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Faculdade Pitágoras Uberlândia

Sistemas Estruturais II

3 Dimensionamento da estrutura de um telhado (parte I)

3.1 Funções da cobertura

Segundo (FLACH, 2012) o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São


Paulo define a cobertura como parte superior da edificação que a protege das
intempéries acrescenta à cobertura a função de isolante térmico e acústico da
edificação, visando o conforto do usuário, além das citar as funções estéticas e
econômicas. “A cobertura deverá apresentar propriedades isolantes, principalmente
de isolamento térmico, para que possa ser atingido o máximo de comodidade e
conforto no interior dos edifícios.”. O autor também cita a função estética em
prédios de menor altura, sendo a cobertura incorporada à arquitetura, ocupando um
lugar de destaque.

3.2 Definições
a) cobertura: sistema de fechamento superior da edificação;

b) telhado: elemento constituído por um conjunto de telhas de materiais diversos


(cerâmica, fibrocimento, concreto, aço, metálica, cobre, vidro, etc.), estrutura de
suporte e peças complementares;

c) laje de cobertura: laje impermeabilizada com declividade menor ou igual a 5%


responsável pelo fechamento superior da edificação;

d) terraço: cobertura de ambientes habitáveis que disponibiliza sua área, em parte ou


em todo, por meio de acesso, para desenvolvimento de atividades;

e) cascas: elementos contínuos e curvos, podendo ser composta de domos e cúpulas;

f) cobertura com membrana: coberturas leves que utilizam membranas plásticas


tensionadas com ou sem estrutura de suporte.

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Utilizam-se as seguintes definições para as partes constituintes de uma estrutura de


telhado.

a) estrutura principal ou de apoio: constituída geralmente por tesouras, oitões,


pontaletes, vigas ou lajes, tendo a função de receber e distribuir adequadamente as
cargas do telhado ao restante do edifício;

b) estrutura secundária ou trama: constituída geralmente por terças, caibros e ripas,


tendo como função a sustentação das telhas;

c) estrutura do telhado: conjunto formado pelas estruturas principal e secundária. A


terminologia adotada quanto aos elementos da cobertura de telhado estão na Figura
1 a seguir, devendo-se destacar que também é utilizada a denominação oitão para
empena.

Figura 1 - Designações dos elementos da cobertura de telhado

Fonte: (FLACH, 2012)

Quanto à forma os telhados podem ser classificados como:

a) Simples ou de uma água: estas coberturas possuem um só pendente, ou


vertente (água), que cobre uma pequena área edificada, ou estendendo-se
para proteger entradas (alpendre), formando um plano inclinado, que
encaminha a água para uma das fachadas. Neste tipo de cobertura existem
empenas;

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b) Cobertura de duas águas: esta cobertura inclinada é composta por duas


superfícies planas, com declividades iguais ou distintas, unidas por uma linha
central denominada cumeeira ou distanciadas por uma elevação (tipo
americano);
c) Cobertura de quatro águas: cobertura inclinada de quatro águas é
caracterizada por coberturas de edificações quadriláteras, de formas regulares
ou irregulares, cujas vertentes se intersectam definindo uma cumeeira e quatro
rincões;
d) Múltiplas águas: nestas coberturas as plantas são determinadas por
superfícies poligonais quaisquer, onde a determinação do número de águas é
definida pelo processo do triângulo auxiliar;
e) Pavilhão: a cobertura do tipo pavilhão é uma forma particular da cobertura de
quatro águas, em que as vertentes se intersectam definindo apenas quatro
rincões que concorrem num ponto. Designa-se geralmente por pavilhão a
cobertura de quatro águas constituída por quatro vertentes iguais,
correspondente a uma planta quadrada.

Na Figura 2 adiante, pode observar as principais configurações dos telhados de uma


e duas águas, que geralmente são soluções mais adotadas, pois necessitam de
estruturas de apoio mais simples, do ponto de vista construtivo e de projeto.

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Figura 2 - Formas de telhados em vista e em planta

Fonte: (FLACH, 2012)

3.3 Estrutura Descontínua de Madeira Serrada


A estrutura de telhado tradicional utilizada no Brasil tem sua origem nos telhado de
telhas cerâmicas portuguesas. Esta estrutura descontinua de madeira serrada é
formada pela estrutura principal – tesouras – e pela estrutura secundária constituída
por ripas, caibros e terças, Figura 3 a seguir.

No caso de uso de telhas de maior dimensão, como as de fibrocimento os caibros e


ripas são dispensados, exemplificado na Figura 4 a seguir. As figuras 3 e 4 ilustram
bem os telhados mais tradicionais utilizando estruturas de madeira serrada, mas
possuem um erro construtivo. Por se tratar de uma tesoura, as terças devem ser
apoiadas diretamente nos nós da estrutura principal, o que não ocorre nas Figuras.

A execução desta estrutura é normalmente realizada por um carpinteiro ou por uma


equipe de carpinteiros que a monta de forma artesanal a partir de peças de madeira
serrada de comprimento padrão. Nenhum tipo de pré-fabricação é utilizada e muitas
vezes nem o projeto da estrutura foi feito por um profissional habilitado, sendo a
construção da estrutura do telhado totalmente dependente do conhecimento do

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executor. Em contrapartida, este método construtivo possibilita grande flexibilidade


perante modificações a serem realizadas no canteiro de obras.

Figura 3 - Madeiramento tradicional para telhas cerâmicas

Fonte: (FLACH, 2012)

Figura 4 - Madeiramento para telhas de fibrocimento e metálicas

Fonte: (FLACH, 2012)

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3.4 Ações nos telhados


Para o cálculo de uma tesoura qualquer, devemos considerar duas espécies de
cargas: carga permanente e carga acidental. Como o nome já indica, a carga
permanente consta do peso próprio da tesoura, do peso da armação e do peso da
cobertura. Se houver forro, o peso deste deve ser calculado e incluído nesta carga. A
carga acidental é constituída da pressão do vento, do peso de operários sobre o
telhado e, também, conforme o lugar, do peso da neve.

