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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM DIREITO POLÍTICO E ECONÔMICO


MESTRADO EM DIREITO POLÍTICO E ECONÔMICO

PRISCILA RODRIGUES NAVES TARDELLI

ATRAVÉS DO ESPELHO: O PL 6.998/2013 À LUZ DO GÊNERO

São Paulo
2021
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PRISCILA RODRIGUES NAVES TARDELLI

ATRAVÉS DO ESPELHO: O PL 6.998/2013 À LUZ DO GÊNERO

Versão da Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação


stricto sensu em Direito Político e Econômico da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título
de Mestre em Direito Político e Econômico.

ORIENTADORA: Profª. Dra. Patricia Tuma Martins Bertolin

São Paulo
2021
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PRISCILA RODRIGUES NAVES TARDELLI

ATRAVÉS DO ESPELHO: O PL 6.998/2013 À LUZ DO GÊNERO

Versão da Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação


stricto sensu em Direito Político e Econômico da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título
de Mestre em Direito Político e Econômico.

Aprovada em 05 de agosto de 2021.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________
Prof.ª Dra. Patrícia Tuma Martins Bertolin
Universidade Presbiterana Mackenzie

_____________________________________________
Prof.ª Dra. Mariana Chies Santiago Santos
NEV-USP

_____________________________________________
Prof.ª Dra. Ana Claudia Pompeu Torezan Andreucci
Universidade Presbiterana Mackenzie
5

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Universidade Presbiteriana Mackenzie e a todo o seu corpo


docente, responsável por toda a minha formação acadêmica e profissional.
À minha orientadora, Profª. Dra. Patricia Tuma Martins Bertolin, pelos
ensinamentos, pelo aprofundamento de minhas posições acadêmicas e políticas, pela
disponibilidade e, sempre, pela acolhida e respeito por meus projetos e pensamentos.
Às componentes das bancas de Qualificação e Defesa, pelo respeito e
orientações sempre demonstradas: à Profª. Dra. Mariana Chies Santiago Santos, que
vem me auxiliando desde o processo seletivo para esta pós-graduação, agradeço pelo
aprendizado, pelos textos e conhecimentos compartilhados, pelas revisões; por me
auxiliar a descobrir novos caminhos de pesquisa; à Profª. Dra. Ana Claudia Pompeu
Torezan Andreucci, que me inspirou a desbravar o campo de estudo das infâncias
desde a graduação.
Aos meus colegas de mestrado, pelo conhecimento compartilhado, pelas
experiências e pela ressignificação de conceitos acadêmicos e políticos.
Ao meu sócio, Lucas, pela parceria profissional e pela amizade, pelas
discussões teóricas e por me apoiar nas etapas de conclusão.
À minha família, em especial, à minha mãe, que sempre me incentivou a ir o
mais longe que pudesse, a persistir nos momentos de hesitação e por acreditar na
educação como forma de liberdade. Ao meu pai, que me contribuiu com uma
educação feminista sem nem perceber. Ao meu pequeno irmão Marcos, que, com a
delicadeza das descobertas infantis, me auxiliou a compreender as peculiaridades da
Primeira Infância
Por fim, ao meu amado marido, Caio, pelo apoio, pelas discussões teóricas,
pelas revisões de textos, por também exercer os deveres de cuidado, pela parceria
acadêmica; por sonhar comigo meus sonhos e apoiar meus projetos. Seu
companheirismo é fundamental para as minhas – e nossas – conquistas.
6

As pessoas grandes aconselharam-me a


deixar de lado os desenhos de jiboias
abertas ou fechadas e a dedicar-me de
preferência à geografia, à história, à
matemática, à gramática. Foi assim que
abandonei, aos seis anos, uma promissora
carreira de pintor. Fora desencorajado pelo
insucesso do meu desenho número 1 e do
meu desenho número 2. As pessoas
grandes não compreendem nada sozinhas,
e é cansativo, para as crianças, estar a toda
hora explicando.

(Antoine de Saint-Exupéry. O Pequeno


Príncipe).
7

RESUMO

Gênero e infância raramente são colocados sob a mesma perspectiva,


tornando-se incomuns os panoramas da infância nos estudos de gênero e
de gênero nos estudos sobre a infância. No segundo grupo, ainda prevalece
a visão adultocêntrica, com a ótica voltada para as expectativas de pesquisa
dos adultos nas construções sociais que permeiam a infância. Pela pesquisa
bibliográfica, estabeleceu-se como ponto de partida que a dominação
patriarcal também atinge as crianças na lógica das relações de poder,
permanecendo numa posição inferior aos adultos, assim como as mulheres
em relação aos homens. No intuito de reconhecer a importância e as
especificidades da Primeira Infância, em 2013, foi proposto o Projeto de Lei
nº 6.998, para se discutir as diretrizes para a elaboração de políticas públicas
voltadas para este público. Realizando uma pesquisa bibliográfica em um
método hipotético-dedutivo, foram analisadas as discussões, emendas e
proposições deste Projeto, buscando-se a relevância das questões de
gênero nas discussões levantadas: a categoria gênero foi considerada como
fator na elaboração das políticas públicas para a Primeira Infância? Em
seguida, foram analisados os avanços dos direitos das meninas no Brasil, a
partir da perspectiva dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),
elaborados pela Organização das Nações Unidas em 2015 – também
conhecidos como a Agenda 2030, a fim de se verificar a relevância dos
estudos de gênero na Primeira Infância após a promulgação do Marco Legal
da Primeira Infância. Dessa forma, foi possível desvendar os avanços da
perspectiva de gênero nas diretrizes para a Primeira Infância e a posição
brasileira no cumprimento da Agenda 2030, em busca de uma sociedade
mais acessível e igualitária.

Palavras-Chave: adultocentrismo; gênero; projeto de lei; primeira infância.


8

ABSTRACT

Gender and childhood are rarely placed under the same perspective, making
the panoramas of childhood in gender and gender studies in childhood
studies unusual. In the second group, the adultcentric view still prevails, with
the perspective focused on the research expectations of adults in the social
constructions that permeate childhood. Through bibliographical research, it
was established, as a starting point, that patriarchal domination also affects
children in the logic of power relations, remaining in a lower position than
adults, as well as women in relation to men. In order to recognize the
importance and specificities of Early Childhood, in 2013, Bill No. 6.998 was
proposed to discuss the guidelines for the elaboration of public policies aimed
at this public. In the analysis of the discussions, amendments and
propositions of this Project, attention was focused on the relevance of gender
issues in the discussions raised; whether the gender category would be
considered as a factor in the elaboration of public policies for Early Childhood.
Next, we analyzed the advances in girls' rights in Brazil, from the perspective
of the Sustainable Development Goals (SDGs), elaborated by the United
Nations in 2015 – also known as the 2030 Agenda. Thus, it was possible to
unveil the advances from the gender perspective in the guidelines for Early
Childhood and the Brazilian position in the fulfillment of the 2030 Agenda, in
search of a more accessible and egalitarian society.

Keywords: adultcentrism; gender; bill; early childhood.


9

SUMÁRIO

Introdução...................................................................................................................10
1. Gênero, Primeira Infância e Dominação......................................................... 14
2. O PL nº 6.998/2013: gênero importa?............................................................. 23
2.1. Justificativa .....................................................................................................35
2.1.1. Emendas..........................................................................................................39
2. 1. 2. Substitutivo......................................................................................................43
2. 1. 3. Emendas ao Substitutivo................................................................................50
2. 2. Primeira Infância e Gênero: por que não combinariam? .................................60
3. As Meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: um olhar sobre os
direitos das meninas.................................................................................................. 70
3.1. Adultocentrismo, Patriarcado e Primeira Infância ........................................... 89
3.1.1. O Direito de Participar: linguagens para a liberdade........................................ 94
Considerações Finais ................................................................................................ 99
Referências ..............................................................................................................102
10

INTRODUÇÃO

Os contos de fadas contribuem para o imaginário infantil há muito tempo, com


mensagens sobre moral, superação e finais felizes, envolvendo animais, seres
mágicos, bruxas, feiticeiros e fadas, princesas, príncipes e rainhas malvadas. Os
contos mais antigos tinham como objetivo ensinar aos pequenos sobre a moralidade
da época – transmitir seus costumes - e nem sempre apresentavam finais felizes,
enquanto as gerações mais recentes sonham em encontrar o amor verdadeiro e
viverem felizes para sempre.
Dentre tantos autores infantis, Hans Christian Andersen1 (1805-1875), poeta
e escritor dinamarquês, publicou, em 1844, uma série de sete contos sobre a Rainha
da Neve, que inspira adaptações televisivas e cinematográficas até os dias atuais,
como a franquia Frozen, dos estúdios Walt Disney2, e a série Once Upon a Time, dos
estúdios NBC.
Na história original de Andersen, no primeiro conto, um feiticeiro e seus
aprendizes, inconformados com o desprezo da humanidade pelos outros seres,
constroem um espelho que distorce a imagem nele refletida; quem nele se
vislumbrasse teria as suas características mais sombrias amplificadas, só vendo o que
havia de mal em si e nos outros, como ressentimentos, inveja, ódio, desprezo, tristeza.
Extasiados com sua nova invenção, o feiticeiro e seus aprendizes tentaram levar o
espelho até o céu dos anjos e de Deus, para que refletisse em toda a humanidade.
Porém, no caminho, o espelho estremeceu e caiu das mãos de seus criadores,
estilhaçando-se em milhões de bilhões de fragmentos que se espalharam por toda a
Terra; alguns maiores, como vidraças de janelas, e outros menores que grãos de
areia, que se alojaram nos olhos e nos corações de homens, mulheres, meninos e
meninas de todo o mundo, passando a enxergar tudo de forma distorcida.
Assim como a realidade no conto de Andersen, a imagem da infância
brasileira apresenta desafios para se tornar visível. Foi com a Abolição (1888) que se

1
Também autor de contos como A Pequena Sereia, O Soldadinho de Chumbo, O Patinho Feio e A Branca
de Neve.
2
SANMAX, Bel. As origens da história de Frozen. Disponível em:
https://blog.saraiva.com.br/frozen/#:~:text=Na%20f%C3%A1bula%20original%20de%20Hans,o%20seu%
20reino%20de%20gelo.. Acesso em 17.06.2021.
11

passou a discutir uma legislação específica para crianças e adolescentes3 no país,


passando pela reforma do regime político (1889), pela promulgação do Código Penal
da República (1890), perpassando por dois Código de Menores (1927 e 1979), pelo
Código Penal atual (1940), pela Constituição Federal (1988), pelo Estatuto da Criança
e do Adolescente (1990), pela Lei Menino Bernardo (2014) pelo Marco Legal da
Primeira Infância (2016), pela Lei da Escuta Protegida (2017) e tantas outras
legislações e políticas que abordam, de alguma forma, o tema da infância e
adolescência.
Legislações e pesquisas científicas são realizadas sobre o tema, políticas
públicas são elaboradas, mas a igualdade de acesso a direitos entre meninas e
meninos ainda não é uma realidade. Apesar do longo caminho já percorrido, este
público-alvo ainda carece de real atenção por parte da sociedade, de uma perspectiva
cidadã.
Surgindo como um alento às questões da infância, em 2013 foi proposto, na
Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei nº 6.998, que instituía o Marco Legal da
Primeira Infância, reconhecendo as pessoas de 0 a 6 anos como cidadãs e garantindo
que seus direitos – como o de participação - e especificidades fossem considerados
na elaboração de políticas públicas. A estrutura patriarcal foi considerada na
Justificativa da proposição, reconhecendo a sobrecarga feminina nos deveres de
cuidado e proteção, embora também tenha considerado uma pequena mudança de
paradigma, ao sinalizar o compartilhamento desses deveres entre homens e
mulheres.
Apesar destes importantes avanços, as discussões apresentadas no Projeto
não consideraram as desigualdades de gênero que impossibilitam a concretização
dos direitos sociais de crianças e adolescentes. As mudanças necessárias para essa
concretização se mostram necessárias desde a promulgação do Estatuto da Criança
e do Adolescente. Ana Claudia Pompeu Torezan Andreucci e Andrea Boari Caraciola 4
explicam que o pleno desenvolvimento da criança e do adolescente e sua proteção

3
CIFALI, Ana Claudia; CHIES-SANTOS, Mariana; ALVAREZ, Marcos César. Justiça Juvenil no Brasil
– continuidades e rupturas. In: Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 32, n. 3, sep-dec. 2020,
p. 197-228.
4
ANDREUCCI, Ana Claudia Pompeu Torezan; CARACIOLA, Andrea Boari. ECA como uma rede
principiológica: a interpretação construtiva dos direitos da criança e do adolescente, e a compreensão
teleológica da Lei Menino Bernardo. In: Estudos sobre a violência contra a criança e do
adolescente. (Org.) PIRES, Antonio Cecílio Moreira [et al.]. São Paulo: Libro, 2016, p. 171.
12

integral constituem o cerne do ECA, sendo necessário o fortalecimento das políticas


públicas e das regulamentações legais protetivas para que se desenvolva.
Por tratar do reconhecimento da Primeira Infância nos processos sociais,
também serão analisadas no texto do Projeto de Lei as proposições e discussões de
caráter adultocêntrico, entendido como aqueles que consideram a criança como um
mero receptáculo de informações para se tornar um adulto sociável – a infância como
período de passagem.
Foi adotado o método hipotético-dedutivo para a realização de uma pesquisa
bibliográfica, qualitativa, em busca do objetivo geral deste trabalho: analisar as
discussões do Projeto de Lei nº 6.998/2013 à luz do gênero, questionando-se a
relevância dos estudos de gênero na mentalidade dos parlamentares responsáveis
pela elaboração, análise e redação do Projeto que culminou no Marco Legal da
Primeira Infância.
Por consequência, também serão analisadas as discussões dos
parlamentares em relação ao adultocentrismo, identificando se esta forma de
dominação ainda está presente na elaboração das políticas públicas, bem como
algumas bases de dados com os marcadores gênero e infância. Os caminhos para se
atingir uma sociedade mais igualitária para meninas e meninos também foram
considerados na elaboração deste trabalho, analisando-se como os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável estão sendo trabalhados no Brasil, para se atingir, de
fato, a universalização do acesso a seus direitos: os acessos são igualitários? De que
forma as desigualdades de gênero também atingem a infância?
As respostas para essas perguntas serão buscadas por meio do método
hipotético-dedutivo, com a pesquisa bibliográfica dos estudos sobre gênero,
utilizando-se o conceito weberiano de patriarcado e dominação-exploração,
construído em conjunto com teóricas feministas como Simone de Beauvoir, Joan Scott
e Heleieth Saffioti, auxiliadas pela vasta pesquisa sobre gênero de Patricia Tuma
Martins Bertolin, além dos conceitos de dominação masculina e a violência simbólica,
de Pierre Bourdieu, que complementarão a pesquisa a ser realizada. No âmbito da
Sociologia da Infância, serão utilizados, majoritariamente, os estudos de Rita de
Cássia Marchi, enquanto os estudos das políticas públicas e os estudos sobre direitos
da criança e do adolescente ficarão a cargo, respectivamente, de Maria Paula Dallari
Bucci, Mariana Chies-Santos e Ana Claudia Pompeu Torezan Andreucci.
13

Num segundo momento, serão analisadas as discussões e proposições dos


parlamentares nos três anos do trâmite do Projeto de Lei nº 6.998/2013, na Câmara
dos Deputados, encerrando com a análise do relatório Meninas e os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) - uma análise da situação das meninas no Brasil,
elaborado pela Plan International Brasil, em 2017, que investigou nas principais fontes
de dados públicas como os ODS impactaram as meninas, utilizando-se os marcadores
gênero e idade.
Em resumo, busca-se investigar se aqueles e aquelas que ocupam cargos de
liderança no Brasil também têm estilhaços de espelho em seus olhos, que não lhe
permitem o olhar franco da realidade da Primeira Infância. Afinal, gênero importa?
14

1. GÊNERO, PRIMEIRA INFÂNCIA E DOMINAÇÃO

No século XX, as discussões sobre os caminhos da infância na sociedade


foram evoluindo, perpassando pela Declaração dos Direitos da Criança, em 1959, que
reconheceu seus direitos humanos, atingindo seu ápice na Convenção Internacional
sobre os Direitos da Crianças, em 1989. Até então, as crianças eram vistas como
objetos que necessitavam de orientação e cuidado, sem considerar suas
particularidades geracionais ou a possibilidade de sua participação social, sem
preservar sua autonomia.
A partir de então, a América Latina passou por diversos processos normativos
para a adoção da doutrina da proteção integral5, que considerava crianças e
adolescentes como sujeitos de direitos, garantindo sua proteção e atuação na vida
social. Por consequência, também passou a ser estudada como objeto autônomo pela
Sociologia, entendendo a infância como atuação e construção social. Assim como a
categoria social mulheres – que possui uma posição inferiorizada na sociedade -, o
ponto de vista da infância vem consolidando sua relevância histórica a partir dos anos
19806.
O conceito de proteção da infância começou a surgir no século XVII, ao se
observar a dependência das crianças pequenas, sendo este o parâmetro para a
avaliação de quem saía desta primeira fase da vida, a que se deu o nome de infância:
a dependência7. Até então, não havia lugar para a criança na sociedade, tanto que
não havia uma expressão para caracterizá-las. Na perspectiva biológica, as crianças
demandavam grandes cuidados, proteção e uma rígida disciplina que os tornassem
em adultos socialmente aceitos, pois eram consideradas como irracionais, incapazes
de se movimentarem com coerência no mundo.
Nos anos 1950, começaram a surgir as “teorias de socialização” 8, que se
baseavam em um número restrito de papéis sociais adotados na época, em que esses

5
MÉNDEZ, Emilio García. Infância, lei e democracia: uma questão de justiça. In: Revista Brasileira
Adolescência e Conflitualidade, n. 8, 2013, p.p. 1-22.
6
MARCHI, Rita de Cássia. Gênero, infância e relações de poder: interrogações epistemológicas. In:
Caderno Pagu, n. 37, jul-dec 2011, p. 389.
7
NASCIMENTO, Claudia Terra do Nascimento; BRANCHER, Vantoir Roberto; OLIVEIRA, Valeska
Fortes de. A construção social do conceito de infância: algumas interlocuções históricas e sociológicas.
In: Revista Olhar do Professor, p. 5.
8
MARCHI, Rita de Cássia. Gênero, infância e relações de poder: interrogações epistemológicas. In:
Caderno Pagu, n. 37, jul-dec 2011, p. 391.
15

papéis seriam reproduzidos por gerações sucessivamente. Assim, socialização seria


o processo pelo qual a criança, um ser não socializado, se tornaria, como num passo
de mágica, um adulto socializado. O olhar dessa socialização estaria no futuro, no
adulto que viria a se tornar, e não no presente.
Trinta anos depois, a Sociologia da Infância rompeu as abordagens clássicas
da socialização, passando, então, a considerar as crianças como sujeitos ativos em
sua socialização, ao invés de meros objetos da compreensão adulta de infância. Nos
dizeres de Rita de Cássia Marchi, “O esforço é o de revelar que, nos “papéis” de “filho”
e “aluno”, a criança que está ali não é um receptáculo passivo de socialização numa
ordem social adulta”9. O protagonismo na socialização infantil não quer dizer dar uma
autonomia absoluta à criança, nem a consideração de suas ações de forma
descontextualizadas dos efeitos das relações sociais de poder e dominação, mas
compreender como a criança se constitui nas relações sociais.
A construção social da criança, entretanto, não é desprovida de interesses
sociais e politizados. Ela é feita de forma a perpetuar as noções de humanidade, ação,
linguagem, ordem, racionalidade e as bases fundamentais de cada sociedade, de
acordo com as teorias e modelos de cada vida social a que estão inseridas10.
Essa ideologia do desenvolvimento se compara às ideologias dominantes do
capitalismo em relação à classe social, do patriarcado em relação ao gênero e do
colonialismo em relação a raça. Em outras palavras, representa o entendimento
antropológico do século XIX, em que o estudioso determinava seu objeto de estudo
por ser o “diferente”, em termos evolutivos. Da mesma forma ocorre com a criança,
em que o ser “evoluído” – os adultos racionais – determinam a criança como ser
diferente e menos desenvolvido, é digno de ser estudado.
A Sociologia da Infância, então, se diferencia ao estipular forma, agentes e
territórios para desenvolver seus estudos, como explica Marchi11:

9
MARCHI, Rita de Cássia. Gênero, infância e relações de poder: interrogações epistemológicas. In:
Caderno Pagu, n. 37, jul-dec 2011, p. 392.
10
Utilizando-se dos estudos de Jenks, Rita de Cássia Marchi destaca o impacto da socialização: “Tal
como a educação formal, a socialização é um processo violento e doloroso no sentido, muito político,
de que todas as pessoas são constrangidas a se tornar determinadas categorias de ser em vez de
outras..” (JENKS, 2002:203 apud MARCHI, Rita de Cássia. Gênero, infância e relações de poder:
interrogações epistemológicas. In: Caderno Pagu, n. 37, jul-dec 2011, p. 394.).
11
MARCHI, Rita de Cássia. Gênero, infância e relações de poder: interrogações epistemológicas. In:
Caderno Pagu, n. 37, jul-dec 2011, p. 395.
16

O processo de socialização passa a ser entendido como um processo


contínuo, múltiplo em sua direção e fins, tanto os mais imediatamente visíveis
quanto os menos perceptíveis, porque comumente não reconhecidos pela
visão tradicional de socialização que, além da forma, também limita os
agentes do processo de socialização e os territórios em que este tem lugar.
Sua análise crítica permite reconhecer uma recomposição referente tanto aos
territórios-instituições tradicionais da socialização – como a escola ou a
família – quanto dos que atualmente tomam a infância por “alvo”, como o
mercado e a mídia.

Atualmente, a socialização é vista como um processo contínuo, no qual a


criança é convidada a construir suas próprias experiências em uma forma de quebra-
cabeças, de forma interativa. Os novos estudos sobre a infância desafiam ao propor
novos limites à investigação, para além da perspectiva biológica, de uma
epistemologia que restou invisibilizada até os anos 1990 no Brasil.
O reconhecimento da categoria infância apresentou novas perspectivas e,
consequentemente, novas resistências para os estudos sobre o tema. Alguns autores
da sociologia da infância comparam essas resistências com aquelas que ocorreram
quando da descoberta da categoria gênero, permitindo a nova epistemologia utilizada
pelos estudos feministas.
A infância é transpassada pelas relações assimétricas de poder e ação entre
adultos e crianças, com a perspectiva predominantemente adultocêntrica e masculina,
permanecendo numa posição de inferioridade, em que também se encontra a mulher.
Simone de Beauvoir afirmava que “este mundo, que sempre pertenceu aos
homens, conserva ainda a forma que eles lhe imprimiram”12. Seu trabalho foi um dos
marcos no reconhecimento de uma nova categoria de análise, que tirava o foco da
participação masculina na construção histórica oficial.
Heleieth Saffioti afirma que o termo “gênero”13 não se resume a uma só
categoria de análise, mas trata de uma construção social do masculino e do feminino,
não podendo ser compreendidas de forma isolada uma da outra. Dessa forma, os
estudos de gênero indicam as construções sociais dos papeis considerados
adequados a homens e mulheres, bem como a formação das subjetividades
consideradas masculino e feminino, como o entende Joan Scott14.

12
BEAUVOIR, S. O segundo sexo: fatos e mitos. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1980, p. 661.
13
Segundo Saffioti, “gênero” não diz respeito apenas a uma categoria social, mas também histórica,
sendo que cada autora feminista enfatiza aspectos diferentes de gênero, ainda que haja o consenso
da construção social (SAFFIOTI, Heleieth I. B. Gênero, patriarcado e violência. Editora Perseu Abramo,
2004, pp. 44-45).
14
MARCHI, Rita de Cássia. Gênero, infância e relações de poder: interrogações epistemológicas. In:
Caderno Pagu, n. 37, jul-dec 2011, p. 399.
17

Não se desconsideram as diferenças de ordem biológica que se atribuem a


homens e mulheres, adultos e crianças. Entretanto, o que determina as posições de
superioridade/inferioridade nas relações sociais é a estrutura de dominação, baseada
na cultura e nos valores historicamente adotados.
De acordo com Pierre Bourdieu15, a lógica da dominação é exercida em nome
de um princípio simbólico, seja ele a língua, o modo de falar, a cor da pele, um estilo
de vida ou a maneira de pensar. Neste sentido, a criança permanece na mesma seara
que a mulher, em posição de subordinação, em razão das relações assimétricas de
poder; a criança fica subordinada aos adultos e à predominância do pensamento
masculino.
Em sua obra A Dominação Masculina16, o autor afirmou que as estruturas
históricas da ordem masculina são absorvidas no decorrer da vida. Essas estruturas
são naturalizadas ao longo da vida por esquemas de pensamento que seguem uma
dualidade homóloga a sistemas opostos: alto e baixo, grande e pequeno, direita e
esquerda, duro e mole, claro e escuro, feminino e masculino. Assim, a divisão sexual
se embasa na forma como as coisas passam a ser objetivadas, naturalizando a ordem
masculina, como define o autor17:

A força da ordem masculina pode ser aferida pelo fato de que ela não precisa
de justificação: a visão androcêntrica se impõe como neutra e não tem
necessidade de se enunciar, visando sua legitimação. A ordem social
funciona como uma imensa máquina simbólica, tendendo a ratificar a
dominação masculina na qual se funda: é a divisão social do trabalho,
distribuição muito restrita das atividades atribuídas a cada um dos dois sexos,
de seu lugar, seu momento, seus instrumentos; é a estrutura do espaço,
opondo o lugar de assembleia ou de mercado, reservados aos homens, e a
casa, reservada às mulheres (...)

Embora ambos sejam inferiorizados por uma visão androcêntrica, as crianças


permanecem numa posição ainda inferior às mulheres, posto que, na estrutura
familiar, elas também podem, por delegação, reproduzirem o patriarcado e suas
ferramentas de manutenção, como a violência18. A isso se deve o poder da violência
simbólica e, de acordo com Saffioti19, somente neste contexto a mulher contribui para

15
BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Editora, 2002.
16
Idem.
17
Ibidem.
18
SAFFIOTI, H. I. B. Contribuições feministas para o estudo da violência de gênero. In: Cadernos Pagu,
n. 16, 2001, p. 116.
19
Idem, p.119.
18

a violência de gênero, por, em razão da violência simbólica20, aplicarem os mesmos


esquemas de pensamento nas realidades em que estão envolvidas.
Da mesma forma, o domínio biológico dos corpos foi compreendido de forma
a se fundir com o domínio social. Bourdieu entende que as diferenças biológicas entre
os corpos feminino e masculino, especialmente as diferenças anatômicas dos órgãos
sexuais, podem ser vistas como uma “justificativa natural da diferença socialmente
construída entre os gêneros”21, enquanto Piaget relacionava fatos da imaturidade
infantil com os aspectos sociais da infância, justificando o olhar para o futuro daquele
ser, representando o adulto que a criança virá a ser.
A filósofa Simone de Beauvoir22 afirma que a criança não se aprende como
sexualmente diferenciada; que para meninos e meninas a compreensão de mundo
ocorre por meio do olhar, das mãos e não por seus órgãos sexuais, não havendo
diferença entre a atitude dos meninos e das meninas nos primeiros três ou quatro
anos de vida. Passados os primeiros anos, a autora descreve as experiências de cada
um da seguinte maneira23:

é principalmente aos meninos que se recusam pouco a pouco beijos e


carícias; quanto à menina, continuam a acariciá-la, permitem-lhe que viva
grudada às saias da mãe, no colo do pai que lhe faz festas; vestem-na com
roupas macias como beijos, são indulgentes com suas lágrimas e seus
caprichos, penteiam-na com cuidado, divertem-se com seus trejeitos e seus
coquetismos; contatos carnais e olhares complacentes protegem-na contra a
angústia da solidão. Ao menino, ao contrário, proíbe-se até o coquetismo;
suas manobras sedutoras, suas comédias aborrecem. “Um homem não pede
beijos... Um homem não se olha no espelho... Um homem não chora”, dizem-
lhe. Querem que ele seja “um homenzinho”; é libertando-se dos adultos que
ele conquistará sua aprovação. Agradará se não demonstrar que procura
agradar.

