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A Gestão de Fornecedores

Imagine que você é um fornecedor da Toyota. QU31 seu papel na cadeia de supri­
mentos da compar.hia? Qual a expectativa de melhoria em seus níveis de produtivi­
li dade? Em que aspectos sua experiência como integrante da cadeia de suprimentos
da Toyota seria diferente de sua experiência como fornecedor de outros fabricantes
" do equipamento original do setor automotivo? De que forma seus processos teriam
de funcionar para andar em sincronia com o sistema Toyota? Como você teria de
adaptar sua empresa, do ponto de vista o~ganizacionalJ para colaborar com outros
), fornecedores da Tovota? De que maneira ·os princípios v4l possibilitam compreen­
~ der o sistema d~ gestão de fornecedores da ToVota e o impacto que exerce na ca­
deia de suprimentos? Essas questões formam a ba5e deste capítulo.
t
~
AS DIFERENÇAS MEDIDAS NO DESEMPENHO NA TOVOTA

I" E NOS FORNECEDORES


Um estudo feito por John Henke, da Planning Per5p~ctives, traz dados sobre o índice
de Relacionamentos de Trabalho (WRI, working relations index) em diversos OEMs. A
I análise avaliou 1.112 situações de compra nos relacioname0tos entre OEMs e forne­
cedores. O índice classifica OEMs com base em 17 critérios, entre os quais: "confiança
do fornecedor no OEM, coniunicações verdadeiras E abertas, informações oportunas,
interesse em ajudar na redução de custos, extensão das alterações de última hora
\ em engenharia, envolvimento nas primeiras etapas do processo de desenvolvimento
de produto, flexibilidade de recuperação de programas de engenharia cancelados ou
I adiados, etc." Esses critérios são então classificados de acordo com o foco, isto é, nos
relacionamentos, nas comunicações, ajuda e oportunidades de lucro. 1 Em, 2005 os
valores do índice de relacionamentos de trabalho ja Tovota, da Honda e da Nissan
ficaram entre 298 e 415. Os índices da Chrysler, da Ford e da General Motors {GM}
ficaram entre 114 e 196. Oitenta e cinco por cento dos fornecedores para as três
grandes OEMs caracterizam seus relacionamentos com elas como "ruins", e cerca de
metade deles afirma que prefeririam não ter negócios com elas.
A Tabela 7.1 mostra que o desempenho dos fornecedores da Tovota é considera­
e
velmente superior aos índices observados para outros OEMs, que essa superiorida­
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104 A Gestão da Cadeia de Suprimentos da Toyota AGestão de Fornecedores 105

de ocorre há muito tempo. logo, os dados sugerem que as estratégias adotadas pela TABELA 1.2 Os valores globais do WRI
Toyota para identificar e estabelecer um relacionamento com um fornecedor talvel
Áre~ de <Qqlpras
sejam muito mais eficientes do que aquelas implementadas por outros OEMs.
Além disso, a Tabela 7.2 mostra que o desempenho do fornecedor varia entre OEM Maior escore WRI Menor escore WRI
departamentos para um mesmo OEM. Por exemplo, na GM,'quete'm um WRI global
de 131, o setor de sistemas de transmissão tem um WRI igual a 156, ao passo que Toyota Elétricos eeletrônicos 461 Carrocerias parciarmeote montadas 381
o indice para o setor de carrocerias parcialmente montadas tem um valor que caí
1 Geoeral Motor:; Sistemas de transmíss50 156 Carrocerias parcialmente montadas 7'
a 74. Todos os outros setores da GM têm índlces que ficam entre esses valores. Em Ford Chassi 194 Elétricos eeletrônicos 154
contrapartida. o índice global da Toyota é 407. O setor de componentes elétricos Chrysler Elétricos eeletrônicos 263 Exterior 167
e eletrônicos atínge o representativo valor de 461, ao passo que" o setor de carro­ Níssari ChaSSi 316 carrocerias parcialmente montadas 245
cerias parcialmente montadas chega a 381. Esses índices sugerem Que o departa­ Honda exterior 401 Sistemas de transmissão 328
mento de compras e a gestão de relacionamentos da Toyota com seus fornecedores
desempenha um papel na satisfação com o relacionamento de trabalho.
O desempenho do fornecedor está intimamente relacionado com Os desejos no setor automotivo é res~ltado da má gestão de fornecedores. Esse nível de des­
manifestados pelos OEMs. Constatou-se que os fornecedores. da Toyota J da Nissan perdício ocorre por conta da fnterpretação equivocada das especificações de pro~
e da Honda oferecem as maiores melhorias na qualidade do ·produto, há anos, em dutos,. de uma compreensão elou fabricação imperfeita de peças complexas, além
comparação com 05 de outros OEMs. Esse aumento reflete as prioridades relativas à da coordenação ineficiente da"capacidade e da demanda, Os custos relacionados
qualidade versus custo desses OEMs. A GM tem um foco cinco vezes maior no custo a este desperdício são estimados em $10 bilhões. Nesse cenário, não paira dúvida
em comparação com seus esforços em relação à qualidade. Para a Ford e a Chr'ysler" sobre a importânda da gestão de fornecedores como elemento de capadtaç~o da
essa atenção aos custos supera Ofoco na qualidade em quatro vezes. A Nissan tem cadeia de suprimentos. A base de tudo é:a noção de que o modo como um fornece~"
seu foco em custos 2,5 vezes maior do que em qualidade, e a Honda e a Toyota dão dor administra suas operações afeta as espedfkações e as inovações de pródutos,
um peso de 1,7 a custos {sendo l' o valor de re'ferência do peso para qualidade). Está o desempenho da entrega, custos e qualidade.
daro que este tipo de foco se reflete no desempenho dos fornecedores.
Um estudo feito pelo OESA!McKinsel sugere que os custos de interface são
estimados em 5,2% dos custos de programas. (Os custos de interface representam
OS ELOS PARA OS PROCESSOS DA lOVOlA
os gastos com os problemas no WRL) Este estudo estima que saro do desperdício Uma das principais características da estratégia de vendas da Toyota consiste em
construir esquemas que evitem ações unilaterais com vistas a alterar volumes ou
compromissos. A utilização de uma abordagem de consenso, apoiada pela visibi~
TABELA 7.1 O fndice de Relacionamentos de Trabalho global entre OEMs e
fidade em toda a cadeia de suprimentos, reduz o número de ações que resultam
fornecedores, para o período de 2002-2006·
em custos adicionais nas diversas partes dessa cadeia. Conforme discutimos nos
. Ano Alteração percentual Capítulos 3 a 6, a Toyota se esforça para reduzir a variabilidade e garantir a estabili~
dade nas operações por meio de planejamentos de mix sistemáticos~ de criteriosos
OEM 2002 2003 2004 2005 2006 2005-2006 2002~2006
planejamentos de vendas e operações e da sensibilidade para perceber o impacto
Toyota 314 334 399 415 407 -1,9 29,6 das mudanças no produto em toda a cadeia de suprimentos. Esses planejamentos
Honda 292 307 384 375 368 -1,8 26,0 calculados informam aos fornecedores as alterações graduais nos projetos e escla­
Nis$an 225 262 294 298 300 0,6 33,3 recem sobre os volumes estáveis de pedidos.
