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QUÍMICA ORGÂNICA AVANÇADA

UNIDADE 1: ESTEREOQUÍMICA

1.1. Isomerismo Molecular

1.2. Simetria em Compostos Orgânicos

1.3. Estereoisomerismo

1.4. Nomenclatura de Estereoisômeros

1.5. Estereoquímica com Heteroátomos

1.6. Estereoquímica sem Átomos Quirais

1.7. Topicidade e Prostereoisomerismo

1.8. Topicidade e Espectroscopia de RMN de 1H

1.9. Atividade Óptica e Quiralidade

1.10. A Projeção de Fischer

1.11. Configuração Absoluta

1.12. Métodos de Determinar a Configuração Absoluta

1.13. Síntese Assimétrica

1.14. Confôrmeros Acíclicos e Cíclicos

Bibliografia Sugerida:

1. Eliel, E. L. and Wilen, S. H. Stereochemistry of Organic Compounds; John Wiley &


Sons, Inc.: New York, 1994.

2. Buxton, S. R.; Roberts, S. M. A Guide to Organic Stereochemistry; Longman,


Edinburgh, Inglaterra, 1996.

3. Romero, J. R. Fundamentos de Estereoquímica dos Compostos Orgânicos. Editora


Holos, Ribeirão Preto, SP, 1998.

* Os itens de 1.1 a 1.8 foram baseados totalmente no material didático desenvolvido pelo
Prof. Sergio Pinheiro da Universidade Federal Fluminense.
2

1.1 - ISOMERISMO MOLECULAR

Homômeros são a mesma molécula. Têm fórmulas moleculares iguais


e mesmo arranjo dos átomos.
Isômeros são moléculas diferentes. Têm fórmulas moleculares iguais
e diferentes arranjos dos átomos.

Estereoquímica → estuda a geometria espacial das moléculas


Importância: nas propriedades físicas das moléculas, no curso
e no mecanismo de reações, na espectroscopia, etc.

Estereoisômeros: são isômeros espaciais

Geométricos (cis-trans)

(trans) (cis)
(cis) (trans)

Confôrmeros interconvertíveis por rotação


em torno de ligação simples .
Cl H Moléculas iguais
H H
(em equilíbrio)
H
Cl Conformações
Cl Cl diferentes

Configuracionais (ópticos) átomos têm arranjos


espaciais diferentes
b b Configurações diferentes
e Não são a mesma molécula
d c
c
a a Se interconvertem por
d
quebra de ligações
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1.2 - SIMETRIA EM COMPOSTOS ORGÂNICOS

Quiralidade → é um fenômeno molecular. Está associada à presença de


elementos de simetria nas estruturas dos compostos.

Elemento de simetria → é uma operação que interconverte certas partes de


uma molécula em outras, de tal modo que a estrutura final seja idêntica ao
desenho original.

1.2.1- Elementos de simetria

a) Eixo Próprio (Cn)


É o eixo de ordem n tal que quando uma molécula é rodada de 360o/ n ao
redor desse eixo Cn faz com que a nova molécula seja idêntica à original.

H Br H Br
180 o N N
H 120 o H
Br H Br H H H
H H

360 o/ 180 o = 2 (eixo C 2) 360 o/ 120 o = 3 (eixo C 3)

Eixo principal: é o eixo de maior


C2
ordem n
C2
Exerc.: Identificar todos os eixos
C6 Cn da molécula ao lado.

ATENÇÃO ! Moléculas lineares têm eixo C∞

Me Et C oo

C1 → ocorre em todas as moléculas (não é eixo de simetria)


4

b) Plano de Simetria (σ)

É o plano que divide a molécula em duas porções idênticas.

C6
σ(h) H H σ (v) (vertical) plano
que contém o eixo principal.
C2 σ(h)
H H σ (h) (horizontal) plano
C2 σ(v)
C2 perpendicular ao eixo principal.
σ(v)

c) Centro de Simetria (inversão) (Ci)

É um ponto Ci da molécula tal que as retas que passam por Ci cortam


pontos equivalentes na mesma distância dos dois lados de Ci.

Ci Ph Ci CO2H

HH H
H

HO2C Ph

d) Eixo Impróprio ou Alternado (Sn)

Elemento consiste de rotação de n graus sobre um eixo e reflexão no


plano perpendicular a esse eixo.

Ph H
H H 180 o Ph Ph
360 o / 180o = 2
Ph H (elemento S 2)

H Ph Tanto faz começar


Ph Ph 180 o H H
com rotação ou
com reflexão
H Ph
5

ATENÇÃO ! Qualquer molécula pode ser classificada através das


operações de simetria.

C3 Cl
σ, C2 σ

N
H H C2
H
H H
2 planos σ 3 planos σ Cl
1 eixo C2 1 eixo C3 1 eixo C2

1.2.2- Simetria e quiralidade

A presença de pelo menos um dos elementos de simetria de reflexão


(σ, Sn ou Ci) faz com que a molécula seja sobreponível, ponto a ponto, à
sua imagem especular: molécula aquiral

a a
c c b a a
c b b c b

180 o
(tem σ e C2) (tem σ e S2)

- não tem σ, Sn nem Ci


Molécula
quiral - não é sobreponível, ponto a ponto,
à sua imagem especular.

a a
C* carbono assimétrico
C* *C
d d [α]D 0o
e b b e

(não sobreponíveis)
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Moléculas quirais (tipos)

- assimétrica não tem elementos de simetria; geralmente tem C*


H H

Cl CN NC Cl
O O
Br Br
D-(+)-cânfora L-(-)-cânfora
enantiômeros enantiômeros

- dissimétrica tem eixo de simetria Cn

Cl Cl Cl C2
OH
H
180o H
HO CO2H
C2 Cl Cl CO2H
Cl
enantiômeros ácido (-)-tartárico

C2 é o eixo Cn mais importante !

