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ão do Patrimônio Arquitetônico da Industrial· -


RestauraÇ . zzaçao
eprojeto de Arquitetura: Temas Resultantes da Análise de
Intervenções e da Bibliografia

ANÁLISE DE AÇÕES RECENT ES EM E DI FÍCIOS


DA INDUST RIALIZAÇÃO NA CIDADE D E SÃO PAULO

Várias intervenções foram feitas recentemente no Bairro da Luz; o intuito é


promover a revalorização de toda a região com repercussão sobre áreas mais
vastas da cidade. Exemplos ilustrativos são as obras na Estação Júlio Prestes,
as transformações na Pinacoteca do Estado, os trabalhos no próprio Jardim
da Luz, as intervenções no antigo armazém da Companhia Sorocabana e na
Estação da Luz, todos bens tutelados por lei. A preservação das duas estações
équestão da maior relevância, pois ambos os edifícios são testemunhos signi-
ficativos da arquitetura ferroviária no Estado e representantes proeminentes
do patrimônio industrial. As consequências dessas intervenções são também
essenciais na escala urbana, uma vez que poderia resultar numa tão espera-
da e necessária recuperação de grande área do centro de São Paulo, assunto
já abordado neste texto. Algumas das intervenções, no entanto, são também
exemplos ilustrativos da falta de discussão aprofundada sobre as raízes que
movem a preservação e os critérios de intervenção em bens de interesse cultural.

Edifícios da antiga Companhia Sorocabana: estação Júlio Prestes e armazém

~s.companhias ferroviárias de São Paulo procuravam através de seus edi-


c~os construir uma "identidade" própria em relação às outras empresas, e
ª
E
rivalidade entre elas repercutia na arquitetura de suas pnncipa
· · is estações.
xemplo é J .1. d empresas que
ad . ª
qu1riram .
u 10 Prestes da Companhia Sorocabana, uma as .
A companhia, nas
· maior destaque no Estado fundada em i 7o.8
Prim.eiras dé ' . . 'd d dos edifícios de
cadas do século xx, abandonou a s1mp11c1 a e

177

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,
pRESfR \ AÇ
Ô IO ~lt QU I TfiTÔN I C O ll A I NDUST ~IAL I
ÃO oO l'ATltl M N 2: A.Ç.\o
- ~ ssT~ U R
A ÇÃO DO PATR I MÔNIO ARQUITF. Ô
-T Ni co DA IN
DUSTR
I ALIZAÇÃo
formular algumas de suas pri ncipais estaç' rn dos princípios basilares do rest ...
. eira para re oes e
sua fase pion ' . res e mais imponentes 1. ' º'11 eitar u . . aura, adi5r ..
. d torná-las nia10 . , . , . resP orânea, dois outros preceitos ficam p . . 1ngu1b1lidade d .
0 intuito e r . proJ·etada pelo escntono tecn1co de Sainu 1efTlP re;ud1cad , a açao
_ J•lio Prestes 101 e1e C n con rsibilidade (re-trabalhabilidade) - . , os- minima int
A Estaçao u ·naugurada em i3 de maio de 1930, ai nda. tis. . 0 e reve •;a compr . erven.
kler das Neves e L - • inacab ça ro;' eto, quando da escolha do uso pa ometidos na fase
tiano Stoc _ h ,e alterações em relaçao ao pro;eto original en ada. · r ao P ra aquele es . ante-
execuçao, ou1 ' 1 espe . n0 ue pese a legitimidade de oferecer u paço (figuras 4 )
Ouranteª . t compõe-se basicamente de dois blocos ret ciaJ .EfTl q • . . ma sede di , . e5 .
b ra o con;un o anguJ e a excelenc1a da sala pro;etada pelo es . , . gna a Sinfônica d
na co ertu · . 'dade ao outro: a administração e o corpo cob ares .Estado ' cntono de N Is o
di ostos w11 em contmu1 . - " erto d uências da proposta para o organismo d d' , . e on Dupré, as
sp d elemento de hgaçao entre eles, o concourse" A as conseQ _ o e 1f1c10 co
lataformas, ten o com 0 . o con concretizada, nao parecem ter sido avaliad mo um todo
P . a estação de passagem, a da Sorocabana é uma · corn° as em profu d' '
trário da Luz, que e um - estação de maneira veemente sua própria essênc' . n idade, pois
s no Estado de Sao Paulo, e adota uma soluçã a]terou . ia, ou seia, seu es
terminal, uma das rara . . . o Pouco a partir do qual se articulava, e para 0 qu 1 b . paço central
difício admimstrat1vo com seu lado maior paralelo , . aber to • _ . . a se a na, tod0
usual, ao colocar o e . . as vias dificação. Nao tena sido o caso de estudar u o restante
_ transvers ai . 0 complexo foi concebido segundo. preceitos distintos.. no' da e , . , . ma transforma ã
e nao 't sse as caracten sttcas bas1cas de organização d . ç o queres-
edifício administrativo e nas fachadas de todo o con;unto foi empregada Un. pe1 a o coniunto? Nà0
ido também aventada a possibilidade de instai • poderia
ter s . , ,. ar a sa1a de concert
guagem marcada Pelo historicismo, fazendo -se uso de elementos derivad os do al próximo que fosse u111do a )uho Prestes, que ma t . os em
.. france's•enquanto na sustentação da cobertura 1oc _ , . , . n ena seu espaço cen
class1c1smo . , das platafonn as 10r.
1 rn sua vocaçao bas1ca e caractenst1cas essenciais s . d trai
utilizada concepção estrutural das mais avanç~das para ~.epoca. Essa dualidade co .. ' ervin o como vestíbul0
ntinuando a ser utilizado de forma esporádica para
e Co . . eventos, como vinha
na compos1·ça· o e' bastante comum nas estaçoes ferroV1a nas e várias delas no ocorrendo? Por. que propostas menos mvas1vas não foramtamb.em analisadas .
2
Estado de São Paulo apresentam essa dicotomia • O tratamento coerente dado orn maior acuidade 7
. O fato de ter, em potencial qualidad . .
· nto' 00 entanto' harmoniza a obra (figurai, p. 245). C . . _ . . ' es acusticas excep-
ao coniu
cionais ;ust1fica tal alteraçao
. do espaço
, ongmal •uma vez que essas qua11.dades
Em 1999 foram concluídas obras de transformação no edifício adminis-
e Proporções podenam ser construidas em outro lugar?· Não ex.i· st'mam . outros
trativo da Estação Júlio Prestes com conversão para outro fi m. A construção locais mais adequados para o fim proposto?
é oroaoizada em torno de um grande átrio central (figuras 2 e 3) - tendo em Seria uma justa discussão das várias possibilidades de conversão e mo-
seu "perímetro galerias nos vários pavimentos-, a parti r do qual se articulam dernização e suas consequências, que não parecem ter sido examinadas até
os espaços. Foi, a princípio, projetado para ser coberto por uma abóbada de as últ in1as instâncias no que concerne aos preceitos teóricos atinentes à pre-
berço envidraçada, mas essa cobertura jamais foi executada. O objetivo da servação. É questão complexa, pois qualquer restauração, seja para manter a
intervenção foi instalar na edificação parte da Secretaria de Estado da Cultura função de origem, seja para estabelecer uma nova, interfere na edificação e,
e a sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, criando uma sala por mais restrita que seja, implica mudanças. Escolhas devemser feitas, mas
de concertos oo átrio, uma vez que, devido às suas proporções, teria carac- têm de ser fundamentadas em critérios consistentes, oferecidos pelasvertentes
terísticas acústicas excepcionais. O empreendimento exigiu, porém, grandes teóricas da restauração, que são baseados nas razões por que se preserva. O
mudanças, pois foi necessário alterar a característica básica desse espaço, que, uso, essencial para a preservação, deve ser compatível com as características
de aberto, passou a ser completamente fechado. Por questões acústicas, uma do bem, não apenas naquilo que se refere a um uso nominal, mas também
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cobertura isolante e um complexo sistema de forro com painéis ajustáveis no modo como o programa é desenvolvido.
for301 instalados, e suas laterais, antes fonte de iluminação e ventilação para Muita atenção deve ser dada ainda às propostas de transformação da área
as galerias nos vários andares, tiveram de ser fechadas. Apesar de o projeto das plataformas, dadas as especificidades daquele espaço e de sua estrutura
metálica (figura 6). A cobertura tem 206 metros de comprimento por 4J.90
metros de largura, e sua estrutura, de origem alemã, é composta por teso~-
1. Sobre a companhia e seus edifícios, ver os textos de Antonio Soukef jr em Sorocabana: Uma ras de alma plena com arco ogivaP. O sistema de construçao · e· bastante d1·
Saga Ferroviária, São Paulo, Dialeto, 2001, e ainda os texlos do mesmo aulor e de Silvana Rubino
em Estação Júlio Prestes, São Paulo, Prêmio, 1997.
2. Para as tipologias de estação, descrição do edifício e referências bibliográficas complemenlares t·A .~strutura foi descrita em artigo de Bruno Simões Mogro, "A Es1ação lnicial da E. F. S<>rocu·
sobre estações ferroviárias ver 8. M. Küht, Arquitetura do Ferro.. ., 1998, pp. 58-66, 117· !75· ana' Boletim do Instituto de Engenharia, 1930, vol. 12, n. 6-0, PP· 284-290, naép<><u •ngenheiro

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A IND US T
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1.""~º
r•rss •''AÇ AO ººPAT RIMÔNIO ARQUITETÔNICO o RA ÇÃO 00 PATR IM ÔN I O ARQUIT,T()Nlc
ssTAU oº" INou
~ •Tll•t1z,çÃo...
,
1eren e daquele empregado na Estação da Luz, como será visto
. ad.1 _ da Luz. O armazém, perfeitamente . , .
. 1Prestes cada armação era montada em sua inteireza no chã 0 <lnte· ~.
u• 10 ·~a
e taǪº . . .
da .,s d 'achada principal, possui dois Iramos llJ .
simetnco
em relação ao e·
1
Jlevantada. completa, exigindo engenhosos expedientes'. Dada a e depois 31 a 1; ats elevad llto
,entr trai da construção, que tem três pavirn os que dão ênfas
te cen entos CITJ e
dessa estrutura e da conformação do espaço
- por ela gerad o, todorelevànc· 'ª à par d edificação (figuras 7 e 8).
ante a , . .
' vez dos dois do
será pouco em propostas de transformaçao. CUidad rest 0 edificto passou a abrigar a Secreta . d
' . d o Ern 1942 na e Seguran a P' .
A companhia Sorocabana possu1a am a outro ediflcio situado osteriormente, tornou-se a Delegacia d ç ubhca do
construído pelo escritório de Ramos de Azevedo, de grande expre . . as,
nas cercani do e, P e 0 rdem p0l"1
Esta . emória, estando associada à repressão l.í . ttca e Social,
em São Paulo. A obra estendeu-se entre 1910 e 1913, e 0 ed'tf'ICIO
. ab ss1
. v1dade de tnste rndurante a ditadura
. .. po llca e ton
m1lttar. Foram elabo d .
.
ura, Pnnci-
armazém, uma vez que a primitiva estação, que subsistiu 1 ngava uni a}Jnente . . . ra as diversas
- d Júl' p por ongo t 0 P ovo uso, sendo tntc1a1mente escolhido 0 d M pr0postas
mesmo após a construçao a 10 restes, tornara-se insufi . ernp ara urn n . r . e useu do lma . á .
e . O dºf' . d .. 1 ciente • P BrasiJeiro, e as obras 1oram conclutdas em 2002s F . gm no
movimento d a 1err0Vla. e L 1c10, e l1JO os aparentes, dialo Para 0 do povo · u.nc1ona ·
xo da Pinacoteca do Estado, que está nas cerca . 'porem,
· · com a v1zm
matena1s, · 1Estaçao
· · ha e riva - d a Luz (d a SPR). N gava' e"' corno ane . " nias, sendo conhecido
o entant "'seus "Estação Pmacoteca.
distanciava pelo tipo de composição, calcada em elemento d 0 o, dela se corno d d .
oi·eto promoveu mu anças e vulto no interior do edif . ai
encimado por .platibandas e não telhados de inclinação pronunci
s classicisllJo O pr . . tc10, terando
d • . d seus elementos caractensttcos. Uma proposta e .
sendo caracterizado por um forte marco vertical ' como a 1orre d ª a, não vários e .. ra )UStamenle pre.
o relógio antigas celas dos presos pohttcos - conformando 0 M .
servar aS _ emanai da
Resistência - como element~ de rem~moraçao das trágicas passagens asso.
. "Os 206 metros de :1.rea coberta são abrigados por dois telhados com e t
. das ao edifício, que devenam servir, portanto, para fins memori•;•
eia ..... para
da Sorocabana. s ruturas
. d" nt•s o principal com águas vertendo para as fachadas principal e não permitir que se e~~ueçam os h~rrores associados a ditaduras e regimes
metâl1cas uere • · • , , . . posterior
começa a seis . metros do muro de entrada do hall; o secundário, cobrindo o vão 1·nd·1cado de• totalitários. Muitas criticas foram feitas ao fato de se subverter 0 significado
seis metros, apresenta vertentes na direção longitudinal da plataforma.
das celas, deixando apenas quatro como testemunho, com paredes limpas,
•0 comprimento da estrutur.1 do primeiro t. de 2~ metros ou sejam [sic] 20 vãos de dez metros
que t. o intervalo das tesouras. Estas venc~m um va? de 41,5om porque os respectivos apoios bern arejadas, que em nada lembram as masmorras do chamado "porão da
distam setenta centimelros das paredes, deucando à VlSla toda a estrutura. As tesouras princi ,. ditadura", alterando a memória política do local (figuras 9 e 1o). Nesse caso,
em número de 21 , são de arco og1v"',--' upo
. 'Tudor' abat1'do, muniºd as de tres
• articulações e com
p IS,
assim como no anterior, a questão do uso atribuído ao edifício prevaleceu
alma cheia. o vão das terças é diminuído por meio de tesouras secundárias as quais, colocadas
no meio do intervalo das principais, a elas transmit_em a~ cargas, g;aças a ~": sistema de vigas sobre seus aspectos memoriais, documentais e de composição.
longitudinais em treliça. No vértice da cobertura foi praticado um lantern1m com paredes ver-
ticais munidas de 'venezianas' para a ventilação do 'hall'. As tesouras do lanternim apoiam-se ora
nas tesouras principais e ora nas vigas longitudinais em treliça, visto como seu espaçamento é de
Estação da Luz
cinco metros. O lanternim tem 180 metros de extensão, cobrindo, pois, todo o comprimento do
1elhado com exceção dos dois painéis extremos. [... ] A estrutura metálica foi projetada prevendo A atual Estação da Luz foi a terceira a ser erigida pela São Paulo Railway (SPR)
três faixas de vidro para a iluminação do 'hall'. A central corresponde ao lanternim de ventilação. no local. O edifício inicial, que datava da época da inauguração da linha. em
sendo as laterais tratadas em 'mansarda'. Entre as últimas faixas e o resto do telhado existe uma
1867, foi ampliado, dando lugar a outro de maior porte nos anos 1870. Esse
abertura longitudinal para aumentar a área de ventilação."
4. ldtm, p. 287: "A estrutura metálica é da firma - Ang. [sic) Klõnne de Dortmund, Alemanha e prédio, por sua vez, também se tornou insuficiente para atender ao crescente
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foi fornecida por intermédio da casa - Bromberg e Comp. de Hamburg com filial em São Paulo. movimento e uma nova edificação foi feita. O atual prédio começou a ser coas·
Todas as peças vieram em excelentes condições de rebitagem, ajustamento e furação, permitin· truido em 1895 e foi inaugurado oficial.mente em março de 1901. Tinha relevante
do íácil montagem no que concerne à ligação e rebitagem das peças avulsas. Grande dificuldade,
porêm, apresentava o problema do levantamento dos grandes arcos ogivais, devido a seu gr.inde papel como representação da imagem da SPR na capital.~ estação de passagem,
peso e respeitável vã.o. Coube a incumbência desse serviço à 3• Divisão da Estrada, cujo chefe, o mas de enormes dimensões, condizentes com as de uma estação terminal de
engenheiro Acrisio Paes Cruz., deu-lhe cabal desempenho, pois conseguiu, com grande economia porte, e nenhuma estação em São Paulo atingira tal escala. Grande parte dos
sobre o orçamento, realizar obra notável de segurança e propriedade de montagem. Os arcos eram
armados no chão e levantados completos junto às respectivas bases de apoio, cujos pinos definiam·
-lhes a charneira do levantamento. Determinado número de guindastes suspendiam a peça até que
5. Para descrição do projeto de Haron Cohen e as vicissitudes resultuntu das alieraçó<S de
destmação, ver lvanise Lo Turco e Roberto Righi, "faemplo de Reconve~io Arqwmõnica: da
atingisse inclinação tal que facultasse o trabalho de tração pelas locomotivas da Estrada. Duas
destas, em linhas de serviço a.drede preparadas, puxavam reforçados cabos de aço que passa~ Estação Sorocabana ao Museu do Imaginário do Povo Brasileiro". Pós, 1004, n. i6. PP· u4· •JO.
em moitões e rodas de guias presos à estrutura de concreto armado à cabeceira das plataformas·

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AR QU 1T ll1ÓNICO OA INDUSTRIALll ÇÃO 00 PATR IM ÔNIO ARQUITETO
('10 rATitlMÔ~IO · .\Ç.\o Rss1Al)RA Nico DA 1Nous1R1
pR 6SER\'AÇ À0 ALIZAÇÃo .,,

. to vieram da Grã-Bretanha. Segundo d . ·ndio que afetou o edifício administ .


. l ados e o proie - d . ados d rn ince rativo ali .
materiais ut111. é a da construçao, o autor o projeto arqu·t , e reu 11 te e 0 saguão central. Os trabalhos d ' ngindo sobrem .
. ados na poc. . i eton.1 ala 1es . . e reconstr • anetra
artigos publ ic. • Driver6 (figura 11). O conjunto é orga . co sua e cons1deráve1s modificações r0 . uçao estendera
• . Charles Henry nii.acto b 47 a i951 ' l' ram feitas m-se
foi 0 britanico ' etângulo, com um bloco agrupando os . . a. de 19 andar na fachada da ala leste (figura ) ' entre elas 0 acres' .
forma de um r Pnncip . de um 12 . Aopção
1
c1-
sicamente na . . _ paralelo às vias, ladeado por um corpo qu ais f110 . , i devida ao aumento do número de p . pe a ampliação d
dn11n1straçao, e abr'1 dific10 io . - assage1ros d o
serviços eªª . e são rebaixadas em relação ao nível da ru &a e corrido entre a mauguraçao e o ano do incê d' ' a ordem de Vinte
afi nnas. As VlaS, qu - a, foram ezes, o n io. Aesta •
as plat 0 estrutura composta por armaçoes curvas d v ·vas reformas de pequeno porte e trabalhos d çao Passou por
r portentosa e lte[' cess1 e rnanut -
cobertas po l tada por peças de ferro fu ndido, que vencen • 1• 511 ão de alguns anexos. O edifício, desde 0 ençao, além da
ál' comp emen 1 vao d construÇ . s anos 1990, nec .
ça mel ica, metros de altura e com comprimento de e maior envergadura, que devenam ser obras d ess1tava de
de metros por 25 155 rnetro obras de e restauração
cerca 35 , da época da construção, pode-se ver que cada u s. roblemas causados pelo tempo, a exempl d ' para fazer
Observando-se as iotos . rna das face aos P . o os desgast d
. d por partes. Essas partes, de tamanho considerável . . outros de ordem diversa - como ataque de inset xi\ ,, ~ os mate-
armações foi monta a . . . , eram nais e . h'd , l' , . os o1agos, infiltra .
mpostos rebitados e eng1das a partir dos nasciment .• ncias nos sistemas 1 rau ico e eletnco _' para a readaptação do d'çoes,
feitas por per fi s co , os do de fi c1e .
arco. Eram um as
'd depois por parafusos as partes subsequentes, até se eh
.. egar
J~;njstrativo e para enfrentar
aw "" · , .
o crescente número de , . e iflc10
usuanos. Os trabalh
à chave. Para a mOntag '
em existiam estruturas aux1hares _ de pequeno por1e, e estenderam por vanos anos, foram concluídos em 6 os,
~ Se . ~ .
_ ,1oram util'1zados cimbramentos em toda a e~1ensao do arco.
nao Estação da Luz, pela qualidade de sua construção e cornpos1çao .• _ algo
A
Pela primeira vez em São Paulo, as plataform,as.e toda a composição ficavam atestado até pelo , fato de ser um dos •
cinco bens ferroviários proegiospelo
1 'd
completamente abrigadas sob u.ma cobertura umca ..E,s~a cobe~t~ra é a franca 1Pn "AN no pais7 , e um dos dezesseis tutelados pelo CONDEPH
. 1
AAT -;pelasua
expressão de urna estética fu ncional, enquanto o ed1fíc10 administrativo e de :..nportância como marco da cidade, sendo, desde sua construça·o,um dosele-
LI"

serviços recebeu tratamento formal mais ostentatório e consoante aos padrões rnentos caracterizadores da região e referencial da cidade; pela importância
do ecletismo vigentes na época, fazendo uso de elementos compositivos de do ciclo econômico ao qual está vinculada e pelas consequências posteriores
procedência variada, a exemplo do coroamento da fachada e das "serlianas" do ciclo cafeeiro para a transformação econômica do Estado e para sua indus-
que organizam os vãos de parte do edifício administrativo, de origem renas- trialização em maior escala; pelo papel simbólico que sempre esteve associa-
centista, e dos tetos amansardados, calcados no classicismo francês. A inte- do às ferrovias, de ligação e articulação com o mundo exterior; pelo aspecto
gração de todo o conjunto e sua identidade são obtidas através do emprego afetivo das numerosas familias de ferroviários que mantêm essa identidade;
do tijolo aparente e de linguagem coerente na totalidade do complexo, com pelo grande número de usuários que dela dependem para sua locomoção; pela
expressividade baseada na utilização, com êxito, de materiais industrializa- escassez de edifícios daquele período de tal qualidade numa cidade que não
dos, sobressaindo-se o tijolo, o ferro e o vidro, seguindo padrões comuns a poupou suas edificações passadas no processo de transformação•-, pode ser
muitas estações britânicas da era vitoriana. A composição é ainda marcada considerada urna grande criação pelo seu valor histórico e artístico e é depo-
pela torre do relógio, deslocada em relação ao centro da fachada, referencial sitária de numerosas estratificações do conhecimento e da memória coletiva.
da maior importância para a cidade. Deveria, portanto, ser restaurada com todo o rigor, respeitando seus aspectos
Aestação sofreu poucas alterações até 1946, quando, às vésperas do término formais, documentais, sua composição como um todo (interna eenernamen-
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do contrato de cessão da linha e de sua encampação pelo Governo Federal, ocor-


1· Busca efetuada no banco de dados do sílio do 1P HAN (Arquivo Noronha Santos) pdos rema.1
"estação" e "ferrovia''. Os ou1ros bens tombados são o 1recho ferroviário Mauá-Fragoso. no Rio de
6. Aautoria do projeto permaneceu por longo período esquecida. Os dados sobre o projelo foram Janeiro, e, em Minas Gerais, o complexo ferroviário de São joão dei Rei a Tiradenteseatst1ção
retomados pela aulora em seu doutorado e publicados em B. M. Kühl, Arquitetura do Ferro.... ferroviária de Lassance, além do complexo de Paranapiacaba. último acesso em 09.11.zoo7.
1998, pp. 110-111, baseados nos artigos: "Railway Slalion ai San Paulo, Brazil''. Tire Building News, 8 ~ Segundo a lista constante publicada pelo órgão (em coNDEPHAAT, Be11S Tombados i969-•998·
1901, vol. 80, p. 5; "Obituary, Mr. C. H. Driver", 71re Builder, 1900, Nov. 10, pp. 413-414. Para ou- Sao Paulo, IM ESP, 1998) exisliam quatorze bens. Foram depois protegidos a Es111ção Júlio Pmtes
tras análises pormenorizadas sobre a eslação ver: Fábio R. P. Cyrino, Ferro e Argila: A História da e 0 armazém da Sorocabana, perfazendo um 101al de dezesseis. . ..
9· Lembre-se que na cidade ele São Paulo apenas três edifkios de finais do stculo xix e llllOO
~écuto
Implantação e Consolidação da Empresa 11ie Sall Paulo Railway Compa11y Ltd. atrnvés da Andlue
de sua Arquitetura, São Paulo, Landmark, 1004; Maria 1. Mazzoco e Cedlia R. Sanlos, De Santos do xx são tombados pelo 1PHAN, sendo os ou1ros o Museu Paulista eo Teatro Municipal
a fu11diaí: Nos Trilhos do Café com a São Paulo Railway, São Paulo, Magma, 1005. (cuia tulela já foi aprovada, faltando a inscrição no livro do tombo).

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Q U tTRT Ô NI CO D A INOUST~IAL t l'.
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ç ,i. O 00 PATR I MÔN I O A RQUITET()
NICO DA I ND u sTa1
ALll'.AÇi.o

rárias estratificações e seus aspectos simb '[· es quesitos: foram obras feitas sem . ...
·-•·d ·ar ness , o cuidado e
sua111atenou
1 ªde' suas ' físico
' . d o 1c dese) _0 irnpõe; também o nu mero excessivo d os rneios que um
)
te . 0 suporte 1 do conhecimento e. a memória. os, raǪ e acessos a
oriz.'lildo-a com _ s para 3 adequação das mstalações, deco resta11 te nas plataformas atravanca o espaço D . que desemboc
' ia
l . as alteraçoe · . . rrent . arnen . · everiam t . arn
Essenciais eram . d assageiros de trens de suburb10 e da inte es d1ret d s soluções alternativas, mudando a q . er Stdo pelo men
ita a uan11dade os
re maior e p . 'd &ração e,xcog lguns dos quais poderiam ter sido feito eª localização de
do número sem P . . stação situa-se nas prox1m1 ades. A C ssos. a s através d
. ~~ ~ ~e . ~ ace na lateral da plataforma. Ademais ess 1 e pequenas salas
com o serviço M tropolitanos (c P T M) propos que quatro linh a. ·stentes • es e ement fl
· d Trens 1 e
nhia Paulista e
- d
a funcionar na Estaçao a Luz, o que sign·fi e
as d e~J . to'rico sem a delicadeza necessária. Os gu d os ª orarn no es-
, b'o 1 passassem 1 cav ço htS ar a-corpos d
trensdesubur . mil passageiros por dia. A C PTM vinh a Pª rnuretas de concreto, respeitam 0 prindp' d . . os múltiplos
t de 50 m11para 300 - a es. cessas.
3 • nternporânea, mas se transformam em el
io a d1Stmgu·b·t· 1 1
1dade da
um aumen o . d d 990 soluções para essa questao, propond çao co ementos que
d d a deca a e i , o, d
tudando, es e ovo edifício contíguo ao atual. Essa propo e 1 3
fu oc10
. nal e formalmente a configuração do espaço lfi
_ ' gura 13). Isso
perturbarn
.. strução de um n . _ sta foj
in1c10, a con . . obsolescência a antiga estaçao, cujo corp projeto, a configuraçao e o desenho em si s· . mostra o
. d ·5 condenaria a o das quanto 0 . . ao unportantes
rejeita a, poi . sem uso. Uma solução alternativa foi entà ta última proposta, que sena a mais respeitosa em rei . . ·
lataformas permaneceria . . o ela. 1 Es açao aconfigu -
P d ugenndo-se . ·ai da construção, recebeu críticas contundentes 1 . raçao
a co nstrução de pisos, nas extremidades do corpo das espaci , . . ' ª gumas JUstas, sobr tu
bora a, s li riam em nível a Praça da Luz à rua Mauá, sacrificand ue se refere a exclusao social resultante dos acess e ·
Plataformas, que ga d b - 0 1 do no q . . . os apenas externos ao
• passare1as existentes e causan o uma grave ·f'cio como ocorna na primeira solução. Mas esse probl ,.
duas das tres . o. struçao . horizonta
1 1
ed1 t ' _ ema 101 decorrente
onfiguração adotada e nao, . da proposta
, . de fazer passagens subterràneas
naquele espaço. Devi'do aos protestos gerados pela s1gn1ficat1va transfo rrna. da C .
.
ção de leitura resultante desse projeto,. foi estudada uma terceira . solução, a que não devia excluir o usuano do pred10. . Criticou-se lambe' m aso1uçao _ por'
.
de construir tune1s, . · aos quais se podera ter acesso
. nas ,laterais da estação , que ser roais onerosa, gerando custos de tmplementaçào e de manuten . 0 .
.. . .. .. ai ça maiores,
passam sob as VI • ·as oferecendo um acesso subterraneo as plataformas e unind o . resultado positivo sena apenas s var duas das três passar 1 .. .
.. . _ Cu)0 . . .. e as ongma1s,
os complexos ferroviário e metroviar.10. Essa soluçao, na form~ apresentada ern atitude considerada como excessivo conservacionismo".
inicialmente, tinha 0 grave inconvemente de fazer com que o ingresso fosse Tentar preservar as especificidades e a qualidade da solução espacial da
possível apenas através de área externa ao edifício, excluindo os usuários do Estação da Luz deveria ser a prioridade. A estação é um dos mais significa-
rédio. Esse problema foi revisto pela CPTM , que formulou proposta com tivos exemplos do patrimônio ferroviário no Brasil, do maior interesse para
~ntradas para os túneis de ligação, também a partir do i.nterior da edificação. a arquitetura paulista e brasileira, sendo testemunho relevante do processo
No entanto, uma intervenção de tal natureza é muito invasiva. Soluções de industrialização e dos meios de transportes decorrentes da Revolução In-
subterrâneas só devem ser adotadas em última instância (e esse é o caso da dustrial. Dada sua importância histórica e artística, as questões de uso jamais
Luz), pois são sempre violentas e alteram de forma veemente o modo como deveriam ser as únicas a prevalecer na solução adotada e o custo, apesar de
o edifício se relaciona com o entorno, com o próprio solo onde repousa. o elevado e penoso num país com gravíssimos problemas, seria justificável para
conflito, mesmo se não é visível no nível de circulação da rua, ocorreiº. O manter em sua integridade um bem desse valor, desde que fosse assegurada
projeto do novo sistema e a sua articulação com o edifício deveria ser feito a qualidade do projeto e da execução da obra.
com o máximo cuidado, sendo um ponto nevrálgico a forma de união da A proposta de construir pisos nas duas extremidades do corpo das plata-
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nova proposta com as plataformas existentes. formas - extremamente engenhosa e eficiente do ponto de vista funcional-,
A própria forma de execução da obra deveria também ter sido exemplar, mantendo-se o passadiço do centro como testemunho, parece não levar em
tendo-se respeito e cuidado para com o documento histórico, e também, apesar consideração um fato essencial na leitura do edifício, algo consolidado ao
dos transtornos que qualquer obra acarreta, com os usuários que continuaram longo de sua secular história, que é a percepção daquele espaço em toda a sua
a frequentar o edifício e a redondeza. Infelizmente, os trabalhos dei.xaram a amplidão, que com essa proposta seria praticamente cindido ao meio. Não é
por acaso que ambientes dessa natureza, comuns em muitos exemplares da
arquitetura do ferro, sobretudo em edifícios para exposições ou estações ferro-
10. Para uma discussão das construções subterrãneas em contextos históricos, ver as consistentes

colocações de Bernard Furrer e Doris Arnacher, "Coslruzioni Interrale in Sili S1orici: Documento viárias, são conhecidos como espaços da grande luz. Tal proposta transcurav_a
di Base", Arkos, 2002, n. 2, pp. 56-60. ·
lima 1e1tura · . ' · .. teclo· nicas e formais
mais sens1vel das caractenst1cas espaciais,

