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III.

COUVE “cole” / REPOLHO

Este grupo hortícola, pertencente ao género Brassica, que inclui várias espécies,
entre as quais podemos assinalar:
 · Brassica rapa (sin. Brassica campestris var. rapa): Couve nabo “Turnips”
 · Brassica campestris:
 Ø var. chinensis (sin. Brassica chinensis): Couve china (Paak-ts’oi)
 Ø var. pekinensis (sin. Brassica pekinensis): Repolho china (Pe-tsai)
 · Brassica oleracea:
 Ø var. italica: brócolos “broccoli, sprouting broccoli”
 Ø var. gemmifera: couve bruxelas ”brussels sprouts”
 Ø var. botrytis: couve-flor “cauliflower”
 Ø var. acephala: couve de folhas, galega “borecole, collard, kale”
 Ø var. gongylodes: rábano “kohlrabi”
 Ø var. capitata: repolho “cabbage”

Couve nabo “Turnips” Repolho china (Pe-tsai) Brócolos

Couve bruxelas Planta - couve bruxelas


Couve-flor Couve de folhas “kale” Couve de folhas “kale”

Rábano Repolho

Estas diferentes formas da espécie Brassica oleracea é um notável exemplo de


polimorfismo no grupo de plantas hortícolas (figura 1). O progenitor destas diversas
formas de Brassica oleracea é uma planta polimorfa, perene, que geralmente atinge uma
altura de 60-100 cm e tem uma ramificação moderada do caule. A sua origem é a região do
Mediterrâneo. A primeira selecção foi, provavelmente, feita para reduzir glucosideos
amargos encontrados em abundância nos tipos silvestres.
O órgão de consumo da couve nabo (Brassica rapa) é a raiz muito engrossada. Na
espécie Brassica oleracea os órgãos de consumo variam muito:
 · Folhas (couve galega)
 · Gemas apicais gigantes (repolho)
 · Gemas laterais (couve bruxelas)
 · Parte apical do caule muito engrossado (rábano)
 · Massa de flores abortadas sobre curtas e grossas ramificações do caule
(couve-flor)

As peculiaridades biológicas gerais e as exigências ambientais são pouco diferentes,


não obstante tenham algumas exigências específicas na formação de variados órgãos de
consumo.
A couve está amplamente difundida, devido à sua plasticidade ecológica e à selecção
consciente e natural de muitos anos.
É relativamente resistente ao frio, o que lhe permite que, em regiões e épocas, onde
outras culturas mais exigentes ao calor não se desenvolvem bem, esta cultura possa ser
feita. Cultiva-se sobretudo nos países do norte, onde constitui uma fonte fácil e barata de
vitaminas para a alimentação do povo. Nestes países, o seu consumo é elevado e variado.
A couve-flor, couve nabo e rábano são as mais ricas em substâncias nutritivas. Nos países
do sul, também é cultivada, sobretudo na época fresca.

Figura 1. Esquema de desenvolvimento das diferentes


formas de Brassica oleracea

As couves, na sua maioria, são plantas bienais. Durante o primeiro ano formam-se os
órgãos vegetativos e os órgãos onde se acumulam as substâncias de reserva e no início da
segunda fase vegetativa desenvolve-se o caule floral rapidamente. A fase de vernalização
realiza-se, para a maioria das couves, mais rapidamente a baixas temperaturas positivas, no
intervalo de 4 a 13C. É de destacar aqui a diferença de temperaturas de vernalização e do
comprimento do dia na espécie Brassica campestris, pois a floração e a formação da
semente na couve china (Paak-ts’oi) é encorajada a temperaturas relativamente altas e
comprimento do dia maiores que 12-13 horas enquanto que o repolho china (Pe-tsai) a
temperaturas relativamente baixas e em dias longos. Destaca-se também algumas
variedades novas de repolho (Brassica oleracea var. capitata) produzidas na Indonésia,
América Central e Japão que produzem sementes a temperaturas relativamente altas.
A estrutura dos órgãos reprodutivos de todas as espécies é igual. A inflorescência é
um rácimo. Segundo a sua situação sobre o caule floral e as condições em que cresce, o
seu comprimento varia.
Devido a sua representatividade, debruçar-nos-emos agora principalmente sobre o
repolho.
Capítulo 1: Generalidades

1.1. Origem e composição do repolho

O repolho é uma planta hortícola muito antiga. Foi conhecida e aproveitada como
alimento, desde há milhares de anos antes da nossa era. É originária do sul da Europa e
regiões mediterrâneas.
Para conhecermos a importância do repolho, em termos de composição de alguns
elementos nutritivos, apresenta-se na tabela 1 a composição de algumas hortícolas do
género Brassica e as mais comercializadas em Moçambique.

Tabela 1. Composição do repolho, algumas outras hortícolas do género Brassica, alface,


cebola, tomate e cenoura por 100 g da porção comestível

Espécies Parte Água Calo- Proteína Fibra β- Vit. C Ca P Fe


da (ml) rias (g) (g) Caroteno (mg) (mg) (mg) (mg)
planta (µg)
Couve china (Paak- Folhas 93 21 1,8 0,7 2160 74 147 33 4,4
ts’oi)
Repolho china (Pe- Folhas 95 15 1,8 0,6 930 66 102 31 7,5
tsai)
Couve galega Folhas 84 43 3,5 1,6 900 110 132 77 1,3
Couve-flor Folhas 87 43 4 1,5 600 80 100 2
Rábano Folhas 90 31 2,6 1 2000 68 52 48 1,3
Couve nabo Folhas 90 28 3 0,4 4560 139 158 131 1,9
Raiz 90 34 1 0,7 Traços 25 30 0,4
Repolho Folhas 93 23 1,5 0,8 18 40 40 0,5
Alface repolhuda Folhas 96 14 1 0,4 885 4 18 22 0,4
Cebola Bolbo 87 48 1,5 0,5 Traços 10 30 0,5
Tomate Fruto 93 21 1 0,6 450 26 10 24 0,6
Cenoura Raiz 88 40 0,9 1,4 5480 8 35 38 0,7
Fonte: Tindall, 1986.

