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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS IEC – INSTITUTO DE

EDUCAÇÃO CONTINUADA
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA JURÍDICA – OFERTA 3

ANÁLISE DO FILME: AS DUAS FACES DE UM CRIME (1996).

Aluno: Yan Ribeiro Ballesteros


Professora: Paula Dias Moreira Penna

Com o foco inteiramente no indivíduo e no conceito de saúde/transtorno mental, o filme As


duas faces de um crime nos apresenta como protagonista o advogado criminalista Martin Vail
(Richard Gere), profissional que não está interessado em oferecer condições de igualdade para seus
clientes, estando mais preocupado com seu sucesso profissional.
Uma primeira análise que se pode fazer da película em questão se dá através do Título.
Existe só uma verdade? Para Martin, a verdade é aquela elaborada na cabeça dos jurados. Como
isso é materializado no aparato psíquico do Advogado? Para o protagonista, que não se preocupa se
seu cliente é, ou não, culpado, a questão da culpabilidade se torna cada vez mais relativa.
Outros questionamentos podem ser feitos a partir de Martin Vail: “qual o tipo de
comportamento desempenha ao defender seus clientes?”, “será que ele pode ser influenciado pelo
caso?”, e, o principal: “não seria o protagonista também um louco?”.
Assim, a ética profissional do advogado deve ser também levada em consideração. Sua
conduta em escolher casos para se promover, de obter provas de maneira ilícita e manipular pessoas
para dar a demanda exatamente o tom que lhe convinha pra obter a procedência dos seus pedidos
vai contra aos desígnos do advogado perante a Lei e a ética profissional.
O acontecimento que desencadeia o enredo do filme é o assassinato de um Arcebispo da
cidade de Chicago cujo o principal suspeito é um de seus coroinhas: Aron. Ex-mendigo, o garoto foi
acolhido quando criança pelo Arcebispo, levado-o para o abrigo da Igreja. Nesse sentido, a partir do
momento em que Martin percebe o potencial midiático da causa, decide patrocinar pro bono a
causa.
Com o deslinde do filme pode-se perceber que Martin é um verdadeiro showman. Não perde
a oportunidade de aparecer, seja concedendo entrevistas, em uma boa apresentação no tribunal, não
se importando devidamente com o lado humanitário do Direito. Assim, hodiernamente, vemos o
descaso dos profissionais do Direito no seu sentido lato. Advogados que não entendem os limites
éticos da própria profissão, se importando apenas com a sua própria verdade.
Começando a formular a sua defesa perante o Juri, Martin indaga ao suspeito a realidade dos
fatos, sendo surpreendido com a afirmação de Aron de que havia um terceiro elemento do local,
entretanto, que não se lembrava de nada devido ao fato de ter desmaiado.
Com o passar do tempo, o advogado percebe que o acusado sofria de certo grau de
insanidade, decidindo assim solicitar análise de uma psicóloga (Dra. Molly), que o diagnostica
como psicótico histérico com dupla personalidade. Tal diagnóstico foi conclusivo quando Dra.
Molly, em certo momento do filme, se deparou com Roy, a outra personalidade de Aron. A
instabilidade emocional de Aron, associada a amnésia dissociativa, fuga dissociativa e transtorno de
personalidade múltipla foram consequências de traumas que o personagem sofreu em momentos de
sua vida, como por exemplo, experiências de severo abuso físico e sexual, especialmente na
infância.
Assim, nos instantes finais, já no julgamento de Aron, pouco antes da abordagem da
promotora, Martin provoca Aron para que, em momento de grande abalo emocional, emane seu
alter-ego em seu momento de fala. A estratégia acaba dando certo e a Promotoria se surpreende, ao
questionar o acusado, com o afloramento do alter-ego no ego de Aron, comandando as ações
agressivas do mesmo perante todos no recinto.
A estratégia logra êxito é Aron é livrado do corredor da morte, entretanto, ao ser visitado na
prisão por Martin, este se surpreende pelo fato de que a personalidade verdadeira de Aron era Roy,
manipulando o advogado o tempo todo.
O desenrolar do filme traz de forma latente o princípio do contraditório e do livre
convencimento motivado do Juiz contemplados em diversas cenas onde Martin e a Promotoria
embatem-se com seus argumentos, provas, laudos para auxiliar o Juízo a inocência ou a culpa do
Réu.

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