Você está na página 1de 80

Universidade de São Paulo

Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”


Casa do Produtor Rural

Criação de
Bezerras Leiteiras
Carla Maris Machado Bittar
Rafaela Nunes Sanchez Portal
Anna Carolina Fett da Cunha Pereira

ESALQ/USP
1a Edição, 2018
Piracicaba, SP
Casa do Produtor Rural
Av. Pádua Dias, 11 - Cx. Postal 9 • Bairro Agronomia • Piracicaba, SP
CEP 13418-900 • Fone (19) 3429-4178/3429-4200 • cprural@usp.br

Comissão de Cultura e Extensão Universitára


Presidente Luis Reynaldo Ferracciú Alleoni
Vice-presidente Carla Maris Machado Bittar
Serviço de Cultura e Extensão Universitária
Chefe Administrativo Maria de Fátima Durrer

Coordenação editorial Marcela Matavelli


Foto capa Beatrís Cortelazzi Porta
Layout de capa José Adilson Milanêz
Editoração eletrônica Maria Clarete Sarkis Hyppolito
Impressão ESALQ/USP - Serviço de Produções Gráficas
Tiragem 3000 exemplares - 1a Edição

Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:


Casa do Produtor Rural
Av. Pádua Dias, 11 • Cx. Postal 9 • Bairro Agronomia • Piracicaba, SP
CEP 13418-900 • Fone: (19) 3429-4178/3429-4200 • cprural@usp.br

Distribuição Gratuita • Proibida a comercialização


Carla Maris Machado Bittar1
Rafaela Nunes Sanchez Portal 2
Anna Carolina Fett da Cunha Pereira2

1
Professora Associada - Departamento de Zootecnia - ESALQ/USP
2
Aluna de Graduação em Engenharia Agronômica - ESALQ/USP

Criação de
Bezerras Leiteiras
Piracicaba
2018
Agradecimentos
• Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária
• Diretoria da ESALQ/USP
• Comissão de Cultura e Extensão Universitária - CCEx
• Serviço de Cultura e Extensão Universitária - SVCEx
• Casa do Produtor Rural
• Departamento de Zootecnia
• Aos funcionários do Departamento de Zootecnia
• À FAPESP e ao CNPq, pelos auxílios e bolsas de estudo que subsidiaram a
estrutura de pesquisa

Apoio
• 2º Edital SANTANDER/USP/FUSP de Fomento às Iniciativas de Cul-
tura e Extensão - Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária
• Programa Unificado de Bolsas de Estudos para Apoio e Formação de
Estudantes de Graduação (PUB-USP)
• Comissão de Cultura e Extensão Universitária - CCEx
• Serviço de Cultura e Extensão Universitária - SVCEx
Índice
Cuidados com a vaca gestante 07
Conforto 08
• Manejo de agrupamento pré-parto 08
• Área de maternidade 10
Características do período pré-parto 10
Monitoramento da condição corporal 12
Vacinação 12

Cuidados com o recém-nascido 15


Acompanhamento do parto 15
Partos distócicos 16
Vitalidade de bezerros recém-nascidos 17
Colostragem 19
• Colostro 19
• Fatores necessários para o sucesso da colostragem 19
• Métodos de fornecimento de colostro 23
• Banco de colostro 25
• Suplementos de colostro 26
• Métodos para avaliar o sucesso da colostragem 27
Outras práticas de manejo ao nascer 29
• Cura do umbigo 29
• Identificação do animal 30
• Pesagem 31
• Alojamentos do recém-nascido 31

Manejo alimentar 33
Sistemas de aleitamento 34
• Sistema de aleitamento natural 34
• Sistema de aleitamento artificial 34
• Temperatura da dieta líquida 37
• Frequência de aleitamento 37
Dieta líquida 38
• Fontes de dieta líquida 38
• Características de sucedâneos 41
• Volume de fornecimento 43
• Fornecimento de água 45
Dieta sólida 45
• Importância do consumo de sólidos para
o desenvolvimento ruminal 45
• Composição da dieta sólida 47
• Fornecimento da dieta sólida 48
Desaleitamento 49
• Métodos de desaleitamento 50

Instalações para bezerros em aleitamento 51


Necessidades básicas da instalação 52
• Conforto térmico 52
• Conforto físico 52
Sistemas individualizados 53
• Baias e gaiolas 53
• Abrigos individuais 54
• Sistema de estacas e sistema argentino 55
• Sistemas coletivos 56
Manejo sanitário 59
Diarreia 59
• Não infecciosa 60
• Infecciosa 60
• Diagnóstico 61
• Prevenção e tratamento 63
Pneumonia 64
Onfalites e onfaloflebites 65
Tristeza parasitaria bovina 66
• Ciclo do carrapato e prevenção 66
Programas de vacinação 67

Acompanhamento do crescimento 69
Determinação do tamanho corporal 70
Ganho de peso em relação ao manejo alimentar 73

Bibliografia Consultada 76
Criação de Bezerras Leiteiras 07

Cuidados com a vaca gestante


No período final da gestação a e comportamento das vacas leiteiras
vaca encontra-se submetida a diver- próximas ao parto. Os esforços nes-
sas mudanças fisiológicas, nutri- ta área são conduzidos à diminuição
cionais, anatômicas e de comporta- dos problemas de saúde, em virtu-
mento, que preparam o animal para de das profundas alterações de me-
o parto e o começo de uma nova tabolismo, que normalmente são
lactação. O período seco da vaca consequência do desbalanço ener-
tem início próximo dos 60 dias an- gético; dado pelo aumento da exi-
tes do parto, sendo esta fase impor- gência nutricional, crescimento final
tante para a regeneração das célu- do feto e produção de colostro, além
las da glândula mamária para a fu- da manutenção do próprio animal,
tura lactação. No entanto, algumas que não está sincronizada com o
propriedades podem adotar perío- consumo de matéria seca. No entan-
dos mais curtos ou mais longos de to, os cuidados com a vaca gestan-
acordo com o manejo e o animal te vão além da produção de leite
explorado. na imediata lactação, uma vez que
Muita importância tem sido dada qualquer problema no parto pode
à compreensão da biologia, manejo comprometer o desempenho pro-
08 Casa do Produtor Rural

dutivo, tanto da vaca como do be- tando a saúde e o desempenho das


zerro. vacas submissas. Este tipo de com-
Conforto, balanço nutricional e portamento pode ser notado em si-
manejo adequado das vacas, prin- tuações como falta de espaço ade-
cipalmente nos 60 dias que antece- quado no cocho ou bebedouro, es-
dem o parto, são alguns dos pontos cassez de água ou alimento, área
chaves para garantir o sucesso na de descanso reduzida, entre outros.
fase inicial da vida dos bezerros, Uma estratégia no cuidado com as
assim como da lactação da vaca. vacas em final de gestação é a for-
mação de lotes, com animais de 60
Conforto a 21 dias antes do parto, ao qual de-
O conforto animal, em sistemas de nomina-se lote de vacas secas. Vin-
produção de leite, tem sido objeto de te e um dias antes do parto é reco-
numerosas pesquisas por afetar o mendável transferi-las para o lote
desempenho produtivo e reprodutivo pré-parto ou de animais em perío-
das vacas. Vários fatores podem le- do de transição, o que permite uma
var as vacas leiteiras ao estresse; maior observação, além de dieta
como o excesso de animais por adequada para este período. Em al-
metro quadrado, condições de tem- gumas situações e conforme as
peratura, ventilação, acesso à água instalações, animais com 7 dias
e alimentos, camas, entre outros. De pré-parto podem ser alojados em
maneira geral, uma vez que podem outro ambiente, denominado ma-
interferir negativamente no reduzido ternidade, muitas vezes sendo ago-
consumo de matéria seca, todos es- ra individualizados (Tabela 1).
tes fatores devem ser controlados. Deve ser levada em considera-
ção a separação de vacas e novi-
lhas. Na maioria dos casos, as pri-
Manejo de agrupamento pré- meiras tem comportamento domi-
parto nante sob as vacas primíparas,
Na maioria das vezes as vacas ocasionando impactos importantes
ficam alojadas de forma agrupada no consumo de alimento (Tabela
e tendem a estabelecer uma ordem 2). Quando essa separação não
hierárquica, com animais domi- pode ser realizada, os currais de-
nantes e submissos. As vacas do- vem ter uma ocupação inferior a
minantes mostram comportamento 80%, para evitar a competição por
físico e não físico agressivo, afe- espaço, cocho ou bebedouro.
Criação de Bezerras Leiteiras 09
Tabela 1 - Sugestão para agrupamento de animas pré-parto

DIAS PRÉ-PARTO LOTE

60 - 21 Vacas e novilhas secas


21 - 7 Vacas Pré-parto, Novilhas Pré-parto
7 Maternidade

Tabela 2 - Desempenho de novilhas, quando agrupadas de forma separada


das vacas multíparas

VACAS + NOVILHAS NOVILHAS

Tempo de alimentação, min/d 184 205


Número de acessos à alimentação/d 5,9 6,4
Ingestão concentrado, kg/d 10,1 11,6
Ingestão silagem, kg/d 7,7 8,6
Tempo deitada, min/d 424 461
Períodos de descando/d 5,3 6,3

Produção de leite, kg/130/d 2383 2590


Fonte: Adaptado de Grant e Albright (2001)

Agrupamentos de acordo com reduzir o consumo de alimentos.


o estágio gestacional permitem Além da separação por catego-
aperfeiçoar o manejo nutricional. rias relacionada ao estágio gesta-
No entanto, ao inserir semanal- cional e número de lactações, é im-
mente novos animais em cada portante evitar a superlotação de
grupo, as hierarquias são altera- animais nos lotes (HOSSEIN-
das e rearranjadas, submetendo KHANI et al., 2008; PROUDFOOT
muitas vezes os animais em si- et al., 2009). O excesso de animais
tuação de estresse (VON pode levar à ingestão inadequada
KEYSERLINGK et al., 2008). Es- de nutrientes e, consequentemen-
tas rupturas de hierarquias po- te, comprometer a função imune,
dem diminuir o tempo de alimen- aumentar o número de desloca-
tação, causar maior proporção de mentos no cocho e o gasto
animais deslocados do cocho e energético (SILVA et al., 2014).
10 Casa do Produtor Rural

Área de maternidade Características do período pré-


O ambiente, onde o parto ocor- parto
rerá, é essencial para a saúde do Os animais em final de lactação
bezerro. O piquete ou baia ma- têm suas exigências nutricionais re-
ternidade deve ser seco, com boa duzidas e a alteração de sua dieta
ventilação e, acima de tudo, lim- acarreta também em mudanças no
po (Figura 1). A localização da seu sistema digestório. As dietas
maternidade é estratégica para o devem ser compostas por volumosos
frequente monitoramento, tanto de alta qualidade, incluindo pasto ou
para se evitar intervenções ne- forragem conservada. Na maior par-
cessárias tardias, como para ga- te desta fase o animal estará em
rantir fornecimento de colostro o balanço positivo de nutrientes, pois
mais rápido possível após o nas- consome mais do que necessita.
cimento. Um dos principais pontos No entanto, cerca de duas a três
do manejo de instalações de vacas semanas antes do parto tem início o
pré-parto visa, além do conforto da período de transição, quando inicia
vaca, reduzir a exposição dos re- a formação do colostro, e o feto tem
cém-nascidos a patógenos do am- seu crescimento acelerado. Estes
biente, presentes na cama ou em aspectos conduzem ao aumento na
tetos sujos. demanda por energia e proteína em

Figura 1 - Área de maternidade


Carla Bittar
Criação de Bezerras Leiteiras 11
quantidade e qualidade, ao mesmo Portanto, a dieta de início de lac-
tempo em que ocorre diminuição de tação será normalmente composta
até 30% do consumo de alimento por alta proporção de alimentos
antes do parto, levando à mobili- concentrados e volumosos de alta
zação de reservas corporais. qualidade. É importante que no pe-
No início da lactação, a demanda ríodo de transição o animal receba
por nutrientes aumenta ainda mais uma dieta mais concentrada, de for-
e o animal passa a mobilizar reser- ma a reduzir o balanço energético
vas corporais até por volta do pico negativo, assim como adaptar o
de lactação. O pico de consumo de rúmen a dieta com maior inclusão de
alimentos vai ocorrer somente após grãos.
o pico de lactação, por volta de 9 a Vacas e novilhas, no período de
13 semanas. Por isso, é importante transição, devem ser introduzidas
que o animal chegue ao parto com gradualmente à dieta de início de
reservas corporais suficientes para lactação, permitindo o consumo de
poder manter sua produção de leite matéria seca de 1,8 a 2,0 % de seu
no início da lactação (Figura 2). peso vivo. Esta adaptação permitirá

Figura 2 - Ciclo produtivo - Balanço energético

Adaptado de https://extension.psu.edu/monitoring-dairy-heifer-growth.
12 Casa do Produtor Rural

a mudança na microflora ruminal, metrite e problemas reprodutivos,


passando de uma população com- além de aumentar o risco de morte
posta principalmente de microrganis- do bezerro durante o parto. Animais
mos digestores de fibras à prolifera- parindo com baixa condição corpo-
ção de bactérias adaptadas à diges- ral, ou seja, muito magros, podem ter
tão de amido. a produção de leite prejudicada por
O rúmen aumentará seu número não possuirem reservas corporais
e tamanho de papilas, melhorando para molibização. Da mesma forma,
sua capacidade de absorver e tem prejuízos no seu desempenho
metabolizar produtos finais de fer- reprodutivo, com maior período para
mentação. o primeiro cio pós-parto, aumentan-
do o período de serviço. Sendo as-
sim, deve-se evitar que os animais
Monitoramento da condição cheguem ao parto com condição cor-
corporal poral acima de 3,75 (Figura 3).
O estado nutricional da vaca ao De modo geral, para atingir pesos
parto e a dieta fornecida, no período adequados ao parto devem-se for-
de transição, irão determinar o con- mular dietas bem balanceadas em
sumo voluntário, a magnitude de proteína, energia, fibra, macro e
mobilização de reservas corporais e micro-minerais e vitaminas A, D e E,
os problemas metabólicos e repro- especialmente em animais maneja-
dutivos que podem ocorrer no início dos em confinamento. De vinte a trin-
da lactação. O alto escore de condi- ta dias antes do parto recomenda-se
ção corporal intensifica os proble- que a vaca ou novilha gestante co-
mas metabólicos, que ocorrem no mece a receber de 0,5 a 1,0% do
período de transição, por isso a im- peso vivo de concentrado, sendo
portância de seu controle durante que a menor porcentagem deve ser
todo o período de lactação, por meio empregada para aqueles grupos de
do programa nutricional. animais que estão com boas condi-
Animais com elevado escore de ções corporais.
condição corporal são mais propen-
sos a apresentar partos distócicos,
que são aqueles que requerem au- Vacinação
xílio humano. Os partos distócicos No manejo de vacas pré-parto, o
podem gerar problemas na saúde da ponto mais importante no que se
vaca, como retenção de placenta, refere a criação de bezerras é o
Criação de Bezerras Leiteiras 13
programa de vacinação. A placenta imune da vaca, que produzirá
dos bovinos (sindesmocorial) não anticorpos específicos, os quais se-
permite a passagem de anticorpos rão transferidos para o colostro, be-
da mãe para o feto durante a gesta- neficiando o bezerro no controle de
ção, deixando os bezerros despro- doenças, até que seu sistema imu-
vidos de anticorpos no nascimento ne se torne funcional. Os programas
e dependentes do consumo de de vacinação no pré-parto contém
colostro. vacinas para patógenos que nor-
O colostro é a primeira secreção malmente acometem os bezerros
após o parto, rico em anticorpos que recém-nascidos, principalmente
são transferidos da circulação da aqueles causadores de diarreias,
vaca. A vacinação no pré-parto tem como também para os problemas
o objetivo de estimular o sistema respiratórios (Figura 4).

Figura 3 - Pontos de observação no corpo da vaca para determinação do


escore de condição corporal

Adaptado de Edmonson et al., 1989.


