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MATERIAL DIDÁTICO

DISCIPLINA 01
Educação Empreendedora: resgate do
histórico e dos princípios constituintes
®2016. Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE

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Coordenação Nacional
Rejane Risuenho
Luana Martins Carulla

Projeto gráfico e Diagramação


Arissas Multimídia Ltda.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Z36e Zardo, Julia Bloomfield Gama.

Educação empreendedora : resgate do histórico e dos princípios


constituintes / Julia Bloomfield Gama Zardo e Ruth Espínola Soriano de
Mello. – Brasília, DF : SEBRAE ; Rio de Janeiro : Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro, 2016.
68 p. : il. col. ; 30 cm.

Material didático do curso de especialização em Educação


Empreendedora, do programa PRONATEC Empreendedor.

1. Educação empreendedora. 2. Educação técnica. 3.


Empreendedorismo. I. Mello, Ruth Espínola Soriano de. II. Título.

CDD 658.42

Ficha catalográfica elaborada por: Thulio Dias Gomes (CRB-7 6722)


DISCIPLINA 01

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio


Rio de Janeiro / 2016

Educação empreendedora:
resgate do histórico e
dos princípios constituintes

Profa Julia Bloomfield Gama Zardo e


Profa Ruth Espínola Soriano de Mello
Carga Horária: 30H

Ementa da Disciplina
Visão geral do campo da educação, das atividades laborais,
do empreendedorismo inovador, evidenciando sua natureza
e raízes. Mitos relacionados ao campo. Empreendedorismo
como um processo gerenciável; principais problemas,
questões e desafios vivenciados pelos empreendedores nos
diferentes contextos de atuação. A inovação como forma de
competitividade e sua associação com o empreendedorismo.
Inclusão produtiva e sociologia do trabalho.
SUMÁRIO
Apresentação da Disciplina 6

MÓDULO I – EDUCAÇÃO, FORMAÇÃO TÉCNICA E


PROFISSIONAL E EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA
Educação em sentido amplo como uma vivência
e prática social 10

A educação formal escolar como necessidade da modernidade 12

Concepções e teorias de educação e métodos

e práticas pedagógicas 20

A relação trabalho, educação e formação técnica e profissional na

interface com a educação empreendedora 25

MÓDULO II – HISTÓRICO E PRINCÍPIOS CONSTITUINTES

Revisão histórico conceitual 33

MÓDULO III – AMBIENTES DE INOVAÇÃO

De que empreendedorismo estamos falando? 46

Empreendedorismo inovador 48

Desafios para criação de um ecossistema empreendedor 52

MÓDULO IV – NOSSA PROPOSTA PEDAGÓGICA


EMPREENDEDORA

Nossa proposta pedagógica empreendedora 59

O Curso 63

Referências bibliográficas 66
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA

Quaisquer que sejam a área e tema, um curso de pós-graduação tem

como pressuposto o aprofundamento científico e técnico na busca, ao

mesmo tempo, da superação das simplificações do senso comum ou

das visões que reduzem os processos formativos a mero adestramento.

Este aprofundamento torna-se crucial em temas novos ou

que trazem dimensões inovadoras como é o caso da educação

empreendedora. A apropriação de conceitos e categorias pautadas

no campo científico permite superar tanto as visões simplificadoras

e mistificadoras da educação em geral e, em especial, da educação

empreendedora e do empreendedorismo quanto os preconceitos

sobre o preparo técnico. O Curso de especialização (Pós-Graduação

lato sensu) de Educação Empreendedora tem em sua origem

esta compreensão, o que implica estabelecer uma relação entre

o sentido amplo e específico de educação, sua relação necessária

com a formação técnica e profissional e destas com a educação

empreendedora, sempre referidas aos campos social, econômico,

político e cultural. Note-se que, como veremos na Unidade II, a

gênese do que se denominou de empreendedorismo, se restringia

a uma visão econômica e não ao sentido amplo dos campos acima


APRESENTAÇÃO

referidos.

A construção de uma proposta com esta compreensão, pelo seu

caráter inovador e, de certa forma, inaugural, somente poderia ter


6
consistência e viabilidade articulando a experiência formativa

de larga duração de instituições cujas especificidades se

complementam. Por certo esta exigência é atendida pela longa

experiência de ensino de graduação e pós-graduação da PUC-

Rio, pela especificidade do SEBRAE na análise das necessidades

formativas, metodologias de intervenção prática, de saberes e

conhecimentos necessários em especial aos micro e pequenos

empreendimentos produtivos e seus procedimentos de avaliação

e, finalmente, pela secular experiência na formação técnica,

científica e profissional das redes públicas de educação técnica e

profissional e da especificidade na formação, sobretudo técnico-

profissional do Sistema S.

O fato de os participantes da primeira turma deste Curso

de especialização serem oriundos destas instituições, pela

qualificação de seus quadros e pelo acúmulo de conhecimentos em

suas especificidades, cria a possibilidade de um trabalho integrado

e colaborativo e de aprofundamento de cada um dos aspectos

envolvidos nas diferentes unidades em seus conteúdos, métodos

de desenvolvimento e de intervenção prática na realidade.

Como o campo da educação empreendedora é amplo e não

se restringe a nenhum âmbito das atividades humanas, os

coordenadores, professores, tutores e participantes vêm de


APRESENTAÇÃO

formações, experiências e inserções profissionais diversas.

Portanto, oferecemos um texto introdutório com alguns conceitos,

que relacionam a compreensão da educação no seu sentido amplo


7
(informal), que se dá por diferentes espaços e relações sociais e a

educação escolar formal na sua relação com a formação técnica

e profissional especificas, foco deste curso de especialização em

educação empreendedora.

Desejamos por fim que sua satisfação em ter sido escolhido(a)

para essa caminhada conosco seja pelo menos do mesmo nível que

a motivação e orgulho que nós temos em caminhar com você nesta

jornada.
APRESENTAÇÃO

8
MÓDULO I - EDUCAÇÃO, FORMAÇÃO
TÉCNICA E PROFISSIONAL E
EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA

MÓDULO I

9
Educação em sentido amplo como uma
vivência e prática social 1

A educação em sentido amplo, mesmo a relacionada a conhecimentos

importantes para a atuação prática no mundo produtivo, resulta das

múltiplas experiências de cada sujeito humano no contexto social

em que vive. Esta pode ser concebida como síntese das relações

sociais que efetivamos ao longo da vida. Por milhares de anos, os

seres humanos se educaram de geração para geração aprendendo

uns com os outros, dando respostas aos desafios e problemas

no processo de produção de suas vidas. A educação e formação

humana são, antes de tudo, um processo social e cultural.

Quanto mais rico, diverso e estimulante é o meio social e cultural

que fruímos desde a infância, maiores serão as possibilidades de

desenvolvimento humano e mesmo profissional. Neste sentido,

várias instituições e contextos concorrem, tanto no sentido

positivo como negativo, em nossa formação. A família, a igreja,

as instituições produtivas, as instituições de lazer, os sindicatos,

partidos, a rua, os grupos de referência, etc. contêm elementos

educativos tanto no sentido de valores, gostos, quanto no sentido

de conhecimentos elaborados pelo bom senso e pela experiência.

[1] Para este Módulo I contamos com a assessoria do Prof. Dr. Gaudêncio Frigotto
do Programa de Pós Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana da
MÓDULO I

Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Trata-se de um pesquisador que ao longo


de mais de três décadas tem analisado o papel da educação básica na formação
para cidadania e fundamento necessário a uma formação profissional que supere o
adestramento e permita uma inserção de qualidade no mundo do trabalho que, no
10 presente, é cada vez mais complexo.
Os conceitos de capital econômico, capital social e capital cultural

desenvolvidos pelo sociólogo Pierre Bourdieu (1978) traduzem

o sentido de possibilidades diversas de acordo com os grupos

e contextos sociais com os quais nos relacionamos. De forma

crescente, os meios de comunicação de massa, as mídias, são

poderosos instrumentos de formação e deformação, informação

e desinformação, mas que também podem ser aliados do

conhecimento e da educação formal e sistemática.

Pode-se assim dizer que a educação, em seu sentido amplo, sintetiza,

ao mesmo tempo, saberes, crenças, mistificações e preconceitos

afirmados pelo senso comum e saberes, conhecimentos oriundos

do bom senso e da experiência; são o ponto de partida de qualquer

processo educativo e pedagógico. Os sujeitos com os quais nos

relacionamos vivem contextos e vivências de capitais econômicos,

sociais e culturais diversos e também, como veremos a seguir,

processos educativos formais não apenas diversos, mas desiguais.

Durante milhares de anos até o surgimento da modernidade

e de instituições específicas de produção e sistematização de

conhecimentos – dos quais a escola teve e, em certo sentido

mantém, centralidade – a humanidade valia-se da experiência

e do saber acumulado da geração mais velha. Tanto no passado

mais remoto como no presente, duas práticas sociais, como indica

o filósofo Leandro Konder, acompanham a humanidade – o


MÓDULO I

trabalho que produz os meios de vida e a educação ou formação

das novas gerações.


11
“Toda sociedade vive porque consome; e para consumir

depende da produção. Isto é, do trabalho. Toda a sociedade

vive porque cada geração nela cuida da formação da

geração seguinte e lhe transmite algo da sua experiência,

educa-a. Não há sociedade sem trabalho e sem educação”.

(KONDER, 2000, p. 112)

Estas duas dimensões da vida foram assumindo mudanças

profundas provocadas pela produção de novas necessidades e

da inventividade humana. A ciência e a técnica vão assumindo

cada vez mais um papel central em todas as dimensões da vida.

Com isto, surge a necessidade de instituições específicas tanto

para a produção em padrões científicos, quanto para o acesso aos

mesmos nos processos educativos das novas gerações.

A educação formal escolar como


necessidade da modernidade

A escola, tal como a conhecemos, como a sociedade que a constitui,

não é fato natural, mas resultante de processos históricos. A gênese

histórica da escola se dá, especialmente, ao longo do século XVIII,

dentro do mesmo processo de emergência da ciência moderna

e da ascensão da burguesia como classe social hegemônica.

