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Buddy Rich

Por Daniel Oliveira

Em se tratando de publicidade, há de se desconfiar de qualquer empresa que faça esta afirmação


sobre seus produtos ou sobre quem os utilizasse. “Uma das poucas exceções aconteceu quando
dava este título a Buddy Rich,” Will Romano.

 Bernard “Buddy” Rich, era filho dos artistas de Vaudeville Robert e Bess Rich e nasceu no
Brooklyn em Nova York em 1917. Musicalmente superdotado, deu sua primeira demonstração
de genialidade ainda com 10 meses de idade quando num ensaio de seus pais, conseguiu manter
o tempo de uma música.

 Descrente do que estava presenciando, o regente resolveu parar e mudar o andamento e groove,
agora para uma valsa e, mesmo assim, lá estava Buddy acompanhando com perfeição. Assim
sendo, passou a encerrar as apresentações de seus pais com furiosos solos de caixa!

 Aos quatro anos, Buddy já tocava regularmente nos teatros da Broadway e era conhecido como
“Traps The Drum Wonder” – “Traps, o prodígio da bateria.”

Paralelamente ao seu talento de baterista, já desenvolvia suas habilidades como dançarino e


sapateador. Aos 12 anos, junto com Jackie Cougham, era a criança mais bem paga do show
business.

 Remonta desta época o curta-metragem “Traps The Drum Wonder”, gravado para a série
Melody Masters, do estúdio Vitaphone, em 1929 que se perdeu. Felizmente o áudio ainda existe
e serve como testemunho de sua técnica e musicalidade já assustadoras naquela época.

 Pelo rádio, ouviu pela primeira vez a banda Casaloma e Glenn Gray. Foi paixão imediata que
piorou com sua primeira exposição a Benny Goodman, com Gene Krupa na bateria e Count
Basie com Jo Jones; simplesmente foi mais forte que ele; tinha que tocar aquilo!

 Baterista

 O Vaudeville começava a ser extinto com o cinema falado e assim, Rich começou a procurar
outros trabalhos como o de dançarino. Em 1936 conseguiu seu primeiro emprego como baterista
de jazz na banda do clarinetista Joe Marsala, tocando Dixieland Chicago Style.

 Sua entrada na banda é uma das mais interessantes histórias de Buddy, como conta seu
professor e amigo de toda vida Henry Adler; “Certo dia me aparece um dos meus alunos e me
apresenta Buddy Rich dizendo que ele tocava mais que o Krupa (Gene). Não me contive e pedi
para ver e, quando começou, fiquei tão espantado que na mesma hora liguei para um amigo
baixista da banda de Joe Marsala, que estava se apresentando no Hickory House e pedi uma
canja para ele.
Chegando lá me dirigi a Marsala e lembrei-lhe da canja e ele, de forma bastante relutante,
deixou que Buddy subisse ao palco ainda me perguntando se ele era capaz de tocar rápido.
Respondi que o menino além de tocar mais rápido que ele (Marsala), também solava melhor!

Desta forma, começaram e tocar o hit de Marsala, “Jim Jam Stomp”, em um andamento
incrivelmente rápido. Assim que Buddy entrou, Marsala era só alegria. Ao fim da música ainda
deixou que Rich solasse um chorus.

Bom, para encurtar as coisas, a casa caiu, pois ninguém nunca tinha ouvido nada como aquilo!”
Pouco tempo depois, Marsala ofereceu-lhe o cargo de baterista. Ele terminou sua temporada
como dançarino no Falley Theater em Nova York e, como ele mesmo disse, “joguei fora meus
sapatos de dança.”

 A grande ironia de tudo isso é que, por mais absurdo que pareça, seus pais ficaram muito
preocupados, pois não viam futuro na profissão de baterista!