14 Casa do Produtor Rural

Figura 4 - Vacinação de vacas pré-parto

Carla Bittar

Principais patógenos com vacinas comerciais disponíveis: rinotraqueite infecciosa bovina


(IBR), diarreia viral bovina (BVD), parainfluenza tipo 3 (PI3), vírus sincicial respiratório
bovino (BRSV), leptospirose, paratifo, rotavírus, coronavírus, clostridiose.
Criação de Bezerras Leiteiras 15

Cuidados com o recém-nascido


Acompanhamento do parto
O parto marca o fim do período de Uma vez observados esses com-
gestação dos animais, que tem du- portamentos, visitas frequentes ao
ração de 280-290 dias dependendo piquete de maternidade devem ser
da raça e do tamanho do bezerro. A realizadas até a expulsão completa
duração média do processo de do bezerro, mantendo-se atento a
parição é de 12 a 14 horas, poden- qualquer problema.
do se estender no máximo por 24 Para o sucesso do nascimento e
horas, após o início. desenvolvimento do bezerro é es-
A partir do início do trabalho de sencial o monitoramento das etapas
parto, a vaca apresentará alterações do parto, desde o rompimento da pri-
de comportamento e sinais fisiológi- meira e segunda bolsa até o nasci-
cos, como estresse e inquietude; mento propriamente dito (Figura 1).
aumento do úbere; edema vulvar; Caso a vaca apresente dificulda-
isolamento do grupo; corrimento des, a intervenção ao parto deve ser
vulvar mucoso e aumento da feita rapidamente e com todos os
frequência urinária e fecal. cuidados necessários. As situações
16 Casa do Produtor Rural

que os recém-nascidos enfrentam patas dianteiras do bezerro sejam as


durante o nascimento refletirão na primeiras partes do corpo a apare-
sua saúde ao longo de toda vida. cer. Quando o posicionamento do
bezerro estiver de costas, com ven-
tre posicionado primeiro ou apresen-
Partos Distócicos tando flexões de patas e pescoço,
No processo de parição da vaca pode ocorrer o parto distócico (Figu-
podem ocorrer algumas dificulda- ra 2). Um profissional especializado
des, chamadas de distocias, que deverá intervir no processo e ajus-
podem ser de origem materna ou tar o posicionamento do animal, sem
fetal. Porém, a sua identificação é comprometer a saúde da mãe ou do
difícil de ser feita à primeira vista, bezerro.
por isso a intervenção pode ser ne- O grau de distocia varia conforme
cessária. Casos de defeitos do o tempo até a intervenção das toma-
miométrio, torção uterina e dilata- das de decisões dos envolvidos,
ção insuficiente são exemplos de bem como o modo que o recém-nas-
distocias de origem materna, en- cido é retirado. As intervenções ou
quanto que posição inadequada, estresses influenciam diretamente
feto grande e morte fetal são exem- na saúde do bezerro e na produtivi-
plos distocias de origem fetal. dade da vaca, que comumente é
Quando o parto ocorre normal- baixa. Bezerros que nasceram de
mente é comum que o focinho ou as partos com algum grau de distocia

Figura 1 - Processo de parição: (A) rompimento da bolsa e (B) início proces-


so de expulsão
Carla Bittar

A B
Criação de Bezerras Leiteiras 17
podem passar por inúmeros proble- Vitalidade de bezerros
mas fisiológicos, sendo os mais co- recém-nascidos
muns são baixa oxigenação Muitas universidades buscam a
(hipóxia) e acidose sanguínea, pro- criação de novas tabelas padrão
vocados pela inabilidade de respi- ou de parâmetros que auxiliem os
ração espontânea. Ambos podem le- produtores a avaliar as condições
var à morte do animal ou diminuir sua de saúde do rebanho bovino. Atual-
qualidade de vida e, conse- mente, a mais utilizada é a da Uni-
quentemente, seu desempenho pro- versidade de Guelph, Canadá (Ta-
dutivo. bela 1). Essa tabela avalia a apa-
Animais que sofrem esses distúr- rência do animal e está associada
bios são, geralmente, menos resis- ao tipo de parto do recém-nascido,
tentes e se mantém letárgicos, não aferindo notas para os diferentes
mamando com vigor. Com menor parâmetros avaliados. Quanto
ingestão de colostro, esses animais maior a soma dos pontos, pior as
terão baixa absorção de anticorpos condições de saúde do bezerro,
e dificuldade de controle da tempe- logo; partos distócicos costumam
ratura corporal interna. apresentar notas mais elevadas.

Figura 2 - Posicionamento do feto durante o parto. Apresentação anterior:


forma correta. Apresentação posterior, culatra e duas patas: ne-
cessidade de intervenção

Adaptado do site http://www.beefmagazine.com/calving/when-should-you-call-vet-difficult-calving


18
Tabela 1- Classificação da saúde do rebanho bovino segundo parâmetros da Universidade de Guelph, Canadá
PARÂMETRO APARÊNCIA DO ANIMAL
Normal: Razoável: Moderado: Severo:
Coloração do sem manchas (0) em torno da área anal completamente coberto (3)
estendendo-se pelo corpo (2)
mecônio e caudal (1)
Língua para dentro, sem Língua para fora e inchada (2) Cabeça e língua inchada,
Língua/cabeça inchaço (0) Língua para fora, língua para fora (3)
sem inchaço (1)
INÍCIO DE MOVIMENTOS
Casa do Produtor Rural

Movimentos do 0 a 30 min para se levantar, De 30min a 1h para se De 1,5h a 3h: decúbito >3h: de lado, sem esforço
bezerro caminhar (0) levantar (1) external (2) para se levantar (3)

RESPOSTAS GERAIS
Resposta ao Balança a Desvia a cabeça (1) Contrai ou recua (2) Sem resposta (3)
estímulo da cabeça com
cavidade nasal força (0)
Resposta ao Tira a língua Demora para tirar Contrai a língua (2) Sem resposta (3)
beliscar a língua rápido (0) a língua (1)
Resposta ao tocar Pisca e fecha Demora para piscar (1) Sem resposta (2)
globo ocular cílios rapidamente (0)
OXIGENAÇÃO
Coloração da Rosa vivo (0) Rosa claro (1)
Vermelho/bordô (2) Branco/azul (3)
mucosa >32mm (1)
Comprimento da <50mm (2) 50-61mm (0)
língua *
FREQUÊNCIAS
Frequência <60 bpm (2) 60-100 bpm (0)
cardíaca** >100 bpm (1)
Frequência Lenta (24 rpm) (1) Normal (24-36 rpm) (0) Rápida (>36 rpm) (2)
respiratória
* Comprimento da língua: medir a partir do lábio. Realizar essa medida apenas com 5 minutos do parto. ** Frequência cardíaca: auscultar o coração
pelo peito do bezerro. Contar por 30 segundos e multiplicar por 2. Fonte: Adaptado de Universidade de Guelph.
Criação de Bezerras Leiteiras 19
Colostragem sendo que a concentração de imu-
A placenta dos bovinos, do tipo noglobulinas é um parâmetro da
sindesmocorial, não permite a trans- qualidade. Vacas multíparas, as
ferência de imunoglobulinas ou quais tiveram maior exposição a pató-
anticorpos (IgG) da mãe ao bezerro. genos do ambiente, apresentam co-
Dessa forma, ao nascerem, os be- lostro com maior variedade e quan-
zerros não possuem anticorpos e tidade de anticorpos em relação ao
seu sistema imunológico ainda é colostro de vacas primíparas. Man-
imaturo. Por esse motivo, é neces- ter o animal bem nutrido e devida-
sário o consumo de colostro, o mais mente imunizado (vacinado) no pré-
rápido possível, após o nascimento parto ajuda a garantir a produção de
para a transferência de imunidade colostro de melhor qualidade.
passiva. Isso ocorre através da
ingestão do colostro pelo bezerro e Fatores necessários para o sucesso
consequente absorção de anticorpos. da colostragem
O consumo do colostro, logo após
Colostro o nascimento, é uma técnica consa-
O colostro é o primeiro leite pro- grada e considerada essencial para
duzido pela mãe, é rico em imuno- garantir redução da mortalidade e
globulinas (IgG) e contém elevado morbidade e, portanto, a qualidade
teor de gorduras, minerais e vitami- de vida ao bezerro. Para que o ani-
nas. A ingestão garante ao bezer- mal tenha a transferência de imuni-
ro a proteção, permitindo que o dade passiva adequada, é importan-
mesmo tenha anticorpos para en- te se atentar a três parâmetros es-
frentar patógenos, até que seu sis- senciais: o tempo até o fornecimen-
tema imune se torne maduro. to do colostro, o volume e a qualida-
Esse primeiro leite apresenta de do colostro fornecido. Qualquer
maiores níveis de imunoglobulinas descuido poderá resultar em falhas
do que os das ordenhas posterio- na transferência de imunidade pas-
res. Além de atuar na transferência siva e, consequentemente na saúde
de imunidade passiva, o colostro e desempenho do bezerro.
participa ativamente na nutrição e
maturação do sistema gas- Tempo até o fornecimento: a ab-
trointestinal dos recém-nascidos. sorção de imunoglobulinas (Ig) ou
O colostro possui diferentes carac- anticorpos do colostro depende do
terísticas de uma vaca para outra, tempo entre o nascimento do bezer-
20 Casa do Produtor Rural

ro e a ingestão do colostro (primeira ficiente para garantir a transferência


mamada). No decorrer das primeiras de imunidade passiva, mas o forne-
seis horas, após o nascimento, tem- cimento de colostro em uma segun-
se o ápice de absorção, com as cé- da mamada pode beneficiar os be-
lulas iniciais do intestino apresen- zerros.
tando alta eficiência para absorver Cerca de 20 a 40% dos valores
imunoglobulinas. Após esse perío- totais de imunoglobulinas absorvi-
do, o intestino começa a se modifi- das pelos recém-nascidos provêm
car formando novas células e, con- desse período inicial de alimenta-
sequentemente, há perda da capa- ção. A concentração de imunoglo-
cidade de absorção dessas molécu- bulinas circulantes no organismo do
las. Esta absorção não ocorre mais recém-nascido precisa atingir níveis
por volta de 18-20h após o nasci- superiores a 10 mg de Ig/mL de soro.
mento. O fornecimento após as 24
horas de vida não tem mais papel Qualidade do colostro: Colostro de
na transferência de imunidade pas- alta qualidade, ou seja, com maio-
siva, mas trará benefícios ao bezer- res concentrações de Ig, deve ser for-
ro em forma de proteção local. necido aos recém-nascidos para ga-
rantir adequada transferência de
Volume fornecido: a quantidade de imunidade passiva.
colostro a ser oferecida ao recém- Além da concentração de anticor-
nascido depende do peso do bezer- pos, deve-se levar em consideração
ro, da raça e da qualidade do colos- a carga bacteriana, de forma que
tro. A recomendação é de receberem animais recém-nascidos não te-
cerca de 10% do seu peso, que ge- nham seu intestino inoculado por
ralmente equivale de 4 litros de bactérias patogênicas.
colostro, devendo ser ministrados A forma mais comum de avaliação
nas primeiras 6 horas de vida. Se da qualidade do colostro é pelo
houver rejeição a mamada, devido colostrômetro, que relaciona a den-
ao baixo vigor do bezerro, o colostro sidade específica com a concentra-
deverá ser oferecido por uma sonda ção de imunoglobulinas presentes.
esofágica, que garante o consumo É um aparelho de baixo custo e de
no momento de maior eficiência de fácil utilização, entretanto, além de
absorção. ser frágil, tem grande efeito da tem-
O volume correspondente a 10% peratura do colostro. É necessário
do peso ao nascer do bezerro é su- que a amostra esteja na mesma tem-
Criação de Bezerras Leiteiras 21
peratura em que o aparelho foi cali- co. O colostro classificado como de
brado, geralmente de 20 a 25 o C. baixa qualidade, de cor vermelha no
Temperaturas mais baixas ou mais densímetro (<20 mg de IgG/mL), não
altas pode super ou subestimar a deve ser fornecido aos recém nas-
qualidade do colostro. O material cidos, pois não fornecerá imuno-
é então colocado em um recipien- globulinas o suficiente.
te e o colostrômetro inserido para Outra forma de avaliação da con-
que as leituras sejam realizadas. centração de imunoglobulinas no
O colostrômetro trabalha com três colostro é pelo refratômetro. Original-
diferentes faixas de valores de con- mente utilizado para medir o teor de
centração de imunoglobulinas (IgG): carboidratos solúveis totais em
alta, média e baixa (Tabela 2). Para amostras líquidas de diversas fon-
que a qualidade do colostro seja con- tes, faz leituras em graus Brix. No
siderada alta, os valores de colostro estas leituras estão direta-
imunoglobulinas presentes devem mente correlacionadas com a con-
ser maiores do que 50 mg de IgG/ centração de imunoglobulinas, per-
mL, na faixa de 20 a 50 mg de IgG/ mitindo a avaliação da qualidade do
mL são considerados de qualidade mesmo.
média e abaixo de 20 mg de IgG/mL O refratômetro pode ser digital ou
de baixa qualidade. Essas três ca- óptico, é de fácil entendimento, ape-
tegorias estão associadas às cores: sar de exigir um pouco mais de cui-
verde, amarela e vermelha, respec- dado em relação ao colostrômetro,
tivamente, o que torna o processo de por conta de sua calibração e maior
qualificação do colostro mais didáti- sensibilidade.

Tabela 2 - Faixas de concentração de imunoglobulinas (IgG), qualidade do


colostro e respectivas cores

QUALIDADE CONCENTRAÇÃO (mg de IgG/mL) COR

Alta > 50 Verde


Média 20 - 50 Amarelo
Baixa < 20 Vermelho
22 Casa do Produtor Rural

Figura 3 - Colotrômetro em uso, ava- O aparelho deve sempre ser ca-


liando colostro de alta qua- librado, antes da medição, utilizan-
lidade do-se a água destilada e a chave
que vem no equipamento, de for-
Carla Bittar

ma que a linha azul chegue no


zero. A calibração é importante
para que as leituras não sejam
super ou subestimadas. No
refratômetro, uma única gota do
colostro é o suficiente para se fa-
zer a leitura e aferição da qualida-
de. Valores menores que 22 o Brix
classificam o colostro como de bai-
xa qualidade, não devendo ser for-
necido aos recém-nascidos. Após
o uso, o equipamento deve ser
higienizado cuidadosamente com
água e seco com papel macio, para
não riscar a lente e garantir que as
próximas leituras sejam confiáveis.
Figura 4 - Refratômetro Outro fator importante na avalia-
ção da qualidade do colostro é a
Carla Bittar

carga bacteriana, pois o recém-


nascido pode ser facilmente con-
taminado por patógenos contidos
no colostro. Após a ordenha, sem-
pre realizada da forma mais higiê-
nica possível, é recomendado o
resfriamento imediato do colostro
a ser armazenado, pois em tempe-
ratura ambiente a carga bacteriana
dobra a cada 20 minutos. O valor
de 100.000 unidades formadoras
de colônias (UFC) por mL é consi-
derado o limite de carga bacteriana
do colostro.
Criação de Bezerras Leiteiras 23
É importante manter elevados os animal mamar diretamente da vaca.
padrões de higiene no processo de Quando o bezerro mama na vaca não
ordenha, para que não ocorra in- se tem controle de quando e quanto
fecção ou transmissão de patóge- mamou, assim como da qualidade
nos pelos equipamentos utilizados. do colostro consumido. O forneci-
O colostro de vacas com mastite, tu- mento pode ser feito de três formas
berculose, paratuberculose e distintas: pela mamadeira, balde ou
micoplasmas, devem ser descarta- por sonda esofágica (Figura 5).
dos devido à baixa qualidade. O fornecimento com a mamadei-
ra é o mais indicado. O animal nas-
Métodos de Fornecimento de ce sabendo mamar em um bico, tor-
Colostro nando o consumo mais rápido, o
O oferecimento de colostro aos que garante o consumo dentro da
recém-nascidos deve ser feito de janela de tempo de maior eficiên-
forma controlada, não devendo o cia de absorção.

