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módulo
gramática professor
Abaurre • Pontara • Avelar

VERBOS: ESTRUTURA E
CONJUGAÇÃO
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

MARCOS AURéLIO

Cubo mágico com uma


estrofe de um poema de Ricardo Reis
(heterônimo de Fernando Pessoa). Cada verso é formado por
quadrinhos de mesma cor. Tente montar a estrofe do poema: no pri-
meiro verso há o verbo seguir; no segundo, o verbo regar; no terceiro, o
verbo amar; no quarto, o verbo ser; no quinto não há verbo.

1
CAPÍTULOs

A estrutura das formas verbais


2 As conjugações verbais

1 • 2 • 3 • 4 • 5 • 6 • 7 • 8 • 9 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 1
O verbo e
suas partes
Neste módulo, vamos abordar a classe de palavras que
possibilita localizar ações, processos, estados e fenômenos
da natureza no decurso do tempo: o verbo. Você irá
SA
conhecer os elementos que compõem as formas verbais
e as noções gramaticais que esses elementos expressam:
número, pessoa, tempo, modo, voz e aspecto.

PATINAR
Os paradigmas dos verbos regulares e irregulares
ocuparão grande parte dos nossos estudos. Lembre-se,

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


no entanto, de que é mais importante compreender bem
o papel desempenhado pelas diferentes formas verbais
na construção do sentido do que simplesmente
decorar a conjugação completa de todas
as formas do paradigma.

BALANÇA
Jorge Araújo/Folha Imagem

O ginasta brasileiro Mosiah Rodrigues em apresentação na mo-


dalidade cavalo com alças nos Jogos Pan-Americanos de 2007,
na cidade do Rio de Janeiro. Imagens menores, na ordem de cima
para baixo: atleta brasileiro Rafael Romano em prova de patina-
ção de velocidade nos Jogos Pan-Americanos de 2007; ginasta
Daiane dos Santos em apresentação no solo em 2004, na cidade
do Rio de Janeiro; ginasta em apresentação de solo de ginástica
artística nos Jogos Pan-Americanos de 2007.

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LTAR

a Imagem
Eduardo Knapp/Folh
R
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GIRAR /Folha Imagem


Felipe Varanda

AR Objetivos


Professor: Consulte o Plano de Aulas. As orientações pedagógicas e
sugestões didáticas vão facilitar o seu trabalho com os alunos.

Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de:


identificar os elementos que compõem a estrutura morfológica dos
olha Imagem

verbos e saber como as formas verbais são flexionadas;


■ caracterizar as noções gramaticais internas à estrutura do verbo;

■ identificar as formas nominais (infinitivo, gerúndio e particípio);


Eduardo Knapp/F

■ reconhecer os paradigmas regulares e irregulares das conjugações verbais.

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Capítulo


1 A estrutura das
formas verbais

1 Introdução
Observe a imagem apresentada a seguir e leia o texto que a acompanha.

Adrees Latif/Reuters/Latinstock

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Figura 1 • Foto publicada
na revista Veja, com o tex- A última foto
to “A última foto”, em 29
de dezembro de 2007.
Caído no chão, o fotógrafo japonês Kenji Nagai tenta erguer o braço segu-
rando seu bem mais precioso – a sua câmera. Acabou de levar um tiro do jo-
vem soldado de chinelos [figura 1]. A bala perfurou seu coração e ele morrerá
Glossário pouco depois. Morto, matador e manifestantes ao fundo protagonizaram sem
Carma. Nas religiões
saber uma cena impressionante, um flagrante perfeito da violência em Mianmar,
hinduísta e budista, a antiga Birmânia, um dos países mais fechados e repressivos do mundo. Os
lei que afirma a su- protestos de setembro [de 2007] foram liderados por monges budistas, que, de
bordinação humana
à causalidade moral,
repente, começaram a sair dos mosteiros e a tomar as ruas, num mar de mantos
de modo que toda vermelhos. (...) Entre monges de cabeça raspada e uma ditadura militar chefiada
ação (boa ou má) por generais sombrios e caquéticos, as simpatias evidentemente ficaram do lado
gera uma reação
que retorna com a
dos primeiros. Sem resultados. Os monges voltaram para os mosteiros e os ge-
mesma qualidade e nerais ganharam mais uma. Ficou para a posteridade a foto em que Nagai estava
intensidade a quem do lado errado da câmera e do fuzil. Mas o carma ruim é todo da outra parte.
a realizou, nesta en-
carnação ou futura. Veja. São Paulo: Abril, ed. 2041, n. 52, 29 dez. 2007. p. 86-87.

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1 Que elementos apontados no texto fazem parte da imagem?
O fotógrafo japonês Kenji Nagai caído no chão, erguendo sua máquina

fotográfica; o jovem soldado de chinelos; manifestantes ao fundo.

2 O texto é introduzido pela narração de um fato que apresenta um agora (corres-


pondente ao instante em que é retratado pela imagem), um antes e um depois.
Que eventos específicos caracterizam cada um desses instantes?
O agora diz respeito ao momento em que o fotógrafo se encontra caído no chão,

erguendo sua máquina fotográfica. O antes corresponde ao instante em que o

fotógrafo é baleado e tem o seu coração perfurado pela bala. E o depois é o

momento em que o fotógrafo morre.

3 Identifique o trecho do texto que revela o que acontece, ao final do conflito,


com as partes diretamente envolvidas nos protestos.
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“Os monges voltaram para os mosteiros e os generais ganharam mais uma.”

a) Que palavras desse trecho indicam que o conflito terminou?


As palavras voltaram e ganharam, que fazem referência a um fato concluído.

b) A que classe morfológica pertencem essas palavras?


Essas palavras pertencem à classe dos verbos.

O texto, que procura reproduzir o instante flagrado pela imagem, apresenta


ao leitor os detalhes que marcaram um fato de grande repercussão internacional
no ano de 2007: o assassinato de um fotógrafo japonês que tentava registrar as
imagens do conflito ocorrido em Mianmar. O instante registrado é apenas parte de
uma sequência de eventos expressa por enunciados que indicam os fatos ocorridos
imediatamente antes e depois da queda do fotógrafo.
Na apresentação dessa sequência, recorre-se a uma classe de palavras que tra-
zem em sua morfologia elementos gramaticais capazes de localizar os fatos em
diferentes pontos temporais: a classe dos verbos.
O emprego de formas verbais que fazem referência ao passado permite-nos iden-
tificar os fatos ocorridos imediatamente antes do instante retratado na fotografia:
Acabou de levar um tiro do jovem soldado de chinelos. A bala perfurou
seu coração (…)
O emprego de uma forma verbal no presente indica o instante capturado pela
imagem:
(...) o fotógrafo japonês Kenji Nagai tenta erguer o braço segurando seu
bem mais precioso – a sua câmera.
A fatalidade que se segue à queda do fotógrafo é apresentada ao leitor pelo em-
prego de uma forma verbal no futuro:
(...) ele morrerá pouco depois.

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Isto é essencial!

Verbo é a palavra que pode variar em número, pessoa, modo, tempo, voz e aspecto,
indicando ações, processos, estados, mudanças de estado e manifestações de fenô-
menos da natureza.

2 As partes do verbo
O verbo é formado por um radical associado a uma vogal temática, a uma desi-
nência (ou sufixo) modo-temporal e a uma desinência (ou sufixo) número-pessoal.
Observe.

A desinência (ou sufixo) mo-


A desinência (ou sufixo) nú-
do-temporal indica que o ver-
mero-pessoal indica que o
bo está flexionado no modo
verbo está flexionado na ter-
subjuntivo, no pretérito im-
ceira pessoa do plural.
perfeito.

trabalh-a-sse-m

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O radical verbal é o morfema
A vogal temática é o morfe-
portador de um conteúdo le-
ma gramatical que identifica
xical específico. É ele que tra-
a classe ou conjugação a que
duz o conteúdo semântico da
pertencem os verbos.
ação nomeada.

A estrutura morfológica do verbo pode, então, ser representada pela seguinte


fórmula:
V = R + VT + SMT + SNP
V corresponde ao verbo, R ao radical, VT à vogal temática, SMT ao sufixo ou
desinência modo-temporal e SNP ao sufixo ou desinência número-pessoal. A com-
binação do radical e da vogal temática recebe o nome de tema verbal.
O radical é de ocorrência obrigatória, enquanto os demais elementos podem
não aparecer em algumas das formas verbais (em trabalh-o, por exemplo, ocorrem
apenas o radical e o sufixo número-pessoal de primeira pessoa do singular, ficando
vazias as demais posições morfológicas).
A vogal temática indica a qual conjugação uma determinada forma verbal pertence.
■ Primeira conjugação: vogal temática -a- (falar, amar, jogar, digitar, enrolar).

■ Segunda conjugação: vogal temática -e- (beber, ver, nascer, trazer, viver).

■ Terceira conjugação: vogal temática -i- (partir, vir, fugir, exigir, rir).

É preciso distinguir as formas verbais rizotônicas das arrizotônicas. Nas rizotô-


nicas, a sílaba tônica recai no radical, como na forma trabalh-as; nas arrizotônicas, a
sílaba tônica recai na terminação do verbo, fora do radical, como em trabalh-a-rá.

O verbo pôr e seus derivados


O verbo pôr é considerado de segunda conjugação, embora não apresente a vogal te-
mática -e-. Em um estágio anterior da língua, essa vogal temática manifestava-se no in-
finitivo do verbo, cuja forma era poer. Na evolução dessa palavra, do latim ao português
atual, a vogal foi eliminada por um processo fonológico que afetou a forma do verbo (ponere >
põer >poer >pôr). Ela se manifesta, no entanto, em várias outras formas do verbo pôr,
como pus-e-mos, pus-e-ra, pus-e-ssem etc.

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3 Flexões verbais
Os verbos variam em número, pessoa, modo, tempo, voz e aspecto. Conhece-
remos, a seguir, cada uma dessas categorias.

3.1 Número
O verbo pode ocorrer no singular, quando se refere a uma só pessoa ou coisa,
ou no plural, quando a referência se estende a mais de uma pessoa ou coisa. Em
um enunciado como O rapaz trabalha, por exemplo, a forma verbal (trabalha)
ocorre no singular porque se refere a uma só pessoa (o rapaz); já no enunciado Os
rapazes trabalham, o verbo é flexionado no plural (trabalham) porque a referência
envolve mais de uma pessoa (os rapazes).

3.2 Pessoa
As pessoas do discurso também se encontram marcadas nas formas verbais. Dize-
mos que a forma está na primeira pessoa quando faz referência àquele que fala (eu
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trabalho, nós trabalhamos); na segunda pessoa quando se refere àquele com quem
se fala (tu trabalhas, vós trabalhais); e na terceira pessoa quando a referência é feita
àquele de quem (ou àquilo de que) se fala (ele/ela trabalha, eles/elas trabalham).
Na maioria das variedades do português do Brasil, a segunda pessoa discursiva é
indicada pela forma pronominal você(s), e não por tu/vós. Também encontramos alter-
nância no uso das formas nós e a gente para a expressão da primeira pessoa no plural.
Ambos os fatos têm consequências gramaticais importantes, pois as estruturas verbais
que se associam às formas você e a gente são realizadas na terceira pessoa do singular.
Assim, em lugar de Nós trabalhamos e Tu trabalhas, é comum encontrar constru-
ções do tipo A gente trabalha e Você trabalha. Apesar de, nesses casos, o verbo ser
realizado na forma de terceira pessoa, a referência continua a ser feita respectiva-
mente à primeira pessoa e à segunda pessoa do discurso.

Vós: uma forma em desuso

Laerte

Figura 2. LAERTE. Piratas do Tietê. Folha de S.Paulo, São Paulo, 24 out. 1999.

É cada vez menos frequente o uso das formas verbais de segunda pessoa do plural na
fala e escrita cotidianas. Como denota afastamento e respeito por parte do interlocutor, a
segunda pessoa do plural costuma ser associada a contextos muito formais. Na tira acima
(figura 2), Hugo dirige-se a Deus e, nesse caso, escolhe a maneira mais formal possível de
expressar respeito por seu interlocutor: flexiona os verbos na segunda pessoa do plural
(fazeis, sabeis, dizei).

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3.3 Modo
Os modos verbais, que se manifestam nas formas do indicativo, do subjuntivo e do
imperativo, indicam a atitude do falante em relação ao conteúdo de seus enunciados.
■ No modo indicativo, o conteúdo do enunciado é tomado como certo pelo falante.

