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Ficha de Avaliação Formativa 2: Grupo I
Ficha de Avaliação Formativa 2: Grupo I
GRUPO I
E Ega, miudamente, contou a sua longa, terrível conversa com o Guimarães, desde o momento em que
o homem por acaso, já ao despedir-se, já ao estender-lhe a mão, falara da «irmã do Maia». Depois entregara--
lhe os papéis da Monforte à porta do Hotel de Paris, no Pelourinho…
— E aqui está, não sei mais nada. Imagina tu que noite eu passei! Mas não tive coragem de te dizer. Fui
5 ao Vilaça… Fui ao Vilaça com a esperança sobretudo de ele saber algum facto, ter algum documento que
atirasse por terra toda esta história do Guimarães… Não tinha nada, não sabia nada. Ficou tão aniquilado
como eu!
No curto silêncio que caiu, um chuveiro mais largo, alagando o arvoredo do jardim, cantou nas vidra-
ças. Carlos ergueu-se arrebatadamente, numa revolta de todo o ser:
10 — E tu acreditas que isso seja possível? Acreditas que suceda a um homem como eu, como tu, numa
rua de Lisboa? Encontro uma mulher, olho para ela, conheço-a, durmo com ela e, entre todas as mulheres
do mundo, essa justamente há de ser minha irmã! É impossível… Não há Guimarães, não há documentos
que me convençam!
E como Ega permanecia mudo, a um canto do sofá, com os olhos no chão:
15 — Diz alguma coisa — gritou-lhe Carlos. — Duvida também, homem, duvida comigo!… É extraordi-
nário! Todos vocês acreditam, como se isto fosse a coisa mais natural do mundo, e não houvesse por essa
cidade fora senão irmãos a dormir juntos!
Ega murmurou
— Já ia sucedendo um caso assim, lá ao pé da quinta, em Celorico…
20 E neste momento, sem que um rumor os prevenisse, Afonso da Maia apareceu numa abertura do
reposteiro, encostada à bengala, sorrindo todo com alguma ideia que decerto o divertia. Era ainda o chapéu
do Vilaça.
— Que diabo fizeram vocês ao chapéu do Vilaça? O pobre homem andou por aí aflito… Teve de levar
um chapéu meu. Caía-lhe pela cabeça abaixo, enchumaçaram-lho com lenços…
25 Mas subitamente reparou na face transtornada do neto. Reparou na atarantação do Ega cujos olhos
mal se fixavam, fugindo ansiosamente dele para Carlos. Todo o sorriso se lhe apagou, deu no quarto um
passo lento:
— Que é isso, que têm vocês?… Há alguma coisa?
Então Carlos, no ardente egoísmo da sua paixão, sem pensar no abalo cruel que ia dar ao pobre velho,
30 cheio só de esperança que ele, seu avô, testemunha do passado, soubesse algum facto, possuísse alguma
certeza contrária a toda essa história de Guimarães, a todos esses papéis da Monforte — veio para ele,
desabafou:
— Há uma coisa extraordinária, avô! O avô talvez saiba… O avô deve saber alguma coisa que nos tire
desta aflição!… Aqui está, em duas palavras. Eu conheço aí uma senhora que chegou há tempos a Lisboa,
35 mora na rua de S. Francisco. Agora de repente descobre-se que é minha irmã legítima!… Passou aí um
homem que a conhecia, que tinha uns papéis… Os papéis aí estão. São cartas, uma declaração de minha
mãe… Enfim uma trapalhada, um montão de provas… Que significa tudo isto? Essa minha irmã, a que foi
levada em pequena, não morreu?… O avô deve saber!…
1. Demonstre que Ega e Carlos manifestam incredulidade, mas reagem de forma diferente
relativamente ao que poderá dissipar as suas dúvidas sobre o conteúdo da «terrível conversa»
(linha 1). Ilustre a sua resposta com transcrições.
2. Clarifique o significado da frase «— Duvida também, homem, duvida comigo!…» (linha 15),
relacionando-a com o estado de espírito de Carlos.
3. Justifique o facto de a expressão «ardente egoísmo» (linha 29) ser utilizada pelo narrador para
descrever a atitude de Carlos ao revelar ao avô as razões do seu transtorno.
Leia o soneto de Luís de Camões «Que me quereis, perpétuas saudades?», e responda às questões
colocadas
Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
2. Releia o último terceto. Explique o que leva o sujeito poético a afirmar a sua desesperança.
GRUPO II
Há várias maneiras de estudar as ideias num artista porque nem sempre da mesma maneira se articulam
as ideias e a arte. Podemos talvez simplificar a questão reduzindo a dois tipos estas várias articulações possí-
veis da arte e das ideias: ou o artista parte de ideias claramente formuladas e procura exprimi-las — dar-lhes
contorno, relevo, cor e interesse — no estilo e na obra de arte; ou o artista obedece a um impulso pouco
5 definido, explica-se nas imagens ou no ritmo, mais ou menos inconscientemente; e somos nós, leitores,
que damos fórmula e consciência às ideias implícitas na sua obra. […]
Ora em que grupo poderemos nós incluir Eça de Queirós? Que métodos seguiremos para identificar e
sistematizar as ideias contidas na sua obra?
E ele um estilista, dando fórmula nova, lapidando e moldando ideias já definidas e por ele aprendidas?
10 Ou é antes um pai de criaturas vivas e rebeldes que se lhe escapam das mãos sem ele dar por isso? Creio
que temos elementos para responder a esta pergunta.
ANTÓNIO JOSÉ SARAIVA, As ideias de Eça de Queirós, Lisboa, Gradiva, 2000, pp.45-47
(1) ensaios: textos que analisam um determinado assunto, tendo um pendor argumentativo.
(2) As Farpas: publicações mensais escritas por Ramalho Ortigão e Eça de Queirós. Eram textos críticos, abrangendo
temas da vida social e política.
(3) Correspondência de Fradique Mendes: obra de Eça de Queirós apresentada como a recolha da correspondência
de um homem distinto, de nome Fradique Mendes — ser ficcional.
(4) glosada: explicada, apresentada por outras palavras.
1. Para responder a cada um dos itens, de 1.1 a 1.6, selecione a opção correta. Escreva, na folha de
respostas, o número de cada item e a letra que identifica a opção escolhida.
1.1. De acordo com a primeira frase do texto, estudar a relação entre as ideias e a arte constitui uma
tarefa
(A) complexa.
(B) intrigante.
(C) simples.
(D) impossível.
4. Identifique o deítico pessoal presente na frase: «E é, repito, uma noção bem clara, de limites
definidos, sem janelas para o sonho ou para a divagação» (linhas 26-27).
GRUPO III
De acordo com a estética realista, a arte mostra o que somos e, em última análise, promove a mudança
social. Segundo outras conceções, as manifestações artísticas — a literatura, a pintura, o cinema… — têm
uma finalidade diferente.
Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas (200) e um máximo de trezentas (300) palavras,
apresente uma opinião fundamentada sobre qual deve ser o papel da arte na sociedade.