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Inteligencia Policial
Inteligencia Policial
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8
UNIDADE I
FUNDAMENTOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA POLICIAL..................................................................... 11
CAPÍTULO 1
CONCEITO E SEGMENTOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA POLICIAL ..................................... 11
CAPÍTULO 2
A LINGUAGEM EMPREGADA PELA INTELIGÊNCIA POLICIAL E O CONHECIMENTO DE
INTELIGÊNCIA POLICIAL .......................................................................................................... 14
CAPÍTULO 3
OS DIFERENTES TIPOS DE CONHECIMENTO PRODUZIDOS PELA INTELIGÊNCIA POLICIAL............ 19
CAPÍTULO 4
AS FONTES DE DADOS .......................................................................................................... 22
CAPÍTULO 5
PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA POLICIAL ............................ 25
UNIDADE II
A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA INTELIGÊNCIA POLICIAL........................................................... 28
CAPÍTULO 1
SITUAÇÕES QUE ENSEJAM A PRODUÇÃO DE UM CONHECIMENTO DE INTELIGÊNCIA POLICIAL . 28
CAPÍTULO 2
METODOLOGIA DA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO DE INTELIGÊNCIA POLICIAL................... 31
CAPÍTULO 3
TÉCNICA DE AVALIAÇÃO DE DADOS ..................................................................................... 41
CAPÍTULO 4
O RELATÓRIO DE INTELIGÊNCIA POLICIAL .............................................................................. 44
UNIDADE III
CONTRAINTELIGÊNCIA POLICIAL........................................................................................................... 47
CAPÍTULO 1
CONCEITO DE CONTRAINTELIGÊNCIA POLICIAL E ASPECTOS LEGAIS ...................................... 49
CAPÍTULO 2
RAMOS DA CONTRAINTELIGÊNCIA POLICIAL: A SEGURANÇA ORGÂNICA ............................... 53
CAPÍTULO 3
CONTRAENGENHARIA SOCIAL .............................................................................................. 59
REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 63
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
7
INTRODUÇÃO
O que é a atividade de Inteligência Policial? Como ela está estruturada? Qual é a sua finalidade?
Qual a sua importância para o assessoramento das ações policiais? Quais são as diferenças entre os
vários tipos de conhecimento empregados na atividade de Inteligência Policial? Aliás... O que são
conhecimentos no contexto da atividade de Inteligência Policial?
Para que possamos responder a essas e outras questões, devemos ter em mente que um tomador de
decisão precisa, antes de qualquer outra coisa, estar bem informado a respeito daquilo que pretende
decidir.
a. uma pessoa comum, como eu ou você, que precise escolher com qual médico irá se
submeter a uma delicada cirurgia cardíaca;
b. o Diretor de uma conhecida multinacional que precisa decidir sobre a fusão com um
complexo empresarial de grande porte;
O que há de comum em todos esses exemplos? Simples, para que a melhor decisão seja tomada, é
imprescindível que o decisor (a pessoa que irá tomá-la) esteja muito bem informado ao seu respeito.
Concordam?
Pois bem, podemos dizer então que a probabilidade de êxito em uma decisão cresce na medida em
que aumentam a quantidade e a qualidade das informações disponibilizadas ao decisor, sobre o
assunto que será decidido.
É por esse prisma que desenvolveremos nossos estudos sobre a Inteligência Policial: uma atividade
destinada a efetuar, de forma útil e oportuna, o assessoramento do processo decisório no contexto
das ações policiais.
Objetivos
»» Conceituar Inteligência Policial.
8
»» Conhecer os princípios e características da Inteligência Policial.
9
FUNDAMENTOS
DA ATIVIDADE DE UNIDADE I
INTELIGÊNCIA
POLICIAL
CAPÍTULO 1
Conceito e segmentos da atividade de
Inteligência Policial
“As atividades criminosas têm passado por uma série de mudanças, que culminaram
em ações cada vez mais organizadas por parte de delinquentes e organizações
criminosas. A partir da segunda metade da década de 1970, com o fortalecimento
do narcotráfico e o desenvolvimento de grandes mercados consumidores – em
especial EUA e Europa Ocidental – as organizações criminosas aperfeiçoaram seu
modus operandi, atualmente com caráter muito mais complexo e transnacional.”
Antes de conceituarmos propriamente o que é a atividade de Inteligência Policial, para que não
sejamos influenciados em nosso estudo pelos falsos mitos que pairam sobre o assunto, convém
destacarmos aquilo que a atividade de Inteligência não é.
Inicialmente, precisamos lembrar que trabalhar com atividade de Inteligência não significa viver
como um agente secreto. Sem dúvida alguma, os diversos livros e filmes produzidos sobre o assunto
colaboraram para que essa visão ficasse arraigada no senso comum. Contudo, e a bem da verdade, o
trabalho desenvolvido pela atividade de Inteligência possui uma grande carga de pesquisa e análise,
a qual geralmente não aparece nas aventuras vividas por personagens do tipo James Bond.
É importante registrar também que a atividade de Inteligência não pode ser reduzida a fazer
bisbilhotagem. Lamentavelmente, termos como araponga, dedo-duro e X-9, continuam sendo
indiscriminadamente associados aos operadores dessa atividade, em grande parte por pessoas que
simplesmente comentam sobre um assunto que desconhecem em sua totalidade; mas, em certas
ocasiões, por indivíduos que deliberadamente pretendem denegrir o trabalho do profissional de
Inteligência.
Bem, mas se a atividade de Inteligência não é nada disso, você poderia se perguntar: Então, o que é
a atividade de Inteligência?
11
UNIDADE I │ FUNDAMENTOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA POLICIAL
De forma ampla, podemos conceituar a atividade de Inteligência como sendo o exercício permanente
de ações especializadas, objetivando a obtenção e análise de dados, para a produção e disseminação
de conhecimentos destinados ao assessoramento do processo decisório. Abrange ainda a proteção
dos conhecimentos sensíveis da organização, bem como das áreas e dos meios que os retenham ou
em que transitem.
Ao analisarmos esse conceito, percebemos que a atividade de Inteligência Policial ocupa-se tanto da
produção quanto da proteção dos conhecimentos.
Contudo, seria um erro pensar que toda a produção de conhecimentos da atividade de Inteligência
Policial ocorra exclusivamente no âmbito do seu segmento Inteligência. De modo análogo, também
seria equivocado pensar que a proteção de conhecimentos cabe unicamente ao segmento da
Contrainteligência Policial.
Podemos ainda abstrair do conceito apresentado acima que a atividade de Inteligência Policial faz
uso de uma “metodologia própria e de técnicas acessórias”. De fato, é o emprego de uma metodologia
própria que vai permitir ao profissional de Inteligência transformar dados brutos em conhecimentos
elaborados.
Para responder a essa questão, trabalharemos com os conceitos expressos por (ANNÍBAL, 2007).
De acordo com esse autor, dado é toda e qualquer representação de fato, situação, comunicação,
notícia, documento, extrato de documento, fotografia, gravação, relato ou denúncia, que ainda não
tenha sido submetida a uma metodologia de análise por um profissional de Inteligência.
12
FUNDAMENTOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA POLICIAL │ UNIDADE I
Ainda segundo (ANNÍBAL, 2007) o conhecimento consiste no resultado final que se obtém, seja na
forma escrita ou oral, após os dados anteriormente reunidos serem submetidos a uma metodologia
de análise por um profissional de Inteligência.
Em síntese, os dados são a matéria bruta, que após ser devidamente selecionada e
processada, converte-se em conhecimento de Inteligência.
Registre-se, por fim, que são os conhecimentos – e não os dados – que são empregados no
assessoramento do processo decisório da atividade de Inteligência Policial.
