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de raciocínios, de textos, de exemplos.

Os exemplos achou-os na histó-


ria e em Itaguaí, mas, como um raro espírito que era, reconheceu o
perigo de citar todos os casos de Itaguaí e refugiou-se na história. Assim,
15. Leia estes trechos considerando o contexto de O alienista:
loucura. O alienista Simão Bacamarte pecou drasticamente por não
reconhecer com nitidez nenhum desses aspectos que distinguem
loucura e lucidez. Primeiro, traduziu tudo o que não era a regra
apontou com especialidade alguns personagens célebres, Sócrates, que
tinha um demônio familiar, Pascal, que via um abismo à esquerda,
A loucura, porém, não está somente ligada às assombrações e aos
mistérios do mundo, mas ao próprio homem, às suas fraquezas, às
como loucura. Segundo, negou que a loucura ajude a definir o que
venha a ser a razão, pretendendo isolar o que ele chamou de razão SUPLEMENTO
Maomé, Caracala, Domiciano, Calígula, etc., uma enfiada de casos e
DE ATIVIDADES
suas ilusões e a seus sonhos, representando um sutil relacionamento pura. Terceiro, não relativizou o papel social que ele, como alienista,
pessoas, em que de mistura vinham entidades odiosas, e entidades ridí- que o homem mantém consigo mesmo. Aqui, portanto, a loucura desempenhava na sociedade, definindo o louco e o são. Assim,
culas. E porque o boticário se admirasse de uma tal promiscuidade, o CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA não diz respeito à verdade do mundo, mas ao homem e à verdade como detentor de um saber absoluto e dono de uma verdade que só
alienista disse-lhe que era tudo a mesma coisa. que ele distingue de si mesmo. ele mesmo conhecia, acabou seus dias trancado na Casa Verde,

ASSIS, Machado de. “Capítulo IV: Uma teoria nova”.


In: Helena e O alienista. Rio de Janeiro: Editora Três, 1972.
14. Leia os trechos a seguir:
(...)
O grande jogo da história será de quem se apoderar das regras, de
quem tomar o lugar daqueles que as utilizam, de quem se disfarçar
como maior ironia de seu destino em busca da verdade.

