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O PAPEL DAS OFICINAS TERAPÊUTICAS NOS CENTROS DE

ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ATUALMENTE: UMA REVISÃO


BIBLIOGRÁFICA

Diego da Silva1 - UFPR

Grupo de Trabalho – Educação e Direitos Humanos


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

O presente trabalho tem por objetivo analisar o papel das oficinas terapêuticas utilizadas
como recursos de tratamento para pacientes com transtornos mentais atendidos nos Centros de
Atenção Psicossocial na atualidade. Para tanto, foi realizado um levantamento bibliográfico
sistematizado de artigos sobre esta temática nas bases de dados Scielo e Pepsic, analisando
nestes artigos critérios como definição e objetivo das oficinas terapêuticas, público alvo,
profissionais envolvidos e avaliação dos profissionais sobre as oficinas terapêuticas. Dos 7
artigos encontrados, todos eles continham a definição, os objetivos das oficinas terapêuticas e
tinham como público alvo pacientes com transtornos mentais atendidos na rede substitutiva de
atenção a saúde mental. Apenas 4 deles apresentavam claramente os profissionais que
trabalharam nas oficinas terapêuticas, sendo o psicólogo o mais citado. Em relação à
avaliação feita pelos profissionais sobre as oficinas terapêuticas, evidenciou-se que a
aplicação das mesmas é positiva para o tratamento dos pacientes, entretanto, que elas devem
ter objetivos e recursos bem traçados, que exista um espaço para a construção coletiva das
mesmas e para que os pacientes não se tornem apenas reprodutores de estratégias impostas a
eles, mas sujeitos autônomos e ativos em suas vidas, com ampla interação com a sociedade e
comunidade. Durante a história da saúde mental no mundo e no Brasil houve negligencia no
tratamento destes pacientes e com a reforma psiquiátrica e construção do modelo substitutivo
de atenção à saúde mental, o tratamento psicossocial foi priorizado, assim como as oficinas

1
Possui graduação em Gestão de Recursos Humanos pela Faculdade de Tecnologia Camões (2008). Graduado
em Psicologia pela Faculdade de Administração, Ciências, Educação e Letras (2013). Especialista em
Arteterapia pelo Instituto Tecnológico e Educacional de Curitiba - ITECNE (2015). Atualmente é aluno de Pós-
Graduação em Psicologia da Saúde e Hospitalar pelas Faculdades Pequeno Príncipe (FPP). Mestrando em
Medicina Interna e Ciências da Saúde (Conceito CAPES 5) pela Universidade Federal do Paraná. Membro da
comissão de Psicologia Hospitalar do Conselho Regional de Psicologia do Paraná. Colaborador da pesquisa de
doutorado da psicóloga Cláudia Lúcia Menegatti, no Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do
Adolescente no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. Pesquisador do Ambulatório de
Dermatologia do Hospital de Clínicas da UFPR, com a pesquisa "Indicadores de Ansiedade, Depressão e
Qualidade de Vida em Mulheres com Melasma". Psicólogo clínico autônomo em consultório particular no
Centro de Curitiba, Paraná. Possui experiência em Psicologia Social, Políticas Públicas, Saúde Mental,
Psicologia Organizacional, Psicologia Clínica e Necessidades Especiais. Número de CRP/08: 20229. Email:
diedidiego@gmail.com.

ISSN 2176-1396
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terapêuticas. Pouco se tem publicado nas bases de dados sobre o assunto, desta forma faz-se
necessário que mais pesquisas e intervenções nesta área sejam realizadas para que a saúde
mental no Brasil receba, enfim, a prioridade e adequação negligenciadas pela História.

Palavras-chave: Oficinas Terapêuticas. CAPS. Reforma Psiquiátrica.

