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A CIÊNCIA E A REFORMA PROTESTANTE

Prof. Dr. Robert Hooykaas - Universidade de Utrecht / Holanda


Resumo por Guilherme V. R. Carvalho - Centro Kuyper BH/Fate BH

Este artigo é um resumo do capítulo 5 da obra “A Religião e o Desenvolvimento da Ciência


Moderna”, de Robert Hooykaas (Brasília: Editora da UNB – Universidade de Brasília, 1988). A
obra está esgotada há anos, mas devido à importância das idéias do Dr. Hooykaas para a discussão sobre a
relação entre cristianismo e ciência, estamos apresentando seu livro na forma de resumo. 

A)    A INFLUÊNCIA DA REFORMA SOBRE A CIÊNCIA

a)      A participação dos protestantes na pesquisa científica

Hooykaas observou que as pesquisas sociológicas demonstraram uma proporção de cientistas


protestantes dentro do total que não corresponde a seu número global. Descobriu-se, por exemplo, que na
Europa Ocidental fora da França de 1666 a 1883 os protestantes compunham cerca de 40% da população,
mas “... entre os membros estrangeiros da Academie des Sciences, era de seis para vinte e sete.”
(HOOYKAAS, 1988, P. 127). Na Suíça, a proporção de católicos para protestantes era de dois para três
no mesmo período, mas havia 14 protestantes suíços na Academie, e nenhum católico. Na Bélgica do
século XVI os protestantes eram uma pequena minoria e número de protestantes entre os cientistas era
bem maior que o de católicos. Hooykaas cita o sociólogo americano R. K Merton, segundo o qual

“... entre o grupo de dez cientistas que, durante a Commonwealth, constituíram o núcleo
que daria origem à Royal Society, sete eram acentuadamente puritanos. Sessenta e dois por cento
dos membros da Royal Society eram de origem nitidamente puritana, um percentual que se torna
mais significativo em razão de constituírem os puritanos uma minoria da população.”
(HOOYKAAS, 1988, p. 128).

            Foi observado ainda por sociólogos que católicos de destaque na América do Norte (J.J. Kane) e,
no século XIX até o princípio do século XX, na Alemanha (M. Weber) são encontrados geralmente nos
campos da religião e das humanidades, ficando as profissões tecnológicas e científicas sob o domínio
protestante (HOOYKAAS, 1988, p. 128).

            Segundo Hooykaas, esse desenvolvimento científico e tecnológico entre os protestantes pode ser
explicado parcialmente pela expansão do comércio, pelas navegações e pela revolução industrial. Mas há
elementos que não se encaixam de modo algum nessa explicação. A maioria dos Botânicos do século
XVI, por exemplo, era protestante.[1][1] O mesmo ocorreu na zoologia, sendo que ambas as áreas não
tinham utilidade econômica imediata.

            Para explicar a relação entre a nova ciência e a doutrina protestante foram propostas diversas
soluções. O dilema em geral gira em tornou da questão se o fator determinante foram as crenças religiosas
ou os fatores sócio-econômicos, mas Hooykaas considera impossível escolher uma única alternativa, uma
vez que ambos os fatores “... se apresentam intimamente interligados...”

            Hooykaas contrasta aqui a aprovação dos intelectuais pela transferência da universidade de Lisboa
para Coimbra em 1537, para afastar a academia das distrações do centro comercial português, com o
profundo intercâmbio entre a matemática e as artes técnicas que predominava em cidades como Londres,
recebendo isso aprovação nos meios acadêmicos. Os interesses comerciais favoreciam o contato com
novas idéias, novas tecnologias, e estimulavam a liberdade religiosa.[2][2] Evidentemente, então, o
capitalismo nascente favorecia a ciência, ao tornar as pessoas mais abertas para idéias novas.

            Entretanto, no caso dos países escandinavos e da Holanda [e, poderíamos acrescentar, da própria
Alemanha] nos quais a adesão ao protestantismo, a partir da segunda e terceira geração, deixou de
representar independência e progressismo, devemos perguntar se o protestantismo foi uma base “hostil,
neutra ou favorável” à ciência.

            Hooykaas cita Petrus Ramus, um importante pensador protestante que já em sua época (1515-
1572), observou que o novo interesse pela ciência tinha diferentes causas, entre elas fatores econômicos,
interesses militares, a atitude da nobreza, etc. Mesmo assim, destaca Hooykaas,

“... numa época em que a aprovação religiosa era necessária para que algo pudesse tornar-se
socialmente aceitável, fazia uma grande diferença se a ciência era encarada com suspeita,
simplesmente tolerada ou positivamente estimulada pela religião prevalecente.” (HOOYKAAS,
1988, P. 131).

b)      Ascetismo intramundano e atividade científica

Verificada a significativa inclinação protestante à ciência, Hooykaas procede à questão seguinte: o


que exatamente, na crença Reformada, seria a razão dessa inclinação? Uma das respostas é a de R. K.
Merton, que baseando-se em Max Weber, apontou a doutrina da predestinação e a correspondente ascese
intramundana (atitudes de auto-repressão simplicidade e diligência no trabalho). Entretanto tanto Weber
como Merton descobriram que esse tipo de ascetismo era característico também dos quacres,
independentes, menonitas e pietistas, grupos que não ligavam boas obras à predestinação. Enfim, “... não
foi apresentada nenhuma prova concreta de que, no caso dos calvinistas, a doutrina da predestinação e
eleição tenha alguma relação com suas atividades científicas.” (HOOYKAAS, 1988, p. 132, 133).

