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Psicopatia ou Sociopatia
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Os Transtornos de Personalidade são importantes porque podem representar propensões ou


prenunciar transtornos emocionais relativamente específicos mais tarde.

Os termos Psicopata ou Sociopata são sinônimos e são sinônimos também de Personalidade Psicopática,
Transtorno Antissocial da Personalidade. Esses termos, juntamente com conceitos como Personalidade
Criminosa, Propensão ao Delito e coisas assim, estão constantemente sendo revistos pela psiquiatria em geral
e, particularmente, pela Psiquiatria Forense. Essa temática também tem um grande interesse para a sociologia,
política e antropologia, na medida em que a sociedade tem se surpreendido com fenômenos de agressividade e
violência estarrecedoras associadas a quadros psíquicos dessa natureza.

As ocorrências de crimes seriais, juntamente com atitudes destrutivas e letais de fundo religioso e/ou político
e as atuais conturbações do mundo moderno, principalmente as grandes tragédias político-sociais que abalam
os grandes centros, como por exemplo as ações terroristas, têm chamado muito a atenção sobre a
destrutividade potencial ou crueldade que caracterizam a conduta de algumas pessoas consideradas
psicopatas. Pergunta-se se seriam mesmo psicopatas todas as pessoas envolvidas nessas ações cruéis?

Com finalidade didática estão agrupadas todos esses desvios da conduta humana que conflitam com os
padrões sociais normais da vida gregária sob a denominação de Transtornos da Linhagem Psicopática.

A psiquiatria em geral, em especial a psiquiatria forense, há tempos vem dedicando uma enorme preocupação
com o quadro conhecido por Psicopatia (ou Sociopatia, Transtorno Antissocial ou Transtorno Dissocial da
Personalidade, Transtorno Sociopático). A característica essencial do Transtorno Antissocial da
Personalidade é um padrão difuso de indiferença e violação dos direitos dos outros, o qual surge na infância
ou no início da adolescência e continua na vida adulta.

Trata-se de um terreno difícil e que exige cautela este que engloba as pessoas não enquadradas nas doenças
mentais, mas que se situarem à margem da normalidade psicoemocional. As implicações forenses desses
casos exigem da psiquiatria estudos exaustivos, notadamente sobre o grupo classificado como Transtornos da
Personalidade.

Violência e impulsividade no psicopata


As descrições da Psicopatia incluem déficits afetivos e alguns processos associados. Tais prejuízos afetivos
acabam por resultar em alterações cognitivas. Há, pois, uma tendência em se considerar as cognições como
propriedades da consciência com potencialidade de causar determinadas respostas emocionais e sociais.
Portanto, antes que o sujeito interaja com o objeto, ou seja, nesse caso específico, para que o sujeito psicopata
elabore considerações sobre sua realidade e com ela se relacione, obrigatoriamente deve-se refletir sobre suas
características cognitivas. Portanto, as bases biológicas da personalidade e de seus transtornos, onde se inclui
a psicopatia, muitas vezes resultam de cognições disfuncionais.

A psicopatologia em geral e a psiquiatria forense em especial têm dedicado, há tempo, uma enorme
preocupação com o quadro conhecido por Psicopatia (ou Sociopatia, Transtorno Dissocial, Transtorno
Sociopático, etc).
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O enorme interesse que o psicopata desperta se deve, em parte, ao desenvolvimento das pesquisas sobre as
bases neurobiológicas do funcionamento do cérebro em geral e, particularmente, da personalidade. Por outra
parte, a motivação para tais pesquisas deve-se também ao enorme potencial de destrutividade de alguns
psicopatas capazes de colocar em risco toda a sociedade. Estudar o potencial da destrutividade humana é
bastante interessante e pode mesmo ajudar a esclarecer alguns pontos em comum entre as grandes
manifestações de agressividade, como por exemplo, são as guerras, os genocídios, torturas, o terrorismo.

Lorenz e outros etólogos consideram a agressividade organizada uma aquisição evolutiva que aparece na
espécie humana há uns 40.000 anos, independentemente do diagnóstico de sociopata. Em sentido social, a
agressividade organizada despertou a necessidade de uma arma de sobrevivência mais eficaz. Nascia assim
uma forma especializada de agressão comunitária e organizada, um entusiasmo que agrega o grupo contra um
inimigo comum.

Uma das expressões da agressividade organizada seria a “paranoia da guerra”, que afeta e afetou populações
inteiras. Atualmente pode ser representada também por grupos étnicos, religiosos ou políticos que se unem
através de uma conduta agressiva em função de alguma ameaça comum a todos integrantes do grupo (ameaça
real ou acreditada).

Devido à falta de um consenso definitivo o tema violência estimula um virulento embate de opiniões entre os
mais diversos autores ao longo do tempo. Da mesma forma, variadas também são as posturas diante de casos
que resvalam na ética e na psicopatologia simultaneamente. As dificuldades vão desde a conceituação do
problema, até as questões psicopatológicas de diagnóstico e tratamento. Como seria de se esperar, também na
área forense as discordâncias são contundentes.

Tem-se que considerar vários aspectos vinculados com a agressão e com a Psicopatia. Um deles é a forte
relação existente entre agressão e impulsividade. Os vínculos entre agressão e impulsividade têm sido
minuciosamente estudados por Seroczynski. Entre os muitos traços de personalidade comórbidos estudados na
psicopatologia, a associação entre impulsividade e agressividade é um dos mais frequentes.

Para compreender melhor será importante distinguir a Agressão Depredadora (ou Proativa) da Agressão
Reativa. Por último, teríamos que ver a real relação da Psicopatia com os grandes criminosos, como por
exemplo, os assassinos em série e de massas. A Agressão Reativa tem sido definida como uma reação hostil à
uma frustração percebida. O indivíduo Agressivo Reativo reage exageradamente diante da menor provocação
e costuma ser explosivo e instável.

Por outro lado, na Agressão Proativa (ou Depredadora) a pessoa tem uma conduta agressiva e violenta
dirigida para uma meta determinada. Este tipo de agressor pode ser perigosíssimo e uma verdadeira ameaça
criminal para a sociedade. Vendo o problema desse jeito, podemos dizer que a Agressão Reativa é a que está
mais fortemente ligada à impulsividade, enquanto que a Agressão Proativa é mais elaborada, planejada e
premeditada.

Voltando agora à questão agressividade-impulsividade, e considerando a distinção das agressões em Proativa


e Reativa, pode ser perfeitamente possível uma pessoa ser agressiva sem ser impulsiva e, não
surpreendentemente, ser impulsivo sem ser agressivo. Então, para que estejamos certos, é necessário que a
natureza da agressividade e da impulsividade seja diferente e não, obrigatoriamente, a mesma.

Isso significa que, no desenvolvimento da personalidade, os fatores genéticos, ambientais ou a combinações


de ambos, capazes de influenciar nos traços de agressividade e impulsividade, atuando diferentemente em
diferentes pessoas. Barratt demonstrou em suas pesquisas que os criminosos impulsivos presos diferiam
daqueles que não eram impulsivos em várias medições neuropsicológicas, cognitivas e neurofisiológicas,
sugerindo com isso que os dois tipos de criminosos poderiam ter etiologia distinta. Apesar disso a ideia da
impulsividade e agressividade estarem sempre sobrepostas numa mesma pessoa tem sido bastante
apoiada.correlacionados.

Até o momento, tudo parece levar a crer que a impulsividade, que é o traço mais associado à Agressão
Reativa, teria muito mais influência genética do que a Agressão Proativa. Para essa Agressão Proativa ou
Depredadora as influências ambientais e vivenciais teriam um papel fundamental, tais como experiências
traumáticas ou ameaçadoras, precoces e duradouras.

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As pessoas que exibem comportamentos impulsivos têm, em geral, outros problemas de conduta e/ou
emocionais. A irritabilidade, e não a agressividade, parece ser o sintoma mais fortemente relacionado com a
impulsividade. De outra forma, a possível relação entre Agressão Reativa e impulsividade parece provir das
redes neuronais que manejam o controle da impulsividade, bem como dos fatores neuroquímicos do cérebro.

O déficit do Psicopata na capacidade de apegar-se ou vincular-se aos outros pode também ser melhor
conceitualizado por vias neurológicas inespecífica ou uma configuração incomum de genes. Outra opção
causal sugere um defeito que resulta em uma superabundância de impulsos agressivos ou um defeito nas
funções psíquicas inibitórias, ou ainda, na combinação de ambos.

Dessa forma, um defeito do Superego, juntamente com uma predisposição inata para impulsividade e
agressividade, mais a natureza adversa de experiências infantis precoces (normalmente antes dos 36 meses),
criariam condições propícias para o desenvolvimento da Personalidade Psicopática.

