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Criação de Bezerras Leiteiras
Criação de Bezerras Leiteiras
Criação de
Bezerras Leiteiras
Carla Maris Machado Bittar
Rafaela Nunes Sanchez Portal
Anna Carolina Fett da Cunha Pereira
ESALQ/USP
1a Edição, 2018
Piracicaba, SP
Casa do Produtor Rural
Av. Pádua Dias, 11 - Cx. Postal 9 • Bairro Agronomia • Piracicaba, SP
CEP 13418-900 • Fone (19) 3429-4178/3429-4200 • cprural@usp.br
1
Professora Associada - Departamento de Zootecnia - ESALQ/USP
2
Aluna de Graduação em Engenharia Agronômica - ESALQ/USP
Criação de
Bezerras Leiteiras
Piracicaba
2018
Agradecimentos
• Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária
• Diretoria da ESALQ/USP
• Comissão de Cultura e Extensão Universitária - CCEx
• Serviço de Cultura e Extensão Universitária - SVCEx
• Casa do Produtor Rural
• Departamento de Zootecnia
• Aos funcionários do Departamento de Zootecnia
• À FAPESP e ao CNPq, pelos auxílios e bolsas de estudo que subsidiaram a
estrutura de pesquisa
Apoio
• 2º Edital SANTANDER/USP/FUSP de Fomento às Iniciativas de Cul-
tura e Extensão - Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária
• Programa Unificado de Bolsas de Estudos para Apoio e Formação de
Estudantes de Graduação (PUB-USP)
• Comissão de Cultura e Extensão Universitária - CCEx
• Serviço de Cultura e Extensão Universitária - SVCEx
Índice
Cuidados com a vaca gestante 07
Conforto 08
• Manejo de agrupamento pré-parto 08
• Área de maternidade 10
Características do período pré-parto 10
Monitoramento da condição corporal 12
Vacinação 12
Manejo alimentar 33
Sistemas de aleitamento 34
• Sistema de aleitamento natural 34
• Sistema de aleitamento artificial 34
• Temperatura da dieta líquida 37
• Frequência de aleitamento 37
Dieta líquida 38
• Fontes de dieta líquida 38
• Características de sucedâneos 41
• Volume de fornecimento 43
• Fornecimento de água 45
Dieta sólida 45
• Importância do consumo de sólidos para
o desenvolvimento ruminal 45
• Composição da dieta sólida 47
• Fornecimento da dieta sólida 48
Desaleitamento 49
• Métodos de desaleitamento 50
Acompanhamento do crescimento 69
Determinação do tamanho corporal 70
Ganho de peso em relação ao manejo alimentar 73
Bibliografia Consultada 76
Criação de Bezerras Leiteiras 07
Adaptado de https://extension.psu.edu/monitoring-dairy-heifer-growth.
12 Casa do Produtor Rural
Carla Bittar
A B
Criação de Bezerras Leiteiras 17
podem passar por inúmeros proble- Vitalidade de bezerros
mas fisiológicos, sendo os mais co- recém-nascidos
muns são baixa oxigenação Muitas universidades buscam a
(hipóxia) e acidose sanguínea, pro- criação de novas tabelas padrão
vocados pela inabilidade de respi- ou de parâmetros que auxiliem os
ração espontânea. Ambos podem le- produtores a avaliar as condições
var à morte do animal ou diminuir sua de saúde do rebanho bovino. Atual-
qualidade de vida e, conse- mente, a mais utilizada é a da Uni-
quentemente, seu desempenho pro- versidade de Guelph, Canadá (Ta-
dutivo. bela 1). Essa tabela avalia a apa-
Animais que sofrem esses distúr- rência do animal e está associada
bios são, geralmente, menos resis- ao tipo de parto do recém-nascido,
tentes e se mantém letárgicos, não aferindo notas para os diferentes
mamando com vigor. Com menor parâmetros avaliados. Quanto
ingestão de colostro, esses animais maior a soma dos pontos, pior as
terão baixa absorção de anticorpos condições de saúde do bezerro,
e dificuldade de controle da tempe- logo; partos distócicos costumam
ratura corporal interna. apresentar notas mais elevadas.
