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Uma

MARILIA PONTES SPOSITO

S
perspectiva Se a escola tem ocupado o centro da

reflexão sociológica sobre a educação, no

Brasil, é preciso reconhecer que essa mes-

ma reflexão apresenta algumas rupturas e

delimita, também, possíveis continuidades.

não escolar
Sem realizar um balanço da sociologia da

educação, como outros já o fizeram, é pos-

sível retomar alguns aspectos dessa tradi-

ção, sobretudo aquela que nasce na USP no

início da década de 1950, para evidenciar o

quanto algumas dessas orientações permi-

tem, ainda hoje, oferecer caminhos suges-

no estudo
tivos, capazes de enriquecer a compreen-

são sobre a instituição escolar, sobretudo

em um momento caracterizado por uma

profunda crise de sua ação socializadora.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO E

MARILIA PONTES
sociológico
SPOSITO é professora
da Faculdade de Educação
SOCIOLOGIA DA ESCOLA
Apesar da legitimidade da expressão

“sociologia da educação” como âmbito es-

pecífico de pesquisa, área de estudos e dis-

ciplina nos currículos do ensino superior e


da USP.

da escola
na pós-graduação no Brasil, é preciso reite-

rar a importância da perspectiva sociológica

inaugurada por Florestan Fernandes no Bra-

sil, nos anos 1950, quando afirmava:

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“A Sociologia divide-se em várias disci- como Raimond Boudon não se considera-

plinas, que estudam a ordem existente nas vam sociólogos da educação. Sua interro-

relações dos fenômenos sociais de diver- gação sempre incidiu sobre o modo como

sos pontos de vista irredutíveis, mas com- a sociedade se perpetua e é a partir dessa

plementares e convergentes. Contudo, nada questão de sociologia geral que eles se in-

se disse (até aqui) sobre as chamadas ‘so- teressaram pelos efeitos sociais da escola

ciologias especiais’, como a Sociologia (Derouet, 2000, p.199). Afirma, também,

Econômica, a Sociologia Moral, a Socio- que o poder explicativo dos paradigmas que

logia Jurídica, a Sociologia do Conheci- ambos construíram ultrapassa, em grande

mento (a Sociologia da educação), etc. A parte, o domínio da educação. As palavras

rigor, essa designação é imprópria. Como do próprio Bourdieu reiteram essa orienta-

acontece em qualquer ciência, os métodos ção: “A sociologia da educação configura

sociológicos podem ser aplicados à inves- seu objeto particular quando se constitui

tigação e à explicação de qualquer fenô- como ciência das relações entre a reprodu-

meno social particular sem que, por isso, ção cultural e a reprodução social, ou seja,

se deva admitir a existência de uma disci- no momento em que se esforça por estabe-

plina especial, com objeto e problemas lecer a contribuição que o sistema de ensi-

próprios!... Sob outros aspectos o uso mais no oferece com vistas à reprodução da es-

ou menos livre de tais expressões facilita a trutura das relações de força e das relações

identificação do teor das contribuições, sim- simbólicas entre as classes” (Bourdieu,

plificando, assim, as relações do autor com 1975, p. 295) (1).

o público. Isto parece ser suficiente para Mas uma outra segmentação interna ao

justificar o emprego delas, já que carecem campo de estudos precisa, também, ser

de sentido lógico os intentos de subdividir, examinada. É inegável que a sociologia da

indefinidamente, os campos da Sociologia” educação, desde o seu nascimento, ao se

(Fernandes, 1960, pp, 29-30 – grifos meus). dedicar à analise dos processos socializa-

dores e, portanto, à educação, privilegiou o

Trata-se, assim, de examinar, sob o exame da escola, embora, como afirmam

ponto de vista sociológico, os fenômenos Duru-Bellat e Van Zanten (1992, p. 1), uma 1 Ao analisar essa formulação
de Bourdieu, Catani, Catani e
Pereira (2001, p. 128) alertam
educativos e não apenas uma divisão arbi- “verdadeira sociologia da educação” reco- que, para ele, “a questão a
ser pesquisada em cada caso
trária disciplinar que não encontra eco nos briria um campo extremamente vasto, pois particular – entendido sempre
como ‘modalidade do possí-
processos sociais reais. “os mecanismos por meio dos quais uma vel’, isto é, ‘o invariante na va-
riante observada’ – é sempre
Mesmo na França, por exemplo, esse sociedade transmite a seus membros seus a contribuição do sistema de
ensino e a forma específica
pela qual esta se reveste para
recorte institucional de domínios tem sido saberes, o saber-fazer e o saber-ser que ela a reprodução da estrutura das
relações, simultaneamente de
objeto de crítica contemporânea, levando estima como necessários à sua reprodução força e simbólicas, entre todos
os agentes sociais (grupos,
Derouet a afirmar que tanto Pierre Bourdieu são de uma infinita variedade” . classes, instituições)”.

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No Brasil, o estudo de outras situações o estudo da escola ainda constitui campo
educativas e de práticas socializadoras importante da reflexão sociológica sobre a
observadas na família, nos grupos de pa- educação, desde que incorporado no qua-
res, nas trocas informais na esfera pública, dro de uma maior complexidade das rela-
no mundo das associações, nos movimen- ções entre as agências socializadoras (2).
tos sociais e nas relações com a mídia tem A pertinente expressão de Heloísa Fernan-
significado um caminho promissor de am- des (1994) “sociedade escolarizada” re-
pliação do campo de preocupações da so- tém a relevância da escola quando afirma
ciologia da educação mas, ainda, bastante estar essa instituição no centro das referên-
incipiente. cias identificatórias do mundo moderno,
Para François de Singly, o excessivo re- independente de nossa adesão ou crítica.
corte disciplinar impediria a circulação de Uma orientação mais aberta impediria
idéias e de investigações que enriqueceriam não só que a sociologia da educação se trans-
a reflexão. Um exemplo interessante, trazi- formasse apenas em uma sociologia da es-
do por esse autor, ilustra a recorrência desse cola, mas resultaria em uma recusa à seg-
mesmo fenômeno na sociologia da educa- mentação interna do campo de estudos que
ção francesa e diz respeito ao tema da “so- constitui a sociologia. No interior desse duplo
cialização” política, como domínio reconhe- movimento – uma concepção ampliada da
cido no interior das ciências políticas. Ao sociologia da educação e a crítica ao exces-
tentar investigar como filhos e filhas se ali- sivo recorte disciplinar presente nas deno-
nham ou não diante das tomadas de posi- minadas sociologias especiais – estaria con-
ções políticas de seus pais, a socialização tida a proposta de uma perspectiva não es-
política se constitui de maneira autônoma colar no estudo sociológico da escola.
como área de investigação que acaba sendo
freqüentemente ignorada pela sociologia da
educação (Singly, 2000, p. 271).
Poderíamos, talvez como um pressupos- O ESTUDO DA ESCOLA SOB A
to provisório, considerar que, ao serem
recobertas as duas preocupações – a socio- PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA
logia da educação se torna, de fato, uma
sociologia da escola –, esta orientação Se a escola ocupou lugar central no
correspondeu a um amplo esforço de com- pensamento sociológico no exame da re-
preensão do fenômeno da reprodução soci- produção social e dos processos sociali-
al a partir dos sistemas escolares, forma zadores, o modo como essa instituição foi
dominante de socialização das novas gera- concebida mudou no interior das orienta-
ções no século XX. Como afirma Bourdieu ções teóricas ao longo do tempo.
(1989), o modo de reprodução da socieda- Émile Durkheim talvez retrate, como
de contempla uma dominante escolar. um dos fundadores da sociologia, uma das
Mas as mutações sociais observadas nas reflexões mais sistemáticas e consistentes
últimas décadas exigem daqueles que se sobre a natureza socializadora da escola,
debruçam sobre os fenômenos da sociali- instituição privilegiada para a inserção do
zação contemporânea e da reprodução so- indivíduo moderno no espaço público. Preo-
cial um olhar ampliado para outros agen- cupado com a integração social em forma-
ciamentos presentes na formação e no de- ções sociais marcadas pela solidariedade
2 Para Setton (2002), inspirada senvolvimento das novas gerações. Ocorre orgânica, caracterizadas por intensa divisão
nas formulações de Norbert Elias
em torno dos conceitos de inter- o reconhecimento da perda do monopólio do trabalho social e efetivamente sujeitas à
dependência e configuração, a
socialização contemporânea se-
cultural da escola, e a cultura escolar – anomia, o pensador francês diagnosticava a
ria produto da coexistência, em apesar de sua especificidade – tende a se importância da ação socializadora a ser
interdependência, de agências
socializadoras, dentre elas a fa- transformar em uma cultura dentre outras. empreendida pelas gerações adultas sobre
mília, a escola e a mídia, con- Não obstante o conjunto de transforma- os imaturos (Durkheim, 1975).
figurando uma forma permanen-
te e dinâmica de relação. ções observadas, resta a convicção de que Nos estudos posteriores, ao se debruçar