Personalidade
Personalidade – Geral
Transtornos da Personalidade
Psicopatia ou Sociopatia
Personalidade e Violência
Personalidade Borderline
Personalidade e Crime
Transtorno de Conduta
Alteração da Personalidade
Personalidade e Moral
Personalidade Introvertida
Personalidade e Dependência

Personalidade Antissocial ou Sociopática


Pessoas com Transtorno Antissocial da Personalidade não se ajustam às normas sociais ou aos
comportamentos legais. Podem realizar repetidas vezes atos com implicações policiais, tais como destruir
propriedade alheia, assediar outras pessoas, roubar ou ter ocupações ilegais.

Pessoas com esse transtorno desrespeitam os desejos, direitos ou sentimentos dos outros. Com frequência,
enganam e manipulam para obter ganho ou prazer pessoal, como por exemplo, conseguir dinheiro, sexo ou
poder. Podem mentir reiteradamente, usar nomes falsos, trapacear ou fazer maldades.

A comum impulsividade pode ser uma compensação pelo fracasso em fazer planos para o futuro. As decisões
são tomadas no calor do momento, sem análise e sem consideração em relação às consequências. Isso acaba
levando à mudanças de emprego, moradia ou relacionamentos.

Pessoas com o transtorno tendem a ser irritáveis e agressivos e podem envolver-se em lutas corporais ou
cometer atos de agressão física, inclusive espancamento de cônjuge ou filho.

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Geralmente essas pessoas demonstram descaso pela segurança própria ou dos outros. Isso pode ser visto no
comportamento imprudente e desafiador na direção de veículos.

Elas também podem se envolver em comportamento sexual ou uso de substância com alto risco de
consequências nocivas. Podem negligenciar ou falhar em cuidar de uma criança a ponto de colocá-la em
perigo.

O Transtorno da Personalidade Antissocial é mais comum entre familiares biológicos de primeiro grau
daqueles que têm o transtorno em comparação com a população em geral.

Dentro de uma família na qual um membro apresenta Transtorno da Personalidade Antissocial, os indivíduos
do sexo masculino têm mais frequentemente esse transtorno e também de transtorno por uso de substância,
ao passo que pessoas do feminino apresentam com mais frequência transtorno de sintomas somáticos.

Estudos sobre adoção indicam que fatores genéticos e ambientais contribuem para o risco de
desenvolvimento do Transtorno da Personalidade Antissocial, segundo o DSM-5.

Tanto filhos adotivos quanto biológicos de pais com o Transtorno da Personalidade Antissocial têm risco
aumentado de desenvolver esse transtorno, assim como do transtorno de sintomas somáticos e do transtornos
por uso de substância.

Taxas de prevalência de 12 meses de transtorno da personalidade antissocial, utilizando critérios do DSM,


situam-se entre 0,2 e 3,3%. A mais alta (maior do que 70%) está entre as amostras mais graves de pessoas do
sexo masculino internos em instituições especializadas em transtorno por uso de álcool, em abuso de
substância, prisões ou outros ambientes forenses.

A prevalência é maior em amostras afetadas por fatores socioeconômicos, como por exemplo a pobreza ou
socioculturais (por exemplo a migração) segundo o DSM-5.

Conceitos controversos
O que mais se percebe em relação à Personalidade Psicopática são as controvérsias entre os vários autores e
nas várias épocas, mas de alguma forma, há uma perene tendência em se apontar para três conceitos básicos.

A primeira posição reflete uma tendência mais constitucionalista (intrínseca, orgânica), entendendo que o
psicopata se origina de uma constituição especial, geneticamente determinado e, em consequência dessa
organicidade, pouco se pode fazer. A segunda tendência é a social ou extrínseca, acreditando que a sociedade
faz o psicopata, a sociedade faz a seus próprios criminosos por não lhes dar os meios educativos e/ou
econômicos necessários.

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Através da análise de dois sistemas educacionais para problemas comportamentais, tal como a escola inglesa
Lymam, com um sistema disciplinar rígido, autoritário, duro, e a escola Wiltwyck, americana, onde a ideia
era criar um ambiente cálido, afetuoso, propenso a amistosidade, uma “disciplina de amor” segundo cita
Cinta Mocha (Garrido), a tendência da causa externa, ou extrínseca, da psicopatia estaria excluída. Isso
porque os psicopatas constituíram o 35% da população em ambas escolas. A instituição americana Wiltwyck
teve um marcante êxito inicial, mas a taxa de reincidência em atitudes antissociais ao longo de alguns anos
de acompanhamento foi absolutamente o mesmo.

A terceira escola é a psicanalista, que só trata das perversões em relação com a sexualidade. Quando o
transtorno implica outras pulsões, Freud fala de libidinização da dita pulsão, a qual havia sido “pervertida”
pela sexualidade. A perversão adulta aparece como a persistência ou reaparição de um componente parcial
da sexualidade. A perversão seria uma regressão a uma fixação anterior da libido.

A maioria dos autores dessa época procurava substituir o conceito de “constituição psicopática” por
“personalidades psicopáticas” já que sua etiologia não era claramente definida. Mas, apesar da etiologia
não ser claramente entendida, o quadro clínico da personalidade psicopática foi sendo cada vez mais
claramente descrito.

Eissler, no final da década de 40, considerava os psicopatas como indivíduos com ausência de sentimentos de
culpa e da ansiedade normal, superficialidade de objetivos de vida e extremo egocentrismo. Os irmãos Mc
Cord, em 1956, descrevem sua “síndrome psicopática” com as seguintes características: escasso ou nenhum
sentimento de culpa, capacidade de amar muito prejudicada, graves alterações na conduta social,
impulsividade e agressão.

Outros autores, resumindo, nas décadas sucessivas de 60 e 70, foram também definindo os traços
característicos da psicopatia com termos tais como; perturbações afetivas, perturbações do instinto,
deficiência superegoica, tendência a viver só o presente, baixa tolerância a frustrações.

Classicamente, hoje em dia e resumindo a evolução do conceito, a Personalidade Psicopática tem sido
caracterizada principalmente por ausência de sentimentos afetuosos, amoralidade, impulsividade, falta de
adaptação social e incorrigibilidade.

A evolução dos conceitos sobre a Personalidade Psicopática oscilou por mais de um século entre o binário
orgânico-psicológico, passando à transitar também sobre as tendências sociais e aportou, finalmente, em uma
idéia bio-psico-social que, senão a mais verdadeira, ao menos se mostrou a mais sensata.

Historia do conceito
O conceito de Psicopata, Personalidade Psicopática ou, mais recentemente, Sociopata é um tema que vem
preocupando a psiquiatria, a justiça, a antropologia, a sociologia e a filosofia desde a antiguidade.
Evidentemente essa preocupação contínua e perene existe porque sempre houve personalidades anormais
como parte da população geral.

Psicopatas são pessoas cujo tipo de conduta chama fortemente a atenção e que não se podem qualificar de
loucos nem de débeis; elas estão num campo intermediário. São indivíduos que se separam do grosso da
população em termos de comportamento, conduta moral e ética. Segue a opinião dos vários autores ao longo
da história sobre a Personalidade Psicopática.

Cardamo
Uma das primeiras descrições registradas pela medicina sobre algum comportamento que pudesse se
identificar à ideia de Personalidade Psicopática foi a de Girolano Cardamo (1501-1596), um professor de
medicina da Universidade de Pavia. O filho de Cardamo foi decapitado por ter envenenado sua mãe, mulher
de Cardamo, com raízes venenosas. Neste relato, Cardamo fala em “improbidade”, quadro que não alcançava
a insanidade total porque as pessoas que disso padeciam mantinham a aptidão para dirigir sua vontade.

Pablo Zacchia (1584-1654), considerado por alguns como fundador da Psiquiatria Médico Legal, descreve,
em Questões Médico Legais, as mais notáveis concepções que logo dariam significação às “psicopatias” e aos
“transtornos de personalidade”.

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Pinel
Em 1801, Philippe Pinel publica seu Tratado médico filosófico sobre a alienação mental e fala de pessoas que
têm todas as características da mania, mas que carecem do delírio. Temos que entender que Pinel chamava de
mania aos estados de furor persistentes e comportamento florido, distinto do conceito atual de mania (Berrios,
1993).

Dizia, no tratado, que se admirava de ver muitos loucos que, em nenhum momento apresentavam prejuízo
algum do entendimento, e que estavam sempre dominados por uma espécie de furor instintivo, como se o
único dano fosse em suas faculdades instintivas. A falta de educação, uma educação mal dirigida ou traços
perversos e indômitos naturais, podem ser as causas desta espécie de alteração (Pinel, 1988).

Prichard
Prichard, tanto quanto Pinel, lutava contra a ideia do filósofo Locke, o qual dizia não poder existir mania sem
delírio, ou seja, mania sem prejuízo do intelecto. Portanto, nessa época, os juízes não declaravam insana
nenhuma pessoa que não tivesse um comprometimento intelectual manifesto (normalmente através do
delírio). Pinel e Pricharde tratavam de impor o conceito segundo o qual existiam insanidades sem
comprometimento intelectual, mas possivelmente com prejuízo afetivo e volitivo (da vontade). Tal posição
acabava por sugerir que essas três funções mentais, o intelecto, afetividade, e a vontade, poderiam adoecer
independentemente.