Ela nasce, no plano discursivo, como uma instituição pública,


MÓDULO I

gratuita, universal e laica que tem, ao mesmo tempo, a função

de desenvolver uma nova cultura, integrar as novas gerações no


12
ideário da sociedade moderna e de socializar, de forma sistemática,

o conhecimento cientifico.

Diferente dos processos difusos da educação no seu sentido de

prática social que se efetiva em todas as esferas da vida, a educação

escolar formal busca pautar-se por concepções, teorias, conceitos

e métodos de produção e sistematização de conhecimentos

com o fim de preparar as novas gerações para uma dupla e

inseparável necessidade: inserir-se na vida social exercendo seu

papel de cidadão consciente e ativo na construção de sociedades

democráticas e de ter o domínio das bases e conhecimentos

científicos e técnicos que lhes permitam inserir-se de forma

criativa, competente, eficiente e inovadora no processo produtivo

e que lhes faculte a sua independência e autonomia financeiras.

Cada um dos conceitos que balizam a gênese da educação formal

escolar busca superar formas de relações sociais dominantes

da sociedade feudal, cujo lema mais geral engendra a ideia de

igualdade e de liberdade de cada cidadão. Assim, o ideário de

educação pública, universal, gratuita e laica busca desconstruir

a naturalização de que o rei ou o senhor absolutista tem poder

de vida e morte sobre seus súditos e do monopólio da verdade

revelada da igreja.

Este é um ideário certamente civilizatório, pois tem como propósito


MÓDULO I

que a sociedade garanta um patamar de acesso ao conhecimento e

valores dirigido a todos os cidadãos, independente de sua origem

social ou crença. O sentido de escola pública laica é de que esta


13
que esta instituição é, antes de tudo, gerida pela sociedade em

sua diversidade e não pode ser pautada por crenças religiosas ou

instrumento de interesses particulares de qualquer natureza.

O debate educacional que se deu no Brasil na década de 1980, ao

longo do processo constituinte, e, posteriormente, na década de

1990, na construção da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDB) balizou-se no ideário da escola pública, universal,

gratuita e laica, acrescentando o conceito de escola unitária para

sinalizar o direito da mesma qualidade de acesso ao conhecimento

de cada criança, jovem e adulto 2.

É neste sentido que a LDB define a educação básica, que abrange

a educação infantil, fundamental e média como um direito social

e subjetivo, um direito social igual para todos, pelo menos até

este nível de escolaridade. A dimensão subjetiva diz respeito à

condição real de cada sujeito que seja de ordem social ou portador

de necessidades especiais.

SAIBA MAIS
Se você não conhece a LDB, acesse o Portal do MEC:
http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=12907:legislacoes
MÓDULO I

[2] Para uma melhor compreensão dos conceitos de escola unitária, educação
omnilateral (que considere todas as dimensões que envolvem a vida humana)
alteral ou integral ver os respectivos verbetes no Dicionário de educação do campo.
Organizado por Roseli Caldar, Isabel Brazil, Paulo Alentejano e Gaudêncio Frigotto
14 (2012).
Todavia, a educação que se efetiva nas relações sociais e, em termos

formais, na escola, é constituída pela sociedade e constituinte da

mesma. O ideário civilizatório iluminista, desde o início e até o

presente, choca-se com uma contradição fundamental entre a

estrutura política e econômica, as relações sociais da sociedade

nascente e a possibilidade de uma escola igualitária e unitária.

A desigualdade entre nações e no interior das mesmas culminou

em revoltas, revoluções e guerras. O historiador Eric Hobsbawm

(1995), autor de uma vasta obra, caracteriza o século XX como

a era dos extremos, marcada por duas guerras mundiais, uma

revolução socialista e inúmeras guerras civis.

Por esta razão, mesmo nos países protagonistas do ideário

iluminista e das teses políticas mais avançadas, como é o caso da

França, a tendência foi e continua sendo o que especificamente

se denomina de educação e escola dual. Instaura-se então e

se perpetua, de um lado, a escola clássica, formativa, de ampla

base científica e cultural para as classes dirigentes e classe média

e, outra, pragmática, instrumental, adestradora e de formação

profissional restrita voltada para os trabalhadores.

Uma das obras clássicas que revela esta dualidade educacional

na França, grande berço do Iluminismo e de ideias políticas

revolucionárias, é a obra de Roger Establet e Christian Baudelot -

A escola capitalista na França (1971) e, no mesmo período, Pierre


MÓDULO I

Bourdieu e Jean-Claude Passeron escreveram a obra A Reprodução

(1970) em que efetivam críticas profundas à instituição escolar e


15
mostram a relação entre a estrutura social e a reprodução escolar.

Trata-se de obras que marcaram fortemente o debate educacional

no Brasil na crítica ao projeto educacional dominante ao longo das

duas décadas da ditadura civil-militar.

O sentido destas obras tem ainda hoje maior evidência empírica

em nossa sociedade do que na França. Com efeito, mais de treze

milhões e duzentos mil brasileiros, a maioria com mais de 25 anos

de idade, não sabem ler e escrever. De acordo com a PNAD 2014 3,


grande quantidade de brasileiros adultos continuam analfabetos

absolutos e têm uma média de apenas 07 anos de escolaridade.

Se o acesso ao ensino fundamental é quase total, o mesmo não

se aplica à educação infantil, ensino médio e educação técnica e

profissional.

A retórica reiterada da importância da educação choca-se diante

dos dados do Censo do INEP/MEC, de 2011. O Brasil tem hoje

8.357.675 alunos matriculados no ensino médio. Apenas 1,2%

no âmbito público federal, 85,9%, no âmbito estadual, 1,1% no

âmbito municipal e 11,8% no ensino privado. Pode-se afirmar

que no âmbito público apenas os 1,2% alunos em escolas federais

e algumas experiências estaduais, têm padrões de qualidade

internacional, com professores de tempo integral, carreira digna,

tempo de pesquisa e orientação, laboratórios, biblioteca, espaço

para esporte e arte etc., cujo custo econômico médio é de quatro


MÓDULO I

mil dólares, hoje aproximadamente 16 mil reais.

[3] Dados detalhados por região podem ser consultados em IBGE/PNAD 2014
16 (Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar).
Dos 85% de jovens que estão nas escolas estaduais, mais de um

terço o fazem à noite, com professores trabalhando em três turnos

e em escolas diferentes e com salários vexatórios. O custo médio é

de aproximadamente mil dólares ano, um quarto do custo federal

e o valor de uma mensalidade numa escola privada de elite.

Mas o alarmante é o que revela a última Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílios (IBGE/PNAD, 2012) sobre a negação do

direito ao ensino médio aos jovens brasileiros. São 18 milhões de

jovens entre 15 e 24 anos que estão fora da escola e 1.8 milhão, em

idade de estar no ensino médio, não estão frequentando. Na faixa

de entrar na universidade, 18 a 24 anos, 16,5 milhões de jovens, ou

seja, 69,1% não estudam.

Mais preocupante é a nova categoria de jovens apreendida pelas

estatísticas oficiais sob a categorização da geração dos “nem” para

designar a espantosa cifra de mais de nove milhões de jovens

brasileiros que não estudam e nem trabalham (IBGE/PNAD,

2012). Um olhar mais acurado pode nos revelar que na realidade

se ocupam de alguma forma e, por isso, tornam-se presas fáceis

de atividades ligadas ao trabalho ilegal ou ilícito e candidatos aos

presídios brasileiros.

Temos um quadro que evidencia a urgência de, ao mesmo tempo,

garantir o direito à educação básica de nível médio a todos os


MÓDULO I

jovens, como legisla a atual LDB - e, concomitantemente ou de

preferência após esta, a formação técnica e profissional especifica.

Sem que isto se concretize, pode- se afirmar que está truncada a


17
possibilidade da dupla cidadania acima referida: política e

econômica. Cidadania política significa ter os instrumentos de

leitura da realidade social, que permitam aos jovens e adultos

reconhecer os seus direitos básicos, políticos, econômicos, sociais,

culturais e subjetivos e a capacidade de organização para poder fruí-

los. No plano da preparação para inserir-se no mundo da produção

e da conquista da cidadania econômico-social, o pressuposto é de

que adquiram os fundamentos científicos, técnicos e culturais que

estão na base de qualquer processo produtivo ou serviço.

Um dos aspectos cruciais a ser considerado no desenvolvimento do

Curso de especialização de educação empreendedora, para atingir

o objetivo de contribuir com o despertar da cultura e atitudes

empreendedoras junto aos educadores e educandos brasileiros,

é sob que base educacional se está partindo. Um olhar histórico

sobre os programas de educação e formação técnica e profissional,

não na abrangência, mas com o mesmo intuito do PRONATEC,

pode ajudar a perceber a necessidade de um vínculo cada vez mais

profundo entre educação básica e formação técnica profissional

como o chão onde se afirma a cultura e a atitude empreendedora.

Os profissionais das redes de educação técnica e profissional que

participam do curso, na memória de suas instituições e mais no

presente, podem evidenciar como uma precária escolaridade

básica limita a formação técnica e específica.


MÓDULO I

O que o resgate histórico nos indica é que, em cada ciclo virtuoso

de desenvolvimento, surge a pressão para a criação de Programas


18
de Formação Técnica e Profissional que na linha do tempo se

sucedem com características similares, muito embora com

diferenças em cada contexto.

É desta pressão e necessidade que se criam, na década de 1940, a

rede de escolas técnicas federais, que se tornam posteriormente

Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETs) e atualmente,

em sua maioria, Institutos Federais de Educação, Ciência e

Tecnologia (IFs) na a sua origem para a formação de técnicos

de nível médio. No mesmo período criaram-se se o SENAI e o

SENAC, posteriormente expandidos como a criação do Sistema

S 4. No início da década de 1960, criou-se o Programa Intensivo


de Formação de Mão de Obra Industrial (PIPMOI) pelo Decreto

nº 53.324, de 18/12.1963 e, em 1971, transformado em Programa

Intensivo de Formação de Mão de Obra (PIPMO), estendido

para os demais setores da economia 5. Em sequência, na década

de 1990, criou-se o Plano Nacional de Formação Profissional

(PLANFOR) e, em 2003, o Plano Nacional de Qualificação (PNQ).