            Curiosamente, observa Hooykaas, segundo C. E. Raven, outro estudioso da relação entre ciência e
religião, a ênfase de Calvino e os extremos de seus discípulos sobre a predestinação criaram um clima
pouco favorável à ciência. No caso da relação entre o interesse científico de Pascal e o jansenismo, com
sua doutrina da eleição, a mesma contradição é observada entre Merton e S. F. Mason. Aparentemente,
então, a doutrina da predestinação não parece ser explicação suficiente para o interesse científico
reformado.

            Examinando as confissões de fé das comunidades reformadas da época, Hooykaas argumenta que
as boas obras eram consideradas um “fruto da gratidão”, e não como a confirmação de seu recebimento.
O ativismo dos reformados na ciência não possuía o caráter de “inquietude” sugerido por historiadores
sociais como Richard Tawney. Além disso, a doutrina da predestinação estaria presente em outros
homens, como Agostinho, Aquino e Lutero. A conclusão de Hooykaas é de que não há um elo necessário
e absolutamente comprovado entre a idéia de predestinação de Calvino e o capitalismo ou a ciência
moderna (HOOYKAAS, 1988, p. 136). O espírito deles era bem diferente:

“O que é mais impressionante acerca dos primeiros cientistas protestantes é o seu amor pela
natureza, na qual reconhecem a obra das mãos de Deus, e o seu prazer e investigar os fenômenos
naturais. Um dos pais da anatomia comparada, o holandês Volcker Coiter (1534-1576), jamais se
cansava de exaltar a providência do Criador, evidenciada na maravilhosa adaptação da estrutura
animal; o botânico Clusius declarou que as descobertas botânicas causavam-lhe tanta alegria como
se ele tivesse descoberto um prodigioso tesouro; o oleiro huguenote Bernard Palissy (1510-1590)
amava apaixonadamente as plantas, ‘mesmo as mais desprezadas’. Em uma ocasião, ele manifestou
sua ira contra alguns trabalhadores por estarem maltratando plantas; em seu profundo sentimento
por essas criaturas irmãs, ele dizia que não sabia por que as plantas não clamavam contra as torturas
que sofriam nas mãos dos homens.” (HOOYKAAS, 1988, p. 136, 137).

c)      Para a Glória de Deus

Hooykaas vê “a glória de Deus” como o tema central da Reforma. Kepler escreveu em 1598 que
os astrônomos seriam os sacerdotes de Deus quanto ao “livro da natureza”, e que deveriam buscar não a
glória do seu intelecto, mas acima de tudo a de Deus. Essa concepção dos dois livros, e da glória de Deus
estaria também na confissão belga e em Francis Bacon. Calvino reprovava os que negligenciavam o
estudo da natureza, e os antagonistas da ciência, pois esta levava ao conhecimento de Deus e à orientação
da vida:

“Reiteradas vezes afirmou que a pesquisa científica é algo que penetra muito mais
profundamente nas maravilhas da natureza do que a mera contemplação. Ao fazer essa declaração,
não se referia à ‘física’ especulativa de sua época, mas às sólidas disciplinas empíricas então
existentes, ou seja, a astronomia e a anatomia, que revelavam, segundo ele, os segredos do
macrocosmo e do microcosmo.” (HOOYKAAS, 1988, p. 138).[3][3]

d)      Predestinação e determinismo

Hooykaas considerou errôneo o argumento de que o sistema calvinista teria afetado a ciência por
que crença na predestinação estaria de acordo com a noção de lei natural. O problema básico do
argumento estaria na identificação da predestinação com o determinismo. Elas devem ser distinguidas
porque a primeira se fundamenta na liberdade de Deus, ao passo que a segunda numa forma de
necessitarismo fatalista. A idéia de ordem cósmica estaria presente nas Escrituras e em filósofos
medievais e renascentistas. Mas a idéia encontrada em Aquino (aristotélico) e Guilherme de Conches
(platônico) é de que tal ordem seria racional e necessária. Já na Bíblia a ordem cósmica não tem nenhum
elemento de necessidade ou lei natural, sendo antes fruto da vontade de Deus. Seria o tomismo de homens
como Richard Hooker que teria se aproximado do determinismo científico, enquanto que o pensamento
de Calvino estaria mais próximo de Duns Scotus e do nominalismo de Nicole D’Oresme (HOOYKAAS,
1988, p. 140).

“Na verdade, o determinismo não representou uma bênção tão grande para ciência como
muitos são levados a crer. A despeito de todas as deduções em contrário, a realidade histórica tem
mostrado que foi o voluntarismo, e não o determinismo, que, a longo prazo, mostrou-se mais
favorável à abertura de novos caminhos para a ciência. Nesta maneira de pensar voluntarista, a
ordem da natureza não era nossa ordem lógica, mas aquela que representava a vontade de Deus.
Portanto, se a doutrina da predestinação tiver sido favorável à ciência, isso deve ter ocorrido de uma
maneira exatamente contrária à que foi proposta por Merton.” (HOOYKAAS, 1988, p. 140).