Embora os homens costumem ferir a minha reputação e eu saiba para pervertê-las, utilizá-las ao inverso e voltá-las contra aqueles que A NOVA DO CADÁVER - A SUA ENTREVISTA IMAGINÁRIA
Comente qual a principal ironia presente no raciocínio de Simão muito bem como meu nome soa mal aos ouvidos dos mais tolos, as tinham imposto.
orgulho-me de vos dizer que esta Loucura, sim, esta Loucura que Agora é com você, caro leitor.
Bacamarte. Como o autor nos faz subentender que os argumen- (...)
estais vendo é a única capaz de alegrar os deuses e os mortais. A Valendo-se das orientações desta edição e das suas respostas às
tos de Bacamarte são loucos? A verdade da loucura é ser interior à razão, ser uma de suas figuras,
prova incontestável do que afirmo está em que não sei que súbita e atividades de leitura, elabore uma nova entrevista com o autor,
uma força e como que uma necessidade momentânea a fim de
desumana alegria brilhou no rosto de todos ao aparecer eu diante mais ou menos como a Entrevista Imaginária do final do livro.
A fina ironia desse trecho reside na enumeração dos supostos lou- melhor certificar-se de si mesma.
deste numerosíssimo auditório. Isso mesmo! Ainda que Machado de Assis não esteja entre nós,
cos: Sócrates, Pascal, Maomé, junto com Calígula e outros. A mistu- sua obra está cada vez mais viva nesse país que já nasceu por
7 8 9 10
ra de personagens históricos e a sua definição como loucos, segun- (...) FOUCAULT, Michel apud VIEIRA, Priscila Piazentini. 1
do as teorias de Simão, criam o efeito cômico, demonstrando que Bastou, pois, minha simples presença para eu obter o que valentes “Reflexões sobre A história da loucura de Michel Foucault”. ironia e assim chegou à República e à independência. NOME:
oradores mal teriam podido conseguir com um longo e longamente In: Revista Aulas: Dossiê Foucault. Organização de Margareth Rago Ter sido o precursor do Realismo entre nós, ter criado o cínico e NO: SÉRIE:
quem padece de loucura é ele, o alienista. Por outro lado, Machado & Adilton Luís Martins. n.° 3, dez. 2006/mar. 2007. bon-vivant Brás Cubas, Quincas Borba – o filósofo mendigo – e,
de Assis desenvolve uma sutileza no texto, pois ressalta que meditado discurso: expulsar a tristeza de vossas almas. ESCOLA:
é claro, Capitu – genuíno ícone da mulher contemporânea –,
Bacamarte evitava nomear os loucos de Itaguaí e, por isso, refugia- não serão ingredientes suficientes para compor uma conversa
ROTTERDAM, Erasmo de. Elogio da loucura.
va-se na história. Isso quer dizer que ele, a despeito da crença venal
em sua teoria mirabolante, ainda era malicioso o suficiente para não
querer comprometer sua reputação na cidade, preferindo impingir a
São Paulo: Abril Cultural, 1972. Que relações podemos estabelecer entre essas definições da lou-
cura, feitas pelo filósofo francês Michel Foucault, no século XX,
franca com o mais aclamado autor de nossas letras?
Questioná-lo acerca da verdade por trás de O alienista. Afinal, E scritor dos mais aclamados, Machado de Assis representa
um dos pontos culminantes da literatura brasileira.
Em que sentido essa visão da loucura, descrita por Erasmo de e a proposta de O alienista? Explique. quem é de fato louco ou são neste mundo? Qual a idéia original
definição de louco a grandes nomes da civilização ocidental a fazê-lo o autor teve para escrever essa obra? Dentro de sua obra, O alienista é central, pela permanente inver-
Rotterdam, no século XVI, se distingue daquela proposta em O
em relação a seus conterrâneos. Entra aqui uma boa dose de visão Pode-se também abordar a composição das famosas tramas que são do avesso e do direito, da norma e da exceção, temas cons-
alienista? Os trechos extraídos da obra de Michel Foucault levantam três pon-
crítica sobre as relações sociais brasileiras, e o medo de expor idéias teriam legado ao escritor o apelido de Bruxo do Cosme Velho. O tantes de sua vasta bibliografia e para os quais o autor deu algu-
tos principais para uma compreensão da loucura: 1) A loucura não é
verdadeiras que comprometam nossa imagem diante do próximo. que será que ele acharia dessa alcunha? E o que acharia dos mas das melhores contribuições ficcionais.
A visão de Erasmo é a renascentista e, portanto, vê a loucura não do uma assombração e não está ligada apenas ao mistério e ao inexpli-
escritores que hoje ocupam as famosas cadeiras da Academia As atividades a seguir pretendem ampliar a compreensão desta
ponto de vista científico, medicinal e catalogador, mas sim mitológi- cável, mas à interioridade do ser humano; 2) A loucura é um com-
Brasileira de Letras, instituição da qual foi o fundador? obra e deste tempo. Desenvolva-as após a leitura do livro, dos
co. Ela é uma espécie de deusa que anima o espírito dos homens, ponente central na história da civilização, porque, não sendo abso-
(Se quiser saber mais sobre isso, acesse o site www.academia.org.br/) Diários de um Clássico, da Contextualização Histórica e da
transformando os seus comportamentos. Embora Erasmo também luta, como queria Simão Bacamarte, em cada época ela é definida
Capriche e bom trabalho! Entrevista Imaginária.
use a figura da Loucura para tecer fortes críticas à sua época, ele não por aqueles que detêm as regras e o poder, dizendo o que ela é, sepa-
deixa de jogar com a ambigüidade dessa deusa, a um só tempo rando-a do que é lúcido, racional e saudável; 3) A loucura é interior
maléfica e deslumbrante, pois incita os homens a fazer coisas que à razão, porque só podemos nos certificar de nossa razão e do que
não teriam coragem de fazer em sua plena razão. venha a ser a racionalidade se temos, por contraste, a experiência da
portanto, da verdade), em O alienista essa busca da verdade assume dizer que, se não há razão pura, tampouco há a loucura. Se Simão reco-
UMA OBRA CLÁSSICA os traços de uma verdadeira obsessão. Mas de saída ela nos é veda- lheu à prisão de Casa Verde quase a cidade inteira, ele o fez porque sua
NARRADOR
1. Qual o principal tema de O alienista? Justifique sua resposta.
da, e cabe a Simão Bacamarte encenar o papel ridículo que lhe cabe,
e, assim, destruir, aos olhos do leitor, a confiança em qualquer obje-
tividade científica que se pretenda absoluta e universal.
teoria se baseava em crenças totalmente disparatadas, o que quer dizer
que a cidade não era louca, mas sã. Porém, quando ele mesmo se encar-
cera e liberta a cidade, nada se corrige, pois sua atitude padece do
8. Qual é a estratégia narrativa utilizada em O alienista para
11. Qual a relação existente entre Porfírio e Bacamarte?
dar uma sensação de objetividade científica?
O tema principal de O alienista é a loucura. Mas é preciso também mesmo mal. Se a cidade toda não é louca, ele, Simão, sozinho, também
ressaltar que a novela trata de sua relatividade, ao mesmo tempo
em que empreende uma dura crítica à ciência e a certas doutrinas
filosóficas vigentes no século XIX. O tema da obra é, portanto, tri-
4. Comente a seguinte frase de Simão Bacamarte: “A ciência
é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo”. Por que ela
não o é. A sátira de Machado tem como alvo as teorias que se preten-
dem absolutas; ela lança seu riso ferino justamente sobre esse parado-
xo intransponível: se todos são loucos, ninguém o é, pois deixa de haver
O alienista é narrado em terceira pessoa, e o narrador se baseia no
relato de crônicas antigas, o que promove um deslocamento tem-
Ambos são caricaturas de duas grandes instituições: a política e a
ciência, respectivamente.
poral em relação ao presente.
plo: 1) a loucura; 2) a sua relatividade; 3) a crítica das idéias vigentes é irônica? O que nos autoriza a fazer essa interpretação? valor contrastivo entre ser e não-ser, entre loucura e lucidez.
que pretendiam dar uma explicação absoluta sobre a mente huma-
na, sobre a sanidade e a insanidade da alma. A frase é ambígua e irônica, porque ao pronunciá-la como quem se
define com grande dignidade, Simão Bacamarte parece não perceber
6. O que levou Bacamarte a duvidar do veredicto de loucura
9. De quais efeitos de linguagem o narrador se vale para
caracterizar uma obra que trata da ciência? INTERTEXTUALIDADE
que, ao mesmo tempo, anuncia todo o teor caricaturesco de sua vida.
2. Quais são as principais correntes de pensamento criticadas
Pois quem faz da ciência sua única ocupação (emprego), não tem
que ele deu aos habitantes de Itaguaí?
Como se trata de uma sátira a um determinado tipo de cientifi-
em O alienista?
olhos para outras coisas e, portanto, não consegue medir corretamen-
te o valor das conclusões científicas de seu trabalho. Machado de Assis,
desse modo, critica a especialização exacerbada, pois quem só estuda
Em primeiro lugar, a quantidade de pessoas consideradas loucas: qua-
tro quintos da cidade. Em segundo, a cura rápida dessas pessoas. Se
cismo do século XIX, a obra recorre a uma linguagem objetiva e
impessoal, procurando apresentar com fidelidade os fatos ocorri-
12. Escolha um conto de Machado de Assis indicado no boxe
“Machado de Assis: contos e novelas”, da seção Diários de um
Sobretudo o pensamento positivista, que acreditava ser possível elas fossem de fato loucas, não conseguiriam passar nos testes que ele dos. Para tanto, o recurso das crônicas é importante, pois funcio-
uma única coisa perde de vista o valor desse objeto de estudo, pois não Clássico, e faça uma comparação com O alienista. Muitos dos
chegar a uma verdade incontestável sobre todas as coisas, inclusive 2 3 mesmo elaborou e que também são, a seu modo, disparatados. 4 na como se o narrador estivesse colhendo relatos já existentes, o 5 6
consegue confrontá-lo com objetos de outra natureza. Já a segunda contos citados têm pontos em comum entre si e também pon-
sobre a essência do homem. Mas também são criticadas a medici- Serviram apenas como álibi para a sua honestidade, demonstrando a que lhe confere maior veracidade. Pode-se dizer que o autor
afirmação também ressalta o aspecto caricato de Simão. Afinal, a ciên- tos em comum com esta obra. Pesquise.
na, a psiquiatria e toda a voga cientificista, que queria erguer a ciên- sua boa intenção, mas mostraram também o fracasso de suas teorias. simula uma linguagem mais próxima da científica, justamente
cia consiste em analisar o universo, entender sua totalidade. Se o per-
cia a um estatuto de única verdade válida. para amplificar o efeito cômico do protagonista Simão Bacamarte
sonagem diz que Itaguaí é seu universo, ele está atestando as limita- A proposta é um pequeno trabalho de pesquisa, unindo dialogicamen-
ções provincianas de sua própria concepção de ciência, e, portanto,
7. Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para as seguintes afir-
e de todo o enredo. Assim, ao explanar sobre as hipóteses e teo- te os Diários de um Clássico e este Suplemento de Atividades. O boxe
3. A obra de Machado de Assis geralmente trata da impossibi-
lidade de chegarmos à verdade das coisas. Nos seus romances,
negando o valor positivo, universal, da mesma. Machado de Assis pro-
pôs demonstrar, em trechos como esse, a discrepância entre as idéias
mações sobre O alienista:
rias aventadas por Simão, o narrador apóia-se em uma lingua-
gem também pretensamente neutra, o que só confirma o fracas-
so da neutralidade e a ruína das concepções científicas descritas
faz menção a alguns contos de Machado de Assis que, se não chegam
a tratar diretamente da loucura, trabalham temas afins, como os jogos
criadas na Europa e a assimilação delas no Brasil, reduzindo o seu entre a verdade e a mentira, a máscara e a realidade, o certo e o erra-
ele fala muito das máscaras sociais. Em que sentido esse traço poder de alcance e traduzindo-as de modo típico e não universal. (F) O alienista representa um dos marcos do pensamento cientí- ao longo da novela. do, o avesso e o direito. Alguns desses contos são conhecidos pelos alu-
marcante de sua obra reaparece em O alienista? Comente. fico no século XIX. nos e geralmente trabalhados em diálogo com os romances. A idéia,
(F) Todos os habitantes de Itaguaí são favoráveis aos métodos de aqui, é cotejá-los, desta vez com O alienista.
Podemos pensar que a crítica de Machado de Assis à ciência se