Finalmente, em 2011, criou-se o Programa Nacional de Acesso ao

Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC).

[4] O Sistema S, atualmente, é constituído por instituições que, com base na Constituição
Federal (Art. 149, Inciso III) recebem contribuições de interesse das categorias
profissionais ou econômicas, tais como, SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial), SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), SENAR (Serviço
MÓDULO I

Nacional de Aprendizagem Rural), SENAT (Serviço Nacional de Aprendizagem


do Transporte), SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas), SESCOOP Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo).
[5] Um Programa inicialmente proposto para durar 20 meses e que se estendeu por 19
anos. Ver a respeito a Dissertação de Mestrado de BARRADAS (1986). É interessante
perceber a similitude que assume o PRONATEC cinco décadas depois. 19
A educação empreendedora, por certo, tem um enorme desafio

não apenas de considerar os limites da formação técnica e

profissional, imprescindíveis no acompanhamento das mudanças

científicas que operam na base dos processos produtivos e serviços

e nas próprias relações sociais, mas de criar atitudes ativas para

a sua superação. Talvez seja uma das condições para não reiterar,

na formação profissional e na formação de empreendedores, a

criação de castelos em cima de areia.

Concepções e teorias de educação e métodos


e práticas pedagógicas

Tem sido frequente o equívoco de reduzir a educação nos seus

dois sentidos acima brevemente traçados com a pedagogia. Se

de uma forma ou de outra, tanto a educação em seu sentido de

fenômeno e prática social ampla ou em seu sentido formal de

educação escolar engendram métodos e estratégias pedagógicos

estes são mais restritos e sempre vinculados a determinadas

teorias educacionais.

Um dos mais importantes educadores atuais, Dermeval Saviani

(1999) tem uma contribuição densa na explicitação das relações

entre as concepções educativas, as relações sociais e os métodos

e práticas pedagógicas. Uma de suas obras tem mais de quarenta


MÓDULO I

edições no Brasil e foi traduzida para outros idiomas - Escola e

Democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze testes


20
sobre educação e política (1999). Nesta obra Saviani expõe, de

forma sintética e clara, as teorias educacionais conflitantes, mas

que coexistem na nossa realidade educacional.

Um primeiro bloco dominante em determinados períodos

históricos denomina-se de não críticas. Trata-se de concepções de

educação e de conhecimento que não se conectam com a realidade

social e desembocam no idealismo da educação redentora de

todas as mazelas sociais ou nas posturas da neutralidade e dos

processos tecnicistas que ignoram as condições da diversidade dos

sujeitos educandos e estabelecem métodos e práticas pedagógicas

adestradoras. Um exemplo de dominância do tecnicismo no

Brasil são as reformas educacionais efetivadas sob os auspícios

da ditadura civil-militar das décadas de 1960 e 1970 é a Lei de

Diretrizes e Bases de Educação Nacional - 5592/71. Por esta Lei

se impôs a profissionalização compulsória desde o atual ensino

fundamental. Foi uma lei que, por reação da sociedade, teve

que ter várias alterações 6


e, finalmente, ser superada em seus

fundamentos pela atual LDB.

Saviani divide um segundo bloco de teorias educacionais em

críticas reprodutivistas e teoria crítica ou histórica. As teorias

críticas reprodutivistas assim são denominadas porque introduzem

o elemento crítico que relaciona os processos educativos com as

relações sociais dominantes e com a estrutura social desigual.


MÓDULO I

Todavia, por se centrarem na ênfase da pura reprodução das

[6] Para um compreensão das críticas a esta reforma ver Cunha e Goes (1986). 21
relações e estrutura social dominantes não captam as contradições,

os conflitos e disputas e, como tal, a possibilidade do papel da

educação como agentes de transformação social, econômica e

cultural. Trata-se de um enfoque unidimensional que tende a criar

atitudes fatalistas e imobilistas.

Na educação brasileira da década de 1980, essas teorias tiveram

grande influência, além dos primeiros escritos de Bourdieu e

Passeron – A reprodução e os escritos de Baudelot e Stablet – A

escola capitalista na França, obras acima referidas publicadas em

francês, ambas em 1970 e traduzidas para o português em 1978,

um texto de Althusser - Ideologia dos aparelhos ideológicos de

estado -, publicado em Francês em 1970 e traduzido e publicado

no Brasil em 1985. Com base neste texto produziram-se muitas

análises centrando o foco na educação, sobretudo escolar, como

um aparelho ideológico do estado e reprodutor dos interesses das

classes dominantes.

Por fim, Saviani (1999) desenvolve o sentido da teoria crítica que se

afirma na compreensão da relação educação, sociedade e educação

e desenvolvimento dentro de uma perspectiva histórica e que,

portanto, busca captar as contradições, conflitos e mediações da

educação não só como tendência à reprodução social e econômica,

mas como instrumento de transformação social. Uma visão,


MÓDULO I

portanto, que resgata o papel ativo do educador e do educando na

sociedade.

22
Estas tendências teóricas engendram métodos e práticas

pedagógicas específicas 7. As visões não críticas, em especial os

métodos e práticas pedagógicas adestradoras, desprezam tanto

os contextos sociais e culturais quanto situações de desigualdade

e das diferenças dos alunos. As visões reprodutivistas levam em

conta o contexto social, a desigualdade social e cultural, mas

tendem a visões pedagógicas e metodológicas que engessam ou

anulam o sujeito tanto educador como educando, levando a uma

postura de conformação ou de defesa das teses da desescolarização

da sociedade.

As teorias críticas, por levarem em conta os contextos sociais

mas também o papel dos sujeitos, demandam métodos e práticas

pedagógicas que articulem a relação ativa entre o sujeito professor

e o sujeito aluno. Trata-se, pois, de uma concepção educativa

cujos métodos pedagógicos não partem de uma realidade ideal,

abstrata, inalterável. No plano metodológico, o ponto de partida

são os sujeitos reais em sua situação e contextos sociais reais cujos

pontos de partida, por diferentes determinações, são desiguais e

diversos. Desiguais pela estrutura social excludente e cujo esforço

é de que os processos educativos concorram para sua superação,

mas também porque não consideram as particularidades e

diversidades regionais de cultura, linguagens e valores. Trata-

se de uma concepção de educação e de métodos pedagógicos de


MÓDULO I

construção e socialização do conhecimento científico em todas as

[7] Para um aprofundamento sobre as tendências pedagógicas no Brasil dentro de


uma perspectiva histórica ver a obra de Dermeval Saviani (2007) História das idéias
pedagógicas no Brasil. 23
áreas das ciências que buscam criar uma capacidade dos sujeitos

educadores e educandos para analisar a realidade social,

econômica, política e cultural e instrumentalizá-los para uma ação

criativa, inovadora e transformadora no âmbito da cidadania,

democratização da sociedade e dos processos produtivos.

Um curso de educação empreendedora certamente não pode

conceber a educação como processo adestrador e mero treinamento

e nem como apenas reprodução das relações e da estrutura social.

Tampouco pode apoiar-se em métodos e práticas pedagógicas

que desconsideram os sujeitos educadores e educandos em

seus contextos sociais e na sua diversidade. A base de diálogo

dos aspectos específicos da educação empreendedora, para ser

consistente, inovadora e transformadora, implica a concepção

histórico crítica da educação e dos métodos e práticas pedagógicas

que dão aos educadores e educandos um papel inovador e

transformador de seu meio e, mais amplamente, transformador

da sociedade.

Outro aspecto central do resgate do histórico e dos princípios

constituintes da educação empreendedora na sua especificidade

e na relação com as teorias educacional e métodos pedagógicos

é a compreensão adequada da relação entre trabalho e educação

básica e desta com a formação técnica e profissional. Trata-se de

aspectos centrais que incidem nos desafios e possibilidades em


MÓDULO I

políticas de formação como, no caso específico, o PRONATEC.

24
A relação trabalho, educação e formação
técnica e profissional na interface com a
educação empreendedora

Um dos aspectos críticos em nossa formação histórica é uma dupla

herança negativa que incide sobre o preceito do trabalho manual

e técnico, indicando que este responde às necessidades básicas

e, como consequência, gera uma visão negativa da formação

técnica e profissional, esta entendida como menor e destinada aos

simplórios.

Trata-se por um lado da herança do Iluminismo que enaltece

as atividades intelectuais e conduz ao academicismo. Por outra

parte, provoca a incorporação das classes dirigentes oriundas da

classe média, sobretudo, do estigma escravocrata. Os quase quatro

séculos de escravidão gravaram o desprezo pelo trabalho técnico

e o enaltecimento do trabalho intelectual, sob o pressuposto falso

de que tanto o trabalho manual quanto o técnico são desprovidos

de atividade intelectual.

Porém, no contraponto das visões racionalista e iluministas da

tradição de Platão já no mundo grego surgiam ideias divergentes

e opostas. A compreensão de Anaxágoras de que o homem pensa

porque tem mãos, expressa um processo histórico no qual o

ser humano foi se tornando humano e as mãos representaram


MÓDULO I

a forma mediante a qual se apropriava dos meios de vida. Por

milhões de anos os seres humanos apenas eram coletores daquilo

que a natureza lhes oferecia. Colhiam frutos, pescavam, caçavam,


25
quando suas mãos eram seu instrumento básico. O ser humano,

pelas mãos e pela capacidade de projetar e planejar sua ação antes

de executá-la, diferente dos animais que são determinados por

seu instinto, foi dilatando suas necessidades e impelido a fabricar

instrumentos, produzir técnicas que se constituem em extensão

dos seus membros e sentidos quando não, como no presente, os

substitui. Um processo histórico que, ao modificar o ser humano,

pela ciência e técnica dos instrumentos de trabalho, modifica a sua

relação com a natureza e com os outros seres humanos e, assim,

modifica as suas condições de vida e sua natureza.