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sobre a insuficiência da diferenciação, ga e pública – presente no movimento da
traduzida pela intensa divisão do trabalho integração e construção do Estado Nacio-
social como fator de integração social, nal observado a partir do final do século
menos convicto de sua capacidade de gerar XIX. Caracterizado pela presença de fortes
a solidariedade social, Durkheim percebe traços universalistas, esse modelo começa
que os grupos profissionais seriam a ins- a entrar em crise nos últimos trinta anos do
tância mediadora entre o indivíduo e a so- século XX, com a massificação do sistema
ciedade, capazes de agenciar a existência de ensino e a forte presença de populações
do moderno indivíduo moral (Pizzorno, migrantes na composição do público esco-
1977; Martuccelli, 1999). lar (Dubet, 1996; Dubet e Martuccelli,
É inegável que, ao definir a vida social 1998).
pela densidade das trocas morais, Durkheim No Brasil, o nascimento da reflexão so-
considerava a moral como essencialmente ciológica sobre a educação foi amplamente
racional e de fundamento social, pressu- ancorado na perspectiva de Durkheim, sis-
pondo nela três elementos: a disciplina que tematizada por Fernando de Azevedo, em
incide sobre a necessidade da autoridade seus trabalhos dos anos de 1940 (Azevedo,
impessoal e do domínio da regra e da lei na 1940; 1964) (4). Azevedo voltou-se para
orientação da ação humana; a adesão aos as aplicações do estudo da sociologia na
grupos sociais que exprimiria o altruísmo busca de novos rumos educacionais para a
em oposição ao egoísmo natural dos ima- sociedade brasileira em processo de trans-
turos; e a autonomia da vontade, exprimin- formação.
do o exame racional e a livre adesão às O imediato pós-guerra, sobretudo du-
regras (Durkheim, 1963). rante a década de 1950 e início de 1960,
Assim, o fundamento social da moral marca a forte presença dos estudos funcio-
implicaria a idéia de que ela deveria ser nalistas sobre a educação escolar, em espe-
explicada e ensinada, ou seja, objeto de ação cial Talcott Parsons, nos Estados Unidos,
deliberada das gerações adultas sobre as mas com ramificações na Europa. Em bus-
novas gerações, substituindo o lugar até ca dos fundamentos capazes de tornar pos-
então assumido pelos sistemas religiosos sível uma nova ordem social, a análise da
na formação das representações e da cons- realidade escolar foi realizada procurando
ciência coletiva. compreender as possíveis variáveis que
Para o sociólogo esta seria a ação privi- estariam condicionando o seu funciona-
legiada da escola que, diante da família, mento (Zago, Carvalho e Vilela, 2003).
apresentaria vantagens inequívocas. Sem A partir de meados dos anos 1960 nasce
negar que os rudimentos da moral poderi- um pensamento crítico sistemático que
am ser ensinados no interior do grupo fa- marcou novas aproximações no âmbito da
miliar, Durkheim via neles os limites da- sociologia em torno da ação efetiva desen-
dos pela intensidade das relações afetivas. volvida pela instituição escolar. Para Van
Na escola, o caráter impessoal e público do Zanten é nesse período que emerge na Fran-
3 As críticas à formulação funcio-
aprendizado da disciplina e da autoridade ça o domínio que poderíamos chamar da nalista dos fenômenos da edu-
da regra, a descoberta da alteridade e o uso “sociologia da educação”. Esse período é cação não serão objeto de
análise neste artigo. Tanto sob
da razão seriam assegurados pela ação do marcado pelos primeiros estudos desenvol- o ponto de vista da ausência
dos fenômenos das classes so-
professor, na condição de mediador entre a vidos por Pierre Bourdieu – Os Herdeiros ciais e dos conflitos subjacen-
criança e o mundo social (3). (1969) e A Reprodução (1975) –, pela aná- tes às sociedades estruturalmen-
te desiguais como o não reco-
O modelo de Durkheim para a análise lise da escola desenvolvida por Baudelot e nhecimento do “arbitrário cultu-
ral” presente na ação escolar,
da ação escolar sempre esteve situado além Establet (1971), e pelas formulações do analisado por Bourdieu (1975),
de uma perspectiva estritamente ligada à marxismo estruturalista de Louis Althusser os estudos de Durkheim foram
posteriormente criticados.
aprendizagem, analisando a instituição em (s/d). Assim, a sociologia da educação ca-
4 Sobre o nascimento da socio-
suas funções socializadoras mais amplas. racteriza-se, nesse momento, pela análise, logia educacional no Brasil,
A realização histórica desse modelo corres- crítica e denúncia das desigualdades esco- consultar: Cunha, 1981,
1992; Gouveia, 1989;
pondeu à escola republicana francesa – lei- lares como uma expressão das desigualda- Mazza, 2001.

