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Marcelo - Franco - Mangas - Quadrinhos - Desenhos Animados
Marcelo - Franco - Mangas - Quadrinhos - Desenhos Animados
Esta monografia pode ser usada e reproduzida parcialmente desde que citada a
fonte. Ao citar este trabalho, por favor, avisar ao autor.
Baseado nesta monografia publiquei na revista Sociologia Ciência e Vida Ed. 12, um
artigo sobre o universo dos mangás. Para comprar acesse:
http://www.escala.com.br/detalhe.asp?id=8635&grupo=48&cat=248
Contatos:
Fortaleza – CE
Universidade de Fortaleza
Junho / 2006
3
Fortaleza – CE
Junho / 2006
4
Folha de Aprovação
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________
Profa. Ms. Ângela Julita Leitão de Carvalho
___________________________________________________
Profa. Dra. Preciliana Barreto de Morais
___________________________________________________
Profa. Dra. Maria Inês Detsi de Andrade Santos
5
Dedicatória
Agradecimentos
RESUMO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
OCIDENTAL E ORIENTAL 50
CONCLUSÃO 54
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 55
9
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
Will Eisner (1995, p. 8), um dos maiores nomes comics americanos diz que
14
No entanto, somente alguns anos depois o mangá teve seu nome adotado e
consagrado por meio do desenhista Rakuten Kitazawa (LUYTEN, 2004). “O
ideograma chinês usado por Hokusai pode ser dividido em man „involuntário‟ ou „a
despeito de‟ e ga „imagem‟” (MOYA, 2003, p. 134). Segundo Nagado (2002) podem
significar ainda “desenhos irresponsáveis” igual a “irresponsible pictures”, isto é,
quadros ou desenhos irresponsáveis, segundo a tradução do DVD Super Heróis dos
Quadrinhos do Discovery Channell (2002). Na introdução de seu livro sobre a língua
japonesa Marc Barnabé (2005) diz que
mangás. O que em um comic book por exemplo, seria contado em poucas páginas e
alguns quadros, em um mangá seria necessário dezenas de páginas e centenas de
quadros. Esse grande volume de páginas para se desenhar uma história no estilo
mangá é que faz com que os artistas japoneses tenham “a tendência de desenhar
de uma maneira mais caricatural, mais esboçada, num estilo menos detalhado do
que o encontrado nos quadrinhos americanos.” (O‟CONNEL, 1997, p. 39). “Em
filmes adaptados de mangás, a decupagem da historinha chega a ser transposta
sem mudança para a tela.” (PARENTE, 2004, p. 49). A abordagem cinematográfica
de Osamu Tezuka teve como influência os filmes alemães e franceses que assistia.
cronologia para entender uma personagem nem gastar milhares de dólares para se
ter esse material, caso dos super-heróis americanos. Tomemos o exemplo de
Superman, criado em 1938, além de quase sete décadas de histórias, que sofreram
inúmeras mudanças, tem algumas edições que só colecionadores milionários podem
adquirir. Um exemplar de Action Comics, onde estreou, custa, nos EUA, 125 mil
dólares e a primeira edição de Superman 175 mil dólares (BELFIELD, 2002), sendo
esse também um dos motivos pelos quais as novas gerações brasileiras preferem os
mangás aos comics, a dificuldade de entender, acompanhar e comprar edições de
décadas atrás.2 Todos os que foram entrevistados para esta pesquisa afirmam ser,
além de fãs, colecionadores, o que já é uma hipótese para a queda nas vendas dos
quadrinhos americanos e aumento dos japoneses, aliada, evidentemente, à
crescente influência da cultura japonesa no ocidente. Nos anos 1970, os japoneses
exportavam eletrônicos. Nos anos 1980, sua cultura tradicional e desde os anos
1990 alta tecnologia e cultura pop, tendo os mangás e os animes como produtos
principais. Além disso tudo, uma parcela mais crítica de leitores tem se distanciado
dos valores americanos.