Neste processo, o ser humano entra por inteiro, com sua energia

física e com seu intelecto e experiência acumulada. Pensar e fazer

são dimensões de uma mesma unidade do diverso. Não cabe,

pois, separar e hierarquizar a formação intelectual e técnica,

formação geral e específica e estabelecer relações lineares

entre conhecimento científico, tecnologia e técnicas. Uma nova

técnica pode surgir do acúmulo de experiências e fazer avançar

o conhecimento. De igual forma, anos de pesquisa básica podem

gerar novos conhecimentos, técnicas e tecnologias e modificar as

formas de produção. No mundo humano, nada é linear, tudo é

histórico, mediado e contraditório.

A precedência da produção material não deriva de uma

superioridade da atividade material, mas de um constrangimento


MÓDULO I

pelo fato de que os seres humanos, enquanto seres da natureza,

não podem prescindir da produção de bens materiais para dar


26
conta de suas necessidades biológicas e das condições de

reprodução e continuidade da vida. Nessa ótica, o trabalho

humano vem sob o imperativo da necessidade e não da liberdade.

Ou seja, um quantum de trabalho produtor de valores de uso

será tão eterno ou histórico quanto o é a existência humana. Não

há, portanto, neste sentido a possibilidade do fim do trabalho e,

neste sentido, de sua centralidade e precedência histórica 8. A


luta dos seres humanos é por abreviar esse tempo de trabalho

constrangido pela necessidade para liberar, efetivamente, tempo

livre – esfera onde as capacidades humanas podem, plenamente,

se desenvolver. Isto implica o esforço pela criação de sociedades

que superem as desigualdades, tão fortes hoje no mundo e no país.

O texto de Saviani (2007) - Trabalho e educação: fundamentos

ontológicos e históricos – explicita a evolução histórica da relação

trabalho, educação, ciência e conhecimento, bases imprescindíveis

para pensar tanto a relação da formação técnica e profissional

integrada à educação básica, quanto o sentido não simplificador

da educação empreendedora. Destacamos aqui apenas breves

elementos desta evolução trazida na análise deste autor. Um

primeiro aspecto destacado pelo autor corrobora a indicação

acima de Konder (2000) quando mostra que, em qualquer tempo

[8] Pra uma apreensão do debate no Brasil sobre a precedência do trabalho sobre as
MÓDULO I

demais atividades humanas, inclusive na relação com a educação e o aprofundamento


do sentido do principio educativo do trabalho na sua dimensão de direito e dever,
ver Frigotto (2015): Contexto e Sentido Ontológico, Epistemológico e Político da
Inversão da Relação Educação e Trabalho para Trabalho e Educação. Do mesmo modo
para aqueles que desejarem aprofundar os dilemas e desafios da relação trabalho,
conhecimento e educação na formação de trabalhadores, ver: Frigotto (org,), 1987. 27
histórico, os seres humanos precisam trabalhar para produzir

sua existência material e, neste processo, também precisavam

concomitantemente se educar, aprender. A experiência dos

adultos torna-se a base do aprendizado das novas gerações.

Com o processo histórico de desenvolvimento da produção e das

técnicas de produção que demandaram a divisão do trabalho e,

ao mesmo tempo, o surgimento de grupos ou classes que exercem

a dominação de uns sobre outros na busca de apropriar-se do

excedente determinam a tendência, para Saviani, da separação do

trabalho e da educação. Como mostra o autor “a palavra escola

deriva do grego σχολή e significa, etimologicamente, o lugar do

ócio, tempo livre”.

Por fim, Saviani mostra que as sucessivas mudanças tecnológicas

que transferem para a máquina o trabalho intelectual não somente

incidem na simplificação dos ofícios, mas tornam obsoleta a

formação adestradora; nos processos produtivos passa-se a exigir

cada vez mais bases científicas, tecnológicas e culturais. Por esta

via restabelece-se, noutras bases, a relação trabalho, educação

e educação técnica e profissional e seu vínculo com a educação

básica. Da escola e mesmo dos cursos técnicos profissionais

cobra-se menos informação e mais bases científicas e culturais

que ajudem a decifrar a inundação de informações que nem

sempre agregam conhecimento. Isso implica uma vinculação ou


MÓDULO I

integração da formação técnica e profissional à educação básica.

28
Como sublinhamos acima, os profissionais oriundos das redes

de educação têm, por sua formação e experiência, condição de

avançar no aprofundamento desta importante questão.

Talvez aqui esteja um dos aspectos centrais no desenvolvimento

de um curso de especialização em nível de pós-graduação que

forme educadores com efetiva capacidade de inovar, transformar,

empreender em todas as esferas da sociedade. Neste sentido,

superar as ideias que a educação que dá bases científicas, técnicas e

culturais para formar sujeitos ativos, inovadores, empreendedores

tenha como foco apenas e, sobretudo, criar novas empresas ou ser

uma espécie de substitutivo da responsabilidade do Estado, dos

governos e da sociedade em seu conjunto de gerar oportunidades

de emprego. A postura inovadora, empreendedora ativa é uma

demanda de todas as esferas da sociedade, em especial nas

atividades essenciais à vida digna.

Num curto texto sobre escola e cidadania, o economista Luiz

Gonzaga Belluzzo sublinha uma questão central a ser levada em

conta em qualquer processo formativo.

“Trate de conseguir boa educação ou será um dos

derrotados pela marcha do progresso”. Este é o desafio

que os senhores do mundo lançam aos que lutam

por bons empregos. Seria estúpido negar o papel


MÓDULO I

da educação enquanto instrumento da qualificação

técnica da mão de obra. Mas os últimos estudos

internacionais sobre emprego, produtividade e


29
e distribuição de renda mostram o óbvio: a boa

educação é incapaz de responder aos problemas

criados criados pelos choques negativos que vulneram

as economias contemporâneas. [...]

A visão simplória e simplista da educação obscurece

a tragédia cultural que ronda o Terceiro Milênio. A

especialização e a “tecnificação” crescentes despejam

no mercado, aqui e no mundo, um exército de

subjetividades mutiladas, qualificadas sim, mas

incapazes de compreender o mundo em que vivem.

Os argumentos da razão técnica dissimulam a

pauperização das mentalidades e o massacre da

capacidade crítica.” (BELLUZZO, 2012, s/p.)

A clara advertência de Beluluzzo (2012) sinaliza a responsabilidade

das instituições envolvidas nesta pós-graduação de não simplificar

o papel da educação, tanto básica quanto técnica e profissional, na

relação com o emprego, bem como tomar o empreendedorismo

como panacéia capaz de resolver os problemas estruturais

ou conjunturais da sociedade. Destaca-se em nossa sociedade a

permanência da desigualdade social e o problema do desemprego.

Do exposto até aqui, o que se busca afirmar é que não há uma

hierarquia entre educação básica e educação técnica e profissional,


MÓDULO I

mas uma relação necessária. Por isso o preconceito sobre a

formação técnica e profissional é uma construção de uma herança

histórica colonizadora e escravocrata. O desafio e a necessidade


30
são de natureza dupla: garantir o que a LDB postula à educação

básica que abrange a educação infantil, ensino fundamental

e médio e de qualidade a todas as crianças, jovens e adultos como

direito social e subjetivo universal e, ao mesmo tempo, expandir a

formação técnica e profissional.

Nesta disciplina, temos como objetivo sinalizar alguns elementos

da teoria educacional e os processos pedagógicos que estão

implicados na concepção que se busca construir de educação

empreendedora, em bases que permitam formar educadores e

educandos que não apenas pensem a realidade, mas transformem

positivamente o ambiente onde atuam. Buscam dialogar com a

especificidade das instituições envolvidas no desenvolvimento do

curso e dos educandos do curso que atuam nos Institutos Federais de

Educação, Ciência e Tecnologia e no Sistema S. Mais amplamente,

buscam dialogar com as referências teóricas e metodológicas que

orientam as atividades do SEBRAE e que buscamos destacar de

forma sucinta.

SAIBA MAIS
Recomendamos esse vídeo curto do TED, com Escola da Ponte.
www.youtube.com/watch?v=reOEnY8jkjo

Um lindo filme de Antônio Sagrado, Raul Perez, e Anderson Lima, que inspira
muito a ação educativa é a obra “Quando sinto que já sei”, da Despertar Filmes.
MÓDULO I

Disponível em www.youtube.com/watch?v=HX6P6P3x1Qg&feature=share.

31
MÓDULO II - HISTÓRICO E PRINCÍPIOS
CONSTITUINTES
MÓDULO II

32
Revisão histórico conceitual

Ao fazermos uma revisão teórica sobre os principais autores e

enfoques em torno da temática da educação empreendedora,

observamos a necessidade de resgatar o conceito de

empreendedorismo e suas diversas leituras e interpretações ao

longo da história.

O uso do termo “empreendedorismo” geralmente está associado

ao campo do pensamento das ciências econômicas, tendo sido

concebido para tratar da ação das pessoas que estimulavam o

progresso econômico em setores da economia.

A primeira referência data de antes do século XVIII, sob uma

conceituação consistente, definida por Richard Cantillon, em

1775, precursor da escola austríaca do pensamento econômico.

Ele atribuiu ao empreendedorismo a designação das pessoas

que, visando ao lucro, assumem riscos na organização e no

direcionamento dos fatores de produção mediante um ambiente

de incertezas (KORMAN, 2006, p. 21).

No entanto, foi Jean Baptiste Say (1855), quem efetivamente

destacou o papel da figura do empreendedor no “campo do

pensamento econômico moderno”. Korman (2006) lembra que

tal qual Cantillon, Say argumentava que os empreendedores

são líderes do processo de produção de novos produtos e no


MÓDULO II

aperfeiçoamento de matérias-primas e ferramentas, e por isso

geram inovações.
33
No princípio, então, o entendimento sobre o empreendedor

estaria mais relacionado ao “agente de mudanças e gerador de

prosperidade econômica”. Esta interpretação influenciou gerações

de pensadores sobre o empreendedorismo, dentre os quais Joseph

Schumpeter 9 (KORMAN, 2006, p. 22).