Introdução

O presente artigo tem por objetivo analisar o papel das oficinas terapêuticas utilizadas
como recursos de tratamento para pacientes com transtornos mentais atendidos nos Centros de
Atenção Psicossocial na atualidade. Para Dombi-Barbosa, Neto, Fonseca, Tavares e Reis,
(2009) o campo das ações dirigidas a pessoas com sofrimento psíquico intenso vem sofrendo
alterações desde o final da década de 70 quando surgiram os primeiros movimentos
reformistas. No Brasil, esses movimentos ao contestar a lógica segregadora do sistema
hospitalocêntrico vieram, mais tarde, propor e implementar os termos da Reforma Psiquiátrica
que se consubstanciou na lei 10.216/01. A Reforma Psiquiátrica, a favor do movimento de
reinauguração democrática, confluiu e atou-se ao processo da Reforma Sanitária. Foi no
âmbito desse cenário que surgiram os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), precedidos
antes por outros serviços como os Núcleos de Atenção Psicossociais (NAPS) e os Hospitais
Dia (HD). Atualmente, os CAPS se configuram como dispositivo estratégico para atenção
dirigida ao portador de sofrimento psíquico intenso e persistente, pautada nos princípios do
SUS, voltada à inclusão social e orientada por uma perspectiva de clínica ampliada de base
comunitária e territorial.
Segundo Torre e Amarante (2001) é possível perceber hoje no campo da saúde mental
no Brasil um expressivo processo de transformação do lugar do louco como ator social, como
sujeito político. Uma das faces desse processo refere-se à ampliação do conceito de "reforma
psiquiátrica". O objetivo é não reduzi-lo a um processo exclusivamente restrito a mudanças
administrativas ou técnicas dos serviços. Ou seja, procura-se construir um conceito de
reforma psiquiátrica que não seja sinônimo de reforma da assistência psiquiátrica, a exemplo
dos processos que ocorreram nos anos 60 e 70. A construção coletiva do protagonismo requer
a saída da condição de usuário-objeto e a criação de formas concretas que produzam um
usuário-ator, sujeito político. Isso vem ocorrendo através de inúmeras iniciativas de
reinvenção da cidadania.
De acordo com o Ministério da Saúde (2004) os CAPS devem contar com uma equipe
multiprofissional formada por psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, pedagogos,
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enfermeiros, terapeutas ocupacionais, entre outros. O primeiro Centro de Atenção


Psicossocial (CAPS) do Brasil foi inaugurado em março de 1986, na cidade de São Paulo:
Centro de Atenção Psicossocial Professor Luiz da Rocha Cerqueira, conhecido como CAPS
da Rua Itapeva. A criação desse CAPS e de tantos outros, com outros nomes e lugares, fez
parte de um intenso movimento social, inicialmente de trabalhadores de saúde mental, que
buscavam a melhoria da assistência no Brasil e denunciavam a situação precária dos hospitais
psiquiátricos, que ainda eram o único recurso destinado aos usuários portadores de transtornos
mentais.
Toledo (2004) coloca que outro aspecto bastante importante a ser considerado é o que
se refere à compreensão e abordagem das diferentes inserções institucionais dos sujeitos em
atendimento. Abre-se uma perspectiva de trabalho que além de considerar os vínculos com a
família, a escola e outros serviços de saúde e propor discussões que contemplem esses
contextos, institui a necessidade de uma discussão permanente de caráter intersetorial visando
a atenção integral, humanizada e de qualidade. Para Delfini, Dombi-Barbosa, Fonseca,
Tavares e Reis (2009) e Ronchi e Avellar (2010) é preconizado que o atendimento ao sujeito
que apresenta sofrimento psíquico possa encontrar respaldo numa rede articulada de serviços
de saúde. Nesse sentido, o CAPS é um dos equipamentos que, inserido no território e
articulado a todos os recursos disponíveis, deve buscar contribuir para a ampliação da
autonomia e inserção social da população.
O ministério da Saúde (2004) aponta que as práticas realizadas nos CAPS, de uma
forma geral, se caracterizam por ocorrerem em ambiente aberto, acolhedor e inserido na
cidade, no bairro. Os projetos desses serviços, muitas vezes, ultrapassam a própria estrutura
física, em busca da rede de suporte social, potencializadora de suas ações, preocupando-se
com o sujeito e sua singularidade, sua história, sua cultura e sua vida quotidiana. De acordo
com Scandolara, Rockembach, Scarbossa, Linke e Tonini (2009) estabelecer um novo olhar
dos profissionais a partir de uma mudança estrutural pode significar um avanço no cuidado
em saúde mental. Um cuidado que necessita de espaços terapêuticos diversificados, entre eles,
grupo de familiares, grupo de medicação, oficinas terapêuticas de criação, expressão e
produção, atendimento individual, visita domiciliar, assembleia de usuários, familiares e
equipe, busca de faltosos, reunião de equipe, atividades de integração com a comunidade,
entre outras.
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Método