184 185
A NIO ARQUI T ETÔNI C O l>A INDU,S1' RI
_ OO f'Al' RIM V• AL t z.\ç • u RA y à O D O PA TR IM ÔN I O ARQ u .
pR ES6RVA Ç A 0 Ao ~ n sT" 1r ET6N1 c
O D>. INO
• VS TR I AL IZA ÇÀO
. n. restauração fundam entada eíl1
- 0111 vistas a 11111' ques1• -se enfatizar, porém, que 0 fato d ...
da edificaçao c d
'dando e um '
dado histórico fundamental. Trata-s Oes cut.
e, con1
o~ . frequentemente apreciad eq~~ do movim
mais
turais, descui ' sam aquele espaço, unindo os dois lad efeito sere]11 as por ar . ento mod
. que atraves ' os do • n° _.,., sua preservação ou intervenção cr't . quitetos não sig 'fi er.
das passare1,,s r do a ligação com as ruas adjacentes; Pas Corp0 nh<u" 1enosa n1 ca q
ie da puchen e da Olivetti em São Paul asseguradas, ha· . ue
1 ~ormas
das pata
e 1azen
' 1· 1etálica que se inserem no espaço com delicad
sarelas
coll} casos . . d . . . o, a ser ret Ja vista os
~~~n ~ anto ao pred10 a m1111strat1vo da Estaçao . d ornados mais ad·
estrutura _ visual à grande luz (figura 14). Essas passar • sell} Qu a Luz" . 1ante.
. a obstruçao e1as ~0 resultantes da falta de manutenção d . •eXIstiam vá ·
cnar um ·ta probabilidade, das modificações impost rall} blerflª5 . . . e e 1nterve . nos Pro-
tes com mut as ao ·adas de rnodo sat1sfatono, feitas de ac d nçoes, nem se
decorren '. to das vias, feito pela equipe local i 1. Solução q Ptoje. planeJ or o com n . mpre
elo rebaLxarnen . . - ue acab , As crises por que passaram as ferrov· . ecess1dades mom
to P t ução dos três passad1ços que alt estao quase i °u tanea 5. . tas, a privatiza - en-
implicando a cons r . . na1terad de t
r nhas, o estado
. .
de mcerteza em que pe
rmaneceram vár'
çao da concess·
ao
figuração raríssima e, talvez, u111ca no mu ndon Q os,
gerando uma con custos ' . . . . · Uestõ ·gas estatais, Vleram a se somar ao processo ios setores das
não poderiam JUSt1 ficar a destru ição de es ant1 _ . natura] de des
apenas de uso e de . . Uma solu r ndo com que a estaçao precisasse de obras d gaste do edifício
. . . . omum em bem de tal qualidade, considerando-se d · 1aze e envergadura '
Ção tipo1og1ca me • , a ema· desgastes causados pelo tempo e para readq . . . para fazer face
· " 1 IS, aos umr efic1ênci ln .
ue há solução alternativa Vlave .
~0
. forarn formuladas propostas para 0 uso que Ih
.. e~mo~
. ª· felizmente,
.
q . e 'osse feita uma proposta semelhante para 0 edifíci· d to por suas caracterist1 cas, quanto pela próp
lmagme-se qu 11 o e Vila. tan na estratJfica - apropnado,
. . h. . .
nova Art1gas
. · para a FAU·USP: dada a falta de espaço para o desenvotv·
. imento vocação do local: manter a função administrativa pa il' ~ao 1stonca e
. ra ut 1zaçao por
· das an'vidades que se propusesse a construçao de um in rM _ que na atualtdade opera as linhas que fu .
de determma ' . . _ ezanino eP nCionam na Esta à0Parte d da
no salão caramelo. Não haveria um .arquiteto sequer que nao tivesse Uma artir de outro edifício alugado nas redondezas_ d ç ªLuz
aP . , . . a equando-o de modo
justificada síncope diante de tal·b·arbane. No entru1~0, ~uando uma proposta conscienc10so.as necessidades atuais, mantendo os ar · d . RFFSA
.. . qu1vos a antiga
semelhante é feita para um ed1fiCio de grande relevanc1a, mas do século xix no prédio e cria.J1do salas expos1 t1vas, abertas a um públi .
. • . co mais amplo, que
são poucas as vozes entre os arquitetos que se levantam para se opor. Uma' se vinculassem ao patnmomo das ferrovias.
razão é justamente a falta de coerência de critérios para anál ise no campo da A proposta da Fundação Roberto Marinho foi a de transformar 0 edifiáo
preservação e a pouca sensibilidade em relação às características formais e administrativo _em centro de . referência
. e valorização da língua portuguesa, sem
importância histórica de construções do século x1x , ou do século xx, mas nenhuma relaçao com o pred10 ou com o local onde está. Foram escolhidos para
não modernas, algo ainda muito corrente no Brasil. elaborar o projeto os arquitetos Paulo e Pedro Mendes da Rocha, entre os me-
O fato de a arquitetura moderna ser mais comumente apreciada pelos lhores em atividade no país e com merecido reconhecimento internaáonal.
arquitetos no país, não justifica a falta de rigor em relação a obras de outros No entanto, o anteprojeto inicialmente apresentado desconsiderava am-
períodos ou de outras tendências. A atuação deve valorizar e revelar as ca- plamente os elementos do interior do edifício, eliminando-os em sua quase
racterísticas de edificações de interesse histórico como elas são, sendo esse totalidade, e alterava a volumetria do edifício. Ademais, não foi formulado o
um ato de consciência e profissionalismo, pautado na "consciência histórica" conteúdo e o programa de utilização do prédio, ou seja, apresentava-se um
para atuar com isenção e superar gostos e predileções individuais (ou de um projeto que implicava mudanças substanciais, com um uso nominal de centro
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dado setor social) através de uma sólida deontologia profissional. de referência da língua portuguesa, mas o programa detalhado não existia
A importância e a qualidade de uma obra de arquitetura não se limita às
suas fachadas. Cabe lembrar que um edifício não é um mero contentor, é
1L O superintendente da SPR, WiUiam Speer, manifestou-se em relatório de 15 de dezembro dt todo um complexo de elementos que se articulam de modo orgânico na com·
i 899: "[nosjproje1os primitivos não estava conlemplada a escavação da terra nas áreas ocupadas
pelos corpos principais da estação. Portanto, julgado mais tarde conveniente e necessário eSSt
desaterro, para a higiene e melhor ventilação, bem como para alargar-se a capacidade do edi!icio.
com a adaptação desses baixos para escritórios, arquivos e depósitos, visto que, situada como t 13· As análises aqui apresentadas são resuhan1es da documentação uaminada com vislas à
a estação entre duas ruas de grande trânsito, o seu desenvolvimento mais tarde seria impossível~ elaboração de parecer sobre o projeto, por requisição do Ministério Público Federal (Beatriz Mu·
gayar Kühl, Estação da Luz: Parecer sobre a Trn11sfor111ação do Eidificio Aclmini511!1tivo em Centro6
Apud CBTU, Estação da Luz: Restauro, São Paulo, CBTU, 1993, pp. 12 - 13. •
12 · São vários os exemplos de estações ferroviárias em que as linhas passam por baixo da edifi- de Referência da Ll11gua Portuguesa, 2004, referente à Represeninç:io 1.34.001.00126o/l002-4
do Ministério Público Federal - Procuradoria de República no Estado de São Paulo).
cação principal, mas as vias estão em geral sob lajes conlinuas.

187
186
QUlTllTÔNICO DA lNDUSTRIALlZ • ÇAO DO PATRIMÔNIO ARQUITiTô
rATRIMÔNlO AR AÇAQ ~es1'A11RA r<1co OA INousn1
Al lZAÇÃo . .,
r•rs•R''AÇú po

caso da Luz, atinge grande qualidade O . ão de paredes originais no segund .


. nto que, no d d'f' . . fa1 strutÇ . o pav1ment0 d
·ção do conjU • . te interior o e 1 1c10 configura- o a de _ de uma galena que atravessa todo 0 d'f' . a ala oeste par
pos1 tens1varnen 0 . se co iaǪº e 1ic10 de 1 a
d desconsiderar os d "fachadismo" - intervenções que co lllo a cr d metros lineares de comprimento. p . ' . este a oeste, com
e ma onda e nserva ca e 120 revia-se aind
repercussão de u esteve em voga num passado não tão d' lll cer de cobertura com configuração original 1 ªªdestruição de
h das -, algo que . istan1 chos na a a oeste
apenas as fac a todas as partes, que suscitou duras rea • e tre da cobertura sobre uma das salas e n r - com a remoção
pouco por . Çoes p !TIPJeta • • a 1ace voltad
na Europa. e un1
- e descarac1er
'izações que provocou, e continua prov
ocand
e. 'º .reura a
d de um dos panos do telhado, mantend
..
ªpara o norte",
o-se apenas a 1
las deformaçoes _
. de açao nunca
foi completamente abolido. A propost
. a gero
º· ª ara a a
f chada norte, utilizando-se a cumeeira
como guarda
que e voltado
pois esse 11po rvação das instâncias federal, estadual u P t ução de um grande terraço que se inicia . ·corpo - para
. - d órgãos de prese - . e muni. cons r na com a destruí -
opos1çao os
t beleceram ir
d' etrizes tais corno: prcservaçao rigorosa par
a a ai
ªtercetr. 0 pavimento anexo (algo justificável pela sua pouca qualidade çao de um
cipal, que es ª
ala não-afeta a pe
'
d lo incêndio); concentrar no interior da ala 1
_ este
ª
as JteraÇO
-es pouco coerentes que provoca na parte su .
. ., . penor - v. fi .ra 1
e pelas
oeste (a , . . ão proceder a alteraçoes da volumetria· d fi . 3 a volumetria do ed1ffc10. A demolição do pano d lh gu_ 5). alte-
mod1 ·ficações necessanas, n. . - , e n1r °
ran d _ . ote adonaofoifi ·
.do e rograma de ut11izaçao. . tnaS OPro)·eto como um todo _nao respeitou . as diretri'zes estabelecidas eita,
1
conteu P d tro de referência foi formulado mais tarde por equipe ios órgãos de preservaçao e ainda assim foi aprov d pe os
0 programa o cen rnu}. prÓpr _ . .. . a o.
. . d . competência, que apresentou uma proposta conceituai d uma interpretaçao literal restritiva, seia das leis em vigor, . seia . dos precei-
tidisophnar a maior . , 1 . e
. por sua vez deu origem a um notave projeto museogr.:c tos d e restauro como .,.presentes na• Carta de
. Veneza po
• r exemp1o, tornaria
grwde mteresse, que , "'1co
. 'b . ara sucesso do atual Museu da Lmgua PortuguesaH demasiadamente d1ffc1l a adequaçao de muitas obras de arquitetura para um
que muito contn ui P 0 . ·
A proposta pOst
erior da Fundação Roberto Mari nho, que foi execulada, nOvo uso ou. mesmo, , . uma. transformação
, . para 0 mesmo uso,. ou Seja, . com-
. d . - total do interior da ala leste e a transformação compl 1 ometeria a propna subs1stenc1a do bem. Deve ser lembrado que quaiquer
preVJu a emo1iça0 . ... . _ ea pr . . - ,
do sistema de circulação verucal do ed1f1c10. Antes, a c1rculaçao era compos- intervenção i..mphca transformaçoes e, tambem, alguma destruição (quesem-
ta de dois elevadores e duas escadas principais (excluindo-se as escadas que pre deve ser mínima e fundamentada). No entanto, fazendo-se uma análise
davam acesso às plataformas e a escada da torre do relógio), distribuídos nas teleológica, pode-se inferir que as formulações da Carta e das leis são voltadas
duas alas do edificio. Pela proposta existiriam cinco elevadores hidráulicos, a evitar alterações de porte, descaracterizações e destruições injustificadas, e
um em cada ângulo do perímetro do edifício, e um na torre do relógio, e que a supressão de certas adições para "conservar e revelar os valores estéticos
duas novas escadas (uma na ala leste, e outra na ala oeste, numa sala conti. e históricos do monumento", como enunciado no artigo 9 da Carta de Vene-
gua à torre do relógio, que teria um elevador), mantendo-se apenas a escada za, e promover pequenas adequações funcionais é algo necessário, tendo-se
original da ala oeste. Essa proposta foi ligeiramente alterada, mantendo-se sempre em vista o princípio da mínima intervenção.
os quatro elevadores hidráulicos dos ângulos do edifício, mas suprimindo- Existiam elementos adicionados cuja remoção era justificável, pois foram
-se o da torre, que passou a abrigar uma escada. A instalação dos elevadores feitos por questões de uso imediato e sem o devido cuidado para com a obra
implicou a destruição de pisos e forros originais na ala oeste, havendo ainda como imagem figurada, como pisos vinílicos colocados sobre pisos originais de
o comprometimento das salas, norte e sul, em que foram instalados, nos madeira ou de cerâmica, repintes, divisórias secciona11do ambientes. alguns dos
vários pavimentos. Na parte leste, afetada pelo incêndio, nenhum dos ele- sanitários acrescentados. Um exemplo mais complexo, mas cuja remoção pode
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mentos de circulação vertical foi aproveitado, sendo inseridos os elevadores ser admitida (e foi proposta pelo projeto), foi o elevador existente na ala oeste,
nos ângulos e nova circulação por escadas no centro da ala, e todos os pisos acréscimo realizado sem zelo, resultando em dal1os para a percepção das salas
e elementos divisórios foram removidos. Além disso, a proposta promoveu que atravessa e resultando em alterações que depreciam a volumetria externa
na parte superior do edifício. Desse modo, poderia ser necessária a ioscrÇão de
14. Cabe porém uma ressalva, pois seu funcionamenlo depende de aparatos lecnológicos, cuja
outro elevador no edifício e, com isso, gerar algum tipo de destruição - algo que
obsolescência se dará num prazo rela1ivamente curto. Outra ques1ão diz respeilo aos próprios as diretrizes dadas pelos órgãos de preservação autorizaram para a ala leste.
cuslos de funcionamento (alio consumo de energia elé1rica, num período em que as proposias
deveriam ser mais conscientes do ponto de visla ambiental) e de manutenção dos equipamenlos
ao longo do lempo (como, por exemplo, a numerosa série de data-shows, cujas lâmpadas, qut
lcndem a queimar com frequência por causa do uso continuo, são baslanle custosas). 1 5· A proposta inicial era a demolição comple1a da coberruro.

188 189
RQU I TETÓ N ICO DA IN DUST RIA L IZ • Ã O oO PATRIM Ô N IO ARQ U I T PTô
• TR IM Ó NI O A AÇAO s'fA u RA Ç Nico OA I No u
·oºº P"
pR6SFN.\'AÇA
~e SfRIALI ZAÇÃo •.•
dois dos quais destruindo pisos e ~
at ro eleva dores ( Orros d mo c1
·tado antes, o prédio como um todo .
precisava se
r-tas inst:ilarqu. . . d"o) remover escada e elevador da ala l a co ado e revelado da melhor maneira p , r repensado para
i d elo tncen t • , . .. este ( oss1vel A Es •
te não-afeta ª P . tetos, divisonas) e alt tnstalar novo . e ser e
onserv
• ea documental da maior importâ . · taçao da Luz é
par li estava, pisos, Stste
todo 0 resto queª aleria que atravessa de leste a oeste 0 edjfí . ll1a coletan nc1a e as altera •
- propor uma g . 1. d . - cio no umª tas respeitando todas as partes do edifí . Çoes deveriam
de circulaçao, d para 0 sul, 1mp 1cam estru1çoes exte ropos . . cio e sua corn 1 .
a face vo1ta a ' . nsas d ser P d -a e valonzando-a. Isso tambem se aplic , Pexa história,
segundo andar n . . , ·ca e alterações vultosas na forma de
levâncta 111ston ' 0 rganiz
e reve
lan ° -
·derando a conformaçao que atingiu algo
ªa ª1a afetad pe1o .ll1cên-
ª
elementos de re . 1 - de seus espaços, e na sua volumetria a- . const . ' · assegurado
·n . na arttcu açao . d10,
luçao
• de tombamento da le1 federal (e pela estad pe1a própria
ua 1e pela rn · ·
ção do ed1 cio, . d , b stante engenhoso como proposta, mas é tão alh .
O proJe
· t0 realiza o e ª , .
. _ d difício que o propno corpo a fabrica pa
d , · e10 reso
APesar
do incêndio, a ala oeste do edifício perman unic1pal).
eceu quase intact
, . d 1pos1çao o e rece re.
do e1e
mentos que possuem qualidade formal e relev . ª preser-
ante mteresse hist , .
à logica e con Um exemplo pode ser dado pela grande gale .
, rtos trec11os. ria que vaJ1 t munhos importantes da arte de construir e d onco,
jeita-lo em ce d"fício. o prédio era caracterizado por um 5ão tes e e compor espa d
de leste a oeste o e 1 corpo e lodo, fin al do século x1x e início do século xx. As dili . ços e
atravessa 1 desenvolviam as duas alas. Ao romper essa •. um per , . , d. mo caçoes feitas
1 artir do qua se . . 1ogica e a ala apos o mcen 10, com a reconstrução de seu . t .
centra a P . as perspectivas de projeto veiculadas pelos . 03 0 utr • . _ , tn enor, recompo-
. rande galena - e n , meios . _ de sua fachada e amphaçao de area, apesar de não tere .
cnar ª g . _ leria era um espaço contmuo, de geometria lírn .d 51çao . ._ ma mesma antt-
d mumcaçao essa ga _ p1 a ·d de nem a mesma laboraçao da compos1çao original fiora .
eco iia plataforma 16 - nao se parece ter verificado ' gut a ' • m construidas
ue se assemelhava a u1 . - colll ero configurando espaços de interesse e resultando em ._
qrecisão a estrutura dª cobertura do hall central, ou SCJa, nao se levaram ern com esm • . compos1çoes
• nicas para os fins a que se destinavam. Eram documentos h. t, .
P _ suas po rtentosas 1rigas, fazendo harmo is oncos de
consideraçao . com que no meio de urn a ga. m a relevância como testemunhos do modo de construir de um • do,
. d . ser perfeitamente plana e linear, apareça um montículo extre peno
lena, que evena . no de uma fase de importantes transformações do edifício e de seu uso adminis-
. (fi
piso gura 16 • J ) ·ustamente sobre, o hall central,
. . queb . rando_ a .linearidade· E trativo _ justamente da delicada fase pós-incêndio e da encarnpação da linha
de fato a propos ta e. ta·0 estranha a tectomca da construçao eXJstente qu e na- pelo Governo Federal - e já haviam completado cinco décadas de existência.
que1e paVJ.men. to absolutamente não_se percebe . estar num. edifício com rai'zes Desse modo, é estranho desconsiderar pura e si mplesmente todos os ele-
no final do século xix, pois a soluçao proJetual repudia completamente esse
mentos daquela ala, uma vez que o prédio em sua inteireza foi protegido pela
fato _destrói suas paredes, seu sistema ornamental e de composição, oblitera
instituição do tombamento (federal, estadual e municipal), interior e exterior.
suas janelas, negando qualquer permeabilidade com o exterior etc.
Deve ainda ser enfatizada a própria contradição do IPHAN, que embargou uma
Convém enfatizar que a remoção do anexo do terceiro andar da ala oeste (na
obra no edifício que previa a remoção de divisórias na ala leste, por considerar
face voltada para o sul) e do elevador naquela mesma ala são justificáveis, pela
que isso descaracterizava e destruía elementos do bem tombado, em 1997, e
vertente crítico-conservativa, do ponto de vista formal e histórico, pela falta
que aprovou a demolição total do interior daquela ala em 2004 1' .
de apuro projetual desses elementos, pelos danos que causaram à volumetria
do edifício e, do ponto de vista histórico, por serem mais afeitos à crônica do
edifício (e portanto dados que devem ser devidamente registrados e documen- 17. Antônio Luiz Dias de Andrade, especialista reconhecido na preservação e um dos mais valo·
tados) e pouco à verdadeira "história'; como fato relevante do ponto de vista rosos membros que o 1PHAN e a FAU-USP j:i tiveram em seus quadros, avaliando uma proposta
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de alteração para o 3º andar do ediflcio afirmou: "Tratando-se de projeto de natureu S<melhante


cultural para ser preservado (ver figura 15). Esse fator poderia ser aproveitado ao apresentado pela empresa M RS Logística, compreendendo a readequação dos espaços internos
em ações que implicariam certamente inovação: ou recompor a cobertura na- do 2° pavimento da 'Estação da Luz: bem cultural colocado pelo tombamento sob a proteçio do
1PHA N, cremos deva prevalecer o mesmo critério adotado naquela oportunidade para o caso
quele trecho de maneira a se harmonizar com os telhados existentes, seguindo
em tela, ora envolvendo a reformulação do 3° andar, ocupado pela Companhia Paulista de Trens
o princípio da dislinguibilidade; ou criar, de fato, um terraço, apenas no trecho Metropolitanos - e PT M. Opinamos, desse modo, pela manutenção das divisórias originais dt
em que existia o anexo a ser demolido. Deve-se ainda recordar que do ponto madeira em toda a elttensão dos corredores, 'sem alterações nem na f.tce voltada para ocorrtdor
nem naquela voltada para dentro dos escritórios: admitindo-se a reestrutumção da comparti·
de vista da conservação integral essas ações não deverian1 ser feitas.
mentação interna. julgamos, assim, que o projeto submetido à aprovação desta unidade deva"'
revisto de maneira a corresponder às presentes diretrizes". Documento datado de 17 de abril de
1997, encaminhado à então coordenadora da 9• Coordenadoria Regional do IPHAN. Úlh< f.tztr
uma ressalva: a aprovação de 2004 esteve longe de ser unânime, causando muitas pollmicas <
16. Ver, por exemplo, a ilustração divulgada cm O Estado de S. Paulo, 22. 1 2.2002, p. e 5·
transtornos na instituição.

190 191
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ARQUIT ETÔN I CO DA INDUSTRIALll

INoulTR1;.~ll
PAT RIM ÔNIO A ç ;, U RA Ç
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~ ÃO D . 4Ç•o•.•
·stinção fundamental: o caso da ala le
. . da fazer uma di . - . ste nã
~ preciso nin d das remoções de ad1çoes citadas ante( o se O
q"'"'º - d'º""º''à'"'·
h0 m,,. ' bº " Ad · m'" "'' ••mb;m

poo~
1nesmo mo o iorrne mare fosão •"'·
configurn do , . 1 s alguns sanitários, anexos etc.), Esse e nte '" m " histón• °'º " 'º · em,,. o "'"'m•nto. •"·
19
'.
(pisos vimhcos,
dh~sonas eve '
elemento se01
maior interesse
,
estetico
.. , .
e importân
aso n.
. h· ao
eia ist ..
é ,, " d• '°''
f11 do o au
ar é .,
· , restem"°
d"' "' P"""'''º •mb!m do '""" """'º
simplesmente um bl't rou por razões utihtanas, elementos Or' . . Or1. . do pon
· b osto e o 1 e • 1&llla1
ca que foi so rep de proj'eto de arquitetura para a recomp .• s de gu!l to de vista estético, é claro que a soluÇio a ser dada ao pro.
aJ'dade
1 Trata-se os1ça0 d rambém aqui,
e antes de tudo, do juízo que. se
. tem do .refazimento: no caso em que
grande qu • • ce·nciio (preservaram-se de modo parcial a e
d ída por um in s Pared
uma ala estru . t não buscou voltar a um passado perdido atr . es ••' d<P'°d '"''"m' "'" """''""""'"
. 0 " " '' •"'•
. "'m. "'"'""""'
. .
'""' '" '"" "fa•imooio - KJ"" "m• "'"''"'"'
. ..,.,,...,.,.,.,,.
~··· ~
) O autor do proie o , aves d
externas · s propôs um acréscimo atraves de um novo . a .bl
s Pº
"'""'
- não possa
. · -0 comp1eta, ma ProJet
repnsunaça d d fi ais existentes, com composição que se "eruc • o,
eitando certos a os on11 . . , erta no '" '""ª
00va a
MªP dapl•ÇOO -
menta qu
' """"
"' """'• ''"" ,,,.,,
P"•ilido"' "'"""'•· """
'"'"""""'<orno"""°''
resp . esmo tempo dele se d1stmgue, por tecnicas const . eclOS unida e po
0 origmal, mas ao m _ ., rutivas as g _donamonu
sua d tencial. Nesse
20
caso, o refazimenio deverá Str conservado,
corp t do e desenvolvendo certas funçoes no edtficio co iole raçao rejud1c1
. ·ai ao monumento ·
e or volume, comp1e an . rno urn esmo se p
P resultan do nunla renovada unidade formal para o con1unto. Desse rnOdo 01
todo
' . d. - a dos casos anteriores, mas uma nova adaptação •
não fo1 uma a 1çao c0010 . . •Urna 1nvoca-se Brandi para tratar do assunto pois .
. . o autor fo1me .
obra que se msere em outra existente e mutilada . .e p1 omove urna , nova confi&ura. sentação das propostas feita pela Fundaça-0 R b nc1onado, na
- d
çao para o to o. o e n10 tal • é pro1'.eto de arquitetura, a pleno
. titulo,
.. .qualqu
.. er que
apre -
s vultosas transformaçoes do edifício algo qu d
o erto Marinh , .
o, para JUStifi.
car a ' e e modoal u
. . ·- eu respeito não Lmportando se e considerado fe10 ou não aldo em seu pensamento. Ademais, com a esc d g mencontra
se1a a optn1ao a s ' . , . _ . .. • . Por
res P · _ usa e enaltecer a m
parte de mw'tos' pois é fato digno de h1stona (e . _nao sunples . cronica")• pela sua entalidade da estaçao, no texto da Fundação foi citad0 . onu-
co nfiormaçao - exten·or e também pela compos1çao de ambientes e articulaça·o de rn . _ . . Justamente o trech
d o apênd ice sobre a restauraçao arqu1tetonica em o
espaços, cu1·a preservação deveria ser contemplada . num restauro
. • de fato · . . • que o que Brandi de fato
firma é que a espacialidade do monumento é coexistent
Brandi analisa as adições e os refaz1mentos segundo as mstancias histórica a . , e ao espaço ambiente
em que fo i construido e que, para realmente salvaguardar b d .
e estética. Diferencia as duas ações, afirmando que a adição completa, ou de. . _ · umao ra earqui-
tetura, é essencial proteger nao apenas o interior e a fachad bé
senvolve, funções diversas das iniciais, enxertando-se na obra. O refazimento, . 21 . . . . • a, mas tam m0
espaço ambiente . Ou seja, 1ama1s se poderia JUStificar a demolição total do
por sua vez, busca replasmar a obra, intervindo no processo criativo. Faz a
interior de uma das alas, a alteração da articulação interna dos
distinção entre dois casos opostos de refazimento: aquele que quer repris- espaços e a
modificação da volumetria do edifício com respaldo em Brandi.
tinar a obra originária, fazendo a intervenção parecer antedatada; e aquele
As obras feitas depois do incêndio resultaram em nova realidade figurativa
que, ao contrário - caso da Estação da Luz-, "quer absorver e transvasar sem
para o edifício como um todo; nova realidade que passou a fazer parte da pai-
resíduos a obra preexistente, apesar de não entrar no campo da restauração,
sagem paulistana há mais de meio século e como tal incorporada no próprio
pode ser perfeitamente legítimo também do ponto de vista histórico, porque registro iconográfico da cidade. A Estação da Luz é um dos raros espaços ad-
é sempre testemunho autêntico do presente de um fazer humano, e, como tal, ministrativos, com origem em finais do século x1x em São Paulo, de qualida-
monumento não dúbio de história" 18 • No caso da Estação da Luz, com efeito,
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de, que ainda existiam e estavam em estado razoável. Uma restauração digna
as obras feitas depois do incêndio não se colocaram como repristinação da ala dessa denominação deveria ter respeitado a configuração das várias fases do
como era antes do incêndio, nem como restauro, não sendo, naquele momento, conjunto e dos elementos que as compunham, oferecendo ao público, atual e
reconhecido o significado cultural do edifício; buscou-se transvasar a antiga ala do porvir, espaços evocativos de formas de compor do passado, promovendo
em algo novo. Portanto, do ponto de vista histórico, esse refazimento deveria um novo (ou renovado) uso, no presente, que seria inserido como um novo
ser preservado: "deverá ser sempre respeitada a nova unidade que, indepen- estrato da história, sem ferir os documentos existentes.
dentemente da veleidade de repristinações, tenha sido alcançada na obra de

19. Idem, p. 74.


10. Idem, p. 88.
t8. C. Brandi, Teoria... , 2004, p. 74.
11. Idem, p. 132.

192 193
QUl i· n T ÔNI C O DA I Nl>UST~IAll
• OO PA
1'RIM Ô NIO AR iAÇ~O ~A ÇÃO DO PAT RIM Ô NI O ARQ u
0 ns1A ll
J! RI ss tt'~ ( " . ~
ITeTÔ N1 c
O D A INo

todo e suns P•artes • respeitando os element. • USTR1Al 1zAÇ,\o


. tro lado, a engen hos1dade do part'd ...
., 11,1Jori111r
0
. documentos que mteressam à h· 08 Carac. por ou 1 o arqu·
ou sep. _ vcrdadc1 ros . IStória roposta museográfica, transforma itetônico, os ê•'t
· 1dorcs. que sao .• cº1as em geral). No que respeita especific elli e da P rarn 0 ..1os fig .
tenz. (e :\s c1en ' ani vos bl·co A questão é que o Museu da L'1 centro nurn gra d urati.
. ·'ri'is focrtns relevànc1a
" . da solução estrutural, pelos mater"ia1.s eniellte ú 1 · ngua Po n e suce
sua~ v.1 , de P elos seus resultados. Isso é extre rtuguesa tern s'd . sso
' rqui1etura. pela pelos seus ornamentos e pela distribu· - Pre. enas P . rnarnente i . 1 0 Julgad
t• a d compor, . içao d ap 1 perigoso registro de que "os finsi·u tºfi nqu1etante po· o
d
gt1 .,
º' pela forma e
dados que
possibilitam o entendimento da arq . 08
· . U1te1 aque e . - s 1 carn os . " ' is se recaj
ambientes. Todos . d s fases por que passou o pred10 até che lira,
n or completo a destru1çao de docume t . meios, desco .d
strutivas, a . gar às do.se P Essa postura denota visão anistórica n os s1gn·fi .
1 cativos ns1 eran-
que a p
das técnicas con , . s etapas por que passou o sistema adin · . Ua ausou. . . •que leva ern . roposta
' - 1 das vana in1str . e . que serve no dia de hoie e não consid consideração a
Configuraçao atua' .á . s que se sucederam naqueles espaç at1. aqui o 1 era a socied d penas
hias ferroVI na . os, a "h· a duração, esquecendo-se de que 0 fat d _ ª e conio um t d
110 das compan
" d salas - algo que
poderia ser suposto a partir da localiza _ 1e.
. Çao, da na lon g . . ) o e nao ser "útil" • oo
·ffcio como extslta para alguns não sign'fi e belo" h .
rarquia as '
_ d ambientes,
. dos elementos ornamentais - e por con
. segu1n
. s (o edl t ca que não o . OJe
ente e no futu ro. seia para outros
proporçoes os d empresas e como isso repercutiu no es te, atua lrn •
· 0 rganograma as .. . .. Paço fís" Claro está que pode ser uma escolha da socied d •
o próprio . - es existiam fisica mente , mas estavam e 1· , 1 d , a e nao prese
· dessas 1nformaço . 111 Pari rais e altera- os ou estru1-los a bel-prazer· . rvar seus bens
co. Muitas e exploradas ou experimentadas pelo públ· e cu1tu . _ . • mas isso só od .
. d e nunca 1oram · ico erl) fosse uma dec1sao coletiva devidamente . e P ena ser legíti-
oblitera as . . t s em sua totalidade. Mas todos esses dado e rno se . . m1ormada das c .
r espec1a11s a • s •Ora e tipo de ato. É necessano, no entanto dar onsequencias
geral, nem po ta que invocando o nome da "cultura", destru· ri) dess . • a essas ações os
erdidos numa propos ' . . iu Pre. m ter - reforma, reciclagem, recuperação _ . nomes que
P 1 deve •que nao podem
ciosos documentos hºis tóricos, não atribumdo - a e es nenhuma importância .
didas com preservação, entendida como ato de cultura. ser confun.
Mesmo descons1 eran .d do parte dessa produçao . como te ndo valor artíst· ico, 0 · Com 0 que se realizou na Estação da Luz, cabe re
. valor documental e como imagem fig urada (mesm _ . pensar o tema e voltar .
todo possui enorme o na•0 Jzes da discussao dos motivos por que se preserva Se as
.. d t ") Ademais, esses elementos possuem papel simbo ' J·1co e ra · m retomar, neste trech
sendo obra e ar e · , . sse debate de modo aprofundado - mas evidenciando o,
e . _ que, apesar dos vários
são suportes mater iais do conhecimento . e da memoria
, coletiva e dever·1ani
,ecuJos de d1scussoes acumuladas, o tema é mais do que
ter s1.do preservados do modo mais amplo .poss1vel. . . s . _ nunca merecedor de
an álise que reitere .
as razoes por que uma cultura preserva 0 · .
, . propno passado-,
As propostas executadas no edifício admm1strat1vo da Estação , . da Luz - arn. é possível segmr uma log1ca elementar e lembrar que a estação não foi tutelada
piamente divulgadas pela mídia e com ~norme.sucesso ~e publico - vão contra
0 porque s~ria tran.sformad~, algum dia, em centro de estudos da lingua portugue-
objetivo da preservação de bens culturais, qu~ e trans~111t1r o bem como chegou a
sa. Ela foi protegida por lei federal, estadual e municipal por seu valor histórico
um dado presente histórico, da melhor maneira passivei, para o futuro, qualquer
e estético (de seu conjunto, e não apenas das fachadas), por sua relevânciae qua-
que seja a linha de pensamento. Isso implica, como explicitado, mudanças, que
lidade como representante da arquitetura de variados períodos, independente
devem, porém, ser fruto da análise e do entendimento da obra em sua essência,
do seu uso atual e futuro. Portanto, deveriam ser suas características formais
para que seja de fato respeitada. Não foram feitos estudos históricos aprofunda-
e documentais a guiarem a intervenção e jamais as razões de um novo uso
dos sobre o edifício e as análises estratigráficas, por exemplo, foram realizadas
serem as preponderantes, ainda mais porque não havia nada que desabonasse
por requisição dos órgãos de preservação, quando o partido de alteração do edi-
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a utilização do espaço, como estava, para uso administrativo ou para o fim


fício já havia sido definido; ou seja, não serviram como base para as propostas proposto, desde que o programa fosse repensado para respeitar aquele espaço.
projetuais e aparecem meramente para cumprir uma determinação legal. Cabe lembrar que mesmo um uso rdativo à ferrovia - mais afeito à tradição
Preservar, por definição do campo disciplinar (e não por opinião pessoal), e composição do edifício, a seu uso consolidado e à própria estruturação da
jamais poderia significar cancelar fatos históricos de interesse para, naquele região onde se situa e que deveria ser privilegiado -, dependendo do tipo de
espaço, escrever uma nova história. Isso é desrespeitar o documento e fazer programa elaborado, poderia tan1bém desnaturar por completo o edificio. Um
arquitetura contemporânea a expensas do edifício antigo. Essa ação, do ponto uso adequado "nominalmente" não resolve a questão, sendo necessário que se
de vista do campo disciplinar do restauro, não se justifica frente a um bem desenvolva o programa e o projeto de acordo com as características do bem.
de interesse cultural, que deveria ser respeitado para que pudesse continuar Deveria ter sido o caso de repensar o programa proposto em função das
a transmitir seus valores para as gerações futuras. . características do edifício. Se o programa (número e tipo de salas, galeria de

194 195
0 ,.. 10 ,.,ou•
T[TÔNICO DA INDUSTRIALIZ.AÇÃ
o ttes1'A u•" Ç AO D
o PATRIMÔNIO A•QUIT!TON1co º" INnun.,•L•Z.•ÇÃo...
·ooo r\1'AIM
rar.sf!Jt\A ÇA - .
alterado em funçao da visão que se t' r di ão, pois, o fato de um monumento histórico da qualidade
_ udesse ser , _ 1nha r:n0 rne contra
. da Eçtação
s
. · es etc.) nao P esa então por que nao se fez uma r da Luz, protegido por.lei nas instâncias federal, es-
expos1ço I' ua portugu • . . nova . Pº . ·pai, na0
centro da ing . rberdade e 1mpona menos restriç · tãnc1a - ter seus aspectos formais e documentais respeitados
para esse . muito mais 1 . oes ao
ução que dana 7 São Paulo é uma cidade que passou Po
e 1mal e rnuntci deven·a • necessariamente, ser de _restauro. Mas não s6 isso é
tr
cons • uitetos. ' . .
·negável talento dos arq . . almente a partir do ultimo quartel do séc 1 •
r vu1 ,.du roj'10 •"'
rnsr"e
P• o deeserva
fato
"ont&<u, ju•Um"l< PO< •>o •<moo du,, moo,,,
1 · ··· d f 1
°'
1 - pnncip f . Uo
nu , 1 corn m bens cu tura1s, nem os cntertos e como azc. o, o
tosas transformaçoes, temunhos históricos em unçao do prece
·ix não tendo P
oupado tes _ .
d nsainento e expansao, possui, porem ""u·
. . ss0 P"
p resulta e"P'
elos q,,;, m instrume ntos d•fid<otos Pototrnb•lh>t ""•mpo.
X•' . aJ' açâO a e ' "' llos q
acelerado de vert1c iz ' truções de pouco valor, inclusive em áreas
algumas cons d n O - Pró. ue · · d · d d
vazios urbanos, e .
odenam a c1
t . 1der a essa deman a . que Sao Paulo -
nao Outros edl'1'
;'ícios industrrar.s
. . a vira a o_
xirnas à Luz, que P tos históricos, elementos de rernernoraça· secu
, 1o xr 0
x para xx: mais rncom preensao
· são rnonumen o, e
tem em demasia ' l'dadc
1 construídos em um passado que co
d'fcios de ta 1qua • ma
sobretudo e 11 'dade passou a ser remoto, possuindo pau proces
sos semelhantes, de não reconhecer um edifício .
_ . _ V1ncu1ado ao proc
. d mudanças na c1 ' cos
velocidade as ( n1esmo mais recentes). . dustrializaçao, com fe1çoes de finais do século xix , . . esso
" . " seculares ou . de 1n . _ e tnic10 do século
sobreV1ventes _ d L não se seguiu um processo de estudos aprofu mo bens culturais que de fato sao - possuindo rei . . ..
d Estaçao a uz n- JC JC , co . ,. evanc1a estetJca, his
No caso ª quilo que deveria ser transformado. Urna oh . a memorial e s1mboltca, e papel representativo para as
tÓnc • . . .
.
comunidades _
·
ue fundamentasse a ra
dados q . . d' tinto que pode ser tratado de modo abstrato se ue não haviam sido oficialmente considerados co ai '
- é um continente in is ' m mas q , . • mo t . podem ser
nao .d _ 3 consistência física, seus aspectos formais e doe ·ficados em vanas açoes recentes, de demolição de'o •
ar em cons1 eraçao su . . . . u- vert • 1' rmaçao, ou trans-
1ev . . . bólicos. Os estudos mult1d1sc1pltnares calcados n formação inadequadas.
mentais, memoriais e sim _ . as
. d 'dentificar as formas de percepçao e os significados do ,..,0 que se refere a demolições, infelizmente os desastres co t'
humanidades evem ' . 1~ n 111uarn ocor-
. embasam aquilo_que e merecedor de preservação não rendo antes que medidas efe~vas possam ser postas em prática. Exemplo é a
bem; as an ál ises que . . .
. uladas da restauraçao, que e dependente e md1ssociável do Fábrica de Louça Santa Catar~a, _m ar~o da indústria de louças em São Paulo,
podem ser desV1nC ..
processo de reConhe cimento e aprofundamento _ cog111t1vo. to conhecimento destruída no final de 2002. A fabnca sttuava-se na rua Aurélia, tendo iniciado
do edifício e seus significados, a compreensao de seus elementos caracteriza- suas atividades em 1912. De propriedade da firma Fagundes & Ranzini, desta-
dores e de sua essência que fundamentam o respeito pela obra e que deveriam cou-se pelo pioneirismo na produção de louça de pó de pedra em São Paulo,
condicionar 0 projeto para valorizá-la. tendo seu controle passado para as Indústrias Reunidas Francisco Matarauo
A preservação dos elementos caracterizadores essenciais da estação não em meados da década de 1920. O conjunto arquitetônico era expressivo por
é 0 resultado de uma mentalidade empedernida, que vê edifícios históricos variadas razões. Uma delas, a composição do complexo, de grandes dimensões,
como intocáveis. Pelo contrário, esse tipo de decisão, o que preservar, como formado por vários galpões filiados a uma estética industrial - perfis em dente
preservar e aqui!<!_ que deve ser alterado para assegurar a própria sobrevivên- de serra, paredes de alvenaria de tijolos aparentes, grandes áreas envidraçadas,
cia do bem, deve ser fruto de um juízo consciencioso, e essa é uma obrigação presença de altas chaminés etc. -, implantados de maneira coerente no sítio,
daqueles que lidam com monumentos históricos que devem agir através de tendo-se tomado um marco na região. Possuía ainda importância decorrente
sólida deontologia profissional, e não permitir que interesses imediatistas e da antiguidade das instalações (uma das primeiras fábricas de faiança na àda-
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setoriais prevaleçam. Caso se queira tratar um edifício com liberdade extrema, de), das vicissitudes da empresa e das transformações de seus produtos, e do
que desconsidere suas características essenciais, que se tenha então a cora- pioneirismo da introdução do pó de pedra na fabricação da louça" .
gem de admitir, e sobretudo de provar, que o edifício não apresenta valores
intrínsecos, que é um remanescente genérico de épocas passadas e que pode
ser modificado de modo livre ou até mesmo demolido. 23. Dados do trabalho de José Hermes Martins Pereira, A lmpla"tação da 1"dústria ik Louça
em São Paulo 19 12-1937 (Estudo de História "ª
Perspectiva da Cutrura Martrial). São Paulo.
Museu Paulista USP-Fapesp, Relatório de iniciação cientifica, 1002. Agradeço à omntlldora.
Heloisa Barbuy, por ter mencionado a pesquisa e ao autor por ter gentilmente cedido uma
22. Basta recordar o processo de demolições em curso na chamada "Cracolàndia~ cópia do trabalho.

196 197
n1·ôNICO l)A IND UST RIAl.ll.Ar • _ DO PATRIM ÔN IO ARQUITI TÔNJr.o IJ
1ó>1ltl ARQUI ~AO ~es T.AuR.AÇAO
'º 110 ri\,.,u~ 1
A INIJu,TRiALIZAÇAo.
r~nrR''A\ . • , .
. de louça outro ed1f1c10 s1gnificat· ém foi proposta a manutenção de apenas duas d r h
3 fábricas ' ivo d , . por • . . as 1ac adas

CJn
. d1 no que se refere'
A1n '
icterizado foi o an.
tigo conJun
d pois a1np
. to das Indústrias de Louça Zappi, na A, es.
liado nos anos 1940, que passou por Proce .
. - d C J• •
..100
Sso
º
eàs
e in1c100•. - de todo o interior do cotonificio para mais bem d . 1
1içao
a def11 'd des do novo uso. Entre os argumentos invocados para tal -0
si a - d r hd
a equa-
açao,
construído e e oo3 para a amphaçao o o eg10 João xx' neces preservaçao as 1ac a as asseguraria a preservação d .
ca. . .. do em 2 • 'd , 111• o que a a 1ma-
de demolição. inicia escentes da industrialização tem d
si o vitimas pre(i .
. ere eenstavaconjun . to no ambiente em que está inserido e que a moduiaçao - da
N Mooca, os rcman .. , . _ por serem gran es reservatórios de . 11· gern do dos pi.1ares de aço não era adequada para o tamanho das g·ondolas
1a - imob1hana areas
ciais da especulaçao . 1 ·zando e adensando - sendo impiedosa1n r tícula rnercado· Caso se tratasse de fato de preservação• a lóoica o- deve na .
esta va ori . ente
num bairro que se . d para dar origem, em especial, a cornpl do super . s características do prédio prevalecerem sobre tamanho das
d caracteriza os ' exos S
. versa. a 1· . l d 0
demolidos ou es , . fechados que negam qualquer relação com er 1n ~L Houve grande po- em1ca em orno a proposta, com . intervenção
. . condon11n1os . . d 0 es. g
residenc1a1s e ntrário, para o rntenor o 1ote. Alega õndo , . Público e açoes por
, ~ · isteno . parte. do DPH.. Conseguiu-se contornar
• 1. 11oltando-se, ao co . . . rn-se
paço pub 1co, . fazendo, as vias publicas tornam-se . do ,•..in Jrnente o problema, mas amda. assim destru1ram-se
. características de
rança mas, ass101 atnda
razões de segu '_ h ni controle social das mesmas, que pass Pareia do pre'd.io ern algo que devena ser um projeto de restauração. Foram
or nao aver u ama
mais inseguras P. . vastas áreas muradas. relevor1dosvano , . s edifícios do complexo,
. t rst1c1os entre ... resultantes de sucessivas
., ampliações,
.
ser meros 1n e foi gerada pelas propostas de transform _ dern° destru1'das fachadas do cotonif1c10, sua estrutura original fo1 removida
~~~~w~ . ~
d con·unto do Cotont 1c10
·r· . Crespi' sempre na Mooca. O complexo
. _
foi c
ons. foraJll, ·os andares (figuras 20 a 22), preservando-a apenas no último como
o, J • . etapas· foi iniciado em 1897, com amphaçoes posteriores ern van ho· nes te ponto• cabe perguntar por que isso foi feito, uma vez que
rruido em varias • .. d , testernun ' deu todo seu significado.
. e . Os edific1os ocupavam to o um quarteir·
em especial nos anos 1910 1920 . . . . . . ao
(figura 17). O pre'd.10 mais antigo da fabnca, .1mc1almente denominada Rego11., a ossatura per tratou 0 edifício como um invólucro, desconsiderando a pró-
Cresp1. & e·ia, 1oca l·za-se
1 . . . de Laguna, e. sofreu mu1..
ao longo da rua Visconde
P
A propostad
.dade o tipo. de estrutura e configuração da fiação entre os edifícios
.
• f. d um pavimento com pe-dire1to de cerca de seis metros d ria rari. ·s pau1.istas _ a ossatura metálica autônoma, que se desenvolvia em
tas alteraçoes. r. e • e
r · 1 de alvenaria de tijolos aparente com estrutura, no interi· industriai
altura, sen do 1e1 o or, . vimentos, co m vedação de tijolos. É um tipo . d de .solução em26altura,
composta por pilares de ferro fundido. q~e sust~nt~m tesouras de madeira. seis
denv. pa
ada de propos t as de fiações inglesas de fi nais o secu1o xv111 • que
As edificações da primeira fase de amphaçao da fabnca, em meados dos anos
25
1910, ocupavam parte dos terrenos ao longo da rua )avari . O edifício da
26. De início, foram utilizadas na Grã-Bretanha técnicas de cons1rução com colunas de ferro
fiação, considerado o principal do conjunto, foi projetado e construído por fundido associadas a pisos incombustiveis, utilizadas em virias fiações, nas quais 0 risco d•
volta de 1920 pelo arquiteto italiano Giovanni Battista Bianchi. Sua planta incêndio <ra elevado. As colunas metálicas permitiam m<lhor aproveitamento da área inlerna,
é retangular (e. 77 m por 43 m) tendo ainda dois volumes salientes, retan- pois ocupavam menos espaço. Esse era um dado importante, pois as novas máquinas exigiam
superfícies livres maiores. A Calico Mill, de seis pavimentos, construida em 1791. 1793 por
gulares (e. 7 m por 9 m), correspondentes às torres. A edificação tem seis William Strult em Derby, pode ser apontada como marco na origem de construções em aliura
pavimentos; era sustentada por ossatura de aço de origem britânica, com com esqueleto metálico, apesar de sua estabilidade depender das paredes externas de tijolos.
vedação de alvenaria de tijolos aparentes (figura 18). No interior, os pilares Nessa indústria, de medidas exteriores de 9,45 m por 35 m, Slrull, seu engenheiro e proprietário,
utilizou inovações técnicas. Empregou abobadilhas de tijolo, consolidadas por peças metálicas e
estavam dispostos em quadrícula regu1ar de e. 7 m de lado (figura 19). A fe-
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escoradas por vigas de madeira recobertas por argamassa. As vigas eram suslenladas, no interior
nestração era ampla (algo facilitado pelo fato de a alvenaria ser de vedação) do edificio, por suportes de ferro fundido dispostos em duas fileiras. Outra fiação, a Benyon, Sage
e o interior bastante iluminado. and Marshall Flax Spinning l\IWI foi construida ern 1796-1797 em Castle Foregate, por Charles
Sage. Bage empregou elementos da estrutura utilizada por Strull, substituindo, porém, as vigas
O Grupo Pão de Açúcar alugou as instalações para transformá-las em de madeira por vigas de ferro fundido. Considera-se essa construção, de cinco pavimen1os. o
hipermercado Extra, comprometendo-se a preservar suas características. primeiro edificio "incombustível~ O edificio, de 11 m por 54 m, linha paredes m erior<S de
alvenaria de tijolos. Os pisos, recobertos de material cerâmico, repousavam sobre abobadilhas
de lijolos apoiadas nas vigas de ferro e nas paredes longitudinais de tijolos. As vigas eram sus1eo-
24. O ediílcio situa-se na rua José Zappi, na altura do n. 400. Os dados provêm da ficha de in- 1adas, no interior, por suportes, de ferro fundido, cruciformes. A caix1lhar1a das janelas lambem
ventário realizada por Camila Chicchi Cussial e Renata Cristóvão Ferrelli para a Disciplina AUH era de ferro fundido. Essas experiências incipien1es com ossatura metálica multiplicaram·se ao
117 Conservação e Restauração do Patrimônio Arquitetônico da FAU - USP em 1003. longo do século x1x e estão na origem dos arranha-céus, que se bt neficiaram deoutr.1 inovação
25. Os dados sobre o cotonificio provêm de M. R. Rufinoni, op. cit., 1004, pp. 91-99. Agradeço oilocenlisla e nova-iorquina, o elevador, apresentado por Elisha Graves Otis em 1853. SobretssaS
à autora também por ler genlllmenle cedido fotos do complexo.
questões ver B. M. Kühl, Arquitetura do Ferro... , 1998, pp. 22-55.