Schumpeter (1934; 1954) relacionou empreendedorismo à

inovação de forma explícita, quando o empreendedor busca a

exploração de oportunidades no mercado. Para o economista

inglês, o empreendedor é o “agente primário do desenvolvimento

econômico e as inovações que ele gera provocam transformações

estruturais na economia que levam à destruição de formas antigas

de produção e organização e à obsolescência de bens e serviços”.

Schumpeter se debruçou sobre o tema do empreendedorismo

a partir da observação das mudanças no âmbito do modo de

produção industrial no capitalismo de seu tempo.

Os primeiros a lecionarem sobre o assunto foram os estadunidenses,

em suas faculdades de administração.

“Em 1947, Myles Mace ofereceu o primeiro curso de

empreendedorismo em Harvard para 188 alunos, mas, com

certeza, uma série de fatos anteriores foram as bases para

a criação desse curso. Fatos como a ida de Schumpeter

para lecionar em Harvard, no ano de 1932, ou o livro do


MÓDULO II

[9] O economista austríaco Joseph Schumpeter foi um dos primeiros a considerar as


inovações tecnológicas como motor do desenvolvimento capitalista e por isso é um
dos “pais” do empreendedorismo inovador.
34
economista Francis Walker “The Wages Question`,

publicado em 1876 (Kats, 2003). Esse curso e

outros posteriores, mas da mesma época, estavam

estruturados como cursos de administração para

pequenas empresas, e não se deve esquecer de que

mesmo a administração de empresas como disciplina

era matéria que mal completara 60 anos.” (LAVIERI,

2010, p. 7)

No entanto, não é difícil imaginar que formar administradores

de empresas envolve um direcionamento diferente do de formar

empreendedores, mesmo em escolas de negócios. Uma primeira

aproximação dos administradores desse terreno empreendedor

data de 1953, com Peter Drucker, na Universidade de Nova York/

EUA. Drucker iniciou um curso de empreendedorismo que, além

da gestão de empresas das escolas de administração, também

dava enfoque à inovação (LAVIERI, 2010).

Já no Brasil, a primeira disciplina de empreendedorismo aconteceu

em 1981, na Escola Superior de Administração de Empresas da

Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo. A iniciativa partiu

do professor Ronald Degen. A disciplina foi intitulada de “Novos

Negócios”, e foi desenvolvida ainda de forma empírica, lançando

mão de pesquisas com empreendedores realizadas por Degen no

período de 1981 a 1987 (idem). Note-se que sua entrada no Brasil


MÓDULO II

tem um recorte ainda mais restrito do que a perspectiva econômica

ligada às inovações tecnológicas como elementos fundamentais ao


35
desenvolvimento. Degen (1989) se reconhece como o responsável

pela introdução do estudo do empreendedorismo no Brasil e

entende que não é fácil identificar vestígios de personalidade e

comportamento que se traduzem na vontade de criar coisas novas

e de concretizar, na prática, ideias próprias. Ele argumenta ainda

que as pessoas que têm vontade de realizar acabam por se destacar,

na medida em que, independente da atividade que exercem, fazem

com que as coisas efetivamente aconteçam (DEGEN, 1989).

Após Degen, a semente estava lançada. O movimento nacional

tomava corpo na década de 1990 com entidades como o Sebrae

(Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e a

Softex (Sociedade Brasileira para Exportação de Software) que

foram criadas naquela década (DORNELAS, 2005, p. 26).

É neste período que o Sebrae assume a implementação do

Empretec, em 1993, programa que segue até os dias atuais e que

tem grande reconhecimento nacional. O Empretec 10 foi concebido


como um programa das Nações Unidas (ONU), e teve sua primeira

aplicação no Brasil em 1991.

Tanto no percurso teórico quanto no educacional, é possível

observarmos que a temática do comportamento empreendedor,

especialmente no campo do conhecimento da psicologia, passou

a não se restringir ao campo executivo empresarial, começando


MÓDULO II

também a tratar de intraempreendedorismo, empreendedorismo

[10] Mais informações em www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/cursos_eventos/


36 Empretec:-fortale%C3%A7a-suas-habilidades-como-empreendedor#o-que-é
cívico, social etc. Além da associação a um indivíduo realizador,

gestor de riscos, responsável por resultados planejados, o

empreendedor foi também foco de estudos associados à liderança,

criatividade, autoconfiança, capacidade de lidar com incertezas,

tolerância a ambiguidades, dentre outros.

Filion (1999) e diversos outros estudiosos mais recentes observam

que as características do empreendedor se resumem no “ser

social”; por isso o aspecto regional se coloca muito relevante. Esse

tema é mesmo muito importante para a abordagem do papel dos

docentes dos IFs, Escolas Técnicas Estaduais e Sistema S em nosso

Curso 11, percebendo nestes atores o potencial e a responsabilidade


da promoção do capital social no território onde atuam, do

desenvolvimento de ações para fortalecimento do protagonismo

local, do desenvolvimento local e afins.

Autores como Shane e Venkataraman (2000) e Casson (2005)

defendem teses que afirmam que a ação empreendedora depende

tanto da interação entre as características da oportunidade, quanto

das características das pessoas que se propõem a explorá-las.

Sandra Korman afirma que, desde a década de 1980, o

empreendedorismo passou a ganhar atenção de outros campos

do saber, para além dos econômicos ou administrativos, dentre os

quais cita: ciências políticas, estudos culturais e educação.


MÓDULO II

[11] Será trabalhado ainda nesta disciplina na temática de ecossistema empreendedor,


assim como na disciplina “Metodologias vivenciais: ciclo de aprendizagem vivencial,
pesquisa-ação”, e “Planejamento, Modelo e Plano de Negócios”. 37
“[...], abarcando simultaneamente vertentes de

pesquisa empírica e teórica e enfoques qualitativos e

quantitativos, enveredando-se por uma diversidade

de temas que vão das características comportamentais

do empreendedor às políticas públicas para geração

de novas empresas.” (KORMAN, 2006, p. 28)

Korman concorda com Filion para quem essa expansão apresenta

domínio positivista-funcionalista, sendo necessário associar outras

perspectivas que unifiquem, em termos teóricos e metodológicos,

enfoque sobre o conceito relacionado à empreendedorismo,

indivíduo empreendedor, e sobre como ocorre o ato empreendedor.

Como vimos, as teorias hegemônicas do empreendedorismo

se desenvolveram majoritariamente no contexto gerencial e

do mundo dos negócios, sendo propagadas e difundidas como

estratégia para o crescimento econômico das nações.

No entanto, recentemente, diversos autores, pensadores e

realizadores passaram a ter uma proposta mais crítica em relação

a este conceito, o que demonstra o caráter atual e inovador deste

Curso de Educação Empreendedora. Isto porque o conceito e a

prática empreendedora, tratados e estimulados aqui vão além do

campo gerencial e empresarial na direção da “ação de qualquer

setor da vida, pessoal ou profissional” (KORMAN, 2006, p. 32).


MÓDULO II

Korman inclusive aproxima a ação de empreender do conceito

de “ação” da filósofa Hannah Arendt (1995) que tem relação com


38
“capacidade do sujeito que intervém no mundo, envolvido com

os processos de produção e reprodução da cultura e, portanto, de

manifestação das singularidades.” (KORMAN, 2006, p. 29)

Ainda neste contexto, Korman, retomando Shane, Locke, Collins

(2003) e outros, evoca a “causa” 12


como fundamental para

uma empreitada ganhar amplitude, saindo da esfera pessoal e

conquistando significado social e humano. Para ela, ao se falar

em empreendedorismo falamos de “desenvolvimento humano,

econômico e social” (KORMAN, 2006, p. 34).

Podemos observar que diversas questões polêmicas sobre

empreender terminam se defrontando com estudos sobre mercado

de trabalho - formal e informal, com a questão da proteção social

(precarização ou ausência dela), assim como de condições para

se empreender considerando o ecossistema existente.

Porém, acreditamos que a educação empreendedora pode ser

uma das ferramentas aliadas ao questionamento das realidades e

engendramento de ações transformadoras.

“o empreendedorismo não cresce de dentro para

fora, com a imposição de padrões ou modelos de

comportamento. Rejeitamo-lo como receituário

para o enfrentamento das contradições do

contemporâneo [...]. O empreendedorismo não pode


MÓDULO II

[12] Esse debate da causa como motivação para empreender aparece como uma das
questões importantes sobre o assunto no Global Entrepreneurship Monitor (GEM). 39
ser mais uma mercadoria, não deve reforçar a

lógica das indústrias culturais, que, na visão da

teoria crítica, transforma o homem em mero

instrumento de trabalho e consumo [...], trata-se

de algo muito mais próximo da arte, que instiga a

experimentação e manifestações singulares, que enseja

a expressão do que o sujeito é e do que ele próprio avalia

como possível e desejável se tornar, sem recorrer a

um modelo ´tamanho único` do proclamado script do

´sujeito empreendedor`.” (KORMAN, 2006, p. 38)

O fomento ao empreendedorismo implica também em questionar

as concepções e práticas dominantes de formação do trabalhador,

em abordar desejos individuais, coletivos e trajetórias de vida

planejadas e orientadas (FILION, 1999).

Concebendo a educação como um processo de transmissão cultural

e estrutural do ser humano, nos aproximamos do ato educativo

e da socialização per se, já que adentramos em um campo que

trata da ação formal das instituições de ensino, e também da ação

informal em que vários atores contribuem para a aprendizagem

de alguém sem necessariamente ter esta intenção.

Como, por natureza, a educação informal não pode ser direcionada,

focamos a análise na educação formal, já que ela pode, e é concebida


MÓDULO II

pelas instituições de forma orientada.

O ato educativo também está ligado à dinâmica em que membros


40
de uma sociedade são formados a sua imagem e em função dos

seus interesses. Através dela, a sociedade enreda a Humanidade,

integrando-se e conduzindo-a em seus valores e objetivos

(LAVIERI, 1997).