O herói dos mangás também se difere dos comics; são retratados como
pessoas comuns em busca de realização. Perseverança é a principal característica.
“Não há lugar para super-heróis no Japão, tal como caracterizados no ocidente:
invencíveis, superpoderosos e justiceiros [...] suas ações se voltam para outra
dimensão – a interior” (LUYTEN, 2000, p. 70). As personagens de mangá são
humanizadas, mesmo alienígenas ou com poderes especiais (ALMEIDA. J., 2005).
Lembram os heróis gregos e seus antropomórficos deuses. Essa humanização dos
personagens é um conceito usado em super-heróis americanos como em Spider-
Man (Homem-Aranha), criado por Stan Lee, o iniciador dessa caracterização
humana dos super-heróis, antes vistos como seres inabaláveis e perfeitos. O
Homem-Aranha quando surgiu era um adolescente com problemas na escola,
familiares e com garotas, além de constante dificuldade financeira. Stan Lee, numa
entrevista para um DVD especial sobre sua vida, diz que a pergunta fundamental foi
se uma pessoa assim existisse, isto é, um super-herói, como seria sua vida
2
No Brasil os números antigos de revistas traduzidas dos originais americanos não chegam a
cifras astronômicas, mas são muito raros e têm, claro, preços bastante elevados para os padrões
brasileiros.
21
cotidiana?3, o que fez com que o público se identificasse com ele de maneira
diferente do que acontecia até então com o Superman (Super Homem), invulnerável,
perfeito e sem problemas. Houve modificações mais tarde e hoje os super-heróis
passam por problemas existenciais os mais variados.
3
STAN LEE: mutants, monsters & marvels. Produção de Eric Mittleman. EUA: Columbia
Tristar, 2002. 1 DVD (95 min).
22
Sobre as Publicações
4
VEJA. São Paulo: Ed. Abril, n. 31, 6 ago. 2003.
23
Capas das edições brasileiras de Dragon Ball, da fase um, fase Z e edição definitiva com acabamento de luxo
5
A língua japonesa não tem um alfabeto propriamente dito, é composta por dois silabários
chamados hiragana e katakana, com 46 símbolos silábicos cada. Além disso há o kanji, que são os
ideogramas (existem entre 45.000 e 50.000), que tem duas pronúncias diferentes, o on´yomi (leitura
derivada do chinês) e o kun´yomi (leitura original japonesa). Há ainda o furigana, uma espécie de
alfabeto de apoio para se ler kanjis pouco conhecidos ou para ajudar as crianças na leitura, usados
em mangás e na imprensa.
25
Sobre os Gêneros
6
Todos os mangás citados pelos entrevistados são editados por uma dessas três editoras.
26
7
Devido a grande pressão de pais e educadores, influenciados pelo psiquiatra Fredric
Wertham, que publicou um livro de grande repercussão contra os quadrinhos, Seduction of the
Innocent, em 1954, foi criado nos EUA um código de ética que determinava o que poderia ou não ser
publicado, o Comics Code, que, como toda censura tolheu a liberdade criativa e de expressão dos
artistas.
8
Maus é um relato biográfico de um judeu sobrevivente dos campos de concentração nazista.
Sonho de uma noite de verão, mistura a peça homônima de Shakespeare com mitologia grega.
27
(NAGADO, 2002; LUYTEN, 2000). O Mahou Shojo é um subgrupo dentro dos Shojo
Manga, apresentando histórias de heroínas que lutam a serviço do bem (BRAZ, s/d).
Além destes, há o Hentai, que pode ser traduzido por “anormal”, “pervertido”
(BARNABÉ, 2005, p.274), voltado para o público adulto, com histórias pornográficas.