13
CAPÍTULO 2
A linguagem empregada pela
Inteligência Policial e o conhecimento
de Inteligência Policial
Antes de nos aprofundarmos ainda mais nos aspectos essenciais dos conhecimentos produzidos
pela atividade de Inteligência Policial, convém discutirmos um pouco sobre a linguagem utilizada
na elaboração desses conhecimentos.
É importante destacar que a linguagem empregada pela atividade de Inteligência Policial é constituída
a partir da linguagem comum. A maioria dos autores concorda com o fato de que isso assegura
que não haja uma ruptura no processo de comunicação universal utilizado pela sociedade como
um todo. No entanto, como forma de assegurar a qualidade dos textos produzidos, são adotados
padrões para garantir que as relações de comunicação ocorram sem distorções ou incompreensões.
Entre outras coisas, isto significa que na produção de um conhecimento o profissional de Inteligência
Policial deve sempre optar por um texto claro, simples e objetivo, que não possua ambiguidades ou
trechos obscuros.
Como processo, esse conhecimento consiste na formação da imagem de um fato ou de uma situação
na mente do analista, podendo ocorrer de diferentes modos.
Como produto, esse conhecimento consiste na representação (oral ou escrita) dos acontecimentos.
Desse modo, corresponde à exteriorização de uma imagem sobre um fato ou uma situação, antes
restrita aos limites da mente do analista de Inteligência.
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FUNDAMENTOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA POLICIAL │ UNIDADE I
A verdade
A Teoria do Conhecimento nos ensina que a verdade consiste na correspondência exata entre o
conteúdo do pensamento e o objeto que é pensado. Para a atividade de Inteligência Policial, a verdade
é um atributo que se vincula à relação entre o conteúdo do pensamento e os fatos ou situações que
são estudados pelo analista.
Contudo, vários autores nos recordam que a relação da mente com o objeto nem sempre se efetiva
de forma perfeita, pois, algumas vezes, a mente encontra obstáculos que a impedem de formar
uma imagem que se molde perfeitamente ao objeto. Em razão disso, e sendo a verdade a grande
aspiração da atividade de Inteligência, os profissionais que a exercem devem acautelar-se contra a
mera ilusão da verdade, ou seja, contra o erro. A título de exemplo, observe a figura abaixo:
Figura 1.
Agora responda... Quantos cavalos você conseguiu enxergar? Você tem certeza (plena convicção) de
que o número de cavalos que você enxergou corresponde à realidade? Ou você admite a possibilidade
de que o número de cavalos que você identificou não esteja correto?
15
UNIDADE I │ FUNDAMENTOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA POLICIAL
3. Dúvida – A mente se mostra incapaz de optar por imagens alternativas que ela
tenha formado de determinado objeto (fato ou situação);
Certeza
A certeza consiste no acatamento integral, pela mente, da imagem por ela mesma formada, como
correspondente a determinado fato ou situação.
Dessa forma, a certeza é o estado em que a mente adere à imagem de um objeto, por ela mesma
formada, sem temor de enganar-se. Há que se acrescentar que esta adesão é consequência da plena
clareza com que o objeto se mostra ao espírito, sendo, portanto, a evidência o motivo supremo da
certeza.
Opinião
Neste estado a mente acata, contudo com reservas, a imagem por ela mesma formada, como
correspondente a determinado fato ou situação.
Dúvida
Diferentemente da opinião, na dúvida a mente encontra-se impossibilitada de se definir sobre as
várias imagens que ela tenha formado sobre determinado objeto.
O que se passa na mente do analista é algo como: tanto pode ser “isso”, quanto pode ser “aquilo”...
Desse modo, a dúvida é o estado da mente que traduz a suspensão provisória da capacidade de
decidir, induzindo-a a procurar novas evidências.
O encontro de novas evidências permitirá ao analista migrar da dúvida para o estado de opinião ou
de certeza.
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FUNDAMENTOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA POLICIAL │ UNIDADE I
Ignorância
O estado de ignorância caracteriza-se pela inexistência de qualquer imagem de determinado fato
ou situação. Desse modo, a ignorância é o estado em que a mente humana se encontra privada de
qualquer imagem sobre uma realidade específica.
A essa altura, você pode estar se perguntando... De que forma tudo isso se relaciona com a Inteligência
Policial?
Bem, se recapitularmos os conceitos que foram apresentados no início desta unidade, veremos que
a Inteligência Policial destina-se a efetuar, de forma útil e oportuna, o assessoramento do processo
decisório no âmbito das ações policiais.
Ora, não é difícil imaginar que a melhor maneira de prestar esse assessoramento é através da produção
e disseminação de conhecimentos que reduzam o grau de incerteza associado a essas ações.
Imagine, a título de exemplo, a deflagração de uma operação policial em uma área de alto risco.
Certamente você concordará que para que essa operação seja bem sucedida, seria preciso – dentre
outras coisas – identificar previamente quais são os criminosos que atuam naquele local, que
armamento eles utilizam, qual é o seu poder de fogo, quais são as possíveis rotas de fuga etc.
Evidentemente, um conhecimento que informasse tudo isso ao responsável por deflagrar tal
operação policial teria que ser escrito em nível de certeza ou, no mínimo, de opinião (expressando
probabilidade).
De que adiantaria ao responsável por esta operação policial receber um documento onde o próprio
analista que o escreveu encontra-se em dúvida, ou pior, ignora completamente as respostas a essas
questões?
Assim sendo, é imprescindível que o analista de Inteligência Policial saiba identificar e expressar
adequadamente qual é o estado de sua mente ao produzir um conhecimento de Inteligência.
Bem, agora que nós compreendemos claramente a importância deste conteúdo para a Inteligência
Policial, podemos nos aprofundar um pouco mais em outros aspectos que caracterizam o
conhecimento de Inteligência.
Ainda de acordo com (ANNÍBAL, 2007), a mente humana, para conhecer determinados fatos
ou determinadas situações, pode realizar três operações intelectuais distintas: conceber ideias,
formular juízos ou elaborar raciocínios.
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UNIDADE I │ FUNDAMENTOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA POLICIAL
»» Juízo – corresponde à operação pela qual a mente estabelece uma relação entre
diferentes ideias.
1. Sócrates é homem.
Perceba que a terceira sentença indica um novo juízo (relação entre ideias), o qual
decorre logicamente dos outros dois que foram enunciados anteriormente.
18
CAPÍTULO 3
Os diferentes tipos de conhecimento
produzidos pela Inteligência Policial
De acordo com o que acabamos de estudar, essas operações podem ser a concepção
de ideias, a formulação de juízos ou a elaboração de raciocínios.
Informe
De acordo com Anníbal (2007), o conhecimento informe consiste na narração de um fato ou de
uma situação, referente ao passado ou ao presente, resultante exclusivamente de juízos elaborados
pelo analista de Inteligência Policial, onde ele expressa o seu estado de certeza ou opinião perante
a verdade.
Na elaboração do Informe, o analista de Inteligência Policial não ultrapassa os limites do juízo, por
não ter configurado uma base mínima sobre a qual possa desenvolver um raciocínio.
Observe que o Informe admite uma gradação no que diz respeito ao estado em que se situa a mente
em relação à verdade. Assim, o Informe pode expressar certeza ou opinião, estados que são indicados
através do uso de uma linguagem apropriada.
19
UNIDADE I │ FUNDAMENTOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA POLICIAL
São objetos do Informe apenas os fatos e as situações passadas ou presentes. Esta característica do
Informe deixa claro que este conhecimento não pode se referir a qualquer tipo de fato futuro.
Informação
Para Anníbal (2007), a Informação é o conhecimento resultante de raciocínios elaborados pelo
analista de Inteligência Policial, sobre fato ou situação referente ao passado ou ao presente, onde
ele expressa o seu estado de certeza perante a verdade.