Atualmente, a temática educação empreendedora aparece ainda

fundamentalmente nas escolas ligadas ao planejamento e gestão de

negócios nascentes. Porém, dialogando com os pensadores citados

e suas críticas, este Curso propõe o foco na formação do indivíduo

empreendedor, no desenvolvimento de seu comportamento e de

suas atitudes empreendedoras como postura frente à vida e visão

de mundo.

Porém, devemos considerar que a academia tem um tempo

diferente do mercado para assimilar inovações, bem como uma

função científica e social específica. A maior parte dos currículos

acadêmicos brasileiros ainda não incorporaram as competências,

habilidades, metodologias e ferramentas importantes para a ação

empreendedora.

De toda forma, Dolabela, inspirado na metodologia da andragogia


13
, entende que devemos ensinar o empreendedor a aprender,

fortalecendo os processos autônomos de aprendizagem.

Essa estratégia concorda com os quatro pilares da Educação que

tratam de conceitos fundamentais e que têm base no Relatório


MÓDULO II

da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI,

[13] Educação voltada para adultos, segundo a definição creditada a Malcolm Knowles,
na década de 1970. 41
desenvolvido para a Unesco (Organização das Nações Unidas para

a Educação, a Ciência e a Cultura), coordenada por Jacques Delors.

Segundo este Relatório, os pilares da educação seriam: aprender a

conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, e aprender a

ser. O diagrama a seguir explica como os quatro foram detalhados.

Imagem 4 - Diagrama dos quatro pilares da educação

Fonte: DELORS, 2012.

José Pacheco, educador e fundador da renomada Escola da

Ponte, de Portugal, propõe a adição de outros três pilares como

orientação a educadores brasileiros neste vídeo que vamos indicar


MÓDULO II

daqui a pouco na seção “Saiba Mais”, mas que adiantamos aqui

(PACHECO, 2014):
42
1. Aprender a desaprender: para vencer o que nos encerra e aliena

e para nos emanciparmos de toda a carga cognitiva que nos foi

imposta;

2. Aprender a desaparecer: prover autonomia;

3. Aprender a desobedecer: quebrar regras em equipe.

Finalmente, a educação empreendedora está relacionada à

formação de indivíduos com capacidade de analisar e transformar

suas realidades; sejam elas social, econômicas, políticas, cultural

ou ambiental.

SAIBA MAIS
A exposição de José Pacheco, fundador da Escola da Ponte de Portugal,
coloca em questão as práticas conservadoras educacionais, e trata dos
pilares da educação (DELRS, 2012), indicando outros três. A seguir o vídeo
Ted x Unisinos, de 2012: www.youtube.com/watch?v=reOEnY8jkjo

Essa iniciativa inspirou diversas outras em todo o mundo. Uma delas acontece
em São Paulo. Projeto Âncora, em Cotia, SP: pacheco-da-escolada-ponte-o-
professor-deve-ser-um-mediador-de-conhecimentos/

Esse programa da TV Escola do MEC é muito inspirador. Trata da vida, obra


e ações de Paulo Freire. http://tvescola.mec.gov.br/tve/video/especiais-
diversos-paulo-freirecontemporaneo
MÓDULO II

43
VOCÊ SABIA?
Esse áudio livro gratuito na Internet tem sido usado em alguns programas
do ensino fundamental no Brasil para apoiar processo de identificação de
sonhos dos jovens os quais, desde cedo, têm sido estimulados a planejar
sua vida. A obra “A menina do Vale” trata da história da jovem brasileira
empreendedora e escritora Bel Pesce. Baixe para ouvir o livro no Youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=TAd8Q7sB8HQ

SAIBA MAIS
A Pesquisa “Educação para o Século 22: como empreendedores podem
ajudar a aproximar a educação do emprego”, da Aspen Network of
Development Entrepreneurs (ANDE) divulgada em dezembro de 2015, trata
das lacunas entre educação e emprego e sobre como empreendedores do
campo da educação podem contribuir atuando nas falhas e nas habilidades
dos jovens. A pesquisa foi realizada no Brasil, na Índia e no Quênia,
considerando que se tratam dos três países com maiores perspectivas de
criação de novos empreendedores no campo da educação. Os resultados
da pesquisa apontam que as “empresas focadas em educação são parte
da solução, mas elas, sozinhas, não são a solução. Elas têm um importante
papel no preenchimento dos espaços entre a educação e o emprego, mas
a resolução do problema requer esforços combinados entre corporações,
governos, sociedade civil e empreendedores.”
MÓDULO II

44
MÓDULO III - AMBIENTES DE
INOVAÇÃO

MÓDULO III

45
De que empreendedorismo estamos falando?

Ao tratarmos de empreendedorismo – para além da visão de

negócios e empresas – como um conceito abrangente que, acima

de tudo, pode orientar crítica e ativamente a nossa vida, podemos

correlacionar este conceito com obras e teses interessantes sobre

desenvolvimento.

Longe do campo empresarial, empreendedorismo – como

também trabalharemos aqui neste Curso – pode ser visto como

uma postura frente à vida, uma forma de lidar com os desafios do

mundo. Como aponta o economista indiano Amartya Sen (2010),

autor da obra “Desenvolvimento como Liberdade”, acreditamos

que a liberdade está associada à capacidade real de cada pessoa

fazer escolhas e lograr objetivos, e isso reflete no próprio processo

de desenvolvimento de uma nação.

Amartya Sen ganhou o Nobel de Economia em 1998. Em 1993, junto

com Mahbub ul Haq, desenvolveu o Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH), que vem sendo usado pelo Programa das Nações

Unidas para o Desenvolvimento (Unctad) para medir, não

somente o crescimento econômico dos países, mas principalmente

o impacto deste crescimento na qualidade de vida das pessoas.

Compartilhamos neste Curso a visão do empreendedorismo não

somente associado ao crescimento econômico de um território, mas


MÓDULO III

principalmente associado ao desenvolvimento autossustentado,

equilibrado e perene, que envolve mudanças qualitativas no modo


46
de vida das pessoas e das instituições, tendo nelas o papel de

protagonista neste processo.

Desenvolvimento é um processo dinâmico e complexo de

mudanças e transformações de ordem econômica, política, cultural

e principalmente, humana e social. Deve resultar do crescimento

econômico que vem acompanhado pela melhoria da qualidade de

vida, por meio da alocação de recursos pelos diferentes setores

da economia, de forma a melhorar os indicadores de bem- estar

econômico e social (pobreza, desemprego, desigualdade, condições

de saúde, alimentação, educação e moradia). (VASCONCELOS,

1998)

Como desenvolvimento, empreendedorismo também é um termo

complexo, cheio de diferentes e possíveis entendimentos. E, como

vimos na última Unidade, não é exatamente um termo novo.

Durante algum tempo esteve associado à ação de quem desenvolve

um negócio lucrativo e ao crescimento das escolas de negócios

por todo o mundo que apresentavam fórmulas para o sucesso do

empreendedor. Durante muito tempo acreditou-se que a chave do

desenvolvimento estava somente nas pessoas, que elas deviriam

ser preparadas para melhor gerenciar seus negócios e isso,

automaticamente, geraria o desenvolvimento. Porém, segundo

Drucker (1997), o sucesso do empreendimento não depende


MÓDULO III

apenas da capacidade do empreendedor, mas depende, sobretudo,

do ambiente que o cerca.

47
A partir daí, então, este olhar foi ampliado e a consideração do

ambiente passou a ser feita; este ambiente deveria ser favorável

para dar sustentabilidade e competitividade aos empreendedores,

seus empreendimentos e, consequentemente, ao território no qual

estavam instalados.

Empreendedorismo inovador

Atualmente vivemos uma mudança da natureza do desenvolvimento

dos países. Depois de passar por uma época focada nos recursos

naturais de um território e por outra, focada na força de trabalho,

poderíamos então considerar que estamos nos tempos da Sociedade

do Conhecimento (HARGREAVES, 2003). O conhecimento é hoje

a competência central de países e a produção deste conhecimento

é elemento fundamental que diferencia e gera inovação. Este

fato realça o que expusemos na unidade I em relação ao papel da

educação básica. As vocações científicas têm sua gênese em uma

densa educação básica.

Em países em desenvolvimento, como o Brasil, este aspecto é de

grande relevância, uma vez que a geração de riquezas, através

da inovação, é um caminho para a criação de uma economia

competitiva globalmente. O empreendedorismo inovador será

também tema no Curso. Ele será trabalhado de forma transversal

em todas as Disciplinas e também de forma específica em outras 14.


MÓDULO III

[14] A questão do empreendedorismo inovador será tratada com profundidade nas


Disciplinas “Contextos empreendedores”, “Educação, trabalho e empreendedorismo”
48 e “Mercado, inovação e empreendedorismo por meio de experimentação”.
Logo, a proposta aqui não é aprofundar, mas apenas apresentar o

termo para abordamos outras questões associadas.

O empreendedorismo inovador é uma diretriz que orienta os

principais agentes de geração de inovação no Brasil e no mundo.

Ele se diferencia do empreendedorismo em geral por imprimir

diferenciação de produtos e serviços ofertados em relação a

seus concorrentes. Podemos encontrar ações empreendedoras

inovadoras em setores muito tradicionais da economia. Como

exemplo, há serviço de oferta de alimentos à população que inova

no atendimento, na logística, na distribuição, na apresentação do

produto, na forma de pagamento e de manutenção da clientela etc.

Existem dois tipos de empreendedores: os que empreendem

por necessidade e que estão representados por sujeitos que,

não encontrando melhores opções de trabalho, elegem o

empreendedorismo como estratégia de sobrevivência. Já os

empreendedores por oportunidade são representados por sujeitos

que, a partir da identificação de uma oportunidade de negócio,

elegem o empreendedorismo como forma de inserção no mundo

do trabalho.

É notória a dinâmica positiva nacional em que o empreendedorismo

inovador tem se apresentado. Pesquisa recente da Global

Entrepreneurship Monitor (GEM), realizada em 2014 e


MÓDULO III

publicada em 2015, aponta que a motivação para empreender

pela identificação de uma oportunidade tem-se mantido estável

no Brasil de 2010 a 2014. A cada empreendedor que começa suas


49
atividades por necessidade, dois empreendedores começam a

empreender ao identificar alguma oportunidade.