NARRATIVA Simão Bacamarte. PERSONAGENS
baseia justamente neste ponto: é impossível conhecermos a verdade (F) Simão Bacamarte conta com o apoio de Porfírio.
última das coisas, sobretudo em se tratando da verdade humana.
Nesse sentido, a novela O alienista é central em sua obra ficcional e
em seu pensamento. Ela dialoga com os demais livros, com os
5. Tendo em vista o desfecho da narrativa, podemos dizer que
(V) Crispim Soares é uma das peças-chave para a realização dos
projetos científicos de Bacamarte. 10. Há algum personagem “normal” em O alienista? 13. Leia o trecho seguinte:
Simão Bacamarte é realmente louco? Justifique. (V) O tema central de O alienista é uma paródia da ciência.
romances e, sobretudo, com os contos. Se, por um lado, como em (F) Bacamarte não tem coragem de encarcerar a própria esposa Seria preciso criar um ponto de vista sobre loucura e sanidade para (...)
Memórias póstumas de Brás Cubas, o autor relativiza os valores a par- em Casa Verde. responder a essa questão. Certamente, todos contarão com alguns Disse isto, e calou-se, para ruminar o pasmo do boticário. Depois expli-
Não. Porque ele acabou dando esse atestado de loucura a si mesmo por
tir de uma visão da vida fornecida depois da morte, e em Dom (V) Porfírio é uma caricatura da política, assim como Bacamarte traços de algo semelhante à loucura, sem, contudo, poderem ser cou compridamente a sua idéia. No conceito dele a insânia abrangia
meio de uma teoria que era, ela mesma, infundada e, portanto, louca.
Casmurro coloca o leitor diante do enigma indecifrável da traição (e, o é da ciência. caracterizados como loucos. uma vasta superfície de cérebros; e desenvolveu isto com grande cópia
A grande brincadeira de Machado sobre a loucura consiste em nos
portanto, da verdade), em O alienista essa busca da verdade assume dizer que, se não há razão pura, tampouco há a loucura. Se Simão reco-
UMA OBRA CLÁSSICA os traços de uma verdadeira obsessão. Mas de saída ela nos é veda- lheu à prisão de Casa Verde quase a cidade inteira, ele o fez porque sua
NARRADOR
1. Qual o principal tema de O alienista? Justifique sua resposta.
da, e cabe a Simão Bacamarte encenar o papel ridículo que lhe cabe,
e, assim, destruir, aos olhos do leitor, a confiança em qualquer obje-
tividade científica que se pretenda absoluta e universal.
teoria se baseava em crenças totalmente disparatadas, o que quer dizer
que a cidade não era louca, mas sã. Porém, quando ele mesmo se encar-
cera e liberta a cidade, nada se corrige, pois sua atitude padece do
8. Qual é a estratégia narrativa utilizada em O alienista para
11. Qual a relação existente entre Porfírio e Bacamarte?
dar uma sensação de objetividade científica?
O tema principal de O alienista é a loucura. Mas é preciso também mesmo mal. Se a cidade toda não é louca, ele, Simão, sozinho, também
ressaltar que a novela trata de sua relatividade, ao mesmo tempo
em que empreende uma dura crítica à ciência e a certas doutrinas
filosóficas vigentes no século XIX. O tema da obra é, portanto, tri-
4. Comente a seguinte frase de Simão Bacamarte: “A ciência
é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo”. Por que ela
não o é. A sátira de Machado tem como alvo as teorias que se preten-
dem absolutas; ela lança seu riso ferino justamente sobre esse parado-
xo intransponível: se todos são loucos, ninguém o é, pois deixa de haver
O alienista é narrado em terceira pessoa, e o narrador se baseia no
relato de crônicas antigas, o que promove um deslocamento tem-
Ambos são caricaturas de duas grandes instituições: a política e a
ciência, respectivamente.
poral em relação ao presente.
plo: 1) a loucura; 2) a sua relatividade; 3) a crítica das idéias vigentes é irônica? O que nos autoriza a fazer essa interpretação? valor contrastivo entre ser e não-ser, entre loucura e lucidez.
que pretendiam dar uma explicação absoluta sobre a mente huma-
na, sobre a sanidade e a insanidade da alma. A frase é ambígua e irônica, porque ao pronunciá-la como quem se
define com grande dignidade, Simão Bacamarte parece não perceber
6. O que levou Bacamarte a duvidar do veredicto de loucura
9. De quais efeitos de linguagem o narrador se vale para
caracterizar uma obra que trata da ciência? INTERTEXTUALIDADE
que, ao mesmo tempo, anuncia todo o teor caricaturesco de sua vida.
2. Quais são as principais correntes de pensamento criticadas
Pois quem faz da ciência sua única ocupação (emprego), não tem
que ele deu aos habitantes de Itaguaí?
Como se trata de uma sátira a um determinado tipo de cientifi-
em O alienista?
olhos para outras coisas e, portanto, não consegue medir corretamen-
te o valor das conclusões científicas de seu trabalho. Machado de Assis,
desse modo, critica a especialização exacerbada, pois quem só estuda
Em primeiro lugar, a quantidade de pessoas consideradas loucas: qua-
tro quintos da cidade. Em segundo, a cura rápida dessas pessoas. Se
cismo do século XIX, a obra recorre a uma linguagem objetiva e
impessoal, procurando apresentar com fidelidade os fatos ocorri-
12. Escolha um conto de Machado de Assis indicado no boxe
“Machado de Assis: contos e novelas”, da seção Diários de um
Sobretudo o pensamento positivista, que acreditava ser possível elas fossem de fato loucas, não conseguiriam passar nos testes que ele dos. Para tanto, o recurso das crônicas é importante, pois funcio-
uma única coisa perde de vista o valor desse objeto de estudo, pois não Clássico, e faça uma comparação com O alienista. Muitos dos
chegar a uma verdade incontestável sobre todas as coisas, inclusive 2 3 mesmo elaborou e que também são, a seu modo, disparatados. 4 na como se o narrador estivesse colhendo relatos já existentes, o 5 6
consegue confrontá-lo com objetos de outra natureza. Já a segunda contos citados têm pontos em comum entre si e também pon-
sobre a essência do homem. Mas também são criticadas a medici- Serviram apenas como álibi para a sua honestidade, demonstrando a que lhe confere maior veracidade. Pode-se dizer que o autor
afirmação também ressalta o aspecto caricato de Simão. Afinal, a ciên- tos em comum com esta obra. Pesquise.
na, a psiquiatria e toda a voga cientificista, que queria erguer a ciên- sua boa intenção, mas mostraram também o fracasso de suas teorias. simula uma linguagem mais próxima da científica, justamente
cia consiste em analisar o universo, entender sua totalidade. Se o per-
cia a um estatuto de única verdade válida. para amplificar o efeito cômico do protagonista Simão Bacamarte
sonagem diz que Itaguaí é seu universo, ele está atestando as limita- A proposta é um pequeno trabalho de pesquisa, unindo dialogicamen-
ções provincianas de sua própria concepção de ciência, e, portanto,
7. Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para as seguintes afir-
e de todo o enredo. Assim, ao explanar sobre as hipóteses e teo- te os Diários de um Clássico e este Suplemento de Atividades. O boxe
3. A obra de Machado de Assis geralmente trata da impossibi-
lidade de chegarmos à verdade das coisas. Nos seus romances,
negando o valor positivo, universal, da mesma. Machado de Assis pro-
pôs demonstrar, em trechos como esse, a discrepância entre as idéias
mações sobre O alienista:
rias aventadas por Simão, o narrador apóia-se em uma lingua-
gem também pretensamente neutra, o que só confirma o fracas-
so da neutralidade e a ruína das concepções científicas descritas
faz menção a alguns contos de Machado de Assis que, se não chegam
a tratar diretamente da loucura, trabalham temas afins, como os jogos
criadas na Europa e a assimilação delas no Brasil, reduzindo o seu entre a verdade e a mentira, a máscara e a realidade, o certo e o erra-
ele fala muito das máscaras sociais. Em que sentido esse traço poder de alcance e traduzindo-as de modo típico e não universal. (F) O alienista representa um dos marcos do pensamento cientí- ao longo da novela. do, o avesso e o direito. Alguns desses contos são conhecidos pelos alu-
marcante de sua obra reaparece em O alienista? Comente. fico no século XIX. nos e geralmente trabalhados em diálogo com os romances. A idéia,
(F) Todos os habitantes de Itaguaí são favoráveis aos métodos de aqui, é cotejá-los, desta vez com O alienista.
Podemos pensar que a crítica de Machado de Assis à ciência se
NARRATIVA Simão Bacamarte. PERSONAGENS
baseia justamente neste ponto: é impossível conhecermos a verdade (F) Simão Bacamarte conta com o apoio de Porfírio.
última das coisas, sobretudo em se tratando da verdade humana.
Nesse sentido, a novela O alienista é central em sua obra ficcional e
em seu pensamento. Ela dialoga com os demais livros, com os
5. Tendo em vista o desfecho da narrativa, podemos dizer que
(V) Crispim Soares é uma das peças-chave para a realização dos
projetos científicos de Bacamarte. 10. Há algum personagem “normal” em O alienista? 13. Leia o trecho seguinte:
Simão Bacamarte é realmente louco? Justifique. (V) O tema central de O alienista é uma paródia da ciência.
romances e, sobretudo, com os contos. Se, por um lado, como em (F) Bacamarte não tem coragem de encarcerar a própria esposa Seria preciso criar um ponto de vista sobre loucura e sanidade para (...)
Memórias póstumas de Brás Cubas, o autor relativiza os valores a par- em Casa Verde. responder a essa questão. Certamente, todos contarão com alguns Disse isto, e calou-se, para ruminar o pasmo do boticário. Depois expli-
Não. Porque ele acabou dando esse atestado de loucura a si mesmo por
tir de uma visão da vida fornecida depois da morte, e em Dom (V) Porfírio é uma caricatura da política, assim como Bacamarte traços de algo semelhante à loucura, sem, contudo, poderem ser cou compridamente a sua idéia. No conceito dele a insânia abrangia
meio de uma teoria que era, ela mesma, infundada e, portanto, louca.
Casmurro coloca o leitor diante do enigma indecifrável da traição (e, o é da ciência. caracterizados como loucos. uma vasta superfície de cérebros; e desenvolveu isto com grande cópia
A grande brincadeira de Machado sobre a loucura consiste em nos
portanto, da verdade), em O alienista essa busca da verdade assume dizer que, se não há razão pura, tampouco há a loucura. Se Simão reco-
UMA OBRA CLÁSSICA os traços de uma verdadeira obsessão. Mas de saída ela nos é veda- lheu à prisão de Casa Verde quase a cidade inteira, ele o fez porque sua
NARRADOR
1. Qual o principal tema de O alienista? Justifique sua resposta.
da, e cabe a Simão Bacamarte encenar o papel ridículo que lhe cabe,
e, assim, destruir, aos olhos do leitor, a confiança em qualquer obje-
tividade científica que se pretenda absoluta e universal.
teoria se baseava em crenças totalmente disparatadas, o que quer dizer
que a cidade não era louca, mas sã. Porém, quando ele mesmo se encar-
cera e liberta a cidade, nada se corrige, pois sua atitude padece do
8. Qual é a estratégia narrativa utilizada em O alienista para
11. Qual a relação existente entre Porfírio e Bacamarte?
dar uma sensação de objetividade científica?
O tema principal de O alienista é a loucura. Mas é preciso também mesmo mal. Se a cidade toda não é louca, ele, Simão, sozinho, também
ressaltar que a novela trata de sua relatividade, ao mesmo tempo
em que empreende uma dura crítica à ciência e a certas doutrinas
filosóficas vigentes no século XIX. O tema da obra é, portanto, tri-
4. Comente a seguinte frase de Simão Bacamarte: “A ciência
é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo”. Por que ela
não o é. A sátira de Machado tem como alvo as teorias que se preten-
dem absolutas; ela lança seu riso ferino justamente sobre esse parado-
xo intransponível: se todos são loucos, ninguém o é, pois deixa de haver
O alienista é narrado em terceira pessoa, e o narrador se baseia no
relato de crônicas antigas, o que promove um deslocamento tem-
Ambos são caricaturas de duas grandes instituições: a política e a
ciência, respectivamente.
poral em relação ao presente.
plo: 1) a loucura; 2) a sua relatividade; 3) a crítica das idéias vigentes é irônica? O que nos autoriza a fazer essa interpretação? valor contrastivo entre ser e não-ser, entre loucura e lucidez.
que pretendiam dar uma explicação absoluta sobre a mente huma-