Comparativamente às outras hortícolas do género Brassica, o repolho tem uma


composição em elementos nutritivos pobre mas comparando com outras hortícolas como
alface, cebola, tomate e cenoura podemos considerar o repolho relativamente rico em
Vitamina C (vit. C) e cálcio (Ca). O conteúdo de vit. C não é igual em todas as partes do
repolho. As folhas exteriores do repolho contêm maior quantidade de vit. C do que as mais
interiores, mas, em contrapartida, são mais fibrosas, o que pode ser aproveitado sob forma
curtida (produção de pickles). Em algumas variedades, comprovou-se que as folhas
exteriores contêm 71,7 mg/100 g de vit. C, enquanto que as folhas interiores apenas
contêm 37,1 mg/100 g, o que quer dizer que o conteúdo das folhas exteriores é cerca do
dobro das interiores.
O repolho é consumido em cru e cozido. Em cru é aproveitada em saladas e em
cozido, como condimento em algumas sopas e comidas. Também se pode usar como
matéria prima na indústria de conservas, preparando diferentes produtos tais como couve
recheada e em picles, tendo em conta o paladar da população em cada região do país, etc.
1.2. Produção mundial

De 1979 a 1988 depois do tomate, o repolho era a cultura hortícola mais produzida
no mundo. A maior parte da produção do repolho é produzida nas zonas temperadas.
Desde 1995 a 1997, cerca de 60% da produção mundial do repolho era proveniente de 7
países: China, Índia, Coreia do Sul, Japão, USA, Polónia e Indonésia (Tabela 2).
Tabela 2. Produção mundial

Países Áreas (1000 ha) Rendimento (ton/ha) Produção (1000 MT)


1989- 1995 1996 1997 1989- 1995 1996 1997 1989- 1995 1996 1997
91 91 91
Mundo 1660 1968 2041 2073 23,8 24,4 24,2 24,5 39426 48060 49495 50709
China 356 580 660F 670F 23,1 24,4 24,6 25,1 8230 14149 16214F 16814F
Índia 171 220F 220F 220F 14,7 19,1 19,1 19,1 2504 4200F 4200F 4200F
Coreia 48 53 54 57 64,7 59,2 56,0 55,0 3129 3150 3025 3120
Sul
Japão 70 65 64 67F 40,3 42,4 42,2 40,4 2815 2756 2703 2705F
USA 70 87 89 91 20,0 23,5 22,3 24,6 1400 2033 1973 2223
Polónia 53 56 48 48 32,7 33,6 38,3 36,6 1738 1866 1832 1770
Indonésia 51 66 72F 72F 19,5 24,7 21,3 21,3 991 1625 1530 1530F
F – Valores estimados

Capítulo 2: Classificação e características botânicas

Segundo a classificação botânica o repolho pertence a:


 Família: Cruciferae
 Género: Brassica
 Espécie: Brassica oleracea
var. capitata

O repolho é uma planta bienal típica. Durante o primeiro ano forma-se a roseta de
folhas e o repolho. Neste acumulam-se as substâncias de reserva que servirão de base ao
crescimento da caule floral no início do ciclo vegetativo seguinte.

2.1. Raiz

A raiz é aprumada com um sistema radicular muito ramificado, formando-se uma


grande quantidade de finas ramificações radiculares, as mais jovens das quais estão
cobertas de pêlos absorventes. Algumas raízes chegam a profundidades de 1,5 m e
lateralmente alcançam 1,05 m. A maior parte da massa de raízes encontra-se situada, no
máximo, a cerca de 60 cm de profundidade. As raízes que absorvem água e nutriente
situam-se entre 40-50 cm de profundidade. Desta forma explica-se a grande capacidade de
absorção da sistema radicular.
Na fase inicial as raízes crescem lateralmente e a uma profundidade de 30 cm, sendo
esta uma das circunstâncias que determina as grandes exigências do repolho quanto ao
conteúdo de água no solo, nas primeiras fases do desenvolvimento da planta. Depois de
uma seca prolongada, o sistema de raízes recupera-se com relativa facilidade. Pela mesma
causa, o caule emite raízes adventícias, o que justifica a efectivação da amontoa.
2.2. Caule

O caule é relativamente grosso e carnudo. A parte inferior é lenhosa. Durante o


primeiro ano cresce com relativa lentidão e não se ramifica. Os entrenós são curtos,
especialmente na zona da cabeça do repolho.
A parte do caule que está situada imediatamente abaixo da cabeça do repolho
chama-se tronco exterior e a que está dentro da cabeça do repolho chama-se tronco interior
(figura 2). Ambos os troncos têm comprimentos diferentes, consoante as variedades.
No caule, nas axilas das folhas, localizam-se as gemas laterais, que durante a
primeira fase do ciclo vegetativo se encontram em repouso. Somente a gema apical é
activa. O crescimento das laterais pode ser estimulado por desponte da gema apical. Deste
modo, surge a possibilidade de obter uma segunda colheita, na mesma planta, durante o
primeiro ano, depois do corte dos repolhos formados da gema apical. Esta medida deve ser
bem analisada antes de a efectuar. O caule alonga e ramifica intensamente durante o
segundo ano, depois da vernalização das plantas. O caule central chega a uma altura de
1,2-1,5 m. Sobre ele, das gemas laterais, crescem os ramos de primeira classe e sobre eles
aparecem os de segunda classe, raramente se formando os de terceira classe. Assim,
durante o segundo ano, forma-se um robusto caule floral, muito ramificado.

Figura 2. Esquema da planta de repolho

2.3. Folhas

Estas podem ser sésseis ou de pecíolos mais ou menos curto, partindo do caule em
diferentes ângulos, segundo as particularidades das variedades.
Os limbos das folhas são diferentes quanto ao seu tamanho, tendo a superfície muito
variável (lisa ou enrugada), por vezes com um pó parecido com cera. A sua cor varia de
verde-claro a intensamente violáceo.
O sistema de nervuras também é variável quanto ao tamanho e localização. As
nervuras grossas e bem desenvolvidas constituem um sinal de baixa qualidade dos
repolhos destinados para consumo o que se deve a um crescimento anormal dos tecidos
condutores.
De acordo com o tamanho das variedades, as rosetas de folhas podem oscilar entre
0,5-1 m de diâmetro. Esta particularidade das variedades é de grande importância ao
determinar a área de implantação mais adequada, quanto a sua forma e tamanho.
O repolho não é senão uma gigantesca gema composta, formada pelo tronco
interior (figura 2), folhas enrugadas e não abertas, gema apical e gemas laterais,
inseridas sobre o tronco, nas axilas das folhas, formando-se graças à actividade da gema
apical, da qual se formam constantemente novas folhas que, depois de formada a roseta
de folhas (aparelho de assimilação), não se abrem, continuando o crescimento dentro da
cabeça do repolho.
O tronco interior não é de tamanho constante, sendo em algumas variedades, muito
curtos. Noutras, é mais longo. Permanecendo uniformes as condições ambientais, quanto
mais longo for o tronco interior, menor será a qualidade do repolho. Muitas vezes, os
entrenós dos troncos longos são maiores e, por isso, os repolhos não são nem bastantes,
nem uniformemente compactos.