Meus filhos comem frutas e bebem leite todos os dias. Por isso serão adultos
saudáveis.
■ No modo subjuntivo, o conteúdo do enunciado é tomado, pelo falante, como
duvidoso, hipotético, incerto.
Espero que você traga o material que eu pedi. Eu ficaria agradecido se você me
ajudasse a terminar os exercícios de matemática. Quando eu concluir os exercícios,
mostrarei ao professor.
■ No modo imperativo, o conteúdo do enunciado expressa uma atitude de man-
do, conselho, súplica.
Arrume imediatamente o seu quarto. Não deixe a roupa espalhada pelo chão.

3.4 Tempo

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Tomando-se como ponto de referência o momento da enunciação (ou seja, o
momento em que se fala), os fatos expressos pelo verbo podem pertencer ao pre-
sente, ao passado e ao futuro.
■ A forma verbal apresenta a flexão do presente quando indica um fato associado
ao momento da enunciação.
Estudo bastante.
■ A flexão do passado ou pretérito é usada quando a forma verbal expressa um
fato anterior ao momento da enunciação.
Estudei bastante / Estudava bastante.
■ A flexão do futuro aponta para um fato cujo momento de ocorrência é poste-
rior ao da enunciação.
Estudarei bastante / Estudaria bastante.
Observe o texto apresentado a seguir.
Orlandeli/Diário da Região

Figura 3. ORLANDELI. Disponível em: <http://orlandeli.com.br/principalw.htm>. Acesso em: 13 dez. 2007.

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No texto, verbos flexionados no passado, no presente e no futuro, associados Professor: O paradigma
de todos os tempos ver-
às três pessoas do discurso, são usados para elaborar uma crítica à falta de inves- bais dos modos indica-
timentos em educação. tivo e subjuntivo (além
Há uma relação de causa e efeito entre os fatos apresentados nos diferentes das formas do imperati-
vo) será apresentado no
tempos: os fatos do presente podem ser interpretados como uma consequência de próximo capítulo. As cir-
fatos do passado; por sua vez, os fatos do futuro são uma consequência daqueles cunstâncias em que es-
ses tempos verbais são
que se estabelecem no presente. Considerando as ações da primeira pessoa do dis- normalmente emprega-
curso, seria possível reescrever essa dinâmica da seguinte forma: dos serão abordadas no
módulo Formas verbais
Eu não estudei. Por causa disso, eu depredo, me drogo e agrido. Em consequência simples e perifrásticas:
emprego e sentido.
desses meus atos, eu sofrerei no futuro.
O evidente tom de crítica transparece nas ações associadas à terceira pessoa do
discurso, representada pelo pronome eles, os únicos que não sofrem as consequên­
cias negativas do mal que, no passado, poderiam ter evitado:
Eles não investiram em educação, eles não investem em educação, eles se elegerão.

3.5 Voz
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A voz verbal indica a relação entre o fato expresso pelo verbo e o sujeito sin-
tático da frase. Considera-se, normalmente, que o português apresenta três vozes
verbais: a ativa, a passiva e a reflexiva.

Voz ativa e voz passiva


Em termos semânticos, a diferença entre a voz ativa e a voz passiva é que, na
voz passiva, o sujeito sintático é necessariamente o paciente de uma ação expres-
sa pelo verbo, condição que não se observa na voz ativa.
Nos exemplos a seguir, a ação expressa pelo verbo assassinar tem Caim
como agente e Abel como paciente. Na construção (a), em que o sujeito sin-
tático é o agente, dizemos que o verbo está na voz ativa; na construção (b),
em que o sujeito sintático é o paciente, dizemos que o verbo está na voz
passiva. Note que, na construção passiva, o agente é introduzido pela prepo-
sição por.

(a) Caim assassinou Abel. (b) Abel foi assassinado por Caim.

agente paciente paciente agente

voz ativa voz passiva

Em termos sintáticos, é importante observar que o objeto direto da constru-


ção na voz ativa passa a funcionar como o sujeito da construção na voz passiva.
Portanto apenas os verbos transitivos diretos, que pedem um objeto direto como
complemento, podem ocorrer na voz passiva.
É comum que o termo interpretado como agente seja omitido na construção
passiva. Observe o quadrinho a seguir.

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CHAPRATTE
Figura 4. CHAPRATTE. Veja. São Paulo: Abril, ed. 2041, n. 52, 29 dez. 2007. p. 117.

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O quadrinho faz referência ao mesmo evento apresentado na introdução do capítu-
lo: o conflito entre monges e militares ocorrido em Mianmar, em setembro de 2007 (fi-
gura 1). Há uma ironia no anúncio que o soldado faz aos monges: eles serão atacados
se não recorrerem à violência – quando o esperado seria exatamente o contrário.
Em seu aviso, o soldado emprega a voz passiva:
Atenção! A não violência não será tolerada!
O elemento a ser interpretado como agente do “ato” de tolerar não é realizado
na construção, embora ele possa ser identificado sem dificuldades. Esse agente
poderia ser expresso por meio de um sintagma introduzido pela preposição por:
A não violência não será tolerada pelos militares.
A ocultação do agente contribui para que a não violência (que corresponde
ao sujeito sintático da construção passiva) acabe por adquirir mais destaque do
que os agentes da intolerância, ou seja, os membros da junta militar que governa
Mianmar.

Dois tipos de voz passiva: analítica e sintética


A voz passiva pode ser expressa nas formas analítica ou sintética.
Na forma analítica, que corresponde ao exemplo do quadrinho de Chapratte
(figura 4), a expressão se dá por meio de uma locução verbal composta pelo verbo
ser seguido do particípio de uma forma verbal:
O carro foi comprado.
Alguns livros da biblioteca foram roubados.
Na forma sintética, também denominada pronominal, a voz é construída pelo
acréscimo do pronome pessoal se, na função de partícula apassivadora, a uma for-
ma verbal de terceira pessoa, como nos exemplos a seguir:
Comprou-se o carro.
Roubaram-se alguns livros da biblioteca.

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Voz reflexiva
Na voz reflexiva, o sujeito é agente e paciente do fato expresso pelo verbo. A
ação verbal origina-se no sujeito do verbo e sobre ele se reflete:
Depois das denúncias de corrupção, o prefeito demitiu-se de suas funções.

3.6 Aspecto
O aspecto designa a duração de um fato expresso pelo verbo ou a maneira pela
qual o falante considera esse fato no decorrer de sua extensão temporal. Por meio
do aspecto, indica-se se uma ação está no início ou em curso, se é algo já concluí-
do, se produz efeitos permanentes etc.
Uma distinção relacionada a essa noção gramatical diz respeito aos contrastes entre
o aspecto inconcluso e o aspecto concluso, observados entre os tempos do pretérito.
Diz-se que a forma do pretérito imperfeito do indicativo indica o aspecto in-
concluso, por permitir a expressão dos fatos sem que os mesmos sejam apresenta-
dos como concluídos, acabados:
Enquanto o marido lavava louça, a esposa varria a casa.
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Em oposição, o pretérito perfeito indica o aspecto concluso, com os fatos


expressos por esta forma verbal sendo apresentados como totalmente terminados
em algum ponto do passado:
Depois que o marido lavou a louça, a esposa varreu a casa.
Professor: No capítulo
Por mostrar o aspecto inconcluso, as formas no pretérito imperfeito do sobre as perífrases ver-
indicativo costumam ser empregadas para expressar fatos passados que se bais, outras distinções
apresentam como contínuos ou frequentes (hábitos, rotinas, repetições etc.). aspectuais do portu-
guês serão tratadas.
Observe a tira.

Fernando Gonsales

Figura 5. GONSALES, Fernando. Níquel Náusea. Folha de S.Paulo, São Paulo, 16 jan. 2008.

No primeiro quadrinho da tira, o marido recorre a uma forma verbal no


pretérito imperfeito do indicativo para apontar uma ação habitual da esposa
no passado:

Minha mulher vivia reclamando dos meus pelos pela casa!

Em seguida, formas no pretérito perfeito expressam uma ação consumada:

Mas eu resolvi o problema! Comprei um cachorro!

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Professor: As noções O humor está no fato de que as reclamações provavelmente se manterão habi-
de aspecto concluso e
inconcluso serão abor- tuais no presente, já que o marido fez a mulher se ocupar dos pelos do cachorro,
dadas novamente no em lugar de evitar que os próprios pelos se espalhassem pela casa.
capítulo 2 deste módulo,
que se ocupa do empre-
go e sentido dos tempos
e modos verbais.
4 As formas nominais
As formas verbais denominadas infinitivo (estudar), gerúndio (estudando) e par-
ticípio (estudado) exercem funções que são típicas dos nomes. São, por isso, cha-
madas de formas nominais.

4.1 Infinitivo
O infinitivo pode ser flexionado e não flexionado.
■ O flexionado apresenta a desinência número-pessoal.

O professor ensinou os alunos a resolverem os exercícios mais difíceis.


■ Quando essa desinência não está presente, o infinitivo é não flexionado.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


O professor ensinou os alunos a resolver os exercícios mais difíceis.
O infinitivo tem valor equivalente ao de um substantivo. Observe a peça publi-
citária reproduzida a seguir.

Daniel Beltrá/Greenpeace
( ) Preservar as florestas
( ) Não comprar madeira de desmatamento
( ) Economizar água

Mudanças climáticas:
Aproveite que você ainda tem escolha.

Figura 6. Superinteressante. São Paulo: Abril, ed. 247, 15 dez. 2007. p. 99.

12
Na imagem, um cenário desmatado, seco e quase sem vida (observe o animal à
beira do que resta de um lago ou de um rio) aparece como uma alternativa ao lado
de três possibilidades de escolha expressas por meio de formas no infinitivo:

Preservar as florestas, não comprar madeira de desmatamento, economizar


água.

Note que os infinitivos são correlatos a formas substantivas com o mesmo radi-
cal: preservação das florestas, compra de madeira, economia de água.

4.2 Gerúndio
Como não apresenta variação de flexão, dizemos que o gerúndio é uma forma
invariável: estudando, lendo, dormindo etc.
Normalmente, o gerúndio apresenta valor de advérbio ou de adjetivo:
O menino quebrou a perna jogando bola.
(jogando bola = quando / no momento em que jogava bola)
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Na tira a seguir, formas verbais no gerúndio são empregadas para traduzir


o conteúdo dos latidos de um cão: carro passando, cachorro latindo, ladrão pu-
lando, galho mexendo. Nesses casos, o gerúndio atua como um modificador do
substantivo a que se associa e, por isso, equivale a um adjetivo. O efeito de humor
decorre do fato de o cão não fazer distinção entre um acontecimento grave (ladrão
pulando o muro) e outros eventos corriqueiros.

Laerte

Figura 7. LAERTE. Piratas do Tietê. Folha de S.Paulo, São Paulo, 21 jun. 2005.

13
4.3 Particípio
O particípio tem valor equivalente ao de um adjetivo:
Os trabalhos feitos a lápis não serão aceitos; Qualquer livro deve ser lido cri-
ticamente.
Observe a propaganda a seguir.

CGCOM

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


Figura 8. Época. São Paulo: Globo, n. 212, 10 jun. 2002.

Nessa propaganda, os particípios (usada, rasgada, suada, amassada, amada) fo-


ram utilizados para qualificar a camisa da seleção brasileira. Na mesma propagan-
da, os gerúndios (ganhando, perdendo) têm valor claramente adverbial (quando se
ganha, quando se perde).
O particípio concorda em gênero e número com o substantivo, o que não
acontece com o gerúndio. Na tira a seguir, a forma de particípio do verbo re-
provar aparece no masculino singular por concordar com o substantivo negócio:
Reprovado esse negócio (...). Já a forma de particípio do verbo mover apresenta as
marcas de feminino e plural por concordar com o substantivo renas: (...) renas
movidas a álcool.
Fernando Gonsales

Figura 9. GONSALES, Fernando. Níquel Náusea. Folha de S.Paulo, São Paulo, 17 jan. 2008.

14
Exercícios dos conceitos
O texto serve de base para as questões 1 e 2.

Passando batom
A mão alva, de dedos longos e unhas bem cuidadas, mergulha na bolsa
de couro cru. Tateia em seu interior, provocando ruídos roucos, abafados, e
depois um tilintar de chaves. Tateia um pouco mais. Agora, sim. Encontrou.
A mão retorna à superfície, os dedos finos surgindo das entranhas da bolsa
de couro e carregando o pequeno objeto procurado. É um objeto cilíndrico,
forrado de tecido brilhante, adamascado. Pouco maior que seu dedo. Agora,
ela o segura com as duas mãos, fazendo uma pequena pressão, abre a tampa.
É um estojo, um estojo diminuto, que guarda outro objeto cilíndrico, de me-
tal prateado: um batom. A tampa do pequeno estojo tem em seu interior um
espelho mínimo, retangular, capaz de enquadrar em sua superfície apenas a
imagem de uma boca, mais nada. (...)
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Com a mão direita, os dedos em pinça, tira de dentro do estojo o batom


prateado. Destampa-o, torcendo-lhe a base e fazendo surgir, num movi-
mento ascendente, a matéria vermelha. O olhar volta a fixar-se no espelho.
Os lábios se preparam para receber a tintura cor de sangue, esticando-se
sobre os dentes. Ela pinta primeiro o lado esquerdo, depois o direito e em
seguida une o lábios para depois soltá-los, como num beijo.
Um beijo.
SEIXAS, Heloísa. Contos mínimos.
Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 21-22.