Movimentos do 0 a 30 min para se levantar, De 30min a 1h para se De 1,5h a 3h: decúbito >3h: de lado, sem esforço
bezerro caminhar (0) levantar (1) external (2) para se levantar (3)
RESPOSTAS GERAIS
Resposta ao Balança a Desvia a cabeça (1) Contrai ou recua (2) Sem resposta (3)
estímulo da cabeça com
cavidade nasal força (0)
Resposta ao Tira a língua Demora para tirar Contrai a língua (2) Sem resposta (3)
beliscar a língua rápido (0) a língua (1)
Resposta ao tocar Pisca e fecha Demora para piscar (1) Sem resposta (2)
globo ocular cílios rapidamente (0)
OXIGENAÇÃO
Coloração da Rosa vivo (0) Rosa claro (1)
Vermelho/bordô (2) Branco/azul (3)
mucosa >32mm (1)
Comprimento da <50mm (2) 50-61mm (0)
língua *
FREQUÊNCIAS
Frequência <60 bpm (2) 60-100 bpm (0)
cardíaca** >100 bpm (1)
Frequência Lenta (24 rpm) (1) Normal (24-36 rpm) (0) Rápida (>36 rpm) (2)
respiratória
* Comprimento da língua: medir a partir do lábio. Realizar essa medida apenas com 5 minutos do parto. ** Frequência cardíaca: auscultar o coração
pelo peito do bezerro. Contar por 30 segundos e multiplicar por 2. Fonte: Adaptado de Universidade de Guelph.
Criação de Bezerras Leiteiras 19
Colostragem sendo que a concentração de imu-
A placenta dos bovinos, do tipo noglobulinas é um parâmetro da
sindesmocorial, não permite a trans- qualidade. Vacas multíparas, as
ferência de imunoglobulinas ou quais tiveram maior exposição a pató-
anticorpos (IgG) da mãe ao bezerro. genos do ambiente, apresentam co-
Dessa forma, ao nascerem, os be- lostro com maior variedade e quan-
zerros não possuem anticorpos e tidade de anticorpos em relação ao
seu sistema imunológico ainda é colostro de vacas primíparas. Man-
imaturo. Por esse motivo, é neces- ter o animal bem nutrido e devida-
sário o consumo de colostro, o mais mente imunizado (vacinado) no pré-
rápido possível, após o nascimento parto ajuda a garantir a produção de
para a transferência de imunidade colostro de melhor qualidade.
passiva. Isso ocorre através da
ingestão do colostro pelo bezerro e Fatores necessários para o sucesso
consequente absorção de anticorpos. da colostragem
O consumo do colostro, logo após
Colostro o nascimento, é uma técnica consa-
O colostro é o primeiro leite pro- grada e considerada essencial para
duzido pela mãe, é rico em imuno- garantir redução da mortalidade e
globulinas (IgG) e contém elevado morbidade e, portanto, a qualidade
teor de gorduras, minerais e vitami- de vida ao bezerro. Para que o ani-
nas. A ingestão garante ao bezer- mal tenha a transferência de imuni-
ro a proteção, permitindo que o dade passiva adequada, é importan-
mesmo tenha anticorpos para en- te se atentar a três parâmetros es-
frentar patógenos, até que seu sis- senciais: o tempo até o fornecimen-
tema imune se torne maduro. to do colostro, o volume e a qualida-
Esse primeiro leite apresenta de do colostro fornecido. Qualquer
maiores níveis de imunoglobulinas descuido poderá resultar em falhas
do que os das ordenhas posterio- na transferência de imunidade pas-
res. Além de atuar na transferência siva e, consequentemente na saúde
de imunidade passiva, o colostro e desempenho do bezerro.
participa ativamente na nutrição e
maturação do sistema gas- Tempo até o fornecimento: a ab-
trointestinal dos recém-nascidos. sorção de imunoglobulinas (Ig) ou
O colostro possui diferentes carac- anticorpos do colostro depende do
terísticas de uma vaca para outra, tempo entre o nascimento do bezer-
20 Casa do Produtor Rural
Carla Bittar
Carla Bittar
A
24 Casa do Produtor Rural
Carla Bittar
sonda está na via correta pode-se
verificar a ausência de som da res-
piração pelo orifício da sonda, ou
usar um estetoscópio. É importante
colocar um pouco do colostro na son-
da antes de inserir todo o conteúdo;
se o liquido não descer completa-
mente, o bezerro tossir ou uma par-
te voltar é provável que o tubo este-
ja no local errado. O processo deve
ser cuidadoso e rápido para não cau-
sar estresse ao animal.
