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Prefácio: Deduzindo a Teoria de Dow

Ao iniciar meus estudos de especulação


financeira, encontrei todo tipo de bibliografia. De
recortes estatísticos à fundamentação psicológica do
day trade. Mas, não encontrei uma bibliografia
sequer numa questão essencial: a especulação
financeira é uma ciência?

Não bastam recortes estatísticos para definir


uma ciência. Ou uma técnica. O que proponho neste
livro é apresentar ao leitor um vasto diálogo
discutindo a especulação financeira enquanto
ciência.

Eis o caminho do que proponho: diferenciar


uma ciência de uma técnica; pensar a revolução
científica enquanto a aplicação da matemática ao
mundo. Nesta primeira discussão, pretendo
apresentar a especulação financeira enquanto
ciência. Em outras palavras, pretendo pensar uma
espécie de teoria do conhecimento da especulação
financeira. É possível fundamentar o ato de especular
nos mercados de futuros como sendo uma ciência
que precede de um método de interpretação do
mundo?

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Já temos um objeto de investigação. Quais os
fundamentos da especulação financeira? Qual é o
ponto fundamental para que seja possível definir a
especulação financeira como sendo o objeto de uma
técnica ou de uma ciência?

Os preços devem funcionar de acordo com


alguma lógica e não ao mero acaso. Não pode ser, a
especulação financeira, a mera reprodução
estatística. Deve ter algo fundamental, para que não
seja um mero acidente estatístico: o preço se move
durante o tempo de acordo com algum fundamento
ou é mera aleatoriedade?

Quais são as três variáveis fundamentais de


um mercado financeiro? Como o preço varia num
determinado tempo de acordo com um volume de
operações. São essas as três informações que saem
da corretora: tempo; preço; e volume.

Eis um simples gráfico:

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O gráfico da ação Apple possui esta flutuação de preço,
durante um determinado período de tempo de acordo com
um certo volume de negociações. Os candlesticks
representam as variáveis tempo e preço. Já o gráfico de
barras representa o volume das negociações.

A interação entre essas três variáveis é resumida pela


Teoria de Dow. A teoria de Dow é composta por seis
axiomas:

1) Os índices descontam tudo. Os níveis de


negociação de um ativo estão todos descontados
num índice. Mas, afinal, o que é um índice?
Certamente o leitor está familiarizado com os
mais diversos índices. Índice Bovespa. Índice
Dow Jones. Nasdaq. S&P. Mas, afinal, o que é
um índice? Qual é a definição de índice:
“Qualquer ponteiro que serve para indicar
alterações ou medir os efeitos de um fenômeno”.

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Provavelmente, o leitor pensou numa lista de ações.
Mas, um índice não é a mera lista de ações e o quanto elas
caíram ou subiram. É a medição de um fenômeno. Qual é o
fenômeno? A variação de preço num determinado grupo de
ações. A variação de preço, portanto, das ações é um
fenômeno medido por um índice. Mas, que fenômeno é este?
A luta entre compradores e vendedores das ações. Se os
compradores ganham, o índice sobe. Se os vendedores
ganham, o índice cai. O índice nada mais é do que uma
bússola entre as duas variáveis do mercado: compradores e
vendedores. O índice mede os efeitos dessa interação entre
compradores e vendedores. Eis, a terceira variável da Teoria
de Dow: o volume.

Então, o que temos até aqui? O volume (quantidade)


de compradores e vendedores determinam a flutuação dos
preços de um determinado índice. Voltemos ao gráfico: os
candlesticks se formam de acordo com o volume de
negociações. Os candlesticks, portanto, medem a variação de
preço de acordo com um determinado volume num
determinado período temporal.

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É, portanto, no primeiro axioma da Teoria de Dow
que encontramos o objeto de nossa ciência. O fenômeno da
variação de preço. Isso nada mais é do que senão a
representação de um candlestick.

A ciência da especulação financeira é, portanto, a


medição do fenômeno da variação de preços causada por um
determinado volume de negociações num espaço temporal
determinado. Eis as três variáveis de nossa ciência: tempo,
preço e volume.

Num linguajar filosófico: o fenômeno é o que faz a


causa ser consequência da consequência. É a palavra que
utilizamos para descrever a interação entre causa e
consequência. Que hajam nuvens é causa da consequência
de que chova. Na nossa ciência: o volume é causa da
variação de preços num determinado tempo. Eis o conceito
filosófico de um candlestick.
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Voltemos ao axioma: os índices descontam tudo.
Outra maneira de dizer isto é: o volume de negociações
determinam os preços num determinado espaço temporal.
Então, não importa o que, se tiver relação com o preço de
um ativo, será determinado pelo volume das negociações.
Isso resume todos os fatores: notícias, fatores contábeis,
macro e micro economia.