Médía do Setor 223 234 263 259 266 0,2 l!M· Conforme sugerimos no Capítulo 3, para manter a garantia de estabilidade na ca~
Chrysler 176
deia de suprimentos da Toyota, o mix ótimo avalia a receita em termos de impacto dos
180 186 195 218 11,2 23.8
custos nas operações. Conforme diminui o número de modelos oferecidos em cada re­
Ford 166 161 163 157 174 10,8 4,8
gião, as escolhas disponíveis para os clientes ficam mais limitadas. A Toyota compensa
GM 164 1S7 150 114 131 14,9 -20.1
essas limitações com o aumento no valor para o cliente, pois assim ele se sentirá mais
• Valore$ O"ntt(! {J e 249 são consklO"fildo" ~t1JiI'l5", f:ntre 2S0 e 359:são "'apropriados" eentre 3S0 eSOO disposto a escolher um dos modelos disponíveiS ou esperar até o modelo preferido
~bans QI,I muito bQns ,
d

estar disponível. Assim, para que a estratégia da Tovota de limitar as escolhas do diente
Fonte: Pfannirtg Perspectives, http://$C\(.pn'lewswire,com!alJta/200606l2/OfM008J.25200G-1.htrnl. seja competitiva, ela precisa acarretar uma expressiva melhoria no valor do produto
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106 A Gestão da Cadeia de Suprimentos da Toyota AGestão de Fornecedores 107

pata esse cliente. Em vista de seu importante papel desempenhado na cadeia de supri­ Cada um dos fornecedores assina um contrato para suprir uma parcela do mer­
mentos da Toyota l essa geração de valor começa com os fornecedores da companhia. cado total, durante o cicio: de vida de um modelo. Oados empíricos coletados pelo
Gary Dodd, ex-presidente da Tyre &. Wheel Assembly, um fornecedor da Toyo~ economista japonês Asanumall'sugerem que os fornecedores recebem a promessa
ta, descreve o nível de colaboração entre um fornecedor e a Toyota. O foca em
de todos os pedidos associados a um segmento de mercado (por 'exemplo, expor­
"más notícias p"rimeiro" {pois assim os problemas identificados podem ser resolvi­
tações versus mercado interno] ou u ma fatia preestabeleCida de um certo mercado
dos de imediato} proporciona um ambiente em que as fornecedores têm maiores
(por exemplor uma parcela do volume comercializado no mercado internol, ou ain­
: incentivos para propiciar visibilidade sobre suas operações. AJém disso# o nível de
da todos os pedidos de um determinado modelo de verculo. A meta do fornecedor
visibilidade oferecido ao fornecedor sobre as metas anuais de volume da Toyota e
é manter o desempenho de entrega, a alta qua~jdadeJ as melhorias em produtivida­
as discussões acerca da exequibilidade deste nllmero na perspectiva do fornecedor
de~ e assim por diante$ durante o dclo de vida do modelo, O estudo publicada por
aUmentam a probabilidade de atingir as metas de produto e produtividade. Asanuma também indíca que nenhum fornecedor é útil ca.so se-torne a fonte de
A maior parte dos estudos sobre gestão da qualidade total {TQM, totol quolí­ diminuição de rendimento em termos de capacidade,
ty manogement) sugerem que processos estáveis são um componente importante Asanuma estudou a indústria auto motivaI de arroz e de produtos eletrônicos
na melhoria da qualidade e da produtividade. Visto que a Toyota oferece compro~ do Japão. Esses três setores diferem em termoS dos ciclos de vida de seus produtos,
missas de pedidos estáveis a seus fornecedores, espera-se que estes aproveitem que variam de quatro a um ano, ou mesmo alguns meses. Ele descobriu que algu­
essa oportunidade para desenvolver produtos de qualidade superior e concretizar mas das principais caracteristicas na gestão de fornecedores incluíam a·condição
melhoria.$ nesse aspecto. Conforme já descrevemos. os fornecedores da Toyota ge­ de independência entre estes, porém com a conservação de relacionamentos pró·
ram melhorias em qualidade, constantemente~ ano após ano. Além disso. os forne­ ximos e de longo prazo, com a colaboração constante, a permuta de funcionários
cedores implementam melhorias em produtividade com a adoção das práticas do par longos p'eríodos e a particlpação acionária cruzada entre empresas. O impacto
STP. Essas mefhorTas em qualidade e custos se refletem em um maior valor para o dessas características foi observado em termos de cooperação e inovação de longo
cliente. logo, a responsabilidade do fornecedor consiste em capitalizar beneficios prazo, cortes de custos, reação rápida a flutuações na derl!anda e altos níveis de
por conta da estabilidade de pedidos e em gerar melhorias em çustos e qualidade confiança .. Contudo, a extensão dos relacionamentos pr6ltiimos varia de fornecedor
em nível que torne a cadeia de suprimentos competitiva. , para fornecedor e prOdutos e ao longo do tempo; conforme garantem as forças
Além do foca na qualidade e na produtividade, os fornecedores da Toyota pre­ competitivas pelo produto final. Assim. enquanto os fornecedores muitas vezes são
cisam ser"nexiveis para serem capales de reagir às alterações diárias nos pedidos. organizados como um keiretsu (um grupo de companhias com investimentos m4tu~
Eles não se arriscam a tocar a produção adiante com base na previsão de peças, e os), o papel que cumprem varia em termos de tipo de produto.
esperam até O pedida final ser enviado. Por exemplol um fornecedor de peçasjust Estudos feitos sobre os OEMs japoneses indicam uma expressiva diferença en­
in time teria de estar sincronilado em relação à cor exata ou ao mix exato de produ­ tre estes e OEMs nortewamericanos. Estudos mostram que as montadoras de veícu­
tos, conforme esses se deslocassem pela linha de montagem. Porém, é possível que los japonesas venceram a renovação de seus contratos em 90% dos casos, em COm­
essa sequência seja ajustada em resposta às mudanças feitas pelas concessionarías. paração com os 71% dos fornecedores pa ra os OEMs do setor automotivo dos EUA.