Uso esse termo não no sentido pejorativo, mas para diferenciar de erótico, onde as
cenas de sexo são mais sutis e as histórias mais bem elaboradas, caso do Ero-
Gekigá. Também é chamado de Etchi (também pode ser grafado ecchi), pronúncia
dos japoneses para a letra H em inglês, letra inicial de hentai, significa “safadeza” ou
“indecência” (ROSA, 2005, p. 3). No Japão são lançados mais de mil títulos de
hentai por ano (ROSA, 2005) enquanto no Brasil o acesso se dá principalmente
através da Internet, que ajudou a difundir o hentai no mundo todo, e publicações
piratas. Títulos oficializados não chegaram a dez. Há de tudo no hentai, histórias que
evidenciam quaisquer fantasias, facilitado por uma atitude em relação ao sexo
diferente da ocidental cristã e agostiniana, os japoneses, em sua maioria budistas e
9
O movimento underground americano nos quadrinhos surgiu nos anos 60, introduzindo
temas políticos, drogas, sexo e contestação do american way of life, através de publicações
independentes, em material barato. Foi um dos movimentos artístico-culturais mais importantes dos
EUA (MOYA, 1993).
28
xintoístas podem ser considerados mais liberais10. Além disso “existe uma clara
distinção na mente do oriental daquilo que é real do imaginário [...]” (ROSA, 2005,
p.34), o que facilita a leitura desse material sem, necessariamente, ser diretamente
influenciado por ele.
10
O xintoísmo (antes a única religião professada no Japão) é pluralista e segue o princípio do
Yin e Yang, não tendo escrituras sagradas, filosofia ocidental ou código moral, o que abriu espaço,
mais tarde, para a entrada para o budismo (FONSECA, 2003), que também tem doutrinas pouco
rígidas.
11
Os temas eróticos mais comuns foram extraídos do livro Hentai, a sedução do mangá, de
organização de Franco de Rosa, com exceção dos comentários.
29
Naturalmente, Barral se refere aos que são vendidos para serem montados
e pintados e não aos prontos.
Sessenta por cento dos cartoons exibidos no mundo são animes (GUSMAN,
2004). Em 2003, um anime de longa-metragem japonês ganhou o Oscar de melhor
animação, A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no Kami Kakushi) de Hayao
Miyazaki.
Além dos animes feitos para a TV e cinema, existem os OVA, Sigla para
Original Video Animation, são animes lançados originalmente para vídeo (BRAZ,
s/d). São comercializados de forma direta ou em locadoras. Sua produção, em geral
é melhor que as feitas para TV e inferiores às feitas para o cinema (NAGADO,
2002). Os longas-metragens de animação são chamados de Movies. Os animes
estrelados por robôs gigantes, bastante comuns são chamados de Super Robot ou
32
O anime está cada vez mais presente na cultura pop. No filme Kill Bill vol. I,
há um trecho de sete minutos em anime. No show da cantora Madonna, Drowned
World Tour 2001, os telões do palco exibem, durante boa parte da apresentação,
animes. Outro filme que usou os animes foi Matrix. Como complemento à história da
trilogia há uma série de nove animes chamados de Animatrix. O próprio filme foi
inspirado na plástica das animações japonesas.
Com as boas relações que Japão e Brasil têm, sendo o nosso país o lugar
onde mais tem japoneses fora do Japão (LUYTEN, 2000) e com o crescente
interesse pela cultura pop japonesa por aqui, uma produtora de anime resolveu que
uma das personagens de Lemon Angel Project seria uma brasileira filha de
japoneses. Erica Canbell é uma personagem carinhosa que gosta de cuidar dos
outros. Essa personagem aumentará, sem dúvida, o carinho que os fãs brasileiros
sentem pela cultura pop japonesa.12
Além dos animes há os Live Action (em japonês o termo é Tokusatsu, já que
o termo live-action é usado mundialmente para este tipo de série), que significa
“ação ao vivo”, servindo para designar qualquer ação que utilize atores. No Brasil, os
mais famosos foram Ultraman, Jaspion, Jiraya, Lion Man, Changeman e Flashman;
sendo estes dois últimos chamados de Super Sentai, seriado em live-action que
apresenta quintetos de guerreiros coloridos (NAGADO, 2002; BRAZ, s/d). Não
necessariamente todos os fãs de animes gostam de tokusatsu, mas é comum nos
12
Nos mangás também já houve uma homenagem ao Brasil, caso de Love Junkies, onde a
autora faz uma referência aos leitores brasileiros.