1 No texto, há vários verbos no presente.


a) Identifique-os.
Mergulha, tateia (duas ocorrências), retorna, é, segura, abre, guarda, tem, tira,

destampa-o, volta (a fixar-se), (se) preparam, pinta, une.

b) Qual é o efeito de sentido produzido, no texto, pela apresentação dos fatos


narrados nesse tempo verbal?
O efeito de sentido produzido pela escolha das formas verbais no tempo presente

é aproximar do momento de enunciação os fatos já ocorridos. O narrador, ao

fazer esse uso dos verbos, traz a ação para o presente, criando no leitor a sensação

de que os fatos narrados ocorrem no momento em que estão sendo relatados.

2 No título, outra forma verbal foi utilizada.


a) Que forma verbal é essa e como ela se classifica?
A forma verbal utilizada é o gerúndio passando.

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b) Considerando o texto, por que essa forma verbal foi utilizada?
Para dar a ideia de uma ação em processo, descrita em detalhes ao longo do

texto: uma mulher que passa batom.

A tira a seguir serve de base para as questões 3 e 4.

Laerte
LAERTE. Deus segundo Laerte. São Paulo: Olho d’Água, 2002. p. 27.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


3 No segundo quadrinho, Deus faz uma sugestão a Santo Expedito, conhecido
entre os devotos como o santo das causas impossíveis.
a) Que sugestão é essa e por que é feita?
Deus sugere a Santo Expedito que repasse a outros santos alguns dos pedidos

urgentes feitos a ele, já que não são de sua “alçada”. Os pedidos sobre dívidas

deveriam ser encaminhados a Santa Edwiges, a “responsável” por essas

questões; os que dizem respeito a casamentos deveriam ser encaminhados

a Santo Antônio, conhecido como o “casamenteiro”.

b) Qual é o termo utilizado por Deus para fazer essa sugestão? Como esse termo
é formado?
O termo é a forma verbal terceirizar, criada a partir do acréscimo do sufixo de

infinitivo -izar ao vocábulo terceiro.

c) Qual é o significado desse termo?


O termo significa atribuir a outra pessoa, um terceiro, alguma tarefa.

4 Ao receber a sugestão, Santo Expedito propõe outra solução, utilizando o termo


primeirizar.
a) O que esse termo significa no contexto da tira?
No contexto da tira, o termo significa passar para Deus os pedidos urgentes

que Santo Expedito recebeu.

16
b) Qual é o raciocínio feito pelo santo para criar esse novo verbo?
Santo Expedito cria o verbo por analogia ao que foi usado por Deus (terceirizar).

Em lugar de passar os pedidos a terceiros (no caso, outros santos como ele),

prefere atribuí-los à pessoa mais indicada no contexto: Deus, que seria o “primeiro”

em ordem de importância em questões “milagrosas”. Daí, “primeirizar”.

A tira a seguir serve de base para responder às questões 5 e 6.

Edgar Vasques
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

VASQUES, Edgar. Rango. Porto Alegre: L&PM, 2005. p.15.

5 A tira apresentada faz uma crítica a uma séria questão social do nosso país.
a) Que questão é essa? Explique.
A tira faz referência ao fato de muitos menores serem abandonados por seus

pais em consequência da miséria em que se encontram.

b) Na estrutura linguística utilizada, quem sofre a ação expressa pela forma ver-
bal? Justifique sua resposta.
Como se trata de uma estrutura de voz passiva, quem sofre a ação expressa

pelo verbo é o “menor”, que é abandonado pelo “maior”.

c) Abandonado é uma forma verbal. Identifique-a.


Abandonado é o particípio passado do verbo abandonar.

6 O termo maior está determinado por outro. De que maneira isso revela a inten-
sificação da crítica de Edgar Vasques a essa mazela social?
O termo maior determinado por abandonado intensifica a crítica de Vasques.

Sugere que os pais dos menores que vivem nas ruas já sofreram o abandono, sem

uma estrutura familiar, social ou governamental que cuidasse deles. Adultos,

continuam em situação precária, o que explicaria o fato de terem abandonado

seus filhos, por não terem condições de sustentá-los.

17
Retomada dos conceitos Professor: Consulte o Banco de Questões e incentive
os alunos a usar o Simulador de Testes.

Leia o texto, escrito em meados da década de 1970 pelo médico Mozart Tavares de
Lima Filho, da Escola Paulista de Medicina, e responda à questão 1.

Com os medicamentos disponíveis é possível curar praticamente todos


os casos de tuberculose. Entretanto, a longa duração do tratamento, a ne-
cessidade do emprego de vários medicamentos em associação e o seu uso
contínuo fazem com que a terapêutica seja pouco prática.
As pesquisas atuais vão em dois sentidos: um, a duração, e outro, o emprego
intermitente de drogas. Os resultados obtidos até agora são animadores. (...)
A elevação da resistência geral do paciente constituiu, até poucos anos, a
base do tratamento da tuberculose. Aconselhava-se o repouso absoluto no
leito durante as 24 horas, aliado à superalimentação.
Embora o repouso continue a ser fundamental, a maneira de encará-lo
mudou bastante. Indica-se um repouso relativo, permitindo que o paciente
deixe o leito para sua toilette. Além disso, é essencial o repouso psíquico,

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


procurando iniciar a psicoterapia e a reabilitação do paciente desde o início
do tratamento. A duração desse repouso dependerá do tipo de lesão e da
constituição psicossomática do paciente, havendo tendência cada vez maior
à sua redução.
No que se refere à alimentação, aconselha-se uma dieta balanceada, de
acordo com as necessidades energéticas do paciente. Em caso de anorexia,
raramente há necessidade de medicação especial, pois com o uso da iso-
niazida verifica-se rápido retorno do apetite. A antiga superalimentação é
condenada.
(Atualização terapêutica)

1 (Vunesp) No fragmento, há um distanciamento do enunciador, que se traduz


pelo emprego constante da voz passiva sintética, na qual aparece a palavra se.
Com base nessa constatação, reescreva o último período do texto, passando-o
para esse tipo de voz passiva. Explique por que razão o recurso de distancia-
mento é usado nesse texto.
“Condena-se a antiga superalimentação.” O recurso do distanciamento é utilizado

no texto para garantir a objetividade e a impessoalidade no que se refere à

discussão do assunto tratado.

2 (Uerj)

Os aliados não querem romper o namoro com FHC – querem é na-


morar mais.
Veja, 18 ago. 1999.

A comparação entre as palavras sublinhadas demonstra que o significado geral


de “expressar ação” não é suficiente para identificar o verbo como classe grama-
tical, já que namoro consta do dicionário como “ato de namorar”.

18
Para diferenciar o verbo do substantivo, por exemplo, seria necessário considerar,
O que caracteriza os
além do sentido de ação, a seguinte característica que só os verbos possuem: verbos é o fato de
serem flexionados
a) terminação em r ; c) presença indispensável à frase; em tempo, modo e
b) flexão de tempo, modo e pessoa; d) anteposição de um substantivo. pessoa.

3 Na tira, o ordenhador constata que perdeu sua função.

Laerte
LAERTE. Classificados. São Paulo: Devir, 2001. p. 5.
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

a) Que estrutura linguística ele utiliza para indicar esse fato? Por quê?
A estrutura utilizada é uma oração na voz passiva: “Fui substituído por uma

máquina”. Nessa estrutura, o ordenhador deixa claro que sofre a ação expressa

pelo verbo substituir, perdendo, portanto, sua função para uma máquina.

b) O humor da tira está no fato de, no segundo quadrinho, a vaca constatar que
sofreu a mesma ação. Nesse caso, quem é o agente da “substituição”?
O agente da substituição é o clone. Há, na fala da vaca, a elipse da locução

verbal fui substituída. Sendo assim, por um clone é o agente da passiva.

4 (Enem)

Narizinho correu os olhos pela assistência. Não podia haver nada mais
curioso. Besourinhos de fraque e flores na lapela conversavam com baratinhas
de mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas douradas, verdes e azuis falavam
mal das vespas de cintura fina – achando que era exagero usarem coletes
tão apertados. Sardinhas aos centos criticavam os cuidados excessivos que as
borboletas de toucados de gaze tinham com o pó das suas asas. Mamangavas
de ferrões amarrados para não morderem. E canários cantando, e beija-flores
beijando flores, e camarões camaronando, e caranguejos caranguejando, tudo
que é pequenino e não morde, pequeninando e não mordendo.
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo: Brasiliense, 1947.

No último período do trecho, há uma série de verbos no gerúndio que contri-


buem para caracterizar o ambiente fantástico descrito. Expressões como “cama-
ronando”, “caranguejando” e “pequeninando e não mordendo” criam, principal-
mente, efeitos de:
a) esvaziamento de sentido. d) interrupção dos movimentos.
b) monotonia do ambiente. e) dinamicidade do cenário.
c) estaticidade dos animais.
Os verbos no gerúndio, por indicarem ações em processo, dão um efeito dinâmico ao cenário.

19
5 (UFPA, adaptada)

Música para o cérebro


O sinal de alerta foi dado pela lista dos mais vendidos. Um CD com
músicas de Mozart chegou recentemente ao topo dos clássicos tanto na
revista Billboard quanto no site comercial Amazon (loja virtual da inter-
net). Como não havia nenhum apelo aparente para o modismo – trilha
sonora de filme, por exemplo –, investigou-se a fundo o fenômeno. E,
segundo a explicação mais aceita, a resposta estaria no estranho, mas
agradável efeito causado por certas músicas do compositor austríaco no
cérebro dos ouvintes. O ritmo mozartiano, segundo alguns pesquisa-
dores, interfere positivamente na forma como os neurônios se comuni-
cam, embora ninguém saiba ainda exatamente a razão de tal fenômeno.
Mesmo sendo polêmica, a teoria mais considerada no meio científico
argumenta que as ondas cerebrais se parecem muito com a música bar-
roca. Daí, o efeito de “turbinamento” no poder cerebral, comprovado por
testes de Q.I. feitos logo depois que o sujeito escuta Mozart.
GODOY, N. IstoÉ, n. 1574, p. 106.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


Os propósitos de comunicação do autor o levaram a expressar a ideia inicial de
seu texto por meio de uma frase na voz passiva: “O sinal de alerta foi dado pela
lista dos mais vendidos”. Se o autor tivesse escolhido a voz ativa para expressar
sua ideia, como teria construído sua frase?
A frase seria: “A lista dos mais vendidos deu o sinal de alerta”.

Na voz passiva, a for­ 6 (Mackenzie-SP) Transpondo a frase “uma espécie de soluço que produz no ani-
ma verbal produz de­
ve ser transposta para
mal comportamentos estranhos e sofrimento” para a voz passiva, a forma verbal
são produzidos. destacada acima corresponde a:
a) “são produzidos”. d) “estão produzidos”.
b) “é produzido”. e) “havia sido produzido”.
c) “foram produzidos”.

7 (UFRJ, adaptada)

Rios sem discurso


(...)
Em situação de poço, a água equivale
A uma palavra em situação dicionária:
Isolada, estanque no poço dela mesma,
E porque assim estanque, estancada;
(...)
João Cabral de Melo Neto. Antologia poética.

Na qualificação progressiva da palavra água, feita pela primeira estrofe, dá-se a


alteração de estanque para estancada.
Essa alteração expressa uma nova noção a partir do seguinte recurso gramatical:
a) flexão de gênero. c) complemento do nome “palavra”.
b) emprego de estrutura passiva. d) correção da concordância nominal.
A forma estancada equivale à locução verbal (foi) estancada, isto é, sofreu a ação de ser parada. Temos uma
estrutura de voz passiva, em que o sujeito água sofre a ação expressa pelo verbo.
20

Capítulo


2 As conjugações
verbais

1 Introdução
Analise o diálogo entre Calvin e Haroldo nos quadrinhos a seguir e responda
às questões 1 e 2.

1993 Watterson/Dist. by Atlantic


Syndication/Universal Press Syndicate
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 1. WATTERSON, Bill. Felino selvagem psicopata homicida. v. 1. São Paulo: Best News, 1996. p. 53.

1 No primeiro quadrinho, Calvin diz que gosta de “verbificar” as palavras. Para o


menino, o que significa verbificar?
Para Calvin, verbificar significa transformar nomes (substantivos ou adjetivos)

em verbos.