 Buddy consolidou sua fama em Nova York tocando no Hickory House em longas jornadas que
geralmente começavam as 22:00 entendendo, certas vezes até as 04:00 além das matines. Nesta
mesma época, apesar de sua fama de autodidata, Rich teve aulas com Henry Adler “eu não o
ensinei a tocar paradiddles ou grooves básicos, mas abordávamos tópicos específicos e em
blocos de seis aulas por vez. Daí, Buddy passava seis semanas viajando e voltava para mais seis
aulas.”

Top

 Com uma reputação cada vez mais sólida, Buddy começou a adentrar aos trabalhos top de
linha, sendo convidado a tocar na orquestra de Artie Shaw que, em 1939, era um dos trabalhos
musicais mais renomados do planeta! Ali impôs sua vigorosa pegada de swing levando o nível
da orquestra a outro patamar. Infelizmente, a conduta por vezes irresponsável de Artie, levou a
banda a sua dissolução.

 Ainda em 1942, Rich e Adler lançaram o livro Buddy Rich Modern Interpretation of Snare
Drum Rudiments, onde Henry disseca a técnica de Rich e este por sua vez dizia “somente posei
para as fotos.” Sucesso imediato!

Logo após o acontecido, Rich foi convidado a integrar a orquestra do trombonista Tommy
Dorsey, mundialmente afamada por suas baladas. Este fato gerou bastante hesitação em Buddy
que, só aceitou o convite mediante a promessa de incluírem no repertório mais arranjos de
swing escritos por Sy Oliver e que, por sua vez, deram outra vida a banda.

 Outro fato importante a se destacar neste período foi a entrada na banda do então jovem e
promissor cantor Frank Sinatra que, junto com Buddy e Tommy, chegaram ao topo! Com a
saída de Sinatra, Rich com suas performances avassaladoras, passou a ser a grande atração da
orquestra.

Buddy Rich Big Band


 Em 1945, Buddy voltou da Segunda Guerra Mundial aonde tocava nas orquestras para animar
as tropas. Importante notar que, esta opção poupou a vida de alguns dos maiores músicos
americanos que, de outra forma teriam de lutar no front. Dentre eles pode-se citar o baterista
Louie Bellson e o pianista Dave Brubeck.

 Uma vez nos EUA, voltou a integrar a orquestra de Dorsey por um ano, mas, ao sentir que não
era isso o que amava tocar, demitiu-se e passou a ser um dos bateristas mais requisitados de seu
tempo, contando também com a ajuda de seu antigo parceiro Frank Sinatra em forma de duas
parcelas de US$25,000.00 (Em valores atuais cerca de R$423.000,00 cada).

 Buddy herdou de Dorsey uma de suas melhores qualidades, o perfeccionismo, que também
sempre exigiu de todos que passaram pelas formações de suas orquestras. 

JATP

 Na década de 1950, Buddy começou a se apresentar no projeto de Norman Granz, o Jazz At
The Philarmonic, uma iniciativa inédita onde se uniam uma cozinha de jazz a uma orquestra
filarmônica.

 Esta iniciou outra das famosas fases de Rich, a das batalhas de bateristas que, por sua vez,
possibilitaram a comparação estilística entre cada um dos envolvidos. Estreou em 1952 com
ninguém menos que seu maior ídolo, Gene Krupa, tendo como resultado o álbum Drum Battles,
de 1955.

Em 1958 com outro ícone, Max Roach, com quem Buddy lançou o Rich X Roach.

 Esta época foi marcada pelo declínio das Big Bands e ascensão do Bebop que utilizava grupos
pequenos. Assim Buddy passou a se apresentar e gravar com todos os grandes músicos de jazz
daquela época, de Art Tatum a Charlie Parker.

 Um dos mais marcantes álbuns deste período foi o The Lester Young Buddy Rich Trio que,
lançado em 1955, também contava com Nat King Cole ao piano e demonstrava claramente a
versatilidade de Rich tocando sem contrabaixo. Em especial, vale à pena ouvir “Back to Land”,
onde Rich dá uma aula de discrição tocando de forma intimista e com vassouras ora conduzindo
na caixa, ora no chimbal.