20
Bourdieu assim a define: “A violência simbólica institui-se por meio da adesão que o dominado não
pode deixar de conceder ao dominador (logo, à dominação), uma vez que ele não dispõe para pensá-
lo ou pensar a si próprio, ou melhor, para pensar sua relação com ele, senão de instrumentos de
conhecimento que ambos têm em comum e que, não sendo senão a forma incorporada da relação de
dominação, mostram esta relação como natural; ou, em outros termos, que os esquemas que ele
mobiliza para se perceber e se avaliar ou para perceber e avaliar o dominador são o produto da
incorporação de classificações, assim naturalizadas, das quais seu ser social é o produto” (BOURDIEU,
Pierre. A Dominação Masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Editora, 2002).
21
BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Editora, 2002.
22
BEAUVOIR, S. O segundo sexo: fatos e mitos. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1980, p. 267.
23
Ibidem, p. 269.
19

A estrutura de dominação exerce seu papel figurando como peça fundamental


na existência das sociedades modernas e pós-modernas, sendo de grande relevância
para o estudo das ciências sociais, conforme já alertava Weber24:

Para o exame sociológico, o decisivo não é, decerto, a existência “ideal” de


tal poder, deduzível de uma norma mediante conclusões dogmático-jurídicas,
mas sim a sua existência efetiva, isto é, que uma autoridade que pretende
para si o direito de emitir determinados mandados encontra, num grau
socialmente relevante, efetivamente obediência. Mesmo assim, o exame
sociológico, como é natural, não ignora o fato de que os poderes de mando
“efetivos” costumam pretender o atributo adicional de uma “ordem” normativa,
“legalmente” existente, e por isso é compelido a operar com o aparato
conceitual jurídico.

Nas palavras do próprio autor, “dominação, no sentido muito geral de poder,


isto é, de possibilidade de impor ao comportamento de terceiros a vontade própria,
pode apresentar-se nas formas mais diversas”25. Em resumo, o conceito de
dominação se define:

uma vontade manifesta (“mandado”) do “dominador” ou dos “dominadores”


quer influenciar as ações de outras pessoas (do “dominado” ou dos
“dominados”), e de fato as influencia de tal modo que estas ações, num grau
socialmente relevante, se realizam como se os dominados tivessem feitos do
próprio conteúdo do mandado a máxima de suas ações (obediência) 26.

Ela é analisada sob duas perspectivas básicas: aquela em virtude da


autoridade e aquela em virtude de uma constelação de interesses. A primeira está
relacionada com o poder de mando e sua posição de autoridade do “dominador”,
agregada ao dever de obediência do “dominado”; a segunda se relaciona com a
situação de monopólio, como as envolvendo relações econômicas.
Dentre as formas de poder analisadas por Weber, encontra-se o poder
patriarcal, aquele exercido pelo “chefe de família” que encontra suas origens nas
necessidades rotineiras, em especial, na economia. O patriarca é o “líder natural” da
rotina cotidiana27. Ou seja, o dever de obediência não é questionado, simplesmente

24
WEBER, Max. Estruturas do Poder. In: Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos
e Científicos Editora S.A., 1982, p. 192.
25
Idem, p. 188.
26
Ibidem, p. 191.
27
WEBER, Max. A Sociologia da Autoridade Carismática. In: Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro:
LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1982, p. 283.
20

existe sem quaisquer motivos e interesses específicos, pautados puramente no senso


de “tradição”.
A dominação, em seu sentido amplo, reside nas relações entre Estado e
cidadãos. Conforme exposto anteriormente, uma das formas de legitimação do Estado
é por meio do uso da força, de seu poder de mando, que perpetua a estrutura de
dominação. A força também é utilizada nas relações familiares, envolvendo os
chamados “chefes de família” e outros membros da estrutura familiar.
A concepção patriarcal do poder paterno, masculino, remete à propriedade:
os descendentes de determinado homem são considerados seus, para fins de
transmissão de propriedade e do cargo de chefe da comunidade doméstica, sendo o
responsável por administrar todos os bens familiares – incluindo as mulheres, sejam
esposas ou escravas, e os filhos.
No caso, o poder de mando é exercido pelos chefes de família, que o exercem
sobre os outros membros daquela comunidade, como filhos e esposa, exigindo sua
obediência. Assim, se estabelece o poder de dominação na estrutura familiar.
Em “Economia e Sociedade”28, Weber vinculou a “dominação” com a
“administração”. Em seu entendimento, toda dominação derivaria de alguma forma de
administração e toda administração necessitaria da dominação para existir, pois o
poder de mando deveria se conservar nas mãos de alguém, que exerceria o papel de
dominador.
Da mesma forma, a economia tem sua parcela de responsabilidade na
estrutura de dominação. Embora não esteja presente em todas as formas de
dominação, ela está presente nas mais importantes, uma vez que o dominador se
utiliza de sua posição de provedor e detentor dos ativos financeiros para coagir os
dominados, influenciando diretamente na estrutura de dominação.
Diferentemente da dominação burocrática, em que as regras para submissão
são pautadas na racionalidade para a legitimidade, na dominação patriarcal, a
legitimidade vem da tradição, ou seja, regras antigas, originadas na crença da
autoridade doméstica - Que o homem não altere jamais um costume 29. No que
concerne aos submetidos a essa autoridade doméstica, o artifício utilizado para sua

28
WEBER, Max. In: Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Vol. 2. São
Paulo: Editora Universidade de Brasília, 1999, p. 193.
29
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. São Paulo: Editora
Universidade de Brasília, 1999, p. 235.
21

submissão é a convivência íntima, pessoal e duradoura, sob o mesmo teto,


envolvendo a o hábito, a influência, a necessidade de cuidado e proteção – em
especial para os filhos. Para a mulher, em especial, somava-se o argumento da
superioridade física e psíquica do homem. Entretanto, Beauvoir30 desconstruiu este
conceito em 1949, ao afirmar que “Nenhum destino biológico, psíquico, econômico
define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da
civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado, que
qualificam de feminino”.
A dominação, entretanto, não pode ser analisada isoladamente. Partindo das
concepções weberianas de patriarcado e dominação-exploração, Heleieth Saffioti, em
sua obra Gênero, patriarcado e violência31, considera que dominação e exploração
não devem ser tratadas isoladamente: uma no campo da sociologia e outra na
economia, por se complementarem. Ou seja, o conceito dominação-exploração é um
fenômeno único, com faces distintas.
No exercício da função patriarcal, os homens necessitam do uso da força para
exercer seu poder e determinar a conduta das outras categorias sociais a ele
subordinadas, recebendo uma certa autorização da sociedade – ou tolerância – para
que a exerça32. Ela pode abranger mulheres, crianças e adolescentes de ambos os
sexos33. Uma das formas de perpetuação desta estrutura é a violência, conforme o
conceitua Saffioti34:

Trata-se da violência como ruptura de qualquer forma de integridade da


vítima: integridade física, integridade psíquica, integridade sexual, integridade
moral. Observa-se que apenas a psíquica e a moral situam-se fora do
palpável.

Além da violência, a estrutura patriarcal também se mantém pela manutenção


dos costumes – tradição, como a criação diferenciada de homens e mulheres,

30
BEAUVOIR, S. O segundo sexo: fatos e mitos. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1980, p. 267.
31
SAFFIOTI, H. I. B. Gênero, patriarcado e violência. Editora Perseu Abramo, 2004, p. 106.
32
SAFFIOTI, H. I. B. Contribuições feministas para o estudo da violência de gênero. In: Cadernos Pagu,
n. 16, 2001, p. 115.
33
De acordo com Saffioti, “A ordem das bicadas na sociedade humana é muito complexa, uma vez que
resulta de três hierarquias/ contradições – de gênero, de etnia e de classe. O importante a reter consiste
no fato de o patriarca, exatamente por ser todo poderoso, contar com numerosos asseclas para a
implementação e a defesa diuturna da ordem de gênero garantidora de seus privilégios”. (SAFFIOTI,
H. I. B. Contribuições feministas para o estudo da violência de gênero. In: Cadernos Pagu, n. 16, 2001,
p. 117).
34
SAFFIOTI, H. I. B. Gênero, patriarcado e violência. Editora Perseu Abramo, 2004, pp. 17-18.
22

construídos dentro do estereótipo de gênero35, como explica Saffioti36: “Elas são


socializadas para desenvolver comportamentos dóceis, cordatos, apaziguadores. Os
homens, ao contrário, são estimulados a desenvolver condutas agressivas, perigosas,
que revelem força e coragem.”
O viés de dominação ainda permeia as relações sociais no âmbito público e
no privado, entre homens e mulheres, pais/mães e filhos/as, adultos e crianças. Ainda
são necessárias políticas que promovam a igualdade de gênero, bem como para o
reconhecimento das crianças como seres sociais.
Passa-se, então, a analisar se ambas as políticas podem caminhar juntas.
Para tanto, as discussões dos parlamentares na tramitação do Projeto de Lei nº
6.998/2013 pode apontar nova direção na elaboração das políticas públicas da
infância.

35
SAFFIOTI, H. I. B. Contribuições feministas para o estudo da violência de gênero. In: Cadernos Pagu,
n. 16, 2001, p. 123.
36
SAFFIOTI, H. I. B. Gênero, patriarcado e violência. Editora Perseu Abramo, 2004, p. 35.
23

2. O PROJETO DE LEI Nº 6.998/2013: GÊNERO IMPORTA?

As discussões sobre os direitos da criança e do adolescente e a primazia da


Doutrina da Situação Irregular na América Latina ganharam força especial na década
de 1980. Emílio Garcia Mendez37 resgata que as grandes reformas jurídicas no âmbito
da infância ocorreram em duas etapas38 na América Latina: a primeira entre 1919 e
1939 e a segunda, que se iniciou em 1990 e permanece em mudança.
A primeira etapa estabeleceu a especificidade do direito de menores, bem
como a nova instituição da justiça de menores. No Brasil, o primeiro Código de
Menores foi estipulado em 1927, adotando a Doutrina da Situação Irregular. No
período seguinte (de 1940 a 1990) poucas mudanças jurídicas ocorreram no âmbito
da infância, ressaltando o outro Código de Menores, promulgado em 1979.
No entanto, o entendimento da época residia na premissa de não-rompimento
com a Constituição, a lex maxima, não deveria ser rompida, em especial suas
garantias, pelas características de repressão/compaixão da legislação menorista. O
advento da nova Constituição, pioneira na América Latina e Caribe, escancarou a
inconstitucionalidade da legislação menorista vigente na época, reflexo da política
social implementada pelo autoritarismo militar que afligiu a América Latina no século
XX.
As discussões pela universalização dos direitos da criança durante século XX
culminaram no primeiro instrumento de reconhecido de direitos da criança,
identificando a necessidade de uma proteção especial para este público, foi a
Declaração de Genebra dos Direitos da Criança, de 1924, sendo seguido pela
Declaração Universal dos Direitos da Criança39 (1959) e, posteriormente, na

37
MENDEZ, Emílio Garcia. Infância, lei e democracia: uma questão de justiça. In: Revista Brasileira
Adolescência e Conflitualidade, n. 8, 2013, p. 5.
38
Cifali, Chies-Santos e Alvarez, em referência a outro trabalho de Emílio Garcia Mendez, acrescentam
uma etapa anterior às mencionadas, compreendida entre o século XIX até 1919, resgatando que a
responsabilidade penal de crianças – a partir de sete anos de idade - e adolescentes era equiparada a
dos adultos. (CIFALI, Ana Claudia; CHIES-SANTOS, Mariana; ALVAREZ, Marcos César. Justiça
Juvenil no Brasil – continuidades e rupturas. In: Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 32, n.
3, Sep-Dec. 2020, p. 198).
39
Após a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que os reconheceram como pré-requisito para
a paz, a justiça e a democracia, foi entendido que crianças e adolescentes – na sua condição de seres
humanos - também são detentoras de todos os direitos humanos. (Os Direitos das Crianças e dos
Adolescentes. Disponível em: <https://www.unicef.org/brazil/os-direitos-das-criancas-e-dos-
24

Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança (CDC) 40 – aprovada pela


Assembleia Geral das Nações Unidas em 1989 -, sendo o instrumento de direitos
humanos mais aceito na História. A CDC foi inovadora ao considerar a criança como
sujeita de direitos e protagonista de sua história, promovendo o direito de participação
da criança nos processos que a envolvem, como atora social, além de reconhecer a
pluralidade das infâncias mundiais: a criança seria vista não como uma mera
espectadora de seu futuro, mas como um ser humano digno de direitos universais.
Esta Convenção, então, exerceu um papel de consolidação da relação entre as
crianças, os adultos e o Estado41.
De forma pioneira na região, o Brasil retratou os preceitos da Convenção em
sua nova Constituição da República, em 1988, concedendo à criança e ao
adolescente a condição de sujeito de direitos, deixando de serem meros objetos de
direitos, incluindo o artigo 227 que adota a Doutrina da Proteção Integral e a prioridade
absoluta na elaboração de políticas públicas, bem como, no artigo 204, as orientações
relacionadas à ação governamental na área da assistência social, tornando este
público suscetível à proteção e à responsabilidade.
De forma pioneira na região, o Brasil retratou os preceitos da Convenção em
sua nova Constituição da República, em 1988, concedendo à criança e ao
adolescente a condição de sujeito de direitos, deixando de serem meros objetos de
direitos, incluindo o artigo 227 que adota a Doutrina da Proteção Integral e a prioridade
absoluta na elaboração de políticas públicas, bem como, no artigo 204, as orientações
relacionadas à ação governamental na área da assistência social, tornando este
público suscetível à proteção e à responsabilidade.

adolescentes>. Acesso em 17.12.2020). Assim, em 1959, a Assembleia Geral das Nações Unidas
aprovou a Declaração dos Direitos da Criança, em decorrência de discussões que vinham ocorrendo
desde a década de 1920. (Declaração dos Direitos da Criança. 1959. Disponível em: <
http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Crian%C3%A7a/declaracao-dos-direitos-da-
crianca.html>. Acesso em 18.12.2020.
40
Esta Convenção foi resultado de uma década de trabalhos preparatórios, tendo sido ratificado por
196 países, com a exceção dos Estados Unidos. Ela consiste num tratado internacional de direitos
humanos da criança e do adolescente, reconhecendo este público como em fase de desenvolvimento
e sujeito à proteção, cuidados e assistência especiais, reafirmando o caráter igualitário de direitos entre
todos os membros que compõem a família humana. (Convenção sobre os Direitos da Criança. 1989.
Disponível em: <https://www.unicef.org/brazil/convencao-sobre-os-direitos-da-crianca>. Acesso em
17.12.2020.
41
MENDEZ, Emílio Garcia. Infância, lei e democracia: uma questão de justiça. In: Revista Brasileira
Adolescência e Conflitualidade, n. 8, 2013, p. 9.
25

Ao descobrir, empiricamente, o estreito vínculo entre os problemas da


infância e da democracia e no marco do processo popular de construção de
uma nova Constituição, que prenunciava claramente o fim de um quarto de
século de autoritarismo militar, o embrionário movimento de luta pelos direitos
da infância articulou-se em torno da elaboração de duas emendas populares
à nova Constituição (mecanismo previsto na própria Convenção
Constituinte). O resultado foi a incorporação à nova Constituição Brasileira,
finalmente aprovada em outubro de 1988, de dois artigos fundamentais para
todo o desenvolvimento de um novo tipo de política social para a infância: a
política social pública. O artigo 227 representa uma síntese admirável da
futura Convenção, que na época circulava na forma de um anteprojeto entre
os movimentos que lutavam pelos direitos da infância. O outro artigo decisivo
foi o 204 (particularmente em seu inciso II) que, legitimando a articulação de
esforços coordenados entre governo e sociedade civil, lançou as bases
explicitamente jurídicas para a reformulação de uma política pública, já não
mais entendida como mero sinônimo de política governamental, e sim como
resultado de uma articulação entre governo e sociedade civil 42

A Constituição Federal de 1988 assegurou como dever de toda a sociedade,


em conjunto com a família e o Estado, a proteção e salvaguarda dos direitos de toda
criança e todo adolescente, restando conhecido como o “princípio da prioridade
absoluta”. Nos dizeres de Andreucci e Caraciola43, este princípio compreende:

a proteção e socorro, em quaisquer circunstâncias; atendimento preferencial


nos serviços públicos e de relevância pública; prioridade na formulação e
execução de políticas sociais públicas; destinação preferencial de recursos
públicos nas áreas de atendimento à infância e à adolescência. [...] É um
princípio que não está aberto a indagações ou ponderações sobre o interesse
a tutelar em primeiro lugar, já que a escolha foi feita pelo legislador
constituinte, em nome da nação.

A segunda etapa, iniciada em 1990, foi marcada pela promulgação do


Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo um marco no reconhecimento dos
direitos deste público, por abordar não apenas a criança em situação irregular, mas
conferir direitos a todas as crianças e adolescentes, sem distinção. Dentre as

42
MENDEZ, Emílio Garcia. Infância, lei e democracia: uma questão de justiça. In: Revista Brasileira
Adolescência e Conflitualidade, n. 8, 2013, p. 4.
43
ANDREUCCI, Ana Claudia Pompeu Torezan; CARACIOLA, Andrea Boari. ECA como uma rede
principiológica: a interpretação construtiva dos direitos da criança e do adolescente, e a compreensão
teleológica da Lei Menino Bernardo. In: Estudos sobre a violência contra a criança e do adolescente.
(Org.) PIRES, Antonio Cecílio Moreira [et al.]. São Paulo: Libro, 2016, p.180.
26

questões nele estipuladas, destacam-se, na visão das autoras mencionadas, três


princípios básicos: proteção especial como ser em desenvolvimento; o
desenvolvimento da criança do seio de sua família; a prioridade da criança para todas
as nações signatárias.
Embora a preocupação dos legisladores tenha sido a proteção integral de
crianças e adolescentes, as políticas públicas voltadas para este público ainda não
são suficientes para se garantir o pleno desenvolvimento humano. Isso porque não
bastam os avanços legislativos se o Poder Executivo não caminha no mesmo passo
para a concretização de políticas públicas e direitos sociais.
Em que pesem as discussões e programas voltados para a adolescência, em
razão dos índices de violência e mortalidade juvenil, gravidez precoce e envolvimento
criminal, a Primeira Infância – período compreendido de 0 (zero) a 6 (seis) anos de
idade - permanecia sem a devida atenção, sem políticas voltadas para sua
especificidade. Os estudos em diversas áreas sobre este período da vida, suas
variantes e suas relações com o meio social demandavam maior atenção para a
construção de uma base social sólida.
Assim, em 18 de dezembro de 2013, encabeçado pelo então Deputado Osmar
Terra (PMBD/RS)44, foi apresentado ao plenário da Câmara dos Deputados o Projeto
de Lei nº 6.998/2013. Buscando, inicialmente, alterar o Estatuto da Criança e do
Adolescente para incluir a Primeira Infância, o projeto propôs elaboração de políticas
no âmbito alimentar, educacional, cultural, social, convivência familiar, publicidade,
além de reafirmar a prioridade absoluta para o público em tela. Também contava com
conceituações relevantes para se garantir a prioridade absoluta, como criança,
infância, primeira infância, desenvolvimento infantil, interesse superior da criança e
situação precária da família, além de considerar a diversidade das infâncias brasileiras

44
Deputado titular em exercício no mandato 2019-2023, Osmar Terra se filiou ao Partido do Movimento
Democrático Brasileiro (PMDB) em 1986 e, atualmente, está no MDB, embora tenha iniciado sua
atuação política no Partido Comunista do Brasil. Médico com especialização em Saúde Perinatal,
Educação e Desenvolvimento do Bebê, dentre outras funções, o então deputado já exerceu cargos do
Executivo municipal e estadual, além de estar em seu sexto mandato como Deputado Federal pelo Rio
Grande do Sul, tendo atuado em prol da Primeira Infância desde 2000. In: BIOGRAFIA DO DEPUTADO
FEDERAL OSMAR TERRA – PORTAL DA CÂMARA DOS DEPUTADOS. Disponível em:
<camara.leg.br/deputados/73692/biografia>. Acesso em: 15.08.2021; SAID, FLÁVIA. Quem é Osmar
Terra, o ex-comunista de Bolsonaro que faz sombra a Mandetta. Disponível em:
https://congressoemfoco.uol.com.br/saude/quem-e-osmar-terra-o-ex-comunista-de-bolsonaro-que-faz-
sombra-a-mandetta/. Acesso em: 15.08.2021; TERRA, Osmar. Disponível em: <
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/terra-osmar>. Acesso em: 15.08.2021.
27

e a vedação à discriminação de qualquer natureza, incluindo-se a de gênero,


respeitando-se o período de formação humana e construção de sua subjetividade.
Outro ponto relevante do projeto inicial foi considerar a importância da
participação da criança – por meio de suas linguagens peculiares – na proposição de
ações que lhe afetam, promovendo sua escuta e considerando-a não só como sujeita
de direitos, mas como cidadã, participante efetiva no processo democrático. Neste
sentido, também havia a proposição de ampla divulgação e comunicação social dos
direitos da criança e do adolescente, inclusive voltada para a Primeira Infância.
Além de coibir a discriminação por gênero no projeto, os relatores iniciais
consideraram, no artigo 6-I, inciso VI, o acolhimento à diversidade de gênero na
elaboração de políticas públicas para a Primeira Infância.
Encaminhado para as diversas comissões especializadas da Casa legislativa,
foi criada uma Comissão Especial para analisar a matéria, elegendo o Deputado João
Ananias (PCdoB/CE) como relator. Apresentadas 10 (dez) emendas ao projeto inicial,
a matéria passou pelo crivo popular por meio de audiências públicas e seminários por
todo o território nacional com a população, especialistas e autoridades, para se
debater o projeto e implementação de políticas públicas para a Primeira Infância. Após
as audiências e seminários, foram propostas mais 25 (vinte e cinco) emendas ao
substitutivo, dessas sendo 20 (vinte) aprovadas. Passados os prazos para recursos e
aprovada pelas devidas Comissões, o projeto foi encaminhado para o relatório final,
tendo sido transformado em lei ordinária e sancionado em 10 de março de 2016, pela
então presidenta Dilma Rousseff.
Aprovado por unanimidade, o projeto perpassou dois mandatos distintos no
Poder Legislativo, ainda que o comando do Poder Executivo nacional tenha
permanecido o mesmo – iniciou-se no primeiro mandato de Dilma Rousseff e foi
sancionado em seu segundo mandato, antes de seu impedimento, como pode se
verifica na ficha de tramitação a seguir45:

Data Andamento

45
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projeto de Lei nº 6.998, de 2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_autores?idProposicao=604836>. Acesso em:
30.04.2021.
28

18/12/2013 Plenário ( PLEN )


● Apresentação do Projeto de Lei n. 6998/2013,
pelo Deputado Osmar Terra (PMDB-RS), que:
"Altera o art. 1º e insere dispositivos sobre a
Primeira Infância na Lei nº 8.069, de 1990, que
dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente e dá outras providências". Inteiro
teor

13/01/2014 Mesa Diretora ( MESA )


● Às Comissões de Ciência e Tecnologia,
Comunicação e Informática; Seguridade Social e
Família; Finanças e Tributação (Mérito e Art. 54,
RICD) e Constituição e Justiça e de Cidadania
(Art. 54 RICD) - Art. 24, IIProposição Sujeita à
Apreciação Conclusiva pelas Comissões - Art. 24
IIRegime de Tramitação: Ordinária Inteiro teor
● Às Comissões de Ciência e Tecnologia,
Comunicação e Informática; Seguridade Social e
Família; Finanças e Tributação (Mérito e Art. 54,
RICD) e Constituição e Justiça e de Cidadania
(Art. 54 RICD) - Art. 24, IIProposição Sujeita à
Apreciação Conclusiva pelas Comissões - Art. 24
IIRegime de Tramitação: Ordinária Inteiro teor

04/02/2014 COORDENAÇÃO DE COMISSÕES


PERMANENTES ( CCP )
● Encaminhada à publicação. Publicação Inicial em
avulso e no DCD de 05/02/14 PAG 458 COL
01. Inteiro teor

07/02/2014 Mesa Diretora ( MESA )


● Revejo o despacho aposto ao PL 6.998/13, para
determinar que a Comissão de Direitos Humanos
e Minorias se manifeste quanto ao mérito da
matéria. Em razão da distribuição a mais de três
comissões de mérito, determino a criação de
Comissão Especial para apreciar a matéria,
conforme art. 34, II, do RICD. Às Comissões de
Direitos Humanos e Minorias; Ciência e
Tecnologia, Comunicação e Informática;
Seguridade Social e Família; Finanças e
Tributação (Mérito e Art. 54, RICD) e Constituição
e Justiça e de Cidadania (Art. 54 RICD) - Art. 24,
IIProposição Sujeita à Apreciação Conclusiva
pelas ComissõesArt. 24 IIRegime de Tramitação:
Ordinária Inteiro teor

11/02/2014 Plenário ( PLEN )


● Ato da Presidência: Cria Comissão Especial, nos
termos do inciso II e do § 1º do art. 34 do
Regimento Interno. Inteiro teor
29

12/03/2014 Plenário ( PLEN )


● Apresentação do Requerimento de Retirada de
proposição de iniciativa individual n. 9673/2014,
pelo Deputado João Ananias (PCdoB-CE), que:
"Requer a retirada da assinatura do PL
6998/2013". Inteiro teor

13/03/2014 Plenário ( PLEN )


● Ato da Presidência: Constitui Comissão Especial,
nos termos do inciso II do art. 34 do Regimento
Interno. Inteiro teor

18/03/2014 Mesa Diretora ( MESA )


● Deferido o Requerimento n. 9673/2014, conforme
despacho do seguinte teor: "Com fundamento no
art. 102, § 4º, do Regimento Interno da Câmara
dos Deputados, defiro a retirada de assinatura do
Projeto de Lei n. 6.998/2013. Publique-se. Oficie-
se".

19/03/2014 Comissão Especial - PL 6998/13 - PRIMEIRA


INFANCIA ( PL699813 )
● Recebimento pela PL699813.
● Designado Relator, Dep. João Ananias (PCdoB-
CE)

20/03/2014 Comissão Especial - PL 6998/13 - PRIMEIRA


INFANCIA ( PL699813 )
● Prazo para Emendas ao Projeto (5 sessões
ordinárias a partir de 21/03/2014)

27/03/2014 Plenário ( PLEN )


● Apresentação do Requerimento n. 9825/2014,
pela Deputada Gorete Pereira (PR-CE), que:
"Requer inclusão na co-autoria do PL
6998/2013". Inteiro teor

27/03/2014 Mesa Diretora ( MESA )


● Apresentação do Requerimento n. 9825/2014,
pela Deputada Gorete Pereira (PR-CE), que:
"Requer inclusão na co-autoria do PL
6998/2013".

