Gabriela Oliveira da Silva

Nº. USP 9862590

RELATÓRIO DE CAMPO

Estágio Curricular de Administração de Serviços de Atenção à Saúde II

Hospital Municipal Dr. Moysés Deutsch

Docente: Profª. Dra. Eunice Almeida da Silva

São Paulo
2021
APRESENTAÇÃO

O Hospital Municipal Dr. Moysés Deutsch - ou como é mais conhecido, Hospital do

M'Boi Mirim - foi inaugurado em 2008 naquela região, e fortalece a rede básica de saúde
prestando assistência a mais de meio milhão de pessoas, moradores dos bairros do Jardim
Ângela, Jardim São Luiz e adjacências. As especialidades atendidas são Clínica
Médico-Cirúrgica, Cirurgia Geral, Pediatria, Traumatologia, Maternidade, Obstetrícia e
Psiquiatria.
A estrutura física abriga cinco pavimentos com 240 leitos no total, sendo 20 na
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Adulto, 10 na UTI Pediátrica, 10 na UTI Neonatal, 22 na
Unidade de Cuidados Intermediários Neonatais (UCNI), 30 na Pediatria, 48 em Ginecologia
e Obstetrícia, 10 na Psiquiatria, 44 na Clínica Médica e ainda 46 que se destinam à Clínica
Cirúrgica e Ortopédica.
O único setor que não sofreu alteração de fluxo durante a pandemia de COVID-19 foi
a Maternidade. O hospital tornou-se referência para tratamento da doença, causando
grande prejuízo à comunidade em geral com a suspensão das cirurgias e todos os demais
atendimentos. O Centro Cirúrgico foi adaptado para receber leitos de pacientes com
COVID-19 e ainda, foi construído através de parceria entre empresas privadas um hospital
anexo com 100 leitos. No período da nossa visita, o acesso aos visitantes ainda estava
controlado, e a entrada de todos os funcionários/colaboradores, estagiários e prestadores de
serviços centralizada em um único local.
A área mais solicitada durante o período pandêmico mais crítico foi a de
Suprimentos, a falta de equipamentos e a necessidade de racionar adequadamente as
compras (que fosse suficiente e não excedente, a ponto colocar em risco o abastecimento
de outras instituições) foi um grande desafio. O medo por parte dos colabores, em
decorrência da falta de informações à medida que os casos iam aumentando, também era
algo expressivo. Porém, contudo, foi destacado o grande engajamento por parte de todas as
equipes que atravessaram este duro período - para qualquer profissional da área da saúde.

MODELO DE GESTÃO
A gestão do hospital é mista, do Município de São Paulo com Organização Social de
Saúde (OSS). A OSS responsável é uma parceria entre o CEJAM (Centro de Estudos e
Pesquisas Doutor João Amorim) e a Sociedade Beneficente Albert Einstein. Esta parceria
estabelece diretrizes para a condução do hospital e preza pela qualidade, gestão financeira
e compartilhamento das melhores práticas assistenciais dos serviços prestados.
 Entre 20 de agosto e 10 de setembro de 2021, realizamos as visitas que compõem o
programa da disciplina Estágio Curricular de Administração de Serviços de Atenção à Saúde
II, acompanhadas da Profª. Dra Joyce Camargo, as quais descrevo a seguir.

MATERNIDADE

A visita ao setor da maternidade foi acompanhada pela Enfermeira Sênior Kelly.

Acompanhamos o início do plantão, enquanto alimentava o sistema com dados do dia,
prescrição de enfermagem/SAE, etc. O sistema do hospital é todo informatizado, o que
agiliza bastante a atualização de início de turno.
No setor ficam mães-bebês em pós parto, em leitos com capacidade para até 4
pessoas (e seus acompanhantes, em cadeiras reclináveis), além disso, há 3 leitos para
internação de 2 pacientes cada um, de Ginecologia, e ainda 1 leito para 1 paciente de
Obstetrícia. Existem também 2 leitos para isolamento. Fizemos a passagem em alguns leitos
junto da Enfermeira, era a passagem do início do plantão, com alguns cuidados gerais,
medicações e monitoramento dos batimentos cardíacos de bebês de mulheres que estavam
internadas. Também o auxílio em casos de problemas com amamentação e fototerapia.

FARMÁCIA
A Farmácia da Maternidade também abastece outros setores (o Centro de Parto
Humanizado possui uma farmácia própria), a Enfermeira responsável nos explicou como os
medicamentos são armazenados, revisados (validade) e dispensados aos setores. Como
tudo é automatizado, na farmácia a equipe já tem acesso aos medicamentos que serão
necessários para o turno e fazem a separação. Uma pessoa dos setores que recebem é
responsável pela retirada da medicação do turno, que já vem dispensada em embalagens
separadas por paciente, com a respectiva prescrição médica. Caso haja algum erro ou
falta/extravio de medicação, deve ser reportado pelo responsável do setor e fica registrado
no sistema.

