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Faculdade de Educação Tecnológica do Estado do Rio de Janeiro (FAETERJ)- Licenciatura em Pedagogia

Santo Antônio de Pádua/RJ, Brasil.

EDUCAÇÃO LÚDICA:
A Música no Processo de Alfabetização

Danielle da Silva Borges Ferraz1


Faeterj Pádua

Resumo: O presente artigo tem por objetivo analisar a importância da música como
elemento lúdico no processo de alfabetização, de modo que esse instrumento
pedagógico tem um forte papel na construção cognitiva das crianças, despertando
para novas vivências, linguagens e habilidades no ambiente escolar. Na busca de
alcançar o objetivo proposto, realiza-se uma pesquisa bibliográfica, com base em
livros, artigos e demais estudos e legislação específica sobre a temática, tendo em
seu horizonte teórico contribuições bibliográficas como Chalita (2014), Cardoso
(2016), Kishimoto (2019), Brito (2018), Ferreira (202), entre outros, que foram de
extrema relevância para uma análise e fundamentação teórica para o
desenvolvimento deste trabalho. O artigo divide-se em três momento, onde
primeiramente traça-se um panorama da criança em seus primeiros contatos com o
aprender; na segunda parte, mostra-se a inserção do lúdico propriamente dito na
educação voltada para a alfabetização e, por fim, na terceira parte, encontra-se com
a aplicabilidade da música no cotidiano de alfabetização.

Palavras chave: Alfabetização, Música, Ludicidade.

1 INTRODUÇÃO

É possível afirmar de antemão que, desde muito pequenas, a maioria das


crianças convivem com a música, logo a maioria delas possuem o gosto por ouvir e
cantar músicas. Nesse sentido, ouvir, aprender uma canção, brincar de roda, são
atividades que despertam, estimulam e desenvolvem além do gosto musical.
A música tem um papel importante na alfabetização, conforme afirma Gagliari
(2018), pois é considerada uma fonte fundamental para o desenvolvimento humano,
sendo que também auxilia a despertar habilidades criativas proporcionando que a
criança crie e inove sempre que for desafiada, favorecendo assim a ampliação de
diversas áreas do cérebro e da linguagem, aperfeiçoando a sensibilidade da criança
e a capacidade de concentração da mesma.

1
Autor
Faculdade de Educação Tecnológica do Estado do Rio de Janeiro (FAETERJ)- Licenciatura em Pedagogia
Santo Antônio de Pádua/RJ, Brasil.

A presença da música no contexto escolar é objeto fundamental no


desenvolvimento da aprendizagem das crianças no processo de alfabetização. A arte
do ensinar e do aprender é relevante para ampliar a capacidade do ser humano ao
longo de sua vivência, sendo a escola é lugar especial para buscar tais habilidades.
(JORDÃO, 2019)
O artigo que se tem em mãos se mostra de grande importância para a área
pedagógica, pois pretende demonstrar uma forma diferenciada de aplicar os
conteúdos, fazendo com que as crianças aprendam de forma que as interesse mais,
sem deixar de atingir os objetivos dos conteúdos programáticos. Assim, surge o
problema da pesquisa: quais os reais benefícios e como aplicar a música como
educação lúdica no processo de alfabetização?
O objetivo geral deste estudo é reconhecer a música como um elemento
fundamental no processo de aprendizagem na alfabetização. O presente estudo
reflete uma pesquisa bibliográfica, com citações e reflexões acerca do objetivo
principal citado acima. O horizonte teórico partiu de contribuições bibliográficas como
Chalita (2014), Cardoso (2016), Kishimoto (2019), Brito (2018), Ferreira (202), entre
outros, que foram de extrema relevância para uma análise e fundamentação teórica
para o desenvolvimento deste trabalho. A partir dessas leituras teóricas pode-se
compreender de forma mais robusta a importância do aprendizado a partir de
habilidades pedagógicas que contribuem para tal conhecimento
Esta pesquisa, portanto, é desenvolvida em três momento. O primeiro
momento visa resgatar um pouco da criança e sua relação a descoberta do aprender.
O segundo momento trata da inserção do lúdico como instrumento pedagógico e
também elemento contribuinte para o desenvolvimento da construção do saber,
tornando a escola um espaço mais alegre e receptivo. O terceiro momento, uma
reflexão sobre a prática da musicalização e a aprendizagem das crianças no espaço
da alfabetização.
Deste modo traça-se, apoiado no que diz Gainza (2017), que a música pode
ser uma atividade divertida e que ajuda na construção do caráter, da consciência e da
inteligência emocional do indivíduo, pois desenvolve a mente humana, sendo também
um agente cultural que contribui efetivamente na construção da identidade do cidadão
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2 A CRIANÇA DESCOBRINDO O APRENDER