Figura 5 - Diferentes métodos de fornecimento de colostro, mamadeira (A),


balde (B) e sonda esofágica (C)

Carla Bittar
Carla Bittar

Beatrís Cortelazzi Porta

A
24 Casa do Produtor Rural

Já a opção no uso do balde re- ainda tem tamanho bastante reduzi-


quer treinamento, aumentando o do, o colostro logo passará para o
tempo para o consumo e conse- omaso e abomaso até chegar ao in-
quentemente o risco de falha na testino, onde ocorre a absorção de
transferência de imunidade passiva. anticorpos.
Para os animais com baixo vigor, A sonda pode ser confeccionada
que rejeitam o colostro ou ainda que por diferentes materiais, desde os
não mamam voluntariamente, deve- mais maleáveis até os mais resisten-
se fornecer o colostro através de son- tes (Figura 6). As sondas de metal
da. Normalmente, se fornece em exigem maior experiência e cautela
duas partes dentro das primeiras do tratador, pois são mais difíceis de
seis horas de vida. passar. De maneira geral, as sondas
A sonda deve ser inserida por um são compostas por um tubo com pon-
profissional treinado, sempre esti- ta arredondada, que não machuca o
mulando o animal a engolir de for- bezerro, uma bolsa, uma mamadei-
ma que feche a glote e o colostro ra ou um funil, onde será colocado o
siga pelo esôfago e não pela colostro.
traqueia. Caso o colostro siga pela
traqueia, alcançará o pulmão, sufo-
Figura 6 - Tipos de sonda
cando o bezerro. Para verificar se a

Carla Bittar
sonda está na via correta pode-se
verificar a ausência de som da res-
piração pelo orifício da sonda, ou
usar um estetoscópio. É importante
colocar um pouco do colostro na son-
da antes de inserir todo o conteúdo;
se o liquido não descer completa-
mente, o bezerro tossir ou uma par-
te voltar é provável que o tubo este-
ja no local errado. O processo deve
ser cuidadoso e rápido para não cau-
sar estresse ao animal.
Pela sonda, o líquido passa pelo
esôfago e é direcionado diretamen-
te ao rúmen. Uma vez que o rúmen
não é funcional no recém-nascido, e
Criação de Bezerras Leiteiras 25
Banco de Colostro quatro dias. No entanto, a melhor
A disponibilidade de colostro nas forma de armazenamento é em
fazendas é um problema frequen- freezer, por no máximo um ano,
te, pois nem todos os animais pro- para não haver diminuição da qua-
duzem volumes suficientes, espe- lidade. Para o congelamento de-
cialmente as primíparas, que além vem ser feitas porções de um a
disso, normalmente produzem dois litros em embalagem que fa-
colostro de menor qualidade. A con- cilite o descongelamento.
servação do excedente na forma de É comum o uso de garrafas pet,
um banco de colostro é uma reali- entretanto, o mais indicado é o
dade necessária e traz maior segu- congelamento em sacos plásti-
rança à produção de bezerros. cos resistentes na forma de pla-
Independentemente do destino cas, pois assim o descongela-
do colostro recém-ordenhado, for- mento será mais rápido e unifor-
necimento ao bezerro ou arma- me (Figura 8). Antes do armaze-
zenamento, os cuidados com a hi- namento, todos os utensílios de-
giene na ordenha e a avaliação da vem estar limpos. O colostro deve
qualidade devem ser realizados ter sua qualidade avaliada e a
(Figura 7). embalagem deve identificar o
O conteúdo armazenado pode colostro com a data de coleta e a
ser mantido em geladeira por até qualidade.

Figura 7 - Procedimentos tomados para armazenamento do colostro


Carla Bittar
26 Casa do Produtor Rural

O descongelamento deve ser sária. Além disso, em algumas pro-


lento, em banho maria, mantendo priedades ocorrem perdas de colos-
a temperatura na faixa de 50 a tro devido à ocorrência de doenças
55 oC. Acima dessa faixa de tempe- como tuberculose e paratuber-
ratura pode haver a desnaturação culose, que podem ser transmitidas
das proteínas do colostro, que pro- aos bezerros através do consumo de
voca perda da qualidade, uma vez colostro. Uma boa opção para a fal-
que os anticorpos são proteínas. ta de colostro em quantidade e qua-
lidade adequadas para o forneci-
mento aos bezerros são os suple-
Figura 8 - Diferentes formas de arma- mentos ou substitutos de colostro.
zenamento em banco de No final da década de 80 foram
colostro: (A) garrafas ar- produzidos os primeiros suplemen-
mazenadas e (B) sacos tos de colostro com a função de com-
com identificação plementar a colostragem e auxiliar
na prevenção de doenças. Forne-
cem menos que 100g de IgG por
Beatrís Cortelazzi Porta

dose, não sendo suficientes para


substituir totalmente o colostro ma-
terno, mas apenas complementá-lo.
Já os substitutos de colostro são pro-
dutos que apresentam mais de 100g
de imunoglobulinas (IgG) por dose,
além de todos os outros nutrientes
A B presentes no colostro materno, o
que o torna aceitável para o papel.
Para confecção dos suplementos
e substitutos, as imunoglobulinas
são obtidas de ingredientes como
Suplementos de colostro secreções lácteas, sangue e ovos.
Para a formação do banco de As principais fontes de matéria pri-
colostro é preciso que haja produ- ma dos substitutos são provenientes
ção excedente. Entretanto, na maio- do próprio colostro e de sangue, por
ria dos casos o volume excedente é serem específicas e adequadas para
baixo e muitas vezes o colostro pro- a produção comercial. Entretanto, há
duzido não atinge qualidade neces- muita variação na eficiência de ab-
Criação de Bezerras Leiteiras 27
sorção e nos resultados obtidos pelo amostra do sangue do animal. No
uso de suplementos e substitutos em período entre 24h e 48h, após o for-
bezerros. É necessária uma análise necimento do colostro, coleta-se
da composição dos produtos e for- sangue dos animais e realiza-se a
necer o de melhor qualidade aos leitura em refratômetro (Brix ou pro-
animais, não permitindo déficits de teína).
suplementação ou desperdício de Quanto maiores os valores obser-
recursos. vados em graus Brix ou proteína to-
Apesar das controvérsias sobre os tal, maiores serão os valores de IgG
efeitos de seu uso em relação à saú- no sangue dos bezerros, indican-
de do animal, os substitutos de co- do a correta colostragem. Isso
lostros tornam-se uma ótima opção. ocorre porque as imunoglobulinas
presentes no sangue das bezerras
possuem correlação direta tanto
Métodos para avaliar o sucesso da com a proteína total quanto com o
colostragem Brix. Valores superiores a 8,4% ou
Para saber se a transferência de de 5,5 g/dL de proteína sérica total
imunidade passiva ocorreu efetiva- indicam adequada colostragem
mente, se faz a avaliação de uma dos animais (Figura 9).

Figura 9 - Avaliação da transferência de imunidade


Carla Bittar
28 Casa do Produtor Rural

O refratômetro de brix também após 48h a correlação entre pro-


pode ser usado em outras práticas teína sérica ou Brix com a con-
dentro do bezerreiro, visto que centração de Ig começa a se re-
além da avaliação da transferência duzir;
de imunidade passiva, avalia tam-
bém a qualidade do colostro. O • Calibrar o equipamento;
refratômetro de proteína somente
avalia o teor de proteínas no san- • Realizar a avaliação em tempe-
gue, mostrando se o bezerro foi ratura ambiente;
bem colostrado.
A amostra de sangue deve ser co- • Ficar atento a resultados atípi-
letada em tubo sem anticoagulante, cos, pois podem indicar falha na
para que aconteça a dessoração ou calibração do equipamento ou
coagulação, permitindo a separação desidratação do animal (por
do soro. Para a dessoração natural exemplo %Brix superior a 14%
basta manter a amostra em repouso ou concentração de proteína
por algumas horas (Figura 10). A sérica superior a 8,0 g/dL).
centrifugação é feita quando há ne-
cessidade de acelerar a obtenção
de resultados, pois a amostra é pro-
cessada em apenas 20 minutos. Figura 10 - Sangue Dessorado
Para as análises, é necessária a
Maria Eduarda Reis
calibração do equipamento com
água destilada. Uma vez calibrado,
uma gota do soro, em temperatura
ambiente, é despejada sobre a len-
te do refratômetro, sendo então ob-
servado contra a luz. O resultado da
análise é o valor indicado na linha
que separa a parte clara da escura.
Para que a análise apresente re-
sultados confiáveis, alguns cuida-
dos devem ser tomados:
• Coletar a amostra entre 24h-48h
de vida, antes desse período ain-
da pode ocorrer absorção de Ig,
Criação de Bezerras Leiteiras 29
Outras práticas de manejo nos severos ao animal, resultando
ao nascer em doenças como meningite, abs-
Após o nascimento e a colos- cesso hepático ou septicemia agu-
tragem, algumas outras práticas da ou crônica, além dos problemas
como a identificação dos animais, articulares. Em algumas situações,
pesagem e cura do umbigo devem a falta de correta assepsia e cura
ser realizadas. do umbigo pode gerar hérnia um-
bilical, provocada pela dilatação do
cordão devido à infecção.
Cura do umbigo
O corte e a correta assepsia do
umbigo é uma prática de manejo Figura 11 - Estrutura e ligações do
muito importante na fase inicial da umbigo de bovinos com
vida dos bezerros. Garante a redu- as estrutura internas
ção da taxa de mortalidade e
morbidade dos recém-nascidos,
assegurando menores gastos com
assistência veterinária e medica-
mentos. O umbigo está diretamen-
te relacionado a vários órgãos in-
ternos do animal, inclusive o fíga-
do (Figura 11).
Os problemas de umbigo, chama-
dos também de onfalopatia, são fre-
quentes nos rebanhos por serem
causados, em sua maior parte, pelo
ambiente e falta de higienização do
cordão umbilical (Figura 12). No en-
tanto, também podem ser causados
por inflamações ocasionadas por
traumas, ou ainda por problemas
congênitos.
O umbigo exposto é uma porta de
entrada para infecções e doenças.
Uma grande concentração de bac- https://www.milkpoint.com.br/colunas/carla-
bittar/prevencao-de-onfalopatias-em-bezerros-
térias nessa área pode causar da- 66851n.aspx
30 Casa do Produtor Rural

Figura 12 - Diferentes condições do umbigo: Umbigo com cura adequada (A)


e umbigo com sinais de infecção (B)

Carla Bittar
Beatrís Cortelazzi Porta

A B

Caso o comprimento do cordão • Dilatação ou espessamento do cor-


umbilical seja maior que 5 cm, deve- dão umbilical;
se fazer o corte e a desinfecção até • Presença de pus ou secreção na
a cicatrização completa. A forma cor- região;
reta é utilizar solução de iodo com • Mau cheiro;
concentração entre 5 e 7%, submer- • Febre ou apatia;
gindo totalmente a região duas ve- • Maior temperatura no umbigo em
zes ao dia. relação ao resto do corpo;
Parte da solução usada deve ser • Dificuldade de locomoção (casos
reservada separadamente do total e de poliartrite ou artrite);
não reutilizada, visto que após o uso
sua concentração em iodo é altera-
da. Práticas como amarrar o umbi- Identificação do animal
go, injetar iodo dentro do coto umbi- A identificação do animal deve ser
lical e utilizar mata bicheira como feita logo nos primeiros dias de vida,
função de cicatrizante não devem de forma a auxiliar na criação de um
ser realizadas. cronograma de atividades a serem
É importante verificar o animal to- realizadas com o rebanho em dife-
dos os dias, analisando a presença rentes datas como as vacinações e
de sinais de infecção. Os principais pesagens.
sinais indicadores são: O recém-nascido deve ter identifi-
• Dor ao apalpar o abdômen; cação permanente, como a tatua-
Criação de Bezerras Leiteiras 31
gem. Entretanto, o uso de brincos mina desde a quantidade de
nos animais é uma prática recomen- colostro a ser fornecida até a ava-
dada, por facilitar a visualização. A liação do sucesso da fase de alei-
colocação do brinco deve ser feita tamento.
por pessoa treinada, em local ade- Assim, o peso ao nascer é o pon-
quado na orelha do animal e com to de partida e permite o cálculo do
higiene para evitar inflamações. É ganho de peso durante o período
necessário cuidar da orelha brinca- de aleitamento. A balança deve
da uma vez ao dia até a completa estar limpa e ser tarada (zerada)
cicatrização. antes da entrada do animal. Impor-
tante lembrar que o animal não
deve estar molhado nem com
Figura 13 - Animal identificado atra- coleira, de modo que não interfira
vés de brinco no peso real.
Outro método para estimativa de
Marcela Matavelli

peso é a fita de pesagem, a qual


se baseia na alta correlação do pe-
rímetro torácico com o peso do ani-
mal. Esta é uma opção interessan-
te para produtores que não pos-
suem balança.

Alojamentos do recém-nascido
Após o nascimento do bezerro
suas funções corporais básicas
como respiração, regulação do pH
Pesagem sanguíneo, temperatura corporal en-
A pesagem do animal deve ser tre outras, que antes eram reguladas
realizada periodicamente desde o pelo metabolismo da mãe, passam
nascimento até o desaleitamento. a ser reguladas unicamente pelo seu
A pesagem fornece valores impor- próprio metabolismo.
tantes que servem como base para Por terem pouca massa corporal e
muitas decisões do manejo dos gordura subcutânea, os bezerros re-
bezerros. O peso do animal deter- cém-nascidos perdem calor por irra-
32 Casa do Produtor Rural

diação facilmente, reduzindo sua xílio para reduzir as perdas de tem-


temperatura corporal. Essa dimi- peratura, com cama e palha, serra-
nuição abrupta de temperatura nas gem, casca de arroz ou outro mate-
primeiras 12 horas de vida é nor- rial isolante. O alojamento precisa
mal e acomete até os bezerros ser confortável, sem contato direto
mais saudáveis. Por isso, além da com o chão. Não deve ter correntes
colostragem, deve-se ter preocu- de ar, sendo recomendado o uso de
pação com o rápido alojamento dos lâmpadas específicas para o aque-
recém-nascidos, principalmente cimento em alguns casos.
para os que nasceram em regiões
ou em épocas mais frias.
Figura 14 - Bezerro em alojamento
Uma forma do animal manter sua
aquecido por lâmpada
temperatura corporal é utilizando o
metabolismo do tecido adiposo mar-

Carla Bittar
rom. Após a colostragem, e o
consequente consumo de gordura,
esse sistema acelera a produção de
maior quantidade de calor, manten-
do a temperatura estável.
Bezerros de partos distócicos ou
que não receberam colostragem
adequada tem maior dificuldade de
controlar sua temperatura corporal,
portanto, é necessário fornecer au-
Criação de Bezerras Leiteiras 33

Manejo Alimentar
O sistema de alimentação tem A qualidade e a quantidade
grande impacto nas variações de fornecida da dieta líquida é um dos
desempenho dos animais. Desde o pontos principais no processo de
início da vida do animal deve ser criação. O volume e o valor nutri-
priorizado o máximo desempenho, cional, quando adequadamente
pois o sucesso da fase inicial, cha- ofertados, promovem mudanças sig-
mada também de período de aleita- nificativas no desenvolvimento dos
mento, resulta em maiores pesos ao animais. Além de aumentar o cres-
desaleitamento e produção de leite cimento dos animais (ganho de peso
futuro. e altura), favorecem o sistema imu-
Destaca-se que a venda do leite nológico e diminuem a frequência de
produzido é a principal fonte de ren- doenças comuns como a diarreia e
da, assim sendo, é interesse que o a pneumonia.
desenvolvimento da bezerra recém- Nas primeiras semanas de vida,
nascida até a maturidade repro- o organismo do animal não é total-
dutiva seja rápido. Durante o siste- mente adaptado à utilização de ali-
ma de aleitamento podem ser obser- mentos em forma sólida, tornando a
vados ganhos desde 350 g/d no sis- formulação da dieta líquida essen-
tema de aleitamento convencional, cial para garantia de ganho de peso
até 900 a 1.000 g/d no sistema de adequado. Por outro lado, o forne-
aleitamento intensivo. cimento de alimentos sólidos é es-
34 Casa do Produtor Rural

sencial para o desenvolvimento ru- ta de controle sobre a qualidade e


minal, possibilitando o desaleitamen- quantidade do leite consumido pelo
to, sem que ocorram reduções no de- bezerro, o que faz com que os ani-
sempenho no período seguinte. mais de um mesmo lote tenham de-
sempenhos variados.

Sistemas de aleitamento Figura 1 - Sistema de aleitamento na-


Existem ainda hoje no Brasil dois
tural
sistemas de aleitamento: o natural,

Divulgação
no qual o bezerro é mantido com a
mãe; e o artificial, em que o animal
é separado da mãe após o nasci-
mento e é fornecida dieta liquida.

Sistema de aleitamento natural


O aleitamento natural ocorre quan-
do há necessidade de manter o be-
zerro com a vaca durante parte ou
toda lactação, normalmente devido
à necessidade de sua presença para
que a ordenha seja possível. O be- Sistema de aleitamento artificial
zerro poderá mamar em apenas uma Esse sistema pode ser adotado
das tetas, em cada ordenha, ou ma- quando a vaca apresentar produção
mar o resíduo de leite de todas elas diária de pelo menos 8 litros e per-
após a ordenha, de acordo com a mitir a ordenha sem a presença do
percepção do ordenhador. bezerro.
Esse sistema é utilizado principal- Com a separação do bezerro,
mente em casos de produção de após o nascimento, o fornecimento
baixa escala, com pouca mão de da dieta líquida pode ser feita em
obra ou ainda em sistemas com ex- baldes, mamadeiras, aleitadores au-
ploração de vacas não especia- tomáticos, bibeirões ou containers.
lizadas para a produção de leite, Esses utensílios para o aleitamento
sendo necessária a presença do artificial são eficientes e, apesar das
bezerro. Existem casos de sucesso particularidades, todas dependem
nesse tipo de aleitamento, entretan- de adequada higienização para a
to, não é recomendado devido à fal- obtenção de um bom resultado.
Criação de Bezerras Leiteiras 35
Os aleitadores com bico (Figura aumentar a quantidade da dieta lí-
2), como mamadeiras e bibeirões, quida fornecida e diminuir o tem-
facilitam a alimentação, pois os be- po de alimentação (Figura 3). No
zerros mamam instintivamente sem entanto, exige treinamento do be-
haver necessidade de treinamento. zerro para mamar, o que pode le-
Esses utensílios, porém, tem higieni- var alguns dias de acordo com o
zação mais difícil, trazendo riscos de animal. Esse método é recomen-
contaminação e chances de casos dado por facilitar as atividades do
de diarreia. O tratador deverá ser cuidador e ocasionar menos pro-
cuidadoso lavando todas as partes blemas de disseminação de doen-
com água potável, sabão e água ças relacionadas à limpeza.
sanitária de forma a reduzir as A utilização de baldes é questio-
ocorrências de diarreias. Além des- nada pelo fato dos animais abai-
tes problemas, as mamadeiras têm xarem a cabeça no momento da ali-
volume fixo, fazendo com que o pro- mentação, o que poderia prejudi-
dutor tenha a percepção de que 2 car o fechamento da goteira
litros seria o máximo volume per- esofágica. Porém, está comprova-
mitido por refeição. do que o fechamento da goteira
Por outro lado, os baldes têm a independe da posição da cabeça,
sanitização mais fácil, permitem mas da ação de reflexos nervosos.