 Também começou a apresentar um espetáculo de variedades em casas noturnas, onde cantava,


tocava, dançava e sapateava.

 Buddy, não obstante a todos os trabalhos que já estava fazendo, passou a tocar na Big Band do
renomado trompetista Harry James. Nesta, realizou o sonho de todos nós bateristas, foi para o
Guiness Book por ter quebrado o recorde mundial de cachê para músico contratado, US$
1500.00 por semana, em 1954, hoje em dia algo em torno de US$ 20.000.00!

 A banda de James tocava a maior parte do tempo nos cassinos de Las Vegas, executando um
repertório muito parecido e consistindo em cada vez mais músicas comerciais. Como Buddy
sempre teve como máxima tocar só o que lhe fosse desafiador, mesmo adorando o trabalho com
Harry James, pediu demissão em 1966.

 Rich era conhecido por sua sinceridade, e esta se aplicava principalmente a ele mesmo que
assumia todos os ônus desta posição. Ficava evidente a sua maturidade no tocante a visão
artística, uma vez que sempre pregou a individualidade como característica primordial de
qualquer grande artista.
 Sempre foi um crítico severo da tendência de massificação musical em que se pregava uma
sonoridade unificada, com as mesmas frases e viradas em prol de uma errônea noção de
“consistência.” Como ele falava, “não dá mais pra dizer quem é quem tocando…”

A Nova Big Band

 Mesmo indo de encontro a um mercado cada vez mais voltado ao rock e fechado ao seu tipo de
música, Buddy, em 1966, montou novamente sua Big Band.

 Após uma breve fase sem muita projeção, a Buddy Rich Big Band foi contratada por Sammy
Davis Jr., que alavancou a reputação do grupo consolidando sua fama na temporada de 4 meses
no The Chez, renomada casa de rock em Holywood, o que resultou na gravação do
imperdível Sounds of 66.

 Toda esta repercussão selou a volta triunfal de Rich; estrelato com aparições frequentes na TV,
várias gravações e até mesmo seu próprio programa televisivo. Seu grupo passou a se apresentar
também no circuito de universidades e escolas secundárias.

Com a grande demanda de viagens e melhor remuneração em estúdios, seus músicos foram
pouco a pouco sendo substituídos por músicos mais jovens, vários destes recrutados nas escolas
e faculdades onde se apresentavam. Estes, mesmo ainda não tendo suas carreiras e estilos
consolidados, tinham atitudes mais positivas, sede por aprendizado e experiência, além de um
maior comprometimento para com o trabalho.

 Buddy sempre dava tudo de si exigindo o mesmo de quem quer que estivesse tocando consigo e
assim conquistou uma fama de durão; “sou um disciplinador todos os dias por 2 horas enquanto
no palco. Lá não quero saber de suas doenças, licks ou dores pois pago vocês para tocarem.
Além disso, a platéia que nos veio assistir também tem problemas e veio aqui para se esquecer
deles. Desta forma, quero que a minha banda nos faça a todos felizes e, se quiserem desistir, que
o façam!”

 A Buddy Rich Big Band apresentava arranjos conhecidos por seu alto nível de complexidade.
Destes, destaca-se o arranjo de “West Side Story Medley”, feito por Bill Reddie; uma peça de
10 minutos de seu álbum Swinging New Big Band, de 1966, que consumiu mais de um mês de
ensaios constantes.  Vale à pena ouvir também o arranjo de “Channel One Suite”.

 Após oito anos na estrada, Buddy resolve abrir em Nova York, no ano de 1974, o Buddy’s
Place, bar de jazz em que se apresentavam grandes músicos deste estilo. No ano seguinte,
voltou a estrada com força total e fazendo coisas ainda mais incríveis, como sua apresentação
no programa de TV I Got A Secret, onde solava na bateria de cabeça para baixo, ou mesmo seu
engraçadíssimo duelo com o personagem Animal, do Muppet Show.