Tabela 1 – Categorias de análise sobre motivação para empreender

Conceito Significado Contexto Implicação


Planejam sua ação
Empreendedor por É representado por pessoas que
identificam oportunidades de
São mais encontrados em locais com
maior grau de desenvolvimento e de
empreendedora, o que
aumenta as chances de
oportunidade negócio. apoio ao empreendedorismo.
sucesso.

São mais encontrados em locais


É representado por pessoas que Não planejam sua ação
Empreendedor por não encontraram opções de
com menor grau de
desenvolvimento, onde o ambiente
empreendedora, o que
trabalho formal e optam por amplia sua possibilidade
necessidade emprender.
político e econômico é menos
de insucesso.
favorável ao empreendedorismo.

Fonte: Elaboração própria.

Para efetivos comparativos, a Finlândia tem essa relação bem

diferente. Para cada empreendedor por necessidade, há outros 12

empreendedores por oportunidade, que iniciam suas atividades

por ano. Esses dados revelam muito do ecossistema empreendedor

amigável ou não de uma nação, e têm relação direta com a

performance competitiva dos países. (GEM, 2015)

Tabela 2 – Relação entre Motivação para empreender -


necessidade versus oportunidade

Por necessidade Por oportunidade


Brasil 1 2

Finlândia 1 12

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da GEM, 2015.


MÓDULO III

50
Estudos históricos têm demonstrado que países em

desenvolvimento apresentam mais empreendedores por

necessidade do que por oportunidade. Autores como Nixdorff e

Solomon (2005), apontam que a identificação de oportunidades

por parte de um empreendedor faz parte de uma dinâmica cognitiva

que pode ser perfeitamente adquirida a partir de treinamento,

de qualificação. Essa tipologia e outras também relacionadas ao

indivíduo e ambiente empreendedor serão trabalhadas com mais

enfoque na Disciplina “Tipos de Empreendedorismo”.

Portanto, acreditamos que a educação empreendedora nos IFs

e Sistema S tem papel fundamental no estímulo e indução de

empreendedores por oportunidade, ainda que estejamos também

lidando com outros aspectos importantes e muito particulares

e comportamentais como intuição, perspicácia, perseverança,

intencionalidade, criatividade etc.

Essas questões comportamentais relacionadas ao ato de

empreender serão trabalhadas com aprofundamento em outras

Disciplinas, especialmente a “Desenvolvimento de Negócios e

Carreiras Empreendedoras” e “Liderança, Atitude e Características

do Comportamento Empreendedor”.

VOCÊ SABIA?
MÓDULO III

Se você quiser saber mais sobre dados do empreendedorismo no Brasil, leia


o último relatório do GEM (2015) para o Brasil em: www.ibqp.org.br/upload/
tiny_mce/Download/GEM_2014_Relatorio_ Executivo_Brasil.pdf

51
Desafios para criação de um ecossistema
empreendedor

Como vimos, um sistema articulado entre atores e instituições de

forma sinérgica é necessário e pode orientar um processo virtuoso

de desenvolvimento socioeconômico sustentável para qualquer

território usando a inovação como eixo estratégico e fundamental.

Este trabalho articulado pode impactar positivamente indicadores

quantitativos (PIB, nível de renda, riqueza, emprego etc.) e

qualitativos (melhoria do índice de desigualdades, qualidade de

vida etc.) tão importantes para qualquer nação.

O ecossistema de empreendedorismo brasileiro conta com

instituições muito importantes.

• FINEP/MCTI;

• Governos locais;

• Sistema S;

• Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia;

• Fundos de amparo à pesquisa dos Estados;

• Incubadoras, Parques Tecnológicos, Aceleradoras de Empresas;

• Universidades;

• Centro de Pesquisa, Tecnologia e Inovação privados e públicos;

• PD&I de Empresas;
MÓDULO III

• etc.

52
Diversos
Diversosautores
autoresestudam
estudamque
quetipos
tiposde
deinstituições
instituiçõesdevem
devemestar
estar
presentes
presentesem
emum
umterritório
territóriopara
paraque
queconsigamos
consigamos trabalhar
trabalhar seu
seu
desenvolvimento
desenvolvimento com
com aainovação
inovação eeaoeducação empreendedora
empreendedorismo como

como
panopano de fundo.
de fundo.

AAabordagem
abordagemda
daHélice
HéliceTríplice,
Tríplice,por
porexemplo,
exemplo,desenvolvida
desenvolvidapor
por
HenryEtzkowitz
Henry etzkowitzeeLoet
loetLeydesdorff
leydesdorff(2003),
(2003),éébaseada
baseadana
narelação
relação

entrecentros
entre centrosgeradores
geradoresdedeconhecimento
conhecimento (como
(como os Universidades
IFs e escolas
e escolas
técnicas dotécnicas) com
Sistema S) as as
com Empresas
empresas(setor
(setorprodutivo
produtivodedebens
bense

e serviços)
serviços) ee oo Governo (setor regulador
governo (setor reguladoreefomentador
fomentadorda
daatividade
atividade

econômica), visando
econômica), visandoà aprodução
produçãodedenovos
novosconhecimentos
conhecimentos,
e oa
inovação tecnológica
desenvolvimento e ao desenvolvimento econômico.
econômico.

imagem11––Diafragma
Imagem Diagrama Tripla
Tripla Hélice
Héliceconforme
conformeetzkowitz
Etzkowitzee
Leydesdorff (2003)
Leydesdorff (2003)

UNIDADE
MÓDULO IIII

Fonte:
fonte:Elaboração
Elaboração própria.
própria. 17
53
O economista Tapan Munroe (2008), por exemplo, estuda sobre

a economia da inovação e sobre como se articulam as economias

das regiões de inovação, como o Vale do Silício e o High Tech San

Diego.

Em sua opinião, o desenvolvimento da economia regional seria

gerado pela presença de oito atores diferentes: centros geradores

de conhecimento como universidades, empresas públicas, escolas

técnicas que realizam pesquisa, empreendedores, investidores

anjos 15; capital de risco 16, boa infraestrutura, tanto social como
física, força de trabalho altamente treinada com acesso global, boa

qualidade de vida.

Munroe entende que boa comida, vinho e café são fundamentais

para a qualidade de vida de uma região. Ou seja, bares, restaurantes

e cafés seriam importantes para o capital social da região, assim

como um bom clima para negócios com pouca burocracia e apoio

do governo local (MUNROE, 2008).


MÓDULO III

[15] Pessoas físicas que investem recursos financeiros próprios em negócios nascentes
(start ups do termo em inglês), assumindo os riscos, participando do retorno financeiro
(se houver), apoiando na sua execução.
[16] Mais sobre wesse assunto será tratado nas Disciplinas “Desenvolvimento de
Negócios e Carreiras Empreendedoras” e “Liderança, Atitude e Características do
54 Comportamento Empreendedor”.
Imagem
imagem2 2–- A
a ecologia dainovação
ecologia da Informação

Fonte: Munroe2008.
fonte: Munroe, (2008).

O professor americano Daniel Isenberg é líder de projetos de


O empreendedorismo
professor americano Daniel
da Babson Isenberg
College, é líder de
Universidade dereferência
projetos de

empreendedorismo
em estudos sobre odatema.
Babson College,
Isenberg universidade
defende de referência
o “Ecossistema do

emEmpreendedorismo” como um
estudos sobre o tema. ambiente
Isenberg que integra
defende atores que, do
o “Ecossistema
em maior ou menor como
Empreendedorismo” grau, dão suporte ao que
um ambiente desenvolvimento do que,
integra atores
empreendedorismo a partir de inter-relações. (BITENCOURT et.
em maior ou menor grau, dão suporte ao desenvolvimento do
al., 2014, apud isenBerG, 2014)
empreendedorismo a partir de inter-relações. (BITENCOURT et.

2014,
al.,Ao ISENBERG,
apuddiferentes
analisar 2014)
formas de apoio ao empreendedorismo
em vários países, o autor advoga que não havia apenas uma
UNIDADE I

Ao analisar diferentes formas de apoio ao empreendedorismo


característica que determinava o sucesso do empreendedorismo
emlocal;
vários países,
pelo o autor
contrário, advoga que
um ecossistema nãodehavia
inteiro apenas
variáveis era uma
MÓDULO III

característica que determinava o sucesso do empreendedorismo


19
local; pelo contrário, um ecossistema inteiro de variáveis era

necessário para estimular o empreendedorismo para que se


55
necessário para estimular o empreendedorismo para que se
sustentasse ao longo do tempo, causando, de fato, impactos sociais
sustentasse ao longo do tempo, causando, de fato, impactos sociais
e econômicos positivos para a economia. (idem)
e econômicos positivos para a economia. (idem)

Imagem 3–
Imagem 3 -Diagrama
Diagramada
da Árvore Problemas
Árvore de Problemas

Fonte: BITENCOURT et. at., (2014), apud ISENBERG (2014).


fonte: BITENCOURT et. at., 2014, apud isenBerG, 2014.

Para Isenberg (2010), não existe fórmula para criarmos uma


UNIDADE I

economia empreendedora. No entanto, há práticas e caminhos

possíveis, sendo estes os domínios definidos por ele: políticas


20públicas, capital financeiro, cultura, instituições/profissões de
MÓDULO III

suporte, recursos humanos e mercados (idem).

56
Em resumo, para finalizar essa unidade, concluímos que mesmo

os empreendedores por necessidade, se imersos em um ambiente

favorável ao empreendedorismo, possuirão chances de sucesso

ao contarem com uma formação apropriada e um ambiente

político e econômico adequado, com apoio financeiro, políticas

governamentais, assistência técnica, educação e capacitação.