2.4. Flores e frutos

A inflorescência é um rácimo. Segundo a sua situação sobre o caule floral e as


condições em que cresce, o seu comprimento varia. As ramificações laterais secundárias,
que estão colocadas mais baixo e as que cresceram mais tarde e em condições
desfavoráveis, formam rácimo mais curtos com menos flores. Quanto melhor estiver
correlacionado o conjunto de condições ambientais com as exigências da planta, tanto
maiores serão os rácimo e, por conseguinte, tanto maior será o rendimento em sementes.
As flores são hermafroditas, amarelas ou brancas, compostas por 4 sépalas e 4
pétalas. Os estames são 6, 2 exteriores curtos e 4 interiores longos. O ovário é supero e
bicarpelar. O fruto é uma siliqua de 8-10 cm de comprimento.
A polinização é cruzada, realizando-se muito facilmente até entre plantas de
diferentes espécies e variedades.

2.5. Sementes

As sementes são arredondadas, pequenas, de cor castanho-claro a castanho-


chocolate, com a superfície ligeiramente irregular ou lisa. O peso de 1000 sementes é cerca
de 4 g.
As sementes das diferentes espécies não se diferenciam entre si, apenas tendo em
conta o aspecto exterior. As sementes sãs, não danificadas e colhidas no próprio ano,
apresentam-se com uma cor uniforme. Quando a semente se torna amarela, é indicio de
que perdeu as suas faculdades germinativas.
As couves comuns e couves nabo têm sementes maiores, os repolhos e rábano de
tamanho mediano, enquanto que as sementes mais pequenas são as das couve-flor, couve
china e couve bruxelas.

2.6. Ciclo

Podemos distinguir 4 fases na ½ do ciclo do repolho:

Fase 1: Estabelecimento
Fase 2: Crescimento vegetativo
Fase 3: Formação do rendimento – 30-40 dias
Inicia a formação do repolho; reduz ou pára o desdobrar das folhas, mas
continua a emitir novas folhas.
Fase 4: Maturação – 10-20 dias
Acaba quando a cabeça está firme.

O período de duração das fases 1 e 2 é de aproximadamente 50 a 100 dias


enquanto que o das fases 3 e 4 é de aproximadamente 40 a 60 dias.
As fases 1 e 2 caracterizam-se por um crescimento / desenvolvimento lento
enquanto que as fases 3 e 4 caracterizam-se por um crescimento / desenvolvimento
rápido e o peso da cabeça do repolho dobra cada 9 dias.

Capítulo 3: Exigências ambientais

3.1. Temperatura

O repolho desenvolve-se melhor em clima temperado (climas frescos e húmidos),


razão porque esta cultura é fundamentalmente cultivada nos países do Norte.
A média óptima de temperatura para a formação da cabeça é de aproximadamente
18C (intervalo de 15-20C), com uma temperatura média máxima de 24C e mínima de
4,5C. A cerca de 5C o crescimento é lento. A produção de repolhos nos trópicos,
geralmente, é bem sucedida acima de 800 m de altitude. A baixas altitude podem formar-
se cabeças pequenas de repolho devido à precocidade da maturação influenciada pela alta
temperatura. A diferença, aproximadamente, de 5C entre a temperatura diurna e nocturna
parece ser necessária para um desenvolvimento adequada da cabeça.
Temperaturas de mais de 30C são prejudiciais, sobretudo se houver uma baixa
humidade no solo e no ar, não sendo tão perigosas se o balanço de humidade for adequado.
Em condições de alta temperatura e baixa humidade (solo e ar), as plantas ficam pequenas,
assim como o seu sistema foliar, enquanto que o tronco exterior se alonga muito.
As sementes iniciam a sua germinação a uma temperatura de 5C, mas muito
lentamente, em duas semanas. A temperatura óptima é de 18-20C, germinando em 3-4
dias.
Suporta geadas (-10 a -6C) por períodos curtos. A -5C por períodos longos (30-60
dias) é prejudicial. Se o frio ocorrer quando as folhas já tiverem 5-7 cm, pode induzir a
produção de caules florais (vernalização). A temperaturas abaixo de 10C induz a floração
precoce.

3.2. Luminosidade

O repolho é uma cultura exigente em iluminação. No caso desta ser deficiente, as


plantas afilham facilmente, o que é muito evidente na etapa de postura. Por isso, neste
período, através duma correcta determinação da norma de sementeira, pode-se assegurar a
melhor iluminação possível das plantas jovens. Depois do sistema foliar estar formado,
durante o período de formação dos repolhos, as exigências de luz diminuem.

3.3. Humidade

O sistema radicular do repolho é notavelmente ramificado e muito desenvolvido.


No entanto, a planta é exigente quanto à humidade do solo, pois o sistema foliar tem um
grande desenvolvimento e evapora grandes quantidades de água. Se existir pouca
humidade, as folhas mais velhas ficam amarelas e caem antes do tempo, pelo que o
tronco exterior parece mais alto.
O repolho é exigente em humidade do solo durante todo o ciclo vegetativo,
especialmente durante a adaptação das posturas e na fase de formação da cabeça dos
repolhos. Se durante a fase de adaptação das posturas houver baixa humidade, uma
considerável percentagem de plantas podem secar ou demorar a adaptação do seu
sistema radicular.
Escassez de humidade durante o período de formação da cabeça dos repolhos
significa que a planta não irá aproveitar as suas potencialidades produtivas de massa
foliar, gerando-se repolhos pequenos. Nesta fase, é prejudicial não só a escassez de
humidade, como também a instabilidade da humidade do solo, porque em tais condições
o ritmo de crescimento das folhas interiores e exteriores é diferente, o que origina o
fraccionamento da cabeça dos repolhos.
O repolho também não suporta a excessiva humidade do solo, porque diminui o
acesso de oxigénio às raízes, diminuindo consideravelmente a actividade da planta.
A humidade mais propícia para esta cultura é de 80-90% da capacidade de campo. A
humidade relativa óptima é de 60-90%.