2 Há, na tira, um exemplo de “verbificação” feita por Calvin. Identifique o termo


“verbificado”.
O termo “verbificado” por Calvin é esquisita: “Verbificar esquisita a língua”.

3 Explique a origem do termo que foi “verbificado” por Calvin e identifique a fun-
ção que ele costuma desempenhar na língua.
Calvin “verbificou” o adjetivo esquisito, transformando-o em um verbo da primeira

conjugação (esquisitar). Usualmente, o adjetivo atua na qualificação de substantivos.

Na fala de Calvin, significa a ação de tornar estranhas as palavras.

21
Professor: Embora o au- Leia o texto para responder às questões 4 a 6.
tor do texto tenha pro-
movido a transformação
de vários substantivos (...) No café esquinado de varanda vidrada, cafezei o leite, açucarei com
em verbos da primeira comedimento, xicarei a boca cuidadosamente para não bolhar a língua. Em
conjugação, os verbos
vidrar, açucarar e arvo- seguida voltei a jornalar-me, confortável, cadeirado no assento de palhinha.
rar já existem com os Por meia hora letrinhei-me, mastigando torradas geleadas. Aí, cartão-de-
sentidos utilizados por
ele. Por esse motivo, não -creditei a despesa toda e porteei, calçadei, seguindo para casa pela rua agra-
consideramos as ocor- davelmente arvorada.
rências desses verbos
nas respostas previstas RODRIGUES, Sérgio. Enquanto cafezo o leite. What língua is esta?; estrangeirismos,
para algumas das ques- neologismos, lulismos e outros modismos. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005. p. 60. (Fragmento.)
tões propostas.

4 O autor do texto parece levar adiante a proposta de Calvin. Explique como isso
ocorre.
No texto, há vários substantivos que foram “verbificados”: esquina, vidro, café,

xícara, bolha, jornal, cadeira, letra, geleia, cartão de crédito, porta, calçada. Por meio

da transformação desses substantivos em verbos, Sérgio Rodrigues descreve uma

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


série de ações associadas ao ato de tomar um café enquanto lê um jornal.

Professor: Espera-se que 5 No último quadrinho, Calvin afirma: “Verbificar esquisita a língua”. Considerando o
os alunos concordem
com a opinião de Calvin,
texto de Sérgio Rodrigues, você concorda com a personagem Calvin? Por quê?
porque o efeito obtido Resposta pessoal.
por Sérgio Rodrigues, em
seu texto, é o de tornar
estranho o modo de des-
crever vários comporta-
mentos triviais (misturar
o café com o leite, adoçar
a bebida, levar a xícara à
boca com cuidado para
não se queimar, ler o
jornal sentado em uma
cadeira de palha, masti-
6 Sérgio Rodrigues escreveu o texto seguinte para ilustrar sua opinião.
gar torradas com geleia,
pagar a despesa com (...) pode ser questão de gosto, mas essa tendência contemporânea
cartão de crédito, voltar
para casa por uma rua de tascar um ar em substantivos à mão cheia, para transformá-los em
arborizada). verbos, sempre me soou a desmazelo, desapreço pela língua. Claro que o
idioma é e deve ser maleável, e que os falantes se apropriam dele, ótimo.
Mas não vamos esquecer outros valores fundamentais como sonoridade
e senso de ridículo, senão ninguém aguenta.
RODRIGUES, Sérgio. Enquanto cafezo o leite. What língua is esta?;
estrangeirismos, neologismos, lulismos e outros modismos.
Rio de Janeiro: Ediouro, 2005. p. 60. (Fragmento.)

a) Qual é o efeito gramatical de “tascar um -ar em substantivos”? Ou seja, que


tipo de derivação é provocado por esse procedimento?
O acréscimo do sufixo -ar a substantivos cria novos verbos na língua. Foi assim,

por exemplo, que o substantivo acesso, referido por Calvin, foi transformado no

verbo acessar.

22
b) No texto de Sérgio Rodrigues, além de acrescentar o -ar aos substantivos, ele
precisa submeter os termos “verbificados” a outro processo para que possam
nomear as ações desejadas. Que processo é esse?
Depois de “verbificados”, os verbos são flexionados de acordo com o

paradigma da conjugação a que pertencem. Como o sufixo utilizado para

criá-los foi -ar, todos os “novos” verbos são conjugados de acordo com o

paradigma da primeira conjugação.

c) Por que, como falantes, não temos dificuldade em reconhecer os processos


de derivação presentes no texto, por mais estranhos que os “novos” verbos
possam parecer? Justifique com exemplos do texto.
Como falantes, sabemos o paradigma da primeira conjugação verbal e, por isso,

somos capazes de reconhecer o sentido das formas flexionadas dos tempos

“verbificados”. São particípios verbais os termos esquinado, cadeirado e


Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

geleadas. As formas cafezei, xicarei, letrinhei-me, cartão-de-creditei, porteei e

calçadei são flexões dos verbos no pretérito perfeito do indicativo. Finalmente,

bolhar e jornalar-me são formas do infinitivo verbal.

Tanto a tira de Calvin como o texto de Sérgio Rodrigues, por meio de exemplos
inusitados, nos fazem reconhecer que, como falantes, temos um conhecimento in-
tuitivo das estruturas características das formas verbais. Desde crianças, aprendemos
e internalizamos os paradigmas regulares das conjugações verbais. Por esse motivo,
conseguimos atribuir sentido às formas flexionadas das palavras “verbificadas”.

lembre-se!
Paradigma é um modelo, um exemplo que serve como padrão para outras ocorrências.
Em termos gramaticais, o termo paradigma refere-se a um conjunto de formas vocabu-
lares que servem de modelo para um sistema de flexão ou de derivação.

2 Classificação dos verbos


Quanto ao comportamento em relação ao paradigma de sua conjugação, os ver-
bos são classificados em regulares, irregulares, anômalos, defectivos e abundantes.
Os regulares seguem rigorosamente o paradigma de sua conjugação (amar,
beber, partir etc). Correspondem à maior parte dos verbos.
Os irregulares não obedecem ao paradigma de sua conjugação, apresentando irre-
gularidades no radical e/ou nas desinências (trazer, caber, fazer, fugir etc.). Quando essas
irregularidades alteram completamente, ou quase completamente, os radicais, diz-se que
os verbos são anômalos (ser, ter, ir, vir, estar). O verbo pôr é também considerado anô-
malo da segunda conjugação, por não apresentar a vogal temática -e- no infinitivo.

23
Os defectivos não se conjugam em todas as formas previstas pelo paradigma (abo-
lir, falir, precaver etc.). Entre os defectivos estão incluídos os impessoais, usados apenas
na terceira pessoa do singular (chover, ventar etc.), e os unipessoais, que apresentam
apenas sujeitos na terceira pessoa do singular ou do plural (acontecer, ocorrer etc.).
Os abundantes apresentam duas ou mais formas para o particípio (aceitar,
salvar, prender etc.).

3 Formação dos tempos simples


Professor: Os quadros Para entender a formação dos tempos simples regulares, é preciso distinguir os
apresentados a seguir,
relativos à formação
tempos primitivos dos tempos derivados.
dos tempos verbais,
baseiam-se no paradig- Isto é essencial!
ma de conjugação dos
verbos regulares. Os tempos primitivos correspondem às formas do presente do indicativo, do preté-
rito perfeito do indicativo e do infinitivo impessoal. A partir de seus radicais ou temas
são formados os tempos derivados, que abrangem todos os demais tempos e formas
nominais dos verbos.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


3.1 Tempos derivados do presente do indicativo
São formados do radical do presente do indicativo: o pretérito imperfeito do indi-
cativo, o presente do subjuntivo, o imperativo afirmativo e o imperativo negativo.

Pretérito imperfeito do indicativo


Ao radical do presente do indicativo acrescentam-se:
■ Na primeira conjugação, as desinências -ava, -avas, -ava, -ávamos, -áveis, -avam,
que consistem da vogal temática -a- + sufixo modo-temporal -va- + sufixos
número-pessoais.
■ Na segunda e terceira conjugações, as desinências -ia, -ias, -ia, -íamos, -íeis,
-iam, que são constituídas da vogal temática -i- + sufixo modo-temporal -a- +
sufixos número-pessoais.
■ Na segunda conjugação, a vogal temática -e- passa a -i- antes da vogal -a- do
sufixo modo-temporal. Identifica-se, assim, com a vogal temática da terceira
conjugação.

Formação do pretérito imperfeito do indicativo


Origem Radical do presente do indicativo: cant-, bat-, part-
Primeira conjugação Segunda conjugação Terceira conjugação
Eu cant- ava bat- ia part- ia
Tu cant- avas bat- ias part- ias
Ele(a) cant- ava bat- ia part- ia
Nós cant- ávamos bat- íamos part- íamos
Vós cant- áveis bat- íeis part- íeis
Eles(as) cant- avam bat- iam part- iam

24
Presente do subjuntivo
Para formar esse tempo, toma-se o radical da primeira pessoa do singular do
presente do indicativo e substitui-se a desinência -o pelas flexões do presente do
subjuntivo, que são:
■ Na primeira conjugação, -e, -es, -e, -emos, -eis, -em (sufixo modo-temporal -e- +
sufixos número-pessoais).
■ Na segunda e terceira conjugações, -a, -as, -a, -amos, -ais, -am (sufixo modo-
-temporal -a- + sufixos número-pessoais).

Formação do presente do subjuntivo


Origem Primeira pessoa do singular do presente do indicativo: cant- o, bat- o, part- o
Primeira conjugação Segunda conjugação Terceira conjugação
Eu cant- e bat- a part- a
Tu cant- es bat- as part- as
Ele(a) cant- e bat- a part- a
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Nós cant- emos bat- amos part- amos


Vós cant- eis bat- ais part- ais
Eles(as) cant- em bat- am part- am

Imperativo afirmativo
Esse tempo possui apenas formas próprias na segunda pessoa do singular e na
segunda pessoa do plural.
■ A segunda pessoa do singular e a segunda pessoa do plural do imperativo afirma-
tivo são formadas, respectivamente, da segunda pessoa do singular e da segunda
pessoa do plural do presente do indicativo com a supressão da desinência -s.
■ As demais pessoas do imperativo afirmativo (excetuando-se a primeira pessoa,
que não é usada nesse tempo) são as próprias formas do presente do subjuntivo
com o pronome posposto.

Formação do imperativo afirmativo


Origem Primeira conjugação Segunda conjugação Terceira conjugação

Segunda pessoa (singular canta (tu) bate (tu) parte (tu)


e plural) do presente do
indicativo menos -s final:
canta- s, bate- s, parte- s
cantai- s, batei- s, parti- s cantai (vós) batei (vós) parti (vós)

Imperativo negativo
Com exceção da primeira pessoa do singular, que não é usada no imperativo,
as formas usadas com sentido de imperativo negativo são as próprias formas do
presente do subjuntivo, usadas com o pronome posposto.

25
3.2 Tempos derivados do pretérito perfeito
do indicativo
São formados do tema (radical + vogal temática) do pretérito perfeito do indi-
cativo: o pretérito mais-que-perfeito do indicativo, o pretérito imperfeito do sub-
juntivo e o futuro do subjuntivo.
O tema do pretérito perfeito do indicativo corresponde à forma da segunda
pessoa do singular (cantaste) sem o sufixo número-pessoal (-ste): canta-.

Pretérito mais-que-perfeito do indicativo


Para sua formação, acrescentam-se as desinências -ra, -ras, -ra, -ramos, -reis,
-ram (sufixo modo-temporal -ra- + sufixos número-pessoais) ao tema do pretérito
perfeito do indicativo.

Formação do pretérito mais-que-perfeito do indicativo


Origem Radical do pretérito perfeito do indicativo + vogal temática (tema): canta-, bate-, parti-
Primeira conjugação Segunda conjugação Terceira conjugação

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


Eu canta- ra bate- ra parti- ra
Tu canta- ras bate- ras parti- ras
Ele(a) canta- ra bate- ra parti- ra
Nós cantá- ramos batê- ramos partí- ramos
Vós cantá- reis batê- reis partí- reis
Eles(as) canta- ram bate- ram parti- ram

Pretérito imperfeito do subjuntivo


É formado pelo acréscimo das desinências -sse, -sses, -sse, -ssemos, -sseis, -ssem
(sufixo modo-temporal -sse- + sufixos número-pessoais) ao tema do pretérito per-
feito do indicativo.

