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Unidade II
5 ANTI-HIPERTENSIVOS
A hipertensão é uma das doenças cardiovasculares mais frequentes em todo o mundo. De acordo
com a 7ª diretriz brasileira de hipertensão arterial (2016), atinge cerca de 36 milhões de brasileiros,
contribuindo de maneira direta ou indireta para 50% das mortes provocadas por doença cardiovascular
e produzindo grande impacto na perda de produtividade do trabalho e da renda familiar. É geralmente
definida como elevação e sustentação da pressão arterial sistólica e diastólica a níveis acima de
140/90 mmHg, sendo causada por inúmeros fatores. Os níveis de pressão arterial ocorrem em função
da quantidade de sangue bombeado pelo coração e a resistência produzida nos vasos sanguíneos
periféricos; em outras palavras, consistem na tensão gerada quando o sangue é bombeado e empurrado
contra a parede das artérias.
Diversas alterações estruturais e funcionais de órgãos como coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos
ou variações metabólicas que interferem nos níveis hormonais podem afetar o volume sanguíneo e
produzir estado hipertensivo em humanos. A pressão arterial pode ser agravada por diversos outros
fatores de risco, como obesidade abdominal, dislipidemia e diabetes melito, sendo geralmente associada
a infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca, doença renal crônica e acidente vascular encefálico.
A pressão arterial sanguínea é regulada por diversos fatores fisiológicos, como: frequência cardíaca,
resistência vascular periférica, elasticidade dos vasos, volume e viscosidade sanguínea. Muitas substâncias
endógenas apresentam papel importante na regulação da pressão arterial. O sistema vascular periférico
é bastante influenciado pelo balanço simpático/parassimpático do sistema nervoso autônomo, que é
originado no sistema nervoso central. O aumento da atividade adrenérgica é o principal fator para
hipertensão arterial primária.
Existem dois tipos de hipertensão arterial: o mais comum, com cerca de 90% dos casos, é a
hipertensão primária, cuja causa ainda não pode ser determinada, mas há também a hipertensão
secundária, em que a causa pode ser identificada, sendo proveniente, por exemplo, de doenças renais
(hipertensão renal).
Atualmente existe uma grande variedade de classes farmacológicas disponíveis para o tratamento
da hipertensão arterial. Veremos algumas delas a seguir:
• Diuréticos.
• β-bloqueadores.
5.1 β-bloqueadores
• ação no sistema nervoso central na diminuição da atividade geral do sistema nervoso simpático.
Esses fármacos podem ser classificados de acordo com sua seletividade aos receptores em
β-bloqueadores não seletivos (bloqueiam receptores β1 e β2 de 1ª geração, por exemplo: propranolol,
timolol etc.); β1-bloqueadores seletivos (bloqueadores cardiosseletivos de 2ª geração, como: acebutolol,
atenolol, entre outros); e os β-bloqueadores não seletivos com atividade α1 agonista (3ª geração, como:
labetalol e carvedilol).
e efeitos centrais (tontura e sedação), principalmente para os betabloqueadores mais lipofílicos, frieza
nas extremidades, entre outros.
HO
Figura 90
O NH2 O NH
H OH H OH
Cadeia Propanolol
ariloxipopanolamina
Figura 91
• A amina deve ser secundária, pois é essencial para formação de ligação iônica no sítio receptor.
A utilização de amina terciária promove perda da atividade.
81
Unidade II
• Substituintes mais volumosos que isopropil ou t-butil ligados à amina promovem diminuição da
atividade, exceto quando se utiliza a extensão deles com sistema hidrofóbico aromático (feniletil,
hidroxifeniletil etc.), que promove aumento da atividade.
• A substituição do átomo de oxigênio (éter) da cadeia lateral dos betabloqueadores por outros
átomos ou grupos (S, CH2 etc.) promove diminuição da atividade betabloqueadora.
N N
O H O H
H OH H OH
O HO
HO
Oxprenolol Nadolol
N
H N
O O H
H OH O
H OH
N
N
N N S
H
Pindolol Timolol
Figura 92
82
QUÍMICA FARMACÊUTICA
+ +
O N O N
H2 H2
OH O OH
N
CH3 H3C H
HN
O
H H
x x
p-substituição m-substituição
Ligação de hidrogênio extra
O N N
O O
H H
H OH H OH
NH NH2
Acebutolol
Atenolol
O O
O N O N
H H
H OH H OH
Betaxolol
Metoprolol
O O
Figura 94
Observação
83
Unidade II
Para tal finalidade, devem ser utilizados compostos mais hidrofílicos como o esmolol, que é um
betabloqueador de curta duração com rápido início de ação. Ele é administrado por injeção intravenosa
lenta durante procedimentos cirúrgicos a fim de tratar qualquer taquicardia que ocorra.
O N
H
H OH
O
Esmolol
Figura 95
O
O N
H
H OH
O
N Carvedilol
H
Figura 96
5.2 Diuréticos
Os diuréticos são fármacos que promovem aumento do volume e fluxo urinário. O uso deles também
aumenta a taxa de excreção de eletrólitos e água sem afetar a reabsorção de proteínas, vitaminas,
glicose ou aminoácidos.
Eles reduzem o volume de fluido extracelular, diminuindo edemas por decréscimo dos níveis de íons
Na Cl-, que é o principal determinante de volume dos fluidos extracelulares.
+
Embora o uso contínuo de diurético promova perda líquida de eletrólitos, o tempo decorrido para tal efeito
é limitado por mecanismos compensatórios, incluindo a ativação da via renina‑angiotensina‑aldosterona
e o sistema nervoso simpático.
84
QUÍMICA FARMACÊUTICA
Quando o sangue é filtrado no glomérulo, o fluido que entra no túbulo proximal dará origem à
urina. Na medida em que o fluido passa pelo túbulo, os solutos (Na+, K+ e Cl-) são removidos do líquido
e devolvidos ao sangue (reabsorção).
Os diuréticos inibem a reabsorção desses íons (alteram o balanço eletrolítico), reduzindo a quantidade
de água nos fluidos corporais. Eles podem exercer efeito através de diferentes mecanismos, modificando
o conteúdo do filtrado (ação indireta) ou através de ação sobre células do néfron (ação direta).
Os diuréticos podem ser classificados de acordo com seu mecanismo de ação em: inibidores da
anidrase carbônica, diuréticos osmóticos, diuréticos de alça, tiazídicos e diuréticos poupadores de
potássio inibidores de canal de sódio, antagonistas de aldosterona (mineralocorticoides).
5.2.1 Tiazídicos
Os tiazídicos promovem efeito através da inibição do transporte ativo de Na+ e Cl- na membrana
luminal das células epiteliais do túbulo distal contorcido, impulsionado pela bomba de Na+/K+ ATPase na
membrana basolateral.
Eles também são chamados de benzotiadiazidas. Os tiazídicos são derivados das sulfonamidas, que
apresentam em sua estrutura o núcleo 1,1-dióxido-benzotiadiazínico, representado a seguir:
5
N
6 4 3
7 NH
S 2
8
O 1 O
Figura 97
Esses compostos são ácidos fracos. O hidrogênio em N-2 é o mais ácido devido ao efeito retirador de
elétrons do grupo sulfonas vizinho.
A sulfonamida em C-7 introduz ponto adicional de acidez na molécula, mas é menos ácida do que
o próton em N-2. Esse grupo é essencial para a atividade diurética.
Tais prótons ácidos tornam possível a formação de sal sódico hidrossolúvel, que pode ser utilizado
por via endovenosa.
A presença de um grupo retirador de elétron (Cl, F, CF3) na posição-6 é essencial para atividade. Já
a presença de grupo trifluormetil (CF3) não altera potência, mas aumenta a duração de ação devido à
maior hidrofobicidade.