Pela sonda, o líquido passa pelo
esôfago e é direcionado diretamen-
te ao rúmen. Uma vez que o rúmen
não é funcional no recém-nascido, e
Criação de Bezerras Leiteiras 25
Banco de Colostro quatro dias. No entanto, a melhor
A disponibilidade de colostro nas forma de armazenamento é em
fazendas é um problema frequen- freezer, por no máximo um ano,
te, pois nem todos os animais pro- para não haver diminuição da qua-
duzem volumes suficientes, espe- lidade. Para o congelamento de-
cialmente as primíparas, que além vem ser feitas porções de um a
disso, normalmente produzem dois litros em embalagem que fa-
colostro de menor qualidade. A con- cilite o descongelamento.
servação do excedente na forma de É comum o uso de garrafas pet,
um banco de colostro é uma reali- entretanto, o mais indicado é o
dade necessária e traz maior segu- congelamento em sacos plásti-
rança à produção de bezerros. cos resistentes na forma de pla-
Independentemente do destino cas, pois assim o descongela-
do colostro recém-ordenhado, for- mento será mais rápido e unifor-
necimento ao bezerro ou arma- me (Figura 8). Antes do armaze-
zenamento, os cuidados com a hi- namento, todos os utensílios de-
giene na ordenha e a avaliação da vem estar limpos. O colostro deve
qualidade devem ser realizados ter sua qualidade avaliada e a
(Figura 7). embalagem deve identificar o
O conteúdo armazenado pode colostro com a data de coleta e a
ser mantido em geladeira por até qualidade.
Carla Bittar
Beatrís Cortelazzi Porta
A B
Alojamentos do recém-nascido
Após o nascimento do bezerro
suas funções corporais básicas
como respiração, regulação do pH
Pesagem sanguíneo, temperatura corporal en-
A pesagem do animal deve ser tre outras, que antes eram reguladas
realizada periodicamente desde o pelo metabolismo da mãe, passam
nascimento até o desaleitamento. a ser reguladas unicamente pelo seu
A pesagem fornece valores impor- próprio metabolismo.
tantes que servem como base para Por terem pouca massa corporal e
muitas decisões do manejo dos gordura subcutânea, os bezerros re-
bezerros. O peso do animal deter- cém-nascidos perdem calor por irra-
32 Casa do Produtor Rural
Carla Bittar
rom. Após a colostragem, e o
consequente consumo de gordura,
esse sistema acelera a produção de
maior quantidade de calor, manten-
do a temperatura estável.
Bezerros de partos distócicos ou
que não receberam colostragem
adequada tem maior dificuldade de
controlar sua temperatura corporal,
portanto, é necessário fornecer au-
Criação de Bezerras Leiteiras 33
Manejo Alimentar
O sistema de alimentação tem A qualidade e a quantidade
grande impacto nas variações de fornecida da dieta líquida é um dos
desempenho dos animais. Desde o pontos principais no processo de
início da vida do animal deve ser criação. O volume e o valor nutri-
priorizado o máximo desempenho, cional, quando adequadamente
pois o sucesso da fase inicial, cha- ofertados, promovem mudanças sig-
mada também de período de aleita- nificativas no desenvolvimento dos
mento, resulta em maiores pesos ao animais. Além de aumentar o cres-
desaleitamento e produção de leite cimento dos animais (ganho de peso
futuro. e altura), favorecem o sistema imu-
Destaca-se que a venda do leite nológico e diminuem a frequência de
produzido é a principal fonte de ren- doenças comuns como a diarreia e
da, assim sendo, é interesse que o a pneumonia.
desenvolvimento da bezerra recém- Nas primeiras semanas de vida,
nascida até a maturidade repro- o organismo do animal não é total-
dutiva seja rápido. Durante o siste- mente adaptado à utilização de ali-
ma de aleitamento podem ser obser- mentos em forma sólida, tornando a
vados ganhos desde 350 g/d no sis- formulação da dieta líquida essen-
tema de aleitamento convencional, cial para garantia de ganho de peso
até 900 a 1.000 g/d no sistema de adequado. Por outro lado, o forne-
aleitamento intensivo. cimento de alimentos sólidos é es-
34 Casa do Produtor Rural
Divulgação
no qual o bezerro é mantido com a
mãe; e o artificial, em que o animal
é separado da mãe após o nasci-
mento e é fornecida dieta liquida.