Para este autor, a Informação decorre da operação mais elaborada da mente: o raciocínio. Portanto, é
um conhecimento que extrapola os limites da simples narração dos fatos ou das situações, contendo
uma interpretação (conclusão) destes fatos ou destas situações.
Dentre os atributos exigidos do analista de Inteligência Policial que elabora uma Informação,
destaca-se como necessário o raciocínio lógico e flexível, em níveis compatíveis com a complexidade
desse tipo de conhecimento.
A Informação não admite gradação no que diz respeito ao estado em que se posiciona a mente em
relação à verdade. Dessa forma, a Informação expressa unicamente o estado de certeza.
Registre-se ainda que a Informação retrata, apenas, fatos ou situações passadas ou presentes, não
comportando quaisquer projeções destes fatos ou destas situações para o futuro.
Apreciação
Conforme esclarece Anníbal (2007), a Apreciação consiste no conhecimento resultante de raciocínios
elaborados pelo analista de Inteligência Policial, sobre fato ou situação referente ao passado ou ao
presente, onde ele expressa o seu estado de opinião perante a verdade.
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FUNDAMENTOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA POLICIAL │ UNIDADE I
Apesar de a Apreciação ter essencialmente como objeto fatos e situações passadas ou presentes, este
conhecimento pode admitir a realização de breves projeções para o futuro.
Tais projeções, de acordo com Anníbal (2007) resultam da percepção do analista de Inteligência
Policial sobre os desdobramentos dos fatos e situações que esteja analisando, e não do emprego de
técnicas prospectivas, ou seja, voltadas especificamente para estudar os eventos futuros.
Estimativa
Conforme assinalado por Anníbal (2007), trata-se do conhecimento resultante de raciocínios
elaborados pelo analista de Inteligência Policial, sobre a evolução futura de um fato ou de uma
situação, onde ele expressa o seu estado de opinião perante a verdade.
Como ocorre na Informação e na Apreciação, o tipo de operação intelectual desenvolvida pela mente
do analista de Inteligência Policial durante a produção da Estimativa é o raciocínio.
Deve-se registrar ainda, conforme destacado por Anníbal (2007), que a produção de uma Estimativa
requer não só o pleno domínio de uma metodologia específica, mas também a aplicação de técnicas
de prospecção de cenários complementares a esta metodologia.
Desse modo, o estado da mente do analista de Inteligência Policial, na produção de uma Estimativa,
deve ser – obrigatoriamente – o de opinião.
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CAPÍTULO 4
As fontes de dados
Ao longo dos capítulos anteriores deve ter ficado claro para você que os dados são a “matéria bruta”
a partir da qual o analista de Inteligência Policial produz o conhecimento de Inteligência. Contudo,
você ainda pode se perguntar; onde o analista obtém os dados que irá processar? Quais são as
diferentes fontes empregadas pelo analista de Inteligência Policial?
Quadro 2.
De fato, essas tecnologias têm sido largamente empregadas como forma de subsidiar o planejamento
e a execução de operações de Inteligência Policial no Brasil.
De acordo com Ferro Júnior (2008), a Inteligência de Imagens consiste em uma “atividade
desenvolvida para a interpretação de informações obtidas por meio de recursos de captação de
radiações luminosas (fotografias, filmagens, imagens orbitais, aéreas, biométricas). Contém o
registro de imagem de pessoas, lugares e acontecimentos”.
Ainda segundo Ferro Júnior (2008), a Inteligência de Sinais “é um método sistemático que procura
analisar os sinais oriundos das emissões eletromagnéticas, decorrentes de rádio e telefonia, com o
objetivo de produzir informações numa operação policial”.
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FUNDAMENTOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA POLICIAL │ UNIDADE I
Embora sejam extremamente precisas no que dizem respeito aos dados obtidos, deve-se ressaltar o
fato de que as fontes técnicas apenas coletam os dados para os quais foram previamente programadas,
sendo, portanto, limitadas neste aspecto.
Por fontes humanas entende-se as pessoas que, de algum modo, contribuem repassando dados
que chegam ao analista de Inteligência. Neste grupo encontram-se os colaboradores e informantes
empregados pela atividade de Inteligência Policial. Incluem-se também as pessoas que reportam
dados de forma anônima, utilizando-se de serviços do tipo disque-denúncia.
Embora sempre haja o risco de que uma fonte humana relate um dado improcedente ou incorreto
(por erro ou esquecimento), deve-se destacar o fato de que elas são as únicas capazes de emitir um
23
UNIDADE I │ FUNDAMENTOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA POLICIAL
juízo de valor sobre os dados que estão sendo repassados. Esse aspecto, por si só, faz com que essas
fontes sejam extremamente valorizadas pelos profissionais de Inteligência Policial.
As fontes classificadas, por sua vez, referem-se aos meios que veiculam conteúdos com algum grau
de sigilo, e que, em razão disso, devam receber um tratamento adequado por parte do analista de
Inteligência Policial.
Por fim, as fontes abertas – como o próprio nome indica – englobam todos os meios nos quais os
dados são disponibilizados diretamente (sem qualquer restrição de acesso), a quem quer que deseje
obtê-los, por exemplo: jornais, revistas especializadas e internet.
Embora apresentem um alto grau de oportunidade (permitem que o analista possa acessar os
dados de forma imediata), as fontes abertas possuem uma significativa vulnerabilidade: facilitam a
inserção e divulgação de dados de baixa qualidade ou, até mesmo, intencionalmente falsos.
Portanto, o analista de Inteligência Policial deve ter bastante cautela quando empregar dados
provenientes de fontes abertas na produção dos seus conhecimentos.
24
CAPÍTULO 5
Princípios e características da atividade
de Inteligência Policial
Vejamos a seguir quais são os princípios elencados pela Doutrina Nacional de Inteligência de
Segurança Pública – DNISP:
Princípio da objetividade
As ações da atividade de Inteligência Policial devem ser executadas de acordo com planejamentos
previamente definidos.
Princípio da oportunidade
A atividade de Inteligência Policial deve observar rigorosamente os prazos estabelecidos na fase
do Planejamento. Um conhecimento disseminado fora do tempo oportuno deixa de cumprir seu
objetivo principal que é o assessoramento do processo decisório.
Princípio da interação
A atividade de Inteligência Policial deve buscar uma atuação em rede, para tanto, é imprescindível
que se estabeleça relações sistêmicas de cooperação com os demais órgãos que integram a
comunidade de Inteligência.
Princípio da permanência
A atividade de Inteligência Policial deve propiciar um fluxo constante de dados e conhecimentos
voltados ao assessoramento do processo decisório.
Princípio da precisão
A atividade de Inteligência Policial deve buscar um conhecimento que alcance precisamente, e
plenamente, os seus objetivos.
25
UNIDADE I │ FUNDAMENTOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA POLICIAL
Princípio da imparcialidade
A atividade de Inteligência Policial pressupõe a adoção de uma postura imparcial durante a produção
dos conhecimentos. É inadmissível que posicionamentos ou ideologias pessoais interfiram no
conhecimento que esteja sendo produzido.
Princípio do controle
A atividade de Inteligência Policial requer o acompanhamento constante das ações que estejam
sendo executadas.
Princípio do sigilo
A atividade de Inteligência Policial deve preservar a identidade do órgão, bem como dos seus
integrantes e colaboradores.
Princípio da simplicidade
A atividade de Inteligência Policial deve priorizar o emprego de procedimentos simples em
detrimento de outros mais complexos.
Princípio da amplitude
Na elaboração do conhecimento, o analista de Inteligência Policial deve buscar esgotar todos os
aspectos do assunto tratado.