85
Unidade II
A substituição de grupo retirador de elétron (por exemplo, Cl) por algum grupo doador de elétrons
(por exemplo, CH3, OCH3 ) reduz a atividade diurética, que por sua vez é aumentada com a introdução de
grupo lipofílico (haloalquil, arilalquil e tioéter) na posição-3, além de produzir longa duração de ação.
A saturação do anel tiadiazínico gera a obtenção de compostos mais potentes (cerca de 10 vezes
mais ativos).
CI N H
CI N
O O
NH NH
S S S S
H2N O O H2N O O
O O
Clorotiazida Hidroclorotiazida
Potência relativa: 0,8 Potência relativa: 1,4
duração: 6h - 12h duração: 6h - 12h
CI
H
H F3C N
CI N
CI O
O N
NH S S
S S H2N O O
H2N O O O
O
Triclorometazida Hidroflumetazida
Potência relativa: 1,7 Potência relativa: 1,3
duração: 24h duração: 18h - 24h
CI
CI H
N CI N S
CI
O O
N NH
S S S S
H2N O O H2N O O
O O
Meticlotiazida Benztiazida
Potência relativa: 1,8 Potência relativa: 1,3
duração: > 24h duração: 12h - 18h
Figura 98
86
QUÍMICA FARMACÊUTICA
Os diuréticos tiazídicos são administrados uma vez ao dia ou em doses diárias divididas. Vários dos
compostos são rapidamente absorvidos via oral, podendo produzir efeito em até uma hora.
São derivados das sulfonamidas, estruturalmente diferentes dos tiazídicos por não apresentarem
anel tiadiazínico. Promovem ação pelo mesmo mecanismo, possuindo atividade terapêutica e reações
adversas similares aos diuréticos tiazídicos.
CI H H
N CI N
O
N O
S NH
H2N S
O H2N
O O
O
Metolazona Quinetazona
duração: 12h - 24h duração: 18h - 24h
CI
HO O
S CI
N
NH2 O
NH O
NH
S
H2N O
O O
Clortalidona Indapamida
duração: 48h - 72h duração: 8 semanas
Figura 99
Os diuréticos de alça apresentam mais similaridades farmacológicas do que estruturais. Eles possuem
pico diurético maior do que os outros diuréticos clinicamente utilizados, por isso são também chamados
de diuréticos de alta potência. Seu principal local de ação é na alça de Henle, onde inibem a bomba Na+/K+
ATPase na membrana basolateral, impedindo a reabsorção ativa de NaCl. Ainda possibilitam efeitos adicionais
aos túbulos distal e proximal.
Eles são caracterizados por rápido início e curta duração de ação: seu efeito diurético inicia em
aproximadamente 30 minutos e permanece por volta de 6 horas. São de 8 a 10 vezes mais potentes do
que os diuréticos tiazídicos e excretam de 15% a 25% do sódio existente no filtrado. O uso prolongado de
tais compostos causa hipocalemia, que pode ser evitada ou tratada através da administração simultânea
de diuréticos poupadores de potássio.
87
Unidade II
H
CI N NH NH
O O
O O
OH H
S O N S
OH H
H2N S N N
O O
O H2N
O O
O
Furosemida Bumetamida Torsemida
Potência relativa: 1,0 Potência relativa: 4,0 Potência relativa: 3,0
duração: 6h - 8h duração: 4h duração: 6h
Figura 100
Os diuréticos osmóticos são compostos de baixo peso molecular, filtrados livremente através da
cápsula de Bowman nos túbulos renais. Possuem alta solubilidade em água, não são reabsorvidos
nem metabolizados.
Sua ação ocorre através de efeito osmótico. Eles são administrados como solução hipertônica.
Esses agentes aumentam a pressão osmótica intraluminal, fazendo a água passar do corpo para
o túbulo. A água associada ao agente osmótico não é reabsorvida, resultando em crescimento do
volume de urina e excreção de água e todos os eletrólitos.
88
QUÍMICA FARMACÊUTICA
Polióis, como manitol, sorbitol e isossorbida, e açúcares, como glicose e sacarose, podem produzir
efeito diurético por esse mecanismo.
OH OH OH
H
HO H H OH
HO H HO H O
H OH H OH
O
H OH H OH
OH OH
H OH
Manitol Sorbitol Isossorbida
Figura 101
A inibição da anidrase carbônica resulta na diminuição da troca entre íons hidrogênio e íons sódio
no túbulo renal. Moléculas de água associadas aos íons Na+ (sódio) e HCO3- (bicarbonato) não são
reabsorvidos, gerando aumento do volume de urina.
Esses compostos produzem efeito diurético por inibição da formação de ácido carbônico nas células
dos túbulos distal e proximal na porção descendente da alça de Henle.
Observação
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Unidade II
O O O O NH2
O S O O
NH S S S S
N S O
N N NH2 N N NH2 N
O
Acetazolamida Metazolamida Etoxzolamida
O
NH2
S
O
H2N
Sulfanilamida
Protótipo
Figura 102
Aldosterona
O
Figura 103
90
QUÍMICA FARMACÊUTICA
Substâncias que antagonizam o efeito da aldosterona podem ser utilizadas como diurético. Tais
compostos são antagonistas de receptores mineralocorticoides.
O S
O
O
Espironolactona Eplerenona
O
Figura 104
A amilorida é outro poupador de potássio que apresenta efeito diurético médio, sendo usualmente
utilizado em combinação com tiazídicos ou diuréticos de alça para compensar o efeito deles, que
resultam na perda de potássio. Trata-se de uma base orgânica fraca que liga-se a regiões aniônicas
presentes no receptor através de ligação iônica.
O NH
CI N
N NH2
H
H2N N NH2
Amilorida
Figura 105
91
Unidade II
Esta classe de agentes anti-hipertensivos produz seus efeitos através da interação com receptores
localizados em canais de cálcio voltagem-dependentes do tipo L que estão localizados na musculatura
esquelética, cardíaca e lisa (ativados por alta voltagem).
O canal L é um complexo pentamérico, que apresenta cinco subunidades polipeptídicas. Na
subunidade α-1 dele estão localizados os receptores para os bloqueadores de canal de cálcio.
Tais fármacos se ligam ao receptor e bloqueiam a passagem de cálcio através do canal. A inibição do fluxo
de cálcio através deles resulta na diminuição da força de contração do músculo cardíaco e vasodilatação.
Como resultado, esses compostos são utilizados no tratamento de hipertensão arterial, angina e arritmias.
Os fármacos usados como bloqueadores de canais de cálcio apresentam estrutura química diversificada
e podem ser classificados como 1,4-di-hidropiridinas (por exemplo, nifedipina), fenilalquilaminas (por
exemplo, verapamil), benzotiazepinas (por exemplo, diltiazem) e éteres diaminopropanol.
H
N O O
O O
CN
O O O N
O2N O
Nicardipino Verapamil
1,4-di-hidropiridna Fenilalquilamina
O
N
O N
S
O
O
N
O
Bepridil
Éter diaminopropanol
Diltiazem
N Benzotiazepina
Figura 106
92
QUÍMICA FARMACÊUTICA
H
R1 N
6 1 2
4
R2 5 3 R3
Estrutura geral
Figura 107
Diversas modificações moleculares foram propostas para determinar quais seriam os requisitos
estruturais ideais para esse grupo de compostos. A partir dos estudos, foram identificados os seguintes
fatores estruturais mais importantes para a atividade deles:
• O anel 1,4-DHP é essencial para atividade. Grupos substituintes em N-1 ou uso de anéis oxidados
ou reduzidos diminuem consideravelmente ou anulam a atividade biológica.
• Fenil na posição-4 do anel 1,4-DHP aumenta a atividade biológica. A substituição por anéis
heteroaromáticos como a piridina promove toxicidade, portanto não são utilizados. A troca por
grupos alquil ou cicloalquil pequenos diminui a atividade biológica.