Marcela Matavelli
36 Casa do Produtor Rural
Frequência de aleitamento
O fornecimento de toda a dieta lí-
quida, uma vez ao dia, exige maio-
Adaptado: Heinrichs (2003). Feeding the res cuidados no manejo, pois impli-
Newborn Dairy Calf, Pennsylvania, State
University ca em maior suscetibilidade a pro-
38 Casa do Produtor Rural
INTENSIVO
CONVENCIONAL
INTENSIVO À VONTADE PROGRAMADO
Objetivo
Estimular consumo Maior ganho de peso Maior ganho de peso, Maior ganho de peso
de dieta sólida, e aumento no poten- reproduzindo hábito no período intermediá-
permitindo desalei- cial de produção de natural de mamada e rio e estimular consumo
tamento precoce leite futuro aumento no potencial de dieta sólida no perío-
de produção de leite fu- do anterior ao desalei-
turo tamento. Aumento no
potencial de produção
de leite futuro.
% do peso ao nascer (PN)
Marcela Matavelli
nas de vida, sendo estes reduzidos
gradativamente de forma a estimu-
lar o consumo de concentrado pelo
animal. Assim, este sistema permite
o desaleitamento sem prejuízos ao
desempenho animal. Os sistemas de
aleitamento intensivo tem duração
variada, sendo adotados períodos
entre 60 e 90 dias pela maior parte
dos produtores. Dieta sólida
Fornecimento de água Importância do consumo de sólidos
para desenvolvimento ruminal
A água à vontade, desde os primei- A fase de aleitamento é bastante
ros dias de vida, é de extrema impor- onerosa devido ao custo da dieta lí-
tância para elevar o consumo de con- quida. Por outro lado, é uma fase em
centrado e a recuperação dos casos que os animais apresentam grande
de diarreia. O aleitamento não exclui eficiência, apresentando altas taxas
a exigência de água, pois a água de crescimento quando bem alimen-
segue para o rúmen, enquanto a tados, principalmente com maiores
dieta líquida segue para o volumes de dieta líquida. É uma fase
abomaso. Devido ao seu papel, de grandes transformações na ana-
como estimulador de consumo de tomia e fisiologia do bezerro, em res-
concentrado, a água também afeta posta ao desenvolvimento ruminal.
o desenvolvimento ruminal. A água Quando o rúmen não está adequa-
deve estar disponível para o animal damente desenvolvido, o desaleita-
sempre limpa e fresca. Entretanto, é mento acarretará em perda de peso.
interessante retirar a água no mo- No início da vida do bezerro a ali-
mento do fornecimento de dieta líqui- mentação é majoritariamente líqui-
da, pois alguns bezerros bebem da, sendo a digestão relacionada
água em demasia em resposta ao fortemente à ação do abomaso, que
estímulo da mamada (Figura 7). é o estômago verdadeiro. O desen-
46 Casa do Produtor Rural
Adaptado: Heinrichs (2003). Feeding the Newborn Dairy Calf, Pennsylvania, State University
Criação de Bezerras Leiteiras 47
de concentrado e criando ambien- Composição da dieta sólida
te úmido necessário para que a fer- O fornecimento de concentrado
mentação ocorra. durante a fase de aleitamento é re-
Nos primeiros dias de vida o ani- comendado devido ao seu efeito
mal não realiza ruminação, entre- positivo no desenvolvimento do
tanto, este hábito pode ser desen- rúmen. O oposto ocorre com os vo-
volvido em animais bem jovens lumosos, que tem menores teores de
quando estes tem acesso a alimen- proteína e energia em sua composi-
tos sólidos. ção, e tem perfil de fermentação que
O desenvolvimento ruminal com- não resulta em grande produção dos
preende o desenvolvimento muscu- ácidos butírico e propiônico. Apesar
lar, assim como o aparecimento e disso, o volumoso ajuda na regula-
multiplicação de papilas na parede ção do pH ruminal, pois a fibra tem
interna. Essas vilosidades na pare- perfil de fermentação diferente, além
de ruminal aumentam a superfície de estimular a ruminação.