Princípio da compartimentação
Com o objetivo de evitar os danos decorrentes de vazamentos ou comprometimentos, a atividade
de Inteligência Policial deve buscar restringir o acesso aos conhecimentos sensíveis apenas a quem
tenha a real necessidade de conhecê-los.
As características que relacionamos a seguir, também expressas na DNISP, são aspectos essenciais
da atividade de Inteligência Policial:
Quadro 3.
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FUNDAMENTOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA POLICIAL │ UNIDADE I
Registre-se o fato de que para Ferro Júnior (2008) as características fundamentais da atividade de
Inteligência Policial são as seguintes:
Previsão
Exercício diário e mental do analista de Inteligência Policial, percebendo e detectando situações
definidas como problemas para a Segurança Pública.
Antecipação
Ação que se concretiza no momento em que a Inteligência elabora, difunde e propaga o conhecimento
pertinente na organização policial por meio de sistemas e relatórios de Inteligência. De forma
oportuna, expressa certeza ou opinião sobre fatos e situações que afetam a Segurança Pública e tem
valor estratégico pela visão do contexto e avaliação global do crime.
Assessoramento
Começa no momento em que um determinado fato ou acontecimento se torna fato gerador para as
ações de Inteligência e sujeito à investigação criminal. Crimes e situações diversas (movimentos de
grupos ou subgrupos sociais) exigem avaliação e monitoramento pela atividade, com o deslocamento
e disponibilidade dos recursos de Inteligência. Setores operacionais de Inteligência participam da
solução do problema, coletando e produzindo informações para gerar significado. Com o apoio técnico
e especializado, auxilia a unidade policial na elucidação de ocorrências e na produção de provas.
27
A PRODUÇÃO DO
CONHECIMENTO UNIDADE II
NA INTELIGÊNCIA
POLICIAL
CAPÍTULO 1
Situações que ensejam a produção de
um conhecimento de Inteligência Policial
Ocorre toda vez que o analista de Inteligência Policial entenda que o usuário deva
conhecer sobre um determinado assunto.
Vejamos a seguir, para exemplificar, um fato que poderia ensejar a produção de um conhecimento
de Inteligência Policial:
28
A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA INTELIGÊNCIA POLICIAL │ UNIDADE II
31 de outubro de 2012 | 2h 03
A lista de policiais que deveriam ser assassinados tinha pelo menos 40 nomes de
homens que atuam em todo o Estado. Documentos revelam que os criminosos
seguiam os policiais por tempo suficiente para saber tudo sobre sua rotina. O nível
de detalhamento era tão grande que os criminosos sabiam até o percurso feito por
policiais do trabalho para casa e os locais onde passavam seus momentos de lazer,
como no caso de um sargento que gostava de assistir a jogos de futebol em um bar. A
documentação também inclui penas aplicadas contra bandidos que não praticaram
as ações determinadas pela facção contra as forças de segurança do Estado.
29
UNIDADE II │ A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA INTELIGÊNCIA POLICIAL
os criminosos. No papel está escrito que, para cada criminoso morto, dois policiais
devem morrer. O motivo da ordem seriam as “execuções covardes” de criminosos,
supostamente cometidas por policiais militares.
A central também funcionava como uma espécie de fórum do crime. Ali, havia
detalhes de todos os processos do chamado tribunal do PCC. A documentação
incluía o nome dos responsáveis por conduzir os julgamentos (disciplinas), as
testemunhas e as sentenças aplicadas aos réus. Em um dos casos, por exemplo, a
sentença para um rapaz que furtou dois tênis foi ressarci-los à vítima.
Além disso, foram achados documentos que comprovam que o PCC pagava pensão
às famílias de pessoas mortas durante os ataques da facção em 2006. Os familiares
tinham de assinar uma folha atestando o recebimento da cesta básica – ainda não se
sabe se o pagamento era em dinheiro ou produtos.
Seria natural, após a descoberta dessa lista, que os setores de Inteligência Policial fossem acionados
para produzir um conhecimento sobre o assunto, não é mesmo? Tal conhecimento, dentre outros
aspectos, poderia identificar:
30
CAPÍTULO 2
Metodologia da produção do
conhecimento de Inteligência Policial
»» Planejamento.
»» Reunião.
»» Análise e Síntese.
»» Interpretação.
»» Formalização e Difusão.
Vale ressaltar que essas fases não constituem procedimentos rigorosamente ordenados e nem
possuem limites claramente definidos entre si.
Fase do Planejamento
31
UNIDADE II │ A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA INTELIGÊNCIA POLICIAL
O assunto deve ser preciso e específico. Desse modo, torna-se necessário proceder à sua delimitação.
Neste sentido, o analista de Inteligência Policial deve se aprofundar no assunto, em lugar de deter-
se a temas muito genéricos, os quais podem gerar análises superficiais e induzir o usuário final a
tomar decisões incorretas.
Como forma de manter o analista de Inteligência Policial atualizado sobre assuntos que são
sistematicamente abordados por sua organização, o ideal é que todos os conhecimentos produzidos
sejam arquivados em “pastas” específicas, permitindo assim que ele ofereça uma pronta resposta
quando seja acionado, atendendo ao princípio da oportunidade, uma vez que a produção do
conhecimento para a tomada de decisões geralmente carece de ações rápidas para que possam ser
eficazes.
Na fase do planejamento, a determinação do assunto é muitas vezes provisória, uma vez que, ao
término do trabalho, poderá ser necessário redefini-lo de acordo com a representação final do fato
ou da situação enfocada.
32
A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA INTELIGÊNCIA POLICIAL │ UNIDADE II
Na atividade de Inteligência Policial não é raro que um conhecimento seja difundido para mais de
um usuário, considerando-se a complexidade que é intrínseca ao seu processo decisório.
Quando houver a necessidade de diversificar a difusão, deve-se informar a cada destinatário sobre
os demais usuários que estão recebendo o conhecimento.
Convém destacar que nem sempre é possível se determinar a finalidade específica do conhecimento.
Neste caso, o planejamento deve ser orientado a esgotar o assunto tratado, de tal modo que o usuário
venha a encontrar, em algum ponto do conhecimento que está sendo produzido subsídios úteis à
sua atuação.
Quando isso não ocorre, ou quando a iniciativa de produção do conhecimento é do próprio analista
de Inteligência Policial, os prazos são estabelecidos observando-se o princípio da oportunidade.
Os aspectos essenciais não devem ser confundidos com o problema, definido quando da determinação
do assunto.
33
UNIDADE II │ A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA INTELIGÊNCIA POLICIAL
Pode ocorrer que o analista de Inteligência Policial não consiga obter respostas a um ou outro
aspecto essencial listado. Neste caso, ele deve produzir o conhecimento com base no material que
foi reunido, a fim de atender ao princípio da oportunidade.
Observe que os aspectos essenciais podem ser redimensionados ao longo do trabalho de produção
do conhecimento.
Este procedimento permite ao analista de Inteligência Policial preparar-se com objetividade para a
próxima fase da metodologia de produção do conhecimento.
Em outras palavras, a determinação dos aspectos essenciais a conhecer irá direcionar o esforço para
a obtenção de dados na fase da Reunião.
Fase da Reunião
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A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA INTELIGÊNCIA POLICIAL │ UNIDADE II
Dois tipos de procedimentos podem ser aplicados nesta fase: a coleta e a busca.
A coleta consiste na obtenção dos dados disponíveis em fontes abertas. A busca, por sua vez,
compreende os procedimentos para obtenção dos dados negados.
Em razão disso, é essencial que o analista verifique a origem da fonte e o conteúdo do dado que por
ela foi repassado, valendo-se, por vezes, da experiência pessoal que detém sobre o assunto para
fazer uma primeira avaliação.
Trata-se, portanto, da fração responsável pelo emprego de Técnicas e Ações Operacionais na busca
pelo dado negado.