às questões que digam respeito a qualidade, aos pedidos em atraso na fabricação e Um estudo conduzido em 1992 descobriu que uma unidade típica da Toyota tinha
assim sucessivamente. Portanto, os fornecedores just in time não podem abrir mão apenas 125 fornecedores, em comparação com uma unidade típica da General Mo~
de esperar por cerca de quatro dias antes da entrega para receber o pedido final. tors, que contabilizava 800. No âmbito corporativo, a Toyota tem 224 fornecedores,
enquanto a General Motors tem 5.500. Outro dado interessante é que os OEMsja~
A escolha dos fornecedores poneses fabricam cerca de 27% de seus componentes internamente, ao passo que
Na Toyota, a escolha de um fornecedor é um processo longo, demorado, que envol­ para os OEMs norte-americanos essa porcentagem é 54%. Enquanto as montadoras
ve a verificação da possibilidade de um fornecedor participar na rede de suprimen~ japonesas respondiam por 33% da produção mundial em 2002, os fornecedores ja­
tos. Em alguns casas um fornecedor é selecionado por apresentar inovações que poneses eram menos de 19% dos 100 principaiS fornecedores para montadoras em
melhoram processos ou diminuem custos. A expectativa em relação a fornecedores todo o mundo. Essa diferença sugere que os fornecedores japoneses são menores
novos e existentes é que ambos compartilhem suas inovações com outros forne~ do que os eqUivalentes norte-americanos. Vistas como um toda essas estatísticas
cedores que fabricam produtos semelhantes. logo. a condição de fornecedor traz indicam que há diferenças entre as estratégias de gestão de fornecedores utilizadas
em sua esteira uma oportunidade de receber ideias geradas em toda a cadeia de pelos OEMs japoneses e norte:~americanos.
suprimentos. Em lugar de aumentar o número de fornecedores para induzir a oferta S
de preços competitivos, a meta da Toyota é minimizar o número de fornecedores e A seleção de fornecedores da Toyota
desenvolver parcerias de longo pralO, cam a educação de fornecedores eltiistentes o Reino Unido é um bom exemplo de como a Toyota seleciona seus fornecedores.
no sentlfJo de expandirem suas atividades e crescerem ao lado da Toyota. Um fornecedor precisa obedecer a condições extremamente rígidas para se qualífi~
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108 A Gestão da cadeia de Suprimentos da Toyota A Gestão de Fornecedores 109

car como tal. Em 1991.. quando a Toyota montou sua unidade em Oerbyshire, lngla­ processo específiCO e por ISSO desfrutava de conslderilvel influência na cadeia de
terra, a companhia iniciou suas operações c.om u,ma lista de 2 mil fornecedores em suprimentos. Pela mesma razão outro fornecedor se disponibllizo.u a efetuar ajustes
potenciãl. Essa lista foi reduzida para 400, e foi julgada com base em critérios COmo em momentos de pico de demanda com a adaptação de sua carga horária de traba~
"avaliações das atitudes dos fornecedores, das instalações de fabrka~o, dos nivels Iho,"Um dos exemplos examinados por Roy Vasher foi uma situação em que uma re·
de qualidade e' da capacitação para o desenvolvimento de pesquisa". Alguns cortes - gu!amentação estipulada pelo governo exigia uma alteração na tinta anticorrosão.
foram feitos e o grupo final continha 150 fornecedores. Algumas das empresas' que Mais de 4 mil peças sofreram com os impactos trazidos por essa mudança~ e havia
se candidataram sentiram..se desmotivadas diante do v~lume de detalhes solici­ um número muito pequeno de fornecedores de quem esses materiais de pintura
tados. Outras perceberam que essa exigência seria uma vantagem e entenderam poderiam ser obtidas. Assim, a Toyota foi capaz de concentrar suas atenções em
que os conselhos sobre a melhorIa da qualidade e fatores competitivos dados pelos alguns poucas fornecedores para desenvolver os novos materiais de pintura que
técnícos japoneses poupariam o custo de empregar consultores externos. deveriam ser fomecidos aos fornecedores que pintavam as 4 mil peças. O trabalho
A Tôyota solicitou a seus fornecedores em potencial que dessem prova de sua com esses fornecedores de víncuros inferiores fOI essencial para a execuç~o das mu­
capaCidade de cortar custos de imediato, com a adoção de novos projetos. Um for­ danças necessárias de modo oportuno e eficiente. O executIvo de compras Jamey
necedor apresentou um projeto não apenas barato como também mais Simples e Lyklns compreendeu a ideia de que a Toyota escolhe seus fornecedores em diver~
melhor do que aquele do fornecedor japonês da Toyota. O componente em questão sos niveis, pois assim garante a disponibilização de soluções inovadoras em toda a
era um castão para a alavanca de câmbio simples e que custaria centavos de libra cadeia de suprimentos. Ele descreveu casas em que os engenheiros da Toyota e os
esterlina, mas os britânicos encontraram,um modo de fabricá-lo com duas peças funcionários dos fornecedores dedicavam uma expressiva parcela de tempo - três
plásticas em vez de quatrol como fabricava o fornecedor japonês. jim Robinson, o meses.. por exemplo - à solução de um problema aparentemente sem resposta,
gerente geral de compras da Toyota para a Reino Unído, disse: "Temos fornecedo­ e como tiveram êxito com base na colaboração, Essas estratégias organizacionais
res que pensam em'custos de imediata. No caso do castão para o câmbio os custos fazem uso eficiente da base de conhecimentos da rede de fornecedores.
são pequenos. Mas se essa peça custá duas libras [cerca de US$1,45], contando o A extensão dos relacionamentos de negócios da Toyota e de seus fornecedores
numero de 200 mil veiculos.produzidos ao ano essa economia será imensa".& Ele tier 1 excedeu 10 trilhões de i~nes em 1995. Além dessas 28 empresas~ em 1995 ha­
acrescentou que alguns dos fornecedores da Toyota dobraram seus índices de pro~ via 234 fornecedores 'de peças principais e outros 77 fabricantes de equipamentos
dutivldade ao tratarem de defeitos negligenciáveis. para a produção e outros produtos. 05 dados coletados no mesmo período mostra­
Um sucesso dessa envergadura ajuda toda a empresa, A mudança no setor de ram que. com.o resultado desse sistema em níveis de vínculo, 300 gerentes de com­
autopeças foi bem representada pela decisão tomada pela Daimler-Benz, da Alema­ pras na Toyota compravam componentes para 3,6 milhões de carros, o equivalente
nha, de buscar fornecedores de componentes no Reino Unido, Mais de 30 executi­ a 12 mil peças por gerente.
