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2015

PRÁTICA DO
DEGADO DE POLÍCIA
Concursos Públicos

PRÁTICA PROFISSIONAL

DELEGADO DE
POLÍCIA

COACHING
Coautores: Prof. Filipe Martins e Prof. Yves Correia
Canal Carreiras Policiais
CANAL CARREIRAS POLICIAIS 01/01/2015
PEÇAS PRÁTICO-PROFISSIONAIS
DELEGADO DE POLÍCIA

SUMÁRIO

-Introdução --------------------------------------------------------------------------------- Página 2

-Estruturação da peça prático-profissional ------------------------------------- Página 2

1-Prisão Temporária ---------------------------------------------------------------------- Página 5

2-Prisão Preventiva ---------------------------------------------------------------------- Página 16

3-Interceptação Telefônica --------------------------------------------------------- Página 25

4-Da busca e apreensão domiciliar ---------------------------------------------- Página 29

5-Sequestro de bens ------------------------------------------------------------------- Página 36

6-Hipoteca Legal ------------------------------------------------------------------------ Página 40

7-Arresto ------------------------------------------------------------------------------------ Página 41

8-Sigilo Bancário ------------------------------------------------------------------------- Página 41

9-Interceptação ambiental --------------------------------------------------------- Página 43

10-Auto de Prisão em Flagrante --------------------------------------------------- Página 44


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11-Infiltração de Agentes ------------------------------------------------------------ Página 52

12- Portaria --------------------------------------------------------------------------------- Página 55

13-Relatório ------------------------------------------------------------------------------- Página 59

14-Indiciamento ------------------------------------------------------------------------ Página 62

-Expressões de transição ------------------------------------------------------------- Página 63

1
INTRODUÇÃO
Os concursos de Delegado de Polícia atualmente vêm exigindo o
conhecimento do candidato a respeito da prática que será exigida no
exercício da atividade profissional.

Em razão dessa novel exigência, precisaremos estudar com minúcia cada


peça processual e suas peculiaridades.

Importante, desde já, destacar que as peças mais cobradas em nossos


concursos de Delegado de Polícia são a representação de prisão
preventiva, temporária, busca e apreensão, sequestro de bens e
interceptação telefônica.

Precisaremos de atenção especial às referidas peças, porém não podemos


nos abster de estudar as demais, pois elas podem ser perfeitamente alvo de
futuros certames policiais.

Registre-se que não adentraremos em discussões jurídicas, como a


constitucionalidade ou não da interceptação de dados telemáticos e de
informática. Se a questão pedir a análise da matéria, ela deverá ser
abordada, em detrimento da convicção pessoal do candidato.

ESTRUTURA DA PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL


Antes de iniciarmos o estudo das peças propriamente ditas, analisaremos a
estrutura básica que deve compreender as representações à autoridade
judicial.
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ENDEREÇAMENTO
1. JUSTIÇA ESTADUAL:
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CRIMINAL DA
COMARCA DE ___________________

2. JUSTIÇA FEDERAL:
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ___ VARA FEDERAL CRIMINAL
DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE __________________

ATENÇÃO: a Justiça Federal não é dividida em Comarcas, mas em Seções.

REFERÊNCIAS:

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Posteriormente o candidato deverá indicar o número do inquérito policial e do
processo, caso o inquérito já tenha sido tombado na Justiça.

Exemplos:
• IPL. nº ___/2011 – DPF/SP
• Processo nº XXXXXXX-XX.2011.X.XX.XXXX - ___ Vara Federal Criminal

ASSUNTO (OPCIONAL):
Logo abaixo da referência, é opcional a inclusão do assunto que será
tratado na peça prático-profissional elaborada. Ex. Representação por
INTERCEPTAÇÃO DE COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS – Tráfico de Drogas

PREÂMBUCO:
1. O Departamento de Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, por intermédio
do Delegado de Polícia infra-assinado, lotado e em exercício na DELEPAT
/SR/DP/RJ, vem, no uso de suas atribuições legais, representar / requerer ... em
face de ..., residente e domiciliado em..., pelos fatos e fundamentos que passa a
expor:

2. O Departamento de Polícia do Estado de Santa Catarina, por intermédio


do Delegado de Polícia infra-assinado, lotado e em exercício na Delegacia
X/SC/RB, vem, com base em suas atribuições legais e constitucionais,
representar pela decretação de Prisão Preventiva em face de Cléber de
Azevedo, brasileiro, solteiro, desempregado, RG 111111111-0, CPF
111.111.111-11, residente e domiciliado na Av. Beltrão das Torres, nº 231,
Florianópolis, SC, em razão dos fatos e fundamentos que passa a expor:

3. O DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL, por intermédio do Delegado de


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Polícia Federal subscritor, no uso de suas atribuições legais e constitucionais,


dando continuidade às investigações materializadas nos autos do Inquérito
Policial no. XXX/YY em curso perante este juízo, vem perante Vossa
Excelência representar pela decretação de (descrever a medida cautelar
postulada – prisão, busca e apreensão, quebra de sigilo bancário,
interceptação telefônica etc.), pelos fatos e fundamentos que passa a expor.

Em diversos países, a autoridade policial, por não ser parte, não possui a
capacidade postulatória. Porém, no Brasil, segundo a doutrina majoritária, o
Delegado de Polícia tem a capacidade de se manifestar diretamente à
autoridade policial. Trata-se de uma particularidade do Direito brasileiro.

3
Veja que após o preâmbulo o candidato deverá criar os tópicos padrões que
costumam ser ensinados na faculdade em referência a toda e qualquer peça
prático-profissional: “Dos fatos” e “Dos Fundamentos”. Sobre o tema, importante
salientar que não há regra pré-formatada, podendo o candidato separar um
tópico para os fatos e outro para os fundamentos, mas também poderá criar
um único tópico: “Dos fatos e fundamentos”.

DOS FATOS:
Neste capítulo, a autoridade policial deve informar à autoridade judicial
competente os levantamentos efetuados no inquérito, descrevendo a
atuação do investigado ou da organização criminosa, bem como os fatos a
serem apurados e o respectivo enquadramento legal, justificando a
necessidade da concessão da medida cautelar pleiteada.

O candidato deverá demonstrar, de forma pormenorizada, a conduta que o


conduziu à instauração do inquérito, bem como o modus operandi do
suposto crime praticado, com horário e loca.

DOS FUNDAMENTOS:
Neste capítulo, a autoridade policial deverá demonstrar a existência dos
requisitos legais e constitucionais para a concessão do pedido.

A depender da medida, os requistos irão variar, conforme estudaremos a


seguir, quando iniciarmos a análise da peças em espécie.

DOS PEDIDOS:
Pelo exposto, e com o objetivo de avançar nas investigações conduzidas por
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meio do IPL no. XXX/YY, REPRESENTO a Vossa Excelência, com fulcro no


artigo ..., PELA DECRETAÇÃO (de afastamento do sigilo bancário,
interceptação telefônica, busca e apreensão, prisão preventiva, prisão
temporária etc.).

A depender da medida objeto da representação, pode haver um rol de


pedidos. Inclusive, pode existir a necessidade de cumulação de peças. Ex.
Representação de Busca e Apreensão Domiciliar cumulada com Prisão
Preventiva ou Temporária. Nesses casos, haverá dois ou mais pedidos.

FECHAMENTO:
Rio de Janeiro/RJ, xx de agosto de 2015.
Respeitosamente,

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Fulano de Tal
Delegado de Polícia Civil
Matrícula. XXXXX

IMPORTANTE: DOUTORES, atenção aqui! Muitos candidatos acabam


esquecendo que estão em um concurso público e acabam assinando a
peça. A identificação da peça elimina o candidato. Verifique se a questão
não trouxe um nome fictício. Caso não haja menção, insira apenas a
expressão “Delegado de Polícia”.

Prezados, como já apresentamos a base, analisaremos a partir de agora as


peças em espécie:

1. PRISÃO TEMPORÁRIA
1.1. LEGITIMIDADE PARA DECRETAR A PRISÃO TEMPORÁRIA:
O juiz é quem decreta a prisão temporária, mediante representação da
autoridade policial ou requerimento do MP. Cumpre destacar que o juiz,
antes de deferir a prisão temporária, deve ouvir a opinião do MP, o que não
ocorre na hipótese de prisão preventiva. Ademais, cumpre destacar que a
vítima NÃO pode requerer a decretação da prisão temporária e nem
mesmo o juiz de ofício. Frise-se que NÃO é possível a decretação de
temporária nos crimes de ação penal privada e nem mesmo nos crimes
patrimoniais praticados sem violência ou grave ameaça.

O encarceramento é medida extrema. Trata-se de remédio amargo a ser


utilizado com parcimônia em casos pontuais. Afora da captura em flagrante
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delito, a privação da liberdade do cidadão brasileiro há que ser


determinada por Autoridade Judiciária, nos casos em lei permitidos. É o
mandamento inserto no artigo 5º, inciso LXI.

1.2. QUANDO É CABÍVEL?


Lei 7.960/89, Art. 1° Caberá prisão temporária:
I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;
II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos
necessários ao esclarecimento de sua identidade;
III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova
admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos
seguintes crimes:
a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°);
b) seqüestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°);

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c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);
e) extorsão mediante seqüestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e
parágrafo único);
g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação com o art.
223, caput, e parágrafo único);
h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 caput, e
parágrafo único);
i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal
qualificado pela morte (art. 270, caput, combinado com art. 285);
l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal;
m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de 1956), em
qualquer de sua formas típicas;
n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro de 1976);
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de junho de 1986).

IMPORTANTE: O candidato deverá demonstrar a caracterização de um dos


crimes presentes no rol taxativo da Lei 7.960/89, no capítulo da
FUNDAMENTAÇÃO. Nesse parte, o examinador não costuma se atentar a
discussões e divergências sobre os crimes em si, bastando que o candidato
demonstre a existência fática de um dos delitos que autorizam a prisão
temporária.

1.3. REQUISITOS:
Caberá prisão temporária:
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1. quando imprescindível às investigações do inquérito policial; (periculum


libertatis)
2. quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos
necessários ao esclarecimento de sua identidade; (periculum libertatis)
3. quando houver fundadas razões de autoria ou participação do indiciado
nos crimes retro citados. (rol taxativo)

IMPORTANTE: Esses requisitos devem ser minuciosamente apresentados pelo


candidato no capítulo da FUNDAMENTAÇÃO. É nesse ponto que o candidato
deverá demonstrar a necessidade de excepcionalização do status de
liberdade de determinado indivíduo.

A prisão temporária é a prisão típica do inquérito policial. Há quem entenda


que, com base no art. 283 do CPP, possa ser decretada a qualquer momento
no curso da investigação, e não exclusivamente no inquérito; até porque a
competência para o pleito não é exclusiva da autoridade policial. Contudo, o

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mencionado art. 1º fala em “indiciado” e em “inquérito”. Essa é a posição
majoritária, inclusive vem sendo chancelada pela jurisprudência.

Não é possível a decretação temporária senão quando presentes a


conjugação (cumulatividade) dos requisitos acima dispostos. (Tem que
haver, ao menos, o fumus comissi delicti e o periculum libertatis). Nesse
sentido, o juiz pode justificar a temporária diante do inciso I e III, II e III ou I,II e
III. O III tem que estar sempre presente, (visto que ele representa o fumus
comissi delicti). Essa é a posição majoritária e que deve ser seguida em
nossos concursos de Delegado.

AMPLIAÇÃO DO ROL DE CRIMES SUSCETÍVEIS À PRISÃO TEMPORÁRIA: A lei


8.072/90, no seu artigo 2º, §4º, não somente alterou o prazo da prisão
temporária para crimes hediondos e equiparados como também ampliou o
rol dos delitos que admitem essa espécie de prisão, acrescentando o estupro
de vulnerável, a tortura e a falsificação, corrupção ou adulteração ou
alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais.

MAPA DA PEÇA:
1. Endereçamento; (padrão)
2. Inquérito / Processo; (padrão)
3. Assunto: Representação de Prisão Temporária
4. Preâmbulo; Ex.: O Departamento de Polícia Civil do Estado do Rio de
Janeiro, por intermédio do Delegado de Polícia Federal infra-assinado,
lotado e em exercício na DELEPAT /SR/DP/RJ, vem, no uso de suas atribuições
legais, representar pela prisão temporária de ..., devidamente qualificado às
folhas ..., pelos fatos e fundamentos que passa a expor:
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5. Apresentar os fatos;
Foi instaurado, por portaria, inquérito policial com o fito de apurar a possível
existência dos crimes de __________________________ (descrever os tipos
penais). Foram levadas a efeito as seguintes diligências:
_______________________ (descrever diligências e provas carreadas aos
autos). Foram até agora identificados os seguintes integrantes do grupo
criminoso: __________________ (identificar todos os representados, com todos
os dados qualificativos possíveis).
6. Apresentar os fundamentos que embasam a representação, expondo os
indícios de autoria ou participação no rol dos delitos que admitem prisão
temporária e demonstrando que a medida é imprescindível às investigações ou
que o indiciado não possui residência fixa ou não tenha sido identificado,
conforme art. 1º, da Lei. 7.960/89.

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O que pode ser utilizado como fundamento para medidas que tornem
imprescindível a prisão para a investigação? (i) a presença do indiciado tem
constrangido a colheita da prova; (ii) medo das testemunhas de serem
identificas; (iii) a pessoa dispõe de cinco identidades diversas; (iv) a digital da
cédula de identidade não corresponde à do indiciado, havendo necessidade
de identificação criminal, sendo que o indivíduo se recusa a se submeter,
gerando a imprescindibilidade da segregação para a identificação; ou
qualquer outra razão que fundamente a necessidade da medida pra as
investigações.

Nesse momento, o candidato deverá apresentar argumentação suficiente


sinalizando quais são os indícios de autoria ou participação nos crimes
previstos na lei (fumus comissi delicti), além de demonstrar a
imprescindibilidade da medida / ou que o indiciado não possui residência
fixa / ou que o indiciado não apresenta elementos de identificação
suficiente. Aqui a argumentação do candidato será essencial para
convencer o examinador de que ele domina o tema.
7. Do Pedido: Diante do exposto, representa-se a Vossa Excelência, após a
manifestação do Ministério Público, pela prisão temporária de ... , considerando
a existência de fundadas razões de sua participação no crime e para que seja
possível (descrever a necessidade), pelo prazo de ...
A prisão temporária é uma prisão que tem prazo certo. O prazo é de 5 dias
renováveis por mais 5 dias. Quando diante de crime hediondo, o prazo da
temporária é de 30 dias renováveis por mais 30 dias. Findo o prazo, o preso
deve ser imediatamente colocado em liberdade.
8. Fechamento; (padrão)

CAIU EM CONCURSO:
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(PEÇA CAUTELAR – MODELO PRÁTICO DE REPRESENTAÇÃO PELA PRISÃO


TEMPORÁRIA E PELA BUSCA E APREENSÃO – QUESTÃO POLÊMICA DO
CONCURSO DE DELEGADO DA BAHIA).
----O questionamento que enfrentaremos diz respeito ao concurso de
Delegado de Polícia Civil da Bahia, ocorrido no ano de 2013.

----Muito importante, desde já, asseverarmos que, não obstante terem


surgido várias divergências durante o concurso, tendo a questão batido,
inclusive, às portas do Judiciário, basearemos a resposta nas manifestações
que prevaleceram na doutrina dos renomados professores GUILHERME DE
SOUZA NUCCI, RENATO BRASILEIRO e ROGÉRIO SANCHES. Outrossim, não se
pode olvidar que a posição dos nobres professores foi justamente a

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correspondente ao gabarito e ao espelho, fornecidos pela Banca
Examinadora do CESPE.