Formação do pretérito imperfeito do subjuntivo


Origem Radical do pretérito perfeito do indicativo + vogal temática (tema): canta-, bate-, parti-
Primeira conjugação Segunda conjugação Terceira conjugação
Eu canta- sse bate- sse parti- sse
Tu canta- sses bate- sses parti- sses
Ele(a) canta- sse bate- sse parti- sse
Nós cantá- ssemos batê- ssemos partí- ssemos
Vós cantá- sseis batê- sseis partí- sseis
Eles(as) canta- ssem bate- ssem parti- ssem

Futuro do subjuntivo
Na sua formação, acrescentam-se as desinências -r, -res, -r, -rmos, -rdes, -rem
(que correspondem ao sufixo modo-temporal -r- + sufixos número-pessoais) ao
tema do pretérito perfeito do indicativo.

26
Formação do futuro do subjuntivo
Origem Radical do pretérito perfeito do indicativo + vogal temática (tema): canta-, bate-, parti-
Primeira conjugação Segunda conjugação Terceira conjugação
Eu canta- r bate- r parti- r
Tu canta- res bate- res parti- res
Ele(a) canta- r bate- r parti- r
Nós canta- rmos bate- rmos parti- rmos
Vós canta- rdes bate- rdes parti- rdes
Eles(as) canta- rem bate- rem parti- rem

3.3 Tempos derivados do infinitivo impessoal


São formados a partir da forma completa (radical + vogal temática + sufixo) do
infinitivo impessoal: o futuro do presente do indicativo, o futuro do pretérito do
indicativo e as formas do infinitivo pessoal, do gerúndio e do particípio.
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Futuro do presente do indicativo


À forma do infinitivo impessoal acrescentam-se as desinências -ei, -ás, -á, -emos,
-eis, -ão.

Formação do futuro do presente do indicativo


Origem Infinitivo impessoal: cantar, bater, partir
Primeira conjugação Segunda conjugação Terceira conjugação
Eu cantar- ei bater- ei partir- ei
Tu cantar- ás bater- ás partir- ás
Ele(a) cantar- á bater- á partir- á
Nós cantar- emos bater- emos partir- emos
Vós cantar- eis bater- eis partir- eis
Eles(as) cantar- ão bater- ão partir- ão

Futuro do pretérito do indicativo


À forma do infinitivo impessoal, acrescentam-se as desinências -ia, -ias, -ia,
-íamos, -íeis, -iam.

Formação do futuro do pretérito do indicativo


Origem Infinitivo impessoal: cantar, bater, partir
Primeira conjugação Segunda conjugação Terceira conjugação
Eu cantar- ia bater- ia partir- ia
Tu cantar- ias bater- ias partir- ias
Ele(a) cantar- ia bater- ia partir- ia
Nós cantar- íamos bater- íamos partir- íamos
Vós cantar- íeis bater- íeis partir- íeis
Eles(as) cantar- iam bater- iam partir- iam

27
Infinitivo pessoal
À forma do infinitivo impessoal (que permanece a mesma para a primeira e a terceira
pessoas do singular) acrescenta-se a desinência -es (para a segunda pessoa do singular);
para as três pessoas do plural, acrescentam-se as desinências -mos, -des, -em.

Formação do infinitivo pessoal


Origem Infinitivo impessoal: cantar, bater, partir
Primeira conjugação Segunda conjugação Terceira conjugação
Eu cantar bater partir
Tu cantar- es bater- es partir- es
Ele(a) cantar bater partir
Nós cantar- mos bater- mos partir- mos
Vós cantar- des bater- des partir- des
Eles(as) cantar- em bater- em partir- em

Gerúndio

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


Elimina-se a desinência -r do infinitivo impessoal e acrescenta-se a desinência -ndo.

Formação do gerúndio
Origem Primeira conjugação Segunda conjugação Terceira conjugação
Infinitivo impessoal: cantar, bater, partir canta- ndo bate- ndo parti- ndo

Particípio
Elimina-se a desinência -r final do infinitivo impessoal e acrescenta-se a desi-
nência -do. Observe que, na segunda conjugação, a vogal temática passa a -i-.

Formação do particípio
Origem Primeira conjugação Segunda conjugação Terceira conjugação
Infinitivo impessoal: cantar, bater, partir canta- do bati- do parti- do

4 Paradigmas dos tempos simples


Modo indicativo

Presente
Eu Tu Ele(a) Nós Vós Eles(as)
Primeira conjugação canto cantas canta cantamos cantais cantam
Segunda conjugação bato bates bate batemos bateis batem
Terceira conjugação parto partes parte partimos partis partem

Pretérito imperfeito
Eu Tu Ele(a) Nós Vós Eles(as)
Primeira conjugação cantava cantavas cantava cantávamos cantáveis cantavam
Segunda conjugação batia batias batia batíamos batíeis batiam
Terceira conjugação partia partias partia partíamos partíeis partiam

28
Pretérito perfeito
Eu Tu Ele(a) Nós Vós Eles(as)
Primeira conjugação cantei cantaste cantou cantamos cantastes cantaram
Segunda conjugação bati bateste bateu batemos batestes bateram
Terceira conjugação parti partiste partiu partimos partistes partiram

Pretérito mais-que-perfeito
Eu Tu Ele(a) Nós Vós Eles(as)
Primeira conjugação cantara cantaras cantara cantáramos cantáreis cantaram
Segunda conjugação batera bateras batera batêramos batêreis bateram
Terceira conjugação partira partiras partira partíramos partíreis partiram

Futuro do presente
Eu Tu Ele(a) Nós Vós Eles(as)
Primeira conjugação cantarei cantarás cantará cantaremos cantareis cantarão
Segunda conjugação baterei baterás baterá bateremos batereis baterão
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Terceira conjugação partirei partirás partirá partiremos partireis partirão

Futuro do pretérito
Eu Tu Ele(a) Nós Vós Eles(as)
Primeira conjugação cantaria cantarias cantaria cantaríamos cantaríeis cantariam
Segunda conjugação bateria baterias bateria bateríamos bateríeis bateriam
Terceira conjugação partiria partirias partiria partiríamos partiríeis partiriam

Modo subjuntivo

Presente
Eu Tu Ele(a) Nós Vós Eles(as)
Primeira conjugação cante cantes cante cantemos canteis cantem
Segunda conjugação bata batas bata batamos batais batam
Terceira conjugação parta partas parta partamos partais partam

Pretérito imperfeito
Eu Tu Ele(a) Nós Vós Eles(as)
Primeira conjugação cantasse cantasses cantasse cantássemos cantásseis cantassem
Segunda conjugação batesse batesses batesse batêssemos batêsseis batessem
Terceira conjugação partisse partisses partisse partíssemos partísseis partissem

Futuro
Eu Tu Ele(a) Nós Vós Eles(as)
Primeira conjugação cantar cantares cantar cantarmos cantardes cantarem
Segunda conjugação bater bateres bater batermos baterdes baterem
Terceira conjugação partir partires partir partirmos partirdes partirem

29
Modo imperativo

Afirmativo
Eu Tu Ele(a) Nós Vós Eles(as)
cantemos cantem
Primeira conjugação – canta tu cante você cantai vós
nós vocês
batam
Segunda conjugação – bate tu bata você batamos nós batei vós
vocês
partamos partam
Terceira conjugação – parte tu parta você parti vós
nós vocês

Negativo
Eu Tu Ele(a) Nós Vós Eles(as)
não não cante não cante- não canteis não cantem
Primeira conjugação –
cantes tu você mos nós vós vocês
não batas não bata não batamos não batais não batam
Segunda conjugação –
tu você nós vós vocês
não partas não parta não parta- não partais não partam
Terceira conjugação –
tu você mos nós vós vocês

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


Formas nominais

Infinitivo pessoal
Eu Tu Ele(a) Nós Vós Eles(as)
Primeira conjugação cantar cantares cantar cantarmos cantardes cantarem
Segunda conjugação bater bateres bater batermos baterdes baterem
Terceira conjugação partir partires partir partirmos partirdes partirem

Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio


Primeira conjugação cantar cantando cantado
Segunda conjugação bater batendo batido
Terceira conjugação partir partindo partido

5 Paradigmas verbais especiais


Leia a tira a seguir para responder às questões de 1 a 3.
Fernando Gonsales

Figura 2. GONSALES, Fernando. Níquel Náusea. Folha de S.Paulo, São Paulo, 31 dez. 1998.

30
1 Quando vê a cobra engolindo um ovo, Níquel Náusea conta uma piada. Em ter- Professor: Os termos
também são homó-
mos linguísticos, como foi construída essa piada? grafos, mas a graça da
piada está na identida-
A piada explora termos homófonos: ovo, gema, clara. Embora os termos sejam de sonora das palavras.
Por isso, na resposta,
substantivos comuns quando designam o ovo e suas partes, aparecem, na piada, optou-se por chamar a
atenção para a homofo-
com a função de substantivo próprio (dona Clara) e verbo (são empregados como nia que apresentam.

formas flexionadas dos verbos gemer e ouvir).

2 “Não gema, dona Clara, senão eu não ovo.” Os dois termos sublinhados desem-
penham a função de verbos nesse contexto. Identifique os infinitivos impessoais
desses verbos.
Os infinitivos desses verbos são gemer e ouvir.

a) Em que tempo, modo e pessoa foi flexionado o primeiro verbo? E o segundo


verbo?
O verbo gemer foi flexionado na terceira pessoa do singular do imperativo
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

negativo. O verbo ouvir foi flexionado na primeira pessoa do singular do

presente do indicativo.

b) O que há de estranho na segunda forma verbal?


O que é estranho é a maneira como o verbo ouvir foi flexionado na primeira

pessoa do singular do presente do indicativo: ovo. A forma correta seria ouço.

3 Considere a reflexão feita sobre os aspectos linguísticos da piada.


a) Como pode ser explicado o riso da cobra?
A cobra ri provavelmente pelo uso que é feito dos termos ovo, clara e gema

e porque a piada se baseia na flexão equivocada do verbo ouvir, para forçar

a homofonia entre uma de suas formas e o alimento que ela tem na boca.

b) E o de Níquel Náusea?
Níquel Náusea ri porque conseguiu alcançar seu objetivo: fazer a cobra quebrar

o ovo que iria engolir.

O humor da tira (figura 2) foi construído a partir da flexão equivocada do ver-


bo ouvir. Como vários outros na língua portuguesa, esse verbo apresenta algumas
formas que não correspondem ao paradigma das conjugações regulares.
Essa irregularidade costuma criar dificuldade para os falantes. É comum, por exem-
plo, observar crianças em fase de aquisição da linguagem utilizando formas verbais
como ovo (por ouço), fazi (por fiz), cabeu (por coube) etc. Da mesma forma, falantes de
certas variedades não padrão dizem ponhei (em lugar de pus). Em todos os casos, o que
se observa é uma tendência a conjugar todos os verbos como se fossem regulares.

31
5.1 Verbos irregulares e anômalos
Trataremos, primeiramente, dos verbos irregulares e anômalos.
Em cada um dos verbos apresentados, apenas os tempos com formas irregulares
são indicados. As formas do imperativo de verbos irregulares que o admitem não
serão incluí­das, uma vez que são derivadas do presente do indicativo (imperativo
afirmativo) e do presente do subjuntivo (imperativo negativo), da mesma forma
que acontece nos verbos regulares.

lembre-se!

Verbos irregulares possuem formas que não obedecem ao paradigma de sua conju-
gação, podendo apresentar irregularidades na forma que assume o radical e/ou que
assumem as desinências.
Verbos anômalos exibem profundas irregularidades em seus radicais.

lembre-se!

Rizotônica: forma verbal em que o acento tônico recai no radical.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


Arrizotônica: forma verbal em que o acento tônico recai na terminação, isto é, fora do
radical.

Primeira conjugação

Dar
Pres. do ind.: dou, dás, dá, damos, dais, dão.
Pret. perf. do ind.: dei, deste, deu, demos, destes, deram.
Mais-que-perf. do ind.: dera, deras, dera, déramos, déreis, deram.
Pres. do subj.: dê, dês, dê, demos, deis, deem.
Pret. imperf. do subj.: desse, desses, desse, déssemos, désseis, dessem.
Fut. do subj.: der, deres, der, dermos, derdes, derem.

Passear
Pres. do ind.: passeio, passeias, passeia, passeamos, passeais, passeiam.
Pres. do subj.: passeie, passeies, passeie, passeemos, passeeis, passeiem.

lembre-se!
Como passear (que recebe um -i- nas formas rizotônicas), conjugam-se outros verbos ter-
minados em -ear, como bloquear, cercear, nomear.

Incendiar
Pres. do ind.: incendeio, incendeias, incendeia, incendiamos, incendiais, incendeiam.
Pres. do subj.: incendeie, incendeies, incendeie, incendiemos, incendieis, incendeiem.

lembre-se!
Como incendiar (que, por analogia com os verbos em -ear, recebe um -i- nas formas rizo-
tônicas), conjugam-se ansiar, mediar, odiar, remediar.