Para a efetividade deste trabalho realizou-se um levantamento bibliográfico nas bases


de dados Scielo e Pepsic, durante o período de Abril a Agosto de 2013. Os artigos
pesquisados foram escolhidos a partir dos seguintes critérios: serem publicados a partir de
2002, ano de publicação da portaria que institui os CAPS. Os artigos a serem analisados
deveriam conter a definição de oficina terapêutica; caráter/ objetivo da oficina terapêutica
apresentada; quais profissionais estão envolvidos na oficina; público da oficina; avaliação dos
autores sobre a oficina. 7 artigos foram encontrados nas bases de dados mencionadas, desta
forma, os mesmos foram analisados. As palavras-chave utilizadas foram as seguintes:
“oficinas terapêuticas”.

Resultados

Os resultados das análises feitas nas publicações demonstraram que dos 7 artigos
analisados, todos eles apresentaram a definição de oficina terapêutica, inclusive com a
utilização de referenciais teóricos parecidos, como a Psicanálise. Em relação ao objetivo das
oficinas terapêuticas, 4 artigos de relatos de experiências apresentaram o objetivo de
trabalhos aplicados em instituições de saúde mental, com oficinas de teatro, de saúde, de
beleza, etc. 3 artigos não apresentaram o objetivo de oficinas terapêuticas especificas, pois
tratavam-se de artigos que discorriam sobre esta temática e sobre tratamentos de pacientes
com transtornos mentais de uma forma geral. Ainda assim, estes três artigos mencionaram a
importância de se ter um objetivo bem traçado na aplicação de oficinas terapêuticas com tais
pacientes.
Em relação aos profissionais que atuaram nas oficinas terapêuticas e que apareceram
nas publicações dos artigos, 4 trabalhos apresentaram claramente a profissão de psicólogo
como coordenador das oficinas terapêuticas. 2 trabalhos apresentaram que haviam
profissionais trabalhando nas oficinas terapêuticas, entretanto, não especificaram através de
nomenclaturas as profissões, limitando-se as palavras “técnicos” e “auxiliares”. 1 publicação
não deixa claro o profissional que atuou na oficina terapêutica, apenas deixando a entender
que tratava-se de um psicanalista. Sobre o público alvo das oficinas terapêuticas, os 7 artigos
analisados apresentaram que tratavam-se de pacientes com transtornos mentais atendidos pela
rede substitutiva de atenção à saúde mental.
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O último tópico analisado nos artigos referiu-se a avaliação que os autores fazem
sobre as oficinas terapêuticas de uma forma geral. Em 3 trabalhos, os autores colocam que as
oficinas terapêuticas são importantes e positivas para que o quadro biopsicossocial dos
pacientes melhore. 4 trabalhos apontam que as oficinas terapêuticas são importantes para o
tratamento dos pacientes com transtornos mentais, entretanto, algumas ressalvas são feitas,
como por exemplo, pensar com mais cuidado nas tecnologias desenvolvidas e empregadas
nos serviços substitutivos; construção das atividades coletivamente, sem técnicas prontas e
formatadas, para que não haja somente a reprodução de trabalhos impostos aos pacientes;
ações transformadoras de alcance público, em que o trabalho desempenhado nos serviços
substitutivos alcancem a comunidade, não limitando-se ao interior das instituições; entre
outros.

