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º ano
MESTRE GRILO
CANTAVA
EA 1
GIGANTA DORMIA
Aquilino
Ribeiro
1885-1963
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Mestre Grilo cantava e a Giganta dormia Adaptado de:
In, Arca de Noé III Classe, Aquilino Ribeiro Leitura leituras 3, Porto Editora
Guião de leitura Português de 5.º ano
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Mestre Grilo cantava e a Giganta dormia Adaptado de:
In, Arca de Noé III Classe, Aquilino Ribeiro Leitura leituras 3, Porto Editora
Guião de leitura Português de 5.º ano
1. “Em 16 de outubro entra no Seminário da Beja e frequenta o curso teológico. Aí faz o primeiro ano e
parte do segundo. Depois é expulso por não respeitar as regras do Seminário.”
Seleciona os dois adjetivos que melhor caracterizam a atitude de Aquilino Ribeiro, em relação ao
seminário.
a. inconformado b. interessado c. respeitador d. rebelde
1 Era uma abóbora-menina, muita redondinha, que saíra de uma flor tão grande e tão linda que de longe parecia pela
forma um cálice de oiro, o cálice por onde os senhores bispos costumam dizer missa, e pelo brilho estrela caída do céu.
Atraídas pela cor viva e o perfume, que era brando, mas suave, zumbiam-lhe as abelhas em volta e um grilinho viera
com uma caixa de música às costas acolher-se à sua sombra e ali fizera a lura. Perto, dentro de seus buraquinhos,
5 viviam dois ralos, e uma cigarra passava a maior parte do tempo empoleirada numa das folhas da aboboreira a cantar.
Ora, com os dias, a flor murchara e no seu pedúnculo começou a crescer a abóbora redondinha. Era na entrada do
Verão e à força de comer do solo, e beber do regadio, um pouco também entorpecida pelo calor, levava a vida a dormir.
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Mestre Grilo cantava e a Giganta dormia Adaptado de:
In, Arca de Noé III Classe, Aquilino Ribeiro Leitura leituras 3, Porto Editora
Guião de leitura Português de 5.º ano
Crescia e dormia, dormia e crescia. Passavam por cima dela as nuvens ligeiras como caravelas e não as via; cantavam as
rolas e o cuco, deixá-los cantar; batiam os manguais nas eiras, chiavam os carros da lavoura e a tudo permanecia
10 indiferente. Cresceu, cresceu, e já espigadota, certa noite mais quente, estranho ruído acordou-a. Que fanfarra era
aquela? Pôs-se à escuta.
As rãs do charco clamavam:
1. Antes de continuares, recorda algumas regras sobre o alfabeto, a ordenação alfabética e o uso do dicionário.
1.1.Escreve, no caderno, o alfabeto.
1.2.Copia todo o vocabulário do texto, que tens dificuldade em compreender.
1.3. Ordena as palavras que recolheste alfabeticamente.
1.4.Vais, agora, utilizar o dicionário para descobrir o significado dessas palavras. Recorda aqui as regras.
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Mestre Grilo cantava e a Giganta dormia Adaptado de:
In, Arca de Noé III Classe, Aquilino Ribeiro Leitura leituras 3, Porto Editora
Guião de leitura Português de 5.º ano
Regras
Flor (do Latim flo, floris), n.f. 1.(botânica) Parte do vegetal de que sai a frutificação; 2. Desenho, bordado ou
adorno 3.(Figurado) viço, frescura, beleza; 4. Pessoa muito bela; à ~ de: à superfície; fina ~: o melhor que há,
dentro de um grupo; ~ de estufa: pessoa muito sensível ou frágil; não ser ~ que se cheire: ser pouco
recomendável, não ser e confiança.
2. De volta ao texto, seleciona um sinónimo de cada palavra que apontaste no caderno, de acordo com o
significado do texto.
3. "Era uma abóbora-menina, muito redondinha, que saíra de uma flor (...)"
3.1.Completa a frase com expressões do texto.
Essa flor parecia pela forma (a) e pelo brilho (b).
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Mestre Grilo cantava e a Giganta dormia Adaptado de:
In, Arca de Noé III Classe, Aquilino Ribeiro Leitura leituras 3, Porto Editora
Guião de leitura Português de 5.º ano
4. "Ora, com os dias, a flor murchara e no seu pedúnculo começou a crescer a abóbora redondinha."