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases, em seu artigo 29, a Educação Infantil é a


primeira etapa da Educação Básica, com a finalidade de desenvolver integralmente a
criança até os seis anos de idade, complementando a ação da família e da
comunidade nos aspectos físico, psicológico, intelectual e social. (GAGLIARI, 2018)
Segundo Gagliari (2018), formalmente, o processo de alfabetização começa na
1ª série do fundamental, por volta dos 6 anos, ou seja, após a educação infantil, para
crianças de 2 a 5 anos, quando recomenda-se expor as crianças a situações que
envolvam o letramento: professores lendo diariamente livros diferentes com as
crianças, mostrando às crianças com qual letra seus nomes começam ou
aproveitando passeios de classe para observar placas ou avisos.
É fundamental, como ponto de partida do estudo, entender o que é ser criança
e como se dá a aquisição do conhecimento nos primeiros anos de vida. Segundo o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), considera-se criança as pessoas com
até doze anos de idade incompletos. (GERALDI, 2016)
Já Chalita (2014), em uma das obras mais conhecidas sobre educação, afirma
que por criança pode-se entender aquele ser humano que ainda não chegou à fase
da puberdade. É a criança, então, aquela pessoa que está na infância e que ainda
tem poucos anos de vida, sem generalização ou menção de sexo.
No seu sentido mais amplo, a infância abarca todas as idades da criança:

[...] desde que é um recém-nascido até à pré-adolescência, passando pela


fase de bebê e de infância média. Quando se fala de infância, muitas vezes
se depara com concepções que desconsideram que os significados que são
dados a ela dependem do contexto no qual surge e se desenvolve e também
das relações sociais nos seus aspectos econômico, histórico, cultural e
político, entre outros, que colaboram para a constituição de tais significados
e concepções, que, por sua vez, nos remetem a uma imagem de criança
como essência, universal, descontextualizada ou então, nos mostram
diferentes infâncias coexistindo em um mesmo tempo e lugar (CHALITA,
2014, p. 28).

Diante das definições apresentadas, entende-se que ser criança é ter de 0 a 12


anos incompletos, sem experiências. Para facilitar ainda mais essa narrativa,
aprofunda-se aqui um pouco mais, na teoria de alguns autores, de como se dá a
aquisição do conhecimento.
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Damazio (2016) vem falar em sua obra, sobre algumas teorias que explicam a
forma de como a criança adquire conhecimento. Dentre elas, apresenta-se três: o
empirismo de John Locke, que mostra que deve-se ver a criança como uma página
em branco e que seu conhecimento se dá por meio de experiências concretas; a
Behaviorista (Watson), onde a criança é moldável e adaptável ao meio que vive; e o
Construtivismo (Piaget), onde a criança é o sujeito da ação sobre o meio. O
desenvolvimento da criança é que propicia seu aprendizado.
Nas duas primeiras toma-se consciência da criança como um ser incompleto,
inacabado, suscetível a novas experiências concretas. É no processo de interação
com o outro, que começa esse despertar do conhecimento. Segundo Bakhtin (2015,
p. 378): “Tomo consciência de mim, originalmente, através dos outros; deles recebo a
palavra, a forma e o tom que servirão para a formatação original da representação
que terei de mim mesmo”.
É no ouvir o outro chamá-la pelo nome que se reconhece como ser social,
assim como é pela interação com outro toma conhecimento do mundo interior e
exterior. É no observar aqueles que a rodeiam que passa a ter noções de sentimentos,
de sensações, atitudes morais e passa a ter consciências dos estímulos necessários
para se comunicar com os outros. É através do contato com o outro que vai tomando
conhecimento de mundo, começa a formar seu caráter e personalidade. (CHALITA,
2014)
Já para o construtivismo de Piaget, apesar da importância da interação com o
outro, para a criança perceber que nem todos pensam como ela, o conhecimento não
é visto como adquirido, mas sim construído pela criança. Onde pais e professores tem
o papel de mediadores, valorizando o pensamento, as experiências e a busca
individual pelo conhecimento. Para Piaget, não é o professor que ensina, mas ele cria
métodos para que a própria criança descubra. (GAGLIARI, 2018)
Também conforme Gagliari (2018), o processo de alfabetização, no entanto,
sempre foi local de muitos questionamentos, pelo fato de não se ter total conhecimento
de como a criança aprende ou da “forma correta” de ensinar. O que pode-se afirmar,
com clareza, é que os avanços mais importantes para a alfabetização ocorreram a
partir de meado da década de 1980. Esses avanços decorreram de um intenso
processo de mobilização da sociedade civil e participação nacional que culminaram
com a promulgação da Constituição de 1988, gerando como consequências a edição
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de leis específicas para a educação e, mais especificamente, para a educação infantil