• Compostos que apresentam grupos substituintes na posição orto ou meta do anel fenil apresentam
atividade ótima, enquanto os compostos não substituídos ou que possuam substituinte na posição
para possuem significante diminuição da atividade. Esses grupos em orto ou meta possibilitam
que os compostos tenham volume e conformação ideal para interação no receptor.
• Grupos ésteres em C-3 e C-5 melhoram a atividade. A substituição por outros grupos atratores de
elétrons (por exemplo, NO2) promove alteração da atividade antagonista para agonista, produzindo
ativadores de canais de cálcio.
H
N Atrator de
elétrons
O
NO2
O N
O
N
Ativador de canal de cálcio
Figura 108
93
Unidade II
Simetria não é um fator essencial para atividade. Estudos demonstram que moléculas assimétricas
apresentam maior seletividade aos receptores (quando os substituintes em C-3 e C-5 são diferentes).
H2N H
O
H N
N
O O
O O
O O
CI
O O
CI
CI
Amlodipino Felodipino
H H
N N
O O O O
O
N
O O O
O O2N
N
Isradipino Nifedipino
H H
N N
O O O O
O O O O
O2N
O2N
Nicardipino Nisoldipino
Figura 109
Os nitratos orgânicos são ésteres de álcoois ou polióis simples com ácido nítrico. Eles são utilizados
para produzir relaxamento do músculo liso vascular e dilatar a artéria coronária. Esses vasodilatadores
reduzem o trabalho cardíaco e restauram o equilíbrio entre o suprimento e a demanda de oxigênio.
Esses compostos são geralmente líquidos voláteis pouco solúveis em água e solúveis em álcool, devido
ao caráter apolar dos nitratos. Tais fármacos são muito eficientes no tratamento emergencial de episódios
de angina devido à natureza lipofílica dos ésteres, fazendo com que sejam rapidamente absorvidos.
94
QUÍMICA FARMACÊUTICA
Os fármacos mais lipofílicos têm maior duração de ação e são mais potentes.
O2N NO2
O2N NO2
O O O O
O
O
O2N NO2 NO2
O O NO
Tetranitrato de eritritila Nitrito de amilo Nitroglicerina
Início de ação: 15 min. Início de ação: 0,25 min. Início de ação: 2 min.
Duração de ação: 150 min. Duração de ação: 1 min. Duração de ação: 30 min.
O2N
O O2N NO2
O O
O
O
O O
O O2N NO2
NO2
Dinitrato de isossorbida Tetranitrato de pentaeritritol
Início de ação: 3 min. Início de ação: 15 min.
Duração de ação: 60 min. Duração de ação: 1 min.
Figura 110
Trata-se de um complexo sistema hormonal que possui papel importante na regulação de volume
sanguíneo, balanço eletrolítico e pressão arterial sanguínea. Ele é composto de duas enzimas principais,
a renina e a enzima conversora de angiotensina (ECA), que tem como papel principal a síntese de
angiotensina II a partir de seu precursor angiotensinogênio. A angiotensina II é um potente vasoconstritor
que afeta a resistência vascular periférica, a função renal e a estrutura cardiovascular. Estimula ainda
a secreção de aldosterona e desempenha papel central no controle da excreção de sódio e volume de
líquido, bem como o tônus vascular.
Os inibidores da ECA foram os primeiros compostos desse grupo a serem utilizados clinicamente
no tratamento da hipertensão. Eles podem ser classificados em três grupos de acordo com suas
características estruturais. Todos esses compostos apresentam efeitos terapêuticos e fisiológicos
similares, diferenciando principalmente em relação à potência e aos parâmetros farmacocinéticos.
95
Unidade II
Foram desenvolvidos a partir da descoberta de que o veneno da jararaca brasileira tinha a presença de
fatores que potencializavam o efeito da bradicinina (potente vasodilatador). Tais fatores foram isolados
e descobriu-se que se tratava de peptídeos formados de 5 a 13 unidades de resíduos de aminoácidos.
A partir de pesquisas utilizando o modelo hipotético do sítio ativo da ECA, pesquisadores observaram
que a interação do substrato ao sítio enzimático envolvia três interações principais. A primeira observação
foi que um resíduo carregado positivamente na enzima serve para formação de ligação iônica com
íons carboxilato presentes no substrato. A segunda diz que um bolso hidrofóbico presente na enzima
possibilita a interação com resíduos aromáticos apolares. Por fim, a terceira afirma que a presença de
íon zinco na enzima serve para estabilizar fragmentos carregados negativamente no substrato e está
diretamente envolvida com o mecanismo de hidrólise do peptídeo em aminoácidos.
Sítio de ligação
de hidrogênio
Zn+
HX ECA
Sítio de ligação
O adicional com
H O R1
cadeias laterais
N
Peptídeo N O
H N
H Sítio de ligação
R3 iônica
R2 O-
H3N+ ECA
*Ligação lábil
Sítio de ligação
adicional com
cadeias laterais
Figura 111
Similar à interação do substrato com a enzima, os fármacos inibidores da ECA envolvem três ou
quatro interações com o sítio de ligação.
96
QUÍMICA FARMACÊUTICA
X = A, B ou C
O
CH2 x
N
n
R
COOH OH
HS CH2 CH N P
H
O
A B C
Figura 112
Após a obtenção de diversos compostos, foi observado que para inibição da ECA os seguintes
requisitos estruturais precisam ser verificados:
• Anel N-heterocíclico deve conter ácido carboxílico para mimetizar o carboxilato dos
substratos da ECA.
• Grupo X para interagir com íon zinco: pode ser sulfidrila (A), ácido carboxílico (B) ou
ácido fosfínico (C).
• A presença de grupo tiol é responsável por alteração de paladar (gosto metálico na boca) e
hipersensibilidade cutânea, porém é o que melhor produz ligação ao zinco. Para compensar
ausência de SH, deve ser utilizado grupo hidrofóbico (fenil, etilfenil etc.) a fim de utilizar regiões
adicionais de interação.
Observação
97
Unidade II
O O O
O O O
P
HS N N
N N O
CH3 H
COOH Fosinopril O COOH
Captopril COOH O
Enalapril
O O O O O O
N N
H N N
H
COOH
Trandolapril COOH
Ramipril
Figura 113
N
N
R1
Grupo
ácido
Estrutura geral dos antagonistas de
angiotensina II
H
N N HO2C
N
Grupos ácidos: CO2H
N
A B C
Figura 114
98
QUÍMICA FARMACÊUTICA
Há aqui a presença de grupo ácido para mimetizar o carboxilato presente na estrutura da angiotensina
II, o qual pode ser fenil ácido carboxílico (A), fenil tetrazol (B) ou fenil carboxilato (C).
Nos compostos bifenílicos, os grupos tetrazol e carboxilato devem estar em posição orto para
ótima atividade. O grupo tetrazol é superior em termos de estabilidade metabólica, lipofilicidade e
biodisponibilidade oral.
O grupo n-butil existente na molécula produz ligação hidrofóbica e mimetiza a cadeia lateral
presente na estrutura da angiotensina II, mas pode ser substituída por n-propil ou etil éter.
CI
O
N
-
S-8038 O
N
NO2
3
1
2
O
- O O O O
O H H
N N N NH N NH -
H3N N O
H H
+
O O O N O
+
NH NH2 HN
OH
NH2
O anel imidazólico presente na estrutura é essencial, pois mimetiza o resíduo de histidina da cadeia
lateral da angiotensina II, mas pode ser substituído por anel equivalente (isóstero).
O substituinte em R pode variar entre ácido carboxílico, hidroximetil, cetona, anel benzimidazol,
entre outros, uma vez que permite a formação de interação no receptor AT1 por ligação iônica, ligação
de hidrogênio, dipolo-dipolo e íon-dipolo.