Passado o breve preâmbulo, adentremos na questão:

----ENUNCIADO DA QUESTÃO - BANCA CESPE

Em 17/9/2012 (segunda-feira), por volta de 0 h 50 min, Douglas Aparecido da


Silva foi alvejado por três disparos de arma de fogo quando se encontrava
em frente à casa de sua namorada, Fernanda Maria Souza, na rua Serafim,
casa 12, no bairro Boa Prudência, em Salvador – BA. A ação teria sido
intentada por quatro indivíduos que, em um veículo sedã de cor prata,
placa ABS 2222/BA, abordaram o casal e cobraram, mediante a ameaça de
armas de fogo portadas por dois deles, determinada dívida de Douglas,
proveniente de certa quantidade de crack que este teria adquirido dias
antes, sem efetuar o devido pagamento. Foi instaurado o competente
inquérito policial, tombado, no 21.º Distrito Policial, sob o n.º 0021/2012, para
apurar a autoria e as circunstâncias da morte de Douglas, constando no
expediente que, na noite de 16/9/2012, por volta das 21 h, a vítima se
encontrou com a namorada, Fernanda, e, após passarem em determinada
festa de amigos, seguiram para a casa de Fernanda, no bairro Boa
Prudência, onde Douglas a deixaria; o casal estava em um veículo utilitário
de cor branca, placa JEL 9601/BA, de propriedade da vítima; na madrugada
do dia seguinte, por volta de 0 h 40 min, quando já estavam parados em
frente à casa de Fernanda, apareceu na rua um veículo sedã de cor prata,
em que se encontravam quatro rapazes, que cobraram Douglas pelo
"bagulho" e ameaçaram o casal com armas nas mãos, quando um dos
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rapazes deu dois tiros para o alto, momento em que Douglas e Fernanda se
deitaram no chão. Em ato contínuo, um dos rapazes desceu do carro,
chutou a cabeça de Douglas e, em seguida, desferiu três disparos em sua
direção, atingindo-lhe fatalmente a cabeça e o tórax. Douglas faleceu
ainda no local e os autores se evadiram logo após a conduta, lá deixando
Fernanda a gritar por socorro. Nos autos do inquérito, consta que foram
ouvidos dois vizinhos de Fernanda que se encontravam, na ocasião dos
fatos, na janela do prédio vizinho e narraram, em auto próprio, a conduta do
grupo, indicando a placa do veículo sedã de cor prata (ABS 2222/BA) e a
descrição física dos quatro indivíduos. Na ocasião, foram apresentadas
fotografias de possíveis suspeitos às duas testemunhas, que reconheceram
formalmente, conforme auto de reconhecimento fotográfico, dois dos
rapazes envolvidos nos fatos: Ricardo Madeira e Cristiano Madeira. Fernanda
foi ouvida em termo de declarações e alegou conhecer dois dos autores,

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em específico os que empunhavam armas: Cristiano Madeira, vulgo Pinga,
que portava um revólver e teria desferido dois tiros para o alto; e o irmão de
Cristiano, Ricardo Madeira, vulgo Caveira, que, portando uma pistola
niquelada, desferira os três tiros que atingiram a vítima. Fernanda afirmou
desconhecer os outros dois elementos e esclareceu que poderia reconhecê-
los formalmente, se fosse necessário. Ao final, noticiou que se sentia
ameaçada, relatando que, logo após o crime, em frente à sua residência,
um rapaz descera de uma moto e, com o rosto coberto pelo capacete,
fizera menção que a machucaria caso relatasse à polícia o que sabia. Em
complementação à apuração da autoria, buscou-se identificar, embora
sem êxito, os outros dois indivíduos que acompanhavam Ricardo e Cristiano
na ocasião dos fatos. Juntaram-se aos autos o laudo de exame de local de
morte violenta, que evidencia terem sido recolhidos do asfalto dois projéteis
de calibre 38, e o laudo de perícia papiloscópica, realizada em lata de
cerveja encontrada nas proximidades do local, na qual foram constatados
fragmentos digitais de uma palmar. Lançadas as digitais em banco de
dados, confirmou-se pertencerem a Ricardo Madeira. Também juntou-se ao
feito o laudo cadavérico da vítima, no qual se constata a retirada de três
projéteis de calibre 380 do cadáver: um alojado no tórax e dois, no crânio.
Durante as diligências, apurou-se que o veículo sedã de cor prata, placa ABS
2222/BA, estava registrado em nome da genitora dos irmãos Cristiano
Madeira e Ricardo Madeira, Maria Aparecida Madeira, residente na rua
Querubim, casa 32, no bairro Boa Prudência, em Salvador – BA, onde
morava na companhia dos filhos. Nos registros criminais de Cristiano,
constam várias passagens por roubo e tráfico de drogas. No formulário de
antecedentes criminais de Ricardo Madeira, também anexado aos autos,
consta a prática de inúmeros delitos, entre os quais dois homicídios.
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Procurados pela polícia para esclarecerem os fatos, Cristiano e Ricardo não


foram localizados, tampouco seus familiares forneceram quaisquer notícias
de seus paradeiros, embora houvesse informações de que eles estariam na
residência de seu tio, Roberval Madeira, situada na rua Bom Tempero, s/n, no
bairro Nova Esperança, em Salvador – BA. Ambos foram indiciados nos autos
como incursos nas sanções previstas no art. 121, § 2.º, II e IV, do CP. O
inquérito policial tramitou pela delegacia, em diligências, durante vinte e
cinco dias, encontrando-se conclusos para a autoridade policial que preside
o feito, restando a complementação de inúmeras diligências visando
identificar os outros dois autores e evidenciar, através de novas provas, a
conduta dos indiciados.
Em face do relato acima apresentado, proceda, na condição de delegado
de polícia que preside o feito, à remessa dos autos ao Poder Judiciário,

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representando pela(s) medida(s) pertinente(s) ao caso. Fundamente suas
explanações e não crie fatos novos.

COMENTÁRIOS:
Antes de elaborarmos a peça propriamente dita, vejam os quesitos
considerados e avaliados pelo CESPE no seu espelho:

1- Apresentação e estrutura textual (legibilidade, respeito às margens e


indicação de parágrafos) – Faixa de valor: 0,00 a 0,50;

2- Desenvolvimento do tema

2.1 Endereçamento ao Juiz do Tribunal do Júri de Salvador/BA – Faixa de


valor: 0,00 a 1,50;

2.2 Pedido de prisão temporária – Faixa de valor: 0,00 a 2,00;

2.3 Fundamentação (pressupostos e motivação legal) – Faixa de valor: 0,00 a


2,50;

2.4 Pedido de busca e apreensão do veículo e busca e apreensão na


residência da genitora e do tio dos indiciados. (pressuposto e
fundamentação legal) – Faixa de valor: 0,00 a 2,00;

2.5 Prazo de prisão temporária pela prática de crime hediondo – Faixa de


valor: 0,00 a 1,50.

Como já dito acima, eminentes doutrinadores concordaram com o gabarito


e espelho supramencionado. Nesse sentido, o renomado mestre Renato
Brasileiro ensina que quando estivermos na fase de investigação policial e o
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fato criminoso se subsumir no rol dos crimes previstos na Lei 7.960/89, só


caberá a cautelar pessoal “Temporária”, e não a “Preventiva”. Destarte, a
prisão preventiva só seria cabível na fase das investigações se o crime não
constasse do rol taxativo da Lei de Prisão Temporária.

Conclui-se, assim, com a frase final no enunciado da questão: “... restando a


complementação de inúmeras diligências visando identificar os outros dois
autores e evidenciar, através de novas provas, a conduta dos indiciados...”
que a medida mais adequada seria, de fato, a representação pela prisão
temporária.

Feitas essas premissas, segue a sugestão de gabarito da PEÇA:

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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA DO JÚRI DA COMARCA DE SALVADOR
– BA

Inquérito Policial n°: 0021/2012

A POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DA BAHIA, por intermédio do Delegado de


Polícia Civil subscritor, matrícula n°_________, titular ____ Delegacia de Polícia,
no uso de suas atribuições legais e constitucionais, com base no art. 2º, § 4°,
da Lei 8.072/90 c/c Lei 7960/89 c/c art. 240 do CPP, vem à presença de
Vossa Excelência REPRESENTAR:

PELA CAUTELAR PESSOAL DE PRISÃO TEMPORÁRIA E PELA CAUTELAR REAL DE


BUSCA E APREENSÃO DE VEÍCULO

em face de CRISTIANO MADEIRA, vulgo “Pinga” e do seu irmão RICARDO


MADEIRA, vulgo “Caveira”, qualificados no Inquérito Policial em epígrafe, em
razão dos fundamentos fáticos e jurídicos a seguir:

DOS FATOS

Conforme consta no Inquérito Policial acima referenciado, existem fundadas


razões de terem os indiciados, em concurso com mais 2 comparsas não
identificados, no dia 17 de setembro de 2012 (segunda-feira), por volta de 0
h 50 min, ceifado a vida da vítima DOUGLAS APARECIDO DA SILVA, quando
se encontrava em frente à casa de sua namorada, Fernanda Maria Souza,
na rua Serafim, casa 12, no bairro Boa Prudência, em Salvador - BA.

Apurou-se que na noite de 16/9/2012, por volta das 21 h, a vítima se


encontrou com a namorada, Fernanda, e, após passarem em determinada
festa de amigos, seguiram para a casa de Fernanda, no bairro Boa
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Prudência, onde Douglas a deixaria; o casal estava em um veículo utilitário


de cor branca, placa JEL 9601/BA, de propriedade da vítima; na madrugada
do dia seguinte, por volta de 0 h 40 min, quando já estavam parados em
frente à casa de Fernanda, apareceu na rua um veículo sedã de cor prata,
em que se encontravam quatro rapazes, que cobraram Douglas pelo
"bagulho" e ameaçaram o casal com armas nas mãos, quando um dos
rapazes deu dois tiros para o alto, momento em que Douglas e Fernanda se
deitaram no chão. Em ato contínuo, um dos rapazes desceu do carro,
chutou a cabeça de Douglas e, em seguida, desferiu três disparos em sua
direção, atingindo-lhe fatalmente a cabeça e o tórax. Douglas faleceu
ainda no local e os autores se evadiram logo após a conduta, lá deixando
Fernanda a gritar por socorro.

Ademais, nos autos do procedimento, consta que foram ouvidos dois vizinhos
de Fernanda que se encontravam, na ocasião dos fatos, na janela do prédio

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vizinho e narraram, em auto próprio, a conduta do grupo, indicando a placa
do veículo sedã de cor prata (ABS 2222/BA) e a descrição física dos quatro
indivíduos. Na ocasião, foram apresentadas fotografias de possíveis suspeitos
às duas testemunhas, que reconheceram formalmente, conforme auto de
reconhecimento fotográfico, dois dos rapazes envolvidos nos fatos: Ricardo
Madeira e Cristiano Madeira.

Outrossim, a própria Fernanda foi ouvida em termo de declarações e alegou


conhecer dois dos autores, em específico os que empunhavam armas:
Cristiano Madeira, vulgo Pinga, que portava um revólver e teria desferido
dois tiros para o alto; e o irmão de Cristiano, Ricardo Madeira, vulgo Caveira,
que, portando uma pistola niquelada, desferira os três tiros que atingiram a
vítima. Fernanda afirmou desconhecer os outros dois elementos e esclareceu
que poderia reconhecê-los formalmente, se fosse necessário. Ao final,
noticiou que se sentia ameaçada, relatando que, logo após o crime, em
frente à sua residência, um rapaz descera de uma moto e, com o rosto
coberto pelo capacete, fizera menção que a machucaria caso relatasse à
polícia o que sabia.

Além disso, juntaram-se aos autos o laudo de exame de local de morte


violenta, que evidencia terem sido recolhidos do asfalto dois projéteis de
calibre 38, e o laudo de perícia papiloscópica, realizada em lata de cerveja
encontrada nas proximidades do local, na qual foram constatados
fragmentos digitais de uma palmar. Para corroborar os fortes indícios de
autoria, ao serem lançadas as digitais em banco de dados, confirmou-se
pertencerem a Ricardo Madeira. Também juntou-se ao feito o laudo
cadavérico da vítima, no qual se constata a retirada de três projéteis de
calibre 380 do cadáver: um alojado no tórax e dois, no crânio.

Durante as diligências, apurou-se que o veículo sedã de cor prata, placa ABS
2222/BA, estava registrado em nome da genitora dos irmãos Cristiano
Madeira e Ricardo Madeira, Maria Aparecida Madeira, residente na rua
PRÁTICA PROFISSIONAL – DELEGADO DE POLÍCIA |

Querubim, casa 32, no bairro Boa Prudência, em Salvador – BA, onde


morava na companhia dos filhos. Nos registros criminais de Cristiano,
constam várias passagens por roubo e tráfico de drogas. No formulário de
antecedentes criminais de Ricardo Madeira, também anexado aos autos,
consta a prática de inúmeros delitos, entre os quais dois homicídios.
Procurados pela polícia para esclarecerem os fatos, Cristiano e Ricardo não
foram localizados, tampouco seus familiares forneceram quaisquer notícias
de seus paradeiros, embora houvesse informações de que eles estariam na
residência de seu tio, Roberval Madeira, situada na Rua Bom Tempero, s/n,
no bairro Nova Esperança, em Salvador – BA.

Ambos foram indiciados nos autos, destarte, como incursos nas sanções
previstas no art. 121, § 2.º, II e IV, do CP.

13
Em complementação à apuração da autoria, buscou-se identificar, embora
sem êxito, os outros dois indivíduos que acompanhavam Ricardo e Cristiano
na ocasião dos fatos.

O inquérito policial tramitou pela delegacia, em diligências, durante vinte e


cinco dias, encontrando-se conclusos para a autoridade policial que preside
o feito, restando a complementação de inúmeras diligências visando
identificar os outros dois autores e evidenciar, através de novas provas, a
conduta dos indiciados.

Assim, inequívoca a presença das fundadas razões de autoria dos indiciados


no crime de homicídio qualificado.

----DO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À DECRETAÇÃO DA


PRISÃO TEMPORÁRIA

Conforme determina o art. 1°, inciso I, da Lei 7.960/89, caberá prisão


temporária quando imprescindível para as investigações do inquérito
policial, o que se caracteriza no caso concreto face o risco dos investigados
prejudicarem a colheita das provas e sucesso da investigação.

Assim, o periculum libertatis está no risco efetivo de frustração da aquisição


de provas causadas pelos supostos infratores, sobretudo pelas ameaças já
concretizadas à Fernanda, namorada da vítima e testemunha presencial do
crime.

Além disso, no caso vertente, encontra-se demonstrado, irrefutavelmente, a


presença da prova da infração e havendo fundadas razões da autoria por
parte dos indiciados encontra-se preenchido o fumus comissi delicti
necessário à decretação da medida extrema.
PRÁTICA PROFISSIONAL – DELEGADO DE POLÍCIA |

Assim, a prisão temporária dos indiciados demonstra-se em harmonia


também com o inciso I do art. 1° da Lei 7.960/89, uma vez que imprescindível
ao término das investigações preliminares e, ainda, para a completa
elucidação do crime e conclusão das investigações, bem como com o art.
1º, III, “a” da Lei 7.960/89, que indica o crime de homicídio qualificado dentro
do rol autorizador da cautelar.

----DOS PRESSUPOSTOS QUE AUTORIZAM A MEDIDA CAUTELAR DE BUSCA E


APREENSÃO:

Além da cautelar pessoal da prisão temporária, encontram-se presentes os


requisitos da cautelar real de busca e apreensão tipificada no art. 240 do
CPP, uma vez que durante as diligências, apurou-se que o veículo sedã de
cor prata, placa ABS 2222/BA, estaria registrado no nome da genitora dos

14
irmãos Cristiano Madeira e Ricardo Madeira, Maria Aparecida Madeira,
residente na rua Querubim, casa 32, no bairro Boa Prudência, em Salvador –
BA, onde morava na companhia dos filhos. Ocorre que, procurados pela
polícia para esclarecerem os fatos, Cristiano e Ricardo não foram
localizados, tampouco seus familiares forneceram quaisquer notícias de seus
paradeiros, embora houvesse informações de que eles estariam na
residência de seu tio, Roberval Madeira, situada na Rua Bom Tempero, s/n,
no bairro Nova Esperança, em Salvador – BA.

Assim, presente o requisito do fumus boni iuris ou fumus comissi delicti, tendo
sido indicado o local onde poderia ser apreendida a res.

Portanto, esgotadas as diligências ordinárias faz-se imprescindível para a


continuidade das investigações a medida cautelar de busca e apreensão o
mais rapidamente possível, de forma a evitar que se desfaçam os agentes
do produto do crime (periculum in mora).

----DO PRAZO DE PRISÃO TEMPORÁRIA PELA PRÁTICA DE CRIME HEDIONDO:

Considerando o rol e critério legal do art. 1º da Lei 8.072/90, deve-se


consignar que o delito perpetrado pelos indiciados se amolda ao inciso I do
referido artigo, razão pela qual, por se tratar, de delito hediondo, aplicar-se-
á o lapso temporal previsto no § 4º do art. 3º da lei 8.072/90, qual seja: prazo
de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e
comprovada necessidade.

Por todo o exposto, contemplados que estão os pressupostos legais,


representa esta autoridade policial a V. Exa. pela DECRETAÇÃO DA PRISÃO
TEMPORÁRIA de CRISTIANO MADEIRA, vulgo “Pinga” e do seu irmão RICARDO
MADEIRA, vulgo “Caveira”, pelo período de 30 (trinta) dias, prorrogáveis caso
haja necessidade, resultando, assim, na expedição do competente
PRÁTICA PROFISSIONAL – DELEGADO DE POLÍCIA |

mandado de prisão em desfavor dos referidos indiciados, bem como


representa pela EXPEDIÇÃO DE MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO no
endereço identificado nos autos, local onde provavelmente se encontra o
veículo utilizado pelos indiciados.