3.5 Cálculos das tesouras


Calcula-se uma tesoura, determinando-se antes, analítica ou gràficamente, os
esforços aos quais se acham submetidas às diversas barras ou peças que compõem
essa estrutura, para depois proceder-se ao cálculo propriamente dito, isto é, ao
dimensionamento das peças, pela determinação das suas secções transversais.

O procedimento para o cálculo de uma tesoura compreende:

a) Determinação da carga em cada nó, valendo-se do conhecimento prévio das


cargas, permanentes ou acidentais;
b) Determinação das reações nos apoios;
c) Determinação das forças internas de compressão e tração desenvolvidas em
cada peça ou barra;
d) Dimensionamento, de acordo com os esforços a que se acham submetidas às
barras e trabalho unitário admissível para o material a ser empregado na
construção da tesoura.

3.5 1 Exemplo de cálculo

Dimensionar a tesoura para um galpão com as seguintes descrições abaixo:

O galpão localiza-se em Uberlândia – MG, terreno plano, categoria III e Classe B e é


usado como depósito.

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Sendo:

• Inclinação do telhado = 20°;


• Madeira: Ipê
• 11 tesouras espaçadas de 3 m cada como ilustra a figura a seguir:

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• Tesoura esquematizada a seguir:

• Peso próprio = 0,4 KN/m²

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• Sobrecarga = 1,5 KN/m²


• Vento = a calcular

1º Passo: Calcular os esforços provocados pela ação do vento

V0 = 33,5m / s ; S1 = 1,0 ; S 2  0,92 ; S 3 = 0,95

Vk = 33,5  1,0  0,92  0,95 = 29,28m / s


q = 0,613Vk
2

q = 0,613 (29,28) 2 = 525,5 N / m² → 0,5255KN / m²

Coeficientes internos:

✓ Duas faces opostas igualmente permeáveis; as outras duas impermeáveis:

-Vento perpendicular a uma face permeável Cpi= +0,2

- Vento perpendicular a uma face impermeável Cpi= -0,3

Coeficientes externos: Tabela 5

h 7 1
= → 1º Caso
b 16 2

Para  = 20 temos:

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Definição dos comprimentos EG, FH, IJ:

b 16
x= = = 5,33m
3 3
a 30
x= = = 7,5m
4 4
 x = 7,5m

Combinação: Cpe – Cpi

• Para vento a 90º

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C pe − C pi → (−0,4) − (−0,3) = −0,1

• Para vento a 0º

C pe − C pi → (−0,7) − (0,2) = −0,9


C pe − C pi → (−0,6) − (0,2) = −0,8
C pe − C pi → (−0,19) − (0,2) = −0,39

Coeficiente críticos = -0,9 e -0,1

Fvento = (C PE − C PI )  q  A
Fvento 90 = (−0,1)  0,5255 A → Fvento 90 = −0,05255 A
Fvento 0 = (−0,9)  0,5255 A → Fvento 0 = −0,47295 A

Área de influência da terça mais carregada.

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Fvento 90 = −0,05255 A


Fvento 90 = −0,05255 (1,58) → Fvento 90 = −0,083KN / m
Fvento 0 = −0,47295 A
Fvento 0 = −0,47295 (1,58) → Fvento 0 = −0,747KN / m

2º Passo: Calcular os esforços provocados pelo peso próprio

• Peso próprio = 0,4 KN/m²

Assim temos que a forças de influência do peso próprio são:

FP.P = PP  Ainf luência

FP.P = 0,4  (1,58) → FP.P = 0,632KN / m²

3º Passo: Calcular os esforços provocados pela sobrecarga

• Sobrecarga = 1,5 KN/m²

Assim temos que a forças de influência da sobrecarga são:

FSOBRECARGA = SOBRECARGA  Ainf luência

FSOBRECARGA = 1,5  (1,58) → FSOBRECARGA = 2,37KN / m

4º Passo: Combinar as ações do vento, 90 e 0°, com ações do peso próprio e


sobrecarga.

P/ Vento 90° temos:

Fd ,90 = ( Fg  1,4) + ( Fq  1,4)

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Fd ,90 = (0,632 1,4) + (2,37 − 0,083) 1,4 → Fd ,90 = 4,09KN / m

Fd ,0 = (0,632 1,4) + (2,37 − 0,747) 1,4 → Fd ,0 = 3,16KN / m

Assim temos que o carregamento crítico é Fd ,90 = 4,09 KN / m

Inserindo o carregamento crítico no Ftool temos que a terça é uma viga apoiada em
11 treliças (apoios fixos)

Diagrama de Momento Fletor (KN.m)

Diagrama de Esforço Cortante (KN)

Referências Bibliográficas
ARAGÃO, M. L. (12 de Setembro de 2013). Forças devidas ao vento em edificações.
Acesso em 10 de Fevereiro de 2017, disponível em Transportes Ime:
http://transportes.ime.eb.br/~moniz/metalica/estruturas_metalicas_2013_3.pdf

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CHAMBERLAIN, Z. (10 de Fevereiro de 2017). UPF. Acesso em 10 de Fevereiro de


2017, disponível em Ações do vento: http://usuarios.upf.br/~zacarias/acoes_vento.pdf

FLACH, R. S. (08 de Abril de 2012). DECIV/UFRGS. Acesso em 20 de Fevereiro de


2017, disponível em Análises de estruturas para telhados:
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/65439/000864069.pdf

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