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3.2 ESTUDO DE CASO INTERNACIONAL

3.2.1 Sociedade Real para Prevenção da Crueldade Contra Animais – RSPCA

A Sociedade Real para Prevenção da Crueldade Contra Animais ou RSPCA (sigla em


inglês, tradução da autora, 2019) é uma sociedade de resgate de animais que visa o recolhimento
e a preparação do animal até o momento da adoção, também é conhecida como clínica
veterinária, e possui três sedes somente na Austrália.
A organização pretendia aumentar a área de recolhimento e preparação de cães na
RSPCA de Burwood East, e por meio de um concurso feito para arquitetos a obra escolhida em
2007 foi do escritório NH Architecture a qual foi executada (Figura 26) atrás do complexo já
existente (Figura 27).
De acordo com as informações da página do NH Architecture (s. d.) a construção da
primeira das três etapas da sede da RSPCA pelo escritório foi concluída. A instalação é um
modelo de excelência em cuidados com animais, proporcionando uma experiência exemplar
para todos os usuários e visitantes. Ainda cita que a obra é atrativa o que ajuda a promover
aumento nas taxas de adoção e colabora na educação comunitária e canina visando a adoção
correta dos animais.

Figura 26: RSPCA – Fachada Lateral.

Fonte: NH Architecture, s.d.26

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Disponível em: <http://nharchitecture.net/projects/rspca/> Acesso em: 20 mai. 2019.
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Figura 27 – Complexo Antigo e Complexo Novo RSPCA

Fonte: Google Earth, adaptado pela autora, 2019.

3.2.2 Localização e implantação

A obra está localizada, na Austrália, no estado de Vitória, na capital Melbourne, na


localidade de Burwood East (Figura 28), está no centro comercial de Burwood Highway, onde
há um grande fluxo de pessoas, pois é a área central da cidade.
O complexo está numa área mista residencial e comercial, o que favorece a implantação
do projeto, pois se destaca do entorno27, chamando atenção para a obra (Figura 29), além disso
o terreno está em aclive no obra mais antiga, porém para a segunda obra de abrigo o terreno foi
aterrado e usado de forma plana.
Por estar numa rua de grande movimento que liga Melbourne a outras cidades, está bem
localizada também por conter muitos pontos de ônibus e passagem do trem elétrico que
atravessa a cidade.

27 A localidade está disposta em no máximo de 4 pavimentos, a obra se destaca pois está em uma escala
monumental comparada ao entorno. (Análise feita através do Google Earth, 2019).
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Figura 28: Localização RSPCA

Fonte: Google Earth, adaptado pela autora, 2019.

Figura 29: Análise do entorno da obra RSPCA.

Fonte: Google Earth, adaptado pela autora, 2019.


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3.2.3 Análise arquitetônica

Para o desenvolvimento da obra, o partido foi uma entrada única que fosse clara para
quem fosse adotar um animal, e que só depois se abrisse para novos compartimentos, onde a
composição fosse um conjunto de peças repetitivas e originais, fechadas e abertas, parciais e
integrais.
O edifício possui 5 (cinco) blocos (Figura 30) cada um com acesso separado, além disso
possui 2 (dois) níveis de acesso por uma extensa rampa (Figura 31 e 32). Os quatro pátios
externos que circundam os blocos ganharam grande destaque com a paginação no chão, feita
de diferentes materiais táteis, cores e desenhos. Esses desenhos de acordo com informações do
site, representam as diferentes pelagens que um cão pode possuir, por conta das misturas de
raças, já que a maioria se trata de cães sem raça definida (Figura 32).
O projeto visa o bem-estar animal através da integração de espaços, luz e ventilação
natural, sendo uma referência de abrigo internacionalmente, além de ter ganho prêmios
nacionais na categoria Arquitetura Sustentável em 2008.

Figura 30: Blocos RSPCA, fachada lateral do edifício.

Fonte: NH Architecture, s.d.


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Figura 31: Rampa de acesso RSPCA.

Fonte: NH Architecture, s.d.

Figura 32: Rampa de acesso RSPCA.

Fonte: NH Architecture, s.d.


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Figura 33: Paginação de piso RSPCA

Fonte: Google Earth, adaptado pela autora, NH Architecture, s.d.

3.2.3.1 Análise funcional

O acesso do público ao edifício acontece pela frente da obra antiga, para os funcionários
a entrada também pode ser pelos fundos do terreno, o estacionamento está na frente e nas
laterais da obra, porém como citado anteriormente, há a possibilidade dos interessados virem
de ônibus ou trem elétrico, como mostra a Figura 34.

Figura 34: Acessos ao RSPCA

Fonte: Google Earth, adaptado pela autora, 2019.


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O edifício, por se tratar de uma ampliação para a função específica de abrigar cães,
possui apenas local de abrigo e preparação de comida. Porém o programa de necessidades é
amplo e contempla área para treinamento de animais, abrigo, quarentena para recuperação,
espaço para passeios, banheiros, depósitos, circulação horizontal e vertical (rampas, escadas e
elevador) e área de alimentação e preparação de alimentos dos animais (Figura 35).

Figura 35: Planta baixa do pavimento térreo RSPCA

Fonte: NH Architecture, s.d., adaptado pela autora, 2019.