 No começo da década de 1980 gravou um de seus mais famosos shows, uma apresentação no
festival de jazz de Montreal, além do especial de TV no Carnegie Hall em sua homenagem
(Buddy Rich: Uma Retrospectiva, A Vida no Tempo do Gênio da Bateria).

 No começo do ano seguinte, sua saúde começa a declinar e sofre um infarto. Apenas 54 dias
após a colocação de quatro pontes de safena e contrariando todas as recomendações médicas,
apresenta-se de forma magistral no afamado clube londrino Ronnie Scott.
 Segundo ele mesmo, “não me fazia bem ficar em casa entregue aos pensamentos sombrios. Se
algum médico me dissesse que deveria parar de tocar, simplesmente procuraria outro médico.”

 Continuou se apresentando até janeiro de 1987 e seu último show foi um tributo a Tommy
Dorsey. Buddy faleceu de complicações pós-operatórias em uma cirurgia para a retirada de um
tumor cerebral em quatro de abril do mesmo ano.

 Buddy Rich foi sempre sério e focado na perfeição de sua execução nos deixando um grande
exemplo de que não só a genialidade faz um grande músico, mas sim sua busca por uma
abordagem musical diferenciada. Foi sincero quando disse “músicos que conseguem emocionar
seus ouvintes são sempre os melhores.” Buddy certamente o faz até hoje.

 Extras 1:

Como artista multi-talentoso, Buddy também fez alguns trabalhos inesperados como a gravação
de alguns álbuns como cantor. Dentre estes, destaca-se Rich Sings Johnny Mercer, que recebeu
críticas muito positivas.

Neste, Rich canta de forma bastante desenvolta arranjos de Buddy Bregman para as
composições de Mercer. A Música “Day In Day Out” demonstra com toda a clareza o talento de
Buddy como cantor e sim, sua performance como baterista no disco dispensa comentários.

Extras 2:

 Álbuns solo de Buddy Rich:

 1953: The Flip Phillips Buddy Rich Trio (1953); The Swinging Buddy Rich (1954); Sing and
Swing with Buddy Rich (1955); Buddy and Sweets (1955); The Lester Young Buddy Rich
Trio (1955); The Wailing Buddy Rich (1955); Krupa and Rich (1955); The Lionel Hampton Art
Tatum Buddy Rich Trio (1955); Buddy Rich Sings Johnny Mercer (1956); This One’s for
Basie (1956); Buddy Rich Just Sings (1957); Buddy Rich in
Miami (1958); Richcraft (1959); The Rich Rebellion (1959); Rich versus Roach (1959); The
Voice is Rich (1959); The Driver (1960); Playtime (1961); Blues Caravan (1961); Burnin’ Beat,
com Gene Krupa (1962); Are You Ready for This?, com Louie Bellson (1965); Swingin’ New
Big Band (1966); The Sounds of ’66 (1966); Big Swing Face (1967); The New
One! (1967); Rich à la Rakha (1968); Mercy, Mercy (1968); Buddy & Soul (1969); Keep the
Customer Satisfied (1970); A Different Drummer (1971); Rich in London, também com a
versão expandida Buddy Rich: Very Alive at Ronnie Scott’s (1971); Stick It (1972); The Roar
of ’74 (1973); Very Live at Buddy’s Place (1974);  Transition (1974); The Last Blues Album,
Vol. 1 (1974); Big Band Machine (1975); Speak No Evil (1976); Buddy Rich Plays and Plays
and Plays (1977); Lionel Hampton Presents Buddy Rich (1977); Class of ’78 (1977); Europe
’77 (1977); Together Again: For the First Time (1978); Live at Ronnie Scott’s (1980); The
Buddy Rich Band (1981); Rich and Famous (1983); Mr. Drums: Live on King Street, San
Francisco (1985).

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