3.4. Exigências nutricionais

Segundo a quantidade de nutrientes que a planta extrai do solo, o repolho ocupa um


dos primeiros lugares entre as hortícolas, empobrecendo o solo consideravelmente. A
produção de 30 ton. de repolho pode extrair do solo cerca de 120 kg de nitrogénio, 20 kg
de fósforo, 100 kg de potássio e 85 kg de cálcio.
O repolho desenvolve-se bem no caso de fertilizações à base de estrume, tendo-se
também comprovado que, com fertilizações minerais, a cultura se faz com êxito.
Fertilizações só de estrume não são recomendadas, pois ter-se-ia de fazer grandes
aplicações, que não seriam utilizadas na sua totalidade. O repolho pode ser semeado
imediatamente após a estrumação ou 3 anos depois da aplicação. O método mais
favorável e de maior efeito biológico e económico, é sem dúvida a fertilização organo-
mineral.
O repolho é exigente em relação ao conteúdo de azoto do solo. A sua escassez
produz rosetas e repolhos pequenos e tardios, uma vez que o crescimento das folhas
interiores é lento. O seu excesso produz cabeça de repolhos pouco compactos e diminui
a sua capacidade de armazenamento. A necessidade em azoto é maior quando se forma
o sistema foliar. Quanto ao fósforo e potássio, o repolho também é muito exigente,
principalmente o potássio.
A maior absorção de nutrientes é observada no mês seguinte ao início da
formação da cabeça do repolho. Durante este período, algumas variedades absorvem
84,4% da quantidade total de azoto necessária para todo o período de vegetação e ainda
86% de fósforo e 84% de potássio. Estes dados mostram que o solo deve estar bem
abastecido de nutrientes, antes de iniciar a formação da cabeça dos repolhos.
Para determinar a fertilização óptima devemos ter em conta a fertilidade natural do
solo e, ainda, a extracção da planta, que se pode ver na tabela 3, que nos dá a extracção de
diversas variedades botânicas, quanto aos elementos N, P, K, Ca e Mg.
Tabela 3. Extracção de diferentes variedades

Variedades Rendimento Extracção (kg / 100 kg de produção)


(ton/ha) N P K Ca Mg
Repolho 30-70 0,5 0,1 0,5 0,3 0,04
Couve-flor 11-18 1,3 0,2 1,2 0,5 0,07
Bruxelas 6 3,3 0,4 3,2 1,8 -
Brócolos 6 5,0 0,6 5,6 - -
Rábano 15-30 0,5 0,2 0,7 0,3 0,05

3.5. Salinidade

Segundo a classificação de “United States Department of Agriculture” (USDA), o


repolho é um cultura moderadamente sensível à salinidade. O USDA considera um solo
salino quando este apresentar valores de conductividade eléctrica (ECe) igual ou superiores
a 4,0 mS/cm: 4-8 mS/cm ligeiramente salino, 8-15 mS/cm moderadamente salino e >15
mS/cm altamente salino.
Na tabela 4 apresenta-se os valores de ECe da solução do solo que reduzem o
potencial de rendimento em 10%, 25% e 50% de algumas hortícolas.

Tabela 4. Valores de ECe da solução do solo que causam reduções do potencial de


rendimento em 10%, 25% e 50% no tomate, brócolos, repolho, alface, cebola e cenoura

Hortícola ECe (mS/cm) que reduzem o rendimento em


10% 25% 50%
Tomate 4 6,5 8
Brócolos 4 6 8
Repolho 2,5 4 7
Alface 2 3 5
Cebola 2 3,5 4
Cenoura 1,5 2,5 4
Fonte: Landon, 1991.

Pela tabela podemos observar que o tomate, brócolos e o repolho têm uma perda de
25% do potencial de rendimento num solo ligeiramente salino (4-8 mS/cm), enquanto que
a alface, cebola e a cenoura têm a mesma perda de rendimento num solo considerado não
salino (0-4 mS/cm).
Em relação a água de rega, não se observa nenhuma redução no potencial de
rendimento do repolho com conductividade eléctrica da água de rega (ECw) igual a 1,2
mS/cm (ECe = 1,5 ECw). Reduções, no potencial de rendimento do repolho, em 10%, 25%,
50% e 100% observa-se com ECw de 1,9 mS/cm, 2,9 mS/cm, 4,6 mS/cm e 8,1 mS/cm,
respectivamente.

3.6. Solos

O repolho cultiva-se com êxito em diferentes tipos de solo, preferindo-se solos


profundos, com boa retenção de água, boa drenagem e com o óptimo de pH entre 6 e
7,5. Desenvolve-se bem em terrenos de aluvião que contem cálcio, ou nos de origem
granítica, desde que sejam soltos e ainda em terras recentemente desbravadas, se não
forem áridas. Solos óptimos são os franco a franco-argilosos. Em zonas de alta
precipitação preferem-se solos arenosos a franco-arenosos.

3.7. Variedades

Já antes se fez uma descrição mais ou menos detalhada em relação aos diferentes
tipos ou variedades (botânicas) do género Brassica. No entanto, devemos ainda assinalar
que cada uma das variedades (botânicas) inclui uma série de variedades (agronómicas) de
características algo diferentes umas das outras, quanto à forma, cor, tamanho, rendimento e
resistência a pragas e doenças, entre outras características. Por exemplo, em Moçambique,
segundo a Unidade de Direcção Agrícola (UDA), no ano de 1982, planificou-se o cultivo
de diferentes variedades botânicas de couves, que passaremos a assinalar anotando ainda a
sua variedade (agronómica):
 · Couve-tronchuda – Penca de chaves; de origem desconhecida
 · Outras couves – tronchudas; origem Holanda
 · Couve-flor – Alpha palma; Holanda
 · Brócolos – Sriffi; Holanda
 · Couve-bruxelas – Merlon F-1; Holanda
 · Couve-china – Pe-tsai; Nova Zelândia.

As variedades (agronómicas) de repolho, como de outras hortícolas, são de


polinização aberta (normais ou convencionais) e híbridas. Algumas diferenças entre as
variedades híbridas e as de polinização aberta estão apresentadas na tabela 5.