Nestes termos,
pede deferimento.

Local e data.

DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL

15
2. PRISÃO PREVENTIVA
A prisão preventiva tem que ser decretada pelo JUIZ, podendo ser
decretada durante o INQUÉRITO POLICIAL ou durante o PROCESSO.

“Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão
preventiva decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do
Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade
policial.

O encarceramento é medida extrema. Trata-se de remédio amargo a ser


utilizado com parcimônia em casos pontuais. Afora da captura em flagrante
delito, a privação da liberdade do cidadão brasileiro há que ser
determinada por Autoridade Judiciária, nos casos em lei permitidos. É o
mandamento inserto no artigo 5º, inciso LXI.

PRISÃO PREVENTIVA ANTES DO IP: Segundo entendimento doutrinário, cabe


prisão preventiva mesmo antes de instaurado o inquérito policial, pois o atual
texto legal exige apenas investigação policial em andamento e não a
própria instauração do IP. (VPI’s)

2.1. REQUISITOS DA PREVENTIVA:


Fumus Comissi Delicti - A prisão preventiva somente poderá ser decretada
quando houver prova de existência de um crime e indício suficiente de
autoria.
Periculum libertatis – A prisão preventiva somente será decretada como (1)
garantia de ordem pública ou econômica, por (2) conveniência da
instrução criminal ou para (3) assegurar a aplicação da lei penal.
PRÁTICA PROFISSIONAL – DELEGADO DE POLÍCIA |

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da
ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação
da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.

Deve ser invocada a proporcionalidade, representada no binômio necessidade


e adequação, uma vez que, se for suficiente medida mais branda, não será
necessária a decretação da prisão. A partir de agora, analisaremos cada
requisito em espécie:

ASSEGURAR A APLICAÇÃO DA LEI PENAL


Diz respeito ao risco do individuo se esquivar da aplicação da lei, indícios de
evasão do acusado. A prisão preventiva dura até o momento em que se
justifica a medida (cláusula rebus sic stantibus). A partir do momento em que
não se faz necessária a medida, deve ser revogada. O STF vem entendendo

16
que não é possível decretar a preventiva com fulcro na ausência de
domicilio certo.

OBS.1: O simples fato do suspeito não comparecer à Delegacia NÃO autoriza a


prisão cautelar sob o fundamento de assegurar a aplicação da lei penal – STF / HC
89503 RS.
OBS.2: A ausência ou fuga momentânea, apenas para evitar o flagrante, não
caracteriza a fuga apta a decretar a preventiva - STF, HC 89.501.
OBS.3: Entende-se que, se o estrangeiro tem domicílio certo no território nacional,
não há necessidade, prima facie, de decretação da sua prisão preventiva. Porém,
se o acusado mora no exterior, entendia-se até bem pouco tempo que a sua prisão
preventiva era obrigatória, com fundamento na garantia de aplicação da lei
penal. Recentemente, com a celebração dos acordos de assistência judiciária em
matéria criminal pelo governo brasileiro, os Tribunais vêm entendendo que não
haverá necessidade da prisão caso haja acordo entre o Brasil e o país de origem do
acusado.

CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL


Ocorre quando o individuo solto tenta, de alguma forma, inviabilizar a
produção de provas, destruindo-as ou mesmo ameaçando testemunhas.
Quanto a essa prisão, é importante observar que, uma vez encerrada a
instrução probatória, a prisão preventiva decretada com base nesse
pressuposto deve ser revogada (a partir do momento em que a instrução foi feita,
não mais subsiste o motivo que a autorizou).

GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA OU ECONÔMICA


Ocorre quando a liberdade do individuo atenta contra a coletividade, ou
seja, a liberdade do individuo é meio extremamente provável de que ele
continue a delinqüir.
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O STF NÃO aceita a decretação de preventiva fundada em: 1.credibilidade


da justiça; 2.Defesa da integridade física do réu; 3.Clamor ou revolta
popular; 4.Em virtude da gravidade em abstrato da conduta.  A prisão
somente se justifica quando preenchidos os requisitos do art. 312, CPP.

Segundo Pacelli, os pressupostos de conveniência da instrução criminal e


aplicação da lei penal são evidentemente instrumentos de tutela ao
processo. No entanto, o referido promotor faz duras criticas à garantia de
ordem econômica e social, visto que estas são garantias à sociedade e se
trata de conceito indeterminável. Nesse sentido, aduz que a preventiva
fundada em garantia da ordem pública é deveras temerária, devendo ser

17
adotada em situações excepcionalíssimas. (Tese também albergada por
André Nicolitt e pelo ilustre Aury Lopes Jr.)

Segundo doutrina majoritária, a preventiva, quando decretada


autonomamente ou como conversão do flagrante, deve se submeter às
exigências dos arts. 312 e 313,I, CPP. No entanto, quando decretada como
um substitutiva de outra medida cautelar descumprida, não se exigirá a
presença dos requisitos estabelecidos no referido art. 313,I do CPP.

Ademais, não poderá ser aplicada a prisão preventiva quando NÃO for
cominada à infração pena privativa de liberdade, quando cabível
transação penal, bem como quando possível a suspensão condicional do
processo e quando cabível a substituição da pena privativa de liberdade
por restritiva de direitos (art. 44,CP), obedecendo a regra de
proporcionalidade (Pacelli). No caso de concurso de crimes, quando o
somatório das penas dos delitos superar 4 anos, será cabível a decretação
da preventiva de modo autônomo.

2.2. QUANDO É ADMITIDA A PRISÃO PREVENTIVA –


ADMISSIBILIDADE – ART. 313:
1. em crimes DOLOSOS com pena máxima SUPERIOR a 4 anos; (não se admite
quando a pena for igual a 4 anos)
A previsão do inciso I é a regra. O período de quatro anos deve resultar do
somatório das penas. Assim, se houver mais de um crime sendo investigado,
cujas penas ultrapassem 4 anos, será cabível a decretação de prisão
preventiva, devendo ser observadas as qualificadoras e causas de aumento
de pena(no máximo do aumento) e diminuição (no mínimo), sendo
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dispensadas as agravantes e atenuantes – Renato Brasileiro. Esse raciocínio


parte daquele realizado para suspensão condicional do processo. Por fim,
importante registrar que, a priori, não é admitida prisão preventiva em crime
culposo e nem mesmo diante de contravenções penais.

2. reincidente em crime doloso; Independentemente da pena cominada ao


delito em questão.

3. se o crime envolver violência doméstica contra a mulher, criança, idoso,


enfermo ou pessoa com deficiência, a fim de garantir a execução das
medidas de urgência;
Nesse caso, NÃO há necessidade de que o crime seja punido com reclusão
e nem mesmo que a pena seja superior a 4 anos, cabendo preventiva
mesmo diante de crime com pena de detenção. No entanto, pressupõe-se

18
imposição de medida protetiva anterior. Aqui, a primeira vista, não se faz
necessário o elemento subjetivo dolo, contudo, segundo Renato Brasileiro,
como estamos diante de uma violência baseada no gênero, deve existir
consciência e vontade do agente em atingir a vítima vulnerável, exigindo-se,
portanto, implicitamente o dolo. Também é a posição de AVENA. ***

Ademais, importante destacar que não é apenas a vítima mulher que


autoriza a decretação da preventiva nesse caso, sendo admitida quando
diante de criança, idoso, enfermo ou deficiente. As medidas protetivas de
urgência, conforme Brasileiro, vêm sendo instrumentalizadas a toda vítima
vulnerável, desde que a violência seja baseada no gênero, mesmo que a L.
11.340/06 se aplique, em tese, somente às mulheres. Ademais, Brasileiro
ressalta que não basta o simples descumprimento da medida de urgência,
sendo necessário que se evidencie o periculum libertatis, conforme art. 312
do CPP.

4. descumprimento de cautelares não prisionais anteriormente aplicadas;


Sobre a possibilidade de conversão das cautelares diversas da prisão em
crimes que não atendem os requisitos do art. 313 do CPP, surgiram duas
correntes:
MAJORITÁRIA: Os requisitos do art. 313 do CPP não são exigidos para a conversão
em prisão preventiva e, como tal, pode haver a conversão em prisão preventiva
mesmo em crimes dolosos com pena inferior a 4 anos e crimes culposos, exigindo-se
somente o descumprimento da cautelar anteriormente decretada. O fundamento
desse entendimento é a necessidade de força coercitiva das cautelares. Se o
acusado não tiver medo da prisão preventiva, ele não cumprirá a medida cautelar.
Nesse sentido: Pacceli, Nucci e Renato Brasileiro. Assim, havendo a possibilidade de
conversão em prisão da cautelar alternativa também nesta hipótese, deve-se
PRÁTICA PROFISSIONAL – DELEGADO DE POLÍCIA |

reconhecer o habeas corpus como remédio cabível em relação à decisão judicial


que as deferir.
MINORITÁRIA: Tratando-se de medidas cautelares alternativas deferidas em
hipóteses alheias aos requisitos previstos no art. 313 do CPP, não será possível a sua
conversão em prisão preventiva, caso restem descumpridas. Nesse caso, resta ao
juiz, então, substituir a medida descumprida por outra, ou estabelecer nova medida
em cumulação, nos termos do art. 282, § 4.º, 1.ª e 2.ª partes. Segundo esta linha de
pensamento, o deferimento das mencionadas cautelares jamais implicará risco de
prisão, não sendo possível a impetração de HC, restando cabível o manejo do MS.
***

5. É admitida também a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a


identidade civil da pessoa ou quando não fornecer elementos suficientes
para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em

19
liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a
manutenção da medida.
Trata-se de dispositivo veementemente criticado pela doutrina porque a
segregação da liberdade para algo tão célere quanto a identificação
criminal poderia ser feita através da prisão temporária, não havendo sequer
a necessidade de duração de 5 dias. Porém, importante destacar que se
admite a preventiva nesse caso mesmo diante de crimes culposos, conforme
doutrina majoritária.

Quem deve ordenar a soltura do preso imediatamente após a identificação?


*** Há duas orientações :
Majoritária: em qualquer hipótese, a decisão sobre a liberação do agente cabe ao
juiz, obedecendo ao Princípio do paralelismo das formas, pois, se foi ele quem
autorizou a segregação cautelar, ele é quem deverá emitir a ordem de soltura.
Minoritária: segundo esta corrente, devido à menção do art. 313, parágrafo único,
à soltura imediata deverá ser realizada pela autoridade que mantém o indivíduo
sob custódia, podendo ser, por exemplo, o delegado de polícia ou o diretor do
estabelecimento penitenciário.

MUITO IMPORTANTE: Os requisitos da prisão preventiva presentes nos art. 312


e 313, do CPP, devem ser demonstrados no capítulo de FUNDAMENTAÇÃO da
peça. Esse é o ponto nevrálgico da peça, momento me que o candidato
deverá demonstrar ao examinador que se faz necessária a prisão preventiva
do indivíduo, atuando como ultima ratio.

PRISÃO PREVENTIVA DIANTE DE EXLUSÃO DE ILICITUDE: A prisão preventiva em


nenhum caso será decretada se o juiz verificar pelas provas constantes dos
autos ter o agente praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II e
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III do caput do art. 23 do Código Penal, devendo o juiz proceder pela


liberdade provisória sem a estipulação de fiança. Segundo a doutrina, esse
art. 314, do CPP também pode ser aplicado às causas excludentes da
ilicitude previstas na parte especial do CP, ainda que o dispositivo só
mencione o art. 23 do CP. Ademais, ainda segundo a doutrina, esse
dispositivo pode ser aplicado para as causas de exclusão da culpabilidade,
salvo no caso da inimputabilidade, em que é possível a internação provisória
do inimputável.

LIMITE TEMPORAL: A prisão preventiva é decretada por tempo


indeterminado, perdurando até o momento em que se justificar a
segregação cautelar (rebus sic stantibus). Quando se ausentarem os motivos
que justificaram o acautelamento pessoal, deve o magistrado revogá-la de

20
ofício, podendo vincular a revogação a outras medidas cautelares diversas
da prisão.

LIMITES À PRISÃO:
1. A primeira limitação à prisão está relacionada à violação de domicílio, que
deve estar acompanhada de autorização judicial, conforme art. 283, §2º,
CPP.
2. O Código Eleitoral também limita a prisão: Art. 236, Código Eleitoral -
Nenhuma autoridade poderá, desde 5 (cinco) dias antes e até 48 (quarenta
e oito) horas depois do encerramento da eleição, prender ou deter qualquer
eleitor, salvo em flagrante delito ou em virtude de sentença criminal
condenatória por crime inafiançável, ou, ainda, por desrespeito a salvo-
conduto. No mesmo sentido é a situação do candidato. Mas, atenção! A
imunidade do candidato é de 15 dias antes das eleições até 48 horas depois,
conforme art. 236, §1º, do Código Eleitoral.

É POSSÍVEL PRISÃO PREVENTIVA NA FASE DE EXECUÇÃO DA PENA? Sim, é


possível. Pode ocorrer na hipótese de o sentenciado estar em cumprimento
de pena, transitada em julgado ou não, e respondendo por outro crime
ainda sem sentença de mérito. Ocorre pelo fato de que na execução da
pena - provisória (não transitada em julgado) ou definitiva (transitada em
julgado) - o reeducando pode gozar de benefícios penais que lhe
antecipam a liberdade, tal qual o livramento condicional. Justamente por
isso, caso o sujeito esteja respondendo ainda por outro processo, sem
sentença de mérito, o juiz de conhecimento poderá determinar sua
preventiva justamente para impedir que goze de eventuais benefícios na sua
execução e inibir que através dele atinja a liberdade, o que é chamado de
prisão preventiva da execução - HC 151.551/RJ. ***

PODE SER DECRETADA PRISÃO PREVENTIVA EM OUTRAS FORMAS DE


PRÁTICA PROFISSIONAL – DELEGADO DE POLÍCIA |

INVESTIGAÇÃO?
Trata-se da possibilidade de decretação da preventiva em sede de
investigações conduzidas pelo MP e Tribunais. Sobre o tema, dois
entendimentos se formaram: 1. Norberto Avena defende que, desde que o
procedimento possua a finalidade específica de investigar a prática de uma
infração penal, é possível a decretação da preventiva, propondo uma
interpretação ampliativa do termo investigação policial. Ele não inclui a CPI.
2. Contudo, outra parte da doutrina aduz que a interpretação deve ser
restritiva, pois o tema envolve direitos e garantias fundamentais do indivíduo,
não sendo cabível a decretação de prisão preventiva em outras
modalidades investigativas alheias à polícia, pois o art. 311 do CPP, em sua
literalidade, somente permite a preventiva em sede de investigações
policiais. ***

21
O MP poderia requerer a prisão preventiva após recebido o relatório, mesmo
solicitando o retorno dos autos à Delegacia para diligências
complementares? Há dois entendimentos sobre o tema: ***
1. É possível que o MP requeira a prisão preventiva, pois o CPP admite
expressamente a prisão preventiva em sede de IP, o que denota que não se
exige os mesmos elementos para a decretação da preventiva e para o
oferecimento da denúncia. (Majoritário)
2. Não é possível que o MP requeira a prisão preventiva, pois se o Ministério
Público não dispõe de informações que lhe permitam o ajuizamento da
ação penal, em tese, restaria obstaculizada, também, a custódia cautelar,
já que uma e outra são medidas que requerem a presença de elementos
que apontem a autoria e de prova da existência do crime. (Minoritário)

A autoridade policial pode representar pela decretação da prisão


preventiva após a instauração do processo criminal? Há divergência. Porém,
o entendimento majoritário (Renato Brasileiro, Renato Marcão e STJ: RHC 41867) é
pela possibilidade da autoridade policial representar pela preventiva mesmo
já iniciada a ação penal, pois a lei não faz qualquer restrição temporal a
respeito. Avena, por seu turno, entende que a autoridade policial apenas
pode representar pela decretação da prisão preventiva enquanto houver
uma investigação policial em curso, pois sua atuação estaria limitada ao IP.