            Assim Calvino não distinguia exatamente entre eventos naturais e “sobrenaturais” como
“rupturas” na ordem natural, mas entre eventos ordinários e extraordinários, todos provenientes da
providência de Deus. O resultado paradoxal disso é a de que a própria “ordem natural” seria miraculosa!
Assim, segundo Beeckman,

“Quanto mais compreendemos a ordenação de Deus, tanto mais gloriosa e portentosa ela se
nos apresenta ... em ciência, devemos partir sempre do maravilhoso para o não-mararavilhoso ...
enquanto, em teologia, devemos ir do não-maravilhoso para o maravilhoso ... até que tudo pareça ser
miraculoso.” (HOOYKAAS, 1988, p. 141).[4][4]

e)      O sacerdócio geral dos crentes

Hooykaas vê na ênfase protestante no “sacerdócio geral de todos os crentes” uma explicação


muito mais provável para a inclinação científica do que a doutrina da predestinação. Essa ênfase
implicava no direito e na obrigação de estudar as Escrituras sem depender da autoridade da tradição e da
hierarquia, bem como o direito correspondente de investigar o “livro da natureza”.[5][5]

“A convicção de que qualquer um podia ler o livro da natureza segundo sua capacidade
encorajou os protagonistas da nova ciência a concitar as pessoas incultas a auxiliá-los na coleta de
dados para a elaboração de uma história natural e de uma geografia mais completas, transmitindo-
lhes observações sobre pássaros e flores, movimentos das marés, fenômenos celestiais e
meteorológicos, e sobre a inclinação da agulha magnética.” (HOOYKAAS, 1988, p. 143).

            Havia, entretanto, tradicionalismo entre os protestantes, especialmente nas universidades, onde
predominavam o conservadorismo e o conformismo. Mas o clericalismo protestante não tinha,
naturalmente, o status e a sacralidade do clero católico; e não havia autoridade centralizada, muito menos
o Santo Ofício ou o Índex. Isso dava muito espaço para o sectarismo científico e filosófico. Assim
“Wilkins, escrevendo sobre a Universidade de Oxford durante a Commonwealth, disse que ‘não se pode
desejar maior liberdade em matéria de opinião e debate do que a que aqui existe.’” (HOOYKAAS, 1988,
p. 144).

            Os cientistas não eram obrigados a aceitar o juízo de não cientistas em assuntos científicos, nos
países protestantes. Assim aristotélicos, cartesianistas e defensores da separação entre filosofia e teologia,
geocentristas e copernicanos se degladiavam sem qualquer intervenção de sínodos ou consistórios
eclesiásticos. A reforma científica, como a reforma religiosa, rejeitou a crença humanista na infabilidade
dos antigos.[6][6] Propunha-se o retorno às fontes: ao livro das Escrituras e ao livro da natureza, e
afirmava-se a liberdade de pensamento contra o controle dogmático. Assim Kepler, devoto luterano,
proclamava:

“Santo é lactâncio, que negava que a terra fosse esférica; santo é Agostinho, que admitia a
esfericidade da Terra, mas rejeitava a existência das antípodas; santo é o Ofício, que aceitou os
antípodas, embora rejeite o movimento da Terra ... porém mais santa ainda para mim é a Verdade,
que revela que a Terra é uma pequena esfera, que os antípodas existem, e que a Terra está em
movimento” (HOOYKAAS, 1988, p. 146).

            Nathanael Carpenter, em “Free Science” (1622), criticava o “supersticioso culto de Aristóteles”, a
firmando ser livre da palavra de qualquer pessoa, sujeito apenas às Escrituras. O teólogo puritano John
Wilkins afirmava que a autoridade na ciência vinha do tempo e das descobertas, e não da teologia. Os
defensores da “Nova Filosofia” tinham consciência da analogia entre a reforma religiosa e a reforma
científica, e defenderam a liberdade de pensamento nesse campo.[7][7]

B)     CIÊNCIA E EXEGESE BÍBLICA 

a)      A Bíblia como uma fonte para a Ciência

Reconhecida a atitude positiva dos cristãos reformados em relação à ciência, resta saber se a
crença na autoridade divina da Bíblia como Palavra de Deus, associada à visão de mundo ali apresentada,
representou impedimento à liberdade da ciência. Hooykaas destaca que os debates em torno da
interpretação e aplicação de textos bíblicos a questões científicas não envolviam o grau ou extensão da
inspiração bíblica, “... pois todos concordavam que ela representava a palavra de Deus, do Gênesis à
Revelação.” Contrariamente, ainda, à visão de muitos teólogos contemporâneos preconceituosos, era
amplamente reconhecido que a Bíblia não havia “caído do céu”, mas que fora escrita em termos humanos.
O problema era como distinguir a revelação da autoridade divina das concepções humanas ingênuas ou
errôneas dos escritores (do ponto de vista da verdade científica).