H
O PPh2 HO CO2Et
OH
C2 C2 C2
PPh2 OH
O HO CO2Et
H

(R,R)-DIOP (+)-DET (R)-BINAFTOL


7

GRUPOS PONTUAIS

Grupo pontual de simetria → é o grupo de todas as moléculas que


contêm o mesmos elementos de simetria.

H Grupo pontual
O C2v
H H C
Cl H
Cl C2 eixo de maior n
C2 C2
C2v
Cv plano σ contém o
2 planos σ 2 planos σ eixo de maior n
1 eixo C 2 1 eixo C 2

σ, C3 σ, C3

H
Grupo pontual
H N Cl C3V
H H Cl Cl

3 planos σ 3 planos σ
1 eixo C3 1 eixo C3
8

Exemplos: moléculas quirais

CH3 Grupo pontual C1


OH Não há elementos de simetria
H OH
Ph
O Moléculas assimétricas

Grupo pontual Cn Moléculas com eixo próprio Cn (dissimétricas)

H
Cl H
H Cl alenos com padrão abC=C=Cab
H Cl (Grupo pontual C2)
Cl C2

NO2 Cl NO2 C2
OH
Cl NO2 C2
OH
Cl Cl
NO2
bifenilas com substituintes iguais em posições orto (Grupo pontual C2)

Grupo pontual Dn Moléculas com n eixos C2 ao eixo principal Cn.


O

bifenilas em ponte
Cn = C2 nas posições α,α'
(Grupo pontual D2)
C2 O

Cn = C2 (Grupo pontual D2)

C2
9

Determinação do grupo pontual:

Molécula é não Molécula é sim


tetraedro Oh
octaedro ?
regular ?
não
sim

Td Há eixo Cn ?
não sim

sim
Cs Há plano σ ? Selecionar o maior Cn;
Há n eixos C2 Cn ?
não
sim não
Há centro Ci ?
não Há plano Há n planos σ
sim σ Cn ? contendo o
Cl eixo principal ?
Moléculas Ci ~~ S2 sim
assimétricas sim não
Dnh não
Cnv Há Sn colinear
Dnd com Cn ?
sim Há n planos σ
que biseccionam sim não
ângulos entre C2 ? S2n
Dn não Cn

Moléculas Moléculas
assimétricas e dissimétricas
dissimétricas

Grupos pontuais que contêm moléculas quirais: C1, Cn e Dn


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Exemplos: Moléculas aquirais

Cl
Grupo Td moléculas
Cl Cl com alta simetria
Cl

F
F F Grupo Oh moléculas
Si com alta simetria
F F
F (octaedros e cubos)

Cl
H Cl
CR2XY
H H Grupo Cs moléculas
Br
com plano de simetria e
H sem eixode simetria
RCHO
H OH O CHO
H

CO2H H O
Grupo Ci = S2
H N
OH
HO H não têm plano de simetria
N não têm eixo de simetria
CO2H O H
têm centro de simetria

H CO2Me Grupo Dooh compostos com


O=C=O simetria cilíndrica
11

Cl

Cl
(D2h) (D2h)
Grupo Dnh
têm eixo Cn (principal)
têm n eixos C2 perpendi-
(D3h) (D3h) culares ao eixo principal
têm plano de simetria
perpendicular ao
eixo principal

(D6h)

Grupo Dnd
têm eixo principal e n eixos
C2 perpendiculares a ele

existem n planos que inter-


ceptam o eixo principal
(D2d) (D2d) (D3d)

Br
O
Grupo C2V moléculas
H H com um eixo Cn e
n planos de simetria
(C2V) (C2V) (C2V)
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1.3- ESTEREOISÔMEROS
Enantiômeros → estereoisômeros em que um é a imagem especular e não
sobreponível, átomo por átomo, do outro.

CH3 CH3 Cada enantiômero é quiral


Uma molécula só pode ter um enantiômero
H H
Ph OH HO Ph Em meio aquiral, dois enantiômeros só
27 27 diferem pelo sinal do [α].
[α]D = + 42,9 [α]D = - 42,9

Em enantiômeros: todos os centros quirais são invertidos

OH H
H OH OH OH
H HO
CO2Me Ph CO2Me
HO CO2H H CO2H Ph
CO2H CO2H
ácido (-)-tartárico ácido (+)-tartárico (d, l) ou (R, S) ou +_

Enantiômeros: podem ser assimétricos ou dissiméticos

C2 OH H
H OH OH OH
H HO
HO CO2H H CO2H
CO2H CO2H

par (d,l) dissimétricos par (d,l) assimétricos

ATENÇÃO ! Mistura racêmica (par d,l) é opticamente inativa.

CH3 CH3
OH CUIDADO !
H OH + HO H Se um dos
Ph Ph Ph enantiômeros
for predominante
(1 mol) (1 mol) na mistura, essa
27 27 27 é opticamente
[α] D = + 42,9o [α] D = - 42,9o [α] D = 0o ativa.
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Diastereoisômeros → estereoisômeros em que um não é a imagem


especular do outro. Um ou ambos podem ser
opticamente ativos.