4.1.A frase transcrita fala-nos do nascimento da abóbora. Diz quando se dá esse nascimento.
crescer e brincar.
crescer e dormir.
brincar e conversar.
6. “Cresceu, cresceu, e já espigadota, certa noite mais quente, (...)" 6
1 O senhor José Barnabé Pé de Jacaré, dono da fazenda, veio pela manhã dar a volta costumada, com a senhora
Feliciana Lauriana atrás, de cesta no braço para os feijões verdes. Diante da abóbora parou admirado e disse:
- Que maravilha! Isto era pevide abençoada, Feliciana Lauriana, esta abóbora não se come, fica para semente. Quando
estiver madura, telhado com ela.
5 - Qual semente! Para a panela. Não há nenhuma outra em termos e eu morro por caldo de abóbora com feijão-
manteiga, adubado a presunto.
- Aí vens tu! - proferiu José Barnabé Pé de Jacaré em tom ralhado. - Faze lá como quiseres, mas sempre te digo que
assim redonda e corpulenta, ainda de poucas semanas, é milagre.
E depois de aparar à aboboreira as flores que iam a desabrochar para que a abóbora recebesse toda a seiva,
10 seguiram seu caminho até ao fundo da granja em que passava um corrego por cima de seixos a murmurar.
O grilo, que se escondera na covinha, ouviu a conversa e saindo para o terreiro rompeu a cantarolar em tom de
troça:
E ó abóbora, e ó aboborinha.
estás aqui, estás na panelinha!
15 Mas a abóbora, que não fazia outra coisa senão dormir e crescer, crescer e dormir, não ouviu o zombador. Não ouvia
nada de nada. Tanto cresceu, tanto cresceu, que ameaçou com o seu corpanzil soterrar o grilo no buraco. Assustado,
chamou por ela uma tarde:
- Aboborinha? Pst, ó aboborinha!!!
- ! ...
20 - Abóbora-menina ... Ó lindinha! ...
- Que quer lá? ...
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Mestre Grilo cantava e a Giganta dormia Adaptado de:
In, Arca de Noé III Classe, Aquilino Ribeiro Leitura leituras 3, Porto Editora
Guião de leitura Português de 5.º ano
- Com a breca, muito pegada estava no sono! Olhe lá, para que é que cresce tanto? Uma abóbora da sua casta quer-
-se redonda e maneirinha. Assim a pular perde a graça toda ...
- Seu atrevido, seu tocador de pratos, que lhe importa a minha vida! Se o seu regalo é cantar, cante, mas ao menos
25 não se meta com quem está quieto e sossegado. Já sabe que dormir, dormir a sono solto, e fazer-me grande, taluda,
é a minha obrigação. Vai ver como pareço bem no telhado do senhor José Barnabé Pé de Jacaré.
-No telhado? ... Deixa-me rir! - escarneceu mestre grilo.
Desdenhosa, a abóbora ferrou-se a dormir, a dormir um daqueles sonos que dir-se-ia só acabam no fim do mundo. O
grilo ainda rompeu a cantilena:
30 - Ai abóbora, ai aboborinha, estás aqui, estás na panelinha!
Mas viu que perdia o tempo e o latim e meditou na maneira de se ver livre da aventesma. A abóbora dormia e crescia.
Dormia como animal depois de farto e crescia; dormia como penedo no meio da serra e crescia; dormia como casa ao
desamparo e crescia. Nuvens, aves, mondadeiras que passavam a cantar, dias enovelados nos dias, de nada dava fé. O
pior é que a desalmada à força de se estender para aquela banda já lhe tapava quase a porta da toquinha; já para entrar 7
35 tinha que pôr-se de esguelha, espalmando bem contra as costas o aparelho da música. E o grilo, dizendo mal da sua sorte,
foi-se consultar os parentes.
- Compadres, aquela abóbora é o meu pesadelo. Se avança mais um nadinha para o meu lado ou fico sem casa ou
morro lá dentro emparedado. Não sei o que há de ser de mim. De vizinho danoso morreu Barroso.
Os insetos quedaram recolhidos um momento a cismar no problema. E a cigarra, que é esperta e espevitada, disse:
40 - Tem razão, mestre grilo. Mas aqui que ninguém nos ouve confesse lá: além do dano que a abóbora lhe faz, você tem
por ela uma especial antipatia ... hem, cá de dentro?
