa chegada a vítima estava sentada num sofá, já recuperada de síncope, consciente e
orientada, pálida, sonolenta, com fala arrastada. Sem SDR, nem cianose. Refere dor em
ambos os braços, mais ao toque. Edema das mãos, que já tinha. Familiares referem que, antes
de chegarmos, não respondia a estímulos verbais ou dolorosos. Esteve inconsciente bastante
tempo. Segundo familiares, tem assimetria facial (boca e olho direitos).

Antecedentes: AVC em 2010 (com hemiparésia esquerda de grau 5). FA. HTA e DM tipo 2,
cirurgia à tiróide. Queixa-se frequentemente de dor nos braços e nas pernas.

Medicação habitual: Ramipril 5mg, Glucophage® 850mg, Risidon®, Glicazida, Triticum®


150mg, Lasix® 40mg, Letter® 0,1mg, Bromazepam 3mg, Pantoprazol 40mg, Iniciou em 2010:
Augmentin duo 1 cp de 12h/12h, Lanoxin 0,25 1 id, Concor® 5mg 1 id, Sintrom® 4mg segundo
esquema de hipocoagulação, Cordarone® 200mg, Digoxina 0,125.

Avaliação:

A- Via aérea patente;


B- Sem SDR, Sat O2=97% (ar ambiente);
C- TA=106/58 mmHg, FC=64 bpm, pulso amplo e rítmico ECG de 12 derivações: ritmo
sinusal normal com bloqueio do 1ºgrau, alteração inespecífica da onda T, sem sinais de
isquemia;
D- Glasgow=15 (O-4; V-5; M-6), pupilas isocóricas, exame neurológico sumário normal,
sem alterações dos pares craneanos;
E- T. auricular:35,6ºC.

Glicemia capilar =155mg/dl.

Atuação: transporte para o S.U. do CHP-HSA.

Hipótese de diagnóstico: AVC.

Triagem de Manchester: amarelo.

2ª. Ativação

Hora: 16h50m

Motivo: acidente de viação.

25
Local: via pública.

Ambulância dos bombeiros de Valbom no local.

Capotamento de veículo ligeiro com 3 ocupantes, devido a rebolamento de +/- 30 metros.

À nossa chegada as 3 vítimas, do sexo masculino, já estavam fora da viatura; 2 delas


recusaram ser examinadas e ser transportadas ao hospital, alegando que estavam bem, não
aparentando lesões nem queixas.

Vítima examinada:

Sexo masculino de 21 anos.

Vinha no lugar da frente, ao lado do condutor, com o cinto de segurança. Saiu do veículo pelos
seus próprios meios.

Consciente, colaborante e orientado. Avaliação neurológica normal, sem défices, sem


parestesias. Pupilas e pele sem alterações. Sem perda de consciência. Apenas apresentava a
unha do 4º. dedo da mão direita arrancada. Refere, apenas, dor no dedo. Nega náuseas.

Sem antecedentes patológicos, não faz medicação habitual e desconhece alergias.

Avaliação:

A- Via aérea patente;


B- Sem SDR, Sat O2=99% (ar ambiente), AP normal;
C- TA=137/74 mmHg, FC=80 bpm, pulso amplo e rítmico;
D- Glasgow=15 (O-4; V-5; M-6), pupilas isocóricas, exame neurológico sumário normal;
E- T. auricular:35,6ºC.

Glicemia capilar =112mg/dl.

Atuação: foi-lhe feito curativo no dedo.

Transporte para o S.U. do CHP-HSA, na ambulância dos bombeiros de Valbom. A ambulância


do INEM não acompanhou a vítima.

26
VMER do H. S. António (3 de dezembro de 2011)

1ª. Ativação

Hora: 15h25m

Sexo feminino de 69 anos.

Motivo: dor pré-cordial.

Local: domicílio.

À nossa chegada a vítima estava deitada na maca da ambulância dos bombeiros da Areosa, já
a fazer oxigenioterapia por máscara facial a 8L/min (FiO2 de 53%). Tinha a mão no peito e
queixava-se.

Antecedentes: HTA, DM tipo2, obesidade, dislipidemia, hipotiroidismo, 4 EAMs (último em


2010), AVC, depressão, glaucoma.

Medicação habitual: Tromalyt®, Ludomil, Morfix, Tegretol, Thyrox® 0,1mg/dia, Xalatan 0,005%,
Cosopt, Ramipril, Bisoprolol, Clopidogrel, Rosuvastatina, Insulina.