ALMOXARIFADO
No Almoxarifado da Maternidade ficam materiais de uso geral, limpeza, coletas
laboratoriais, papelaria, EPI's, equipamentos e rouparia. Tudo fica organizado em armários
com chaves, só os colabores devidos possuem acesso. Na porta dos armários há
inventários com todo o material disposto nos mesmos, divididos por prateleiras.
HOTELARIA

Tivemos uma reunião com o Sr. João A. Júnior, Coordenador de Hotelaria do

hospital. Este setor está ligado à Gerência Operacional, e é um segmento que foi trazido
para a área hospitalar a partir do conceito de redes hoteleiras na década de 90, com a ideia
de humanização dos hospitais através de melhorias na estrutura física/acomodação. Na
linha de cuidado, liga-se às áreas de apoio que dão suporte à assistência. Como
coordenador, ele é responsável pelos setores: Rouparia, Higiene/Limpeza, Central de
Serviços e pelos contratos correlatos a eles. As diretrizes e protocolos seguidos baseiam-se
no Manual de Segurança da ANVISA, na RDC 306 (que fala sobre o gerenciamento dos
resíduos de serviços de saúde) e na NR32 (norma regulamentadora que estabelece as
diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e a saúde
dos trabalhadores em serviços de saúde), da qual ele destaca o desafio ainda encontrado
no hospital: a não utilização de adornos, medida preventiva eventualmente não seguida
pelos colaboradores.
O setor de Rouparia é encarregado pelo recebimento e distribuição/entrega de
enxoval limpo, coleta de roupas sujas, e ainda conferência e realização de inventários
periódicos para reposição das evasões do enxoval. Não há lavanderia própria, diariamente
um caminhão leva o material para a lavanderia externa, terceirizada, no município de
Jaguariúna. A existência de lavanderias próprias em hospitais não é mais algo comum visto
o espaço físico necessário, que impede que o mesmo seja usado para fins assistenciais, por
exemplo.
A Higiene/Limpeza é responsável pela entrega de limpezas terminais/concorrentes a
clientes internos e externos, e também fazer todo o controle de resíduos - desde a coleta até
destinação final - e controle de pragas. A limpeza concorrente é diária, e tem como
finalidade remover superficialmente as sujidades. É feita com um carro funcional e leva de
25 a 30 minutos. Já a limpeza terminal possui 2 categorias: a primeira, em caso de alta do
paciente, transferência ou óbito, com a finalidade de remover sujidades mais profundas e
proceder à limpeza/desinfecção do leito/dependência. A segunda é preconizada pelo
Manual Técnico da ANVISA de Desinfecção de Superfícies, o que nas áreas não críticas
ocorre mensalmente, nas semi-críticas quinzenalmente, e por fim nas áreas críticas ocorre
com frequência semanal. O cronograma destas limpezas fica no diretório, em rede, para que
todos os líderes e responsáveis possam ter conhecimento dos dias estipulados para limpeza
em seus setores e planejar o fluxo do dia previamente.
A Central de Serviços funciona como uma ponte entre as áreas assistenciais e o
laboratório. Mensageiros da Central são encarregados da retirada e entrega de amostras em
um tempo máximo de 15 minutos. Além dos mensageiros, a Central presta alguns outros
serviços.
O marco estratégico do setor está na assistência segura ao paciente, e a variável
de "tempo" é onde mais buscam excelência, como no prazo para os Mensageiros realizarem
entregas ou na liberação de terminais limpos.

GESTÃO DE RISCO
Nesta reunião foram apresentadas algumas estratégias para gestão de risco que são
utilizadas em todo o hospital: A Análise Preliminar de Risco; o SOMAR (Sistema de
Oportunidade de Melhorias e Aprendizado em Risco), que detecta possíveis Eventos
Adversos (EA), com o registro do ocorrido em sistema. O setor de Qualidade classifica este
EA e encaminha para o gestor do setor em questão, que deve elaborar um plano de ação
para a mitigação daquele risco;
Por último, no hospital é utilizada a estratégia chamada Safety Huddle, o que
consiste em reuniões diárias, em dois turnos (manhã e noite), em todos os setores
individualmente e outra somente com a diretoria, lideranças e gerências em geral
(Assistência, Hotelaria, Manutenção, Segurança Patrimonial, Suprimentos e Controle de
infecção hospitalar, as exceções são os setores Financeiro e de Estatística). A finalidade da
reunião é começar o dia falando das situações que podem levar risco à assistência e
usuários.