Figura 2 - Aleitamento utilizando-se


balde com bico Figura 3 - Bezerro mamando em
balde
Carla Bittar

Marcela Matavelli
36 Casa do Produtor Rural

A tarefa de alimentação se torna automático, sistema eletrônico que


trabalhosa, quando há grande quan- proporciona controle do consumo
tidade de animais e, neste caso, po- individual (Figura 5). O equipamen-
dem ser usados sistemas de produ- to armazena dados de cada bezer-
ção com aleitadores coletivos, prin- ro, sendo a dieta liberada apenas
cipalmente contêineres (Figura 4). após identificação do animal.
Apesar de reduzir o tempo gasto A ingestão da quantidade diária
no aleitamento, pode-se tornar um total pode ser feita dividida em vá-
problema, pois não há controle so- rias refeições, de forma que o ani-
bre o volume de dieta líquida mal possa escolher os diferentes mo-
consumida individualmente, exi- mentos do dia para mamar. Essa al-
gindo maior atenção para que não ternativa automatizada é uma boa
haja problema de dominância nos opção para animais agrupados e em
lotes homogêneos. Na escolha aleitamento intensivo (maiores volu-
desse método, deve-se manter o mes diários), mantendo um compor-
número de bicos superior ao de tamento de ingestão de dieta líqui-
animais, além de boa higienização da mais parecida com o que ocorre-
do equipamento, como em todos ria se o animal estivesse juntamen-
os outros. te com a mãe.

Figura 4 - Aleitamento utilizando-se


contêiner Figura 5 - Aleitador automático
Carla Bittar
Carla Bittar

Uma ferramenta desenvolvida Goteira esofagiana


para superar os problemas apresen- A goteira esofagiana é uma estru-
tados pelos contêineres é o aleitador tura tubular que, quando há estímu-
Criação de Bezerras Leiteiras 37
los de sucção ao mamar, se fecha Temperatura da dieta líquida
para que o volume ingerido pelo É recomendável que a tempera-
neonato vá diretamente para o tura da dieta líquida, fornecida ao
omaso e abomaso ao invés de pas- bezerro, esteja próxima da tempe-
sar pelo rúmen. O adequado funcio- ratura corporal do animal, aproxi-
namento da goteira esofagiana é madamente 39 oC. Esse é um fator
importante, pois impede que a dieta que influencia as secreções
líquida caia no rúmen, onde ocorre- enzimáticas e os fluídos internos
rá fermentação, podendo causar do trato digestório. Além disso,
diarreia e acidose. está diretamente relacionada ao
O fechamento da goteira deve se processo de absorção e funcio-
manter ativo durante todo o período nalidades das estruturas inter-
de aleitamento. Após o desalei- nas; alguns trabalhos relacionam
tamento, esse processo se torna des- a temperatura como um fator
necessário e o animal perde este determinante para estimular o
reflexo. Existem casos em que a per- reflexo de fechamento da gotei-
da do reflexo para o fechamento ra esofágica.
ocorre precocemente. Para solucio- Temperaturas inferiores a 10 o C
nar essa falha deve-se realizar no- reduzem o desempenho do animal,
vamente o treinamento para a ma- principalmente em locais de clima
mada a partir do balde ou então se frio, pois o animal gasta mais ener-
utilizar bicos para o fornecimento da gia para aquecer o corpo e a dieta
dieta líquida. líquida consumida. Em regiões tro-
picais pode-se fornecer a dieta lí-
Figura 6 - Goteira esofágica
quida um pouco abaixo da tempe-
ratura ideal, sem causar problemas
ao animal, pois a temperatura am-
biente colabora com a manutenção
da temperatura corporal.

Frequência de aleitamento
O fornecimento de toda a dieta lí-
quida, uma vez ao dia, exige maio-
Adaptado: Heinrichs (2003). Feeding the res cuidados no manejo, pois impli-
Newborn Dairy Calf, Pennsylvania, State
University ca em maior suscetibilidade a pro-
38 Casa do Produtor Rural

blemas relacionados ao estresse e na criação de bezerras leiteiras.


diarreias dos bezerros. Assim, não Assim, as estratégias de redução
é indicada, principalmente para be- de custo final tem foco na dieta lí-
zerros em idades mais jovens, os quida, seja por desleitamento an-
quais tem baixa capacidade de con- tecipado, seja pela adoção de die-
sumo. ta líquida com menores custos. No
Para não obter resultados insatis- entanto, durante o período de alei-
fatórios, deve-se aumentar o núme- tamento, o consumo de sólidos é
ro de refeições assegurando-se a baixo, sendo a maior fonte de nu-
ingestão total, conforme o planeja- trientes aqueles provenientes da
mento da alimentação. dieta líquida.
Há uma preferência para que o Entre as opções de dieta líquida
aleitamento seja feito em duas ou podem ser listados: leite integral,
mais refeições ao dia de forma que leite não comercializável, soro de
a dieta líquida tenha maior aprovei- leite, colostro fermentado e as fór-
tamento, principalmente no caso do mulas comerciais, chamadas de
fornecimento de maiores volumes sucedâneos lácteos.
diários. Além disso, o maior número
de refeições resulta em comporta- Fontes de dieta líquida
mento ingestivo mais próximo do • Leite integral: É a fonte ideal para o
natural, quando o bezerro permane- bom desempenho do bezerro, de-
ce com a mãe, sendo interessante vido ao alto valor nutricional em re-
do ponto de vista de bem-estar. O lação ao teor de proteínas e perfil
maior número de refeições também de aminoácidos, assim como do
permite maior interação entre os ani- teor de gordura e perfil de ácidos
mais e os tratadores, possibilitando graxos. O leite integral é a princi-
diagnóstico e solução de problemas pal fonte de renda de uma proprie-
mais rapidamente. dade leiteira então, apesar de mais
Essa aproximação é uma oportu- vantajosa nutricionalmente, deixa
nidade ótima para habituar o reba- de ser financeiramente viável.
nho com a rotina, tornando-os mais
dóceis e fáceis de serem manejados. • Leite não comercializável: São con-
siderados como leite não comer-
Dieta líquida cializável: o colostro de baixa
A dieta líquida representa mais qualidade, o leite de transição e o
da metade do custo de produção leite proveniente de vacas aco-
Criação de Bezerras Leiteiras 39
metidas por mastite. O leite pro- sob refrigeração. Além disso, o
veniente de vacas com mastite é custo deste processo varia de
o menos indicado para forneci- acordo com o tamanho e capaci-
mento ao animal por apresentar dade do pasteurizador, o que nor-
composição de nutrientes essen- malmente só se torna interessan-
ciais muito variáveis, além da qua- te do ponto de vista financeiro
lidade microbiológica inferior. O quando se tem grande número de
leite proveniente de vacas doen- bezerros em aleitamento.
tes requer maior atenção por O leite pasteurizado é uma boa op-
apresentar alta carga bacteriana, ção para reduzir a morbidade, a
podendo resultar em maior inci- mortalidade e aumentar o ganho de
dência de diarreias; além da pos- peso do animal. Estudos apontam
sibilidade de presença de resídu- dados alarmantes em relação aos
os de antibióticos, resultando na animais que consomem o leite
ingestão de subdoses e desen- mamítico, pois se tornaram mais re-
volvimento de resistência micro- sistentes a alguns antibióticos
biana a estes fármacos. como ampicilina, penicilina,
A elevada carga bacteriana advém cefalotina e tetraciclina, dificultan-
da infecção na glândula mamária do o tratamento da enterobactérica
da vaca e também do manuseio e Escherichia coli.
da conservação inadequada, des- O leite não comercializável, obti-
de o momento da ordenha até o dos de vacas com mastite ou em
fornecimento. Para que a carga tratamentos com antibióticos, deve
microbiana seja reduzida pode-se ser separado e fornecido apenas
utilizar a pasteurização do leite. O para os animais mais velhos, alo-
leite é aquecido até a inativação jados individualmente.
dos microrganismos prejudiciais,
sendo eliminados patógenos cau- • Colostro e leite de transição fermen-
sadores de diarreias e pneumonia. tado: Existem dois tipos de fermen-
Entretanto, o manejo, após a pas- tação: aeróbica e anaeróbica. A
teurização, requer cuidados para aeróbica é pouco utilizada no Bra-
que a carga microbiana não au- sil, devido ao clima que propicia o
mente novamente, sendo importan- crescimento de mofos e bolores, di-
te o treinamento do tratador para minuindo a qualidade nutricional
que o leite pasteurizado seja rapi- da dieta líquida. A técnica consiste
damente fornecido ou conservado na acidificação através da fermen-
40 Casa do Produtor Rural

tação, de forma a se criar um am- apresenta resultados de ganho de


biente impróprio para o desenvol- peso semelhantes aos do leite in-
vimento dos patógenos. No entan- tegral.
to, a presença de oxigênio no sis-
tema impede o armazenamento por • Soro do leite: O soro de leite é um
muitos dias, devido a perda de qua- resíduo da fabricação de queijo,
lidade. que demanda tratamento antes do
A fermentação anaeróbica, resul- descarte, sendo considerado um
tando no que se denomina silagem problema neste processo indus-
de colostro, é a mais utilizada no trial. Por este motivo, tornou-se
Brasil por propiciar o armaze- ampla a sua utilização como die-
namento sem a incidência de fun- ta líquida tanto de bezerros quan-
gos. O leite de transição e o colos- to de leitões.
tro são armazenados em garrafas O preço ofertado ao produtor é
plásticas de 0,5 a 2 litros totalmen- acessível, fazendo com que a pro-
te preenchidas e fechadas com cura seja alta, mas o uso não é
tampa, de forma a se retirar todo recomendado para a substituição
oxigênio do sistema. Este tipo de do leite integral no aleitamento. O
fermentação permite a rápida redu- soro contém alta concentração de
ção do pH do material, permitindo minerais e lactose, podendo cau-
sua conservação sem aparecimen- sar diarreia, além de apresentar
to de fungos e bolores. No entan- insuficientes teores de sólidos,
to, a qualidade da dieta líquida é gorduras e proteínas, para a nu-
reduzida uma vez que a lactose é trição ideal.
utilizada como substrato pelas bac-
térias que realizam a fermentação, • Sucedâneo lácteo: Esse suplemen-
assim como as proteínas que são to tem como característica a con-
quebradas em compostos não servação e ampla diversidade de
proteicos. composição e qualidade nutricio-
O fornecimento da silagem deve nal, conforme ingredientes utiliza-
ser feito com sua diluição em água dos e sua formulação. A formula-
ou leite. A diluição em água reduz ção pode ser feita de resíduos da
ainda mais sua qualidade nutri- indústria leiteira ou de derivados
cional, resultando em baixas taxas vegetais.
de crescimento dos bezerros. Por Os sucedâneos, formulados com
outro lado, quando diluída no leite, grande inclusão de fontes de pro-
Criação de Bezerras Leiteiras 41
teína e carboidratos de origem ve- necimento de dieta líquida com
getal, apesar de mais baratos, não maior inclusão de fontes de origem
apresentam boa digestibilidade vegetal.
para os animais com menos de 21 Os componentes lácteos do su-
dias de vida. Já aqueles com inclu- cedâneo podem ser: o soro, o soro
são de derivados da indústria lác- desidratado e as proteínas concen-
tea, originam produtos de boa qua- tradas do soro. A diferença na com-
lidade nutricional, porém ainda posição do sucedâneo com esses
com valor nutricional inferior ao lei- ingredientes é o modo de secagem
te integral. e o isolamento da proteína do soro.
Enquanto o soro desidratado apre-
senta 12% de proteína, a proteína
Características de sucedâneos concentrada apresenta teores de
Na escolha de um sucedâneo, a 80%. Essas fontes não têm fatores
formulação é o fator mais importan- anti-nutricionais (substâncias que
te, devendo ser considerados não só agem negativamente no desenvol-
os teores, mas também as fontes de vimento), como ocorre com as fon-
proteína, carboidrato e gordura tes de proteína de origem vegetal.
digestível. Os sucedâneos não lácteos são
As recomendações mais antigas produzidos com extratos de vege-
são de teores de proteínas entre tais como a proteína e farinha de
20-22%, de origem láctea ou não soja, proteína de trigo, farinha de
para sistemas de aleitamento con- ervilha e plasma animal. As fontes
vencional (4 litros por dia) (NRC, obtidas da soja possuem baixa
2001). Nas três primeiras semanas digestibilidade, o que reduz a dispo-
de vida, as proteínas lácteas são nibilidade de aminoácidos, resultan-
mais indicadas por apresentarem do em menor desempenho animal.
aminoácidos essenciais e diges- Além disso, podem apresentar fato-
tibilidade entre 87-98%. Os bezer- res anti-nutricionais, que muitas ve-
ros jovens não apresentam zes resultam em diarreias e reações
enzimas intestinais capazes de di- alérgicas no intestino de bezerros
gerir fontes de proteína ou com menos de três semanas.
carboidratos de origem vegetal, o Os produtos mais usados para
que só vai ocorrer a partir de 3 se- substituírem as proteínas de origem
manas de vida. Assim, após esse láctea são as proteínas da soja con-
período, existe possibilidade de for- centrada e o glúten solúvel do trigo.
42 Casa do Produtor Rural

No entanto, a proteína da soja con- que 0,15% de fibra bruta.


centrada possui deficiência dos Existem aditivos que podem com-
aminoácidos metionina e lisina, plementar a formulação do sucedâ-
enquanto o glúten de trigo tem de- neo e auxiliar principalmente na pre-
ficiência de outros aminoácidos. venção de doenças. No Brasil, são
Nesse caso, a adição de ami- utilizados os anticoccidianos,
noácidos sintéticos é recomenda- probióticos, prébioticos e ácidos or-
da para que não haja redução no gânicos, todos relacionados à manu-
desempenho animal. tenção da saúde intestinal dos ani-
Em relação à gordura bruta, o su- mais.
cedâneo pode conter entre 10 e O desempenho e o crescimento
25%. A gordura de origem láctea do animal são determinados pelos
apresenta mais vantagens para os teores de proteína e energia dispo-
bezerros, principalmente aqueles níveis na dieta, além do volume de
com até duas semanas de vida, pois fornecimento. Quanto maior o volu-
reduz diarreias e morbidades. No me fornecido, maior será o ganho de
entanto, devido ao alto valor agre- peso dos animais. No entanto, ani-
gado da gordura de origem láctea mais em crescimento acelerado tem
para a alimentação humana, são uti- um maior aumento na exigência em
lizadas fontes como óleo de coco ou proteína do que em energia. Dessa
de palma para redução do custo de forma, animais em aleitamento in-
produção de sucedâneos. A fácil di- tensivo precisam receber sucedâ-
luição do pó na água, tipo de ácidos neos com maiores teores de proteí-
graxos e o odor são características na (Tabela 1). Assim, devem ser ob-
primordiais na escolha da gordura servadas as informações contidas
correta. nos rótulos para verificar as fontes e
Outro indicador importante para a as quantidades de nutrientes dispo-
escolha de um sucedâneo é o seu níveis em cada produto, que deverá
teor de fibras, pois as mesmas es- ser escolhido considerando-se o sis-
tão relacionadas à presença de fon- tema de aleitamento. Da mesma for-
tes vegetais. As formulações comer- ma, as instruções de diluição devem
ciais com destinação a animais en- ser analisadas juntamente às formas
tre as primeiras três semanas de de manejo recomendados para o
vida devem conter valores menores aleitamento.
Criação de Bezerras Leiteiras 43
Tabela 1 - Composição de sucedâneos de acordo com o sistema de aleita-
mento
SISTEMAS
INTENSIVO
CONVENCIONAL
Intensivo À vontade Programado
% Proteína 20-22% >24% >24% >24%
% Gordura 12-20% 15-20% 15-20% 15-20%
% Sólidos 12,50% 12,5-16% 12,5-16% 12,5-16%
Ganho aproximado (g/d) 400-500 680-1.000 680-1.200 680-1.000

Fonte: Carla Bittar, 2017.