            Contra a alegação de que, ao haver rejeitado a autoridade da Tradição, os protestantes se


prenderam a uma interpretação literalista da Bíblia, Hooykaas destaca, por um lado, o exemplo do cardeal
Roberto Belarmino, uma das mentes da Contra-Reforma, que exigia uma interpretação literal dos textos a
respeito do movimento do sol e da terra (seguindo a tradição e os Pais), e por outro, o do teólogo puritano
John Wilkins, que seguindo Calvino afirmava o contrário:

“’Seríamos felizes se pudéssemos isentar a Escritura de controvérsias filosóficas; se nos contentássemos


em deixa-la ser perfeita dentro da finalidade para a qual foi concebida, como uma Regra de nossa Fé e
Obediência, e não tentássemos transformá-la em Juiz dessas Verdades Naturais que devem ser
descobertas por intermédio de nossa própria Indústria e Experiência.’ O Espírito Santo poderia facilmente
ter-nos informado sobre elas – no entanto, ‘Ele preferiu deixar que os filhos dos homens trilhassem esse
caminho’”. (HOOYKAAS, 1988, p. 150,151).

            Segue-se que a tradição na verdade operou como obstáculo à liberdade na ciência, ainda mais por
trazer a influência da filosofia grega. Já Wilkins e outros como ele “descartaram a Bíblia não como uma
diretriz para a pesquisa científica, mas apenas como uma fonte de informação concreta.”[8][8] Quanto à
tentativa de estabelecer uma ciência natural “bíblica”, no sentido de buscar nela tais dados concretos, ela
foi rejeitada por Petrus Ramus, Bacon, Kepler e Wilkins, todos escritores importantes. O “biblicismo”
protestante não dizia respeito a temas científicos, mas à fé; e segundo Hooykaas, eles teriam seguido o
exemplo de Calvino.

b)     A posição de Calvino sobre ciência e Escritura

Hooykaas cita as Institutas de Calvino, onde este afirma que, sendo o Espírito Santo a única fonte
da verdade, não podemos desprezá-la, não importa onde apareça, “sob pena de ofendermos o Espírito de
Deus”. Esta atitude estaria de acordo com seu treinamento humanista, que o capacitava a ver
positivamente as contribuições intelectuais dos pagãos.

            Calvino, em seu comentário de Gênesis, teria reconhecido a discrepância entre a visão de mundo
de Gênesis e a da astronomia aristotélica de sua época. Um exemplo disso é que o Gênesis chama o Sol e
a Lua de “grandes luzes”, ao passo que os astrônomos teriam demonstrado que Saturno é maior do que a
Lua. Calvino explicava essa diferença opinando que “... Moisés escrevia de uma maneira popular, e
descrevia tudo o que as pessoas comuns, dotadas de bom-senso, fossem capazes de compreender,
enquanto os astrônomos investigam tudo o que a perspicácia da mente humana pode penetrar.”
(HOOYKAAS, 1988, p. 153). Este método exegético estava diretamente ligado à doutrina da “claritas
scripturae”, segundo a qual a mensagem central da Bíblia seria acessível a todos. Assim “erros” da crença
popular teriam passado pela vontade do Espírito Santo. Esse seria o caso, por exemplo, do Salmo 58.4,5:

“’Davi valeu-se, nesta comparação, de um equívoco comum, como se tivesse dito: não há astúcia que
possa ser encontrada em serpentes que não prevaleça nestes homens; pois embora as víboras possam se
defender dos encantamentos, por sua própria malícia, ainda assim estes homens se mostram tão astuciosos
como elas.’”. (HOOYKAAS, 1988, p. 154).

            Assim Calvino interpreta as águas acima do firmamento (Gn 1) como “nuvens” (os literalistas
acreditavam haver um oceano verdadeiro). Mas ele chega a essa alternativa admitindo que os “ignorantes
e incultos” teriam compreendido a coisa literalmente. E afirma que abraçar pela fé a idéia de águas acima
do firmamento, mesmo contradizendo a própria razão, “não está de acordo com os desígnios de Moisés.”

            Nessa linha de raciocínio, Calvino admitiu algumas “deficiências de raciocínio” em Paulo,
afirmando, simultaneamente, a veracidade da intenção religiosa do texto bíblico como Palavra de Deus.
Quando Paulo proíbe o uso dos cabelos longos porque seria “contrário á natureza”, Calvino pensa que ele
confundiu o costume grego com a “natureza” – na Alemanha e França de Calvino, era vergonhoso cortar
os cabelos! Calvino chega a admitir erro no original, ao comparar Atos 714 com Dt 10.22 e Gn 24.27). O
importante, aqui, é que Calvino não tenta explicar essas dificuldades pela eliminação; ele interpreta isso
como um obscurecimento voluntário do Espírito com o véu da humanidade, fazendo um paralelo da
Bíblia com a Encarnação do Verbo (cf. HOOYKAAS, 1988, p. 154, 155).

            Nas questões de ciência, Calvino reconhecia divergências entre o texto bíblico e o sistema da
época, mas não repudiava em princípio as teorias científicas. E não esperava encontrar nela a solução para
a luta entre o aristotelismo ptolomaico e o copernicanismo. A despeito disso, alguns estudiosos adotaram
uma leitura preconceituosa de Calvino, contra a qual Hooykaas faz uma série de críticas que vamos
transcrever:

“Aqui, mais uma vez, o preconceito cegou os historiógrafos: não se harmonizaria com a imagem atual de
Calvino que ele desse margem a qualquer coisa que não fosse intolerância e biblicismo. Segundo A. D.
White, ‘Calvino assumiu a liderança (contra o copernicanismo) em seu Comentário sobre o Gênesis,
condenando todos os que asseveravam que a Terra não está no centro do universo. Ele decidia o assunto
com sua habitual referência ao primeiro verso do Salmo 93, perguntando: ‘Quem ousará colocar a
autoridade de Copérnico acima da do Espírito Santo?’ Evidentemente, White tirou esta última citação da
History of Interpretation, de Farrar.