33
eventos sobre cultura pop japonesa ter exibição dessas séries. E, não raro, séries de
mangá e anime viram séries em live action.
13
Segundo Luyten (2000, p. 191) a maior concentração de japoneses fora do Japão é no
Brasil, sendo que o mangá original sempre foi usado para manter as tradições e unidade linguística.
34
CAPÍTULO II
esperança, de sonho e de utopia para o leitor brasileiro, mas não como uma leitura
reflexiva de sua condição.
CAPÍTULO III
14
A farda das colegiais japonesas consiste em camisa de botão com gravata e saia de pregas
muito curtas.
15
Como já dissemos anteriormente, a maioria dos japoneses lê mangá, tanto homens como
mulheres, os otakus são os aficionados por esse material.
41
tendo pouco ou nenhum espaço para sexo. Espera-se que a mulher cuide do marido
e dos filhos e o marido sustente a casa (podendo, às vezes, freqüentar casas de
massagem), e se a mulher tiver carreira profissional deve abandoná-la para dedicar-
se ao lar (LUYTEN, 2000). Essa ênfase no sexo e na violência, que não retratam
diretamente a realidade dos japoneses, podem ser utilizadas como cartase. No
Brasil, onde a violência é evidente e o sexo tratado com mais naturalidade 16 a
recepção desses conteúdos por parte dos leitores é, naturalmente, diferenciada.
Os mangás não fazem uma crítica social e política direta como alguns
comics americanos e HQs brasileiras (sobretudo do movimento underground dos
anos 1960 e 1970). Servem para os japoneses principalmente como válvula de
escape das pressões e frustrações sociais, apesar de às vezes ridicularizar
convenções sociais. As críticas são mais sutis e no mais das vezes se perdem
quando lidas por fãs brasileiros, que estão num contexto histórico e social diferente.
Contudo, aos poucos esses leitores estão entrando no universo japonês, como
aconteceu com leitores de comics americanos. Provavelmente isso acontecerá mais
rápido do que o foi com a aculturação americana. Antes não só se traduzia o texto,
mas gags, nomes próprios e situações típicas dos americanos eram adaptadas ao
contexto brasileiro. Páginas inteiras eram cortadas das edições brasileiras. Hoje,
devido sobretudo a facilidade de informação adquirida através da internet, meio de
comunicação preferido dos otakus, como já foi dito, características da história que só
seriam entendidas no contexto japonês são explicadas em legendas para o leitor e
16
O sexo presente nos mangás, mesmo nos que lá são considerados para crianças, causa
indignação nos ocidentais, como já dissemos, sobretudo nos EUA, herdeiros do calvinismo e do
puritanismo, no Brasil se torna menos ofensivo devido nossa formação mais sincrética, tema já
debatido por autores como Gilberto Freyre.
42
[...] significa algo como „viver num casulo‟ e foi cunhado em 1983
pelo escritor Akio Nakamori para definir pessoas que se isolam do
mundo real, vivendo apenas em função de quadrinhos, video
games, seriados, culto a cantores, etc. No entanto, muito diferente
de um torcedor fanático por seu time de futebol, o otaku é um
indivíduo fechado, avesso ao convívio social.
Moliné (2004) define o termo como “tua casa”, termo pejorativo no Japão,
mas sem conotação negativa no ocidente. Seria equivalente aos anglófonos Freak e
Nerd.