»» Estória Cobertura.
»» Reconhecimento.
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UNIDADE II │ A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA INTELIGÊNCIA POLICIAL
»» Entrevista.
»» Vigilância.
»» Disfarce.
»» Entrada.
»» Recrutamento.
»» Infiltração.
»» Fotografias e Filmagens.
Vale ressaltar que a Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública – DNISP estabelece
uma diferenciação entre Ações de Busca e Técnicas Operacionais.
A DNISP entende como Ações de Busca, todos os procedimentos realizados pelo setor de operações de
uma Agência de Inteligência, envolvendo ambos os ramos (segmentos) da Inteligência de Segurança
Pública, a fim de reunir dados protegidos ou negados, em um universo antagônico. As Técnicas
Operacionais, por outro lado, seriam as habilidades desenvolvidas por meio de emprego de técnicas
especializadas, que viabilizariam a execução das Ações de Busca, maximizando potencialidades,
possibilidades e operacionalidades.
Quadro 4.
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A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA INTELIGÊNCIA POLICIAL │ UNIDADE II
Ainda segundo a DNISP, as Ações de Busca que necessitam de autorização judicial (Infiltração,
Entrada e Interceptação de Sinais e de Dados) são denominadas Ações de Inteligência Policial
Judiciária (AIPJ). Tais ações são de natureza sigilosa e envolvem o emprego de técnicas especiais
para a obtenção de dados.
Analisar significa decompor algo em suas partes constituintes e observar como cada uma dessas
partes relaciona-se com o todo e com as demais partes.
Este estudo é iniciado por um exame preliminar do relacionamento dos dados ou conhecimentos
obtidos com o assunto que o analista esteja estudando. Esgota-se pela decomposição de cada um
destes dados ou conhecimentos em frações significativas, isto é, frações que tenham relação com
os já citados aspectos essenciais.
Por vezes, partes dos dados ou conhecimentos reunidos são considerados de utilidade para o
trabalho em andamento, embora não tenham correspondência com qualquer aspecto essencial
levantado no planejamento. Neste caso, o rol de aspectos essenciais deve ser alterado por meio da
inclusão destes novos itens.
Sua consolidação é feita comparando-se as frações significativas entre si e com o que o elaborador
do trabalho sabe sobre o assunto.
37
UNIDADE II │ A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA INTELIGÊNCIA POLICIAL
Esse resultado poderá ensejar novas medidas de reunião, se julgado que certas frações significativas
não têm credibilidade suficiente para serem aproveitadas.
Fase da Interpretação
Na unidade anterior, quando estudamos os tipos de conhecimento que são empregados na atividade
de Inteligência Policial, destacamos que o conhecimento Informe caracteriza-se por ser uma
narração de um fato ou situação, na qual o analista de Inteligência Policial não encontra uma base
mínima sobre a qual possa desenvolver um raciocínio.
Perceba que a interpretação (extração de um significado subjacente aos dados que foram reunidos e
analisados pelo analista de Inteligência Policial) resulta diretamente de uma operação mental mais
elaborada, ou seja, de um raciocínio.
Como já visto anteriormente, a metodologia de produção de conhecimento não é composta por fases
e procedimentos rigorosamente ordenados e com limites precisos. Essa observação é particularmente
válida para a fase da interpretação, onde qualquer tentativa de ordenação e delimitação se torna difícil.
38
A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA INTELIGÊNCIA POLICIAL │ UNIDADE II
Contudo, apenas para fins didáticos, podemos dizer que os principais procedimentos realizados na
fase da Interpretação são os seguintes: delineamento da trajetória, estudo dos fatores de influência
e o desvelamento do significado final.
Delineamento de trajetória
O estudo dos fatores de influência compreende, portanto, a identificação e ponderação dos chamados
Fatos Portadores de Futuro, bem como dos fatores que, embora não estejam presentes na situação
estudada, dela sejam inferidos como virtualmente integrados em seus desdobramentos futuros.
A experiência na atividade nos ensina que, a rigor, quando o analista de Inteligência Policial chega a
este ponto da fase da interpretação, ele já tem em sua mente ao menos um esboço da interpretação
que dará ao fato ou situação em estudo.
39
UNIDADE II │ A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA INTELIGÊNCIA POLICIAL
Quadro 5.
40
CAPÍTULO 3
Técnica de Avaliação de Dados
Creio que a esta altura você já seja capaz de inferir a importância de se realizar a avaliação dos dados
obtidos, não é mesmo?
Pois bem, o analista de Inteligência Policial necessita de uma técnica que lhe permita verificar o grau
de credibilidade que pode ser atribuído aos dados obtidos, e assegurar, deste modo, que somente
aqueles com maior credibilidade sejam empregados na produção dos conhecimentos.
Julgamento da fonte
O julgamento da fonte é realizado com a finalidade de se estabelecer o grau de idoneidade dessa
fonte. Neste julgamento, a fonte é considerada sob três aspectos:
a. Autenticidade;
b. Confiabilidade;
c. Competência.
Sob o aspecto da autenticidade, procura-se primeiro verificar se o dado provém realmente da fonte
presumida. Este trabalho é desenvolvido através do estudo das particularidades e dos eventuais
indicativos que permitam caracterizar a fonte. A seguir, verifica-se se foi nela que o dado foi gerado.
Cuidados especiais são observados para distinguir fonte de canal de transmissão (fonte primária de
fonte secundária), já que, muitas vezes, surge entre a fonte e o avaliador a figura do intermediário do
dado. Esse intermediário é considerado como canal de transmissão, e não deve ser confundido com a
fonte do dado, embora tenha que ser submetido aos mesmos critérios de avaliação de fonte primária.
Sob o aspecto da confiabilidade, entre outros, são considerados os seguintes indicadores que a ela
se relacionam:
41
UNIDADE II │ A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA INTELIGÊNCIA POLICIAL
»» Habilitação.
O primeiro indicador diz respeito aos atributos pessoais da fonte presumida para perceber,
memorizar e descrever especificamente o fato ou a situação objeto do dado. A fonte é, portanto,
julgada com base no estudo de sua capacidade pessoal para perceber o fato ou a situação.
O segundo indicador se refere à possibilidade da fonte (por si mesma) perceber o fato ou a situação
que descreve.
Ressalte-se que os indicadores aqui relacionados, embora sejam mais adequados para o julgamento
de pessoas como fonte, podem ser adaptados para o julgamento de organizações como fonte.
Porém, na eventualidade de ter que julgar um documento como fonte de dados, o profissional de
Inteligência terá que se valer de outros indicadores e técnicas específicos.
Julgamento do conteúdo
O julgamento do conteúdo considera o dado sob os seguintes aspectos:
a. coerência;
b. compatibilidade;
c. semelhança.
A semelhança consiste em verificar se há outro dado, oriundo de fonte diferente, cujo conteúdo
esteja em conformidade com o conteúdo do dado em julgamento.
42
A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA INTELIGÊNCIA POLICIAL │ UNIDADE II
Desse modo, as frações que indiquem o estado de certeza por parte do analista de Inteligência
Policial são registradas no tempo Presente, ou no Pretérito Perfeito. Já as frações que indicam o
estado de opinião, são escritas utilizando-se o Futuro do Pretérito.
a. A lista contendo os nomes e endereços dos policiais que seriam executados teria
sido elaborada pelo traficante Fulano de Tal.
b. A lista contendo os nomes e endereços dos policiais que seriam executados foi
elaborada pelo traficante Fulano de Tal.
43
CAPÍTULO 4
O Relatório de Inteligência Policial
Embora, como visto anteriormente, a atividade de Inteligência Policial admita a possibilidade de que
um conhecimento seja difundido oralmente ao tomador de decisão (via de regra, para que se possa
atender ao princípio da oportunidade), o mais comum é que esse conhecimento seja devidamente
formalizado em um documento escrito, antes de sua difusão final.