CAIU EM CONCURSO: É cabível a prisão preventiva em relação ao crime de


homicídio qualificado durante as investigações?
R: Cuidado! A partir da criação da prisão temporária pela Lei 7.960/89, como
espécie de prisão cautelar cabível em relação a certos delitos única e
exclusivamente na fase investigatória, há quem entenda que se o delito admite a
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decretação da temporária, ele não admite a decretação da preventiva durante as


investigações (uma vez iniciado o processo, a temporária poderia ser convertida
em prisão preventiva). Mas, isso não quer dizer que a preventiva nunca seja cabível
durante as investigações. Significa que a prisão preventiva não cabe na fase
investigatória dos crimes que admitem prisão temporária. Mas é cabível em relação
aos delitos que não admitem prisão temporária. Em suma, reitere-se, na fase judicial
(desde o início do processo até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória) a prisão preventiva pode ser decretada em relação a qualquer
delito, desde que presentes os requisitos do art. 313, do CPP. Já na fase
investigatória, por seu turno, a prisão preventiva só pode(ria) ser decretada em
relação aos delitos que não admitem a prisão temporária (também se presentes os
requisitos do art.313, do CPP). Esse questionamento foi alvo de grande divergência
no último concurso de Delegado de Polícia da Bahia, momento em que a banca
(CESPE) considerou que a medida mais oportuna durante o inquérito é a prisão

22
temporária, seguindo a corrente que defende a teoria do esvaziamento da prisão
preventiva durante o inquérito policial quando também cabível a temporária.

MAPA DA PEÇA:
1. Endereçamento; (padrão)
2. Inquérito / Processo; (padrão)
3. Assunto: Representação de Prisão Preventiva
4. Preâmbulo; Ex.: O Departamento de Polícia Civil do Estado do Rio de
Janeiro, por intermédio do Delegado de Polícia Federal infra-assinado,
lotado e em exercício na DELEPAT /SR/DP/RJ, vem, no uso de suas atribuições
legais, representar pela prisão preventiva de ..., devidamente qualificado às
folhas ..., pelos fatos e fundamentos que passa a expor:
5. Apresentar os fatos;
Foi instaurado, por portaria, inquérito policial com o fito de apurar a possível
existência dos crimes de __________________________ (descrever os tipos
penais). Foram levadas a efeito as seguintes diligências:
_______________________ (descrever diligências e provas carreadas aos
autos). Foram até agora identificados os seguintes integrantes do grupo
criminoso: __________________ (identificar todos os representados, com todos
os dados qualificativos possíveis).
6. Apresentar os fundamentos que embasam a representação, expondo os
requisitos apresentados no art. 312 (descrever a presença de algum dos
fundamentos da preventiva – garantia da ordem pública, da ordem
econômica, conveniência da instrução criminal e/ou assegurar aplicação
da lei penal) e 313 do CPP. Nesse momento, importante destacar que
estamos diante de uma medida cautelar pessoal, devendo ser demonstrado
o fumus comissi delicti e o periculum libertatis.
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O candidato deverá apresentar argumentação suficiente para demonstrar


ao examinador onde estão as provas de materialidade do suposto delito
praticado e também assinalar os elementos que autorizam afirmar a
existência de indícios em relação ao agente. A argumentação deve ser
minuciosa, pois será determinante para convencer o examinador de que
domina o assunto.
7. Do Pedido: Diante do exposto, representa-se a Vossa Excelência a prisão
preventiva de ... , considerando a existência de indícios de autoria ou
participação do agente e provas de materialidade no crime ..., conforme
demonstrado nos fatos e fundamentos apresentados.
A prisão preventiva, ao contrário da temporária, não possui prazo
determinado, gozando da cláusula rebus sic stantibus. Ou seja, a prisão será
mantida até o momento em que cessar o motivo que lhe deu origem.

23
8. Fechamento; (padrão)

Seguem as principais teses divulgadas pelo STJ sobre a PRISÃO PREVENTIVA:

1) A fuga do distrito da culpa é fundamentação idônea a justificar o decreto


da custódia preventiva para a conveniência da instrução criminal e como
garantia da aplicação da lei penal.

2) As condições pessoais favoráveis não garantem a revogação da prisão


preventiva quando há nos autos elementos hábeis a recomendar a
manutenção da custódia.

3) A substituição da prisão preventiva pela domiciliar exige comprovação de


doença grave, que acarrete extrema debilidade, e a impossibilidade de se
prestar a devida assistência médica no estabelecimento penal.

4) A prisão preventiva poderá ser substituída pela domiciliar quando o


agente for comprovadamente imprescindível aos cuidados especiais de
pessoa menor de 06 (seis) anos de idade ou com deficiência.

5) As medidas cautelares diversas da prisão, ainda que mais benéficas,


implicam em restrições de direitos individuais, sendo necessária
fundamentação para sua imposição.

6) A citação por edital do acusado não constitui fundamento idôneo para a


decretação da prisão preventiva, uma vez que a sua não localização não
gera presunção de fuga.

7) A prisão preventiva não é legítima nos casos em que a sanção


abstratamente prevista ou imposta na sentença condenatória recorrível não
resulte em constrição pessoal, por força do princípio da homogeneidade.
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8) Os fatos que justificam a prisão preventiva devem ser contemporâneos à


decisão que a decreta.

9) A alusão genérica sobre a gravidade do delito, o clamor público ou a


comoção social não constituem fundamentação idônea a autorizar a prisão
preventiva.

10) A prisão preventiva pode ser decretada em crimes que envolvam


violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso,
enfermo ou pessoa com deficiência, para o fim de garantir a execução das
medidas protetivas de urgência.

11) A prisão cautelar deve ser fundamentada em elementos concretos que


justifiquem, efetivamente, sua necessidade.

24
12) A prisão cautelar pode ser decretada para garantia da ordem pública
potencialmente ofendida, especialmente nos casos de: reiteração delitiva,
participação em organizações criminosas, gravidade em concreto da
conduta, periculosidade social do agente, ou pelas circunstâncias em que
praticado o delito (modus operandi).

13) Não pode o tribunal de segundo grau, em sede de habeas corpus,


inovar ou suprir a falta de fundamentação da decisão de prisão preventiva
do juízo singular.

14) Inquéritos policiais e processos em andamento, embora não tenham o


condão de exasperar a pena-base no momento da dosimetria da pena, são
elementos aptos a demonstrar eventual reiteração delitiva, fundamento
suficiente para a decretação da prisão preventiva.

15) A segregação cautelar é medida excepcional, mesmo no tocante aos


crimes de tráfico de entorpecente e associação para o tráfico, e o decreto
de prisão processual exige a especificação de que a custódia atende a
pelo menos um dos requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal.

3. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA
NATUREZA JURÍDICA: A natureza jurídica da interceptação telefônica é de
medida cautelar, podendo ser realizada durante a investigação policial,
durante o curso processual e até mesmo antes de iniciado o inquérito
policial, conforme entendimento da jurisprudência.

A interceptação telefônica será feita por decisão judicial em sede de


investigação criminal ou instrução criminal. As regras válidas para a
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interceptação telefônica também se aplicam às comunicações em sistemas


de informática e telemática. (art.1, p. único, L 9296/96)

O juiz decreta a interceptação telefônica:


1. de ofício, tanto em fase de inquérito quanto na processual;
2. via requerimento do MP na investigação ou na instrução penal;
3. via representação da autoridade policial durante a investigação penal.
Delegado não é parte, por isso ele representa. Já o MP, como é parte,
requer.

REQUISITOS PARA SE DECRETAR A INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA:


1. Somente se decreta a interceptação telefônica se for crime punido com
reclusão;

25
O juiz decreta interceptação telefônica licita para apuração de tráfico de
drogas (reclusão) e descobre-se crime de infanticídio (detenção). O STF
entende que a decretação de interceptação telefônica somente pode ser
utilizada para apurar o crime objeto da investigação ou crimes que lhes
sejam conexos, pouco importando se a pena é de detenção ou reclusão
em relação ao conexo. Assim, no exemplo retro citado, não é possível a
utilização da prova de infanticídio a titulo de aproveitamento, pois não há
conexão. Contudo, se o crime fosse conexo, este poderia ser objeto de
interceptação mesmo que com pena de detenção, desde que a
autorização tenha se dado inicialmente para apuração de um crime com
pena de reclusão.

2. Somente é cabível interceptação telefônica quando não há outro meio


de produzir a prova (A interceptação telefônica é subsidiária, atuando como
a ultima ratio probatória). O candidato deverá apresentar forte
argumentação sobre esse requisito em sua peça, no capítulo da
Fundamentação.

Nesse momento, a autoridade policial está convencida da necessidade e


deve buscar o convencimento do juiz.
Exemplo1: “Ocorre que, diante das dificuldades enfrentadas para o
prosseguimento das investigações, crê esta autoridade policial ser a
interceptação telefônica o único meio viável de obter outros elementos
acerca da atuação dos criminosos, tendo em vista o rebuscado modus
operandi1 do grupo criminoso”.
Exemplo2: “Chega-se, pelos fatos já expostos, a um momento crucial em que
não se dispõe de outros meios de investigação aptos a demonstrar a
dinâmica dos delitos em tela, urge que se faça ceder a garantia
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fundamental em prol do bem estar coletivo”.

3. Somente é cabível a interceptação telefônica quando houver indícios


razoáveis de autoria ou participação em infração penal. Esses indícios
deverão ser demonstrados pelo candidato no capítulo da Fundamentação.

Devem estar presentes o fumus comissi delicti (indícios razoáveis de autoria


ou participação em crimes tipificados taxativamente na lei) – e o periculum
in mora (quando não há outro meio de produzir a prova), que é a
imprescindibilidade da medida, dentro dos parâmetros legais.

MUITO IMPORTANTE: Os requisitos da interceptação telefônica devem ser


demonstrados no capítulo de FUNDAMENTAÇÃO da peça. Esse é o ponto
nevrálgico da peça, momento me que o candidato deverá demonstrar ao

26
examinador que se faz necessário o afastamento das prerrogativas
constitucionais que defendem o Direito à intimidade e a inviolabilidade das
comunicações telefônicas, art. 5, X e XII.

Prazo para interceptação telefônica: A lei menciona que o prazo de


duração é de 15 dias, renováveis por igual período, desde que demonstrada
necessidade de renovação da medida. Cumpre destacar que a
interceptação pode ser prorrogada inúmeras vezes, desde que justificada a
necessidade de manutenção da interceptação. (Ex. uma interceptação
telefônica pode perdurar dois anos)

OBS.: O prazo de 15 dias para duração da interceptação telefônica é


contado a partir do dia em que se iniciou a escuta, e não da data da
decisão judicial que a autorizou. STJ, HC 113.477-DF, em 20/3/2012.

MAPA DA PEÇA:
1. Endereçamento; (padrão)
2. Inquérito / Processo; (padrão)
3. Assunto: Representação de Interceptação Telefônica
4. Preâmbulo; Ex.: O Departamento de Polícia Civil do Estado do Rio de
Janeiro, por intermédio do Delegado de Polícia Federal infra-assinado,
lotado e em exercício na DELEPAT /SR/DP/RJ, vem, no uso de suas atribuições
legais, representar pela interceptação telefônica face em face de ...,
devidamente qualificado às folhas ..., residente e domiciliado em..., pelos
fatos e fundamentos que passa a expor:
5. Apresentar os fatos; “Ex.: Foi instaurado por portaria inquérito policial com
o objetivo de apurar existência dos crimes de _____________________ (indicar
PRÁTICA PROFISSIONAL – DELEGADO DE POLÍCIA |

os crimes apurados), previstos respectivamente nos artigos _________ (artigos


respectivos) do Código Penal.

Foram incorporadas aos autos as seguintes provas da atuação do grupo


criminoso: ________________ (descrever minuciosamente as provas coligidas
no curso do feito e o indicativo de cada prova em relação ao crime).”
6. Apresentar os fundamentos que embasam a representação, expondo os
requisitos presentes no art. 2, da Lei 9296/92.
7. Do Pedido:
Diante do exposto, representa-se a Vossa Excelência:
7.1. a representação de Interceptação telefônica em face de ... , número de
telefone ..., operadora ..., pelo prazo de 15 dias, considerando-se a existência
de todos os requisitos legais que autorizam a medida.

27
7.2. Interceptação e Desvio e/ou Gravação e/ou Relatório das conversas
telefônicas, efetuadas e recebidas, dos interceptados e de seus
interlocutores; Nesse ponto, o candidato deverá indicar os meios que serão
empregados na interceptação telefônica (art. 4º, parte final, da Lei 9.296/96):
equipamento, método, critérios, etc. Exemplos: - requisição, se necessária,
de serviços e técnicos especializados às Operadoras de Telefonia Móvel (art.
7º, da Lei 9.296/96); - utilização, se possível, do Sistema “Guardião”, da
Secretaria de Segurança Pública do Estado de Santa Catarina; - utilização de
senhas de acesso específicas junto às operadoras, pelo Delegado
responsável e pelo Agente de Polícia designado, para obtenção de dados
cadastrais dos investigados e/ou de seus interlocutores; - monitoramento das
mensagens de texto/imagens/dados, efetuados e recebidos, pelo Delegado
responsável ou pelo Agente de Polícia designado, mediante a remessa,
pelas operadoras, de relatório aos e-mails indicados no enunciado; -
monitoramento tanto das linhas telefônicas quanto dos IMEIS dos aparelhos. -
quebra de Estação Rádio Base (ERB), possibilitando localizar
geograficamente o telefone interceptado e seus interlocutores; - cruzamento
de dados extraídos das interceptações.

7.3. Interceptação e repasse de mensagens de texto/imagens/dados,


efetuados e recebidos, dos interceptados e de seus interlocutores.

Observação: Se, por acaso, a questão versar acerca da interceptação de fluxo


de comunicações através de sistema de informática ou telemática, a peça será
montada da mesma forma, com pedido de expedição de alvará, por exemplo,
ao gerenciador do sistema skype ou a determinado provedor de email.

8. Fechamento; (padrão)
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Vamos aproveitar que estamos falando de interceptação telefônica para


fazer um adendo. Quando o comando da questão vier solicitando que o
candidato faça uma peça de interceptação telefônica, mesmo que haja a
possibilidade de outras medidas, atenha-se ao pedido do examinador! (Esse
adendo serve para toda e qualquer peça)

Na prova de Santa Catarina, o comando da questão pedia o


desenvolvimento da Interceptação Telefônica e, muitos candidatos, ao se
depararem com outras medidas cabíveis, optaram por explorá-las. Todavia,
não havia espaço para argumentar sobre as outras medidas.

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Resumo da ópera, os candidatos foram eliminados, pois não conseguiram
fundamentar a interceptação telefônica com a minúcia que o examinador
estava exigindo para a peça objeto do questionamento.

4. DA BUSCA E APREENSÃO DOMICILIAR:


A busca e apreensão é instituto indicado no CPP como uma modalidade de
prova em espécie, porém não tem a natureza jurídica de prova, mas sim de
medida cautelar probatória. Pode haver um mandado de busca e
apreensão que contenha em seu texto também o mandado de prisão, ou
seja, um único documento com dois mandados distintos. Segundo doutrina
majoritária, o mandado de prisão não supre o mandado de busca e
apreensão, não permitindo o ingresso no domicílio.

A busca e apreensão pode ser pessoal ou domiciliar, sendo necessário um


mandado judicial para esta última, em virtude da inviolabilidade do
domicilio. Quando alguém se encontra dentro de um domicilio, além do
mandado de prisão, preciso de um mandado de busca e apreensão
domiciliar para a violabilidade do domicilio do agente a fim de prendê-lo,
devendo seguir as limitações de horário da inviolabilidade do domicilio. Não
se faz necessária autorização judicial para mandado de busca e apreensão
pessoal. Ademais, cumpre destacar que é possível que haja em sede de
busca domiciliar, precedida de autorização, busca e apreensão pessoal, ou
seja, elas podem coexistir, sem a necessidade de autorização judicial desta
última.

A busca pessoal depende de fundada suspeita e a busca domiciliar de


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fundadas razões. A linha diferenciadora é muito tênue entre as duas, sendo


necessária somente para fins de prova objetiva. Para o Supremo, a fundada
suspeita exige elementos concretos que indiquem a necessidade da revista
em face do constrangimento que a mesma causa. (STF ‐ HC 81305)

IMPORTANTE: Não se admite busca e apreensão pautada apenas em


denúncia anônima, pois essa medida cautelar exige fundadas razões, além
de que é vedado o anonimato. STF, HC 91.350/SP

O direito há inviolabilidade de domicílio e as hipóteses de ingresso sem


necessidade de autorização judicial encontram previsão no art. 5º, XI, da
CRFB.

29
CRFB, Art. 5º, XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

O conceito de casa utilizado, para fins de aplicação desse dispositivo é o do


art. 150, § 4º, CP, englobando locais que não são residência propriamente
dita, mas que estão incluídos no conceito de “casa”.
CP, Art. 150, § 4º - A expressão "casa " compreende:
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou
atividade.

DECRETAÇÃO DO MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO:


A busca e apreensão pode ser determinada de oficio pelo juiz ou a
requerimento de qualquer das partes, seja no IP ou durante o PROCESSO –
art. 242. A autoridade policial não é parte no processo. Contudo, entende-se
que o pleito por essa autoridade encontra sua fundamentação legal no art. 6º, II
e III do CPP.

