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Cada um desses narradores tem um ponto de vista, isto é, um foco narrativo, uma
perspectiva particular da história.
Foco narrativo
Uma história pode ser narrada de diferentes perspectivas, isto é, de distintos pontos de
vista. O narrador pode fazer parte da trama e, assim, expor sua visão particular dos
fatos, mas pode também estar de fora, apenas como um observador dos
acontecimentos ou mesmo detentor de um conhecimento prévio acerca do enredo.
Essas diferentes maneiras de narrar-se uma história chamamos de foco narrativo.
Para ficar mais claro, imagine um romance policial de Agatha Christie (1890-1976),
narrado por um narrador que apenas observa a história. Ocorreu um crime no início da
obra. Caberá, portanto, ao detetive Hercule Poirot, e ao leitor ou leitora, descobrir o
culpado. Se você acha que a voz que narra é da própria Agatha Christie, pode achar,
também, que a história de fato aconteceu, e sua conclusão seria coerente, já que uma
pessoa real está relatando os fatos, porém a voz que conta a história é tão fictícia
quanto a própria história, o que permite à autora total liberdade de criação.
Tipos de narrador
Narrador personagem
“Como se eu estivesse por fora do movimento da vida. A vida rolando por aí feito
roda-gigante, com todo mundo dentro, e eu aqui parada, pateta, sentada no bar. Sem
fazer nada, como se tivesse desaprendido a linguagem dos outros. A linguagem que
eles usam para se comunicar quando rodam assim e assim por diante nessa roda-
gigante. Você tem um passe para a roda-gigante, uma senha, um código, sei lá. Você
fala qualquer coisa tipo bá, por exemplo, então o cara deixa você entrar, sentar e
rodar junto com os outros. Mas eu fico sempre do lado de fora. Aqui parada, sem
saber a palavra certa, sem conseguir adivinhar. Olhando de fora, a cara cheia, louca
de vontade de estar lá, rodando junto com eles nessa roda idiota — tá me
entendendo, garotão?”
Trecho do conto Dama da noite, de Caio Fernando Abreu.
“Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da
Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu.
Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da Lua e dos ministros, e acabou
recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem
inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos
três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os
versos no bolso.”
Trecho do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis.
Narrador observador
É um narrador em terceira pessoa e narra apenas o que vê, o que observa, isto é, não
participa da história e nem tem conhecimento total dos fatos e personagens:
“O sol estava começando a abaixar e a luz da tarde estava sobre a paisagem quando
desceram a colina. Até agora não tinham encontrado vivalma na estrada. [...]. Já
estavam andando havia uma hora ou mais quando Sam parou por um momento, como
se escutasse algo. Estavam agora em terreno plano, e a estrada, depois de muitas
curvas, estendia-se em linha reta através de um capinzal salpicado de árvores altas,
[...].”
Trecho do romance O senhor dos anéis, de J. R. R. Tolkien, tradução de Lenita Maria
Rímoli Esteves.
Narrador onisciente
“Clarissa fica ali parada com uma sensação de culpa, com as flores no braço, torcendo
para que a estrela apareça de novo, constrangida com seu interesse. Ela não é dada a
bajular celebridades, não mais do que a maioria das pessoas, mas não consegue evitar
a atração exercida pela aura da fama — mais do que fama, imortalidade mesmo —
[...]. Clarissa se deixa ficar parada ali, tola como qualquer fã, por mais alguns minutos,
na esperança de ver a estrela surgir. Sim, só mais alguns minutos, antes que a
humilhação se torne simplesmente demais. [...]. Depois de alguns minutos (quase dez,
embora deteste admiti-lo), parte de supetão, indignada, [...].”
Ótimos estudos!
Um beijo da Prô Nathalia.
Se precisar de ajuda, chame no insta da prô : @professoranathaliacomth