03/04/2014 Comissão Especial - PL 6998/13 - PRIMEIRA


INFANCIA ( PL699813 )
● Encerrado o prazo para emendas ao projeto.
Foram apresentadas 10 emendas.

07/04/2014 Comissão Especial - PL 6998/13 - PRIMEIRA


INFANCIA ( PL699813 )
● Apresentação do Requerimento de Audiência
Pública n. 6/2014, pelo Deputado Mandetta
(DEM-MS), que: "Requer a realização de
30

Audiência Pública com o intuito de discutir o


programa NutriSUS". Inteiro teor
● Apresentação do Requerimento de Audiência
Pública n. 7/2014, pelo Deputado Osmar Terra
(PMDB-RS), que: "Requer a realização de
Seminário: Avanços do Marco Legal da Primeira
Infância em Porto Alegre/RS, para ouvir e
debater com especialistas e autoridades,
políticas públicas sobre a Primeira Infância, a fim
de instruir o relatório do PL 6998/2013". Inteiro
teor
● Apresentação do Requerimento de Audiência
Pública n. 8/2014, pela Deputada Gorete Pereira
(PR-CE), que: "Requer realização de Encontro
Regional no Estado do Ceará". Inteiro teor
● Apresentação do Requerimento n. 9/2014, pelo
Deputado João Ananias (PCdoB-CE), que:
"Requer a aprovação de Seminário da Comissão
Especial da Primeira Infância, com o objetivo de
discutir o PL 6998/13, na cidade de
Fortaleza/CE". Inteiro teor
● Apresentação do Requerimento n. 10/2014, pela
Deputada Cida Borghetti (PROS-PR), que:
"Requer a realização de Seminário: Avanços do
Marco Legal da Primeira Infância em Curitiba-PR,
para ouvir e debater com especialistas e
autoridades, políticas públicas sobre a Primeira
Infância, a fim de instruir o relatório do PL
6998/2013, na cidade de Curitiba/PR". Inteiro
teor

08/04/2014 Comissão Especial - PL 6998/13 - PRIMEIRA


INFANCIA ( PL699813 )
● Aprovado requerimento n. 6/2014 do Sr.
Mandetta que requer a realização de Audiência
Pública com o intuito de discutir o programa
NutriSUS.
● Aprovado requerimento n. 7/2014 do Sr. Osmar
Terra que requer a realização de Seminário:
Avanços do Marco Legal da Primeira Infância em
Porto Alegre/RS, para ouvir e debater com
especialistas e autoridades, políticas públicas
sobre a Primeira Infância, a fim de instruir o
relatório do PL 6998/2013.
● Aprovado requerimento n. 8/2014 da Sra. Gorete
Pereira que requer realização de Encontro
Regional no Estado do Ceará.
● Aprovado requerimento n. 9/2014 do Sr. João
Ananias que requer a aprovação de Seminário da
Comissão Especial da Primeira Infância, com o
objetivo de discutir o PL 6998/13, na cidade de
Fortaleza/CE.
● Aprovado requerimento n. 10/2014 da Sra. Cida
Borghetti que requer a realização de Seminário:
31

Avanços do Marco Legal da Primeira Infância em


Curitiba-PR, para ouvir e debater com
especialistas e autoridades, políticas públicas
sobre a Primeira Infância, a fim de instruir o
relatório do PL 6998/2013, na cidade de
Curitiba/PR.

08/04/2014 Mesa Diretora ( MESA )


● Deferido o Requerimento n 9825/2014, conforme
despacho do seguinte teor: "Defiro. Publique-se".

14/05/2014 Comissão Especial - PL 6998/13 - PRIMEIRA


INFANCIA ( PL699813 )
● Apresentação do Requerimento n. 12/2014, pela
Deputada Professora Dorinha Seabra Rezende
(DEM-TO), que: "Requer a realização de
Encontro Estadual em Tocantins para debater o
tema 'Primeira Infância'". Inteiro teor

20/05/2014 Comissão Especial - PL 6998/13 - PRIMEIRA


INFANCIA ( PL699813 )
● Aprovado requerimento n. 12/2014 da Sra.
Professora Dorinha Seabra Rezende que requer
a realização de Encontro Estadual em Tocantins
para debater o tema "Primeira Infância".

02/06/2014 Comissão Especial - PL 6998/13 - PRIMEIRA


INFANCIA ( PL699813 )
● Apresentação do Requerimento n. 13/2014, pelo
Deputado Mandetta (DEM-MS), que: "Requer a
realização de Seminário: Avanços do Marco
Legal da Primeira Infância em Campo
Grande/MS, para ouvir e debater com
especialistas e autoridades, políticas públicas
sobre a Primeira Infância, a fim de instruir o
relatório do PL 6998/2013". Inteiro teor

15/07/2014 Comissão Especial - PL 6998/13 - PRIMEIRA


INFANCIA ( PL699813 )
● Aprovado requerimento n. 13/2014 do Sr.
Mandetta que requer a realização de Seminário:
Avanços do Marco Legal da Primeira Infância em
Campo Grande/MS, para ouvir e debater com
especialistas e autoridades, políticas públicas
sobre a Primeira Infância, a fim de instruir o
relatório do PL 6998/2013.

06/11/2014 Comissão Especial - PL 6998/13 - PRIMEIRA


INFANCIA ( PL699813 )
● Apresentação do Parecer do Relator n. 1
PL699813, pelo Deputado João Ananias
(PCdoB-CE). Inteiro teor
32

06/11/2014 Plenário ( PLEN )


● Apresentação do Requerimento de Inclusão na
Ordem do Dia n. 10782/2014, pelo Deputado Dr.
Ubiali (PSB-SP), que: "Requer a inclusão na
Ordem do Dia do PL nº 6998/2013, que altera o
art.1º e insere dispositivos sobre a Primeira
Infância na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990,
que dispõe sobre o Estatuto da Criança e dá
outras providências". Inteiro teor

06/11/2014 Comissão Especial - PL 6998/13 - PRIMEIRA


INFANCIA ( PL699813 )
● Devolvido ao Relator, Dep. João Ananias
(PCdoB-CE)

17/11/2014 Comissão Especial - PL 6998/13 - PRIMEIRA


INFANCIA ( PL699813 )
● Apresentação do Parecer do Relator n. 2
PL699813, pelo Deputado João Ananias
(PCdoB-CE). Inteiro teor
● Parecer do Relator, Dep. João Ananias (PCdoB-
CE), pela constitucionalidade, juridicidade e boa
técnica legislativa e não implicação orçamentária
e financeira deste, das emendas ao projeto de
nºs 1 a 10, e, no mérito, pela aprovação do
Projeto de Lei nº 6.998, de 2013, e das emendas
nº 1, 3, 4, 5, 6, 7 e 9, com substitutivo, e pela
rejeição das emendas nº 2, 8 e 10. Inteiro teor

18/11/2014 Comissão Especial - PL 6998/13 - PRIMEIRA


INFANCIA ( PL699813 )
● Prazo para Emendas ao Substitutivo (5 sessões
ordinárias a partir de 19/11/2014)

04/12/2014 Comissão Especial - PL 6998/13 - PRIMEIRA


INFANCIA ( PL699813 )
● Encerrado o prazo para emendas ao substitutivo.
Foram apresentadas 25 emendas ao substitutivo.

10/12/2014 Comissão Especial - PL 6998/13 - PRIMEIRA


INFANCIA ( PL699813 )
● Apresentação do Parecer do Relator, PES 1
PL699813, pelo Dep. João Ananias Inteiro teor
● Parecer às emendas apresentadas ao
Substitutivo do Relator, Dep. João Ananias
(PCdoB-CE), pela constitucionalidade,
juridicidade, boa técnica legislativa e adequação
orçamentária e financeira das 25 emendas
apresentadas ao substitutivo, e, no mérito, pela
aprovação das nºs 1, 3, 4, 5, 6, 8, 12 a 25, e pela
rejeição das de nºs 2, 7, 9, 10 e 11, com
substitutivo. Inteiro teor
33

● Apresentação da Complementação de Voto,


CVO 1 PL699813, pelo Dep. João Ananias

10/12/2014 Comissão Especial - PL 6998/13 - PRIMEIRA


INFANCIA ( PL699813 ) - 14:30 Reunião
Deliberativa Ordinária
● Parecer com Complementação de Voto, do Dep.
João Ananias (PCdoB-CE), pela
constitucionalidade, juridicidade, boa técnica
legislativa e pela não implicação financeira deste
e das emendas a ele apresentadas de nº 1 a 10;
pela constitucionalidade, juridicidade, boa
técnica legislativa e adequação financeira e
orçamentária das emendas ao substitutivo de nºs
1 a 25, e, no mérito, pela aprovação do Projeto
de Lei nº 6.998, de 2013, das emendas a ele
apresentadas de nºs 1, 3, 4, 5, 6, 7 e 9; das de
nºs 1, 3, 4, 5, 6, 8 e 11 a 25, apresentadas ao
substitutivo, com substitutivo; e pela rejeição das
emendas ao projeto de nºs 2, 8, e 10, e das
emendas ao substitutivo de nºs 2, 7, 9 e
10. Inteiro teor
● Aprovado o Parecer com Complementação de
Voto, ressalvados os destaques.

10/12/2014 Comissão Especial - PL 6998/13 - PRIMEIRA


INFANCIA ( PL699813 )
● Apresentação do Parecer Reformulado, PRR 1
PL699813, pelo Dep. João Ananias
● Parecer Reformulado, Dep. João Ananias
(PCdoB-CE), em decorrência da apreciação dos
destaques. Inteiro teor

16/12/2014 COORDENAÇÃO DE COMISSÕES


PERMANENTES ( CCP )
● Encaminhada à publicação. Parecer da
Comissão Especial Publicado em avulso e no
DCD de 17/12/14, PÁG 735 COL 01, Letra
A. Inteiro teor

17/12/2014 Mesa Diretora ( MESA )


● Prazo para apresentação de recurso, nos termos
do § 1º do art. 58 combinado com o § 2º do art.
132 do RICD (5 sessões ordinárias a partir de
18/12/2014).

22/12/2014 Plenário ( PLEN )


● Apresentação do Recurso contra apreciação
conclusiva de comissão (Art. 58, § 1º c/c art. 132,
§ 2º, RICD) n. 335/2014, pelo Deputado
Guilherme Campos, que: "Requeremos, com
base nos arts. 132, § 2º e 58 do Regimento
Interno, seja submetido ao Plenário o Projeto de
34

Lei nº 6.998, de 2013, que altera o art. 1º e insere


dispositivos sobre a Primeira Infância na Lei nº
8.069, de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da
Criança e do Adolescente e dá outras
providências". Inteiro teor

04/02/2015 Plenário ( PLEN )


● Apresentação do Requerimento de
Desarquivamento de Proposições n. 259/2015,
pelo Deputado Mandetta (DEM-MS), que:
"Requer o desarquivamento de
proposições". Inteiro teor

09/02/2015 Plenário ( PLEN )


● Apresentação do Requerimento de
Desarquivamento de Proposições n. 342/2015,
pelo Deputado Geraldo Resende (PMDB-MS),
que: "Requer o desarquivamento de
proposições". Inteiro teor

10/02/2015 Mesa Diretora ( MESA )


● Encerramento automático do Prazo de Recurso.
Foi apresentado um recurso.

11/02/2015 Mesa Diretora ( MESA )


● Indeferido o pedido de desarquivamento desta
proposição constante do REQ-
259/2015porquanto a(s) proposição(ões) não
foi(ram) arquivada(s). Inteiro teor
● Indeferido o pedido de desarquivamento desta
proposição constante do REQ-
342/2015porquanto a(s) proposição(ões) não
foi(ram) arquivada(s). Inteiro teor

25/02/2015 Plenário ( PLEN )


● Rejeitado o Recurso nº 335/2014 contra
apreciação conclusiva de comissão (Art. 58, § 1º
c/c art. 132, § 2º, RICD). SESSÃO
DELIBERATIVA ORDINÁRIA DE 25/02/2015.

03/03/2015 Mesa Diretora ( MESA )


● Ofício SGM-P 311/2015 à CCJC encaminhando
este projeto para elaboração da Redação Final,
nos termos do Artigo 58, §4 e Artigo 24, II, do
RICD.
● Encaminhado à CCP

03/03/2015 CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA (


CCJC )
● Recebimento pela CCJC.

05/03/2015 CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA (


CCJC )
35

● Designado Relator da Redação Final, Dep.


Lincoln Portela (PR-MG)
● Apresentação da Redação Final n. 1 CCJC, pelo
Deputado Lincoln Portela (PR-MG). Inteiro teor

10/03/2015 CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA (


CCJC ) - 14:30 Reunião Deliberativa Ordinária
● Aprovada a Redação Final.

18/03/2015 Mesa Diretora ( MESA )


● Remessa ao Senado Federal por meio do Of. nº
22/15/PS-GSE. Inteiro teor

18/02/2016 Mesa Diretora ( MESA )


● Recebimento do Ofício nº 83/2016 (SF)
comunicando remessa à sanção.

08/03/2016 Mesa Diretora ( MESA )


● Transformado na Lei Ordinária 13257/2016. DOU
09/03/16 PÁG 01 COL 01.

10/03/2016 Mesa Diretora ( MESA )


● Recebimento do Ofício nº 193/2016 (SF)
encaminhando autógrafo sancionado.

Esta parte da pesquisa, ocorrida no primeiro semestre de 2021, foi realizada


por meio da análise de cada relatório apresentado e disponibilizado no Portal da
Câmara dos Deputados – proposição, emendas iniciais, substitutivo, pareceres das
comissões especiais e assim por diante -, seguindo a ordem cronológica do processo
legislativo até sua promulgação. Cumpre ressaltar que, neste decorrer, surgiram
alguns desafios, como a inconstância de informações no Portal da Câmara dos
Deputados. As gravações dos discursos dos parlamentares, por exemplo, não
permaneciam disponíveis, assim como atas das audiências públicas. Foi tentado
contato com o helpdesk da Câmara dos Deputados, mas não houve sucesso na
resolução do problema até a conclusão desta pesquisa. Outras informações levaram
alguns dias para serem disponibilizadas no Portal.

2.1. Justificativa
36

Na justificativa46 apresentada no projeto inicial do PL nº 6.998/2013, os


deputados e as deputadas47 que compunham a Frente Parlamentar da Primeira
Infância – criada em 2011 - consideraram a importância de uma primeira infância bem
assistida, cuidada, livre de violências e negligências como primordial para o
desenvolvimento integral do ser humano, culminando em adultos saudáveis e
produtivos. Assim, o investimento na primeira infância é, em verdade, um investimento
no futuro.
Para tanto, foram utilizados como embasamento do PL nº 6.998/201348
estudos em neurociência e desenvolvimento infantil de universidades internacionais e
órgãos nacionais, dos quais destaco:

Segundo o Dr. Jack Shonkoff, diretor e pesquisador do Centro de


Desenvolvimento Infantil da Universidade de Harvard, “a sociedade vai pagar
os custos mais altos em educação corretiva, tratamento clínico, assistência
social quando os circuitos neuronais não são formados apropriadamente no
começo da vida e quando são ignoradas e negadas ações preventivas”
(SHONKOFF, J.P. e FHILLIPS, D.A., eds. From Neurons to Neighborhoods:
The Science of Early Childhood Development. Whashington, DC : National
Academy Press, 2000).
E o Dr. Tremblay, do Centro de Excelência para o Desenvolvimento da
Primeira Infância, do Canadá, atesta:
“Os primeiros anos constituem um período crítico para incutir nas crianças os
fundamentos da sociabilidade: a partilha e o compromisso, a colaboração e a
comunicação. A maioria das crianças que crescem num meio favorável,
guiadas por seus pais e por aqueles que lhe são próximos, aprende a
controlar suas emoções, a comunicar-se pela linguagem e a exprimir suas
frustrações de maneira construtiva” (TREMBLEY, R.E., GERVAIS, J. e
PETITCLERC, A. Prévenir la violence par l’apprentissage à petite enfance.
Montreal (QC). Centre d’excellence pour le développment des jeunes enfants,
2008; traduzido para o português: Prevenir a Violência pelo Aprendizado na
Primeira Infância).

46
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Proposição íntegra. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1214724&filename=Tramit
acao-PL+6998/2013>. Acesso em: 30.04.2021.
47
Dentre os membros da Frente Parlamentar pela Primeira Infância, a Deputada Jandira Feghali se
destaca por estar em seu quinto mandato como Deputada Federal pelo Rio de Janeiro, tendo passagem
também pelo Legislativo estadual e do Executivo municipal. Filiada ao Partido Comunista do Brasil (PC
do B) desde 1981, a Deputada tem formação como médica com especialização em Cardiopediatria,
tendo relevante participação em frentes que envolvem os direitos da mulher, da criança e do
adolescente e dos direitos humanos em geral. In: BIOGRAFIA DA DEPUTADA FEDERAL JANDIRA
FEHGALI – PORTAL DA CÂMARA DOS DEPUTADOS. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/deputados/74848/biografia>. Acesso em: 15.08.2021; FEHGALI, Jandira.
Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/feghali-jandira>. Acesso
em: 15.08.2021.
48
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Proposição íntegra. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1214724&filename=Tramit
acao-PL+6998/2013>. Acesso em: 30.04.2021.
37

Com este objetivo, o Projeto buscou uma aproximação ainda maior entre a
legislação vigente – a partir de 1988 - e a formulação de políticas públicas voltadas
para este público específico, com a prioridade que lhe é devida: crianças são crianças
e não “mini adultos”.

Além de constituir direitos da criança, a atenção integral à primeira infância


também aborda os direitos dos pais, mães e responsáveis, em especial das mães.
Por terem a si atribuídos os deveres de cuidado e educação dos filhos - sendo
compreendido como a satisfação de necessidades básicas para a existência, como a
alimentação, a limpeza, organização e manutenção da vida -, a conquista da vida
pública pelas mulheres e seu trabalho extradomiciliar apontou a necessidade de locais
adequados para proteção, educação e cuidados de seus filhos no período laboral.

As necessidades de mulheres trabalhadoras, frutos da divisão sexual do


trabalho49, são discutidas pelo movimento operário brasileiro desde anos 1970, como
a falta de locais adequados para a permanência das crianças, com o atendimento de
suas necessidades. A falta de políticas em atenção a essas necessidades contribui
para a exclusão da mulher do mercado de trabalho, como aponta Patricia Bertolin50:

A insuficiência de creches e pré-escolas deve ser considerada como um


agravante da exclusão da mulher do mercado de trabalho, já que as
demandas familiares costumam recair sobre as mulheres, em face da “velha”
divisão sexual do trabalho.

(...)

Em face disso, as mulheres ainda se dividem entre responsabilidades


familiares e profissionais, tendem a estar sujeitas à jornada dupla (ou tripla,
quando envolve estudo), dependem do consentimento da família para ter
sucesso profissional, sempre que possível delegam a outras mulheres o “seu”
trabalho doméstico e têm menos tempo para lazer

49
“A divisão sexual do trabalho é a forma de divisão do trabalho social decorrente das relações sociais
de sexo; esta forma é adaptada historicamente e a cada sociedade. Ela tem por características a
destinação prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva e,
simultaneamente, a apreensão pelos homens das funções de forte valor social agregado (políticas,
religiosas, militares, etc...)”. KERGOAT, Danièle. Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo.
In: HIRATA, Helena et. al. (org). Dicionário Crítico do Feminismo. S.P.: Ed. Unesp, 2009, p.p. 67-80.
50
BERTOLIN, Patricia Tuma Martins. Direito e mudança social: o direito como instrumento para a
promoção da igualdade de gênero no Brasil. In: Revista da Faculdade de Direito da Universidade São
Judas Tadeu, n. 2, 2014, p.p. 33-39.
38

É por meio da educação infantil que a criança irá desenvolver suas habilidades
afetivas, sociais e comunicativas; aprenderá a acessar as estruturas do pensamento
e interagirá com os desafios e possibilidades que o meio educacional lhe
proporcionará, associando sua experiência de vida com as novas situações que lhe
serão postas. Assim, a criança será incluída verdadeiramente na cultura humana
como sujeito e não um mero objeto.

As desigualdades econômico-sociais também interferem no pleno


desenvolvimento e proporcionam um impacto duradouro no desenvolvimento infantil.
Aquelas com condições econômicas mais favoráveis têm a oportunidade de se
desenvolver em sua integralidade, tanto na família quanto nas instituições que
frequenta, enquanto as que possuem condições menos favoráveis permanecem
excluídas. Assim, por não terem igualdade de condições para se desenvolverem
desde a primeira infância, esta desigualdade dificilmente diminui quando se tornam
adultas. No que concerne à economia nacional, os estudos do Dr. James Heckman,
Prêmio Nobel de Economia em 2000, apontados na justificativa do Projeto de Lei51,
mostram que o melhor investimento de médio e longo prazo para o Estado é aplicado
nos cuidados e educação na primeira infância, sendo 7 (sete) a 10 (dez) vezes maior
do que os investidos em idades posteriores.

A proposta apresentada ainda contou com estudos elaborados por


neurocientistas, explicando como uma vida ativa, com estímulos cognitivos
adequados, alimentação, afeto, segurança e estímulos culturais contribuem
diretamente para a formação do cérebro na primeira infância. É neste período da vida
que a criança receberá todo o aparelhamento necessário para seu desenvolvimento
ao longo da vida

A transdisciplinaridade dos assuntos abordados justifica a existência dos


direitos estipulados no art. 227 da Constituição Federal, que devem ser assegurados
com absoluta prioridade pela família, pela sociedade e pelo Estado, propiciando vida
plena às crianças, atendidas em suas necessidades e sonhos, em suas fragilidades e
potencialidades, com condições adequadas para seu pleno caminhar à vida adulta.

51
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Proposição íntegra. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1214724&filename=Tramit
acao-PL+6998/2013>. Acesso em: 30.04.2021.
39

A proposta de alteração do Estatuto da Criança e do Adolescente – que, até


então, ditava em seu artigo 1º que a lei visava à “proteção integral à criança e ao
adolescente” - surgiu ante ao pequeno alcance de direitos apresentado como
correspondente a esse público; somente havia a indicação de ação de proteção,
desconsiderando-se os direitos de promoção e participação, ou seja, o direito de que
a criança participe das etapas de elaboração das políticas que lhe afetam, como
verdadeira sujeita de direitos, conforme previsto na Convenção Internacional dos
Direitos da Criança, elaborada pelas Nações Unidas.

Ainda, trouxe que os direitos da criança são intransigíveis, indivisíveis,


irrenunciáveis e interdependentes. Mesmo com esta alteração, a necessidade de
especificar o período da primeira infância se mostrou primordial para a elaboração,
implementação e avaliação de políticas públicas voltadas para este público.

O projeto visava estabelecer diretrizes para a articulação de políticas públicas


voltadas à primeira infância, garantindo a ampla divulgação – inclusive para as
próprias crianças – dos direitos da criança e do adolescente, a restrição de horários
para a publicidade voltada a este público e a garantia de participação de entidades da
sociedade civil, dirigidas para os direitos da Primeira Infância, nos conselhos de
direitos da criança na primeira infância.

2.1.1. Emendas

Foram apresentadas dez emendas ao projeto inicial, conforme pode se


verificar na ficha de tramitação52 a seguir:

Emenda Tipo de Data de Autor Ementa


Emenda Apresentação

52
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas presentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_emendas?idProposicao=604836&subst=0>. Acesso
em: 30.04.2021.
40

EMC Emenda 26/03/2014 Jandira Emenda modificativa ao PL


1/2014 na Feghali 6998/2013. Inteiro teor
PL699813 Comissão
=> PL
6998/2013

EMC Emenda 01/04/2014 Eduardo Dê-se ao caput do Art. 6-L,


2/2014 na Barbosa acrescentado à Lei
PL699813 Comissão 8.069/90, pelo art. 4º do
=> PL Projeto de Lei nº
6998/2013 6998/2013, a seguinte
redação Inteiro teor

EMC Emenda 01/04/2014 Eduardo Dê-se ao § 2º do Art. 6-D,


3/2014 na Barbosa acrescentado à Lei
PL699813 Comissão 8.069/90, pelo art. 4º do
=> PL Projeto de Lei nº
6998/2013 6998/2013, a seguinte
redação: Inteiro teor

EMC Emenda 01/04/2014 Eduardo Dê-se ao caput do Art. 6-B,


4/2014 na Barbosa acrescentado à Lei
PL699813 Comissão 8.069/90, pelo art. 4º do
=> PL Projeto de Lei nº
6998/2013 6998/2013, a seguinte
redação Inteiro teor

EMC Emenda 01/04/2014 Eduardo Dê-se ao caput do Art. 6-F,


5/2014 na Barbosa acrescentado à Lei
PL699813 Comissão 8.069/90, pelo art. 4º do
=> PL Projeto de Lei nº
6998/2013 6998/2013, a seguinte
redação Inteiro teor

EMC Emenda 03/04/2014 Marcos Dá nova redação ao art. 6-


6/2014 na Rogério C, do Projeto de Lei n.º
PL699813 Comissão 6.998, de 2013. Inteiro teor
=> PL
6998/2013

EMC Emenda 03/04/2014 Marcos Dá nova redação ao art. 6-


7/2014 na Rogério B, do Projeto de Lei n.º
PL699813 Comissão 6.998, de 2013. Inteiro teor
=> PL
6998/2013

EMC Emenda 03/04/2014 Marcos Dá nova redação ao inciso


8/2014 na Rogério VI do art. 6-A, do Projeto de
PL699813 Comissão Lei n.º 6.998, de
2013. Inteiro teor
41

=> PL
6998/2013

EMC Emenda 03/04/2014 Marcos Dá nova redação ao art. 80-


9/2014 na Rogério A do Projeto de Lei n.º
PL699813 Comissão 6.998, de 2013. Inteiro teor
=> PL
6998/2013

EMC Emenda 03/04/2014 Marcos Dá nova redação ao art. 1º


10/2014 na Rogério do Projeto de Lei n.º 6.998,
PL699813 Comissão de 2013. Inteiro teor
=> PL
6998/2013

A primeira proposta53 foi apresentada pela Deputada Jandira Feghali


(PCdoB/RJ), sugerindo a adequação da linguagem “infância” conforme o já disposto
no ECA. A proposta foi aceita em parte, no que concerne à definição de primeira
infância.

A segunda emenda54, apresentada pelo Deputado Eduardo Barbosa


(PSDB/MG) propunha a redução de prazos para a elaboração dos Planos estaduais
e municipais, buscando maior celeridade na implementação das políticas para a
Primeira Infância. Por não ser este tipo de determinação de competência de lei
ordinária, a emenda foi rejeitada.

A emenda nº 355, também apresentada pelo Deputado Eduardo Barbosa


(PSDB/MG), visava incluir as famílias que possuem criança com deficiência na
prioridade concedida pelo Estado, junto às famílias em situações precárias de
cuidado, buscando a promoção dos direitos humanos, tendo sido contemplada em

53
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Proposição íntegra. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1239126&filename=EMC+1
/2014+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
54
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Proposição íntegra. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1240728&filename=EMC+2
/2014+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
55
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Proposição íntegra. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1240730&filename=EMC
+3/2014+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
42

outro artigo do substitutivo apresentado. Como a anterior, a emeda nº 4 56 também


contemplava os direitos da criança com deficiência, alterando o artigo 6-B para inserir
esta especificidade. Pela contemplação em outro artigo do substitutivo, a emenda
também fora aprovada. A quinta emenda57, de autoria do mesmo parlamentar,
propunha a adequação do termo “criança pequena” para “criança de zero a seis anos”,
mantendo o acordo das terminologias do projeto.