O art. 240, § 1º, do CPP trata dos requisitos da medida. A alínea mais
relevante é a “h”, que demonstra claramente que o rol é meramente
exemplificativo. Ainda que o documento não esteja expressamente
relacionado no dispositivo, é possível a busca com base na alínea “h”
(exemplo: HD, drives, DVDs, etc.).
CPP, Art. 240 - A busca será domiciliar ou pessoal.
§ 1º - Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões a autorizarem,
para:
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a) prender criminosos;
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;
c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados
ou contrafeitos;
d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou
destinados a fim delituoso;
e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu;
f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder,
quando haja suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à
elucidação do fato;
g) apreender pessoas vítimas de crimes;
h) colher qualquer elemento de convicção.
CP, Art. 243 - O mandado de busca deverá:
I - indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será realizada a
diligência e o nome do respectivo proprietário ou morador; ou, no caso de

30
busca pessoal, o nome da pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais que a
identifiquem;
II - mencionar o motivo e os fins da diligência.

O inciso I determina que se identifique o local da busca e quem lá reside. A


delimitação deve ser o mais precisa possível. Não há necessidade de
qualificação completa do morador, que pode ser que ainda não se
conheça nesse momento.

Há locais nos quais não houve a regularização dos imóveis ou com números
das casas arrancados, não havendo como se identificar o imóvel com
precisão. Existem inclusive locais com ruas inominadas. A delimitação deverá
ser o mais precisa possível, embora não se tenha posse desses elementos.

Já de acordo com o inciso II, deve ser indicado porque se pleiteia a medida. As
finalidades da diligência devem ser atreladas ao art. 240, § 1º, do CP, com
expressa menção à alínea correspondente, ressaltando-se que, caso não haja
menção específica da finalidade em questão, deve ser indicada a alínea “h”.

Com relação ao escritório de advocacia, o mandado de busca e


apreensão deve ser cumprido com a presença de representante da OAB,
sendo vedada a apreensão de documentos pertencentes a clientes do
advogado investigado, salvo se também estiverem sendo investigados pelo
mesmo crime que deu ensejo à expedição do mandado.

As buscas domiciliares, como dependem de autorização judicial, serão


executadas durante o dia, salvo se o morador consentir que se realizem à
noite. Mas o que deve ser considerado dia? Há três correntes:
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1. Compreende-se o período entre às 6 horas e às 20 horas, por


interpretação analógica do art. 172 do CPC. Neste sentido: Aury Lopes
Jr e Avena.
2. Deve ser considerado o período entre às 6 horas e às 18 horas,
visando-se, com isso, a preservar ao máximo a vida privada e a
intimidade no âmbito doméstico. Em apertada maioria, tem sido esta
a orientação dominante. Neste sentido: José Afonso da Silva e Tourinho Filho.
3. O critério deve ser o físico-astronômico, considerando-se como dia o
período em que houver iluminação solar. Neste sentido: Guilherme de
Souza Nucci e Fernando Capez.

No mais, havendo flagrante, desastre ou para prestar socorro, não é


necessário autorização judicial, sendo permitido, inclusive, o ingresso durante
a noite. E, quanto à possibilidade de a autoridade adentrar na residência de

31
outrem em razão do suspeito ter ingressado em sua residência, a doutrina
defende a possibilidade de a autoridade adentrar nesta residência, pois o
fugitivo estará, no mínimo, em situação flagrancial do crime de violação de
domicílio – art. 150 do CP.

Os executores deverão mostrar o mandado e lerão ao morador, ou a quem


estiver presente, intimando-o, em seguida, a abrir a porta. Outrossim, a busca
e apreensão pessoal pode ser realizada à noite e independente de qualquer
autorização judicial.

(1) Busca Domiciliar - Somente de dia e mediante mandado judicial


(fundadas razões); Para ser efetivada à noite, precisa da
concordância do proprietário do imóvel.
(2) Busca Pessoal - Em qualquer horário, independente de mandado
judicial (fundadas suspeitas).

Em caso de desobediência será arrombada a porta e forçada a entrada.


Recalcitando o morador, será permitido o emprego de força contra coisas
existentes no interior da casa, para o descobrimento do que se procura. Em
caso de ausência de pessoas no interior da casa, esta deve ser arrombada e
forçada a entrada, devendo ser intimado vizinho, se houver, a fim de assistir
a diligência. Findas as diligências, os executores lavrarão auto
circunstanciado, assinando-o com duas testemunhas presenciais, sem
prejuízo da diligencia realizada na presença do vizinho.

Segundo STF, é exigido o mandado de busca e apreensão domiciliar em


qualquer habitação coletiva, quarto de hotel (desde que ocupado) ou
qualquer local onde a pessoa exerça sua profissão, desde que fechado ao
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público. (RHC N. 90.376-RJ)

BUSCA NO INTERIOR DE VEÍCULO NECESSITA DE MANDADO JUDICIAL?


Em regra, não é necessária autorização judicial para busca e apreensão no
interior de veículos, mas, quando o veiculo é utilizado como moradia, como
é o caso de cabines de caminhão, barcos, trailers, é necessária
autorização judicial.(STJ HC 216437-DF) - QUESTÃO ATUAL!

Órgão público é casa? Em relação à parte aberta ao público não é casa,


porém prevalece o entendimento de que o gabinete de servidores públicos
é considerado casa, inclusive o do Delegado.

CRIME PERMANENTE E BUSCA DOMICILIAR SEM ORDEM JUDICIAL:

32
O STF e o STJ pacificaram o seguinte: a invasão domiciliar em caso de crime
permanente dispensa a ordem judicial por conta do estado de flagrante.
Nucci sustenta que a invasão da polícia sem mandado judicial é por conta e
risco da própria polícia, ou seja, se a polícia entrar e encontrar situação de
crime permanente o ato é legal, porém se a polícia entrar e nada encontrar
é crime de abuso de autoridade.

O art. 250 traz a possibilidade, no caso de perseguição, da autoridade


policial penetrar em jurisdição alheia, ainda que de outro Estado, quando
para apreensão de pessoa ou coisa. Nesse caso, a autoridade que adentra
na jurisdição de outrem deve apresentar-se à autoridade competente local,
antes ou após a diligência. Se as autoridades locais tiverem fundadas razões
para duvidar da legitimidade das pessoas que entrarem em seus distritos ou
da legalidade dos mandados, poderão exigir as provas dessa legitimidade,
mas de modo que não se frustre a diligência.

MAPA DA PEÇA:
1. Endereçamento; (padrão) Na Busca e apreensão o pedido de
representação deve ser direcionado para o juiz do local onde se situa o
imóvel.
2. Inquérito / Processo; (padrão)
3. Assunto: Busca e apreensão domiciliar.
4. Preâmbulo; Ex.: “O DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL, por intermédio do
Delegado de Polícia Federal infra-assinado, lotado e em exercício na
DELEPAT/DRCOR/SR/DPF//RJ; vem, no uso de suas atribuições legais, representar
pela expedição de mandado de busca domiciliar, a ser cumprida no imóvel
situado à rua ..., nº ..., apto ..., onde reside o indiciado / investigado (nome) ...,
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conforme consta do documento de folha ... , pelos fatos e motivos que se passa
a expor”… O mandado de busca e apreensão deve ser o mais preciso
possível (subjetiva e objetivamente), devendo indicar precisamente a casa
objeto da busca, bem como o nome do proprietário ou morador; no caso de
busca pessoal, o nome da pessoa ou sinais que a identifiquem. Deve
também mencionar o motivo e os fins da medida e deve ser subscrito por
escrivão e assinado pela autoridade policial. Pode não ser possível indicar
todos os detalhes; deve a autoridade indicar os elementos que possuir.
5. Apresentar os fatos; Foi instaurado, por portaria, o inquérito policial
tombado sob número ..., que trata da apuração de crime de ...(tipificação),
tipificado no artigo ...(indicar artigo), do Código Penal, supostamente
cometido por ... (nome do investigado). Infere-se do procedimento
inquisitorial em comento que ... (descrição do fato apurado e das provas
carreadas aos autos).

33
6. Apresentar os fundamentos que embasam a representação, expondo as
fundadas razões que autorizam a mitigação da inviolabilidade do domicílio.
A fundamentação jurídica se alicerça no artigo 240, § 1º, do Código de
Processo Penal. O fundamento constitucional da medida tem lastro no inciso
XI, do artigo 5º, da Lei Maior. Nesse ponto, será preciso demonstrar os motivos
e peças dos autos, concretamente considerados. Não adianta fazer alusão a
ilícitos cometidos pelo suspeito, sendo necessário justificar a necessidade efetiva
de entrada em sua residência. Se nada houver lá para ser buscado,
independentemente dos inúmeros crimes que o investigado possa ter cometido,
seu domicílio continuará sendo inviolável.

Exemplo 1: “Consta do depoimento da testemunha ..., de folhas ..., que o


indiciado mantém em sua residência a arma utilizada para praticar o delito
objeto da presente investigação.
Exemplo 2: “No trecho de interceptação telefônica constante de folha ___ dos
autos da medida cautelar xxxxxxx deferida por esse juízo, percebe-se diálogo
em que o investigado diz realizar as falsificações dos documentos em sua
residência”.
7. Do Pedido: Diante do exposto, representa-se a Vossa Excelência a
decretação de busca e apreensão face ao imóvel em epígrafe, de
propriedade de ..., a fim de...

IMPORTANTE: Essa parte da peça corresponde aos fins da diligência, constantes


da 2º parte do art. 243, II, do CPP.
8. Fechamento; (padrão)

MODELO DE PRISÃO TEMPORÁRIA CUMULADA COM


BUSCA E APREENSÃO DOMICILIAR:
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE ... COMPETENTE


POR DISTRIBUIÇÃO

Inquérito nº: ...

Assunto: Representação de Prisão Temporária e Busca e Apreensão


Domiciliar.

A POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DA PARAÍBA, representada pelo Delegado de


Polícia Civil que esta subscreve, no uso de suas atribuições legais e
constitucionais, vem, perante Vossa Excelência, REPRESENTAR por
EXPEDIÇÃO DE MANDADOS DE BUSCA E APREENSÃO E DE PRISÃO
TEMPORÁRIA, medidas essas indispensáveis ao prosseguimento das

34
investigações levadas a efeito no bojo do INQUÉRITO POLICIAL Nº..., que
tramita na Delegacia de Polícia Civil ....

I – DOS FATOS:
Foi instaurado, por portaria, o inquérito policial nº ..., com o fito de apurar as
circunstâncias que gravitaram em torno da morte de ..., alvejado com
disparos de arma de fogo ao sair de seu local de trabalho, localizado em...,
fato ocorrido às ... horas, de ... (dia) de ... (mês) de ...(ano).

Nesse momento, o candidato deverá narrar a dinâmica dos fatos e registrar


os elementos indiciários que foram colhidos até o presente momento, que
indicam a autoria em face do agente em epígrafe.

III – DOS FUNDAMENTOS:


Nos fundamentos, o candidato deverá demonstrar que a prisão dos
investigados é imprescindível ao bom termo do inquérito policial. É
necessária para que eles sejam ouvidos, para que outras testemunhas sejam
identificadas e ouvidas e mesmo para que seja possível identificar os outros
dois criminosos envolvidos no delito apurado.

Apresentar os fundamentos que embasam a representação, expondo os


indícios de autoria ou participação no rol dos delitos que admitem prisão
temporária e demonstrando que a medida é imprescindível às investigações ou
que o indiciado não possui residência fixa ou não tenha sido identificado,
conforme art. 1º, da Lei. 7.960/89.

O que pode ser utilizado como fundamento para medidas que tornem
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imprescindível a prisão para a investigação? (i) a presença do indiciado tem


constrangido a colheita da prova; (ii) medo das testemunhas de serem
identificas; (iii) a pessoa dispõe de cinco identidades diversas; (iv) a digital da
cédula de identidade não corresponde à do indiciado, havendo necessidade
de identificação criminal, sendo que o indivíduo se recusa a se submeter,
gerando a imprescindibilidade da segregação para a identificação; ou
qualquer outra razão que fundamente a necessidade da medida pra as
investigações.

Nesse momento, o candidato deverá apresentar argumentação suficiente


sinalizando quais são os indícios de autoria ou participação nos crimes
previstos na lei (fumus comissi delicti), além de demonstrar a
imprescindibilidade da medida / ou que o indiciado não possui residência
fixa / ou que o indiciado não apresenta elementos de identificação

35
suficiente. Aqui a argumentação do candidato será essencial para
convencer o examinador de que ele domina o tema.

Demonstrar que se afigura necessária a realização de busca nos endereços


acima mencionados, informando que provas de grande relevância para o
inquérito podem ser encontradas na localização retro citada (armas usadas
no crime, munições, documentos, o carro usado no momento da ação,
elementos que indiquem quem são os outros dois criminosos, dentre outras
possibilidades), além da real possibilidade de prender os investigados já
identificados (em caso do deferimento das prisões aqui representadas).

Expor que a necessidade da medida fundamenta-se nos artigos 5º, XI, da


Constituição Federal e 240, § 1º, do Código de Processo Penal.

III. DOS PEDIDOS:


Diante do exposto, representa-se a Vossa Excelência, após a manifestação do
Ministério Público, pela prisão temporária de ... , pelo prazo de ... ,
considerando a existência de fundadas razões de sua participação no crime e
para que seja possível (descrever a necessidade.

A prisão temporária é uma prisão que tem prazo certo. O prazo é de 5 dias
renováveis por mais 5 dias. Quando diante de crime hediondo, o prazo da
temporária é de 30 dias renováveis por mais 30 dias. Findo o prazo, o preso
deve ser imediatamente colocado em liberdade.

Local e data.

Respeitosamente,
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Delegado de Polícia Civil


Matrícula. XXXXX

5. SEQUESTRO DE BENS
O sequestro de bens é medida que merece ser estudada, pois o Delegado
de Polícia pode se ver diante da necessidade de representá-la ao juiz diante
do caso concreto.

Art. 125. Caberá o seqüestro dos bens imóveis, adquiridos pelo indiciado com os
proventos da infração, ainda que já tenham sido transferidos a terceiro.
Art. 126. Para a decretação do seqüestro, bastará a existência de indícios

36
veementes da proveniência ilícita dos bens.
Art. 127. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou do ofendido, ou
mediante representação da autoridade policial, poderá ordenar o seqüestro, em
qualquer fase do processo ou ainda antes de oferecida a denúncia ou queixa.
Art. 128. Realizado o seqüestro, o juiz ordenará a sua inscrição no Registro de
Imóveis.
Art. 129. O seqüestro autuar-se-á em apartado e admitirá embargos de terceiro.

5.1. Quando é cabível o sequestro de bens?


O sequestro é medida cautelar assecuratória, que visa garantir, em última
análise, a futura aplicação da lei penal. É cabível o sequestro diante de bens
móveis e imóveis adquiridos pelo indiciado ou acusado com proventos de
infração, ainda que tenham sido objeto de alienação a terceiros. Proposta a
medida no juízo criminal, será autuada em apartado, decidindo o juiz de
plano e sem a oitiva do titular do bem.

5.2. Legitimados:
O juiz, de ofício, a requerimento do MP, ofendido ou mediante
representação da autoridade policial, poderá determinar o sequestro, em
qualquer fase do processo ou ainda antes de oferecida a denúncia ou
queixa. Admite-se, inclusive, o sequestro antes da instauração do IP, desde
que presentes os requisitos legais.

MUITO IMPORTANTE: O sequestro é possível ainda que o bem esteja em poder de


terceiro. Nesse caso, a medida será direcionada a ele, e não ao investigado.
Tomar cuidado com isso. Ainda que o terceiro esteja de boa-fé, ela não é
presumível nesse momento. Para que o bem volte a estar disponível, deve-se
caucionar o juízo, comprovando que não sabia que o bem era produto de
PRÁTICA PROFISSIONAL – DELEGADO DE POLÍCIA |

crime. Ademais, só pode embargar para retirar o gravame do bem se o adquiriu


anteriormente à sua constituição.

5.3. Quando representar pelo sequestro e quando representar


pela busca e apreensão?
Muito explorada em nossos concursos de Delegado é a diferença de
cabimento do sequestro com a busca e apreensão. No plano teórico e
prática há grande diferença e relevância. Em sede de concurso, o
examinador costuma explorar bastante a confusão que existe no
entendimento de alguns candidatos acerca dos institutos.