É importante ressaltar que o pro- dividido em três tipos: à vontade, in-


duto deve ser de fácil diluição, sem tensivo e programado (step-up/step-
empedramento, de cor clara e com down), conforme apresentado na Ta-
odor agradável, semelhante ao lei- bela 3.
te. A diluição do sucedâneo em água
deve seguir a recomendação do fa- Tabela 2 - Relação numérica entre
bricante, sendo recomendado na li- refratômetro e teor de só-
teratura valores entre 12,5 e 17,5% lidos
de sólidos. No entanto, os sucedâ-
neos, comercializados no Brasil, têm FÓRMULAS PARA CÁLCULO DE TEOR
DE SÓLIDOS (TS)
um limite em torno de 16% de sóli-
dos para boa aceitação pelos bezer- Leitor ótico TS = (0,96 x Brix) + 1,01
ros. A avaliação do teor de sólidos Leitor digital TS = (0,96 x Brix) + 1,47
(TS) do sucedâneo diluído pode ser Fonte: Floren et al., 2016
feita com o auxílio de refratômetros
de Brix ópticos ou digitais, utilizan-
do-se as equações da Tabela 2. No sistema convencional, duran-
te 60 dias, o consumo de dieta líqui-
Volume de fornecimento da se restringe a 10% do peso ao
O volume da dieta líquida é deter- nascer (PN) do animal, geralmente
minado pelo sistema de aleitamen- em torno de 4 L por dia. O objetivo é
to adotado, que pode ser classifica- estimular o consumo de concentra-
dos como sistema convencional e do para o desaleitamento em idades
sistema intensivo, sendo este sub- mais jovens. A mudança no hábito
44 Casa do Produtor Rural

de consumo se dá porque o animal produção de leite futuro. O aleita-


ingere menos volume de dieta líqui- mento intensivo pode ser realizado
da para atendimento de suas exi- de três diferentes formas. No Inten-
gências, passando a consumir ou- sivo propriamente dito, o animal re-
tros alimentos disponíveis para com- cebe entre 15 e 20% de dieta líqui-
plementar a nutrição. O consumo de da durante todo o período de aleita-
dieta sólida é inversamente propor- mento. No sistema à vontade, o con-
cional ao volume de dieta líquida sumo de dieta líquida é livre e pode
ingerida. chegar a patamares superiores a
No aleitamento intensivo os volu- 20% do PN do animal.
mes fornecidos são maiores, varian- Nestes dois sistemas existe gran-
do de 15% a valores superiores a de dificuldade para desaleitar os
20% do PN, com objetivo de aumen- animais, uma vez que o consumo de
tar o ganho de peso e o potencial de dieta sólida é bastante reduzido.

Tabela 3 - Tipos de sistema de aleitamento


SISTEMAS

INTENSIVO
CONVENCIONAL
INTENSIVO À VONTADE PROGRAMADO

Objetivo

Estimular consumo Maior ganho de peso Maior ganho de peso, Maior ganho de peso
de dieta sólida, e aumento no poten- reproduzindo hábito no período intermediá-
permitindo desalei- cial de produção de natural de mamada e rio e estimular consumo
tamento precoce leite futuro aumento no potencial de dieta sólida no perío-
de produção de leite fu- do anterior ao desalei-
turo tamento. Aumento no
potencial de produção
de leite futuro.
% do peso ao nascer (PN)

10% PN 15-20% PN >20% PN 10% - 20% - 10%


Litros por dia (aproximado)
4L 6-8 L >8 L 4L - 8L - 4L*

* apenas um exemplo, já que outros volumes podem ser utilizados


Fonte: Carla Bittar, 2017.
Criação de Bezerras Leiteiras 45
Esse problema é resolvido com o Figura 7 - Bezerro bebendo água em
sistema intensivo programado, balde
quando o animal recebe maiores vo-
lumes durante as primeiras sema-

Marcela Matavelli
nas de vida, sendo estes reduzidos
gradativamente de forma a estimu-
lar o consumo de concentrado pelo
animal. Assim, este sistema permite
o desaleitamento sem prejuízos ao
desempenho animal. Os sistemas de
aleitamento intensivo tem duração
variada, sendo adotados períodos
entre 60 e 90 dias pela maior parte
dos produtores. Dieta sólida
Fornecimento de água Importância do consumo de sólidos
para desenvolvimento ruminal
A água à vontade, desde os primei- A fase de aleitamento é bastante
ros dias de vida, é de extrema impor- onerosa devido ao custo da dieta lí-
tância para elevar o consumo de con- quida. Por outro lado, é uma fase em
centrado e a recuperação dos casos que os animais apresentam grande
de diarreia. O aleitamento não exclui eficiência, apresentando altas taxas
a exigência de água, pois a água de crescimento quando bem alimen-
segue para o rúmen, enquanto a tados, principalmente com maiores
dieta líquida segue para o volumes de dieta líquida. É uma fase
abomaso. Devido ao seu papel, de grandes transformações na ana-
como estimulador de consumo de tomia e fisiologia do bezerro, em res-
concentrado, a água também afeta posta ao desenvolvimento ruminal.
o desenvolvimento ruminal. A água Quando o rúmen não está adequa-
deve estar disponível para o animal damente desenvolvido, o desaleita-
sempre limpa e fresca. Entretanto, é mento acarretará em perda de peso.
interessante retirar a água no mo- No início da vida do bezerro a ali-
mento do fornecimento de dieta líqui- mentação é majoritariamente líqui-
da, pois alguns bezerros bebem da, sendo a digestão relacionada
água em demasia em resposta ao fortemente à ação do abomaso, que
estímulo da mamada (Figura 7). é o estômago verdadeiro. O desen-
46 Casa do Produtor Rural

volvimento do rúmen tem início com • Estabelecimento de microrganis-


a ingestão de alimentos sólidos e, mos no rúmen;
dessa forma, novos microrganismos • Presença de água no meio;
se estabelecem e auxiliam na fer- • Habilidade de regurgitar material
mentação do conteúdo consumido. para fora do rúmen;
Com o início da fermentação, e • Capacidade de absorção dos teci-
consequente produção de ácidos dos;
graxos de cadeia curta (AGCC), o • Presença de substratos.
rúmen vai desenvolvendo sua ca-
pacidade de absorção com o au- Ao nascimento, uma grande va-
mento do número de papilas. Além riedade de microrganismos e bac-
destas transformações, a propor- térias são adquiridos pelo contato
ção dos compartimentos vai sendo com o trato reprodutivo e a saliva
alterada, com o rúmen represen- da mãe, o ambiente, fezes ou com
tando somente 30% no início, mas outros animais. O surgimento des-
85% ao final do período de aleita- sas bactérias, em grande parte, é
mento, de acordo com o consumo benéfico, pois colonizarão o rúmen
de concentrado (Figura 8). e participarão de processos de fer-
O desenvolvimento do sistema mentação de alimentos sólidos. A
digestório depende de alguns fato- presença de água é importante no
res que resultam em mudanças na processo de desenvolvimento
anatomia e metabolismo, como: ruminal, estimulando o consumo

Figura 8 - Desenvolvimento do trato digestório em resposta ao consumo de


alimentos sólidos

Ao nascer 3 - 4 semanas 12 semanas

Adaptado: Heinrichs (2003). Feeding the Newborn Dairy Calf, Pennsylvania, State University
Criação de Bezerras Leiteiras 47
de concentrado e criando ambien- Composição da dieta sólida
te úmido necessário para que a fer- O fornecimento de concentrado
mentação ocorra. durante a fase de aleitamento é re-
Nos primeiros dias de vida o ani- comendado devido ao seu efeito
mal não realiza ruminação, entre- positivo no desenvolvimento do
tanto, este hábito pode ser desen- rúmen. O oposto ocorre com os vo-
volvido em animais bem jovens lumosos, que tem menores teores de
quando estes tem acesso a alimen- proteína e energia em sua composi-
tos sólidos. ção, e tem perfil de fermentação que
O desenvolvimento ruminal com- não resulta em grande produção dos
preende o desenvolvimento muscu- ácidos butírico e propiônico. Apesar
lar, assim como o aparecimento e disso, o volumoso ajuda na regula-
multiplicação de papilas na parede ção do pH ruminal, pois a fibra tem
interna. Essas vilosidades na pare- perfil de fermentação diferente, além
de ruminal aumentam a superfície de estimular a ruminação.
de absorção de produtos da fermen- Nas primeiras semanas de idade
tação, como os AGCC. Dentre os o consumo voluntário de feno é in-
AGCC gerados, os ácidos butírico e significante, e devido ao seu peque-
propiônico ajudam a aumentar ain- no efeito no desenvolvimento
da mais o número de papilas e o ta- ruminal, sugere-se que seja forneci-
manho das existentes. Estes ácidos do somente após o desaleitamento.
são produzidos principalmente Na maioria das vezes o volumoso
quando há consumo de alimentos fornecido possui baixa qualidade,
concentrados, os quais têm altas o que afeta negativamente o de-
quantidades de proteína e sempenho dos animais. No entan-
carboidrato. Assim, para que o to, embora não seja recomendado
rúmen se desenvolva rapidamente o fornecimento de volumosos, é
devem ser fornecidas quantidades importante que o concentrado te-
adequadas de concentrado desde nha adequado teor de fibra, sendo
os primeiros dias de vida. Por isso, interessante a inclusão de fibra de
dentre todos os fatores que afetam alta digestibilidade como, por
o desenvolvimento ruminal, o mais exemplo, a casquinha de soja ou
importante é a disponibilidade e a a polpa cítrica. Por outro lado, o pró-
composição dos substratos, sendo prio feno picado pode ser incluído,
os responsáveis para que os demais mas em concentração de aproxima-
funcionem eficientemente. damente 5%.
48 Casa do Produtor Rural

O concentrado deve conter entre do processamento ou peletização.


20 e 22% de proteína bruta (PB), Embora não haja diferenças no de-
80% de nutrientes digestíveis totais sempenho animal de acordo com a
(NDT), 15 a 25% de fibra disponível forma física do concentrado, reco-
em detergente neutro (FDN) e entre menda-se que os concentrados
6 e 20% de fibra disponível em de- farelados tenham partículas de ta-
tergente ácido (FDA). Apesar de ha- manho superior a 1,19 mm. Quando
ver variação entre o valor mínimo e o concentrado é finamente moído
máximo das porcentagens de fibra, podem ser observadas reduções de
os valores limítrofes garantem uma consumo e de pH ruminal, além de
formulação que não causa danos à problemas respiratórios.
saúde do rúmen e boa diges-
tibilidade para animais com o rúmen Fornecimento da dieta sólida
em desenvolvimento. O concentrado deve ser fornecido
Os ingredientes mais utilizados em cochos pequenos ou baldes, sen-
na formulação da ração são: do de extrema importância o monito-
• Farelo de soja, por ser a melhor fon- ramento do consumo. O consumo é
te de proteínas e estimular o con- crescente já que o aumento de peso
sumo; implica no aumento da exigência.
• Milho moído, principal fonte de Assim, a quantidade fornecida deve
energia; também ser aumentada gradativa-
• Polpa cítrica, casquinha de soja e mente, de forma que o animal tenha
farelo de trigo, fontes de fibra de sempre concentrado disponível.
alta qualidade e que ajudam a Além disso, o desaleitamento ade-
manter os teores de FDN e FDA quado depende do consumo de con-
adequados; centrado. A sobra deixada pelo ani-
• Casca de aveia, opção muito mal deve ser retirada diariamente
palatável e ótima fonte de fibra. para que o animal tenha sempre con-
• Em alguns casos, pode-se adi- centrado de boa qualidade no cocho.
cionar feno moído, apenas com Estas sobras poderão ser fornecidas
teores abaixo de 5%, acima dis- para animais mais velhos, que tem
so há diminuição do consumo de consumo maior, desde que não es-
concentrado e também do ganho tejam contaminadas por fezes ou uri-
de peso. na, ou que estejam úmidas poden-
Os concentrados apresentam di- do apresentar crescimento de fungos
ferentes formas físicas dependendo e bolores. É importante medir as por-
Criação de Bezerras Leiteiras 49
ções fornecidas, com potes ou copos 4 L/d de dieta líquida, pois resulta
que quantifiquem valores aproxima- em consumo de concentrado ade-
dos. O mais indicado é fazer a troca quado. Porém, aumentadas as
de concentrado pela manhã, pois é quantidades da dieta líquida
o período que o animal apresenta fornecida, o consumo de concen-
maior consumo. trado diminui e o bezerro só es-
tará pronto para desaleitar após
Figura 7 - Cochos para fornecimen- o desenvolvimento ruminal e a
to de concentrado e feno capacidade de consumo de sóli-
dos se estabelecerem.
Carla Bittar

• Consumo do concentrado: o con-


sumo diário apropriado para o
desaleitamento depende do peso
ao nascer, dessa forma não é pos-
sível adotar valores fixos. É consi-
derado então o valor do consumo de
concentrado correspondente a 1,5%
do peso ao nascer, independente-
mente do sistema de aleitamento.
Desaleitamento • Peso do animal: um dos fatores
Uma vez que a fase de aleitamen- para se definir o momento para o
to é bastante onerosa, é interessan- desaleitamento é o peso do animal.
te que a interrupção do fornecimen- Em sistemas de aleitamento inten-
to seja realizada em idades mais jo- sivo, o ideal é que o animal dobre
vens. Para identificar se os animais o seu peso ao nascer durante o pe-
estão prontos para o desaleitamento ríodo de aleitamento. No sistema
é necessário observar a idade, o convencional, que resulta em menor
peso e, principalmente, seu consu- taxa de crescimento, esta meta não
mo de concentrado. será alcançada, de forma que outras
• Idade do animal: durante muito tem- metas deverão ser estabelecidas.
po o desaleitamento era feito aos O ganho de peso está relaciona-
60 dias de vida, sem considerar o do com o sistema escolhido e
consumo de concentrado. Esta ida- suas consequências no cresci-
de é bastante apropriada em sis- mento do animal. Se a meta for
temas de aleitamento conven- dobrar o peso do animal de 40 kg
cional, quando o animal recebe ao nascer nos 60 dias de aleita-
50 Casa do Produtor Rural

mento, isso significa que precisa- seja, com o rúmen pelo menos par-
rá ganhar 670g/dia, que pode ser cialmente desenvolvido para
alcançado com o consumo de metabolizar os produtos finais da
6L/d de dieta líquida. fermentação. Caso isso não ocorra,
Se o animal estiver em aleita- haverá perda de peso na fase
mento convencional, o mesmo subsequente, pois o animal não es-
não conseguirá dobrar de peso tará apto para manter suas taxas de
no tempo esperado, permanecen- crescimento.
do mais tempo em aleitamento, o O desaleitamento pode ser abrup-
que aumenta o custo com dieta to ou gradual. Alguns preferem a for-
líquida e com mão de obra. Se o ma abrupta por facilitar o trabalho
objetivo for elevar em 2,5 vezes que geralmente é escasso, principal-
o peso inicial, então será neces- mente em grandes rebanhos. O pro-
sário receber um sistema intensi- cesso abrupto pode resultar em au-
vo (8L/d). mento da ingestão de concentrado
pelos animais, desde que este já
Métodos de desaleitamento esteja em patamares adequados. No
O desaleitamento é extrema- entanto, esse método não proporcio-
mente estressante para o bezerro, na bem estar ao animal, aumentan-
pois implica em mudanças que afe- do sua atividade e vocalização por
tam se metabolismo, além de seu dias. Por isso, o método de desa-
comportamento. Nesse momento, leitamento gradual é o mais reco-
o animal passa a se alimentar da mendado. Quando o consumo do
dieta sólida como sendo única fon- concentrado estiver nas taxas apro-
te de nutrientes para seu desenvol- priadas em relação ao peso do ani-
vimento. mal, por três dias consecutivos,
Com o corte da dieta líquida é re- pode-se começar o desaleitamento,
duzida a quantidade de matéria com redução gradual do volume da
seca total e a digestão e a fermenta- dieta em cada refeição. Dessa for-
ção se adaptam para características ma, o impacto sobre o bem estar do
de um ruminante adulto. O animal animal é menor, assim como possí-
precisa estar preparado, do ponto de veis prejuízos ao desempenho e sua
vista anatômico e fisiológico, ou saúde.
Criação de Bezerras Leiteiras 51

Instalações para bezerros


em aleitamento
O início da vida das bezerras é vimento, auxiliando no bem-estar
um período de grandes desafios e dos animais.
de mudanças. No nascimento, a Quatro aspectos são essenciais
exposição ao ambiente externo, e nas instalações que abrigarão as
não mais sob a proteção do am- bezerras: a ventilação, o isolamen-
biente uterino, submete os recém- to, o conforto e a economia. O ob-
nascidos a inúmeras adversida- jetivo é proteger os animais das va-
des. Mudanças internas e externas riações do clima (temperatura, ven-
ocorrem o tempo todo, sejam na for- to e chuva), garantir o acesso à
mação do sistema imunológico, no água, ao alimento e permitir o des-
trato gastrintestinal ou nas variações canso. Os alojamentos podem ser
de temperatura do ambiente. Para individuais ou de grupos e possu-
que as bezerras possam crescer em variedade nos tipos. A melhor
saudáveis, algumas práticas preci- opção depende das condições de
sam ser implantadas para garantir clima, finalidade da criação, custo
ambiente propício ao seu desenvol- e manejo usado pelo pecuarista.
52 Casa do Produtor Rural