vos afemães reuniram-se com 100 empresas fabricantes de componentes automoti­
vos britânicos. O Dr. Gerhard Liener, um dos membros do conselho da administração A PRESSÃO PElO DESEMPENHO DOS FORNECEDORES
incumbido das compras de $35 bilhões da empresa junto a 60 mil fornecedores es­
A pressão sobre um fornecedor é mantida por meio de um sistema equilibrado de
palhados em 100 países, não escondeu suas verdadeiras ratões para estar no Reino
mudanças em modelas, que por sua vez engloba um sistema equilibrado de nego~
Unído. A chegada das companhias japonesasr disse ele, havia auxiliado a melhorar
ciações. O compromisso de preço usual assumido pelo fornecedor perante a Toyota
os feitos em tecnologia e qualidade das empresas fornecedores britânicas, vale pelo período de um ano. Esses preços são reavaliados a cada seis meses, mas
o contrato tem validade por todo o ciclo de vida do modelo. O impacto dessa estra~
A ORGANIZAÇÃO EM NivEIS DE VíNCULO DE FORNECEDORES tégia é visto na manutenção da pressão sobre um fornecedorr para que seu desem­
E A GESTÃO DE RELACIONAMENTOS penho seja melhorado mesmo na caso de um contrato de longo prazo. A ausência
Os OEMs do setor automotivo organizam seus fornecedores em níveis de v(nculo~ de um nível desejado de desempenho após assinar um contrato põe em risco as
ou tiers. Os fornecedores tier 1 são os montadores de sistemas, que administram chances de vencer outro contrato para outros modelos de veículos fabrkados pelo
todos os relacionamentos com os fornecedores tier 2 e assim sucessivamente. A mesmo fornecedor. Essa estratégia reforça a estabilidàde dos pedidos em horizon­
base da pirâmide é composta por quatro fornecedores que contabilizam, estima~se> tes de tempo mais amplos" por meio de uma pressão uniformemente exercida no
sentido de o fornecedor estar em conformidade com as exigênCias contratuais.
cerca de 40 mil empreendedores que detêm um grande montante do capital inte­
lectual necessário à produção de componentes excelentes. Muitos desses fornece~ Nishtguchi também sugere que um sistema AlPS de organização de fornecedo­
dores são detentores de patentes, têm equipamentos customizados e talvez sejam res {em alusão à silhueta serrilhada da cordilheira dos Alpes), com elos eqUilibrados
em todos os modelos de veículos, disponibíliza uma segunda fonte para a maior
uma empresa familiar. Por exemplo, uma série de entrevistas detalhadas dadas por
1 parte dos componentes: ao mesmo tempo que permite a obtenção de componen­
Nishiguchi traz. exemplos de um fornecedor tier 4 que tinha 200 patentes de um
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110 A,Gestão da cadeia de Suprimentos da Teyota A Gestão de ::'-11

tes junto a uma única fonte para um dado modelo de automóvel. A disponibilida­ Nos casos em qúe há monitoramento de processo, os dados mostram um pa­
de de fornecedores alternativos, que possam entrar em ação prontamente, exérce drão diferente. Os OEMs japoneses exercem expressivo contro,le sobre o~ prOt c;$"
pressão sobre os fornecedores existentes para que estejam em conformidade com sos'de fabricação dos fornecedores, exigindo informações se ocorrer únw I1lUl~cli lÇ;:;
os contratos assinados com a Toyota. como a substituição de uma mátéria-prima ou uma regulagem de um equipamento.
Os dados sugerem que este controle 'de processo permite aos OEMs garantir a es­
A PROFUNDIDADE DOS RElACIONAMENTOS tabilidade e a qualidade do desempenho de componentes. o que permite a CI'ltI'l2g,l
COM OS FORNECEDORES Iust in time e a reduçâo dos Custos de recebimento. O monitoramento detaihdJu do
desempenho do fornecedor requer qúe os gerentes de compras dos OEMs passem
O relacionamento com fornecedores quer sejam os que recebem os desenhos de pe­
l
uma boa parcela de tempo nas instalações dos fornecedores. Em um OEM, tn~s ge~
ças da Toyota, qúer os que apresentam seus próprios projetos à montadora, que os rentes de compras compartilham uma mesma escrivaninha e uma me:sm," (';Jdeir;'1
aprova, varia com base no que está sendo produzido, Relacionamentos lntermediáríos
A ideia é que no máximo um desses gerentes permanecerá na matriz, cnquantf'
também existem. como no caso em que um OEM fornece croquis preliminares e os os outros dois serão lotados nas instalações dos fornecedores. O termu de idioma
s
fornecedores os detalham. Um estudo conduzido por Asanuma sugere que podem japonês shukko refere~se a esse tipo de funcionário transferida, que talvez passe
ocorrer até seis diferentes níveis de relacionamento entre o OEM e o fornecedor:
toda sua carreira nas instalações dos fornecedores l administrando esses relado­
1. O OEM fornece os desenhos de projeto e as instruções detalhadas de fabri~ . namentos em nome do OEM. O papel d.o shukko varia, e pode ser temporário ou
cação (por exemplo, quando peças pequenas são montadas em um presta­ essencialmente permanente. Essa flexibilidade permite o ajuste da m:lo (.:( ,\~J"ê p
dor de serviços de montagem). pOSSibilita uma melhor coordenação em toda a cadeia de suprimentos.
u
2. O OEM fornece os desenhos mas o fornecedor projeta os processos de fabri· Helper afirma que o modelo norte-americano de gestão de fornecedol'e~ NiVu!W~
cação (por exemplo. no fornecimento de peças estampadas). diversos relacionamentos, a troca facilitada de fornecedores, o grande númefo de fOI1­
3. O OEM fornece os desenhos iniciais e delega a finalização destes e todo o tes únicas/ o pequeno intercâmbio de informações, o nfvellimitado de compromisso,
processo de fabricação ao fornecedor {por exemplo, quando os produtos são a çompetiçào baseada em preço na escolha de fornecedores e uma busca plJl' ;).CW<..~ ,
peças plásticas utilizadas em painéis}. fornecedores (se aparecerem problemas). Em contrapartida, o modelo japonês motivCl
4. O OEM fornece as especificações, enquanto o fornecedor gera os desenhos. relacionamentos estreitos$ a competição em termos de qualidade, a entrega, a capa­
Porêm, é o OEM que tem '0 conhecimento detalhado sobre o processo de citação dos setores de engenharia antes do preço, os altos níveis de troca de informa.
fabricação {por exemplo, quando o produto é um banco}. çães. de compromisso, o numero elevado de fornecedores. os relacionamento~ de lor.