No que diz respeito ao sequestro de bens móveis, a medida somente é viável


quando não for possível a busca e apreensão, conforme se observa do art.
132 do CPP. Desse modo, o sequestro de bem móvel dar-se-á em relação às

37
coisas adquiridas com o provento da prática criminosa (produto indireto do
ilícito). Ao contrário, a busca e apreensão terá lugar para as coisas obtidas
diretamente por meios criminosos e instrumentos do crime (produto direto do
ilícito). Por exemplo, se alguém se apropria indevidamente de valor que não
lhe pertence e com esse dinheiro adquire um carro, a medida correta é o
sequestro. Agora, se for o caso de um carro que fora furtado e depois
localizado em uma garagem, a medida cabível é a busca, pois o veículo,
nesse caso, é o produto direto do ilícito.

5.4. Finalidade do sequestro de bens:


Ao mesmo tempo em que impede o enriquecimento ilícito do imputado, o
sequestro assegura que se operem os dois efeitos extrapenais da sentença
condenatória transitada em julgado, previstos no art. 91, I e II, b, 2.ª parte, do
CP, quais sejam: reparação do dano causado pela infração penal e perda
dos bens adquiridos com o produto da prática criminosa.

5.5. Requisitos:
Para a decretação do sequestro, bastará a existência de indícios veementes
de proveniência ilícita dos bens. Realizado o sequestro, o juiz ordenará a sua
inscrição no Registro de Imóveis. (Art. 126 e 127,CPP).

A existência de indícios veementes da proveniência ilícita dos bens é o ponto


nevrálgico da peça de solicitação de sequestro, constituindo ônus de
argumentação de quem pleiteia a medida. Não pode haver meros indícios,
devendo esses ser veementes, robustos. Essa demonstração é realizada
basicamente através da incompatibilidade entre o padrão de vida, o valor dos
bens e os ganhos patrimoniais lícitos do sujeito. De praxe, antes do sequestro é
analisada a declaração do IR, decretada a quebra do sigilo bancário, etc.,
PRÁTICA PROFISSIONAL – DELEGADO DE POLÍCIA |

para que a medida pleiteada seja embasada pela documentação obtida.

5.6. Oitiva prévia do MP:


O sequestro de bens estatuído no CPP não exige a manifestação prévia do
MP por parte do juiz antes da tomada de sua decisão. Contudo, há
exceções em leis especial exigindo a oitiva prévia do MP para fins de
decretação da medida cautelar de sequestro:
Lei de Lavagem: Lei 9.613/98 – art. 4 – Necessita de oitiva prévia do MP
Lei de Drogas: Lei 11343/06 – art. 60 – Necessita de oitiva prévia do MP

ATENÇÃO: Quando se pede o sequestro de bens auferidos com rendimento


do tráfico, se houver interesse, solicita-se ao juiz que autorize a sua utilização

38
provisória, sendo a Administração Pública nomeada como fiel depositária,
podendo utilizá-lo e devendo conservá-lo.

MAPA DA PEÇA:
1. Endereçamento; (padrão)
2. Inquérito / Processo; (padrão)
3. Assunto: Sequestro de bens.
4. Preâmbulo; Ex.: “O DEPARTAMENTO DE POLÍCIA CIVIL, por intermédio do
Delegado de Polícia infra-assinado, lotado e em exercício ..., vem, no uso de
suas atribuições legais, representar pelo sequestro dos seguintes bens ..., em
face de ...(nome), residente e domiciliado em ..., , pelos fatos e motivos que se
passa a expor:” Nessa etapa deve ser delimitado, com precisão, o bem móvel
ou imóvel objeto da medida, inclusive com a sua localização.
5. Apresentar os fatos; Foi instaurado, por portaria, o inquérito policial
tombado sob número ..., que trata da apuração de crime de ...(tipificação),
tipificado no artigo ...(indicar artigo), do Código Penal, supostamente
cometido por ... (nome do investigado). Infere-se do procedimento
inquisitorial em comento que ... (descrição do fato apurado e dos indícios ou
provas incorporados aos autos).
6. Apresentar os fundamentos que embasam a representação, expondo os
indícios de autoria ou participação em determinado crime, apresentando o
vínculo entre a posse e a origem ilícita do bem. Caso a medida recaia em
terceiro que, em tese, não teria praticado o crime, a autoridade policial
deve argumentar que a medida se justifica em razão dos indícios em razão
do agente X, que de alguma forma maculam a posse do bem desse terceiro.

7. Do Pedido: Diante do exposto, representa-se a Vossa Excelência a


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decretação de sequestro de bens em relação ao bem ... , em razão da


proveniência ilícita do referido bem e da existência de indícios de autoria ou
participação de ... nos crimes ..., a fim de... (art. 91, I e II, b, 2.ª parte, do CP,).

Caso estejamos diante de sequestro albergado pela Lei de Lavagem de


Capitais ou Lei de Drogas, é prudente que o candidato solicite a
representação pelo sequestro, porém após a oitiva do MP.
8. Fechamento; (padrão)

5.7. CUMULAÇÃO DE PEDIDOS:


O candidato bem preparado tem que estar atento à possibilidade de
decretação de sequestro de bens concomitantemente com outras medidas,
como é o caso da quebra de sigilo bancário, busca e apreensão domiciliar,

39
além de eventuais prisões cautelares. Inclusive, é comum representar por duas
ou mais medidas na mesma peça.

6. HIPOTECA LEGAL
Trata-se de direito real de garantia que incide sobre bens imóveis lícitos
pertencentes ao réu (arts. 134 e 135 do CPP), não podendo atingir
patrimônio registrado em nome de terceiro.

A hipoteca legal é comumente vista em bens imóveis; no entanto,


excepcionalmente, ela pode recair em dois bens móveis: aeronave e navio,
conforme assinala Bruno Taufner e Cleopas Santos.

Enquanto o sequestro dirige-se à coisa litigiosa de proveniência ilícita, que


poderá pertencer até mesmo a terceiros, a hipoteca tem como alvo
unicamente o patrimônio do suposto autor do delito, em atenção a
responsabilidade civil, podendo recair sobre quaisquer imóveis, desde que
suficientes para garantir a recomposição patrimonial. O imóvel poderá não
ser levado à inscrição se o acusado prestar caução suficiente. Sobrevindo a
ação absolutória ou extinta a punibilidade a consequência é a mesma do
sequestro, qual seja, o cancelamento da hipoteca.

A medida pode ser solicitada pelo MP ou ofendido. Quanto à possibilidade


do Delegado representar pela medida, há divergência:
Segundo Tourinho Filho e Bruno Taufner, a hipoteca legal, com fundamento
no art. 134 do CPP, pode ser representada pela autoridade policial, já que o
artigo faz uso do termo “indiciado”. Porém, há quem sustente que o
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Delegado não poderia representar pela medida, já que o referido artigo


exige que ela seja manejada no curso do processo.

MAPA DA PEÇA: No que tange à peça, o candidato deve estruturá-la com


base na medida de sequestro, com as adaptações pertinentes aos requisitos
e finalidades da hipoteca legal, que são díspares.

CURIOSIDADE: A hipoteca, mesmo inscrita no registro imobiliário, não torna o


bem inalienável. Portanto, nada impede ao réu transferir-lhe o domínio. No
entanto, por ocasião dos atos registrais, ficará ciente o adquirente de que
está comprando bem que constitui garantia de uma dívida a ser satisfeita
pelo réu, e que, futuramente, poderá vir a perder esse mesmo bem caso o
acusado não cumpra a obrigação patrimonial decorrente do ilícito
praticado.

40
7. ARRESTO
Trata-se de medida assecuratória que recai sobre bens móveis ou imóveis
não litigiosos do acusado ou indiciado, podendo ser manejada no inquérito
ou no processo. O arresto de bens móveis é simétrico à hipoteca legal,
referindo-se, porém, a bens móveis de origem lícita pertencentes ao réu. A
medida de arresto exige a prova de materialidade e indícios suficientes de
autoria.

7.1. Arresto Preventivo: Trata-se do arresto de bem imóvel como medida


preparatória à especialização de hipoteca, devendo esta ser promovida em
até 15 dias após o arresto, sob pena de revogação daquela. Assim, quando
o arresto for instrumentalizado no inquérito policial, como medida
preparatória à hipoteca legal (já que essa somente pode ser manejada no
processo), a especialização de hipoteca tem que se proposta em até 15
dias.

7.2. Residualidade em relação à hipoteca: O arresto de bem móvel é


medida cabível apenas na hipótese de o réu não possuir bens imóveis
passíveis de hipoteca ou se o patrimônio imobiliário já hipotecado mostrar-se
insuficiente para cobrir a integralidade da responsabilidade civil estimada.
Exemplo: dano cível sofrido pela vítima estimado em R$ 300.000,00.
Hipotecados todos os bens imóveis do réu, o valor destes totalizou R$
200.000,00. Assim, poderão ser arrestados bens móveis pertencentes ao
acusado até o valor de R$ 100.000,00, correspondente à parcela indenizável
descoberta.

7.3. Finalidade: O arresto consiste em Direito Real de garantia, que tem por
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finalidade assegurar o pagamento das custas processuais, garantir o


pagamento de eventual pena pecuniária ou ressarcir a vítima das
consequências causadas pelo fato criminoso.

MAPA DA PEÇA: No que tange à peça, o candidato deve estruturá-la com


base na medida de sequestro, com as adaptações pertinentes aos requisitos
e finalidades do arresto, que são díspares.

8. SIGILO BANCÁRIO
8.1. Fundamento constitucional: O sigilo bancário é garantido no art. 5º, XII,
sendo parte do direito à intimidade do art. 5º, X, da CRFB.

41
CRFB, Art. 5º, X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de
dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial,
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal
ou instrução processual penal.

8.2. Fundamentação Legal:


LC 105/01, Art. 1º, § 4º A quebra de sigilo poderá ser decretada, quando necessária
para apuração de ocorrência de qualquer ilícito, em qualquer fase do inquérito ou
do processo judicial, e especialmente nos seguintes crimes: (...)

Importante registrar que a quebra de sigilo pode ser manejada em razão de


todo e qualquer crime que justifique a medida, apesar de haver a previsão
de possibilidade “especialmente nos seguintes crime...” como é percebido
acima.

O pedido realizado pela autoridade policial deve estar pautado nos


requisitos comuns das medidas cautelares (fumus comissi delicti e periculum
in mora), devendo indicar também o período da referida medida.

MAPA DA PEÇA:
1. Endereçamento; (padrão)
2. Inquérito / Processo; (padrão)
3. Assunto: Quebra de Sigilo
4. Preâmbulo; Ex.: O Departamento de Polícia Civil do Estado do Rio de
Janeiro, por intermédio do Delegado de Polícia Federal infra-assinado,
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lotado e em exercício na DELEPAT /SR/DP/RJ, vem, no uso de suas atribuições


legais, representar pela quebra de sigilo bancário em face de ...,
devidamente qualificado às folhas ..., residente e domiciliado em..., pelos
fatos e fundamentos que passa a expor:
5. Apresentar os fatos; “Ex.: Foi instaurado por portaria inquérito policial com
o objetivo de apurar existência dos crimes de _____________________ (indicar
os crimes apurados), previstos respectivamente nos artigos _________ (artigos
respectivos) do Código Penal.

Foram incorporadas aos autos as seguintes provas da atuação do grupo


criminoso: ________________ (descrever minuciosamente as provas coligidas
no curso do feito e o indicativo de cada prova em relação ao crime).”

42
6. Apresentar os fundamentos, demonstrando os indícios de autoria em crime
que autorize a medida. Nesse momento, o candidato deverá demonstrar a
existência, em tese, de movimentações incompatíveis com os rendimentos
regularmente auferidos e as razões que façam crer a existência de fatos
criminosos.
7. Do Pedido:
Diante do exposto, representa-se a Vossa Excelência a quebra de sigilo
bancário em face de ... (nome), contas ..., agências..., sob a tutela das
instituições financeiras ..., pelo período retroativo de ... (ex. 6 meses), pelos fatos
e fundamentos retro citados.
8. Fechamento; (padrão)

9. INTERCEPTAÇÃO AMBIENTAL
A interceptação ambiental engloba captação de quaisquer sinais ambientes e
o seu registro. Diante da violação à intimidade, exige-se a autorização
judicial fundamentada. Porém, Nucci, muito adotado pela CESPE, dentre
outros autores, mitiga essa regra, entendendo dispensável a autorização
judicial quando se tratar de conversa ostensiva, realizada em lugar público.
Esses requisitos são cumulativos; uma conversa sigilosa em local público, por
exemplo, exigiria a autorização judicial. Outrossim, a jurisprudência considera
a captação direta, realizada por um dos interlocutores sem o conhecimento
do outro, válida, independentemente de autorização judicial.

9.1. Fundamentação Constitucional: art. 5, X da CF/88.

9.2. Fundamentação Legal: Art. 2º, IV da lei 12.850/2013. O candidato deverá


demonstrar no tópico da fundamentação os requisitos básicos de toda
cautelar: fumus comissi delicti e periculum in mora.
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9.3. Distinção entre interceptação ambiental e interceptação telefônica:

Art. 2º, IV da lei 12.850 Art. 2º da lei 9296/96


1. Captação ou interceptação 1. Interceptação telefônica ou telemática;
ambiental 2. Prazo máximo de 15 dias (renovável)
2. Não há prazo máximo de duração 3. Trata-se de um meio subsidiário de
3. Pode ser feita de forma incondicional, prova, quando houver esgotado os outros
independente. de qualquer outro meios probatórios.
elemento de prova. 4. Aqui somente se admite a interceptação
4. A interceptação aqui é para qualquer para crimes apenados com reclusão.
delito. 5. O juiz tem o prazo de 24h para deferir ou
5. Não há prazo para o juízo decidir se não.
defere ou não.

43
9.4. Há prazo máximo para a referida captação ou interceptação? Não há
prazo máximo, visto que essa interceptação não segue a L.9.296/96. A
interceptação ambiental é a realizada por terceiro, sem conhecimento dos
interlocutores, por outros meios que não o telefônico, englobando sinais
eletromagnéticos, ópticos e acústicos.
Ante aos dados mencionados, pode-se concluir que a interceptação ou
captação prevista na Lei de Organizações Criminosas é deveras mais ampla
do que a que dispõe a da L. 9296/96, devendo ser afirmado que elas não se
confundem.

MAPA DA PEÇA: No que tange à peça, o candidato deve estruturá-la com


base na medida de interceptação telefônica, com as adaptações
pertinentes às peculiaridade da interceptação ambiental, que são díspares.

10. AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE


A prisão em flagrante é a medida de autodefesa da sociedade
consubstanciada pela privação da liberdade de locomoção daquele que é
surpreendido em situação de flagrância, a ser executada
independentemente de prévia autorização judicial.

Deve-se asseverar que nos inquéritos policiais instaurados em virtude de


flagrante delito, o próprio auto funcionará como a peça inaugural.

A prisão em flagrante possui as funções de:


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I) evitar a fuga do infrator;


II) auxiliar na colheita de elementos informativos;
III) impedir a consumação ou o exaurimento do delito, a depender do caso
concreto.

FASES DA PRISÃO EM FLAGRANTE


1– captura do agente;
2– condução coercitiva do agente à Delegacia;
3– lavratura do auto de prisão em flagrante;
Algumas leis determinam que, em certos casos, “não ser imporá prisão em
flagrante”:

44
I) art. 69, parágrafo único, da Lei 9.099/1995:
Art. 69 (...) Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for

imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele

comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de

violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu

afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima. (Redação

dada pela Lei nº 10.455, de 13.5.2002))

II) art. 48, § 2º, da Lei de Drogas:


Art. 48 (...) § 2o Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei [porte de

drogas para uso próprio], não se imporá prisão em flagrante, devendo o autor do

fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta deste,

assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e

providenciando-se as requisições dos exames e perícias necessários.

III) art. 301 do CTB:


Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte

vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto

e integral socorro àquela.

4 – recolhimento à prisão
Lavrado o auto de prisão em flagrante, haverá o recolhimento à prisão.
Pode ser que, apesar da lavratura do APF, a pessoa acabe não sendo
recolhida, porque há a possibilidade de a autoridade policial conceder
fiança.
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Quando couber o arbitramento de fiança pelo Delegado, fixado e pago o


valor, não será o agente recolhido à prisão (art. 322 do CPP):

Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração cuja
pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos.
Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48
(quarenta e oito) horas.

A Lei 12.403/2011 produziu mudança em relação ao valor da fiança. Antes


dela, os valores estavam completamente desatualizados. Agora, eles estão
especificados de maneira mais precisa (art. 325 do CPP):
Art. 325. O valor da fiança será fixado pela autoridade que a conceder nos

seguintes limites:

I - de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se tratar de infração cuja pena

45
privativa de liberdade, no grau máximo, não for superior a 4 (quatro) anos;

II - de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quando o máximo da pena

privativa de liberdade cominada for superior a 4 (quatro) anos.

§ 1o Se assim recomendar a situação econômica do preso, a fiança poderá ser:

I - dispensada, na forma do art. 350 deste Código;

II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou

III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes. (...)