‘Não há mentira tão boa como a que é dita com precisão e detalhes’, e esta tem sido repetida com
freqüência, com a citação inclusive, por escritores da história da ciência, que evidentemente não
fizeram nenhum esforço para esclarecer o assunto. Durante quinze anos deixei registrado, em
diversos periódicos sobre a história da ciência, que a ‘citação’ de Calvino é fictícia, e que Calvino
nunca mencionou Copérnico; mas a lenda é difícil de acabar. Parece estranho que Farrar, que no
corpo de sua obra fez inteira justiça ao caráter erudito do método exegético de Calvino, pudesse ter-
se desviado tanto na Introdução. Tornei-me um cético a respeito de sua afirmação porque ela não se
ajusta aos princípios exegéticos de Calvino, e porque uma citação semelhante, supostamente
atribuída ao teólogo independente John Owen, resultou não ser verdadeira.” (HOOYKAAS, 1988, p.
157, 158)[9][9]

            No caso de Lutero, apesar de ele ter criticado em certa ocasião o Heliocentrismo, nunca menciona
o problema em obras autorizadas, nem citou seu nome. Melanchton, aristotélico, condenou inicialmente a
teoria copernicana, mas depois retirou a crítica (na segunda edição de sua obra Initia doctrinae physicae,
de 1549), e manteve boas relações com muitos copernicanos.

c)      Influência da teoria da acomodação de Calvino

A teoria de Calvino de que Deus teria se adaptado às concepções ingênuas dos ouvintes originais
da Palavra influenciou os copernicanos nos países protestantes. Edward Wright, no prefácio do De
magnete de William Gilbert (1600) defendeu essa posição. Philiphs van Landbergen (1561-1632)
defendeu que, quanto a assuntos astronômicos, a Escritura não fala segunda a realidade, mas segundo as
aparências. Johannes Kepler usava argumentos exegéticos semelhantes.[10][10]

d)     A posição de Galileu sobre as Escrituras e o movimento da Terra

Também Galileu, como Kepler, aceitava a autoridade da Bíblia apenas em assuntos de fé e moral.
Entretanto, como católico, era obrigado a aceitar as determinações da Tradição e a autoridade dos papas e
concílios. Assim a aparentava às vezes concordar que as decisões do papa sobre temas científicos
relacionados à Bíblia deveriam ser aceitas incondicionalmente. Sua solução era propôr que a teoria
copernicana estaria presente na Bíblia, mas só acessível aos iniciados, que deveriam através de uma
interpretação imaginativa detectar seu sentido. Assim ele tentava provar que em diversas ocasiões o
salmista usa o sistema heliocêntrico e conhece até mesmo fatos como a rotação do Sol ou as manchas
solares. O fato é que ele projetava na Bíblia descobertas e hipóteses do início do século XVII, e por
implicação confiava a exegese dos textos à capacidade e iluminação dos cientistas.

e)      A posição de John Wilkins sobre Bíblia e Ciência

O puritano e copernicano John Wilkins se opunha tanto aos defensores da “velha filosofia”
aristotélica, como aos adeptos da ciência mosaica. Segundo ele o Espírito Santo não expressou as coisas
como eram em si mesmas, mas como são percebidas pelo senso comum. Mas houve uma diferença
fundamental; pois na teoria da acomodação de Calvino, a concepção ingênua de mundo não era vista
como “errônea”, mas como uma espécie de “verdade relativa”. O mesmo dizia Kepler: “nossos sentidos,
também, tem sua própria espécie de verdade.” (HOOYKAAS, 1988, p. 166). 

            Já Wilkins, sob influência de uma concepção mais matemática e restrita de “verdade”, de caráter
marcadamente cientificista, tratava essa linguagem ingênua como “erros vulgares”. A falta de
sensibilidade para com metáforas e impressões ingênuas levaram a uma crítica exagerada. Curiosamente,
em certa ocasião, ele aponta o “erro” (Sl 19.5,6) apelando para uma teoria científica que hoje já foi
completamente descartada! A seu favor permanece sua atitude não dogmática até mesmo para com as
teorias científicas de seu tempo, tratadas como soluções sempre provisórias para os fatos.

f)       Copernicanismo e anticopernicanismo entre os reformados

Nos Países Baixos, a maioria dos protestantes, educada na filosofia escolástica, continuou
sustentando o antigo sistema, desinteressados por problemas científicos. Gisbertus Voetius, por exemplo
(1588-1676), defendia a filosofia escolástica como a única coerente com a Bíblia e procurava nas
Escrituras os fundamentos para todas as ciências. Com base no Salmo 19 rejeitou o sistema copernicano.