5, O OEM fornece as especificações, o fornecedor gera os desenhos mas é o go prazo e o trabalho com fornecedores existentes para definir so!uções de problema:,.
OEM que tem conhecimentos limitados sobre o processo de fabricação {por Além disso, os fornecedores que atendem a fabricantes que adotam o siste­
exemplo. quando os produtos são freios. mancais e pneus). ma de produção enxuta são muitas vezes solicitados a efetuar entregas diJi ias (' 11
6. O OEM compra o produto de um catálogo (por exemplo, com itens ampla­ envolverem~se no desenvolvimento de produtos. Assim, os fornecedores que aten­
mente utilizados e vendidos em balcão). dem a esses fabricantes têm em geral a garantia de retornos razoáveis, desde Que
façam um esforço considerável para atingir o desempenho esperado,l1 Evidências
Os fornecedores permitem a flexibilidade durante o projeto, mas estão sujeitos não publicadas sugerem que uma vez que um fornecedor estabelece \Im H;.'k,çii)­
a monitoramento rígido durante a fabricação. Estudos conduzidos por Clark e Fu­ namento de negócios com a Toyota é eie que sai perdendo se não demonstrar o
l
9
jimoto sugerem que na Tovota os fornecedores "caixa preta" {isto é, aqueles que desempenho esperado. O percentual médio de fornecedores que mantiveram os
desfrutam de consIderável flexibilidade durante o projeto de produto) têm a maior relacionamentos com seus compradores foi 84% no setor automotivo japonês.
proporção na base de fornecedores, em relação a outros OEMs. Mas até mesmo Outros autores sugerem que os OEMs japoneses absorvem uma parte do risco
essa proporção varia para os diferentes produtos, conforme indicam os estudos fei­ nos negócios de seus fornecedores, com base na intensidade dos relacionamentos
tos por Kamath e Uker. tO Os autores demonstram que a relação entre o OEM e os for­ que mantêm com estes. A estabilização do desempenho corporativo de alguns for­
necedores é como de pai para filho ou de igual para igual. O exemplo que os autores necedores selecionados possibilita a melhoria nos componentes e nos produtos do
apresentam sugere que, no caso de alguns produtos. espeCificações detalhadas são OEM. Nishiguchi relata o caso de um fornecedor de um OEM norte-americano que
disponibilizadas. Para outros componentes o relacionamento é mais distante, em afirma que fazer negócIos com compradores dos EUA é fácil, porque se as cois<ts de­
que o fornecedor tem considerâvelliberdade em termos de projeto de produto. No rem errado o fornecedor tem apenas de declarar que o trabalho estava de acmdo
Capftulo 11 sugerimos que essa decisão depende do estágio de desenvolvimento do com as espeCificações definidas pelo comprador e com as instruçôes de fabricação.
fornecedor relativo ao conhecimento e à prática do Modelo Toyota. {Desculpas como essas nâo são permitidas pelos OEMs japoneses.} Outro fornecc­
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112 A Gestão da Cadeia de Suprimentos da Toyota


A Gestão de Fornecedores 113

dor dá um exemplo de componentes de cabos pedidos por um OEM norte-ame­


A ASSIST~NCIA A FORNECEDORES
ricano que acabaram sençto curtos,demais para garantir o sucesso da' montagem.
Com isso o OEM anunciou que o modelo deste automóvel deixaria de ser produzi­ Uma das prinCipais càracterísticas da cadeia de suprimentos da Toyot? é o papel
do. Contudo, de acordo com o contrato de compra, o OEM pagou uma quantia ao a
qu'e própria montadora desempenha na desenvolvimento das capacitações de
14
fornecedor japonês para cobrir os poucos meses de estoque em processo. seus fornecedores. Sako descreve a utilização da jishuken na Toyota: "O jishuken"é
O outro lado desse tipo de relacionamento é a ocorrência de pedidos mui­ um grupo bem engajado de tecnólogos de produção de nível médio recrutados Jun­
to instáveis. Em outro caso, um fornecedor japonês recebeu um pedidO por um to a um grupo estável de empresas que em conjunto apetfeiçoam as ~apadtações
componente elétrico de um OEM norte~americano 50% maior do que o normal. A voltadas para a aplicação do Sistema Tovota de Produção com o exercício da crítica
expel'iência passada indicava que esses aumentos não eram reais. e o fornecedor recíproca e de prâticas concretas".
coletou dados anteriores para verifli::ar se o pedido era de fato realista. O departa­ Sako descreve um exemplo visto no final da década de 1990, que envotveu S6
mento de compras do OEM norte~americano argumentou que estava apenas repas­ fábricas de 52 fornecedores diferentes. Juntos! esses fornecedores respondiam
sando os aumentos em pedidOS gerados pelo departamento de vendas e que não por 80% dos custos de compras da Tovota no Japão. cada uma das empresas que
era responsável pela validade dos custos associados a essas alterações em pedidos. participa do jisnuken escolhe um tema especifico. mas trabalha com urna .dlreção
O OEM então exigiu o atendimento imediato do pedido e, caso isso não ocorresse, ampla de políticas definidas pe!a Divisão de Consultoria e Gestão de Operações da
o envio do pedido por via.aerea. Esse tipo de interação com fornecedores seria im- . Toyota. A montadora não cobra pelo tempo de trabalho de seus consultores, mas <>
pensável na cadeia de suprimentos da Toyota. converte em uma espécie de recurso que pode ser utilizado pelo Grupo Toyota. Em
u regra um dado fornecedor se oferece coma sede para um estudo por dais meses.
Evans e Wolf comparam os processos da Toyota ao movimento do código
aberto· e às melhorias nesses produtos de softwore (como O sistema Linux, por Os engenheiros seniores da Tovota visitam o fornecedor três'vezes nesses dois me­
exemplO). Os autores sugerem que os processos da Tovota têm algumas caracterís~ ses, enquanto'os engenheiros juniores visitam a empresa çom maior frequência. Os
ticas que promovem seu sucesso, como: integrantes do grupo jishuken reúnem-se toda semana. As sessões de estudo envol­
vem metas concretas de desempenha, como produtividade, redução de custos, gi­
• Ferramentas de colaboração em todos os níveis, que têm padrões em comum e ros de estoque, entre outras. A maior parte das ldeias voltadas para a melhoria con~
são compatíveis umas com as outras. tínua sugeridas são implementadas nesses dois meses. AÇ> final do ano, os grúpos
• A visibilidade e o controle visual que não são obstruídos por análises. jishuken se reúnem em um local para apresentarem o que conseguiram alcançar..