OBS: A fiança prevista no inciso II do art. 325 não pode mais ser concedida
pelo Delegado. Cuidado, pois há no § 1º algumas causas de aumento da
fiança. Somente o juiz pode dispensar fiança. O Delegado não pode. Pode
somente diminuí-la. A fiança pode ser aumentada em até 1000 vezes. A
fiança, pela letra da lei, pode atingir o valor de até 200.000 salários mínimos.
Isso porque, para uma pessoa rica, a fiança tem de ser de fato alta, para
que possa ter algum caráter coercitivo.

ATENÇÃO: Nas quatro primeiras fases, a prisão é um ato meramente


administrativo, uma vez que ainda não houve a intervenção do Judiciário.

5–comunicação e remessa do auto de prisão em flagrante ao juiz, ao MP e à


Defensoria Pública
Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão

comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família

do preso ou à pessoa por ele indicada. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de

2011).

§ 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será


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encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado

não informe o nome de seu advogado, cópia integral para a Defensoria Pública.

(Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

§ 2o No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa,

assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das

testemunhas. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

6– recebimento do auto de prisão em flagrante e providências a


serem adotadas pelo juiz
Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá

fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

I - relaxar a prisão ilegal; ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

46
II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos

constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes

as medidas cautelares diversas da prisão; ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. (Incluído pela Lei nº 12.403,

de 2011).

Parágrafo único. Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente

praticou o fato nas condições constantes dos incisos I a III do caput do art. 23 do

Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, poderá,

fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo

de comparecimento a todos os atos processuais, sob pena de revogação.

(Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

ESPÉCIES DE PRISÃO EM FLAGRANTE

1 – flagrante obrigatório ou coercitivo


Flagrante obrigatório ou coercitivo é o realizado pelas autoridades policiais.
Quando deparadas com um delito, elas têm a obrigação de efetuar a
prisão em flagrante. Agem dessa forma em estrito cumprimento do dever
legal.

2 – flagrante facultativo
Flagrante facultativo é o realizado por qualquer pessoa do povo. O CPP
confere essa possibilidade(art. 301 do CPP):
Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes

deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito.


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3 – flagrante próprio, perfeito, real ou verdadeiro


O flagrante próprio (perfeito, real ou verdadeiro) está previsto no art. 302, I e
II do CPP:
Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:

I - está cometendo a infração penal;

II - acaba de cometê-la;

4 – flagrante impróprio, imperfeito, irreal ou quase-flagrante


O flagrante impróprio (imperfeito, irreal ou quase-flagrante) está previsto no
art. 302, III, do CPP:
Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem: (...)

III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer

47
pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração;

5 – flagrante presumido, ficto ou assimilado


O flagrante presumido (ficto ou assimilado) está previsto no art. 302, IV, do
CPP:
Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem: (...)

IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que

façam presumir ser ele autor da infração.

6 – flagrante preparado (flagrante provocado, crime de ensaio ou


delito putativo por obra do agente provocador)
São necessários dois requisitos para a caracterização do flagrante
preparado:
I) a indução do agente à prática do delito:
II) a adoção de precauções para que o delito não se consume:
Segundo a doutrina, por conta das precauções adotadas para que o delito
não se consume, trata-se de crime impossível, em decorrência da ineficácia
absoluta do meio.
A Súmula 145 do STF confirma esse entendimento. Não obstante ela falar em
polícia, o flagrante preparado pode também ser praticado por um
particular:
Súmula 145 - NÃO HÁ CRIME, QUANDO A PREPARAÇÃO DO FLAGRANTE PELA

POLÍCIA TORNA IMPOSSÍVEL A SUA CONSUMAÇÃO.


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Nesse sentido, o delito putativo por conta do agente provocador é,


portanto, exemplo de uma prisão em flagrante ilegal, que deverá ser objeto
de relaxamento.

7 – flagrante esperado
O flagrante esperado não se confunde com o flagrante preparado.
No flagrante esperado, não há atividade de indução ou de provocação do
criminoso à prática do delito. A autoridade policial limita-se a aguardar a
ocorrência do crime.

48
8 – flagrante prorrogado, retardado ou diferido (ação controlada)
O flagrante prorrogado, retardado ou diferido (ação controlada) consiste no
retardamento da intervenção policial, para que ela se dê num momento
mais oportuno sob o ponto de vista da colheita de provas.

A ação controlada está prevista nos seguintes dispositivos legais:


I) arts. 8º e 9º da Lei 12.850/2013 (Nova Lei das Organizações Criminosas)
Art. 8º Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou

administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela

vinculada, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a

medida legal se concretize no momento mais eficaz à formação de provas e

obtenção de informações.

§ 1º O retardamento da intervenção policial ou administrativa será previamente

comunicado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e

comunicará ao Ministério Público.

§ 2º A comunicação será sigilosamente distribuída de forma a não conter

informações que possam indicar a operação a ser efetuada.

§ 3º Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao

Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das

investigações.

§ 4º Ao término da diligência, elaborar-se-á auto circunstanciado acerca da ação

controlada.

II) art. 53, II, da Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas)


Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta
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Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e

ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios: (...)

II - a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos

ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no território

brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior número de

integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal

cabível.

Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a autorização será

concedida desde que sejam conhecidos o itinerário provável e a identificação dos

agentes do delito ou de colaboradores.

III) art. 4º, § 4º, da Lei 9.613/1998 (Lei de Lavagem de Capitais)

49
Art. 4º O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, ou representação da

autoridade policial, ouvido o Ministério Público em vinte e quatro horas, havendo

indícios suficientes, poderá decretar, no curso do inquérito ou da ação penal, a

apreensão ou o sequestro de bens, direitos ou valores do acusado, ou existentes

em seu nome, objeto dos crimes previstos nesta Lei, procedendo-se na forma dos

arts. 125 a 144 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de

Processo Penal. (...)

§ 4º A ordem de prisão de pessoas ou da apreensão ou sequestro de bens, direitos

ou valores, poderá ser suspensa pelo juiz, ouvido o Ministério Público, quando a sua

execução imediata possa comprometer as investigações.

9 – flagrante forjado, maquinado ou urdido


No flagrante forjado, maquinado ou urdido, policiais ou particulares criam
prova de um crime inexistente, a fim de legitimar uma prisão em flagrante
manifestamente ilegal. A autoridade que o faz deve ser responsabilizada
criminalmente, por abuso de autoridade.

MAPA DA PEÇA:
Aos ____ dias do mês de ____ do ano de ____, na sede do ____ Circunscrição
Policial de ___, onde presente se achava a Autoridade Policial, o Dr. ____,
comigo, Escrivão de Polícia, aí, compareceu o condutor ____, RG, _____,
conduzindo preso _______________, por infração, em tese, ao artigo 14 da Lei
10.826/03, haja vista ter sido surpreendido portando uma pistola, da marca
____, calibre ____, n.º, ____, devidamente municiada com onze cápsulas,
todas intactas, na Rua ____, Bairro ____, nesta cidade, circunscrição desta
PRÁTICA PROFISSIONAL – DELEGADO DE POLÍCIA |

Delegacia, do que foram testemunhas ____ e ____. Entrevistadas as partes e


formando seu convencimento técnico-jurídico, deliberou a Autoridade
Policial por ratificar a voz de prisão dada pelo condutor e, após cientificar o
preso quanto aos seus direitos individuais previstos no Art. 5º da Constituição
da República, mormente os de receber assistência de familiares ou de
advogado que indicar, de não ser identificado criminalmente senão nas
hipóteses legais, de ter respeitadas suas integridades física e moral, de
manter-se em silêncio ou de declinar informações que reputar úteis à sua
autodefesa, de conhecer a identidade do autor de sua prisão e, se
admitida, prestar fiança e livrar-se solto, determinou a lavratura deste AUTOR
DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO providenciando-se, conforme
documentação adiante acostadas, que ficam fazendo parte integrante
deste:

50
1-Oitiva do condutor com entrega de cópia do termo;
2-Expedição de recibo de entrega do preso em favor do condutor;
3-Oitiva das testemunhas;
4-Interrogatório do conduzido.

Resultando demonstradas pelos elementos de convicção colhidos, a autoria


e a materialidade da infração penal, entendeu a Autoridade Policial
subsistente este Auto de Prisão em Flagrante Delito, determinando ainda a
expedição de NOTA DE CULPA ao preso. Nada mais havendo, determinou a
Autoridade o encerramento deste auto, que assina com o indiciado e
comigo, _____, Escrivão de Polícia que o digitei e imprimi.

_________________________
ESCRIVÃO DE POLÍCIA

_________________________
DELEGADO DE POLÍCIA

IMPORTANTE: É recomendável o candidato fazer menção ao arbitramento


ou não da fiança, com base no art. 322 do CPP.

ATENÇÃO: O Delegado não é obrigado a ouvir a vítima no momento do


flagrante. Não se inicia o inquérito com Portaria no caso de Prisão em
Flagrante.
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NOTA DE CULPA – Trata-se de um documento que o Estado entrega ao preso


explicando os motivos de sua prisão, de modo que o preso deverá recibar a
nota de culpa, prevista no art. 306 do CPP. Não se pode olvidar que se o
preso se recusar duas testemunhas assinarão por ele.

NOTA DE CUPA

O Sr. Doutor _____________, Delegado de Polícia desta Circunscrição Policial,


faz saber a ___________, (qualificação), que se acha preso em flagrante por
haver hoje, às _______, na Rua _______, Bairro ________, cidade, subtraído
mediante grave ameaças e em companhia de outro indivíduo não
identificado, a quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), da vítima ________;
infringindo desta feita o disposto no Art. 157, § 2º, II, do Código Penal, do que
são testemunhas ________________ e __________________.

51
____________
Local e data

_____________________
DELEGADO DE POLÍCIA

Recibo:

Nesta data recebi a primeira via da presente nota de culpa.

_______________
Loca e data
______________________________
Nome do autuado e assinatura

11. INFILTRAÇÃO DE AGENTES


11.1- DECRETAÇÃO: Trata-se de medida judicial decidida pelo magistrado no
prazo de 24 (vinte e quatro) horas, não podendo ser decretada de ofício.

Ela será decretada:

- por representação pelo delegado de polícia (o juiz competente, antes de


decidir, ouvirá o Ministério Público);

- ou requerida pelo Ministério Público, após manifestação técnica do


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delegado de polícia quando solicitada no curso de inquérito policial;

- requerimento do Ministério Público ou a representação do delegado de


polícia para a infiltração de agentes conterão a demonstração da
necessidade da medida, o alcance das tarefas dos agentes e, quando
possível, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e o local da
infiltração.

11.2- PRAZO: A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses,
sem prejuízo de eventuais renovações, desde que comprovada sua
necessidade.

52
ATENÇÃO: Transcorrido o prazo previsto, o relatório circunstanciado será
apresentado ao juiz competente, que imediatamente cientificará o
Ministério Público.

OBS: No curso do inquérito policial, o delegado de polícia poderá determinar


aos seus agentes, e o Ministério Público poderá requisitar, a qualquer tempo,
relatório da atividade de infiltração.

11.3- SUSTAÇÃO DA MEDIDA POR PERIGO IMINENTE: Havendo indícios seguros


de que o agente infiltrado sofre risco iminente, a operação será sustada
mediante requisição do Ministério Público ou pelo Delegado de Polícia,
dando-se imediata ciência ao Ministério Público e à autoridade judicial.

Dispositivos legais iimportantes previstos na Lei 12.850/13:

Art. 10. A infiltração de agentes de polícia em tarefas de investigação, representada


pelo delegado de polícia ou requerida pelo Ministério Público, após manifestação técnica
do delegado de polícia quando solicitada no curso de inquérito policial, será precedida de
circunstanciada, motivada e sigilosa autorização judicial, que estabelecerá seus limites.

§ 1o Na hipótese de representação do delegado de polícia, o juiz competente, antes


de decidir, ouvirá o Ministério Público.

§ 2o Será admitida a infiltração se houver indícios de infração penal de que trata o art.
1o e se a prova não puder ser produzida por outros meios disponíveis.

§ 3o A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de
eventuais renovações, desde que comprovada sua necessidade.

§ 4o Findo o prazo previsto no § 3o, o relatório circunstanciado será apresentado ao juiz


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competente, que imediatamente cientificará o Ministério Público.

§ 5o No curso do inquérito policial, o delegado de polícia poderá determinar aos seus


agentes, e o Ministério Público poderá requisitar, a qualquer tempo, relatório da atividade
de infiltração.

Art. 11. O requerimento do Ministério Público ou a representação do delegado de


polícia para a infiltração de agentes conterão a demonstração da necessidade da medida,
o alcance das tarefas dos agentes e, quando possível, os nomes ou apelidos das pessoas
investigadas e o local da infiltração.

Art. 12. O pedido de infiltração será sigilosamente distribuído, de forma a não conter
informações que possam indicar a operação a ser efetivada ou identificar o agente que
será infiltrado.

§ 1o As informações quanto à necessidade da operação de infiltração serão dirigidas


diretamente ao juiz competente, que decidirá no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, após
manifestação do Ministério Público na hipótese de representação do delegado de polícia,

53
devendo-se adotar as medidas necessárias para o êxito das investigações e a segurança do
agente infiltrado.

§ 2o Os autos contendo as informações da operação de infiltração acompanharão a


denúncia do Ministério Público, quando serão disponibilizados à defesa, assegurando-se a
preservação da identidade do agente.

§ 3o Havendo indícios seguros de que o agente infiltrado sofre risco iminente, a


operação será sustada mediante requisição do Ministério Público ou pelo delegado de
polícia, dando-se imediata ciência ao Ministério Público e à autoridade judicial.

Art. 13. O agente que não guardar, em sua atuação, a devida proporcionalidade com
a finalidade da investigação, responderá pelos excessos praticados.

Parágrafo único. Não é punível, no âmbito da infiltração, a prática de crime pelo


agente infiltrado no curso da investigação, quando inexigível conduta diversa.

Art. 14. São direitos do agente:

I - recusar ou fazer cessar a atuação infiltrada;

II - ter sua identidade alterada, aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 9o da


Lei no 9.807, de 13 de julho de 1999, bem como usufruir das medidas de proteção a
testemunhas;

III - ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua voz e demais informações pessoais
preservadas durante a investigação e o processo criminal, salvo se houver decisão judicial
em contrário;

IV - não ter sua identidade revelada, nem ser fotografado ou filmado pelos meios de
comunicação, sem sua prévia autorização por escrito.

MAPA DA PEÇA:
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1. Endereçamento; (padrão)
2. Inquérito / Processo; (padrão)
3. Assunto: Infiltração de Agentes
4. Preâmbulo; Ex.: O Departamento de Polícia Civil do Estado do Rio de
Janeiro, por intermédio do Delegado de Polícia Federal subscrito, lotado e
em exercício na ______, vem, no uso de suas atribuições legais, representar
pela INFILTRAÇÃO DE AGENTES em face da Organização Criminosa ..., pelos
fatos e fundamentos que passa a expor:
5. Apresentar os fatos; “Ex.: Foi instaurado por portaria inquérito policial com
o objetivo de apurar existência dos crimes de _____________________ (indicar
os crimes apurados), previstos respectivamente nos artigos _________ (artigos
respectivos) do Código Penal ou Leis Penais.

54
Foram incorporadas aos autos as seguintes provas da atuação do grupo
criminoso: ________________ (descrever minuciosamente as provas coligidas
no curso do feito e o indicativo de cada prova em relação ao crime).”
6. Apresentar os fundamentos, demonstrando os indícios de ifração penal do
art. 1ª da Lei 12.850/13 em crime que autorize a medida. Nesse momento, o
candidato deverá demonstrar a existência, em tese, da necessidade da
medida, o alcance das tarefas dos agentes e, quando possível, os nomes ou
apelidos das pessoas investigadas e o local da infiltração.

7. Do Pedido:
Diante do exposto, representa-se a Vossa Excelência a INFILTRAÇÃO DE
AGENTES em face da Organização Criminosa investigada, pelos fatos e
fundamentos retro citados.
8. Fechamento; (padrão)

12. PORTARIA
CONCEITO: Trata-se de uma peça em que a Autoridade Policial registra o
conhecimento da prática de um crime de Ação Pública Incondicionada,
especificando, se possível, o lugar, o dia e a hora em que foi cometido o
crime, o nome do autor e o nome da vítima, de modo a concluir
determinando a instauração do inquérito policial. Assim, a portaria é
realizada quando o delegado de ofício instaura o procedimento, sem que
tenha havido prisão do suspeito.

Há também a utilização de portaria diante da cognição mediata por parte


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da autoridade policial, que ocorre quando a instauração do inquérito fora


requisitada pelo MP, pelo JUIZ, por qualquer um do povo ou a requerimento
da vítima. Nesse caso, mesmo havendo a requisição do MP ou do Juiz, deve
o Delegado formalizar a instauração do inquérito através de Portaria, pois a
requisição, por si só, não instaura o inquérito policial.