Avaliação:

A- Via aérea patente;


B- Sem SDR, FR= 20cpm, Sat O2=99% (ar ambiente), AP normal;
C- TA=148/76 mmHg, FC=100 bpm, pulso amplo e rítmico, ECG de 12 derivações normal
com ritmo sinusal;
D- Glasgow=15 (O-4; V-5; M-6), pupilas isocóricas;
E- T. auricular:35,6ºC.

Glicemia capilar =149mg/dl.

Atuação: administração de um comprimido de nitrato, sublingual, para alívio sintomático


imediato e máscara de oxigénio a 2L/min.

Hipótese de diagnóstico: Angina pectoris.

Transporte na ambulância dos bombeiros para o CHP-HSA, com acompanhamento médico. À


chegada ao hospital a vítima estava estável e sem queixas.

Triagem de Manchester: laranja.

27
VMER do H.S.António (11 de dezembro de 2011)

1ª. Ativação

Hora:17h20m

Sexo feminino de 84 anos.

Motivo: lipotímia.

Local: domicílio.

Ambulância Porto 4 no local.

À nossa chegada a vítima já tinha recuperado da lipotímia,encontrando-se acordada, mas com


discurso confuso, a repetir a frase: “Já estou melhor” inúmeras vezes. Sem queixas de dor.
Pele suada. Prostrada, deitada num sofá. Segundo a filha, já teve vários episódios de lipotímia
anteriormente.

Antecedentes: Alzheimer há 7 anos, DM tipo 2 há 15 anos, HTA, FA sob digitálico.

Medicação habitual: Fludex 2,5mg (id), Lorenin 2,5 mg (id), Sinvastatina, Metformina,
Diamicron® LM 60, Daflon, Concor® 2,5 mg, Biloban 40mg, Actos 30, Ariceptm, Herbesser,
Moduretic 5mg, Tercian gotas.

Avaliação:

A- Via aérea patente;


B- Sat O2=96% (ar ambiente), AP normal;
C- TA=126/60 mmHg, FC=99 bpm, corada, pulso amplo e arrítmico, ECG de 12
derivações: FA;
D- Glasgow=14 (O-4; V-4; M-6), pupilas isocóricas;
E- T. auricular não avaliada.

Glicemia (1ª medição): 80mg/dL; (2ª medição): 120mg/dL.

Atuação: administração de soro fisiológico 100ml i.v. e oxigénio a 3L/min.

Encaminhada para o S.U. do CHP-HSA na ambulância sem médico, porque está


hemodinamicamente estável.

28
VMER do H.S. João (24 de março de 2012)

1ª. Ativação

Hora: 8h

Sexo feminino de 87 anos.

Motivo: PCR.

Local: via pública.

Ambulância dos Bombeiros Voluntários de Velbom no local.

À nossa chegada, vítima em PCR há mais de 15 mins, últimos 10 mins em SBV. Dada a
patologia grave foi decidido não iniciar SAV.

Antecedentes pessoais:Sindrome demencial, estenose aórtica, ICC III, HTP grave, DPOC,
anemia.

Medicação habitual: Carvedilol, Lasix®, Tromalyt®, Atrovent®.

Avaliação:

A- Via aérea patente;


B- FR=0cpm, Sat O2=0% (ar ambiente);
C- TA=0/0 mmHg, FC=0 bpm, pele cianosada, ECG de 12 derivações: ASS;
D- Glasgow=3 (O-1; V-1; M-1), miose pupilar;

Não transportada ao hospital, por morte no local.

Atuação: Foi contactado o médico assistente, que passa a certidão de óbito.

2ª. Ativação

Hora: 11h52m

Sexo masculino de 58 anos.

Motivo: síncope, com retorragias.

Local: domicílio.

29
À nossa chegada o doente estava consciente, colaborante e orientado. Hemodinamicamente
estável, sem taquicardia e sem sinais de dificuldade respiratória. Apresentava retorragia, em
moderada quantidade, devido a biópsia prostática realizada no mesmo dia.

Antecedentes de HTA.

Medicação: Cartia, Losartan 50 mg, Oflocet 200mg.

Avaliação:

A- Via aérea patente;


B- Sem SDR, FR=72cpm, Sat O2=96% (ar ambiente);
C- TA=124/65 mmHg, FC=72 bpm, corado, pulso amplo e rítmico, ECG de 12 derivações:
ritmo sinusal;
D- Glasgow=15 (O-4; V-5; M-6), pupilas isocóricas;
E- T. auricular não avaliada.