            Hooykaas observa que Voetius, como seu oponente René Descartes, sustentavam uma concepção
racionalista e “euclidiana” de Verdade, que não admitia a existência de verdades “poéticas” ou
“ingênuas” ao lado das científicas. Assim como Descartes acreditava que a matemática estaria correta
porque Deus não poderia nos enganar, Voetius acreditava que o Espírito estaria enganando as pessoas se
se acomodasse a seus conceitos ingênuos. Mas parece que a posição de Voetius na Holanda e de
Alexander Ross na Inglaterra tiveram pouca influência sobre os teólogos interessados em astronomia.

            Na Inglaterra, John Owen se opunha ao copernicanismo por motivos bíblicos. Mas muitos outros
como Edward Wright, Nathanael Carpenter (séc XVII) e Robert Record (séc XVI) apoiaram o
copernicanismo. Thomas Diggers defendeu o sistema em 1573 e, em 1576, propôs a idéia de um universo
infinito com estrelas além de Saturno, rompendo com a noção de um universo fechado que o próprio
Kepler endossaria mais tarde! Hooykaas cita ainda Mark Ridley (1560-1624), John Bainbridge (1618),
Henry Briggs (1561-1630), Henry Gelligrand (1597-1636), os dois últimos do Gresham College, o
matemático John Wallis e John Wilkins. (HOOYKAAS, 1988, p. 175). A adesão protestante ao
copernicanismo era tão grande que os católicos romanos às vezes identificavam copernicanismo com a
heresia protestante.[11][11]

C)    PURITANISMO E CIÊNCIA

a)      O caráter do puritanismo

Os puritanos eram calvinistas radicais que exigiam uma reforma mais completa da Igreja, que
envolvesse por exemplo abolição dos prelados e um governo eclesiástico livre do controle do Estado, e
que enfatizavam o sacerdócio de todos os crentes. Isso define, ao menos, um grande grupo representativo.
Entretanto, como destaca Hooykaas, os puritanos não eram todos iguais, muitas de suas idéias eram
compartilhadas por não-puritanos. Para ele, é muito mais fácil hoje “... dizer se uma determinada pessoa
era decididamente antipuritana, do que estabelecer quem era puritano.” (HOOYKAAS, 1988, p. 176).

            A maioria dos fundadores da Royal Society era composta de puritanos, sendo que havia os
“exaltados” (defensores da “filosofia mosaica”) e os adeptos da “nova filosofia”, mais moderados a esse
respeito. Mas todos concordavam que, em última análise, a ciência deveria se fundamentar na autoridade
do “livro da natureza”, e que a autoridade de Aristóteles deveria ser superada. Richard Bostocke (1585)
comparava os reformadores religiosos com os reformadores científicos, ambos voltando-se para as
“fontes”, isto é, os livros da Escritura e da Natureza.

Havia entretanto grande diversidade nas preferências filosóficas dos cientistas puritanos, somada a
um desgosto com a “filosofia antiga”. Havia acordo em rejeitar o aristotelismo e em defender uma ciência
baseada em “experimentos manuais”, inspirando-se abertamente em Francis Bacon. A química deu
espaço a teorias “corpusculares” seguidas por Basso, Sennert, Jungius e o famoso Boyle (HOOYKAAS,
1988, p. 179).[12][12]
 

b)     Baconismo Puritano

            O Gresham College em Londres era um centro de efervescência do puritanismo, e ali Francis
Bacon era muito popular. Segundo Hooykaas o esquema religioso da teologia cristã – Criação, Queda,
Mediação e Redenção – estava na base de suas obras filosóficas. Isso se ajustava ao programa puritano de
cristianizar (embora não clericalizar) todos os compartimentos da vida. Além disso sua linguagem
“progressista” (“progresso do saber”, “novo mundo”, “luz”, etc) era relacionada pelos puritanos à
expressão do Reino de Deus no mundo.

c)      Uma “Idade da Luz”:

Durante a revolução puritana um grande otimismo escatológico foi assumido na Inglaterra,


expresso por exemplo nos textos de John Milton. Este otimismo, que tinha traços nacionalistas, afirmava
a aproximação de uma “idade da luz” (assim em Comenius e John Hall, no século XVII). Nessa idade da
luz aguardava-se um período de conhecimento e entendimento sem precedentes, com a convicção de que
a ciência e a religião estariam unidas. Essa posição era compartilhada, por exemplo, por Robert Boyle. A
associação da “nova filosofia” com o puritanismo era tal que alguns de seus oponentes tratavam ambos
como erros associados (HOOYKAAS, 1988, p. 186).

d)     “Exaltação” e Saber

Para proteger o “bom nome” da nova filosofia, Thomas Sprat, defensor da Real Society, propôs a
separação entre os puritanos moderados e os radicais, considerados fanáticos, e sobre eles foi lançada a
culpa de tudo o que deu errado no período da Commonwealth. Um dos temas da discussão era se uma
formação intelectual avançada era indispensável aos ministros do evangelho. Os radicais defendiam que
não, e os moderados a apoiavam. Segundo Hooykaas, no entanto, os ataques dos radicais (John Webster e
William Dell) às universidades nada tinham a ver com algum ódio à ciência. A questão era bem outra:
eles pensavam que a exigência de formação universitária para os ministros desconsiderava o papel do
Espírito Santo (HOOYKAAS, 1988, p. 189).[13][13] O que os incomodava era que alguém fosse
obrigado a estudar Aristóteles antes de interpretar a Escritura.