32
Segunda conjugação
Caber
Pres. do ind.: caibo, cabes, cabe, cabemos, cabeis, cabem.
Pret. perf. do ind.: coube, coubeste, coube, coubemos, coubestes, couberam.
Mais-que-perf. do ind.: coubera, couberas, coubera, coubéramos, coubéreis, couberam.
Pres. do subj.: caiba, caibas, caiba, caibamos, caibais, caibam.
Pret. imperf. do subj.: coubesse, coubesses, coubesse, coubéssemos, coubésseis, coubessem.
Fut. do subj.: couber, couberes, couber, coubermos, couberdes, couberem.

Dizer
Pres. do ind.: digo, dizes, diz, dizemos, dizeis, dizem.
Pret. perf. do ind.: disse, disseste, disse, dissemos, dissestes, disseram.
Mais-que-perf. do ind.: dissera, disseras, dissera, disséramos, disséreis, disseram.
Fut. do pres.: direi, dirás, dirá, diremos, direis, dirão.
Fut. do pret.: diria, dirias, diria, diríamos, diríeis, diriam.
Pres. do subj.: diga, digas, diga, digamos, digais, digam.
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Pret. imperf. do subj.: dissesse, dissesses, dissesse, disséssemos, dissésseis, dissessem.


Fut. do subj.: disser, disseres, disser, dissermos, disserdes, disserem.
Part.: dito.

lembre-se!

Como dizer, conjugam-se bendizer, desdizer, contradizer, maldizer, predizer.

Fazer
Pres. do ind.: faço, fazes, faz, fazemos, fazeis, fazem.
Pret. perf. do ind.: fiz, fizeste, fez, fizemos, fizestes, fizeram.
Mais-que-perf. do ind.: fizera, fizeras, fizera, fizéramos, fizéreis, fizeram.
Pres. do subj.: faça, faças, faça, façamos, façais, façam.
Pret. imperf. do subj.: fizesse, fizesses, fizesse, fizéssemos, fizésseis, fizessem.
Fut. do subj.: fizer, fizeres, fizer, fizermos, fizerdes, fizerem.
Part.: feito.
Liza DONNELLY

Figura 3 • Na discussão en-


tre o casal, fica evidente a
irregularidade do verbo fa-
zer, que apresenta diferen-
tes radicais para diferentes
pessoas do pretérito per-
DONNELLY, Liza. O mundo louco do casamento. Rio de Janeiro: Frete Editora, 2004. p. 94. feito do indicativo.

lembre-se!

Como fazer, conjugam-se desfazer, perfazer, refazer, satisfazer.

33
Obter
Pres. do ind.: obtenho, obténs, obtém, obtemos, obtendes, obtêm.
Pret. imp. do ind.: obtinha, obtinhas, obtinha, obtínhamos, obtínheis, obtinham.
Pret. perf. do ind.: obtive, obtiveste, obteve, obtivemos, obtivestes, obtiveram.
Mais-que-perf. do ind.: obtivera, obtiveras, obtivera, obtivéramos, obtivéreis, obtiveram.
Fut. do pres.: obterei, obterás, obterá, obteremos, obtereis, obterão.
Fut. do pret.: obteria, obterias, obteria, obteríamos, obteríeis, obteriam.
Pres. do subj.: obtenha, obtenhas, obtenha, obtenhamos, obtenhais, obtenham.
Pret. imperf. do subj.: obtivesse, obtivesses, obtivesse, obtivéssemos, obtivésseis,
obtivessem.
Fut. do subj.: obtiver, obtiveres, obtiver, obtivermos, obtiverdes, obtiverem.
Inf. impes.: obter.
Inf. pes.: obter, obteres, obter, obtermos, obterdes, obterem.
Ger.: obtendo.
Part.: obtido.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


De olho na fala

Angeli
Figura 4. ANGELI. Chiclete com banana. Folha de S.Paulo, São Paulo, 6 out. 2000.

Na tira, uma personagem comete um equívoco frequente: “Se contermos os fluxos (...)”.
Formas como as do pretérito imperfeito do indicativo, imperfeito e futuro do subjun-
tivo costumam ser regularizadas pelos falantes que não se dão conta de que o verbo
conter (e deter, manter, reter) são compostos do verbo ter e, portanto, devem ser conju-
gados como ele. A forma correta, no caso da tira, é contivermos.

Poder
Pres. do ind.: posso, podes, pode, podemos, podeis, podem.
Pret. perf. do ind.: pude, pudeste, pôde, pudemos, pudestes, puderam.
Mais-que-perf. do ind.: pudera, puderas, pudera, pudéramos, pudéreis, puderam.
Pres. do subj.: possa, possas, possa, possamos, possais, possam.
Pret. imperf. do subj.: pudesse, pudesses, pudesse, pudéssemos, pudésseis, pudessem.
Fut. do subj.: puder, puderes, puder, pudermos, puderdes, puderem.

Pôr (anômalo)
Pres. do ind.: ponho, pões, põe, pomos, pondes, põem.
Pret. imperf. do ind.: punha, punhas, punha, púnhamos, púnheis, punham.

34
Pret. perf. do ind.: pus, puseste, pôs, pusemos, pusestes, puseram.
Mais-que-perf. do ind.: pusera, puseras, pusera, puséramos, puséreis, puseram.
Pres. do subj.: ponha, ponhas, ponha, ponhamos, ponhais, ponham.
Pret. imperf. do subj.: pusesse, pusesses, pusesse, puséssemos, pusésseis, pusessem.
Fut. do subj.: puser, puseres, puser, pusermos, puserdes, puserem.
Part.: posto.

Querer
Pres. do ind.: quero, queres, quer, queremos, quereis, querem.
Pret. perf. do ind.: quis, quiseste, quis, quisemos, quisestes, quiseram.
Mais-que-perf. do ind.: quisera, quiseras, quisera, quiséramos, quiséreis, quiseram.
Pres. do subj.: queira, queiras, queira, queiramos, queirais, queiram.
Pret. imperf. do subj.: quisesse, quisesses, quisesse, quiséssemos, quisésseis, quisessem.
Fut. do subj.: quiser, quiseres, quiser, quisermos, quiserdes, quiserem.

lembre-se!
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O verbo requerer é derivado de querer. Sobre sua conjugação, vale observar que a forma
da primeira pessoa do singular do presente do indicativo é requeiro. Além dessa diferen-
ça com relação a querer, apresenta flexão regular no pretérito perfeito e nos tempos que
se formam a partir do radical do perfeito (requeri, requereste etc.; requerera, requereras
etc.; requeresse, requeresses etc.; requerer, requereres etc.).

Trazer
Pres. do ind.: trago, trazes, traz, trazemos, trazeis, trazem.
Pret. perf. do ind.: trouxe, trouxeste, trouxe, trouxemos, trouxestes, trouxeram.
Mais-que-perf. do ind.: trouxera, trouxeras, trouxera, trouxéramos, trouxéreis,
trouxeram.
Fut. do pres.: trarei, trarás, trará, traremos, trareis, trarão.
Fut. do pret.: traria, trarias, traria, traríamos, traríeis, trariam.
Pres. do subj.: traga, tragas, traga, tragamos, tragais, tragam.
Pret. imperf. do subj.: trouxesse, trouxesses, trouxesse, trouxéssemos, trouxésseis,
trouxessem.
Fut. do subj.: trouxer, trouxeres, trouxer, trouxermos, trouxerdes, trouxerem.

Ver
Pres. do ind.: vejo, vês, vê, vemos, vedes, veem.
Pret. perf. do ind.: vi, viste, viu, vimos, vistes, viram.
Mais-que-perf. do ind.: vira, viras, vira, víramos, víreis, viram.
Pres. do subj.: veja, vejas, veja, vejamos, vejais, vejam.
Pret. imperf. do subj.: visse, visses, visse, víssemos, vísseis, vissem.
Fut. do subj.: vir, vires, vir, virmos, virdes, virem.
Part.: visto.

lembre-se!

Como ver, conjugam-se antever, entrever, prever e rever.

35
De olho na fala

2002 Paws, Inc. All Rights Reserved/Dist. by


Atlantic Syndication/Universal Press Syndicate
Figura 5. DAVIS, Jim. Garfield. Folha de S.Paulo, São Paulo, 2 jul. 2002.

Na tira, Jon usa corretamente uma das formas do verbo ver que costumam ser utilizadas
de maneira equivocada pelos falantes: a primeira pessoa do singular do futuro do sub-
juntivo (“Eu aviso se vir um cupom...”). Os falantes regularizam as formas desse tempo
verbal e, em lugar de vir, dizem ver. De agora em diante, lembre-se de que o verbo ver
é irregular e tome cuidado para não fazer essa confusão ao utilizar as formas do futuro
do subjuntivo desse verbo.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


Terceira conjugação
Servir
Pres. do ind.: sirvo, serves, serve, servimos, servis, servem.
Pres. do subj.: sirva, sirvas, sirva, sirvamos, sirvais, sirvam.

lembre-se!

Como servir, conjugam-se aderir, advertir, aferir, compelir, competir, conferir, convergir, de-
ferir, desferir, despir, digerir, discernir, divergir, ferir, inferir, ingerir, inserir, mentir, preferir, re-
ferir, refletir, repelir, repetir, seguir, sentir, sugerir, vestir.

Pedir
Pres. do ind.: peço, pedes, pede, pedimos, pedis, pedem.
Pres. do subj.: peça, peças, peça, peçamos, peçais, peçam.

lembre-se!

Como pedir, conjugam-se medir e também despedir, expedir, impedir, desimpedir, reexpedir.

Ir (anômalo)
Pres. do ind.: vou, vais, vai, vamos, ides, vão.
Pret. imperf. do ind.: ia, ias, ia, íamos, íeis, iam.
Pret. perf. do ind.: fui, foste, foi, fomos, fostes, foram.
Mais-que-perf. do ind.: fora, foras, fora, fôramos, fôreis, foram.
Fut. do pres.: irei, irás, irá, iremos, ireis, irão.
Fut. do pret.: iria, irias, iria, iríamos, iríeis, iriam.
Pres. do subj.: vá, vás, vá, vamos, vades, vão.
Pret. imperf. do subj.: fosse, fosses, fosse, fôssemos, fôsseis, fossem.
Fut. do subj.: for, fores, for, formos, fordes, forem.

36
Vir (anômalo)
Pres. do ind.: venho, vens, vem, vimos, vindes, vêm.
Pret. imperf. do ind.: vinha, vinhas, vinha, vínhamos, vínheis, vinham.
Pret. perf. do ind.: vim, vieste, veio, viemos, viestes, vieram.
Mais-que-perf. do ind.: viera, vieras, viera, viéramos, viéreis, vieram.
Fut. do pres.: virei, virás, virá, viremos, vireis, virão.
Fut. do pret.: viria, virias, viria, viríamos, viríeis, viriam.
Pres. do subj.: venha, venhas, venha, venhamos, venhais, venham.
Pret. imperf. do subj.: viesse, viesses, viesse, viéssemos, viésseis, viessem.
Fut. do subj.: vier, vieres, vier, viermos, vierdes, vierem.
Part.: visto.

De olho na fala
Um equívoco frequente costuma ocorrer no uso do futuro do subjuntivo do ver-
bo vir. Os falantes, regularizando um verbo anômalo, dizem vir em lugar da forma
correta vier, sem se dar conta de que, ao fazer isso, utilizam as formas do subjunti-
vo do verbo ver (vir, vires, vir, virmos, virdes, virem) no lugar das formas do verbo vir.
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Cuidado para não cometer o mesmo equívoco e, sem perceber, dizer algo muito di-
ferente do que você pretendia.

lembre-se!

Como vir, conjugam-se advir, avir, convir, desavir, intervir, provir e sobrevir.

5.2 Verbos defectivos


Os verbos defectivos não são empregados em todos os tempos, modos e pessoas.
Alguns são classificados como defectivos impessoais por não ocorrerem com
um sujeito, como os verbos haver (usado no sentido de existir), prazer, aprazer e
desprazer. São também impessoais os verbos que indicam fenômenos da natureza,
como amanhecer, alvorecer, anoitecer e chover. Os verbos impessoais ocorrem ape-
nas nas formas de terceira pessoa do plural.
Há também os defectivos unipessoais, que apresentam apenas sujeito na terceira
pessoa (do singular ou do plural). São tidos como unipessoais os verbos que indicam
vozes de animais (zumbir, latir, grasnar, zurrar etc.), bem como os que expressam
acontecimento, necessidade ou conveniência (acontecer, ocorrer, convir etc.).
Os chamados defectivos pessoais são aqueles que não seguem o paradigma
por razões de ordem morfológica ou de preocupação com a eufonia (quando se
tem o cuidado de evitar combinações de sons percebidas como desagradáveis).
Alguns defectivos pessoais não são, por exemplo, conjugados na primeira pes-
soa do singular no presente do indicativo e, por extensão, nas formas dela deri-
vadas. Incluem-se nesse grupo verbos como banir, abolir, brandir, colorir, demolir,
exaurir, retorquir e ungir.
Há ainda os defectivos pessoais que, no presente do indicativo, só são con-
jugados nas formas arrizotônicas. Não possuem, portanto, o presente do sub-
juntivo e o imperativo (a não ser a segunda pessoa do plural do imperativo
afirmativo). Incluem-se nesse grupo verbos como falir, comedir-se, foragir-se,
precaver e reaver.