e a alfabetização. No caso específico da alfabetização, que culmina quando a criança
tem, em média, entre 6 e 7 anos, o processo pode ser ainda mais discutível e cheio
de nuances.
Para Gagliari (2018), alfabetização é um processo complexo que envolve a
aprendizagem, não somente das letras, mas da cultura humana, de uma prática social
e da comunicação. É pela habilidade de ler e escrever que o ser humano passou a se
comunicar e ter acesso a informação, para promover uma participação social efetiva.
Ainda de forma explicativa, Geraldi (2016), mostra que a alfabetização é o
processo de ensino e aprendizagem de um sistema linguístico e da forma como usá-
lo para se comunicar com a sociedade. Dessa forma, pela alfabetização, consegue-
se ser capaz de codificar e decodificar uma língua, aprendendo a ler e escrever. Para
o autor, é nesse processo que o sujeito se torna apto a desenvolver diversos métodos
de aprendizado da língua.
Voltando a Gaglirari (2018), aprender a ler e escrever significa interpretar o
mundo, ter a capacidade de compreender os diferentes tipos de escrita que são
recorrentes deste meio. Porém ainda há muito que se repensar sobre as concepções
de alfabetização e os métodos utilizados para alfabetizar, pois para muitos, o processo
de alfabetização ainda é considerado apenas a codificação e decodificação das letras.
Nesses métodos utilizados, inseridos no mundo atual e cada vez mais
moderno, estão as mais diversas formas de alfabetizar, como a inserção de aulas mais
lúdicas e que despertem o interesse das crianças para com aqueles primeiros
contatos de aprendizado, como será referenciado a seguir.

3 O LÚDICO NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

O termo lúdico, segundo o Cardoso (2016), é uma palavra que tem função de
adjetivo e está relacionada a jogos, brinquedos, divertimentos.
Num cenário histórico, o lúdico está presente desde os primórdios da
humanidade e, conforme afirma Cardoso (2016), de acordo com as evoluções sociais
e tecnológicas, a ludicidade foi ganhando papel de destaque na sociedade e, muito
em especial, entre as crianças, que encontram, em processos como as brincadeiras,
uma forma de se inter-relacionar com outros iguais.
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O lúdico tem sua origem na palavra latina “ludus” que quer dizer “jogo”, mas
se ficasse limitado a sua origem referir-se-ia apenas ao jogar, brincar,
movimentar, mas com a evolução semântica da palavra hoje é definida como
uma necessidade básica do ser humano. De maneira geral o lúdico refere-se
à brincadeira e a questão simbólica envolvida nesse processo, faz parte das
atividades essenciais da dinâmica humana, transcende o visível.
(BENJAMIM, 2019, p. 41)

Por conceituação, segundo a afirmativa de Dantas (2018, p. 111), “o termo


lúdico refere-se à função de brincar (de uma forma livre e individual) e jogar (no que
se refere a uma conduta social que supõe regras)”.
Sendo assim, percebe-se a importância e necessidade da utilização de
atividades lúdicas na sala de aula, em especial no processo de alfabetização, pois
desta forma, as crianças aprendem desde conteúdos importantes até atitudes e
valores necessários a vida em sociedade, de maneira descontraída, divertida e
dinâmica.
Segundo Benjamim (2019), a criança através da brincadeira faz construções
sofisticadas da realidade, tornando-se criativo.