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des estruturais da sociedade capitalista (Van teresse pela instituição escolar permanece.
5 As lutas em torno da escola Zanten, 2000). Mas a pesquisa e a análise se deslocam para
pública desencadeadas na
década de 1950 para a apro- Apesar das peculiaridades, a sociologia os processos internos à instituição tentan-
vação da Lei de Diretrizes e da educação no Brasil viveu fortemente sob do compreender como as rotinas, práticas,
Bases (LDB) não encontraram
ressonância no projeto final a influência da produção européia, sobre- modos de ensino e aprendizagem, a sele-
aprovado em 1961, ocasio-
nando em muitos dos sociólo- tudo a partir dos anos 1970. Com as mu- ção de conteúdos e as interações na sala de
gos até então envolvidos com danças de rumo no desenvolvimento eco- aula entre professores e alunos constituem
a educação um movimento de
migração para outros temas. nômico e no modelo político (5) – o golpe elementos de controle, instalam relações
6 Não é objetivo deste artigo militar de 64 – a reflexão sobre a escola de poder e produzem desigualdades, não só
resgatar as principais influên-
permaneceu, mas adquiriu outros caminhos, em decorrência das classes sociais, mas,
cias e a trajetória da sociolo-
gia da educação no Brasil. Al- incorporando as novas orientações que se também, de fundo étnico e de gênero.
guns estudos já fizeram balan-
ços densos e apontam como firmavam na França (6). Ao investigar os No Brasil, a ênfase nas situações mi-
momento de inflexão importan- compromissos da instituição escolar com a crossociais, propiciada por essas pesquisas,
te a constituição da pós-gradu-
ação em educação que passa reprodução da ordem social dominante, o renovou os estudos sociológicos sobre a
a absorver a sociologia da edu-
cação de forma mais intensa pensamento sociológico armou-se das fer- escola, embora com resultados bastante de-
que a área de sociologia até ramentas teóricas disponíveis, ampliando siguais. A partir de meados dos anos 1980,
então assumira. As implicações
são muitas e já foram trabalha- significativamente o teor da reflexão em- verificou-se um movimento de diversifica-
das por vários autores (Cunha,
1992; 1992a; Gouveia,
preendida. A incorporação de alguns auto- ção teórica, semelhante ao observado em
1989). res foi, no entanto, conformada pelo debate alguns países da Europa dos quais a reflexão
7 Este é o caso da leitura apres- político-ideológico do período, impedindo brasileira sempre esteve muito próxima,
sada da obra de Pierre
Bourdieu, cunhada, no jargão muitas vezes o desenvolvimento de uma especialmente França e Inglaterra. A influ-
da época, como “teoria perspectiva analítica mais densa da reali- ência de duas autoras mexicanas, Justa
reprodutivista” opondo-se a
uma perspectiva “transformado- dade escolar (7). Ezpeletta e Elsie Rockwell(1985), também
ra” ou de “resistência”. Para
uma análise dessa questão
Mas a crítica das desigualdades, a partir foi bastante significativa nos anos 80 com
consultar: Catani, Catani e de perspectivas macrossociais, também o estudo do cotidiano escolar sob uma pers-
Pereira, 2001.
sofreu algumas limitações em decorrência pectiva etnográfica, embora esse tipo de
8 Mesmo a clássica perspectiva
funcionalista de Durkheim con- de um recorte excessivamente estrutural orientação já estivesse sendo adotado por
templava o plano político como que, ao cultivar um raciocínio dedutivo – Patto (1991) a partir das formulações de
importante na evolução dos sis-
temas escolares. Como afirma ou seja, as conclusões dos estudos estavam Agnes Heller.
Bule, a análise da evolução
pedagógica oferece uma con-
delimitadas a partir de suas premissas ini- Essa ampliação de referências teóricas
firmação das teses de Durkheim ciais –, resultou, muitas vezes, no abando- suscitou, também, algumas críticas diante
sobre a autonomia relativa do
desenvolvimento dos sistemas no dos caminhos rigorosos da pesquisa das evidentes dificuldades de articulação das
educativos, “as mudanças pe- empírica. Nesse tipo de análise pouco es- perspectivas voltadas para o estudo minucio-
dagógicas respondem a neces-
sidades sociais latentes. Essas paço estaria sendo contemplado para os so da instituição escolar com processos mais
necessidades sociais exprimem
a ação de causas sociais no- elementos propriamente políticos dos fe- amplos de natureza estrutural (Forquin,
vas, mas as respostas pedagó- nômenos educativos. Sob um ponto de vis- 1993; Van Zanten, 2000; Mafra, 2003).
gicas introduzidas são os frutos
de lutas políticas e ideológicas, ta estrito das análises de Althusser, teórico De qualquer modo, o arco teórico am-
e não constituem necessaria-
mente soluções sociais ‘racio-
dominante do período, o reino da luta polí- pliado e as novas pesquisas caminharam ao
nais’ à evolução das necessi- tica aparecia como o terreno da ilusão, pro- lado do movimento pela democratização
dades de educação” (Bule,
2000). vocando escassa margem de consideração do país, que voltou a incorporar no debate
9 A sociologia dos estabeleci- para o ator e a ação política na conforma- público a importância da educação escolar
mentos escolares nasce como ção da vida desses aparelhos ideológicos como direito democrático e a necessidade
campo de pesquisa nos Esta-
dos Unidos e na Inglaterra ain- (Van Zanten, 2000) (8). de se investigar e propor alterações profun-
da nos anos 1960 sob a forte
influência do estrutural funcio- Com o nascimento da Nova Sociologia das das práticas escolares, evitando-se os
nalismo (Mafra, 2003). Os tra- da Educação na Inglaterra por meio dos elementos mais perversos do sistema de
balhos de feitio interacionista
procuram nas formulações de estudos sobre o currículo e linguagem de- ensino no que se refere à reprodução das
Mead e Schultz os elementos
para a compreensão das
senvolvidos por Michael Young (1971) e desigualdades.
interações face a face observa- Basil Bernstein (1975), no início dos anos Mas, se a escola continuou ocupando o
das na realidade escolar e fo-
ram submetidos a um balanço 1970, e com a diversificação teórica dos foco de interesses da pesquisa sociológica
crítico nos trabalhos de Forquin anos 80, pela incorporação das perspecti- sobre a educação, é preciso, ao menos,
(1990; 1993), Derouet, Van
Zanten e Sirota (1990). vas interacionistas e etnográficas (9), o in- examinar perspectivas que contribuam para

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alargar nossa capacidade de compreensão Assim, uma primeira maneira de situar
e de análise. Dentre elas situa-se um recur- essa questão no próprio pensamento socio-
so analítico e metodológico importante: a lógico paulista recupera algumas das for-
perspectiva não escolar ou, como afirmam mulações produzidas na década de 1950 e
Barrère e Martuccelli (2000), a “via não- início dos anos 1960.
escolar”. Esse recurso exprime postura in- Ao tratar da sociologia produzida na
telectual que reitera as orientações defen- USP, José de Souza Martins (1998) consi-
didas por Florestan Fernandes e os sociólo- dera que esse período, além de definir um
gos seus discípulos, há quase meio século, estilo de trabalho, criou um elenco de in-
condenando as sociologias especiais e o ex- dagações teóricas e práticas que são ainda
cessivo recorte e institucionalização dos hoje fundamentais à pesquisa sociológi-
domínios da pesquisa sociológica. Assim, ca, pois tratava-se de uma postura profun-
os argumentos a serem expostos procuram damente enraizada nas singularidades his-
de um lado evidenciar a continuidade da tóricas, culturais, sociais e políticas da so-
importância do estudo da escola, mas sob ciedade brasileira.
uma ótica que não é estritamente escolar e Naquele momento a instituição escolar
nem segmentada, evitando-se, assim, os adquiria valor heurístico no conjunto das
ardis de uma pretensa sociologia específi- reflexões sociológicas a partir, também, de
ca, “a sociologia da escola”. dois eixos, não necessariamente cronoló-
gicos, mas sobretudo de natureza analítica
e por isso mesmo complementares. Tais
eixos dão enquadramento, apenas para efei-
UMA PERSPECTIVA NÃO ESCOLAR tos de análise, às duas perspectivas não
escolares, acima referidas, no estudo da
NO ESTUDO DA ESCOLA escola, uma vez que são dimensões com-
plementares de um modo comum de em-
Ao examinar esse aparente paradoxo preender a análise sociológica sobre a edu-
contido na junção do “não escolar” com a cação escolar.
escola, é preciso considerar uma distinção O primeiro é expresso pela tentativa de
importante entre a categoria analítica – compreensão da mudança social – os pro-
escola – e a unidade empírica – escola – cessos de industrialização e de urbaniza-
objeto de investigação. A relevância analí- ção – e os parâmetros a partir dos quais a
tica da instituição escolar não implica ne- mudança educacional constituiria o novo
cessariamente o seu estudo empírico, sen- lugar atribuído à educação escolar no Bra-
do esse o primeiro aspecto da via não esco- sil, após 1930. A disseminação da escola-
lar no estudo sociológico da escola. O se- ridade seria uma das expressões mais cla-
gundo reside na idéia de que, mesmo con- ras do processo modernizador, embora este
siderando-se a escola como unidade empí- mesmo fosse analisado em suas ambigüi-
rica de investigação, é preciso reconhecer dades, ou seja, como forma inacabada de
que elementos não escolares penetram, con- uma sociedade que ainda mantinha seus vín-
formam e são criados no interior da insti- culos com a ordem oligárquica agrária e
tuição e merecem, por sua vez, também ser escravocrata, mantida por instituições pou-
investigados. co sensíveis e permeáveis aos intensos pro-
Mas o ponto de vista aqui defendido cessos de mudança que se situavam na jun-
não constitui uma novidade na sociologia ção dos fenômenos da industrialização e da
praticada no Brasil. Ele é caudatário de urbanização. Trabalhos como os de Flores-
alguns estudos pioneiros e traduz um con- tan Fernandes (1960), Fernando Henrique
junto de orientações importantes que ali- Cardoso e Octavio Ianni (1959) exprimi-
mentaram investigações, embora não hege- am a tentativa de compreensão dos cami-
mônicas, no campo de pesquisa sociológi- nhos para o desenvolvimento e reconheci-
ca sobre a educação, nos últimos anos. am a educação escolar como uma de suas