na, sobre a sanidade e a insanidade da alma. A frase é ambígua e irônica, porque ao pronunciá-la como quem se
define com grande dignidade, Simão Bacamarte parece não perceber
6. O que levou Bacamarte a duvidar do veredicto de loucura
9. De quais efeitos de linguagem o narrador se vale para
caracterizar uma obra que trata da ciência? INTERTEXTUALIDADE
que, ao mesmo tempo, anuncia todo o teor caricaturesco de sua vida.
2. Quais são as principais correntes de pensamento criticadas
Pois quem faz da ciência sua única ocupação (emprego), não tem
que ele deu aos habitantes de Itaguaí?
Como se trata de uma sátira a um determinado tipo de cientifi-
em O alienista?
olhos para outras coisas e, portanto, não consegue medir corretamen-
te o valor das conclusões científicas de seu trabalho. Machado de Assis,
desse modo, critica a especialização exacerbada, pois quem só estuda
Em primeiro lugar, a quantidade de pessoas consideradas loucas: qua-
tro quintos da cidade. Em segundo, a cura rápida dessas pessoas. Se
cismo do século XIX, a obra recorre a uma linguagem objetiva e
impessoal, procurando apresentar com fidelidade os fatos ocorri-
12. Escolha um conto de Machado de Assis indicado no boxe
“Machado de Assis: contos e novelas”, da seção Diários de um
Sobretudo o pensamento positivista, que acreditava ser possível elas fossem de fato loucas, não conseguiriam passar nos testes que ele dos. Para tanto, o recurso das crônicas é importante, pois funcio-
uma única coisa perde de vista o valor desse objeto de estudo, pois não Clássico, e faça uma comparação com O alienista. Muitos dos
chegar a uma verdade incontestável sobre todas as coisas, inclusive 2 3 mesmo elaborou e que também são, a seu modo, disparatados. 4 na como se o narrador estivesse colhendo relatos já existentes, o 5 6
consegue confrontá-lo com objetos de outra natureza. Já a segunda contos citados têm pontos em comum entre si e também pon-
sobre a essência do homem. Mas também são criticadas a medici- Serviram apenas como álibi para a sua honestidade, demonstrando a que lhe confere maior veracidade. Pode-se dizer que o autor
afirmação também ressalta o aspecto caricato de Simão. Afinal, a ciên- tos em comum com esta obra. Pesquise.
na, a psiquiatria e toda a voga cientificista, que queria erguer a ciên- sua boa intenção, mas mostraram também o fracasso de suas teorias. simula uma linguagem mais próxima da científica, justamente
cia consiste em analisar o universo, entender sua totalidade. Se o per-
cia a um estatuto de única verdade válida. para amplificar o efeito cômico do protagonista Simão Bacamarte
sonagem diz que Itaguaí é seu universo, ele está atestando as limita- A proposta é um pequeno trabalho de pesquisa, unindo dialogicamen-
ções provincianas de sua própria concepção de ciência, e, portanto,
7. Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para as seguintes afir-
e de todo o enredo. Assim, ao explanar sobre as hipóteses e teo- te os Diários de um Clássico e este Suplemento de Atividades. O boxe
3. A obra de Machado de Assis geralmente trata da impossibi-
lidade de chegarmos à verdade das coisas. Nos seus romances,
negando o valor positivo, universal, da mesma. Machado de Assis pro-
pôs demonstrar, em trechos como esse, a discrepância entre as idéias
mações sobre O alienista:
rias aventadas por Simão, o narrador apóia-se em uma lingua-
gem também pretensamente neutra, o que só confirma o fracas-
so da neutralidade e a ruína das concepções científicas descritas
faz menção a alguns contos de Machado de Assis que, se não chegam
a tratar diretamente da loucura, trabalham temas afins, como os jogos
criadas na Europa e a assimilação delas no Brasil, reduzindo o seu entre a verdade e a mentira, a máscara e a realidade, o certo e o erra-
ele fala muito das máscaras sociais. Em que sentido esse traço poder de alcance e traduzindo-as de modo típico e não universal. (F) O alienista representa um dos marcos do pensamento cientí- ao longo da novela. do, o avesso e o direito. Alguns desses contos são conhecidos pelos alu-
marcante de sua obra reaparece em O alienista? Comente. fico no século XIX. nos e geralmente trabalhados em diálogo com os romances. A idéia,
(F) Todos os habitantes de Itaguaí são favoráveis aos métodos de aqui, é cotejá-los, desta vez com O alienista.
Podemos pensar que a crítica de Machado de Assis à ciência se
NARRATIVA Simão Bacamarte. PERSONAGENS
baseia justamente neste ponto: é impossível conhecermos a verdade (F) Simão Bacamarte conta com o apoio de Porfírio.
última das coisas, sobretudo em se tratando da verdade humana.
Nesse sentido, a novela O alienista é central em sua obra ficcional e
em seu pensamento. Ela dialoga com os demais livros, com os
5. Tendo em vista o desfecho da narrativa, podemos dizer que
(V) Crispim Soares é uma das peças-chave para a realização dos
projetos científicos de Bacamarte. 10. Há algum personagem “normal” em O alienista? 13. Leia o trecho seguinte:
Simão Bacamarte é realmente louco? Justifique. (V) O tema central de O alienista é uma paródia da ciência.
romances e, sobretudo, com os contos. Se, por um lado, como em (F) Bacamarte não tem coragem de encarcerar a própria esposa Seria preciso criar um ponto de vista sobre loucura e sanidade para (...)
Memórias póstumas de Brás Cubas, o autor relativiza os valores a par- em Casa Verde. responder a essa questão. Certamente, todos contarão com alguns Disse isto, e calou-se, para ruminar o pasmo do boticário. Depois expli-
Não. Porque ele acabou dando esse atestado de loucura a si mesmo por
tir de uma visão da vida fornecida depois da morte, e em Dom (V) Porfírio é uma caricatura da política, assim como Bacamarte traços de algo semelhante à loucura, sem, contudo, poderem ser cou compridamente a sua idéia. No conceito dele a insânia abrangia
meio de uma teoria que era, ela mesma, infundada e, portanto, louca.
Casmurro coloca o leitor diante do enigma indecifrável da traição (e, o é da ciência. caracterizados como loucos. uma vasta superfície de cérebros; e desenvolveu isto com grande cópia
A grande brincadeira de Machado sobre a loucura consiste em nos
portanto, da verdade), em O alienista essa busca da verdade assume dizer que, se não há razão pura, tampouco há a loucura. Se Simão reco-
UMA OBRA CLÁSSICA os traços de uma verdadeira obsessão. Mas de saída ela nos é veda- lheu à prisão de Casa Verde quase a cidade inteira, ele o fez porque sua
NARRADOR
1. Qual o principal tema de O alienista? Justifique sua resposta.
da, e cabe a Simão Bacamarte encenar o papel ridículo que lhe cabe,
e, assim, destruir, aos olhos do leitor, a confiança em qualquer obje-
tividade científica que se pretenda absoluta e universal.
teoria se baseava em crenças totalmente disparatadas, o que quer dizer
que a cidade não era louca, mas sã. Porém, quando ele mesmo se encar-
cera e liberta a cidade, nada se corrige, pois sua atitude padece do
8. Qual é a estratégia narrativa utilizada em O alienista para
11. Qual a relação existente entre Porfírio e Bacamarte?
dar uma sensação de objetividade científica?
O tema principal de O alienista é a loucura. Mas é preciso também mesmo mal. Se a cidade toda não é louca, ele, Simão, sozinho, também
ressaltar que a novela trata de sua relatividade, ao mesmo tempo
em que empreende uma dura crítica à ciência e a certas doutrinas
filosóficas vigentes no século XIX. O tema da obra é, portanto, tri-
4. Comente a seguinte frase de Simão Bacamarte: “A ciência
é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo”. Por que ela
não o é. A sátira de Machado tem como alvo as teorias que se preten-
dem absolutas; ela lança seu riso ferino justamente sobre esse parado-
xo intransponível: se todos são loucos, ninguém o é, pois deixa de haver
O alienista é narrado em terceira pessoa, e o narrador se baseia no
relato de crônicas antigas, o que promove um deslocamento tem-
Ambos são caricaturas de duas grandes instituições: a política e a
ciência, respectivamente.
poral em relação ao presente.
plo: 1) a loucura; 2) a sua relatividade; 3) a crítica das idéias vigentes é irônica? O que nos autoriza a fazer essa interpretação? valor contrastivo entre ser e não-ser, entre loucura e lucidez.
que pretendiam dar uma explicação absoluta sobre a mente huma-
na, sobre a sanidade e a insanidade da alma. A frase é ambígua e irônica, porque ao pronunciá-la como quem se
define com grande dignidade, Simão Bacamarte parece não perceber
6. O que levou Bacamarte a duvidar do veredicto de loucura
9. De quais efeitos de linguagem o narrador se vale para
caracterizar uma obra que trata da ciência? INTERTEXTUALIDADE
que, ao mesmo tempo, anuncia todo o teor caricaturesco de sua vida.
2. Quais são as principais correntes de pensamento criticadas
Pois quem faz da ciência sua única ocupação (emprego), não tem
que ele deu aos habitantes de Itaguaí?
Como se trata de uma sátira a um determinado tipo de cientifi-
em O alienista?
olhos para outras coisas e, portanto, não consegue medir corretamen-
te o valor das conclusões científicas de seu trabalho. Machado de Assis,
desse modo, critica a especialização exacerbada, pois quem só estuda
Em primeiro lugar, a quantidade de pessoas consideradas loucas: qua-
tro quintos da cidade. Em segundo, a cura rápida dessas pessoas. Se
cismo do século XIX, a obra recorre a uma linguagem objetiva e
impessoal, procurando apresentar com fidelidade os fatos ocorri-
12. Escolha um conto de Machado de Assis indicado no boxe
“Machado de Assis: contos e novelas”, da seção Diários de um
Sobretudo o pensamento positivista, que acreditava ser possível elas fossem de fato loucas, não conseguiriam passar nos testes que ele dos. Para tanto, o recurso das crônicas é importante, pois funcio-
uma única coisa perde de vista o valor desse objeto de estudo, pois não Clássico, e faça uma comparação com O alienista. Muitos dos
chegar a uma verdade incontestável sobre todas as coisas, inclusive 2 3 mesmo elaborou e que também são, a seu modo, disparatados. 4 na como se o narrador estivesse colhendo relatos já existentes, o 5 6
consegue confrontá-lo com objetos de outra natureza. Já a segunda contos citados têm pontos em comum entre si e também pon-
sobre a essência do homem. Mas também são criticadas a medici- Serviram apenas como álibi para a sua honestidade, demonstrando a que lhe confere maior veracidade. Pode-se dizer que o autor
afirmação também ressalta o aspecto caricato de Simão. Afinal, a ciên- tos em comum com esta obra. Pesquise.
na, a psiquiatria e toda a voga cientificista, que queria erguer a ciên- sua boa intenção, mas mostraram também o fracasso de suas teorias. simula uma linguagem mais próxima da científica, justamente
cia consiste em analisar o universo, entender sua totalidade. Se o per-
cia a um estatuto de única verdade válida. para amplificar o efeito cômico do protagonista Simão Bacamarte
sonagem diz que Itaguaí é seu universo, ele está atestando as limita- A proposta é um pequeno trabalho de pesquisa, unindo dialogicamen-
ções provincianas de sua própria concepção de ciência, e, portanto,
7. Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para as seguintes afir-
e de todo o enredo. Assim, ao explanar sobre as hipóteses e teo- te os Diários de um Clássico e este Suplemento de Atividades. O boxe
3. A obra de Machado de Assis geralmente trata da impossibi-
lidade de chegarmos à verdade das coisas. Nos seus romances,
negando o valor positivo, universal, da mesma. Machado de Assis pro-
pôs demonstrar, em trechos como esse, a discrepância entre as idéias
mações sobre O alienista:
rias aventadas por Simão, o narrador apóia-se em uma lingua-
gem também pretensamente neutra, o que só confirma o fracas-
so da neutralidade e a ruína das concepções científicas descritas
faz menção a alguns contos de Machado de Assis que, se não chegam
a tratar diretamente da loucura, trabalham temas afins, como os jogos
criadas na Europa e a assimilação delas no Brasil, reduzindo o seu entre a verdade e a mentira, a máscara e a realidade, o certo e o erra-