Foi em 1835 que James Cowles Prichard publica sua obra Treatise on insanity and other disorders affecting
the mind, a qual falava da Insanidade Moral. A partir dessa obra, o historiador G. Berrios (1993) discute o
conceito da Insanidade Moral como o equivalente ao nosso atual conceito de psicopatia.

Morel
Morel, em 1857, parte do religioso para elaborar sua teoria da degeneração. O ser humano tinha sido criado
segundo um tipo primitivo perfeito e, todo desvio desse tipo perfeito, seria uma degeneração. A essência do
tipo primitivo e, portanto, da natureza humana, é a contínua supremacia ou dominação do moral sobre o
físico. Para Morel, o corpo não é mais que “o instrumento da inteligência”.

A doença mental inverteria esta hierarquia e converteria o ser humano “em besta”. Uma doença mental não é
mais que a expressão sintomática das relações anormais que se estabelecem entre a inteligência e seu
instrumento doente, o corpo.

A degeneração de um indivíduo se transmite e se agrava ao longo das gerações, até chegar à decadência
completa (Bercherie, 1986). Alguns autores posteriores, como é o caso de Valentím Magnam, suprimiram o
elemento religioso das ideias de Morel e acentuaram os aspectos neurobiológicos. Estes conceitos afirmavam
a ideologia da hereditariedade e da predisposição em varias teorias sobre as doenças mentais.

Koch e Gross
Em 1888, Koch (Schneider, 1980) fala de Inferioridades Psicopáticas, mas se refere à inferioridades no
sentido social e não moral, como se referiam anteriormente outros autores. Para Koch, as inferioridades
psicopáticas eram congênitas e permanentes e divididas em três formas:

– disposição psicopática,
– tara psíquica congênita e
– inferioridade psicopática.

Dentro da primeira forma, Disposição Psicopática, se encontram os tipos psicológicos astênicos, de


Schneider. A Tara inclui a “as almas impressionáveis, os sentimentais lacrimosos, os sonhadores e
fantásticos, os escrupulosos morais, os delicados e susceptíveis, os caprichosos, os exaltados, os excêntricos,
os justiceiros, os reformadores do estado e do mundo, os orgulhosos, os indiscretos, os vaidosos e os
presumidos, os inquietos, os malvados, os colecionadores e os inventores, os gênios fracassados e não
fracassados”. Todos estes estados são causados por inferioridades congênitas da constituição cerebral, mas
não são consideradas doenças.

Otto Gross, por sua vez, dizia que o retardo dos neurônios para estabilizarem-se depois da descarga elétrica
determinava diferenças no caráter. Assim em seu livro Inferioridades Psicopáticas, a recuperação neuronal

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rápida determinava indivíduos tranquilos e os de estabilização neuronal mais lenta, ou seja, com maior
duração da estimulação, seriam os excitáveis, portadores dessa inferioridade.

Kraepelin
Kraepelin, quando faz a classificação das doenças mentais, em 1904, usa o término Personalidade
Psicopática para referir-se, precisamente, às pessoas que não são neuróticas nem psicóticas, também não
estariam incluídas no esquema de mania-depressão, mas que estariam em choque contundente com os
parâmetros sociais vigentes. Incluem-se aqui, segundo Kraepelin, os criminosos congênitos, a
homossexualidade, os estados obsessivos, a loucura impulsiva, os inconstantes, os embusteiros e farsantes e
os querelantes (Schneider, 1980).

Para Kraepelin, as personalidades psicopáticas são formas frustras de psicose, classificadas segundo um
critério fundamentalmente genético e considera que seus defeitos se limitam essencialmente à vida afetiva e à
vontade (Bruno, 1996).

Autores mais recentes


Schneider
Em 1923, Schneider elabora uma conceituação e classificação do que seria para ele a Personalidade
Psicopática. Schneider (1980) descarta no conjunto classificatório da personalidade atributos tais como, a
inteligência, os instintos e sentimentos corporais e valoriza como elementos distintivos o conjunto dos
sentimentos e valores, das tendências e vontades.

Para Kurt Schneider as Personalidades Psicopáticas formam um subtipo daquilo que classificava como
Personalidades Anormais, de acordo com o critério estatístico e da particularidade de sofrerem por sua
anormalidade e/ou fazerem outros sofrer.

Entretanto, a classificação de Personalidade Psicopática não pode ser reconhecida ou aceita pelo próprio
paciente e, às vezes, nem mesmo por algum grupo social pois, a característica de fazer sofrer os outros ou a
sociedade é demasiadamente relativo e subjetivo: um revolucionário, por exemplo, é um psicopata para alguns
e um herói para outros.

Em consequência dessa relatividade de diagnóstico (devido à relatividade dos valores), não é lícito ou válido
realizar um diagnóstico do mesmo modo que fazemos com as outras doenças. Resumindo, pode-se destacar
neles certas características e propriedades que os caracterizam de maneira nada comparável aos sintomas de
outras doenças. O Psicopata é, simplesmente, uma pessoa assim.

Na concepção de Schneider, o psicopata não tem uma psicopatia, no sentido de quem tem uma tuberculose, ou
algo transitório, mas ele É um psicopata. Psicopata é uma maneira de ser no mundo, é uma maneira de ser
estável.

Como em tantas outras tendências, também há um certo determinismo na concepção de Schneider. Para ele os
psicopatas são assim em toda situação vital e sob todo tipo de circunstâncias. O psicopata é um indivíduo que
não leva em conta as circunstâncias sociais, é uma personalidade estranha, separada do seu meio. A psicopatia
não é, portanto, exógena, sendo sua essência constitucional e inata, no sentido de ser preexistente e
emancipada das vivências.

Mas a conduta do psicopata nem sempre é psicopática o tempo todo, existindo momentos, fases e
circunstâncias de condutas adaptadas, as quais permitem que ele passe desapercebido em muitas áreas do
desempenho social. Essa dissimulação garante sua sobrevivência social.

Kurt Schneider englobou no conceito de Personalidade Psicopática todos os desvios da normalidade não
suficientes para serem considerados doenças mentais francas, incluindo nesses tipos também aquele que hoje
entendemos como sociopata. Dizia que a Personalidade Psicopática (que não tinha o mesmo conceito do
sociopata de hoje) era aquela personalidade anormal que sofre por sua anormalidade e/ou faz sofrer a
sociedade. Ele distinguia os seguintes tipos de Personalidade Psicopática:

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1) Hipertímicos,
2) Depressivos,
3) Inseguros,
4) Fanáticos,
5) Carentes de Atenção,
6) Emocionalmente Lábeis,
7) Explosivos,
8) Desalmados,
9) Abúlicos, e
10) Astênicos.

Evidentemente, o que entendemos hoje por psicopata ou sociopata seria, na classificação de Schnneider, os
Desalmados. Muito mais tarde Mira y López definiu a Personalidade Psicopática como “…aquela
personalidade mal estruturada, predisposta à desarmonia intrapsíquica, que tem menos capacidade que a
maioria dos membros de sua idade, sexo e cultura para adaptar-se às exigências da vida social”. E considerava
11 tipos dessas personalidades anormais muito semelhantes aos tipos de Schnneider. Eram os tipos de Mira y
López:

1) Astênica,
2) Compulsiva,
3) Explosiva,
4) Instaável,
5) Histérica,
6) Ciclóide,
7) Sensitivo-paranóide,
8) Esquizóide,
9) Perversa,
10) Hipocondríaca, e
11) Homosexual.

Cleckley
Em 1941 Cleckley escreveu um livro chamado “A máscara da saúde”, o qual se referia a este tipo de pessoas.
Em 1964 descreveu as características mais frequentes do que hoje chamamos psicopatas. Em 1961, Karpmam
disse “dentro dos psicopatas há dois grandes grupos; os depredadores e os parasitas” (fazendo uma analogia
biológica). Os depredadores são aqueles que tomam as cosas pela força e os parasitas tomam-nas através da
astúcia e do engodo.

Cleckley, estabeleceu, em “A máscara da saúde”, alguns critérios para o diagnóstico de seu modelo de
psicopata, em 1976, Hare, Hart e Harpur, completaram esses critérios. Somando-se as duas listas podemos
relacionar as seguintes características:

 Critérios para diagnóstico do Psicopata (Hare, Hart , Harpur)


1. Problemas de conduta na infância.
2. Inexistência de alucinações e delírio.
3. Ausência de manifestações neuróticas.
4. Impulsividade e ausência de autocontrole.
5. Irresponsabilidade
6. Encanto superficial, notável inteligência e loquacidade.
7. Egocentrismo patológico, autovalorização e arrogância.
8. Incapacidade de amar.
9. Grande pobreza de reações afetivas básicas.
10. Vida sexual impessoal, trivial e pouco integrada.
11. Falta de sentimentos de culpa e de vergonha.
12. Indigno de confiança, falta de empatia nas relações pessoais.
13. Manipulação do outro com recursos enganosos.
14. Mentiras e insinceridade.
15. Perda específica da intuição.
16. Incapacidade para seguir qualquer plano de vida.