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possibilidades e expressão. Os estudos de- e de direitos educacionais empreendida
senvolvidos por Marialice Foracchi (1965; pelos segmentos populares da sociedade
1972) também espelham essas orientações brasileira.
ao centrar sua análise sobre os estudantes As investigações sobre a demanda por
universitários tendo como pano de fundo escolaridade analisaram o período populista
as transformações da sociedade brasileira (Sposito, 1984) e os anos posteriores, as
e os dilemas das classes médias das socie- décadas de 1970 e 1980, até o início da de-
dades dependentes. mocratização do país (Sposito, 1993) (11).
A reflexão que se esboça nesse período Esses trabalhos buscaram compreender
procura a articulação de fenômenos que não a singularidade da sociedade brasileira di-
são funcionais e traduziriam os descom- ante dos processos gerais do desenvolvi-
passos e os ritmos diversos nos processos mento capitalista moderno nos países avan-
de mudança da sociedade brasileira e as çados que uma compreensão meramente
realidades cotidianas dos sistemas escola- estruturalista da vida social não consegui-
res, perspectiva nem sempre presente na ria reter ou explicar. Por essas razões foi
pesquisa dos anos posteriores. preciso recorrer a alguns instrumentos ana-
Sob esse ponto de vista o trabalho de líticos do campo das relações de poder ins-
doutorado de Celso Beisiegel (1974) cons- tituídas nos sistemas políticos representa-
10 Beisiegel, em seu trabalho Es- titui uma contribuição importante, ao ana- tivos, examinar o papel dos agentes políti-
tado e Educação Popular
(1974), apoiando-se em lisar as diferentes formas como a mudança cos como mediadores entre as demandas
Weber, examina duas modali- social se articula com a mudança educacio- de grupos e a ação do Estado e as orienta-
dades típicas de ação do Esta-
do, no Brasil, na oferta de ser- nal (10). ções prevalecentes no interior da democra-
viços educacionais: a primeira
como resposta a pressões que O primeiro aspecto da perspectiva não cia populista.
ocorrem na base da sociedade escolar no estudo da escola situada como O desenvolvimento desse tipo de in-
e que respondem a alterações
nas expectativas de escolarida- categoria analítica e não empírica traduz, vestigação – o estudo das demandas e ex-
de de grupos sociais extensos,
e a segunda exprimiria uma
dessa forma, o eixo acima apresentado, ou pectativas de escolaridade de grupos po-
ação do Estado de modo ante- seja, uma orientação para o desenvolvimen- pulares em suas formas de ação coletiva –
cipado à demanda dos grupos
sociais. Essa ação responderia to da sociologia tal como foi pensada por buscou, também, ferramentas teóricas e
aos projetos políticos moder- Florestan Fernandes e seus discípulos, ca- modos de compreensão desses conflitos
nizadores das elites para a so-
ciedade. racterizada pelo exame das relações entre a no interior das categorias analíticas da so-
11 Esse tipo de orientação produ- mudança social e a mudança educacional. ciologia dos movimentos sociais que se
ziu um conjunto de pesquisas
em várias cidades brasileiras,
O estudo dos mecanismos de mudança expande no Brasil a partir do final dos anos
com padrões de desenvolvimen- social estimulou a investigação sobre o lu- 70 (12).
to urbano diferentes mas seme-
lhantes no atraso do Estado em gar da escola no interior das expectativas A formação de novos atores e lutas so-
responder às expectativas edu- das classes populares urbanas, formadas a ciais a partir da demanda pelo direito à
cacionais crescentes dos seto-
res subalternos da sociedade. partir de intensos processos de migração. escola, a fragilidade de sua organização, as
A esse respeito consultar: Cam-
pos, 1985 e 1991; Cunha Esses segmentos alimentavam perspectivas formas de intervenção, as relações difíceis
Campos, 1989; Bomfim, de sua integração à sociedade urbana e in- dessas populações com o sistema educativo
1991; Fuchs, 1992; Vianna,
1992; Giovanetti, 1997. dustrial pela mobilidade social ascendente. e a distância da instituição em relação ao
12 No fim dos anos 1970 foram As novas percepções sobre o valor da esco- universo de interesses dos setores popula-
referência importante os traba- laridade produzem formas de pressão e de res constituíram um campo de reflexão que
lhos de Manuel Castells (1980;
1983), Jean Lojkine (1981); em organização para imprimir na correlação de explicitou a importância analítica da esco-
seguida ocorre uma apropria-
ção dos estudos de Alain forças, sempre desfavorável aos grupos do- la a partir de suas bordas ou franjas, enfim,
Touraine (1975; 1987) e minados – aqueles que se situam na base da das situações menos visíveis: o bairro, as
Alberto Melucci (1991).
sociedade –, algumas conquistas. relações de vizinhança e as expectativas
13 Uma contribuição importante da
psicologia social reside nos tra- A partir dessas orientações, o processo familiares (Avancine, 1990; Ghanem
balhos de Jerusa Vieira Gomes.
A esse respeito consultar Gomes
de expansão do ensino público é inicial- Junior, 1992) (13). A investigação das for-
(1997). O artigo de Martins mente estudado por Beisiegel (1964) e es- mas e da capacidade de ação coletiva dos
(1974) examina, a partir da
perspectiva da sociedade agrá- timula um conjunto de pesquisas que recu- grupos sociais em torno da demanda edu-
ria, a valorização da escola, peram a partir de momentos históricos di- cativa apontou, ao mesmo tempo, os desen-
constituindo um exemplo impor-
tante dessas orientações. versos a busca de oportunidades escolares contros entre esses anseios e a sua precária