Tabela 5: Algumas diferenças entre as variedades híbridas e as de polinização aberta

Variedades de polinização aberta Variedades híbridas


o o Sementes mais baratas o o Sementes mais caras
o o Exige menores quantidades de o o Exige maiores quantidades de
insumos insumos
o o Menor potencial de produção o o Maior potencial de produção
o o As sementes podem ser usadas o o As sementes não podem ser
na época seguinte usadas na época seguinte porque baixa
o potencial de produção

Algumas variedades de repolho que se pode encontrar à venda em Maputo são:


Gloria, Copenhagen Market, KK Cross, Glory of Enkhuizen e Drumhead.
Descrição destas variedades:
 Copenhagen Market: é uma variedade de polinização aberta de cabeça
esférica, firme, com a parte interna de cor branca, pode atingir 15 cm de
diâmetro e pesa acima de 1,7 kg (SEMOC). As folhas externas são de cor
verde.
 Glory of Enkhuizen: é uma variedade de polinização aberta de cabeça
redonda achatada de cor medianamente verde e pode obter-se um peso
entre 3-4 kg. É adaptada às condições de Inverno, tolera muito pouco as
condições de Verão e é medianamente tolerante à floração prematura
(Coertze, 1995).
 Drumhead: é uma variedade de polinização aberta de cabeça redonda
achatada, de cor verde acinzentada e pode obter-se um peso de 2 kg. É
adaptada às condições de Inverno, não tolera as condições de Verão e é
medianamente tolerante à floração prematura (Coertze, 1995).
 Gloria: é uma variedade híbrida com a cabeça de cor esverdeada,
compacta e pode obter-se um peso entre 2,5-4 kg (SEMOC). Tem
tolerância ao Xanthomonas campestris e ao Fusarium oxysporum.
 KK Cross: é uma variedade híbrida com a cabeça de cor verde clara,
redonda achatada e pode obter-se um peso entre 2,5-3,5 kg (Coertze,
1995). É adaptada às condições de clima tropical. É razoavelmente
tolerância a Xanthomonas campestris e à floração prematura (Coertze,
1995).

4. Formação da cabeça do repolho

O processo de formação da cabeça do repolho consiste numa série de mudanças


morfológicas e de orientação da folha. Estas mudanças na morfologia da folha é
acompanhada por uma curvatura, para dentro, da nervura central e de um alargamento da
forma das folhas. Existem várias pré condições morfológicas para isto acontecer:
 · Folhas largas
 · Pecíolos curtos
 · Alta taxa de produção de folhas
 · Baixa taxa de alongamento do caule

A formação da cabeça resulta da acumulação de folhas jovens abaixo da camada de


folhas que cobrem o ponto de crescimento. Quando a formação da cabeça começa, as
folhas tornam-se mais largas, sésseis (sem pecíolo) e mais erectas no seu crescimento. A
curvatura, para dentro, das margens das folhas, combinada com a sua posição vertical
conduzem a formação da cabeça. A cabeça vai ganhando peso e firmeza até atingir a
consistência aceitável para a colheita devido à formação e expansão das folhas. O tamanho
e a consistência da cabeça é determinada pela variedade e práticas culturais incluindo o
espaço disponível para cada planta e o fornecimento de água e nutrientes durante o
crescimento.
Na fase da formação da cabeça, a largura da folha aumenta mais rapidamente do que
o comprimento da folha, isto significa, que a razão comprimento : largura da folha
diminui. Isto é um indicativo da tendência das plantas para a formação da cabeça.
A forma da folha é muito influenciada pelas condições ambientais. Sob baixa
intensidade de luz, as folhas tendem a ser mais compridas e estreitas. A temperatura
associada à luz, por exemplo, em condições de alta temperatura e alta intensidade de luz,
aumenta a largura das folhas e altas temperaturas ocorrendo sob baixa intensidade de luz
resulta em folhas mais estreitas (Figura 3).
Figura 3: Razão comprimento : largura
da folha a diferentes níveis de intensidade
de luz, crescendo a temperaturas de 10 e
30C.

Com temperaturas de 10C, embora o crescimento seja lento, a forma da folha é


favorável à formação da cabeça, mesmo sob baixa intensidade de luz.
Durante a formação da cabeça, a remoção das folhas internas atrasa o processo da
formação da cabeça e resulta num crescimento horizontal das folhas jovens, enquanto que
a remoção das folhas externas têm pouco efeito sobre o comportamento das folhas
internas. O sombreamento da base das folhas internas conduzem à sua curvatura.
Amarrando as folhas do repolho, fechando o acesso da luz as folhas interna, a formação da
cabeça é mais rápida.

5. Factores que influenciam o rendimento

O rendimento do repolho depende fundamentalmente de dois principais


componentes, o número de plantas por unidade de área e o tamanho da porção colhida
de cada planta. O rendimento é alterado quando existem mudanças no tamanho destes
componentes.
O tamanho da cabeça do repolho está estreitamente correlacionada com o espaço
disponível para cada planta. Com o aumento do espaçamento as cabeças do repolho
tornam-se mais largas. A variabilidade do tamanho da cabeça de planta para planta,
quando crescem a baixas densidades, é menor do que quando crescem a altas densidades
(Figura 4). A competição intra-especifica é maior a altas densidades.
Figura 4. Efeito do espaço por planta sobre o tamanho
médio da cabeça e sua variabilidade “Bravo”

A disponibilidade dos macronutientes também influenciam directamente no


tamanho da cabeça do repolho. Melhores rendimentos podem ser obtidos quando se
aplica níveis adequados de Nitrogénio (N), principalmente no início da fase da
formação da cabeça, e Fósforo (P) e Potássio (K) no início da fase de crescimento
vegetativo, quando se realiza a expansão das folhas exteriores. O conteúdo crítico de N,
P e K nas folhas exteriores que resultam numa redução de 50% do rendimento da
cabeça é 1,3%, 0,1% e 0,3%, respectivamente.
Outros factores que reduzem o crescimento da planta e o peso da cabeça do
repolho são as práticas culturais que danificam o sistema radicular e o crescimento das
plantas em solos compactados.
Vários outros factores podem reduzir o crescimento da planta resultando num
peso da cabeça do repolho reduzido são eles: seca, alagamento, incidência de pragas,
doenças e infestantes.
Durante a formação da cabeça, 40% do carbono assimilado é translocado para o
crescimento da cabeça do repolho. A partição da matéria seca para a cabeça é reduzida
em plantas crescendo sombreadas.
O intervalo de temperatura óptimo para o crescimento do repolho é de 16-18C,
mas a cultura cresce frequentemente em zonas onde a média de temperatura excede este
intervalo. Há cultivares que têm tido um bom desenvolvimento crescendo em terras
baixas dos trópicos, onde a estação fresca atinge médias de temperatura de 26C. Com
temperaturas elevadas, o comprimento da estação de crescimento é reduzido e o
rendimento do repolho é mais baixo. Repolho crescendo a temperaturas de 25C têm
um baixo conteúdo de matéria seca, uma reduzida taxa de crescimento e uma baixa
eficiência no uso da água do que repolhos crescendo a 20C.
A maturação do repolho também é influenciada pelas mudanças no espaçamento.
Quando o espaçamento das plantas de repolho foram reduzidas de 38 para 8 cm entre
plantas, o tempo para atingir a maturação aumentou de 106 para 154 dias (Figura 5).
Isto indica que o nível de recursos disponível para cada planta, principalmente a luz,
dita a taxa de crescimento e maturação do repolho.