Um inadequado ambiente causa (anticorpos), provenientes do colos-


estresse para as bezerras e, conse- tro. Já os animais em aleitamento fi-
quentemente, menores taxas de cam mais suscetíveis a patógenos
crescimento. Além disso, as bezer- do ambiente e à hipotermia, poden-
ras ficam vulneráveis a doenças, do aumentar as taxas de mortalida-
podendo apresentar baixos desem- de. Quando o estresse térmico é pro-
penhos também na fase adulta. Na cedente do excesso de calor, as be-
fase de aleitamento, é importante zerras lançam mão de estratégias
observar o comportamento das be- para dissipá-lo e manter a tempera-
zerras, que é um fator tão importan- tura corporal, como o aumento do
te quanto os aspectos físicos do consumo de água e a diminuição do
ambiente. Não menos importante, é consumo de concentrado. Essa ten-
o treinamento dos tratadores para tativa de amenizar o calor provoca re-
que o manejo de qualquer instala- dução no desempenho dos animais.
ção seja adequado.
Conforto físico
O conforto físico das bezerras é
Necessidades básicas da assegurado quando o alojamento
instalação coletivo ou individual possibilita o
acesso à água e ao alimento, e ain-
Conforto térmico da, espaço satisfatório para que pos-
O ambiente em temperatura entre sam se movimentar tranquilamente
15oC e 25oC garante uma zona tér- e se deitar em local seco e limpo,
mica neutra e mais adequada para com adequado acesso à sombra.
abrigar bezerras, principalmente Quando o alojamento é feito em
nas duas primeiras semanas de vida. baias ou gaiolas, a cama deve tra-
Oscilações bruscas de temperatura zer conforto ao animal e ser
afetam mais negativamente a imu- antiderrapante, para evitar lesões
nidade dos jovens enfermos do que nos cascos ou ainda tombos, e não
dos animais mais velhos e sadios. devem acumular umidade e sujeira.
O estresse térmico pode ocorrer A ventilação é essencial, pois além
tanto em decorrência de altas quan- de permitir renovação do ar e retira-
to de baixas temperaturas. Quando da dos gases tóxicos, principalmen-
em baixas temperaturas (estresse te da amônia oriunda dos
por frio), o recém-nascido tem me- excrementos, auxiliam na regulação
nor absorção das imunoglobulinas da temperatura do ambiente.
Criação de Bezerras Leiteiras 53
A ventilação inadequada disse- Sistemas individualizados
mina doenças, concentra fortes Os principais problemas que afe-
odores das fezes e gases e aumen- tam bezerras em aleitamento são
ta a umidade do local, o que pode diarreias e doenças respiratórias. O
provocar problemas respiratórios. aparecimento dessas enfermidades
Os sistemas de alojamento brasi- está ligado diretamente à falha de
leiros são geralmente em locais transferência de imunidade passiva
abertos e arejados. Entretanto, a pela colostragem. No entanto, o ma-
umidade, principalmente ao redor nejo das instalações, principalmen-
das instalações, ainda é um pro- te em sistemas coletivos, pode oca-
blema. sionar em surtos de doenças, pois
Para melhor conforto do animal, existe constante contato com as fe-
é importante que o local para se zes de animais doentes. A indivi-
deitar esteja sempre seco. Quan- dualização dos animais, com sepa-
do necessário, se utiliza uma cama ração física, é uma ótima abordagem
feita de palha, serragem, casca de para redução da disseminação de
arroz ou até mesmo areia, em doenças. Além disso, permite maior
quantidade suficiente para envol- controle sobre a quantidade de con-
ver parte de seu corpo e patas. En- centrado ingerido por animal e faci-
tretanto, a limpeza e o manejo das lita a identificação dos primeiros si-
camas em abrigos individualizados nais de enfermidades.
exigem muito trabalho. Quando o No Brasil, pouco mais da metade
animal é desaleitado, antes do alo- dos criadores de bezerras leiteiras
jamento de um novo bezerro, deve- utilizam o sistema individualizado,
se higienizar o local e trocar a que previne transmissões de doen-
cama, evitando a propagação de ças entre animais e proporciona
patógenos. A troca da cama deve bem-estar. Entretanto, existem algu-
ser feita diariamente ou de acordo mas desvantagens neste sistema
com a necessidade. Pode-se rea- como a falta de interação social en-
lizar a troca completa ou somente tre os animais e baixa área de loco-
retirar a porção úmida e colocar moção dependendo da área dos
mais cama seca. Nos períodos chu- abrigos ou baias.
vosos, quando há formação de bar-
ro, no caso de abrigos móveis, é Baias e gaiolas
importante transferir o animal para O alojamento em baias e gaiolas
uma área em melhores condições. deve ser feito preferencialmente
54 Casa do Produtor Rural

com elevação, para garantir um am- Geralmente, é um sistema eficaz


biente higiênico interno e externo, do ponto de vista de desempenho
maior ventilação, reduzindo a disse- animal e por isso muito utilizado
minação de doenças e umidade. A mundialmente. A manutenção da
área mínima para os animais deve cama é essencial para a preserva-
ser de 2,2 a 2,8 m², devendo possuir ção da higiene e redução da umi-
piso adequado onde o animal pos- dade, assim como nos demais sis-
sa andar e se deitar sem riscos de temas.
tombos e lesões nos cascos. A casinha tropical é um dos mo-
delos de instalação individual mais
divulgado e utilizado no Brasil. São
Figura 1 - Baia suspensa casinhas feitas de madeira, com bai-
xo custo de produção, que mantêm
Carla Bittar

água e concentrado sempre ao al-


cance dos animais. Por individuali-
zar e não permitir o contato entre
animais, são eficientes na redução
da ocorrência de doenças, principal-
mente as respiratórias e diarreias. O
baixo peso dessa estrutura permite
sua troca de lugar de acordo com a
necessidade, fazendo com que o
ambiente permaneça seco, com for-
ragem e cama bem conservadas,
Abrigos individuais evitando o contato do bezerro com
Os abrigos individuais podem ser o barro e com as fezes.
feitos por diferentes tipos de mate- O bezerro permanece limitado às
riais como polietileno, madeira e fi- imediações da casinha por uma cor-
bras de vidro. Os abrigos podem ser rente fixada no chão por grampos. A
de variados tamanhos e modelos, corrente deve permitir a locomoção
sendo normalmente colocados dire- de modo a acompanhar a sombra
tamente no solo. Os animais podem projetada pela casinha ao longo do
se locomover pelas áreas externa e dia. Apesar das vantagens, em épo-
interna, mas limitados a um determi- cas de frio ou chuva, o bezerro fica
nado espaço por estarem amarrados exposto às condições ambientais.
ao abrigo ou barrados por cercas. Essa estrutura não dá suporte con-
Criação de Bezerras Leiteiras 55
tra essas intempéries, o que aumen- bém água e concentrado em baldes
ta as chances do animal adoecer. ou cochos individuais, facilitando o
controle do consumo. O bezerro de-
verá ser trocado de local toda vez
Figura 2 - Casinha tropical que o piso perder a cobertura vege-
tal, ou seja, a cama natural.
Marcela Matavelli

Já no sistema argentino, o ani-


mal tem uma área maior e possibi-
lidade de escolha de local para se
deitar, dado que está preso por
coleira e corrente acoplada a uma
cordoalha. De um lado o animal
tem sombra disponível e do outro,
água e concentrado.
Nestes sistemas os animais nor-
malmente têm acesso individualiza-
do à água e ao concentrado em bal-
des ou cochos, o que permite con-
trole individual de consumo. Ainda,
Sistema de estacas e sistema o aleitamento é realizado de forma
argentino individual sendo utilizados baldes,
O sistema de estacas tem sido mamadeiras ou ainda bibeirões (bal-
muito utilizado em países com cres- des com bico).
cente produção leiteira, como o Uru-
guai (Figura 3). Neste sistema, os
animais permanecem presos por Figura 3 - Sistema de estacas
coleira e corrente em uma estaca
Carla Bittar

com um espaço maior para se movi-


mentarem e descansarem, mas sem
contato com o animal ao lado. É im-
portante ressaltar que nesse tipo de
sistema é necessário haver sombra
disponível ao animal, principalmen-
te em países subtropicais e tropi-
cais, como o Brasil, devido à gran-
de incidência solar. Deve haver tam-
56 Casa do Produtor Rural

Devido a grande extensão do ter- tes dos criados em sistemas indivi-


ritório brasileiro, existe grande va- duais, representando uma vanta-
riação climática, principalmente em gem, uma vez que a maior dificulda-
relação à temperatura e pluviosida- de da criação é a fase do desalei-
de, fatores que podem afetar negati- tamento.
vamente os bezerros. Cada tipo de Piquetes, galpões abertos ou fe-
instalação, seja em galpões ou abri- chados são alguns exemplos de ins-
gos individuais, deve ser adequado talações coletivas. Independente do
à condição climática da região. Em sistema escolhido, o piso deve ser
regiões mais quentes é importante ripado ou direto no chão com cama
construir alojamentos que ofereçam e deve atender os quesitos de con-
sombra extra durante o dia, enquan- forto térmico e físico do ambiente.
to que em ambientes com tempera- Um problema deste tipo de aloja-
turas mais baixas e chuvosas é im- mento é a densidade animal (ani-
portante que as instalações ofere- mal/área), devendo-se evitar a
çam local seco e protegido. superlotação. As áreas devem ga-
rantir espaço suficiente para que os
Sistemas coletivos animais possam se deitar, com con-
O uso de sistemas coletivos na forto e tranquilidade, de forma a
criação garante melhor desenvolvi- exercer um comportamento natural
mento social e comportamental dos sem dominância e disputa por recur-
animais. Rebanhos criados nesse sos como sombra, alimentos e locais
sistema apresentam maior facilida- secos. Além disso, ambientes
de de adequação a mudanças de superlotados dificultam o controle de
alimentação ou de área. A criação doenças, provocando surtos de
em grupos permite que os animais diarreias e problemas respiratórios.
brinquem, interajam e se exercitem. Outra desvantagem dos sistemas
Por outro lado, agrupar animais pode coletivos é a ocorrência das chama-
trazer problemas tanto no âmbito sa- das mamadas cruzadas, que acon-
nitário, pois aumenta a possibilida- tecem frequentemente, sendo difícil
de de transmissão de doenças, o seu controle, por estar associada
quanto no desempenho, pois não há ao hábito de mamar. As mamadas
controle do consumo individual. cruzadas ocorrem em resposta ao
Animais nesses sistemas têm estímulo da mamada, após o consu-
apresentado início do consumo do mo de dieta líquida, quando o ani-
concentrado e outros alimentos, an- mal mama em diferentes partes do
Criação de Bezerras Leiteiras 57
corpo de outro animal (Figura 4). Fo- zado, deve apresentar maior nú-
ram observadas relações entre a ma- mero de bicos do que de bezerras,
mada cruzada e traumas e inflama- garantindo acesso a todos os ani-
ções no úbere, assim como proble- mais, incluindo aqueles que por
mas no umbigo e orelha. Uma forma ventura sejam deslocados por ou-
de diminuir essa ocorrência é man- tro animal. Além disso, é necessá-
ter a homogeneidade do lote em rio realizar a higieni-zação perió-
peso e altura e fornecer um volume dica dos bicos, para evitar a inci-
maior de dieta líquida. dência de patógenos.

Figura 4 - Mamada cruzada Figura 5 - Mamada em contêiner


Carla Bittar

Carla Bittar
Uma das formas de controlar o vo-
lume consumido por animal é a ado-
ção do sistema de canzil, que per-
mite a individualização no momento
do aleitamento. Além do controle in-
Na criação coletiva um dos pro- dividual de consumo, auxilia na re-
blemas é a forma de fornecer dieta dução das mamadas cruzadas, uma
líquida. O fornecimento em vez que o animal pode permanecer
contêiner é uma das opções, pois individualizado até que perca o estí-
garante a alimentação simultânea mulo da mamada.
dos animais do lote (Figura 5). No Outra forma de realizar o controle
entanto, não permite o controle do do volume consumido é através da
consumo individual. Quando utili- adoção do aleitador automático.
58 Casa do Produtor Rural

Este sistema identifica os animais como a vacinação, aferição de tem-


através de um chip, o qual indica o peraturas e verificação de enfermi-
volume de dieta líquida a ser libera- dades, pode ser difícil quando os
do para cada animal, de acordo com animais evitam a interação com o
a programação realizada pelo tratador. tratador. Assim, o sucesso na cria-
Cada tipo de sistema de aleita- ção de bezerras leiteiras também
mento proporciona benefícios dife- depende de fatores como o treina-
rentes na alimentação animal, bus- mento e comportamento positivo
cando aproximar sempre a criação do tratador no manejo dos animais,
ao mais natural possível. Porém, de modo a passar confiança e
traz desafios e abre espaço para a tranquilidade. Bezerros bem trata-
ocorrência de doenças gastrointes- dos são menos inseguros e mais
tinais e respiratórias. A realização lúdicos, respondendo com melhor
de práticas de manejo simples desempenho final.
Criação de Bezerras Leiteiras 59

Manejo Sanitário
O sucesso na criação de bezerras ma a reduzir a ocorrência destas
não depende apenas de fatores ge- doenças. Além de práticas de ma-
néticos ou da nutrição. As práticas nejo para redução dessas princi-
de manejo sanitário também são pais doenças, deve ser adotado o
essenciais para o desempenho ani- programa básico de vacinação de
mal, durante a fase de aleitamento, animais em crescimento. Em adi-
quando ocorre o estabelecimento do ção às vacinas exigidas por lei,
sistema imunológico. Se estas prá- outras podem ser aplicadas de
ticas não são realizadas, as taxas de acordo com a região da proprieda-
mortalidade e também de morbidade de e a ocorrência de determinadas
(% de bezerros doentes) são eleva- doenças no rebanho.
das, trazendo grandes prejuízos ao
produtor. Diarreia
As principais doenças que acome- Nos primeiros 60 dias de vida do
tem bezerros em aleitamento são animal a vulnerabilidade às infec-
as diarreias, os problemas respira- ções intestinais é elevada, devido
tórios, infecções umbilicais e a tris- aos desafios do ambiente e o ain-
teza parasitária bovina. As práticas da imaturo sistema imune do be-
de manejo sanitário devem consi- zerro. Esta vulnerabilidade é ain-
derar estratégias para redução da da maior quando o animal não foi
contaminação das bezerras, de for- adequadamente colostrado. A
60 Casa do Produtor Rural

diarreia é considerada um sinal clí- • Ambiente contaminado;


nico de problemas no trato diges- • Higienização imprópria dos uten-
tório, responsável por aumento de sílios de alimentação;
gastos com medicamentos e mão • Contato entre animais em diferen-
de obra, além da elevação da taxa tes estados de saúde;
de mortalidade do rebanho. • Mudanças bruscas na dieta.
O animal se defende da invasão
de patógenos ou do desequilíbrio Diarreia não infecciosa
da microbiota intestinal devido a al- A diarreia não infecciosa não
terações bruscas ou a qualidade apresenta sinais clínicos eviden-
da dieta líquida, através do aumen- tes, mas afeta rapidamente a vida
to da secreção de fezes, perda de do animal. Essa disfunção ocorre
eletrólitos e fluidos. Estas respos- em resposta ao acúmulo de
tas levam a redução na absorção solutos no intestino, normalmente
de nutrientes, devido aos prejuízos devido a problemas na absorção de
causados na mucosa intestinal, o nutrientes. O acúmulo de solutos
que reduz a taxa de crescimento do resulta em aumento da pressão
animal. Existem diferentes agen- osmótica e a entrada de água no in-
tes causais que podem gerar do- testino, aumentando assim a fluidez
enças diferentes com o mesmo si- das fezes. Os erros no manejo ali-
nal de mau funcionamento do in- mentar são os principais causado-
testino como vírus, bactérias e res deste tipo de diarreia, sendo a
protozoários. Entretanto, indepen- má higienização dos utensílios, a
dentemente do agente causal (mi- escolha de sucedâneos de baixa
crorganismos ou manejo nutricional), digestibilidade e mudanças bruscas
a diarreia resulta em perda de apeti- na dieta as principais causas.
te, depressão, aumento da deman-
da energética, acidose, desidratação Diarreia infecciosa
e perda de eletrólitos, podendo le- As diarreias infecciosas podem ter
var à morte, caso não seja realizado diferentes agentes causais (pro-
tratamento. tozoários, vírus e bactérias) que re-
A diarreia é classificada como sultam em diferentes severidades de
não infecciosa ou infecciosa, por sintomas, além de diferentes fases
relação com a causa da enfermida- de ocorrência, forma de transmissão
de no animal. Sendo a ocorrência e tratamento (Tabela 1). As falhas na
atribuída à fatores como: transferência de imunidade passiva,
Tabela 1- Comparação entre microrganismos causadores da diarreia.