H OH HO H H OH
σ
H OH H OH HO H

meso (aquiral) (d,l)


diastereoisômeros
(aquirais: têm plano σ)
diastereoisômeros enantiômeros
(quirais)

Cl Me 22 = 4 estereoisômeros possíveis
2 C*
22/2 = 2 pares (d,l) possíveis

Cl Me Cl Me Cl Me Cl Me

(d,l) (d,l)

diastereoisômeros
(todos são quirais: não têm σ, Ci nem Sn)
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Alguns termos importantes:


Meso → estereoisômero que tem um número igual de grupos identicamente
ligados e enantioméricos e nenhum outro grupo quiral. É aquiral

H OH H H Formas meso sempre


H H σ
têm plano de simetria
H OH Ph Ph
σ

Epímeros → diastereoisômeros que diferem entre si pela configuração de


apenas um dos centros quirais.

Et Et

Anômeros → são epímeros no carbono anomérico.

HO HO
HO O HO O
HO OH HO
HO HO
OH
(β-D-glicose) (α-D-glicose)

O But O
But
Cl
Cl
(anômero β) (anômero α)
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1.4- NOMENCLATURA DE ESTEREOISÔMEROS

- relativa dá a relação entre átomos ligados a


diferentes centros (quirais ou não).
Configuração Ex: cis-trans, eritro-treo, syn-anti
- absoluta dá a geometria espacial da molécula.
Ex: D,L; R,S; (+) / (-)

1.4.1- Para configuração relativa

1o modo: cis-trans

Et Et Et Et
cis trans cis trans Z E

2o modo: eritro-treo

Usada para sistemas acíclicos com 2 centros quirais onde dois


dos substituintes são iguais e o terceiro é diferente.
Usar projeções de Fischer ou formas em cavalete eclipsadas!

Y Y
Y Y
Z Z
X X W X X W
W X W W W X
X W
W Z X Z
eritro substituintes iguais treo substituintes iguais
do mesmo lado em lados diferentes
(Atenção! Se Y = Z meso) (Atenção! Se Y = Z d,l)
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3o modo: syn-anti

Mais usada para sistemas acíclicos com 2 ou mais centros quirais.

Usar forma Prioridade: maiores cadeias de carbono


em ficam no plano.
zig-zag !

H CO2Me HO CO2Me
HO H

Ph Me Ph Me
H H
anti syn
OH e Me em lados
diferentes dos C

X X Y Z
X Y
N N
Z (syn) Z Y (anti) prioridade
Cahn-Ingold-Prelog
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1.4.2- Para configuração absoluta

1o modo: Nomenclatura D,L

Nomenclatura antiga: baseada nos enantiômeros do gliceraldeído.


Atualmente: só é usada para carboidratos e aminoácidos.

CHO CHO CO2H CO2H


H OH HO H H NH2 H2N H
CH2OH CH2OH CH3 CH3
D-(+) L(-) D-(+) L(-)
gliceraldeído glicina
(açúcares naturais: série D ) (aminoácidos naturais: série L )

2o modo: Nomenclatura R,S

Nomenclatura atual: baseada no sistema Cahn-Ingold-Prelog .

A A
A B C D
D D
B C prioridade
C B

R: sentido horário S: sentido anti-horário

H R
H R
But Et
N Ph

i-Pr H H
R R
S
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ATENÇÃO! Carbono pseudo-assimétrico → é um carbono quiral contido


em uma molécula aquiral.

Ex.:
OH OH
C3 pseudo-assimétrico
3
2 4 assimetria depende das
configurações de C2 e de C4
Br

1o caso σ σ
Cahn-Ingold-Prelog:
OH OH OH OH
C2: R; C4: S
molécula aquiral 2 4 2 4
Br Br prioridade: R S
C3 pseudo-
assimétrico Br C2 C4
C3: r C3: s
(moléculas diferentes) prioridade

OH OH OH OH
H OH H OH
H Br Br H
H OH H OH
Br Br
r s

2o caso
não é σ não é σ
nem C2 nem C2
OH OH OH OH Moléculas são
moléculas quirais assimétricas
2 4 2 4
C3 aquiral Br Br enantiômeros

C2: R; C4: R C2: S; C4: S


(moléculas diferentes)
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1.5- ESTEREOQUÍMICA COM HETEROÁTOMOS

Estereoisomerismo → ocorre em átomos centrais diferentes do carbono.

a) Substâncias com átomos assimétricos trivalentes

Aminas e NH 3 equilíbrio rápido leva à perda da quiralidade


(inversão do guarda-chuva)

N N Moléculas são iguais,


Me Me e não enantiômeros.
Ph Ph
Et Et

Fosfinas, sais de sulfônio


e sulfóxidos são
P P
Me Me opticamente ativos
Ph Ph
Et Et Inversão do guarda-chuva
(d,l) no P é muito lenta !

Br Br
S S S S
Me Me Me Me
Ph Ph O O
Et Et Et Et
(d,l) (d,l)

b) Substâncias com outros átomos assimétricos tetravalentes

H H
Si Si compostos de Si,
Me Me
Ph Ph sais de amônio e N-óxidos
But But
(d,l)

H H O O
Br Br
N N N N
Pr Pr Pr Pr
Et Et Et Et
Me Me Me Me
(d,l) (d,l)
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1.6- ESTEREOQUÍMICA SEM ÁTOMOS QUIRAIS

Certas substâncias podem ser opticamente ativas mesmo sem possuir


centros quirais.