A criança quer puxar alguma coisa, torna-se cavalo, quer brincar com areia e
torna-se padeiro, quer esconder-se, torna-se ladrão ou guarda e alguns
instrumentos do brincar arcaico e desprezam toda a máscara imaginária (na
época, possivelmente vinculados a rituais): a bola, o arco, a roda de penas e
o papagaio, autênticos brinquedos, tanto mais autênticos quanto menos o
parecem ao adulto. (BENJAMIM, 2019, p. 76-77)

Kishimoto (2019), afirma ser a prática lúdica os elementos que a criança passa
a conhecer desde o seu nascimento no âmbito familiar e, tem continuidade na infância,
adolescência e também na fase adulta.
A ludicidade é um tipo de atividade social humana. Aprender de forma lúdica é
essencial para a criança, pois cria um clima de entusiasmo e motivação. Muitos
professores têm incluído em sua prática pedagógica atividades lúdicas, uma vez que
as mesmas acionam as esferas motoras e cognitivas, levando a criança a pensar, agir,
sentir, aprender e se desenvolver. Situações lúdicas, criadas pelo professor,
estimulam a aprendizagem.
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O lúdico apresenta dois elementos que o caracterizam: o prazer e o esforço


espontâneo. Ele é considerado prazeroso, devido a sua capacidade de
absorver o indivíduo de forma intensa e total, criando um clima de
entusiasmo. É este aspecto de envolvimento emocional que o torna uma
atividade com forte teor motivacional, capaz de gerar um estado de vibração
e euforia. Em virtude desta atmosfera de prazer dentro da qual se desenrola,
a ludicidade é portadora de um interesse intrínseco, canalizando as energias
no sentido de um esforço total para consecução de seu objetivo. Portanto, as
atividades lúdicas são excitantes, mas também requerem um esforço
voluntário. (...) As situações lúdicas mobilizam esquemas mentais. Sendo
uma atividade física e mental, a ludicidade aciona e ativa as funções psico-
neurológicas e as operações mentais, estimulando o pensamento. (...) As
atividades lúdicas integram as várias dimensões da personalidade: afetiva,
motora e cognitiva. Como atividade física e mental que mobiliza as funções e
operações, a ludicidade aciona as esferas motora e cognitiva, e à medida que
gera envolvimento emocional, apela para a esfera afetiva. Assim sendo, vê-
se que a atividade lúdica se assemelha à atividade artística, como um
elemento integrador dos vários aspectos da personalidade. O ser que brinca
e joga é, também, o ser que age, sente, pensa, aprende e se desenvolve.
(TEIXEIRA, 2017, p. 23).

Muitos autores têm se dedicado sobre a temática do lúdico, como forma de


novas perspectivas para a aprendizagem dos alunos, objetivando despertar dentro de
cada criança uma vontade de aprender.
Maluf (2016), também acredita ser esta uma forma de obter sucesso em sala
de aula e no convívio com colegas. Para a autora, as atividades lúdicas são
instrumentos de realização para o ser humano, pois colaboram para a concentração
dos alunos, o desenvolvimento de iniciativas e potencialidades. “O lúdico desperta
atenção e curiosidade não só na criança, como em qualquer ser humano, deixando-o
livre para aprender”. (MALUF, 2016, p.13)
Como se sabe, o aprender deve ser o foco principal da escola atual e, desta
forma o desenvolvimento da criança através de atividades lúdicas poderá ser ainda
mais facilitado se for levado em consideração que os elementos lúdicos integram
diferentes estruturas, como jogos, brincadeiras, cores, formas e música, como será
mostrado neste estudo.

4 A MÚSICA NA SALA DE AULA: DESPERTANDO O INTERESSE DAS CRIANÇAS

Historicamente desde o nascimento a criança emite sons, pois a maioria nasce


privilegiada com um grande instrumento musical que é a nossa voz. A criança está
em contato com o universo sonoro desde a sua formação, destaca Brito (2018, p.35)
que:
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[...] pois na fase intrauterina os bebês já convivem com um ambiente de sons


provocados pelo corpo da mãe, como o sangue que flui nas veias, a
respiração e a movimentação dos intestinos. A voz materna também constitui
material sonoro especial e referencia afetiva para eles.