99
Unidade II
N N O
N CI N N
H OH H O H CO2H
N N N
N N N
N N N
N N N
HO
N
O N
N N N N
O
H
N
N
N HO2C
N
Candesartano Telmisartano
Figura 116
Saiba mais
A luta contra as infecções é uma história de grande sucesso da química farmacêutica. A hipótese
de que os microrganismos eram responsáveis pelas doenças foi levantada somente no século XIX,
quando Pasteur demonstrou que a fermentação dependia de cepas específicas de bactérias largamente
espalhadas na natureza.
100
QUÍMICA FARMACÊUTICA
Quem primeiro defendeu a “teoria microbiana da doença” foi Lister, que introduziu ácido carbólico
(fenol ou hidroxibenzeno) como agente esterilizante e antisséptico. Na segunda metade do século XIX,
cientistas como Koch identificaram microrganismos responsáveis pelas doenças, como cólera, tuberculose
e tifo. Então, métodos como a vacinação foram estudados para combater infecções.
OH
Foi Paul Ehrlich, o pai da quimioterapia moderna, que lançou o termo quimioterapia. O Princípio da
Quimioterapia de Ehrlich diz que o composto químico pode interferir na proliferação de microrganismos
em concentração tolerada pelo hospedeiro. Popularmente é conhecida como a “bala mágica”, uma bala
que atinge o microrganismo invasor sem afetar o hospedeiro. Trata-se de uma toxicidade seletiva, o
composto químico mostra grande toxicidade ao microrganismo alvo para a célula do hospedeiro.
Em 1910, Ehrlich apresentou o primeiro fármaco sintético, um arsenical, chamado salvarsan, usado
até 1945. Não era fármaco de largo espectro; ele era usado contra doenças causadas por protozoários
como a tripanosomíase e espiroquetas (sífilis). Durante vinte anos, o progresso foi somente contra
variedades de doenças causadas por protozoários.
H2N
NH2
HO As
As OH
Em 1934, foi lançado o fármaco proflavina, uma aminoacridina de cor amarela e usada contra
infecções bacterianas em feridas superficiais graves durante a Segunda Guerra Mundial, tendo como
alvo o DNA das bactérias. Este fármaco não atinge a infecção bacteriana da corrente sanguínea,
permanecendo a necessidade de um fármaco para esse tipo de infecção.
N H2N N NH2
I II
Em 1935, foi descrito o prontosil, um corante vermelho ativo contra infecção estreptocócica in vivo,
representando o primeiro fármaco efetivo contra bactéria, permanecendo até o descobrimento da penicilina.
Como será discutido mais adiante, o prontosil é o pró-fármaco da sulfanilamida.
101
Unidade II
H2N N N S NH2
O
NH2
A penicilina foi descoberta em 1928 por Fleming, ao acaso. Ele notou que uma cultura de bactéria
tinha sido contaminada por uma colônia de fungo Penicillium, matando a bactéria ao seu redor. Fleming
investigou por vários anos a substância antibacteriana, inócua para humanos, mas não conseguiu
isolá‑la porque era instável. Somente em 1938 que Florey e Chain o fizeram por liofilização e ela foi
lançada oficialmente em 1940.
H
R C N S
O
N
O
COOH
Com a possibilidade de que os fungos pudessem ser fontes de novas substâncias antibacterianas os
antibióticos levaram os cientistas a árduas investigações de novas culturas. Outros antibióticos foram
descobertos, mantendo muitas infecções bacterianas sob controle. Por exemplo, em 1944 foi descoberta
a estreptomicina, um aminoglicosídeo; em 1947, cloranfenicol; em 1948, clortetraciclina; em 1952,
eritromicina; em 1955, cicloserina e as cefalosporinas; em 1962, ácido nalidíxico; em 1987, a segunda
geração dessa classe de fármacos foi introduzida com a ciprofloxacina. Antibiótico significa contra a
vida – substância produzida por organismo vivo que é empregada para combater microrganismos.
NH
H OH
NH C NH2
HO
C O OH
H3C O O NH
NH HN C
CH3
O
HO NH2
HO O
CH2
OH
OH
102
QUÍMICA FARMACÊUTICA
O
H O H
NH C CHCI2
C C
* *
CH2OH
O2N H
CI CH3 OH H N(CH3)2
H H
OH
OH NH2
OH O OH O O
H3C CH3
N CH3 OCH3
OH OH
CH3 O O O O CH3
CH3 6 4 CH3
5 3 2
OH
CH3 7
CH3 1
8
11
OH O O
9 13
10
O 12
CH2 CH3
OH
CH3 CH3
H2N O
NH
O
R3 H
H S
R1 C N
O N
CH2 R2
O
COO- H+
Na+
K+
103
Unidade II
Lembrete
A parede celular é crucial para a sobrevivência da bactéria. A bactéria tem que sobreviver à influência
de grande variedade da vizinhança e à pressão osmótica. Sem a parede celular, e colocada na vizinhança
aquosa de baixa concentração de sal, a água penetra na célula bacteriana devido à pressão osmótica,
ocasionando o inchamento da célula e sua morte.
Além da parede celular, existem outras diferenças; a célula bacteriana não tem núcleo definido, a
animal sim. A célula animal possui variedade de estrutura chamada organela, enquanto a bacteriana é
relativamente simples. A bioquímica das células difere significantemente, a bacteriana pode sintetizar
104
QUÍMICA FARMACÊUTICA
vitaminas essenciais, porque a célula bacteriana contém enzimas necessárias para a síntese; já a animal
adquire seus nutrientes a partir dos alimentos.
• agentes antimetabólitos;
Lembrete
105
Unidade II
Descobertas em 1928, por Fleming, permanecem até hoje como uma excelente classe de
antimicrobianos. São divididas em:
• Aminopenicilinas.
A penicilina G, ou benzilpenicilina, foi descrita em 1929 como agente antibiótico, porém somente
foi introduzida como agente terapêutico nos anos 1940. Após seu processo de industrialização,
especialmente em consequência da Segunda Guerra Mundial, observou-se um rápido crescimento na
descoberta e desenvolvimento de novos antibióticos (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010).
106
QUÍMICA FARMACÊUTICA
O H H H
S
CH2 C N
N
O
COO- H+
Na+
K+
A estrutura da penicilina, motivo de muitos debates, foi determinada em 1945 por Hodgkins,
empregando raios X. A síntese total, molécula altamente tensionada, foi conseguida em 1957, por
Sheehan, que obteve a penicilina V com rendimento de 1%.
A estrutura da penicilina é um sistema bicíclico, altamente instável, formado por um anel tetragonal
β-lactâmico fundido com um anel pentagonal tiazolidínico. A análise sugere que deriva-se da cisteína
e valina. A forma total é como um livro meio aberto. A cadeia lateral acila (R) é variável, dependendo
do meio de fermentação. Usando o licor de milho obtém-se a penicilina G, devido à presença de alta
concentração de ácido fenilacético.
A síntese total de qualquer penicilina não é economicamente viável. Um método é adicionar ácidos
carboxílicos ao meio de fermentação, mas trata-se de um processo restrito.
H2N S
N
O
COOH
A obtenção de análogos é para tentar eliminar certas desvantagens apresentadas pela penicilina G,
uma vez que ela é ativa contra bacilos gram-positivos, mas não todos os gram-negativos. Não é tóxica,
está entre os fármacos mais seguros.
Ela não é ativa contra um largo espectro de bactérias. Não é efetiva oralmente, apresenta grande
sensibilidade a ácidos e β-lactamase e possui alguma reação alérgica.
107
Unidade II
Síntese da ampicilina
H
H2N S Me3Si N S
Et3N
N Me2NPh N
+2Me3SiCI
O CH2CI2 O
COOH C
O OSiMe3
6-APA O
PhCH — C — CI
+ -
NH3CI
O O SiMe3
H
PhCH C N S PhCH C N S
+
NH2 N CI -
NH3 N
O O
C C
Ampicilina OSiMe3 Ampicilina sililada OSiMe3
O O
As partes essenciais das penicilinas para atividade são: anel bicíclico, carboxila, cadeia lateral amida
e configuração do anel bicíclico.