Principais casos: rotação restrita origina planos dissimétricos e perpendi-


culares. Pertencem ao grupo pontual Cn (dissimétricas).

Ex.: bifenilas com substituintes volumosos e diferentes em orto

Me NO2 Me
O2N ATROPISÔMEROS são
confôrmeros que são separáveis
NO2 Et Et NO2 devido a rotação reatrita em C-C

(d,l)

Ex.: certos espiranos substituidos

H H H H
Me CO2H HO2C Me
(d,l)

Ex.: alenos dos tipos abC=C=Cab e abC=C=Cde


Me Me
Me Et Et Me
Et Me Me Et
Et Me Me Et
Et Et
(d,l)

Ex.: certos alquilidenocicloalcanos

H H
H H
Cl Me Me Cl
(d,l)
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1.6.1. "MOLECULAR PROPELLERS" E "GEARS"

"Molecular Propellers"

São moléculas análogas às hélices de barcos e aviões e são um caso


especial de atropisomerismo. As "palhetas" da hélice são torcidas no mesmo
sentido, sendo constituidas de grupos planares (geralmente anéis aromáticos
com substituintes diferentes), que não são coplanares entre si. A não
coplanaridade é devida a rotação impedida nas ligações simples.

X=Y=Z X X=Y=Z
Y quiral; grupo Dn
quiral; grupo C1 B B
(assimétrica)
Z
um "propeller" não é um "propeller"

Se os 3 anéis forem perpendiculares ao plano sp2 do boro há 4 pares (d, l): os


substituintes X, Y e Z ficam acima e abaixo do plano trigonal do boro.

Z Z Z
X X Z
Y B B Y Y B B Y
X X

(d, l) (d, l)

Z
X X X X Z
YZ B B YZ B B

Y Y
(d, l) (d, l)

OBS: Se os anéis forem torcidos (e não perpendiculares ao plano sp2 do B),


há helicidade. Anéis torcidos p/ a direita e p/ a esquerda dão 8 pares (d, l).
22

O átomo central da hélice do "propeller" pode ser assimétrico.

Ex.: carbono assimétrico

X X X Presença de eixos C2
HY Z HY
nos anéis diminui o
número de pares (d, l)
Z ZY
16 pares (d, l) 8 pares (d, l)
(há eixos C2)

Os estereoisômeros dos "molecular propellers" podem ser interconvertidos


através de mecanismos em "flip" envolvendo 0, 1, 2 ou os 3 anéis.

0 anéis flip

1 anel flip

2 anéis flip

3 anéis flip

Conseqüência no espectro de 1H-RMN:


1
H-RMN (CD2Cl2) a -40oC: há duplicidade de sinais
(há mistura de dois diastereoisômeros)
1
Ph H-RMN (CD2Cl2) a 25oC: sinais dos dois
N diastereoisômeros coalescem

X
X = CO2CH3 Barreira de energia para interconversão dos
diastereoisômeros é relativamente baixa a 25oC
(17,8 kcal/ mol)
23

Gears

São engrenagens ("gears") observadas em moléculas aquirais onde a


rotação impedida em torno de ligações simples é decorrente de tensões de
van der Waals entre grupos não ligados.

H
H
H3C H H3C CH3 "Gears" estáticos
H
H H3C
H CH3 Rotação restrita
H CH em torno de C-C
H H3C 3 H CH3
H

Grupo pontual Grupo pontual Há conformações


C6h C2h preferenciais em C-C
Grupos isopropila são isócronos
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1.7- TOPICIDADE E PROSTEREOISOMERISMO

Dá as relações entre átomos, grupos e faces em uma dada molécula.

1. Para átomos e grupos

As relações entre dois átomos (ou grupos) são dadas pela substituição de um
deles por um terceiro átomo (ou grupo). O conceito é usado principalmente
para distingüir dois átomos de hidrogênio presentes no mesmo carbono.

1o CASO Moléculas do tipo CH2X2


D
Produtos são iguais
H1 H1 X D H2 X
X

H2 X H1 rotação H1 e H2 iguais
X
H2 X D X (HOMOTÓPICOS)
D
X

2o CASO Moléculas do tipo CH2XY


D
Produtos são
enantiômeros
H1 H1 X D H2 Y
X rotação

H2 Y H1
X H1 e H2 são
H2 X D Y ENANTIOTÓPICOS
D
X

Hidrogênios homotópicos e enantiotópicos não são diferenciados


1
por H-RMN sob condições de simetria (ex.: CDCl3 na ausência de
reagentes de deslocamento quirais).
25

ATENÇÃO! PRÓ-QUIRAL termo usado para grupo (ou molécula)


que tem dois átomos (ou grupos) enantiotópicos. A substituição
por um terceiro átomo (ou grupo) produz uma molécula quiral!

centro
pró-quiral centro quiral

CO2Me 1. LDA, THF CO2Me


Ph Ph
H1 H2 2. CH3I H1 CH3

molécula aquiral molécula quiral


(pró-quiral)
H1 e H2: são pró-quirais
(enantiotópicos)

OBS: H1 H2
Posição benzílica centro
CO2Me
também é pró-quiral Ph pró-quiral

3o CASO Moléculas do tipo XH2C-C*


C* = centro quiral

R1
D Produtos são
H2 R3 diastereoisômeros
H1 X D R2
R1 C*
H1 X
R1
H2 R3 H1
R2 H1 e H2 são
D R3
X H2 X D R2 DIASTEREOTÓPICOS
X
Hidrogênios diastereotópicos são diferenciados por 1H-RMN
sob condições de simetria.
26

Atenção!!! O centro quiral pode estar afastado, mas os hidrogênios


continuam sendo diastereotópicos.