REQUISITOS NECESSÁRIOS À PORTARIA:

1-Número do protocolo e do documento base da notícia do


crime/cognição;
2-O relato sucinto do fato delituoso;
3-A tipificação, ainda que provisória;
4-A autoria, quando possível;
5-As diligências de cumprimento imediato;

55
6-A data da instauração do inquérito;
7-O nome da autoridade policial presidente da investigação, com sua
respectiva lotação.

MAPA DA PEÇA:
PORTARIA

O Delegado de Polícia Civil __________, Titular da Delegacia __________, de


Salvador – BA, no uso da atribuição conferida pelo artigo 5º, inciso I, do
Código de Processo Penal e tendo em vista o Registro de Ocorrência
n.__________ e Auto de Prisão em Flagrante n. ___________, lavrado pelo
Delegado de Polícia _______________, lotado na ____Delegacia de Salvador -
BA,

RESOLVE:

Instaurar Inquérito Policial com o objetivo de apurar a prática do(s) CRIME(s)


DE _____________, com fulcro no(s) artigo(s) ____________, do Código Penal,
além de outros porventura desvendados no curso da persecução criminal,
em razão das condutas praticadas pelos nacionais TÍCIO (qualificação),
MÉVIO (qualificação), e CAIO (qualificação), iniciadas em Feira de Santana
– BA, de onde empreenderam fuga, sendo perseguidos até esta Comarca e
capturados em flagrante por policiais militares nesta circunscrição, ao que
foram apresentados a esta Unidade de Polícia Judiciária.

Conforme RO e APF, os policiais que efetuaram a prisão dos indiciados


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prestaram testemunho, descrevendo as circunstâncias em que se deram as


prisões.
Autuada esta e a documentação que lhe deu origem, determino desde
logo a adoção das seguintes providências:

1) Instauração do Inquérito Policial;

2) Sejam feitos os registros e anotações de praxe e adotadas as seguintes


providências:
a) Autue-se esta portaria juntamente com o APF e RO de n.º ____________;
b) Seja providenciado a folha de antecedentes criminais dos indiciados;
c) Intimem-se a ofendida e demais pessoas que presenciaram ou saibam do
fato delituoso, para serem ouvidas mediante termo de assentada;

56
d) Expeçam-se guias ao Instituto Médico Legal de Feira de Santana – BA e
Salvador – BA para realização do exame de corpo de delito na vítima e
indiciados, bem como o Instituto de Criminalística em Salvador – BA para
realização do exame de local do crime;
e) Oficie-se o Ministério Público nesta comarca de Salvador – BA,
comunicando a instauração do Inquérito Policial.

CUMPRA-SE.

Local e data.

Delegado de Polícia

PORTARIA DE INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL

IP___________

O Delegado de Polícia Federal, que esta subscreve, lotado nesta Delegacia


__________, no uso de suas atribuições conferidas pelo art. 144, §1º, IV, CR, e
pelo art. 4º e seguintes do CPP, e, ainda, considerando a notícia crime
referente aos delitos em tese perpetrados.

RESOLVE:

Instaurar inquérito policial, ________(demonstrar a justa causa) (elaborar um


pequeno resumo sobre a suposta conduta delituosa)
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I – Dos Fatos

a) (Explicar como aconteceu os fatos, o modus operandi, a data, o horário,


as circunstâncias...)

b) (Desenvolver a tipificação) Tais condutas configurariam, em tese, os


delitos de ___________, sem prejuízo de outros crimes porventura identificados
no decorre desta investigação.

c) (Registro)

Assim sendo, determino sejam realizados os registros e anotações de praxe,


bem como a autuação desta portaria e demais documentos
encaminhados, através da ______________.

57
d) (Diligências)* Sempre no imperativo.

Determinar sejam cumpridas certas diligências preliminares. (art. 6º e 7º, CPP)

-Oficie-se ao Ministério Público Federal a instauração deste (quem


determinou a instauração do IP);

-Comunique-se ao Juiz Federal da____ Vara _____, da Seção Judiciária


de_____;

-Oficie-se ao Órgão _____, (saber se o funcionário público está lotado, qual o


cargo) - Identificação dos suspeitos;

-Oitiva de vítimas e outras testemunhas;

-Determina-se apreensão de materiais e, consequentemente, solicitação de


perícia;

-Oficiar órgãos (exemplo do carro – oficiar Detran);

e) (Conclusão)

Com as respostas, façam-me conclusos os autos.

CUMPRA-SE.
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Local e data.

Delegado de Polícia Federal

ATENÇÃO: Nas diligências iniciais, atentar àquelas que demandam


autorização judicial. A interceptação telefônica só pode ser pedida quando
não tivermos outros meios de prova para comprovação daquele delito, ou
seja, não pode, no momento inicial do IP, pedir pela interceptação
telefônica.

13. RELATÓRIO
CONCEITO: O relatório final é a conclusão do inquérito.

58
Nesse relatório deve a Autoridade Policial de forma minuciosa narrar as
diligências empreendidas, bem como a análise dos elementos de convicção
produzidos no inquérito policial.

O delegado de polícia, entre outras hipóteses, poderá concluir pela:


- Inexistência do fato;
- Inocência do investigado; e
- Existência de uma causa excludente de antijuridicidade e culpabilidade.

* O RELATÓRIO PODERÁ SER:


- Terminativo: quando conclusivo;
- Requisitório: quando, além de conclusivo, a autoridade policial representa
pela decretação da prisão preventiva ou provisória; e
- Complementar: atende diligências requisitadas pelo representante do
Ministério Público.

ATENÇÃO: Saliente-se que o relatório final não deve ser apenas um resumo
do apurado ou uma espécie de índice remissivo do que se encontra juntado
aos autos. Com efeito, o relatório deve demonstrar o domínio que o
Delegado de Polícia tem na ciência da investigação criminal e na área do
direito, mormente pelo fato das autoridades policiais estarem inseridas no rol
das carreiras jurídicas.

MAPA DA PEÇA:
RELATÓRIO
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INQUÉRITO POLICIAL Nº___/__

Instaurado em __/__/____.

MM. Juiz de Direito da _____ Comarca de Salvador - BA,

Em decorrência da Portaria n° _______________, foi instaurado Inquérito


Policial em __/__/__, para apurar a prática dos ilícitos tipificados nos arts.
___________ do Código Penal por parte dos indiciados CAIO (qualificação),
TÍCIO (qualificação) e MÉVIO (qualificação), ocorridos no dia 31/07/2009, na
cidade de Salvador – BA, em estabelecimento comercial situado no terminal
rodoviário da referida cidade.

Na instrução deste Inquérito Policial foram inquiridas as pessoas abaixo


discriminadas:

59
MARIA, comerciante, 45 anos, ___________, fls.____, respondendo ser
proprietária da loja de eletrônicos na qual ocorreu o crime. Que o primeiro
indiciado invadira seu estabelecimento e de lá subtraíra uma caixa com seis
relógios, avaliados em R$ 300,00; que os prejuízos nas instalações da loja
somaram R$ 500,00; que ficara incapacitada para o trabalho por quarenta
dias; que as mercadorias lhe haviam sido restituídas pela autoridade policial;
que, na data do fato, ela estava grávida havia dois meses e, tendo sido
encaminhada ao hospital público mais próximo, sofrera aborto em razão das
lesões resultantes da ação do primeiro indiciado; relatou, ainda, que dormia
no estabelecimento porque queria esconder de seu pai os sintomas da
gravidez.

Às fls.______ depoimento de SEMPRÔNIO, vigia do terminal Rodoviário, local


do crime, declarou que, ao ouvir gritos provindos do setor onde MARIA
mantém loja, correra ao local e, tendo encontrado a moça caída com
ferimentos no rosto e ombro, levara-a imediatamente ao hospital mais
próximo; que não percebera a gravidez de Maria.
Os policiais que efetuaram a prisão dos indiciados também prestaram
testemunho, às fls._______, mas não acrescentaram nenhum outro fato além
das circunstâncias em que se deram as prisões.

Às fls._____, juntaram-se aos autos as folhas de antecedentes criminais dos


indiciados, sem nenhum registro.

Caio, Tício e Mévio confessaram a prática delitiva, conforme interrogatórios


de fls. ______, ______ e _______.

Às fls._____, laudos de exame de corpo de delito e local do crime.

Face ao exposto, damos por encerradas as investigações neste INQUÉRITO


POLICIAL , submetendo ao crivo de V. Exa. e do Ilustre Representante do MP.
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É o Relatório.

Local, data.

DELEGADO DE POLÍCIA

MAPA DA PEÇA:
RELATÓRIO

Inquérito Policial nº_________

Instaurado em __/__/____.

60
EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ___VARA CRIMINAL DA COMARCA DE BELO
HORIZONTE – MG

Em decorrência do Auto de Prisão em Flagrante n° _______________, foi


instaurado Inquérito Policial n°__________, em _________, para apurar a prática
dos crimes de furto qualificado, transporte de explosivo qualificado pelo
resultado morte e emprego de artefato explosivo, com fulcro,
respectivamente, nos arts. 155, § 4º I e IV, 253 c/c 258, todos do Código Penal
e art. 16, III da Lei n° 10.826/2003 por parte dos indiciados CAIO
(qualificação), TÍCIO (qualificação) e MÉVIO (qualificação), além de outros
ainda não identificados.

Auto de Prisão em Flagrante às fls.___.

Comunicação ao juízo e demais formalidades legais, às fls.____.

Nota de culpa às fls.___,___e___.


Remessa do APF e oitivas ao juízo às fls.____.

Às fls.___consta o Auto de Apreensão do explosivo. Encaminhamento à


perícia às fls.____.

Às fls.___consta o Auto de Apreensão das armas de uso restrito.


Encaminhamento à perícia às fls.____.

Às fls.____ consta o Auto de Apreensão dos valores em moeda corrente.


Encaminhamento à perícia às fls.____.

Os policias condutores ouvido às fls. ____ e fls. ____, informaram que


________________________________.

Às fls._____, juntaram-se aos autos as folhas de antecedentes criminais dos


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indiciados, sem nenhum registro.

Às fls._____, laudos de exame de material explosivo e local do crime.

Às fls.____, termo de condução dos presos à cadeia pública de Belo


Horizonte - MG

Ante o exposto, damos por encerradas as investigações neste INQUÉRITO


POLICIAL , submetendo ao crivo de V. Exa. e do ilustre Representante do MP.

É o Relatório.

Local, data.

DELEGADO DE POLÍCIA

61
O relatório, assim como o Inquérito, é dispensável. Não é obrigatória a
utilização para ter início a ação penal. Uma vez elaborado o relatório, o
inquérito deverá ser remetido ao Poder Judiciário, de acordo com CPP. Por
conseguinte, recebido os autos de inquérito, o juiz deverá, nos crimes de
ação penal pública, abrir vista ao MP para que adote alguma das
providências cabíveis; se crime de ação penal privada, os autos ficam em
cartório (com o juiz) aguardando a iniciativa da vítima.

14. INDICIAMENTO:
Indiciar é apontar alguém como provável autor do delito, quando presentes
indícios de autoria e prova de materialidade. Trata-se de ato privativo da
autoridade policial, geralmente feito ao final do inquérito. O indiciamento é
próprio da fase investigatória e não pode ser feito depois que o processo
judicial estiver em andamento .O indiciamento não possui previsão legal
expressa, sendo caracterizado como uma construção pretoriana com base
no art. 6º V do CPP que lista as etapas investigatórias a serem cumpridas pela
autoridade policial. Trata-se de um ato privativo do Delegado sem momento
procedimental específico para ocorrer no inquérito, que pode ser dar, por
exemplo, já na instauração ou mesmo após, em um dos relatórios
apresentados pelo Delegado ao longo do inquérito. (art. 10 § 1º a 3º do CPP
c/c art. 16 do CPP). Portanto, se a atribuição para efetuar o indiciamento é
privativa da autoridade policial, não se afigura possível que o juiz, o Ministério
Público ou uma Comissão Parlamentar de Inquérito requisitem ao delegado
de polícia o indiciamento de determinada pessoa". Na mesma linha, eis o
teor do novel art. 2, §6, da Lei n. 12.830/13: "O indiciamento, privativo do
delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise
técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas
PRÁTICA PROFISSIONAL – DELEGADO DE POLÍCIA |

circunstâncias".

OBS: No caso da prisão em flagrante e lavratura do APFD, há indiciamento e


instauração de inquérito simultaneamente. Segundo Renato Brasileiro, o
indiciamento pode se materializar no próprio APFD, como também no
relatório.

Quem pode ser indiciado? A regra é que qualquer pessoa pode ser
indiciada. Mas existem exceções. Atenção! Pessoas que não podem ser
indiciadas: Acusados com foro por prerrogativa de função: apesar de não
haver previsão legal expressa, o Supremo entendeu que é necessária
autorização do Ministro ou Desembargador Relator, não só para instauração
das investigações, como também para o indiciamento de tais investigados.
STF – Inquérito 2411 – QO - MT

62
ATENÇÃO: O indiciamento após o oferecimento da denúncia é ilegal e
desnecessário, importando constrangimento ilegal. (STJ HC 165600 e HC
179.951-SP)

Segundo Renato Brasileiro, em relação à possibilidade de indiciamento no


âmbito dos Juizados, entende-se que, por força da simplicidade que norteia
a própria investigação das infrações de menor potencial ofensivo, é inviável
o indiciamento em sede de termo circunstanciado.

ESPÉCIES DE INDICIAMENTO: Há 2 espécies de indiciamento:


a) Indiciamento direto → É aquele feito na presença do investigado. O
delegado manda chamar o investigado e faz o indiciamento na frente dele.
É feito após o interrogatório.
b) Indiciamento indireto → É feito na hipótese de não localização do
investigado (ex. Investigado está
em local incerto e não sabido).

E, para enriquecer e valorizar ainda mais a redação de vocês, seguem


abaixo algumas expressões de transição minuciosamente selecionadas, que
podem ser inseridas tanto nas questões discursivas, quanto em peças
prático-profissionais:

EXPRESSÕES DE TRANSIÇÃO
Não é despiciendo observar que À luz das informações contidas
PRÁTICA PROFISSIONAL – DELEGADO DE POLÍCIA |

Mas, impende, além disso, frisar Insta, ainda, observar que


que
Cumpre obtemperar, todavia A nosso pensar
Assim, necessário é que Destarte...
Versa a hipótese presente sobre Assim, caracterizado e comprovado
está ...
Ato contínuo ... Conforme se nota ...
Em suma ... Inobstante a isso ...
Em consonância com o acatado ... É inegável ...
Consoante noção cedida ... Em virtude dessas considerações ...
Frise-se mais, como remate, Convém notar que ...
Ante o exposto Outrossim ...
No caso em pauta é indiscutível ... Como se depreende ...
É evidente que ... Cumpre observar que ...

63
Insurge-se ... Insurge-se o Autor quanto ao
alegado...
Cristalino dizer que ... Corroborando como acima exposto
...
Não há, destarte, nenhum nexo Insta salientar ...
lógico
Cumpre destacar ... É de opinião inequívoca ...
Assinale que ... Adequado seria dizer que ...
À guisa de exemplo, podemos É sobremodo importante assinalar
citar... que
Não devem ser consideradas as Foi, destarte, com base em sólido
razões espendidas. terreno doutrinário e lógico que...
Cumpre examinamos, neste Mister se faz ressaltar ...
passo...
Verdade seja, esta é... Neste sentido deve-se dizer que ...
Convém notar, outrossim, que... Tenha-se presente que ...
Como se depreende... Em que pese as razões espendidas.
Oportuno torna-se dizer que ... É de ser revelado ...
Cumpre assinalar que ... É bem verdade que ...
É bom dizer que ... Conforme pode-se verificar ...
Indubitável é ... Conforme pode-se notar ...
Convém ressaltar que ... Não há falar-se ...
Registre-se que ... Vale ratificar ...
Certo é que ... Contudo ...
Forçoso reconhecer que... Ademais ...
Impende ressaltar que... Revela dizer que ...
É preciso dizer que ... É de verificar-se que...
PRÁTICA PROFISSIONAL – DELEGADO DE POLÍCIA |

Vale ressaltar que ... Não se pode olvidar ...


Frise-se que ... Como pode-se notar ...
Insta revelar que ... Assim,caracterizado e comprovado
está...
Convém ponderar, ao demais Por seu turno,
que...
Na doutrina, sobreleva a Com efeito, chega a ser visível a
lição...,que escreve.. assertiva de
Para tanto, Sobretudo,
Aliás, Ao revés,
Em sentido diverso, Neste bordo,

64

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