No Brasil, os otakus não são isolados do mundo real, nem tem dificuldades
para se relacionar com outras pessoas, nem com o sexo oposto. É normal os
garotos e garotas otakus no Brasil, namorarem. Segundo os otakus que se reúnem
na Praça Portugal, os otakus brasileiros são diferentes, não têm problemas em se
relacionar, nem de namorar. Um dos entrevistados fez referência a um colega
japonês que se reúne na praça: “aqui no grupo tem o Ken, ele é japonês e esse
nosso colega, o Ken, ele era bem tímido no começo, com o tempo é que ele se
soltou mais, mas ele era bem tímido” (Jorge, 22 anos), mostrando a mudança do
colega japonês influenciada pelos modos de se relacionar no Brasil.
17
Ilustrando essa crescente brincadeira, o milionário japonês Daisuke Enomoto declarou que
fará cosplay no espaço, vestido de Char Anzanable, personagem da famosa série japonesa Gundam,
se a agência espacial russa permitir. O milionário será o quarto a investir 20 milhões de dólares pelo
turismo espacial (RAMONE, 2005).
45
da tarde, e nas férias diariamente. O número de otakus que ali se reúne é impreciso,
e varia bastante. Segundo os entrevistados oscila entre 30 a 100 participantes,
alguns mais entusiasmados dizem ter até 200. Os números aumentam logo após
algum evento para mostra de animes e mangás, realizados esporadicamente na
cidade. Esses eventos têm se tornado muito populares, tendo inclusive cobertura da
mídia de Fortaleza, em jornais como O Povo, Diário do Nordeste e canais de
televisão como Verdes Mares e TVC. O principal deles, o S.A.N.A (Super Amostra
Nacional de Animes), teve, em sua última edição, em 2005, uma média de dez mil
pessoas nos dois dias de evento, segundo dados divulgados em jornais. O
crescente número de fãs de mangás e animes tem provocado a realização desses
eventos também no interior, como em Sobral, e na Região Metropolitana, como em
Horizonte.
Perfil dos Otakus: com a finalidade de traçar o perfil dos jovens otakus e
conhecer de que modo a cultura japonesa exerce influência sobre eles, aplicamos
vinte questionários – sendo que treze do sexo masculino e sete do feminino - e
fizemos seis entrevistas – sendo quatro homens e duas mulheres. O número de
mulheres, aqui, é considerado significativo, já que no Brasil o público consumidor de
quadrinhos e desenhos animados sempre foi, predominantemente, masculino.
Mangás e animes têm a vantagem de ter produtos específicos para aquele público.
seguido pelo Brasil. Em vez de se fechar para o Ocidente o Japão se abriu, tentando
conservar contudo, suas tradições milenares. Não há uma sistematização desse
pensamento no discurso dos otakus sobre sua admiração pelo modo japonês de
fazer política e economia, mas nas entrelinhas do que tentam explicar emerge esse
raciocínio. Quanto à religião o japonês é mais aberto, visto as religiões
predominantes, xintoísmo e budismo, terem uma grande abertura ideológica, sem o
dogmatismo do cristianismo. Os otakus vivenciam isso através de uma maior
tolerância moral e de preferências, tanto que na Praça Portugal se reúnem várias
tribos urbanas18, que se unem pelo gosto comum pelos mangás e convivem
cordialmente.
18
É fácil identificar os vários grupos que lá se reúnem como skatistas, clubbers, plays, góticos, roqueiros,
jogadores de RPG, de videogame, etc.
19
Os samurais eram os protetores dos senhores feudais, viviam sob rígido código ético e disciplinar, o
Bushido. Eram tidos como os homens mais honrados e valentes do Japão. Com o fim do feudalismo sua
atividade foi proibida. Muitos deles viraram ronins, isto é, samurais sem mestre. Os mangás de samurai estão
entre os mais lidos no Brasil.
49
“No começo do curso da UECE eu fui atrás de fazer o curso [de japonês],
fiquei como ouvinte um tempo e acabei parando por falta de tempo. Eu também fui
agora para São Paulo, para os eventos de lá, o Animecom e o Animefriends também
por influência dos animes. [mas há influência também] nos gestos. Quando o
pessoal pega um gesto, vira moda. E eu já fiz cosplay também. Quem faz cosplay
acaba pegando um pouco do personagem. Teve uma [gíria] que era uma brincadeira
que era o seguinte: de um anime chamado “Gundam”. A fala de um personagem.