O Et But H1 e H2 são diastereotópicos

Os H em cada CH2 são


H1 H2 diastereotópicos entre si.

Nomenclatura de átomos e grupos pró-quirais: sistema Cahn-Ingold-Prelog


(nomenclatura R, S)

R
O

H1 x D H1 e H2: pró-quirais
O H2 D (enantiotópicos)
R (quiral)
S H1 pró-R (HR)
H2 H1
O H2 pró-S (HS)
(pró-quiral) H2 x D

D H1
S (quiral)
27

2. Para faces

Também existe topicidade em faces de moléculas trigonais.

X
o
1 CASO Moléculas do tipo R R
Produtos são iguais
_
Nu ataque + Nu OH O
por trás H 3O
O R R
R R
R R rotação
faces iguais
+ Nu OH
H 3O (HOMOTÓPICAS)
_ ataque
Nu pela frente R R

X
o Produtos são
2 CASO Moléculas do tipo R R1
enantiômeros
_
ataque Nu OH O
Nu +
por trás H 3O
O R R1 R R1
R R1 rotação faces são
+ Nu OH ENANTIOTÓPICAS
H 3O
_ ataque (PRÓ-QUIRAIS)
Nu pela frente R R1
28

X
o R* = grupo contendo
3 CASO Moléculas do tipo R R* centro quiral

_ ataque Nu OH Produtos são


+
Nu por trás H3O R1
R diastereoisômeros
O
R2 R3 O
R1
R
Nu OH
R2 R3 + R R*
H 3O R1
_ ataque R faces são
Nu pela frente R2 R3 DIASTEREOTÓPICAS

ATENÇÃO ! O estereocentro pode estar afastado da C=X.

O H3 H4 Et faces de C=O são diastereotópicas


Ph H1 e H2 são diastereotópicos
H 1 H2 H3 e H4 são diastereotópicos
estereocentro
29

Nomenclatura de faces pró-quirais (enantiotópicas): usar o sistema


Cahn-Ingold-Prelog (nomenclatura R, S)

X X Prioridade: X Y Z
(na nomenclatura R, S)
Y Z Z Y
Atenção! X é sempre o de
face Si face Re maior prioridade
(X = O, S, NR, etc)

_ _ + HO Nu
Nu H3O
Exemplo: Nu
O Et Me
face Re
Et Me _
Nu + HO Nu
H3O
_ face Si
Nu Et Me
30

1.8- TOPICIDADE E ESPECTROSCOPIA DE 1H-RMN

Hidrogênios homotópicos e enantiotópicos → não acoplam entre si e não


são diferenciáveis (δ iguais)
no espectro de 1H-RMN.

Ex.: hidrogênios homotópicos

1
H RMN (300 MHz, CDCl3)

Ha Hb
Ha e Hb
N N

Ha e Hb: homotópicos

Ha e Hb: 3,20 ppm (s, 2H)

Ex.: hidrogênios enantiotópicos


1
H RMN (300 MHz, CDCl3)

Ha e Hb
Ha Hb
N OCH3

Ha e Hb: enantiotópicos
Ha e Hb: 3,44 ppm (s, 2H)
31

Hidrogênios diastereotópicos → acoplam entre si e são diferenciáveis


(diferentes δ) no espectro de 1H-RMN.

Ex.:
O carbono
quiral
O
CO2CH3

Ha Hb
+
_

Padrão AB:
Ha: 2,98 ppm (d, 1H, JHaHb = 15 Hz)
Hb: 2,66 ppm (d, 1H, JHbHa = 15 Hz)

1
H RMN (100 MHz, CDCl3)

Ex.:
Ha Hb
N
H3
O

1
H RMN (300 MHz, CDCl3)
Ha: 2,68 (dd, JHaHb = 12,6 Hz e JHaH3 = 3,0 Hz)
Hb: 2,38 (dd, JHaHb = 12,6 Hz e JHaH3 = 7,2 Hz)
Hb

Ha
32

1.9- ATIVIDADE ÓPTICA E QUIRALIDADE

Jean Baptiste Biot, físico francês - 1815: Ele descobriu que algumas substâncias
naturais (glicose, nicotina, sucrose, ) giravam o plano da luz polarizada e outras
não.
Qualquer molécula que gira o plano da luz polarizada é dito ser opticamente
ativa. Se uma substância pura é opticamente ativa, a molécula não é superponível
na sua imagem especular. Se a molécula é superponível na sua imagem especular a
substância não gira o plano da luz polarizada, e ela é então opticamente inativa.
Enantiômeros somente podem ser discriminados na presença de um agente
quiral. O plano da luz polarizada é um agente quiral. Se uma luz normal é passada
através de um filtro polarizador, tal como um polaróide, o vetor de campo elétrico,
associado com a propagação da luz, oscila num plano único perpendicular à direção
de propagação.