Também conforme afirma Brito (2018), nos primórdios da humanidade, a


música era caracterizada somente com sons vocais, somente com o passar dos anos
foi que o homem se aprimorou e a música evoluiu, fazendo com que o homem
desenvolvesse instrumentos variados para acompanhar a voz.
A música é uma linguagem, assim pode ser expressa por meio de diversos
gêneros musicais tais como; música folclórica, popular, cristã, sertaneja, e de caráter
infantil, entre outras. Através da música podemos perceber costumes, distinguir
gostos, dialogar com a subjetividade.
Por definição, Bréscia (2018, p. 25) diz que a música é uma “combinação
harmoniosa e expressiva de sons é a arte de se exprimir por meio de sons, seguindo
regras variáveis conforme a época, a civilização etc.” Através dessa combinação
harmoniosa de sons, a música funciona como elemento de comunicação e
identificação dos povos. Decorre daí a sua função de transmissão cultural entre as
diversas gerações desses povos. Nesse sentido, a música tem um papel fundamental
na educação, pois serve como um elo na transmissão de conhecimentos acumulados
pelas gerações passadas.
Pode-se, assim, entender a música como um instrumento facilitador e
motivador no processo de formação da criança na alfabetização. Logo a música tem
um poder educativo quando aplicada com objetivos e planejamento. Quando
elaborada para um trabalho educativo, a música facilita a integração, a inclusão social
e o equilíbrio da criança. Segundo Bréscia (2018), o aprendizado de música, além de
favorecer o desenvolvimento afetivo da criança, amplia a atividade cerebral, melhora
o desempenho escolar dos alunos e contribui para integrar socialmente o indivíduo.

A construção do saber é um caminho continuo, assim quanto mais cedo for


estimulado, mais reflexos positivos terá na vida do ser humano. A música
possui grande importância no desenvolvimento da aprendizagem das
crianças. A música na alfabetização auxilia no desenvolvimento psicomotor,
contribui no processo de socialização e aproxima a criança da arte.
(GIGLIOLI, 2018, p.6)
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Por sua vez, a importância da música no processo educacional infantil está no


fato de que esta consegue, de certa forma, trabalhar a personalidade da criança, uma
vez que consegue promover na criança o desenvolvimento de hábitos, atitudes e
comportamentos que expressam sentimentos e emoções, como atesta Gainza (2017,
p. 95):

Em todo processo educativo confunde-se dois aspectos necessários e


complementares: por um lado à noção de desenvolvimento e crescimento (o
conceito atual de educação está intimamente ligado à ideia de
desenvolvimento); por outro, a noção de alegria, de prazer, num sentido
amplo. [...] Educar-se na música é crescer plenamente e com alegria.
Desenvolver sem dar alegria não é suficiente. Dar alegria sem desenvolver,
tampouco é educar.

O ensino a partir da inserção da música na alfabetização deve despertar o


interesse das crianças, pois a música precisa ser inserida de maneira adequada. O
professor deve analisar a música e definir a maneira de como ela será apresentada,
elencar os objetivos a serem alcançados e o que deve ser estimulado ao trabalhar a
canção, logo analisar os resultados obtidos. (GAINZA, 2017)
Os meios de comunicação têm um papel significativo na construção dos valores
culturais, dessa forma esses meios podem influenciar tanto de forma positiva quanto
negativa na construção dos saberes das crianças. Percebemos o quanto vem abrindo
cada vez mais espaço para a transmissão de imagens e sons que contrariam a nossa
cultura, deixando de lado os bons costumes e a boa conduta. (JORDÃO, 2019)
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) afirma que
a música é uma das formas importantes de expressão humana, o que por si justifica
sua presença no contexto da educação, (BRASIL, 1998, v3, p.45). Assim a música
desenvolve na educação um papel importante, tendo em vista que muitas crianças
ainda não dominam a fala, mas quando se trabalha a música dentro dos conteúdos
ela a associa ao que foi apresentado em sala.
De acordo com o RCNEI (1998), com a utilização da música no trabalho com
crianças o objetivo é desenvolver certas capacidades como: ouvir, perceber, e
discriminar eventos sonoros diversos, fontes sonoras e produções musicais,
aprendendo dessa maneira a brincar com a música, imitar, inventar e reproduzir
criações musicais, assim como aprender a explorar e identificar elementos da música
para se expressar interagir com os outros e ampliar seu conhecimento do mundo;
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perceber e expressar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio de


