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Introdução à Física Clássica I

Prof. Neemias Alves de Lima


17 de setembro de 2020
Escola de Ciências e Tecnologia, UFRN
4 - Movimento de projétil
Movimento curvilíneo plano

No movimento bidimensional, ou em um plano, precisamos de


duas coordenadas para dizer onde uma partícula se encontra:
y

~a Posição: ~r = x î + y ĵ (1)
Tra
jetóri d~r
a Velocidade: ~v = (2)
y ~r q dt
~v Rapidez: v = vx2 + vy2 (3)
d~v
Aceleração: ~a = (4)
x dt
O x

1
Movimento de projétil

Movimento de projétil é um dos movimentos bidimensionais mais


importantes da natureza...

2
Movimento de projétil é o movimento de uma partícula após ser
lançada de um ponto (x0 , y0 ) com uma velocidade ~v0 e que fica
sujeita apenas à ação da aceleração da gravidade.

~v0
t=0
θ0
y0 ~r0

~g

x
O x0

3
O projétil está sujeito apenas à aceleração da gravidade, logo:
0
~a = 
a
x î + ay ĵ = −g ĵ
>

Se a aceleração na direção x é nula, segue que a equação horária


de x é igual a de uma partícula em movimento com velocidade
constante vx = v0x , onde v0x = v0 cos θ0 é a componente x da
velocidade inicial e v0 é a rapidez inicial do projétil. Portanto:

ax = 0 (5)
vx = v0x (6)
x = x0 + v0x t (7)
v0x = v0 cos θ0 (8)

4
Já na direção y a aceleração da partícula é a aceleração da gravi-
dade, logo a equação horária de y é a de uma partícula em queda
livre!

ay = −g (9)
vy = v0y − gt (10)
1
y = y0 + v0y t − gt 2 (11)
2
1
y = y0 + (v0y + vy )t (12)
2
vy2 = v0y
2
− 2g(y − y0 ) (13)
v0y = v0 senθ0 (14)

5
Que trajetória um projétil descreve? Veja as seguintes ima-
gens... você se lembra de alguma função com gráfico parecido?

6
7
Uma trajetória no plano xy é uma função y(x). As Eqs. (7) e
(11) nos dão as coordenadas x e y em função de t, para obter
y(x) basta escrever t(x) (que dá o instante t em que a partícula
está na posição x) e substituir em y(t).

Obtendo t(x):
x − x0
x = x0 + v0x t → t =
v0x

Substituindo na Eq. (11):

x − x0 1 x − x0 2
y = y0 + v0y − g( )
v0x 2 v0x
Neste ponto é conveniente expressar as componentes v0x e v0y em
termos da velocidade v0 e do ângulo θ0 de lançamento do projétil.
Estas são as Eqs. (7) e (14) do Slide 4.

8
Portanto:
0 senθ0
v 1 x − x0 2
y = y0 +  (x − x0 ) − g( )
v
 0 cos θ0 2 v0 cos θ0
ou

g
y = y0 + tgθ0 (x − x0 ) − (x − x0 )2 (15)
2v02 cos2 θ0

Uma vez que x0 , y0 , θ0 , v0 e g são constantes, podemos escrever


a equação acima na forma:

y = −ax 2 + bx + c

Então, se como resposta para a pergunta do Slide 6 você pensou


em uma “parábola” (com concavidade para baixo), você acer-
tou!!!
9
Preste atenção nos detalhes da seguinte animação:

t=0s

v0y ~v0
θ0
y0
v
g 0x

x0 x

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Pontos importantes do movimento de projétil:

• No instante t = 0 o projétil é lançado do ponto (x0 , y0 ) com


uma velocidade ~v0 que forma um ângulo θ0 com o eixo x;
• As componentes da velocidade inicial ~v0 são v0x = v0 cos θ0
e v0y = v0 cos θ0 ;
• Desde seu lançamento até atingir um obstáculo a
aceleração é sempre igual a g (aceleração da gravidade), os
efeitos da resistência do ar são desprezados;
• A componente de velocidade vx é constante igual a v0x ;

11
• A componente de velocidade vy muda com o tempo,
quando θ0 > 0 temos que vy diminui de módulo até o
projétil atingir a altura máxima H da trajetória;
• Em y = H o projétil fica em repouso momentaneamente,
isto é, com vy = 0, logo após vy inverte de sentido e seu
módulo passa a aumentar;
• Na posição xR o projétil passa pela mesma altura y0 em
que foi lançado, a distância R = xR − x0 é o alcance
horizontal do projétil;
• Ao atingir o solo na posição xD , a distância D = xD − x0
chamamos de alcance do projétil;
• Enfim, a trajetória descrita pelo projétil é uma parábola
com concavidade negativa.