Atuação: A ambulância dos bombeiros de S. Mamede, que se encontrava no local, transportou


o doente para o S.U. do CHP-HSA. Por não haver sinais de alarme, a vítima não foi
acompanhada pelo médico da VMER.

3ª. Ativação

Hora: 12h30m

Sexo feminino de 88 anos.

Motivo: PCR

Local: domicílio

PSP de Rio Tinto no local.

Doente encontrada caída no chão, à entrada da porta do quarto.

À nossa chegada a vítima estava em PCR com assistolia. Os Bombeiros Voluntários da Areosa
já tinham feito SBV com DAE há cerca de 7 mins, mas com ritmo não desfibrilável. Tempo de
paragem não esclarecido. Médico da VMER decidiu não iniciar manobras.

30
Há 3 dias a vítima tinha ido ao cardiologista porque se sentia mais cansada e com dispneia
para pequenos esforços.

Antecedentes: HTA e arritmia de novo, há 4 dias.

Medicação habitual: Carvedilol, Amiodarona, Captogrel, Moduretic.

Avaliação:

A- Via aérea patente;


B- FR=0cpm, Sat O2=0% (ar ambiente);
C- TA=0/0 mmHg, FC=0 bpm, pele cianosada, ECG de 12 derivações: ASS;
D- Glasgow=3 (O-1; V-1; M-1), miose pupilar;

Atuação: Preenchido pelo médico da VMER o registo de verificação do óbito (Anexo 2.


Registo de Verificação do Óbito), que foi entregue à policia, explicando as circunstâncias da
morte e quais os procedimentos realizados pelos profissionais dos bombeiros e do INEM.

31
Discussão

Segundo estatísticas do INEM, as patologias que mais motivam a ativação dos serviços de
emergência médica pré-hospitalar são as doenças súbitas, do foro cardiovascular e
neurológico. Na Tabela 2 podemos verificar esse facto. A hipoglicemia também foi uma
situação frequente nas ativações e naquelas em que o motivo foi trauma, verificou-se que as
quedas nos idosos e os acidentes de viação foram dominantes.

Tabela 2. Motivo das ativações distribuidas pelos meios do INEM

Meio do INEM Motivo da Ativação

Ambulância Porto 1 Síncope e vómitos; hipoglicemia; queda da própria


altura; crise epilética;crise hipertensiva; intoxicação
medicamentosa; TCE; dispneia e dor torácica;

Ambulância Porto 6 Dor retrosternal, queda da própria altura, agressão


física;

SIV Gondomar Choque (dispneia e cianose); hipotensão e


palpitações; atropelamento; AVC; acidente de
viação;

VMER do H. S. António Angina pectoris; lipotímia;

VMER do H. S. João PCR; síncope com retorragias;

Por ano, morrem mais de 700.000 adultos na Europa, vitimas de doença cardiovascular,
fazendo desta a primeira causa de morte no mundo Ocidental. Destes, pelo menos 40%,
morrem de morte súbita cardíaca, antes de chegarem ao hospital. Surgiram, por isso, as vias
verdes do EAM e o conceito de Cadeia de Sobrevivência, composta por quatro elos ou ações,
que visa aumentar a sobrevivência das vítimas de paragem cardio-respiratória (Fig. 18).

32
Fig.18 Cadeia de Sobrevivência (INEM).

A Cadeia de Sobrevivência representa, simbolicamente, o conjunto de procedimentos que


permitem salvar vítimas de paragem cardiorrespiratória. Para que o resultado final possa ser,
efetivamente, uma vida salva, cada um dos elos da cadeia é vital e todos devem ter a mesma
força. Assim, depois de reconhecida uma paragem cardiorrespiratória, o primeiro passo é ligar
ao 112, gesto que pode ser efetuado por qualquer cidadão.
Enquanto se aguarda pela ajuda diferenciada, é essencial a abertura da via aérea, inspeção da
cavidade oral e ,caso seja possível, remoção de objetos estranhos.

Seguidamente deve-se VER, OUVIR e SENTIR a respiração da vítima, num período máximo
de 15 segundos. Caso se verifique que a vítima não respira, assume-se que esta se encontra
em Paragem Cardiorrespiratória, iniciando-se o ciclo de 30 compressões para 2 ventilações,
até à chegada da ambulância e acesso à desfibrilação. As compressões deverão ser efetuadas
ao rítmo de 100 por minuto (5 ciclos), de forma a afundar a grade costal em 5 cm (Fig.19).