PROTOZOÁRIOS VÍRUS BACTÉRIAS

Agente Criptospo- Coccidiose Corona- Rotavirose Diarreia Salmonelose Colibacilose Enterite


Causal ridiose ou virose Rotavirus Viral Salmonella Eschericia coli necrótica
Cryptos- Eimeriose Corona- Bovina Clostridium
poridium Eimeria bovis vírus (BVD) perfringens
e E. zuemii Vírus da
diarreia
viral bovina

Oral/fecal Oral/fecal Oral/fecal Oral/fecal Oral/fecal Oral/fecal Oral/fecal Oral/fecal


Transmissão Higiene de
Higiene de Higiene de Higiene de Higiene de Higiene de Higiene de Higiene
Profilaxia
instalações instalações instalações instalações instalações instalações instalações e instalações

Vacinação
Vacinação Vacinação
Vacinação Vacinação Após 2-3 Vacinação
1-3 A partir de Entre 12 e 18 h Próximo a 48 h
Após Até 3 dias da Segunda
após o de vida ou com
Ocorrência semanas 3 semanas semanas exposição, semana de
incubação nascimento; ou mudança brusca
de 36-60h de idade podendo vida
2 a 10 dias de na dieta
durar vários
vida
dias.

Desidratação, Diarreia Diarreia Fezes


falta de apetite. aguda, aquosa Diarreia aquosa Presença de
Desidratação Presença de acidose amarela, aguda, Perda de amarelo-pálida sangue nas fezes,
Sintoma e falta de sangue metabólica, desidratação, ou esverdeada, causada pela
feridas apetite e
apetite e/ou muco depressão, salivação na fraqueza acidose necrose da
nas fezes. falta de apetite, aumentada, língua metabólica, mucosa intestinal
letargia, relutância e na boca desidratação
Criação de Bezerras Leiteiras

apatia para mamar


61
62 Casa do Produtor Rural

devido a inadequada colostragem, sadios através da exposição e con-


são os principais fatores para o au- sumo de microrganismos provenien-
mento da ocorrência e severidade tes de fezes de animais doentes.
de diarreias nos rebanhos. Assim,
deve haver foco na vacinação da vaca Diagnóstico
pré-parto contra doenças que aco- O diagnóstico da diarreia pode ser
metem os bezerros, assim como na baseado em uma escala de fluidez
adequada colostragem dos animais. fecal (Tabela 2, Figura 1), além da
Além disso, a manutenção de insta- aferição da temperatura corporal e
lações e de utensílios para o aleita- apatia do animal. Este diagnóstico
mento com boa higiene garante re- auxilia na tomada de decisão para o
dução da contaminação de animais início do tratamento do animal.

Tabela 2 - Escore fecal de acordo com a fluidez


ESCORE FECAL CARACTERÍSTICAS
1 Fezes normais e firmes
2 Fezes de consistência pastosa, mas com aspecto geral saudável
3 Fezes de consistência pastosa e ligeiramente líquida
4 Fezes em grande quantidade líquida e pouca quantidade pastosa
5 Fezes totalmente líquidas

Figura 1 - Exemplo de fezes classificadas nos diferentes escores Beatrís Cortelazzi Porta

Escore Fecal 1 Escore Fecal 2 Escore Fecal 3

Escore Fecal 4 Escore Fecal 5


Criação de Bezerras Leiteiras 63
Prevenção e tratamento (Tabela 3), pela diluição de sal co-
Para a prevenção dessa disfunção mum, bicarbonato de sódio e dextro-
intestinal é recomendada a vacina- se (glicose) em água potável. O açú-
ção de vacas pré-parto, de forma que car de mesa não deve ser utilizado
seu colostro apresente anticorpos pois os bezerros não tem enzimas
específicos para microrganismos para quebrar o mesmo, aumentan-
que causam diarreias. Durante toda do ainda mais a pressão osmótica e
a fase de aleitamento, os cuidados portanto a fluidez das fezes.
com a limpeza das instalações e dos
utensílios utilizados (baldes, mama-
deiras, cochos) devem ser mantidos. Tabela 3 - Fórmula de soro caseiro
Não menos importante, é o adequa- para hidratação de be-
do manejo alimentar, principalmen- zerros
te na escolha do sucedâneo lácteo,
considerando adequadas fontes de DILUIR EM 2 L DE ÁGUA
proteína e carboidrato disponíveis. POTÁVEL
Sal Comum 10 g
No caso da ocorrência da diarreia,
Bicarbonato de sódio 8g
além do tratamento com antibióticos
ou antiinflamatórios, os desequi- Cloreto de potássio 2g

líbrios causados pela perda de água Gicose 40

e nutrientes também devem ser tra-


tados para restabelecer o metabolis- Se houver maior disponibilidade
mo e evitar a morte. de ingredientes para o soro, reco-
Quando as fezes apresentam es- menda-se o uso de uma solução
core fecal igual ou maior do que três, mais completa, que visa utilizar di-
a terapia de hidratação oral deve ser ferentes fontes de energia e também
realizada até que a consistência a correção da acidose de forma mais
seja compatível ao escore fecal dois. eficiente. Vale ressaltar que a solu-
É recomendável que a terapia seja ção eletrolítica aumenta o consumo
ainda mantida por mais dois dias voluntário de água pelo animal, de
para restabelecer o volume sanguí- forma que a oferta de água deve ser
neo e o nível de sódio no sangue, a vontade.
além de corrigir a acidose metabóli- Casos de desidratação extrema
ca. Existe uma forma simplificada de devem ser tratados com soro de for-
fazer a reidratação através de um ma endovenosa de acordo com re-
soro de fácil mistura na propriedade comendações do veterinário.
64 Casa do Produtor Rural

O principal sintoma das diarreias, 39,5oC, apatia e letargia. Esses si-


além das fezes aquosas, é a desi- nais clínicos são variáveis, mas é
dratação do animal e, conse- comum serem observados em con-
quentemente, o estado clínico da be- junto.
zerra, os quais determinam o volu- Os casos são classificados em
me de soro mínimo a ser administra- relação à severidade, desde
do (Tabela 4). subclínicos aos agudos e crônicos,
sendo que nos casos mais graves
os danos se mantêm ao longo da
Pneumonia vida. Quando a pneumonia é consi-
A pneumonia é causada por dife- derada crônica, a respiração preju-
rentes microrganismos (vírus, bacté- dicada se mantém até o final da vida,
rias e micoplasmas) e a interação da reduzindo o potencial de produção
presença desses com situações de deste animal na vida adulta.
estresse (Tabela 5) . Quando o ani- O período de ocorrência mais co-
mal é acometido pela doença, é no- mum para a pneumonia é entre 4 e
tável que apresente corrimento na- 6 semanas de vida, quando a con-
sal, tosse seca, respiração ofegan- centração de anticorpos obtidas
te, temperatura retal superior a pelo consumo de colostro se re-

Tabela 4 - Volume de soro a ser fornecido de acordo com a perda de água


dos bezerros acometidos por diarreia

PERDA DE SORO DE REIDRATAÇÃO


SINAIS CLÍNICOS
ÁGUA (%) (L/d)

2 Leve depressão, aumento na produção 1,1


4 de urina 2,2

6 Olhos fundos, pele sem elasticidade, 3,3


Leve depressão,
boca e narinas aumento em
secas. Mantém-se na pé
8 produção de urina 4,4

10 Sintomas agravados, orelhas e pernas


5,5
12 frias. Começam a deitar.

14 Choque e morte -

Fonte: Adaptado de Wattiaux, 2005.


Criação de Bezerras Leiteiras 65
duz, mas a produção de anticorpos para estabelecimento posterior da
pelo próprio animal ainda não é pneumonia.
expressiva. Este período se cons-
titui na janela de tempo de maior
propensão a ocorrência de doen- Onfalites e onfaloflebites
ças devido a esta baixa capacida- As onfalites são infecções no pró-
de de defesa contra os agentes prio cordão umbilical (extra-abdomi-
etiológicos. nal), enquanto as onfaloflebites são
Os microrganismos mais isola- infecções no umbigo e na veia um-
dos em bezerros que vieram a óbi- bilical (intra-abdominal). A cura do
to devido as pneumonias foram os umbigo é importante pois esta estru-
da Pasteurela, Parainfluenza e tura é porta de entrada para micror-
Micoplasma díspar. Em todos os ganismos e está associada a uma
casos, o tratamento é realizado série de veias e artérias que levam
através de antibióticos. a órgãos importantes como o fígado.
A doença pode ser evitada ao ga- As infecções acontecem quando a
rantir boa qualidade do ar nas ins- limpeza e cura do umbigo não são
talações, mantendo o local seco, realizadas corretamente. Um dos
arejado e livre de odores. Além dos maiores problemas observados é a
cuidados com o ambiente, é impor- realização da cura com soluções não
tante o fornecimento adequado do indicadas para este fim ou com so-
colostro para que não haja a expo- lução iodada de concentração abai-
sição a outros microrganismos, que xo da indicada, não promovendo a
gera o quadro de infecção prévia cicatrização do local. A solução de

Tabela 5 - Microrganismos causadores de pneumonia em bezerros

BACTÉRIA VÍRUS MICOPLASMA


Pasteurela multocida Parainfluenza tipo 3 (PI3) Micoplasma díspar
Pasteurela hemolytica Rinotraqueite bovina infecciosa (IBR) Micoplasma spp
Corynebacterium pyogenes Virus da diarreia bovina (BVD) Micoplasma bovirhis
Neisseria spp Adenovirus bovino Micoplasma bovis
Chlamydia spp Reovirus Ureaplasma spp
Haemophilus sommus
Adaptado de Hodgins et al., 2002
66 Casa do Produtor Rural

iodo deve estar com concentração e 41,5oC, enquanto a anaplasmose


entre 5 e 7% para efetiva cicatriza- 39,6 e 40,5oC. No caso da colora-
ção do coto umbilical. A cura do um- ção das mucosas, a babesiose faz
bigo deve ser realizada logo após o a aparência das mucosas ficarem
nascimento e depois duas vezes ao esbranquiçadas enquanto a ana-
dia, sempre com o animal em pé, até plasmose as torna amareladas. Ex-
a completa cicatrização. clusivamente nas babesioses a
hemoglobinúria (excreção de
hemoglobina na urina) pode ocor-
Tristeza parasitária bovina rer, de forma que o animal apre-
A tristeza parasitária bovina senta a urina cor de café quando
pode ser causada por diferentes infectado por B. bigemina e a urina
microrganismos, os quais se insta- avermelhada quando infectado por
lam no interior das hemácias e cau- B. bovis.
sam diferentes doenças, babesiose O tratamento da doença deve
e anaplasmose, as quais têm qua- ser feito rapidamente, através do
dros clínicos parecidos. A uso de antibióticos e, dependendo
babesiose é causada pelos do caso, associação com o forne-
Babesia bovis e Babesia bigemina cimento de soro oral para rehidra-
e apresenta como vetor o carrapa- tação do bezerro.
to Boophilus microplus. Já a
anaplasmose é causada pelo Ciclo do carrapato e prevenção
Anaplasma marginale e apresenta O carrapato é o principal vetor des-
como vetores o carrapato B. sa doença, dessa forma o ciclo de vida
microplus e insetos hematófagos. É e as formas de controle do mesmo são
possível que o animal seja importantes no seu combate. O ci-
infectado também por contato com clo tem duração entre 18 e 20 dias,
sangue contaminado através do uso sendo dividido entre a fase de vida
de material de vacinação ou medi- livre e a fase parasitária (Figura 2).
cação reutilizados. Para a prevenção da doença,
Os sintomas comuns de ambas deve-se fazer o monitoramento con-
são a febre, falta de apetite, anemia, tínuo dos animais para a detecção
e falta de coordenação. Para diferen- da presença de adultos ou larvas. O
ciar os quadros clínicos podem ser uso de carrapaticidas é recomenda-
comparados alguns sintomas. A do no caso de infestação no reba-
babesiose apresenta febre entre 40 nho, devendo seguir as especifi-
Criação de Bezerras Leiteiras 67
cações de aplicação e período residu- de animais criados em pastagens ou
al do produto disponível. As formas de em abrigos distribuídos em piquetes,
aplicação de carrapaticidas mais co- vermífugos também podem ser ad-
muns são a aplicação dorsal, inje- ministrados.
ção, pulverização e imersão. Cabe ao produtor e ao veterinário
consultado a escolha da marca e
fabricante. Assim, cada aplicação
Programas de vacinação deve respeitar as indicações de
No Brasil, existe um programa bá- dosagem e época de aplicação cor-
sico de vacinação de bovinos elabo- respondentes a cada produto. O
rado pelo Ministério da Agricultura, programa de vacinação pode ser
Pecuária e Abastecimento (MAPA). variável conforme a região e a dis-
Nesse programa são consideradas ponibilidade financeira que o pro-
obrigatórias as vacinas para preven- dutor apresenta para as vacinas
ção à pasteurela, salmonela, IBR, não consideradas como básicas
leptospirose e carbúnculo. No caso (Tabela 6).

Figura 2 - Ciclo de vida do carrapato

Carla Bittar
68 Casa do Produtor Rural

Tabela 6 - Programa de vacinação básico brasileiro

MÊS DE VIDA
0 0,5 1 2 3 4 5 6 7 8 12
Brucelose X

BVD X* X
Carbunculo X X
Clostridiose X* X

IBR X X*

Pasteurela X X X
Salmonela X X X
Leptospirose Janeiro, exceto animais vacinados IBR/BVD neste mês

Aftosa Campanhas oficiais

Raiva Campanhas oficiais

Vermifugação A cada 60 dias

* Reaplicação após 21 dias (booster)

Fonte: Carla Bittar, 2017.


Criação de Bezerras Leiteiras 69

Acompanhamento do
crescimento
A antecipação do primeiro parto zendo ganhos para o rebanho. En-
de fêmeas de reposição é extrema- tretanto, uma vez que esta fase não
mente desejável para o sistema de é lucrativa, posto que não traz re-
produção leiteiro. Para isso, o torno financeiro imediato, muitos
monitoramento do ganho de peso produtores não se atentam aos
dos animais, juntamente à nutrição aspectos de saúde, bem-estar
adequada, é essencial para que se nas instalações e práticas de
desenvolvam e alcancem peso e manejo alimentar. A falta de en-
tamanhos adequados para a entra- tendimento da fase de cria como
da na reprodução. uma fase de investimento para
Os cuidados tomados durante a melhoria no rebanho aumenta as
cria de bezerras leiteiras, assim taxas de mortalidade e reduz o
como a fase subsequente, são ex- desempenho final, gerando primí-
tremamente importantes para ob- paras mais velhas e com menor
tenção de fêmeas produtivas, tra- potencial produtivo.
70 Casa do Produtor Rural

Determinação do Tamanho Há muitas maneiras de estimar o


Corporal desenvolvimento de bezerras e no-
O êxito na criação de bezerras e vilhas, mas a pesagem individual
novilhas é determinado principal- com balança mecânica ou eletrôni-
mente pela observação do desenvol- ca é o método mais preciso (Figura
vimento do animal, com medições 1). No entanto, o alto valor no mer-
do peso e da altura. cado para obtenção de balanças
Os dados obtidos nas pesagens muitas vezes impede que pequenos
e medições podem ser comparados produtores tenham essa importante
aos de lotes anteriores ou as mé- ferramenta na propriedade. Por isso,
dias características de cada raça, outros métodos indiretos mais aces-
considerando-se a idade do ani- síveis foram desenvolvidos, de ma-
mal. O comparativo entre o ganho neira a estimar os valores próximos
de peso e a altura, com os pré-es- do real.
tabelecidos como padrão, contribui
para identificar os problemas no
aleitamento. Figura 1 - Animal sendo pesado em
Em animais mestiços, apesar da balança
dificuldade de se encontrar padrões

Carla Bittar
nos diferentes grupos, observar ou-
tros resultados se torna uma referên-
cia para o aperfeiçoamento do pró-
prio sistema.
O peso corporal do animal é o fa-
tor principal para muitas decisões
como analisar as exigências nu-
tricionais e a eficiência do manejo
alimentar, decidir o momento do Fonte: Carla Bittar, 2016.
desaleitamento e estabelecer as
quantidades precisas de medica-
mentos. Considerar esses dados Um dos métodos mais difundidos
aumenta a percepção para os be- é a utilização de fitas de pesagem,
zerros debilitados e menos produ- as quais relacionam o perímetro
tivos e, consequentemente, bene- torácico ao peso do animal leiteiro
ficia o sistema leiteiro como um (Figura 2). O animal deve ficar em
todo. pé, com a cabeça voltada para fren-
Criação de Bezerras Leiteiras 71
te e as patas próximas ao corpo. Figura 3 - Uso do hipômetro para
Assim, a fita é passada atrás das estimativa de peso
pernas dianteiras, logo atrás da

Carla Bittar
cernelha, circundando o tórax do
animal, mas não apertada.