Discussão

Diante das análises realizadas no presente trabalho, cabe discutir o funcionamento das
oficinas terapêuticas e do tratamento dos pacientes atendidos na rede substitutiva de atenção a
saúde mental. Antes das oficinas terapêuticas começarem, os usuários participam da
assembleia. Segundo Bontempo (2009) o termo assembleia é usado para denominar o espaço
onde os pacientes inseridos na permanência-dia utilizam a palavra como instrumento de
expressão. Pode-se verificar que esse espaço de fala realmente coloca os indivíduos em ação,
ou seja, seus participantes são estimulados a produzir um sentido para as suas questões, suas
dificuldades, suas alegrias, suas tristezas, enfim, para a sua vida. Ronchi e Avellar (2010) os
familiares também devem ser atendidos pela equipe do CAPS. Os principais exemplos de
atendimentos prestados aos familiares são: grupo de mulheres, psicoterapia para os familiares,
atendimento familiar, grupo familiar, atendimento do serviço social à mãe, atendimento
psicológico familiar e atendimento psicológico à mãe.
Os CAPS têm, frequentemente, mais de um tipo de oficina terapêutica. Segundo o
Ministério da Saúde (2004) essas oficinas são atividades realizadas em grupo com a presença
e orientação de um ou mais profissionais, monitores e/ou estagiários. Elas realizam vários
tipos de atividades que podem ser definidas através do interesse dos usuários, das
possibilidades dos técnicos do serviço, das necessidades, tendo em vista a maior integração
social e familiar, a manifestação de sentimentos e problemas, o desenvolvimento de
habilidades corporais, a realização de atividades produtivas, o exercício coletivo da cidadania.
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De acordo com Cedraz e Dimenstein (2005) as oficinas terapêuticas são dispositivos


que representam catalisadores da produção psíquica dos sujeitos envolvidos, melhorando a
interação dos usuários com o meio social em que eles vivem, seja com a família, trabalho,
cultura, etc. Dessa maneira, as oficinas terapêuticas são a estratégia por meio da qual a
reabilitação psicossocial deve se realizar. As oficinas podem ser: expressivas (espaços de
expressão corporal, verbal, musical e artística), geradoras de renda (possibilitando o
aprendizado de atividades que podem servir como fonte de renda) ou de alfabetização
(destinada aos que não foram inseridos no mundo letrado). Mesmo sendo importante, a
simples existência de uma oficina, não garante o fato de ela estar produzindo novas formas de
vida. Para ela ser terapêutica é necessário conectar-se com uma dimensão distinta da que
habitualmente nos encontramos. Nesse sentido, considera-se que pensar nas oficinas deve
levar a uma reflexão acerca das conexões existentes entre a produção psicológica e a realidade
dos usuários.
Silva e Alencar (2009) apontam que a partir da reforma psiquiátrica, as oficinas
terapêuticas tornaram-se dispositivos obrigatórios para a estruturação dos Centros de Atenção
Psicossocial - CAPS e outros serviços em saúde mental. As oficinas terapêuticas possuem
uma função variável para cada usuário, ou seja, dependerá de como o paciente irá se
relacionar com o material oferecido pela oficina. Utilizando-se dos elementos que o paciente
traz, o profissional deve ter a capacidade de escutar e perceber o que ele está querendo dizer.
Há aqueles que podem se comunicar pela escrita, pela arte, pela identificação, entre outros. É
importante que os pacientes sejam concebidos como seres capazes, deslocando-os de uma
posição de deficitários, infantilizados, incapazes, para a de sujeitos responsáveis pelas
produções que realizam, sejam elas delírios, atos, obras ou outras. Tudo o que for produzido
pelo paciente poderá estar relacionado com o seu trabalho psíquico, e isto é mais importante
do que a aceitação social de sua produção, no sentido estético.
Segundo Mendonça (2005) no Brasil, na década de 40, Nise da Silveira, psiquiatra de
formação junguiana e herdeira da experiência bem-sucedida da terapia ocupacional, introduz,
no Rio de Janeiro, a arte-terapia. Para tanto, aplica técnicas elaboradas de fortalecimento e
expressão do Inconsciente em oficinas de expressão como pintura, escultura, música, dança e
trabalhos manuais, e em atividades recreativas - jogos, passeios, festas. Hoje, as oficinas
constituem-se em novas práticas, propostas de inserção social nos ambientes psiquiátricos,
num espaço de convivência, criação e reinvenção do cotidiano nessas instituições, pois, além
do tratamento clínico indispensável, o sujeito psicótico necessita ter reconstituído seu direito
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de criar, opinar, escolher, relacionar-se. A atividade artística enfatiza o processo construtivo e