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realização, circunscrevendo com os mar- No artigo de 1956 – “A Estrutura da
cos da desigualdade social uma conquista Escola” – Candido abre perspectivas para
que virtualmente exprimia uma concepção um conjunto de investigações, ao se apro-
moderna e democrática de direitos. priar da designação de Znanieck (1973),
Uma hipótese investigativa também considerando a escola como grupo social
alimentava essas orientações de pesquisa: instituído. Assim, propõe um esquema ana-
sair dos limites físicos da instituição para lítico de estudo da escola a partir da
melhor compreendê-la à luz de processos imbricação de duas orientações: parte da
sociais dinâmicos e a partir dos sujeitos que vida escolar seria determinada por grupos
a ela aspiravam. Tais atores – moradores externos a ela mesma e, sob esse ponto de
das periferias, homens e mulheres adultos, vista, seria relevante o estudo dos compo-
jovens e crianças – sistematicamente não nentes burocráticos dos sistemas escolares,
tinham mecanismos públicos de manifes- derivados da ação do Estado que exprimia
tação tanto pela impossibilidade de acesso novas formas da racionalidade da socieda-
à escola como pelos modos de gestão e de de moderna opostas à dominação tradicio-
organização do trabalho escolar, em geral nal, na acepção de Weber (1977). Por outro
centralizados em torno das orientações de lado, parte da vida escolar estaria definida
atores profissionais (14). pelos padrões de sua sociabilidade interna
Enfim, o estudo das formas de ação que demandariam, assim, esforço socioló-
coletiva e suas demandas educativas foi e é gico para a sua compreensão. Essa vertente
ainda marcado pelo reconhecimento da analítica foi traduzida, exemplarmente, em
importância da escola – na condição de ca- alguns estudos sobre a escola como aque-
tegoria analítica – na conformação dos es- les desenvolvidos por Luiz Pereira (1967;
tilos de vida, das aspirações e das lutas 1971), João Baptista Borges Pereira (1976),
sociais de vários movimentos sociais (15) entre outros.
da sociedade brasileira, embora, sob o pon- No artigo de 1955 – “Perspectivas da
to de vista empírico, não tenha sido a orga- Sociologia da Educação” – Candido tam-
nização escolar o ponto de partida da pes- bém aponta duas orientações extremamen-
quisa realizada. Uma sociologia da educa- te importantes que abrem caminho para uma
ção empobrecida pela segmentação do re- possibilidade de pesquisa da via não esco- 14 Os estudos dos grupos juve-
nis, realizados a partir de suas
corte disciplinar não alcançaria um pata- lar no campo de estudo dos estabelecimen- redes de sociabilidade, sem-
pre incorporam as percepções
mar explicativo mais denso que a sociolo- tos de ensino. que esses coletivos têm da es-
gia como disciplina oferece para além de A primeira volta-se para a idéia de que cola, pois a experiência esco-
lar marca sua condição juve-
suas especialidades. as práticas observadas no interior da escola nil, mesmo que seja pelo seu
O segundo aspecto da perspectiva não tanto recriam dimensões da vida social, avesso, ou seja, pela ausên-
cia ou pela ineficácia da ação
escolar no estudo empírico da escola res- como as filtram e muitas vezes são criações da escola sobre suas vidas
(Sposito, 1994; 2000;
ponde, do mesmo modo, a uma orientação específicas do grupo. Alertava para a im- Dayrell, 2001; Mussoi, 2000).
já defendida pela sociologia praticada nos portância das interações que não seriam de- 15 Os estudos sobre as lutas das
anos 50, sobretudo a partir das análises de correntes da estrita observância normativa nações indígenas, dos negros
e em torno da terra são exem-
Antonio Candido, mas profundamente ar- fixada pelos regimentos escolares ou de plos contemporâneos da reite-
grupos sociais externos à instituição (16). rada importância analítica da
ticulada às grandes preocupações propos-
escola, uma vez que esses ato-
tas por Florestan no estudo da mudança A segunda trilha aberta pelas reflexões res – lideranças e bases – não
obstante a diversidade de sen-
social. de Candido volta-se para a crítica da “ilu- tidos contemplam em suas prá-
Em 1955, ao fazer um balanço da socio- são pedagógica” de Durkheim que, em sua ticas uma estreita relação com
as questões dos sistemas de
logia da educação, Candido tratava da formulação, definia o ato educativo como ensino (Gonçalves, 1998; Sil-
va, 2000).
retração de outros temas diante da evidente a ação unilateral da geração adulta sobre os
16 Como já foi observado, os es-
importância do estudo da escola, traduzi- imaturos, estes considerados “tabula rasa”. tudos etnográficos sobre o co-
do, nesse momento, por uma demanda de Examinava, e esse talvez seja o aspecto tidiano escolar realizados no
Brasil pela psicologia e pela
conhecimento da própria instituição, dian- pioneiro e mais estimulante de suas análi- sociologia, a partir da déca-
te da ausência de investigações sobre as ses, o potencial conflitivo e as tensões que da de 1980, são exemplos
dessa fértil orientação (Patto,
situações de ensino (Candido, 1973a). existiriam nas relações entre as gerações 1991; Carvalho, 1991).

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adultas e educandos, estes últimos ofere- entre as expectativas dos educadores e a
cendo resistências ao trabalho educativo prática dos educandos (17). Mas é ainda
empreendido pelos primeiros. insuficiente para a compreensão do sujeito
Propunha o estudo da sociabilidade ine- – aluno – em uma dimensão mais global
rente ao grupo de alunos e a investigação que poderia ser apreendida pela adoção de
de suas expectativas que não se esgotavam recursos analíticos de outras “sociologias”,
nas relações formais previstas pela insti- neste caso a sociologia da infância e da
tuição, relativas aos processos de ensino- juventude.
aprendizagem. Trata-se, assim, já nesse mo- As análises de Hobsbawn (1989) sobre
mento, de uma abertura analítica para o a revolução cultural na segunda metade do
exame dos aspectos propriamente não es- século XX estão profundamente articula-
colares que pudessem estar interferindo na das ao aparecimento da moderna condição
vida da instituição. juvenil com a expansão da escolaridade.
Reiterando esse conjunto de possibili- Passerini (1991) situa esse segmento como
dades propostas por Candido, em um re- metáfora da mudança social, uma vez que
corte contemporâneo, Duru-Bellat e Agnes esse período marca o aparecimento de um
Van Zanten (1992) evidenciam que a con- mundo adolescente e juvenil relativamente
dição de aluno deve ser objeto problemáti- autônomo, não só na sociedade como no
co de investigação no âmbito do estudo so- interior da escola.
ciológico da escola: não se nasce aluno, É para essas mudanças que a sociologia
alguém torna-se aluno. Para que tal pers- norte-americana se volta mais intensamen-
pectiva seja considerada é preciso, ao me- te no início da década de 1950. Mas é pre-
nos, três pressupostos: a dissociação entre ciso considerar que anos antes, na década
o ensino e a aprendizagem que faz nascer a de 20, os teóricos da Escola de Chicago
noção de trabalho escolar a ser realizado tentaram estabelecer uma radiografia com-
por crianças e jovens; o reconhecimento de preensiva dos fenômenos decorrentes de
que esse trabalho do aluno não se resume à um crescimento urbano anômalo provoca-
resposta às exigências explícitas inscritas do por um intenso fluxo migratório em uma
nos programas e regulamentos oficiais, mas sociedade industrial emergente. Esses es-
às expectativas implícitas da instituição e tudos voltavam-se especialmente para os
dos professores (reputo como importante jovens e a formação desses agrupamentos
integrar o conjunto de percepções que ele – as gangues – com base territorial nos
elabora em sua socialização extra-escolar bairros pobres com certa homogeneidade
na família e outras instâncias, sendo étnica – os guetos.
marcantes as orientações que derivam não Esses grupos de pares fora da escola
só de sua origem social ou étnica como do não deixam de ser de considerados, no iní-
fato de terem nascido homens ou mulhe- cio dos anos 40, de forma contrastante com
res); finalmente, a necessidade de reconhe- os agrupamentos juvenis que encontram sua
cer que o aluno é expressão também de referência na vida escolar. O estudo desen-
uma forma peculiar de sua inserção no ciclo volvido por William Foot Whyte – Street
17 Ao tratar da sociologia da in- de vida – a infância e a juventude – catego- Corner Society (1943) – evidencia formas
fância, Hélène Sirota (2001) rias específicas e dotadas de uma autono- diferentes de agrupamento entre os jovens,
afirma que a sociologia do ofí-
cio do aluno é ao mesmo tem- mia relativa na sociedade e na literatura dependendo ou não da presença da escola
po uma sociologia do trabalho
escolar e da organização sociológica (Duru-Bellat e Van Zanten, em sua vida. Os corner boys (classe operá-
educativa e se interessa pelo 1992, p. 179). ria) e os college boys (classes médias) cons-
“avesso do cenário deixado até
então na sombra, pelo sentido A análise do ofício do aluno (Perrenoud, tituiriam grupos diferentes na condição de
que os alunos dão ao trabalho
cotidiano” (p. 16). Afirma essa
1994) já constitui um caminho importante jovens moradores de um mesmo bairro, em
autora que é preciso também porque, ao reconstruir o modo pelo qual os razão da sua origem de classe que delimi-
compreender como se constrói
o ofício de criança, investigan- estudantes constituem suas estratégias de taria, em última instância, as possibilida-
do as múltiplas situações nas ação diante das exigências normativas da des de acesso ou não ao sistema escolar.
quais esse ator se constitui como
tal (p. 17). instituição, revela uma possível dissociação Em seu estudo, Whyte já apontava para a