Luz
polarizada

Filme Polaroid
Este plano de luz polarizada pode ser descrito como sendo composto de duas
ondas em hélice, enantioméricas, circulando em torno do eixo de propagação em
direções opostas. Cada hélice tem um vetor campo elétrico associado, e as duas
ondas estão em fase de tal forma que a qualquer tempo as contribuições dos dois
33

vetores campo elétrico para a propagação se cancelam exceto no plano de


propagação.

Os campos elétrico e magnético de um raio de luz ordinária em um plano.


(T.W.G. Solomons “Organic Chemistry”, John Wiley & Sons, Inc. 1996, 6th Ed.)

Quando a luz plano polarizada é passada através de uma solução contendo


uma substância quiral há uma interação diastereoisomérica. As moléculas quirais
refratarão uma hélice mais que outra; cada componente terá um índice de refração
diferente num meio quiral. Se as moléculas quirais são todas de mesma
configuração, ou um enantiômero está em excesso, o plano da luz polarizada será
girado em relação ao plano original.

E
EL
< α'
ER

Este fenômeno forma a base da análise de enantiômeros pela suas rotações


óticas. Um aparelho chamado polarímetro é usado para estudar rotações óticas
34

passando luz plano-polarizada monocromática (usualmente a linha D do sódio a 589


nm) através de uma célula de comprimento fixo e medindo sua rotação. A rotação
numa direção horária, em relação ao observador, olhando através da solução em
direção a fonte de luz, é registrado como positiva (+) e uma rotação anti-horária é
negativa (-).
Um enantiômero com uma rotação positiva é algumas vezes descrito como d
(destro) (não confundir com D!) e um com uma rotação negativa como l (levo).
A quantidade de rotação α não é uma constante para um dado enantiômero,
ela depende do comprimento do vidro da amostra, da temperatura, do solvente e
concentração (para soluções), da pressão (para gases), e do comprimento de onda
da luz.

O Polarímetro
observed
p l a n e -p o l a r i z e d rotation
light α α
Na lamp
sample cell

0
0
0
0
0

plane is
polarizer analyzer
rotated
chemistry
nerd

rotate t o null
35

α)
Rotação específica (α

α α
[ α] = ( para soluções ) e [α ] = ( para substâncias puras )
lc ld

α- rotação observada
l- comprimento da célula (decímetros)
c- concentração (g/mL)
d- densidade

[α]D ∅ rotação foi medida com a luz D de sódio (λ= 589 nm).

Pureza Óptica

A pureza óptica é uma medida do excesso de um enantiômero sobre outro


em uma amostra opticamente ativa. Um composto opticamente puro é 100% de um
enantiômero. Uma mistura racêmica é 0% em pureza óptica (já que os 50% de um
enantiômero cancela a atividade óptica dos 50% do outro enantiômero).
Por outro lado, uma amostra opticamente ativa que contenha 75% de um
enantiômero dextrógiro (+) e 25% do levógiro (-) será somente 50% opticamente
pura. Isto é: 25% do enantiômero (+) cancelará a atividada óptica dos 25% de
enantiômero (-), sobrando 50% do enantiômero (+) responsável pela rotação do
plano de luz polarizada.
A porcentagem de pureza óptica se mede comparando a rotação específica
da amostra, com aquela do estereoisômero puro o [α]max e aplicando a seguinte
equação:
t0C
[α] D muestra
% Pureza Optica = x 100
t 0C
[α] D enantiómero puro

Por exemplo, para cada enantiômero de ácido láctico as rotações específicas


a 150C são respetivamente:
Acido-(-)-láctico Acido-(+)-láctico
0
15 C 0 150C
[α] D = 3.82 [α] D = 3.820
36

Então, uma amostra de ácido láctico com 50% de pureza óptica produz uma
rotação específica de +1.910 ou -1.910 (0.5 x 3.82) dependendo de qual enantiômero
se encontra em excesso.
Assumindo que há uma relação linear entre a rotação específica [α] e a
concentração dos enantiômeros (o qual é certo para a maioria dos casos), a pureza
óptica é também igual à porcentagem em excesso de um enantiômero sobre o outro:
[( )] [( )]
% Pureza Optica = porcentagem em excesso = x 100
[( )] [( )]

= %[( )] %[( )]

Obs: com o advento da cromatografia quiral a determinação da pureza óptica pelo


método acima ficou totalmente obsoleto, pois através da cromatografia quiral pode-
se obter rapidamente as proporções entre os enantiômeros e conseqüentemente a
pureza óptica de maneira incontestável.
37

Quais Tipos de Moléculas Mostram Atividade Ótica?


A descoberta de Pasteur (Louis Pasteur 1848, Sorbonne, Paris)

2-
+ +
HO O C C H CH CO OH Na OO C CH C H COO N H4

OH O H O H OH

Ácido tartárico Tartarato de amônio e sódio


( O b t i d o í n d u s t r i a l m e n t e) Pasteur cristalizou esta
substância num dia frio.

Pasteur encontrou dois diferentes cristais. Louis Pasteur separou esses


cristais e os encaminhou para Biot medir a atividade óptica de cada um deles.

Faces h e m i-hedral

Resultado de B i o t : (+) (-)

Pasteur decidiu que as moléculas que faziam os cristais, assim como os


cristais, deveriam também ser imagens especulares uma da outra. Cada cristal,
portanto, deveria conter um simples tipo de enantiômero.
38

A descoberta de Pasteur do enanciomerismo e sua demonstração de que a


atividade óptica das duas formas do ácido tartárico era uma propriedade das
moléculas levou, em 1874, à proposta da estrutura tetraédrica do carbono por van’t
Hoff e Le Bel.