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Exemplo 4.1 - Uma pedra é lançada para cima de um edifício
a um ângulo de 30◦ na horizontal, com velocidade inicial de 20
m/s. A altura de lançamento da pedra é de 40 m acima do solo.
(a) Qual a altura máxima que a pedra atinge?

A Figura abaixo ilustra uma escolha de coordenadas em que o


lançamento da pedra ocorre no ponto (x0 = 0, y0 ), queremos
obter a altura máxima H atingida pela pedra.
y
v0 vy = 0
H
θ0
y0
g

xH
(0, 0) (D, 0) x
13
Com os dados fornecidos podemos calcular a altura máxima y =
H (onde vy = 0) com a fórmula de Torricelli:

0 v2
7= v 2 − 2g(H − y ) → H = y + 0y
vy2 0y 0 0
 2g

Sabemos que:

y0 = 40 m
v0y = 20 sen(30◦ ) = 10 m/s

Portanto:
100
H = 40 + = 45, 1 = 45 m
19, 6

14
(b) Quanto tempo a pedra leva para atingir o solo?

De acordo com a escolha do sistema de coordenadas ilustrado na


Figura do slide 13, quando a pedra atinge o solo a sua posição
vertical é y = 0. O tempo t que a pedra leva para chegar neste
ponto é obtido pela equação horária
1
y = y0 + v0y t − gt 2
2
Substituindo os valores de y = 0, y0 = 40 m e v0y = 10 m/s,
temos:

0 = 40 + 10t − 4, 9t 2 → −4, 9t 2 + 10t + 40 = 0

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As raízes deste polinômio são:

−b ± (b2 − 4ac) −10 ± (102 − 4(−4, 9)40)


p p
t= =
2a 2(−4, 9)
−10 ± 29, 73
= = −2, 01 e + 4, 05
−9, 8
Um tempo negativo não faz sentido para este problema, assim, o
tempo de queda da pedra é 4, 1 s.

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(c) A que distância da base do edifício a pedra atinge o solo?

A distância D do impacto da pedra com o solo até a base do


prédio é igual a distância que a pedra percorre horizontalmente
no tempo que ela leva para tocar o solo, portanto:

D = vx t = v0 cos θ0 t = 20 cos (30◦ )4, 05 = 70, 22 = 70 m

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(d) Qual é a rapidez da pedra ao atingir o solo?

A Figura abaixo ilustra as componentes da velocidade imediata-


mente antes da pedra colidir com o solo.

y
v0
θ0
y0
g

(D, 0) vx
(0, 0) x
θ
vy
~v

18
No instante da colisão temos:

vx = v0x = +v0 cos θ0 = +20 cos 30◦ = +17, 3 m/s


vy = v0y − gt = +10 − 9, 8(4, 05) = −29, 7 m/s

Daí que a rapidez do projetil ao colidir com o solo é


q q
v = vx2 + vy2 = 17, 32 + (−29, 7)2 = 34, 4 = 34 m/s

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(e) Com que ângulo a pedra atinge o solo?

O ângulo θ (ver Figura do slide 18) com que a pedra atinge o


solo é tal que:
vy
tgθ =
vx
Tomando a função inversa, obtemos o ângulo:
vy
θ = arctg( )
vx
−29, 7
= arctg( ) = −59, 8◦ = −60◦
17, 3

20
Exemplo 4.2 - Deduza uma fórmula para o alcance horizontal
R em função da rapidez inicial v0 e do ângulo de lançamento θ0 .