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importância da experiência escolar na for- soais, para a esfera pública de caráter anô-
mação dos coletivos juvenis, mesmo para nimo e impessoal.
aqueles que pouco permaneciam na escola. Não só pelo tratamento funcionalista dos
A passagem pela instituição escolar, mes- fenômenos sociais a crítica a Parsons foi
mo que provisória, produziria alguma am- feita, mas, também, nesse caso, porque, ao
bivalência nos processos de identificação tomar a experiência típica de adolescentes
com os valores do bairro e da família de e jovens de classe média, generalizou o
origem. Na análise desse trabalho pionei- alcance de sua explicação, sem considerar
ro, Bellat e Van Zanten (1992) apontam as diferenças que sempre marcaram a rela-
que a desvalorização da cultura de origem ção da escola a partir da condição de classe
dos corner boys, realizada pela escola, os do seu público. Mas é evidente que não
impedia de se integrar facilmente no siste- estava em questão, em suas formulações, a
ma cultural de seus pais sem lhes dar nun- eficácia socializadora da escola na trans-
ca, também, as aspirações e os meios de missão de valores e formação de persona-
tornarem-se college boys. Assim, a sub- lidades, eficácia essa transformada em ob-
cultura delinqüente apareceria, para alguns, jeto de questionamento central do pensa-
como um modo de repúdio aos modelos da mento sociológico contemporâneo.
classe média, salvando ao mesmo tempo Se essa forma de compreensão do estu-
sua dignidade (Durut-Bellat e Van Zanten, do da escola a partir de uma série de práti-
1992, p. 187). cas e modos de vida não estritamente esco-
Já na década de 50, com a disseminação lares – a perspectiva não escolar – já com-
do acesso à escola secundária formou-se põe o quadro de preocupações de algumas
uma cultura juvenil (os teenagers) ampla- correntes sociológicas nos últimos cinqüen-
mente marcada pelas formas de sociabili- ta anos, seria preciso indagar qual seria a
dade decorrentes do acesso ao ensino médio relevância específica de sua consideração,
(high school). Parsons (1974) talvez seja uma neste momento, para o desenvolvimento
das expressões mais importantes desse tipo dos estudos sociológicos sobre a escola na
de análise, pois, ao assumir o estatuto sociedade brasileira atual.
anômico da condição adolescente na socie- É inegável que a escola pública – sua
dade – nem criança e nem adulto –, conside- expansão e precária qualidade – ainda ocu-
rava a experiência desses grupos como pro- pa o centro da análise sociológica sobre a
duto das tensões entre dois sistemas escola. Intensificado nos anos de 1990, não
identificatórios: de um lado os valores da só pela extensão da escola fundamental mas
instituição escolar – a importância do estu- pelo intenso crescimento das matrículas no
do, a adesão aos processos de seleção ine- ensino médio e pelo rejuvenescimento da
rentes às atividades escolares – e, de outro, população do ensino supletivo, esse movi-
os valores dos grupos de pares. Na gestão mento criou novos públicos escolares e trou-
dessa ambivalência ocorreria o processo de xe à tona novas modalidades de incorpora-
socialização empreendido pela escola que, ção, seleção e exclusão dos segmentos tra-
de modo global, não estaria ameaçado. Para balhadores e subalternos da sociedade.
alguns poucos, essa socialização da insti- O mesmo processo de mutação social
tuição fracassaria e eles transformariam os que constitui a “sociedade escolarizada”,
grupos de pares em mecanismos de ou seja, a educação escolar como ferramenta
fomentação de atividades delinqüentes. essencial para a sobrevivência do indiví-
Mas, para a maioria, essa subcultura juve- duo moderno no mundo (habilidades, co-
nil no interior da escola seria eminentemen- nhecimentos e saberes, competência para
te integradora, pois esses agrupamentos uma melhor participação na esfera pública
forneceriam fortes mecanismos de solida- e afirmação de sua autonomia como sujei-
riedade e de organização das identidades, to), produz uma enorme crise das possibi-
possibilitando a passagem da esfera priva- lidades de mobilidade social ascendente via
da da família, marcada pelas relações pes- escola pela escassa capacidade de absor-

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ção no mundo do trabalho dessa população Essas mutações no sistema de ensino,
escolarizada. As transformações estruturais em contexto de crise de mobilidade social,
nas últimas três décadas provocaram, entre atualizam as discussões em torno da ação
outros efeitos, o desassalariamento e o de- socializadora realizada pela escola, não só
semprego. Essa crise da mobilidade social a partir de sua eficácia, mas de seus limites.
produz, para José de Souza Martins (1997; Para François Dubet (1991; 1994; 1996),
2002), em seus estudos críticos sobre a um dos produtos da massificação do ensi-
noção de exclusão, o aparecimento de uma no francês – o intenso crescimento do aces-
nova desigualdade social – processos de so à escola observado a partir dos anos 80
inclusão precária e subalterna – e a multi- – pode ser traduzido na denominada
plicação de desigualdades que fomentam “desinstitucionalização”. Não só a institui-
ações pela afirmação de novos direitos (18). ção escolar não constrói um conjunto de
Estariam sendo, assim, observadas dife- referências estáveis – tanto no terreno do
renças substantivas em relação aos proces- conhecimento, como em relação aos mo-
sos de expansão do ensino iniciados nos anos delos culturais – a partir das quais os alu-
50 nos centros urbanos brasileiros. A disse- nos orientam seu processo de desenvolvi-
minação das oportunidades escolares trans- mento, como, ao operar com uma multipli-
forma os diplomas em bens comuns, que cidade de registros, muitas vezes contradi-
perdem sua capacidade de credenciar os tórios, faz com que a subjetivação seja mais
indivíduos para o mundo do trabalho, e in- um esforço do sujeito para conviver e com-
duz a uma busca cada vez mais forte de novas binar diferentes demandas do que uma cla-
oportunidades, configurando uma demanda ra ação do mundo institucional adulto, co-
endógena de escolaridade (Bule, 2000). laborando para o desenvolvimento dos
Nos anos 1950 e 1960, sobretudo com educandos.
a expansão dos ginásios estaduais, havia Como afirma Sirota (2001, p. 17), a
inscrita na atividade escolar uma dupla respeito das análises empreendidas por
função socializadora: o trânsito sistemáti- Dubet, “os atores se socializam mediante
co dos imaturos ao mundo adulto e, ao essas diferentes aprendizagens e se consti-
mesmo tempo, sua inserção em uma socie- tuem como sujeitos, na medida de sua ca-
dade urbana e industrial (Pereira, 1976, p. pacidade de dominar sua experiência, de se
103). Nessa nova ordenação estava locali- tornarem autores de sua própria educação.
zada a possibilidade de mobilidade social Nesse sentido, toda educação é uma auto-
ascendente, ambicionada pelos alunos. educação, ou seja, não é apenas uma
Assim, apesar das tensões inerentes a esse inculcação, é também um trabalho sobre si
processo e das características da popula- mesmo”.
ção usuária da escola, de origem rural ou de Esse processo evidencia suas tensões a
migração recente, não havia, potencialmen- partir de um recorte das classes sociais, onde
te, uma negação dos possíveis benefícios os menos providos de recursos materiais e
advindos da educação escolar. simbólicos são aqueles que constroem tan-
No Brasil, esse movimento de expan- to uma experiência dolorosa de rebaixa-
18 Para Dubet (2001), emergem são conviveu com as orientações seletivas mento da estima de si como de retraimento
tensões em torno das possibili-
dades de constituição dos su- tradicionais dos sistemas de ensino e traz ou de revolta.
jeitos, conciliando a demanda
de igualdade das sociedades em seu bojo uma nova figura, “os excluí- Sob esse ponto de vista as relações en-
democráticas com a possibili- dos de dentro” (Bourdieu, 1998). Por essas tre as gerações – adultos e educandos –
dade da autonomia e da liber-
dade. razões, as dimensões mais específicas do passam a ser muito mais caracterizadas por
19 No Brasil, a maior presença trabalho realizado pela escola enquanto uma certa noção de crise do que a tradicio-
juvenil não ocorre apenas no
sistema de ensino regular mas,
local de transmissão e de aprendizado de nal idéia de conflito geracional (Dubet,
também, no ensino supletivo, saberes continuam a ser objeto de crítica 1987; Barrère e Martuccellli, 2000).
fenômeno observado na última
década, criando novos sociológica em razão da multiplicação das Não só pela perda do monopólio no
impasses e desafios para os desigualdades sociais que essa nova situa- processo de formação das novas gerações,
sistemas de educação de jo-
vens e adultos no país. ção aponta. como já foi observado, mas pelas caracte-