198 t99
R/\ÇÃO 00 PATRIMÔNIO ARQUIT
• rAfRl~lóNIO ARQUITETÔNICO DA IN DUSTlllA ~nsr"ll !'tô>11co oA. IN o us T
rRrSbR \' A\ACI pO LIZAÇ.\o RIAL IZA.ÇÃo...

elação a elas e atuar segundo urn d'


, . s reorcscntantcs em São Paulo, sendo escassos noss . " eJ11 r _ . 1stancia
tcin n1nss1n10 os ed Lftcio
·, rica itado em relaçao à importância d mento crítico e d
. d . . e serdesenvolvem em vanos , . .
pavunentos. daJtle• ocument 1 fi e modo
fufl speita aos bens considerados "ico' . ª
e ormal dos be 1
uniaquvez. evidencia-se a dificuldade de reco~~ecer edifícios de fi
1n Mais
ustna1s s ue re n1cos". m ns. sso
nº q • do período, mesmo se de grande q l'd ' as parte significati d
. x e início do século xx, filiados a uma estettca mdustrial _0 llaJ do duǪ 0 ua 1 ade nã0 , va a
pr~
cul~S. es~e~ifico, d:od~r-
s ox • , na . esse para a preservação. Esse não é um, . ' e reconhecida co
écul como 1 bens ter . . _ 1enomeno mo
nista No caso trata-se de bem cultura) de 10 - de suas causas e rmphcaçoes foram . apenas brasileiro
d·scussa 0 mencionada ea
alta relevância para Sao Paulo, .para d a h1stona.em suas .al vanadas facet as, tais . lllais
110 1 deve-se chamar atenção para uma de s anteriormente N
a da arquitetura, da engenhana,. a economia, soc1 h . O Cotonificio Cresp·co1 tanto. . . ssas causas , · o
en al e a falta de d1stanc1arnento crítico dei ' que e a proximidade
representativo, através dos edificios que compun amo complexo, de vá . t era 1ef11Por . . a resultante E .
. vezes se relactonam mais fortemente co · ssas edificações
de transformação da arquitetura industrial e· de d métodos d construtivos nas (parfases
d u1tas m um dado
f1l entuado pelo fato de alguns dos arquitet presente histórico
portantes de tijolos, ossaturas
. met'.álicas associa as ave ação de tijolos, cheg e es0 lgo ac os respons · . •
ª tes Outro dado a ser considerado é 0 id , . avets serem ainda
-se a uma edificação de interesse . 1e1ta com
. concreto armado . ' que datava d and • 3
1uan · eano modero·
nte na formação dos arquitetos paulistas que t d ista ser muito
ampliação dos anos 1940 e foi demolida na recente mtervenção). Po .e U.rna prese , . , en em a considera
·f' .os como emblematicos, em especial na sua co , ·. r esses
enorme importância pelo papel da empresa para a história da lll · dUStria)j
ssui ainda ed1 1c1 n1ormaçao lo 0 fi
lruídos, e não na sua configuração como consol'd d g que oram
em São Paulo, por ser marco significativo dos movimentos operári lação cons 1 a a ao longo do t
renc1·a1 urbano etc. O fa to e' que ha\Tla · propostas anteriores de tutelaos, le como refe. ~r·o se justificam, no entanto, ações desprovidas de e b empo.
1•ª . e . m asamento, ama v
xistem mstrumentos 01erec1dos pela historiogr fi
se concretizaram devido à morosidade do processo, e até essa olê g.al que não que e ª a e pe1as humanidadez
havia dado a devida atenção ao conjunto. Existe apenas uma pe p mica, não se ef11 geral para se atuar de modo fundamentado. es
. .d .. .d 1 M quena quanu·d Caso significativo é. o, da antiga Fábrica Duchen sit d .
e. e . cios
ifi 1.11 ustnrus dprotegi
ai os por ei. as o fato de não se r protegido ade . - , ua a na rodoV1a Presi-
d difi te Dutra, no mumc1p10 de Sao Paulo (figuras 23 a 26 )· 0 edif'1c10 . de Oscar
nao JUSt . ca proposta e t. natureza, pois proprietários• locatanos ,. por
. lei de n ,.
e comunidade local devenam ter formação suficiente p ' arquitetos ·emeyer e Helto Uchoa , . datava de 1950. Inicialmente• devena · ser um com-
• . ara reconh Nl
ficancia do . complexo. como bem cultural de fato ' indepe ndente ouecer n- ª signi- plexo composto_das :abn~as Duchen e Peixe, ambas empresas de Carlos de
reco comento
_ oficial, para
. que fosse preservado efetiv arnente, ou se· ao de seu B
rito s. A., que mclu1a, alem de setores produtivos e de adm'1.11'
. tstraçao,
. uma
nh
as questoes documentrus e de composição gw·assem 0 projeto, . para Ja, para que série de instalações complementares como praças de esportes, ambulatórios,
uso - como supermercado - fosse implantado de aco d0 que o novo creches, restaurante etc. A proposta era de grande interesse no que respeita
d uil l' · · r com as car ·
aq
fid di o que a exJstla, assegurando, assim ,
que co ntmuasse a ser actensticas
. ao equilíbrio e articulação entre as áreas de trabalho e setores de recreação.
e gno suporte da história, de vários estratos do conl1ecrmento . eum efetivo e
da memória. o edifício para a Peixe não foi erigido, mas a Duchen e instalações com-
plementares sim. No projeto, Niemeyer e Uchoa atingem um resultado de
grande originalidade, buscando sua expressividade na dinâmica e maleabili-
Falta de visão histórica e de critérios:
dade oferecidas pelo concreto armado. Os edifícios impl311tam-se de maneira
tragédia também para edifícios .filiados ao modernismo
orgânica, aproveitando as irregularidades do terreno. A estrutura do prédio
Infelizmente, uma postura anistórica, a falta de entendimento em relação às de produção, calculada por Joaquin1 Cardoso, era constituída por pórticos
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raízes culturais da preservação e a ausência de critérios claros para a atuação de concreto armado, situados a cada 10 metros, vencendo vão de 36 metros
em bens culturais se verifica também em relação a edifícios do modernismo e com apoio central2 7 . As nuanças, o dinamismo e organicidade da estrutura,
a outras construções recentes. No caso das edificações oitocentistas e de início o equilíbrio e rigor dos edifícios, a sua perfeita adaptação ao terreno e às
do século xx, sem filiação ao movimento moderno, existe certa relutância, necessidades de produção, a qualidade e originalidade da composição corno
inclusive por parte de arquitetos que trabalham em órgãos de preservação, um todo, fizeram com que esse projeto recebesse prêmio na 1• Bienal de São
em reconhecê-las, de fato, como bens culturais. Por outro lado, naquilo que Paulo, de 1951, em que foi celebrado do seguinte modo na ata do júri:
se refere às edificações modernistas, apesar de grande parte dos arquitetos
reconhecer sua importância (mas outros setores da sociedade são ainda pouco 1 7· Alberto Xavier, Carlos Lemos, Eduardo Coro na, Arquitetura Moderna Paulistana. São Paulo.
sensíveis a esse tema), existe enorme dificuldade em se ter uma visão "histó- Pini, 1983, p. 2).

