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O USO DO GIZ DE CERA NA EDUCAÇÃO

INFANTIL
Valdemar W.Setzer
vwsetzer@ime.usp.br – www.ime.usp.br/~vwsetzer

Tradicionalmente, a Pedagogia Waldorf (PW), tanto no lar quanto na escola,


utiliza-se do Giz de Cera ("crayon" em inglês) em lugar de lápis de cor, caneta
hidrográfica ou marcador. Creio que se pode apresentar as seguintes razões
para isso:

1. Na PW, ensina-se a desenhar superfícies e nunca o contorno. O que


vemos no mundo não são os contornos, e sim o espaço preenchido por
cores. São as diferenças de cores que determinam as formas e os
contornos. Fazer uma criança desenhar os contornos com linhas seria
forçar um desenvolvimento intelectual precoce, já que contorno sem as
cores é uma abstração que não corresponde à realidade percebida pela
visão. Assim, é importante que a criança aprenda a criar os contornos a
partir das superfícies, pelas diferenças de cores. É muito mais fácil
preencher superfícies com cores usando giz de cera do que com lápis ou
caneta. Em particular, os blocos são excelentes nesse sentido,
principalmente por crianças pequenas.
2. Com um lápis ou caneta hidrográfica a tendência é traçar linhas, e não
criar superfícies completas preenchidas com cor. O giz de cera, por ser
grosso, praticamente impede o traçado de linhas finas.
3. Um lápis permite muito poucas nuances de cor, e praticamente
nenhuma na grossura do traço que, aliás, é uniforme nas canetas
hidrográficas. Por outro lado, com o giz de cera conseguem-se
diferentes tonalidades de cor conforme se o aperte mais ou menos no
papel. Juntando-se a isso grandes variações na grossura do traço pela
inclinação do giz, obtêm-se formas muito mais plásticas. Note-se que
na natureza cores uniformes só aparecem, e raramente, nos minerais.
Nas plantas e animais, e também nas nuvens, rios e lagos, as cores
nunca são uniformes. (O exagero da uniformidade de cor e portanto do
artificialismo, prejudicial a crianças - que são seres muito ligados à
natureza e ao ambiente, separando-se deles gradualmente até os 21 anos
-, ocorre nosdesenhos feitos com computador.)
4. A textura do material é completamente diferente. No caso do lápis de
cor entra-se em contato com um toco fino de madeira, envolvendo a
grafite colorida que misteriosamente foi parar lá dentro. No caso da
caneta hidrográfica, o contato é com um pedaço de plástico artificial,
uniforme e de cheiro desagradável. No caso do giz de cera, a criança
sente um material muito menos artificial; a cor do lápis ou bloco não é
totalmente uniforme, e o contato é com o próprio material que vai
produzir a cor no papel. No caso dos lápis e blocos da Apiscor, pude
verificar que a quantidade de cera de abelha é considerável, pois o
cheiro é o dessa cera, forte e delicioso. Seria interessante contar para
crianças pequenas como as abelhinhas trouxeram o pozinho das flores
para a colmeia, fizeram a cera para construí-la, essa cera foi colhida, e
depois uma tia derreteu-a, misturando com tintas. Agora a criança pode
usar o presente cheiroso das abelhinhas para fazer bonitos desenhos…
5. É interessante comparar o giz de cera da Apiscor com outros que
existem no mercado, principalmente quanto ao tato, consistência e
qualidade da cor.
6. Os giz de cera podem ser usados por crianças muito pequenas, logo que
começam a rabiscar (cuidado com as paredes da casa...). Para crianças
pequenas, o uso dos blocos é preferível pois a superfície para riscar é
muito maior, e exigem menos coordenação motora para segurar. Nos
jardins de infância e escolas Waldorf as crianças são incentivadas a
preencher todo o papel com cores; a nossa visão também nos dá a
impressão de um espaço colorido completo.
7. Para crianças maiores, um efeito interessante é obtido desenhando-se 2
camadas grossas sobrepostas, com duas cores diferentes, e depois
raspando-se a camada superior com algum objeto, apenas em alguns
lugares. Um efeito especial é obtido quando a camada superior e preta.

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