A área de quarentena é como qualquer outro canil da obra, os cães que chegam ao
RSPCA recebem atendimento médico (no edifício antigo) e apenas quando necessário, são
colocados em quarentena, assim nesse período eles são avaliados sobre problemas
comportamentais e doenças crônicas.
Os canis atendem a funcionalidade de abrigar, e ainda dão conforto necessário para o
cão enquanto estiver no local até sua adoção, como mostra Figura 36. Outro elemento que
chama atenção é que cada animal tem seu canil individual, evitando brigas, contágio de doenças
e facilita a visualização dos interessados em adotar algum dos animais, o abrigo conta com 200
canis, sendo 100 deles no primeiro pavimento e outros 100 no pavimento superior (Figura 37).
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Figuras 36 e 37 : Canis RSPCA

Fonte: NH Architecture, s.d.²³

3.2.3.2 Estrutura e materiais

Para que houvesse economia no projeto, a obra foi feita em estrutura metálica e revestida
de uma padronização de painéis metálicos corrugados em preto e branco, como mostra a Figura
38, o uso das cores foi proposital após estudo de que eram estimulantes para os cães.

Figura 38: Revestimento em metal corrugado.

Fonte: NH Architecture, s.d.²³


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3.2.3.3 Estudo da forma

Analisando a obra em planta pode-se observar que o desenvolvimento do projeto se teve


após a criação do eixo linear em que as são colocadas as rampas. Acredita-se que esse eixo
acontece pois é onde está localizado o acesso principal da rua.
Com a criação desse eixo os arquitetos usaram de formas puras retangulares para
distribuir os blocos de canil formando um ângulo com esse eixo, deixando apenas o último
bloco disposto perpendicularmente.

Figura 39: Análise formal planta RSPCA.

Fonte: NH Architecture, s.d.²³, adaptado pela autora, 2019.

Analisando a formalidade a partir das fachadas observa-se que pela vista Norte (Figura
38) os blocos são adição de forma simples retangulares, como cubos alongados com ritmo nas
mudanças de cor, pois são iguais em todos os blocos.
Porém a forma principal se apresenta diferente quando observada pela fachada lateral,
essa forma pode ser tanto um cubo que foi modificado sendo esticado em uma das pontas,
quanto pode ser a adição de triângulos num cubo, como exemplificado na Figura 40, esse
detalhe faz com que os blocos pareçam inclinados, e por conta dos ângulos em que estão há
uma ilusão de ótica, fazendo com que os corredores, onde ficam os pátios, pareçam estar se
fechando, como mostra a Figura 41. (ARCHITECTURE, s.d)
Ainda, a disposição dos vidros e dos canis no interior da obra, trazem um ritmo na
fachada, e a adição de cubos que são os sistemas de ventilação na parte superior dos blocos,
ajuda na distribuição e na simetria da obra (Figuras 42 e 43).
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Figura 40: Análise formal, fachada lateral RSPCA.

Fonte: NH Architecture, s.d., modificado pela autora, 2019.

Figura 41: Inclinação da fachada RSPCA.

Fonte: NH Architecture, s.d.


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Figuras 42 e 43: Análise elementos da fachada RSPCA.

Fonte: NH Architecture, s.d., modificado pela autora, 2019.

3.2.3.4 Análise bioclimática

Para conter o cheiro forte por conta dos animais, cada canil possui abertura superior para
que haja ventilação contínua, ainda há tubos exautores em cada canil, todas as entradas de ar e
escapamentos são acusticamente tratadas para reduzir o som dos latidos, essas soluções foram
feitas minimizar os odores e ruídos na obra, por se tratar de uma área residencial, minimizando
o estresse dos cães e da vizinhança.
O edifício é totalmente fechado, naturalmente ventilado e iluminado. No quesito
aquecimento, há laje, chaminés térmicas, tampões de vento, coletores de vento e torres para
proporcionar trocas de ar e manter o ambiente em temperatura agradável. (CAMARGO, 2011)
Além disso, cada cão tem acesso à luz natural e vista para uma área ao ar livre, os canis
são fechados na lateral, assim nenhum cão tem contato visual com o outro, isso somado com a
minimização dos latidos por conta do tratamento acústico, o animal fica menos estressado,
ficando mais dócil e adaptável a adoção.
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Figura 44: Insolação, ventilação e água da chuva RSPCA.

Fonte: NH Architecture, s.d., modificado pela autora, 2019.

Figura 45: Insolação e Ventilação RSPCA.

Fonte: Google Earth, modificado pela autora, 2019.


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O vento reinante na Austrália é o Nor-nordeste, porém o vento sul e o vento oeste tem
grandes influências climáticas na região, por conta disso todas as fachadas acabam sendo
ventiladas, e ainda seguindo o projeto de aberturas superiores nos canis, o espaço se torna mais
agradável para a visitação já que há a minimização do cheiro forte causado pelos animais.

3.2.3.5 Análise Crítica

Por se tratar de uma obra de concurso, os arquitetos responsáveis acabaram optando pela
sustentabilidade e usaram de todos os recursos para resolver problemas que são muito
encontrados em abrigos, como o mal cheiro, os ruídos e a transmissão de doenças.
Essa obra se adequa ao estudo desenvolvido pois está mostrando de forma explicativa
como é possível resolver arquitetonicamente um projeto de abrigo para animais. E ainda que se
tratando de um complexo e tendo lucros por conta das lojas do prédio antigo, optaram por
materiais baratos, e isso além de beneficiar na economia, mostra como pode ser feito algo com
uma ótima solução arquitetônica sem gastar muito.
Por ser referência na região onde está inserido o RSPCA atrai mais interessados nas
adoções, e por ter as dependências mais limpas e individuais para cada cachorro, há um
significativo aumento no número adoções, pois isso diminui o medo das pessoas sobre as
doenças e ainda atrai mais futuros tutores por conta da organização e tratamento para com os
animais.

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