200
201
Ull' I n'.\l'ICO l>A ll'l>USTlllAl. I ZAÇ}.
~ as 'f ... UR"ÇAO
DO PATR IM Ôl' I O ARQUITET6N1co DA INounRIALI~ AÇÃ 0.,,
. •\Tltl \ ll''.'1 10 ,\HQ O
1•Rt.SFR'·'( 'ºno 1

,rcmio para o projeto de uma fábrica e •


n f
. ..
Osc1rN1c111C)Cr 0 1 . rnsao clame ntado numa
. 'dvisão
d histórica,
. d dque permitisse
. - reconhecer o valor
Conkri1ufo ao .u q. . • d ta construção, capaz de cnar, com urna fáb . file te .un to par.a a cole11v1 a e, in _epen ente
. da v1sao do arquiteto sobre
. . , .,t 1<ar o i·alor cs • . é . rica,
p 1, 0 júri quis '<. · feita cooperaçao com a t c111ca do enge h . do con)unrecon1z . ando sua preservaçao. . . 'Mas fi .isso não ocorreu, e desse modo,
au , , j. r uitctur;1, em per n e1ro
u1111
or,1ndc obro'<ª q um am b'1cn te digno para o trabalho humano21. obra. P referencial dos mais s1gni cativos para a arquitetura moderna
• ,,.
0 a d se um d . . ' fi . . .
e criando..10 mesmo ten1p • per eu- . 1de s·o a Paulo e o pats, com .s1gnr caneta . internacional.
. . f equentemente citado em livros e periódicos d e in
. dustriarande ex emplo de nossa.arquitetura . . industrial
. foi também vítima
. foi depois, r d . e O
O comp1ex 0 ' . d ·sioriografia sobre o mo ern1srno no Bra il utro g ·mentas trágicos: a Fábrica Oltvetti, . situada na rodovia Presidente
d · s clássicos a 111 . . s 29.
relevo, verda eiro . vância da arquitetura moderna e industria] de acontecimu01c1p . . io de Guarulhos, projetada pelo . arquiteto
. italiano Marco
da 111 a10r re 1e ' ern
Tornou-se marco . er preservado por seus valores document . pu tra, no f' bnca. 1,0 1· erigida em duas . . .etapas, a primeira
. de 1956 a 1958- porta-
_ como tal, deve nas , . . ais e n
za uso. A' .ª centra1elétrica, escntonos e produçao - executada por Carabelli
Sao Pau1o e, . d' utíveis qualidades plast1cas, de sua 1rnportân .
. A esar de suas 111 1sc . , cta
formais. P d uitetura moderna no pais e da propria histo . . refeitono,
na, 1. e Con str· Ltda.• e a segunda, concluída . em .1963 - montagem,
. . de ser marco a arq no. C
histonca, . derno com as ameaças de demolição nos anos 199 & ecch Eng. d 0 s escn' to· r'ios , abrigo de carros-, fetta pela Ed1bras Construções
fia do movm1ento mo • o . tda. o coniun
a01 pliação . to (figuras 27 a 29) foi assim descrito:
gra d' . es com vistas ao seu tombamento, acabaram p Gerais L
e as consequentes 1scusso .. , . . . . or
d specuJação imob1hana, cnteno que extrapola p
revalecer as vontad es a e . , or
P d eservação. Não foi poss1vel tomar urna providênc· resa multinacional Olivetti dedica especial atenção ao d nh d
completo o campo a pr . _ . . ia A emp , . . ese o escuspro-
. ipedir a demohçao do complexo. Ademais, destruiu-s dutos e edificações. No caso da fabnca nacional - uma das mut'tas que possw. pdo
concreta a tempo de líl _ . . e
0
, . d D h
predio a uc en e
até finais de 2006 nao se havia feito nada no local (ou rnundo _ pode-se estranhar o fato de ela não ter sido confiada a um arqu·t1 tto b--'' .
,.,ueuo,
. "d . ão preventiva" para contornar o tombamento), permanecendo mas cabe ressaltar no caso, em compensação, o significado desse trabalho incomum à
sep, emo11ç ., . .
apenas tred 1os do antigo pórtico de concreto do ed1f1c10 fabril _ em ruínaslo · nossa arquitetura, executado que foi por importante profissional, ligado à esmla orga-
Niemeyer foi consultado na ocasião e afirmou que a obra nao possuía maior nicista vigente em certos meios italianos. Destaca-se o conjunto do setor de fabricação,
interesse, pois, ademais, segw1do ele, perdera sua função. Em que pese a le- uma construção modulada, com células definidas por triângulos esféricos de cobertura,
gitimidade de ouvir 0 arquiteto sobre sua própria obra, sobretudo para se ter executados em tijolo armado revestido e situados em alturas diferentes, 0 que propor-
um registro relevante com fins historiográficos sobre as transformações por ciona iluminação e ventiJação à maneira dos slieds tradicionais. Cada vértice de seis
que passa a opinião de um autor sobre sua própria obra, deve-se lembrar que desses triângulos imbrica-se numa coluna oca, também elemento de ventilação que
de modo algum esse pode ser um argumento para a preservação, pois o que aflora externamente, constituindo-se em elemento plástico importante do conjunto".
deve ser ponderado é o significado e a importância daquele edifício para a
história e para a sociedade. A obra, a partir do momento que passa a existir no Zanuso, que foi saudado como um dos mais significativos arquitetos da
mundo tangível, deixa de pertencer unicamente ao arquiteto. Supostamente, "segunda geraçãô'32 italiana do modernismo, filiado a uma linha organiàsta,
o corpo técnico dos órgãos de preservação - historiadores, sociólogos, antro- possui vasta obra de qualidade. Seu projeto para a Olivetti em São Paulo era
pólogos, advogados e arquitetos qualificados no campo - e os representantes excepcional por vários motivos. A começar pela configuração do conjunto e
nos respectivos conselhos deveriam ser detentores de conhecimento, devida- sua implantação, com vigor plástico notável. O comple.xo tinha como elemen-
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tos principais voltados à fabricação, o setor de produção e o de montagem,


operações com características diversas, que foram tratadas de maneira distinta,
28. Apud Dante Paglia, Arquitetura na Bienal de São Paulo, s.l., Ecliam, s.d. sendo perfeitamente adaptadas às suas respectivas funções, além de articuladas
29. Ver por exemplo: Henrique E. Mindlin, Arquitetura Moderna no Brasil, Rio de Janeiro, Ae· entre si. No conjunto existiam ainda: portaria, biblioteca, anibulatório,coiinha,
roplano, 1000, pp. 140-141 (1• ed. 1956); o sacrossanlo número monográfico da Archittcture
d'Aujo11rd'h11i de 1951, n. 41-43, pp. 28-19; "Novas Fábricas Peixe e Duchen em S. Paulo~ Arqui· refeitório, átrio, escritórios, central termoelétrica, caixa-d'água, marcenaria, ai-
tetura e E11ge11haria, 1951, n. 15, pp. 16-11; Yves Bruand, Arquitetura Contemporânea no Br111il.
São Paulo, Perspec1iva, i981, pp. 157-158.
30. Esse fato poderia ter dado origem a propostas projetuais de articulação da ruína no shio 31. A. Xavier, C. Lemos e E. Corona, op. cit., 1983, p. 44.
em que está inserida - algo poucas vezes tentado para ruínas modernistas - , aproveitando as ~ 1 · Vittorio Gregotti, "Marco Zanuso, un Archi1etto delb s~ond3 G~ner.uione". Casabdla Con·
sugestões de Brandi, Teoria..., 1004, pp. 63-98.
muità, '957. n. 2L6, pp. 59-60.

202 203
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INOU•T-IALl~AÇ.l.o•••
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O rA TR IMONI
O ARQUIT ETÔ NICO DA IN DUSTRIALIZAÇ'
l\Q . asT "º""ç ÃO DO ATRIMÔNIO ARQUIT!TON1co DA
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ilcto adotou para a área de produção 0 tri . )


.. d ,1r:1gc111. O arqu 1 d anglllo P restan do somente dºf'
a estrutura
. d dedsustentação
- da cobertura aboba-
mo,nnfu os e g
equil,Hero. co
m doze metros
de lado como módu o gera or. Esses trià
' '
' rt"ces colunas de concreto armado, de secrã0 .
. ngulos corfl
da e'"'° ' .
ópn a cob<'tu"
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E"º ' ' "'º
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d duçoo, "<dffkio
. - d, ""'"'i'm,
d 1 de seus ve 1 • . . ~ ctrc o
su
a pr .
o tom
fachadas. m razao as estru1çoes realizadas, foi deter-
1.:111. em ca ª un . as ocas. Isso oferecia maior resistência estátic u. da as respe bamento da cobertura e de sua estrutura de sustentação>•.
de penmetro, m a Para
k1rcomgran b. an1 nointerior,dutosdearcondicionado(lig· d
as colunas que
3 inda a ngav
.
- ' t rmoelétnca) e con

troles de distribuição de energia para a maqu. .ª
.
a os ·
•nana "''"' "'""º "'"''º '"'" "''"'"" "º"'&""<'o
"P"' do •P'""
esco r u ' numa
"
ue esultou proJe
1
'1tmção radiuJ d• " .P'<i'1id.i,
<ompl•i" d, obra,
iot<-' " < detruiç;o
centnu e d triângulos esféricos, abobadilhas de tijolos c • · . to conduzido essenc1a mente por ra.zóes de uso.
bertura é forma a por · era111 i.
A co t ·ângulos em planta (figura 30). Tem-se, assim o q fa c.hadas. emt r conseguido salvar parte do complexo, as obras de trans-
respondentes aos n . _ , u111
cos, cor . . . ódulo possibilita uma part1çao do volume, sern . '" " 0'd<" ' d<foomMn 0 '""""< o todo d< modo •igoffiati>o;
a o dinamico, pois o m .. " criar rflaça- executadas nstruçao
esp ç fí . planta formando células de 72 metros quadr d APe _ de novos elementos de qualidade arquitetônica
randes entraves 1s1cos en1 ' a os
g _ tonomia visual, mas que ao mesmo tempo estão un .d for e-se a isso abl"teram
co por completo esse que foi um exemplar excq>cional
de rojeçao com certa au _ _ , . 1 as duv1
sorfl·dosa, que oindustna
t • 1em São Paulo (figuras 31 e 31).
. P. . . d um espaço de produçao que nao e genérico, nem inct·' da arqut"terura
as VJzmhas, cnan o . . he-
. ul - dessas células e sua relativa autonomia formal e espa ·a1
rendado. A arttc açao . . . c1
.. ço fosse versátil e atendesse as poss1ve1s (e constant ) ei·a duas "grandes eminências" da arquitetura indust . 1 1is
permitiam que o espa . . . , es o us • . • . . . na pau ta e brasi-
transformaçoes a 1ca e do ciclo produtivo de maneira sat1sfatoria·• ou seia,
- d lóg" . leira, signi~cat1va~ em amb1to. mter~a.c1onal, filiadas a diferentes expressões
era um espaço du 'ctil e versátil. O edifício da montagem, alongado,
, de dois pa- .... odermsmo, tiveram destmo trag1co: uma a demoliça·o·
do "' ' ' a outra, mesmo
.
VJmentos, tambe'm ten1 estrutura de concreto armado sobre modulo triangu] ar protegida por lei, uma d~scaracteriza~ão r~dical. Esses exemplos evidenciam,
de doze metros de lado, facilitando sua articulação com o edifício da produção. antes de tudo, a necessidade de realiza~ mventários abrangentes, para que
As lajes de cobertura são planas, associadas a sheds .e apoiadas sobre colunas as decisões, quanto ao que preservar, seiam fruto de processo ponderado, e
cilíndricas ocas. Os demais edifícios, de formatos vanados (alguns hexagonais), não de pânico, para uma política de preservação efetiva e que seja respeitada.
se articulavam com os edifícios de fabricação e complementavam de maneira Mostram também a dificuldade em fazer cumprir resoluções legais e aplicar
eficiente e harmoniosa o conjunto, inclusive o abrigo de carros, construído na sanções aos responsáveis por descaracterizações. Existe também, assim como
segunda fase, com pórticos triarticulados feitos com estrutura pré-fabricada. nos outros casos, falta de clareza em relação aos motivos que levam a preservar
A alternância de formas, volumes, o tratamento de cores - coberturas brancas, (de natureza cultural) e aos critérios próprios a esse campo disciplinar. Esses
associadas a colunas com a parte inferior branca e o coroamento, que se projeta processos resultaram em intervenções que, por não entender as motivações
para o exterior do edificio, pintado de preto, caixilharia preta - produziam efeito da preservação e por confundir os fins com os meios, destroem e desnaturam
de vigor plástico todo particular e de excepcional qualidade33 • bens culturais de enorme relevância.
Devido à iminência da construção do Internacional Shopping Guarulhos,
com ameaças de descaracterizar o edifício, vários intelectuais assinaram um
manifesto que deu início a processo de tombamento no CON D E PHAAT, em A LGU N S TE MA S R E SULTAN TES D OS Q UES TIONAM ENTOS DAS
15 de abril de 1997. No entanto, mesmo com o processo em andamento, o que IN T ERV E N Ç Õ ES E DA ANÁLI S E BIBLI OG R ÁF I CA
deveria assegurar sua preservação, o conjunto foi transformado. Existem, no
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processo, documentos que exigem fiscalização por parte do órgão, porque a O restauro como ação cultural em contraposição
fábrica, que antes estava em bom estado de conservação, passou por signifi- à recuperação: o problema do uso
cativas demolições (fachadas, paredes, vedações do edifício de produção e de
montagem, demolição total dos outros edifícios e elementos que compunham Existe um vasto instrumental teórico que pode fundamentar uma preservação
social e culturalmente responsável. baseado em pelo menos dois séculos (ou

33. Sobre a fábrica ver: Roberto Guiducci, "Appunti sulla Fabbrica di São Paulo, Braslle", Casa-
bel/a Cominuirà, 1957, n.116, pp. 66-71; "Fábrica Olivetti em Guarulhos", Acrópole, 1960, n. i65, 34. Dados do processo do CONDEPHAAT, n• 36.035/97: An1iga fi\bricn Ob,-et1i. Agradeçoª
pp. 5-9; "Aumen10 da Fábrica Olive1ti", Acrópole, 1964, n. 303, pp. to1- 105. Cristiane lkedo Bardese e Wayne Sousa por terem conferido os dados no órgão.

20 4 205
~ss'f"
u•"ç}.o ºº PATRIMÔNIO ARQu ITeTôN1r.o
l'AlR1'1 <' ~ 1 U
HL'U\A~'A<' ll
(l ARQU11"1' 1 ÔNI C O DA IND US TRIA DA IN D
LIZ"ÇJ.o • U!T -IA LIZAÇJ.o
rnbarace a execuçao da planta que s ...
. b ·c·iriiios as raizes da discussão no Renascimento) de fi . J:I se e e tem feito
noJe me parece mais conveniente fazer ' para aobra que .
~xnericncias
Cinco. se li> •
n ..s ~ ~ ,
·e· . ,
• " , . , . . orrnula •
sistemaucas na pratica que conduziram às atua1.s v Çoes . o é que
di8 .
. em-se de nov
rque, se bem se calcular a despesa o, em lugar q
se lnlen1a· o
. ' qu.e
teó
tes teóricas do restauro de bens 6prio; po que se há de ~ . ue se Julga ma
- cultubrais ed que . o consolidaram co mocaenen. 0 pr é's e para se porem as Casas da Junta em est d az.er para reduzir º- IS
isciplinar
• , autônomo. As
- açoes em o ras . e epocas precedentes tornara lllp uMl 1 , - a o de poder . o '•lácio a
O Governadores, nao custará menos cabed 1 em dccenicm
d
efetivamente preservaçao eJaS os a , daqude ente habi1ar
. . de bens
b culturais
d d quando . - se afastaram
r
dos atos111-se
d. o m novo Quartel; e quando sucedesse que podia emp
dos por razões pragmat1cas - a an ano, -estru1çao, re1ormas ' reconstru •ita. obra de u - que o custo dela fi regar-se na
transformações feitas, em geral, por questoes de uso, que predom·111aram Çoes' uco o que se ganhava, que nao se desse de barato esse pequen <>sst maior, não era tão _

uaisquer obras até a segunda metade do século x v 111 - e assu m1rarn . Para
P0
de urna
fábrica nova, conservando-se as antigas n
o estado que atéa
°
excesso, pela uui·.1.,
i.....,e
qtação fundamentalmente cultural. Passou-se a ter distanciament gora CSliverani [...]".
- . , .
o crittc 0cono.
relaçao ao passado e procurou-se perpetuar os. testemunhos reconhe . eni e onsidera, pois, que, quando o uso é a tal ponto .inco ,
como de interesse para a cultura para que servissem de suporte do cidos terlsticas e com o papel memorial da constru - . rnpativel com as ca-
rac .. . çao existente d
mento e da memória coletiva, valorizando seus aspectos documentais conheci. nova obra para a uti11zaçao desejada e •se eva fazer
uma L' - d b que se preserve o dif' .
memoriais e simbólicos. O uso era e continua a ser essencial, dada 'forrnais, inal como estava. 1çao e sa edoria que tem sido . e 1cio ori-
g - muito pouco utilizada
portância para a própria manutenção e, portanto, sobrevivênc·ia doªedT sua .
1 1irn. desde entao.
mas passa a ser um meio e não a finalidade da intervenção. c10; Na prática de atuações recentes, só vez por 0 utra se venfica . .
Deve-se lembrar que - a manifestação
. considerada
. , por vár'ios autor .ência e sensibilidade nas propostas e nas operaçõe t maior cons-
c1 s, anto na escala b
tratam-da preservaçao no Brasil, como a primeira de relevânCia . paraes que anto em edificações isoladas. O que se observa • ur ana,
qu . , . d' d , em gera'1 e a absoluta
servaçao no pais, . tem. como ponto significativo a questão do uso. Trat ª pre- va
lência de cntenos 1ta os pelo uso, para obter ma·
. - . iores 1ucros, para aparecer
pre-
proposta .do V1ce-Re1 do Estado do Brasil, D. André de Mel o e C astro a-se e da n
os meios de comumcaçao, e guiados por interesses set . . . .
. . _ ona1s e imediatistas
de Galve1as, em 1742, para preservar o Palácio das Duas ..,,1orres eri ' 'donde 0 Em relação as mtervençoes em bens de interesse cultural t
- . ' em-seamphadoo
. ·
Pernambuco. . _ por Maurício de Nassau. O conde de Gal veias . era' co git . .ern emprego de termos como . recuperaçao,
. reVJtalização
. ' reno -
vaçao e, mesmo, re-
sua. util1zaçao como quartel,. como propunha 0 então Governador dn e rano. à ciclagem e reforma, aplicados ate para edificações de grande ·intcresse artist1co. . .
dma, pelos danos
1 .. . que isso causaria ao Palácio. Evoca ta ª
m em o valor h. aptta-
b . . . São termos que refletem posturas conceituais inadequadas• po·is se a1astam ,
aque e ed1fic10,
. como elemento de rememoração d a restauração d0 istonco das razões que motivaram a preservação e que procuram distanciar-se do
porrugues sobre a região: controle conceito de restauro, encarado erroneamente como ato que tolhe a criativi-
dade, com intuitos apenas restritivos, que inviabilizaria uma transformação
Pelo que respeita aos Quartéis que se pretendem mudar para o Palácio das Duas Torres, para atender de modo adequado às necessidades atuais.
obra do Conde Maurício de Nassau, em que os Governadores fazem sua assistência, me A questão do emprego desses termos, e os bens aos quais se destinam, tem
lastimo muito que se haja de entregar ao uso \~alento e pouco cuidadoso dos soldados, sido tratada em vários textos de Carbonara, que aclara o problema ao afirmar
que em pouco tempo reduzirão aquela fábrica a uma lotai dissolução, mas ainda me que a diferença entre eles consiste na diversidade dos objetos a que se destinam
lastima mais que, com ela, se arruinará também uma memória que mudamente estava e, por consequência, dos fins a atingir e dos meios empregados. Compara a
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recomendando à posteridade as ilustres e famosas ações que obraram os Portugueses na manutenção com a medicina preventiva, asseverando que pode evitar a res-
Res1auração dessa Capitania, de que se seguiu livnr-se do jugo forasleiro todo o mais res- tauração, que é sempre mais traumática. Considera a reutilização a forma mais
tante da América Portuguesa: as fábricas em que se incluem as eslimáveis circunslâncias eficaz para garantir a preservação de um bem - algo já detectado e enfatizado
[ ... J são livros que falam, sem que seja necessário lê-los [... ];se se necessitasse, absoluta- em meados do século x1x por autores com formulações tão díspares quanto
menle, para a defesa dessa Praça que se demolisse o Palácio, e com ele memória tão ilustre, Viollet-le-Duc e Ruskin - , pois um monumento sem uso se deteriora de modo
paciência, porque essa mesma desgraça têm experimentado outros edificios igualmenle rápido, enquanto aquele mantido em funcionamento pode durar séculosl<. No
famosos; mas por pouparmos a despesa de dez ou doze mil cruzados, é cousa indigna
que se saiba que, por um preço tão vil, nos exponhamos a que se sepulte, na ruína dessas 35. Apud R. M. F. Andrade, op. cit., 1952, pp. 13-14.
qua1ro paredes, a glória de toda uma Nação. Não digo que, por salvar os Quartéis, que 36. G. Carbonara, "Beni Culturali ..:', 1992, PP· 40-41.

206 207
ÃO O
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~ssfA o PATRIMÔNIO ARQUIT!T6N1co º" INouSTRtALIZAÇ.io...
• O rATR IM ÔN IO ARQUITETÔNI CO DA INDU STRIAL
r•6S6RVAÇA0 D IZAÇ.\o
0
edilicaça- ' mas também daquela
. . das .áreas tradicionais da restauração.
ela "viria, as d
entanto, a reutilização é um m:io para preservar o bem, mas não a finalid
da inter\'enção'1. A recuperaçao, por - sua vez, afirma1 o autor, impõe a reuL·1 ade·
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A' recupe rna 1.dei a de prOJ
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sobre ela pressões econom1cas e po 1ticas. a o restauro e ato histór" ico-cr'r 1 o e fun
conservativo _ pois tem por objetivo transmitir o bem a gerações fu tco, ização é essencial, mas desde que a p
' 1 1 d · d ·1· turas d A reutil , . reservação s
melhor maneira poss1ve , va en o-se para isso _ . a reut1
. 1zação _ e cnativo
. . .a cultural, o uso e o meio e não o objetivo d . e tornou ação de
ráter . a Lnterven -
qualquer intervenção, mesmo a manutençao, implica modificaç·oes, que'Pois _
ca mo explicitado, a Ruskin e YioUet-le-Du çao. Isso já era
são figurativamente neutras e devem ser prefiguradas e controladas nao ato, co - c, que preconizav
n gurasse a boa manutençao e evitasse inte _ arn um uso
do projeto'ª· Ou seja, a ênfase do restauro é nas questões culturais e s através e asse rvençoes ma·15 . .
qu ntação dos autores é de caráter estético e hiºst, . incisivas. A
edifícios de valor histórico, artístico, memorial, simbólico ou de compo . _a urne onco(emv· u
e volta arg s também técnico), e as questões funciona· . . io et-le-Duc,
de um dado ambiente. A recuperação, por sua vez, deveria ocup ar-se apsiçao às veze , is Jamais são , .
lecer. Rusk.in já afirmava: "Tome medidas aprop . d as unicas a
dos resíduos preexistentes, que não possuem os valores supracitad enas P. ão será necessário restaurá-los"'º, e preconiza na as para osedºfí
reva
i -
dos remanescentes genéricos de épocas passadas. os, ou seja, cios, n va que se preservass
arcas da passagem do tempo, não "ferindo" 0 doe em
De interesse é verificar a posição de outro autor de grande rei evanc1
• .a p as rn . umento. Enfatizava
ém a necessidade de usos que assegurassem uma b '
Torsello que, analisando o risco, em função de certos desdobra mentos r ' aolo taJTl b ' oa manutenção"
. Uet-le-Duc, por sua vez, recomendava que se encontras ·
no .campo da conservação,, de.que nasça . uma noção de resta uro que seecentes
b . V10 . , . _ se um uso que
umcamente em aspectos tecmco-func1onais, comenta aind a outro probl ema: ase1e t e tão adequado ao ed1f1c10 que nao fosse necessário alterar s dº . _
1oss , 42 ua 1spos1çao
ara implementa-lo .
Ao mesmo tempo, a 1eoria da "recuperação lecnológica" privilegia as categorias do
p Sempre em chave estética e histórica, e jamais utilitária, se pronuncia Ca-
conforto, da função, da durabilidade e de um complexo de "vocações/ prestações" das millo Boito, como mencionado. Alois Riegl, também já citado, em 0 Culto
quais se move para reinserir o bem no circuito das fruições de mercado. Existe, em Moderno dos Monumentos analisa as várias formas de apreensão do monu-
outras palavras, uma atenção à obra antiga como mercadoria, numa versão que auio. mento histórico pela sociedade. Na classificação que faz, considera 0 valor
riza, de fato, a sua reutilização e reprojeto. As características artísticas e históricas são de uso e o valor artístico como de contemporaneidade, por variarem com 0
entendidas como limites e impedimentos ao completamento da recuperação e a disci- tempo. Por essa razão fundamenta sua proposta legislativa no "valor de an-
plina busca cavar um espaço operacional independenle que gostaria de distinguir-se tiguidade", justamente por ser mais inclusivo e por respeitar integralmente a
obra. ~relevante mencionar que o autor aponta as contradições relacionadas
com 0 uso, pois, se o uso é o valor prevalente, vai gerar conflito direto com o
37. Nesse ponto especifico, Carbonara faz menção a Miraetli Mariani, que evidencia a importân-
"valor de antigo". A ausência de uso, porém, leva à decadência, por falta de
cia do uso como instrumento adequado para garantir a conservação, mas insiste que não se deva
confundir os fins com os meios (G. Miarelli Mariani, "Qualche Pensiero Eflimero sul Restauro
dei Monumenti Architenonici", Storia Architettura, 1988, vot. 11, n. 1-2, p. 56).
38. G. Carbonara, "Beni Culturali.. ~. 199>, pp. 40-41. Sobre a recuperação, afirma: "nasce de uma 39. P. Torsello, "Conservare. ..", 1997, pp. 186-187.
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cone<pção diversa, que coloca a reutilização como premissa e o ato de conservação apenas como 40. ). Ruskin, op. cit., 1889, pp. 196-197.
eventual consequência. O restauro, ao contrário, é um ato histórico-crítico (no sentido de que 41. Cf. por exemplo, as observações de Antonio Petrella, op. cit., 1987, p. 76. "No 'parnpltlet'sobre
se vale de um juizo, como foi dito), conservativo (no sentido de que a sua finalidade primária é a inauguração do Palácio de Cristal, ao descrever as mudanças que se eSlaV2Ill verificando na
tutelar e mandar ao futuro um 'bem' no melhor estado possível, utilizando com tal escopo, se Europa, ele evidencia que se Rouen é a 'única cidade na França em que é possível ainda ver, em
necessária, a prática da reutilização) e também criativo (R. Bonelli). pela clara consciência de seu conjunto, os efeitos da antiga arquitetura doméstica francesa' isso é devido ao fato de que as
que iodo ato, até mesmo o de simples manutenção, 'muda' de qualquer forma o objeto e que tal casas construídas no século xv e no início do século xv1 são 'ainda existentes e habi1adas'~
mutação, mesmo se historicamente guiada e tecnicamente irrepreensível, implica uma resposla 41. Viotlel-le-Duc, Resta14ração, 2000. p. 65. "Ademais, o melhor meio para conservar um edifióo t
que não poderá jamais ser figurativamente neutra e que, nesse sentido, é prefigurada e controlada encontrar para ele uma destinação, e satisfazer tão bem rodas as necessidades que <Xigte5$1 dtsti·
a1ravés de um projeto. Na noção de recuperação, ao contrário, está arraigado um apelo de tipo nação, que não haja modo de fazer modificações.~ claro, por exemplo, que o arqui1etoencarng•do
econômico e mesmo político J... ]". O autor também retoma o assunto em outros textos, tais como: de fazer do belo refeitório de Saint-Martin des Charnps uma biblio1eca para a Escola de Art~s'
"Teoria e Metodi dei Restauro~ em G. Carbonara (org.). Trattato di Restauro Architettonico, Torino, Oficias. deveria esforçar-se, sempre respeitando o edificio e mesmo resruurundo-o, para organizar.
Utel, 1996, pp. 3-16; Avvicinamento.. ., 1997, pp. 5-45, 371-383. as estantes de maneira tal que não fosse necessário voltar atrás e alterar as disposiçô<s dessa sala.