O grilo soltou duas risadinhas como que a acentuar a finura da comadre cigarra e respondeu:
- É verdade. Embirro solenemente com a pegamassa. Como podem calcular vim fazer aqui a casa induzido pela beleza da
flor. Tanto reluzia que disse comigo: ali, naquelas touceiras de erva tenra e serradela, com tão esplêndido pálio de seda
45 contra o sol, ficas que nem um mandarim da China. Sou poeta, é o meu fraco. Afinal, foi uma desilusão cruel; da flor
doirada e aberta como o cálice dos senhores bispos saiu esse monstro!
- Não admira - disse uma abelha que se metera na conversa. - Mestre grilo e a abóbora-menina são diferentes como
noite e dia. Enquanto ele é vivo, espiritual, pequenino, se desfaz em cantorias, ela queda matéria bruta: comer,
comer, dormir, e mais não lhe peçam.
50 - Assim vai o mundo - tornou a cigarra. - E a guerra nasce daqui, destes contrastes sem remédio. Mas vamos ao que
importa: mestre grilo queria ver-se livre de tal vizinhança?
- Pois queria.
Tornaram todos a malucar e um ralo deu este alvitre:
- E se se chamasse a tropa toda, ralos, grilos, cigarras, cabras-louras, e se caísse em peso sobre a matulona?
55 - Mas havíamos de ter patas de cavalo - permitiu-se dizer a cigarra debruçada da sua folhinha.
- Não temos, não - redarguiu o ralo, que era guerreiro -, mas temos mandíbulas ...
" - Ora, ora, nem a dente de coelho! - exclamou a cigarra. - Aquilo tem
casca mais grossa que sobreiro!
E depois de proferir tal sentença empoleirou-se mais no alto, contente com a própria sabedoria.
60 - Olhem lá! ... - disse o sapo que assistira interessado, mas silencioso à discussão. - Porque é que não vão ter com a
toupeira? Os amigos ralos têm boas unhas e podem dar com a abóbora em pantanas serrotando-lhe as raízes. Mas
não é obra para pressas. Enquanto a toupeira essa cava um poço, chega-lhe às raízes e zás, com duas turquesadas fica o
caso arrumado.
Celebraram todos a grande esperteza do sapo olharapo e como a toupeira era muito das suas relações ele próprio se
encarregou de lhe [alar. Dito efeito; a escava-terra prometeu fazer o trabalho e cumpriu a primor.
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Mestre Grilo cantava e a Giganta dormia Adaptado de:
In, Arca de Noé III Classe, Aquilino Ribeiro Leitura leituras 3, Porto Editora
Guião de leitura Português de 5.º ano
1 Naquela manhã, como em todas as manhãs que Deus deitava ao mundo, o senhor José Barnabé Pé de Jacaré deu o
giro pela fazenda, mais a senhora Feliciana Lauriana, sua cara-metade. E reparando na abóbora disse:
- O que ela tem crescido! Parece o zimbório da Estrela! Mas, ó Felicianinha, ela está aganada! As folhas dão ares de
murchas ... Precisa, precisa de rega.
5 - Precisa mas é de panela. Está madura.
- Não está. O criado que lhe deite água. Para a panela é mal-empregada.
O Joaquim foi buscar água ao córrego enquanto o senhor José Barnabé Pé de Jacaré fazia uma cova juntinho da
aboboreira. Vendo-a cheia pronunciou:
- Vão ver amanhã como está arrebitada.
10 Mal os homens voltaram costas, o grilo e mais insetos saíram de suas celas e romperam em grande algazarra.
Ó abóbora, Ó aboborinha,
não escapas à panelinha!
E ó abóbora, aboborão,
não escapas ao paneIão!
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Mestre Grilo cantava e a Giganta dormia Adaptado de:
In, Arca de Noé III Classe, Aquilino Ribeiro Leitura leituras 3, Porto Editora
Guião de leitura Português de 5.º ano
Mas, alheia a tudo, a abóbora dormia, dormia como as bolas de pedra nos portais das quintas e uma fidalga de
20 província à meia-noite. Dormindo assim, decerto não lhe era fácil ouvir as chacotas dos bichos. E, como todos tinham
queda para a alegria e a reinação, demoraram em suas demonstrações até que uma nuvem negra veio cobrir o Sol.