de absorção de produtos da fermen- Nas primeiras semanas de idade
tação, como os AGCC. Dentre os o consumo voluntário de feno é in-
AGCC gerados, os ácidos butírico e significante, e devido ao seu peque-
propiônico ajudam a aumentar ain- no efeito no desenvolvimento
da mais o número de papilas e o ta- ruminal, sugere-se que seja forneci-
manho das existentes. Estes ácidos do somente após o desaleitamento.
são produzidos principalmente Na maioria das vezes o volumoso
quando há consumo de alimentos fornecido possui baixa qualidade,
concentrados, os quais têm altas o que afeta negativamente o de-
quantidades de proteína e sempenho dos animais. No entan-
carboidrato. Assim, para que o to, embora não seja recomendado
rúmen se desenvolva rapidamente o fornecimento de volumosos, é
devem ser fornecidas quantidades importante que o concentrado te-
adequadas de concentrado desde nha adequado teor de fibra, sendo
os primeiros dias de vida. Por isso, interessante a inclusão de fibra de
dentre todos os fatores que afetam alta digestibilidade como, por
o desenvolvimento ruminal, o mais exemplo, a casquinha de soja ou
importante é a disponibilidade e a a polpa cítrica. Por outro lado, o pró-
composição dos substratos, sendo prio feno picado pode ser incluído,
os responsáveis para que os demais mas em concentração de aproxima-
funcionem eficientemente. damente 5%.
48 Casa do Produtor Rural
mento, isso significa que precisa- seja, com o rúmen pelo menos par-
rá ganhar 670g/dia, que pode ser cialmente desenvolvido para
alcançado com o consumo de metabolizar os produtos finais da
6L/d de dieta líquida. fermentação. Caso isso não ocorra,
Se o animal estiver em aleita- haverá perda de peso na fase
mento convencional, o mesmo subsequente, pois o animal não es-
não conseguirá dobrar de peso tará apto para manter suas taxas de
no tempo esperado, permanecen- crescimento.
do mais tempo em aleitamento, o O desaleitamento pode ser abrup-
que aumenta o custo com dieta to ou gradual. Alguns preferem a for-
líquida e com mão de obra. Se o ma abrupta por facilitar o trabalho
objetivo for elevar em 2,5 vezes que geralmente é escasso, principal-
o peso inicial, então será neces- mente em grandes rebanhos. O pro-
sário receber um sistema intensi- cesso abrupto pode resultar em au-
vo (8L/d). mento da ingestão de concentrado
pelos animais, desde que este já
Métodos de desaleitamento esteja em patamares adequados. No
O desaleitamento é extrema- entanto, esse método não proporcio-
mente estressante para o bezerro, na bem estar ao animal, aumentan-
pois implica em mudanças que afe- do sua atividade e vocalização por
tam se metabolismo, além de seu dias. Por isso, o método de desa-
comportamento. Nesse momento, leitamento gradual é o mais reco-
o animal passa a se alimentar da mendado. Quando o consumo do
dieta sólida como sendo única fon- concentrado estiver nas taxas apro-
te de nutrientes para seu desenvol- priadas em relação ao peso do ani-
vimento. mal, por três dias consecutivos,
Com o corte da dieta líquida é re- pode-se começar o desaleitamento,
duzida a quantidade de matéria com redução gradual do volume da
seca total e a digestão e a fermenta- dieta em cada refeição. Dessa for-
ção se adaptam para características ma, o impacto sobre o bem estar do
de um ruminante adulto. O animal animal é menor, assim como possí-
precisa estar preparado, do ponto de veis prejuízos ao desempenho e sua
vista anatômico e fisiológico, ou saúde.
Criação de Bezerras Leiteiras 51
Carla Bittar
Uma das formas de controlar o vo-
lume consumido por animal é a ado-
ção do sistema de canzil, que per-
mite a individualização no momento
do aleitamento. Além do controle in-
Na criação coletiva um dos pro- dividual de consumo, auxilia na re-
blemas é a forma de fornecer dieta dução das mamadas cruzadas, uma
líquida. O fornecimento em vez que o animal pode permanecer
contêiner é uma das opções, pois individualizado até que perca o estí-
garante a alimentação simultânea mulo da mamada.
dos animais do lote (Figura 5). No Outra forma de realizar o controle
entanto, não permite o controle do do volume consumido é através da
consumo individual. Quando utili- adoção do aleitador automático.