Classificação sigilosa
Consiste na atribuição de um grau de sigilo ao Relatório de Inteligência Policial, conforme as normas
internas do órgão ao qual pertence a unidade de Inteligência e de acordo com a legislação vigente.
Esta indicação deve ser grafada na cor vermelha e inserida em uma moldura de cor idêntica, em
letras maiúsculas, de forma centralizada, no topo e no rodapé de todas as páginas.
Observe que se não houver classificação sigilosa (documentos ostensivos) não há a necessidade de
se grafar nada nesse campo.
Numeração de páginas
O número da página do documento é sempre indicado no seguinte formato: (número da página
atual) / (número total de páginas do documento), ambos separados por uma barra. Esta forma
de numeração permite ao destinatário final do RELINT identificar de forma rápida a ausência de
alguma página que tenha sido destacada do documento.
44
A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA INTELIGÊNCIA POLICIAL │ UNIDADE II
Tipo de conhecimento
Trata-se da indicação do tipo de conhecimento que esteja sendo veiculado pelo Relatório de
Inteligência Policial: Informe, Informação, Apreciação ou Estimativa.
Numeração do documento
Consiste na indicação do número do Relatório de Inteligência Policial, o qual deve ser atribuído pela
própria unidade que o produziu.
Data
Trata-se da data em que se finalizou a redação do Relatório de Inteligência Policial. Deve ser indicada
no seguinte formato: DD MMM AA. Ou seja, dois dígitos para o dia e o ano e três letras maiúsculas
para o mês, sendo que todos os campos são separados por um espaço.
Assunto
Trata-se do assunto elencado no Planejamento, ou seja, a expressão escolhida pelo analista para
sintetizar o conteúdo do conhecimento que foi produzido. Conforme alertam Santos e Franco
(2011) o analista deve ter cuidado para que o assunto reflita a realidade dos fatos abordados no
conhecimento produzido.
Difusão
Refere-se à autoridade para a qual será encaminhado o Relatório de Inteligência Policial. Havendo
mais de uma difusão, todas devem ser escritas neste campo.
Referência
Consiste na indicação de outros documentos de Inteligência que estejam relacionados com o
conhecimento que foi produzido.
45
UNIDADE II │ A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA INTELIGÊNCIA POLICIAL
Anexos
Refere-se à indicação de outros documentos ou objetos que acompanhem o conhecimento que foi
produzido (laudos, pareceres, mapas, fotografias etc.).
Indicação de continuidade
Todas as páginas, a partir da segunda, devem indicar que são continuação de um relatório específico.
Esta indicação deve ser escrita no topo da página, entre parênteses, abaixo da classificação sigilosa.
Os textos que apresentam uma estrutura dissertativa devem, obrigatoriamente, apresentar uma
conclusão ao final. Esta conclusão deve ser uma decorrência lógica dos fatos e acontecimentos
(premissas) que foram mencionados ao longo do texto.
46
CONTRA-
-INTELIGÊNCIA UNIDADE III
POLICIAL
Nos capítulos anteriores, vimos que a atividade de Inteligência Policial destina-se à obtenção de
dados e à sua respectiva transformação, por meio da aplicação de uma metodologia específica, em
conhecimentos que sejam úteis e oportunos ao assessoramento do processo decisório no âmbito das
organizações policiais.
Alguns dos conhecimentos produzidos pelo analista de Inteligência Policial certamente abordarão
temas de alta sensibilidade, com grande potencial para causar dano aos diversos atores envolvidos,
caso sejam divulgados de maneira indevida. Vejamos o exemplo a seguir:
Suponha que um analista de Inteligência de uma determinada unidade policial esteja produzindo
um conhecimento sobre a atuação de uma poderosa organização criminosa, com base em dados que
lhe são repassados por agentes infiltrados.
Dentre os dados que esse analista manipula constantemente, encontram-se o nome desses agentes,
bem como a estória-cobertura que eles adotam nesta operação.
Agora imagine que ao atender a um chamado para manutenção nos computadores da unidade de
Inteligência Policial, o técnico de uma empresa terceirizada de informática tenha acidentalmente
acessado os arquivos (que por erro do analista não estavam criptografados) relativos a esta operação.
O supervisor, por curiosidade, solicita ao técnico que abra todos os outros arquivos que vieram da
referida unidade de Inteligência Policial.
Para a surpresa de ambos, todos os arquivos continham dados altamente sigilosos, como o nome e
o contato dos líderes da organização, e ainda dos agentes que operam infiltrados. Novamente, por
erro, esses dados não estavam criptografados.
Vamos supor agora que o supervisor, altamente preocupado com o ato que acabou de tomar e
pensando que vá ser demitido por ter feito tal solicitação ao técnico que era seu subordinado, resolva
comunicar o ocorrido ao diretor de sua empresa.
»» o técnico em informática;
47
UNIDADE III │ CONTRAINTELIGÊNCIA POLICIAL
»» o seu supervisor;
»» o diretor da empresa.
Pelo menos três pessoas, e isso considerando que todos tenham guardado o devido sigilo sobre o
ocorrido!
Imagine o que poderia acontecer, por exemplo, se esta “informação” chegasse – de algum modo – ao
ouvido dos criminosos.
Caso esse exemplo ocorresse na realidade, você certamente concordaria comigo que toda a operação
estaria comprometida, e que a vida dos agentes que operam infiltrados estaria correndo um grave
perigo, não é verdade?
Pois bem, com este exemplo (que não está muito distante de fatos que já aconteceram na realidade),
eu quero ilustrar que os assuntos com os quais o analista de Inteligência Policial trabalha merecem
receber medidas especiais de proteção.
48
CAPÍTULO 1
Conceito de Contrainteligência Policial
e Aspectos Legais
O risco aos dados e conhecimentos sensíveis pode ser expresso em função da existência de
vulnerabilidades (fragilidades internas da unidade policial) e ameaças (eventos ou agentes externos
que intencionem causar danos à unidade policial). A Contrainteligência Policial atuará nestes dois
fatores, procurando minimizá-los.
De um modo amplo, podemos dizer então que cabe à Contrainteligência Policial prevenir, detectar,
obstruir e neutralizar as ações adversas de qualquer natureza que constituam ameaça aos ativos da
organização policial.
Recentemente houve a edição da Lei no 12.527/2011, conhecida como Lei de Acesso à Informação,
a qual provocou alterações significativas nestes procedimentos, ao revogar alguns dos dispositivos
que os regulamentavam.
Antes de estudarmos essas alterações de forma mais detalhada, é interessante consolidarmos alguns
conceitos importantes para a compreensão do assunto.
49
UNIDADE III │ CONTRAINTELIGÊNCIA POLICIAL
Documentos Sigilosos
Incluem todos aqueles aos quais tenha sido atribuída uma classificação, de acordo com a legislação
vigente e as normas específicas de cada órgão.
Necessidade de Conhecer
Consiste em uma condição pessoal, inerente ao efetivo exercício de cargo, função, emprego ou
atividade, indispensável para que uma pessoa, possuidora de uma credencial de segurança de nível
igual ou superior ao conteúdo desejado, tenha acesso a dados ou conhecimentos sigilosos.
Compartimentação
É a restrição de acesso a dados ou conhecimentos sigilosos com base na Necessidade de Conhecer.
Trata-se de uma eficiente medida de segurança, capaz de minimizar os danos resultantes de um
eventual vazamento.