O alcance horizontal R é distância de impacto do projétil que


está na mesma altura do ponto em que ele foi lançado. O desenho
esquemático abaixo ilustra a escolha do referencial que simplifica
a solução do problema.
y

v0
θ0
x0 = 0,y0 = 0
R =?,y = 0 x
g

21
Com os dados que temos basta substituí-los na equação da tra-
jetória e resolver para a distância R:
0 0 gR2 g
y = y0 + tgθ0 R − 2
→ 0 = ( tgθ0 − 2 R)R
2v0 cos θ0
2 2v0 cos2 θ0

Resolvendo para R 6= 0:
1
2
1
R = tgθ0 (2v02 cos2 θ0 ) =
1 senθ0 2
2v cos2 θ0 = v0 2 senθ0 cos θ0
0
g gcos
θ
0 g
Portanto:
v02
R= sen2θ0
g

Observe que o alcance horizontal é máximo quando θ0 = 45◦ .

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Exemplo 4.3 - Um carro em movimento não para ao chegar
à beira de um penhasco de 48 m de altura. O motorista, que
conseguiu saltar do carro a tempo, afirma ao policial rodoviário
que estava a menos de 90 m/h quando a direção do carro travou.
Para confirmar a versão do motorista o policial observa que o
ponto de impacto do carro está a 110 m da base do penhasco.
Se a pista era plana e não havia mureta separando a pista do
penhasco, o motorista está falando a verdade?

Os dados conhecidos são o deslocamento vertical (48 m) e hori-


zontal (110 m) e o ângulo (zero) com que o carro se projeta no
penhasco. Estes dados são suficientes para estimarmos a veloci-
dade v0 do carro a partir da equação da trajetória:
g
y = y0 + tgθ0 (x − x0 ) − (x − x0 )2
2v02 cos2 θ0

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Desenho esquemático da trajetória do carro desde perder a pista
em (0, y0 ) até o ponto de impacto (xD , 0):

v0 =?
y0 = 48 m θ0 = 0◦
g

x0 = 0 xD = 110 m x

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Escolhendo a origem do sistema de coordenadas na base do pe-
nhasco, temos:

0 9, 8(110)2 59290
0 = 48 + 
tg(0)(110) − 1
= 48 −
v02
>

2v02 :2 0
cos


59290
v02 = → v0 = 35, 1 m/s = 127 km/h = 130 km/h
48
Considera-se apenas a raiz positiva pois v0 é o módulo do vetor
velocidade.

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Exercícios

4.1 O Puma concolor, ou Onça-parda, é o melhor saltador entre


os animais. Ele pode saltar a uma altura de 3,7 m, ao sair do
chão com um ângulo de 45, 0◦ . Com que velocidade ele sai do
chão para dar esse salto?

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4.2 O cano de um canhão está elevado de 30◦ acima da horizontal.
Ele dispara uma bala com uma rapidez de 300 m/s. (a) Que
altura a bala atinge? (b) Quanto tempo ela fica no ar? (c) Qual
o alcance horizontal da bala?

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4.3 Uma pedra é lançada por estilingue horizontalmente do alto
de uma torre de 24 m de altura e atinge o chão em um ponto que
dista 18 m da base da torre. (a) Encontre a rapidez com que a
pedra foi atirada. (b) Encontre a rapidez da pedra imediatamente
antes de atingir o chão. (c) Com que ângulo a pedra atinge o
chão?

28
4.4 Calcule o mínimo módulo possível v0,min da velocidade de
lançamento que um projétil deve ter quando disparado de um
ponto A para atingir um alvo em B sobre o mesmo plano hori-
zontal a uma distância de 12 km.

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4.5 Um canhão que lança balas com velocidade escalar de 1000
m/s é utilizado para iniciar uma avalanche em uma montanha
inclinada. O alvo está a uma distância horizontal de 2000 m do
canhão e a 800 m acima dele. A que ângulo acima da horizontal
o canhão deve ser disparado?

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Respostas

4.1 43 km/h
4.2 (a) 1,1 km, (b) 31 s, (c) 8,0 km
4.3 (a) 8,1 m/s, (b) 23 m/s, (c) −69◦
4.4 340 m/s
4.5 24◦

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