208 209
t "ªsTA
UllAÇÃO 00 PATRIMÔN I O A~QUIT
!TôN1co oA INoun
PRBSER\' AÇÂO 00 PATRIMÔNIO ARQUITETÔNI CO DA IN DUSTR
IA L I ZAÇ.i.o ~IALIZAÇÀ
. ..1.jos escritos e documentos pertinent o...
~V~ ª~~
manutenção. Desse modo, deve-se resolver a questão levando em , tendida como ato de cultura, enfatiza po, desde que
" 1 d · ·d d " d • conta ·o e en m que o 0 b· preserva
va or e uso e o va or e an11gu1 a e, com prepon erancia deste úl . o ya ~,ar a obra para transmiti-la da melh Jetivo da inte _·
d
lO tema 1 onse• • . . . or maneir . rvençao
do uso comparece amiúde nas formulações teóricas e COnli
timo. ee . não 0 objetivo da t.ntervenção. Para · ª poss1ve~ send
rne•º e . aquela que - o o USo
a ser tratado de maneira semelhante no campo da preservação pe1os vnuou
' · o ntre urna c01sa e outra, pode-se invoca S . nao percebem a di!i
ça e r even.no4s e-
o, a11rmou:
autores que se sucederam no tempo. Cesare Brandi, por exempl r. anos re 0 . talvez mais compreensível, que "come . e seu exemplo
rnuttOS ,, . r para viver é ai •para
de viver para comer. Ninguém em sã .. goessencialme t
diverso . • . consciencia ne . ne
Mas, quando se tratar, ao contrário, de obra de arte,
. .mesmo .se entre as obras de arte ·.rnentos para a sobrevwenaa, assim co . ga a importâna·
dos ali mo mnguém a
haja algumas que possuam estruturalmente um obieuvo funcional, como as obras de ão nega o papel do uso para que o bem co 1· no campo da res-
arquitetura e, cm geral, os objetos da chamada arte aplicada, claro estará que o restab tauraÇ n mue a existi M
ndir os meios com os fi ns denota uma relaç- r. as o fato de
lecimento da funcion:il1dade, se entrar na intervenção de restauro, represe ntara,. defi e-
. con fu . ao totalmente d' .
'da que distingue uma alimentação saudável d . tStintacom a
ti"amente, só um lado secundário ou concomitante, e jamais o primário e fundamentni-1 corn' ' aque1a denvada d d" .
·..... entares. Do mesmo modo, no campo da restaur _ . e isturbios
que se refere à obra de arte como obra de arte". ª al"" .
uso compatível, se o que se quer é de fato pres
açao, e possív 1
e encontrar
urn ervar como ato d
. _ •, ou se· e cultura,
que vai· diferenciar um processo
de decadência por"·tnamçao
Na Carta de Veneza, por sua vez, o tema aparece da seguinte forma: _ 1
d uso, ou de deturpaçao por um uso inadequado (os di , b" J~ pe a falta
e al' - "d . Stúr IOS alimentar )
de urna "correta unentaçao en vada de um uso compatível es •
Artigo 4• _ A conser"açâo dos monumentos exige, antes de tudo, manutenção per-
Deveriam. pois, ser analisadas as características daob
manente. ' . ra para, depois, definir
Artigo 5° - Aconservação dos monumentos é sempre favorecida por sua destinação funções e programas compat1ve1s com . elas, e não 0 contrano,
•. d
a aptar umdado
a uma função útil à sociedade; tal destinação é, portanto, desejável, mas não pode nem edif ício a um novo uso preestabelecido ou submetê-lo a Ira
ns1,ormaçoes_
massi-
deve alterar a disposição ou a decoração dos edifícios. ~somente dentro destes limites c.cadas nem sempre de acordo com suas particularidades c · · 1
11 • • , • ' U Ja unp ementação
que se deve conceber e se pode autorizar as modificações exigidas pela evolução dos será feita em preJUlZO do propno monumento histórico· Ou sei·a, deve-se res-
usos e costumes. peitar a essência do bem, escolher um uso compatível com seus •-<N>rl d
r - .OS OCU-
rnentais e formais, respeitando-se sua configuração, suas várias estratificações
Já na Carta de Restauração Italiana, de i972: ao longo do tempo e desenvolver o programa e o projeto de acordo com suas
características. Cabe ainda relembrar que não basta que o novo uso seja apenas
Dado que as obras de manutenção executadas a tempo asseguram longa vida aos mo- "nominalmente" compatível, pois, por exemplo, muitos usos ditos "culturais" têm
numentos, evitando que os danos se agravem, recomenda-se o maior cuidado possí"el na desnaturado bens culturais. Ou seja, um uso voltado à cultura não assegura que
vigilância continua dos imóveis para se tomarem as providências de caráter preventivo, o edifício seja preservado; e, inversamente, um projeto de supermercado, que
também com a finalidade de evitar intervenções de maior amplitude. Recorde-se, ainda, leve em conta as características do edifício e não confunda os fins com os meios,
a necessidade de considerar todas as operações de restauro sob um perfil substancial- pode ser adequado. Deve-se recordar, ainda, que não basta que o novo uso le\·e
mente conservativo, respeitando os elementos acrescentados e evitando, de qualquer em conta apenas os aspectos materiais, de distribuição espacial, documentais se
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modo, intervenções inovadoras ou de repristinação. Sempre com o objetivo de assegurar não for uso condigno com o próprio significado do bem e pertinente ao local
a sobrevivência dos monumentos, deve ser atentamente avaliada a possibilidade de novas e situação em que se insere e a comunidade a que se volta.
utilizações dos antigos edifkios monumentais, caso não resultem incompatíveis com os Caso de interesse é a estação de Bananal, cidade da zona pioneira de expan-
interesses histórico-artlsticos. As obras de adaptação deverão ser limitadas ao mlnimo, são do café em São Paulo que enriqueceu de forma substancial por conta do
conservando escrupulosamente as formas externas e evitando alterações sensíveis das ca- produto. Apesar de a produção na região diminuir na segunda metade do sé-
racterísticas tipológicas, do organismo construtivo e da sequência dos percursos internos". culo x1x, o café ainda era fundamental e uma empresa foi constituída em i88o

43. C. llrandi, Teoria .. ., 1004, p. 16.


44. Apud C. Brandi, Teoria .. ., 1004, p. 141.
45. E. Severino, op. cir., 1003, p. 31.

2 10
211
PRbSfR\AÇAO 1'0 PATRIMÔN I O ARQU tTBTÔN I CO DA INDUSTR
IALIZAÇÃo
1.
~e sTA
UR"ÇÃO DO PATRIMÔN I O ARQu i

,
T!TôN1co
º" INousra IAllZAÇ.i
-
uso escolhido era perfeitament o...
tanto. 0 e compati 1
• d uma ferrovia para unir Bananal à linha entre São p efl ·fí .0 e era certamente solução melh ve com as c
para a construçao e . . aulo ed1 ic• or do qu 0 aracterísti
e Rio de Janeiro. A linha foi inaugurada em Janeiro de 1889, °:ªs o edifício da do e na mesma cidade existem edifíc· e abandono 1 b cas
de qu •os de gra d • em rand
- ó · depoi's A estaça·o caiu em desuso após a desativação do .se ulo xix que se encontram em total d n e relevânci d .. .º-
estaçao s o sena · .
na década de 1960, sendo protegida por lei estadual em 1974.
ramal do séc . _
. vicissi tudes, a estaçao fo1 transfor d
. esuso e d •
ecadencia 0 .
ª e lll1c10
01 tas . ma a, em · epois de
A estação de Bananal é exemplar de gran~e int~resse por ser a única esta- f11 . arão da prefeitura e repintada Co . 10
04, em sed d
ção em São Paulo totalmente metálica e pre-fabncada. É de li~o unilateral,
111ifllS!J Y •, • if' . . . . nvem enfatizar e e ad-
•0 rodov1an a, ed 1c10 administrativo 0 que, sendo
com área de metros quadrados, e caracteriza-se por possuir um co rpo estaǪ .. . .. u museu, dev o USo
350 . . ·f'cio seja utilizado com c1v1hdade e que e-se assegurar
central com dois pavimentos - em que se 1oca11zavam, no terreo, a bilhet _ o ed i '
. conscientes de sua relevância e devida
as pessoas
. que nele trabaJh
que
ria e acesso às plataformas e, no primeiro andar, escritórios - , ladeado e seJarn . - mente mstruidas em
0 . . d r• por aneira adequada. Ou seja, nao haveria r bl para mantê-lo
dois corpos de um pavimento para o depos1to e caie e mercadorias. Suas de rn .' . d d p o emas em uw· .
rão rodov1an a, es e que fosse mantido c . llà-lo como
peças foram fabricadas na Bélgica, segundo o engenhoso sistema Danly estay . . onvenientement
,,.10 presente, aquilo que se verifica com fre . . , e.
de paredes duplas formadas por chapas galvanizadas e estampadas. Os elemen-' ., quenc1a e uma t tal .
. eia teórica no modo de abordar os monume t h' , . 0 IDCOnsis-
tos de união são perfurados para permitir a circulação de ar entre os pan ten . . . n os 1stonco
ausência de cnten os e de reflexão crítica a res eito d s, notando-se
garantindo maior isolamento térmico. Há ainda orifícios, com aberturas :s, a . d - d . p os valores fo .
· · d d qe cumentais, a ma equaçao as tecnicas empregad 1• . lllliUS e
ermitem controlar a circulação do ar no mtenor as. pare es e da edificaçao. - do - • . as, a em da mterfi - .
P cessiva de questoes econom1cas, de uso e política A . erenaa
Sua restauração foi iniciada em 1984, com r .projeto de Samuel Kruch·111, eJC _ s. na11sando-se ai
então no cONDEPHAAT. Quando o traba1ho 101 começado, havia problemas d essas intervençoes e o debate com elas relacionado t . gumas
, . . • em-se a impressão de
de corrosão, os mais graves nas chapas da cobertura, nos perfis inferiores do q ue se volta aquilo que Brandi apresenta como 0 esque • ,
• . . ma pre-conceituaJ"
perímetro do edifício e nos perfis de sustentação do piso. Isso fez com da restauraçao, entend1da como uma intervenção co b' .
'd ifi - d que .• . m o o Jet1vo de dar de
se optasse por processo de desmonte, 1 ent caçao as peças, tratamento e novo efic1enc1a a qualquer produto da atividade humana E _
.. . ,. · parece que nao
remontagem no mesmo local • 46 mais se trabalha •
com o conceito de restauro' definido antenormente, . esse,
sim, volt~do as obras de arte '. ~u, em .nossa concepção atual mais alargada
47
A proposta foi de ali instalar a estação rodoviária que permitiria uma 1e1tura
·
dos espaços e modo de funcionamento muito semelhantes aos da esta ão . da questao, aos bens que adqumram significado cultural· Mu'itas propostas
m1·a·va. Essa utili' zaçao
- gerou controversias,
· pois alguns moradores daçcidad pn- se têm voltado a extremos. Em algumas, busca-se um estágio anterior de um
almejariam uma destinação mais "nobre" para esse bem tão particular. Neo dado bem, não se considerando válidas as suas várias fases. Existe uma von-
t.ade deliberada, de um modo "leduciano", de retornar a um estado primeiro
idealizado, como se apenas esse fosse o mais significativo sem um devido en-
46. Paralelamente à avaliaçio do estado da estação, fez-se um levantamen10 pormenorizado de tendimento da obra em si e de seu particular percurso no decorrer do tempo.
todo o edificio, complementado por análises de laboratório em que se concluiu que o material através de reconstruções ou completamentos, não havendo conside.ração pela
empregado era o ferro, ob1ido por pudlagem, galvanizado. Foram propostos como materiais
de substiNição, quando necessário, aços tipo Corten ou Cos-ar-cor. As chapas das paredes en- matéria, que caracterizou a relação com os bens culturais na cultura ocidental
contravam-se, no geral, em bom estado e a recuperação das peças delerioradas deu-se através nos últimos dois séculos. Ou, são feitas transformações incisivas sem o mais
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de novas partes moldadas que foram soldadas nas chapas originais. As da coberlura, porém,
remoto respeito pelo documento histórico, tanto inserindo indevidamente
estavam baslante corroídas e foi proposta limpeza e nova zincagem a quenle. Com relação às
cores empregadas, fez-se o estudo da pintura exislenle, que permiliu uma definição do colorido novos elementos, quanto esvaziando a edificação daquilo que a caracteriz.a.
original. A opção foi a de não utilizar as cores primitivas, por serem julgadas inadequadas às tratando-a como mero contentor.
nuanças plásticas do edificio. Buscou-se uma solução que valoriZ:tSse a leitura e facilitasse a com-
preensão do sistema construtivo. Opção consciente de projeto, na qual se trabalhou com aspectos
Muitos bens têm sido sistematicamente descaracterizados, invocando-se
formais e documentais, segundo uma acepção contemporànea da questão das cores, sendo uma razões de uso e afirmam se tratar de preservação. Os perpetradom desses
escolha fundamentada e justificada. O edifkio teve suas paredes 1ra1adas de ocre, marcação dos atos promovem as questões de ordem prática como únicas e imperiosas edes-
perfis estruturais, tanto os da base quanto os verticais, de vermelho, cobertura também dessa
cor e manutenção das esquadrias e pisos de madeira natural. Para maiores informações sobre a
estação, seu sistema construtivo e obras de restauração, ver B. M. Kühl, Arq11itet11ra do Ferro....
t998, pp. 67-77, 291-294, 339-379,
47. C. Brandi, Teoria .. ., 2004, pp. 25-26.

212 213
'· S'f1'UR1'ÇÁO DO PATRIMÔNIO AR
l'\TRl~ll'"'º ARQlllTI 11\r11 co
1 USTR IAL 17

PMl .SlR\'A\Á<' ()l\ llA IN) "Çi.o RB QUfTETô
Nico DA INo
USTR1ALl2A Ã

. d ·taur:ição, considerando-os apenas restrili rnero contentores, como simpl ç o...


.. ·oncc11os ·' rcs ' vos, e corn° es suportes d
quahhc.1111 os L ri:içiio dos monumentos pelo presente E a.nte vasta. Neste ponto, para eviden . e ações cont
. hT17 1ri 111111111:1 :iprop ' ' · ssa é bast' . c1ar ape ernpor;i .
que i1w1a 1 • ' nesmo porque isso é feito e afirmado se"' rnente a um escrito essencial de C nasalgurnasq • neas,e
. . rfi ão grosse1r:1, 1
.
... nell'I .se so eorg Mõrsch~• uestoes, recorre
um•1s1mp 1 caç. ma solução respeitosa. Ademais, cabe p -es recentes, retomando alguns aspectos d , que analis . .
itar ou tentar u . . ergun. ço o pens a interve
ao menos cog b'entes culturais, mesmo na Amen ca Latina adismo - esse ato de desventrar de e t . arnento de Riegl Ab n-
tar or que em certos am i . . .d . ' coll'I fach . ' s ripar e d · orda 0
P . Ih tes aos bras1le1ros, tem s1 o poss1vel restaura d em variadas cidades europeias lnvo esossar urn edifí . h'
roblemas muito seme an .. r e co - . . . caos peri o d cio istóri.
~ 1 . d maneira sistema11ca, caso, por exemplo, apesar de Ioda s testemunhos históricos, enfatizando g s essa redução arb· , .
talo bens cu 1ura1s e . . d s do , . que o esse 'a) 1trana
' . d d México e do Equador. Sera que agm o prevalentemeni e é irrecuperavel e 1rreproduzível _ . nci nesses obJ'et
as d1ficu\da es, o e o qU e a sua "hist . . os - e
. . s como se tem feito, assegura-se uma transmissão e. seu transcurso no tempo. ~val ia uma série de razõesor:1dade", os traços de
atraves de recuperaçoe , .• . en.
istóricos? Os resultados e as expenencias na prái· ·nclusive certas deformaçoes da legislação e P ªa onda fachadista,
ciente dos monumen tos h 1ca 1 1
maguns ·
canteiros de obras. Um interesse escrupul (>alses e a má prática
mostram exatamente o contrário. . e01 . . oso e específic0 1
_ s1.gm·fi ca desprezar a questão do uso, intervenção em si e o respeito por todas as part pe o projeto de
lsso nao . como dito. O ponto nodal e. • . . es característi d
• ,ase deve ser outra·' aquilo que_norteia, que estabelece os contra a tendenc1a a esquematizar, a estandardi· cas os bens vai
que a en1 . limites da .d . We,m~~ _
intervenção deve ser buscado nas razoes de se preservar, que e aquilo que reguiça mentalE . vi enc1a um dado concreto· d • Opoe-se à
P . . a per a de substân . h' .
fu ndamenta a teoria do restauro - em seus parâmetros documentais, formais que pode ser veri ficada materialmente• com prec1.sao, _ Cla istónca,
que é ai 0 10
e materiais-, que permitem que se manifestem as várias estratificações da diverso de conservar apenas o "conhecimento" d e g talmente
. . esses iatos através de .
obra e a própria intervenção de um dado presente histórico, desde que este tros. Analisa a necessidade humana de recordar e d . regi.s-
o eseio do homem de se
último estrato não achate toda a diversidade existente num único registro. relacionar com , o passado através de testemunhos matena1s . . autenl!cos,
. . uma
Grande parte das atuações, hoje, desconsidera alegremente a reflexão sobre relação que e ao mesmo tempo material, emotiva e intele tu 1 .
. . fid . . . c a , que necessita
a preservação de monumentos históricos dos últimos séculos, apesar de terem de referenciais ed 1gnos. . Deve-se ex:1g1r veracidade do test h h' ..
emun o 1stonco,
a pretensão de ser consideradas como tal. Ou seja, despreza-se um campo e afirma que um ambiente sem mudanças e inovações faria ressentir 0 dedíni
. o.
disciplinar, o restauro, que se afastou do empirismo e de atitudes guiadas assim como um amb1ente apenas com objetos atuais seria fonte de inquietação,
prevalentemente por questões de cunho pragmático, para se transformar em pela brusca interrupção da continuidade; isso seria, em última instància,hostil
ação fundamentada nas ciências. à vida. Existe a sensação de perda de realidade quando se veem monumentos
Em suma, intervenções que levam em conta de modo predomi nante ape- desnaturados, ou "novos em folha"; mostra, porém, que inovações controladas
nas questões pragmáticas não podem ser consideradas como ações culturais, e a dimensão criativa fazem parte da restauração. Ao discorrer sobre as perdas
e nem deveriam ser praticadas em bens culturais, por resultarem em atos resultantes da estripação, afirma que dizem respeito, de igual modo, ao passado
que destroem ou alteraram veemente e irresponsavelmente a consistência e ao futuro do monumento. Pois, já ao nascer, o edifício representa nãoapenas a
dos bens. Existem pelo menos cinco séculos de experiências documentadas concretização de um projeto arquitetônico, mas também uma soma incfüisível
que demonstram os danos irreparáveis de tais atos. Preservar documentos de experiências artesanais, culturais, sociais, técnicas e econõmicas; e, com o
históricos de modo extenso é ação inclusiva, que beneficia não apenas alguns decorrer do tempo, várias transformações e acréscimos oferecem uma imagem
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setores no presente, mas a sociedade de um modo mais abrangente ao longo viva, que faz parte da riqueza da cultura, e isso não pode ser substituído apenas
do tempo. Ou seja, permite que presente e futuro entrem em contato com por documentação e registros. A perda do futuro é tão grave quanto a desca-
um universo mais variado, assegurando a diversidade. racterização do passado, pois também no futuro deve ser possível a percepção
de traços históricos. Evoca o princípio da reversibilidade da ação rontempo-
rânea e assevera que o zelo correto pelos monumentos deve oferecer, sempre.
O 'Jachadismo" como intolerância a doci1m entos - · ara resolver eventuais
históricos: os danos para a diversidade a garantia de uma possibilidade de rnutaçao contmua P

A literatura sobre os problemas gerados pelo fachadismo, pelo desrespeito


aos documentos e à memória, que consideram edifícios de interesse histórico \ 48. G. Mõrsch , op. cil., 1995, pp. 443·453·

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sT ~ U R AÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQ UITtro
pRESBR\'AÇAOpO l'A TRIMÔNIO ARQUl1 BTÔNI CO DA IN OUST RI Al.IZ AÇÃo RB
Nico DA INo
. . • USTRIALIZA -
rnpos1çao do todo; ou seJa, é nec . . ÇAo...
surgir. Com o "restauro de fachada'; isso não naco . essano en
roblem;is que possam . _ ocorre tipO e época) como inter-relação tender a arq .
P 'ntervenções são feitas de modo que qualquer açao post . • quer entre est u1tetura (d
uma vez que as 1 • erior formação do edifício como urn t d rutura e form e qual-
. . .. . oderia provocar graves danos à construçao. Invoca Ri e con ºf' . o o, em s a,entre est
sep 10v1ave1, pois P . egl reservar um ed1 1cio significa rev 1 uas várias est 'li _rutura
de a publicação do Culto em 1903, deveria ser claro • P . e ar e valo . rat1 caçoes
afirmand o que deS que é ão intunamente conexos, respe·it d rtzar o todo e ·
ealiza 0 reconhecimento do monumento e que sua verdad . que S an o os 1 suas p
o homenl que r . e1ra _ documentos que interessam às hu . e ementos que artes,
realidade é a capacidade rememorati~a diant~ do obJe'.o.malerial. Considera os sao ' . mantdades às .' o compõem
te indispensavel da VJda quot1d1ana e dos senti'm concerne a arquitetura, o exame do e ciencias n tu . ·
monumentos Como Par . _ , . entos que . s materiais e a ratS. No
or localizar, ornamentar e distrib . mpregados dar
através da descrição científica, que, porem, nao e capaz p~r s1 só de definir o corn P • u1r os amb· • •orma de
·unto possibilita a fruição da obra 0 lentes, sua relaçã
significado da necessidade fundamental de recordar. Valon zar apenas parte do conJ ' . . . • entendiment0 , o com 0
. s de suas varias fases ate se chegar à fi das tecnicas co
edifício e negar significado às outras compromete VJ~lentamente a realidade da uva , con guração at nstru-
sos que se sucederam nos espaços Se - uai, entendendo
obra: além da perda intensa e facilmente demonstravel de substância material os u . . . _ · nao se preserva . . . -se
ov;ste a privação de e>..'Tleriências com os monumentos, pois há carência cres-• todo intenor e extenor, que nao são coisas d oedific1o comoum
~ ..... ' . . esconexas d
cente de bens autênticos em função dos desventramentos fachadistas. Destroem-se dados h1stóncos relevantes e d . • per e-se tudo isso
. eixa-se a obra esv . .
As estripações que não levam em conta as motivações e objetivos da preser- apacidade de funcionar como efetivo suport . aziada de sua
C . e matenal do c0 nh .
vação e a individualidade da obra resultam na perda de um valor fundamental rnemória. Destruir e alterar sem razão denota.imed'iatismo . ecunentoeda
e ·- .
que é a multiplicidade; perda de multipli~ida.de que nega um preceito que' que considera apenas .
aquilo que serve a alguns VtSao arustórica
setores no dia de h . _
deve estar presente na vida em geral: a toleranc1a. Preservar apenas aquilo que leva em conta a sociedade como um todo e 0 pro' . . OJe e nao
pno porvu. Os bens cul .
parece importante a alguns num dado momento é a perversão desse preceito; devem ser preservados e respeitados, para que possam t .. turais
, . •. . . . ransnu11r seus valores
a tolerância é essencial, pois através da preservação os homens "poupam e histoncos e esteticos, memonais e simbólicos para 0 futu
. . ' ro, garantindo assim
cuidam também de objetos que naquele momento não são diretamente úteis que possam• ser . contm uamente atualizados e interpre tados, tornando-se fon-
e interessantes e garantem a possibilidade de escolha para um futuro 1·mpre- tes inesgotave1s de dados e sensações, além de ser instrumentos de reHexao _e
visível e, desse modo, também um pedaço de liberdade"49. adaptação à realidade, para esta e outras gerações.
O fachadismo é abordado explicitamente em carta aprovada pela 14• As- Relevante é recorrer ainda às análises de Bernhard Fure r r e oons · Ama-
sembleia Geral do ICOMOS no Zimbábue em 2003, que se refere a princípios cher, da Comissão Federal de Monumentos Históricos da Suíça, ao examinar
de preservação estrutural. A carta retoma princípios da Carta de Veneza e o problema das construções subterrâneas em sítios de interesse histórico e
os aplica para a preservação da estrutura dos edifícios; ent re seus critérios suas semelhanças com o fachactismo. Mostram tratar-se de questão delicada,
gerais, tem-se: por separar o monumento histórico de seu contexto, tendo efeitos nefastos
sobre sua autenticidade. Muitas dessas iniciativas são justificadas por serem
1.3. O valor da herança arquitetônica não está somente na sua aparência, mas também o único e melhor modo de assegurar a sobrevivência do bem, mas na maioria
na integridade de todos os seus componentes como um produto único de uma tecnologia dos casos isso não corresponde à realidade. Construções subterrâneas não-
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construtiva especifica de seu tempo. Em particular, a remoção de estruturas interiores -fundamentadas numa real necessidade, decorrentes de análises superfiàais,
mantendo apenas as fachadas não se coaduna com critérios de conservação'º· ocasionam danos enormes à autenticidade e integridade fisica, uma vez que,
entre as características essenciais do monumento, está a sua relação com a
Esses problemas interessam de modo particular às construções industriais, topografia; não se respeita um princípio basilar da restauração que é a "re-
em que os elementos estruturais desempenham papel da mais alta relevância trabalhabi.lidade", ou seja, esse modo de explorar o subsolo impõe formas
de relação que, além de irreversíveis em si, resultam em limites drásticos,
ou, mesmo, chegam a impedir qualquer ação posterior e opções de outraS
49. Idem, p. 453. r - ( · ece apenas uma fina
1ormas de uso para as futuras geraçoes pois perman
50. Carta - Princípios para a Análise, Conservação e Restauração Es1ru1uraJ da Herança Ar- . , . de instalação de novos
quitetônica, aprovada na mesma Assembleia Geral no Zimbábue em 2003, tradu7.ida da versão camada de solo, que limita os projetos paisagisacos e . . .
. 'd d material do patrunomo
em inglês do sítio do ICOMOS (www.international.icomos.org/charlers). Acesso em 29.11.2005. equipamentos, por exemplo); afetam a tntegn a e ·

216 217
__,
ARQUIT ~TÔ Ni
S
'
,-~llR~ÇA
- o 1)0 PATRIM Ô NI O

pRBS S RVA ÇÂO pO 1•AT RIMÔN IO ARQUITSTÔNI C O DA INDUSTI


llALIZAÇÃo
~ p, Co º' IN ousTR1A L1 z•çi.o ..

hecimenlo - individual (mas isento d


- r causa
construído, uma vez que essas ações quase sempre acabam po recon . e Personalis )

"'1-'~"~, ' "ooh<dm<0tt>'• - pod, 'i''""' """lid,::m%.~"'·


nam e .d s, 56 o e nte coletivo, e seguindo a asserção de Brandi, 111 os e con-
d r
~e
'"'"· '"""'' ""''"" "" fo" '''"· p<0bl<m" '"' " '"10 inter ''""
. s,
<m""'"''"'"pó''"''"· C"' ""' "''m'"''""máC . vir
forma, depois de acurados estudos, e não fruto de maldisfar
"'1 dessa
"''' d 0
1óg1co
d .
0 verdadeiro respeito pelas várias ÍOrm d ç cntenos
- • · · d · e . çadas e
a nao as con uz1r ª .
d e sua configu raçao como um lodo_as e man1festaç·
. . ao ar-
e exp oraçao econom1ca, isso even a ser 1e1to de modo _ or1n euitet0• nica 0- A preservaçao,
• como entendida . ho,·e t que ex1sttram ao lon-
l um p as
dfundações. Os autores continuam suas análises fazendo locar n 0
OllJ q do temP · 1iar e m relaçao
- aos seculos
· ' em
passados de v ltessa característica
.
o fachadismo: · aralelo c
gbastan te pec u • o ar seus interesses
1 de um grande numero de bens que adquirira... _
p
, s decênios, a hipocrisia desse modo de proceder l~ ara a tu te a e ntes a todas as fases da produção humana 'te...'" conotaçao
( cul-
.
No entanto, desde 11" a1gun t
.
. _ por parte dos cidadãos. O cara ter de decoro de operct
acha. ural. Pertenc .
d ara recon hecer o interesse · " 1·se em teoria)
histórico dos vários
dismol encontra oposiçao a que fll ·da e P . momentos por
monumento histórico desventrado salta aos olho d q aturt ssou u ma m esma obra, independente da maior ou meno r afi ni.dade
apresenta a fachada de um .
. dar no momento em que passa a soleira da porta de e
s o ob.
~
ue pa . _0 pessoal por eles. um contrassenso desprezar essa con u·
servador atento; o mais 1ar
Do mesmo modo, a Po
. . ntrada.
uca credibilidade das praças ou dos Jardins sobre essas .
arcas
ree1aça . .
ou ap ar a valo res o1tocent1stas, ou
.
de antenor~s, d1r~g1.r
.. . q 1s a
a atenção, no trato
1
·dente para qualquer pessoa que, ao utilizar as escadas de e volttutela, d .
a penas aos testemunhos de penodos arttsttcos mais apreciados
escavadas torna-se evi acesso
, é grande espaço vazio embaixo delas. !... ] ep na dada cultura e esrespe1tar vasta gama de documentos relevan-
a garagem, v o
re
A 1
- d c·d·da·os com seus espaços vitais, o seu enraizamento tein
açao os 1 " • neces- ~~m
or5 uma . e nfatizar que essa aproximação não possui nada de acrítico•
sidade de se apoiar sobre 0 solo sólido da realidade histórica, sobre 0 solo urbano 1 O'·que re percute m esmo,
tes , como dito,
- na elaboração
. . de d
inventários. Todos
sobre 0 solo dos parques e dos jardins. As escavações tiram desses espaços a su a ca.' a g fiss1o . na1·s ligados a preservaçao, que part1c1pam e estudos e inter-

~evem
racierística tridimensional, reduzindo-os a um estrato sutil, a um decoro teatral. Aos os pro b ns culturais - das humanidades e das ciências naturais e da
usuários das cidades e vilas, dos parques e jardins, é oferecida uma falsa realidade. As venções e: _ possuir urna visão "histórica''. Claro está que qualquer
construções subterrâneas liram ioda a credibilidade do binômio entre terreno sól'•do arquitetur redileções individuais, dado que, como expôs Scarroccltia,
deles tem P - ·1 •· fu - d
e construções contíguas. urn , 1
"'diota útiJ"s4, mas deve supera- a na pratica ern nçao e urna
De iodas essas reflexões resulta que as construções enterradas embaixo dos mo- não e um . apropn·ada para não recair no arbítrio. Ou seja, os profissionais
deontologia
numentos, os espaços livres, os jardins históricos devam ser, por princípio• recusadas.
Não a aparência externa mas, ao contrário, a concordância efetiva entre 0 monumen.
10 histórico e seus fundamentos intelectuais e materiais serão determinantes, a 1ongo 5'· C. Brandi, Teoria ..., 2004, p. 3i.
prazo, para a existência concreta do monumento e para a sua credibilidade e• portanto 53 . Já Camillo Boito, no final do, s.éc~o x1x, reconhecia a capacidade e 0 fato intdiio de sua
época em reconhecer o valor de vanas epocas da produção cuhural. Exemplo é dado no lexlo Os
para a sua capacidade de sobrevivência". '
Restauradores (op. cil., 2002, PP· 31-34) publicado originalmente em 1884. Dvohlk lambémabor-
dou a questão em 1916, salientando os perigos de uma visão da preservação calcada unicamente
na preferência artística de um momento que considera apenas alguns tipos de expressões como
51. B. Furrer e D. Amacher, op. cit., 2002, pp. 56-60. Cita-se da p. 60. Ainda sobre esse lema, são válidas; essa unilateralidade de críticos e de artistas foi duplamente negativa para os bens legados
de grande interesse as palavras de Miarelli Mariani ("La Città Slorica .. .'', op. cit., 1986, p. 264): pelo passado pois não apenas se tinha predileção por um dado momento histórico, mas também
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"O saho quanlilativo que diferencia claramente os nossos compor1amen1os em relação àqueles
se reprovavam (e deslruiam) os leslemunhos de outras épocas, por considerá-los equil·001dos
do passado é relativamente recente. Deriva principalmente dos estudos conduzidos em especial
o que resuhou em danos irreparáveis (M. Dvofák, op. cit., 2008, pp. 87-90). Gae1ano Miarelli
nos últimos trinta anos, dos quais aprendemos a identificar muitas relações - antes desconhe-
Mariani expôs de forma clara questão (Cenrri Siorici..., 1993, p. 42): "[... la cultura contemporânea
cidas - enlre o ambiente e a obra do homem; estruturas e sistemas de estruturas próprios, não
t. caracterizada exalamenle pela recusa de qualquer barreira e está cons1an1emen1e empenhada
apenas ao edificio, mas a lodo o espaço anirópico. Conhecimentos que nos permitiram definir
numa elaboração critica voltada a constituir juízos históricos sobre 1udo aquilo legado pelo
as estruturas 1erri1oriais, urbanas e das edificações como um conjunto orgânico e incindlvel, em
que não é lícito separar conceitualmente as emergências dos episódios mais humildes e - em passado, independentemente da época que os produziu. Deve-se enfatizar de modo explicito
relação aos singulares edificios - é arbitrária qualquer cisão entre eternemos es1ru1urais e ele- que essa posição constitui, no campo da tutela, uma das contribuições mais originais da cultun
mentos figurados; entre aquilo que se percebe de modo visual e aquilo que não se vê, mas existe, moderna que consiste em não fazer coincidir - como fora a regra geral no passado - o in1eress<
e t. igualmente real e importante. Ou, melhor explicando, não é admissível nenhuma operação pela salvaguarda de um objeto com o interesse pelo próprio objeto. Isso equivale a dizer que o
que se proponha a conservar o aspecto externo dos organismos edificados sem se preocupar juízo sobre a necessidade de proteger um objeto um produto qualquer do passado não depende
com, ou mesmo favorecendo, perturbando, a sua realidade estrutural''. de modo algum da sua congenialidade com a nossa cultura~
54. S. Scarrocchia, op. cit., 1995, p. 61.