O
R
NH
S CH3
6 1
H 5
H 2
7 4 CH3
3
N H
O
COOH
108
QUÍMICA FARMACÊUTICA
• a carbonila do grupo acila lateral (posição 6) participa ativamente (participação do grupo vizinho)
no mecanismo de abertura do anel lactâmico.
O anel β-lactâmico faz parte do grupo farmacofórico e deve ser mantido para evitar a perda da
atividade. Portanto, os dois fatores iniciais citados são impossíveis de serem atacados; somente a
participação do grupo vizinho pode ser alterada.
H
R N S H2N S
Amidase
O
N HOH N
O O
COOH COOH
Ácido 6-aminopenicilâmico
Penicilina +
R-COOH
H+
ase
HOH
am
act
H+
β-l
- HOH ou
ou
HO
HgCI2
COOH
H S
R N S N
N
N R
O COOH H COOH
Ácido penicílico
Ácido peniciloico H+
COOH HO O
O HgCI2 -CO2
-CO2 ∆ S
H + O
CI 2 R N SH
O Hg H
H2N
COOH
S Penicilamina Ácido penáldico N N
R N HgC -CO2
H I O
N 2
COOH
H N O R
COOH R H Penilamina
Ácido peniloico Penilaldeído
Um grupo (R) retirador de elétrons ligado ao grupo acila diminui a possibilidade de o oxigênio da
carbonila agir como nucleófilo. É o caso da penicilina V (fenoximetilpenicilina), mais estável em meio
ácido, podendo ser administrada oralmente porque resiste ao ácido estomacal.
Outras penicilinas análogas são bem-sucedidas. Trata-se das dissubstituídas no carbono α ao grupo
carbonila. É o caso de ampicilina e oxacilina.
109
Unidade II
Penicilina Grupo R-
Penicilina V O CH2
(fenoximetilpenicilina)
CH
Ampicilina
NH2
Oxacilina N
O
CH3
H
N S
R C
N
O O H* H
COOH N* S
R C
O N
O H
-H*
COOH COOH
N S
R C N
COOH
Lembrete
A β-lactamase é uma enzima produzida por bactérias penicilinas resistentes que catalisa, como os
ácidos, a abertura do anel tetragonal lactâmico.
110
QUÍMICA FARMACÊUTICA
Para a solução do problema, era necessário projetar penicilinas penicilinases resistentes a fim de
conter a ação da enzima. Com o objetivo de alcançar o resultado é necessário bloquear a possibilidade
de a penicilina atingir o sítio ativo da enzima. A estratégia é colocar um grupo volumoso apolar na cadeia
lateral. O grupo ideal é aquele que evita a ação da β-lactamase sem bloquear a ação sobre a enzima
responsável pela síntese da parede celular. Felizmente foi encontrado o bloqueador que consegue tal
discriminação, obtendo-se a meticilina, primeira penicilina semissintética não afetada pela β-lactamase
e exatamente para tratamento das infecções provocadas por Staphylococcus aureus. É importante a
presença de duas metoxilas. Sua desvantagem é ser ácido sensível, por não conter grupo de efeito
negativo. Só pode ser usada como injetável.
Penicilina Grupo R-
O CH3
Meticilina
O CH3
Com a introdução de grupo volumoso contendo núcleo heterocíclico que retira elétrons chegou-se
às penicilinas ácido e β-lactamase resistentes, são elas: oxacilina, cloxacilina e flucloxacilina.
Quadro 5 – Grupos (R) volumosos com núcleo heterocíclico que retira elétrons
Penicilina Grupo R-
N
Oxacilina
O
CH3
111
Unidade II
Penicilina Grupo R-
CH3
O
Cloxacilina N Cl
CH3
O
Flucloxacilina N Cl
Um dos problemas das penicilinas é a pequena atividade contra bactérias gram-negativas. Algumas
das razões para essa resistência estão a seguir:
• Alto nível de enzima transpeptidase: a enzima atacada pela penicilina é produzida em grande
quantidade, tornando-se impossível de ser atacada totalmente. Ainda, uma mutação da bactéria
pode produzir uma transpeptidase não atacada pela penicilina.
Dessa maneira, torna-se difícil atacar todos os problemas citados. Tentativas têm sido feitas, como
as exibidas na sequência, para obter penicilinas de amplo espectro, envolvendo grande variedade de
análogos, sempre pela variação da cadeia lateral:
112
QUÍMICA FARMACÊUTICA
• Grupo hidrofóbico lateral: grupo hidrofóbico na cadeia lateral, como na penicilina G, favorece
a atividade contra bactérias gram-positivas e diminui a atividade contra as gram-negativas.
Penicilina Grupo R-
• Grupo hidrofílico lateral: com o aumento do caráter hidrofílico da cadeia lateral, as penicilinas
tornam-se menos ativas contra bactérias gram-positivas e crescem sua atividade sobre
as gram-negativas.
Penicilina Grupo R-
CH
Ampicilina (Classe I)
NH2
HO CH
Amoxacilina (Classe I)
NH2
CH
Carbenicilina (Classe II)
COO- Na+
CH
Carfecilina (Classe II)
COO
113
Unidade II
• provocam diarreia, porque são pouco absorvidas pela parede intestinal e alteram a
microbiota intestinal.
O problema da pequena absorção através da parede intestinal origina-se do caráter dipolar, porque
apresenta amino grupo e carboxila que formam sais. Ele pode ser aliviado empregando-se o pró-fármaco
em que o grupo ácido é mascarado com grupo protetor. Esse grupo é removido metabolicamente, uma
vez absorvido pela parede intestinal. Por exemplo, pivampicilina, talampicilina e bacampicilina, três
penicilinas que são ésteres, usadas para mascarar a carboxila, com grupos complicados.
NH2
H
N S
N O
O
O
C
O O O
A carbenicilina é mais ativa contra bactérias gram-negativas que a ampicilina, além de ser penicilinase
resistente. Ela é ativa contra pseudomonas aeruginosa, bactéria conhecida como oportunista, presente
no corpo humano, mas mantida sob controle, e age quando o corpo é enfraquecido, sendo problema
para infecção hospitalar. A atividade da carbenicilina é consequência do caráter hidrofílico da cadeia
lateral e somente um dos enantiômeros é ativo.
O H H H
S
CH C N
N
COO- Na+
O
COO- Na+
114
QUÍMICA FARMACÊUTICA
Lembrete
Na medicina existem muito exemplos nos quais a presença de um fármaco aumenta a atividade de
outro. Em diversas ocasiões pode ser uma situação perigosa, levando à overdose, mas em outros é muito
útil. No caso das penicilinas, podem ser citados dois casos interessantes:
O
O
N S
OH
O
N
O
COOH
115
Unidade II
realmente útil somente em 1961, quando sua estrutura foi estabelecida. A estrutura da cefalosporina C
é muito semelhante àquela da penicilina.
H
H2N N S
N
COOH O
O
COOH O
A cefalosporina C é um composto difícil de ser isolado e purificado porque é pouco estável, menos
potente que a penicilina G, não tóxico, baixo risco de reação alérgica, não absorvida oralmente,
relativamente resistente a ácidos e penicilinase e muito importante, com atividade contra bactérias
gram-positivas e negativas. Ela é de pequeno uso clínico por ser pouco ativa.
• Cefalosporinas de primeira geração: são muito ativas contra cocos gram-positivos e têm
atividade moderada contra E. coli, Proteus mirabilis e Klebisiella pneumoniae adquiridos na
comunidade. Não têm atividade contra Haemophilus influenzae e não agem contra estafilococos
resistentes à oxacilina, pneumococos resistentes à penicilina, Enterococcus spp. e anaeróbios.