ele fala muito das máscaras sociais. Em que sentido esse traço poder de alcance e traduzindo-as de modo típico e não universal. (F) O alienista representa um dos marcos do pensamento cientí- ao longo da novela. do, o avesso e o direito. Alguns desses contos são conhecidos pelos alu-
marcante de sua obra reaparece em O alienista? Comente. fico no século XIX. nos e geralmente trabalhados em diálogo com os romances. A idéia,
(F) Todos os habitantes de Itaguaí são favoráveis aos métodos de aqui, é cotejá-los, desta vez com O alienista.
Podemos pensar que a crítica de Machado de Assis à ciência se
NARRATIVA Simão Bacamarte. PERSONAGENS
baseia justamente neste ponto: é impossível conhecermos a verdade (F) Simão Bacamarte conta com o apoio de Porfírio.
última das coisas, sobretudo em se tratando da verdade humana.
Nesse sentido, a novela O alienista é central em sua obra ficcional e
em seu pensamento. Ela dialoga com os demais livros, com os
5. Tendo em vista o desfecho da narrativa, podemos dizer que
(V) Crispim Soares é uma das peças-chave para a realização dos
projetos científicos de Bacamarte. 10. Há algum personagem “normal” em O alienista? 13. Leia o trecho seguinte:
Simão Bacamarte é realmente louco? Justifique. (V) O tema central de O alienista é uma paródia da ciência.
romances e, sobretudo, com os contos. Se, por um lado, como em (F) Bacamarte não tem coragem de encarcerar a própria esposa Seria preciso criar um ponto de vista sobre loucura e sanidade para (...)
Memórias póstumas de Brás Cubas, o autor relativiza os valores a par- em Casa Verde. responder a essa questão. Certamente, todos contarão com alguns Disse isto, e calou-se, para ruminar o pasmo do boticário. Depois expli-
Não. Porque ele acabou dando esse atestado de loucura a si mesmo por
tir de uma visão da vida fornecida depois da morte, e em Dom (V) Porfírio é uma caricatura da política, assim como Bacamarte traços de algo semelhante à loucura, sem, contudo, poderem ser cou compridamente a sua idéia. No conceito dele a insânia abrangia
meio de uma teoria que era, ela mesma, infundada e, portanto, louca.
Casmurro coloca o leitor diante do enigma indecifrável da traição (e, o é da ciência. caracterizados como loucos. uma vasta superfície de cérebros; e desenvolveu isto com grande cópia
A grande brincadeira de Machado sobre a loucura consiste em nos
portanto, da verdade), em O alienista essa busca da verdade assume dizer que, se não há razão pura, tampouco há a loucura. Se Simão reco-
UMA OBRA CLÁSSICA os traços de uma verdadeira obsessão. Mas de saída ela nos é veda- lheu à prisão de Casa Verde quase a cidade inteira, ele o fez porque sua
NARRADOR
1. Qual o principal tema de O alienista? Justifique sua resposta.
da, e cabe a Simão Bacamarte encenar o papel ridículo que lhe cabe,
e, assim, destruir, aos olhos do leitor, a confiança em qualquer obje-
tividade científica que se pretenda absoluta e universal.
teoria se baseava em crenças totalmente disparatadas, o que quer dizer
que a cidade não era louca, mas sã. Porém, quando ele mesmo se encar-
cera e liberta a cidade, nada se corrige, pois sua atitude padece do
8. Qual é a estratégia narrativa utilizada em O alienista para
11. Qual a relação existente entre Porfírio e Bacamarte?
dar uma sensação de objetividade científica?
O tema principal de O alienista é a loucura. Mas é preciso também mesmo mal. Se a cidade toda não é louca, ele, Simão, sozinho, também
ressaltar que a novela trata de sua relatividade, ao mesmo tempo
em que empreende uma dura crítica à ciência e a certas doutrinas
filosóficas vigentes no século XIX. O tema da obra é, portanto, tri-
4. Comente a seguinte frase de Simão Bacamarte: “A ciência
é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo”. Por que ela
não o é. A sátira de Machado tem como alvo as teorias que se preten-
dem absolutas; ela lança seu riso ferino justamente sobre esse parado-
xo intransponível: se todos são loucos, ninguém o é, pois deixa de haver
O alienista é narrado em terceira pessoa, e o narrador se baseia no
relato de crônicas antigas, o que promove um deslocamento tem-
Ambos são caricaturas de duas grandes instituições: a política e a
ciência, respectivamente.
poral em relação ao presente.
plo: 1) a loucura; 2) a sua relatividade; 3) a crítica das idéias vigentes é irônica? O que nos autoriza a fazer essa interpretação? valor contrastivo entre ser e não-ser, entre loucura e lucidez.
que pretendiam dar uma explicação absoluta sobre a mente huma-
na, sobre a sanidade e a insanidade da alma. A frase é ambígua e irônica, porque ao pronunciá-la como quem se
define com grande dignidade, Simão Bacamarte parece não perceber
6. O que levou Bacamarte a duvidar do veredicto de loucura
9. De quais efeitos de linguagem o narrador se vale para
caracterizar uma obra que trata da ciência? INTERTEXTUALIDADE
que, ao mesmo tempo, anuncia todo o teor caricaturesco de sua vida.
2. Quais são as principais correntes de pensamento criticadas
Pois quem faz da ciência sua única ocupação (emprego), não tem
que ele deu aos habitantes de Itaguaí?
Como se trata de uma sátira a um determinado tipo de cientifi-
em O alienista?
olhos para outras coisas e, portanto, não consegue medir corretamen-
te o valor das conclusões científicas de seu trabalho. Machado de Assis,
desse modo, critica a especialização exacerbada, pois quem só estuda
Em primeiro lugar, a quantidade de pessoas consideradas loucas: qua-
tro quintos da cidade. Em segundo, a cura rápida dessas pessoas. Se
cismo do século XIX, a obra recorre a uma linguagem objetiva e
impessoal, procurando apresentar com fidelidade os fatos ocorri-
12. Escolha um conto de Machado de Assis indicado no boxe
“Machado de Assis: contos e novelas”, da seção Diários de um
Sobretudo o pensamento positivista, que acreditava ser possível elas fossem de fato loucas, não conseguiriam passar nos testes que ele dos. Para tanto, o recurso das crônicas é importante, pois funcio-
uma única coisa perde de vista o valor desse objeto de estudo, pois não Clássico, e faça uma comparação com O alienista. Muitos dos
chegar a uma verdade incontestável sobre todas as coisas, inclusive 2 3 mesmo elaborou e que também são, a seu modo, disparatados. 4 na como se o narrador estivesse colhendo relatos já existentes, o 5 6
consegue confrontá-lo com objetos de outra natureza. Já a segunda contos citados têm pontos em comum entre si e também pon-
sobre a essência do homem. Mas também são criticadas a medici- Serviram apenas como álibi para a sua honestidade, demonstrando a que lhe confere maior veracidade. Pode-se dizer que o autor
afirmação também ressalta o aspecto caricato de Simão. Afinal, a ciên- tos em comum com esta obra. Pesquise.
na, a psiquiatria e toda a voga cientificista, que queria erguer a ciên- sua boa intenção, mas mostraram também o fracasso de suas teorias. simula uma linguagem mais próxima da científica, justamente
cia consiste em analisar o universo, entender sua totalidade. Se o per-
cia a um estatuto de única verdade válida. para amplificar o efeito cômico do protagonista Simão Bacamarte
sonagem diz que Itaguaí é seu universo, ele está atestando as limita- A proposta é um pequeno trabalho de pesquisa, unindo dialogicamen-
ções provincianas de sua própria concepção de ciência, e, portanto,
7. Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para as seguintes afir-
e de todo o enredo. Assim, ao explanar sobre as hipóteses e teo- te os Diários de um Clássico e este Suplemento de Atividades. O boxe
3. A obra de Machado de Assis geralmente trata da impossibi-
lidade de chegarmos à verdade das coisas. Nos seus romances,
negando o valor positivo, universal, da mesma. Machado de Assis pro-
pôs demonstrar, em trechos como esse, a discrepância entre as idéias
mações sobre O alienista:
rias aventadas por Simão, o narrador apóia-se em uma lingua-
gem também pretensamente neutra, o que só confirma o fracas-
so da neutralidade e a ruína das concepções científicas descritas
faz menção a alguns contos de Machado de Assis que, se não chegam
a tratar diretamente da loucura, trabalham temas afins, como os jogos
criadas na Europa e a assimilação delas no Brasil, reduzindo o seu entre a verdade e a mentira, a máscara e a realidade, o certo e o erra-
ele fala muito das máscaras sociais. Em que sentido esse traço poder de alcance e traduzindo-as de modo típico e não universal. (F) O alienista representa um dos marcos do pensamento cientí- ao longo da novela. do, o avesso e o direito. Alguns desses contos são conhecidos pelos alu-
marcante de sua obra reaparece em O alienista? Comente. fico no século XIX. nos e geralmente trabalhados em diálogo com os romances. A idéia,
(F) Todos os habitantes de Itaguaí são favoráveis aos métodos de aqui, é cotejá-los, desta vez com O alienista.
Podemos pensar que a crítica de Machado de Assis à ciência se
NARRATIVA Simão Bacamarte. PERSONAGENS
baseia justamente neste ponto: é impossível conhecermos a verdade (F) Simão Bacamarte conta com o apoio de Porfírio.
última das coisas, sobretudo em se tratando da verdade humana.
Nesse sentido, a novela O alienista é central em sua obra ficcional e
em seu pensamento. Ela dialoga com os demais livros, com os
5. Tendo em vista o desfecho da narrativa, podemos dizer que
(V) Crispim Soares é uma das peças-chave para a realização dos
projetos científicos de Bacamarte. 10. Há algum personagem “normal” em O alienista? 13. Leia o trecho seguinte:
Simão Bacamarte é realmente louco? Justifique. (V) O tema central de O alienista é uma paródia da ciência.
romances e, sobretudo, com os contos. Se, por um lado, como em (F) Bacamarte não tem coragem de encarcerar a própria esposa Seria preciso criar um ponto de vista sobre loucura e sanidade para (...)
Memórias póstumas de Brás Cubas, o autor relativiza os valores a par- em Casa Verde. responder a essa questão. Certamente, todos contarão com alguns Disse isto, e calou-se, para ruminar o pasmo do boticário. Depois expli-
Não. Porque ele acabou dando esse atestado de loucura a si mesmo por
tir de uma visão da vida fornecida depois da morte, e em Dom (V) Porfírio é uma caricatura da política, assim como Bacamarte traços de algo semelhante à loucura, sem, contudo, poderem ser cou compridamente a sua idéia. No conceito dele a insânia abrangia
meio de uma teoria que era, ela mesma, infundada e, portanto, louca.
Casmurro coloca o leitor diante do enigma indecifrável da traição (e, o é da ciência. caracterizados como loucos. uma vasta superfície de cérebros; e desenvolveu isto com grande cópia
A grande brincadeira de Machado sobre a loucura consiste em nos
de raciocínios, de textos, de exemplos. Os exemplos achou-os na histó-
ria e em Itaguaí, mas, como um raro espírito que era, reconheceu o
perigo de citar todos os casos de Itaguaí e refugiou-se na história. Assim,
15. Leia estes trechos considerando o contexto de O alienista:
loucura. O alienista Simão Bacamarte pecou drasticamente por não
reconhecer com nitidez nenhum desses aspectos que distinguem
loucura e lucidez. Primeiro, traduziu tudo o que não era a regra
apontou com especialidade alguns personagens célebres, Sócrates, que
tinha um demônio familiar, Pascal, que via um abismo à esquerda,
A loucura, porém, não está somente ligada às assombrações e aos
mistérios do mundo, mas ao próprio homem, às suas fraquezas, às
como loucura. Segundo, negou que a loucura ajude a definir o que
venha a ser a razão, pretendendo isolar o que ele chamou de razão SUPLEMENTO
DE ATIVIDADES
Maomé, Caracala, Domiciano, Calígula, etc., uma enfiada de casos e suas ilusões e a seus sonhos, representando um sutil relacionamento pura. Terceiro, não relativizou o papel social que ele, como alienista,
pessoas, em que de mistura vinham entidades odiosas, e entidades ridí- que o homem mantém consigo mesmo. Aqui, portanto, a loucura desempenhava na sociedade, definindo o louco e o são. Assim,
culas. E porque o boticário se admirasse de uma tal promiscuidade, o CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA não diz respeito à verdade do mundo, mas ao homem e à verdade como detentor de um saber absoluto e dono de uma verdade que só
alienista disse-lhe que era tudo a mesma coisa. que ele distingue de si mesmo. ele mesmo conhecia, acabou seus dias trancado na Casa Verde,