• A confiança no compartilhamento de propriedade intelectual sem temor de , Os tipos de assistênCIa oferecida são dois: individual e em grupo. A assistência
violações. individual ê fornecida com vistas a resultados rápidos. O foco está em tratar de um
• A visão modular de equipes e processos, além do planejamento flexível para problema imediato de um fornecedor, como uma queda drástica nos lucros ou a
manter as metas alinhadas às necessidades dos clientes. diflcufdade de acompanhar o lançamento de um modelo. Os especialistas da Toyota
• O incentivo às equipes para que atuem como veículo para a soluçii1o de pro­ dirigem-se ao fornecedor, fazem observações e sugerem melhorias. Essas melhorias
blemas. geram resultados rapidos, mas não garantem que o fornecedor tenha adotado os
princípiOS que as sustentam. O grupo jishuken desenvolve o quadro de pessoa! dos
Diante das marcantes diferenças entre os modelos de gestão dos OEMs japoneses fornecedores e tambêm presta assistência à Toyota. Um dos resultados do jishuken
e norte-americanos e da adoção dos princípios da produção enxuta. é importante ado­ é que a Toyota retém o know-how de componentes que não produz internamente.
tar também todos os componentes do sistema Tovota de gestão de fornecedores para Essa estratégia melhora a capacidade da empresa de adotar o custo-alvo - uma téc­
ter sucesso? Existem outras abordagens? A Honda~ por exemplo. defende um relado~ nica de gestão e redução de custos ao longo do cido de vida de um produto.
namento muito mais livre com fomecedores# e também é uma empresa de êxito. Por Em outro exemplo, durante a recessão na Japão, apenas três dos principais for­
exemplor os pesqUisadores que estudaram a Honda por várias décadas demonstraraf!i necedores da Toyota desfrutaram um aumento em seus lucros, enquanto 57 sen~
que.os ajustes no equilíbriO entre cooperação e competição provaram ser uma van­ tiram a queda em lucros e receitas. A Toyota reagiu com a criação de um setor de
tagem competitiva para a Honda durante um longo período. A verdadeira resposta a promoção da kaizen no interior de seu departamento de compras. Esse grupo tra­
esta questão talvez esteja no modo como toda a cadeia de suprimentos funciona e na balhou com os fornecedores no sentido de diminuir os pagamentos e cortar investiw
condição de todas as práticas serem consistentes deste ponto de vista. mentos, O que possibilitaria a recuperação dos prejuízos. Além disso, os fornecedo­
res conseguiram melhorar suas capacitações de longo prazo. Tudo isso funciona em
nível informal, pessoaL Para evitar que as informações reunidas por esses grupos de
• N. de T.: Open So!lm:' MQ\lcmel'lt. Movimento Que defende a aberturn de <:ódigO$ de programas de trabalho fossem utilizadas para obter reduções de custos, os resultados da melhoria
oomputador ao públito.
da produtividade do fornecedor nem sempre são divulgados ao grupo de compras.
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114 A Gestão da Cadeia de Suprimentos da Toyata A Gestão de Fornecedores 115

Os dados parecem sugerir que o fornecedor tem permissão de manter os ganhos os índices de defeitos em 84% para a Tovota (contra 46% para as montadoras riorte~
dessa melhotfa devida à assistência dada pela Toyota. ­ -arryericanas) e que melhoraram as vendas diretas por fun~ionário em 36% (contra
Os dados co!etados junto aos fornecedores sugerem que as unidades que forne­ 1% das montadoras baseada"s nos EUA). Esses resultados foram atingidos em unida­
cem peças à Toyota têm uma produção por funcionário 14% maior, estoques 15% me­ des de fornecedores que atendiam a montadoras norte-americanas,
nores e 50% menos defeitos do que as empresas que fornecem peças às concorrentes 5teven Spear,17 em um estudo detalhado sobre as especfficações de processo
IS
da Toyota. Entre 1965 e 1992 a Toyota e seus fornecedores aumentaram seus !ndices da Toyota e de seus fornecedores, descreve esses proc~ssos da seguinte forma: o
de produtividade em 700%. No mesmo período, as montadoras norte-americanas e processo começa com uma descrição de um fluxo que descreve o projeto do sis­
seus fornecedores melhoram a produtividade em 250 e 50%1 respectivamente. tema e decide quem recebe o produto. A próxima especificação é uma regra de
Nos EUA a Tayota fundou a Bluegrass Automotíve Manufacturers Association conexão, que define quem ê responsável pela solução de problemas e indica um
(BAMA), com base na associação de fornecedores japoneses. A associação tem reu­ instrutor qualificado para dar a assistência necessária, e assim sucessivamente, Essa
niões bimestrais em que planos de produção, políticas, tendências de mercado e as­ sequêncfa de especificações de processos garante que o processo e seus mecanis­
suntos semelhantes são compartilhados com a rede de suprimentos. Além dessas mos de melhoria sejam identificados com antecedência. Esse tipo de especificação
reuniões bimestrais O grupo tem reuniões mensais tom foco na qualidade, custos, de processo permite a adaptabilidade frente a perturbaçôes na produção, mudan­
segurança e atividades de cunho social que beneficiam todos os integrantes da rede. ças externas e novas oportunidades. Essa sequência também se adapta aos prjncí~
Assim como sua organização japonesa, o centro de Apoio ao Fornecedor Toyota pios de aprendizadO identificados ao longo deste livro.
(TSSCJ Toyota Suppller Support Center) nos EUA exige que os fornecedores que utili~am
seus serviços compartilhem seus resultados com os outros, Isso permite que os forne­ o SISTEMA CCC21
cedores que adotam boas práticas ganhem visibilidade, o que motiva a abertura entre
fornecedores em geral. A Toyota acredita que a habilidade de perceber uma solução Em 2000 a Tovota anunciou um plano de corte de custos da ordem de 3'0% em toda a
em operação aumenta achance de os fornecedores poderem reprodUZir esse conhe­ linha de peças que adquiria. A meta era garantir sua vantagem competitiva. Em 2005 o
cimento, A maior parte dos projetos leva ao menos um ano e meio para serem finali­ programa havia poupado'S10 bilhões, sem contudo sacrificar a qualidade (Figura 7.1).
e
. zados. A Summit Polymers um exemplo citado por.Oyer e Hatch.1l> Os consuhores da Além disso, a montadora identificou os fornecedores mais competitivos para
Toyota (dois ou quatro funaonários) visitaram a Summit diariamente durante quatro 180 peças e criou padrões de comparação que sua base de fornecedores deveria.