58 Casa do Produtor Rural
Manejo Sanitário
O sucesso na criação de bezerras ma a reduzir a ocorrência destas
não depende apenas de fatores ge- doenças. Além de práticas de ma-
néticos ou da nutrição. As práticas nejo para redução dessas princi-
de manejo sanitário também são pais doenças, deve ser adotado o
essenciais para o desempenho ani- programa básico de vacinação de
mal, durante a fase de aleitamento, animais em crescimento. Em adi-
quando ocorre o estabelecimento do ção às vacinas exigidas por lei,
sistema imunológico. Se estas prá- outras podem ser aplicadas de
ticas não são realizadas, as taxas de acordo com a região da proprieda-
mortalidade e também de morbidade de e a ocorrência de determinadas
(% de bezerros doentes) são eleva- doenças no rebanho.
das, trazendo grandes prejuízos ao
produtor. Diarreia
As principais doenças que acome- Nos primeiros 60 dias de vida do
tem bezerros em aleitamento são animal a vulnerabilidade às infec-
as diarreias, os problemas respira- ções intestinais é elevada, devido
tórios, infecções umbilicais e a tris- aos desafios do ambiente e o ain-
teza parasitária bovina. As práticas da imaturo sistema imune do be-
de manejo sanitário devem consi- zerro. Esta vulnerabilidade é ain-
derar estratégias para redução da da maior quando o animal não foi
contaminação das bezerras, de for- adequadamente colostrado. A
60 Casa do Produtor Rural
Vacinação
Vacinação Vacinação
Vacinação Vacinação Após 2-3 Vacinação
1-3 A partir de Entre 12 e 18 h Próximo a 48 h
Após Até 3 dias da Segunda
após o de vida ou com
Ocorrência semanas 3 semanas semanas exposição, semana de
incubação nascimento; ou mudança brusca
de 36-60h de idade podendo vida
2 a 10 dias de na dieta
durar vários
vida
dias.
Figura 1 - Exemplo de fezes classificadas nos diferentes escores Beatrís Cortelazzi Porta
14 Choque e morte -
Carla Bittar
68 Casa do Produtor Rural
MÊS DE VIDA
0 0,5 1 2 3 4 5 6 7 8 12
Brucelose X
BVD X* X
Carbunculo X X
Clostridiose X* X
IBR X X*
Pasteurela X X X
Salmonela X X X
Leptospirose Janeiro, exceto animais vacinados IBR/BVD neste mês
Acompanhamento do
crescimento
A antecipação do primeiro parto zendo ganhos para o rebanho. En-
de fêmeas de reposição é extrema- tretanto, uma vez que esta fase não
mente desejável para o sistema de é lucrativa, posto que não traz re-
produção leiteiro. Para isso, o torno financeiro imediato, muitos
monitoramento do ganho de peso produtores não se atentam aos
dos animais, juntamente à nutrição aspectos de saúde, bem-estar
adequada, é essencial para que se nas instalações e práticas de
desenvolvam e alcancem peso e manejo alimentar. A falta de en-
tamanhos adequados para a entra- tendimento da fase de cria como
da na reprodução. uma fase de investimento para
Os cuidados tomados durante a melhoria no rebanho aumenta as
cria de bezerras leiteiras, assim taxas de mortalidade e reduz o
como a fase subsequente, são ex- desempenho final, gerando primí-
tremamente importantes para ob- paras mais velhas e com menor
tenção de fêmeas produtivas, tra- potencial produtivo.
70 Casa do Produtor Rural
Carla Bittar
nos diferentes grupos, observar ou-
tros resultados se torna uma referên-
cia para o aperfeiçoamento do pró-
prio sistema.
O peso corporal do animal é o fa-
tor principal para muitas decisões
como analisar as exigências nu-
tricionais e a eficiência do manejo
alimentar, decidir o momento do Fonte: Carla Bittar, 2016.
desaleitamento e estabelecer as
quantidades precisas de medica-
mentos. Considerar esses dados Um dos métodos mais difundidos
aumenta a percepção para os be- é a utilização de fitas de pesagem,
zerros debilitados e menos produ- as quais relacionam o perímetro
tivos e, consequentemente, bene- torácico ao peso do animal leiteiro
ficia o sistema leiteiro como um (Figura 2). O animal deve ficar em
todo. pé, com a cabeça voltada para fren-
Criação de Bezerras Leiteiras 71
te e as patas próximas ao corpo. Figura 3 - Uso do hipômetro para
Assim, a fita é passada atrás das estimativa de peso
pernas dianteiras, logo atrás da
Carla Bittar
cernelha, circundando o tórax do
animal, mas não apertada.
jo alimentar após o desaleitamento 60 dias. Para que isso ocorra, são ne-
é também de extrema importância cessários maiores volumes de forne-
para o sistema de criação. cimento de dieta líquida.