2 18
2 19
U Ri' Ç Ã O no PAT RIM Ô NIO A~Q U
~ , 11'" IT ! TóH1co
RtJ ll Jll .14,!'lilll:n flA IN1HH lRIAl17. A Ç A o DA IHou
l r"1 it 1M(\NU' A
IT&IA Lll4ÇÃ0
r•' "' "'"''A""'" rn lado, es~es edifícios são escolh"d ···
seu gosto, mas devem superá-lo, atravé d ·s por U t os por
p01 ' rnbérn de valori1..ar a imagem de . serem "benscultu~•-"
. _ lo> , >lll'nn11 r 0 · . . s e ~ rrnª ta urna institui - '""•COmo
m10 >•H' o1•ni:.u 1 . d 5cm tentar jamais impô-lo. Ou como q .
1 , 1 ,1propna ª uena o d ·niciativa; por outro lado, são os aspecto h· _çao ou de legitimar
um.1 ,konro ogi. b ntigas apenas aquilo que satisfaz ao gosto da ai d'fi - s tstónco . uma
- bu,car nas o ras a con. . bólicos da e t caçao que passam ao largo d ~antSticos, mernon.:.
Rit'!l1. tl.ll' tender a Kunstwollen que as originou. estrn - 1· asquestoe . ....,,
temf>orSnco. mas buscar , en r
"tetura industrial, o 1ato de ain
. d a nao
- ser apre . d
55 es eXernplares sao e e1tos por . terem intere•·.~se h"L~tó ri s proietuais· Ou seia, .
No que se refere" arqu1 . . . - eia a e - n rn os valores culturais que motivara co, mas as intcrven -
. n contingente s1gnaficattvo de pessoas nao justifi despre,,..... . - m sua tutela. Pr çoes
de forma devida por ui _ ca a ionais _com uma destmaçao predeterminada . evalecem QUestões
. a·o aos seus exemplares. Sao, em geral, esses bens . fuflC . da pohucas, ,.
fulta de rigor em re1aç . . • cuio mt"d"á . d
t ttcas e e exploraça· .que onenta . a .tntervenção-
. ,,. . da recente restnto e pouco consohdado, os mais a ou atn o vtsando luc '
Mreconhecamento e ain ' . . rnea- ltarn em graves problemas, pois os edif[c· ros. Esses fatores
.,. ·tar documento h1stónco e preservar as especificidad resu ,. · tos Passam a ser
çados. 1entar respe1 0 . es e s obietos de consumo, Vitimas de modisrn tratados como
.d d d
a qu ai1 a e aso1u 1'
ça·o 'ormal material, estrutural e espacial desses comple
• . . . . . Xos
~w '
.1co servem apenas como forma nominal e su rfi .
o.m~~~ . .
or hlSlónco e
industriais deveria ser a prioridade. Dai a 1mportanc1a de consistentes estudos estét • pe cialdevaJo · •
dado à maneira de um qualquer bem de cons nzação,sendo
multidisciplinares que informem a importância desses bens e fundamentem abor - , . umo pouco durável
A utilizaçao e essencial para a preservação, como vist
critérios de intervenção, que busquem maior objetividade nos princípios e ' . . O.masd~ser•n·•=-
das as caractensucas a serem respeitadas e conservadas, pari, . ~-
evitem arbitrariedades. As intervenções em bens culturais devem, de modo
imprescindível, seguir a metodologia da restauração, que não pode ser funda- riío e um programa compatíveis com elas t un
fun .,.-- _ . . . ·
' port ~
ante rertenr
dcfinu uma
mentada numa interpretação e gosto pessoal, mas, sim, num juízo fundam en- roj"eto de restauraçao 1mplaca modificações, em maior que qualquer
p ou menor escala. eessas
tado em vários campos disciplinares e, em especial, nas humanidades. transformações devem ser controladas e prefiguradas atm·és de um PfOJe!o.
Em suma, negligência, abandono, destruições, transformações imponde- ponto nodal, e correlato ao que foi exposto acima ~=~ . .
. • • \lU respeito a VISào
radas de monumentos e sítios históricos (documentos históricos, elementos reconceituosa, desprovida de fundamentos e infeliz.mente 1..-~- _
P . - v~te comum
de rememoração, instrumentos da memória) afetam sua integridade material entre arqu 1tetos, em relaçao ao restauro, que muitas vezes é visto a
.. d ,, penas como
e sua autenticidade, resultam em "decoro de opereta': implicam intolerância intervenção conge1a ora , conservadora, retrógrada e, ademais, actta.la. Ou e
que leva ao aniquilamento da multiplicidade, que resulta num instrumental, encarado, de modo simplório, como mera ação técnica em que não se postula
deficiente para compreender a realidade atual e a ela se adaptar _ e po r con- 0 uso da razão ou da criatividade. A respeito de intervenções co~
seguinte, impõe limitações à própria liberdade-, gerando perturbações tanto que não apregoam nenhuma mudança radical da configuração de um edi-
para o indivíduo quanto para a coletividadess. fício, é frequente ouvir que, se fosse o caso de não se alterar nada, cena sido
dispensável a participação de um arquiteto.
Criatividade, inovação e projeto de resta11ro s6 t um engano pensar que se possa definir a priori que se deva, de modo
forçoso, alterar a configuração espacial de um edifício, pois o obieovo da in-
t possível verificar, em intervenções ou propostas de atuação em bens de inte- tervenção não é alterar como fundamento e preservar apenas por descuido.
resse histórico e artístico, a falta de fundamentos culturais. Enorme contradição, Esses fatos demonstram desconhecimento do verdadeiro conceito de restau-
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ro que é hoje entendido fundamentalmente como ato crítico. alia:rçado em


55. Cf. F. Choay, "Riegl. Freud...•• 1995, p. 461: ''A memória de pedra, e tijolo, transmitida pelos análises formais e históricas, com o intuito de conservar. re\'elar e cransmitir
monumen1os representaria assim a prova de uma compe1ência edilicia. Poderia 1er, pois, para a ao futuro da melhor forma possível o bem cultural. A alteração. ou não. de
economia dos afetos e o equilíbrio das entidades sociais o mesmo papel que a memória neuronal
possui para a conservação da pessoa humana~
qualquer elemento de uma construção só poderia ser baseada numa consoen-
56. O debate sobre projeto de res1auração de obras arquitetónicas e sua perlinéncia inequívoca ciosa análise multidisciplinar. Isso não significa que o monumento não deva
também ao campo do projeto arqui1etónico 1em sido pouco explorado por arquitetos. Neste ser de forma alguma mudado ou tocado, mas as dec:isíkS de\'em decorrer de
1cx10, pretende-se apenas chamar a atenção para cer1os aspectos. Como algumas referências
bibliográficas, com abordagens distintas, podem-se citar os textos: G. Miarelli Mariani, "As~ni
deli a Conservazione fra Restauro e Progettazione", Restauro, 1977, n. 33-34, pp. 61-71; Sahoa10re
tettonico tra Analisi, lnvenzione e Conservazionc~ Pii/L1dri>. 1m t'lll ;l. n. 1.i. PP. !!19-JIO:
Boscarino et alii. li Progetto di Restauro: lnterpretazione Critica dei Testo Arcl1itetto11ico, Tren10,
Francesco La Regina, Come un Ferro Roverrlt, C11/tuni' l'nl»1 dd RtS1aU111.-\n:J11mronico. NO!pOli.
Com11a10 Giuseppe Gerola, 1988; Salvatore Boscarino, "La Progenazione nel Restauro Archi-
Clean • 199 2,· N . D etry e P. Prunet, op. c1t.,
· 2000.

220
221
'f,\ U R AÇÃO DO PATR I M ÔN IO A ~Q
R ES U IT ET ó N1co
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lase r em tres d1mensoes, levanta ...
rers a mentas rn 1.
consistentes
" d:.juízos histórico
d críticos.
ºd " Esse tipo
. ded aná lise deves er entend·d '. ortantes dados quanto ao dimensioname u t1espectrais, que for
como .con 1c10n:1ntc J
e parti .
o para o proJelo
. tõ .
e restauro, cond ic1
" .ona 1 o ifllP e dos materiais e de problemas téc . nto do edifício e .. necern
que existem em qua quer projeto arqu11e nico, mas que têm uma n t ntes e)Cafll d , . nico-estrutu . ªUXjliarn n0
tendimento as van as fases por q ra1s. Essas anáJ·
di\•crsa quando se trata de restauro, dados os seus objetivos. Ureza ª 30 en _ ue passou b ises leva
e de sua configuraçao e problemas atua· E a o ra no decorrer d rn
Lúcio Cosia, no texto "Interessa ao Estudante'; afirma: Pº is. strat'fi - o tem.
eitadas e, no que concerne à arquitetu . d ' caçoes que dev
res p . ra 1n ustri 1 ern ser
oltada tambem aos remanescentes d ª • rnuita atea - d
d mais nada, conhecer como, em condições id .
ao estudante, antes e , . en. 5er v . , . o process çao eve
trabalho e ao maqumano. A aprox.imaç· h' .º .produtivo, à rnern , .
Interessa . , de meio, de material e de tec111ca ou de prograrn d o . d d ao istonco , . ona
· d"ferenciadas
1 de epoca, . a, ·se pormenoriza a a obra e do uso d . -critica - atravé d
11cas ou _ ~ am arquileto11ica111e11te resolvidos no passado" afl ál ' . os mstrume s a
os problemas da construçao or . .• cias humanas - vai oferecer os parâmet ntos oferecidos ""l
c1en ros para a · r· as
escolhas e decisões projetuais. tntervenção e vai guiar
Um dos objet . ivos
. da res tauração é' com . efeito, preservar
. , . arqu·,_
a sol ução 35
. bl s como resolvidos em outras epocas. Isso implica A restauração deve. calcar-se em muitos campos disci 1· . .
tetô111cn para os pro ema ' - . da um com a devida autonomia _ algo d' P mares d1stmtos
. d'fc 'os e local em que estao implantados e, também (ca . 1verso de isola
saber analisar e 1er os e 1 1 1 0 . • ·to) tais como engenharia, química física bº 1 . menta como
. .
saber msenr novos e1em cntos' alterando, sem no entanto fe. rir,. a concepção d1 ,
ra urbanismo e depende sobremaneira das hu
' , 10 og1a, geai ·
.d
.
ogia, arqwtetu-
. .
ongrnal. _ se tra ta ape nas de respeitar os aspectos
Nao . _ materiais, mas também ' ma111 ades em e .
saber entender as questões formais, a compos1çao do espaço, ,sua solução de história, podendo, por sua vez, através desses t d ' . spec1al da
. es u os consciencio d
distribuição e articulação, para, através da proposta, preserva-los e valorizá- ens
b , fornecer importantes dados para esclareci· h' sos os
- . , . mentas ISlorio ráfico .
restauraçao envolve, pois, vanos campos disciplinares, que devemg trabalh s. A
- os, respe1.1ando escrupulosamente os aspectos_ documentais. • . ,
de forma integrada. ar
' AJ 0 que se verifica na prática das intervençoes, com frequen c1a, e o fato de
não seg procurar entender e respeitar aq uil o que d'1st111gue
. e caracteriza 0 edi- Mas a intervenção se resolve também através do d h d .
- , . esen o, o projeto de
fício ou 0 conjunto arquitetônico: no caso de vastos espaços abertos, inserem- restauraçao, .que e um projeto _ de arquitetura' nada simples, estando sempre
-se de modo indevido usos que resultam na implementação de elementos que P
resente a dilacerante
. relaçao
. , entre conservação e inovar~o
· .,.. · proieto
· que se
fragmentam, atravancam ou obstruem a conformação, perdendo-se a noção de deve ligar de modo 111d1ssoluvel ao processo de aquisição de dados e análise,
amplitude; quando, ao contrário, são espaços fragmentados, por sua destinação que articule as distintas contribuições dos vários campos disciplinares envol-
originária, a exemplo de edifícios ou alas de edifícios com funções administrati- vidos. Ou seja, pesquisas históricas e os estudos ligados às humanidades _as-
vas, procede-se à estripação para se obter uma configuração espacial l;ivre. lm- sim como as análises da conformação, materiais, patologias etc. -, não são
pressiona o fato de várias iniciativas se voltarem para o extremo oposto daquilo elementos secu ndários, acessórios; são absolutamente fundamentais para a
que sugere a configuração espacial do edificio ou conjunto que se quer preservar. percepção de valores e significados dos monumentos, e devem servir como
O projeto de restauro, que é um tipo particular de projeto arquitetônico, condicionantes para a proposta projetual. O campo arquitetônico não pode
deve ser fruto de compreensão aprofundada da obra, ou conjunto de obras, ser hegemônico, mas pode ter um importante papel na coordenação.
e do ambiente em que estão. Deve ser consequência de esforços multidisci- Ademais, para o arquiteto ou equipe responsável pelo projeto, não se trata
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plinares, envolvendo acurada pesquisa histórico-documental, iconográfica e simplesmente de pegar dados e produzir um desenho; é necessário o acom-
bibjiográfica, sensíveis estudos vinculados às humanidades e de viabilidade panhamento de perto (melhor, inclusive, a participação direta) por parte dos
econômica, pormenorizado levantamento métrico-arquitetónico e fotográfico variados responsáveis - nas diversas fases de produção do conhecimento (e
do(s) edifício(s), estudos urbanísticos, arqueológicos, exame de materiais e do projeto) - , e que haja um contato direto e frequente com a(s) obra(s) para
técnicas construtivas, de sua estrutura, de suas patologias, e análise tipológica uma efetiva compreensão. Vivenciar um monumento leva a um grau de enten-
e formal. Atualmente, podem-se articular esses estudos à utilização de scan- dimento, e de respeito, que dificilmente se obtém "à distância". Esse processo
. amadureàmento ne-
1eva tempo, e tem que levar o tempo cond1zente com o
, . .. d I - " vnressas" - nem na fase de
57. Em Lúcio Costa, Liício Costa, Registro de 11ma Vivê11cin, São Paulo, Empresa das Arles, 1995, cessano das pesquisas, não adn11tm o so uçoes e;...
p. 117. . d cante a execução das obras -,
estudos, nem na fase de projeto, muito menos u

222 223
PllTRIMÔNIO ARQUIT!TôNtco
~as " u~AÇ"º
- DO D
1
"INousTRIALIZ•çAo ...
. 'I'º Mn1"'' N"' ARQ UITnTÔNICO OA INDUSTRIAI 1
rRB Sl R\'AÇA' . l.AÇ.lo
criação do novo, no projeto de restauração d
~ ditadas j\SSI·n1 corrio• esnaco mo estimulo
' aso1uçoes- criativas.
. ' evem-se uw·lar

m~
, , r Jrnzos políticos, que de modo algum se coad 1
.,s ,ezc. • • 110 1 . una l·rriitaǺ . de é importante fator na restauração e t 'd
, ,,.;d,d<> ' ' '"""""º' podom 1'"'' • '"º' "'om<d;;.,;,.. as •1 cria , tivtda
,
b
' to tempo. Ro erto Pane, por exemplo ap t
, em s1 o detectada
00A restaur ção requer, ademais, grande
r . maestria
t . que se refere à quahdad
no · . 0 ai ha mui
r> - - . ' on ou que apenas
do projeto, 3do próprio desen h o. r. 1mpo_r ante reiterar que, ao contrá .0 e ,,, t a crítica nao sao suficientes aos restaurad
'º"'e . i]idade e . " . ores e que, para
od•<'° do nõ'•· o proj<to do "'"""'"º P'"º do P"m;,,., d;,. " d, ns1b .
a s 1. uilo q
ue Brandi chama de unidade potencial" da ob d
, ,. ra e arte•o,
'"''""'" oum• judk;o>' ,,;fü< h;>tó';" o no <<>poUo polo bo "'" fon. ·íflg r aq mento em que sera necessano fazer a articulação e t . ,
aih , um mo
..;,;,, .,1raüfi<'<Õ'" p,;, "" objoth•o ·1 re>pót"
• o ,.i.,;,,, ,
ob" que
m •m
se 'q"" egara , . o
e jst6r cr1t1cafirmara.
ico- e a configuraçao
.
_
final, que só pode ser obtida
n re o 1u1zo
atrave's doato
. . 1 '
transmitir ao futuro a me111or maneira poss1ve , e, portanto a d .s ecis- uer h
d ·atiVO· Pane
crt
proj<t•' ;nd"'h" o"'° do"'""°'"'""º" ''""' º""
>ubo.d" °''do
'"'
, obj«;,._ A,,;,n,rid•do é"""'''
, li P". muUo> oomo oonfütuosa '"'"e op • sivel qu e baste ao restaurador ter apenas sensibilidade e culturc de en't'ICO.
a restauração, vista como ato que e a 1e10 aos processos criativos. 1 Osta
f\llaS é pos
mos que ap enas a superfície de uma argamassa
.. e a aparente neutralidade de1
CSCrupulosar~
10
e reOete
uma inversão de valores, que considera a criatividade como al'ic ercesso SP
e ensar e ligaçao _ po dem empenhar o gosto cnauvo eque o mais - r--
vação como ocasional resultado. No entanto, a criatividade é parte mt •
. a preser- uJll tom d s expene .• ncias pode levar, apesar de tudo, a um resultado negativo, deve-
do projeto de restauração, mas deve ser entendida dentro dos • rtnseca d
1 ir que nao
as melhore _ bastam. Por mais que se possa procederapenassobreocaminh
"cond".
1c1onantes" espec1'fi cos 11ga
· d os aos monumentos hi'stó n. cos.
paramet ros e 10
n s cone elos
u elementos mais controlados e seguros, chegará
. • sempre. o momento, em0
Pois,,, afi nal, em
. qualquer
. projeto de criação do novo ex.1stem
· " .
1
r:içado
tU P , .
' cessano anç ar urna ponte, operar uma coniunçao, e ISSO apenas
, . podttá sn.
nantes de partido. tais como: programa; limitações do n . cond1cio-
. . . . le10 em q
ieto vai ser q e sera ne a um ato ena
. t'ivo em que aquele que opera
. -encon1rara ajuda. apenas em SI
. implantado. . (dimensão, condições físicas d o terreno ue . o pro-
feito graças , co mo. .acontecia
e não podera, . antes,
•1 ter a 1lusao de que esteja ao seu lado. a
etc.); o S1Stema e tecnicas construtivas escolhidos· 0 0 ' o rientação
1 . 1 - s9 s- r ' rçamento disp , mesmo.
'á lo o fantasma do primitivo criador .
eg1s açao . ao 1atores que condicionam 0 ato criad or, mas nao _ oonivel; a
anulam. gu1 - '

BoneUi também tratou do tema, afirmando que, quando a figuração do


verbete "Resiauração" chamava alenção para esse falo, evidencian. monumento está fragmentada, seja por destruições ou por acréscimos de-
58· J:í Viollet-le- Ducem seu .
.d d d alizar estudos bem-feitos e de antever o máximo de problemas passíveis
doanecess1 a e ere - d . - formadores, é necessário que se faça uso da criatividade para reencontrar a
,..;;0 Essa preocupante questao do tempo e real1zaçao do proi'eto e
de surgtr em uma res1aura,- · . . . .. unidade da obra como obra de arte (ou como obra que possui uma figuração),
- d bra ressurge em numerosos autores, a.exemplo
cxecuçao a o . •
de Pap1m (op. cir., p. 40): Começa
a tercctra fase do restauro, a da execução. Faz-se a hcilaçao das obras, escolhem-se os maleriais, sendo necessária a integração do ato crítico com a criação artística, que dC\-c,
preparam-se os meios, tomam-se as ~recauções ~ara que tudo p'.oceda com ordem e com perícia, 62
contratam-se os trabalhadores selecionados. Existe antes de mais nada um colaborador que não po1·s' ser condicionada pelo juízo crítico •
pode ser deixado delado: o 1empo. Asua ini'.1'i.ga morta~, que é a pressa, deve ser banida de Iodas
as fases do restauro e especialmente desta ultima. Na epoca que se acaba de concluir, a mania
de inaugurar tudo, restaurações compreendidas, com data fixa estabelecida por autoridades tenção plástica, às vezes subordinada aos estilos arquitelônicos; b. O clima; e. As condições
incompetentes por superficialidade, ignorância e presunção, muitos restauros foram executados, flsicas e topográficas do sitio onde se intervém; d O programa das necessidades, segundo os
infelizmente, com tempo insuficienle e, portanto, com danos mui las vezes irremediáveis". usos, costumes populares ou conveniências do empreendedor; e. As condições financeiras do
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59. Sobre a proposta de Lúcio Costa de análise da arquitelura através dos condicionan1es de empreendedor dentro do quadro econômico da sociedade; f. Alegislação rtglllamcntadora rJau
partido, ver, de Costa, "Arquitetura dos Jesuítas no Brasil", em Arquitetura Religiosa, São Paulo, as normas sociais e/ou as regras da funcionalidade~
FAU·USP, 1978, p. 17 (lexto publicado na Revista do SPHAN em 1941, n. 5, pp. 9-100): "Quando se 60. C. Brandi, Teoria .. ., 2004, pp. 41-62.
esruda qualquer obra de arquiletura, importa ler primeiro em visla, além das imposições do meio 61. R. Pane, Arcl1itettura e Arti Figurativi, Venezia, Neri Poua, t948, p. 12.
fisico e social, consideradas no seu senlido mais amplo, o 'programa', is10 é, quais as finalidades 62. Aquestão da criatividade no restauro tem sido trarada por vários aulorn há bastante lempo.
dela e as necessidades de natureza funcional a satisfazer; em seguida, a 'técnica', quer dizer. os podendo ser retraçada de forma embrionária, por e.•emplo, no 1ex10 de Charks Buls (IA lltstall-
materiais e o sistema de construção ado1ados; depois, o 'partido', ou seja, de que maneira, com a ratior1 .. ., t90J), em que o autor chama a atenção para o problema projetual de in1orvir<111 obras
utilização dessa 1écnica foram traduzidas, em lermos de arquilelura, as determinações daquele de que não restam documentos e apenas poucos fragmentos. A questão ( rttoimda de IOrma
programa; finalmenle a 'comodulação' e a 'modenatura', enlendendo-se por islo as qualidades mais consistente a partir dos anos 1940, a exemplo do citado texto de Pane ou do ,..rbett mtauro
plásticas do monumento". Ou, como apresentado por Carlos Lemos, Arquitetura Brasileira, São arquiletônico, de 1963, escrilo por Renato Bonelli (em R. Bonelli. Scrilll.... t995· PP. 21-H). Pm
Paulo, Melhorarnenlos, 1979, p. 9, os principais condicionantes de partido são: "a. A 1écnica uma análise comparativa das formas de encarar a criação no restauro eda pol<nucaat''Olvi<h na
construtiva, segundo os recursos locais, tanlo humanos, como maleriais, que inclui aquela ln· queslão, em especial a oposição enlre Pane e Bonelli, ver G. Carbonara, La Reint•~1ont..., i976.

224 225
AÇÃO DO PATR IMÔNIO ARQVtT
RnsTAV" lTôNtco DA
ZAÇAO IN ousT
l'RFSlR\'AÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNI CO DA IND USTRIAL! • RIAllZAÇÃo.,,
·a alterações, inovações, criatividad
ou seJ ' . e como co •
de arquitetura. pelo fato de o restauro ser projeto arqui't . crítica - do reconhecimento da ob .. nsequencias da . .
1 o caso de Obras
N ' ' . . , . e. . ónco- . . ra na su . ana11se
tônico as soluções vão variar de indivíduo para ind1v1duo. Ou seja, a propost 1i1st , l'ce1 polaridade estética e histórica" ªconsistência físi
aduP -.e não com . cae na
. ' · d da por um arquiteto ou por uma equipe de arquitetos Mas • ª
.
sll hecimento aprofundado deveria d 0 premissas
proJetua1e a • ,. . . . · nao O con . con uzir à e .
se deve confundir este último ato, que sera md1~1dual ou de equipe, corn uni UJ·nte ao respeito pela(s) obra(s) reqUJ· .
0 mpreensão e po
0 nseg • • sito essencial • r
ato arbit rário, pois, em se tra'.ando de restauraç.~o, de. u.ma pro~~sta cultural c culturais, que leva a posturas verdadei· quando se trata
d bens · ramente e
de fato, a ação criativa devera ser guiada pelos cond1c1onantes da restaura. e 't to que se ocupa de um projeto de restaura . , . onservativas. Se urn
ção, para que seja uma resposta individ.ua.l pertinente ao ca_mpo, e não unia qut e çao e incap d
at respeitar o bem cultural, tanto em sua e. az e ler, compre.
proposta arbitrária que exorbita dos obJel1vos da preservaçao. der e . . ,. con 11guração
en . s documentais e sunbohcos, jamais dev . ' quanto em seus
No caso
' dos grandes complexos industriais, por exemplo, seria irnpossf- aspecto . . . . . ena assumir tal fu - .
o explicitado, intervir num bem de interesse cultu 1 nçao. Pois,
vel inserir novos elementos necessários para a utilização do conjunto, desde corn rial e interesse artístico e histórico, é ato de lr ra ' que possui papel
instalações sanitárias e elétricas até, por vezes, novas construções• se 111 1eazer rnerno ex ema responsabiJid
. e trata, sempre, de documentos únicos e não- d , ade,
uso da criatividade e da capacidade de projetar. Uma capacidade de projetar pois s repro uz1veis
carniUo Boito já alertava, há mais de um século qu • ·
que erige harmonização do projeto como um todo, desde a proposta geral • e para bem restaurar
que tudo articula, até todos os problemas específicos, envolvendo aspectos , essário amar e entend er o monumento" e que a " 'dad
e nec . . vai e e a ambi ão
como o tratamento dos vários materiais, das patologias, das supe rfícies • da do restaurador . tornam-se ainda .,6s
mais funestas para m
0 onumento do que
ç
composição de pisos, da iluminação até chegar aos parafusos das maçaneta d rn ser a avidez e a avareza . Deve-se também ouVU'· p .
po e . . . . ane, que cntica a
e à signalética. São questões que exigem sensibilidade. É preciso, portant~ pos
tu ra de muitos arquitetos face a sociedade contempora"n
. .
'd .
.ea, ev1 enoando
projetar considerando ao mesmo tempo os "condicionantes de partido" hi '. ·mportânc1a de formas de colaboraçao e a subordinação dos .
a1 projetos a um
ló.ricos, formais e materiais63, pois a restauração deve preservar e facilitar: objetivo comum - no que tange aos monumentos históricos, transmiti-los
leitura dos aspectos estéticos e históricos do monumento• sem preJ'ud·tear 0 da melhor maneira possível ao futuro, considerando a sociedade de maneira
seu valor como documento e sem eliminar de forma indistinta' as marcas da ampla (e não apenas setores) e o tempo na longa duração. Afuma que falta
passagem do tempo na obra6'. apenas fazer com que os arquitetos entendam isso, pois "com muita frequência
asserem o culto da personalidade e a irresponsabilidade social"'".
PP· 55.90 , Esse é um ponto central na restauração, .que foi tratado também em textos recenles, A atitude, perante o monumento, dos arquitetos responsáveis pelo projeto
como, por exemplo, o de N. Detry e P. Prunet, op. c1t., 2000, pp. 159-223. de restauração é essencial. Mais do que louváveis e necessárias modéstia e
63. Ou, como colocou Michele Cordaro, "Metodologia dei Restauro e Progetto Architettoni-
co", Bollettirio dJ\rte, 1986, supplemenio ai n. 35-36, pp. 67-68: "(... ) o projeto de restauração
humildade, um tanto improváveis de obter por parte de arquitetos, conforme
arquitetônica nasce e se articula no momento em que, adquirido o conhecimenio específico das assevera Pierre Prunet, talvez se devesse ser realista e falar sobretudo, como
determinações históricas e estéticas, avaliadas as condições dos materiais conslitutivos, as altera- ensina o mesmo Prunet, em ter disciplina67 - ou seja, seguir uma sólida
ções e os danos sofridos, identificadas as condições ambientais que ameaçam a sobrevivência da
obra, acolhe em si os dados completivos reconhecidos como ocasião e fundamento vinculador
para exprimir a própria 'criatividade'.( ...] O projeto, pois, não é nem separado nem autônomo em
estudo deveria consistir de uma pesquisa histórica e em arquivos, um levantamento acurado do
relação ao conhecimento histórico e material, estético e conservativo, em relação ao qual deve
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próprio monumento e na divulgação e/ou disponibilização da documentação ltSUl1an1e,donwaUI


saber subordinar-se e dar as respostas adequadas. Não se quer mon ificar a cultura e o papel do
surgido antes e durante a intervenção. Chama a atenção para a imponància dese terwna Ílllmllç>O
arquiteto restaurador; simplesmente se quer chamar a atenção sobre a natureza inevitavelmente
interdisciplinar que o projeto no campo do restauro impõe". especializada na área e de que o estudo seja feito por equipes multidisciplinms. lnsislt pan que.
na intervenção, os sinais deixados pela história em uma edificação não sejam eliminados dt modo
64. A esse respeito, ver, por exemplo, o texto de Wotfgang Wolters, "Cosa Chiede lo Storico ad
indiscriminado. lnforma ainda que pesquisas feitas na Alemanha indicam que os custos dt dm-
un Restauro", Bollertino dJ\rte, 1988, n. 47, pp. 123- 124. Logo no início do artigo, o autor coloca
lhados estudos multidisciplinares antes e durante toda a intervenção acabam por rtduziro CUSIOda
a seguinte questão: "O que peço, como historiador da arte, a quem, como arquiteto ou técnico do
intervenção em si, aumentando de maneira sensível a qualidade. Sobre a imponàndada rtalizaçãodt
órgão de preservação, restaura um edificio? A resposta é fácil: que o edificio, ou seja, o documento,
estudos e levan1an1entos aprofundados, ver também: W. Wohers. ·1ndagine ConOSÓtÍ\'i Fuializzata
seja estudado com atenção e competência e transmitido de tal maneira que não comprometa o seu
all'lntervento di Restauro nel Campo dell'Architettura", Restauro 6' Cittd, 1987, n. 8·9' PP. 41>-.;.i._
valor como documento. A resposta é fácil, muito conhecida, mas os fatos demonstram todos os dias
que entre teoria e prática quotidiana se abre um abismo''. Analisando a situação, o autor afirma que 65. Citação que provêm respectivamente de C. Boito, Os Restauradores, 2002, P· 31, • C. Bouo,
é necessária a elaboração, por pessoas competentes, de um estudo acurado do edificio, insistindo Questioni..., 1893, p. 22.
no quesito competência, pois apenas um estudo não garan1e por si a seriedade da intervenção. Esse 66. R. Pane, Attualita e Dialettica..., 1987, p. 199. fi 'd
0
67· Palavras do Architecte en Chef des Monuments Hisloriques francês Pierre Prunel, pro ' as

