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Princípios Básicos e Aplicações da Morfometria

Vicente de Paula Antunes Teixeira, Sanívia Aparecida de Lima Pereira, Denise


Bertulucci Rocha Rodrigues, Ruy de Souza Lino Junior, Flávia Aparecida de
Oliveira, Eumenia Costa da Cunha Castro, Marlene Antônia dos Reis

Disciplinas de Patologia Geral da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba


(MG), do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP), da Universidade Federal de
Goiás (GO) e da Universidade de Uberaba. Uberaba (MG), Brasil
Editado em 15/05/2001 e Atualizado em 22/10/2005

1. Introdução
Desde a mais remota antigüidade, o homem vem desenvolvendo a sua habilidade
para reproduzir as formas encontradas na natureza. Para isso, ele teve que
desenvolver a capacidade de efetuar medidas relativamente seguras para ter
sucesso em suas construções. Paralelamente, as populações humanas primitivas
passaram a realizar medições astronômicas com finalidades religiosas e também
com finalidades agronômicas, para escolher as melhores épocas do ano para a
semeadura e colheita, bem como, para as construções de templos religiosos,
palácios e mesmo para as suas habitações domiciliares.
A tentativa mais recente de padronização dos pesos e medidas data da Revolução
Industrial, com a introdução na França do Sistema Métrico Decimal.

2. Conceitos
A quantificação nas ciências biomédicas tem como metas promover as medidas e a
objetividade para estabelecer o diagnóstico. A aplicação desses métodos possibilita
o aperfeiçoamento da capacidade de se estabelecer este diagnóstico e
freqüentemente, no campo da anatomia patológica, até mesmo o prognóstico.

Morfometria
A palavra Morfometria é formada pelo radical grego - morphé, que significa a
forma, associado ao radical grego - metrikós, ou do latim - metricu, que significa
ato de medir ou processo de estabelecer dimensões. Embora o termo tenha
aplicação ampla na ciência, o sentido em biomedicina, em última análise seria a
"Atividade de medir estruturas anatômicas".
Esse método tem por função tornar mais objetiva e precisa a coleta, a apresentação
e a análise dos resultados obtidos em pesquisas e na rotina de laboratório,
permitindo ainda se relacionar as diferentes estruturas anatômicas com as funções.

Alometria
É a mensuração e a descrição da dependência das sub-unidades estruturais ou
funcionais de um organismo, com o crescimento e a função de uma parte desse
organismo, ou desse ser vivo como um todo.

Estereologia
É o estudo das partes sólidas dos seres vivos. Além disso, torna possível a
determinação de parâmetros quantitativos tridimensionais de estruturas, a partir
de cortes bidimensionais, utilizando a geometria e a estatística.
3. Equipamentos e acessórios mais utilizados em Morfometria
A análise macro e microscópica devem ser precedidas pela calibragem das medidas
nos equipamentos e acessórios usados. Para isso, são utilizandos uma régua de
precisão ou a Lâmina Micrometrada. Essa lâmina geralmente está disponível com
um milímetro impresso, subdividido em 100 partes. Portanto, cada subdivisão é
equivalente a 10um.

a. Macroscopia
Os acessórios utilizados vão desde os mais simples, como por exemplo, a Régua e a
Fita métrica, até os mais sofisticados associados a computação gráfica. Utiliza-se a
morfometria na rotina em biomedicina, p.ex., a utilização da Balança
antropométrica convencional associada à Fita métrica permite que se faça o
cálculo do Índice de Massa Corporal, expresso em quilogramas por metro ao
quadrado, sendo um dos parâmetros para definir o estado nutricional de um
paciente. Outros equipamentos utilizados para medidas são, o Planímetro para
medidas de superfícies, o Paquímetro para medidas de espessura e profundidade, o
Parafuso milimetrado, utilizado para avaliação da espessura em tecidos de menor
densidade, ou edemaciados, o Plicômetro, para avaliação de tecido adiposo
subcutâneo, o Pelvímetro, para avaliação dos diâmetros dos ossos pélvicos, o
Transferidor, utilizado para medidas de ângulos.
Dentro do campo da Imagenologia, pode-se realizar a morfometria utilizando-se a
Ultrassonografia, a Tomografia Computadorizada e a Ressonância Magnética.
Um método que utiliza tanto recursos da macro quanto da microscopia é
a Projeção Digital de Imagens, no qual as imagens obtidas no microscópio de luz
ou eletrônico, podem ser projetadas e avaliadas "a olho nu", utilizando-se outros
"acessórios morfométricos", por exemplo, uma "matriz integradora de pontos".