VOCÊ SABIA?
Alguns países calculam o índice de Felicidade Interna Bruta (FIB) de seu povo
associando-o a outras métricas quantitativas e qualidade de desenvolvimento.
Essa iniciativa começou com o Butão, em 2004, pequeno país na Ásia, e
posteriormente passou inclusive a ser estimulada pela Organizações das
Nações Unidas (ONU). O FIB considera o bem-estar da população, o respeito
ao meio ambiente, entre outros critérios para sua apuração. No Brasil, há
iniciativas interessantes em curso e um vasto material informativo para
consulta, aprofundamento e estímulo à aplicação dessa métrica.

MÓDULO III

57
MÓDULO IV- NOSSA PROPOSTA
PEDAGÓGICA EMPREENDEDORA
MÓDULO IV

58
Nossa proposta pedagógica empreendedora

Como vimos, o Curso de Especialização em Educação

Empreendedora foi concebido como uma pós-graduação Lato

Sensu, no formato a distância, visando qualificar professores de

instituições de ensino técnico e profissional.

O processo de formulação do Curso levou em consideração

os desafios da aprendizagem enquanto processo dinâmico de

interação entre agentes educadores, associando a realidade do

aluno educando e seu entorno de atuação pessoal e profissional

Além disso, este processo considerou os desafios do curso a

distância, que lida com a aprendizagem autônoma a partir de

articulação entre teoria e práxis em que o professor é mediador,

facilitador do processo de ensino e aprendizagem.

Entendemos que a aprendizagem autônoma está relacionada ao

envolvimento comportamental do aluno. Logo, um simples apertar

de um botão, o ato de digitar uma resposta, a singela escolha de

uma ideia dentre uma lista de opções incita aprendizagem.

No entanto, queremos mais que isto! Queremos que você se envolva

neste processo e que ele tenha real repercussão na sua vida!

Ao longo do Curso, nossa intenção é que você aprimore sua maneira

de estudar neste novo formato, e que haja processamento cognitivo


MÓDULO IV

do conteúdo para que você adquira novos conhecimentos e novas

habilidades.
59
Esperamos que você realize as atividades propostas com o

entusiasmo de quem pode, de fato, transformar a realidade.

Esperamos que você integre o que vai ver aqui com seu conhecimento

prévio e com sua realidade de vida pessoal e profissional. Afinal,

é a isso que o empreendedorismo deve se propor. A carreira de

docente já é cheia de desafios e traz muita satisfação. Pensamos

este Curso de forma a que você se sinta ainda mais preparado e

confiante para ter a certeza de estar fazendo diferença no mundo.

A partir de agora, inclusive, nossas provocações não serão apenas

sobre se os seus atos estão fazendo diferença no mundo; mas,

além disso, se você tem estimulado o “fazer diferença no mundo”

de seus alunos. Neste contexto, listamos aqui alguns objetivos

específicos para nosso Curso de especialização que se inicia com

essa Disciplina:

a. Expressar habilidade de disseminar a cultura empreendedora

em suas turmas e instituições de educação profissional e técnica

em nível estadual, federal, e junto aos Sistemas Nacionais de

Aprendizagem Brasileiros;

b. Aprimorar visão de seu papel social de educador e capacidade

de se inserir em diversas realidades com sensibilidade para

interpretar as ações e necessidades dos educandos;


MÓDULO IV

c. Qualificar visão da contribuição que a aprendizagem do

Empreendedorismo pode oferecer à formação dos indivíduos para

o exercício de sua cidadania;


60
d. Desenvolver a observação de que o conhecimento em

empreendedorismo pode e deve ser acessível a todos, e consciência

de seu papel na superação dos preconceitos;

e. Instigar a capacidade de compreender, criticar e utilizar novas

ideias e tecnologias para a resolução de problemas, bem como os

conhecimentos de questões contemporâneas e de sua realidade;

f. Apoiar o enfrentamento dos desafios que estão sendo endereçados

à educação como um todo e principalmente ao apagão da força de

trabalho” que recai como expectativa no ensino técnico de forma

prioritária;

g. Dar suporte ao estímulo e ao desenvolvimento de potencialidades

a partir da experimentação de atitudes empreendedoras e a

investigação das causas pessoais dos alunos;

h. Prover capacidade de aprendizagem continuada, sendo sua

prática profissional também fonte de produção de conhecimento;

i. Dar habilidade de identificar, formular e resolver problemas na

sua área de aplicação, utilizando análises de situações-problema;

j.Oportunizar habilidades duráveis para aplicar o

empreendedorismo como atitude ao desenvolvimento local e

regional;
MÓDULO IV

k. Apoiar a geração de competências estruturantes e operacionais

de comportamento empreendedor;
61
l. Estabelecer relações entre Empreendedorismo e outras áreas do

conhecimento, bem como trabalhar em equipes multidisciplinares

e na interface do Empreendedorismo com outros campos do saber;

m. Associar relações entre os conhecimentos de Empreendedorismo

e a realidade local, de modo a produzir um conhecimento

contextualizado e aplicado ao cotidiano dos alunos.

E, como vimos e veremos em todas as Disciplinas do Curso, uma das

premissas mais importantes é de que a educação empreendedora

não está limitada à geração de empreendimentos, está sobretudo

associada ao desenvolvimento de atitude e comportamento

inovador e proativo em relação à vida profissional e cidadã das

pessoas.

Logo, entendemos que todo processo educativo voltado ao ato

de empreendedor se relaciona necessariamente com dinâmicas

de transformação do indivíduo, do entorno, das relações. Prevê

projeção de um jeito diferente de pensar sobre si mesmo e sobre

o mundo.

A ação empreendedora envolve o trabalho com vivências

que despertam o comportamento empreendedor, a busca

de oportunidades, a resolução de problemas reais, assim

como iniciativa, comprometimento, propósito, persistência,

independência, autoconfiança etc.


MÓDULO IV

Concebemos a pedagogia empreendedora como parte das ações

de valorizações dos processos educacionais que estimulam o


62
desenvolvimento do ser humano em todas as suas dimensões, de

forma a contribuir com ideias para o mundo do trabalho e para o

ambiente em que está inserido (Pronatec Empreendedor, 2015).

Acreditamos que a educação empreendedora contribui para

o processo construtivo contínuo do conhecimento técnico

e profissional, incitando o exercício de suas funções com

compromisso ético, com competências para o exercício da liderança,

da participação coletiva e da democrática na perspectiva de uma

sociedade mais justa, economicamente viável e ambientalmente

equilibrada.

O Curso

Fruto de parceria entre o Instituto Gênesis, o Departamento de

Educação e a Coordenação Central de Educação a Distância -

CCEAD da Pontifícia Universidade Católica – PUC-Rio com o Sebrae

Nacional, este Curso foi concebido para apoiar o desenvolvimento

de competências empreendedoras e para ensejar a realização de

ações planejadas, críticas e sustentadas no mundo do trabalho,

tanto para vocês, nossos alunos que atuam como professores,

como para seus alunos, já que entendemos que o conhecimento

a ser adquirido no Curso será utilizado nos processos formativos

por vir.
MÓDULO IV

O Curso é oferecido em ambiente EAD próprio, com ferramentas

modernas que possibilitam desempenho do processo de


63
aprendizagem, por meio da disponibilização de conteúdos

sistematizados, de atividades individuais e coletivas e demais

formas de comunicação e de interação como: participação

em fóruns, bate papos, vídeos, além de atividades avaliativas

presenciais e a distância.

A estrutura curricular foi concebida para ser aplicada a partir das

seguintes Disciplinas ao longo de 18 meses e 400 horas de jornada:

DISCIPLINA

1 EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA: RESGATE DO HISTÓRICO E DOS PRINCÍPIOS CONSTITUINTES

2 CONTEXTOS EMPREENDEDORES

3 DESENVOLVIMENTO DE NEGÓCIOS E CARREIRAS EMPREENDEDORAS

4 LIDERANÇA, ATITUDE E CARACTERÍSTICAS DO COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR

5 TIPOS DE EMPREENDEDORISMO

6 EDUCAÇÃO, TRABALHO E EMPREENDEDORISMO

7 MERCADO, INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO POR MEIO DE EXPERIMENTAÇÃO

8 METODOLOGIAS VIVENCIAIS: CICLO DE APRENDIZAGEM VIVENCIAL, PESQUISA-AÇÃO

9 GESTÃO DE PESSOAS E NEGOCIAÇÃO DE CONFLITOS

10 NOÇÕES BÁSICAS DE GESTÃO DE PROJETOS E PROCESSOS

11 TIPOS DE EMPREENDEDORISMO, LEGISLAÇÃO, ABERTURA DE EMPRESAS COM FOCO NO MEI


MÓDULO IV

12 PLANEJAMENTO, MODELO E PLANO DE NEGÓCIOS

13 ORIENTAÇÃO TRABLHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (TCC)


64
Os professores conteudistas foram escolhidos considerando sua

bagagem em termos de conteúdo, experiência e didática. Suas

habilidades, competências, expertises e tempo de docência e/

ou consultoria e/ou estudioso da sua respectiva temática foram

avaliados.

O professor EAD foi escolhido considerando sua experiência

docente, história de relação com o conteúdo do Curso como um

todo, e sua história de atuação com ferramentas de ensino a

distância.

O professor EAD atuará com a função de mediação do processo

educativo para facilitar a apresentação do conteúdo, tirar dúvidas

de temas e do próprio ambiente eletrônico, levantar questões

chave, guiar as discussões conforme a orientação do material

didático, sendo ainda o responsável pela relação do aluno com a

Universidade e com o professor conteudista (autor do material

didático das diferentes Disciplinas do Curso).

Cada professor EAD estará responsável por uma turma de alunos

no ambiente EAD.

E, você, nosso aluno, é o principal ator nesta caminhada. Esperamos

que você interaja na Plataforma EAD com o professor EAD e os

demais colegas da turma. Que tenha disciplina e autonomia nos

seus estudos, compromisso com leituras e prazos, curiosidade com


MÓDULO IV

indicações complementares de aprendizagem, estímulo à reflexão

e re(aplicação) crítica dos conteúdos em seus próprios cursos etc.


65
Referências bibliográficas

PRINCIPAIS

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manual: The step-by-step guide for building a great company.

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MÓDULO IV

70
71
MÓDULO IV

Você também pode gostar