Figura 2 - Estimativa de peso corpo-


ral através da fita de pe-
sagem
Carla Bittar

Figura 4 - Posicionamento correto da


fita de pesagem e da ré-
gua para medida da altu-
ra na cernelha

Outra ferramenta de fácil utiliza-


ção é o hipômetro, o qual relacio-
na o peso do animal com a largura
de sua garupa (Figura 3). Esta fer-
ramenta é constituída de dois bra-
ços que se abrem em volta dos
trocanteres do fêmur, medindo a
largura da garupa.
Apesar de não ser uma prática Adaptado de https://extension.psu.edu/
muito adotada, a medição da altura monitoring-dairy-heifer-growth.

de cernelha auxilia no monitora-


mento do crescimento e deve ser O escore de condição corporal
realizada com o animal em pé, com também pode ser uma ferramenta
as patas paralelas, com a cabeça para para avaliação do crescimento dos
frente e em superfície plana. A medi- animais. Essa ferramenta é útil mas
da é feita com uma régua no ponto bastante subjetiva, pois através de
mais alto da cernelha (Figura 4). visualização estima-se a quantida-
72 Casa do Produtor Rural

de de tecido adiposo do animal. In- nações (Tabela 1). Essa ficha de


felizmente não existem escalas de acompanhamento é um lembrete
referência estabelecidas para bezer- para as próximas medições e um
ras leiteiras, sendo portanto uma prá- guia para se fazer o manejo adequa-
tica pouco adotada. do e no momento correto.
A pesagem é o método mais pre- Cada informação deve ser anota-
ciso e o mais recomendado, sendo da e disponibilizada, mantendo a
interessante a criação de banco de comunicação entre os profissionais
dados, que permitirá analisar a evo- responsáveis. Vale ressaltar que o
lução dos animais do rebanho. treinamento adequado do tratador,
Cada animal terá uma ficha com de forma que fique ciente da impor-
informações básicas como nome do tância do manejo correto na criação,
pai e da mãe, data de nascimento, é essencial para que as informações
número, datas das pesagens e vaci- sejam coletadas adequadamente.

Tabela 1 - Exemplo de ficha de acompanhamento do bezerro


Fazenda
Nº do Bezerro Data de Nascimento Hora

Mãe Cura do Umbigo


Pai
Parto com ajuda Sim Não Manhã Tarde
Colostragem
1ª mamada L Qualidade Hora Manhã Tarde
2ª mamada L Qualidade Hora
Proteína Sérica (24-48h) Manhã Tarde
Peso Altura Observações Vacinas
Data Idade kg Cm
Nascimento
30 dias
60 dias
3 meses
4 meses
5 meses
6 meses
7 meses
...
Criação de Bezerras Leiteiras 73
As decisões serão tomadas de parativa deve considerar o mane-
acordo com os dados das pesagens jo nutricional empregado no siste-
contidos no banco de informações. ma de criação.
O agrupamento dos lotes de bezer-
ras e depois das novilhas, deve con- Ganho de Peso em Relação ao
siderar o peso e a altura dos animais, Manejo Alimentar
de forma a manter a homogenei- Para que a fêmea de reposição
dade, reduzindo assim problemas de chegue à puberdade e consequen-
dominância. temente ao primeiro parto em idades
A coleta de dados e a análise de adequadas, um adequado manejo
sua evolução no tempo permite ava- alimentar deve ser empregado, ga-
liar tanto a resposta as mudanças de rantindo taxas ideais de ganho de
manejo, quanto se haverá necessi- peso. Cada tipo de sistema (conven-
dade de ajustes e alterações, prin- cional, intensivo e intermediário) ofe-
cipalmente em relação ao ambiente rece um resultado diferente, com
e a alimentação. animais mais leves ou mais pesados
Através destas informações é ao final do período de aleitamento.
possível calcular o ganho de peso No entanto, a fase de aleitamento é
diário de cada animal (Figura 5), curta, se comparada a fase de cres-
podendo comparar os valores aos cimento da novilha, que deverá che-
resultados existentes na literatura. gar ao primeiro parto com aproxima-
No entanto, essa avaliação com- damente 24 meses. Assim, o mane-

Figura 5 - Cálculo do ganho de peso diário Carla Bittar


74 Casa do Produtor Rural

jo alimentar após o desaleitamento 60 dias. Para que isso ocorra, são ne-
é também de extrema importância cessários maiores volumes de forne-
para o sistema de criação. cimento de dieta líquida.
Uma curva de crescimento, facil- Apesar do manejo nutricional ser
mente conseguida nos sistemas de um dos pontos cruciais para o de-
produção brasileiros destaca três senvolvimento das bezerras, outro
fases de crescimento principais. fator que afeta fortemente o cresci-
Uma primeira fase, onde se encon- mento são questões relacionadas
tra o período de aleitamento, com ani- aos desafios do ambiente e do ma-
mais ganhando em média 500g/dia nejo sanitário inadequado. Por isso,
até aproximadamente o terceiro mês. deve-se prestar atenção as mudan-
A segunda fase, chamada de fase ças ambientais e nutricionais, para
pré-púbere (antes da puberdade até que possíveis ajustes sejam feitos
sua prenhez por volta de 15 meses), antes que a média de ganho de peso
quando os animais devem ganhar em se reduza e a fase de aleitamento se
torno de 700g/dia. E a última fase, a torne ainda mais onerosa.
partir dos 15 meses até o primeiro par- É importante lembrar que as taxas
to, quando devem apresentar ganhos de ganho de peso na fase pré-
de 830g/dia, de forma a apresentarem púbere não devem ser maiores que
em torno de 550-570 kg ao primeiro 700-800g/d, para que não haja pre-
parto. Esse tipo de ganho diário pode juízos ao desenvolvimento da glân-
ser atingido nos sistemas brasileiros, dula mamária, reduzindo o potenci-
desde que se considerem as necessi- al de produção deste animal quan-
dades nutricionais e o manejo ade- do entrar em lactação.
quado dos animais. Ajustes na dieta, como por exem-
Muitos produtores têm esperado plo, o aumento do teor de proteína
que os bezerros dobrem seu peso ao em relação à energia, pode reduzir
nascer durante o período de aleita- este problema, permitindo maiores
mento. Para se alcançar esta meta é taxas de ganho de peso. Entretanto,
necessário um sistema de aleitamen- esta decisão nem sempre é econo-
to que forneça maior quantidade de micamente viável. Quando o animal
nutrientes, permitindo altas taxas de atinge a maturidade, as taxas de
crescimento. No entanto, o sistema ganho de peso podem ser aumenta-
convencional (4L/dia) não resulta em das, desde que o animal não atinja
taxas de ganho que permitam que o escore de condição corporal acima de
bezerro dobre seu peso no período de 3,5-3,75 (escala de 1 a 5) ao parto.
Criação de Bezerras Leiteiras 75
As fêmeas de reposição deverão apresentar ganho de peso de apro-
estar prontas para parição aos 24 ximadamente 700g/d desde o nas-
meses de idade, com peso médio de cimento até o parto. No entanto, es-
550 kg, altura de cernelha de 140 cm tes valores são dependentes da raça
e condição corporal entre 3,25 e 3,5 ou porte do animal, sendo apresen-
(escala de 1 a 5). Para que cheguem tadas recomendações que conside-
ao parto com o peso ideal, devem ram estes fatores (Tabela 2).

Figura 6 - Taxas de ganho de peso para as diferentes fases específicas de


crescimento de animais de reposição

Carla Bittar
Tabela 2 - Sugestões de peso de acordo com a idade de fêmeas de reposi-
ção em diferentes raças

RAÇAS IDADE PESO (kg)


Nascimento 40
2 meses 68
Grandes 6 meses 146
15 meses - Inseminação/ Monta Natural 350
24 meses - Parição 550
Nascimento 25
2 meses 41
Pequenas 6 meses 104
13 meses - Inseminação/ Monta Natural 250
22 meses - Parição 360
Nascimento 30
2 meses 55
Mestiças Holandês- Zebu 6 meses 120
24 meses- Inseminação/ Monta natural 330
33 meses - Parição 420
Fonte: Adaptado de Carla Bittar, 2005
76 Casa do Produtor Rural

Bibliografia Consultada
ANDERSEN, K.J. et al. The factors CAMPOS, O. F. ET al. Sistemas de aleita-
associated with dystocia in cattle. Mel- mento natural controlado ou artificial. II
bourne: Veterinary Medicine, 1993. Efeitos na performance de bezerros mes-
p. 764-766. tiços HZ. Piracicaba: Revista Brasileira de
Zootecnia, 1993. p. 413-422.
ANDERSON, K.L.; NAGARAJA, T.G.;
MORRIL, J.L. Ruminal metabolic DEELEN, S. M. et al. Evaluation of a Brix
development in calves weaned refractometer to estimate serum
conventionally or early. Champaign: immunoglobulin G concentration in
Journal of Dairy Science, 1987. neonatal dairy calves. Champaign: Journal
p. 1000-1005. of Dairy Science, 2014. p. 3838-3844.

APGAR, V. A proposal for a new method FERREIRA, L.S. et al. Desempenho e


of evaluation of the new infant. New York: parâmetros sanguíneos de bezerros lei-
Current Researches in Anesthesia and teiros que receberam sucedâneo lácteo
Analgesia, 1953. p. 260-267. ou silagem de colostro. Minas Gerais: Ar-
quivo Brasileiro de Medicina Veterinária e
AZEVEDO, R.A. et al. Desempenho de be- Zootecnia, 2013a. p. 1357-1366.
zerros alimentados com silagem de leite
de transição. Brasília: Pesquisa GARTHWAITE, B.D. et al. Whole milk and
Agropecuária Brasileira, 2013. p. 545-552. oral rehydration solution for calves with
diarrhea of spontaneous origin.
BAILEY, T.; MURPHY, J.M. Monitoring Champaign: Journal Dairy Science,
dairy heifer growth. Dairy Science, Virginia Champaign, 1994. p. 835-843.
Cooperative Extension, publication 404-286,
1999. GODDEN, S.M. et al. Improving passive
transfer of immunoglobulins in calves. II:
BITTAR, C.M.M. et al. Performance and Interaction between feeding method and
ruminal development of dairy calves fed volume of colostrum fed Champaign:
starter concentrate with different physical Journal of Dairy Science, 2008.
forms. Minas Gerais: Revista Brasileira De p. 1758-1764.
Zootecnia, 2009. p. 1561-1567.
HEINRICHS, A.J.; G.W ROGERS; J.B.
Bovine Alliance on Management and COOPER. Predicting body weight and
Nutrition (BAMN). A guide to calf milk wither height in Holstein heifers using
replacers: types, use, and quality. 2014. body measurements. Champaign: Journal
Disponível em: <http://www.afia.org/Afia/ of Dairy Science, 1992. p. 3576-81.
EducationMaterials/NoChargeDocs.aspx>.
Acesso em: 20 agosto 2017.
Criação de Bezerras Leiteiras 77
HEINRICHS, A.J.; HARGROVE, G.L. MILLEMANN, Y. Diagnosis of neonatal calf
Standards of weight and height for diarrhea. Revue Méd. Vét., 2009, 160, 8-9,
holstein heifers. Champaign: Journal Dairy p. 404-409.
Science, 1987. p. 653-660.
National animal health monitoring system
HODGINS, D.C.; CONLON, J.A.; (NAHMS) Dairy 2002, Part I: Reference of
SHEWEN, P.E. Respiratory Viruses and Dairy Health and Management in the United
Bacteria in Cattle. In: Polymicrobial States.USDA, Washington, DC. 2003.
Diseases. Brogden KA, Guthmiller JM,
editors. Washington (DC): ASM Press. 2002. National animal health monitoring system
(NAHMS) Dairy 2007, Part I: Reference of
HOFFMAN, P.C.; FUNK, D.A. Applied dairy cattle health and management
dynamics of dairy replacement growth practices in the United States. USDA,
and management. Champaign: Journal of Washington, DC. 2007.
Dairy Science, 1992. p. 2504-2516.
National Animal Health Monitoring System
KEHOE, S.; HEINRICHS, J. Electrolytes (NAHMS). Dairy herd management
for dairy calves. Department of Dairy and practices focusing on pre-weaned heifers.
Animal Science, The Pennsylvania State Fort Collins: USDA, Animal and Plant Health
University, 2005. Inspection Service, Veterinary Services,
1993. 36 p.
KHAN, M.A. et al. Invited review:
Transitioning from milk to solid feed in National Animal Health Monitoring System
dairy heifers. Champaign: Journal of Dairy (NAHMS). Dairy herd management
Science, 2016. p. 885-902. practices focusing on preweaned heifers.
Fort Collins: USDA, Animal and Plant Health
LARSON, L.L. et al. Guidelines toward Inspection Service, Veterinary Services,
more uniformity in measuring and reporting 1996. 1007 p.
calf experimental data. Champaign: Journal
of Dairy Science, 1977. p. 989-991. National Research Council (NRC).
Nutrients requirements of dairy cattle. 7th
LIZIERE, R.S.; CAMPOS, O.F. Soro de ed. Washington: National Academy of
leite in natura na alimentação de gado de Sciences, 2001. 408 p.
leite. Instrução técnica para o produtor
de leite. Embrapa, 2001. QUIGLEY, J. D. et al. Evaluation of the Brix
refractometer to estimate immuno-
MAYNOU, G. et al. Effect of feeding calves globulin G concentration in bovine
waste milk on antibiotic resistance patterns colostrum. Champaign: Journal of Dairy
of fecal Escherichia coli. Champaign: Science, 2013. p. 1148-1155.
Journal of Dairy Science, 2015. Suppl. 2.
QUIGLEY, J.D. et al. Passive immunity in
MCFARLAND, D.F. Housing calves: birth newborn calves. In: Calf and heifer
to weaning. In Calves, Heifers and Dairy rearing. Principles of rearing the modern
Profitability: facilities, Nutrition and Health, dairy heifer from calf to calving. UK:
Publication No. 74, 114-125. Ithaca, NY: Nottingham University Press, 2005.
Northeast Regional Agriculture Engineering p. 135-157.
Service.
78 Casa do Produtor Rural

SANTOS, G., BITTAR, C.M.B. 2015. A VANDEHAAR, M.J. Dietary protein and
survey of dairy calf management practices mammary development of heifers:
in some producing regions in Brazil. Brazilian analysis from literature data. Champaign:
Journal of Animal Science 44, 443-453. Journal of Dairy Science, 1997. p. 216.

SCHUETZ, K.E., HAWKE, M., WAAS, VASSEUR, E., BORDERAS, F., CUE, R.I.,
J.R., MCLEAY, L.M., BOKKERS, E.A.M., LEFEBVRE, D., PELLERIN, D., RUSHEN,
VAN REENEN, C.G., WEBSTER, J.R., J., WADE, K.M., DE PASSILLE, A.M., 2010.
STEWART, M., 2012. Effects of human A survey of dairy calf management practices
handling during early rearing on the behaviour in Canada that affect animal welfare. Journal
of dairy calves. Animal Welfare 21, 19-26. of Dairy Science 93, 1307-1315.

SEJRSEN, K.; PURUP, S. Influence of VERMOREL, M. et al. Energy metabolism,


prepubertal feeding level on milk yield thermo-regulation in the newborn calf;
potential of dairy heifers: A review. variations during the first day of life,
Champaing: Journal of Animal Science, differences between breeds. Ottawa:
1997. p. 828-835 Canadian Journal of Animal Science, 1989.
p. 103-111.
SHAUMANN - Erfolg im Stall, Dairy cattle,
2015. Disponível em: <https:// VIEIRA, A.D.P., DE PASSILLE, A.M.,
www.schaumann.info/SID-F8B372BA- WEARY, D.M., 2012. Effects of the early
EF668C84/dairy_cows.html>. Acesso em: social environment on behavioral responses
10 maio 2018. of dairy calves to novel events. Journal of
Dairy Science 95, 5149-5155.
TANAN, K.G. Nutrient source for liquid
feeding of calves. In: Garnsworthy, P.C. WATTIAUX, M. A. Heifer raising - birth to
Calf and heifer rearing. Thrumpton: weaning. Neonatal diarrhea. Wisconsin:
Nottingham University Press, 2007. Babcock Institute for International Dairy
p. 83-112. Research and Development, 2005.
p. 270-318.
VAN AMBURGH, M.E.; GALTON, D.M.
Accelerated growth of Holstein heifers:
effects on lactation. England: Proceedings
of the Cornell Nutrition Conference for Feed
Manufacturers, 1994.

Você também pode gostar