Quando uma menina tá afim dele e manda uma carta ele rasga a carta e diz: maiua
koroso, que é: vou te matar! Então se fazia brincadeiras com as meninas, quando
alguém levava um fora dizia maiua koroso, coisa desse tipo” (Jorge, 22 anos).
“...gíria é quase impossível não pegar alguma coisa assim, por exemplo,
umas palavrinhas que a gente usa, tipo Baca, que significa idiota em japonês, é
também... algumas palavras que você vai ouvindo enquanto tá assistindo anime que
é meio impossível não assimilar. Quando você tá assistindo anime, você já sabe
sem a legenda, o significado de palavras que você já assimilou. Então, só por ouvir
você já pega. Conheço alguns [otakus] que estudam japonês, tanto pra poder ler os
mangás em japonês, tanto pra poder ouvir, entender o que os personagens tão
falando, no anime. Mas eu infelizmente, não tive oportunidade de ir lá e fazer, não
tive tempo. Tô fazendo faculdade, então, não dá muito tempo pra tudo. sempre que
possível eu procuro ler alguma coisa. No caso, atualmente eu tô lendo Musashi [livro
sobre um lendário samurai japonês]. Que é o maior samurai do Japão. Eu tô
gostando muito, é um livro maravilhoso, assim, e sempre que possível, que lançam,
e também a quantidade é pouca de livros publicados sobre o assunto
especificamente aqui no Brasil. É muito pouca se for comparar com, digamos, o que
é publicado no resto do mundo. Existe um interesse das pessoas por uma cultura
que é diferente da deles, então é necessário descobrir mais coisas. geralmente as
meninas são mais influenciadas pela moda dos animes, do Japão em si. Não só dos
animes, mas do pessoal japonês. Então você vê muita menina aqui com sainha, ou
então com um estilo assim meio parecido com colegial e tudo o mais. Mas os
meninos, não, os meninos geralmente ficam com seu estilo próprio, assim não são
muito afetados por isso não, geralmente são as mulheres que são mais afetadas
50
pela moda dos animes e do Japão. (Bruno, 25 anos, um dos organizadores dos
encontros).
O grupo aqui não é só de otakus, tem gente que gosta de video game,
pessoal que gosta de sair, ir pro shopping, engloba um grupo bem maior. Gente que
joga tabuleiro, card, RPG. Um grupo bem diverso. Bem misto. Talvez isso não
ocorra por isso (sic). Mas aqui no grupo tem o Ken, ele é japonês e esse nosso
colega o Ken, ele era bem tímido no começo, com o tempo é que ele se soltou mais,
mas ele era bem tímido. (Jorge, 22 anos).
20
Para os japoneses o tchá-no-yu (a cerimônia do chá) é uma disciplina mental para chegar a um estado de
calma, felicidade e simplicidade. O ritual é mantido com rigor desde o século XIX.
52
21
A editora Abril mantém um grupo de artistas brasileiros que escrevem e desenham histórias com
personagens Disney que são editadas tanto no Brasil como exportadas. O mesmo acontece na Itália, na Holanda
e em vários outros lugares.
54
CONCLUSÃO
Os Mangás já atingem uma grande parcela dos jovens, que têm assimilado a
cultura japonesa de forma semelhante a gerações anteriores que absorveram a
cultura americana, sejam os valores morais, familiares e sociais, sejam os modos de
vestir e de falar, evidenciando-se uma possível mudança de influência cultural sobre
uma parcela dos brasileiros, antes americana, agora japonesa, sendo necessário
uns acompanhamentos por parte dos educadores e da sociedade em geral.
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OS SUPER-HERÓIS dos quadrinhos (Top Tem Comic Book Heroes). Dirigido por
Richard Belfield. EUA: Discovery Channel, 2002, 1 DVD (50 min).