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17. Conduta anti-social sem aparente arrependimento.


18. Ameaças de suicídio raramente cumpridas.
19. Falta de capacidade para aprender com a experiência vivida.

Henry Ey
Henry Ey, em seu “Tratado de Psiquiatria”, inclui as Personalidades Psicopáticas dentro do capítulo das
doenças mentais crônicas, as quais considerava como um desequilíbrio psíquico resultante das anomalias
caracteriológicas das pessoas. Cita as características básicas das Personalidades Psicopáticas como sendo a
anti-sociabilidade e impulsividade (Bruno, 1996). A ideia dos Transtornos de Personalidade tal como
sugerido pelo DSM começou em 1966 com Robins.

Pessoa explosiva não significa que seja psicopata


Os Transtornos de Personalidade afetam todas as áreas de influência da personalidade de um indivíduo, o


modo como ele vê o mundo, a maneira como expressa as emoções, o comportamento social. Caracteriza um
estilo pessoal de vida mal adaptado, inflexível e prejudicial a si próprio e/ou aos que com ele convivem.

Essas características no entanto apesar de necessárias não são suficientes para identificação dos Transtornos
de Personalidade, pois são muito vagas. A maneira como a classificação deste problema vem sendo tratada é
através da subdivisão em tipos de personalidade patológica.

Agressividade e Personalidade

Os impulsos agressivos e destrutivos podem fazer parte do Transtorno Explosivo Intermitente. Tais impulsos,
esporádicos, tanto podem fazer-se contra objetos como contra pessoas, inclusive contra a própria pessoa,
configurando assim todas as formas e graus de hétera e/ou auto-agressividade.

Na realidade, contrário do que alguns pacientes acham e até dizem com uma ponta de orgulho que “quando
fico nervoso fico fora de mim” ou “sou calmo até que não mexam comigo”, esse comportamento não é uma
atitude corajosa ou meritosa.

Trata-se, de fato, de um fracasso e incompetência em resistir aos impulsos agressivos, resultando em sérias
agressões e destruição de propriedade.

Assim sendo, a característica do Transtorno Explosivo Intermitente é a ocorrência de episódios definidos de


fracasso em resistir a impulsos agressivos, acarretando sérios atos agressivos ou a destruição de
propriedades.

O grau de agressividade expressada durante um episódio é amplamente desproporcional a qualquer estressor


desencadeante.

Alguns autores preferem denominar o Transtornos Explosivos da Personalidade como Transtorno Explosivo


Intermitente ou Síndrome de Descontrole Episódico, o que é a mesma coisa. Trata-se de ataques recorrentes
de violência incontrolável, frequentemente desencadeadas por estimulação mínima ou mesmo nenhuma e que
transforma completamente a personalidade do indivíduo naquele instante.

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Esta síndrome pode ser uma das causas de homicídios não planejados, ataques sem sentido à pessoas
estranhas, agressões físicas desproporcionais, direção criminosa de veículos, destruição brutal de
propriedades e ataques selvagens à animais.

A incidência, quadro clínico, curso e evolução dos Transtornos Explosivos Intermitentes, na prática clínica,
autoriza considerarmos o álcool como a mais importante estimulação para desencadear a crise de violência.
Academicamente entretanto, quando for assim, aceita-se a denominação genérica de Embriagues Patológica
para estes casos.

De qualquer forma, a superposição desses dois diagnósticos é muitíssimo frequente e, entre os pacientes
portadores de Embriagues Patológica e Transtornos Explosivos Intermitentes encontramos uma incidência
significativa de epiléticos. Assim sendo, há uma certa familiaridade entre essas 3 ocorrências
psicopatológicas.

Segundo o DSM, a característica essencial do Transtorno Explosivo Intermitente é a ocorrência de episódios


bem definidos onde a pessoa fracassa em resistir a impulsos agressivos, e o grau de agressividade expressada
durante esses episódios é amplamente desproporcional à eventual provocação ou ao eventual estressor
psicossocial desencadeante. Tais crises normalmente acarretam sérios atos agressivos ou destruição de
propriedades.

Conceitos psicanalíticos
Tem havido bastante controvérsia em relação ao conceito de Personalidade Psicopática ou Antissocial. Há
autores que diferenciam psicopata de antissocial, mas em geral essa distinção é dispensável em benefício do
melhor entendimento do conceito. Howard sugere que os conceitos de psicopatia podem agrupar-se em três
tipos:

Conceitos de Psicopatia de Howard


1) Um tipo Sociopata, caracterizado por conduta anti-social crônica que começa na infância ou adolescência
como Transtorno de Conduta;
2) Um tipo Secundário,  caracterizado por um traço de personalidade com alto nivel de impulsividade,
isolamento social, e perturbações emocionais (a conduta sociopática seria secundária à essas alterações
emocionais e da sociabilidade); e
3) Um tipo Primário caracterizado apenas por a impulsividade sem isolamento social e perturbações
emocionais (a qual pode-se aplicar aos criminosos comuns).

Isso não implica que cada um desses três tipos seja mutuamente excludente; a sociopatia é vista como um
conceito amplo que engloba tanto a psicopatia primária como a secundária, assim como uma alta proporção
de criminosos comuns.

Autores psicanalíticos consideram a Psicopatia uma grave patologia do Superego e uma síndrome de
Narcisismo Maligno, cujas características seriam a conduta antissocial, agressão ego-sintônica dirigida

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contra outros em forma de sadismo, ou dirigida contra se mesmo em forma de tendências automutiladoras ou
suicidas sem depressão e conduta paranóide.

A estrutura de tipo narcísica do psicopata teria a seguintes características: autorreferência excessiva,


grandiosidade, tendência à superioridade exibicionismo, dependência excessiva da admiração por parte dos
outros, superficialidade emocional, crises de insegurança que se alternam com sentimentos de grandiosidade.

Portanto, dentro das relações de objeto (com os outros), seria intensa a rivalidade e inveja, consciente e/ou
inconscientemente, refletidos na contínua tendência para exploração do outro, incapacidade de depender de
outros, falta de empatia com para com outros, falta de compromisso interno em outras relações.

Otto Kemberg vê neste narcisismo patológico um componente psicodinâmico para o diagnóstico da


psicopatia. O narcisismo não patológico é consequência de uma boa evolução do Ego, uma aceitação da
realidade e como essa realidade pode ser usada para satisfazer as necessidades dirigidas ao exterior e ao
objeto. As pessoas que não realizaram bem esta formação, por não haver interiorizado suficiente amor e
estima recebidos do meio, acabam por desenvolver defesas narcisistas muito fortes.

Narcisismo Maligno
Muitas vezes é extremamente difícil fazer o diagnóstico da psicopatia, quando a situação clínica não está
claramente definida. Por isso Otto Kernberg faz um diagnóstico diferencial entre três tipos de ocorrências
antissociais:

1) A Síndrome do Narcisismo Maligno, representando o Psicopata cuja eventual causa da sociopatia seria
fruto do meio e de elementos psicodinâmicos. Aqui a conduta antissocial tem origem no Narcisismo Maligno,
há incapacidade em estabelecer relações que não sejam exploradoras, não existe capacidade de identificar
valores morais, não existe capacidade de compromisso com os outros e não há sentimentos de culpa;

2) A Estrutura Antissocial Propriamente Dita. Aqui o quadro é basicamente o mesmo da anterior, ou seja,
também se manifestam condutas antissociais mas não há o fenômeno do Narcisismo Maligno. Há também
incapacidade de relações não exploradoras, incapacidade de identificação dos valores morais, incapacidade
de compromisso com outros e incapacidade de sentimentos de culpa.

3) A Personalidade Narcísica com Conduta Antissocial. Além da conduta antissocial existe uma estrutura
narcísica. Não há Narcisismo Maligno, há igualmente incapacidade de relações não exploradoras,
incapacidade de identificar valores morais, incapacidade de compromisso com os outros, porém, existe
capacidade de sentimento de culpa (Kernberg, 1988).

Principais Características
1. – Encanto superficial e manipulação
Nem todos psicopatas são encantadores, mas é expressivo o grupo deles que utilizam o encanto pessoal e,
consequentemente, a capacidade de manipulação de pessoas, como meio de sobrevivência e parasitismo
social.

Através do encanto superficial o psicopata acaba coisificando as pessoas, ele as usa e quando não o servem
mais descarta-as, tal como uma coisa ou uma ferramenta usada. Talvez seja esse processo de coisificação a
chave para compreendermos a absoluta falta de sentimentos do psicopata para com seus semelhantes ou para
com os sentimentos de seus semelhantes. Ele segue transformando seu semelhante numa coisa que deixa de
ser seu semelhante.

O encanto, a sedução e a manipulação são fenômenos que se sucedem no psicopata. Partindo do princípio de
que não se pode manipular alguém que não se deixe manipular, só será possível manipular alguém se esse
alguém foi antes seduzido.