Comprometimento
Consiste na perda de segurança resultante do acesso não autorizado a dados ou conhecimentos
sigilosos. Um documento sigiloso que foi acessado por uma pessoa não autorizada torna-se
comprometido. Do mesmo modo, a pessoa não autorizada que teve acesso ao documento sigiloso
fica comprometida com a preservação do sigilo do referido documento.
Vazamento
Consiste na divulgação pública e não autorizada de dados ou conhecimentos sigilosos. Perceba que
o comprometimento não implica necessariamente no vazamento de um documento sigiloso, uma
vez que este último implica necessariamente na divulgação pública do seu conteúdo.
Bem, agora que consolidamos esses conceitos iniciais, podemos nos aprofundar um pouco mais nas
alterações provocadas pela edição da Lei no 12.527/2011.
A Política Nacional de Arquivos Públicos e Privados, que trata do acesso e do sigilo dos
documentos públicos, foi definida pela Lei no 8.159/1991. Esta norma já previa, em seu artigo 23, a
edição de um decreto que regulamentasse as categorias de sigilo que deveriam ser obedecidas pelos
órgãos públicos na classificação dos seus documentos.
Art. 23 Decreto fixará as categorias de sigilo que deverão ser obedecidas pelos
órgãos públicos na classificação dos documentos por eles produzidos.
[Decreto Revogado]
50
CONTRAINTELIGÊNCIA POLICIAL │ UNIDADE III
Este decreto levaria onze anos para ser editado. Trata-se do Decreto no 4.553/2002, o qual dispunha
sobre a salvaguarda de dados, informações, documentos e materiais sigilosos de interesse da
segurança da sociedade e do Estado, no âmbito da Administração Pública Federal.
O Decreto no 4.553/2002 previa, no §1o, do seu Artigo 37, a incidência de sanções para eventuais
divulgações de documentos sigilosos (vazamentos). Vejamos:
Art. 37
§1o Todo aquele que tiver conhecimento, nos termos deste Decreto, de assuntos
sigilosos fica sujeito às sanções administrativas, civis e penais decorrentes da
eventual divulgação dos mesmos.
Outro dispositivo que merecia destaque no Decreto no 4.553/2002 era o seu Artigo 65, o qual
estabelecia que toda e qualquer pessoa que tomasse conhecimento de documento sigiloso ficaria
automaticamente responsável pela preservação do seu sigilo. Tratava-se, por assim dizer, de uma
regulamentação do comprometimento que acabamos de estudar anteriormente.
Creio que vocês tenham percebido o quanto o Decreto no 4.553/2002 era importante para os
profissionais que trabalhavam diretamente com assuntos sigilosos, não é mesmo?
De fato, tal era a sua importância, que em vários documentos de Inteligência os trechos mencionados
acima apareciam expressamente, na forma de notas de confidencialidade.
Contudo, é importante que você saiba que o Decreto no 4.553/2002 perdeu absolutamente a sua
eficácia, tendo sido tacitamente revogado com a entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação.
Isso ocorreu porque a Lei no 12.527/2011, em seu Artigo 46, revogou expressamente os Artigos 22
a 24 da Lei no 8.159/1991. Recordemos, como visto anteriormente, que o Decreto no 4.553/2002
regulamentava especificamente o Artigo 23 desta Lei.
Art. 46 Revogam-se:
Para suprir a lacuna decorrente da revogação do Decreto no 4.553/2002, houve a edição do Decreto
no 7.845/2012, o qual apresenta, dentre outras, as seguintes inovações:
51
UNIDADE III │ CONTRAINTELIGÊNCIA POLICIAL
52
CAPÍTULO 2
Ramos da contrainteligência policial: a
segurança orgânica
Aprofundando um pouco mais o nosso estudo sobre a Contrainteligência Policial, trataremos agora
da chamada Segurança Orgânica.
Vejamos agora como a Segurança Orgânica pode ser empregada para minimizar as vulnerabilidades
de uma organização policial e, consequentemente, dificultar a materialização de eventos danosos
que tenham como alvo o conhecimento sensível desta organização.
De acordo com a classificação apresentada por Ferro Júnior (2008), a Segurança Orgânica
compreende os seguintes grupos de medidas:
»» Segurança do Pessoal.
»» Segurança da Comunicação.
Segurança do Pessoal
Esta é a mais importante de todas as medidas de Segurança Orgânica, uma vez que não se pode falar
em segurança sem se considerar o seu elemento mais fraco: o homem.
53
UNIDADE III │ CONTRAINTELIGÊNCIA POLICIAL
Nesse sentido, deve-se assegurar a salvaguarda dos conhecimentos sensíveis evitando que sejam
expostos a pessoas que não tenham a devida necessidade de conhecer.
Deve-se ainda identificar todas as pessoas que, em algum momento, possam ter contato com
os dados e conhecimentos sensíveis da organização. Essas pessoas devem assinar termos de
confidencialidade, comprometendo-se a manter o devido sigilo em relação aos assuntos sigilosos
com os quais venham a ter contato.
Após identificar, classificar e delimitar quais são as áreas sensíveis da organização, deve-se
assegurar que elas estejam devidamente protegidas por meio da adequada implantação de barreiras
e mecanismos eficientes de controle de acesso.
Segundo Ferro Júnior (2008) as principais ameaças aos documentos e materiais sigilosos advêm da
ação do crime organizado, comprometendo a segurança da instituição policial.
a. Segurança na Produção.
c. Segurança no Manuseio.
d. Segurança no Arquivamento.
e. Segurança na Destruição.
Implica ainda um cuidado especial para evitar a produção do chamado lixo classificado, ou seja, de
eventuais rejeitos que contenham dados ou conhecimentos sensíveis sobre a organização policial.
54
CONTRAINTELIGÊNCIA POLICIAL │ UNIDADE III
Implica a sensibilização dos usuários quanto aos critérios de escolha, utilização e alteração de senhas
(política de senhas), as quais devem possuir diferentes níveis de acesso com base nos conceitos de
compartimentação e necessidade de conhecer, apresentados no capítulo anterior.
Abrange ainda a proteção de dados e conhecimentos sensíveis por recursos de criptografia, bem
como a implantação de uma adequada política de backups que proteja os arquivos da organização
policial contra a ocorrência de sinistros, como incêndios ou sabotagens, por exemplo.
Segurança da Comunicação
Objetiva assegurar a salvaguarda dos meios de comunicação empregados pela organização policial.
Compreende as regras de segurança para o tráfego de dados pela internet, bem como o uso de
dispositivos que assegurem uma comunicação segura por rádio ou telefone.
Estudo de caso
O caso que reproduziremos a seguir é real. Ocorreu na Secretaria de Segurança Pública do Rio de
Janeiro:
3/4/2011 22h51
Para Carlos da Cruz Sampaio Júnior, o Exército era um sonho de infância. Quando
jovem, ele tentou entrar para a Academia Militar, mas não passou no teste. “Eu acho
que uma série de fatores de natureza pessoal me levaram a não chegar na Academia
Militar. Tentei. Mas acabou que ficou esquecido”, conta o homem que se fez passar
por coronel e conseguiu enganar a Polícia Militar, a Polícia Civil e a Secretaria de
Segurança do Rio de Janeiro.
55
UNIDADE III │ CONTRAINTELIGÊNCIA POLICIAL
a Academia Militar por um único dia e nem mesmo ter concluído o bacharelado em
Direito, sua segunda opção profissional.
Após permanecer no cargo por três meses, o falso coronel foi finalmente descoberto
pelo secretário José Mariano Beltrame e acabou sendo preso em outubro de 2010.
Carlos Sampaio ainda trabalhou com esportes de aventura, limpeza predial, até
conseguir um emprego na Secretaria de Segurança. Era um trabalho administrativo,
como assessor do subsecretario. Mas ele queria mais.