37
lembre-se!

Verbos defectivos não se conjugam em todas as formas previstas pelo paradigma (abo-
lir, precaver, chover etc.).
Verbos abundantes apresentam mais de uma forma para determinada flexão.

5.3 Verbos abundantes


Os verbos abundantes, que têm o particípio na forma regular (em -ado ou em
-ido) ou na forma reduzida, estão exemplificados no quadro a seguir.

Infinitivo Particípio regular Particípio irregular


aceitar aceitado aceito
entregar entregado entregue
enxugar enxugado enxuto
expressar expressado expresso
expulsar expulsado expulso
conjugação

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


Primeira

ganhar ganhado ganho


isentar isentado isento
matar matado morto
pagar pagado pago
pegar pegado pego
salvar salvado salvo
soltar soltado solto
acender acendido aceso
benzer benzido bento
conjugação

eleger elegido eleito


Segunda

morrer morrido morto


prender prendido preso
romper rompido roto
suspender suspendido suspenso
exprimir exprimido expresso
conjugação

extinguir extinguido extinto


Terceira

imprimir imprimido impresso


omitir omitido omisso
submergir submergido submerso

Emprego do particípio dos verbos abundantes


O particípio regular é empregado nos tempos compostos da voz ativa, acompa-
nhado dos auxiliares ter ou haver:
Os jornais noticiaram que a explosão da bomba havia/tinha matado muitas pessoas.
São exceção a essa regra os verbos ganhar, pegar e pagar, que costumam integrar
os tempos compostos com o particípio irregular:
Eu tinha ganho/pego/pago aquele presente.

38
As formas irregulares do particípio costumam ser utilizadas na formação da voz
passiva, acompanhadas do auxiliar ser:
Os jornais noticiaram que muitas pessoas foram mortas pela explosão da bomba.
Apenas as formas irregulares do particípio podem ser usadas como adjetivos,
combinando-se com estar, ficar, andar, ir e vir, como no seguinte exemplo:
Fiquei preso no elevador por duas horas.

De olho na fala
O uso dos particípios irregulares ganho, pego e pago em tempos compostos cos-
tuma provocar um equívoco no uso do particípio do verbo chegar, que apresenta
somente a forma regular: chegado. É muito comum ouvirmos as pessoas dizerem
Ele tinha chego atrasado, em lugar da forma correta: Ele tinha chegado atrasado.
Problema semelhante ocorre no uso do verbo trazer, quando as pessoas dizem Ele
tinha trago os livros para a aula, enquanto a forma correta é: Ele tinha trazido os livros
para a aula. Esses equívocos podem ser evitados se você lembrar que chegar e trazer
não são verbos abundantes, pois não apresentam particípio irregular.
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Exercícios dos conceitos


O texto transcrito serve de base para as questões 1 e 2.

O mais-que-perfeito
Assim como talher de peixe, trata-se de um arcaísmo que teima em não
desaparecer. É o cúmulo da arrogância: se a perfeição já é uma coisa inatin-
gível, imagine um estado mais-que-perfeito!
E o mais incrível é que o mais-que-perfeito brota do nada, aparecendo
em textos que você mesmo escreveu, numa mágica que só os revisores são
capazes de operar. Já perdi a conta das vezes em que um singelo “tinha recu-
sado” escrito por mim apareceu publicado como “recusara”. Recusara? Eu?
São calúnias, meritíssimo!
Quero deixar claro que eu não fumo, não uso drogas e, sobretudo, jamais
estivera, vira ou merecera. Tenho cá meus defeitos, mas daí a dizer que eu
fora, que eu falara ou que eu levara já vai uma grande distância. Se você vir
que eu beijara, pode apartar que é briga!
FREIRE, Ricardo. The best of Xongas. São Paulo: Mandarim, 2001. p. 22. (Fragmento.)

1 O texto trata do uso do tempo verbal mais-que-perfeito.


a) Como o autor define esse tempo verbal?
Ricardo Freire define esse tempo verbal como um arcaísmo que insiste em não

desaparecer. Também afirma, ironicamente, que sua denominação revela

arrogância, já que almejar um estado “mais-que-perfeito” é algo impossível.

b) Ao tratar da questão, ele faz um uso recorrente desse tempo verbal. Transcre-
va as formas verbais flexionadas nesse tempo.
Recusara, estivera, vira, merecera, fora, falara, levara, beijara.

39
c) Podemos afirmar que, no texto, essas formas verbais são utilizadas de modo
irônico. Explique essa afirmação.
Como considera o mais-que-perfeito um arcaísmo que deveria “desaparecer”

da língua, o autor pretende demonstrar como as formas simples desse tempo

verbal dão ao texto um tom muito formal. Por isso, usa várias vezes o pretérito

mais-que-perfeito simples (“mas daí a dizer que eu fora, que eu falara ou que

eu levara já vai uma grande distância”) para explicitar como tornam o texto

mais formal.

2 Freire afirma que, muitas vezes, quem revisa seu texto acaba por substituir as
formas verbais compostas utilizadas por ele por outras equivalentes. Releia.

Já perdi a conta das vezes em que um singelo “tinha recusado” escrito


por mim apareceu publicado como “recusara”. Recusara? Eu? São calú-
nias, meritíssimo!

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


a) Qual é a diferença, do ponto de vista linguístico, entre as formas tinha recusa-
do e recusara?
Tinha recusado é a forma composta do pretérito mais-que-perfeito do verbo

recusar (verbo auxiliar ter no pretérito imperfeito do indicativo + particípio

passado do verbo principal); “recusara” é a forma simples desse tempo verbal.

b) O que explicaria, do ponto de vista da língua em uso, o fato de Freire preferir


uma forma e os revisores de seus textos optarem pela outra?
Geralmente, os falantes utilizam a forma composta do pretérito mais-que-

-perfeito. Freire, em seus textos, faz a mesma opção. O uso da forma simples

desse tempo verbal costuma estar associado a contextos formais de fala ou

escrita. Por isso, os revisores tendem a “corrigir” a forma composta (tinha

recusado), substituindo-a pela simples (recusara).

O texto a seguir serve de base para as questões 3 a 7.

O sinal verde acendeu-se enfim, bruscamente os carros arrancaram, mas


logo se notou que não tinham arrancado todos por igual. O primeiro da fila
do meio está parado, deve haver ali um problema mecânico qualquer, o
acelerador solto, a alavanca da caixa de velocidades que se encravou, ou uma
avaria do sistema hidráulico, blocagem dos travões, falha do circuito eléctri-
co, se é que não se lhe acabou simplesmente a gasolina, não seria a primeira
vez que se dava o caso. O novo ajuntamento de peões que está a formar-se
nos passeios vê o condutor do automóvel imobilizado a esbracejar por trás
do para-brisa, enquanto os carros atrás dele buzinam frenéticos. Alguns con-

40
dutores já saltaram para a rua, dispostos a empurrar o automóvel empanado
Glossário
para onde não fique a estorvar o trânsito, batem furiosamente nos vidros
fechados, o homem que está lá dentro vira a cabeça para eles, a um lado, a Consoante. Con­
forme, segundo,
outro, vê-se que grita qualquer coisa, pelos movimentos da boca percebe-se de acordo.
que repete uma palavra, uma não, duas, assim é realmente, consoante se vai
ficar a saber quando alguém, enfim, conseguir abrir uma porta, Estou cego.
SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira.
São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

3 Os verbos destacados no texto transcrito estão conjugados, predominantemen-


te, em dois tempos verbais. Quais são eles?
Os verbos estão predominantemente conjugados no presente e no pretérito

perfeito do indicativo.

4 Transcreva os verbos que correspondem a cada um dos tempos verbais identifi-


cados por você.
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Verbos no presente do indicativo: vê (duas ocorrências), buzinam, batem, está, vira,

grita, percebe, repete, é, estou. Verbos no pretérito perfeito do indicativo: acendeu,

arrancaram, notou, encravou, acabou, saltaram.

5 A certa altura do texto, o narrador muda o tempo verbal que emprega para des-
crever os acontecimentos. Considerando o momento em que ocorreram os fatos
relatados, explique a intenção dele ao fazer essa alteração.
Os acontecimentos relatados no texto ocorreram no passado, em um momento

anterior àquele em que a história está sendo narrada. Por isso, no início, o narrador

utiliza o pretérito perfeito do indicativo. Quando passa a relatar os fatos utilizando

o tempo presente, o narrador faz o tempo da ação e o tempo da narração

coincidirem. A intenção é a de trazer para o presente a ação descrita.

6 De que forma essa alteração dos tempos verbais interfere na relação entre o
leitor e os acontecimentos apresentados? Explique sua resposta.
A opção narrativa de recorrer a verbos flexionados no presente coloca o leitor

dentro da cena e cria a impressão de que ele e o narrador presenciam os fatos no

momento em que ocorrem.

7 “(…) não seria a primeira vez que se dava o caso.” Nesse trecho, o verbo subli-
nhado está conjugado em outro tempo verbal. Que tempo é esse e o que seu
uso indica a respeito da ação referida pelo verbo?
Trata-se do futuro do pretérito do indicativo e seu uso se refere à

probabilidade de haver um determinado fato que explicaria o ocorrido: o carro

estava parado porque a gasolina havia acabado.

41
Leia a tira para responder às questões 8 a 10.

Djota
DJOTA. Só dando gizada. Correio Popular, Campinas, 23 fev. 2003.

8 Entre os vários problemas apresentados pelo texto do jornal, um deles diz res-
peito a um verbo abundante. Identifique-o.
O problema está no uso da forma “foram pegados”.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


9 Como pode ser explicado o equívoco cometido no texto do jornal?
Segundo a regra geral de uso do particípio regular dos verbos abundantes, ele

deve ser empregado na formação dos tempos compostos da voz ativa. Já o

particípio irregular é utilizado na formação da voz passiva (verbo ser + particípio).

O autor do texto ignorou essa regra e, na voz passiva, fez uso do particípio regular

do verbo pegar (pegados).

10 Qual é a forma correta?


A forma correta é foram pegos.

Retomada dos conceitos Professor: Consulte o Banco de Questões e incentive


os alunos a usar o Simulador de Testes.

1 (Fuvest-SP) Leia o trecho de uma canção de Cartola, tal como registrado em


gravação do autor:

(...)
Ouça-me bem, amor,
Preste atenção, o mundo é um moinho,
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos,
Vai reduzir as ilusões a pó.
Preste atenção, querida,
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares, estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés.
CARTOLA. O mundo é um moinho.

42
a) Na primeira estrofe, há uma metáfora que se desdobra em outras duas. Expli-
que o sentido dessas metáforas.
A metáfora inicial é “o mundo é um moinho”. Ela se desdobra em “vai triturar

seus sonhos” e “vai reduzir as ilusões a pó”. O compositor utiliza essas metáforas

para indicar as decepções e frustrações que sua interlocutora terá na vida.

Tal qual um moinho, o mundo “triturará” e “reduzirá a pó” os sonhos e as

esperanças da jovem.

b) Caso o autor viesse a optar pelo uso sistemático da segunda pessoa do sin-
gular, precisaria alterar algumas formas verbais. Indique essas formas e as res-
pectivas alterações.
“Ouça-me”: Ouve-me; “Preste atenção”: Presta atenção.

2 (PUC-SP, adaptada) Considere o trecho “O Yahoo era líder em buscas na internet


até a chegada do Google, que detém o domínio desse mercado”. Se o sujeito do
verbo deter estivesse no plural, a escrita correta para o trecho seria:
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

a) ... que detém o domínio desse mercado. A conjugação do ver-


bo deter nas terceiras
b) ... que detem o domínio desse mercado. pessoas do presente
c) ... que detéem o domínio desse mercado. do indicativo é: ele
detém; eles detêm.
d) ... que detêm o domínio desse mercado.
e) ... que deteem o domínio desse mercado.