2. – Mentiras sistemáticas e Comportamento fantasioso.


Embora qualquer pessoa possa mentir, temos de distinguir a mentira banal da mentira psicopática. O psicopata
utiliza a mentira como uma ferramenta de trabalho. Normalmente está tão treinado e habilitado a mentir que é
difícil perceber quando mente. Ele mente olhando nos olhos e com atitude completamente neutra e relaxada.

O psicopata não mente circunstancialmente ou esporadicamente para conseguir safar-se de alguma situação.
Ele sabe que está mentindo, não se importa, não tem vergonha ou arrependimento, nem sequer sente desprazer
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quando mente. E mente, muitas vezes, sem nenhuma justificativa ou motivo.

Normalmente o psicopata diz o que convém e o que se espera para aquela circunstância. Ele pode mentir com
a palavra ou com o corpo, quando simula e teatraliza situações vantajosas para ele, podendo fazer-se
arrependido, ofendido, magoado, simulando tentativas de suicídio, etc.

É comum que o psicopata priorize algumas fantasias sobre circunstâncias reais. Isso porque sua personalidade
é narcísica, quer ser admirado, quer ser o mais rico, mais bonito, melhor vestido. Assim, ele tenta adaptar a
realidade à sua imaginação, à seu personagem do momento, de acordo com a circunstância e com sua
personalidade é narcísica. Esse indivíduo pode converter-se no personagem que sua imaginação cria como
adequada para atuar no meio com sucesso, propondo a todos a sensação de que estão, de fato, em frente a um
personagem verdadeiro.

3. – Ausência de Sentimentos Afetuosos


Desde criança se observa, no psicopata, um acentuado desapego aos sentimentos e um caráter dissimulado.
Essa pessoa não manifesta nenhuma inclinação ou sensibilidade por nada e mantém-se normalmente
indiferente aos sentimentos alheios.

Os laços sentimentais habituais entre familiares não existem nos psicopatas. Além disso, eles têm grande
dificuldade para entender os sentimentos dos outros mas, havendo interesse próprio, podem dissimular esses
sentimentos socialmente desejáveis. Na realidade são pessoas extremamente frias, do ponto de vista
emocional.

4. – Amoralidade
Os psicopatas são portadores de grande insensibilidade moral, faltando-lhes totalmente juízo e consciência
morais, bem como noção de ética.

5. – Impulsividade
Também por debilidade do Superego e por insensibilidade moral, o psicopata não tem freios eficientes à sua
impulsividade. A ausência de sentimentos éticos e altruístas, unidos à falta de sentimentos morais, impulsiona
o psicopata a cometer brutalidades, crueldades e crimes.

Essa impulsividade reflete também um baixo limiar de tolerância às frustrações, refletindo-se na desproporção
entre os estímulos e as respostas, ou seja, respondendo de forma exagerada diante de estímulos mínimos e
triviais. Por outro lado, os defeitos de caráter costumam fazer com que o psicopata demonstre uma absoluta
falta de reação frente a estímulos importantes.

6. – Incorrigibilidade
Dificilmente ou nunca o psicopata aceita os benefícios da reeducação, da advertência e da correção. Podem
dissimular muito bem durante algum tempo seu caráter torpe e antissocial, entretanto, na primeira
oportunidade voltam à tona com as falcatruas de praxe.

7. – Falta de Adaptação Social


Já nos primeiros contatos sociais o psicopata, desde criança, manifesta uma certa crueldade e tendência a
atividades delituosas. A adaptação social também fica comprometida, tendo em vista a tendência acentuada do
psicopata ao egocentrismo e egoísmo, características estas percebidas pelos demais e responsável pelas
dificuldades de sociabilidade.

Mesmo no meio familiar o psicopata tem dificuldades de adaptação. Durante o período escolar tornam-se
detestáveis tanto pelos professores quanto pelos colegas, embora possam dissimular seu caráter sociopático
durante algum tempo. Nos empregos a inconstância é a característica principal.

Critérios Diagnósticos para Transtorno da Personalidade Antissocial – DSM-5


A. Um padrão difuso de desconsideração e violação dos direitos das outras pessoas que ocorre
desde os 15 anos de idade, conforme indicado por três (ou mais) dos seguintes:
1. Fracasso em ajustar-se às normas sociais relativas a comportamentos legais, conforme indicado pela
repetição de atos que constituem motivos de detenção.
2. Tendência à falsidade, conforme indicado por mentiras repetidas, uso de nomes falsos ou de trapaça
para ganho ou prazer pessoal.

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3. Impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro.


4. Irritabilidade e agressividade, conforme indicado por repetidas lutas corporais ou agressões físicas.
5. Descaso pela segurança de si ou de outros.
6. Irresponsabilidade reiterada, conforme indicado por falha repetida em manter uma conduta consistente
no trabalho ou honrar obrigações financeiras.
7. Ausência de remorso, conforme indicado pela indiferença ou racionalização em relação a ter ferido,
maltratado ou roubado outras pessoas.
B. O indivíduo tem no mínimo 18 anos de idade.
C. Há evidências de transtorno da conduta com surgimento anterior aos 15 anos de idade.
D. A ocorrência de comportamento antissocial não se dá exclusivamente durante o curso de esquizofrenia
ou transtorno bipolar.

Características Diagnósticas segundo o DSM-5


A característica essencial do transtorno da personalidade antissocial é um padrão difuso de indiferença e
violação dos direitos dos outros, o qual surge na infância ou no início da adolescência e continua na vida
adulta.

Esse padrão também já foi referido como psicopatia, sociopatia ou transtorno da personalidade dissociai.
Visto que falsidade e manipulação são aspectos centrais do transtorno da personalidade antissocial, pode ser
especialmente útil integrar informações adquiridas por meio de avaliações clínicas sistemáticas e informações
coletadas de outras fontes colaterais.

Para que esse diagnóstico seja firmado a pessoa deve ter no mínimo 18 anos de idade e deve ter apresentado
alguns sintomas de transtorno da conduta antes dos 15 anos. O transtorno da conduta acomete pessoas até os
18 anos de idade e envolve um padrão repetitivo e persistente de comportamento no qual os direitos básicos
dos outros ou as principais normas ou regras sociais apropriadas à idade são violados.

O padrão de comportamento antissocial continua até a vida adulta. As pessoas com com transtorno da
personalidade antissocial não têm êxito em ajustar-se às normas sociais referentes a comportamento legal.
Podem repetidas vezes realizar atos que são motivos de detenção, tais como destruir propriedade alheia,
assediar outras pessoas, roubar ou ter ocupações ilegais.

Com frequência essas pessoas podem ser irresponsáveis e exploradores nos seus relacionamentos sexuais.
Podem ter história de vários parceiros sexuais e jamais ter mantido um relacionamento monogâmico. Como
pais, podem ser irresponsáveis, conforme evidenciado por desnutrição de um filho, doença de um filho
resultante de falta de higiene mínima, dependência de vizinhos

Desalmado na paz, herói na guerra ?


Há quem, mediante árdua ginástica mental, evoca até as teorias da evolução e sobrevivência da espécie para
especular sobre os psicopatas como uma espécie de indivíduos dotados de atitudes naturais para a

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sobrevivência da espécie, do grupo. Diante de uma emergência seriam as pessoas capazes de responder com
características não habituais para fazer frente à situação totalmente anômala, imprevista e ameaçadora.

Assim, num caso de guerra, aquele que se conduz como desalmado, cruel e insensível aparece como o herói,
aquele que toma a frente, que assume riscos, que leva ações adiante e que se destaca da maioria. Em tempo
de paz, essas condutas caracterizariam a delinqüência, criminalidade, etc. Isso seria o mesmo que afirmar
que “tarado é uma pessoa normal pega em flagrante”.

A tendência em descobrir méritos nas atitudes sociopáticas, pelo simples fato delas se ajustarem
perfeitamente aos requisitos da emergência e da sobrevivência, caem por terra ao considerarmos as questões
gregárias e éticas associadas aos propósitos das atitudes.

Vamos colocar a questão da seguinte maneira:


– Considerando os três elementos condutores mestres da ação humana como sendo o Querer, o Dever e o
Conseguir, na linguagem freudiana, o Id, o Superego e o Ego, sociopata seria aquele que, não dispondo ou
dispondo deficitariamente do Dever (superego), estaria autorizado, por si mesmo, a proceder da maneira
mais eficiente para SEU prazer ou SUA sobrevivência.

Portanto, a despeito da eficácia existencial, o psicopata seria o exemplar humano mais próximo da
animalidade. Ora, aproximar-se da animalidade é um fenômeno a que todos estamos sujeitos, de acordo com
a existência iminente de severa ameaça existencial. A distinção e o mérito éticos de cada um se medem de
acordo com o limiar, a partir do qual, recorremos à animalidade para conquista de nossos objetivos.

Quanto mais vulnerável à animalidade, menor o sentido (e sentimento) ético da pessoa. Como o sociopata
vive na animalidade (das atitudes), falta-lhe totalmente a condição ética. E há quem pense que, para
problemas éticos… soluções éticas, para problemas médicos… soluções médicas. O psicopata não aprende
com certas experiências, nem com a argumentação, e menos ainda com o discurso ético.

Os psicopatas começam a manifestar sua psicopatia desde a infância e adolescência, e não se modificam
depois (veja Transtornos de Conduta). A conduta anti-social começa desde a infância, caracterizada por
atitudes de mentir, roubar, falsificar cheques, prostituir-se, assaltar, maltratar animais, etc). Nota-se, desde
tenra idade, uma ausência da capacidade de sentimento de culpa e de arrependimento. Quando teatralizam
esses sentimentos, o fazem simplesmente para conseguir uma atenuação da pena.

Personalidade Psicopática Amoral


Tradicionalmente adotava-se a denominação de Personalidade Psicopática Amoral (ou, simplesmente, PP)
para o que se considera Sociopatia. Veja o que ele diz neste trecho do prof. Eunofre Marques:

“O PP amoral é um indivíduo incapaz de incorporar valores. Ele funciona sempre na relação prazer-
desprazer imediato.
São indivíduos incapazes de se integrar a qualquer grupo, devido ao seu egoísmo absoluto e a não aceitarem
qualquer tipo de regras. Só o que eles querem é o que interessa. No início, eles até fazem amizades com
facilidade mas, diante dos primeiros conflitos, a sua amoralidade aparece em todo o seu potencial. Terminam
por ser rejeitados pelos grupos em pouco tempo. São, por isso, em geral indivíduos solitários, que migram de
grupo em grupo até que não restem mais grupos para os aceitarem” .

Esse transtorno pode aparecer precocemente, em tenra idade, conforme diz o prof. Eunofre Marques. “Ainda
crianças já aparece o seu componente amoral, por não aceitarem regras jamais, não respeitarem qualquer
limite e terem um comportamento absolutamente inadequado na escola, de onde são frequentemente expulsos.
Já na adolescência tendem francamente para a marginalidade e tentam integrar-se aos grupos marginais mas
mesmo esses, com a sua ética marginal rígida, logo o rejeitam.

Quando pressionado pelo ambiente, especialmente em ambientes fechados, como numa penitenciária, eles
atual de modo primoroso, como que absorvendo os valores rígidos do meio. No entanto, é só surgir uma
pequena brecha nas regras para que a sua amoralidade venha plenamente à tona.
Boa parte deles não chega à idade adulta porque, misturados com os marginais, acabam sendo mortos por
estes. Mesmo assim, chegando à idade adulta, terminam por serem recolhidos a alguma penitenciária, onde
eles são encontrados com frequência. Mesmo dentro da penitenciária a sua existência está sendo
constantemente ameaçada, porque não se integram a nenhum dos grupos que lá se formam.

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Aqueles que têm um nível de inteligência superior conseguem parcialmente, utilizando-se dos recursos
cognitivos, manterem-se relativamente integrados no meio até a idade adulta mas, mesmo estes, acabam por
serem expulsos do seu meio e também vão parar nos presídios. O PP amoral é o exemplo do fracasso do ser
humano”

Transtorno de Personalidade Borderline (Limítrofe)


Caracteriza-se por um padrão de relacionamento emocional intenso porém confuso e desorganizado. A
instabilidade das emoções é o traço marcante deste transtorno, que se apresenta pelas flutuações ou rápidas
variações no estado de humor de um momento para outros sem justificativa real, essas pessoas reconhecem
sua labilidade emocional mas para tentar encobrí-la justificam-nas geralmente com argumentos implausíveis.
Seu comportamento impulsivo frequentemente é auto-destrutivo.

Estes paciente não possuem claramente uma identidade de si mesmos, com um projeto de vida ou uma escala
de valores duradoura, até mesmo quanto à própria sexualidade. A instabilidade é tão intensa que acaba
incomodando o próprio paciente que em dados momentos rejeita a si mesmo, por isso a insatisfação pessoal é
muito grande.

O psiquiatra inglês C. Hugues utiliza, em 1884, o termo “borderline” para definir um grupo de indivíduos
que oscilavam entre os limites da demência e da normalidade: “o estado fronteiriço (borderline) da loucura
compreende um grande número de pessoas que passam a vida toda próximos desta linha, tanto de um lado
como de outro”.

Em 1911, o psiquiatra suíço Eugène Bleuler descreve a esquizofrenia latente, um distúrbio mental que
contém, em germe, todos os sintomas e combinações de sintomas que estão presentes nos tipos manifestos de
esquizofrenia. Os indivíduos desse grupo, apresentavam um comportamento social convencional e nunca
haviam manifestado seja um episódio psicótico bem definido, seja um rompimento substancial com a
realidade. Porém, em camadas subjacentes de sua personalidade, seriam portadores de elementos de
esquizofrenia .

Um exemplo de esquizofrenia latente, descrito por Bleuler: “…outro tipo, com uma pronunciada
irritabilidade: uma jovem normal e inteligente se casa aos vinte anos e vive feliz por mais de cinco anos.
Muito gradualmente torna-se irritável, gesticula enquanto fala, suas peculiaridades aumentam
continuamente; contudo, nenhuma empregada pára na casa. Briga constantemente com seus vizinhos. Dentro
de seu próprio grupo familiar converteu-se numa tirana doméstica insuportável, que não reconhece seus
deveres, apenas seus direitos. (…) provoca transtornos constantemente com suas reclamações e caprichos.
(…) não obstante, mostra-se completamente indiferente para coisas importantes, como a relação com seus
familiares próximos. Não gosta dos filhos, é incapaz de comportar-se. (…)”

Em 1938, o psicanalista Adolph Stern faz referência às neuroses borderline, uma patologia que se
caracteriza por narcisismo doentio, “hemorragia psíquica” (termo utilizado pelo autor para descrever a
impossibilidade de controle), hipersensibilidade, reações terapêuticas negativas, sentimentos de inferioridade
(ancorados constitucionalmente e fincados profundamente na personalidade), masoquismo, rigidez psíquica e
física, estado de profunda insegurança orgânica e intensa ansiedade, uso de mecanismos projetivos e
dificuldade no teste de realidade.

Em 1953, Robert Knight apresenta um estudo sobre os estados borderlines, utilizando essa expressão para
classificar pacientes muito comprometidos psiquicamente mas que não podem ser considerados como
autênticos psicóticos. E observa que certos critérios geralmente usados — ruptura com a realidade, exclusão
recíproca de neurose e psicose e a teoria da libido — são insuficientes para se chegar a um diagnóstico
correto, um prognóstico preciso e a adequadas direções terapêuticas.

Outras observações

Blackburn (1998) desenvolveu uma interessante tipologia para os subtipos de psicopatas, inclusive
considerando o aspecto Anti-social como se tratasse de um dos sintomas possíveis de estar presente em
certos casos. Inicialmente ele fez uma distinção entre dois tipos de psicopatas e ambos compartilhando um
alto grau de impulsividade: um Tipo Primário, caracterizado por uma adequada socialização e uma total falta
de perturbações emocionais, e um Tipo Secundário, caracterizado pelo isolamento social e traços neuróticos.

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Apesar de todas variações tipológicas dos mais diversos autores, todos parecem estar de acordo nas
características nucleares do conceito; impulsividade e falta de sentimentos de culpa ou arrependimento. Mais
tarde os 2 subtipos de Blackburn (Primário e Secundário) foram aprimorados em 4 subtipos mas, para nosso
trabalho, apenas esses dois tipos iniciais são relevantes :

1 – Os Psicopatas Primários, caracterizados por traços impulsivos, agressivos, hostis,


extrovertidos, confiantes em si mesmos e baixos teores de ansiedade. Neste grupo se encontram,
predominantemente, as pessoas narcisistas, histriônicas, e anti-sociais. Sua figura pode muito
bem se identificar com personalidades do mundo político.
2 – Os Psicopatas Secundários, normalmente hostis, impulsivos, agressivos, socialmente
ansiosos e isolados, mal-humorados e com baixa auto-estima. Aqui se encontram anti-sociais,
evitativos, esquizóides, dependentes e paranóides. Podem ser identificados com líderes
excêntricos de seitas, cultos e associações mais excêntricas ainda.

Entre esses 2 subtipos, as pessoas pertencentes ao grupo dos Psicopatas Secundários, seriam as mais
desviadas socialmente, são também desviadas em outros aspectos. Nessas pessoas é onde mais se encontram
as anormalidades no Eletroencefalograma, as quais têm sido descritas precocemente.

Os Psicopatas Primários, por sua vez, têm mais excitação cortical e autonômica, e maior tendência a buscar
sensações. Entre esses grupos existem também diferenças quanto à agressividade e criminalidade.

Os Psicopatas Primários ainda teriam convicções mais firmes para efetuar crimes violentos, enquanto que
os Psicopatas Secundários para os roubos. Psicopatas Primários e Psicopatas Secundários seriam mais
dominantes, tanto em situações ameaçantes como aflitivas, mas os Psicopatas Secundários mostram mais
fúria diante da ameaça, tanto física como verbal.

Os Psicopatas Primários e Psicopatas Secundários podem corresponder à brilhante classificação de Millon


ao Psicopata Carente de Princípios (veja adiante). Esses dois subtipos compartilham alguns traços em
comum, mas os Secundários têm muito mais ansiedade social e traços de personalidade esquizóides,
evitativos e passivo-agressivos. É muito provável que a maioria ingresse no critério mais amplo de
borderlines.

Com relação ao potencial de conflitos interpessoais da personalidade do psicopata é interessante considerar


dois modelos: o grau de poder ou controle exercido sobre as demais e o grau de afinidade. Sobre o poder está
em apreço a dominância ou a submissão aos demais e, em relação à afinidade, entra em cena a hostilidade ou
o cuidado.

A expressiva maioria dos psicopatas estabelece uma interação social do tipo hostilidade e dominância,
ficando a submissão e cuidado por conta dos não psicopatas. Para o exercício da dominância e hostilidade, o
psicopata costuma culpar a outros, mentir com freqüência, buscar continuadamente atenção e ameaçar a
outros com violência. O contrário dessa postura seria a amabilidade social, representada pelas condutas
coercitivas e dóceis.

Entretanto, para complicar ainda mais essa questão dos traços, devemos considerar o desempenho sócio-
teatral dos psicopatas, através do qual manifestam atitudes que não fazem parte de suas características
genuínas, mas, sobretudo, de suas simulações sociais.

É assim que a Psicopatia pode aparecer estreitamente vinculada com a amabilidade. Neste modelo o
Psicopata Primário tende a ser coercitivo e, apesar disso, também dominante e sociável (gregário). Já os
Psicopatas Secundários, além de poderem ser também coercitivos, costumam ser mais isolados e
aparentemente submissos. Mas ambos tipos exibem estilos interpessoais que os coloca na possibilidade de
ter conflitos com terceiros. De qualquer forma, satisfazendo os critérios usados para definir os Transtornos
de Personalidade, de modo geral, os psicopatas tendem a manifestar comportamentos rígidos e inflexíveis.

Millon (1998) desenvolveu também uma subtipologia dos psicopatas, por sinal, de interesse clínico maior
que a subtipologia de Blackburm. A idéia de Millon foi dirimir as contradições entre numerosas visões que
se têm sobre o psicopata. Mesmo considerando diversos subtipos de psicopatas, Millon deixa claro que
existem elementos comuns a todos os grupos: um marcado egocentrismo e um profundo desprezo pelos
sentimentos e necessidades alheias.

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Com finalidade exclusivamente didática, modificamos, condensamos e sistematizamos a subtipologia de


Millon da seguinte forma:

1 – O Psicopata Carente de Princípios: Este tipo de psicopata se apresenta freqüentemente associado às


personalidades narcisistas e histéricas. Podem até conseguir manter-se com êxito nos limites do legal.

Estes psicopatas exibem com arrogância um forte sentimento de autovalorização, indiferença para com o
bem estar dos outros e um estilo social continuamente fraudulento. Existe neles sempre a expectativa de
explorar os demais (esse traço pode corresponder ao estilo dominante dos Psicopatas Primário e Secundário
de Blackburn).

Há neles uma consciência social bastante deficiente e se faz notória uma grande inclinação para violação das
regras, sem se importarem com os direitos alheios. A irresponsabilidade social se percebe através de
fantasias expansivas e de grosseiras, contumazes e persistentes mentiras.

Falta, nesses Psicopatas Carentes de Princípios, o Superego. Essa falta é responsável pelos seus
relacionamentos inescrupulosos, amorais, desleais e exploradores. Podem estar presentes entre sociedades de
artistas e de charlatões, muitos dos quais são vingativos e desdenhosos com suas vítimas.

O psicopata sem princípios mostra sempre um desejo de correr riscos, sem experimentar temor de enfrentar
ameaças ou ações punitivas. São buscadores de novas sensações. Suas tendências maliciosas resultam em
freqüentes dificuldades pessoais e familiares, assim como complicações legais.

Estes psicopatas narcisistas funcionam como se não tivessem outro objetivo na vida, senão explorar os
demais para obter benefícios pessoais. Eles são completamente carentes de sentimentos de culpa e de
consciência social. Normalmente sua relação com os demais dura tempo suficiente em que acredita ter algo a
ganhar.

Os Psicopatas Carentes de Princípios exibem uma total indiferença pela verdade, e se são descobertos ou
desmascarados, podem continuar demonstrando total indiferença. Uma de suas maiores habilidades é a
facilidade que têm em influenciar pessoas, ora adotando um ar de inocência, ora de vítima, de líder, enfim,
assumindo um papel social mais indicado para a circunstância. Podem enganar a outros com encanto e
eloqüência. Quando castigados por seus erros, ao invés de corrigirem-se, podem avaliar a situação e
melhorar suas técnicas em continuar a conduta exploradora.

Carentes de qualquer sentimento de lealdade, juntamente com uma extrema competência em desempenhar
papéis, os psicopatas normalmente ocultam suas intenções debaixo de uma aparência de amabilidade e
cortesia.

2 – O Psicopata Malévolo: Juntamos aqui as características que Millon atribui aos subtipos Malévolo,
Tirânico e Maléfico, por razões didáticas e por considerar que todos três comumente se manifestam numa
mesma pessoa.

Os Psicopatas Malévolos são particularmente vingativos e hostis. Seus impulsos são descarregados num
desafio maligno e destrutivo da vida social convencional. Eles têm algo de paranóicos na medida em que
desconfiam exageradamente dos outros e, antecipando traições e castigos, exercem uma crueldade fria e um
intenso desejo de vingança.

Além de esses psicopatas repudiarem emoções ternas, há neles uma profunda suspeita de que os bons
sentimentos dos demais são sempre destinados a enganá-los. Adotam uma atitude de ressentimento e de
propensão a buscar revanche em tudo, tendendo dirigir a todos seus impulsos vingativos. Alguns traços
desses psicopatas se parecem com os sádicos e/ou paranóides, com características beligerantes, mordazes,
rancorosos, viciosos, malignos, frios, brutais, truculentos e vingativos, fazendo, dessa forma, com que muitos
deles se revelem assassinos e assassinos seriais.

Quando os Psicopatas Malévolos enfrentam à lei e sofrem sanções judiciais, ao invés de se corrigirem,
aumentam ainda mais seu desejo de vingança. Quando se situam em alguma posição de poder, eles atuam
brutalmente para confirmar sua imagem de força.

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Irritados pelo freqüente repúdio social que despertam, esses Psicopatas Malévolos estão continuamente
experimentando uma necessidade de retribuição agressiva, a qual pode, eventualmente, expressar-se
abertamente em atentados coletivos ou atitudes anti-sociais (a luta sociedade versus eu). De qualquer forma,
nunca demonstram a o mínimo sentimento de culpa ou arrependimentos por seus atos violentos. Ao invés
disso, mostram uma arrogante depreciação pelos direitos dos outros.

É curioso o fato desses psicopatas serem capazes de dar uma explicação racional aos conceitos éticos,
capazes de conhecerem a diferença entre o que é certo e errado, mas, não obstante, são incapazes de
experimentar tais sentimentos.

A noção ética faz com que o Psicopata Malévolo defina melhor os limites de seus próprios interesses e não
perca o controle de suas ações. Esse tipo de psicopata se encontra entre os mais ameaçantes e cruéis. Ele é
invariavelmente destrutivo, sem misericórdia e desumano.

A noção de certo-errado faz com que esses psicopatas sejam oportunistas e dissimulem suas atitudes ao
sabor das circunstâncias, ou seja, diante da autoridade jamais atuam sociopaticamente. Portanto, eles são
seletivos na eleição de suas vítimas, identificando sujeitos mais vulneráveis a sua sociopatia ou que mais
provavelmente se submetam aos seus caprichos. Mais que qualquer outro bandido, este psicopata desfruta
prazer em proporcionar sofrimento e ver seus efeitos danosos em suas vítimas.

3 – O Psicopata Dissimulado: seu comportamento se caracteriza por um forte disfarce de amizade e


sociabilidade. Apesar dessa agradável aparência, ele oculta falta de confiabilidade, tendências impulsivas e
profundo ressentimento e mau humor para com os membros de sua família e pessoas próximas.

Na realidade, didaticamente poderíamos comparar o Psicopata Dissimulado como uma mistura bastante
piorada dos transtornos Borderline e Histérico da Personalidade. Isso significa que ele pleiteia um estilo de
vida socialmente teatral, com persistente busca de atenção e excitação, permeada por um comportamento
muito sedutor.

Por essas características Millon já considerava o Psicopata Dissimulado como uma variante da
Personalidade Histriônica, continuamente tentando satisfazer sua forte necessidade de atenção e aprovação.
Essas características não estão presentes no Psicopata Carente de Princípios ou no Malévolo, os quais
centram em sí mesmo sua preocupação e são indiferentes às atitudes e reações dos outros.

Esse subtipo dissimulado costuma exibir entusiasmo de curta duração pelas coisas da vida, comportamentos
imaturos de contínua buscas de sensações. Seguindo as características básicas e comuns à todos os
psicopatas, o dissimulado também tende a conspirar, mentir, a ter um enfoque astuto para com a vida social,
a ser calculista, insincero e falso. Muito provavelmente ele não admite a existência de qualquer dificuldade
pessoal ou familiar, e exibe um engenhoso sistema de negações. As dificuldades interpessoais são
racionalizadas e a culpa é sempre projetada sobre terceiros.

A contundente falsidade é a característica principal deste subtipo. O Psicopata Dissimulado age com
premeditação e falsidade em todas suas relações, fazendo tudo o que for necessário para obter exatamente o
que querem dos outros. Por outro lado, em diferentemente do Psicopata Carente de Princípios ou do
Psicopata Malévolo, parece desfrutar prazerosamente do jogo da sedução, obtendo excitação nas conquistas.

Mesmo aparentando intenções de proteger certas pessoas, o Psicopata Dissimulado é frio, calculista e falso,
caracterizando mais ainda um estilo fortemente manipulador. Essa característica pode ser conseqüência da
convicção íntima de que ninguém poderá amá-lo ou protegê-lo, a menos que consiga manipular a todos.
Apesar de reconhecer que está manipulando seu entorno social, tenta convencer aos outros de que suas
intenções são boas e que suas atitudes são, no mínimo, bem intencionadas.

Quando as pessoas com esse tipo de psicopatia são pressionadas ou confrontadas, sentem-se muito
encabulados e suas reações oscilam entre a explosão agressiva e vingança calculista. A característica
afabilidade dos Psicopatas Dissimulados é superficial e extremamente precária, estando sempre predispostos
a depreciarem imediatamente a qualquer um que represente alguma ameaça à sua hegemonia, chegando
mesmo a perderem o controle e explodirem em cólera.

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13/10/2021 21:01 Psicopatia ou Sociopatia « PsiqWeb

4 – O Psicopata Ambicioso: perseguem avidamente seus engrandecimentos. Os Psicopatas Ambiciosos


sentem que a vida não lhes tem dado tudo o que merecem, que têm sido privados de seus direitos ao amor, ao
apoio, ou às gratificações materiais. Normalmente acham que os outros têm recebido mais que eles, e que
nunca tiveram oportunidades de uma vida boa.

Portanto, estão motivados por um desejo de retribuição, de compensar-se pelo que tem sido despojado pelo
destino. Através de atos de roubo ou destruição, se compensam a si mesmos pelo vazio de suas vidas, sem
importar-lhes as violações que cometam à ordem social. Seus atos são racionalizados através da idéia de que
nada fazem senão restaurar um equilíbrio alterado.

Para os Psicopatas Ambiciosos que estão somente ressentidos, mas que ainda têm controle minimamente
crítico de seus atos, pequenas transgressões e algumas aquisições são suficientes para aplacar essas
motivações. Mas para aqueles que têm estas características psicopáticas mais desenvolvidas, somente a
usurpação de bens e coisas alheias podem satisfazê-los.

O prazer psicopático nos ambiciosos está baseado mais em tomar do que em ter. Como a fome que os
animais experimentam em relação à presa, os Psicopatas Ambiciosos têm um enorme impulso para a
rapinagem, e tratam os demais como se fossem peões num tabuleiro de xadrez de poder.

Além de terem pouca consideração pelos efeitos de sua conduta, sentindo pouca ou nenhuma culpa pelos
efeitos de suas ações, como os demais psicopatas, os ambiciosos nunca chegam a sentir que tem adquirido o
bastante para compensar suas privações. Independentemente de suas conquistas, permanecem sempre
ciumentos e invejosos, agressivos e ambiciosos, exibindo todas vezes que podem, posses e consumo
ostentoso.

A maioria deles é totalmente centrada em si mesmos, contribuindo isso para sua comum atitude libertina e
em busca de sensações. Esses psicopatas nunca experimental um estado de completa satisfação, sentindo-se
não realizados, vazios, desolados, independentemente do êxito que possam ter obtido. Insaciáveis, estão
sempre convencidos de que serão sempre despojados de seus direitos e desejos.

Ainda que o subtipo ambicioso seja parecido, em alguns aspectos, ao Psicopata Carente de Princípios, ele
exerce uma exploração mais ativa e sua motivação central é manifestada através da inveja e apropriação
indevida das posses alheias. O Psicopata Ambicioso experimenta não só um sentimento profundo de vazio,
senão também uma avidez poderosa de amor e reconhecimento que, segundo ele, não lhe ofereceram na
infância.

5 – O Psicopata Explosivo: diferencia-se das outras variantes pela emergência súbita e imprevista de
hostilidade. Estes psicopatas são caracterizados por fúria incontrolável e ataque a outros, furor este
freqüentemente descarregado sobre membros da própria família. A explosão agressiva se precipita
abruptamente, sem dar tempo de prevenir ou conter. Sentindo-se frustrados e ameaçados, estes Psicopatas
Explosivos respondem de uma maneira volátil, daninha e mórbida, fascinando aos demais pela brusca forma
com que os surpreende.

Desgostosos e frustrados na vida, estas pessoas perdem o controle e buscam vingança pelos alegados maus
tratos a que foram precocemente submetidos. Em contraste com outros psicopatas, esses não se movem de
maneira sutil e afável. Pelo contrário, seus ataques explodem incontrolavelmente, quase sempre, sem
nenhuma provocação aparente. Esta qualidade de beligerância súbita, tanto quanto sua fúria desenfreada,
distingue estes psicopatas dos outros subtipos. Muitos são hipersensíveis aos sentimentos de traição, a ponto
de fantasiarem deslealdades o tempo todo.

Referências
1. Bercherie P – Los fundamentos da clínica, editorial Manantial, Buenos Aires, 1986.
2. Berrios G – Puntos de vista europeos em os transtornos da personalidad, Comprehensive Psychiatry, Nº 1, 1993.
3. Bruno A, Tórtora G – Las psicopatías, Psicologia forense, Sexologia e praxis, año 3, vol. 2, Nº 4, año 1996.
4. Garrido GV – Psicópata, Editorial Tirant Lo Blanch; Valência; 1993.
5. Hare RD, Forth AE – Psychopathy and lateral preference. Journal of Abnormal Psychology, 94(4): 541-546, 1985
6. Howard RC – Psychopathy: A Psychobiological perspective. Pers. Indiv. Diff. 7 (6): 795-806; 1986
7. Kernberg O – Diagnóstico Diferêncial da Conducta Antisocial, Revista de Psiquiatría, 1988,volúmem 5, página 101 a 111, Chile
8. Laplanche J, Pontalis B – Diccionario de psicoanálisis, Editorial Labor, Barcelona, 1981
9. Lewis CE – Neurochemical Mechanisms of Chronic Antisocial Behavior (Psychopathy). The Journal of Nervous and Mental Disease. 179(12):720-727, 1991.
10. Pinel P – Tratado médico filosófico da enajenação mental o mania, Edições Nieva, Madride 1988.
11. Schneider K – Las personalidades psicopáticas, Edições Morata, 8º edição, Madrid, 1980
12. Zuckerman M – Impulsive unsocialized sensation seeking: the biological foundations of a basic dimension of personality, in Temperament: Individual differences at the interface of biology

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13/10/2021 21:01 Psicopatia ou Sociopatia « PsiqWeb
and behavior, Washington D.C. American Psychological Association, 1944 (Edited by J.E.Bates & T.D. Wachs).
13. Zuckerman M – Psychobiology of Personality. Cambridge University Press, New York, USA, 1991.

para referir:
Ballone GJ – Personalidade Psicopática ou Sociopática. in. PsiqWeb, Internet – disponível em
http://www.psiqweb.net, 2017

Personalidade - geral

Ninguém, absolutamente ninguém, deixa de classificar a seu modo as pessoas que conhece, ainda que
intimamente, involuntariamente e até inconscientemente. Todos nós temos uma espécie de arquivo
subjetivo das pessoas que julgamos explosivas, simpáticas, sensíveis, desleais…

transtornos de personalidade

Pessoas explosivas, teatrais, sistemáticas, meticulosas, obsessivas, cismadas, muito emotivas e outros
tipos difíceis de se conviver sugerem, a todos intuitivamente, tratar-se de uma maneira de SER e não
de ESTAR.

espectro obsessivo

Atualmente há uma tendência, na classificação dos transtornos emocionais, em agrupar os quadros


onde está comprometido o controle dos impulsos. Um desses quadros é o próprio Transtorno
Obsessivo-compulsivo.

TOC em crianças

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13/10/2021 21:01 Psicopatia ou Sociopatia « PsiqWeb

O Transtorno Obsessivo-Compulsivo existe em crianças e é responsável pelas pelos tiques nervosos,


grande ansiedade e sofrimento

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