Os ciclos de compressões:ventilações devem ser continuados até que:


1. A vítima volte a ter pulso;

2. Chegue ajuda diferenciada;

3. O socorrista entre em exaustão;

4. Seja declarado o óbito da vítima, por um médico.

33
5 ciclos

Afundar a grade costal 5 cm

Fig. 19 Algoritmo de Suporte Básico de Vida

O acesso à desfibrilação precoce representa um aumento da sobrevida das vítimas de


paragem cardiorrespiratória. Diversos estudos revelam que, por cada minuto sem tratamento, a
probabilidade do sucesso de desfibrilação diminui entre 7 a 10%. Na situação inversa, a
desfibrilação no 1º. minuto, após paragem, apresenta uma taxa de sobrevivência de cerca de
90% (Nichol et al,2008). Outros estudos demonstraram que, na ausência de desfibrilação
imediata, as manobras de SBV permitem ganhar tempo até à chegada de ajuda diferenciada,
mantendo a integridade neurológica e cardíaca. Nesta perspetiva, o benefício mais significativo
ocorre nos primeiros 10 minutos após paragem cardiorrespiratória (Vaillancourt et al, 2008).
A desfibrilação externa consiste na aplicação de um choque eléctrico, ao nível da parede
tóracica, de forma a que a corrente eléctrica gerada cause a despolarização de todo o músculo
34
cardíaco. Com este procedimento, pretende-se a restauração do ritmo sinusal. Os ritmos
desfibriláveis são a Fibrilação Ventricular e a Taquicardia Ventricular sem pulso.

Os dispositivos de DAE são capazes de fazer análise de rítmo e aplicação de choque, sem que
seja necessária decisão médica e interpretação dos dados clínicos pelo operador.
Face ao impacto positivo na sobrevivência das vítimas, a iniciativa da implementação de um
Programa DAE, que permite a utilização de DAE em locais públicos por leigos, tornou-se
pertinente. Em agosto de 2009, a implementação do Decreto-Lei 188/2009 veio regularizar esta
situação.
A aplicação de manobras de SBV e uso do DAE muitas vezes são suficientes na reversão da
paragem cardiorrespiratória, no entanto são necessárias manobras de suporte adicionais, de
forma a aumentar a sobrevida das vítimas e a proteção de orgãos nobres, nomeadamente
cérebro e coração. Neste contexto surgem as manobras SAV (Fig.20).
Nos países ocidentais cerca de 15% das mortes é devida a paragem cardio-respiratória súbita,
sendo mais prevalente nas vítimas do sexo masculino. Patologias cardiovasculares como
doença coronária isquémica, alterações do rítmo e insuficiência cardíaca são os seus principais
fatores de risco.

Tabela 3. Causas de Paragem Cardiorrespiratória (Marenco,2001)

Causas de Paragem Cardiorrespiratória


Isquémica Enfarte Agudo do Miocárdio
Doença Cardiovascular não Cardiomiopatias
Isquémica Disrítmias
Doença Cardíaca Hipertensiva
Insuficiência Cardíaca Congestiva
Não Cardíacas Trauma (choque hemorrágico)
Choque Hipovolémico
Intoxicação (fármacos, drogas de abuso)
Afogamento
Embolia Pulmonar
Pneumotórax Hipertensivo

35
Fig. 20 Algoritmo de abordagem da PCR

Do ponto de vista clínico a hipoglicémia é definida pela tríade de Whipple: glicémia inferior a 50
mg/dl + sintomas associados à diminuição da concentração sanguínea de glicose + reversão
ou melhoria desses sintomas com a elevação da glicémia.
A hipoglicémia severa, na emergência pré-hospitalar, pode representar cerca de 2,5 % dos
casos. Destes, apenas cerca de 8 % ocorrem em doentes não diabéticos, pelo que a maioria
dos casos surge em doentes medicados com insulina e/ou anti-diabéticos orais (sulfonilureias)

36
e resultam do desequilíbrio entre a alimentação, a atividade física e a terapêutica. (Manual da
VMER)

A hipoglicémia severa e prolongada pode ser causa de morte ou de lesões cerebrais


irreversíveis. A sua correção precoce no contexto da assistência pré-hospitalar pode ser um
fator determinante da diminuição da mortalidade e morbilidade associadas a esta situação. A
figura 22 mostra qual o algoritmo de abordagem da hipoglicémia.