a criação do novo através da produção de acontecimentos, experiências, ações, objetos,
reinventa o homem e o mundo.
Santos e Romagnoli (2012) colocam que a equipe multidisciplinar e todos os
profissionais que trabalham com saúde mental devem tomar cuidado para que as oficinas
terapêuticas não percam o caráter reabilitador, e, ao invés de criar espaços para que fluxos
inventivos circulem e promovam novas formas de se vivenciar a loucura, acabem por
aprisionar os loucos nas antigas grades dos manicômios. Não se pode trabalhar apenas com a
reprodução de formas prontas, mas propiciar um espaço de criação, invenção e protagonismo.
Silva, Detoni, Pinheiro, Pereira, Rocha, Magalhães, Valejo, Haacke e Oliveira, (2009)
realizaram um trabalho no Espírito Santo, em que fizeram oficinas com pacientes atendidos
pelos CAPS. As oficinas eram caracterizadas por um espaço de construção coletiva, aberto ao
debate, com utilização de diversos recursos tais como música, textos, argila, pintura, filmes, e
outros. As oficinas terapêuticas devem ter por objetivo, além da melhora clínica dos
pacientes, a estimulação da cidadania dos mesmos, com amplo protagonismo no que se refere
às lutas por melhores condições de educação, alimentação, moradia, trabalho, saúde, entre
outras e a instauração de correntes com diversos ambientes como parques, museus, teatros,
escolas, igrejas, serviços de saúde, etc.
Cruz e Fernandes (2012) fazem uma reflexão sobre as oficinas terapêuticas utilizadas
nos CAPS. As autoras apontam que as oficinas devem ter por objetivo dar maior expressão e
possibilidades de fala aos usuários através de pintura, costura, desenhos, entre outros. Em
contrapartida, se a oferta da fala aumenta, a oferta da escuta também precisa aumentar, sendo
assim, a equipe multidisciplinar que atende aos usuários tem que dar um destino específico a
cada uma destas falas que trazem problemáticas singulares de cada indivíduo. Não se pode
tratar apenas o que aparece de universal entre os pacientes. Muitos usuários, além da
intervenção medicamentosa, possuem apenas a participação nas oficinas terapêuticas como
forma de tratamento. Tais oficinas devem promover a convivência, a socialização e a
cidadania dos pacientes, entretanto, outros recursos devem ser empregados para que lhes seja
talvez possível um dia o usufruto, de fato, dessa convivência e desse meio social que estão
sendo-lhes ofertados pela dimensão política da reforma psiquiátrica.
De acordo com Juca, Lima e Nunes (2008) no contexto da reforma psiquiátrica, as
oficinas surgem como via de expressão e elaboração de ideias e afetos, como um espaço de
aprendizagem e como espaço de promoção de atividades culturais. As oficinas não
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necessariamente precisam ocorrer intramuros. Pelo contrário, é importante que algumas sejam
realizadas na comunidade e que possam integrar usuários e outros sujeitos que habitam o
mesmo território. É necessário produzir espaços de interação fundamentais para a função que
os CAPS buscam alcançar, com objetivos definidos e claros, e não somente acreditar que os
usuários têm se beneficiado das oficinas porque essas ocupam a mente com oficinas de
beleza, higiene, de música, de expressão corporal.

Considerações Finais

Conclui-se que as oficinas terapêuticas possuem funções importantes para que os


pacientes com transtornos mentais atendidos na rede substitutiva de atenção a saúde mental
recebam tratamento humanizado e adequado às demandas deste publico alvo, como prevê
parte dos objetivos da reforma psiquiátrica. As oficinas terapêuticas são mecanismos em que
os pacientes, através da manipulação de objetos, de recursos artísticos, artesanais, dinâmicas
de grupo, jogos, teatros, entre outros, e acima de tudo através da socialização com outros
pacientes podem trabalhar seus conteúdos emocionais, expressando-os. Além disso, devem
propiciar um espaço para autonomia, politização, cidadania, construção coletiva e
protagonismo dos pacientes. A equipe multiprofissional deve trabalhar com objetivos claros,
que podem englobar a melhor interação dos pacientes com sua família, também atendida, e a
relação com a comunidade. O espaço das oficinas terapêuticas precisa ter os objetivos bem
traçados, porque além de um momento de fala e voz para os pacientes com transtornos
mentais, as oficinas precisam fazer sentido para a realidade de cada um. Na presente pesquisa
evidenciou-se que poucas publicações em bases de dados sobre o assunto foram encontradas,
sendo assim, faz-se necessário que mais pesquisas e intervenções nesta área sejam realizadas
para que a saúde mental no Brasil receba, enfim, a prioridade e adequação negligenciadas pela
História.

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