Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
As máquinas agrícolas são expostas a várias ações de elementos externos, de características
diversas e de comportamento variável. Tal característica requer atenção especial para o
desenvolvimento desses produtos, no qual o levantamento de informações claras sobre esses
elementos fornece critérios importantes para as tomadas de decisão. O objetivo deste artigo é
demonstrar a possibilidade de realizar esse processo de forma sistemática, gerenciável, para
que as informações obtidas possam ser rastreadas ao longo do projeto. A partir das
considerações gerais apresentadas para o processo de desenvolvimento de máquinas
agrícolas, a metodologia empregada para a pesquisa deste tema consiste na realização das
seguintes etapas: (a) o levantamento das diretrizes e dos requisitos de caráter geral para a
modelagem de processos; (b) a descrição da abordagem empregada para a modelagem e a
representação do processo; e, (c) a exibição da forma sugerida para a representação das
informações levantadas. Resulta, então, um modelo para o levantamento dos fatores de
influência no projeto da MA, que auxilia na definição dos pacotes de trabalho e das
informações do processo. Tais entregas, reunidas ao sistema de documentação do projeto,
poderão ser rastreadas e recuperadas ao longo do processo de desenvolvimento da MA.
1. Introdução
O caráter instável dos ambientes de operação, a quantidade de elementos desses ambientes, e
a variabilidade e/ou dispersão das propriedades desses elementos durante a execução das
tarefas, são considerações importantes a tomar em empreendendo o desenvolvimento de
máquinas agrícolas (RICHEY et al., 1961). Essas características fazem com que o projeto
desse tipo de máquina seja encarado como uma atividade cujo grau de desafio é diferenciado
no contexto da engenharia (KEPNER et al. 1972). Por isso, obrigam os projetistas à
consideração de vários fatores nas tomadas de decisão ao longo do desenvolvimento dessas
máquinas, de modo a garantir que o produto desenvolvido alcance o desempenho apropriado
às necessidades dos clientes. Tais características constituem um conjunto importante de
fatores de influência no projeto (CHRISTIANSON e ROHRBACH, 1986).
No processo de desenvolvimento de máquinas agrícolas (PDMA), eles são levantados
mediante análises sobre diferentes elementos, como parte do processo de coleta de
informações que definem linhas-guia para a atuação dos projetistas no desenvolvimento da
MA (ROMANO, 2003). As informações obtidas consistem em propriedades de elementos que
permeiam o ciclo de vida da MA como características dos ambientes em que esta se insere ao
longo desse processo. Esses ambientes guardam, então, elementos que interferem no
andamento do projeto quanto ao estabelecimento de características necessárias ao alcance da
satisfação dos clientes (MARINI et al., 2006a). Tais informações guardam um alto nível de
complexidade, e possuem importantes implicações sobre o andamento do desenvolvimento da
MA. Dessa forma, é fundamental que esse processo seja entendido de forma compartilhada
entre os agentes envolvidos, quanto ao gerenciamento das tarefas e à organização das
informações armazenadas, que devem ser recuperadas posteriormente.
VI CBGDP Belo Horizonte, MG, Brasil, 27 a 29 de agosto de 2007
Fatores de influência
Fatores de influência
na manufatura
no Projeto da
Máquina Agrícola
Envolvimento de
fornecedores
Necessidades Requisitos Requisitos Máquinas disponíveis Especificações Informações de Lições Aprovação das
dos clientes dos clientes de projeto no mercado de projeto segurança aprendidas especificações projeto
Metas de
dependabilidade Análise econômica
financeira
Custo meta
da máquina
Atualização do
Avaliação das plano do projeto
especificações
Figura 1 – Contexto do levantamento dos fatores de influência no projeto da MA. Fonte: Romano (2003).
Considerando que os fatores de influência no projeto, conforme descritos a priori, interferem
sobre o desempenho pretendido da MA, este trabalho tem o objetivo de demonstrar a
formalização dessa atividade, contextualizada no modelo de referência (MR-PDMA)
(ROMANO, 2003). Tal modelagem, servindo de marco referencial para as demais atividades
de desenvolvimento, serve em favor do entendimento da importância de se levantar tais
fatores, reconhecendo os prováveis obstáculos ao alcance das metas de satisfação dos clientes.
A partir dessa definição inicial, é possível interpretar a existência de quatro categorias básicas
de informações que compõem os fatores de influência: (1) exame do escopo do projeto da
MA; (2) avaliação das máquinas agrícolas existentes; (3) definição dos critérios de
homologação da MA; e, (4) levantamento de aspectos da operação executada pela MA
(MARINI et al., 2006b). Essa decomposição motivou à proposição de uma abordagem
descritiva da atividade. Cada elemento dessa abordagem corresponde a um nível de
decomposição hierárquica das informações que compõem o modelo de fatores de influência
no projeto. A decomposição do processo de levantamento dos fatores de influência progride
desde as categorias, passando pelas classes, até chegar ao nível de propriedade, que pode
conter descrições verbais ou medidas.