Proposta pelo Deputado Marcos Rogério (PDT/RO), a sexta emenda58


exprimiu um contraponto significativo à proposta inicial, sugerindo a retirada das
expressões “promoção” e “participação”, substituindo-as por “direitos”, por entender
que não havia outra manifestação sobre esses termos no restante do projeto. A
proposta foi aprovada, por se ter considerado que o conteúdo já havia sido diluído em
outros artigos do Substitutivo.

A Emenda nº 759, de autoria do mesmo parlamentar, será comentada mais à


frente, por merecer maiores considerações.

Ainda no conjunto de propostas pelo Deputado Marcos Rogério (PDT/RO), a


Emenda nº 860 dispõe sobre a retificação da definição “interesse superior da criança”,
explicitando que a necessidade da criança independe de eventuais necessidades ou
direitos dos pais, cuidadores, professores ou quaisquer outros profissionais que
venham a atendê-la; foi rejeitada pela decisão de somente se manter a definição de
Primeira Infância. Na Emenda nº 961, a proposta foi de especificar os tipos de
publicidade voltada para o público infantil, incluindo o “apelo comercial”, tendo sido

56
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Proposição íntegra. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1240733&filename=EMC+4
/2014+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
57
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Proposição íntegra. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1240736&filename=EMC+5
/2014+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
58
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Proposição íntegra. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1241677&filename=EMC+6
/2014+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
59
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Proposição íntegra. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1241679&filename=EMC+7
/2014+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
60
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Proposição íntegra. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1241684&filename=EMC+8
/2014+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
61
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Proposição íntegra. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1241685&filename=EMC+9
/2014+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
43

aprovada ante a alteração realizada no Substitutivo. A última emenda 62 proposta


também sugere a retirada dos termos “promoção e participação” do artigo 1º da
proposta inicial, tendo sido rejeitada por falta de contemplação pelo Substitutivo.

2.1.2. Substitutivo

No decorrer das discussões externas sobre o projeto inicial, os parlamentares


entenderam a necessidade de alteração em duas estruturas principais, que resultaram
na redação do Substitutivo63: a preservação da estrutura lógica do ECA e a inserção
nesta legislação sobre os princípios da Primeira Infância.

O Estatuto da Criança e do Adolescente foi construído após anos de


discussões nacionais e internacionais, que culminaram numa série de transformações
jurídicas na América Latina. Um dos principais pontos revolucionários nesta lei foi
considerar a infância em sua integralidade, considerando, inclusive, a participação
democrática na elaboração de leis, uma vez que esta não se restringe aos
parlamentares, mas à sociedade. Sua estruturação concerne à Convenção
Internacional dos Direitos da Criança, abrangendo a integralidade das questões
relacionadas à infância, evitando-se uma perspectiva fragmentária. Por correr
justamente este risco, foi proposto um Substitutivo ao isolamento da questão da
Primeira Infância no ECA, incluindo as questões relativas à Primeira Infância na Parte
Especial da lei, como especificidade de público-alvo das políticas.

Superados esses empecilhos, a Frente Parlamentar da Primeira Infância e o


autor principal do projeto enfrentaram o dilema sobre qual a melhor forma de
apresentar a proposta: se por meio de alteração na Parte Especial do ECA ou se por
meio de lei própria. Decidiram enviar para apreciação coletiva, iniciando-se o debate
estre os parlamentares. Os favoráveis à alteração do ECA, em síntese, prezavam pela

62
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Proposição íntegra. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1241687&filename=EMC+1
0/2014+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
63
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Proposição íntegra. 2013. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1287143&filename=SBT+1
+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013. Acesso em: 01.05.2021.
44

manutenção das temáticas relativas à infância no mesmo diploma legal, evitando sua
dispersão em diversos textos e dando o devido destaque às matérias relativas à
Primeira Infância, ainda que num capítulo específico na Parte Especial do código – o
que não criaria a ruptura lógica temida. Já os que pendiam para a criação de uma lei
específica para a Primeira Infância, entendiam que a lei própria traria mais visibilidade
para a temática e facilitaria a criação de políticas próprias para esse público, ao invés
de permanecer como um “nicho” apartado no ECA.

De acordo com o apresentado pelo relator, a questão central da discussão


permanecia nas diretrizes para as políticas públicas voltadas para a Primeira Infância.
Optando pela criação de uma nova lei, o relator, Deputado João Ananias (PCdoB/CE),
entendeu ser relevante salientar mais alguns pontos. A definição etária de “Primeira
Infância” era necessária, para determinar o público a que se refere, sendo definida a
faixa etária de 0 (zero) a 6 (seis) anos ou 72 (setenta e dois) meses, por ser o
entendimento majoritário no Brasil, de acordo com a Rede Nacional Primeira Infância.
Outras definições de termos como “infância”, “criança”, “primeira infância”, “interesse
superior da criança”, “desenvolvimento infantil” e “situação precária da família”
deveriam ser retiradas, por destoar das definições baseadas na faixa etária, já
constantes no ECA. Utilizar conceituações forjadas em outras áreas de estudo, como
a psicologia, a antropologia e a cultura, acarretariam divergências futuras, por serem
definições mutáveis, passíveis de mudança pelo período cultural e histórico.

Sobre o princípio da prioridade absoluta, a sugestão do relator foi no sentido


de mantê-lo na parte específica sobre princípios para políticas públicas – local em que
serão inseridas as diretrizes sobre a Primeira Infância -, para não gerar confusão em
relação às demais faixas etárias abarcadas pelo ECA. A Convenção Internacional dos
Direitos da Criança estabeleceu a participação da criança nos processos que a
envolvem como direito. Enquanto o ECA o prevê para adolescentes em situação
específica – como nos casos de colocação em família substituta e adoção
internacional – o PL nº 6.998/2013 garante a participação de crianças na Primeira
Infância nos processos de elaboração de políticas públicas que a envolvam, com toda
a sensibilidade e adequação que a escuta deste público requer, num ambiente seguro
e propício para que a criança seja protagonista de seu processo. A fim de garantir a
forma adequada de expressão da criança, o Projeto estipulou como requisito para as
políticas públicas a qualificação de profissionais para a sua escuta.
45

O Projeto nada mais prevê do que a efetivação da participação cidadã da


criança, por assim a ser, comprometendo-se a oferecer oportunidades para que as
crianças se desenvolvam em todas as esferas, garantindo seus direitos.

Sobre o “interesse superior da criança”, também realocado no Substitutivo


para a parte que trata sobre os princípios de elaboração de políticas, planos e
programas, os parlamentares discutiram sobre o local em que este princípio seria
adequadamente aplicado, não bastando acrescentá-lo para que opere de forma
abstrata. Ressalta-se que o Projeto estipulou este tema como passível de “reflexão” e
não mais de “discussão”, por entender já existir farta literatura sobre o assunto.

Para garantir uma visão ampla da situação das políticas para a Primeira
Infância, é necessária a integração de políticas setoriais e nacional, seguindo
diretrizes e abrangendo todas as crianças em sua especificidade. Políticas meramente
verticalizadas acabam por fragmentar o atendimento infantil perdendo a eficácia do
atendimento integral e multissetorial. O Projeto de Lei ainda cita exemplos
considerados de sucesso na articulação de políticas, como o programa Brasil
Carinhoso, no âmbito nacional, os programas Mãe Coruja Pernambucana e PIM –
Primeira Infância Melhor, nos âmbitos estaduais, e o programa Primeiríssima Infância,
existente no município de São Paulo.

A valorização dos profissionais que atuam com a Primeira Infância também


constitui uma das diretrizes fundamentais para o sucesso da demanda, uma vez que
profissionais costumam ter desvalorização salarial e prestígio profissional por atuar
com este público-alvo, ao inverso do que ocorre com profissionais atuantes com
outras faixas etárias. Assim, restou a indicação para maior valorização salarial e
incentivos para a qualificação profissional, por não ser de competência desse Projeto
legislar diretamente sobre o tema.

Também foi incluso no Substitutivo a importância da família como responsável


direto no desenvolvimento da criança. Apesar da obviedade da informação e o
destaque legislativo sobre o assunto, o Projeto reforça ações de fortalecimento e apoio
familiar, para que possam exercer seu papel de proteção e educação cada vez melhor,
e o incentivo para que família atuem nas redes de proteção.
46

O princípio da prioridade absoluta também não poderia ficar de fora, já que


estipulado no artigo 227 da Constituição Federal de 1988. Por ter tido a atenção
necessária até então, o relator e os autores do Projeto entenderam ser relevante
ressaltar este princípio, em especial no que tange à participação social na elaboração
e controle das políticas públicas. Afinal, a responsabilidade pela infância é conjunta
entre Estado, família e sociedade. O primeiro passo foi dado com a ampla participação
social nas discussões sobre o Projeto, restando a continuidade na movimentação
social para compor e apoiar as redes proteção à criança, bem como a promoção da
consciência social sobre os direitos da criança.

As políticas serão elaboradas de acordo com o Plano pela Primeira Infância,


o instrumento responsável pela operacionalização da política integral e integrada pelo
Poder Executivo. Como garantia de continuidade dos planos nacionais, os
parlamentares também apresentaram uma Proposta de Emeda à Constituição para
que o conste no texto constitucional, a exemplo do plano nacional de educação e do
plano nacional de juventude, além de incentivar – ao invés de obrigar – os Estados e
municípios a comporem seus respectivos planos em consonância com o plano
nacional. A importância do direito à educação infantil desde o nascimento também foi
reforçada no Projeto, embora sem maiores especificações, devido a não ser o
instrumento adequado para regulamentar a matéria.

Não poderia ser negligenciado do Projeto a questão orçamentária. Embora


não caiba a esta ferramenta legislativa a estipulação de percentuais de verbas para
as políticas mencionadas, há a lembrança de que a prioridade absoluta também se
aplica ao orçamento da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Para
tanto, o Projeto indica um caminho para que a União e os outros entes federativos
informem à sociedade periodicamente sobre o percentual de valores destinados às
políticas para a Primeira Infância.

Considerando a importância do desenvolvimento adequado no período


gestacional e puerpério, o Projeto inovou ao incluir políticas e ações humanizadas em
atenção à gestante, à mãe e à criança no âmbito do Sistema Único de Saúde e da
rede de ensino. No âmbito da saúde, a proposta para alterar o ECA e acrescentar
ações voltadas ao atendimento mais adequado ao parto, à amamentação, ao vínculo
mãe/bebê e ao vínculo pai/bebê, garantindo um atendimento humanizado na gravidez,
47

no parto e no puerpério, no atendimento pré e perinatal; o direito de escolha pela


parturiente de seu acompanhante no parto, a alta hospitalar responsável e
contrarreferência na Atenção Básica, o acesso à incentivos e grupos de facilitação da
amamentação, o direito da gestante ser informada, durante o pré-natal, da
maternidade em que realizará o parto. A restrição de intervenções cirúrgicas e
aplicação de cesarianas aos casos de que envolvam motivos médicos graves,
complexos ou que apresentem risco a vida da gestante ou do feto/recém-nascido
também foram inseridos, além da iniciativa de busca ativa para as gestantes que não
comparecem ou não deem continuidade ao pré-natal. Também foi incluída à atenção
à saúde bucal de gestantes, mães e crianças, incluindo-se as consultas odontológicas
de caráter educativo-protetivo.

Em articulação entre saúde e educação, também foi considerada a situação


das mulheres em situação de cárcere que estejam gestante ou tenham filhos na
Primeira Infância, para que o local apresente as condições sanitárias e assistenciais
necessárias para acolhimento de ambos e a articulação com a rede de ensino de
referência do local, a fim de se garantir o desenvolvimento integral da criança64.

A formação de profissionais que atuam no cuidado e contato diário ou


frequente com a Primeira Infância também foram ampliadas para que possam detectar
qualquer sinal de risco para seu desenvolvimento, incluindo-se a prioridade de
acolhimento da criança com suspeita ou confirmação de situação de violência.
Políticas de acompanhamento familiar também foram considerados e incentivados no
Projeto, sendo essas famílias cadastradas, capacitadas e acompanhadas em suas
demandas relacionadas à Primeira Infância.

Ainda que haja o acompanhamento pelos órgãos públicos da gestante e da


mãe, a participação paterna na educação e cuidado dos filhos é primordial para um

64
No relatório “Dar à luz na sombra: Condições atuais e possibilidades futuras para o exercício da
maternidade por mulheres em situação de prisão”, divulgado em 2015, pelo Ministério da Justiça, as
pesquisadoras Ana Gabriela Braga e Bruna Angotti apontaram que raros são os estabelecimentos
prisionais que proporcionam uma estrutura adequada para a relação materno-infantil, não suprindo a
necessidade de toda essa população. Ainda, os locais que o possuem são precários, favorecendo as
violações de direitos maternos e infantis, assim como as varas criminais – que não consideram as
situações familiares das encarceradas para a concessão de medidas cautelares – e as varas da
Infância e Juventude – que desconsideram a condição de presas para as mães nos processos de
destituição de guarda e poder familiar. (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, Secretaria de Assuntos
Legislativos. Dar à luz na sombra: condições atuais e possibilidades futuras para o exercício da
maternidade por mulheres em situação de prisão. Brasília: Ipea, 2015).
48

desenvolvimento integral, estabelecendo vínculos com a criança e dando suporte à


mãe nos cuidados com o filho. Mantendo a estrutura patriarcal, os papeis de cuidado
e educação dos filhos (esfera privada) foram relegados à mulher, enquanto ao homem
cabia o papel de provedor (esfera pública). Para que este padrão seja mudado, na
visão dos parlamentares, medidas em diversos âmbitos, como o do trabalho, da
saúde, da educação, devem ser tomadas para se garantir maior convivência e
fortalecimento de vínculos entre pai e criança, sejam concomitantes aos maternos ou
alternados, como nas consultas pré-natais, no parto ou no período pós-parto, ou um
maior lapso temporal na concessão de licença paternidade. Inicialmente, para as
empresas inscritas no programa Empresa Cidadã, o Projeto estende a licença
paternidade para o período de 30 (trinta) dias, em detrimento do período inicial de 5
(cinco) dias, podendo ser prorrogada em caso de adoção ou guarda judicial para fins
de adoção.

O acompanhamento da gestante em consultas pré-natais e o


acompanhamento da criança na Primeira Infância em consultas médicas também
foram objetos de alteração, para que se garanta a ausência paterna do local de
trabalho sem desconto salarial, ocupando minimamente o âmbito de cuidados da
paternidade. Ademais, de acordo com Donald Winnicott, citado no relatório do Relator
do Projeto, “a presença do companheiro dá à mãe maior segurança e a libera de
algumas ações para ficar mais livre para seu bebê”65.

Muito foi debatido pelos parlamentares acerca da duração da licença


maternidade. Considerando os estudos apresentados no Projeto inicial – e que
também embasaram o Substitutivo -, um período extensivo de licença maternidade
contribui para a construção de vínculos mais fortes entre mãe e bebê e contribui para
um período mais longo de amamentação. Dessa forma, os parlamentares sugeriram
a extensão da licença maternidade por 12 (doze) meses, embora compreendam que
o caminho ainda é longo, sendo o primeiro passo conceder a licença por 6 (seis)
meses a todas.

65
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projeto de Lei nº 6.998, de 2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1287143&filename=SBT+1
+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 30.04.2021.
49

Como forma de prevenir o aumento dos índices de obesidade infantil, que já


se tornou um problema de saúde pública, foi discutido como estratégia o
direcionamento de publicidade a crianças. Uma parcela sugeria a vedação de
publicidade dirigida a crianças sobre alimentos e bebidas pobres em nutrientes e ricos
em açúcar, gorduras saturadas e sódio no período das 8 às 20h. Outra proposta
apresentada, na realização das audiências públicas, foi contra a vedação, sugerindo
as restrições constantes na Resolução nº 163/2014 do CONANDA, que caracteriza
como abusiva esta forma de publicidade, submetendo-a às regras do Código de
Defesa do Consumidor. A terceira via apresentada – e aceita – foi colocar na tela da
restrição as publicidades de bebidas alcoólicas e não alcoólicas e alimentos pobre em
nutrientes, que contém alto teor de açúcar, sódio ou gorduras saturadas, coibindo o
bombardeio de apelos consumistas de bebidas e alimentos comprovadamente
nocivos à saúde das crianças.

Na análise de admissibilidade financeira e orçamentária, restou claro no


Projeto de Lei que não havia espaço legislativo para determinações quantitativas
neste âmbito, apenas indicações e considerações sobre os aspectos de
responsabilidade financeira e orçamentária, observando-se a geração de despesa e
renúncia de receita. Assim, as despesas estimadas, sendo citadas a qualificação de
profissionais que atuam na Primeira Infância e a construção de espaços públicos
voltados ao lazer, ao brincar e ao desenvolvimento da criatividade, ficariam sob
responsabilidade do Poder Executivo para estipular os dados e objetivos de
orçamento e impacto financeiro.

Os gastos relativos ao acesso à saúde não trariam grande impacto à União,


tendo em vista já serem contemplados pelo Sistema Único de Saúde; ademais, as
medidas propostas não acarretarão aumento dos gastos do SUS, que já possui uma
vasta rede de atenção primária e especializada, bastando pequenos ajustes no
atendimento – que não acarretarão em novos gastos.

A extensão da licença paternidade para 30 (trinta) dias também tem indicação


para que a oneração seja mínima. Por se tratar de licença remunerada, a solução
encontrada no Projeto, para as empresas que são tributadas com base no lucro real,
seria a dedução do imposto devido no valor integral da remuneração do empregado
50

paga nesses 30 dias. Seguindo o disposto no artigo 14 da Lei de Responsabilidade,


em razão da renúncia de receitas (dedução), as condições apresentadas são:

Uma condição é que o proponente demonstre que a renúncia foi considerada


na estimativa de receita da lei orçamentária e que não afetará as metas de
resultados fiscais previstas no anexo próprio da lei de diretrizes
orçamentárias. Outra condição, alternativa, é que a proposição esteja
acompanhada de medidas de compensação, no período mencionado, por
meio do aumento de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação
de base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição, só
podendo entrar em vigor o benefício quando implementadas as medidas
referidas.

Dessa forma, os parlamentares se manifestaram pela não implicação


orçamentária e fiscal do Projeto apresentado, mas pela sua adequação e
compatibilidade do Substitutivo apresentado.

2.1.3. Emendas ao Substitutivo

Ao Substitutivo, foram apresentadas 25 Emendas, como se verifica na ficha


de tramitação66 a seguir:

Emenda Tipo de Data de Autor Ementa


Emenda Apresentação

ESB 1 Emenda ao 01/12/2014 Eduardo Dá nova redação ao


PL699813 Substitutivo Barbosa parágrafo único do Art.
=> SBT 1 16. (Substitutivo ao PL
PL699813 nº 6.998/13) Inteiro teor
=> PL
6998/2013

ESB 2 Emenda ao 03/12/2014 Duarte Modifique-se o art. 27


PL699813 Substitutivo Nogueira do Substitutivo ao

66
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_emendas?idProposicao=604836&subst=1. Acesso
em: 30.04.2021.
51

=> SBT 1 Projeto de Lei 6.998,


PL699813 de 2013, suprimindo o
=> PL parágrafo primeiro do
6998/2013 novo artigo 79-A: "Art
27. Acrescente-se à Lei
8.069, de 1990, o
seguinte artigo 79-A:
Art. 79-A. É proibido o
direcionamento de
publicidade à criança
para persuadi-la ao
consumo de qualquer
produto ou
serviço." Inteiro teor

ESB 3 Emenda ao 03/12/2014 Darcísio Modifica-se a redação


PL699813 Substitutivo Perondi constante do § 2º do
=> SBT 1 art. 14 da Lei nº 8.069,
PL699813 de 1990, constante do
=> PL art. 24 do
6998/2013 Substitutivo: Inteiro teor

ESB 4 Emenda ao 03/12/2014 Darcísio Suprima-se o § 7º do


PL699813 Substitutivo Perondi art. 8º caput da Lei
=> SBT 1 8.069, de 1990,
PL699813 constante do artigo 19
=> PL do substitutivo. Inteiro
6998/2013 teor

ESB 5 Emenda ao 03/12/2014 Darcísio A redação prevista no


PL699813 Substitutivo Perondi § 2º do art. 8º da Lei nº
=> SBT 1 8.069, de 1990, com a
PL699813 redação dada pelo art.
=> PL 19 do Substitutivo
6998/2013 passa a vigorar com a
seguinte
redação: Inteiro teor

ESB 6 Emenda ao 03/12/2014 Darcísio Acrescenta parágrafo


PL699813 Substitutivo Perondi ao art. 8º da Lei nº
=> SBT 1 8.069, de 1990,
PL699813 constante do art. 19 do
=> PL Substitutivo,: Inteiro
6998/2013 teor

ESB 7 Emenda ao 03/12/2014 Darcísio SUBSTITUTIVO


PL699813 Substitutivo Perondi OFERECIDO DO
=> SBT 1 PROJETO DE LEI Nº
PL699813 6.998, DE 2013 Inteiro
teor
52

=> PL
6998/2013

ESB 8 Emenda ao 03/12/2014 Darcísio Suprima-se o artigo 22


PL699813 Substitutivo Perondi do substitutivo Inteiro
=> SBT 1 teor
PL699813
=> PL
6998/2013

ESB 9 Emenda ao 04/12/2014 Gorete Emenda supressiva ao


PL699813 Substitutivo Pereira substitutivo do PL
=> SBT 1 6998/2013. Inteiro teor
PL699813
=> PL
6998/2013

ESB 10 Emenda ao 04/12/2014 Gorete Emenda supressiva ao


PL699813 Substitutivo Pereira substitutivo do PL
=> SBT 1 6998/2013. Inteiro teor
PL699813
=> PL
6998/2013

ESB 11 Emenda ao 04/12/2014 Gorete Emenda supressiva ao


PL699813 Substitutivo Pereira substitutivo do PL
=> SBT 1 6998/2013. Inteiro teor
PL699813
=> PL
6998/2013

ESB 12 Emenda ao 04/12/2014 Osmar Acrescenta artigos ao


PL699813 Substitutivo Terra Substitutivo
=> SBT 1 apresentado ao PL nº
PL699813 6.998/2013, de
=> PL 2013. Inteiro teor
6998/2013

ESB 13 Emenda ao 04/12/2014 Osmar Modifica a redação do


PL699813 Substitutivo Terra § 3º do Art. 14 do
=> SBT 1 Substitutivo. Inteiro teor
PL699813
=> PL
6998/2013

ESB 14 Emenda ao 04/12/2014 Osmar Insere parágrafo ao art.


PL699813 Substitutivo Terra 14 do Substitutivo e
=> SBT 1 expressão
PL699813 subsequente referida
53

=> PL ao § 3º do mesmo
6998/2013 artigo: Inteiro teor

ESB 15 Emenda ao 04/12/2014 Iara Adiciona ao


PL699813 Substitutivo Bernardi Substitutivo alteração
=> SBT 1 ao Estatuto da Criança
PL699813 e do Adolescente, art.
=> PL 87, inciso II. Inteiro teor
6998/2013

ESB 16 Emenda ao 04/12/2014 Iara Acrescenta ao


PL699813 Substitutivo Bernardi Substitutivo artigo para
=> SBT 1 alteração do art. 19 da
PL699813 Lei nº 8.069, de
=> PL 1990. Inteiro teor
6998/2013

ESB 17 Emenda ao 04/12/2014 Iara Dá nova redação ao


PL699813 Substitutivo Bernardi artigo 6º do
=> SBT 1 Substitutivo. Inteiro teor
PL699813
=> PL
6998/2013

ESB 18 Emenda ao 04/12/2014 Iara Adiciona ao


PL699813 Substitutivo Bernardi Substitutivo, alteração
=> SBT 1 ao § 1º do art. 23 da
PL699813 Lei nº 8.069, de
=> PL 1990. Inteiro teor
6998/2013

ESB 19 Emenda ao 04/12/2014 Iara Acrescenta artigo ao


PL699813 Substitutivo Bernardi Substitutivo para dar
=> SBT 1 nova redação ao inciso
PL699813 IV do caput do art. 101
=> PL do ECA. Inteiro teor
6998/2013

ESB 20 Emenda ao 04/12/2014 Iara Suprime do § 1º do art.


PL699813 Substitutivo Bernardi 14 do Substitutivo a
=> SBT 1 expressão "em
PL699813 consonância como
=> PL Plano Nacional pela
6998/2013 Primeira Infância 2010-
2022, aprovado pelo
Conselho Nacional dos
Direitos da Criança e
do Adolescente, e os
planos que o
seguirem" Inteiro teor
54

ESB 21 Emenda ao 04/12/2014 Iara Adiciona ao


PL699813 Substitutivo Bernardi Substitutivo acréscimo
=> SBT 1 ao art. 102 da Lei nº
PL699813 8.069, de 1990
=> PL (Estatuto da Criança e
6998/2013 do
Adolescente). Inteiro
teor

ESB 22 Emenda ao 04/12/2014 Iara Dá nova redação ao


PL699813 Substitutivo Bernardi art. 26 do Substitutivo,
=> SBT 1 no tocante aos
PL699813 parágrafos §3º e § 4º
=> PL do art. 34 do Estatuto
6998/2013 da Criança e do
Adolescente. Inteiro
teor

ESB 23 Emenda ao 04/12/2014 Iara Dá nova redação ao §


PL699813 Substitutivo Bernardi 2º do artigo 14º do
=> SBT 1 Substitutivo. Inteiro teor
PL699813
=> PL
6998/2013

ESB 24 Emenda ao 04/12/2014 Iara Dá nova redação ao


PL699813 Substitutivo Bernardi art. 17 do
=> SBT 1 Substitutivo. Inteiro teor
PL699813
=> PL
6998/2013

ESB 25 Emenda ao 04/12/2014 Iara Insere no inciso VI do


PL699813 Substitutivo Bernardi art. 4º do Substitutivo a
=> SBT 1 expressão: "a
PL699813 sociedade, por meio de
=> PL suas organizações
6998/2013 representativas". Inteiro
teor

A primeira67, apresentada pelo Deputado Eduardo Barbosa (PSDB/MG),


propõe o acréscimo do termo “com deficiência”, no parágrafo único do artigo 16 do
Substitutivo, aperfeiçoando o texto de forma inclusiva, razão pela qual foi aprovada a

67
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em:
<https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1290050&filename=ESB+
1+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
55

emenda. A Emenda nº 268, de autoria do Deputado Duarte Nogueira (PSDB/SP),


versou em relação à publicidade voltada para o público infantil de alimento prejudiciais
à sua saúde, sendo rejeitada, por entender o relator que a menção aos tipos de
alimentos tem caráter elucidativo.