improvisações, composições e interpretações musicais.
Para Brito (2018), o trabalho com a música na escola já vem sendo
desenvolvido há muito tempo, contudo fazem-se necessárias algumas mudanças para
que esse ensino seja mais atrativo e eficiente. A música é uma das linguagens que o
aluno precisa conhecer, não só por suas características, mas por transmitir sensações
e auxiliar no raciocino lógico, nas diversas sensações, no desenvolvimento psíquico,
motor e afetivo.
Desta forma, pesquisadores da teoria das inteligências múltiplas, afirmam que
a habilidade musical é tão importante quanto à lógica matemática e a linguística por
auxiliar outros tipos de raciocínio. Nas escolas, a música não deve ser
necessariamente uma disciplina exclusiva. Ela pode integrar o ensino de outras
disciplinas como a de arte, por exemplo. (FERREIRA, 2020)

A música muitas vezes é vista apenas como forma de brincar, mas brincando
também se aprende. A música é riquíssima, quando se coloca a música certa
para o conteúdo adequado, os dois geram uma aprendizagem para o aluno,
pois é um meio gostoso de aprender. Ao trabalhar com a alfabetização se
obtém uma boa experiência, a utilização de diversos tipos de músicas infantis
pode ajudar na aplicação dos conteúdos. A música quando bem trabalhada
desenvolve o raciocínio, criatividade e outros dons e aptidões, por isso, deve-
se aproveitar esta tão rica atividade educacional dentro das salas de aula.
(FERREIRA, 2020, P. 19)

Brito (2018) ressalta que a música torna o ato de aprender mais agradável, visto
trazer à lembrança muito mais rápida aquilo que é de nosso interesse, portanto a
criança que convive com a música possui estímulos que favorecem em sua
aprendizagem, apresentando maior facilidade em absorver informações e
conseguindo trabalhar melhor as suas emoções.
É de conhecimento de todos diversas brincadeiras e jogos que utilizam a
música para divertir as crianças. Mas, quando se trata de musicalização na
alfabetização, existem diversas alternativas para explorar essa prática.
Um caminho muito conhecido, segundo Brito (2018), é a exploração de filmes
e desenhos musicais, que estão entre os programas de televisão e
de streaming preferidos das crianças. A maioria deles também podem ser educativos
e abordar assuntos variados, incluindo curiosidades sobre ciência, natureza, história
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e geografia, por exemplo. Há ainda que se ressaltar que esse tipo de conteúdo
abrange geralmente desde crianças menores até opções para os maiorzinhos.
Outra forma de inserção da música na alfabetização está em aulas como canto,
violão ou flauta, por exemplo, sendo uma maneira de instigar a criatividade e despertar
as habilidades dos pequenos para o mundo das artes. Algumas escolas podem incluir
esse tipo de aula na sua grade curricular, proporcionando um ensino integrado e
interdisciplinar da música na alfabetização igualmente vantajoso para os estudantes.
(FEREIRA, 2020)
Ainda conforme Ferreira (2020), em algumas instituições, as aulas de música
para crianças podem fazer parte de atividades extras e totalmente focadas em
potencializar o desenvolvimento dos pequenos e dos jovens.
Uma prática comum em muitas instituições de ensino está nas apresentações
culturais e artísticas, pois, assim como nos desenhos animados, as peças teatrais e
os shows musicais destinados a crianças possuem um caráter educativo muito
valioso. (BRITO, 2018)
Para Jordão (2019), as tradicionais cantigas de crianças, aquelas que vão
passando de geração em geração, não podem ser esquecidas. É importante explicar
que apesar deste tipo de cantiga não trazer nenhum conhecimento de mundo muito
significativo, são fundamentais para estimular a sensibilidade dos pequenos, fazendo-
os explorar o sentido das palavras e as sensações que cada vocabulário pode
despertar, por exemplo.
Assim, fica claro que a tarefa de ensinar é um desafio e a inserção da música
no processo de alfabetização também é, pois com tantas opções e incentivos dos
meios de comunicação necessita-se ter senso crítico e postura ética.
Para que a educação com musicalidade aconteça na prática, em especial no
processo de alfabetização, é preciso qualidade, eficiência, competência, diálogo e
afetividade para transformar sonhos em alegrias concretas. O processo de
ensino/aprendizagem requer o entendimento de que ensinar e aprender não significa
acumular informações memorizadas, mas sim fazer o aluno buscar novas alternativas,
fazer escolhas frente a novas situações apresentadas, sendo a música uma grande
estimuladora.
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5 CONCLUSÃO