ASSIS, Machado de. “Capítulo IV: Uma teoria nova”.


In: Helena e O alienista. Rio de Janeiro: Editora Três, 1972.
14. Leia os trechos a seguir:
(...)
O grande jogo da história será de quem se apoderar das regras, de
quem tomar o lugar daqueles que as utilizam, de quem se disfarçar
como maior ironia de seu destino em busca da verdade.

Embora os homens costumem ferir a minha reputação e eu saiba para pervertê-las, utilizá-las ao inverso e voltá-las contra aqueles que A NOVA DO CADÁVER - A SUA ENTREVISTA IMAGINÁRIA
Comente qual a principal ironia presente no raciocínio de Simão muito bem como meu nome soa mal aos ouvidos dos mais tolos, as tinham imposto.
orgulho-me de vos dizer que esta Loucura, sim, esta Loucura que Agora é com você, caro leitor.
Bacamarte. Como o autor nos faz subentender que os argumen- (...)
estais vendo é a única capaz de alegrar os deuses e os mortais. A Valendo-se das orientações desta edição e das suas respostas às
tos de Bacamarte são loucos? A verdade da loucura é ser interior à razão, ser uma de suas figuras,
prova incontestável do que afirmo está em que não sei que súbita e atividades de leitura, elabore uma nova entrevista com o autor,
uma força e como que uma necessidade momentânea a fim de
desumana alegria brilhou no rosto de todos ao aparecer eu diante mais ou menos como a Entrevista Imaginária do final do livro.
A fina ironia desse trecho reside na enumeração dos supostos lou- melhor certificar-se de si mesma.
deste numerosíssimo auditório. Isso mesmo! Ainda que Machado de Assis não esteja entre nós,
cos: Sócrates, Pascal, Maomé, junto com Calígula e outros. A mistu- sua obra está cada vez mais viva nesse país que já nasceu por
7 8 9 10
ra de personagens históricos e a sua definição como loucos, segun- (...) FOUCAULT, Michel apud VIEIRA, Priscila Piazentini. 1
do as teorias de Simão, criam o efeito cômico, demonstrando que Bastou, pois, minha simples presença para eu obter o que valentes “Reflexões sobre A história da loucura de Michel Foucault”. ironia e assim chegou à República e à independência. NOME:
oradores mal teriam podido conseguir com um longo e longamente In: Revista Aulas: Dossiê Foucault. Organização de Margareth Rago Ter sido o precursor do Realismo entre nós, ter criado o cínico e NO: SÉRIE:
quem padece de loucura é ele, o alienista. Por outro lado, Machado & Adilton Luís Martins. n.° 3, dez. 2006/mar. 2007. bon-vivant Brás Cubas, Quincas Borba – o filósofo mendigo – e,
de Assis desenvolve uma sutileza no texto, pois ressalta que meditado discurso: expulsar a tristeza de vossas almas. ESCOLA:
é claro, Capitu – genuíno ícone da mulher contemporânea –,
Bacamarte evitava nomear os loucos de Itaguaí e, por isso, refugia- não serão ingredientes suficientes para compor uma conversa
ROTTERDAM, Erasmo de. Elogio da loucura.
va-se na história. Isso quer dizer que ele, a despeito da crença venal
em sua teoria mirabolante, ainda era malicioso o suficiente para não
querer comprometer sua reputação na cidade, preferindo impingir a
São Paulo: Abril Cultural, 1972. Que relações podemos estabelecer entre essas definições da lou-
cura, feitas pelo filósofo francês Michel Foucault, no século XX,
franca com o mais aclamado autor de nossas letras?
Questioná-lo acerca da verdade por trás de O alienista. Afinal, E scritor dos mais aclamados, Machado de Assis representa
um dos pontos culminantes da literatura brasileira.
Em que sentido essa visão da loucura, descrita por Erasmo de e a proposta de O alienista? Explique. quem é de fato louco ou são neste mundo? Qual a idéia original
definição de louco a grandes nomes da civilização ocidental a fazê-lo o autor teve para escrever essa obra? Dentro de sua obra, O alienista é central, pela permanente inver-
Rotterdam, no século XVI, se distingue daquela proposta em O
em relação a seus conterrâneos. Entra aqui uma boa dose de visão Pode-se também abordar a composição das famosas tramas que são do avesso e do direito, da norma e da exceção, temas cons-
alienista? Os trechos extraídos da obra de Michel Foucault levantam três pon-
crítica sobre as relações sociais brasileiras, e o medo de expor idéias teriam legado ao escritor o apelido de Bruxo do Cosme Velho. O tantes de sua vasta bibliografia e para os quais o autor deu algu-
tos principais para uma compreensão da loucura: 1) A loucura não é
verdadeiras que comprometam nossa imagem diante do próximo. que será que ele acharia dessa alcunha? E o que acharia dos mas das melhores contribuições ficcionais.
A visão de Erasmo é a renascentista e, portanto, vê a loucura não do uma assombração e não está ligada apenas ao mistério e ao inexpli-
escritores que hoje ocupam as famosas cadeiras da Academia As atividades a seguir pretendem ampliar a compreensão desta
ponto de vista científico, medicinal e catalogador, mas sim mitológi- cável, mas à interioridade do ser humano; 2) A loucura é um com-
Brasileira de Letras, instituição da qual foi o fundador? obra e deste tempo. Desenvolva-as após a leitura do livro, dos
co. Ela é uma espécie de deusa que anima o espírito dos homens, ponente central na história da civilização, porque, não sendo abso-
(Se quiser saber mais sobre isso, acesse o site www.academia.org.br/) Diários de um Clássico, da Contextualização Histórica e da
transformando os seus comportamentos. Embora Erasmo também luta, como queria Simão Bacamarte, em cada época ela é definida
Capriche e bom trabalho! Entrevista Imaginária.
use a figura da Loucura para tecer fortes críticas à sua época, ele não por aqueles que detêm as regras e o poder, dizendo o que ela é, sepa-
deixa de jogar com a ambigüidade dessa deusa, a um só tempo rando-a do que é lúcido, racional e saudável; 3) A loucura é interior
maléfica e deslumbrante, pois incita os homens a fazer coisas que à razão, porque só podemos nos certificar de nossa razão e do que
não teriam coragem de fazer em sua plena razão. venha a ser a racionalidade se temos, por contraste, a experiência da
de raciocínios, de textos, de exemplos. Os exemplos achou-os na histó-
ria e em Itaguaí, mas, como um raro espírito que era, reconheceu o
perigo de citar todos os casos de Itaguaí e refugiou-se na história. Assim,
15. Leia estes trechos considerando o contexto de O alienista:
loucura. O alienista Simão Bacamarte pecou drasticamente por não
reconhecer com nitidez nenhum desses aspectos que distinguem
loucura e lucidez. Primeiro, traduziu tudo o que não era a regra
apontou com especialidade alguns personagens célebres, Sócrates, que
tinha um demônio familiar, Pascal, que via um abismo à esquerda,
A loucura, porém, não está somente ligada às assombrações e aos
mistérios do mundo, mas ao próprio homem, às suas fraquezas, às
como loucura. Segundo, negou que a loucura ajude a definir o que
venha a ser a razão, pretendendo isolar o que ele chamou de razão SUPLEMENTO
DE ATIVIDADES
Maomé, Caracala, Domiciano, Calígula, etc., uma enfiada de casos e suas ilusões e a seus sonhos, representando um sutil relacionamento pura. Terceiro, não relativizou o papel social que ele, como alienista,
pessoas, em que de mistura vinham entidades odiosas, e entidades ridí- que o homem mantém consigo mesmo. Aqui, portanto, a loucura desempenhava na sociedade, definindo o louco e o são. Assim,
culas. E porque o boticário se admirasse de uma tal promiscuidade, o CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA não diz respeito à verdade do mundo, mas ao homem e à verdade como detentor de um saber absoluto e dono de uma verdade que só
alienista disse-lhe que era tudo a mesma coisa. que ele distingue de si mesmo. ele mesmo conhecia, acabou seus dias trancado na Casa Verde,