meses para fornecer suporte constante para os próximos cinco anos. Nos EUA os forne­ obedecer. Em um caso, o número de aberturas do ar condicionado foi diminuído de
cedores participantes do TSSC desfrutaram de um aumento de 123% na produtividade 27 para 3, o que acarretou uma economia de'custos de 28%. Porque 30%7 Esse per­
(istoé. na produçâoparfundonário) e uma redução de 74% nos estoques. A Continen­ centual tem origem no chamado "preço chinês", isto é, a queda esperada no preço
tal Metal Speciaíty (CMSI. um fornecedor de peças metálicas estampadas, descobriu com a transferência dos pedidos para fornecedores chineses.
que em 30 etapas apenas quatro acrescentavam valor. A Toyota e a CMS trabalharam A seguir apresentamos um resumo dos resultados atingidos com essa iniciativa
em conjunto para reconfigurar o sistema de produção e, com a adoção de mudanças especial, chamada de CCC21.
no processo. eliminaram 19 etapas. Os tempos de preparação foram reduzidos de 2
horas para 12 minutos. Os estoques caíram para 10% dos níveis iniciais. O presidente A inovaç50 na Toyota"
da CMS afirma que 75 a 80% do aprendlz.ado com seus clientes foi obtido no relacio­ Quando se trata de ser inovadora e efetuar mudanças essenciais na organização. a
namento que a companhia tem com a Toyota. Os fornecedores conseguem conservar Toyota provou que tamanho não é documento, e que até mesmo uma gigante pode
suas vantagens, Em síntese, a Toyota colhe beneficios durante as revisões anuais de reinventar-se.
preço por meio de um exercício de metas de precificação em que o preço do cliente Em julho de 2000 a Toyota lançou o programa ,uGeração de Competitividade em
é definido c utilizado em um trabalho retroativo, até a meta de preço do fornecedor. Custos para o Século 21", também cham ado de CCC21 (Construction of Cost Compe­
Nos EUA o conceito dejishuken é chamado de "atividade de desenvolvimento titivenes5 in the 21$( Century). O foco da iniciativa foi o corte nos custos de compras
de unidades" (POA, piaM development activUy), Uma vez que oS POAs são espe~ de 170 (omponentes principaiS, Katsuaki Watanabe, o presidente e CEO da Toyota,
cíficos a um contexto, eles permitem a transferlmcia de conhecimentos sob con­ foi quem encabeçou esse esforço porque na época era um especiafista em compras.
sulta, Nos EUA a Toyota adquire volumes muito menores de peças em reração às Esse programa reuniu engenheiros da Tovota e dos fornecedores de peças o que j

montadoras norte-americanas. Contudo, a Toyota continua disponibílízando co­ eliminou custos desnecessários relativos a métodos, como a padroni~ação de peças
nhecimento e tecnologia a seus fornecedores para que melhorem seus índices de em toda a gama da Tovota ou a redução no número de componentes na fabricação
produtividade. Além disso, a montadora envia funcionários em visita às unidades de uma peça. Por exemplo, a diminUição no número de peças de uma buzina de 28
de seus fornecedores a uma média de 13 dias por visita (contra 6 dias. das monta­ para 22 gerou uma economia de custos de 40%. Em outro exemplo a lovota ajudou
doras norte-americanas). Essa assistência revelou que os fornecedores diminuíram a melhorar as economias de escala com a aprovação do corte no número de 35
~~~~_~~_~_'=.·..r..:;,r.""" .....~~~_·_"'::"'::L';:'_,:.··:.é~'_·;~l;/; ;.H:...;::....:..._W~U_~~"'",..,:..;;.',;i·· ".-" .... __ ~;.~:l·

116· A Gestão da Cadeia de Suprimentos da Toyota A Gestão de Fornecedo~es 117

4. locali~ação e independência
S. Mente"aberta para procedimentos de operação, como okaizen
Oesdeo al"lo'2oo0 o 6. Organi~ação com relàção às interações com a Toyota
programa Geração de
ComlletltiVldadé em
Para cada uma dessas medidas, pesos iguais são alocados a papêis secundários,
. Custos "ara 0, Séeulo' 2.1
aument0t:l0 como visão, planejamento de longo prazo, planejamento anual e gestão do risco .
'ÇQ.
- CCC2.1- ajudou 3. Um escore de avatiação com nota máxima 100 é utilizado para a avaliação dos for~
To,VOta '" rol1ar et!stos. de.. . '~,.A o~çãQ para osJomece-: necedores,
supri~ento' em cer!:iJ de. ."doresdepcÇa$ de igualaro,u, ..
um terço do valor inidaL

, ',~ ré'duilrsl:us 'piéços'em' rela'ção"' Com vistas à obtenção de apoLo à adesão ao processo, O fornecedor por Sua
.Porém,;lI 'medida que
o. ' .~s preW-i b,a!~o:s de
,JornliUdores chineses.,
.
vez tem de listar os procedimentos utilizados para realizar c<lda uma das tarefas
programa perde o fô{ego,' declaradas. Esses procedimentos específicos incluem o rastreamento para a melho­
. • A'compra Junto ao l)"Iaior".
a Toyota'busca ~rontrar ria da qualidade, o tratamento dado ao desperdfcio, a gestão à prova de falhas, o
"'nÓmara"de fornecedores:de
. novos pontos d~ melhoria ANO nSCA~ nRM1NAOO EM MARço peç;a$ não afiliados ao kelrelsu': procedimento com pedidos de garantia, o processamento de produtos devolvidos,
de desempenho. OMOI: T<rrola MOIOrC!o,p. da TaVOla, o nome de sua
as inspeções fora da linha e o transporte final.
co.mun~at!e eOrpo~~W.'
(""'"""",.~ .. c..,,,

OS ENGENHEIROS CONVIDADOS DOS FORNECEDORES


FIGURA 7.1 Os resultados do p~ograma de corte de Custos da Toyota.
Um dos principais mecanismos de coordenação utifizados na Toyota envolve o pa­
pei dos engenheiros dos fornecedores convidados a atuar nas unidades da monta­
alças internas diversas para apenas 3. Ao final desses cinco anos o p~ograma havia dora. Em termos gerais, o engenheiro convidado é um especíallstaz funcionário do
. gerado uma economia total de US$ 9 bilhões. fornecedor. que trabalha na empresa do OEM (a Toyota). O papel desse engenheiro
ê o çle transmítir. conhecimentos sob consulta durante o processo de desenvolvi­
Nunca satisfeita com seu sucesso, a Toyota inic16u o programa de Inovaç~o de
vaiores (VI, value innovotion} em 2005, em sequência ao programa CCC21. que vai mento de produto e com isso facilitar a integração da experiência do fornecedor
com as necessidades do OEM.
além da produção enxutâ e chega às práticas enxutas de desenvolvimento de pro~
A estratégia mais corriquelra manda os fornecedores enviarem seus engenheiros
dutos. O prog~ama VJ redi~ecionou o foco da Toyota para os processos de prOdução
de projeto à Toyota para trabalharem por dois ou três anos na empresa, antes do lan­
e de projeto, na continuação da busca por eliminação de desperdícios e corte de
çamento de um produto. Com o início da fabricação do produto, Os engenheiros de
custos. A Toyota espera que o programa VI revele seus principais beneficios em
projeto retomam a suas empresas, Agora são os engenheiros de produto que são en~
2010, com a elevação das margens de lucro de 9,3 para lO%.
viados ao OEM. Esses profissionais garantem que os componentes sejam montados
O que acontecerá quando essa meta também for atingida? A Toyota hoje consI­
corretamente no veiculo. Eles também relatam problemas, sugerem alterações no
dera planos para utilizar as vantagens trazidas pelo programa VI e investir em tecno~
projeto para facilitar a fabnca~o e apresentam estratégias para a redução de custos.