Fig. 22 Algoritmo de abordagem da hipoglicémia

Os traumatismos são a causa de morte mais frequente em indivíduos com idade inferior a 50
anos, principalmente devido a acidentes de viação (Krettek et al, 1998). Na maioria das
situações, é necessária a intervenção dos profissionais de emergência pré-hospitalar, com o
objetivo de minimizar a morbimortalidade associada às lesões resultantes, através da avaliação
e estabilização adequadas e transporte das vítimas.

37
Em ambiente pré-hospitalar, as prioridades são a estabilização das funções vitais e a
identificação do choque.
As fraturas e lesões dos tecidos moles (Tabela 4) são igualmente frequentes e apresentam um
espectro variável, que se estende desde as escoriações a lesões de gravidade crescente,
potencialmente fatais.

Tabela 4. Lesões dos tecidos moles e extremidades (adaptado Manual SIV)

Lesões dos tecidos moles e


extremidades
Equimoses e Hematomas
Escoriações e Feridas
Queimaduras
Fracturas
Lesões articulares
Esfacelos
Amputações

As fraturas dos membros, embora, de um modo geral, não coloquem em perigo a vida de uma
vítima, podem, quando tratadas incorretamente, condicionar tempos de internamento e
morbilidade mais elevados. A abordagem pré-hospitalar das fraturas passa, basicamente, pela
sua correta imobilização. Deve-se dar atenção à estimativa de perdas sanguíneas, muito
especialmente da bacia e fémur (Tabela 5).

Tabela 5. Perdas Sanguíneas Estimadas (adaptado Manual VMER)

Osso Fracturado Volume Estimado (L)


Fémur 1 - 1,5 L
Ossos da Perna 0,5 – 1 L
Ossos do Antebraço 0,25 L
Bacia Instável 2 – 3 L podendo atingir os 5 L

As lesões mais frequentes no membro inferior, são as fraturas do colo do fémur no idoso que
cursam normalmente com rotação externa do pé e encurtamento do membro. A sequência de

38
abordagem consiste em tração, alinhamento e imobilização, devendo existir o cuidado de
imobilizar a bacia. Nunca tentar levantar ou sentar o doente.

Os traumatismos cranio-encefálicos são uma causa importante de morbimortalidade isolada


nas vítimas de trauma, sendo a causa mais frequente de morte em indivíduos jovens (Manual
da VMER).
A abordagem das vítimas de TCE, no pré-hospitalar, visa evitar dano secundário. Este ocorre
quando as necessidades metabólicas das células neuronais lesionadas, mas ainda
funcionantes, não são supridas adequadamente e acabam por degenerar. Assim sendo, a
Hipercapnia, a Hipóxia e a Hipotensão, causas frequentes de lesão secundária, devem ser
combatidas de forma a manter as células neuronais lesadas ainda funcionantes viáveis (Krettek
et al, 1998).
A chave na abordagem pré-clínica é a manutenção do equilíbrio entre as necessidades e o
fornecimento de oxigénio, que frequentemente se encontra alterado, em virtude da hipovolémia
e das lesões teciduais. Dá-se, assim, prioridade à Ventilação eficaz e à Circulação adequada.

Avaliação Inicial do TCE:


Via aérea: desobstrução, considerar trauma cervical;
Ventilação: adequada e regular, hiperventilar na presença de sinais de HIC;
Circulação: controlo de hemorragia, manutenção de pressão arterial/perfusão cerebral;
Estado Neurológico: Escala de coma de Glasgow, pupilas, lateralização à dor, parésias
evidentes;
Exposição: evitar hipotermia.

Em primeira instância, a vítima deverá ser sempre imobilizada, assegurando-se a estabilidade


cervical, com a aplicação de colar cervical. Deve ser assegurada a imobilização da restante
coluna vertebral, através da colocação de um plano duro ou colete de extração, caso a vítima
se encontre sentada. A mobilização da vítima deverá ser sempre feita em bloco, de forma a
evitar a movimentação da coluna vertebral.
Em suma, a abordagem da vítima de trauma, em ambiente pré-hospitalar, visa a identificação
precoce de situações potencialmente fatais, a ressuscitação e estabilização da mesma, quando
possível, bem como o seu rápido transporte para o hospital.

