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HOFFMANN, Jussara - O Jogo em Avaliação
HOFFMANN, Jussara - O Jogo em Avaliação
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
Quando ocorre o debate ou quando se levanta esse problema logo vem à tona
questões relacionadas principalmente sobre as precárias e/ou cruéis situações nas salas de
aula de todo o país. Isso não é deixado de lado pela autora e não se pode deixar de levar
em consideração os desabafos dos professores e também não deixar desconsiderá-los na
proposta de reconstrução das práticas avaliativas.
É levantado o problema de como se dedicar intensamente a aluno por aluno em
situações de 35 a 40 estudantes falantes, barulhentos, curiosos, por vezes agressivos,
desinteressados. Em muitas dessas situações acontece o problema da impossibilidade de
observar e cuidar de cada um, o olhar vagueia pelo todo abarcando o grupo, na superfície
do coletivo e dessa forma desiste-se do envolvimento com cada aluno, será possível
avançarmos? Por onde começar?
“Há muito a fazer pela aprendizagem de todas as crianças por conta da massificação
do ensino, da desvalorização e da falta de formação dos educadores.”. O problema do
instrucionismo, do dar conta dos conteúdos, das apostilas, dos inúmeros fazeres e dos
compromissos nas escolas, os professores correm atrás do tempo e os estudantes correm
atrás dos professores. As aprendizagens ficam para trás. Muitos alunos ficam esquecidos no
meio do caminho.
Por conta dessa escola preocupada com os conteúdos, com as apostilas, o professor
chega onde quer ou onde a escola estabelece que deve chegar, sem ter como saber onde
os alunos se encontram de fato, se aprenderem ou não até ali.Assim a escola acaba
ficando impedida de buscar, para além da transmissão dos conteúdos. As formas do
pensamento, do conhecimento, da percepção, do raciocínio, o exercício da investigação?
É importante que se busque um olhar sereno, intenso e dedicado sobre histórias de
vida dos alunos e de suas trajetórias individuais de aprendizagem no sentido essencial da
mediação.
É preciso fazer o exercício de “aprender a olhar” aluno por aluno, conhecendo seu
espaço de vida, suas iniciativas, seu fazer de novo, seus afetos e desafetos, dissonâncias,
seus piercings e tatuagens, o inusitado tantas vezes. Cada professor deve deixar marcas
positivas nos estudantes com os quais interage. Esse é o primeiro ensinamento para iniciar
o jogo do contrário. Pensar em cada aprendiz de uma sala de aula, acabando com os
anonimatos, valorizando como sujeitos de sua própria história, assumindo o compromisso,
como educadores, de otimizar tempos e oportunidades de aprender.
TEMPO DE ADMIRAÇÃO
O tempo de admiração não se inicia com o ano letivo, mas antes de o professor
iniciar com os alunos, pesquisando nos arquivos das instituições, resgatando suas
histórias de vida, a partir de entrevistas com eles, de conversas com seus professores
de anos anteriores e familiares, da análise de tarefas e da leitura de registros de
avaliação, não somente em relação à escola básica, mas em todas as experiências de
vida de jovens e adultos do ensino médio e superior.
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É preciso que se criem espaços e tempos nas instituições de ensino para que se
organizem informações sobre alunos para que os professores analisem e compartilhem
suas observações, sem deixar para depois. Com relação às dificuldades dos professores
é importante salientar que o caminho para resolvê-las é o diálogo. Porque não há
educação sem diálogo, e o verdadeiro diálogo pressupõe retorno, interlocução,
reconstrução conjunta das práticas avaliativas.
É preciso ter clareza de que as aprendizagens dos alunos são de dimensões
diferentes para se realizar um trabalho eticamente responsável. Agressividade, apatia,
desinteresse, agitação, ausência, e muitas outras questões não explicam nem
justificam problemas de aprendizagem na escola. Em muitos casos que acompanhamos,
as condutas dos alunos melhoram sensivelmente à medida que eles avançaram na
alfabetização, na escrita, na leitura, nas disciplinas nas quais estavam sendo
orientados. O tempo de admirar em avaliação mediadora é o tempo da busca de outro
olhar. Um olhar que duvida do próprio olhar, um olhar que duvida sempre da primeira
impressão e que alcança o próprio aluno, dialoga com ele, com palavras e
silenciosamente, observa à distância sua relação com os outros. Uma escola que não
aprofunda o conhecimento sobre suas crianças e jovens, não lhes permite a autoria de
pensamento, pois traça expectativas irreais e ilusórias, atribuindo-lhe
responsabilidades, deveres em demasia ou aquém de suas potencialidades.
O aluno no processo de aprendizagem tem que ter a consciência de se perceber
aprendendo e de querer aprender mais. Portanto, ele não pode aprender para alguém
ou para alguma coisa, mas aprender pelo prazer da curiosidade, da superação
intelectual, aprender para si próprio e para a vida.
TEMPO DE REFLEXÃO
MEDIAR A MOBILIZAÇÃO?
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Avaliar nesse momento é manter-se atento ao interesse de cada um dos alunos nas
propostas pedagógicas em andamento, no sentido de refletir e provocar o seu desejo
de aprender. A intenção de avaliar na etapa de mobilização não é de analisar se o
aluno está aprendendo. Ele está aprendendo em todos os momentos da escola, mas não
é essa a maior intenção de o professor estar atento nesse momento. Esse é o tempo de
assegurar o interesse dele em aprender, pela organização e manutenção de um
ambiente provocativo significativo e adequado às suas possibilidades. O aluno não pode
estudar somente para a nota.
TEMPO DE RECONSTRUÇÃO
Por fim, a autora destaca as contribuições de Piaget e Vigotski, sem destacar suas
diferenças de concepção de mundo. Nesse caso, um complementando o disposto pelo
outro.
Segundo os estudos da linha de trabalho de Piaget, se sugere situações educativas
que privilegiem desafios cognitivos ao invés do “instrucionismo” que prevalece, hoje, nas
salas de aula. O desafio está em propor atividades provocativas aos alunos, desde
adequadas às suas possibilidades de desenvolvimento, o que lhes exige, então, um grande
conhecimento aos educandos.
Segundo os estudos de Vigotsky, o educador não deve levar em conta, como ponto
de partida para a ação pedagógica apenas o que o aluno já conhece ou faz, mas,
principalmente deve pensar nas potencialidades cognitivas dos educandos, fazendo outros
desafios e mais exigentes no sentido de envolvê-los em novas situações de modo a
provocá-los permanentemente, à superação cognitiva.
Hoffman conclui com a idéia que norteia todo o desenvolvimento do seu livro, de
que as escolas hoje agem de uma forma onde a avaliação é para se obter uma nota e
sendo assim, o que acontece é que no final do bimestre o aluno recebe uma sentença e
não uma avaliação que possibilite o seu processo de aprendizagem.
Julho/2007
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