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20 Um balanço da produção so-
rísticas internas aos sistemas escolares atu- Em um balanço sobre a sociologia da bre juventude na pós-gradua-
ais, incapazes de responder aos novos de- educação, na França, em 1993, Isamberti- ção brasileira, tanto em Edu-
cação como em Ciências So-
safios postos por sua expansão, a reflexão Jamati elucida as resistências a esse em- ciais, revela que dissertações
e teses sobre esse tema, defen-
sobre a escola tem sido acompanhada de preendimento que, talvez, explicitem aque- didas em um período de 18
um certo diagnóstico de sua crise onde a las presentes na sociologia brasileira: “fa- anos (1980-98), não chegam
a 5% do total da produção
violência seria uma das expressões maio- zer uma sociologia dos alunos era conside- (Sposito, 2002).
res (Sposito, 1998; 2001). rado extremamente difícil, quando come- 21 As formulações de Marcel
O novo público que freqüenta a escola, cei costumávamos dizer que fazer pergun- Mauss, em 1937, já propu-
nham a relevância de uma so-
sobretudo adolescente e jovem (19), passa tas a crianças e jovens era sociologicamen- ciologia da infância a partir
de algumas orientações: “Nas
a constituir no seu interior um universo cada te muito difícil, porque eles eram muito duas primeiras que apresen-
vez mais autônomo de interações, distancia- cambiantes, instáveis, o que poderia ser tei, meio social para a crian-
ça e o problema das gera-
do das referências institucionais, trazendo interessante para a psicologia, mas impe- ções, vê-se como a sociolo-
gia da infância pode servir a
novamente, em sua especificidade, a ne- dia que formassem sociologicamente uma todas as partes da sociologia
cessidade de uma perspectiva não escolar verdadeira população” (apud Sirota, 2001, e à própria sociologia geral.
Por outro lado, na terceira
no estudo da escola, a via não escolar na p. 15) (21). questão, a das técnicas do
acepção de Barrère e Martuccelli (2000). Mas, apontando perspectivas mais fa- corpo, vemos como a sociolo-
gia, em geral, serve e deve
Como afirmam esses autores, a autonomi- voráveis para esse tipo de pesquisa, obser- servir à educação da infância”
(Mauss, 1937, apud Sirota,
zação de uma subcultura adolescente en- va-se o reconhecimento da força de ele- 2001). Ao que tudo indica,
gendra, para os alunos da massificação do mentos externos na vida da instituição es- no Brasil, a antropologia foi
mais receptiva a essas orienta-
ensino, uma reticência ou uma oposição à colar, modelando parte de sua crise. Sob o ções do que a sociologia.
ação do universo normativo escolar, ele ponto de vista dos jovens e adolescentes, 22 A partir de meados dos anos
80 tem surgido uma produção
mesmo em crise. A escola cessa lentamen- além da família e da mídia, a denominada
importante sobre a sociabilida-
te de ser modelada somente pelos critérios força da “cultura de rua” derivada das rela- de juvenil nas ruas, recuperan-
do suas formas de expressão
da sociabilidade adulta e vê penetrar os ções de amizade no bairro passa também a nos grupos de estilo ou na for-
critérios da sociabilidade adolescente, exi- ser considerada (22). mação das galeras e gangues
(Abramo, 1994; Caiafa,
gindo um modo peculiar de compreensão e Se o entorno da escola acaba interferin- 1985; Guimarães, 1995;
Diógenes, 1998; Tella, 2000;
estudo (Barrère e Martuccelli, 2000, p. 256). do na vida escolar e a sua permeabilidade Vianna, 1987 e 1997;
A “cidade dos estudantes” (Rayou, aos processos externos se torna mais evi- Sposito, 1994; Costa, 1993;
Herschmann, 2000 e 1997;
1998) repõe nas escolas públicas brasilei- dente, um conjunto de nexos estabelecidos Dayrell, 2001; Carrano,
2002; Mussoi, 2000, entre ou-
ras antigos temores, pois quando se trata deve, ao menos, ser submetido à pesquisa tros). No interior da escola, os
dos estabelecimentos relegados, situados e à interrogação sobretudo quando se con- estudos ainda são profunda-
mente recortados pela condi-
na periferia das grandes cidades, a presen- sidera a importância da socialização no ção de aluno valorizando, so-
ça de jovens – pobres e negros – reunidos grupo de pares. bretudo, o conjunto de relações
que incidem sobre os proces-
evoca os grandes temores das elites bran- Como já foi observado, recorrendo às sos de ensino e aprendizagem
e as interações com os profes-
cas e oligárquicas diante do comportamen- contribuições de Candido, se a vida escolar sores (a esse respeito consul-
to potencialmente disruptivo de uma maio- é amplamente determinada pelas relações tar: Sposito, 2002).

ria silenciada. sociais a ela externas, em seu interior não 23 Talvez um exemplo possa
elucidar essa questão: nem
O conhecimento dessa sociabilidade, ocorre a mera transposição: há recriação, sempre o envolvimento de al-
das formas de solidariedade, de seus con- transformação ou produção de novas rela- guns jovens com o narcotráfico
ou com o crime organizado no
flitos e de suas práticas é, ainda, algo para ções sociais. Por essas razões e a título de bairro implica uma conduta
delinqüente no interior da es-
ser enfrentado pela reflexão sociológica no exemplo, ao menos três modalidades na cola. Comportamentos agres-
Brasil. interação entre a cultura da rua e a vida sivos e violentos na escola não
são decorrentes, necessaria-
De um lado é preciso considerar que escolar podem ser observadas. mente, de atitudes violentas nas
ruas do bairro (Araujo, 2002).
esse empreendimento acadêmico diz res- Em primeiro lugar, alguns estudos evi- Mecanismos de segregação
peito à legitimidade do campo dos estudos denciam que os mecanismos da sociabili- de grupos entre os alunos na
escola não seguem necessaria-
sociológicos sobre infância e juventude. dade e de reconhecimento típicos da rua e do mente o conjunto de valores
Mesmo se considerarmos os estudos pio- bairro não são necessariamente os mesmos expressos no bairro e nas ruas,
operando nesse caso uma
neiros de Marialice Foracchi, houve um que ocorrem no estabelecimento de ensino. ação específica da cultura
escolar que seleciona e identi-
arrefecimento das iniciativas apenas lenta- No ambiente escolar há a criação de formas fica os maus e bons alunos e
mente retomadas a partir da segunda meta- de convivência que podem transformar ou estimula a formulação de con-
dutas desviantes (Van Zanten,
de dos anos 80 (20). opor-se à própria cultura de rua (23). 2000a).