As classes tratam dos grupos de informações pertinentes a cada elemento que pertence a uma
dada categoria, e as propriedades correspondem às características individuais desses
elementos que, inicialmente descritas de forma qualitativa, podem ser desdobradas na forma
de especificações de projeto. Isso significa que a classe tem o propósito de caracterizar um
dado elemento em suas respectivas propriedades. Estas, por sua vez, são as unidades
elementares do modelo de levantamento dos fatores de influência no projeto.
4.2 Modelagem das informações
Por conta disso, a definição do modelo foi feita com o objetivo de exprimir claramente cada
característica individual do conjunto de fatores de influência, tanto na interpretação verbal da
definição quanto na contextualização de cada característica dentro do universo abordado.
Procurando atender a esses dois critérios, as descrições das classes e das propriedades foram
elaboradas segundo o formato do Quadro 1.
Quadro 1 – Representação básica das classes e das propriedades dos fatores de influência no projeto da MA.
Tendo em mente o caráter assertivo das atividades em coletar, levantar e descrever
características de vários elementos que influenciam no desempenho do projeto da MA no
mercado, as propriedades são constituídas de maneira que cada um delas é descrita na forma
de uma função. Dessa forma, estas constituem unidades elementares do processo de
levantamento dos fatores de influência. Tal abordagem cumpre os objetivos de caracterizar os
elementos de informação como tarefas básicas de um processo organizacional e de classificá-
los em uma ordem hierárquica quanto à afinidade, conforme abordado a priori. Entretanto,
enquanto descreve os elementos e os caracteriza quanto ao grau de afinidade das informações,
não trata das interdependências, quanto aos relacionamentos e aos papéis desempenhados.
Em razão da necessidade de conhecer esses relacionamentos, colaborando para a completeza,
torna-se fundamental adotar uma abordagem de processo que permita atingir os objetivos
relacionados ao alcance de uma representação consolidada. Tal representação constitui
requisito importante à configuração dos modelos de processo, na medida em que colabora
para cumprir a meta de obter interpretação única e compartilhada, conforme Vernadat (2004).
As propriedades foram modeladas como funções, que precisam ser modeladas não somente
quanto às interdependências, mas também quanto ao papel exercido por cada uma delas.
Dessa forma, as prescrições de modelagem e representação passam a ser atendidas por uma
plataforma cuja capacidade descritiva é maior e mais complexa.
VI CBGDP Belo Horizonte, MG, Brasil, 27 a 29 de agosto de 2007
Informação
Classe
pertinente ao
propriedade
Axx2
Quadro 2 – Representação funcional das classes e das propriedades dos fatores de influência no projeto da MA.
Tal abordagem possibilita descrever cada propriedade quanto às informações necessárias e os
respectivos papéis em seu levantamento, aos agentes diretamente envolvidos em relação ao
conhecimento necessário, às práticas empregadas para seu levantamento e aos resultados de
informação obtidos. Com esse recurso, conclui-se que passam a ser atendidos os requisitos de
definição das interdependências entre as informações e dos papéis dos entes envolvidos.
VI CBGDP Belo Horizonte, MG, Brasil, 27 a 29 de agosto de 2007
Figura 5 – Modelo de procedimento para o levantamento dos fatores de influência, por categoria.
Esse conjunto trata cada categoria como unidade de procedimento no diagrama de fluxo, em
que cada uma delas deve ter suas informações verificadas ao final do levantamento. Ao final
do processo, as informações são validadas em comparação com as diretrizes do projeto. Se
pertinentes, as informações são aprovadas e anexadas ao sistema de documentação do projeto,
procedimento com o qual o levantamento dos fatores de influência se dá por encerrado.
O segundo nível toma como elemento-base cada uma das classes que compõe uma categoria
de informação em particular. Sua representação é exibida na Figura 6, tomando como
exemplo a categoria de exame do escopo do projeto (A1).
Figura 6 – Modelo de procedimento para o levantamento dos fatores de influência, por classe.