Assim, inicialmente, as ciências naturais, desprezadas nas universidades, eram defendidas pelos
críticos dessas instituições – os radicais. Defensores radicais das reformas educacionais, como Gerrard
Winstanley e William Walwyn propunham currículos centrados em ciência e tecnologia. Essa atitude se
repete entre quacres na Inglaterra após a segunda metade do século XVII, e entre os menonitas dos países
baixos desde o início do século XVII.

O que ocorreu, segundo Hooykaas, é que após a Restauração, quando o puritanismo caiu em
desgraça, e a Nova Filosofia estava sob o patrocínio real, os defensores moderados (e politicamente
comprometidos) da Nova Ciência procuraram desvincula-la do puritanismo.

“No entanto, estas recriminações não podem eliminar o fato de que, a despeito do seu aniquilamento
político, muito da influência dos puritanos permaneceu. Os puritanos, através de toda a gama de suas
diversas concepções, ‘foram o principal sustentáculo da nova ciência antes da Restauração’, e deixaram
‘sua marca indelével na geração seguinte’. Nenhuma diferença na interpretação dos fatos pode esconder a
realidade dos próprios fatos, que foram trazidos à luz pela pesquisa histórico-sociológica, e que
demonstram que o ‘puritanismo, e o protestantismo, em geral ... desempenharam um papel importante no
suscitamento de um interesse permanente pela ciência.” (HOOYKAAS, 1988, p. 193)
 

EPÍLOGO, por Robert Hooykaas


“Sem invocar qualquer superioridade intelectual dos cientistas dos períodos da Renascença e do Barroco
em relação aos seus predecessores europeus antigos e medievais, ou aos filósofos orientais, somos
obrigados a reconhecer, como um simples fato, que a ‘ciência clássica moderna’ surgiu somente nos
séculos XVI e XVII, na parte ocidental da Europa. Uma ez descobertos os métodos apropriados e
estabelecidas bases consistentes, cada novo avanço da ciência fundamental da natureza (a física)
aperfeiçoa e corrige, mas não derroga completamente a fase anterior. Por conseguinte, a partir desse
ponto, qualquer pessoa, com o necessário talento, pode ajudar a construir a ciência sobre bases sólidas.
Cientistas de nações cuja própria cultura não deu origem a nada semelhante à ciência ocidental já deram
contribuições notáveis ao seu desenvolvimento. Pessoas do Ocidente, que perderam todo o contato com a
religião de seus ancestrais, dão continuidade, em suas atividades científicas, às tradições deles recebidas.”

“Embora, aqui e ali, dogmas naturalistas e materialistas sejam postulados como sendo conclusões de
resultados científicos, essas alegações não são mais justificáveis do que as pretensões de alguns de nossos
antepassados em fundamentar princípios teológicos sobre uma base científica. Tentamos demonstrar,
nessas páginas, que é mais provável que a situação real tenha sido o oposto: a ciência é mais uma
conseqüência do que uma causa de uma certa postura religiosa.”

“A confrontação da cultura greco-romana com a religião bíblica engendrou, após séculos de tensão, uma
nova ciência. Esta ciência preservou as partes indispensáveis da herança antiga (matemática, lógica,
métodos de observação e experimentação), mas foi orientada por diferentes concepções sociais e
metodológicas, que brotaram, em grande parte, de uma visão bíblica de mundo. Podemos dizer,
metaforicamente, que, embora os ingredientes corporais da ciência possam ter sido gregos, suas vitaminas
e hormônios foram bíblicos.”

“Uma questão a ser levantada é se esse resultado poderia ter sido alcançado de uma maneira diferente.”

“É claro que, de um ponto de vista lógico, se agora um mundo não-cristão manipula a ‘ciência, no sentido
moderno’, esta mesma situação poderia ter sido possível no século XVII e em outras épocas, como
também em outros lugares que não a Europa Ocidental. No entanto, do ponto de vista histórico, não faz
muito sentido reconstituir um curso da história diferente do que ocorreu na realidade. As coisas
aconteceram dessa maneira, e, portanto, é assim que teriam de ter acontecido.”