Uma curva de crescimento, facil- Apesar do manejo nutricional ser
mente conseguida nos sistemas de um dos pontos cruciais para o de-
produção brasileiros destaca três senvolvimento das bezerras, outro
fases de crescimento principais. fator que afeta fortemente o cresci-
Uma primeira fase, onde se encon- mento são questões relacionadas
tra o período de aleitamento, com ani- aos desafios do ambiente e do ma-
mais ganhando em média 500g/dia nejo sanitário inadequado. Por isso,
até aproximadamente o terceiro mês. deve-se prestar atenção as mudan-
A segunda fase, chamada de fase ças ambientais e nutricionais, para
pré-púbere (antes da puberdade até que possíveis ajustes sejam feitos
sua prenhez por volta de 15 meses), antes que a média de ganho de peso
quando os animais devem ganhar em se reduza e a fase de aleitamento se
torno de 700g/dia. E a última fase, a torne ainda mais onerosa.
partir dos 15 meses até o primeiro par- É importante lembrar que as taxas
to, quando devem apresentar ganhos de ganho de peso na fase pré-
de 830g/dia, de forma a apresentarem púbere não devem ser maiores que
em torno de 550-570 kg ao primeiro 700-800g/d, para que não haja pre-
parto. Esse tipo de ganho diário pode juízos ao desenvolvimento da glân-
ser atingido nos sistemas brasileiros, dula mamária, reduzindo o potenci-
desde que se considerem as necessi- al de produção deste animal quan-
dades nutricionais e o manejo ade- do entrar em lactação.
quado dos animais. Ajustes na dieta, como por exem-
Muitos produtores têm esperado plo, o aumento do teor de proteína
que os bezerros dobrem seu peso ao em relação à energia, pode reduzir
nascer durante o período de aleita- este problema, permitindo maiores
mento. Para se alcançar esta meta é taxas de ganho de peso. Entretanto,
necessário um sistema de aleitamen- esta decisão nem sempre é econo-
to que forneça maior quantidade de micamente viável. Quando o animal
nutrientes, permitindo altas taxas de atinge a maturidade, as taxas de
crescimento. No entanto, o sistema ganho de peso podem ser aumenta-
convencional (4L/dia) não resulta em das, desde que o animal não atinja
taxas de ganho que permitam que o escore de condição corporal acima de
bezerro dobre seu peso no período de 3,5-3,75 (escala de 1 a 5) ao parto.
Criação de Bezerras Leiteiras 75
As fêmeas de reposição deverão apresentar ganho de peso de apro-
estar prontas para parição aos 24 ximadamente 700g/d desde o nas-
meses de idade, com peso médio de cimento até o parto. No entanto, es-
550 kg, altura de cernelha de 140 cm tes valores são dependentes da raça
e condição corporal entre 3,25 e 3,5 ou porte do animal, sendo apresen-
(escala de 1 a 5). Para que cheguem tadas recomendações que conside-
ao parto com o peso ideal, devem ram estes fatores (Tabela 2).
Carla Bittar
Tabela 2 - Sugestões de peso de acordo com a idade de fêmeas de reposi-
ção em diferentes raças
Bibliografia Consultada
ANDERSEN, K.J. et al. The factors CAMPOS, O. F. ET al. Sistemas de aleita-
associated with dystocia in cattle. Mel- mento natural controlado ou artificial. II
bourne: Veterinary Medicine, 1993. Efeitos na performance de bezerros mes-
p. 764-766. tiços HZ. Piracicaba: Revista Brasileira de
Zootecnia, 1993. p. 413-422.
ANDERSON, K.L.; NAGARAJA, T.G.;
MORRIL, J.L. Ruminal metabolic DEELEN, S. M. et al. Evaluation of a Brix
development in calves weaned refractometer to estimate serum
conventionally or early. Champaign: immunoglobulin G concentration in
Journal of Dairy Science, 1987. neonatal dairy calves. Champaign: Journal
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