Iniciando uma série de Emendas, o Deputado Darcísio Perondi (PMDB/RS)


apresentou a Emenda nº 369 dispõe sobre a saúde bucal de gestantes e crianças,
focando na abrangência e atendimento das linhas cuidado, ao invés de estipular a
quantidade de consultas voltadas a este público, tendo sido aceita. A Emenda nº 4 70
propunha a supressão do §7º do artigo 8º do ECA, por repetição do disposto. Em
relação à Emenda nº 571, o objetivo era vincular o direito de saber em qual
maternidade a gestante realizará seu parto com o período para esta notícia e
vinculação, fixando-se o terceiro trimestre, salvos os casos em que a risco de
antecipação de parto. A Emenda nº 672 estipula as orientações que deverão ser
repassadas para a gestante sobre aleitamento materno, alimentação saudável e
desenvolvimento infantil. Já a Emenda nº 773 propõe a supressão do artigo 27 do
Substitutivo, em relação à proibição de publicidade voltada às crianças, justificando
que a polêmica acerca do tema não caberia no PL 6.998/2013, mas em discussão
separada sobre o tema. Por fim, a Emenda nº 874 propõe, apenas, readequação dos
artigos constantes no Substitutivo, em razão das mudanças sofridas.

68
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1290533&filename=ESB+2
+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
69
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1290893&filename=ESB+3
+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
70
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1290895&filename=ESB+4
+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
71
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1290896&filename=ESB+5
+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
72
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1290897&filename=ESB+6
+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
73
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1290898&filename=ESB+7
+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
74
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1290899&filename=ESB+8
+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
56

A Deputada Gorete Pereira (PL/CE) propôs as três Emendas seguintes: 9, 10


e 11, todas dispondo sobre as alterações referentes à matéria trabalhista. Na Emenda
nº 975, propôs a supressão da parte que trata sobre o abono de faltas do pai, por
acompanhamento médico à gestante ou ao filho, por, no entendimento da deputada,
já ser contemplado na legislação trabalhista. A Emenda nº 1076 propõe a supressão
do constante à possibilidade de extensão da licença paternidade em 30 (trinta) dias,
entendendo a deputada que não esta medida traria ônus à empresa, ante a já
existente possibilidade de extensão da licença maternidade. Em sentido similar, a
Emenda nº 1177 dispõe sobre as salas de apoio à amamentação nas empresas, por
entender que a licença maternidade atual já contemplaria o período de amamentação
exclusiva do bebê; ademais, a amamentação seria uma forma opcional de
alimentação do bebê pela mãe, além da possibilidade de cumulação da licença
maternidade com as férias da trabalhadora, justificando a supressão do artigo
referente.

Em contrapartida, o Deputado Osmar Terra (PMDB/RS), autor original do


Projeto, propôs, na Emenda nº 1278, a possibilidade de extensão da licença
maternidade por mais 240 (duzentos e quarenta) dias, permitindo à trabalhadora
permanecer com seu bebê durante o primeiro ano de vida, primordial para o
fortalecimento de vínculos e manutenção da saúde física e psíquica da criança.
Seguindo a série de Emendas propostas pelo mesmo deputado, a Emenda nº 13 79
dispõe sobre as orientações e formações concernentes à família e à gestante,

75
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1291074&filename=ESB+9
+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
76
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1291077&filename=ESB+1
0+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
77
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1291079&filename=ESB+1
1+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
78
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1291231&filename=ESB+1
2+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
79
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1291232&filename=ESB+1
3+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
57

enquanto a Emenda nº 1480 especifica o instrumento das visitas domiciliares como


estratégia respaldadas pelas políticas sociais e realizadas por uma equipe profissional

Responsável pelas onze Emendas finais, a Deputada Iara Bernardi (PT/SP)


propôs, nas Emendas nº 1581 e 1682, a readequação de termos, de acordo com o
Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC). Já a Emenda nº 1783
apresenta a possibilidade de criação de comitês intersetoriais de políticas públicas e
a Política Nacional Integrada para a Primeira Infância. As Emendas nº 18 84, 1985 e
2086 também tratam da adequação de determinados termos, de acordo com a PNCFC,
assim como a Emenda nº 2187 dispõe sobre a adequação de termos que limitariam a
adequada atuação de agentes atuantes no fortalecimento familiar.

A Emenda nº 21 indica a necessidade da gratuidade de registros e certidões


para inclusão do nome do pai e nas averbações decorrentes do reconhecimento de
paternidade. Também concernente à família, a Emenda nº 2288 aborda o acolhimento
familiar, enquanto a Emenda nº 2389 sugere mudanças de termos referentes à

80
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1291234&filename=ESB+1
4+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
81
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1291236&filename=ESB+1
5+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
82
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1291237&filename=ESB+1
6+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
83
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1291238&filename=ESB+1
7+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
84
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1291240&filename=ESB+1
8+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
85
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1291241&filename=ESB+1
9+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
86
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1291245&filename=ESB+2
0+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
87
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1291246&filename=ESB+2
1+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
88
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1291247&filename=ESB+2
2+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
89
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1291248&filename=ESB+2
3+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
58

assistência social no sistema de proteção à criança. A Emenda nº 2490 trata sobre a


organização de espaços lúdicos, públicos e privados, que tenham circulação de
crianças. Por fim, a última Emenda91 apresentada dispõe sobre a participação popular
na implementação de políticas públicas para a Primeira Infância.

As Emendas nº 1, 3 a 6, 8 e 12 a 25 foram aprovadas. Além das Emendas, o


Poder Executivo também enviou um relatório, elaborado com o auxílio de especialistas
na área da Primeira Infância, com sugestões de acréscimos e alterações no texto do
Substitutivo, tendo sido parcialmente acatado pela Relatoria. Então, foi apresentado o
2º Substitutivo92, com as alterações sugeridas e acatadas. Houve novo debate entre
os membros da Comissão Especial, havendo ainda alterações a serem realizadas,
tanto de cunho terminológico, quanto de cunho gramatical.

Em seguida, o relator apresentou seu parecer reformulado93, com quatro


destaques, apresentados por diferentes bancadas:

1 – Destaque nº 2, da Bancada do Bloco PR, PTdoB, PRP- Destaque da


Emenda nº 11 (rejeitada em meu parecer), com o objetivo de suprimir o § 2º
do artigo 20 do Substitutivo;

2 – Destaque nº 1, da Bancada do PMDB - para votação em separado do


artigo 29 do substitutivo, com o objetivo de suprimi-lo.

3 – Destaque nº 3, da Bancada do Bloco PR, PTdoB, PRP- para votação em separado


do art 40, com o objetivo de suprimi-lo.
4 – Destaque nº 6, da Bancada PDT – para votação em separado do § 6º do art 45,
com o objetivo de suprimi-lo.

Dos destaques acima, todos foram aprovados, exceto o nº 3, relativo ao


pedido de supressão do artigo que sugere a alteração da Lei nº 11.770/2008, referente
às possibilidades de extensão das licenças maternidade (sessenta dias) e paternidade

90
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1291249&filename=ESB+2
4+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
91
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1291250&filename=ESB+2
5+PL699813+%3D%3E+SBT+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
92
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1294237&filename=SBT-
A+1+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021
93
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1294229&filename=PRR+2
+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
59

(quinze dias) para as empresas cadastradas no Programa Empresa Cidadã. Assim


sendo, as Emendas aprovadas ao 2º Substitutivo foram as de nº 1, 3, 4, 5, 6, 8 e 11 a
25, tendo sido elaborada a versão final do Projeto de Lei nº 6.998/2013 que se
transformou na Lei Ordinária nº 13257/2016.

Aprovado o Projeto, nos termos do último Substitutivo, também foi sugerido


pelos parlamentares – por não corresponder à competência do Projeto – a realização
de estudos, pelo Poder Executivo, sobre a possibilidade de extensão da licença
maternidade para doze meses, em razão da importância do aleitamento materno e do
fortalecimento do vínculo entre mãe e bebê.

O Projeto de Lei nº 6.998/2013, de forma geral, traz diversas inovações


legislativas e debates que mereciam, individualmente, seu próprio espaço. Entretanto,
dois pontos, em especial, são relevantes para o desenvolvimento deste trabalho.

Um dos pontos de grande divergência no decorrer das discussões do Projeto


– e que persistem até os dias atuais - é relativo à extensão da licença paternidade. O
Projeto inicial estipulava a licença de seis meses para os pais, considerando-se as
experiências internacionais e os estudos condizentes ao melhor desenvolvimento da
criança ante a presença paterna no primeiro ano de vida, além de considerar uma das
formas de promoção da igualdade entre homens e mulheres e uma ruptura na
sociedade patriarcal. No Substitutivo, a proposta fora alterada para a extensão de 5
(cinco) para 30 (trinta) dias de licença. Entretanto, após o segundo conjunto de
Emendas e o relatório apresentado pelo Poder Executivo, a solução proposta pela
Relatoria foi de uma extensão de mais 15 (quinze) dias para os pais que optarem por
ela, além da oferta de cursos, palestras ou grupos sobre paternidade responsável 94.

Outro ponto de discussão – proposto na Emenda nº 7 do Projeto inicial - foram


as definições de termos utilizados tanto no projeto de lei apresentado, quanto no
Estatuto da Criança e do Adolescente. Termos como “primeira infância”, “gênero” e
“criança com deficiência” foram discutidos para se buscar maior – ou menor –
representatividade ao público-alvo. No que concerne ao primeiro termo, as discussões
se estenderam sobre o período a ser considerado: se na concepção aos 6 (seis) anos

94
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Emendas Apresentadas – PL 6998/2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1294229&filename=PRR+2
+PL699813+%3D%3E+PL+6998/2013>. Acesso em: 01.05.2021.
60

de idade ou se de 0 (zero) a 6 (seis) anos de idade. Prevaleceu a segunda


conceituação, ainda que o projeto de lei – e a lei ordinária que o sucedeu – aborde
diretrizes e políticas relacionadas à gestante e à saúde pré-natal. A terceira se
preocupa em não excluir as crianças com deficiência das especificidades do projeto,
garantindo suas necessidades também sejam contempladas ao se tratar de prioridade
absoluta.

No que concerne ao segundo termo, nota-se a decisão pelos parlamentares


em não o abordar – tema que também é objeto de vasta literatura ao longo dos anos
-, desconsiderando-se a importância do recorte de gênero na elaboração de políticas
públicas. Importante considerar a Resolução nº 180/2016 do CONANDA (Conselho
Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), que trata especificamente sobre
a igualdade de direitos entre meninos e meninas; impossível se falar em igualdade
sem abordar o tema gênero.

2.2. Primeira infância e gênero: por que não combinariam?

As discussões de gênero têm reclamado, cada vez mais, seu lugar na História.
Joan Scott inicia seu texto “Gênero: uma categoria útil de análise histórica” citando a
seguinte definição de gênero95 constante num dicionário:

"Gênero (gender), s., apenas um termo gramatical. Seu uso para falar de
pessoas ou criaturas do gênero masculino ou feminino, com o significado de
sexo masculino ou feminino, constitui uma brincadeira (permissível ou não,
dependendo do contexto) ou um equívoco " (Fowler, Dictionnary of Modem
English Usage, Oxford 1940).

Partindo-se do conceito de políticas públicas como ação governamental, que


busca realizar objetivos determinados96 e que se apresentam como forma de
concretização dos direitos humanos e dos direitos sociais97, entende-se que esta
concretização não será possível se os direitos a que se referem não estiverem

95
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. In: Educação e Realidade, n. 20, v. 2,
Jul - dec 1995. p. 71.
96
BUCCI, Maria Paula Dallari. O conceito de política pública em direito. In: Direito administrativo e
políticas públicas. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 11.
97
Ibidem, p. 3.
61

plenamente contemplados. Todos os marcadores sociais devem ser considerados


para se atingir a plenitude da política a ser elaborada. Nas discussões do PL
6.998/2013, um marcador foi desprezado.
De fato, quando levantada a questão de gênero nas emendas apresentadas
– para incluí-la como uma das formas de discriminação contra a criança e o
adolescente -, o Deputado Marcos Rogério (PDT/RO) propôs a retirada da palavra
“gênero” sob os seguintes argumentos98:

O objetivo da emenda é excluir a palavra gênero, pois o conteúdo desta


palavra já está contemplado na palavra sexo, não havendo necessidade de
incluir “sexo e gênero”, já que qualquer discriminação quanto ao sexo implica
discriminação quanto ao gênero.

Em análise da referida proposta de emenda, os parlamentares entenderam


que adotar o recorte de gênero significava “retomar essa polêmica”, conforme
entendimento na íntegra99:

Emenda nº 7: propõe excluir do art. 6-B a palavra “gênero”. sob o argumento


de que ela estaria incluída na palavra “sexo” e de que a Constituição Federal,
em seu art. 3º, IV fixa o objetivo de “promover o bem de todos, sem
preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação”, sem a palavra “gênero”. Multiplicam-se os estudos sobre a
problemática de sexo e gênero em várias ciências sociais, entre as quais a
psicologia, a psicanálise, a sociologia, a medicina e também no âmbito das
políticas públicas. Porém, está longe de haver consenso. Recentemente, esta
Casa protagonizou um debate acirrado sobre essa questão no Projeto de Lei
nº 8.035/2010, que tratava do Plano Nacional de Educação. Depois de
confrontos de posições antagônicas sobre manter ou retirar as expressões
“gênero”, “identidade de gênero”, “orientação de gênero” do texto da lei e de
estratégias do PNE, o Congresso Nacional aprovou a Lei nº 13.005, de 25 de
junho de 2014, com o anexo Plano Nacional de Educação, sem essas
expressões. O presente Projeto de Lei não é o lugar nem lhe cabe a hora de
retomar essa polêmica. Por isso, o art. 18 do Substitutivo mantém coerência
com essa recente decisão do Poder Legislativo. A Emenda é aprovada.

De acordo com a justificativa apresentada pelos parlamentares, entendemos


que o uso desta palavra no PL nº 6.998/2013 se encaixa na segunda categoria citada
por Scott. Os autores do projeto apresentaram confusão em relação à dois conceitos
distintos: “gênero” e “sexo” como similares e um conceito simplista do (erroneamente)

98
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projeto de Lei nº 6.998, de 2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_autores?idProposicao=604836>. Acesso em:
01.05.2021.
99
Idem.
62

conhecido termo “ideologia de gênero”. Tanta foi a determinação da bancada


responsável pela elaboração do projeto que, na lei que dele decorreu - Lei nº
13.257/2016 –, não consta sequer uma vez a palavra “gênero”.
O termo “gênero” não se resume a uma só categoria de análise, mas trata de
uma construção social do masculino e do feminino. Abordado e definido por diversas
teóricas feministas ao longo do tempo, de acordo com Scott100, o termo aparenta ter
surgido entre as feministas americanas, na década de 1970, como forma de dissociar
o caráter social do determinismo biológico que o termo “sexo” apresenta. De acordo
com esta teórica, “gênero” está diretamente ligado com as relações de poder.
Saffioti101 ressalta que “gênero” não diz respeito apenas a uma categoria
social, mas também histórica, sendo que cada autora feminista enfatiza aspectos
diferentes de gênero, ainda que haja o consenso da construção social.
Embora trate das concepções de feminino e masculino, o conceito de “gênero”
não estipula as desigualdades entre ambos. A esfera hierárquica seria estipulada pelo
“patriarcado” – termo originalmente estipulado por Max Weber, que sofreu alterações
entre as autoras feministas a partir da década de 1970. Sobre o assunto, importante
a ressalva feita por Saffioti102:

Todas as feministas que diagnosticaram a dominação patriarcal nas


sociedades contemporâneas sabiam, não que os conceitos genéticos de
Weber são intransferíveis, mas que já não se tratava de comunidades nas
quais o poder político estivesse organizado independentemente do Estado.

Este é um termo em constante evolução, vez que existente desde o passado


remoto, não abrangendo apenas a família, mas a estrutura social como um todo. A
fonte do patriarcado reside nas desigualdades entre homem e mulher. Scott 103
ressalta que o principal campo de análise das estudiosas do patriarcado tem sido a
subordinação feminina e a “necessidade” masculina de dominar as mulheres,
relacionadas ao desejo dos homens em primar pela paternidade – a continuidade
geracional -, desprezando o esforço feminino de gestar e dar à luz. A libertação

100
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. In: Educação e Realidade, n. 20, v.
2, Jul - dec 1995, p. 72.
101
SAFFIOTI, Heleieth I. B. Gênero, patriarcado e violência. Editora Perseu Abramo, 2004, pp. 44-45.
102
Idem, p. 100.
103
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. In: Educação e Realidade, n. 20, v.
2, Jul - dec 1995, p. 77.
63

feminina viria na compreensão sobre o processo de reprodução, desmistificando a


idealização masculina do trabalho reprodutivo.
Saffioti104, analisando os estudos de Weber, entende que nem sequer é
necessária a figura física do patriarca para que a estrutura patriarcal permaneça em
atividade, pois a reprodução da estrutura também ocorre por mulheres, criadas neste
sistema desde sua infância. Ainda que contribuindo para manutenção deste status
quo, as mulheres acabam ocupando o papel de “dominadas”, permanecendo o elo
mais frágil nas relações de dominação familiares e também sociais. Isso ocorre em
razão da criação dentro da ordem patriarcal, tanto de homens quanto de mulheres,
sendo esta a ideologia dominante105.
Uma das formas de se perpetuar a dominação patriarcal é a manutenção dos
estereótipos de gênero. Desde a mais tenra infância, meninos e meninas são
inundados de histórias e mais histórias sobre princesas indefesas, príncipes viris e
madrastas malvadas, mais conhecidos como “contos de fadas”. Em recente trabalho,
Martha Saad106 ilustra a preservação dos estereótipos de gênero por meio das
histórias infantis:

Nas versões modificadas pelos estúdios Walt Disney, os relatos dos contos
originais foram adoçados, mas os estereótipos sobressaltam: meninas são
princesas lindas, brancas, ricas, magras e geralmente loiras, mães morrem
cedo ou abandonam seus filhos, pais não sabem criar filhos sozinhos e logo
de casam, madrastas são morenas e más, meio-irmãos são cruéis, princesas
sempre são salvas por príncipes ricos, brancos, fortes, e o bem sempre vence
o mal sem grande esforço, pois basta ser bonita e esperar o príncipe
encantado.

Há quem defenda que o patriarcado se restringiria somente à esfera privada


– se restringindo apenas no âmbito doméstico/familiar -, não tendo sua relevância na
esfera pública. Sobre o assunto, Saffioti107 alerta:

Do mesmo modo como as relações patriarcais, suas hierarquias, sua


estrutura de poder contaminam toda a sociedade, o direito patriarcal perpassa
não apenas a sociedade civil, mas impregna também o Estado. Ainda que

104
SAFFIOTI, Heleieth I. B. Ontogênese e filogênese do gênero: ordem patriarcal de gênero e a
violência masculina contra mulheres. Série Estudos e Ensaios – Ciências Sociais. FLACSO-Brasil,
jun./2009, p. 6.
105
SAFFIOTI, Heleieth I. B. Gênero, patriarcado e violência. Editora Perseu Abramo, 2004, pp. 34-35.
106
SAAD, Martha Solange Scherer. Proteção à criança e ao adolescente e seus reflexos nas relações
paterno-filiais. In: Estudos sobre a violência contra a criança e do adolescente. (Org.) PIRES, Antonio
Cecílio Moreira [et al.]. São Paulo: Libro, 2016, pp. 230-231.
107
SAFFIOTI, Heleieth I. B. Gênero, patriarcado e violência. Editora Perseu Abramo, 2004, p. 54.
64

não se possa negar o predomínio e atividades privadas ou íntimas na esfera


da família e a prevalência de atividades públicas no espaço do trabalho, do
estado, do lazer coletivo, e, portanto, as diferenças entre o público e o
privado, estão estes espaços profundamente ligados e parcialmente
mesclados. Para fins analíticos, trata-se de esferas distintas; são, contudo,
inseparáveis para a compreensão do todo social.

Em que pese os argumentos contrários, a estrutura patriarcal prevalece não


só na vida doméstica, mas também na vida pública feminina, interferindo nas relações
sociais e estatais.
Ainda, haviam as teóricas que acreditavam não ser possível dissociar o
feminismo da sexualidade, como Catherine MacKinnon108, afirmando que a
objetificação sexual é o processo primário de sujeição das mulheres. Assim, ao
compartilhar suas experiências de objetificação, as mulheres são levadas à
compreensão de sua identidade comum e são conduzidas à ação política. Logo, a
vida privada e a vida pública se interligam.
Ao optarem somente pela abordagem de sexo, considerando-se uma
concepção generalista sobre o termo os legisladores deixaram de considerar os
impactos que os papeis sociais – ou a forma como cada sujeito se enxerga no meio
social – têm na Primeira Infância.
Em relação à “ideologia de gênero”, Scott109 resgata as análises das teóricas
feministas marxistas norte americanas, que analisaram a questão da “política sexual”
e a “estruturação psíquica da identidade de gênero”, como a necessidade de se
estudar e compreender os vínculos entre a sociedade e a formação da estrutura
psíquica persistente. Ainda que apresentem alguns contrastes em relação às
marxistas americanas, as feministas inglesas buscaram na psicanálise os argumentos
para entender a estrutura psíquica da teoria de gênero.
Simone de Beauvoir110 já afirmava que não é o corpo-objeto descrito pelos
cientistas que existe concretamente e sim o corpo vivido pelo sujeito. A fêmea é uma
mulher na medida em que se sente como tal.
Em uma de suas obras recentes, Carol Gilligan111 relembra a identificação de
um problema de metodologia de análise e teoria psicológica levantado em sua obra

108
SAFFIOTI, Heleieth I. B. Gênero, patriarcado e violência. Editora Perseu Abramo, 2004, p. 77.
109
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. In: Educação e Realidade, n. 20, v.
2, Jul - dec 1995, p. 79.
110
BEAUVOIR, S. O segundo sexo: fatos e mitos. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1980, p. 59.
111
GILLIGAN, Carol. Joining the resistance. Polity Press, 2011, p. 15.
65

escrita na década de 1980: a cultura de somente utilizar meninos e homens para os


estudos sobre comportamento humano, pois se considerava que somente o homem
teria uma vida e comportamento interessante; o homem era “a medida da
humanidade”.
A autora define cultura como uma forma de ver e falar que nunca precisou ser
articulada, ela simplesmente existe. Daí, então, a cultura ficar explícita no que não foi
dito, no silenciamento, portanto.
A estrutura patriarcal separa homens de mulheres, filhos de filhas, elevando
os homens, logo, define o que seriam características masculinas e as femininas,
criando uma divisão na psique humana. Os estudos de teorias psicanalíticas sobre o
assunto se baseiam em duas escolas de análise da formação da identidade do sujeito:
a seguida por Carol Gilligan, baseada nas teorias de Nancy Chorodow, que analisa o
desenvolvimento moral e o comportamento – teoria de relação do objeto -, e a escola
francesa, baseada nas leituras estruturalistas e pós-estruturalistas de Freud nas
teorias de linguagem utilizadas por Lacan. Ambas as escolas focam nos primeiros
anos de vida da criança – a Primeira Infância -, por ser um período primordial de
formação de identidade.
O primeiro grupo se preocupa em estudar a criança com o que se relaciona
em seu meio, a experiência concreta, enquanto o segundo grupo se ocupa com a
linguagem da comunicação. Ressalta-se que, para Lacan, o inconsciente é decisivo
na construção do sujeito, por ser o local de instabilidade da divisão sexual.
Joan Scott112, entretanto, critica a teoria de relação do objeto, por considerá-
la limitada ao ambiente doméstico/familiar. Para a autora, o entendimento da divisão
sexual não se limitaria a esse ambiente e a essas experiências pessoais, extrapolando
os limites do privado e atingindo crianças de fora do meio bigênero. A razão está na
forma como as sociedades representam o gênero, articulando as regras das relações
sociais.
Em seu trabalho, intitulado Joining the resistance, analisando o
comportamento de adolescentes, Carol Gilligan 113 identifica como, com o
amadurecimento e o início de sua identificação com as mulheres adultas, as meninas
passam a expressar menos suas opiniões, absorvendo o conceito do silenciamento

112
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. In: Educação e Realidade, n. 20, v.
2, Jul - dec 1995, p. 82.
113
GILLIGAN, Carol. Joining the resistance. Polity Press, 2011, p. 159-160.
66

feminino, abarcando a estipulada conduta feminina: mulheres calam sua voz, suas
opiniões sinceras, para prezar pelos relacionamentos.
Observa-se como as relações sociais são estruturadas desde a Primeira
Infância, moldando os pilares da cultura e a manutenção do status quo.
Apesar do reconhecimento sobre a importância de políticas voltadas para a
Primeira Infância como forma de investimento estatal, considerando-se as
particularidades de cada grupo, os parlamentares não consideraram pertinente
considerar o marcador de gênero em sua receita de sucesso.
Mais interessante é a constatação pelos parlamentares brasileiros que a
Primeira Infância é um momento de construção “das bases da personalidade
humana”114, mas não consideraram pertinente a elaboração de políticas e ações que
reconheçam e trabalhem com os conceitos de gênero que contribuirão para a
formação da identidade da criança. Não obstante, ainda consideram que o projeto
contempla a integralidade dos direitos das crianças, considerando a diversidade das
infâncias brasileiras115. Como falar que todos os direitos foram contemplados, se o
direito à identidade não foi garantido? Por que não reconhecer as peculiaridades que
meninas enfrentam, que podem gerar privação de seus direitos no futuro? Deixar de
abordar as questões de gênero na Primeira Infância significa garantir um acesso
desigual e assimétrico aos direitos pelas crianças; nos dizeres de Emílio Garcia
Mendez116, “nenhum direito reflete melhor a realidade do que os direitos especiais que
partem, paradoxalmente, do reconhecimento da impossibilidade de universalizar, na
prática, políticas sociais básicas (saúde e educação para todos)”.
O acesso a direitos como a educação, o combate ao trabalho infantil, acesso
à alimentação saudável e proteção à violência e negligência são alguns dos que
sofrem direta influência pela escolha de não abordar questões de gênero desde a
Primeira Infância.
Numa pesquisa realizada em 2013, as autoras Zuleica Pretto e Mara C. de S.
Lago identificaram as discussões sobre gênero e infância nas revistas feministas
brasileiras, tendo a publicado na Revista Ártemis. Em sua pesquisa, as autoras

114
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projeto de Lei nº 6.998, de 2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_autores?idProposicao=604836>. Acesso em:
05.05.2021.
115
Idem.
116
MENDEZ, Emílio Garcia. Infância, lei e democracia: uma questão de justiça. In: Revista Brasileira
Adolescência e Conflitualidade, n. 8, 2013. p. 8.
67

identificaram que tem sido negada à infância a oportunidade de exercer sua cidadania
epistemológica117, como o foi por muito tempo para as mulheres, para que saia do
local de objeto passivo, de incapacidade. O debate sobre a intersecção gênero e
geração é recente, pois infância e juventude tem ficado longe das pautas dos
movimentos, por serem consideradas “sem sexo e gênero”118, mostrando uma postura
adultocêntrica também no feminismo.
Examinando o trabalho de Ana Lucia Faria, as autoras destacaram que a
primeira infância foi o primeiro recorte geracional a surgir nos estudos feministas a
partir da década de 1970, em especial devido à conquista do direito à creche. Isso
permitiu um novo olhar sobre a infância, sobre os locais que ela ocupada na esfera
pública.
Já ao analisarem o trabalho de Luzinete Minella, que investigava os estudos
feministas sobre infância na década de 1990, observaram as desigualdades e
hierarquias de gênero que sobrepunham os meninos às meninas, gerando
invisibilidade nos papeis sociais desenvolvidos. Dos artigos analisados, poucos
abordaram a questão da infância, sendo sua maioria focada na questão da educação.
Ao final de sua pesquisa, Pretto e Lago apontam a escassez de trabalhos que
focam infância e as relações de gênero, com uma tendência adultocêntrica nos
estudos de gênero. Ademais, a interdisciplinaridade e a interseccionalidade são as
principais chaves para descolonizar a infância, ou seja, ter como abordagem
metodológica o protagonismo infantil, que não trate a criança como mero objeto de
estudo, mas como agentes na construção das relações de gênero119.
Ao se falar de “direitos das meninas”, cumpre uma observação: as políticas
públicas costumam abordar o marcador “mulheres” e o marcador “criança e
adolescente”, mas não há a intersecção entre ambos. As políticas voltadas para
mulheres possuem um caráter adultocêntrico120, enquanto aquelas voltadas para o
público infanto-juvenil não adota um recorte de gênero. Ressalta-se que não se trata

117
PRETTO, Zuleica; LAGO, Mara C. de S. Reflexões sobre infância e gênero a partir de publicações
em revistas feministas brasileiras. In: Revista Ártemis, v. XV, n. 1, jan-jul 2013, p. 57.
118
Idem, p. 58.
119
PRETTO, Zuleica; LAGO, Mara C. de S. Reflexões sobre infância e gênero a partir de publicações
em revistas feministas brasileiras. In: Revista Ártemis, v. XV, n. 1, jan-jul 2013, p.p. 67-68.
120
PLAN INTERNATIONAL BRASIL. As meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
2017. Disponível em: < https://plan.org.br/as-meninas-e-os-objetivos-de-desenvolvimento-
sustentavel/>. Acesso em: 10.05.2021.
68

da inexistência de dados com o respectivo recorte, mas de políticas efetivas que o


considerem.
Por exemplo, um ponto de grande discussão entre os parlamentares no PL
6.998/2013 foi em relação à extensão da licença paternidade – atualmente, de 5
(cinco) dias, em geral, e a concessão de mais 15 (quinze) dias para as empresas que
aderirem ao Programa Empresa Cidadã - como forma de proporcionar maior
igualdade entre os “sexos” e, consequentemente, auxiliar a romper as estruturas
patriarcais na sociedade brasileira. Ademais, foram citados exemplos internacionais
de sucesso nesta forma de investimento na Primeira Infância, com os benefícios que
a figura paterna atuante traz para a mãe e a criança.
O Projeto, inicialmente, sugeriu a extensão para 6 (seis meses), equiparando-
se à licença maternidade. Após a primeira leva de discussões, considerando-se a
preocupação de maior oneração para as empresas ou para o Estado, foi proposta a
alteração deste período para 30 (trinta) dias. Por fim, o relatório final – e a lei
promulgada - acabou por conceder a prorrogação de 15 (quinze) dias de licença
paternidade para os funcionários das empresas que integrem o Programa Empresa
Cidadã, totalizando 20 (vinte) dias de licença.
Apesar deste ter sido o entendimento legislativo em 2016, as discussões
sobre o tema deverão ser retomadas no Congresso Nacional com a proposição, em
26/05/2021, do Projeto de Lei nº 1974/2021121, nomeado de Estatuto da
Parentalidade, de autoria da Deputada Sâmia Bonfim (PSOL/SP) e do Deputado
Glauber Braga (PSOL/RJ). O Projeto apresentado almeja, dentre outros tópicos,
instituir a Parentalidade na legislação brasileira, bem como a concessão da licença
parentalidade de 180 (cento e oitenta) dias para dois adultos de referência nos
cuidados da criança recém-nascida ou adotada.
Esta nova definição de parentalidade se sobrepõe aos conceitos tradicionais
de maternidade e paternidade, ao considerar, de forma similar, os papeis socialmente
atribuídos à mãe e ao pai. Considerando-se as ideias iniciais do PL 6.998/2013 sobre
a importância de quebra de paradigmas e a atuação paterna na Primeira Infância, o
Estatuto da Parentalidade seria uma importante medida de igualdade de gênero.