Podem ser usadas durante a gestação.
116
QUÍMICA FARMACÊUTICA
H H
S H S
CH2 C N
N
O CH2 O CO CH3
O
COO- H+
Na+
K+
H H
N H S
N
N CH2 C N
N
N
O CH2 S S CH3
O
COO- H+ N N
Na +
K+
H H
H S
CH C N
NH2 O N
CH2 H
O
COO- H+
Na+
K+
HO O
HO
O O
CH3
N
N
H S
H2N H H H
117
Unidade II
algumas enterobacteriaceae. São aquelas que estão disponíveis no Brasil: cefoxitina (cefamicina),
cefuroxima, cefuroxima axetil e cefaclor.
60 a 80 mg/kg/dia DH DH DH
Cefoxitina IV/IM 1a2g 6a8 1a2g
3 a 6x 8 a 12h 12 a 24h 24 a 48h
0,5 g
VO 0,125 a 0,5 g 0,125 a 0,5 g 12 DH DH 0,75 g
24h
Cefuroxima
0,75g
IV/IM 50 a 100 mg/kg/dia 0,75 a 1,5 g 8 DH DH 8 a 12h __
24h
Cefaclor VO 20 a 40 mg/kg/dia 0,25 a 0,5 g 8 DH DH DH 0,25 a 0,5 g
CC = clearence de creatinina, DH = dose habitual, g = gramas, HD = hemodiálise, h = horas, IM = intramuscular,
IV = intravenosa, kg = quilogramas, min = minutos, mg = miligramas, U = unidades, VO = via oral, ADM = administração
CH3
O H
H S
CH2 C N
S
N
O CH2 O C NH2
O
COO- H+ O
Na+
K+
O
N
O H H
N S
O N O NH2
O
O O
O O
118
QUÍMICA FARMACÊUTICA
O OH
O
O
O N O
H2N
S N O
H
N
O
CH3
NH2
H H
N S
O N
CI
O
O OH
• Cefalosporina de terceira geração: são mais potentes contra bacilos gram-negativos facultativos
e têm atividade antimicrobiana superior contra Streptococcus pneumoniae (incluindo aqueles com
sensibilidade intermediária às penicilinas), Streptococcus pyogenes e outros estreptococos. Com exceção
da ceftazidima, possuem atividade moderada contra o Staphylococcus aureus sensível à oxacilina, por
outro lado, somente a ceftazidina tem atividade contra Pseudomonas aeruginosa. São aquelas que
estão disponíveis no Brasil: cefalosporinas de terceira geração na apresentação parenteral (ceftriaxona,
cefotaxima e ceftazidima).
119
Unidade II
O
N
H H
S N S
N
O N O
H2N
O
OH O
O
S NH2
N O
O H
HN S
N
O
S N O
HO O
N
N O
H
OH
O
N
H H
S N
S
N
O N N+
H2N
O
O O-
O
N
H H
S N
S
N
H2N O N+
N
O
O O-
N+
O
N
H
HO N N H
N S
P
S N N
O
HO O N
S
S
O
O- O
121
Unidade II
Lembrete
Muitos análogos da cefalosporina C foram obtidos e permitiram tirar as seguintes conclusões: anel
β-lactâmico, grupo carboxila, sistema bicíclico e estereoquímica são essenciais para a atividade.
O
R NH
S
H 7 1
H 6 2
5 3
O 8 N 4 O
COOH O
Diferentemente das penicilinas, não é possível obter análogos, com a variação do grupo 7-acilamino,
por meio de fermentação. Igualmente, não dá para conseguir o ácido 7-aminocefalosporina (7-ACA) por
meio de fermentação ou hidrólise enzimática da cefalosporina C, como a obtenção de 6-APA, somente
por caminho alternativo.
• resistente à penicilinase;
122
QUÍMICA FARMACÊUTICA
H H
S H S
CH2 C N
N
O CH2 O CO CH3
O
COO- H+
Na+
K+
Outros análogos mostraram a SAR da cadeia lateral 7-acilamino. Maior atividade é alcançada se
o carbono α é monossubstituído; grupo lipofílico no anel aromático ou heteroaromático aumenta a
atividade contra bactérias gram-positivas e diminui contra as negativas.
Foi observado que a eliminação do grupo 3-acetila libera o grupo álcool e ocorre queda da
atividade. A hidrólise ocorre metabolicamente, sendo interessante bloquear tal processo e prolongar
a atividade. Um exemplo é a cefaloridina. Por ser mais estável metabolicamente, mais solúvel em água,
liga-se menos na proteína sérica, mantendo bom nível do fármaco livre na circulação, possui excelente
atividade contra bactérias gram-positivas e atividade em gram-negativas semelhantes à cefalotina.
H H
S H S
CH2 C N
N +
O CH2 N
O
COO- H+
Na+
K+
Outro exemplo é a cefalexina, composto contendo somente uma metila na posição 3. Pode ser
administrada oralmente, sendo bem absorvida pela parede intestinal. A importância do grupo metila
não está esclarecida porque o mecanismo de absorção, através da parede intestinal, não é ainda bem
compreendido. A obtenção de 3-metilcefalosporinas, a partir das cefalosporinas, é muito difícil. São obtidas
partindo da penicilina.
123
Unidade II
H H
H S
CH2 C N
NH2 O N
CH2 H
O
COO- H+
Na+
K+
O H
H S
CH2 C N
S
N
O CH2 O C NH2
O
COO- H+ O
Na +
K+
124
QUÍMICA FARMACÊUTICA
Lembrete
As bactérias têm que viver em condições muito adversas, como variação de pH, temperatura, pressão
osmótica, necessitando, assim, de uma parede celular resistente. A parede celular, alvo das penicilinas e
cefalosporinas, é um peptidioglicano, formado por unidades de peptídeo e açúcares.
• ligar-se e inibir as proteínas ligadoras de penicilina (PLP) responsáveis pelo passo final da síntese
da parede bacteriana.
125
Unidade II
Figura 160 – Biossíntese da parede celular bacteriana e sua inibição por agentes farmacológicos
Lembrete
• Ácido clavulânico: isolado do Streptomyces clavuligerus por Beechams em 1976, tem pequena e
sem importância atividade antibiótica, mas é um inibidor irreversível da maioria de β-lactamases
e, assim, usado em associação com penicilinas tradicionais, como a amoxacilina, consegue
diminuir a quantidade da dose e aumentar o espectro de atividade da amoxacilina. Muitos
análogos foram obtidos e as partes essenciais para a atividade são: anel β-lactâmico, dupla ligação
com cofiguração Z, posição 6 sem substituintes, grupo carboxila e configuração R em 2 e 5.
A possibilidade de variação fica limitada para a hidroxila. Grupos pequenos são ideais,
sugerindo que a hidroxila está envolvida na interação com o sítio ativo da enzima por meio
de ponte de hidrogênio. A inibição irreversível da β-lactamase pelo ácido clavulânico parece
ocorrer por duas ligações com nucleófilos do sítio ativo da enzima.
CH2OH
O
O
COOH
• Tienamicina: isolada de Streptomyces cattleya, é potente, com largo espectro de atividade, contra
bactérias gram-positivas e negativas, com baixa toxicidade e resistente à β-lactamase. O grupo
lateral hidroxietila é responsável pela resistência. A grande surpresa na estrutura da tienamicina
é a ausência de enxofre e do grupo acilamino lateral, considerados essenciais para a atividade
antibacteriana. Mais ainda, a configuração na posição 6 é contrária àquela das penicilinas.
OH
H
+
NH3
S
N
O
-
COO
127
Unidade II
ácido clavulânico e é ativo contra β-lactamase que decompõe as cefalosporinas, as quais são
afetadas pelo ácido clavulânico. Infelizmente é suscetível à degradação metabólica.