O candlestick é uma espécie de termômetro da nossa


ciência. É o que utilizamos para medir o seu objeto. Se fosse
física, seria a unidade de medida. É o W de Watt. É o C de
celsius. É, sem mais, a unidade de medida do fenômeno da
variação dos preços.

A Teoria de Dow, portanto, é a ciência que estuda a


interação entre tempo, preço e volume. Outra forma de
enunciar o primeiro axioma da Teoria de Dow é o seguinte:
o preço desconta tudo. Ao operar no mercado financeiro, o
leitor não precisa saber de quaisquer outras variáveis senão
preço, volume e tempo.

Para compreendermos a Teoria de Dow, precisamos


regredir ao século XVIII e compreendermos o nosso
termômetro

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O candlestick, ou vela, possui um marco de abertura,
um marco de fechamento. Um corpo e pode ter um pavio
acima ou abaixo. O ponto de abertura indica o preço na
variável tempo 1; é o tempo inicial; t=1. O fechamento é a
indicação do preço significa o preço no tempo final do
candle. Se o candle é de cinco minutos, o preço de abertura
é o preço em que o ativo negocia no segundo um. E
fechamento é o preço do ativo 300 segundos depois. Se o
preço negociou acima do valor de fechamento ou abaixo do
valor de abertura, o candle forma uma máxima e uma
mínima, representada pelo pavio. Se o preço cai, o corpo do
candle é vermelho (por exemplo), se o preço sobe nesse
lapso temporal, o corpo do candle é normalmente
representado na cor verde.

O que determina se o preço cai ou sobe é o volume


de negociações na ponta compradora e na ponta vendedora.

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O lado que vencer a briga leva o candle para o seu lado: se
há mais compradores, o preço sobe. Se há mais vendedores,
o preço cai.

Se do primeiro axioma da teoria de dow deduzimos


os candlesticks, é a partir do segundo preceito que iremos
deduzir o conceito de médias móveis. Diz o segundo axioma:

2) Os mercados se movem em tendências. Ou o


mercado sobe ou o mercado cai. Essas são as
tendências do mercado: de alta e de baixa. Mas,
afinal, o que é uma tendência? Tendência é a
“evolução de algo num dado sentido”. Ou seja,
tendência é a evolução dos preços num sentido
de alta ou de baixa.

Eis um exemplo de tendência de alta:

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Percebe-se a evolução dos preços num determinado sentido,
no caso, de alta:

Eis uma tendência de baixa:

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As tendências são três: primária, secundária e terciária. Eis
um exemplo:

A seta amarela, a tendência primária, isto é, a maior. As


tendências secundárias, isto é, as brancas e as tendências
terciárias, ou seja, as vermelhas. As tendências funcionam

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como uma espécie de matriosca. A terciária está contida na
secundária e a secundária na primária.

Parece um conceito absurdo, mas, fica mais claro ao


olharmos para as três médias móveis clássicas da análise
técnica. As médias simples de 8, 20 e 200 períodos. Uma
curta, uma média e uma longa. A tendência primária é a
direção da média longa. A secundária é a direção da média
intermediária e a média curta representa a tendência
terciária.

Uma média móvel é a resposta à seguinte pergunta:


Num determinado grupo de candles, num determinado
tempo, o preço aumentou ou diminuiu? São as médias que
determinam o sentido do fenômeno da nossa ciência. A
média de 8 períodos está contida na média de 20 períodos
que, por sua vez, está contida na média de 200 períodos. Ou,
mais uma vez: uma tendência primária é formada por uma
tendência secundária e uma terciária.

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Na imagem temos três médias. Uma azul, uma verde
e uma amarela. Observem que a amarela é de 200 períodos,
a verde é a de 20 períodos e a azul é a de 8 períodos. A média
de 200 períodos, por ser mais lenta, possui uma inclinação
menor. A média de 20, está numa tendência de alta. Já a
média de 8, por vezes sobe, por vezes cai. A tendência

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terciária é a mais passageira de todas. A mais rápida. Ela
acompanha de perto os preços. Nos vinte primeiros candles,
as três tendências são de alta. Depois, brevemente, a
tendência terciária passa a ser de baixa, mas, logo volta a
subir

Num outro exemplo: a tendência terciária é de baixa, a


secundária e a primária são, por sua vez, de alta.

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Durante uma operação, o leitor deverá ficar de olho
nas médias. Ela são o GPS da especulação financeira. Sem
elas, o grafista fica perdido. Pois, ele não consegue
identificar quais são as três tendências do mercado.

Vejamos um gráfico completo:

O leitor, agora, consegue olhar um gráfico, por exemplo, o


da Microsoft e observar as três tendências de mercado. Entre
maio e o final de junho, as três tendências eram de alta. No
final de julho, por um breve momento, a tendência terciária
passou a ser de baixa, mas, logo continuou de alta até passar
por um novo período de baixa. A tendência terciária
acompanha mais de perto a variação dos preços. Observem
que a tendência secundária é de maio até outubro de alta,
com breves períodos de baixa. Já a tendência primária é de
alta em todo o período plotado no gráfico.