b. Microscopia
A Ocular Integradora é um recurso freqüentemente utilizado. Ela pode ser
constituída por Pontos, Linhas ou outros elementos de identificação. O princípio de
utilização é a identificação da coincidência (sobreposição) dos pontos ou linhas da
ocular com determinada estrutura, objeto do estudo, por exemplo, determinadas
células, vasos, colágeno, etc. Pode ser substituída por uma Matriz de Pontos
colocada na tela de um monitor ligado a uma câmara de vídeo acoplada ao
microscópio. O seu uso ainda é atual, pois não há forma de substituição pela
morfometria computadorizada.
Outros recursos deste grupo seriam a Câmara-clara que pode ser acoplada ao
Microscópio de luz ou uma Lupa (microscópio estereoscópico), esse conjunto
permite o desenho do campo observado ao microscópio/lupa em uma folha de
papel ou uma mesa digitalizadora. A Ocular de Tambor, utilizada para mediar
diâmetros de estruturas, enquanto que a Ocular Quadriculada é utilizada para
avaliar áreas, p.ex., para avaliação da área ocupada por um exsudato inflamatório.
Embora esses recursos ainda sejam empregados, eles foram mais freqüentemente
utilizados antes do advento da morfometria computadorizada.

4. Morfometria computadorizada

a. Interativa - Os primeiros aparelhos que surgiram na década de 70, permitiam


apenas que as medidas fossem feitas com a participação direta do pesquisador
contornando as estruturas a serem medidas. Como exemplo desse tipo de aparelho
temos o MOP-videoplan e o KS100, ambos da Kontron-Zeiss.

b. Automática - Este tipo de morfometria foi disponibilizado em larga escala à


comunidade científica à partir do final da década de 80 e permite a medição
automática, mais rápida e com menor interação do pesquisador, inclusive com a
utilização de "Macros". Estas últimas são gravações da rotina do procedimento
morfométrico que agilizam ainda mais a coleta de dados. Os mais difundidos no
nosso meio são os da série KS300 ou superior, da Kontron-Zeiss, e os da série
Q500MC, da Leica.

5. Viés (Bias) e padronização de tamanho da amostra


Uma preocupação freqüente do pesquisador em morfometria é a possibilidade de
ocorrência de viés (bias) ou erros de observação que só podem ser excluídos com a
criteriosa escolha do preparado a ser analisado e da técnica conveniente de
morfometria. Quanto ao cálculo do tamanho da amostra já existem formas de
avaliação por meio de programas estatísticos ou preferencialmente por meio
do Cálculo da Média Acumulada, proposta por Williams (1977).

6. Armazenamento, Visualização e Editoração de Imagens


Há alguns anos atrás havia certa dificuldade de mídia com capacidade de espaço
suficiente para gravação de imagens, em decorrência do tamanho dos arquivos.
Isso vem sendo progressivamente resolvido com o advento de novos meios de
gravação, dentre eles, o disco ZIP, o CD gravável e o regravável.
Para a Visualização e Editoração de imagens existem vários programas
disponíveis, dentre eles, o Adobe Photoshop, ACDsee, PicaViewer e até mesmo o
editor de imagens do próprio KS.

7. Resumo
A morfometria, atividade de medir estruturas anatômicas em biomedicina, pode
ser efetuada utilizando-se desde técnicas mais simples, p.ex., o paquímetro, a fita
métrica, até aquelas mais sofisticadas, como a morfometria computadorizada.
Neste trabalho foram apresentados os acessórios e os equipamentos mais
utilizados, bem como, a descrição de algumas aplicações práticas. Entretanto,
deve-se salientar que o emprego da morfometria evidentemente não invalida as
consagradas técnicas de morfologia clássica, ou mesmo da análise qualitativa e
semi-quantitativa empregadas pelos morfologistas e patologistas. A finalidade das
técnicas de morfometria é de tornar mais objetiva e rápida a apresentação e a
tabulação dos resultados obtidos em pesquisas e mesmo na rotina diagnóstica. A
aplicação desta metodologia melhora a capacidade do patologista estabeler o
diagnóstico e freqüentemente até mesmo o prognóstico de alguns processos
patológicos estudados.

8. Agradecimentos
Os autores agradecem aos colegas da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) pelo estímulo constante ao "grupo de estudo em morfometria" da
Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba (MG). Agradecem
também aos funcionários da Disciplina de Patologia Geral da UFTM. Somos
imensamente gratos à atenção que o Sr. Alexsander Seixas de Souza, Especialista
em Análise de Imagens, tem dedicado às nossas consultas.
Esse trabalho recebeu auxílio financeiro da Fundação de Ensino e Pesquisa de
Uberaba (FUNEPU), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas
Gerais (FAPEMIG), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq).