121
Este Projeto justifica sua proposição com base nos direitos da mulher e na divisão sexual do trabalho.
Apesar da boa intenção dos deputados propositores, em momento algum a Primeira Infância é
mencionada, exemplificando o viés adultocêntrico.
69

Não basta a mera criação de leis que tratem sobre igualdade e protagonismo
infantil, se as políticas públicas perpetuam o viés adultocêntrico e patriarcal. A grande
divergência temporal entre a licença maternidade e a paternidade são exemplos da
não concretização de direitos. Por esses motivos, o investimento em políticas sociais
na Primeira Infância é a verdadeira ação de sucesso para o Estado.
70

3. AS MENINAS E OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:


UM OLHAR SOBRE OS DIREITOS DAS MENINAS

O público infanto-juvenil apresenta prioridade na concretização de seus


direitos sociais. Maria Paula Dallari Bucci122 afirma que “os direitos sociais
representam uma mudança de paradigma no fenômeno do direito, a modificar a
postura abstencionista do Estado para o enfoque prestacional”. Em outras palavras,
são as políticas públicas as responsáveis por concretizar os direitos e garantias
expostos no texto de lei, ou seja, a manifestação da vontade do Estado.
O Atlas da Violência de 2020123 reforça a possibilidade de mudanças nas vidas
de crianças e adolescentes brasileiros, que encontra seu desafio na concretização de
políticas públicas para este público:

Sem dúvida, o ECA é uma legislação com capacidade de fazer uma


verdadeira mudança na qualidade de vida de todas as crianças e
adolescentes brasileiros. Mas, considerando-se sua natureza transversal, os
avanços não ocorrerão sem que, em todas as áreas de políticas públicas –
saúde, educação, trabalho, formação profissional, tecnologia, segurança
pública e defesa de direitos –, sejam levados em consideração seus
princípios e medidas no momento em que tais políticas estiverem sendo
elaboradas, implementadas e avaliadas.

A pesquisa realizada pela organização não-governamental Plan International,


nomeada “As meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),
publicada em 2017, analisa os 17 (dezessete) objetivos, um a um, sob a perspectiva
dos direitos das meninas. Os dados coletados demonstram que o Brasil ainda tem um
grande caminho a percorrer para atingir as metas até 2030.
Pensando em formas de se buscar a igualdade, o foco serão alguns objetivos
específicos que mais se relacionam com idade e gênero, considerando-se a primeira
infância.
Por ocasião da virada do milênio, num período pós-Guerra Fria, a
Organização das Nações Unidas instituiu, no ano 2000, a Cúpula do Milênio, em que
189 países se reuniram para debater as problemáticas que assolariam o novo milênio.
Como um de seus desdobramentos, na Assembleia Geral do ano seguinte, foram

122
BUCCI, Maria Paula Dallari. O conceito de política pública em direito. In: Direito administrativo e
políticas públicas. São Paulo: Saraiva, 2002, p.p. 2-3.
123
CERQUEIRA, Daniel; BUENO, Samira (coord.). Atlas da Violência de 2020. Brasil: Ipea, 2020, p. 31.
71

aprovados os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)124, com previsão de


execução até 2015, sendo:

1) Erradicar a extrema pobreza e a fome


2) Universalizar a educação primária
3) Promover a igualdade entre os sexos e empoderar as mulheres
4) Reduzir a mortalidade de crianças
5) Melhorar a saúde materna
6) Combater o HIV/AIDS, malária e outras doenças
7) Garantir a sustentabilidade ambiental
8) Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento125

De forma geral, os ODM contribuíram para que países em desenvolvimento


estabelecessem estratégias para atingi-los, ensejando, assim, a produção estatística
nesses países – alguns só passaram a tê-la após o estabelecimento das ODM -, com
maiores e melhores indicadores, para melhor monitoramento dos projetos de
desenvolvimento.
Em 2012, ocorreu a Conferência Rio+20, estabelecendo metas pós-2015 e
determinando que se criassem grupos de trabalho para a criação dos Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável (ODS)126, com ações voltadas para o combate à fome
e à pobreza e a elaboração de políticas de promoção à saúde, à educação, ao
saneamento, à habitação, ao meio ambiente e à promoção da igualdade de gênero.
Assim, em 2015, 193 países se reuniram em Nova York e elaboraram ambiciosos 17
(dezessete) objetivos - com 169 metas - a serem cumpridos num prazo de 15 (quinze)
anos: a chamada Agenda 2030, sendo os objetivos:

ODS 1 - Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares


ODS 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da
nutrição e promover a agricultura sustentável
ODS 3. Assegurar uma vida saudável e promover o bemestar para todos, em
todas as idades
ODS 4. Assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade, e promover
oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos
ODS 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e
meninas
ODS 6. Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e
saneamento para todos
ODS 7. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço
acessível à energia, para todos

124
CARVALHO, Paulo Gonzaga Mibielli de; BARCELLOS, Frederico Cavadas. Os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio – ODM: uma avaliação crítica. IBGE: Rio de Janeiro, 2015, p. 7.
125
Idem, p. 11.
126
INDICADORES BRASILEIROS PARA OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.
Disponível em: https://odsbrasil.gov.br/. Acesso em 04.07.2021.
72

ODS 8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e


sustentável, emprego pleno e produtivo, e trabalho decente para todos
ODS 9. Construir infraestruturas resistentes, promover a industrialização
inclusiva e sustentável e fomentar a inovação
ODS 10. Reduzir a desigualdade entre os países e dentro deles
ODS 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos,
seguros, resilientes e sustentáveis
ODS 12. Assegurar padrões de produção e consumo sustentáveis
ODS 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus
impactos
ODS 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, mares e dos recursos
marinhos, para o desenvolvimento sustentável
ODS 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas
terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação,
deter e reverter a degradação da terra, e estancar a perda de biodiversidade
ODS 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento
sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições
eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis
ODS 17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global
para o desenvolvimento sustentável

Os ODS foram elaborados com base nos ODM, mas de forma a completá-los
e atender aos desafios não enfrentados; seguem as três dimensões do
desenvolvimento sustentável: ambiental, social e econômica, atingindo todas as
atividades de desenvolvimento. De forma plural, foram elaborados com base na
participação da população mundial, por meio de consultas públicas, inclusive
contando com a participação de crianças e adolescentes127.
Um dos objetivos estipulados – o Objetivo 5 -, herança dos ODM, foi em
relação ao alcance da igualdade de gênero e o empoderamento de todas as meninas
e mulheres. De acordo com o relatório Meninas e os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável – Uma análise da situação das Meninas no Brasil128, elaborado pela ONG
Plan International Brasil, a definição deste objetivo específico reconhece que meninas
e meninos possuem os mesmos direitos, mas não o acessam da mesma maneira,
mantendo as meninas numa posição de desvantagem. O relatório foi elaborado com
o objetivo de ajudar as organizações, governos e sociedade em geral a perceber que
a superação das desigualdades não será plena se não enfrentar as questões que
afetam as meninas129, pois as questões que afetam as mulheres têm sua origem na

127
PLAN INTERNATIONAL BRASIL. As meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
2017. Disponível em: < https://plan.org.br/as-meninas-e-os-objetivos-de-desenvolvimento-
sustentavel/>. Acesso em: 10.05.2021.
128
Este relatório foi elaborado em 2017.
129
PLAN INTERNATIONAL BRASIL. As meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
2017. Disponível em: < https://plan.org.br/as-meninas-e-os-objetivos-de-desenvolvimento-
sustentavel/>. Acesso em: 10.05.2021.
73

infância. Dessa forma, o relatório elaborado buscou mapear todos os objetivos e


metas que impactariam ou se referiam às meninas, bem como os dados brasileiros
sobre o tema em questão.
Assim como os ODM, os ODS demandam um monitoramento constante dos
objetivos e metas propostos, bem como a forma de produção estatística para tanto. O
relatório mencionado busca contribuir para este monitoramento como um marco de
referência. Utilizando-se de marcadores de gênero e geração – algo pouco utilizado
nas pesquisas sobre infância ou gênero, que não os intersecciona -, a pesquisa
analisou os 17 Objetivos com esses marcadores, identificando os principais avanços,
as lacunas a serem preenchidas e as ameaças de direitos que abrangem este público.
À exceção da Resolução 180/2016 do CONANDA, que trata sobre a igualdade entre
meninos e meninas, nenhuma outra normativa brasileira aborda o assunto.
Como forma de fortalecer a implementação dos ODS no país e cumprir a
Agenda 2030, a Fundação Abrinq criou o Projeto de Fortalecimento da Rede
Estratégia da ODS, em parceria com a Agenda Pública e a Frente Nacional de
Prefeitos (FNP), com financiamento da União Europeia, como uma rede de articulação
multisetorial entre entidades da sociedade civil, academia, governos municipais e
setores privados, com atuação focada em quatro pilares130:

● Consolidar a estrutura de governança, capilaridade e


representatividade da Estratégia ODS em todo território nacional,
consolidando sua atuação como rede multissetorial;
● Ampliar e qualificar o debate nacional sobre os ODS e a Agenda 2030,
por meio de ações de comunicação, incidência em espaços estratégicos e
mecanismos colaborativos de monitoramento dos progressos nacionais;
● Apoiar a implementação subnacional dos ODS e da Agenda 2030, por
meio do desenvolvimento de metodologias e ferramentas para construção de
soluções locais e inovadoras e incidência junto aos atores estratégicos;
● Capacitar e subsidiar organizações e movimentos representativos de
grupos vulneráveis, com foco prioritário na redução das desigualdades de
gênero, geracional e étnico-racial.

Como resultado, a Rede já conta com a mobilização de 146 organizações da


sociedade civil, 25 empresas participantes, 59 Municípios e 2 Academias, com
projetos e editais que promovam a implementação dos ODS.

130
FORTALECIMENTO DA REDE ESTRATÉGIA ODS. Disponível em: < https://www.fadc.org.br/o-
que-fazemos/fortalecimento-da-rede-estrategia-ods>. Acesso em 05.06.2021.
74

Passando para a análise dos ODS, com base no relatório mencionado, nos
primeiros dois objetivos, nota-se que a maior taxa de redução da pobreza e da
desnutrição reside na Primeira Infância. Entre os anos 1991 e 2014, a pobreza reduziu
de 26,9% para 2,3% dentre aqueles de 0 a 3 anos de idade e de 15,6% para 2,3%
dentre o público de 4 a 5 anos de idade, de acordo com os dados coletados pelo Pnad,
do Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário131. Ademais, os dados coletados
pelo Censo 2010132 – último realizado - apontam que 70,8% da população que vive
na extrema pobreza é composta por negros e 50,5% corresponde ao público feminino.
Uma das políticas responsáveis pela redução da pobreza neste período diz
respeito ao Plano Brasil Sem Miséria, em que se destaca o Programa Bolsa Família,
que atendia, na época do relatório, mais de 14 milhões de famílias, sendo 93% delas
chefiadas por mulheres. Somado às políticas de crédito para as mulheres (Programa
de Assistência Técnica e Expansão Rural e o crédito Crescer), este programa
demonstra sua contribuição para o empoderamento feminino, sua autonomia e
desenvolvimento. Entretanto, trata-se de mais uma política adultocêntrica, uma vez o
recorte de gênero foi realizado, mas não foi possível qualificar o impacto dessa política
na vida e no empoderamento das meninas, ou seja, de que forma esses programas
também podem apoiar as meninas em seus processos de empoderamento e
desenvolvimento.
No que concerne à desnutrição infantil (Objetivo 2), não foram identificadas
discrepâncias relevantes entre meninos e meninas na Primeira Infância, sendo que,
desde a instituição do Programa Bolsa Família, a desnutrição em 58% até 2012133. O
Objetivo 3, que trata sobre o bem-estar de toda as pessoas, tem como metas a
redução dos índices de mortalidade materna – incluindo as meninas a partir de 10
anos de idade -, de recém-nascidos e crianças de até 5 (cinco) anos, além da redução
da mortalidade em decorrência epidemias, de transmissíveis, e assegurar o acesso à
saúde sexual e reprodutiva. Também estabelece a promoção da saúde mental, bem-
estar e políticas de planejamento familiar. Apesar de ainda existir variação no número
de mortalidade materna entre 10 e 14 anos, os índices de mortalidade infantil e na

131
PLAN INTERNATIONAL BRASIL. As meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
2017. Disponível em: < https://plan.org.br/as-meninas-e-os-objetivos-de-desenvolvimento-
sustentavel/>. Acesso em: 01.06.2021.
132
Idem.
133
Ibidem.
75

infância (até 5 anos de idade) sofreram grade queda entre 1990 e 2012, tendo
conseguido reduzir suas taxas em 68,4%134.
O Objetivo 4 trata sobre educação igualitária, de qualidade e livre para
meninos e meninas, desde a Primeira Infância, possibilitando seu acesso desde a
Educação Infantil. Uma das metas estabelecidas se refere à eliminação das
disparidades de gênero na educação, para garantir a igualdade de acesso em todos
os níveis de formação. Uma conceituação mais ampla de educação é encontrada em
uma das metas deste objetivo, como aquela capaz de proporcionar conhecimentos e
habilidades necessárias para um desenvolvimento sustentável, para a promoção da
igualdade de gênero, dos direitos humanos, promoção de uma cultura de paz e de
não-violência, da cidadania global e da diversidade cultural, prezando por um estilo
de vida sustentável.
De forma geral, o Brasil apresenta certa paridade nas matrículas escolares
entre meninos e meninas desde os primeiros anos de vida, com pouquíssimas
discrepâncias no decorrer da vida escolar básica. De fato, no ensino superior, a
presença feminina chega a ser 40% maior que a masculina135. Apesar da paridade de
acesso à educação entre meninas e meninos, este dado não se reflete na vida adulta:
as mulheres ainda ocupam postos de trabalho inferiores, padecem de reconhecimento
em pesquisa e são minoria em algumas áreas, como a de exatas, além de ocuparem
menos cargos de liderança.
A título de exemplo, pode-se observar as conclusões de Patrícia Bertolin, em
seu trabalho “Mulheres na Advocacia”136. De acordo com a autora, as mulheres têm
ocupado mais de 50% dos quadros da seccional paulista da Ordem dos Advogados
do Brasil. Entretanto, o topo da carreira não é ocupado nem por 30%, constatando
que há um teto de vidro na ascensão profissional nos grandes escritórios de
advocacia, formado, principalmente, pela maternidade – esta seria incompatível com
o exercício da profissão, em razão das longas jornadas de trabalho e da necessidade
de estar constantemente à disposição da clientela.

134
PLAN INTERNATIONAL BRASIL. As meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
2017. Disponível em: < https://plan.org.br/as-meninas-e-os-objetivos-de-desenvolvimento-
sustentavel/>. Acesso em: 01.06.2021.
135
Idem.
136
BERTOLIN, Patricia Tuma Martins. Feminização da advocacia e ascensão das mulheres nas
sociedades de advogados. In: Cadernos de Pesquisa, v. 47, n. 163, 2017, p.p. 16-42.
76

Aquelas que tiveram a oportunidade de pertencer a essa pequena


porcentagem deveriam servir como espelho para advogadas ainda nas posições
hierárquicas mais baixas, entretanto, a reprodução do discurso meritocrático e a
perpetuação da cultura patriarcal predominaram suas atuações.
No mesmo sentido, a campanha “+ Mulheres na Política”, da Secretaria
Nacional de Políticas para as Mulheres, vem acompanhando as eleições de mulheres
para cargos no Poder Legislativo nos diferentes entes federativos. Nas últimas
eleições municipais, ocorridas em 2020, houve um aumento de 16,1% de mulheres
eleitas para o cargo de vereadoras137, um aumento em relação à 2016, em que esse
índice figurava em 13,5%; em 17% dos municípios brasileiros, nenhuma mulher foi
eleita em 2020. Apesar disso, a igualdade de gênero nos cargos de liderança ainda
tem um longo caminho a percorrer, sendo improvável atingi-la até 2030.
Pode-se observar que, apesar do acesso paritário ao direito à educação, a
igualdade de direitos e o tema gênero ainda não possuem grande alcance nas escolas
e no currículo escolar, ainda que existam ações para debater o tema nas salas de
aula, impactando no mercado de trabalho. Desde 2015, o MEC não vem executando
as políticas de formação continuada de profissionais de educação sobre o tema 138,
bem como os termos gênero e orientação sexual foram retirados da Base Nacional
Comum Curricular, postura seguida nas discussões travadas pelos parlamentares no
PL nº 6.998/2013 Importante ressaltar que as escolas possuem autonomia para
elaborar seus próprios projetos político-pedagógicos.
Outro fator relevante nesta discussão foi o surgimento do movimento Escola
Sem Partido. Com um entendimento de que as “escolas deveriam funcionar como
centros de produção e difusão do conhecimento, abertos às mais diversas
perspectivas de investigação”139, este movimento, que surgiu em 2003, se define
como “uma iniciativa conjunta de estudantes e pais preocupados com o grau de
contaminação político-ideológica das escolas brasileiras, em todos os níveis: do

137
GOVERNO COMEMORA AUMENTO DA REPRESENTATIVIDADE FEMININA NA POLÍTICA.
Disponível em: < https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2021/janeiro/governo-comemora-
aumento-da-representatividade-feminina-na-politica>. Acesso em: 04.07.2021.
138
PLAN INTERNATIONAL BRASIL. As meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
2017. Disponível em: < https://plan.org.br/as-meninas-e-os-objetivos-de-desenvolvimento-
sustentavel/>. Acesso em: 01.06.2021.
139
APRESENTAÇÃO. Disponível em: https://www.escolasempartido.org/quem-somos/. Acesso em
02.06.2021.
77

ensino básico ao superior”140, apresentando uma proposta de dar visibilidade a “um


problema gravíssimo que atinge a imensa maioria das escolas e universidades
brasileiras: a instrumentalização do ensino para fins ideológicos, políticos e
partidários”141.
Ademais, o Escola Sem Partido embasa sua atuação142:

● pelo respeito à Constituição Federal dentro das escolas e


universidades;
● pela conscientização dos estudantes sobre o seu direito à educação,
à impessoalidade, à laicidade, ao pluralismo de ideias e à liberdade de
consciência e de crença;
● pelo respeito ao direito dos pais sobre a educação religiosa e moral
dos seus filhos, nos termos do artigo 12, IV, da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos.

Importante destacar que este movimento retomou sua força na última década,
tendo se tornado o Projeto de Lei nº 2.974/2014, apresentado na Assembleia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) pelo então deputado estadual Flavio
Bolsonaro (PP). Também houveram iniciativas no âmbito federal, como o Projeto de
Lei nº 867/2015 – conhecida como Lei da Mordaça -, proposto pelo deputado federal
Izalci Lucas (PSDB/DF). Em contrapartida, foi sancionada a Lei da Escola sem
Mordaça (Lei nº 99.277/2021), proposta pelos deputados Carlos Minc (PSB) e André
Ceciliano (PT), em 2021, garantindo a autonomia de estudantes e educadores nas
relações educacionais143.
Já em São Paulo, em 2017, o então vereador paulistano Fernando Holiday
(DEM) se dirigiu a duas escolas da rede municipal de ensino de São Paulo para, em
seu entendimento, fiscalizar os conteúdos desenvolvidos em sala de aula,
investigando se nesses haveria doutrinação ideológica144. A ação do vereador foi
respondida pelo então deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL), membro titular da

140
SOBRE NÓS. Disponível em: https://www.escolasempartido.org/quem-somos/. Acesso em
02.06.2021.
141
OBJETIVOS. Disponível em: https://www.escolasempartido.org/quem-somos/. Acesso em
02.06.2021.
142
Idem, ibidem.
143
RESPOSTA AO ‘ESCOLA SEM PARTIDO’, LEI ‘ESCOLA SEM MORDAÇA’ É SANCIONADA NO
ESTADO DO RIO. Disponível em: < https://extra.globo.com/noticias/rio/resposta-ao-escola-sem-
partido-lei-escola-sem-mordaca-sancionada-no-estado-do-rio-25025426.html>. Acesso em
24.06.2021.
144
VEREADOR FERNANDO HOLIDAY ENTRA EM ESCOLAS PARA ‘PATRULHAR’ PROFESSORES.
Disponível em: < https://www.redebrasilatual.com.br/educacao/2017/04/fernando-holiday-entra-em-
escolas-para-patrulhar-professores/>. Acesso em 24.06.2021.
78

Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp),


que protocolou uma representação no Ministério Público de São Paulo e na
Corregedoria da Câmara Municipal contra o vereador, indicando ter havido abuso de
autoridade de sua parte, uma vez que o cargo de vereador não lhe concede a
prerrogativa de adentrar nas escolas e inspecionar os conteúdos lecionados ou a
metodologia adotada pelos educadores.
Em resposta aos atos abusivos ocasionados pelo movimento, o Instituto de
Desenvolvimento e Direitos Humanos145, em julho de 2017, enviou um relatório para
os Relatores Especiais da ONU para o Direito à Educação e para a Liberdade de
Opinião e Expressão, solicitando seu repúdio à proposta do Escola Sem Partido,
demonstrando os retrocessos que o campo da educação estava ocorrendo no Brasil,
ameaçando os direitos à liberdade de expressão e opinião, bem como à liberdade de
ensinar, aprender, pesquisar e divulgar seus pensamentos, o pluralismo de ideias e
concepções pedagógicas previstos na Constituição Federal de 1988 e em diversos
tratados internacionais em que o Brasil é signatário. Além disso, o relatório apontou
as intenções escusas do movimento, de vigiar e cercear a liberdade de ensino nas
escolas, ressaltando uma responsabilidade exclusiva dos pais na educação moral,
sexual, política e religiosa de crianças e adolescentes.
De acordo com a UNESCO, o objetivo do direito à educação é garantir o pleno
desenvolvimento de crianças e adolescentes, preparando-os para o exercício da
cidadania. Sendo assim, a ideia de isenção ideológica é um mito, pois nenhuma
pessoa é isenta de ideologias. Ao defenderem uma neutralidade nas escolas, o
movimento acaba por desconsiderar a condição de sujeitos de direitos dos
estudantes, anulando suas individualidades e suas capacidades de formarem uma
opinião própria, por meio de reflexão e crítica, proporcionada pelo ambiente plural que
é a escola; os direitos de ensinar e aprender acabam por serem cerceados.
Em sua resposta, o Alto Comissariado de Direito Humanos da ONU
questionou o Estado brasileiro sobre os efeitos gerados por esta atuação 146, que é
contrária à Constituição Federal e às convenções nacionais e internacionais de autoria
e/ou subscrição brasileira, recomendando a tomada de atitudes do governo brasileiro

145
IDDH DENUNCIA PROGRAMA ESCOLA SEM PARTIDO À ONU. Disponível em: <
https://iddh.org.br/iddh-denuncia-programa-escola-sem-partido-a-onu/>. Acesso em: 24.06.2021.
146
ONU ALERTA PARA IMPACTOS DO PROJETO ESCOLA SEM PARTIDO NA EDUCAÇÃO
BRASILEIRA. Disponível em: < https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2017-04/onu-alerta-
para-impactos-do-projeto-escola-sem-partido-na-educacao?amp>. Acesso em: 24.06.2021.
79

para que revisasse os projetos de lei que abordam o Escola Sem Partido. Ainda
segundo o Alto Comissariado, é função das autoridades brasileiras assegurarem que
os projetos estejam em acordo com as normativas internacionais de direitos humanos
e a própria Constituição.
Por não definir o que seria a doutrinação ideológica e política, educação moral
e propaganda político-partidária, a proposta legislativa deixa esses conceitos num
âmbito subjetivo, a depender da interpretação de pais ou autoridades. Ademais, este
projeto poderia retirar das salas de aula as discussões sobre diversidade e direitos
das minorias – o que ocorreu. O Alto Comissariado apontou sua preocupação com a
retirada do termo orientação sexual da BNCC, por não dispensarem esforços para
combater a discriminação no ambiente escolar, inclusive aquelas relativas à
orientação sexual. Esta discussão será retomada no Objetivo 10.
Seguindo o relatório elaborado pela Plan International Brasil, o Objetivo 5 se
refere ao empoderamento de aprendizagem de meninas e mulheres e ao alcance da
igualdade de gênero. Para evitar repetições de discussões constantes em outros
objetivos, os autores do relatório focaram nas metas referentes às violências sofridas
por meninas, em especial a sexual, o casamento infantil, a mutilação genital feminina,
além de avaliar a consideração do trabalho doméstico e de cuidados pela
disponibilização de serviços públicos de infraestrutura e políticas públicas de proteção.
Outra meta importante é a garantia de participação feminina nas esferas de liderança
política, pública e econômica147, tal qual o fortalecimento das políticas e legislação que
tratem sobre igualdade de gênero.
Neste objetivo, não há recortes específicos para a Primeira Infância. Destaque
para, na meta referente às políticas e legislação, todas as legislações citadas mantêm
um caráter adultocêntrico, com foco nas ações de redução das desigualdades
relativas às mulheres adultas. Assim, os autores do relatório deixam a indagação:
“Será que processos de emancipação, empoderamento e autonomia de mulheres e
mães refletem na vida de meninas e filhas, ajudando a romper com o ciclo geracional
produtor de violências e desigualdades?”148

147
PLAN INTERNATIONAL BRASIL. As meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
2017. Disponível em: <https://plan.org.br/as-meninas-e-os-objetivos-de-desenvolvimento-
sustentavel/>. Acesso em: 01.06.2021.
148
Idem.
80

O Objetivo 6 trata sobre acesso à água e ao saneamento para todos e todas.