Van’t Hoff e Carbono


LeBel (1874) C tetraédrico

Somente a geometria tetraédirca pode levar as


Moléculas serem imagens especulares:

C C

Moléculas possuindo um plano de simetria são sempre oticamente inativas,


mas existem uns poucos casos nos quais moléculas não têm um plano de simetria e
são contudo inativas. Tais moléculas possuem um centro de simetria, tal como o
ácido α-truxílico (exemplo c), ou um eixo alternado de simetria como no exemplo d
(subunidade 1.2, página 4). Um centro de simetria é um ponto dentro de um objeto
tal que uma linha reta desenhada de qualquer parte ou elemento do objeto para o
centro e estendida a uma distância igual no outro lado encontra uma parte igual. Um
eixo de simetria alternado de ordem n é um eixo tal que quando um objeto contendo

tal eixo é girado por 360o/n em torno do eixo e então uma reflexão é efetuada
transversalmente a um plano em ângulo reto ao eixo, um novo objeto é obtido que é
indistinguível daquele original (veja mais detalhadamente na subunidade 1.2).
Uma molécula que contém somente um carbono quiral (definida como um
átomo de carbono conectado à quatro grupos diferentes; também chamado de
átomo de carbono assimétrico) é sempre quiral e daí oticamente ativo. Contudo, a
presença de um carbono quiral não é uma condição nem necessária e nem
suficiente para atividade ótica, uma vez que atividade ótica pode estar presente em
39

moléculas sem átomo quiral (veja a subunidade 1.6) e uma vez que moléculas com
dois ou mais átomos de carbono quiral são superponíveis sobre suas imagens
especulares e daí inativas (subunidade 1.3).

Rotações Específicas Para Alguns Compostos Biolo -


gicamente Ativos
COMPOSTOS [α]DD
cholesterol -31.5
cocaine -16
morphine -132
codeine -136
heroin -107
epinephrine -5.0
progesterone +172
testosterone +109
sucrose +66.5
β-D-glucose +18.7
α-D-glucose +112
oxacillin +201

Quadro Retirado do site: http://www.chem.wwu.edu/dept/facstaff/pavia/paviacourses.shtml


40

1.10- A PROJEÇÃO DE FISCHER

Para um entendimento completo de estereoquímica é útil examinar modelos


moleculares. Contudo, não é praticável quando estamos escrevendo no papel ou no
quadro. Em 1891 Emil Fischer serviu grandemente os interesses da química
inventando a projeção de Fischer, um método de representar carbonos tetraédricos
no papel. Por esta convenção, o modelo é mantido de tal forma que as duas
ligações na frente do papel é horizontal e aquelas atrás do papel são verticais.

Projeção “cavalete”

CHO

HOCH2 OH
H

Projeção de Fischer

CHO CHO
H OH H OH
CH2OH CH2OH

Veja com modelos moleculares:


41

OH
ORIENTAÇÃO DA H CH3
CADEIA PRINCIPAL
E DOS SUBSTITUINTES H OH
NA PROJEÇÃO
DE FISCHER H OH
H OH
OH CH3
H

H OH
continuação
da cadeia principal

Como obter a projeção de Fischer a partir de outras projeções:


a)

rotate CH 3
90 o
H Cl
Cl Br Cadeia principal em vermelho

CH3 CH3
H H
Colocar a cadeia principal H Br
verticalmente

CH 3
H CH3
Cl
Cl
Br Converter
H Para a Br
CH 3 Projeção de
Fischer
CH3
42

b)
CH2OH
HO H OH
CH2 OH
OHC HO HO
HO
OH H H H
H CH 2OH

H CHO CHO

CHO
180 o CH2OH
HO H
H OH
H OH
HO H
CH2OH
CHO

De forma a obter resultados adequados através destas fórmulas, deveria ser


relembrado que elas são projeções e devem ser tratadas diferentemente de modelos
quando testamos superponibilidade. Todo plano é superponível na sua imagem
especular; daí com estas fórmulas devemos fazer algumas restrições.

Restrições para as fórmulas de Fischer:

1. Não devem ser retiradas do plano do papel ou quadro;


2. Elas não podem ser giradas de 90o, embora 180o é permitido:

CHO CH2OH

. OH
OH
HO
HO
CH2OH CHO
180o
3. É permitido manter qualquer grupo fixo e girar os outros três nos sentido
horário ou anti-horário:

CHO CHO
HO H HO H

H OH HO CH2 OH

CH2 OH H
43

AUMENTANDO O ESTADO DE OXIDAÇÃO


C = O o n c a r b o n- 2 i n c r e a s e s
t h e p r i o r i t y o f C -O H

C H3 CH 2OH CH OH C HO CO O H

C O O O
C C
H OH

Estado de oxidação cresce

Na projeção de Fisher a cadeia principal é orientada de maneira que o grupo


com o maior estado de oxidação fique no topo do desenho.

Rotações podem ser usados para comparações...…..

A e A* são enantiômeros ?

A CH3 A* C H3 C H3
Br Br 2) giro Br
Br Br Br
CH3 C H3 C H3
1) reflexo

3) comparação
44

FURTHER HOME STUDY

F i n d a l l o f t h e s t e r e o i s o m e r s f o r t h i s c o m p o u n d . G r o u p a l l e n a n t i o m e r s in p a i r s . A r e t h e r e a n y
meso stereoisomers ?