[agias e pesquisas de novas estruturas de veiculas que reduzirão peso e diminuirão
Por frm, o papel do engenheiro de desenvolvimento do fornecedor é o de tomar as
o consumo de combustíveis.
prOVidências para a implementação dos processos de melhoria contínua.
É interessante observar que a Toyota tem cinco engenheiros de projeto por
A CHECKLlST DA TOYOTA PARA AUDITORIAS NOS FORNECEDORES fornecedor$ enquanto a General Motors tem 0,2 engenheiro convidado por forne­
O departamento de compras da Toyota espera que os fornecedores se disponibili~ cedor, Os papéiS desempenhados pelos engenheiros convidados são ilustrados em
t9
zem a passar por auditorias abrangentes de seus sistemas. O processo de auditoria um estudo feito por Daniel TWigg. Esse estudo também descobriu quatro tipos
especifica as metas e os respectivos documentos que serão utilizados para confír~ de papéis dt engenheiros convidados na sede de um OEM, desde a elaboração do
mar a anuência dos fornecedores. A Ferramenta' de Avaliaç~o Ampla (CAT, com· conceito preliminar, até o conceito e desenvolvimento de produto, passando por
prehensive assessment taa!) classifica o fornecedor em uma escala de O a 5 com todas as fases de produção.
base em medidas predeterminadas de desempenho, como: A presença de funcionários do fornecedor em uma unidade da Toyota acelera
as mudanças necessárias em resposta a falhas, aumenta a velocidade dos ajustes
1. Missão às informações geradas a partir das queixas de cHentes, aumenta as chances de
2. Estrut{,Jra hierárquica redução nos tempos de processamento de pedidos por conta de mudançaS em en~
3. Envolvimento da alta gerência genharia. e eleva as oportunidades de geração de melhorias contínuas em custos,
--._~."'."". . .. ; ____ T__ :"~"""-,,,,"·_o:r.::::<'~':>"-!"'''·;::lT_''',·<.:''·C_",,_·.i':''. _ _'_ _'~·· ~;!.:.;:: .':.'0'.';; .. .. . -
_ _ _ _ _ _ _ _ ~w_'-O~.~~~_ __ "_ _~
~

118 A Gestão da Cadeia de Suprimentos da Toyota AGestão de Fornecedores U9

entre outras vantagens. Esse compartilhamento de recursos permite a coordenação da de fabricação nos fornecedores, estes são capazes de assumir compromis­
eficiente entre o fOrnecedor e a Toyeta. Quais os be'nefício's-nas interações frequen­ sos confiáveis com a capacidade.
20
tes com um fornecedor? Um estudo conduzido por Dyer sugere que os defe1tos • A vC'locMade do flu;io de peças é equilibrada entre a linha de montagem e os
diminuem com o aumento na interação com fornecedores. fornecedores. Os fornecedores jvst in time recebem pedidas na exata sequên­
da de montagem, Os pedidos para outros fornecedores são recolhidos durante
AS DECISÕES SOBRE A LOCALIZAÇÃO DOS FORNECEDORES as entregas programadas para a Toyota. Em sintese. a velocidade do fornecedor
é equiparada à da produção da unidade de montagem.
O planejamento da Tayota para os locais de instalação de suas unidades" de monta~
• A variabilidade de pedidos a fornecedores é estabilizada com a divulgação an­
gem pressupõe que a maior parte dos fornecedores estará locálizada a uma distân­
tecipada dos volumes planejados, por meio de coletas just in time e com a limi­
cia razoável desse local, e que suas programações de entrega permitam o fun~io­ tação na flutuação diária em pedidos.
namento eficiente da unidade em relação à produção de veículos com base no mix
• A visibilidade das operações do fornecedor e das unidades da Toyota é promovida
e na sequência final de produtos. Os pequenos tamanhos de lote dos pedidos de
com a estratégia que a Toyota adota para díscutir os problemas em primeiro lugar:
peças das unidades de montagem significam que os fornecedores precisam estar
A atitude que diz que é melhor informar à Toyota com antecedência acerca de pro~
localizados próximo a estas.
blemas} o que permite soluções efidentes com a ajuda da companhia, promove
A Toyota sugere a adoção de uma regra que prevê o ~empo de viagem a uma ve­
a maior visibilidade. Além disso, as entregas frequentes dos fornecedores possi~
locidade de 80 quilômetros por hora, entre o fornecedor e a unidade de montagem.
bilítam à Toyota manter-se constantemente informada sobre seus desempenhos.
Essa suposição é um dos fatores utilizados para determinar quando os pedidos de
peças dos fornecedores devem ser liberados. Muitos fornecedores decidem se ins­ O aprendizado com o sistema de fornecedores ê garantido pelas diversas em­
talar próximo a uma unidade de montagem da companhia: No Japão 85% do volu­ presas dos fornecedores, além de medidas proativas, como o programa CCC21, que
me de peças é oriundo de fornecedores localizados' em um raio de 80 qui[õmetros enfatiza de forma contínua a necessidade de reduzir desperdícios e aumentar a e~
de uma unidade (isto é, a uma hora de viagem). Nã América do Norte e na Europa, a ficiência. Abaixo estão algumas das principais etapas implem!,!ntadas pela. Toyota e
meta é ter 80% das peças ent~egues dentro de três a cinco dias de leadtime. seus fornecedores para concretizarem essa meta:
Por essa. mesma ra1ão a localização de um fornecedor próximo a um OEM acar­
-reta-. menores estoques para o fornecedor e para a unidade de montagem. Parà • A conscientizaçãa. Pressão constante é exercida nos fornecedores por meio de
a Toyota no Japão a distância média a um fornecedor é curta, em comparação a
J um sistema equilibrado de alterações em modelos, auditorias no fornecedor e
outros OEMs. