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Tema: A sobrevivência na Sociedade do Cansaço

Da exaustão de sermos nós mesmos


No trecho: “Estou cansada. Meu cansaço vem muito porque sou ocupada: tomo
conta do mundo”, retirado da obra de Clarice Lispector, evidencia-se de um problema que
aflige o ser humano contemporâneo, a fadiga física e mental, oriunda de um esforço sobre-
humano para ocupar uma posição de destaque em suas relações pessoais e trabalhistas. A
crítica marxista em relação ao trabalho ainda é válida, uma vez que a sociedade trata a
exaustão do indivíduo como causa de sucesso, ignorando suas consequências degradantes.
Por isso, levando em conta que, segundo pesquisa do Ibope, 98% dos brasileiros se sentem
cansados, torna-se urgente uma análise sobre os desafios de sobrevivência na Sociedade do
Cansaço, sobre a perda do caráter humano, sobre os efeitos disso e sobre a servidão a que
os cidadãos são submetidos.

Em primeira análise, o ideário geral da população assimila um grau de positividade


incondizente com a realidade. Indubitavelmente, existe uma distribuição irregular das
riquezas na sociedade, logo, dependendo do agente, há uma improporcionalidade de
esforço para determinados fins, caracterizando uma sociedade injusta e distante de ser
meritocrática, independente do cansaço individual. Ademais, cargos e posições sociais são
idolatrados e colocados como exemplos de sucesso, surgindo, assim, uma pressão social, a
qual instiga o ser a perseguir um caminho, muitas vezes, impossível, já que suas vontades e
ações são insuficientes e condizentes com frase de Voltaire - “o público atribui ao mérito
todos os êxitos da sorte”. Por fim, a coexistência de um pensamento tão reconfortante
quanto à meritocracia, em um cenário com profundas desigualdades sociais, caracteriza as
doenças do século, a ansiedade e a depressão de um cansaço constante.

Em segunda análise, com o ganho de importância, o trabalho estreita seus laços com
a própria vida humana. Com efeito, a educação é uma das formações mais profundas do ser
humano, e esta se estrutura segundo o mercado de trabalho. O ser é moldado a fim de
trabalhar e, nesse ambiente, construir seu ciclo social, de lugares que conhece, e
principalmente, de seus pensamentos e posicionamentos. Além disso, o trabalho se torna
fonte de sustento primário, inerente à vida das pessoas, visto que não trabalhar ocasiona
uma dependência estatal e institucional, logo as amarras trabalhistas são as únicas a prover
condições favoráveis à autonomia pessoal, paradoxo presente na obra de Orwell, “1984".

Portanto, o cansaço, como efeito do trabalho, também abrange a vivência do


indivíduo como um todo, ressaltado pelo fato de estarmos no “século digital”, quando a
exploração não respeita obstáculo físico algum. Assim, a essência humana está sendo
atenuada devido a uma sobrecarga do indivíduo e este se submete a tal processo por
acreditar que, deste modo, conseguirá sucesso e transcenderá às pressões sociais que o
moldam.

Amarelo: uso de conjunções e de pronomes como recurso coesivo

Azul claro: ênfase no tema e na coesão por meio da sinonímia e de palavras de um mesmo
campo semântico.

Verde: referências a outras áreas do conhecimento.

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