CO O H
OH
OH Will you find 16 (24 = 16)
stereoisomers? Why or

OH why not?

OH
CO O H
45

1.11- CONFIGURAÇÃO ABSOLUTA

Suponha que temos dois tubos de ensaio, um contendo (-)-ácido lático e o


enantiômero (+).

Um tubo contêm I e o outro II.

Tubo I Tubo II

H H
OH CH3
HO2C CH3 HO2C OH
25oC 25 oC
[α] D = -3,8 [α] D = +3,8
(-)-ácido lático (+)-ácido lático

Como nós saberemos qual é qual? Químicos no início do século ponderaram


sobre este problema e decidiram que eles não podiam saber - para o ácido lático ou
qualquer outra substância. Portanto Rosanoff propôs que uma substância fosse
escolhida como padrão e uma configuração fosse arbitrariamente atribuída a ele. A
substância escolhida foi o gliceraldeído por causa de sua relação com açúcares. Ao
isômero (+) foi atribuída a configuração mostrada em III e dado o rótulo D
(atualmente R pelo sistema R/S). O isômero (-), designado para ser IV, foi dado o
rótulo L (S).

Exemplo:
CHO CHO
H OH HO H
CH2OH CH2OH
III IV

(+)- Gliceraldeído (-)- Gliceraldeído


D L
46

Por exemplo, (+)-gliceraldeído, oxidado com óxido de mercúrio, fornece (-)-


ácido glicérico:
CHO CO2H
HgO
H OH H OH
CH2OH CH2OH

(+)- Gliceraldeído (-)- ácido glicérico

Uma vez que é altamente improvável que a configuração do átomo de


carbono central seja alterada, pode-se concluir que (-)-ácido glicérico tem a mesma
configuração que (+)-gliceraldeído e portanto (-)-ácido glicérico é também chamado
D. Este exemplo enfatiza que moléculas com a mesma configuração não precisam
girar o plano da luz polarizada na mesma direção.
Uma vez que a configuração dos ácidos glicéricos foi conhecida (em relação
aos gliceraldeídos), foi então possível relacionar outras substâncias a um ou outro
destes, e cada vez que uma nova substância foi relacionada, outras poderiam ser
relacionadas a ela. Desta maneira centenas de substâncias foram relacionadas,
indiretamente, ao D- ou L-gliceraldeído, e foi determinado que III, o qual tem a
configuração D, é o isômero que gira o plano da luz polarizada para a direita.
Mesmo substâncias sem átomos assimétricos, tais como bifenilas e alenos,
têm sido colocados nas séries D ou L. Quando uma substância era colocada nas
séries D ou L, sua configuração absoluta era dita ser conhecida.

Em 1951 tornou-se possível determinar se a suposição de Rosanoff estava


correta. Cristalografia de raios-X comum não pode distinguir entre um isômero D ou
L, mas pelo uso de uma técnica especial, Bijvoet foi capaz de examinar tartarato de
sódio e rubídio e descobriu que Rosanoff tinha feito a escolha correta. Foi
historicamente adequado que a primeira configuração absoluta tivesse sido
determinada num sal de ácido tartárico, uma vez que Pasteur fez suas grandes
descobertas num outro sal deste ácido.
47

Resumindo:
48

O Sistema Cahn-Ingold-Prelog

1) Especificação de Configuração: a mais comum origem da dissimetria


molecular em moléculas orgânicas é a presença de um ou mais centros quirais (ou
centros assimétricos), ou seja, átomos de carbono saturado sustentando quatro
diferentes substituintes.
A configuração de um centro quiral é atualmente especificada pelo sistema
Cahn-Ingold-Prelog.

Sistema Cahn-Ingold-Prelog: os ligantes do centro quiral são assinalados


numa ordem de prioridade:

1. Quanto maior o número atômico do átomo diretamente ligado, maior é a


prioridade;
2. Se dois átomos são isótopos, aquele com maior massa atômica tem maior
prioridade;
3. Um par de elétrons não compartilhados é tratado como um átomo ligante
de número atômico zero;
4. Se dois átomos ligados são os mesmos, os átomos ligados a eles são
comparados, e assim por diante, até a prioridade puder ser estabelecida;
5. Ligações múltiplas são trocadas por ligações simples, com ambos átomos
considerados para serem duplicados ou triplicados.

Visualiza-se a molécula ao longo da ligação do centro quiral para o grupo de


mais baixa prioridade, com o centro quiral na frente do grupo de baixa prioridade. Se
os grupos restantes, partindo da mais alta prioridade para a mais baixa, estão
arranjados no sentido horário, o centro é R; se são anti-horário, S.

1
2 2 counter
clockwise 1
clockwise

C
C

4
4

3
3

(rectus ) ( s i n i s t e r)
R S
49

6. Grupos próximos tomam preferência sobre todos os distantes.

Usando a projeção de Fischer para denotar a configuração


absoluta pelo sistema R/S:

Exemplo:
Coloque o grupo ou átomo com prioridade = 4 em uma das posições verticais
e olhe para os outros 3 restantes:

2 4
#4 no topo
CHO H
1
4 H OH OHC CH2OH
2
CH2OH OH R 3
3 1
alternativamente: AMBOS DÁ
O MESMO
2 1
RESULTADO
CHO 3
R OH 2
1 CHO
4 H OH HOCH2
CH2OH 4
H
3 #4 em baixo

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