Os elementos mostrados em uma mesma posição horizontal consistem em conjuntos de
informações que podem ser levantados simultaneamente, na presença de recursos humanos e
materiais que possibilitem tal tática. A proposição de ordem temporal das tarefas é baseada
nos resultados obtidos a partir das representações funcionais das classes, que demonstram a
interdependência entre as informações envolvidas. Ao final do levantamento da categoria, as
informações são verificadas e aprovadas de forma preliminar, sendo então registradas para
recuperação no procedimento de validação final dos fatores de influência. Só então, se
aprovadas e consolidadas, as informações serão anexadas ao sistema de documentação do
projeto, servindo de base para a definição de especificações de projeto.
VI CBGDP Belo Horizonte, MG, Brasil, 27 a 29 de agosto de 2007
5. Considerações Finais
Certamente não é tarefa simples levantar os fatores de influência no projeto, principalmente
pela complexidade do processo e pelos obstáculos colocados a partir da logística de busca de
informações. Também a estrutura e a abordagem do modelo proposto, conforme descritas
neste trabalho, podem vir a impor certo grau de desafio em sua interpretação e entendimento.
Apesar disso, sua utilidade em descrever as informações necessárias à caracterização dos
fatores de influência no projeto da máquina agrícola supera potenciais dificuldades que
podem surgir ao início de sua adoção. O alcance do entendimento compartilhado dessa
proposta pelos agentes envolvidos no projeto deve proporcionar vantagens significativas para
o alcance do sucesso no desenvolvimento de máquinas agrícolas.
Agradecimentos
Os autores agradecem aos Engenheiros Lucas Arend, Cledir Colling e Marcelino Knob, pelas
contribuições repassadas no interesse da realização deste trabalho.
Referências
ARAÚJO, C. S.; MENDES, L. A. G.; DE TOLEDO, L. B.; CUNHA, S. G. T. (2001) - Modeling the “AS-IS”
product development process: lessons learned from a practical experience in the aerospace industry. Product:
Management and Development, v. 1, n. 1, p. 69-78.
BERIO, G.; VERNADAT, F. (1999) - New developments in enterprise modeling using CIMOSA. Computers in
Industry, v. 40, p. 99-114.
CHRISTIANSON, L. L.; ROHRBACH, R. P. (1986) - Design in Agricultural Engineering. St. Joseph: ASAE
Press.
KEPNER, R. A.; BAINER, R. BARGER, E. L. (1972) - Principles of Farm Machinery. Connecticut: The Avi
Publishing Company.
MARINI, V. K.; ROMANO, L. N.; DALLMEYER, A. U. (2006a) - Conceitos Técnicos para a Modelagem dos
Fatores de Influência no Projeto de Máquinas Agrícolas. In: JORNADA DOS JOVENS PESQUISADORES DA
AUGM, 14, 2006. Anais... Campinas: Unicamp/Associação das Universidades do Grupo Montevidéo, 2006b.
MARINI, V. K.; ROMANO, L. N.; DALLMEYER, A. U. (2006b) - Considerações Fundamentais para a
Sistematização dos Fatores de Influência no Projeto da Máquina Agrícola. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
ENGENHARIA AGRÍCOLA, 35, 2006. Anais... João Pessoa: UF-Campina Grande/Sociedade Brasileira de
Engenharia Agrícola, CD-ROM: il.
MALMSTRÖM, J.; PIKOSZ, P.; MALMQVIST, J. (1999) - The complementary roles of IDEF0 and DSM for
the modeling of information management processes. Concurrent Engineering: Research and Applications, v. 07,
n. 2, p. 95-104.
MIALHE, L. G. (1996) - Máquinas Agrícolas: Ensaios e Certificação. Piracicaba, SP: Fundação de Estudos
Agrários Luiz de Queiroz.
PARK, H.; CUTKOSKY, M. R. (1999) – Framework for Modeling Dependencies in Collaborative Engineering
Processes. Research in Engineering Design, v. 11, p. 84-102.
RICHEY, C. B.; JACOBSON, P.; HALL, C. W. (1961) - Agricultural Engineers’ Handbook. New York:
McGraw-Hill.
ROMANO, L. N. (2003) - Modelo de Referência para o Processo de Desenvolvimento de Máquinas Agrícolas.
Tese (Doutorado em Engenharia Mecânica) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
VERNADAT, F.B. (2004) - Enterprise Modeling: Objectives, Constructs and Ontologies. In: CONFERENCE
ON ADVANCED INFORMATION SYSTEMS, 16, 2004. Proceedings… Riga: Riga Technical University,
2004. Disponível online em: http://www.cimosa.de/Modelling/Enterprise%20Modelling%20Tutorial.zip.
Acesso em 28 de abril de 2007.
ZAKARIAN, A.; KUSIAK, A. (2000) – Analysis of Process Models. IEEE Transactions on Electronics
Packaging Manufacturing, v. 23, n. 2, p. 137-147.