“Existe um termo pejorativo que se chama ‘PI’, pé inchado, é aquele cidadão que
não é policial civil, nem militar. Constantemente fui chamado de ‘PI’. De certa forma
ofende, claro que ofende”, contou. Com a troca de governo, ele deixou a secretaria,
mas não a ideia de implantar seu sistema de segurança.
A ascensão
56
CONTRAINTELIGÊNCIA POLICIAL │ UNIDADE III
Na carteira do Exército, Carlos Sampaio tinha uma foto com farda de gala. “Não
falsifiquei. Criei. É diferente, porque você falsificar é pegar qualquer documentação
e transformar os dados, eu simplesmente editei a carteira toda no Photoshop. Então,
eu criei. Não é uma falsificação? Isso aí depende do seu ponto de vista”, diz.
Depois que Sampaio foi preso, a polícia analisou o documento. Encontrou dez erros
grosseiros, como a data de validade, até 2031. Em um documento do Exército ela
seria indeterminada. Quem assina a carteira é um capitão, o que não aconteceria
na identidade de um coronel. E até o próprio posto, tenente-coronel está escrito
errado, sem hífen. Mesmo com erros tão básicos ninguém na secretaria percebeu a
falsificação.
O falso coronel conta que não teve que apresentar nenhum documento ao ser
contratado. “Eu já tinha uma série de documentações apresentadas na secretaria de
Segurança. Da primeira vez que eu havia estado lá. Você tem um cadastro lá. Eu já
tinha tudo lá, minha carteira, CPF, PIS, tinha tudo lá”, explica.
A queda
Em nota, a secretaria de Segurança afirma que Sampaio ficou três meses empregado
e que o serviço de inteligência precisou desse tempo para reunir provas suficientes
contra ele. No dia 7 de outubro, Beltrame procurou o Exército e descobriu que Carlos
Sampaio nunca tinha sido militar. Na semana seguinte, o falso coronel foi preso na
sala que ocupava na secretaria. Ele passou dois meses na prisão e agora responde
a processos de falsidade ideológica e porte ilegal de arma de uso restrito. Ele pode
pegar até seis anos de prisão.
Sampaio só lamenta que o seu projeto de policiamento não é mais seguido nos
batalhões. E resume como conseguiu passar tanto tempo enganando as pessoas. “Eu
acho que as pessoas acreditam na forma como você se coloca e o que você coloca.
57
UNIDADE III │ CONTRAINTELIGÊNCIA POLICIAL
Se você chegar pra mim e falar que é o Presidente da República, souber se colocar
como presidente e se portar como tal e tiver representatividade e ter resultado como
tal, eu acredito. Eu podia me passar por presidente, você não”, brinca.
Tomando como referência o caso acima, e com base nas medidas de Segurança Orgânica apresentadas
anteriormente, responda:
1. Quais medidas você acredita que poderiam ter sido tomadas para que esse caso
não ocorresse? Justifique a sua resposta.
58
CAPÍTULO 3
Contraengenharia Social
Ao que tudo indica, a expressão engenharia social teria sido cunhada inicialmente pelo lendário
hacker americano, Kevin Mitnik.
Após ter sido preso e sentenciado nos Estados Unidos, hoje em dia Mitnik ganha a vida realizando
palestras e consultoria em Segurança da Informação.
De acordo com o que o próprio Mitnik relata em seu livro A Arte de Enganar, em muitos casos o
método que ele utilizou para obter as senhas que lhe permitiriam invadir sistemas corporativos foi,
simples. Perguntar!
Uma conversa inocente, um alvo desprevenido, alguns dados estratégicos obtidos anteriormente
etc. E tudo o que ele precisava saber lhe era repassado sem dificuldade.
A maior parte das vítimas de engenharia social possui uma característica em comum:
não se visualizava como um alvo
Ao analisar casos de pessoas que foram alvo de atos dessa natureza, percebemos com facilidade que
a não percepção do risco foi um fator crucial para que elas não detectassem que estavam sendo
exploradas por engenheiros sociais.
Em 2009, Thomas Ryan, um analista de ameaças cibernéticas, resolveu fazer uma experiência.
Ele queria identificar se os profissionais da comunidade norte-americana de Inteligência estavam
realmente protegidos contra ataques de engenharia social.
Utilizando a foto de uma mulher atraente, a qual havia encontrado na internet, Ryan inseriu este
falso perfil em diversas redes sociais, sempre associando o nome de Robin Sage a eventos na área
de Inteligência e Segurança.
Não demorou muito tempo para que diversos membros da comunidade norte-americana de
Inteligência entrassem em contato, revelassem os seus verdadeiros nomes, o local onde trabalhavam
e as atividades que desenvolviam em suas respectivas unidades.
59
UNIDADE III │ CONTRAINTELIGÊNCIA POLICIAL
Figura 2.
O caso Robin Sage se tornou emblemático e revelou que, mesmo profissionais que tratavam
diretamente com assuntos sigilosos, não estavam devidamente preparados para lidar com ataques
de engenharia social.
Existe uma máxima em segurança que diz: “uma corrente é tão resistente quanto o seu elo mais
fraco”. Desse modo, devemos trabalhar constantemente para desenvolver e manter uma cultura de
segurança no âmbito de nossa organização.
Obviamente, de nada adianta uma unidade de Inteligência Policial adotar os mais modernos
procedimentos de segurança da informação, se os seus agentes não estão devidamente preparados
para se defender contra ataques dessa natureza.
Pense na forma como você se comporta em seu dia a dia, e tente descobrir se você
está protegido contra ataques de engenharia social.
60
CONTRAINTELIGÊNCIA POLICIAL │ UNIDADE III
»» simpatia;
»» gentileza;
»» inteligência;
»» versatilidade.
61
PARA (NÃO) FINALIZAR
Considerada por muitos autores como a segunda “profissão” mais antiga do mundo, a atividade
de Inteligência acompanha o homem desde os primórdios da civilização, sempre se adaptando às
características próprias de cada época.
Nos últimos anos, a mídia vem retratando os diversos embates travados pelo Estado brasileiro
no intuito de recuperar áreas que haviam sido absolutamente tomadas por grupos criminosos.
O sucesso nesses confrontos deve-se, em grande parte, aos conhecimentos produzidos pelas
unidades de Inteligência Policial, sem os quais o planejamento e a execução dessas ações estariam
significativamente comprometidos.
Como em um jogo de xadrez, onde vence quem consegue visualizar o maior número de jogadas a
frente, a Inteligência Policial procura antecipar-se às ações criminosas, identificando tendências e
padrões, de forma a direcionar, da melhor maneira possível, os recursos das organizações policiais.
Quais serão as características da criminalidade que enfrentaremos nos próximos anos? Como podemos
nos preparar para enfrentá-la? Esse deve ser o pensamento de um gestor que conta com o suporte de
uma unidade de Inteligência Policial na estrutura de sua respectiva organização.
Espero que este material tenha contribuído, ainda que minimamente, para demonstrar o valor e a
importância da Inteligência Policial nos dias atuais.
INTELIGÊNCIA!
62
REFERÊNCIAS
CASTRO, Clarindo Alves de; RONDON FILHO, Edson Benedito (coordenadores). Inteligência de
Segurança Pública: um xeque-mate na criminalidade. Curitiba: Juruá, 2009.
63
REFERÊNCIAS
MARCIAL, Elaine Coutinho; GRUMBACH, Raul José dos Santos. Cenários Prospectivos: como
construir um futuro melhor. Rio de Janeiro: FGV, 2008.
MITNIK, Kevin D. & SIMON, Willian L. A Arte de Enganar. São Paulo: Pearson Education do
Brasil, 2002.
PINTO, Soraya Moradillo. Infiltração Policial nas Organizações Criminosas. São Paulo:
Juarez de Oliveira, 2007.
64