OH
H
+
NH3
S
N
O
-
COO
• Norcadicinas: várias foram isoladas de fontes naturais por pesquisadores japoneses. Mostraram
atividade moderada, in vitro, contra um pequeno grupo de bactérias gram-negativas, incluindo
Pseudomonas aeruginosa. A surpresa fica por conta de alguma atividade desse anel β-lactâmico
que não está fundido com o segundo anel, considerado essencial para a atividade antibacteriana.
A explicação é que podem operar por um mecanismo diferente das penicilinas e cefalosporinas,
tendo como evidência a sua inatividade contra bactérias gram-positivas. Pode ser que a ação seja
contra uma enzima diferente responsável pela síntese da parede celular.
H
HOOC O C C N OH
CH CH2 CH2
N N
NH2 O
O
OH
H COOH
Lembrete
Além das penicilinas e cefalosporinas, existem fármacos que inibem a biossíntese da parede celular,
atuando em um estágio diferente das penicilinas e cefalosporinas. Por exemplo:
128
QUÍMICA FARMACÊUTICA
OH
HO HO
H2N
O OH
O O
O CI
O O
C E AA-2
HO D OH
CI O O
H O
H H H
N N N N
O
N N
H H
HN AA-6 O O
B AA-4 NH2 AA-1
HO
A OH AA-5 O
AA-3
O OH
HO AA-7
O HN O
O Ph
HO O HN O
S O O
H H H HN
N N N
N N N
H2N O
H H
O O O
NH2
• A ciclosserina, uma molécula simples produzida por Streptomyces garyphalus, age dentro do
citoplasma, evitando a adição das unidades de D-alanina, necessárias para o crescimento da
cadeia peptídica ligada no NAM (ácido N-acetil murâmico).
129
Unidade II
H2N O
NH
O
Em 1935 foi lançado o prontosil, um antibacteriano ativo in vivo e inativo in vitro. Não tem atividade
no crescimento da bactéria em tubo de ensaio; é ativo somente quando metabolizado no intestino
animal em sulfanilamida, o verdadeiro antibacteriano. A sulfanilamida foi o primeiro antibacteriano
sintético e ativo contra grande número de infecções.
O
H2N S NH2
O
O
H2N N N S NH2 Sulfanilamida
NH2 O
Prontosil rubrum H2N NH2
NH2
HO
NH2
130
QUÍMICA FARMACÊUTICA
O
N
Sulfadiazina H2N S NH
N
O
O
N O
Sulfametoxazol H2N S NH
CH3
O
131
Unidade II
O O H O O
H H
S N N S N N S N
HO R R- R R-
O O O
Probenecida Sulfanilamida Sulfona
H N N
O H2N SO2NH2 N
N O O
H2N S N Sulfanilamida (1935) S S
H N NH2
O O O
O H
Sulfadiazina S H2N S N Acetazolamida
H2N S N NH2
H N N O CI NH2
H O Sulfaguanidina HN O O
N 2254 RP (1942)
CI NH N O S S
N O H H2N NH2
N H N O O
H2N S N CDSA (1956)
N S
3249 (1945) N N
HN O H CI N
H O H
O
N Carbutamida Propiltiouracil NH
CI N NH S S
H O H2N
N H HS N O O O
S N Clorotiazida
3396 (1945) N N
O H H
HN Tiamazol (1949) CI N
H Tolbutamida O
N NH
CI N NH O S S
H H2N
H HN CI S N O O O
Proguanila (1945) N Hidroclorotiazida
O H H
H2N Clorpropamida CI N
N O
CI N NH2 NH
S S
N H2N
O O O
Cicloguanila (1962) Ciclopentiazida
Lembrete
Pelas análises de muitas sulfonamidas foi possível concluir sobre a relação estrutura/atividade.
O grupo amina na posição 4, o anel aromático e o grupo sulfamídico na posição 1 são essenciais
para a atividade.
132
QUÍMICA FARMACÊUTICA
O
(4) (1)
R’ HN S N R
H
O
A substituição do átomo de hidrogênio no nitrogênio amídico pelo grupo tiazol produziu o sulfatiazol.
No organismo o sulfatiazol é acetilado no N4, sendo transformado em um metabólito pouco solúvel e
muito tóxico porque bloqueia os túbulos renais. É interessante notar que o metabolismo é mais rápido
entre os japoneses e chineses, tornando-os mais suscetíveis ao efeito tóxico.
Na sua época as sulfonamidas eram os únicos fármacos de escolha para o tratamento de doenças
infecciosas. Tiveram importância marcante durante a Segunda Guerra Mundial, quando uma sulfa
salvou Churchill de uma grave infecção. Com o aparecimento das penicilinas, elas foram relegadas ao
segundo plano, ressurgindo com o descobrimento de sulfonamidas de longa duração, como o caso da
sulfametoxina, que pode ser administrada uma vez por semana somente.
As sulfonamidas são utilizadas nas infecções urinárias, infecções intestinais, infecções das
membranas mucosas e infecções oftálmicas. Particularmente interessante para infecção intestinal é o
succinilsulfatiazol (pró-fármaco do sulfatiazol).
Tabela 6 – Sulfonamidas
133
Unidade II
Lembrete
No entanto, as bactérias não são capazes de obter o AFH2 da mesma forma que os animais
superiores. Então tem a necessidade de sintetizar esse componente através da reação que envolve o
ácido para-aminobenzoico (PABA), 2-amino-4-hidroxi-6-hidroximetil-di-hidropteridina difosfato e ácido
glutâmico. As sulfonamidas são análogas do PABA e, portanto, exercem o seu efeito através do papel
de antimetabólito. Elas interferem no crescimento bacteriano por afetar a produção de AFH2 de duas
maneiras: inibição enzimática da di-hidroperoato sintetase e formação de pseudometabólito, sendo a
inibição enzimática o principal modo de ação (HOLF, 2008).
O O
O
Sulfanilamida Ácido p-aminobenzoico (PABA)
OH
O COOH
N
N CH2N C N CH
CH2
H H
H2N N N
CH2 Ácido
PABA glutâmico
Pteridina
COOH
134
QUÍMICA FARMACÊUTICA
H2N-R
O2N SO2CI O2N SO2NHR H2N SO2NHR
(I) (II)
• Processo industrial: condensação de cloreto de sulfonila substituído (R) na posição para (I),
com uma amina heterocíclica (II), em piridina anidra ou mistura de bases pirimídicas que possam
captar o ácido clorídrico que se libera no processo de condensação, conforme equação a seguir:
(II)
(I)
H H H H H H H H
N N N N
C C S S
O O O O O O O O
135
Unidade II
Assim, as sulfonamidas agem bloqueando a biossíntese do ácido fólico na célula bacteriana, inibindo
a enzima (di-hidroperoato sintetase) responsável pela ligação dos componentes do ácido fólico,
substância essencial para a célula bacteriana. São inibidores competitivos reversíveis. Certos organismos
resistentes sintetizam mais PABA para competir com as sulfonamidas inibidoras. São inócuas para
humanos porque estes não sintetizam ácido fólico, adquirindo-o pela alimentação. Por sua vez, as
bactérias não consomem ácido fólico da dieta humana, uma vez que não possuem proteínas para
transportá-lo através da membrana celular.
Síntese do DNA
PABA
Di-hidroperoato
sintase Sulfonamidas
Ácido di-hidrofólico
Di-hidrofolato
redutase
Ácido tetra-hidrofólico
Síntese do timidilato
PABA
Essencial na síntese
do ácido fólico
DNA
136
QUÍMICA FARMACÊUTICA
Como antimetabólitos de uso médico, diferentes das sulfonamidas, podemos citar dois compostos:
trimetoprima e sulfonas. A trimetoprima, um antimalárico, interfere na enzima di-hidrofolato redutase,
responsável pela redução do ácido fólico, inibindo a síntese do DNA e o crescimento da célula. Geralmente
é administrada em associação com o sulfametoxazol, para inibir as duas enzimas. A di-hidrofolato redutase
está presente na célula dos mamíferos e das bactérias e realiza a mesma espécie de reação. Mas, por
mutação, tem resultado em uma diferença estrutural significante, de tal maneira que a trimetoprima
reconhece e inibe a enzima bacteriana e não a enzima do mamífero. As sulfonas são empregadas para o
tratamento da hanseníase e parecem apresentar o mesmo mecanismo de ação das sulfonamidas.