- Temos mudança de tempo - advertiu a cigarra, que era mais sabida que o Borda d'Água.
- Temos, temos - concordou o ralo. -A chuva não pode tardar. Sopra muito da barra ...
Tomaram os ventos, consultaram o céu, e, certos de que estava iminente a borrasca, cada um se foi escapulindo para
25 a sua toca.
- Pois até loguinho - acabaram por dizer os ralos, que eram os menos timoratos de todos -, e S. Bento abade se
amerceie de nós que não haja novidade.
Como seus primos ralos, os grilos enterraram-se pelos buraquinhos dentro; os sapos meteram-se debaixo das pedras;
a cigarra refugiou-se debaixo duma grande folha; e as rãs, que não têm medo de se afogar, ficaram no charco de cabeça
30 fora de água a ver para onde corriam as nuvens, uma ou outra coaxando de largo em largo:
- Estou borracha! borracha! 9
Das bandas do mar, pouco a pouco, vieram vogando nuvens negras que se encastelaram. Um relâmpago riscou o
espaço seguido de trovão seco, a modo de esganado, qualquer coisa como muitas mil latas a estreloiçar. Depois outros
relâmpagos e outros trovões do mesmo timbre se sucederam com pequeno intervalo. E rompeu a chover, de princípio,
35 gotas gordas e solitárias, logo, em corda, tão bastas, que assim seria o dilúvio. E mais uns relâmpagos, mais uns trovões
de retumbante vozeirão, e abriram-se as cataratas do céu.
De olhos aflitos, o senhor José Barnabé Pé de Jacaré espiava os estragos que a trovoada fazia na sua rica fazenda. A
água de enxurro varria a terra que fora sachada de fresco, deixando a luzir as batatinhas mal presas à planta e
tombados no chão, como soldados depois da batalha, os pés de milho. Quando se viu a abóbora-menina rolar pelo chão
40 abaixo, como se levasse o diabo no pêlo, deu um salto. E, pós-catrapós, desceu a escada, pinchou o batatal, gri-
tando, mas ninguém lhe valia:
- Agarra! agarra!
A abóbora-menina lá ia, ora rolando, ora boiando, ora saltando como péla, endemoninhada de todo. Ia cair à ribeira e
o pobre do senhor José Barnabé Pé de Jacaré, sentindo o perigo, dava pulos de gamo atrás dela. E quase a tinha pegada
45 quando se lhe embaraçaram os socos e tropeçou. Como uma boia, como um golfinho, a danada botava-se à torrente e
singrava.
1.2. Como sabes, o problema da abóbora não era falta de rega. Explica por que razão as flores tinham ares de
murchas.
2. De repente há um indício que alerta os insetos para a mudança de tempo. Indica o que os fez sentir assim.
3. Perante o prenúncio de tempestade, cada um tentou proteger-se como podia: (Completa com expressões do
texto)
a. os ralos e os grilos…
b. os sapos…
c. a cigarra…
d. as rãs…
4. E a tempestade começa.
4.1. Transcreve as duas frases que descrevem o início da tormenta.
4.2. Diz a que é comparado o ruído do trovão.
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Mestre Grilo cantava e a Giganta dormia Adaptado de:
In, Arca de Noé III Classe, Aquilino Ribeiro Leitura leituras 3, Porto Editora
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4.3. Diz como são as gotas de chuva. (Completa com expressões do texto)
4.3.1. A princípio eram (1) e (2). Depois caíram em (3), tão (4) que assim seria (5).
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In, Arca de Noé III Classe, Aquilino Ribeiro Leitura leituras 3, Porto Editora
Guião de leitura Português de 5.º ano
1. Explica o que fazia a abóbora desde a altura em que a toupeira lhe cortou as raízes até ao momento em que
foi arrastada pela torrente.
2. Diz o que foi que a acordou.
3. «Anjo bento, mulher, é a azenha a vir abaixo!»
3.1. Diz quem proferiu esta frase.
4. Indica quem descobriu a causa do estrondo. 11
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Da Leitura Orientada à Leitura para Informação e Estudo
(Propostas para trabalhos de projeto)
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