Embora haja certo recorte para a Primeira Infância, em razão do saneamento e do
acesso à água nas creches e escolas de educação infantil, e o recorte de gênero,
devido à exposição à violências e doenças na busca por água e em banheiros
externos. Entretanto, não há o recorte gênero/geração neste Objetivo.
Da mesma forma é relatado o Objetivo 7, que cuida do acesso à energia de
forma confiável, acessível, moderna e sustentável para todas as pessoas. Embora o
acesso à energia seja fundamental para o desenvolvimento, a segurança e a geração
de renda também se apresentam como maiores impactos na vida de meninas e
mulheres149, entretanto, as metas constantes neste objetivo não abordam o recorte de
gênero/geração relevantes para o foco deste trabalho, apesar de tratarem da oferta
de energia elétrica nas escolas.
O Objetivo 8 traz importantes metas relativas à erradicação do trabalho
infantil, tráfico de pessoas, trabalho forçado e o desemprego de jovens. Além de
mulheres receberem menores salários, o relatório demonstra a incidência do trabalho
infantil doméstico como o mais atribuído às meninas. Também neste tópico não
recebe destaque a Primeira Infância, no entanto, o relatório apresenta os cinco anos
como idade inicial do trabalho infantil, sendo que este primeiro grupo (de 5 a 13 anos)
foi o que mais cresceu entre 2013 e 2015150, enquanto o trabalho doméstico feminino
apresentou índices de 94,1%, segundo o Pnad 2014151.
Com metas de acesso a tecnologias da informação e comunicação, o Objetivo
9 apresenta uma proposta de inovação tecnológica sustentada e sustentável, com a
construção de infraestrutura resiliente e promoção de uma industrialização inclusiva.
Neste Objetivo, não foram observadas grandes distorções entre meninos e meninas,
constando a maior diferença em relação à classe e região152. O recorte geracional não
atingiu a Primeira Infância na análise deste Objetivo. Merece destaque, entretanto,
que os termos feminismo e empoderamento feminino sofreram grande aumento em
sua procura, de acordo com pesquisa realizada em 2015, pela ONG Think Olga153,

149
PLAN INTERNATIONAL BRASIL. As meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
2017. Disponível em: <https://plan.org.br/as-meninas-e-os-objetivos-de-desenvolvimento-
sustentavel/>. Acesso em: 01.06.2021.
150
Idem.
151
Ibidem.
152
Ibidem.
153
Ibidem.
81

sendo uma importante ferramenta de difusão de informações e denúncias de


violências contra mulheres e femininas.
Dialogando com o Objetivo 4, o Objetivo 10 estipula metas para a redução das
desigualdades dos países e entre eles, como a alteração de legislação, práticas e
políticas de exclusão. Neste objetivo, os autores mapearam políticas e programas que
fariam o recorte gênero/geração, listando o seguinte154:

▶ Ministério da Educação (MEC): cursos de formação continuada para os


profissionais da educação básica (gestores, diretores, professores,
coordenadores pedagógicos, técnicos) intitulados Gênero e Diversidade na
Escola e Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça. Eles são
financiados pelo MEC e ofertados por instituições públicas de ensino superior.
▶ Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA): Elaboração de
novos conteúdos e revisão daqueles existentes, ofertados aos profissionais
da rede da Assistência Social, por meio do Capacita SUAS33 e revisão das
orientações técnicas do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos
(SCFV)34, ambas com o objetivo de reforçar a perspectiva de gênero nas
ações executadas pelos serviços. Sem previsão de conclusão das ações.
▶ Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (SPM): Prêmio Construindo
a Igualdade de Gênero - concurso de redações, artigos científicos e projetos
pedagógicos nas áreas de relações de gênero, mulheres e feminismo. A
categoria Ensino Médio beneficia diretamente adolescentes e jovens,
premiando as melhores redações e a categoria Escola Promotora da
Igualdade de Gênero, beneficia indiretamente este público, premiando os
melhores projetos e ações pedagógicas desenvolvidos em unidades de
ensino médio.
▶ Secretaria Nacional de Juventude: Grupo de Trabalho (GT) das Jovens
Mulheres, ação pontual executada entre 2011 e 2013, com o objetivo de
propor formas de incorporação do recorte de gênero na formulação e
implementação das políticas públicas para a juventude. A SNJ atua com o
público de 15 a 29 anos, conforme determina o Estatuto da Juventude (lei
12.852/2013). Assim, há uma interface entre este estatuto e o ECA,
abrangendo a faixa etária entre 15 e 17 anos, ao qual a SNJ se refere como
jovens mulheres

Destaca-se que, das poucas políticas identificadas, nenhuma se remete à


Primeira Infância. Os programas de formação de professores, então instituídos pelo
MEC, estão suspensos desde 2015. Em pesquisa realizada no site do Ministério da
Cultura, verificou-se que estes cursos não mais existem nas redes do Ministério 155.
De fato, não há qualquer menção às palavras gênero e diversidade.

154
PLAN INTERNATIONAL BRASIL. As meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
2017. Disponível em: <https://plan.org.br/as-meninas-e-os-objetivos-de-desenvolvimento-
sustentavel/>. Acesso em: 01.06.2021.
155
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Disponível em: <https://www.gov.br/mec/pt-br/acesso-a-
informacao/institucional/secretarias/secretaria-de-educacao-basica/programas-e-acoes-1>. Acesso
realizado em 05.06.2021.
82

A Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, desde 2018, é nomeada


como Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres e se vincula ao Ministério da
Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, estando comprometida com a promoção
da igualdade entre homens e mulheres e ao combate a toda forma de discriminação
e preconceitos decorrentes de uma sociedade patriarcal e excludente156. Ressalta-se
que a secretaria adota a seguinte concepção para suas ações157:

Uma vez que a mulher pode ser criança, jovem ou idosa, negra, branca ou
indígena, apresentar ou não alguma deficiência, ser imigrante ou estar em
situação de rua, dentre outras particularidades, a mulher é cuidada por todo
o Ministério, de forma transversal e integrada.
A promoção, a proteção, a defesa e o enfrentamento a violações dos direitos
das mulheres consideram, portanto, a integralidade da mulher, na perspectiva
da família e da sociedade, buscando o fortalecimento de seus vínculos
familiares e sociais e a promoção da solidariedade intergeracional.

Em relação ao Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero, cabe a ressalva


de que sua última edição remete ao ano de 2017, não havendo informações
atualizadas sobre a eventual nova edição do Prêmio158 em seu site ou no site do
Ministério da Educação.
O princípio da universalidade de direitos, estipulado pela legislação infanto-
juvenil vigente no Brasil, não é suficiente para contemplar a diversidade das infâncias.
O relatório identificou que grupos populacionais específicos necessitam de políticas
específicas para garantir seu acesso aos direitos concedidos. As meninas são
inseridas num desses grupos, pela falta do recorte gênero/geração nas políticas e
legislação brasileira.
Também foram analisados projetos de lei no Senado e na Câmara dos
Deputados, sendo identificados 19 (dezenove) projeto relacionados à infância159, com
algum impacto – geralmente, indireto – nos direitos das meninas. Nenhum aborda a
Primeira Infância e dois violam acordos e normativas nacionais e internacionais: o PLS

156
SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS PARA MULHERES. Disponível em: <
https://www.gov.br/mdh/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/secretaria-nacional-de-
politicas-para-mulheres>. Acesso em: 25.06.2021.
157
A FORÇA DA MULHER BRASILEIRA IMPULSIONANDO O PAÍS. Disponível em: <
https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/politicas-para-mulheres>. Acesso em: 25.06.2021.
158
11º PRÊMIO CONSTRUINDO A IGUALDADE DE GÊNERO. Disponível em: <
http://www.igualdadedegenero.cnpq.br/igualdade.html>. Acesso em: 25.06.2021.
159
PLAN INTERNATIONAL BRASIL. As meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável –
uma análise da situação das meninas no Brasil. 2017. Disponível em: < https://plan.org.br/as-meninas-
e-os-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel/>. Acesso em: 01.06.2021.
83

193/2016 e o PL 3010/2011, tratando, respectivamente, sobre a instituição do Escola


Sem Partido, incluindo diretrizes e bases na educação sobre neutralidade política,
religiosa e ideológica, e da alteração do ECA para proibir imagens eróticas,
pornográficas ou obscenas em materiais didáticos. No que concerne ao movimento
Escola Sem Partido, em mapeamento realizado pelo movimento Professores contra o
Escola Sem Partido160, foram registrados, em 2017, 15 projetos de lei em âmbito
estadual, e 66 em âmbito municipal. Este movimento, contudo, afirma que os números
apresentados ainda não representam a totalidade de projetos existentes no Brasil.
Em razão desses projetos, o Ministério Público Federal enviou uma nota
técnica ao Congresso Nacional, em 2016, apontando a inconstitucionalidade do
Programa Escola Sem Partido161 no PL nº 867/2015. De acordo com a procuradora
federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat, em entrevista concedida à Agência
Brasil162:

O projeto subverte a atual ordem constitucional por inúmeras razões:


confunde a educação escolar com aquela fornecida pelos pais e, com isso,
os espaços público e privado, impede o pluralismo de ideias e de concepções
pedagógicas, nega a liberdade de cátedra e a possibilidade ampla de
aprendizagem e contraria o princípio da laicidade do Estado – todos esses
direitos previstos na Constituição de 88.

A procuradora ainda afirma que impedir o pluralismo de ideias e impedir que


professores expressem opiniões de cunho político também impede as discussões
sobre questões de gênero.
Totalizando 19 projetos de lei nos âmbitos municipais, distrital, estaduais e
federais, a lei estadual de Alagoas, popularmente conhecida como Programa Escola
Livre, chegou ao STF, numa Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI nº 5537), que
reconheceu sua inconstitucionalidade. A ação contou ainda com parecer da
Advocacia-Geral da União, que também se manifestou pela inconstitucionalidade do
programa, por elaborar normas gerais – competência federal – ao invés de
complementar a legislação nacional.

160
O MAPA QUE REGISTRA PROJETOS DA ESCOLA SEM PARTIDO NO PAÍS. Disponível em: <
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/11/12/O-mapa-que-registra-projetos-da-Escola-sem-
Partido-no-pa%C3%ADs>. Acesso em: 25.06.2021.
161
MPF DIZ QUE ESCOLA SEM PARTIDO É INCONSTITUCIONAL E IMPEDE O PLURALISMO.
Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2016-07/mpf-diz-que-escola-sem-
partido-e-insconstitucional-e-impede-o-pluralismo. Acesso em: 24.06.2021.
162
Idem.
84

Questionando a Lei 1.516/2015 do município de Novo Gama (GO), que proibia


a utilização de materiais que abordavam questões de gênero e sexuais nas escolas
municipais, a ADPF nº 457 – proposta pela Procuradoria Geral da República em 2017
- foi julgada em abril de 2020, também reconhecendo a inconstitucionalidade do
Programa Escola Sem Partido, por ferir princípios e dispositivos constitucionais como
os dispostos no artigo 206 da Constituição Federal de 1988, bem como o melhor
interesse de crianças e adolescentes. Ainda, a legislação municipal interferiria no
currículo pedagógico das escolas vinculadas ao Plano Nacional de Educação e à Lei
das Diretrizes e Bases da Educação Nacional – lei federal -, não cabendo aos
municípios legislarem sobre matéria afeta à educação nacional 163. Além dos
mencionados, também foram apensadas à última a ADI nº 5.580 e a ADI nº 6.038 e
outras treze proposições que questionam o programa164.
Conforme mencionado anteriormente, o movimento Escola Sem Partido teve
sua atuação tão destacada que chamou a atenção do Alto Comissariado da ONU
sobre Direitos Humanos, alertando as autoridades brasileiras sobre irregularidades e
contravenções que tal movimento estava proporcionando ao Estado brasileiro. Este
movimento contribuiu para uma grave distorção dos termos e questões relacionadas
a gênero, diversidade, sexualidade e, consequentemente, dos direitos humanos. Tal
foi seu impacto que estes termos foram retirados de documentos oficiais do governo,
das normativas relativas à educação e proteção, voltadas ao público infanto-juvenil,
como o Base Nacional Comum Curricular (BNCC), além de influenciar diretamente na
escolha de bancadas de dois mantados distintos na Câmara dos Deputados em não
utilizar estes termos na discussão de uma matéria tão relevante para a sociedade: as
diretrizes para a elaboração de políticas para a Primeira Infância.
Na perspectiva da habitação, o Objetivo 11 aborda as cidades e os
assentamentos humanos, para que sejam inclusivos, seguros, resilientes e
sustentáveis, com metas voltadas à urbanização de favelas e acesso a moradias
seguras, transporte público acessível, sustentável e seguro, bem como o acesso a
espaços públicos seguros, verdes, acessíveis e inclusivos. De acordo com o Censo

163
ESCOLA SEM PARTIDO: AÇÃO É JULGADA INCONSTITUCIONAL PELO STF. Disponível em:
https://prioridadeabsoluta.org.br/noticias/escola-sem-partido-acao-insconstitucional-stf/. Acesso em:
25.06.2021.
164
STF JULGA AÇÃO SOBRE ESCOLA SEM PARTIDO NESTA SEXTA-FEIRA. Disponível em: <
https://artigo19.org/2020/04/16/stf-julga-acao-sobre-escola-sem-partido-nesta-sexta-feira/>. Acesso
em: 25.06.2021.
85

2010165, os índices de acesso à água, saneamento e coleta de lixo por meninas de 0


a 11 anos ficam por volta dos 20%, havendo uma diferença de 10% entre as que vivem
em áreas urbanas das que vivem na área rural. Nos quesitos transporte escolar e
cultura não foram encontradas informações com o recorte de idade/gênero.
O Objetivo 12 aborda os padrões de produção e consumo sustentável.
Dialogando com uma das preocupações expostas no PL 6.998/2013, este objetivo
salienta o consumismo infanto-juvenil e seus impactos no desenvolvimento, podendo
incentivar os excessos, como a obesidade, a sexualização precoce e o consumo de
álcool e drogas. Optando por não apresentar as metas estipuladas pela ONU, o
relatório também se ocupou em analisar a influência da publicidade no consumo
infantil – tema também debatido e normatizado pelos parlamentares -, de acordo com
pesquisa realizada pelo Instituto Alana166. Também não foi realizado ou encontrado
um recorte de gênero e idade neste Objetivo.
Com a preocupação de combater e prevenir a mudança climática e seus
impactos, o Objetivo 13 apresenta metas para melhor adaptação dos riscos
relacionados ao clima, a conscientização das mudanças climáticas para a população
e as instituições quanto à redução de impacto, adaptação, mitigação e alerta precoce
da mudança climática, promovendo mecanismos para a criação e planejamento
relacionados à mudança do clima e à gestão eficaz nos países menos desenvolvidos,
considerando-se o foco nas mulheres, nas pessoas marginalizadas, nos jovens e nas
comunidades locais. De forma geral, o recorte gênero/geração também não aparece
neste Objetivo, mas foram encontrados alguns dados relativos ao marcador idade.
Num sentido similar, o Objetivo 14 é apresentado, tratando da conservação
sustentável de oceanos e mares, entretanto, nenhuma meta fora destacada no
relatório. Não foram encontrados recortes diretos de gênero e idade nos dados
coletados, embora a reflexão tenha ocorrido no impacto das meninas que vivem na
região costeira, dependentes da pesca, do turismo comunitário demais atividades
relacionadas. Também foi considerada a educação como estratégia de
conscientização para a preservação dos mares e oceanos. Também no sentido

165
MPF DIZ QUE ESCOLA SEM PARTIDO É INCONSTITUCIONAL E IMPEDE O PLURALISMO.
Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2016-07/mpf-diz-que-escola-sem-
partido-e-insconstitucional-e-impede-o-pluralismo. Acesso em: 24.06.2021.
166
PLAN INTERNATIONAL BRASIL. As meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável –
uma análise da situação das meninas no Brasil. 2017. Disponível em: < https://plan.org.br/as-meninas-
e-os-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel/>. Acesso em: 01.06.2021.
86

ambiental segue o Objetivo 15, voltado para a conservação, proteção e gestão do


bioma terrestre, reportando à importância da educação ambiental, e sem ressaltar
metas específicas, para se aproximar da perspectiva que aborde idade e gênero.
Contudo, os dados e informações coletadas se referem ao público adolescente, com
maior incidência da educação ambiental no Ensino Médio167, além de experiências
coletivas como a Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente. Também
merece destaque as ações de agroecologia orgânica realizadas por mulheres, sendo
elas as maiores responsáveis nas lavouras, criação de pequenos animais domésticos,
na silvicultura e produção de verduras e flores168.
Ainda que a execução do trabalho seja majoritariamente feminina, a
Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário identificou
que, no campo, a cultura patriarcal ainda é muito presente, desmerecendo a
relevância do trabalho feminino169. Não há recorte geracional neste Objetivo, mas os
participantes da Conferência deixaram encaminhamentos nas áreas de alimentação
e consumo de alimentos orgânicos e naturais.
O Objetivo 16 aponta para a promoção de sociedades pacíficas e inclusivas,
em que todos tenham assegurado seu direito de acesso à justiça, com instituições
inclusivas e eficazes em todos os níveis. Para tanto, foram destacadas metas que
garantem a identificação oficial por registros de nascimento a todas as pessoas, a
promoção do Estado de Direito, com acesso à justiça igualitário, com leis e políticas
não discriminatórias.
De acordo com o Pnad/IBGE, de 1990 a 2013, o índice de crianças com
registro de nascimento subiu de 66% para 95%, sendo que os 5% que ainda não
possuem registros majoritariamente se referem às crianças indígenas, que vivem em
locais isolados170. Devido à opção governamental em não realizar o Censo 2020171 -

167
PLAN INTERNATIONAL BRASIL. As meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável –
uma análise da situação das meninas no Brasil. 2017. Disponível em: < https://plan.org.br/as-meninas-
e-os-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel/>. Acesso em: 01.06.2021.
168
Idem.
169
Ibidem.
170
Ibidem.
171
Em razão desta decisão do Governo Federal, o Governo do Maranhão ingressou no STF solicitando
a realização do Censo ainda em 2021. Em 14 de maio de 2021, o plenário do Supremo Tribunal Federal
decidiu pela obrigatoriedade de realização do Censo Demográfico em 2022 (COMUNICADOS.
Disponível em: https://www.ibge.gov.br/novo-portal-destaques.html?destaque=30747. Acesso em
05.07.2021).
87

por questões orçamentárias -, os índices podem ter sofrido alterações nos últimos 10
anos, havendo, portanto, uma defasagem relevante de dados mais recentes.
Também foram destacadas metas referentes ao consumo de drogas por
crianças e adolescentes, mas não houve recorte na Primeira Infância, ainda que a
pesquisa tenha apontado um consumo maior dessas substâncias por meninas. Em
relação ao sistema socioeducativo – que contempla somente adolescentes e jovens –
os dados do SINASE de 2017172, demonstraram que 5% da população socioeducativa
em privação ou restrição de liberdade era feminina, sendo os meninos também
maioria no cumprimento de medidas em meio aberto.
O último Objetivo define ações para revitalizar e implementar a parceria global
para o desenvolvimento sustentável, com metas voltadas para o desenvolvimento de
capacidades por meio do apoio internacional, para as parcerias multissetoriais, que
possibilitem o compartilhamento de experiência, conhecimento, tecnologia e recursos
financeiros para o pleno desenvolvimento de todos os objetivos em todos os países,
bem como o apoio para o desenvolvimento de capacidades para países em
desenvolvimento, fomentando a disponibilidade de dados de alta qualidade,
atualizados e confiáveis, desagregados por “renda, gênero, idade, raça, etnia, status
migratório, deficiência, localização geográfica e outras características relevantes em
contextos nacionais”173. Esta última meta estipulava 2020 como horizonte para sua
concretização.
De início, os autores do relatório identificaram uma falha na última meta
destacada. A desagregação dos dados voltada para as políticas públicas ou sistemas
jurídicos para grupos específicos não existe ou é de difícil acesso nas bases públicas.
Dessa forma, a meta ainda não fora cumprida pelo Brasil, que precisa aprimorar seu
sistema de monitoramento, avaliação e divulgação de dados.
Até 2016, o Brasil era signatários dos seguintes acordos internacionais,
envolvendo direitos da criança e do adolescente, identificados em estudo avaliativo
de cumprimento realizado pela Secretaria Nacional de Proteção dos Direitos da
Criança e do Adolescente (SNPDCA):

▶ Convenção sobre os Direitos da Criança (1989);

172
PLAN INTERNATIONAL BRASIL. As meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável –
uma análise da situação das meninas no Brasil. 2017. Disponível em: < https://plan.org.br/as-meninas-
e-os-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel/>. Acesso em: 01.06.2021.
173
Idem.
88

▶ Convenção relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em matéria


de Adoção Internacional (1993);
▶ Convenção Interamericana sobre o Tráfico Internacional de Crianças
(1994);
▶ Convenção 182 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) relativa
às piores formas de trabalho infantil (1999);
▶ Protocolo Facultativo relativo ao Envolvimento de Crianças em Conflitos
Armados (2000);
▶ Protocolo Facultativo referente à Venda de Crianças, à Prostituição Infantil
e à Pornografia Infantil4 (2000);
▶ Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra a
Criminalidade Organizada Transnacional relativo à Prevenção, à Repressão
e à Punição do Tráfico de Pessoas, em especial de Mulheres e Crianças
(2000).174

Para cumpri-los, políticas públicas, programas, leis e sistemas foram


elaborados, tendo sido listados no relatório175:

▶ Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (2015);


▶ Programa de Ações integradas e Referenciais de Enfrentamento da
Violência Sexual (2002);
▶ Programa Brasil Carinhoso (2012);
▶ Plano Decenal dos Direitos da Criança e do Adolescente (2011);
▶ Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (2008);
▶ Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (2015);
▶ Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (2012);
▶ Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (2013);
▶ Lei 12.010/2009, dispondo sobre adoção (2009);
▶ Lei 13.010 - Menino Bernardo, dispondo sobre castigos físicos e
degradantes (2014);
▶ Marco Legal da Primeira Infância (2016).

Assim como as discussões do PL 6.998/2013, gênero e igualdade de direitos


entre meninos e meninas também não foram abordados no estudo realizado pela
SNPDCA, tanto nos acordos e normativas, quanto na linguagem utilizada na redação
do estudo. Se a discussão de medidas para o alcance na igualdade de direitos não
ocorrer, a universalização de direitos não será concretizada. O único acordo que
menciona, de alguma forma, os direitos das meninas é a Plataforma de Pequim
(1995), que as inclui nas pautas das mulheres.
Apesar de apresentarem alguns marcadores relacionados a gênero e infância,
o único recorte direto em gênero e Primeira Infância somente aparece no Objetivo 4,

174
PLAN INTERNATIONAL BRASIL. As meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável –
uma análise da situação das meninas no Brasil. 2017. Disponível em: < https://plan.org.br/as-meninas-
e-os-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel/>. Acesso em: 01.06.2021.
175
Idem.
89

em relação à igualdade de oportunidades para meninas e meninos na Educação


Infantil, confirmando a pouca visibilidade que a Primeira Infância carrega.
Também a ser considerado que a maioria dos dados apresentados – salvos
quando indicados – corresponde ao período anterior ao Governo Bolsonaro e antes
da pandemia de Covid-19, fatos históricos que abalaram consideravelmente as
estruturas socioeconômicas, logo, não podem ser ignorados.

3.1. Adultocentrismo, Patriarcado e Primeira Infância

Há mais de um século se discutem as questões da infância, desde sua


proteção até sua participação cidadã. As normativas jurídicas nas últimas décadas,
apontaram, em especial, para a segunda direção. A análise dos contextos sociais e
políticos é essencial para que o PL 6.998/2013 seja compreendido tanto em objetivos
quanto nas suas consequências, incluindo discussões sobre patriarcado, dominação-
exploração e violência como forma de controle social, pois estas caracterizam a
sociedade em que o Projeto foi discutido.
Nessas discussões foi grande a preocupação dos parlamentares em
demonstrar, desde a justificativa do Projeto inicial, que a Primeira Infância não deve
ser vista como um mero período de passagem, em que a criança simplesmente se
prepara para se tornar adulta, como um período transitório de mera aquisição de
elementos simbólicos da sociedade, mas um período geracional que tem seus
processos próprios, seu protagonismo e sua importância na sociedade; a visão
adultocêntrica da infância.
Flávio Santigo e Ana Lúcia Goulart de Faria, membros do GEPEDISC – Grupo
de Estudos e Pesquisa em Diferenciação Sóciocultural, vinculado à UNICAMP, em
seu trabalho intitulado Para além do adultocentrismo: uma outra formação docente
descolonizadora é preciso176, explicam esse conceito:

O adultocentrismo é um dos preconceitos mais naturalizados pela sociedade


contemporânea. Ele atribui capacidades e fazeres às crianças para que se
tornem adultas no futuro, desconsiderando os aspectos singulares da própria
infância, tornando esse momento da vida apenas uma passagem, apenas um
vir a ser, em que aprendemos a nos relacionar e a nos integrar à sociedade

176
SANTIAGO, Flávio; FARIA, Ana Lúcia Goulart de. Para além do adultocentrismo: uma outra
formação docente descolonizadora é preciso. In: Educação e Fronteiras On-line, v. 5, n. 13, jan – abr
2015, p.p. 72-85.
90

Ou seja, a criança é posta numa posição inferior em relação ao grupo


dominante na sociedade, formado por adultas e adultos. Olha-se para criança na
esperança de visualizar um adulto, que ainda irá chegar; alguém que ainda moldará
seu ser e seu entender para atuar na sociedade. Nesta perspectiva, a criança não é
considerada como cidadã, como ser participativo e atuante, que deve seguir uma
modelagem pré-preparada para existir e contribuir na sociedade; a criança já nasce
com seu caminho traçado para se encaixar nas estruturas sociais existentes.
Esta concepção influencia não só na elaboração de políticas para a criança,
como também nas políticas voltadas para outros grupos adultos que necessitam de
proteção especial, como as mulheres, os negros e negras, indígenas e quilombolas.
Quando se volta para a Primeira Infância, a discrepância aumenta.
De acordo com Maria Paula Dallari Bucci177, o campo de estudo das políticas
públicas demanda a interdisciplinaridade.
O relatório Meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
identificou o recorte para a Primeira Infância somente em um objetivo, entretanto, sem
o recorte de gênero. Em maior análise, observa-se que o recorte Primeira Infância não
é aplicado junto ao gênero, tal qual carecem de maior produção de dados e de
indicadores nacionais para o monitoramento dessas políticas – uma das principais
consequências das ODM. O relatório, inclusive, apresenta os seguintes
questionamentos:

Para as mulheres adultas há informações disponibilizadas publicamente que


apontam, por exemplo, sua participação tímida na vida político-partidária e
pública, com a pequena ocupação de postos de comando. Mas e as meninas,
como figuram nesse quesito? Estão tendo oportunidades de aprendizado
sobre liderança e participação, de forma a construir outra trajetória de vida,
na qual compreendam, reivindiquem e modifiquem as questões de gênero
que causam desigualdades?178

Todas as políticas voltadas para mulheres179, por exemplo, apresentam a forte


característica do adultocentrismo: voltam-se diretamente para as mulheres adultas.