226
227
~ .. ç ..
,r s r"u .o ºº PATRIMÔN IO All.Qu1TlT6H1co DA IHous1•1 AL1tArÃ
' o..
Q\llTCT<'INICO llA IN 11USTR IAll 1.AÇ
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. ·s perder de vista o princípio da mi .
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fissional • e pm:n . .
aplicação em arquitetura seia complexa.
n 1rna . 1longo
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do "mpo,
oferecendo, sempre,
"""" "'''''" ""' """ ""'·
renovadas Cttu.ras e interpretações'
··nctti . forma
"'ndo '" "' pod•m ofo"""""'"m'"'º"mpo"'"'~
. .
- r mais que sua ' d. . b &e . indtVl ções que serao a cada vez percebidas e apreendidas de
int.·rwnçao, po d ntar com a mo estia e que om senso é 1
- 0 se po e co .
. . é essencial que arquitetos que trabalh~- 0
ag
'" do . do"'"'° para
lJma vez que na
-
que nao se en
contra na pratica, -
d' . l' na e prudência, e que as açoes se fundament
rigor, tscip t . . .
~ .. na
e111
for!l
111° di""º' q
daptaça
·o harmo
u111ª a e na- o devem
0 0
. , à "'"d•d< •lu•I •
ser; desnaturadas. '"'"'•<"°"º"""'""'º;,
área atuem com ipes multid1sctplmares, baseadas em co h dern
rzados
1 por equ .. . n e- Pº
em estudos rea el h manidades e pelas c1enc1as naturais e na
~ 'dos p as u cons-
omentos o erec1 b'l'd de social envolvida. Deve-se ter em vista que não Collsiderações sobre o tratamento de su e f .
. • · d responsa 11 a . . . se P r lcies arqu11tttl .
ctencta ª . tades individuais e setonais, mas e o interesse d ""as"
d ras e sunp1es von a uestão de primordial importância a ser le d
trata e pu que deve ser levado em conta, tendo o cuidado d vrnaq . h' ' . . va aemconta .
co
letividade a longo prazo • . d
_ . d' tistas Daí a importancta e uma verdadeira vi _
e d'flcios de interesse tstonco e o tratament d em intervenções
se afastar de noçoes tme ta . sao erTl e t o as supecficics A
roblema depende da proposta de restaura - · abordagem
ta passado presente e futuro. &esse P . çao como um lodo
histórica que leve em con ' ises pormenonzadas do edifício ou coni
·u t d · resultante
' , 0.
~ relevante en1a zar
que 0 estudo do monumento, conhecê-lo de form a de anál . n o e edifícios ed0 .
ue estão insendos. Todas as decisões relativas. _ atnbiente
aprofundada, 1eva ao arnore ao respeito. e .a uma boa restauração, _ como co. erTl q . . as açoes a serttn ~-- .
. M . ainda mais imprescind1vel recordar que nao se trata ape- .J s inclumdo-se o tratamento de superficies deve . d ~-
locara Bo1to. as e . \llua • •. . • nam, e forma .
conservar, mas tambem, e sobretudo - como mostram ·var dessa análise, seguindo os princípios basilares articulada,
nas deco nh ecer Para den . que regem a restau _
. tos de Riegl e como professara,,Paul Clemen e como evidenc·'ª tratamento de superfícies deve ser encarado dentro d raçao.
os ensmarnen O esse proccs.so e deve
Scarrocchia - ' de "conservar para conhecer .
69 onhecido com o status de um verdadeiro problema d _ ser
rec . . .. _ a restauraçao, ou .
Respeitar e tutelar a herança do passado responde à nossa necessidade de oblema também h1stónco-cnt1co, e nao decisão basead . sqa.
pr . . . a unicamente ttn cri-
memória e de conhecimento para ter instrumentos os mais amplos possíveis térios técnicos e, mwto menos, como simples questão de gosto ou de moda.
para entender e, por conseguinte, para se adaptar à realidade; isso deve ser as- A restauração, como explicitado, não é mero processo t' .
ecntco, apesar da
segurado através da conservação mais extensa possível da documentação. relevância fundamental do emprego de técnicas adequadas · Há pe!o menos
Desse modo, projetos de restauração e projetos de inserção de novos ele- um século o restauro afi rmou-se como campo disciplinar autônomo, afastan-
mentos em contextos históricos, não são simplesmente exercícios projetuais do-se do empirismo, que caracterizara muitos dos procedimentos até então e
em edificios ou contextos históricos; trata-se, como nota Carbonara e men- vinculando-se às ciências e ao pensamento crítico. O tratamento das superfi-
cionado anteriormente, de projetar para edifícios e contextos históricos6•. cies dos monumentos deve, pois, fazer parte desse contexto.
Monumentos são sempre únicos, não-repetíveis e devem portar consigo No entanto, em muitas intervenções, o tratamento das superfícies não tem
para o fururo seus elementos caracterizadores e as marcas de sua translação na sido encarado dessa forma, predominando repintes aleatórios, substituições
história; todo cuidado é pouco, pois esses monumentos-documentos, instru- e refazimentos ex officio, sem nenhum tipo de reflexão sobre o estado em
mentos da memória, individual e coletiva, permitem infinitas possibilidades que estão as superfícies nem sobre seu papel como testemunho privilegiado
do transcurso de uma obra no tempo, ou seja, como documento histórico e
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durante o Colóquio ºLa Charte de Venise, 30 ans plus tard", organiz.ado pelo ICOMOS Wallonie,
como palco de transformações figurativas. Na maioria das vezes, nem mesmo
Lcs Amis de l'uNEsco, Lcs Facultés Universitaircs Notre-Dame de la Paix à Namur (Namur, 10 se cogita a utilização de técnicas para consolidar e tratar o já e.'<istente eo que
de junho de 1995).
transparece é apenas a preocupação com a imagem, a aparênàa71 •
68. S. Scarrocchia (ed.), op. cit., 1995, pp. 55-73, 575-578. Essa noção lambém possui larga
genealogia. Já Bartolomeo Cavaccppi, na segunda metade do século x v111 (apesar de nas suas
ações práticas nem sempre ser consciencioso e respeitoso em relação ao documenlo histórico), 70. Esses argumentos foram tratados anteriormente em artigo publicado nos AllóllS do .\lustM
afirmava: "Não por outra razão se restaura, a não ser aprender" (apud Licia Vlad BorreIli, Restauro
Paulista (1004, vol. 12, pp. 309-330) e aqui são retomados em "ersio moilifietda.
Archtologico: Storia e Mattriali, Roma, Viella, 2003, p. 83). Originalmente em V. B. Cavaceppi,
71. Sobre o tratamento das superflcies e a cor nos ediflcios históricos exi5t< uma ~undante
Raccolta di Antiche Statue, Busti, Bassirilievi ed Altrt Sculture Restaurate da Bartolomeo Cavauppi,
Scultort Romano, Roma, 1768- 1772. literatura a respeito. Para questões de análises de princípios e o consequente tnr.unento "'"
69. G. Carbonara, Avvicinamento.... 1997, p. 394. Paolo e Laura Mora, "Le Superfici Architenoniche, Materiale e Colore~ &>lltmno d:·\1", •98.i.
supplemento ai n. 6, pp. 1 -24; Paul Philippot. Laura Mora e Paolo Mora. ·u Rcstiurod<gli ln·
7