ASSIS, Machado de. “Capítulo IV: Uma teoria nova”.


In: Helena e O alienista. Rio de Janeiro: Editora Três, 1972.
14. Leia os trechos a seguir:
(...)
O grande jogo da história será de quem se apoderar das regras, de
quem tomar o lugar daqueles que as utilizam, de quem se disfarçar
como maior ironia de seu destino em busca da verdade.

Embora os homens costumem ferir a minha reputação e eu saiba para pervertê-las, utilizá-las ao inverso e voltá-las contra aqueles que A NOVA DO CADÁVER - A SUA ENTREVISTA IMAGINÁRIA
Comente qual a principal ironia presente no raciocínio de Simão muito bem como meu nome soa mal aos ouvidos dos mais tolos, as tinham imposto.
orgulho-me de vos dizer que esta Loucura, sim, esta Loucura que Agora é com você, caro leitor.
Bacamarte. Como o autor nos faz subentender que os argumen- (...)
estais vendo é a única capaz de alegrar os deuses e os mortais. A Valendo-se das orientações desta edição e das suas respostas às
tos de Bacamarte são loucos? A verdade da loucura é ser interior à razão, ser uma de suas figuras,
prova incontestável do que afirmo está em que não sei que súbita e atividades de leitura, elabore uma nova entrevista com o autor,
uma força e como que uma necessidade momentânea a fim de
desumana alegria brilhou no rosto de todos ao aparecer eu diante mais ou menos como a Entrevista Imaginária do final do livro.
A fina ironia desse trecho reside na enumeração dos supostos lou- melhor certificar-se de si mesma.
deste numerosíssimo auditório. Isso mesmo! Ainda que Machado de Assis não esteja entre nós,
cos: Sócrates, Pascal, Maomé, junto com Calígula e outros. A mistu- sua obra está cada vez mais viva nesse país que já nasceu por
7 8 9 10
ra de personagens históricos e a sua definição como loucos, segun- (...) FOUCAULT, Michel apud VIEIRA, Priscila Piazentini. 1
do as teorias de Simão, criam o efeito cômico, demonstrando que Bastou, pois, minha simples presença para eu obter o que valentes “Reflexões sobre A história da loucura de Michel Foucault”. ironia e assim chegou à República e à independência. NOME:
oradores mal teriam podido conseguir com um longo e longamente In: Revista Aulas: Dossiê Foucault. Organização de Margareth Rago Ter sido o precursor do Realismo entre nós, ter criado o cínico e NO: SÉRIE:
quem padece de loucura é ele, o alienista. Por outro lado, Machado & Adilton Luís Martins. n.° 3, dez. 2006/mar. 2007. bon-vivant Brás Cubas, Quincas Borba – o filósofo mendigo – e,
de Assis desenvolve uma sutileza no texto, pois ressalta que meditado discurso: expulsar a tristeza de vossas almas. ESCOLA:
é claro, Capitu – genuíno ícone da mulher contemporânea –,
Bacamarte evitava nomear os loucos de Itaguaí e, por isso, refugia- não serão ingredientes suficientes para compor uma conversa
ROTTERDAM, Erasmo de. Elogio da loucura.
va-se na história. Isso quer dizer que ele, a despeito da crença venal
em sua teoria mirabolante, ainda era malicioso o suficiente para não
querer comprometer sua reputação na cidade, preferindo impingir a
São Paulo: Abril Cultural, 1972. Que relações podemos estabelecer entre essas definições da lou-
cura, feitas pelo filósofo francês Michel Foucault, no século XX,
franca com o mais aclamado autor de nossas letras?
Questioná-lo acerca da verdade por trás de O alienista. Afinal, E scritor dos mais aclamados, Machado de Assis representa
um dos pontos culminantes da literatura brasileira.
Em que sentido essa visão da loucura, descrita por Erasmo de e a proposta de O alienista? Explique. quem é de fato louco ou são neste mundo? Qual a idéia original
definição de louco a grandes nomes da civilização ocidental a fazê-lo o autor teve para escrever essa obra? Dentro de sua obra, O alienista é central, pela permanente inver-
Rotterdam, no século XVI, se distingue daquela proposta em O
em relação a seus conterrâneos. Entra aqui uma boa dose de visão Pode-se também abordar a composição das famosas tramas que são do avesso e do direito, da norma e da exceção, temas cons-
alienista? Os trechos extraídos da obra de Michel Foucault levantam três pon-
crítica sobre as relações sociais brasileiras, e o medo de expor idéias teriam legado ao escritor o apelido de Bruxo do Cosme Velho. O tantes de sua vasta bibliografia e para os quais o autor deu algu-
tos principais para uma compreensão da loucura: 1) A loucura não é
verdadeiras que comprometam nossa imagem diante do próximo. que será que ele acharia dessa alcunha? E o que acharia dos mas das melhores contribuições ficcionais.
A visão de Erasmo é a renascentista e, portanto, vê a loucura não do uma assombração e não está ligada apenas ao mistério e ao inexpli-
escritores que hoje ocupam as famosas cadeiras da Academia As atividades a seguir pretendem ampliar a compreensão desta
ponto de vista científico, medicinal e catalogador, mas sim mitológi- cável, mas à interioridade do ser humano; 2) A loucura é um com-
Brasileira de Letras, instituição da qual foi o fundador? obra e deste tempo. Desenvolva-as após a leitura do livro, dos
co. Ela é uma espécie de deusa que anima o espírito dos homens, ponente central na história da civilização, porque, não sendo abso-
(Se quiser saber mais sobre isso, acesse o site www.academia.org.br/) Diários de um Clássico, da Contextualização Histórica e da
transformando os seus comportamentos. Embora Erasmo também luta, como queria Simão Bacamarte, em cada época ela é definida
Capriche e bom trabalho! Entrevista Imaginária.
use a figura da Loucura para tecer fortes críticas à sua época, ele não por aqueles que detêm as regras e o poder, dizendo o que ela é, sepa-
deixa de jogar com a ambigüidade dessa deusa, a um só tempo rando-a do que é lúcido, racional e saudável; 3) A loucura é interior
maléfica e deslumbrante, pois incita os homens a fazer coisas que à razão, porque só podemos nos certificar de nossa razão e do que
não teriam coragem de fazer em sua plena razão. venha a ser a racionalidade se temos, por contraste, a experiência da
de raciocínios, de textos, de exemplos. Os exemplos achou-os na histó-
ria e em Itaguaí, mas, como um raro espírito que era, reconheceu o
perigo de citar todos os casos de Itaguaí e refugiou-se na história. Assim,
15. Leia estes trechos considerando o contexto de O alienista:
loucura. O alienista Simão Bacamarte pecou drasticamente por não
reconhecer com nitidez nenhum desses aspectos que distinguem
loucura e lucidez. Primeiro, traduziu tudo o que não era a regra
apontou com especialidade alguns personagens célebres, Sócrates, que
tinha um demônio familiar, Pascal, que via um abismo à esquerda,
A loucura, porém, não está somente ligada às assombrações e aos
mistérios do mundo, mas ao próprio homem, às suas fraquezas, às
como loucura. Segundo, negou que a loucura ajude a definir o que
venha a ser a razão, pretendendo isolar o que ele chamou de razão SUPLEMENTO
DE ATIVIDADES
Maomé, Caracala, Domiciano, Calígula, etc., uma enfiada de casos e suas ilusões e a seus sonhos, representando um sutil relacionamento pura. Terceiro, não relativizou o papel social que ele, como alienista,
pessoas, em que de mistura vinham entidades odiosas, e entidades ridí- que o homem mantém consigo mesmo. Aqui, portanto, a loucura desempenhava na sociedade, definindo o louco e o são. Assim,
culas. E porque o boticário se admirasse de uma tal promiscuidade, o CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA não diz respeito à verdade do mundo, mas ao homem e à verdade como detentor de um saber absoluto e dono de uma verdade que só
alienista disse-lhe que era tudo a mesma coisa. que ele distingue de si mesmo. ele mesmo conhecia, acabou seus dias trancado na Casa Verde,

ASSIS, Machado de. “Capítulo IV: Uma teoria nova”.


In: Helena e O alienista. Rio de Janeiro: Editora Três, 1972.
14. Leia os trechos a seguir:
(...)
O grande jogo da história será de quem se apoderar das regras, de
quem tomar o lugar daqueles que as utilizam, de quem se disfarçar
como maior ironia de seu destino em busca da verdade.