177
BUCCI, Maria Paula Dallari. O conceito de política pública em direito. In: Direito administrativo e
políticas públicas. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 1.
178
PLAN INTERNATIONAL BRASIL. As meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável –
uma análise da situação das meninas no Brasil. 2017. Disponível em: < https://plan.org.br/as-meninas-
e-os-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel/>. Acesso em: 01.06.2021.
179
Idem.
91

Dessas políticas e estruturas jurídicas, em especial, se destacam aquelas constantes


na Lei Maria da Penha, a Lei do Feminicídio e a criação da Secretaria de Políticas
para as Mulheres; todas abordam políticas de proteção, atenção e empoderamento
de adultas, com suas especificidades, que não abrangem diretamente as meninas,
ainda mais na Primeira Infância.
Em 2017, época de elaboração do relatório, os autores identificaram:

Em pesquisa nas bases de dados digitais da Câmara dos Deputados, do


Senado e do Observatório da Criança e do Adolescente (Fundação Abrinq)
não foram encontrados nenhum projeto cuja justificativa aborde
explicitamente a perspectiva da igualdade de gênero envolvendo crianças e
adolescentes. Mas, ao se analisar as proposições, percebesse que algumas
delas favorecem, de forma indireta, os direitos das meninas, ainda que isso
não seja explicitado em sua redação180

Em pesquisa realizada por esta autora no banco de dados da Câmara dos


Deputados e na Fundação Abrinq – que realiza o acompanhamento legislativo
relacionado à infância e à adolescência -, no decorrer desta pesquisa, não foi
identificado projeto que contenha a palavra gênero em 2021.
A despeito da Resolução 180/2016 do CONANDA, em análise do
acompanhamento legislativo realizado pela Fundação Abrinq, desde a promulgação
do Marco Legal da Primeira Infância, não há nenhum projeto no Congresso Nacional
que atenda ao recorte Primeira Infância e gênero. Ainda, nos projetos que seriam
relacionados aos direitos das meninas, o caráter adultocêntrico é bem marcante,
dispondo sobre temas, em sua maioria, sobre violência contra a mulher.
O enfrentamento da violência é um dos temas mais recorrentes que afetam
as meninas. O relatório Mapa da Violência de 2013181 - elaborado antes da Lei do
Feminicídio e do Marco Legal da Primeira Infância - nos mostra um aumento do
número de homicídios de mulheres182 por idade, atingindo seu pico aos 17 anos de
idade, num total de 141 homicídios de mulheres por dia no país, com base nos
registros de atendimentos ocorridos pelo Sistema Único de Saúde. Deste número,

180
PLAN INTERNATIONAL BRASIL. As meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável –
uma análise da situação das meninas no Brasil. 2017. Disponível em: < https://plan.org.br/as-meninas-
e-os-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel/>. Acesso em: 01.06.2021.
181
WAISELFISZ, J.J. Mapa da violência 2013: homicídios e juventude no Brasil. Brasília: Secretaria-
Geral da Presidência da República, 2013, pp. 80-81. Disponível em: <
http://flacso.org.br/files/2020/03/mapa2013_homicidios_juventude.pdf>. Acesso em: 26.nov.2020.
182
O relatório precede a promulgação da “Lei do Feminicídio”, promulgada em 2015.
92

19,8% dos agressores são pais ou responsáveis, sendo que este índice fica acima
dos 80% nos primeiros anos de vida.
De acordo com o relatório “Meninas e os Objetivos de Desenvolvimento”183:

Em levantamento feito com base nos atendimentos registrados pelo Sinan


2014, a pesquisa Mapa da Violência – Homicídio de Mulheres no Brasil
constatou que em todas as etapas da vida preponderam atendimentos
femininos no sistema de saúde, decorrentes de violências doméstica, sexual
e outras. Na fase da infância a proporção de meninas é de 54,1%, enquanto
a de meninos é de 45,5%. Esses percentuais vão progredindo para o público
feminino na adolescência, com 65,1% de meninas, contra 34,9% de meninos
e atingem seu ápice na vida jovem e adulta, com respectivamente 70% de
mulheres e 30% de homens e 71,3% de mulheres e 28,6% de homens.

Ou seja, as desigualdades de gênero vão se acentuando no decorrer da vida,


conforme as crianças vão crescendo e se desenvolvendo, perpetuando a estrutura
patriarcal em que estão inseridas.
Já os dados coletados no Disque 100 (Disque Direitos Humanos) em 2016184
- já após o Marco Legal da Primeira Infância - apontam que 44,34% das denúncias
contra crianças e adolescentes eram referentes ao sexo feminino, enquanto 39,22%
se referiam ao masculino. Pode-se observar alguns impactos iniciais de leis
promulgadas nos últimos anos, como a Lei do Feminicídio. O Atlas da Violência de
2020185, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea, apresenta
um total de 4.519 mulheres assassinadas em 2018, no Brasil. De acordo com este
relatório, entre 2017 e 2018, foi constatada uma queda de 9,3% nos “homicídios contra
mulheres”.
No âmbito de proteção à infância, a “Lei da Escuta Protegida” (Lei nº
13.431/17) reforça direitos e garantias fundamentais às crianças e adolescentes
vítimas ou testemunhas de alguma forma de violência, bem como também estabelece
as formas de oitiva e acolhimento a este público. A necessidade desta lei pode ser
encontrada nos estudos de Saffioti186 sobre as teorias de Freud:

183
PLAN INTERNATIONAL BRASIL. As meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável –
uma análise da situação das meninas no Brasil. 2017. Disponível em: < https://plan.org.br/as-meninas-
e-os-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel/>. Acesso em: 01.06.2021.
184
PLAN INTERNATIONAL BRASIL. As meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável –
uma análise da situação das meninas no Brasil. 2017. Disponível em: < https://plan.org.br/as-meninas-
e-os-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel/>. Acesso em: 01.06.2021.
185
CERQUEIRA, Daniel; BUENO, Samira (coord.). Atlas da Violência de 2020. Brasil: Ipea, 2020, p. 34.
186
SAFFIOTI, Heleieth I. B. Gênero, patriarcado e violência. Editora Perseu Abramo, 2004, p. 19
93

Para Freud, e hoje para muitos de seus seguidores, os relatos das mulheres, que
frequentavam seu consultório, sobre abusos sexuais contra elas perpetrados
por seus pais eram fantasias derivadas do desejo de serem possuídas por
eles, destronando, assim, suas mães. [...] Contudo, o escrito de Freud
transformou-se em bíblia e a criança perdeu a credibilidade.

A violência é presente desde o momento do nascimento, sendo, que a figura


materna já exerce uma forma de pequeno poder contra a criança: impondo seus
desejos em detrimento aos da criança, na chantagem emocional, na coerção
psicológica187. Esta conduta, entretanto, pode ser entendida já como uma forma de
educação para a manutenção da dominação, ensinando as condutas socialmente
aceitas e sancionadas por determinada estrutura social.

A recusa na manutenção do status quo enseja numa reação, muitas vezes


violenta por parte dos responsáveis por ensiná-la aos recém-chegados ao mundo: a
família. A violência é uma das principais formas de se perpetuar a dominação; os
costumes são instituídos pela sagrada tradição.
Em seus estudos, Saffioti188 afirma que um considerável número de mães
acaba por sacrificar em demasia os seus filhos, na intenção de “compensar suas
frustrações, derivadas de sua condição de subordinada ao chefe de família”.
Entretanto, a Plan International Brasil189 faz um alerta:

Na fase da infância, em 82% dos casos os agressores contra meninas foram os pais,
sendo mãe com a maior concentração (42,4%) do que o pai (29,4%). Mas,
para avaliar esse dado é preciso considerar que a função do cuidado e da
criação é tributada historicamente às mulheres, que acabam convivendo mais
tempo com as crianças, sobretudo nas famílias monoparentais, em sua
maioria formada pelo sexo feminino. Portanto, a mãe aparecer com um
percentual mais elevado precisa ser ponderado a partir dessa constatação

A legislação, contudo, parece não corroborar o anseio pela tradição,


demonstrando, a priori, uma vontade de quebra de paradigmas, ao colocar família e
sociedade como corresponsáveis no combate à violência contra crianças e
adolescentes e garantir sua participação nos processos sociais. Ainda que constante

187
AZEVEDO, Maria Amélia ; GUERRA, Viviane Nogueira de Azevedo (Org.). Crianças vitimizadas : a
síndrome do pequeno poder. São Paulo: Iglu Editora Ltda, 1989, p. 56.
188
Ibidem, p. 56.
189
PLAN INTERNATIONAL BRASIL. As meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável –
uma análise da situação das meninas no Brasil. 2017. Disponível em: < https://plan.org.br/as-meninas-
e-os-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel/>. Acesso em: 01.06.2021.
94

na lei, a mudança nos costumes ainda se faz necessária, por serem eles os
responsáveis pela perpetuação da tradição, como destaca Smanio190: “a violência é
muitas vezes um comportamento aprendido”.
A violência de gênero se apresenta não somente contra mulheres, mas
também contra crianças e adolescentes de ambos os sexos. O comportamento
dominante se apresenta não só como adultocêntrico, como androcêntrico, ou seja,
seu foco está na perspectiva do homem adulto. No exercício de seu poder patriarcal,
o homem recebe uma forma de autorização social para corrigir eventuais “desvios”
por meio da violência191, ou seja, a violência é o instrumento para a perpetuação do
poder (dominação-exploração). A antropóloga Rita Segato, em seus estudos sobre
violência de gênero na América Latina192, sintetiza a importância do combate e
prevenção à violência de gênero da seguinte maneira:

Es necesario que éstos perciban claramente que erradicar la violencia de


género es inseparable de la reforma misma de los afectos constitutivos de las
relaciones de género tal como las conocemos y en su aspecto percibido como
“normal”. Y esto, infelizmente, no puede modificarse por decreto, con un golpe
de tinta, suscribiendo el contrato de la ley.

É por meio da educação que a cultura é repassada e aprendida pela nova


geração. Cientes dessa fórmula, os autores do PL 6.998/2013 consideraram a
educação infantil como de primordial importância para a redução das desigualdades.

3.1.1. O DIREITO DE PARTICIPAR: LINGUAGENS PARA A


LIBERDADE

Educação e linguagem tornam-se indispensáveis ao tratar sobre Primeira


Infância. Uma das grandes discussões no PL 6.998/2013 foi a participação da criança
nos processos sociais que a envolvem, com direito à voz, garantindo a elas o status
de cidadã, em acordo com as normativas internacionais já vigentes.

190
SMANIO, Gianpaolo Poggio. Violência doméstica contra crianças e adolescentes, e políticas
públicas – a Lei Menino Bernardo. In: Estudos sobre a violência contra a criança e do adolescente.
(Org.) PIRES, Antonio Cecílio Moreira [et al.]. São Paulo: Libro, 2016, p. 220.
191
SAFFIOTI, Heleieth I.B. Contribuições feministas para o estudo da violência de gênero. In: Cadernos
Pagu, n. 16, 2001, p.p. 115-136.
192
SEGATO, Rita Laura. Las estructuras elementales de la violencia: contrato y status en la etiología
de la violência. Brasília: Universidade de Brasília, 2003, p. 4
95

O Projeto abordou a importância do investimento em educação nos primeiros


anos de vida, como forma de se evitar gastos demasiados do Estado com educação
corretiva193, além de corresponder ao período mais importante de aprendizado sobre
os fundamentos da sociabilidade: partilha, compromisso, comunicação e colaboração.
No âmbito da comunicação reside um dos grandes pilares para o proposto no Projeto.
Para se garantir que sejam ouvidas, os adultos precisam saber como ouvi-las. O
protagonismo das crianças ocorre por meio de metodologias que busquem as
singularidades infantis, com novos olhares sobre sua percepção de mundo, utilizando
novos instrumentos, conceitos, afetos e ferramentas teóricas para atingi-las.
Na Primeira Infância, em especial, a comunicação ocorre majoritariamente de
forma não-verbal, por meio do choro, do contato direto (pele a pele), das birras, das
mordidas; as sensações são uma das principais formas de experiência e expressões
encontradas pelas crianças para se comunicar, significar suas vivências e formar sua
subjetividade194. Essas linguagens estão inseridas na educação. Para tanto, se faz
necessária outra perspectiva na oitiva das crianças, com pedagogias
descolonizadoras, ou seja, que vão de encontro ao “apagamento das diferenças que
justifiquem as desigualdades e legitimem as hierarquias capitalistas”195.
Uma das mais fortes formas de opressão da lógica adultocêntrica é a
hierarquização das relações, que menospreza e silencia as linguagens infantis,
colonizando as crianças com uma linguagem pré-estabelecida, dentro da lógica
adulta, com seus significados e cultura definida.
Resgatando o entendimento de Foucault, que afirma que “toda relação
humana é, até certo ponto, uma relação de poder”196 – nessa relação, não se trata do
poder rígido, mas micropolítico – o protagonismo da criança é excluído da busca por
um modelo de cidadão, resultando em perdas:

Essa forma de percepção da infância permite olhar os meninos


pequenininhos e as meninas pequenininhas como sujeitos que criam e
recriam as relações sociais, nos permitindo visibilizar a potencialidade de
criação das crianças, o que elas têm em comum e o que as fazem singulares

193
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projeto de Lei nº 6.998, de 2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_autores?idProposicao=604836>. Acesso em:
30.04.2021.
194
SANTIAGO, Flávio; FARIA, Ana Lúcia Goulart de. Para além do adultocentrismo: uma outra
formação docente descolonizadora é preciso. In: Educação e Fronteiras On-line, v. 5, n. 13, jan – abr
2015, p. 78.
195
Idem, p. 79.
196
Ibidem, p. 77.
96

entre si, expondo as suas relações com o mundo, bem como os processos
de negociação, reinvenções, resistências criadas entre si e nas relações com
os/as adultos/as, explicitando os movimentos de construção das culturas
infantis, descolonizando a visão adultocêntrica que carregam sobre si. 197

Este protagonismo, no entanto, não quer dizer uma autonomia absoluta da


criança nos processos de participação, nem a consideração de suas ações
dissociadas das relações sociais de poder e dominação198.
O PL nº 6.998/2013 apresentou como objetivo a consideração da Primeira
Infância no ECA e nas políticas públicas, para a melhor conexão entre este período
de desenvolvimento humano e a legislação199. Nota-se, também, uma concepção
adultocêntrica dos parlamentares, ainda que imbuídos de um animus de inclusão.
Apesar de considerarem a Primeira Infância como primordial e buscarem formas de
participação social para essas crianças, os parlamentares mantiveram o foco na
importância que a base sólida da infância pode proporcionar na fase adulta. Apesar
disso, o Marco Legal da Primeira Infância foi um símbolo importante na visibilidade
infantil, como afirmam Andreucci e Junqueira200:

[...] o conceito de criança está em franco desenvolvimento, e o Brasil, de


maneira inédita na América Latina, trouxe para o Marco Legal da Primeira
Infância a importância da abordagem participativa e do direito à voz, como
direitos humanos fundamentais e que já passam a nortear dogmaticamente o
ordenamento jurídico bem como passa a nortear a produção efetiva de
políticas públicas a partir das escutas infantis.

Ao participarem dos processos de elaboração das políticas públicas – como


na Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, ocorrida em 2016
- as crianças devem se entender como sujeitos, atuantes e pertencentes àquela
sociedade, internalizando estes conceitos desde a Primeira Infância201.

197
SANTIAGO, Flávio; FARIA, Ana Lúcia Goulart de. Para além do adultocentrismo: uma outra
formação docente descolonizadora é preciso. In: Educação e Fronteiras On-line, v. 5, n. 13, jan – abr
2015. p. 79.
198
MARCHI, Rita de Cássia. Gênero, infância e relações de poder: interrogações epistemológicas. In:
Cadernos Pagu, n. 37, 2011, p.p. 387-406
199
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projeto de Lei nº 6.998, de 2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_autores?idProposicao=604836>. Acesso em:
30.04.2021.
200
ANDREUCCI, Ana Claudia Pompeu Torezan; JUNQUEIRA, Michelle Asato. Crianças visíveis e
direito à voz como direito humano fundamental: contributos jurídico-sociais do marco legal da primeira
infância para o desenho de políticas públicas participativas no Brasil. In: Cadernos de Dereito Actual,
n. 7, 2017, p. 302.
201
Ibidem, p. 300.
97

O próprio PL nº 6.998/2013 apresentou, em sua justificativa, que “a criança se


insere numa cultura, dela absorve valores e também constrói cultura. Não apenas a
cultura da infância, mas a cultura humana que inclui a infância”202. A cultura patriarcal
sobrecarrega – e invisibiliza - as mulheres com os deveres de cuidado e proteção203,
além de não reconhecer o trabalho desenvolvido por elas, como visto na seção
anterior.
A análise do relatório “Meninas e os Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável demonstrou que, dentre outros aspectos, apesar de haver similaridade no
acesso à educação no ensino básico e a maioria feminina no ensino superior, as
mulheres ainda não atingem os cargos de liderança ou têm seu trabalho científico
reconhecido. Então, um dos olhares diagnósticos pode residir na necessidade de
mudança da cultura social. Sendo a cultura humana interiorizada desde o início da
vida, a mudança da estrutura precisa ocorrer desde o início da Primeira Infância.
Sem a quebra de paradigmas – ou da tradição - e mudança de costumes, a
lei não é concretizada. As políticas são pensadas separadamente para crianças e para
mulheres, mas sem a interseccionalidade entre ambas. As normativas para mulheres
têm o caráter “adultocêntrico” 204, não considerando as especificidades pertinentes às
meninas, enquanto àquelas voltadas para as crianças não consideram as diferenças
de acesso à direitos, ocasionadas em razão do gênero.
Um dos caminhos para se atingir a igualdade de gênero desde a Primeira
Infância seria o investimento nos ODS. Ainda que elaborados em 2015, os ODS
também são vistos como melhor engajamento para a recuperação da crise mundial
gerada pela pandemia da Covid-19.
Em evento virtual, realizado em julho de 2020, o Observatório do Futuro, do
Tribunal de Contas do Estado de São Paulo reuniu especialistas, membros do
Observatório, a vice-presidente o TCE-SP e representantes do Governo do Estado de
São Paulo para a implementação da Agenda 2030 e da Frente Nacional de Prefeitos

202
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projeto de Lei nº 6.998, de 2013. 2013. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_autores?idProposicao=604836>. Acesso em:
30.04.2021.
203
Idem.
204
PLAN INTERNATIONAL BRASIL. As meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável –
uma análise da situação das meninas no Brasil. 2017. Disponível em: < https://plan.org.br/as-meninas-
e-os-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel/>. Acesso em: 01.06.2021.
98

para debaterem o tema205. A pandemia agravou os problemas já considerados em


2015, tornando o fomento das ODS um caminho urgente: não há efetividade em
medidas de higiene, quando a população nem sequer tem acesso adequado à água
e ao saneamento; a viabilidade do distanciamento social só é possível em condições
adequadas de moradia, como exemplos. Algumas metas ficaram mais distantes de
serem alcançadas a curto prazo, de acordo com os especialistas, reforçando a
importância da implementação da Agenda 2030.
No mesmo sentido, as metas estabelecidas pelos ODS para o alcance da
igualdade de gênero e para o acesso universal do direito à educação se mostram
como bom direcionamento para a concretização dos direitos humanos da criança.

205
PARA ESPECIALISTAS, PANDEMIA AUMENTA A IMPORTÂNCIA DOS ODS. 2020. Disponível
em: https://www.tce.sp.gov.br/observatorio/para-especialistas-pandemia-aumenta-importancia-ods.
Acesso em 01.06.2021.
99

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposição do PL nº 6.998/2013 trouxe aspectos multidisciplinares para as


discussões sobre a Primeira Infância sob a perspectiva dos direitos humanos, da
neurociência, da psicologia, da pedagogia, da sociologia, reconhecendo a
necessidade do olhar específico para ele. Uma das principais justificativas foi a
possibilidade de prevenção de problemas futuros – e da redução do orçamento do
Estado – com o investimento no desenvolvimento infantil adequado desde a
concepção, com a promoção de políticas de saúde e assistência para as gestantes.
O Projeto menciona, ainda, que as desigualdades encontradas na Primeira
Infância - que comprometem o pleno desenvolvimento humano – dificilmente serão
sanadas na vida adulta. Assim como as desigualdades socioeconômicas, as
desigualdades de gênero devem ser consideradas desde a primeira fase da vida.
Assim, foi possível constatar nas discussões que, embora os representantes
do povo brasileiro compreendam as peculiaridades da infância e os direitos a ela
atribuídos, a redação do final do texto normativo não se preocupou em elaborar
diretrizes que, de fato, considerassem essas especificidades. O adultocentrismo é
presente em vários aspectos sociais.
Discutiu-se a necessidade da presença paterna nos primeiros anos de vida do
filho, mas pouquíssimas foram as diretrizes e alterações normativas para garantir esta
presença. As propostas recentes sobre o tema tratam da importância do papel paterno
na gestação e nos primeiros anos de vida das crianças, reconhecendo a necessidade
de ampliação da licença-paternidade no Brasil. De forma inovadora, em 2021,
parlamentares propuseram o Estatuto da Parentalidade, buscando maior igualdade
entre pais, mães e responsáveis nos primeiros meses da criança/adolescente na nova
família. Entretanto, o viés adultocêntrico é latente neste Projeto, pois só considerou
os direitos das mulheres e a divisão sexual do trabalho em sua proposição; as crianças
– em especial, a Primeira Infância – não foram consideradas em nenhum momento,
nem suas particularidades ou a importância' da convivência parental nos primeiros
meses de vida. Também desconsidera as especificidades de crianças e adolescentes,
colocando-as no mesmo patamar de igualdade – como apenas uma categoria social.
As estruturas patriarcais da sociedade também foram consideradas no PL nº
6.998/2013, mas foi recusada a abordagem de gênero na elaboração da nova lei. Nem
sequer se discutiu gênero neste projeto, que tramitou por três anos na Câmara dos
100

Deputados, abrangendo duas bancadas diversas. Da mesma forma, não foi


considerada a importância da discussão sobre as desigualdades de gênero na
infância como fator relevante para a igualdade de acesso a direitos, mas se
reconheceu desde o início que o melhor investimento para o Estado é na Primeira
Infância.
A análise do relatório Meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
– Uma análise da situação das meninas no Brasil foi primordial para se confirmar a
“tentativa de supressão da categoria gênero de alguns textos legais, como a Base
Nacional Comum Curricular e o projeto de lei Escola Sem Partido”206, analisados neste
trabalho, não sendo encontrada sequer uma menção às palavras gênero ou
diversidade na BNCC.
Gênero também não foi relevante nas discussões do PL nº 6.998/2013.
Seguindo o pensamento levantado pelos parlamentares naquele momento – que teve
contribuição relevante do movimento Escola Sem Partido em relação às discussões
de gênero - este termo foi abolido da maioria das redes oficiais do Governo Federal,
assim como das políticas públicas elaboradas pelo Executivo nacional. Se o termo foi
abolido, como as desigualdades serão reconhecidas?
Da mesma forma, o protagonismo da criança também não foi considerado na
redação final. Não basta a mera menção de direitos ou simples mudança normativa,
se não se preocupa em mudar os costumes sociais; não basta reconhecer as
estruturas patriarcais e o adultocentrismo que permeia as relações sociais, enquanto
as normativas e diretrizes para a educação não abordam estes temas; enquanto
persistem em existir – mesmo com orientações da ONU sobre riscos democráticos e
de violação de direitos humanos – movimentos como o Escola Sem Partido, que não
permite que se avance nas discussões sobre igualdade nas escolas. A educação é
um dos primeiros mecanismos para a mudança – ou perpetuação – da tradição.
No decorrer da pesquisa, restou claro que as meninas conseguem acessar a
educação em proporções similares aos meninos. Quando no ensino superior, as
mulheres ocupam mais vagas e possuem maior índice de produção científica que os
homens. Por que, então, não conseguem acessar os cargos de liderança, terem seus
trabalhos reconhecidos, ou possuírem maior representatividade política?

206
PLAN INTERNATIONAL BRASIL. As meninas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável –
uma análise da situação das meninas no Brasil. 2017. Disponível em: < https://plan.org.br/as-meninas-
e-os-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel/>. Acesso em: 01.06.2021
101

As respostas podem ser encontradas na força da cultura de dominação-


exploração que ainda é tão presente na sociedade. Rita de Cássia Marchi 207 afirmou
que “a construção social do corpo da mulher (sua constituição física), por si só,
inviabilizava sua entrada no mundo dos negócios e da política”. No decorrer do
trabalho, foi possível observar que esta construção ainda prevalece na sociedade
brasileira.
As advogadas do estudo de Patricia Bertolin, ao invés de servirem como
exemplo, reproduzem a estrutura dominante, da mesma forma com que os membros
da Frente Parlamentar pela Primeira Infância também reproduzem a estrutura
patriarcal e adultocêntrica. Assim como na história da Rainha de Gelo, os cacos da
cultura patriarcal penetram não só os olhos daqueles responsáveis pelos rumos da
sociedade - recriando uma realidade distorcida - mas em seu coração, aprisionando-
os numa cultura milenar que não mais encontra espaço nas sociedades
desenvolvidas.
No Brasil, como se observou, gênero não importa para aqueles e aquelas que
ocupam cargos de liderança. O Marco Legal da Primeira Infância, embora seja uma
normativa de caráter inédito no país, apresenta falhas em sua estrutura e, por
consequência, em seu alcance, fazendo com que, nos debates acerca da Primeira
Infância, as desigualdades de gênero ficassem apartadas na elaboração das políticas
públicas.

207
MARCHI, Rita de Cássia. Gênero, infância e relações de poder: interrogações epistemológicas. In:
Caderno Pagu, n. 37, jul-dec 2011, p. 309.
102

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