3 (PUC-RJ, adaptada)
Texto 1
Todos os retratos que tenho de minha mãe não me dão nunca a verdadei-
ra fisionomia que eu guardo dela – a doce fisionomia daquele seu rosto, da-
quela melancólica beleza de seu olhar. Ela passava o dia inteiro comigo. Era
pequena e tinha os cabelos pretos. Junto dela eu não sentia necessidade dos
meus brinquedos. D. Clarisse, como lhe chamavam os criados, parecia mes-
mo uma figura de estampa. Falava para todos com um tom de voz de quem
pedisse um favor, mansa e terna como uma menina de internato. Criara-se
em colégio de freiras, sem mãe, pois o pai ficara viúvo quando ela ainda não
falava. Filha de senhor de engenho, parecia mais, pelo que me contavam dos
seus modos, uma dama nascida para a reclusão.
À noite ela me fazia dormir. Adormecer nos seus braços, ouvindo a
surdina daquela voz, era o meu requinte de sibarita pequeno.
Ela me enchia de carícias. E quando o meu pai chegava nas suas crises,
exasperado como um pé-de-vento, eu a via chorar e pronta a esquecer
todas as intemperanças verbais do seu marido. Os criados amavam-na. Ela
também os tratava com uma bondade que não conhecia mau humor.
Horas inteiras eu fico a pintar o retrato dessa mãe angélica, com as
cores que tiro da imaginação, e vejo-a assim, ainda tomando conta de
mim, dando-me banhos e me vestindo. A minha memória ainda guarda
detalhes bem vivos que o tempo não conseguiu destruir.
REGO, José Lins do. Menino de engenho.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1972. p. 6.

43
Texto 2
É sempre assim. As memórias que a gente guarda da vida experimen-
tada vão se enfraquecendo cada vez mais. Pra dar pra elas ilusoriamente
a força da realidade nós as transpomos pro mundo das assombrações por
meio do exagero. (...)
É um engano isso de afirmarem que a gente pode reviver, tornar
a sentir as sensações e os sentimentos do passado. As memórias são
fragilíssimas, degradantes e sintéticas pra que possam nos dar a reali-
dade que passou tão complexa e grandiosa. Na verdade o que a gente
faz é povoar a inteligência de assombrações exageradas e secundaria-
mente falsas. Esses sonhos de acordado, poderosamente revestidos de
palavras, se projetam da inteligência pros sentidos e dos sentidos pro
ambiente exterior, se alargando cada vez mais. São as assombrações.
Diferentes pois das sensações, as quais do ambiente exterior pros senti-
dos e destes pra inteligência vêm se diminuindo cada vez mais. E essas
assombrações por completo diferentes de tudo quanto passou é que a
gente chama de “passado”...

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


ANDRADE, Mário de. Táxi e crônicas no Diário Nacional.
São Paulo: Duas Cidades/Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, 1976. p. 102.

No texto 1, predominam verbos no pretérito imperfeito do indicativo. No texto


2, o presente do indicativo é o mais recorrente. Explique esses predomínios le-
vando em conta as diferenças entre os dois tipos de texto.
Gabarito oficial. No texto 1, predomina o pretérito imperfeito do indicativo, pois

trata-se de uma narrativa em que o narrador-personagem relembra cenas passadas

habituais ou repetidas. No texto 2, predomina o presente do indicativo, pois é um

texto expositivo em que o narrador busca especificar características gerais da

memória.

4 (Fuvest-SP) Estas duas estrofes encontram-se em “O samba da minha terra”, de


Dorival Caymmi:

Quem não gosta de samba


bom sujeito não é,
é ruim da cabeça
ou doente do pé.
Eu nasci com o samba,
no samba me criei,
do danado do samba
nunca me separei.

44
a) Reescreva a primeira estrofe, iniciando-a com a frase afirmativa Quem gosta
de samba e fazendo as adaptações necessárias para que se mantenha a coe-
rência do pensamento de Caymmi. Não utilize formas negativas.
Quem gosta de samba/bom sujeito é/é são da cabeça/ou sadio do pé.

b) Reescreva os dois primeiros versos da segunda estrofe, substituindo as for-


mas nasci e me criei, respectivamente, pelas formas verbais correspondentes
de provir e conviver, fazendo as alterações necessárias.
Eu provim do samba/no samba convivi.

5 (Ufal) Explique, identificando-as, as formas verbais:


a) ele vê/eles veem.
Os verbos apresentados são formas do presente do indicativo do verbo ver.


Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

b) ele vem/eles vêm.


Os verbos apresentados são formas do mesmo tempo e modo, porém do verbo

vir.

c) Cite outros dois verbos que apresentam a mesma flexão de eles veem.
Os seguintes verbos apresentam a mesma flexão de veem: ler (eles leem);

crer (eles creem).

6 (PUC-PR) Observe: As formas verbais


apresentadas, irregu-
Ao que os colegas iriam se desentender, lares, só estão flexio-
nadas corretamente
de imediato e pedi-lhes que se para evitar um mal maior. na alternativa assina-
lada.
a) previr, intervi, contivessem.
b) prever, intervim, contessem.
c) prever, intervi, contessem.
d) previr, intervi, contessem.
e) prever, intervim, contivessem.

7 (FGV-SP) Assinale a alternativa em que o particípio sublinhado está corretamen- Os de­mais particípios
te utilizado. estariam corretos da
seguinte forma: sus-
a) O diretor tinha suspenso a edição do jornal antes da publicação da notícia. pendido; chegado;
dispersado; expulsa-
b) Lourival tinha chego ao mercado. Marli o esperava próxima da barraca de do.
frutas.
c) O coroinha havia já disperso a multidão que estava em volta da Matriz.
d) A correspondência não foi entregue no escritório.
e) Diogo tinha expulso os índios que cercavam o povoado.

45
Para saber mais
Usos dos tempos verbais
Uma das características estruturais dos textos narrativos é apresentar uma série
de acontecimentos associados a diferentes momentos no tempo. Para que os leito-
res consigam situar os acontecimentos e relacioná-los entre si, é fundamental que
seja feito um bom uso da flexão de tempo dos verbos.
Perceba como o uso dos tempos verbais no texto “As armadilhas do tempo” cria
para o leitor uma sequência de acontecimentos cuidadosamente localizados no
tempo. Com as formas do pretérito perfeito do indicativo são nomeados aconteci-
mentos pontuais do passado. As ocorrências do pretérito imperfeito do indicativo
referem-se a ações recorrentes no passado ou àquilo que caracterizou a persona-
gem feminina em vida. O presente é utilizado para indicar que os acontecimentos
estão se desenrolando no momento da enunciação.

Professor: Como o As armadilhas do tempo

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


objetivo, com o texto Desde o primeiro parágrafo, observamos o
controle do tempo verbal para estabelecer as
escolhido, é desta- Sentada de cócoras na cama, ela várias relações temporais entre os aconteci-
car a construção do mentos narrados. Assim, o pretérito perfeito
tempo da narrativa olhou-o longamente, percorreu seu corpo identifica acontecimentos pontuais do passa-
por meio das flexões (...) da cabeça aos pés (...) e disse: do em relação ao momento presente, quando
verbais, optou-se por a mulher a que se refere o texto não está mais
não marcar as formas
– A única coisa que eu mudaria em viva. O futuro do pretérito indica uma situação
nominais (gerúndio, você é o endereço. hipotética, uma possibilidade: algo que essa
particípio e infiniti- mulher desejaria alterar no homem que ama.
E a partir de então viveram juntos, fo-
vo). Além disso, tam-
bém não destacamos ram juntos, se divertiam brigando pelo
No terceiro parágrafo, é necessário indicar
as locuções verbais, jornal no café da manhã, e cozinhavam os fatos que se repetem, no passado, na vida
porque se trata de
conteúdo ainda não inventando e dormiam feito um nó. em conjunto desse casal depois da fala da
mulher (se divertiam, cozinhavam, dormiam)
apresentado neste Agora este homem, mutilado dela, e diferenciá-los de outros que, também no
módulo. quer recordá-la como era. Como era qual- passado, dão a ideia de ação concluída (vive-
ram, foram). Essa distinção se dá por meio do
quer uma das que ela era, cada uma com uso dos dois pretéritos do indicativo: o im-
perfeito para indicar a recorrência no passa-
sua própria graça e seu próprio poderio, do e o perfeito para nomear fatos concluídos.
porque aquela mulher tinha o espantoso A partir do quarto parágrafo, o tempo da
narrativa coincide com o tempo da enuncia-
costume de renascer com frequência. ção: o homem se encontra diante da amada
Mas não. A memória se nega. A me- morta. O imperfeito (as três ocorrências da
forma era) é usado, então, para se referir àquilo
mória não quer devolver a ele nada além que caracterizava a mulher ainda em vida e ao
fato de que sua essência não se encontrava no
desse corpo gelado onde ela não estava, corpo inerte (não estava). O perfeito é usado
esse corpo vazio das muitas mulheres que para se referir ao que a caracterizou de forma
pontual na vida (foi).
ela foi.
GALEANO, Eduardo. Bocas do tempo.
Trad. Eric Nepomuceno.
Porto Alegre: L&PM, 2004. p. 27.

Da teoria à prática
Agora é sua vez. Como você viu, o controle da flexão de tempo dos verbos é es-
sencial para a construção de um bom texto narrativo. É esse controle que constrói
a articulação adequada entre os acontecimentos narrados, estabelecendo a relação
temporal entre os vários eventos e fatos. Como resultado, o leitor compreende o
que está sendo contado.

46
Professor: O objetivo desta
Sua tarefa será escrever uma narrativa curta que dê continuidade ao trecho a atividade é criar uma situa-
seguir, também de Eduardo Galeano. O título sugere um acontecimento que pre- ção narrativa em que o alu-
cisa estar ligado à surpresa referida no final do trecho. Considere essa orientação no seja levado a articular
os fatos narrados no texto
no momento de elaborar sua narrativa. E fique atento à articulação adequada, por transcrito àqueles que ele
meio do uso das flexões verbais, entre os fatos narrados pelo autor e os que você acrescentará, fazendo uso
das flexões verbais para
acrescentará à história. marcar de modo adequado
as relações temporais que
pretende criar. Escolheu-se
O beijo como “estímulo” um tre-
cho narrativo ao qual ele
Antonio Pujía escolheu, ao acaso, um dos blocos de mármore de Carrara deverá dar continuidade
que vinha comprando ao longo dos anos. a fim de fornecer algumas
Era uma lápide. Viera de alguma tumba, sabe-se lá de onde; ele não tinha relações temporais já esta-
belecidas e, assim, permitir
a menor ideia de como tinha ido parar em seu ateliê. que se sinta mais à vonta-
Antonio deitou a lápide sobre uma base de apoio, e começou a trabalhar. de para desempenhar a
tarefa proposta.
Tinha alguma ideia do que queria esculpir, ou talvez nenhuma. Começou por No momento de avaliar as
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

apagar a inscrição: o nome de um homem, o ano de nascimento, o ano do fim. narrativas produzidas, a
Depois, o cinzel penetrou o mármore. E Antonio encontrou uma surpre- atenção deve estar voltada
para o modo como essas
sa, que estava esperando por ele pedra adentro (...). relações temporais entre
GALEANO, Eduardo. Bocas do tempo. Trad. Eric Nepomuceno. os eventos narrados são
estabelecidas por meio das
Porto Alegre: L&PM, 2004. p. 29.
flexões de tempo dos ver-
bos utilizados.

Resposta pessoal.

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verbo

significado classificação conjugações


• Ações, processos e • Regulares • 1a conjugação
experiências (estudar, • Irregulares (terminados em -ar:
correr, crescer, excluir, estudar, falar, estar etc.)
lembrar, desejar etc.) • Anômalos
• 2a conjugação
• Estados (ser, estar, ficar, • Defectivos

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


(terminados em -er:
permanecer, continuar etc.) • Abundantes correr, ler, chover etc.)
• Fenômenos da natureza • 3a conjugação
(chover, nevar, trovejar etc.) (terminados em -ir:
dirigir, partir, reprimir etc.)

número e pessoa modo e tempo

Marcela Pontara • Juanito Avelar


GRAMÁTICA
• Singular • Indicativo
1a pessoa (estudo) Presente
2a pessoa (estudas) Pretérito perfeito
3a pessoa (estuda) Pretérito imperfeito

Maria Luiza M. Abaurre •


• Plural Pretérito mais-que-perfeito
1a pessoa (estudamos) Futuro do presente
2a pessoa (estudais) Futuro do pretérito
3a pessoa (estudam) • Subjuntivo
IMPORTANTE: Quando os Presente
pronomes você e a gente são Pretérito imperfeito
empregados respectivamente
em lugar de tu e nós, o verbo Futuro
é realizado na forma da 3a • Imperativo
pessoa do singular. (afirmativo e negativo)

voz aspecto formas nominais


• Ativa • Concluso (pretérito • Infinitivo (estudar,
• Passiva perfeito) vender, partir)
Sintética • Inconcluso (pretérito • Gerúndio (estudando,
imperfeito) vendendo, partindo)
Analítica
• Particípio (estudado,
vendido, partido)

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