9. Leitura Complementar
1.Abdalla GK, Silveira MR, Lazo JE. Guia rápido de utilização do software de
morfometria Image J.(http://www.fmtm.br/instpub/fmtm/discbiologiacelular/Guia
rapido de utilizacao do Image J.pdf). Acessado em 14/08/2004.
2. Adad SJ, Cancado CG, Etchebehere RM, Teixeira VPA, Gomes UA,
Chapadeiro E, Lopes ER. Neuron count reevaluation in the myenteric plexus of
chagasic megacolon after morphometric neuron analysis. Virchows Archives
438(3):254-258, 2001.
3. Busollo AC. Papel patogenético do estresse na lesão do miocárdio induzida
experimentalmente pelo empeçonhamento de abelhas africanizadas em ratos
Wistar: histomorfometria da lesão. Tese de Mestrado. Curso de Pós-graduação em
Patologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São
Paulo, 1998. 90p.
4. Caliari MV. Princípios de morfometria digital - KS300 para principiantes. Belo
Horizonte (MG). Editora UFMG, 1997.149p.
5. Doczi G. O poder dos limites - Harmonias proporções na natureza, arte e
arquitetura. Editora Mercuryo Ltda., São Paulo. 1990, 149p.
6. Cunha DF, Cunha SF, Ferreira TP, Sawan ZT, Rodrigues LS, Prata SP, Silva-
Vergara ML. Prolonged QTc intervals on the electrocardiograms of hospitalized
malnourished adults. Nutrition 17:370-372, 2001
7. Image Processing and Analysis in Java (Image J).
<http://rsb.info.nih.gov/ij/index.html>. Acesso em 12/08/2003.
8. Junqueira LCU, Bignolas G, Brentani RR. A simple and sensitive method for
the quantitative estimation of collagen. Analytical Biochemistry 94:96-99,1979a.
9. Junqueira LCU, Bignolas G, Brentani RR. Picrosirius staining plus polarization
microscopy, a specific method for collagen detection in tissue sections.
Histochemical Journal 11:447-455, 1979b.
10. Kitamura M, Shimizu M, Kita Y, Yoshio H, Ino H, Misawa K, Matsuyama T,
Mabushi H. Quantitative evaluation of the rate of myocardial interstitial fibrosis
using a personal computer. Japanese Circulation Journal 61: 781-786, 1997.
11. Lazo JE, Lopes ER, Rocha A, Ferreira MS, Teixeira VPA. Estudo
morfométrico de ninhos de amastigotas de Trypanosoma cruzi em indivíduo HIV+
com meningoencefalite chagásica necrosante focal. In: Anais do XXXIII Congresso
da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Belo Horizonte, MG, 1997. p75.
12. Lopes JDM. Quantificação do colágeno através de métodos
bioquímicos/biofísicos e morfométricos em fragmentos de miocárdio fixados ou a
fresco colhidos em necropsias. Tese de Mestrado. Curso de Pós-graduação em
Patologia da. Patologia) - Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, Uberaba,
Minas Gerais, 1999, 61p.
13. Mandarim-de-Lacerda CA. Manual de quantificação morfológica:
morfometria, alometria e estereologia. Rio de Janeiro, CEBIO, 1991, 98p.
14. Marchevscky AM, Bartels PH. Image analysis: a primer for pathologists.
Raven Press Ltd. New York, 1994, 356p.
15. Montes GS, Nicolelis MAL, Brentani-Samaia HP, Furuie SS. Collagen fibril
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16. Nicholson ML, McCulloch TA, Harper SJ, Wheatley TJ, Edwards CM,
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17. Pereira SAL, Rodrigues DBR, Piccioni DE, Reis MA, Teixeira VPA.
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14/08/2004.
18. Reis MA, Costa RS, Dantas M, Lazo J, Teixeira VPA. Métodos para
quantificação da fibrose intersticial como parâmetro prognóstico na evolução do
enxerto renal. http://www.fmtm.br/instpub/fmtm/patge/transrenal_0001.htm.
Acessado em 14/08/2004.
20. Teixeira VPA, Hial V, Gomes RAS, Castro ECC, Reis MG, Rodrigues MLP,
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21. Unverferth DV, Baker PB, Swift SE, Chaffee R, Fetters JK, Uretsky BF,
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22. Wied GL, Bartels PH, Bibbo M, Dytch HE. Image analysis in quantitative
cytopathology and histopathology. Human Pathology 20:549,1989.
23. Williams MA. Quantitative methods in biology. In: Pratical methods in
electron microscopy. Editted by Glaubert AM. Elsevier North-Holland Biomedical
Press. Amsterdam, The Nederlands, 1977, 233p.

Cursos de Princípios Básicos e Aplicações da Morfometria realizados à


partir do ano 2000

1. No Curso de Pós-graduação em Patologia da Faculdade de


Medicina do Triângulo Mineiro (FMTM), Uberaba, Minas Gerais,
no primeiro semestre de 2000.
2. No Curso de Pós-graduação em Patologia da Faculdade de
Medicina do Triângulo Mineiro (FMTM), Uberaba, Minas Gerais,
no segundo semestre de 2000.
3. No Curso de Pós-graduação em Patologia da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, Minas Gerais, em
Junho de 2001.
4. No Curso de Pós-graduação em Patologia da Faculdade de
Medicina do Triângulo Mineiro (FMTM), Uberaba, Minas Gerais,
no primeiro semestre de 2002.
5. No Curso de Pós-graduação em Patologia da Faculdade de
Medicina do Triângulo Mineiro (FMTM), Uberaba, Minas Gerais,
no segundo semestre de 2004.

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