Embora os homens costumem ferir a minha reputação e eu saiba para pervertê-las, utilizá-las ao inverso e voltá-las contra aqueles que A NOVA DO CADÁVER - A SUA ENTREVISTA IMAGINÁRIA
Comente qual a principal ironia presente no raciocínio de Simão muito bem como meu nome soa mal aos ouvidos dos mais tolos, as tinham imposto.
orgulho-me de vos dizer que esta Loucura, sim, esta Loucura que Agora é com você, caro leitor.
Bacamarte. Como o autor nos faz subentender que os argumen- (...)
estais vendo é a única capaz de alegrar os deuses e os mortais. A Valendo-se das orientações desta edição e das suas respostas às
tos de Bacamarte são loucos? A verdade da loucura é ser interior à razão, ser uma de suas figuras,
prova incontestável do que afirmo está em que não sei que súbita e atividades de leitura, elabore uma nova entrevista com o autor,
uma força e como que uma necessidade momentânea a fim de
desumana alegria brilhou no rosto de todos ao aparecer eu diante mais ou menos como a Entrevista Imaginária do final do livro.
A fina ironia desse trecho reside na enumeração dos supostos lou- melhor certificar-se de si mesma.
deste numerosíssimo auditório. Isso mesmo! Ainda que Machado de Assis não esteja entre nós,
cos: Sócrates, Pascal, Maomé, junto com Calígula e outros. A mistu- sua obra está cada vez mais viva nesse país que já nasceu por
7 8 9 10
ra de personagens históricos e a sua definição como loucos, segun- (...) FOUCAULT, Michel apud VIEIRA, Priscila Piazentini. 1
do as teorias de Simão, criam o efeito cômico, demonstrando que Bastou, pois, minha simples presença para eu obter o que valentes “Reflexões sobre A história da loucura de Michel Foucault”. ironia e assim chegou à República e à independência. NOME:
oradores mal teriam podido conseguir com um longo e longamente In: Revista Aulas: Dossiê Foucault. Organização de Margareth Rago Ter sido o precursor do Realismo entre nós, ter criado o cínico e NO: SÉRIE:
quem padece de loucura é ele, o alienista. Por outro lado, Machado & Adilton Luís Martins. n.° 3, dez. 2006/mar. 2007. bon-vivant Brás Cubas, Quincas Borba – o filósofo mendigo – e,
de Assis desenvolve uma sutileza no texto, pois ressalta que meditado discurso: expulsar a tristeza de vossas almas. ESCOLA:
é claro, Capitu – genuíno ícone da mulher contemporânea –,
Bacamarte evitava nomear os loucos de Itaguaí e, por isso, refugia- não serão ingredientes suficientes para compor uma conversa
ROTTERDAM, Erasmo de. Elogio da loucura.
va-se na história. Isso quer dizer que ele, a despeito da crença venal
em sua teoria mirabolante, ainda era malicioso o suficiente para não
querer comprometer sua reputação na cidade, preferindo impingir a
São Paulo: Abril Cultural, 1972. Que relações podemos estabelecer entre essas definições da lou-
cura, feitas pelo filósofo francês Michel Foucault, no século XX,
franca com o mais aclamado autor de nossas letras?
Questioná-lo acerca da verdade por trás de O alienista. Afinal, E scritor dos mais aclamados, Machado de Assis representa
um dos pontos culminantes da literatura brasileira.
Em que sentido essa visão da loucura, descrita por Erasmo de e a proposta de O alienista? Explique. quem é de fato louco ou são neste mundo? Qual a idéia original
definição de louco a grandes nomes da civilização ocidental a fazê-lo o autor teve para escrever essa obra? Dentro de sua obra, O alienista é central, pela permanente inver-
Rotterdam, no século XVI, se distingue daquela proposta em O
em relação a seus conterrâneos. Entra aqui uma boa dose de visão Pode-se também abordar a composição das famosas tramas que são do avesso e do direito, da norma e da exceção, temas cons-
alienista? Os trechos extraídos da obra de Michel Foucault levantam três pon-
crítica sobre as relações sociais brasileiras, e o medo de expor idéias teriam legado ao escritor o apelido de Bruxo do Cosme Velho. O tantes de sua vasta bibliografia e para os quais o autor deu algu-
tos principais para uma compreensão da loucura: 1) A loucura não é
verdadeiras que comprometam nossa imagem diante do próximo. que será que ele acharia dessa alcunha? E o que acharia dos mas das melhores contribuições ficcionais.
A visão de Erasmo é a renascentista e, portanto, vê a loucura não do uma assombração e não está ligada apenas ao mistério e ao inexpli-
escritores que hoje ocupam as famosas cadeiras da Academia As atividades a seguir pretendem ampliar a compreensão desta
ponto de vista científico, medicinal e catalogador, mas sim mitológi- cável, mas à interioridade do ser humano; 2) A loucura é um com-
Brasileira de Letras, instituição da qual foi o fundador? obra e deste tempo. Desenvolva-as após a leitura do livro, dos
co. Ela é uma espécie de deusa que anima o espírito dos homens, ponente central na história da civilização, porque, não sendo abso-
(Se quiser saber mais sobre isso, acesse o site www.academia.org.br/) Diários de um Clássico, da Contextualização Histórica e da
transformando os seus comportamentos. Embora Erasmo também luta, como queria Simão Bacamarte, em cada época ela é definida
Capriche e bom trabalho! Entrevista Imaginária.
use a figura da Loucura para tecer fortes críticas à sua época, ele não por aqueles que detêm as regras e o poder, dizendo o que ela é, sepa-
deixa de jogar com a ambigüidade dessa deusa, a um só tempo rando-a do que é lúcido, racional e saudável; 3) A loucura é interior
maléfica e deslumbrante, pois incita os homens a fazer coisas que à razão, porque só podemos nos certificar de nossa razão e do que
não teriam coragem de fazer em sua plena razão. venha a ser a racionalidade se temos, por contraste, a experiência da
de raciocínios, de textos, de exemplos. Os exemplos achou-os na histó-
ria e em Itaguaí, mas, como um raro espírito que era, reconheceu o
perigo de citar todos os casos de Itaguaí e refugiou-se na história. Assim,
15. Leia estes trechos considerando o contexto de O alienista:
loucura. O alienista Simão Bacamarte pecou drasticamente por não
reconhecer com nitidez nenhum desses aspectos que distinguem
loucura e lucidez. Primeiro, traduziu tudo o que não era a regra
apontou com especialidade alguns personagens célebres, Sócrates, que
tinha um demônio familiar, Pascal, que via um abismo à esquerda,
A loucura, porém, não está somente ligada às assombrações e aos
mistérios do mundo, mas ao próprio homem, às suas fraquezas, às
como loucura. Segundo, negou que a loucura ajude a definir o que
venha a ser a razão, pretendendo isolar o que ele chamou de razão SUPLEMENTO
DE ATIVIDADES
Maomé, Caracala, Domiciano, Calígula, etc., uma enfiada de casos e suas ilusões e a seus sonhos, representando um sutil relacionamento pura. Terceiro, não relativizou o papel social que ele, como alienista,
pessoas, em que de mistura vinham entidades odiosas, e entidades ridí- que o homem mantém consigo mesmo. Aqui, portanto, a loucura desempenhava na sociedade, definindo o louco e o são. Assim,
culas. E porque o boticário se admirasse de uma tal promiscuidade, o CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA não diz respeito à verdade do mundo, mas ao homem e à verdade como detentor de um saber absoluto e dono de uma verdade que só
alienista disse-lhe que era tudo a mesma coisa. que ele distingue de si mesmo. ele mesmo conhecia, acabou seus dias trancado na Casa Verde,

ASSIS, Machado de. “Capítulo IV: Uma teoria nova”.


In: Helena e O alienista. Rio de Janeiro: Editora Três, 1972.
14. Leia os trechos a seguir:
(...)
O grande jogo da história será de quem se apoderar das regras, de
quem tomar o lugar daqueles que as utilizam, de quem se disfarçar
como maior ironia de seu destino em busca da verdade.

Embora os homens costumem ferir a minha reputação e eu saiba para pervertê-las, utilizá-las ao inverso e voltá-las contra aqueles que A NOVA DO CADÁVER - A SUA ENTREVISTA IMAGINÁRIA
Comente qual a principal ironia presente no raciocínio de Simão muito bem como meu nome soa mal aos ouvidos dos mais tolos, as tinham imposto.
orgulho-me de vos dizer que esta Loucura, sim, esta Loucura que Agora é com você, caro leitor.
Bacamarte. Como o autor nos faz subentender que os argumen- (...)
estais vendo é a única capaz de alegrar os deuses e os mortais. A Valendo-se das orientações desta edição e das suas respostas às
tos de Bacamarte são loucos? A verdade da loucura é ser interior à razão, ser uma de suas figuras,
prova incontestável do que afirmo está em que não sei que súbita e atividades de leitura, elabore uma nova entrevista com o autor,
uma força e como que uma necessidade momentânea a fim de
desumana alegria brilhou no rosto de todos ao aparecer eu diante mais ou menos como a Entrevista Imaginária do final do livro.
A fina ironia desse trecho reside na enumeração dos supostos lou- melhor certificar-se de si mesma.
deste numerosíssimo auditório. Isso mesmo! Ainda que Machado de Assis não esteja entre nós,
cos: Sócrates, Pascal, Maomé, junto com Calígula e outros. A mistu- sua obra está cada vez mais viva nesse país que já nasceu por
7 8 9 10
ra de personagens históricos e a sua definição como loucos, segun- (...) FOUCAULT, Michel apud VIEIRA, Priscila Piazentini. 1
do as teorias de Simão, criam o efeito cômico, demonstrando que Bastou, pois, minha simples presença para eu obter o que valentes “Reflexões sobre A história da loucura de Michel Foucault”. ironia e assim chegou à República e à independência. NOME:
oradores mal teriam podido conseguir com um longo e longamente In: Revista Aulas: Dossiê Foucault. Organização de Margareth Rago Ter sido o precursor do Realismo entre nós, ter criado o cínico e NO: SÉRIE:
quem padece de loucura é ele, o alienista. Por outro lado, Machado & Adilton Luís Martins. n.° 3, dez. 2006/mar. 2007. bon-vivant Brás Cubas, Quincas Borba – o filósofo mendigo – e,
de Assis desenvolve uma sutileza no texto, pois ressalta que meditado discurso: expulsar a tristeza de vossas almas. ESCOLA:
é claro, Capitu – genuíno ícone da mulher contemporânea –,
Bacamarte evitava nomear os loucos de Itaguaí e, por isso, refugia- não serão ingredientes suficientes para compor uma conversa
ROTTERDAM, Erasmo de. Elogio da loucura.
va-se na história. Isso quer dizer que ele, a despeito da crença venal
em sua teoria mirabolante, ainda era malicioso o suficiente para não
querer comprometer sua reputação na cidade, preferindo impingir a
São Paulo: Abril Cultural, 1972. Que relações podemos estabelecer entre essas definições da lou-
cura, feitas pelo filósofo francês Michel Foucault, no século XX,
franca com o mais aclamado autor de nossas letras?
Questioná-lo acerca da verdade por trás de O alienista. Afinal, E scritor dos mais aclamados, Machado de Assis representa
um dos pontos culminantes da literatura brasileira.
Em que sentido essa visão da loucura, descrita por Erasmo de e a proposta de O alienista? Explique. quem é de fato louco ou são neste mundo? Qual a idéia original
definição de louco a grandes nomes da civilização ocidental a fazê-lo o autor teve para escrever essa obra? Dentro de sua obra, O alienista é central, pela permanente inver-
Rotterdam, no século XVI, se distingue daquela proposta em O
em relação a seus conterrâneos. Entra aqui uma boa dose de visão Pode-se também abordar a composição das famosas tramas que são do avesso e do direito, da norma e da exceção, temas cons-
alienista? Os trechos extraídos da obra de Michel Foucault levantam três pon-
crítica sobre as relações sociais brasileiras, e o medo de expor idéias teriam legado ao escritor o apelido de Bruxo do Cosme Velho. O tantes de sua vasta bibliografia e para os quais o autor deu algu-
tos principais para uma compreensão da loucura: 1) A loucura não é
verdadeiras que comprometam nossa imagem diante do próximo. que será que ele acharia dessa alcunha? E o que acharia dos mas das melhores contribuições ficcionais.
A visão de Erasmo é a renascentista e, portanto, vê a loucura não do uma assombração e não está ligada apenas ao mistério e ao inexpli-
escritores que hoje ocupam as famosas cadeiras da Academia As atividades a seguir pretendem ampliar a compreensão desta
ponto de vista científico, medicinal e catalogador, mas sim mitológi- cável, mas à interioridade do ser humano; 2) A loucura é um com-
Brasileira de Letras, instituição da qual foi o fundador? obra e deste tempo. Desenvolva-as após a leitura do livro, dos
co. Ela é uma espécie de deusa que anima o espírito dos homens, ponente central na história da civilização, porque, não sendo abso-
(Se quiser saber mais sobre isso, acesse o site www.academia.org.br/) Diários de um Clássico, da Contextualização Histórica e da
transformando os seus comportamentos. Embora Erasmo também luta, como queria Simão Bacamarte, em cada época ela é definida
Capriche e bom trabalho! Entrevista Imaginária.
use a figura da Loucura para tecer fortes críticas à sua época, ele não por aqueles que detêm as regras e o poder, dizendo o que ela é, sepa-
deixa de jogar com a ambigüidade dessa deusa, a um só tempo rando-a do que é lúcido, racional e saudável; 3) A loucura é interior
maléfica e deslumbrante, pois incita os homens a fazer coisas que à razão, porque só podemos nos certificar de nossa razão e do que
não teriam coragem de fazer em sua plena razão. venha a ser a racionalidade se temos, por contraste, a experiência da

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