Figura 5. Efeito do espaço por planta sobre a


duração de crescimento (transplantação até à
maturação) do repolho “Bravo”

Capítulo 6: Propagação

6.1. Época de sementeira

Para obter repolhos de boa qualidade é importante que se cumpra a época de


sementeira com a maior rigorosidade possível, para que o crescimento e o
desenvolvimento decorram num ambiente favorável, principalmente de temperatura.
A época de sementeira do repolho, aconselhável, para Moçambique é no início dos
meses de Março a Maio e nas zonas montanhosas porque as temperaturas são mais
elevadas, dependendo da altitude, pode-se iniciar a sementeira mais cedo e terminar mais
tarde, isto é, Fevereiro a Junho.

6.2. Produção de plantas

O repolho reproduz-se por semente, fazendo-se geralmente alfobres, onde se


produzem as plantas, que são depois transplantadas para o campo definitivo. A sementeira
directa, seguida de desbaste, não tem sido, normalmente, bem sucedida nas áreas tropicais.
O insucesso é, em grande parte, devido à má gestão do campo, como por exemplo: má
preparação do solo, controlo deficiente de pragas doenças e infestantes, plântulas
desprotegidas do excesso de luz solar e utilização de semente de má qualidade.
Não é aconselhável fazer o alfobre numa área onde frequentemente é utilizada mais
do que uma vez durante 3 anos. A semente é colocada no alfobre a uma profundidade de 1-
1,5 cm e a uma densidade aproximadamente de 1,7 g de semente por m2 de alfobre. Para
plantar 1 ha de terreno são necessários 75-100 m2 de alfobre. É aconselhável fazer-se a
sementeira em linhas, em vez da sementeira a lanço, para que as plântulas se apoiem
mutuamente, visto que a parte do caule que se forma a partir do hipocotilo, fica muito mais
fina e débil, se compararmos com a parte do caule que cresce acima das folhas
cotiledoneais. Na sementeira a lanço, normalmente, as plântulas ficam sem apoio e
facilmente se inclinam para o solo, a parte inferior do caule dobra, dificultando o
transplante. As linhas no alfobre são feitas perpendicularmente ao comprimento e podem
ser feitas à distância de 10-15 cm entre linhas.
Durante os períodos quentes é recomendável fazer-se uma ligeira cobertura do
alfobre pelo menos até 10 dias depois da sementeira. Não se deve deixar a cobertura por
muito tempo, pois as plântulas necessitam de luz solar.
Para se produzirem plântulas de qualidade, é necessário assegurar a rega, um
adequado controlo de pragas, doenças e infestantes e ainda um adequado balanço
nutricional. A este respeito damos as seguintes indicações:
Guenkov (1980) assinala que o melhor crescimento das posturas se dá quando o equilíbrio
de nutrientes nas folhas é de 52:13:35 (N : P2O5 : K2O), o que significa que se deve dar
maior quantidade de azoto às plantas ou seja, quando se aplica 100-150 g / m2 de 8:9:12,
torna-se necessário aplicar 20-25 g / m2 de azoto (25%)
As plântulas atingem as condições adequadas para a transplantação aos 30-35 dias
depois da germinação da semente. As melhores plântulas devem ter 3-4 folhas, caule curto
e grosso, com cerca de 10 cm de altura.
O tamanho das posturas é de primordial importância no rendimento, tendo-se
comprovado, segundo diversos autores, que quando se plantam posturas pequenas e finas,
o peso dos repolhos diminui em cerca de 20%, comparando com os repolhos obtidos de
posturas de qualidade (tabela 6).

Tabela 6: Influência do tamanho das posturas sobre o tamanho final dos repolhos

Tamanho das posturas Peso médio do repolho (kg) Produção relativa (%)
Grandes 3,959 100
Médias 3,476 87,8
Pequenas 3,176 80,1

A plântula do repolho não deve envelhecer em alfobre, pois isto dificulta a sua
recuperação (aumenta o período de estabelecimento), diminuindo o rendimento.
No momento do arranque, se a postura for tenra e frágil, elas devem ser arrancadas
cuidadosamente, sem danificar o pecíolo das folhas e o caule.

6.3. Transplante e compassos usados

É uma das operações de grande importância na cultura do repolho. Realiza-se


quando as plântulas já formaram a quarta folha. É importante que a postura conserve, o
mais intacto possível, o sistema radicular e, se possível, leva-se a plântula com solo que se
tira junto com as raízes. Deve-se regar imediatamente após o transplante, sobretudo se este
não for feito depois de uma forte chuva ou rega. A rega mantém-se até que se observe o
pegamento das plântula.
O compasso usado no repolho depende muito da cultivar usada, de cabeça grande ou
pequena. Como indicação podemos usar para as cultivares de cabeça grande 60-70 cm
entre linhas e 45 cm entre plantas na linha e para as de cabeça pequena 60 cm entre linhas
e 30 cm dentro da linha.
Se usarmos compassos de 90x40 cm com cultivares que têm a roseta com diâmetro
de 80-90 cm, obtém-se uma população aproximadamente de 27000 plantas/ha, podemos
fazer a mecanização total. Para as cultivares com rosetas menores, diâmetro de 50-60 cm,
podemos reduzir o compasso para 60x40 cm, o que nos dá um maior rendimento, uma vez
que a população é maior, cerca de 41600 plantas / ha mas não facilita a mecanização.
As posturas podem ser colocadas no fundo do sulco, no talude ou na crista dos
camalhões. Quando são colocadas na crista de camalhões estreitos, deve-se ter muito
cuidado com a rega, uma vez que, neste caso, a humidade flutua muito e a postura
ultrapassa o período de adaptação com dificuldade.