A teoria de Seydel presume que as sulfonamidas e o PABA não competem na mesma reação e que o
antagonismo competitivo entre eles não é direto. O efeito bacteriostático resulta da inibição da biossíntese
da coenzima F, formando bases de Schiff com a formiltetra-hidropteridina, conforme equação a seguir:
Lembrete
H2N N N O
H
OH O
H
N N S NHR
N
O
H2N N N Base de Schiff
H
H CH3 OH H N(CH3)2
H H
OH
OH NH2
OH O OH O O
H CH3 OH OH N(CH3)2
H H
OH
OH NH2
OH O OH O O
H CH3 OH OH N(CH3)2
H H
OH
OH NH2
OH O OH O O
H CH3 H OH N(CH3)2
H H
OH
OH NH2
OH O OH O O
138
QUÍMICA FARMACÊUTICA
N(CH3)2 CH H H N(CH3)2
3
H H
OH
OH NH2
OH O OH O O
As relações entre estrutura química e atividade das tetraciclinas são estudadas desde a década de
1960. Colaizzi, Knevel e Martin (1965) desenvolveram um estudo utilizando como modelo para o sítio
receptor das tetraciclinas a enzima NADH-citocromo-c oxirredutase.
R4 R3 R2 R1 N(CH3)2
H H
OH
OH NHR5
OH O OH O O
Fenoldicetona
pKa = 7,7
H H N
7 6
4 OH
8 4a
D C B A
12a 2 O
9
R 11 12
OH
OH O OH O NH2
139
Unidade II
R= N
N
H
Figura 187 – Aspectos relacionados à relação entre estrutura atividade das tetraciclinas
140
QUÍMICA FARMACÊUTICA
Lembrete
Tabela 7 – Tetraciclinas
As primeiras quinolonas foram utilizadas no início dos anos 1960, com a introdução do ácido
nalidíxico na prática clínica.
O O
OH
N N
141
Unidade II
No início dos anos 1980, com o acréscimo de um átomo de flúor na posição 6 do anel quinolônico,
surgiram as fluorquinolonas (principal representante: ciprofloxacina), com aumento do espectro, para os
bacilos gram-negativos e boa atividade contra alguns cocos gram-positivos, porém, pouca ou nenhuma
ação sobre Streptococcus spp., Enterococus spp. e anaeróbios.
O O
F
OH
N N
HN
Esse foi um dos principais motivos para o desenvolvimento das novas quinolonas: levofloxacina,
gatifloxacina, moxifloxacina e gemifloxacina.
Recentemente, foram descritas alterações nos níveis de glicemia com o uso dessas quinolonas
mais associadas com a gatifloxacina, sobretudo em pacientes idosos e diabéticos, motivo pelo qual
tal quinolona foi retirada de mercado. As novas quinolonas têm espectro de ação contra a maioria
dos bacilos gram-negativos, superponível ao das fluorquinolonas. Entretanto, nenhuma é mais potente
contra Pseudomonas aeruginosa que a ciprofloxacina (ANVISA, 2007j).
H
CH3
H3C
O N
N N
HO
F
O O
O O
F
OH
N N
HN O
142
QUÍMICA FARMACÊUTICA
H
OCH3
HN
N N
H
OH
F
O O
O O
F
OH
O
N N N
N
H2N
R5 O O
R6
5 4 3 Anel
6 OH pirimidônico
7 8 1 2X
R7 Y N
R8 R1
Figura 194
• Grupos nas posições 6 e 7: são responsáveis pela interação com as enzimas alvo.
• Anel pirimidônico: com grupo carboxílico, α-insaturado na posição 3, é essencial para interação
com o DNA bacteriano.
143
Unidade II
R5 O O
Região
R6 quelatogênica
5 4 3 OH
6
7
8 1 2X
R7 Y N
R8 R1
Figura 195
R6
5 4 3 OH
6
7
8 1 2X
R7 Y N
R8 R1
Figura 196
• Posição 6: a inserção de átomo de flúor eleva a atividade devido ao aumento da lipofílico, maior
permeação de membranas e inibição da enzima alvo.
R5 O O
R6
5 4 3 OH
6
7
8 1 2X
R7 Y N
R8 R1
Figura 197
• Posição 7: grupo piperazino amplia espectro para espécies gram-negativas, mas aumenta afinidade
pelos receptores de GABA. A presença de grupos metila ou etila no nitrogênio piperazino; já em
N-1 reduz efeitos no SNC.
144
QUÍMICA FARMACÊUTICA
Figura 199 – Resumo das relações entre estrutura e as atividades biológicas das quinolonas
145
Unidade II
Lembrete
As quinolonas inibem a atividade da DNA girase ou topoisomerase II, enzima essencial à sobrevivência
bacteriana. A DNA girase torna a molécula de DNA compacta e biologicamente ativa. Ao inibir essa
enzima, a molécula de DNA passa a ocupar grande espaço no interior da bactéria e suas extremidades
livres determinam síntese descontrolada de RNA mensageiro e de proteínas, determinando a morte das
bactérias. Também inibem, in vitro, a topoisomerase IV, porém não é conhecido se este fato contribui
para a ação antibacteriana (ANVISA, 2007k).
Saiba mais
Resumo
146
QUÍMICA FARMACÊUTICA
147
Unidade II
Exercícios
B) A potência, a eficácia e a afinidade são parâmetros empregados para estimar a interação entre
fármaco e receptor.
D) A concentração eficaz de um fármaco capaz de produzir 50% da respectiva resposta máxima (EC50)
é um parâmetro utilizado na definição da eficácia e da afinidade de um fármaco; no entanto, ela
não se aplica na determinação da potência dele.
E) Os fármacos ditos potentes necessitam de concentrações plasmáticas altas para a produção dos
efeitos terapêuticos.
A) Alternativa incorreta.
B) Alternativa correta.
Justificativa: a afinidade é a atração mútua ou força de ligação entre um fármaco e o seu objetivo,
ou seja, um receptor ou uma enzima. A potência refere-se à quantidade de fármaco (geralmente
expressa em miligramas) de que se necessita para produzir um efeito. A eficácia refere-se à resposta
terapêutica potencial máxima que um fármaco pode induzir. Por exemplo, o diurético furosemida
elimina muito mais sal e água através da urina que o diurético clorotiazida. Por isso a furosemida
tem maior eficácia, ou efeito terapêutico, que a clorotiazida. Dois parâmetros importantes, potência
e eficácia, podem ser deduzidos a partir da curva de dose resposta graduada. A potência (EC50) de um
fármaco refere-se à concentração em que o fármaco produz 50% de sua resposta máxima. A eficácia
(Emáx.) refere-se à resposta máxima produzida pelo fármaco.
148
QUÍMICA FARMACÊUTICA
C) Alternativa incorreta.
D) Alternativa incorreta.
E) Alternativa incorreta.
Questão 2. (FGV/Fiocruz 2010, adaptada) Os rins têm papel na regulação de água e dos sais do corpo.
Por isto, os fármacos diuréticos são usados no tratamento de doenças como hipertensão, insuficiência
cardíaca congestiva e edema. Sobre os diuréticos, assinale a alternativa incorreta.
C) A perda de K+ pode ser evitada pelo uso de fármacos que ajam principalmente nos túbulos coletores.
A) Alternativa incorreta.
149
Unidade II
B) Alternativa correta.
C) Alternativa correta.
D) Alternativa correta.
E) Alternativa correta.
150