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Uma segunda modalidade de relação trata ça e à solidariedade (Rayou, 1998). Por
de uma produção acentuada, no interior da essas razões, os jovens e adolescentes seri-
escola, de relações que tornam mais fortes e am mais gregos do que cristãos, pois subs-
explícitos processos muitas vezes difusos e tituem em seu universo de práticas o man-
latentes presentes na sociedade brasileira, damento “ama o teu próximo como a ti
como o racismo, o preconceito, os elemen- mesmo” pela máxima “ama teu próximo
tos patriarcais e machistas da cultura. As como ele mesmo te ama”.
possibilidades de trocas sociais mais contí- Se as relações entre as formas de socia-
nuas e intensas na vida escolar com os pares lização se estreitam, produzem nova socia-
do que as relações mais atomizadas e seg- bilidade, é preciso considerar que a pesqui-
mentadas vividas no bairro ou na rua são sa sobre a vida escolar em seus elementos
potencialmente fomentadoras de práticas não escolares exige um conhecimento mais
discriminatórias e violentas, eventualmen- denso dos sujeitos – nesse caso adolescen-
te, mais nítidas do que aquelas observadas tes e jovens – que ultrapasse os limites de
nos processos externos à escola (24). sua vida na instituição. Esse conhecimento
Mas uma terceira modalidade de inte- induz à absorção dos instrumentos analíti-
ração também se desvela quando conside- cos e teóricos da sociologia das fases de
ramos que as formas tradicionais de socia- vida – infância e juventude – e das relações
lização nas ruas e bairros nas cidades – e entre as gerações.
este é o caso brasileiro – também se trans- Sirota (2001, p. 27) aponta que, no in-
formam, implicando, em alguns casos, o terior dos estudos sociológicos sobre a in-
desaparecimento de um modo de vida tra- fância, observa-se um movimento que par-
dicional de nossa sociedade, sobretudo te de uma sociologia da escolarização e ca-
em decorrência da violência urbana (25). minha para uma sociologia da socializa-
Na ausência de experiências mediadoras ção, tentando “desescolarizar” a aborda-
entre o mundo da casa e o universo impes- gem da criança.
soal da esfera pública, a escola passa a ser O caminho aqui proposto ilustra uma via
o único território de interações contínuas possível que reitera a tradição sociológica
para adolescentes e jovens, ainda sob uma iniciada por Florestan Fernandes. Trata-se
certa proteção do mundo adulto, mesmo de pensar a escola, quer como unidade ana-
que este último apareça como distanciado lítica quer como objeto empírico de investi-
e, também, em crise. gação, em seus elementos não escolares. Ao
Por essas razões, estudos como aqueles se apoiar nos estudos sociológicos sobre a
desenvolvidos por Rayou (1998) são mui- formação dos atores coletivos – a sociologia
24 Os estudos desenvolvidos em
escolas públicas por Niemeyer to sugestivos. Esse autor examina a “cida- da ação coletiva e dos movimentos sociais –
(1998), sobre o preconceito e de dos estudantes” na acepção da pólis gre- como na investigação sobre os sujeitos no
o racismo, consolidaram den-
tre outros registros um elenco ga, onde a vida pública vive os dilemas da ciclo de vida – a sociologia da juventude e
de apelidos que os adolescen-
tes e crianças atribuíam a seus
crise da representação política tradicional. das relações entre as gerações – a análise
pares, a maioria de teor depre- Esses “seres incertos” ou da “falta”, por- dos fenômenos educativos e escolares não
ciativo e praticamente desco-
nhecida pelo mundo adulto da que não vivem a condição adulta – os jo- se inscreve em um registro único das socio-
instituição. vens alunos, sobretudo dos liceus –, procu- logias especiais. Trata-se, assim, de um
25 Consultar Boonem (2000). Em rariam, ao menos, nessa convivência estu- domínio teórico – a sociologia – que tenta
seu estudo sobre uma rua em
bairro violento da zona sul da dantil a vida boa ou feliz, na acepção da compreender como ocorre a reprodução
cidade de São Paulo, observa
que, cada vez mais, esse espa- pólis grega. Assim, Rayou considera que esse social e os processos de socialização na
ço deixa de ser experiência mundo autônomo dos estudantes pode ser sociedade contemporânea.
socializadora. As diferenças
sexuais nas práticas educativas apreendido na noção de philia, a amizade. A Uma apreensão da reprodução cultural
da família resultam em possibi-
lidades diversas de experiên-
partir das formulações de Aristóteles ,anali- e dos seus nexos com a reprodução social,
cia da cultura de rua mas, de sa na vida estudantil as dimensões ético- como ocorre com o pensamento de
qualquer modo, o crescimento
da violência na cidade acaba políticas das relações de amizade. A ami- Bourdieu, não deixa de ser fundamental.
por interferir no modo como pais zade é uma igualdade e é capaz de propiciar Resta, no entanto, o tema da mudança ou
possibilitam a vida fora de casa,
no bairro, para seus filhos. experiências ligadas à auto-estima, à justi- das mutações sociais. Onde situá-lo? Quan-

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do esse sociólogo tratou do problema da por, em sua amplitude, uma questão fun-
juventude propôs uma questão fundamen- damental: “as gerações passam; os homens
tal, ao afirmar que uma sociedade reconhe- mudam; as relações estruturais persistem.
ce a existência da juventude e de seus pro- Como e por que isto é possível? Onde se
blemas apenas quando o seu modo de re- produz a reprodução?” (Lefebvre, 1973,
produção está ameaçado (Bourdieu, 1986). p. 68).
As situações de crise seriam, assim poten- Em seu livro La Survie du Capitalisme,
cialmente, desestabilizadoras de um movi- o pensador francês já apontava que o con-
mento cíclico e repetitivo da reprodução, junto das formas da reprodução social e seu
expresso de modo literário na epígrafe de caráter contraditório não se limitavam ao
sua obra A Reprodução – Elemento de uma mundo do trabalho, mas se espraiavam para
Teoria sobre a Violência Simbólica (26). outros momentos da vida social, o urbano,
Talvez, diante dos impasses e das reais a produção do espaço e a vida cotidiana.
dificuldades de desenvolvimento das socie- Não basta reconhecer apenas o poder gi-
dades dependentes, ainda amplamente do- gantesco do ciclo da dominação, no âmbito
minadas pela história de sua coloniza- das relações de exploração no processo de
ção oligárquica, a idéia de reprodução apre- trabalho, mas é preciso contemplar as
sentada por Lampedusa, no Leopardo, por incontáveis formas da reprodução, nos ci-
meio de Tancredi, sobrinho do príncipe clos da vida diária, nos espaços da cidade,
Salina, nos seja mais familiar: “se quere- do bairro, da vida doméstica, nas institui-
mos que tudo continue como está, é preciso ções, nos sentimentos e afetos.
26 “Le capitaine Jonathan,/ Etant
que tudo mude”. Para Lefebvre, não se trata apenas da âgé de dix-huit ans,/ Capture
reprodução das relações de produção (ou dos un jour un pélican/Dans une
No entanto, a noção tratada inicialmen- île d´Extrême-Orient./ Le
te por Marx e retomada por Henri Lefebvre meios de produção), mas da reprodução de pélican de Jonathan,/ Au
matin, pond um oeuf tout
nos leva a um outro caminho para a com- relações sociais, onde existe sempre a pro- blanc/ Et il en sort um pélican/
preensão da reprodução social e dos pro- dução, pois o processo não é apenas Lui ressemblant étonnamment./
Et ce deuxième pélican/ Pond,
cessos de socialização. Para esse autor, repetitivo: não há reprodução sem a produ- à son tour, un ouef tou blanc/
D’où sort, inévitablement, / Un
Marx compreendeu, somente no fim de sua ção de novas relações sociais. Nos recôndi- autre qui en fait autant./ Cela
vida, que os problemas da re-produção das tos do repetitivo estariam presentes os ele- peut durer très longtemps/ Si
l’on ne fait pas d´omelette
relações de produção não coincidem com mentos residuais não capturados que ofere- avant” (Robert Desnos).
os de sua gênese (27). ceriam a possibilidade da expressão inova- 27 A leitura conjunta e articulada
Reich, segundo Lefebvre (1973), ofere- dora dos conflitos sociais e da mudança. da reprodução simples e da
reprodução ampliada do ca-
ce uma contribuição tardia para a compre- O exame da perspectiva não escolar no pital, presentes no Tomo I de
O Capital (1975), é essenci-
ensão do processo de re-produção das rela- estudo sociológico da escola pode estar al, mas Lefebvre considera que
ções sociais. Para o psicanalista, a família também inscrito nessa compreensão da a formulação mais acabada
do tema se encontra no Capí-
burguesa não seria apenas conseqüência ou reprodução das relações sociais tão bem tulo Inédito de O Capital
traduzida pelo mestre Guimarães Rosa: (1984), pois, nesse texto, Marx
mímesis da sociedade global capitalista. Ele estabelece que as relações de
inverte esta perspectiva: “no núcleo famili- produção são o resultado re-
novado, sem cessar, do pro-
ar ele percebe o lugar central onde se produ- “Se o mundo se repete mal cesso de produção e que a
zem e se re-produzem as relações globais”. É porque há reprodução é também repro-
dução de relações (Lefebvre,
Essa tese, segundo Lefebvre, permitiu pro- Um imperceptível avanço”. 1973, p. 64).

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