Capítulo 7: Técnicas culturais

7.1. Adubação

A adubação é fundamental para se obter bons rendimentos. Lembre-se que a


disponibilidade em N deve ser, principalmente, no início da fase da formação da cabeça
e em P e K no início da fase de crescimento vegatativo, quando se realiza a expansão
das folhas exteriores, para se obter os melhores rendimentos do repolho. Por isso, nas
adubações do campo definitivo deve-se ter especial atenção estas duas fases.
Em geral, a necessidade em macronutrientes N, P e K é de 100-150 kg/ha, 50-65
kg/ha e 100-130 kg/ha, respectivamente.
Em alguns países, assinala-se que tendo em conta a fertilidade do solo, para obter um
rendimento médio de 25-30 ton/ha, é necessário aplicar 1,2-1,8 ton/ha de adubo mineral,
por exemplo da formula 8-9-12. Esta adubação pode-se distribuir em duas partes, uma de
500-800 kg, antes do transplante, e outra de 700-1000 kg, na última amontoa. No caso de
solos relativamente pobres, para melhorar o crescimento das folhas, é recomendável que na
primeira sacha e amontoa se apliquem, adicionalmente, 200-500 kg de adubo azotado
(25%). Para solos leves e arenosos, a quantidade total de adubo mineral pode aumentar até
2,5 ton/ha, que deve ser aplicado em 4-5 partes.
Outra variante que se pode utilizar é a seguinte:

1a aplicação = 1-2 dias antes do transplante; 530 kg/ha de 9-5,5-6


2a aplicação = 25-30 dias depois do transplante; 600 kg/ha de 9-5,5-6
3a aplicação = 35-40 dias depois do transplante; 230 kg/ha de Nitrato de
amónia ou 150 kg/ha de ureia.

Com a aplicação de adubos orgânicos as doses de adubo mineral reduzem, por


exemplo, as recomendações para a África do Sul são:

 sem adubo orgânico: 500 a 1000 kg/ha de superfosfato mais 300 kg/ha de
cloreto de potássio e, se o pH do solo for inferior a 6, adicionar 400 kg/ha de nitrato
de amónio contendo cálcio (26%) “limestone ammonium nitrate”, se o pH for
superior a 6, adicionar 500 kg de sulfato de amónio ou 220 kg/ha de ureia;
 com adubo orgânico: 30 m3 de estrume ou composto (adubo orgânico já
decomposto) mais 600 kg de adubo mineral misturado (2:3:2) e 100 kg de cloreto
de potássio.

7.2. Rega

O repolho deve ser regado regularmente, desde o transplante até à colheita. A


sensibilidade aumenta até ao fim do ciclo (maturação). Um período de sequia em
qualquer fase de desenvolvimento, pode atrasar o crescimento e impedir a planta a
atingir a sua capacidade produtiva potencial.
As fases críticas à necessidade de água, no repolho, são: as fases de
estabelecimento das plantas e da formação da cabeça do repolho. Um défice de água na
fase de crescimento vegetativo é menos afectada do que as fases críticas.
A deficiência de água pode causar rachas ou divisão das cabeças do repolho e o
excesso de água pode causar problemas de asfixia da raiz.
A zona radicular efectiva é até cerca de 60 cm de profundidade.
Dependendo do clima, estação do ano e período de crescimento, a necessidade de
água de rega para todo o período de crescimento do repolho é de 380-500 mm. A
evapotranspiração média do repolho é cerca de 5 mm/dia.

7.3. Controlo de infestantes

O controlo de infestantes é um factor importante na cultura do repolho, sendo um


aspecto já discutido em outras hortícolas. O repolho deve manter-se livre de infestantes, até
que as rosetas estejam formadas. Depois deste estágio, não é necessário fazer-se mais
sachas. Antes da formação das rosetas, fazem-se amontoas ligeiras, de forma que se tenha
a planta bem calçada com o solo, destruindo-se paralelamente as infestantes.

7.4. Pragas e doenças

Pragas:
Abaixo está apresentada a descrição (características, sintomas, biologia e controlo) das
principais pragas que podemos encontrar em Moçambique.

 Traça da couve (Plutella xylostella)

São lagartas de 12 mm, quando atingem o comprimento máximo, e de cor verde clara (veja
fotos – Segeren et al, 1994). Permanecem na página inferior das folhas, onde fazem
pequenos furos de 2-10 mm de diâmetro (veja fotos – Segeren et al, 1994) resultando, no
repolho, pequenas e inúteis cabeças. O ciclo de vida dura 25 a 50 dias e depende muito da
temperatura. As fêmeas podem pôr nas folhas 50-150 ovos isoladamente ou em grupos.
Podemos encontrar esta praga em todo o país (Moçambique).

Controlo químico:
Durante a aplicação do insecticida deve-se ter o cuidado de pulverizar ambos os lados da
folha e é indispensável a mistura de um molhante/aderente às caldas de insecticidas para
poder molhar bem as folhas.
Alguns dos insecticidas (substância activa) que se podem usar são: Ripcord (cipermetrina),
Decis (deltametrina), Basudine (diazinão) e Malatião (malatião).
 Broca da couve (Hellula undalis)

São lagartas têm 15 mm quando crescidas e de cor creme, com listras laterais de cor
castanho-avermelhada (veja fotos – Segeren et al, 1994). Penetram nas nervuras, pecíolos,
caules (veja fotos – Segeren et al, 1994) e ápice destruindo completamente as plantas
pequenas. Em plantas maiores aparecem 2 a 4 rebentos novos, algumas semanas depois da
destruição do ápice. No repolho atacado produzem várias cabeças pequenas de pouco valor
comercial.
Podemos encontrar esta praga em todo o país (Moçambique).

Controlo:
Se houver destruição do ápice tirar todos os rebentos novos, deixando apenas um, algumas
semanas após a sua formação.
Deve-se destruir, logo depois da colheita, todos os restos da cultura.
O controlo químico é o mesmo que se observa para a traça da couve.

 Afídeos da couve (Brevicoryne brassicae, Lipaphis erysimi e Myzus


persicae)

Pequenos insectos de 1-2,5 mm, com cor verde acinzentada e, às vezes, cobertos por uma
substância cerosa branca (Brevicoryne brassicae) ou verde (Lipaphis erysimi) ou verde
clara a verde amarelada (Myzus persicae) vivendo em grupos em ambos os lados da folha
(veja fotos – Segeren et al, 1994). As plantas gravemente afectadas murcham e morrem.
Multiplicam-se rapidamente durante os meses de Janeiro a Abril quando a temperatura e
humidade são altas, mas os estragos são maiores na falta de chuva.
Podemos encontrar esta praga em todo o país (Moçambique).

Controlo:
Observar regularmente as folhas e arranca as mais velhas e infectadas. Eliminar os restos
da cultura anterior de couve, repolho ou nabo do campo e da vizinhança.
No controlo químico é indispensável a mistura de um molhante/aderente às caldas de
insecticidas para poder molhar bem as folhas.
Alguns dos insecticidas (substância activa) que se podem usar são: Basudine (diazinão),
Malatião (malatião) e Azodrin ou Nuvacron (monocrotofos).