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Conclusões

A abordagem da vítima, no meio pré-hospitalar, é feita seguindo o método ABCDE e só é


possível se houver comunicação entre os vários meios do INEM, cabendo ao CODU a fulcral
função de ativar os meios adequados às diversas situações, tendo cada um deles um papel
pré-definido.
O exame inicial da vítima é rápido (não devendo exceder 5 minutos), sendo repetido sempre
que algum tratamento ou procedimento é efetuado, quando há deterioração do estado clínico
da vítima e na avaliação secundária mais detalhada.
A passagem de dados ao CODU é obrigatória em todos os Meios INEM. Consiste na
transmissão das informações relativas ao episódio, tais como:
 Identificação do episódio de ativação;

 Identificação da vítima;

 Antecedentes patológicos relevantes;

 Avaliação da vítima, segundo a metodologia ABCDE;

 Procedimentos efetuados;

 Desfecho.

O papel de cada Meio INEM está bem definido, verificando-se que a gravidade do estado
clínico da vítima condiciona a ativação de meios mais diferenciados, nomeadamente
Ambulâncias SIV e VMER.

As Ambulâncias SBV destinam-se à estabilização e transporte de doentes que necessitem de


assistência médica durante o transporte. Os 2 Técnicos de Ambulância de Emergência estão
habilitados a aplicar medidas de SBV e dispõem desse equipamento. Não sendo profissionais
médicos, não se encontram autorizados a efetuar procedimentos invasivos ou administração de
fármacos. Caso a situação clínica se agrave, os TAE deverão informar o CODU e atuar de
acordo com as orientações do Médico e/ou aguardar a chegada de um Meio mais
diferenciado.

O Projeto SIV surgiu em 2007, com o objetivo de melhorar a assistência às populações, em


regiões onde os meios pré-hospitalares mais diferenciados (VMER) não se encontram
disponíveis em tempo útil, sendo assim uma forma de ultrapassar alguns constrangimentos
logísticos e humanos.

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A VMER destina-se ao transporte de uma equipa de emergência, constituída por 1 Médico e 1
Enfermeiro, ao local de ocorrência. Funcionando como uma extensão do Serviço de Urgência
Hospitalar, a sua ativação está dependente do estado clínico da vítima, se esta necessitar de
cuidados de saúde diferenciados (Tabela 6).

Tabela 6. Situações Clínicas com necessidade de Acionamento da VMER. (Adaptado Manual VMER).

Acionamento da VMER
Obstrução das Vias Aéreas Hipoglicemia
Paragem Cardio-respiratória Queimados Graves ou Multivítimas
Disrritmias - Peri-Paragem Cardiorrespiratória Overdose por Opiáceos
Cardiopatia Isquémica Intoxicação por Inibidores da Colinesterase
Edema Agudo do Pulmão Intoxicação por Paraquato
Acidentes de Submersão Emergências Obstétricas
- Parto iminente e tripulação da ambulância sem
formação no local
-Hemorragia Vaginal
- Convulsões (risco de eclâmpsia)
- Casos Particulares
- Retenção da cabeça
- Distocia de ombros
Reação Anafilática Emergências Pediátricas
- Paragem Cardio-respiratória
- Falência Respiratória Iminente
- Falência Circulatória Iminente
- Alterações do Estado de Consciência
Asma Moderada ou Grave Traumatismos Moderados a Graves
Hemorragia Digestiva Emergências Neurológicas
- Convulsões
- Alterações do estado de consciência

Nos turnos frequentados, foi visível esta articulação entre os Meios INEM, nomeadamente
entre as Ambulâncias SBV e SIV e a VMER, além da cooperação com a PSP e os Bombeiros.
É esta rede de comunicação que permite prestar um cuidado pré-hospitalar mais rápido e
eficaz.
A emergência, inevitavelmente, obriga ao estabelecimento de prioridades e ao conhecimento
de protocolos de atuação bem como, na ausência de dados, frequentemente ter que assumir
atitudes terapêuticas, perante casos de prognóstico reservado. A segurança da equipa de

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socorro não deve ser menosprezada, devendo esta primar pela eficácia, mas nunca se colocar
em situação de perigo.

Um aspeto importante deste estágio foi ter constatado as diferenças que existem no contato
com as vítimas, em contexto pré-hospitalar e hospitalar. O contato em ambiente pré-hospitalar
ocorre, muitas vezes, no domicílio das vítimas e em condições de extrema fragilidade para
estas e seus familiares. Pude aperceber-me, também, do grau de confiança e responsabilidade
que é depositado nos profissionais do INEM, que todos os dias dão o seu máximo.

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Bibliografia

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Anexos

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Anexo I – Fichas de Realização de Estágio em Meio INEM e no CODU

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Anexo II –Declaração de Frequência no Estágio

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Anexos
1. Ficha de Observação Médica
2. Registo de Verificação do Óbito
3. Check-list Fármacos / Carga

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