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O que temos até aqui então? A especulação
financeira é a ciência que investiga a relação entre tempo,
preço e volume de acordo com suas tendências primária,
secundária e terciária.

Vejamos mais um exemplo. No gráfico acima, temos a


variação de preços (eixo y), num determinado tempo (eixo
x) de acordo com um certo volume (gráfico de barras verde
e vermelho) movendo-se em tendências primária, secundária
e terciária.

A maioria dos livros de análise técnica ao explicar as


tendências vão apresentar a partir da direção dos candles.
Mas, aqui, o leitor aprendeu a identificar a tendência a partir
do seu GPS. Eis o primeiro axioma fundamental do day
trade: não se opera contra a tendência. A tendência é a sua
amiga. Siga a tendência.

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A identificação a partir da mera direção dos candles
é errada, pois, é subjetiva na determinação da duração das
ondas primária, secundária e terciária. Não é inerente ao
candlestick a tendência. A tendência é o padrão que surge a
partir de vários candlesticks. Assim, falamos que em 200
candlesticks temos a tendência primária. Em 20 candlesticks
a secundária e em oito candles a terciária.

Até o momento, o leitor já sabe identificar a variação


do preço e a sua tendência. Os dois primeiros axiomas da
Teoria de Dow. O terceiro axioma apresentará ao leitor a
ideia de correlação entre mercados, pois, o terceiro axioma é
o

3) Princípio de confirmação. Uma tendência só é


válida a partir de uma correlação intermarket.
Isto é, um índice confirma o outro.

Um pouco de história da economia se mostra pertinente para


a compreensão do terceiro axioma da teoria de Dow. Dow
criou dois índices. Um industrial e um de transportes. Ele
pensou: “se a produção industrial cresce, também, deve
crescer o escoamento de produtos”. Dow nada mais fez do
que postulou a relação intermarket. Podemos recorrer à
teoria dos conjuntos para entender o preceito:

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Se B está contido em A, logo A é consequência de B. Na
teoria de Dow teríamos o seguinte: a variação da indústria
engloba a variação da indústria de transportes. Logo, a
variação dos transportes é consequência contida na variação
da indústria. Ou, trocando em miúdos. O índice industrial é
confirmado pelo índice de transportes.

Darei um outro exemplo do princípio de


confirmação: o dólar é impulsionado pelo juros. Quando
maior a curva de juros, maior a cotação do dólar. Pois, juros
gera inflação e inflação desvaloriza a moeda, logo, se o juros
sobe, o dólar tende a subir. A tendência da curva de juros é
confirmada pela tendência da cotação do dólar.

Outro exemplo: a tendência do índice DXY (cesta de


moedas) confirma a tendência da cotação do Dólar/Real.
Isso porque se o dólar se valoriza “lá fora”, ele tende a se
valorizar “aqui dentro”. Pois, “dentro” está contido no
“mundo”, assim como “fora”. Ou, numa linguagem um
pouco menos confusa: a cotação do euro está correlacionada
à cotação do dólar em reais, pois, a cotação do dólar em reais
é correlacionada à cotação do dólar em euros.

No mercado brasileiro podemos dizer, ainda, que a


tendência do índice Bovespa é confirmada pela tendência do

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S&P, pois, as principais ações da Bovespa, também,
negociam no índice SPX (ver ADRs). Também temos a
correlação índice Bovespa e dólar, mas, é uma correlação
inversamente proporcional. Se o índice tende para cima, o
dólar tende para baixo.

Podemos compreender a relação intermarket da


seguinte maneira: o maior mercado de ações do mundo –
EUA- influencia os demais mercados, pois, o consumo das
empresas (em matéria prima, por exemplo) desse mercado,
devido à globalização, influencia nos demais mercados. Um
exemplo histórico do mercado brasileiro:

• 3. Princípio de confirmação: para confirmar


uma tendência é necessário que os índices Dow
Jones Industrial Average (DJIA) e Dow Jones
Transportation Average (DJTA) coincidam com a
tendência.
• 4. Volume convergente: quando o mercado
mudar a tendência haverá um aumento
expressivo no volume das negociações. Dow
acreditava que volumes menores eram apenas
algum vendedor ou comprador agressivo, e que

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para mudar uma tendência precisava que um
bom volume confirmasse. Enquanto não houver
um volume alto confirmando a mudança de
tendência, vale a tendência anterior.
• 5. Utiliza as cotações de fechamento para o
cálculo das médias: não leva em conta os
máximos e mínimos para o cálculo de seus
índices.
• 6. A tendência é vigente até que seja
substituída por outra oposta: até que os
índices se confirmem, considera-se que a
tendência antiga segue em vigor, apesar dos
sinais aparentes de mudança. Este princípio
procura evitar a prematura troca de posição
(comprada ou vendida) .

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