Doenças:
Em Moçambique (1958), assinalaram-se as seguintes doenças:
 · Cancro – Phoma lingam (Tode) Desn.
 · Mancha bacteriana – Pseudonomas maculicola (mcCulloch) Stevens.
 · Mancha concêntrica da folha – Alternaria oleracea, Milbrath.
 · Míldio – Peronospora brassicae, Gaurm.
 · Podridão mole – Erwinia carotovora, (zones). Holland.
 · Podridão preta ou enegrecimento das nervuras – Xanthomonas campestris,
(Pammel) Dans.

Abaixo está apresentada a descrição (sintomas, biologia e controlo) das principais doenças
que podemos encontrar hoje em Moçambique.

 Murchidão-das-plântulas (vários fungos como: Pythium, Rhizoctonia,


Sclerotium e Fusarium)

Ver os apontamentos de TOMATE.

 Podridão-preta (Xanthomonas campestris)

Amarelecimento das folhas, começando a partir das margens (veja fotos – Segeren et al,
1994). No caule das plantas doentes, em corte transversal, nota-se a toda a volta um anel
preto, logo abaixo da casca. A cabeça do repolho pode também ficar parcialmente
descolorida. A temperatura óptima que favorece a doença é cerca de 28°C. Em condições
óptimas, os sintomas são visíveis 4 dias depois da penetração da bactéria. A disseminação
dentro do campo faz-se através da água de rega e da chuva, instrumentos agrícolas, restos
de cultura, crucíferas cultivadas ou espontâneas e sementes.

Controlo:
Rotação de culturas durante pelo menos 2 anos, evitar a produção do repolho nos períodos
quentes e húmidos, fazer os alfobres longe de outras crucíferas, usar variedades resistentes
como a Gloria F1 híbrido e tratar a semente com água quente de 52°C durante 30 minutos.
O controlo químico da doença é difícil, o melhor é fazer o tratamento preventivo.

 Podridão-mole (Erwinia carotovora)

A doença manifesta-se geralmente na fase final da cultura. Os tecidos afectados


transformam-se numa massa mole, viscosa de cheiro nojento devido à presença de
microorganismos secundários (veja fotos – Segeren et al, 1994). No caule o anel vascular
adquiri uma coloração acastanhada. A bactéria vive de matéria orgânica morta na maioria
dos solos, é facilmente disseminada por insectos, instrumentos agrícolas e Homem. A
penetração é feita sempre através de feridas de qualquer natureza. As condições mais
favoráveis para a doença são temperaturas entre 25° e 30°C e humidade relativa próxima
dos 100%. Deficiências de Boro e de Cálcio predispõem as crucíferas ao ataque da
bactéria. A bactéria pode afectar cerca de 70 espécies de plantas, na sua maioria hortícolas.

Controlo:
Rotação de culturas para diminuir o potencial de inóculo, evitar altas densidades de
sementeira ou de transplantação, evitar material mal decomposto e armazenar os repolhos
em lugares frescos e ventilados.

 Míldio (Peronospora parasitica)

A doença manifesta-se inicialmente por numerosas manchas pequenas de cor púrpura nas
folhas. Em condições de húmidade, estas manchas alargam-se sendo amareladas na página
superior das folhas e o fungo desenvolve-se nas zonas correspondentes da página inferior
(veja fotos – Segeren et al, 1994). Nas plantas crescidas a doença manifesta-se em
manchas amarelo-pardacentes entre as principais nervuras. No alfobre a doença pode
causar bastante danos. Os esporos do fungo são disseminados pelo vento, água de rega e da
chuva ou orvalho. As condições apropriadas para o desenvolvimento do fungo são
humidade relativa elevada com orvalho ou céu nublado e temperaturas de 10°-15°C.

Controlo:
Evitar altas densidades de sementeira ou de transplantação. O controlo químico deve ser
feito logo que as plântulas tenham 3 cm de altura e repetir de 7 em 7 dias. Não esquecer o
uso de um aderente/molhante para assegurar uma boa cobertura.

7.5. Defeito fisiológico

 “Tipburn”:
É caracterizado por uma necrose das margens das folhas jovens. Quando o defeito é
severo pode desenvolver-se sobre mais do que metade da área da folha. No repolho torna-
se difícil a visibilidade deste sintoma porque as folhas afectadas estão no interior da cabeça
e só serão visíveis depois da sua utilização.
Este defeito é causado por uma deficiência de cálcio nas folhas jovens. Vários
factores podem estar na origem da deficiência de cálcio, por exemplo:
a) a) condições do solo que restringem o crescimento das raízes como as
condições anaerobicas, pH, compactação e alagamento de solos;
b) b) humidade relativa que causa transpiração limitada;
c) c) falta de água ou irregularidade de água de rega;
d) d) deficiência de cálcio na solução do solo.

A imobilidade natural do cálcio nas planta cria dificuldades no controlo do


“Tipburn”, mas algumas medidas podem ser tomadas para reduzir este defeito, por
exemplo: evitar todas as condição que restringem o crescimento das raízes, regular a água
de rega e fazer, semanalmente ou mais frequentemente, adubações foliares de cálcio
localizada na área mais susceptível ao defeito. Estas adubações devem continuar durante
todo o período de crescimento activo da susceptibilidade do tecido.

Capítulo 8: Colheita e rendimento

Os repolhos estão aptos para a colheita, quando as folhas de cobertura, as mais


externas, estão bem esticadas e a cabeça dos repolhos bastante compactos. Isto pode-se
saber quando, ao apertar a parte superior do repolho, se sente uma certa solidez e não
existe humedecimento. Pode ocorrer aos 3-4 meses depois da sementeira.
Os repolhos são cortados junto com as 2-3 folhas que o cobrem. Isto é necessário
para que o repolho não sofra com o transporte, o qual se pode fazer a granel.
Geralmente fazem-se três períodos de colheita, dependendo da variedade:
1a período – colhendo 20% da produção
2a período – colhendo 60% da produção
3a período – colhendo 20% da produção

A primeira colheita é o que se chama de desponte, efectuando-se por volta dos 85


dias depois do transplante. As seguintes fazem-se a intervalos de cerca de 7 dias.
O rendimento depende muito da variedade e das condições fitotécnicas, que se
tenham realizado à cultura. Este segundo aspecto vai ter grande importância na elevação
dos rendimentos.
Em geral, os rendimentos flutuam muito. Dependendo das condições ambientais, das
técnicas culturais e do período de maturação necessário para as várias cultivares, os
rendimentos podem varias de 12-40 ton./ha.
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