O artigo que ora se encerra trouxe uma análise da necessidade de se inserir a


música nas salas de aula das classes de alfabetização, especialmente, reafirmando
que o mesmo se faz urgente, pois as crianças precisam ser estimuladas a aprender e
a adquirir conhecimentos múltiplos, e a música é uma excelente forma de estimular
as crianças, a aprender de forma divertida.
Como se viu no exposto até aqui, são muitos os benefícios da inclusão da
música no processo de alfabetização, visto que a educação lúdica desperta mais
interesse das crianças, ou seja, o aluno passa a participar mais, interagindo e
aprendendo, aguçando o processo cognitivo e benefícios na vida social e motora, e
até mesmo na preparação de adultos mais cidadãos e responsáveis para o mundo
moderno.
Desta feita, pode-se concluir e contemplar o objetivo principal deste estudo, no
que tange a inclusão de forma adequada e sistematizada da música no cotidiano
escolar no processo de alfabetização, pois, além da aquisição de conhecimentos, é
na escola que muitas vezes as crianças aprendem alguns preceitos básicos da vida,
como cidadania, respeito e a educação propriamente dita para com os outros, não
aquela que está nos livros, mas sim a que deve ser mostrada no dia-a-dia, como o ato
de cumprimentar os mais velhos, não xingar, respeitar as diferenças e demais,
podendo-se encontrar nas músicas muitos desses importantes ensinamentos.
Por se tratar de uma atividade interdisciplinar, a inserção da música no
processo de alfabetização apresenta vantagens que podem ser as mais diversas, de
acordo com a área na qual for aplicada.
A música melhora a sensibilidade, pois é uma forma de arte e de expressão
humana, ativando áreas do cérebro responsáveis por emoções negativas e positivas.
Assim, entrar em contato com este lado artístico na infância é um ótimo caminho
para ensinar as crianças a lidarem com os seus sentimentos e construírem sua
inteligência emocional. Além disso, por seu caráter lúdico, a música na alfabetização
é uma excelente ferramenta para estimular a criatividade. Principalmente por agrupar
melodias, versos carregados de manifestações culturais e até mesmo danças e
passos típicos, as composições promovem o contato mais próximo dos pequenos com
o restante do mundo à sua volta, despertando a curiosidade e a imaginação.
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No processo de aprendizagem, em especial na alfabetização, a música


fortalece a memorização, pois não é à toa que as musiquinhas que são aprendidas na
infância são lembradas pelo resto da vida.
Na esteira do raciocínio lógico, vê-se que, os matemáticos defendem que
a música no processo de ensino para crianças auxilia no desenvolvimento do
raciocínio lógico, uma vez que está ligada a uma contagem ritmada de tempo, a
harmonização de instrumentos e composições, a diferenciação de tons e semitons,
entre outros.
Outra grande vantagem e importância da inserção da música nesse período
escolar da criança está no letramento a partir dos seus padrões e artifícios próprios
de linguagem. Com isso, a criança tem a possibilidade de conhecer a comunicação
escrita de uma maneira mais natural e fluída, melhorando até o vocabulário e a dicção.
Por fim, diante do exposto até aqui, fica claro que a expressão musical, assim
como os estilos de aprendizagem, é construída social e culturalmente, se inseridos no
contexto escolar auxilia no processo de aprendizagem das crianças, despertando a
área afetiva, linguística e cognitiva. É necessário introduzir a música não só na
estrutura curricular, mas no cotidiano da sala de aula para que ela seja capaz de
transformar e ajudar alunos com necessidades especiais, motivando-o e fazendo com
ele se sinta capaz, e professor assim como toda comunidade escolar deve estar
disposto a mudar seus métodos de ensino e buscar se aprimorar visando um melhor
resultado no seu trabalho.
A musicalização é necessária na alfabetização, pois a criança aprende
brincando, mas infelizmente a realidade das escolas, quanto ao ensino de música
ainda é precária, e se acontece e de forma superficial, fazendo com que muitas
crianças percam o interesse por conteúdos que poderiam ser muito mais bem
desenvolvidos de forma lúdica e com a inserção da música.

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2015.

BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. 8. ed. São Paulo: Brasiliense,
2019.
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sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível
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