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[...]
Preso à cadeia das estrofes que amam,
Que choram lágrimas de amor por tudo,
Que, como estrelas, vagas se derramam
Num sentimento doloroso e mudo.
Preso à cadeia das estrofes-quentes
Como uma forja em labareda acesa,
Para cantar as épicas, frementes
Tragédias colossais da Natureza.
Para cantar a angústia das crianças!
Não das crianças de cor de oiro e rosa,
Mas dessas que o vergel das esperanças
Viram secar, na idade luminosa.
[...]
Das crianças vergônteas dos escravos
Desamparadas, sobre o caos, à toa
E a cujo pranto, de mil peitos bravos,
A harpa das emoções palpita e soa.
[...]
Te abres em largos braços protetores,
Em braços de carinho que as amparam,
A elas, crianças, tenebrosas flores,
Tórridas urzes que petrificaram.
[...]
As crianças negras, vermes da matéria,
Colhidas do suplício a estranha rede,
Arranca-as do presídio da miséria
E com teu sangue mata-lhes a sede!
Neste poema o eu lírico sugere que, para cantar a angústia das crianças negras, suas
estrofes são “quentes como uma forja em labaredas acesa” e com os versos iniciais do
poema, que seus sentimentos expressam amor e dor, no qual apresenta uma diferença de
tratamento social entre as crianças negras e as crianças brancas, o qual o eu lírico sugere
que, diferentemente do que ocorre com as crianças brancas (“Não das crianças cor de oiro
e rosa”), não há esperanças para as crianças negras (“mas dessas que o vergel das
esperanças / viram secar, na idade luminosa”), e em meio a tais sentimentos despertados
pelo coração, o eu lírico se volta para o mundo social, para as dores das crianças negras,
afastando-se do mundo cósmico e etéreo. Mostrando que o coração lhe desperta a piedade
e o desejo de amparar e proteger as crianças negras.
Cruz e Sousa (1861-1898) foi o mais importante poeta simbolista brasileiro. Com os
livros: Missal (poemas em prosa) e Broquéis (versos) e foi ele que inaugurou
oficialmente o Simbolismo no Brasil.
Em 1865, começou a aprender as primeiras letras com sua protetora, já com sete
anos escreveu seus primeiros versos. Em 1869 ele entrou para uma escola pública,
onde se destacava, e já com dez anos estudou francês, latim, matemática e ciências
naturais.
● Simbolismo
O Simbolismo foi um movimento literário que teve sua origem na França em 1870.
No Brasil, Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraens são os nomes mais
importantes do movimento. O simbolismo tem uma linguagem carregada de
símbolos como características que apresenta a musicalidade, a subjetividade, a
espiritualidade, o misticismo, o individualismo e a presença de figuras de linguagem
como a aliteração e a assonância.
● Dados
Uma pesquisa publicada em 2011 indica que 63,7% dos brasileiros consideram que
a raça interfere na qualidade de vida dos cidadãos. Para a maioria dos 15 mil
entrevistados, a diferença entre a vida dos brancos e de não brancos é evidente no
trabalho (71%), em questões relacionadas à justiça e à polícia (68,3%) e em
relações sociais (65%).
Um relatório da ONU em 2014, apontou que os negros do país são os que mais são
assassinados, os que têm menor escolaridade, menores salários, menor acesso ao
sistema de saúde e os que morrem mais cedo. As taxas de analfabetismo são duas
vezes superiores ao registrado entre o restante dos habitantes. Além disso, apesar
de fazerem parte de mais de 50% da população, ele representa apenas 20% da
produção do produto interno bruto (PIB) do país.
O Brasil é reconhecido pela população como um país racista, mas poucos assumem
suas atitudes de preconceito racial, e outros ainda demonstram não compreender
de fato a dimensão do problema.
● Relato
“Sofri diversas vezes. Algumas delas de uma maneira mais explícita e outras de uma
maneira que entendi depois. Eu estudava em colégios particulares que tinham, em sua
maioria, pessoas brancas e eu tinha muita dificuldade em me relacionar”. Lázaro Ramos é
um ator que conviveu frente a frente com o racismo e contou sobre as situações em uma
entrevista para Marília Gabriela.
● Contexto histórico