NOTAS
[1] “Brunfels, que morreu em 1534, Bock (1498-1554) e Fuchs (1501-1566) foram protestantes zelosos; e também o foram os
grandes botânicos dos Países Baixos, Clusius (1526-1609) e Lobelius (1538-1616), e os da Suíça, como por exemplo Conrad
Gesner (1516-1565), amigo de Zwingli e Bullinger. William Turner (1508-1568), ‘o verdadeiro pioneiro da história natural na
Inglaterra’, desempenhou um papel importante na introdução do calvinismo na Inglaterra, tendo trabalhado em contato direto
com Latimer, John a Lasco e Cranmer. (HOOYKAAS, 1988, P. 129).
[2] “... no século XVI, em Veneza e em Antuérpia, a repressão ao protestantismo foi um tanto hesitante e esporádica, e em
Amsterdã, no século XVII, a tolerância em relação aos judeus e às seitas cristãs (até mesmo os socinianos) era maior do que na
maioria das outras regiões da República das Sete Províncias.” HOOYKAAS, 1988, p. 130.
[3] A visão da investigação científica como dever de amor e gratidão, e não regra opressiva, estaria presente em Robert
Recorde (1550), Leonhard Fuchs, Thomas Digges, Bernard Palissy, e Johannes Kepler. (HOOYKAAS, 1988, p. 138).
[4] Mais tarde a doutrina genuína da predestinação cedeu lugar ao determinismo e ao deísmo, e o princípio da causalidade
migrou para a teologia. HOOYKAAS, 1988, p. 141).
[5] “O huguenote Palissy foi ridicularizado por ter ele, um homem ‘sem instrução’ (isto é, não conhecedor do grego e do
latim), ousado opor-se ao ponto de vista dos antigos, que acreditavam que os minerais crescem como as plantas. Um erudito,
apresentado sob o nome de Theorique, pergunta-lhe em que livro havia aprendido sua nova opinião, ele ele retruca dizendo que
obteve seu conhecimento através da anatomia da natureza e não lendo livros: ‘ Não possuo nenhum outro livro além do céu e
da terra, que são conhecidos por todos os homens, e que a todos foram dados para ele e conhecer’.” HOOYKAAS, 1988, p.
142.
[6] “O inglês puritano Nathanael Carpenter admitia que Lactâncio fosse ‘um Pai piedoso e eloquente’, mas ‘a infantilidade de
seus argumentos terminaria revelando sua ignorância das nções mais elementares de Cosmografia.’” HOOYKAAS, 1988, p.
145.
[7] “Thomas Culpeper (1655) salientou que uma não queria um papa em religião, a outra rejeitava o ‘papa em filosofia’
(Aristóteles), e ambas tinham um caráter colegiado – sínodos, de um lado, e sociedades científicas, do outro. Thomas Sprat
(1667) destacou aquilo que a Reforma e o Novo Conhecimento tinham em comum, isto é, o fato de ambos ‘refugarem cópias
adulteradas, para buscar esclarecimentos nos originais perfeitos: a primeira nas Escrituras, o segundo no volumoso compêndio
das criaturas.’” HOOYKAAS, 1988, p. 148.
[8] Havia na época alguns que procuravam fundamentar a ciência em bases bíblicas, a partir de dados concretos da Bíblia. “A
chamada filosofia mosaica (cosmologia, física, química) estava alicerçada em textos bíblicos e opunha-se à ‘filosofia gentílica’
de Aristóteles. No entanto, a filosofia mosaica era, em traços gerais, uma projeção, na Escritura, daquilo que se supunha ser a
sabedoria egípcia, e que teria vindo de Abraão ou mesmo de Set, embora, na verdade, proviesse da Antiguidade recente.”
HOOYKAAS, 1988, p. 151.
[9] Hooykaas descobriu ainda que Farrar acusa Owen, um teólogo puritano muito importante, de condenar Newton em uma
obra que foi datada de 1671, quando na verdade os Principia de Newton só foram publicados em 1687, após a morte de Owen!
(HOOYKAAS, 1988, p. 158).
[10] “As Sagradas Escrituras falam sobre coisas comuns (no ensino daquilo para o qual elas não foram instituídas) a criaturas
humanas, numa maneira humana, para que possam ser compreendidas pela humanidade; elas usam o que geralmente é
reconhecido pelas pessoas, a fim de fazê-las entender outras coisas, mais elevadas e divinas”. Kepler, citado por HOOYKAAS,
1988, p. 161.
[11] Hooykaas destaca que, à época, não existia prova irrefutável da realidade do movimento da terra. O problema é que às
vezes a decisão era tomada não em consideração aos méritos científicos, mas aos preconceitos teológicos. Daí a tendência da
Igreja de forçar um posicionamento entre seus membros. Muitos entretanto, como Pascal, rejeitavam essa ingerência sobre a
ciência. HOOYKAAS, 1988, p. 174.
[12] “O falecido professor C. S. Lewis, escrevendo sobre o puritanismo do século XVI, salientou que é um “absurdo” a idéia
de que os puritanos fossem pessoas ‘senis e algo grotescas, afastadas da corrente principal da vida’. “À sua própria maneira,
eles representaram, de fato, o que havia de mais avançado. A menos que sejamos capazes de apreender a vitalidade, a audácia,
e (logo em seguida) a atualidade do calvinismo, corremos o risco de formarmos um quadro totalmente falso.” HOOYKAAS,
1988, p. 180).
[13] Sua crítica se dirigia muito mais à velha filosofia. Assim, dizia Dell, “O saber humano, misturado à teologia , ou o
Evangelho de Cristo interpretado segundo Aristóteles, deu início, continuidade, e acabamento ao mistério da iniqüidade da
Igreja exterior.” Esse ponto é pacífico entre Lutero, Calvino, e a maioria dos defensores da nova filosofia. (HOOYKAAS,
1988, p. 189).

(*) Formado em Contabilidade, Teologia, Ciências Econômicas e Pós-Graduado em Administração


de Empresas e Educação, Professor em Instituições de Ensino Superior, Consultor em Sabedoria e
Ações
Inteligência Estratégicas
Empresarial. Para Sua
Fundador Empresa
e Diretor Durar edeVencer.
do Instituto Educação e Cultura Reformada.
E-mail Empresarial: cavalcante@icavalcante.net
E-mail Social-Educacional: cavalcante@luiscavalcante.com
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