228
229
AURAÇÃO DO PATRIMÔNIO AR
Ras-r QU1T,T(>N
•co D~ IND
l.AÇÀO " . U5tR.lALl7.A
rROlRH\"Ã <' 1'<' rAHl\l\\SI<' ARQUITETÔNICO DA INDUSTRIA LI
das às cores antinaturais" da t . _ çi.o...
3 déca . . e1ev1sao • .
. __ to" forçado dos bens culturais faz parte, na verd d h . ·vas e brilhantes, diferentes das · Antinaturais"
s v1 cores q _ no se t"d
"n:JU''en..:sc1men
E.-:se _ . nlplo que se acentuou em tempos recentes: a bua e, rf131 fia e no cinema), em que a cor é 1 ue sao vistas ao n t o de
~ togra resu tant d natural (
de um tenômeno mais ª • sca o. (e é projetada num papel ou numa l I ) e a luique incid
de jU\·entude a qualquer preço, que também ac~ba p_or repercutir no trato dos
e na
objeto e a i na lei . - e sobre u
· . hº ·cos que passam a ter a obngaçao de parecer novos Ri 1 . rnente para o espectador, resultand . ev1sao, a co é . m
monumentos 1st6n • · . . · eg d1 reta . . . o, mais viva . • r proietada
ja chamava a atenção para esse problema. Ao analisar as. ván.as maneiras que ·ocia hoje em dia de eqmparar o trato d •mais antinat l"
lende as cores ura ·Há a
· d de se apropria de seus monumentos h1stóncos, coment osto gerado pelo costume televisiv no patrimônio hº ..
wna dada soc1e a a os a esse g . . o, que acabo IStonco
'\>alores de contemporaneidade", ou seja, aqueles valores derivados do fato d f rrna consistente o proieto de embalage u por alterar tamb·
de o ns, as cores d em
os bens culturais corresponderem a expectativas dos sentidos (valor de uso) 0 e Os sinais de transcurso do tempo são cad e automóveis et
do espirito (valor artístico), podendo satisfazê-las tão bem quanto as criaçõe~ ha .
• . ,
·d de1J. Com essa ten d enC1a a renovação ,
.
a vez menos a .
e a pasteuriza -
prec1ados na atu
c.
a-
modernas. Quando avalia 0 "valor artístico", uma das categorias que evidencia
é "valor como novidade" (a outra é o "valor artístico relativo"), em que se
~
·to se perde da riqueza e da v1braç.ão result
. cução tradicionais de argamassas e de pi tu
~~~ ·
çao de superfícies
pnos métodos de
.
0 exe n rase dos "ac"d 1 •
equipara um monumento histórico a urna criação recente, exigindo dele uma d urna obra. Deve-se lembrar que 0 objetivo d entes da vida
e d e uma restaura - - ,
integridade perfeita de formas e cores. O autor afirma que essa ação pode ser er uma imagem o passado facilmente consu , . çao nao e ofe-
apreciada de maneira mais fácil até por pessoas desprovidas de cultura, sendo reC m1ve1, simplüi d
osseira, para se tornar mais palatável ao gosto . ca a de forma
"valor como novidade" o mais prezado pelos menos cultivados. Ao abordar gr mass1 11cado ~ a0 .
0 espeitar e valorizar toda a riqueza das diversas . · _' contrario,
esse aspecto, pondera também sobre a repercussão desse fenômeno no trato r . . estral! 11caçoes da his ..
também com o objetivo de educar. Isso pode ser ai d tona,
dos monumentos, afirmando que, aos olhos das massas, apenas aquilo que é - . . cança o através de
aproidmaçao h1stoncamente fundamentada antld 0 t0 , uma
novo e intacto é belo, sendo o velho, feio. Foi necessário percorrer um Jon 0 , ' para a tendencia atual
de se voltar ou para cores fnvolas - que no Brasil mu·t 1as vezes se esta. tradu-
caminho desde as restaurações estilísticas que predominaran1 no século x gI X,
zindo em cores berrantes que chegam a impedir a pro' pr· . _
ia apreciaçao do bem,
em que a busca anti-histórica do estado original era uma constante • até um a si-
. . . -
tal a cacofoma que, . 1mpoem • . - ou em cores amorfas • que - .
nao se re1aaonam
tuação culturalmente mais diversificada e rica se consolidar, com uma crescente
com as caractensttcas tectomcas e de composição da obra.
.apreciação do "valor de antiguidade", cuja eficácia estética e interesse res·tde,
JUStamente, nos sinais da passagem do tempo e, inclusive, da degradação12. o interesse em preservar as marcas do transcorrer do tempo não é mero ·rw-
Talvez seja o caso também de indagar qual o papel da televisão nesse fenô- nismo" ou necrolatria, mas é, sim, uma apreciação estética, crítica, histórica, que
meno, pois a atual sociedade visiva, e também televisiva, vem se habituando não considera o tempo como reversível. Deve-se, porém, de modo semelhante
ao que se passa com a análise da edificação como um todo, reconhecer aquilo
que pode ser considerado como incidência positiva do tempo sobre a obra,
tonaci Colorati in Architenura: J..:Escmpio di Roma e la Questione di Metodo", Bolletti110 d'.Arte,
1986, supplcmento ai n. 35-36, pp. 139· 141; Daniella Fiorani (ed.), li Colore dell'Edilizia Storica,
como a pátina e o próprio envelhecimento natural, e aquilo que, ao contrãrio,
Roma, Gangemi, 2000. Para uma visão pragmática do problema, ver John e Nicola Ashurst, deve ser visto como incidência negativa, a exemplo de sujeiras e patologias.São
Practical Building Conservarion, HanlS, Gower, 1989, 2.ed., vol. 3: "Mortars, Plasters & Renders". coisas distintas, que devem ser encaradas e tratadas de modo diverso.
Sobre aspectos técnicos, cf. também Mário Mendonça de Oliveira, Tecnologia da Conservação
e da Restauração, Salvador, UFBA, 1995. Para a discussão de princípios gerais, ver por exemplo:
Ex.iste uma enorme variedade de situações possíveis no que tange ao estado
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C. Brandi, "lntonaci, Colori e Coloriturc nell'Edilizia Storica", em C. Brandi, li Restauro: Teoria das superfícies. Pode-se, no entanto, especificar como a questão é encarada
e Pratica (a cura di Michele Cordaro), Roma, Editori Riunili, i994, pp. 54-60; G. Carbonara, pelas vertentes teóricas da restauração: uma vez que se reconhece como vá-
Avviciname1110... , 1997, pp. 511-560; Michele Cordaro, "li Colore dell'Architellura: S1a10 della
Questione e Problema di Mctodo", em li Colore nell'Edilizia dei Borgo Pio di Terracina, Roma,
Ministero per i Beni Culturali e Ambicntali, 1986, pp. 17-25; de Paolo Marconi, com uma visão
bastante distinta do problema, Dai Piccolo ai Grande Restauro, Venezia, Marsilio, 1988; G. Miarelli 73· Pane, em Att11alità dell'.Ambierite Antico (Firenze, La Nuova ltalia, 1967, p. 310) j3 dwn>'"'
Mariani, "Un Aspcuo Nuovo, un Antico Splendore. La Facciala di S. Pietro in Vaticano", Studi ª atenção para o assunto: "Existe ainda um outro gênero de destruição, dtvido à pllr.l esunples
Romani, 1998 (vol. 36), n. 1-2, pp. 53-66; do mesmo autor ver ainda "Cinà e Colore: Le Esigenze ignorância ativa, que tem sua origem na absoluta incompreensão do inl<rtSS< por aqwlo que e
dei Linguaggio Archi1enonico", cm Coloriture e Trattame111i degli Edifici Storici a Roma, Roma, amigo e que, como tal, porta, em diferentes graus, os sinais da consumpção e do p<recim<nto.
A tgnorância e a insensibilidade que normalmente a acompanham desprtllffi aquel<S asp<CIOS
Editricc tN ASA, 1990, pp. 64-71 e "Colorilure Urbane: Omologazioni fra Uniformità e Disso-
nanu", Ananke, 1995, n. 10, pp. 10-23. acidentais e gratuitos que definem a estratificação histórica e dó preferenci~à
C\ideole eficienc:Íl
72. A. Riegl, Lt Cu/te... , 1984, pp. 89-109. e 'limpeza' dos materiais novos".

231
230
'
~tsT"U ~ DO PATRIMÔNIO ARQVlTtTôN1co DA lNDu•T
R AÇAO • •lALILAÇÃo••.
nnrauÇAO ºº r•TRIMº"º ARQUITETÔN I CO OA ISOUSTRIALIZAÇÃO

infinito de relações que nos transportam quase que realmente para a época
_ vârias fases por que passou a obra de oómeroe os viu
. nascer. Não é absolutamente apenas uma ilusão do espír·ito·• '11sle
.
de preservaçao as um
lidas e merecedoras . , a preconizado no Congresso de Enge- 1
ecuada quade nessa •aprox.imação. .Meus
, . olhos veem aquilo que foi visto Po r p•<nc es.
V"g>I~ "'"'""'""'°"'"•..,,mi~
0 (como Jª er
arte no decorrer do tem~ d na Carta de Restauração de Atenas de
· Italianos e 1883, ""'
r '"" " Cé"'· Ho<kio' """'• 1
nheiros e Arquitetos tras) esse raciocínio também deveria po portan10•
6 entre ou • platão, P os mesmos objetos, locamos as mesmas beleias. \...j
1931 e na de Veneza, de 19 4' d
A mirarnos,toda vetustez deve-se, pois, à certeza, mas também à aparencia da vetustti.
. do à sua superfície. . - .
ser aplKa acentuando a c1sao enl re teoria e práti-
. ltimos anos se tem o eocane é tao
_ precioso aos olhos do amador esse vernii do temPo, que se busca
No entanto, nos u ·fi lamento de superfícies: de um lado, exis- E5
bém se ven ca no 1ra . .' qpor qu ente des fazer. Dar de novo a esses restos mutilados uma inttgndade mcn-
ca, algo que tam . d t ação que preconizam o respeito pelas várias rre
l teóricas ares aur uentern ar e fazer desaparecer das obras antigas a marca da antiguidade e dar-lhes
tem as verten es b . do outro quando se trata de superfícies, as 0
·fi - sdeumadadao ra, ' ur. sa, apag de juventude• é delas tirar, em parte, seu valor e sua beleu, e essa espécie
estrau caçoe . eponderantes, como se fosse o único cami-
renovações totais tornaram-se pr . . - º'"
_ falso arTdade
1 que as protegia dos ataques do espírito decritica_ Pois a antiguidade
- automática. Na ltnha da h1permanutençao 0 d
nho plausível, quase uma soluçao e
ternioviolabi
de, algum
modo, avantagem de subtrair os monumentos à censura l...l"-
. é geral tratado como processo de manutenção;
tratamento de super fi c1cs •em ' _ .
. fi . ( assas e pinturas) sao consideradas camadas de
ou se1a, as super c1es argam . . . Pode-se a inda retomar um texto de Marguerite Yourcenar, frequentemente
- do bem pinturas devem ser feitas periodicamente
"sacrifício"; para a proteçao • , . . •
. . é · dequadas e compallve1s. Isso é diverso, porém, de evocado:
com matena1s e t cmcas a
,
re1azer argamassas e na- 0 consolidar as que existem e pintar _ , aleatoriamente
, .
· ·madequadas. Cabe ainda lembrar que essa nao e a umca vertente Esses duros objetos, talhados à feição de formas da vida orgânica, sofrmm, à SUJ
com tintas
teórica e que as outras linhas obtiveram sólidos e numerosos êxitos, baseados maneira, 0 equivalente da fadiga, do envelhecimento, do infortúnio. Eles se modifica-
em experimentações conscienciosas na prática. Deve-se ainda enfatizar que ram como 0 tempo nos modifica.\...}
todas as vertentes se fundamentam em formulações teóricas consistentes, Algumas dessas modificações são sublimes. À beleza comoa quis um cérebro humano,
empregando técnicas experimentadas, algo diverso de simplesmente repintar uma época, uma forma particular de sociedade, é acrescentada umabeleza involuntária, as-
e renovar tudo, sem nem mesmo refletir sobre o assunto. sociada aos acasos da história, devidas aos efeitos de causas naturais e do tempo \.-l".
t importante ainda recordar que se, por um lado, a superfície é a "pele" do
edificio (e não simples vestimenta) e, por isso, o "órgão de choque" por excelência No contexto das numerosas situações possíveis quanto ao estado das su-
em relação ao ambiente, que é sempre hostil (sol, chuva, mudanças de tempera- perfícies, é necessário, antes de tudo, diferenciar os aspectos positivos das
tura, poluição etc.) e portanto sujeita a várias formas de degradação que devem patologias. Estas últimas devem ser tratadas. Devem ser suprimidas as causas
ser enfrentadas, por outro, é também testemunho privilegiado do decorrer da de degradação, a exemplo da umidade ascendente e descendente e da sujeira,
história, adquirindo valores figurativos, muitas vezes positivos, que não podem que deve ser remov1da. No entanto, é preciso ter cuidado ao realizar a limpeza,
ser pura e simplesmente desprezados na busca da fonte da eterna juventude. pois ela d eve respeitar a incidência positiva do tempo sobre a obra, ou seja,
Os valores plásticos e simbólicos das marcas da passagem do tempo sobre os preservar a pátina - não sendo esse um mero problema técnico como enfatiza
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objetos têm sido apreciados por autores variados e distanciados no tempo, que Philippot, mas também crítico -, e jamais buscar estratos intocados. Como
evidenciam que as modificações impostas pelo tempo nem sempre são danosas; bem expõs Brandi, em trecho dedicado à pintura e escultura, mas plenamente
comportam-se, ao contrário, como valor que se agrega à obra, conferindo uma aplicável a obras arquitetônicas:
diferenciada beleza que se reconhece na superfície dos monumentos naquilo que
é denominado pátina. Um exemplo pode ser dado por Quatremere de Quincy: Mas nem sequer se poderia considerar a pátina como um conceito da era barroca-
]á Vasari, no Trattato della Scultura, transmite até mesmo as receitas das pátinas arti-
A ideia de antiguidade imprime nos monumentos, assim como nos homens, um
caráter de respeito e de veneração. Admiramos neles essa predileção da sorte que os
salvou da mão do tempo; eles nos parecem privilegiados; apenas o fato de se conserva- 74. Quatremhe de Quincy, Considérarioris Morales sur la Destinarion des Ou»n•ses d'Art. s.l.

rem os torna para nós objetos maravilhosos. A imaginação congrega facilmente neles Fayard, 1989, pp. 66-67. Texto publicado originalmente em 1815. 61 6
7 5· Marguerite Yourcenar. Le Temps: Ce Grand Sculpttur, Paris. Gallimard. 1983, PP· - '-

232
233
T ÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITtTONtco
R5S ,.URAÇ DA INousra, ... LIZAÇÃo...
r o>t R\'AÇ ÃO (10 PATRl\IÔNIO ARQU ITETÔNI CO DA tNDUSTRIALll.AÇÃo
á ias estratificações, mantendo e consolidando t l d 1
.fiânis que cm seu tempo se aplica\•am ao bronze. Também isso convida à reílexão. Se emsug d r as supe rfictes
as v . . sem que .isso .implique urn refaz·• ra an o acunas•
sensibilidade dos artistas do Renascimento se afastava, para o bronze, do brilho d0 Prote en o d e sua cor. imento total da
3
assa e . -
nO\'O. daquela prepotente jactância da matéria nova, seria possível que não se bu scasse argarn mais frequentes, pois, a restauraçao deve respeitar as r
igualmente atenuar a virulência descarada da cor, o fausto demasiado evidente das' 1erras s casos 1rans1orma-
0 N0 d 'ficio n o decorrer do tempo, através de intervenção que p 't
lacas, ultramarinos? A prevalência da matéria sobre a forma se dá toda em l>reJ'uizo da' _ do e 1 . . ., erm1 a e
•• e a lei. t u ra d e sua
,T es . complexa .história, conservando Vtsiveis as várias (ases
fom1a: a matéria, na obra de arte, deve ser trâmite para a imagem, não é jamais a próPrta
.
factl1táticas do edifício, sem_que isso comprometa sua apreciação como obra
imagem. 1...J O oficio da pátina nos revela então isso: atenuar a prese11ça da 1natena.. crom . ma configuraçao.
osSUI u .
na obra de arte; reconduzi-la ao seu oficio de trâmite, detê-la no limiar da im agen1 de
que P alguns exemplos, mais raros, em que o estrato . original sei· a de grande
modo a que não o ultrapasse com uma inadmissível prevaricação sobre a forma 7 •.
Em na ma10 .
. r parte existente e em que as estratificações posteriores possuam
valor
d e interesse, podem-se propor cuidadosos trabalhos de remoção das
A limpeza deve ainda ser feita de modo a respeitar os vários materiais que s pouco d d l' . d . - .
compõem a fachada e seus valores cromáticos, pois pode desequilibrar are- to a das mais . r ecentes, segui os e. un1
. .ta as mtegraçoes
. -e isso não significa
carna. r com as supostas cores ongma1s. Podem ainda ocorrer casos de edi-
lação entre eles, dado que os distintos materiais se alteram com intensidade
repinta b rarn diversas camadas de argamassas no decorrer do tempo,
diversa e alguns, de forma irreversível. Se o objetivo da restauração é facilitar . s que rece e d - . . h' , .
- desagre gadas• deteriora as e nao possuem maior tnteresse monco,
e valorizar a leitura de um monumento, é um dever fazer a análise conscien- qffc10
d muitas
ue estao . vezes comprometerem as camadas originais (a exemplo de
ciosa dos materiais e do equilíbrio cromático da composição da fachada, para
que, através de ato crítico fundamentado, ele seja respeitado e não se criem além .e entos recen tes de cimento sobre argamassas à.base de cal). Nesses
. _
dissonâncias indesejáveis • 77 recobnm
, possível prop o r a remoção dessas adições postenores, a consolidaçao
. . -
A cor, ou as várias composições de cores que recebeu um dado ed ifício no casos e e o tratamen to das lacunas. Mas, qualquer que Seja a s1tuaçao, a
do existente
Ó deve ser d a d a e m função de uma análise fundamentada.
decorrer de sua história, é problema a ser analisado caso a caso, procurando ( ., d
distinguir aquilo que é estratificação histórica vál ida e coerente daquilo que resposta s
Esses Procedimentos es1ao _ explicitados na Carta de Veneza gn1os a
é simples "crônica". Os estudos estratigráficos revelam-se, assim, da maior autora):
importância para entender as várias fases colorísticas por que passou o bem,
para estudar as transformações do "gosto histórico" e a forma como o ed ifício Artigo 11 - As contribuições válidas de todas as épocas para a edificação do monwnenio
foi percebido e tratado no decorrer do tempo. devem ser respeitadas, visto que a unidade de estilo não é a finalidade a alcançar no runo
Deve-se, de modo geral, preservar o que existe, sem procurar regularizar de urna restauração, a exibição de uma etapa subjacente só se justifica em dmmstancias
e "embelezar~ Numa feliz colocação de Paul Philippot, o que se deve buscar excepcionais e quando o que se elimina é de pouco interesse e o material que é revelado é
numa restauração é revelar o estado atual das matérias originais e jamais de grande valor histórico, arqueológico, ou estético, e seu estado de conservação é consi-
pretender restabelecer seu estado original numa tentativa de abolir o tempo derado satisfatório. O julgamento do valor dos elementos em causa e a decisão quanto
atravessado pela obra1 •. J:. necessário respeitar as argamassas e cores existentes, ao que pode ser eliminado não podem depender somente do autor do projeto.
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76. C. Brandi, Teoria. .., 2004, p. 155. Existem também situações em que, por uma série de razões, a serem pon-
77. No que se refere ao equiHbrio cromático, ver, por exemplo, U. Baldini, op. cit., 1997. deradas com extrema cautela, possa ser necessário renovar a cor79• Situações
78. As análises de Philippot referem-se à pâtina em relação às pinturas. P. Philippot, "La Notion
de Patine et le Nenoyage des Pemtures", Bu/letin de l'lnslilut Royalt du Palrimoone Historique,
1966, vol. 9, pp 139: "Ademais, na medida em que essas modificações são irreversíveis e escapam a 79· Sobre essa discussão, ver G. Carbonara, Awicinamento..., 1997. Cf. em especial ocapítulo ·o
uma determinação rigorosa, deve-se admitir que o estado original da obra, isto é, aquele em que Trattamento delle Superfici come Problema di Restauro", pp. 511-519. Ao comentar casos m
o artista a deixou quando concluiu seu processo de criação, é, de todo modo, impossível de ser que, por razões culturais, ou não, é necessária a renovação cromática das fachadas, aSSC\'trt (p.
restabelecido e mesmo de ser determinado objetivamente. Nenhuma restauração poderá jamais 5.11): "nesses casos a intervenção não deveria, porém, assumir um caráter competitivo ou prrva-
pretender restabelecer o estado original de uma pintura. Poderá somente revelar o esrado atual ricador em relação à figuração na qual se insere, nemser imitativo ou mimttico noque rrspei~
das malirias originais. Supondo que assim o queira, a restauração não pode, portanto, em ne- à imagem arquitetônica, pois assim fazendo se incorreria numa grave alteração dos valorts his-
nhum caso, abolir a historicidade da obra, o tempo que ela atravessou para se apresentar a nós". tóricos e artísticos do monumento. Portanto, a nova cor não deveria repetir aquela origutin•,

234 235
RESTA
rat~l l\'AÇÁO DO rATlllMÓNIO ARQUITETÔNI CO OA INOUSTRIALl7. AÇÃo
• DO PATRIMÔNIO ARQUJTeT6N1co º" INou, • •
URAÇ AO . T,JAL1z,.ç;.o...

essas que deveriam ser exceções, e não a regra. Pode ser o caso de superfj.
cies que receberam intervenções tecnicamente inadequadas, destruindo Por
completo pinturas e argamassas preexistentes, cujo refazimento é uma ne-
;"i ,,,""''"
Pnrtes
!"J , u meio
es11ns rc Inções com 0
/IS nmbtente.
do Wlfl•i• ~· ~mp""'
-º' "'"'"'"",,'""",, "'''''"'" " •.,;,,""'"'"""'•• ""•
. "" """•• '""'''"•/, "'"'""' " .
cessidade para a própria sobrevivência do bem. Dado que nas formulações
teóricas da restauração se recomenda respeitar as diversas fases da história E muitas intervenções recentes, porén-.
rn . . . "'• vo1ta-se de .
de um edificio, suas várias estratificações, e também se afirma que a busca so das cores ongma1s e o mais das vezes 1 modo trnponderado
ao u . . . d ma ·executad .
do estado original não é um objetivo a ser perseguido - pois significaria uma teriais mapropna os. Converte-se essa volt . . as, aderna15 corn
rna ) . . . .
s (supostamente ongmats tivessem por s· ó
ª
num altbi cõ d
mo o, corno se
vontade deliberada de apagar o transcorrer do tempo, considerando-o como core . • is uma autorid d ·
reversível, o que jamais é o objetivo da restauração9 º - cabe especular sobre btraíssem a intervençao de qualquer J'ulga , . a e irrefutável
e su .. mento critico de·
o que se deve fazer, segundo esses preceitos teóricos. urnir a responsabilidade por uma proposta fu d ' l.Xando-se de
ass . . . n arnentada Es _
As situações também podem ser as ma.is variadas. Se a composição de cor d s cores supostamente ong1nais comporta tamb . , . · sa questao
a , em uma sene d
que o edificio apresenta na atualidade for respeitosa em relação à composi- . bl mas, como a propria dificuldade de interpret e outros pro-
ção do monumento e se tiver consolidado na sua própria imagem, deverá ser e·s 3 primeira
. camad a d e cor pode não ser aquelar um estudo . . estrali gra'6co,
preservada. Caso contrário, deve-se, através do ato crítico, propor novas cores poi a que o edific10 tinha
rnpletado (pode ser um substrato de regulariza • ao ser
baseadas numa reinterpretação da obra, hoje (respeitando as suas característi- co çao, por exemplo) o
P roblema grave, que em geral não é levado em conside . é . utro
cas), que, raríssimas vezes, pode ser coincidente com a composição primitiva suposta cor ongm . . al, que aparece na estratigrafia ser a co raçao,
d o fato de a
(na verdade, isso seria quase uma impossibilidade teórica, pois a leitura de um intura que atravessou vanos . . anos exposta e depois' u r e uma . d camada de
dado presente histórico dificilmente coincidiria com a da época de constru ã ) P . . ' m peno o recoberta
Por outros extratos: ou Seja, e uma cor modificada pelo te . .
Esse tipo de raciocínio está presente na Carta de Veneza (grifos da autor~):º · ,, 1 . . .. . . mpo, nao e a cor
"original s , CUJO estado primitivo e algo impossível de demon l . .
. _ s rar pois nao se
pode conhecer com e~atid~o todas as vicissitudes por que passou a superfície
Artigo 9• - A restauração é uma operação que deve ter caráter excepcional Tem por depois de pronta. E nmguem parece perceber esse fato.
objeLivo conservar e revelar os valores esiéiicos e históricos do monumento e funda-
Mas cabe chamar a atenção para outro problema essencial: fazer nova
menta-se no respeito ao material original e aos documentos autênticos. Termina onde
proposta de cores para um edifício implica saber ler a obra como imagem
começa a hipótese; no plano das reconstituições conjeturais, todo trabalho compleme111ar
recon/1ecído como i11dispensável por razões estéticas ou técnicas destacar-se-á da composi- figurada e para isso é necessário um sólido conhecimento da história da
ção arquítetónica e deverá ostentar a marca do nosso tempo. A restauração será sempre arquitetura. A cor é tema da maior relevância, importante para entender e
precedida e acompanhada de um estudo aJqueológico e histórico do monumento. valorizar a articulação dos elementos, o ritmo, das fachadas e dos espaços
internos, e fundamental na percepção que se tem da volumetria do edifício,
sendo determinada segundo uma lógica compositiva que não pode ser tra-
nem alguma entre aqudas que se seguiram, dado que não se coloca como substiiuição de uma tada de modo aleatório. Se o objetivo da restauração é facilitar e valorizar a
ou outra tinta; a sua inserção não évoltada a preencher um vazio crom:ltico da argamassa, mas a
constituir um acréscimo 'crítico'. isto é, a úniC2 comnbuição que a atual cultura histórico-anlstica leitura de um dado monumento, trata-se de fazer uma nova composição que
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pode legitimamente oferecer para asolução do problema. Trata-se, por isso, de uma intervenção cumpra essa função, através do ato criativo fundamentado. Não é livre e ar-
que não é fundamentada numa escolha de gosto ou 'filológica'; é, ao contrário, o resultado de bitrária sobreposição de tinta 81•
anáUse e de 1ulzo críticos, exatamente porque o restauro é uma hipótese critica e não uma criação
sobreposta ou integradora em relação à obra arquitetônica~
80. A esse respello, ver C. Brandi, li Restauro..., 1994, pp. 54-60. No texto, elaborado para uma
conferência cm 1984, o autor exalta a imponància do tema eoconsidera nilo menos importante do 81. No que respeita às pinturas de quadros antigos, é de intemse ver as colocações de Brandi
que a questão da pátina ou dos vernizes no restauro de pinturas. Comentando as transformaçóes (Teoria.. ., 2004, pp. 139-152), em que esse problema se coloca (e é semelhan1e na arquuctul'I).
no palácio de Montccitorio cm Roma, afirma (p. 56): "Ponanto. não se deve propor a meta hisio- Ver, por exemplo, na p. 144; "Não se trata de dar novo frescor às suas com, nem de lev:i-lns •
ricamente absurda de remontar ao tempo da Intervenção de Fontan~ para restabelecer um colorido um hipotético e indemonstrável estado primitivo, mns de assegurar a tr:tnsmlSSão •o fururo cb
que de modo algum pode ser recuperado ou reconstituldo no presente. Assim, não apenas não se matéria de que resulta a concretização da imagem. Não se trata de regenerar, de rtproduzir o
poderia voltar atrás, até a primeira ideação de Bernmi,como tampouco regredir a um estado ideal processo técnico pelo qual as pinturas foram executadas~
alcançado por Fontana, dcscanando aquda que é a pa55agem do tempo na obra de ane''. 82 • t como lembra Carbonara (Avvicitiameuto..., 1997, p. 517), "uma hip01m cntico, nlo wna
cria~ão sobreposta ou integrat1va da obra arqui1e1ómca".

236
237
- 1
~6
s TA URAÇÃO DO PAT R IMÔN I O A
~QU IT P.TO
PR.S.SS.R\'AÇÃO DO PAl'RIMÔNIO AR QU IT BTÔN1CO DA 1NDVSTR1ALIZA ÇÀQ Nico º' INo
UST~IAL oiA -
à base de cal - caso contrário é ç•o...
tintas • necessári0
. pensar que se possa fazer uma pintura aleatóri . da ser feitas veladuras sobre a supe f' . refazer a arg
~ um engano grosseiro . . . a,
. 'fi . 0 fato de que a pintura podera ser refeita e mudad 31n . r 1c1e, ap1· amassa·
usando como iustt cauva a . ular à base de resma acrílica (que n· d tcando-se u"' 1. •Podem
. N" se trata de vestimenta que pode ser trocada quand
1
pe •C ,. . aoeved "' 1Pode ·
num futuro próx.1mo. ao · o untas acril1cas industrializadas) d'l e modo algum Plrttura
s que dure, uma pintura permanece num monuinen. corn t uida · ser confu d'
bem aprouver. Por menO . pouco espessa e não recobrindo de t d ' misturada com c n id_a
. . , ·os meses e em geral, por anos e pode causar danos ra1s, .. , . o o0e · orantes n
to, no m1mmo, por van • • rrneabthdade compattvets com as arg lttstente, corn tra • atu-
e pe _ amassas e ti nsparencia
significativos para sua percepção. . . aplicada sobre uma demao muito fina d b ntas tradiciona·
. d ais as técnicas empregadas e o tipo de tinta devem possuir per- ser . e re oco c0 is - deve
Alem o m , d .•. t·s como velad ura, JUStamente mo fundo em
su 1 • · ' camadas
meabil. 1'dade, textura, tonalidade, \uminosida e, cons1stenc1a
. e transparência
. . com os substratos existentes, (que No que se refere às tintas à base de s1.11cato .
de 0 , . .
compative1s _ precisam ser respeitados) , te estar atento para as tonalidades a se P tass10, e muito im
devem ser adequadas aos materiais que la estao (lembrando. que materiais ta n rem empre d por-
uatar de tinta du rável e estável. Mesmo ga as e para 0 fato d
distintos requerem tipos de tintas diferen.tes), e com ª.própna composição se . quando se "a el .. e
arquitetônica do edifício. As atuais tintas a base de ~oltmeros (como as acrí- e
imponderada volta as supostas "cores orig· . ..
tna1s, é neces . .
ª
P para a cômoda
s pinturas tradicionais eram menos durad .. sano lembrar que
licas ou PVA), produzidas industrialmente, que em St podem ser de excelente a . ouras, lavavam- "
\idades, feitas com corantes naturais que po . ó se e suas tona-
qualidade, e têm sido empregadas de modo indistinto em intervenções em ' r St s eram mai
aquelas obtidas com colorantes artificiais ate s suaves do que
bens culturais, não preenchem esses quesitos quando se trata de pinturas . • nuavam-se com . .
tradicionais sobre argamassas à base de cal. Resulta em imagem rejuvenesci-
t preciso ter enorme cuidado na escolha dos to ma10r rapidez.
ns, re1embrando . d
da de modo artificioso, uniforme, fazendo com que se perca toda a vibração vez Brandi sobre a importância de atenuar a "i·acr ... d , ~n ªuma
- anc1a a matena
das argamassas e pinturas tradicionais, com tonalidades inadequadas e com esta última nao se torne preponderante sobre a forma . para que
- d f' . • pois, mesmo que essas
aparência "plastificada". Além disso, esse tipo de tinta não é conveniente para pinturas nao causem anos 1s1cos ao edifício, depend d d
. d en o a escolha de cores
as próprias argamassas históricas à base de cal, documentos importantes do e tonalidades, po em resultar em danos figurativos d . .
. . • . a maior gravtdade.
modo de construir de épocas passadas, pois não permitem que a argamassa Para coniu ntos arquitetomcos ou centros históricos 0 t d ..
. ema as superftc1es
"respire"; pela diferença de permeabilidade entre os estratos antigos e a nova tarnbem deve ser encarado, de modo completivo atrave's d . _
, . . • e aprolttmaçao
pintura, ocorrerá a desagregação dos componentes, deterioração e despren- histonco-críttca. Em tempos recentes tem havido uma altern·anc.1· a entre .m-
dimento da massa antiga (podendo, inclusive, comprometer a argamassa de tervenções que buscam voltar às cores originais - esquecendo-se, além das
assentamento e, portanto, a própria estabilidade da construção), condenando questões evocadas acima de que, com frequência, em conjuntos urbanos as
um documento histórico relevante a um processo acelerado de degradação, edificações podem não ter convivido nunca, na mesma época, com suas co-
aquilo que uma restauração deveria evitar. Na preservação sempre se deve, res originais, pelo fato de terem sido construidas em momentos diferentes e,
de modo imperativo, recorrer às competências técnicas adequadas. quando da conclusão dos edifícios posteriores, os mais antigos, com muita
Existem alternativas viáveis, tais como83 : tintas à base de cal, que são perfei- probabilidade, não mais apresentavam sua coloração de origem -, e outras
tamente compatíveis com as argamassas antigas de mesma base, mas possuem intervenções livres com cores fortes, preponderantes, que não valorizam os
o inconveniente de ter duração efêmera em atmosferas poluídas sujeitas a aspectos históricos nem as características formais dos edifícios, não possuem
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chuvas ácidas, como é o caso da cidade de São Paulo, e são de difícil fixação; relação com a conformação arquitetônica, dificultando a leitura e a própria
tintas à base de silicato de potássio, compatíveis com substratos à base de cal apreciação das obras. O ideal seria trabalhar através de planos de cor, enten-
ricos em sílica, que são duráveis, permeáveis ao vapor d'água e compatíveis com dendo-se com isso, segundo Bonelli, limitar a intervenção ao mínimo e mudar
argamassas históricas, mas provocam reações superficiais de monta, devendo, o menos possível a imagem que se consolidou com o tempoª'. .. .
pois, ser usadas com muito cuidado e aplicadas preferencialmente com pincel, Importante é ainda lembrar, retomando o problema das cores angina.is.
além de ser empregadas apenas sobre argamassas pintadas anteriormente com que, tanto para obras .isoladas quanto pa.ra coniun
· tos arquitetônicos' a confi-

83. Para um breve relato sobre os tipos de pinturas, de onde provêm os dados apresentados, e para S4. "lntervista a Renato Bonelli" la cura di G. Carbonara e Spiridionc A. Curuni\, Tema. 1998.
referências bibliográficas complementares, ver G. Carbonara, Avvicinamento.. ., 1997, pp. 551-56o. pp. 38-4 7,

238 239
f/\LIR/\ÇÁO DO PATRIMÔNIO ARQU
Res rre1011rco
DA INDusr

rATRl\IÔ~IO J\RQUJTETÔ~JCO D/\


, RIAlJtAÇ.\o,,
HI. " R\AÇÃO llO INDUSTRIJ\LIZAÇÀO
. originais, apresentando a ela ad
~~- ouadaum
Iterado de tal modo que a utilização
r
de rna
deira; as plataformas possuem ab .
.,. ngos com 1
ªmarquise co
m estrutu
, ltória pode ter se a . . r rro fundido. O ed1f1c10, que foi ocup d e ementos de sust _ra
p,uração da área en' 0 . d. cial para a aprec1açao das obras ou
de 1e .. a o por c entaçao
- d até mesmo preiu i . . .. . u a ser utilizado por um grupo de e . eno tempo pel ..
dessas cores po e ser
. coisa é um e i i i
d'f'c'o na sua situaçao pnm1t1va, isolado asso
P aram as obras de transformação c
scote1ros p
· oram eles próp .
ªpolicia
'
conjuntos. Pois uma . za num grande terreno, ou rodeado execu t onc1u[das e nos que
·• inserido com 1argue . •
num quarte1rao ou ainda um conjunto arqu1tetonico cir- '- ntura, em que foram empregados o marrom- m 1996, em especial
·fi - d pequena a1tura, ou pi Ih escuro e 0 b a
por ed1 caçoes e orte· outra coisa totalmente diversa é . azul e o verme o nas estruturas de e d ege para 0 ed'f'
d'fi
1 ões de pequeno p ' cio e 0 1erro os abr· 11-
cundado por e caç b na atualidade, estão encerrados entre (figuras 33 a 36). . . igos das plataformas
b ·unto de o ras que,
uma o ra ou conJ 'd s no decorrer do tempo ao seu redor. A N estação de Vahnhos, inaugurada em 8
·fi . d alto porte construi a
ed1 caçoes e Itera-se completamente e a proposta de a '
de 1913, as trans1ormações foram de ma·
1 72, mas cujo edT 11qo.
principal
. das obras nesses casos, a d a ta 1or porte Um
percepçao ' , 't em função dessa nova realidade, sempre ado de 1996, permitiu sua conversão em . acordo, também
com osição de cores deve ser rei a . . . dal . , . museu com ob
p - t de aleatória sobrepos1çao de tmta, nem de um
enfatizando que nao se tra ª . . . pela P
refeitura. Os cntenos seguidos são disc t' .
u 1ve1s, em pari' 1
ras executadas
,. de ser mudado de acordo com as c1 rcunstancias fere à escolha das cores e às modificações na t icu ar no que se
elemento secunda no, que Pº , re . ,. es rutura de ori
e vontades, mas, sim, . de líl . terpretação responsavel e fundamentada.
, . r . bstituição s1stemat1ca de todas as chapas da b gem, como a
su . co ertura e as desne , .
Tambem no que se mere às intervenções em superf1c1es
• r
. 1e1tas com a cha- terações dos acessos laterais. No que se refere , cessanas
.. d "ou sei· a uma argamassa concebida para a.I . . . as cores, a estrutur ,.
mada massa raspa a • • . ser aparente,
. a sobre as vias foi pintada de verde-limão 0 ed'f' 1 1 . d ª metáh-
do as vezes de revestimento de pedra, a s1tuaçao c • c10 e rosa-salmão
.
sem pmtura, e 1azen r _ é deli- Jguns de seus detalhes de verde-limão, roxo 0 b 'b •com
cada. Em gera1, essas Superfícies não têm sido . de fato. restauradas. Sao apenas a u ª o ora e a estrutura da
marquise de entrada, de marrom. A escolha de core _
. d
1tmpas, repara as e depoi 's pintadas • ademrus com tintas
. à base de polímeros, . . s nas estaçoes, de modo
algum h1stoncamente fundamentadas ou em acord0
resultando em excessiva homogeneização do conjunto, desprezando-se a . • . . . com as características
de compos1çao dos ed1flc1os, chega a unpedir a aprecia - d .
conservação das marcas deixadas pelo tempo e a própria superfície e suas . .. . . · çao e sua arquitetura,
técnicas de execução, que são também documento histórico da maior impor- levando a uma mfant1hzaçao da unagem (figuras 37 a 4o)•s.
tância. Ademais, arrisca-se a comprometer a sobrevida desses documentos ~ uma situação incômoda formular críticas sobre essas m · tervençoes,
. fei-.
com essas pinturas, pois, por não serem permeáveis, resultam em deteriora- tas com empe~ho ~or. pessoas que assumiram a responsabilidade por um
ção acelerada da matéria original dos substratos, caso as argamassas originais trabalho que nao foi feito por seu proprietário estatal, impotente ou mesmo
sejam à base de cal. Deve-se ainda lembrar que muitas dessas massas eram deliberadamente indiferente. A escolha desses bens corno sede das iniciativas
executadas inserindo-se também partes de pó de granito, mármore, mica ou não foi ditada apenas por razões pragmáticas, a viabilidade de um acordo
quartzo, entre outros, resultando em massas que possuíam uma particular com o proprietário, mas o foi também por razões culturais, incluindo-se 0
coloração e um peculiar modo de se comportar sob a luz, às vezes com dis- valor estético e histórico e também o valor simbólico e afetivo vinculado à
creta cintilação; o fato de pintá-las pode, pois, resultar em graves problemas ferrovia, que em muitas cidades do interior significava o principal meio de
técnicos e estéticos. Até mesmo o tratamento de superfícies aparentes de ti- contato com o "mundo exterior''. A questão que se coloca é a ausência de
jolos tem deixado a desejar, tanto nos aspectos histórico-críticos quanto nos formação para trabalhar com bens culturais, resultado, nesses casos, não de
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aspectos técnicos de execução. Recorre-se muito frequentemente a limpezas má-fé, mas da falta de um debate mais amplo na sociedade, que tem raízes
profundas, a substituições maciças e a pinturas, sem considerar processos de profundas também no sistema educacional, para que o reconhecimento do
limpeza sutis que preservem a pátina e métodos que consolidem o existente. monumento histórico como tal seja efetivo e as formas de tratá-lo, adequadas.
Exemplos de problemas em relação à cor são dados por algumas estações No que se refere aos responsáveis pela atuação em si, esse fato é um efeito da
ferroviárias no interior de São Paulo, que sofreram intervenções através de acor- ausência de estudos multidisciplinares prévios e de discussões aprofundadas
dos de entidades particulares com as prefeituras ou com o Governo do Estado. nos cursos de graduação em nossas faculdades (de arquitetura, de história, de
A estação de Vinhedo, construída no final do século x 1x, sofreu transfor-
mações nos anos 1930, com a aplicação de elementos art déco em três de suas
B5. Sobre essas es1ações e as intervenções por que passaram, ver 8. ~I. Kühl, Arqwttturu iÚ>
faces. A fachada voltada para as plataformas permaneceu com suas caracte-
Ferro.... , i998, PP· i55-164, 314-317.

240
241
, ssr.<U ~
.<ÇÀO DO PATRIMÔNIO ARQUITtTô
Nico DA lllo u
'
P Rl\H \'AÇ AO DO PATRl\IÓ"O .<RQUITFTÔ~I CO DA IND USTRIALIZA Ç ÃO
'TllALllAÇ.\o
d e construções industriais abando d
. etc.), que deveriam promover a consciência nto na as ern
engenharia _ . de que são questõ es ta.rned "em São Pauloª6. t uma postura Pertinent eventos como "Arte I
• a a sua solução exige atuaçao de variadas competências ·da e . e em va( d
comp1exas que par _ . e CI pios paulistanos, trata-se em geral d 'ª
os casos·
'tetônico exige alta formaçao, necessariamente de pó exem e usos ternp á . • 111as,
de que o restauro arqui ' _ s- nos '. e' ocupado por um certo período e dep . d . or rios, em que o
- 0 e·ssa forma • essas intervençoes que demandaram um grande d1. flctO Ots eixado . .
-gra duaçao. . e nstra uma diversidade de postura (e r a Propria sorte
por parte de seus protagoni~tas, que .assumm1m. a responsabilidade
r demo iorrnas de apr . .
es1orço isso lturais) saudável e enriquecedora. Mas n . . oveuamentodos
pe1a preservaça- 0 de bens que não eram protegidos por . lei (portanto, em senso be3
ns cu • . • a ma1or1a das atu _
ção a ausencia de um empenho proi·etual açoes,cha-
estrito não houve irregularidade), acabam por ser madequadas para que as a aten conservativ
01 d mente nas vertentes teóricas da restauraçã o, que de fato
ed1.ticaçoes
' - cont'nuen
1 1 a transmitir
' seus valores
. . estéticos e históricos . se
fun a ., . .
1para que o edt f1cio seia preservado e conr
o e que faça uma
proposta
No que respeita às intervenções de ~uperf1cies ~e ~1~ssa raspada a situa. projetua •nue a ser Utilizado.
ção é difícil, como mencionado. Haja vista~ Estaç~o )ulio Prestes, em que a
lembrar que através de repintes, substituições e , .
massa raspada original da fachada - que tmha mica em _sua composição e, 0eve·SC re1azimentos maci OS
portanto, possuía leve cintilação - em vez de ser tratada, foi reparada e depois e ex novo uma dada obra em seu ambiente· ou se· ç •
insere-s . . • Ja, opera-se através
pintada, resultando em graves problemas estéticos que num futuro próximo turas quando o que mais interessa, do ponto de vista d .
de rup lh ' . . a preservaçao
serão também técnicos. b ar através de permanenc1as e continuidades o trat d '
é tra a .. · amento as su-
Também com tijolos aparentes se verificam problemas. Voltando 3 cxem. f' ·es deve ser encarado como leg1ttmo problema de restauraç- .
er 1c1 . ,. ao, ou seia.
pios citados anteriormente, uma exceção é a Pinacoteca, cm que se optou P
como a to histónco-cnt1co_ que deve estar sempre
« .. associado às compet' .
enc1as
por suprimir as causas de degradação (umidade ascendente e descendente), ~~ .
, . s adequadas. Nao se trata apenas de pele, de um órgão de primord·~
1
preservando-se a pátina (figura 41). Por outro lado, na vizinha Estação da importância, ~as ta'.11bem de local-testem.unho _da passagem da história, que
1
Luz, os tijolos da fachada que estavam degradados, foram recuperados em não pod e ser d ssoc1ado do restauro arqu1tetõnico . como um todo' não se re-
várias ocasiões. Em intervenção dos anos 1970, com o uso de argamassa para wmin . do a uma simples roupagem, nem a projeto de embalagens e, portanto•
regularização e de pintura «cor tijolo': a execução foi tão funesta que resultou , 1de ser mudado ao bel-prazer. Corre-se o risco de, ao não se levar em
passive
em textura e tonalidade destoantes da superfície original (figura 42). Na fase conta a consistência física e a estrutura formal do organismo arquitetônico
de obras recém-concluída, na área das plataformas, os tijolos foram limpos; em sua ·tn te1·reza e de seu transcorrer
. • . na história, comprometer irremediavel-
quando estavam muito danificados, foram substituídos por tijolos de recu- mente Sua leitura e sua sobrevwencta.
peração ou retirados e virados para que a face interna, mais bem conservada,
ficasse à vista. Mas no que respeita à qualidade da execução, faltou maior apuro
e respeito pela pálina. Por outro lado, o tratamento da fachada do edifício
administrativo e do perímetro do complexo é urna verdadeira aberração no
que respeita aos princípios do restauro: de modo algum se procurou limpar
e consolidar o existente, promovendo as pontuais e necessárias integrações.
Optou-se por um repinte total da superfície revestida de massa e limpeza a
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fundo dos tijolos. Desse modo, impingiram-se tonalidades vibrantes sem re-
lação com a tectônica do edifício e de sua estratificação ao longo da história,
sem respaldo conclusivo por parte de estudos estratigráficos (pois a intenção
era oferecer a imagem «inicial" da estação), reinserindo, de forma inadequada
e brutal, uma nova imagem da estação na cidade (figuras 43 a 46).
Se, por um lado, as marcas da passagem do tempo parecem ser muito mal
aceitas hoje em dia, com menos e menos pessoas dispostas a apreciá-las numa
86. Na quarta edição do Arte / Cidade (200 1-1002), pormmplo. foram utilizados•inostdifi-
obra, por outro lado, há também alguns grupos minoritários que prezam o cios industriais e pátios ferroviários que passaram por longos pcriodos de abandono- a<.ttmplo
estado arruinado de certos edifícios, algo que se tem verificado no aprovei- de pams do sesc Betenzinho - nos bairros do Belenzinho. Pari, Brás e Mooca.

242 243
l. Estaç-ao l u' 110
· Prestes no período de completan1ento das obra ·

245

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t M A G ENs

17.AÇAO
rR E<fR\' A Ç ÁO 110 rATRIM<'>NIO ARQUITETÔNICO OA INDUSTRIAL . •

= - - · ·1··1-lJJ

2. Estação Júlio Prestes. Planta do edifício administrativo, publicada na época da


construção. Note-se a importância do grande hall central como elemento de
estruturação e distribuição do espaço interno.

_ Júlio Prestes. Vista da parte posterior do edifício administrativo tm qut St nota a


Estaçao
5· cobertura da sala de concertos instalada no grande hall (2oo ).
4
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3. Estação Júlio Prestes. Vista do grande 4. Estação Júlio Prestes. 1nterior da sala
âtrio antes das obras de transformação de concertos (2008). Autorização:
em sala de concerto. Fundação Osesp.

146 247
PR[SER\"AÇÁ(I uo rATRIMÔNIO ;.RQUITt:n\llolCO DA INllUSTRIAL 17. AÇÃo
-- IMAGE!is

9. Antigo armaitm
da Companhia
7. Antigo armazém da Companhia Sorocabana. Vista da fachada Sorocabana. Entrada
posterior do edificio, já transformado em museu (2004). para o Memorial da
Resistência (2008).

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10. Antigo armazém
da Companhia
8. Antigo armazém da
Companhia Sorocabana.
-~; Sorocabana. ln1<rior
de antiga cela no
Pormenor da fachada atual Memorial da
,-.
Resistência (2008).
posterior (2004). .~

248
249
rRfq. R\' .\~" Ál) ºº r ..\TRIMl,:0.,:10 ,\ RQL'ITETÔNICO DA INOUSTR I ALllAÇÀO
IMAGENS

13 • Estação da Luz. Obras nas plataformas para articulação com metrô ( ).


2004
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12. Fachada da Estação da Luz com os acréscimos de pavimentos posteriores ao incêndio (2001).

14· Estação da Luz. Vista das plataformas recém-concluíd;is (e. 1900).

250
251
IMAGENS

IND US TRIALI Z A Ç ÃO

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-1 rl. do con1unto - 1897
prirnetrO ed1flci~stnJldaS por volta de 1910 t:l
fd~caçõe' '.'.'.'.nstNldas em 1920 .. 1 lw: ~ ~j'AA1 . •
1
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t~
~::Jr~··
«:a#•~· ld em1925-1930
,. fd"' ,.,,., cosniru 0ª
.. Ed1fie8~s c;onstf\lfdas na
década de ~O -...
~
.
1
Are••
., fd fiC8 demolida• ~

------ 17. Complexo das indústrias Crespi. Fases de construçã.o (até ).


2004

15. Estação da Luz. Vista aérea em 1977 em que se nota, na ala leste, o acréscimo
de um corpo na pane voltada para as vias (elemento mais claro).
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16. Estação da Luz. Museu da Língua Portuguesa (Secretaria de Estado da Cultura do Governo
do Estado de São Paulo) instalado no antigo edifício administrativo (2006).
18. Indústrias Crespi.
Fachada do
cotonificio em 2003.

252

253
IMAGtNs

rRESi' R"'~· \11 '"' r .\l • " " ' " " AR<Jlll1 l 'l t\NICO "" INl>USTlllAllZAÇÃo

19. Indústrias Crcspi. 2 1. Indústrias Crespi. Lateral do cotonificio após demolição


Interior do de parle do complexo industrial (2004).
cotonifício (2003).

~
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20. Indústrias Crespi. Cotonificio em obras para conversão em supermercado (2005). · Indústrias Crespi. Supermercado E.xtra, instalado no antigo cotonifido (1oo;).
22

254 255
PU,lR\'i'ÇÁO 00 rATRl~tÔ~IO i'RQUITf.TÔSJCO DA lt-1DU~TRIAL 17.AÇÃQ

f -~ ;

":..
't'.

2J. Compbo das industrias Duchen e Peixe. /\!aquele.

25. Duchen. Interior da fábrica em obras (e. 1950).


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14. Duchen. Fachada lateral da fábrica rectm-concluída (e. 1950).

26. Duchen. Interior da fábrica em obras (e. 1950).

256
257
l'RESt.:R\'AÇÃO ºº rATRIMÔNIO Al\QUITETÔN I CO DA I ND UST ll lAllZ A Ç Ão

27. Olivetti. Vist3 do complexo em 1964 .


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' 258
29. Olivetti. Pormenor da fachada
do edifício da produção (e. 1960).

259
r1t•"""'\' ~t\ [\fl
.
rATll'll''ll' ARQl l llf.TÔ'ICO nA ''º\..' STR
IALl1AÇÃo
IMAOl~\ '

33 . Estação de Vinhedo. Fachada principal cm 199 ,


4

31. Antiga fábrica da Olivcni, atual Shopping Guarulhos Antigo ed1ficio da produção ( 2005 ).
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34. Estação de Vinhedo. Fachada principal cm 1999.

32. Antiga fábrica da Oliveni, atual Shopping Guarulhos. Trecho da fachada (2005).

260
261
.. ~ '\.

IMAOtNs
- ,- L;'"'
rU~fll\.AÇÁO ºº rAtRf~tÔSIU AROUITt.TÔNICO JlA INDUSTltlALIZAÇ..\o

35. Estação de Vinhedo. Vista das plataformas cm 1999.

37. Estação de Valinhos. Fachada principal em 199 .


4
Scanned by CamScanner

36. Estação de Vinhedo. Vista das


colunas de sustentação de abrigo
das plataformas em 1999.
38. Estação de Valinhos. Fachada principal em 1996.

262
263
IMA GENS I'"
rRFHR\.AÇAO ººPATR IM ÔNIO ARQV I TETÔNl<.:O DA INDUSTHIAl.JZAÇÃo

39. Estação de
\lalinhos. Vis ta do
acesso lateral em 1994.
4 1. Pma
. coteca do Estado. Aspecto dos tijolos aparentes na fachada lateral ( ).
2004

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Scanned by CamScanner

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40.Estação de
42. Estação da Luz.. Trecho de fachada
Valinhos. Vista do
- 6.- .- ill ~.\ ~·-·,: ·.·~~',, . com tijolos pintados (1001).
acesso lateral em 1996.

264 265
. l/ AÇAO
rMfqRr ,\ÇÁll (H"I rA1Rl\H'''º .\R QUITt:TÓ'IC'.0 l>A INDUSTRIAI - -

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· --~ '
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•S...:.._ ...

43. Es1ação da Luz. Fachada an1es da úllima inlervenção (2001).


Scanned by CamScanner

45. Estação da Luz. Torre do relógio antes da última in1ervenção (2001).

44. Estação da Luz. Fachada após intervenção (2004).

266
267
·rôN ICO DA 1NDUSTRIAL1 ZAÇÃO
• NIO ARQUI TE•
PR ESERVAÇii.O DO PATRI J\IO

46. Estação da Luz. Torre do relógio após intervenção (2004).

268

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