GESTÃO DE PESSOAS
Entre os colaboradores de sua equipe há: 1 encarregada, 8 líderes, sendo 6 da
Higiene/Limpeza, 1 da Central de Serviços e 1 da Rouparia, 142 Auxiliares de Serviços
Gerais, 9 auxiliares de Rouparia, 9 Mensageiros, 2 Auxiliares Administrativos e 1 Assistente
Administrativo. Os contratos que seu setor tem firmados são com duas empresas de
Higiene/Limpeza (Ecolab e Multilixo), a lavanderia externa para a Rouparia (Maxlev), e uma
empresa de transportes para a Central de Serviços (Gonçalves).
Quando assumiu o cargo no hospital em 2019, João identificou uma defasagem no
quadro de colaboradores de seu setor. De 82 colaboradores na época, hoje ele conta com
155, o que refere ter melhorado muito os indicadores de desempenho e cumprimento das
metas estabelecidas.

GESTÃO DE SERVIÇOS
Anualmente o hospital elege áreas para o planejamento de atividades e melhorias,
elaborando planos de trabalho com metas e principais problemas. Em 2020, as ações foram
voltadas para o desenvolvimento, e neste ano de 2021 o foco é a Inovação. Dentre as metas
de seu plano para o ano, João destaca o uso inovador em seu setor de um sistema para o
controle de escalas. Uma ferramenta já amplamente usada no Hospital Albert Einstein e que
permite, por meio de um sistema e aplicativo no celular do colaborador, programar sua
escala, gerenciar folgas, trocas de plantões, etc. A ferramenta já está em uso e com ótima
aceitação.
Outra inovação almejada para o mês de abril, mas que até a data da visita estava em
atraso, é a implementação de chips em todos os itens de rouparia, o que possibilita a
identificação do extravio de peças no transporte, por exemplo. Através de antenas e um
software em nuvem é possível localizar com precisão o material, evitando perdas.

CME - Centro de Materiais Esterilizados

Na visita ao CME observamos as instalações e todas as etapas do processo no

setor. Há 7 colabores por turno: na Área de Preparo ficam 2 (mais 1 na sala do Preparo
Inalatório), no Expurgo 2, 1 na Desinfecção Química e 1 no Arsenal, além da Enfermeira
Sênior responsável do setor Gianni, que foi quem guiou a visita. Ela relatou a eventual falta
de mais um colaborador (que é gerenciada com o auxílio de uma Enfermeira da Assistência
quando necessário, a depender da demanda). A reabertura do Centro Cirúrgico para
cirurgias eletivas havia acontecido no dia anterior à visita, e o setor voltava ao seu fluxo de
antes da pandemia.
Um ponto destacado, de passo à frente dado antes da chegada do vírus, foi a
substituição de materiais de uso respiratório esterilizáveis por descartáveis, visando custo.
Foi uma mudança planejada, que diminuiu as despesas e facilitou nos momentos mais
críticos da pandemia, feita pouco antes do início dela. Os campos cirúrgicos também vêm
sendo substituídos por material descartável.
Outra mudança feita há pouco tempo no setor foi a implantação do fluxo unidirecional
dos materiais, em decorrência da detecção de uma falha (em diversas etapas do
procedimento) com um material de ureteroscopia. A falha só pode ser detectada pois todos
os materiais/kits possuem etiquetas com códigos de barras, o que possibilitou o rastreio do
paciente anterior. Após o evento, foram feitas auditorias (fora das previstas mensalmente)
em todos os setores do hospital e uma reavaliação de praticamente todo o CME. Uma porta
que ligava o Arsenal à Àrea de Preparo foi permanentemente fechada (mudança estrutural)
e diversas outras medidas no controle do material foram adotadas, principalmente
relacionadas aos indicadores químicos e conferência dos mesmos pelos profissionais
responsáveis (fita zebrada, integrador). A postura da instituição foi de total transparência
com os dois pacientes, e de testagem e acompanhamento daquele em que o material foi
utilizado sem o devido preparo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O bom funcionamento dos setores/processos no hospital em boa parte deve-se ao

nível de excelência dos profissionais, mas também à capacidade de interação entre eles,
setores e colaboradores. Uma revisão diária de tudo, a informatização e automação dos
dados, facilitando a comunicação intra e intersetorial, também parece ser essencial para o
alto nível de atendimento prestado. A possibilidade de ascensão entre os cargos e o
estímulo que a instituição fornece neste aspecto fazem com que os colaboradores, no geral,
se mostrem muito satisfeitos com o local de trabalho, ainda que em algumas funções
observadas os salários estejam mais próximos aos pisos das categorias em comparação
com outras instituições hospitalares similares.
De tudo, o que mais me impressionou foi o nível de organização em todos os setores
visitados (armários com identificação de todos os itens contidos, listas de conferência de
material com especificações de controles específicos, como prazo de expiração de uso,
identificação de pacientes e respectivos prontuários em leitos, dentre outros exemplos).
Algo que facilita muito em todas as etapas da assistência, mas ainda assim exige extrema
atenção dos profissionais, para que não aconteçam erros ou acidentes: o que demonstra
que por mais inovação tecnológica e facilidades trazidas pelo mundo digital, a gestão e
execução de todos os processos exige competências variadas por parte dos gestores - que
se mostraram presentes entre aqueles com quem conversamos, ao relatarem adversidades
e a maneira de lidar com elas.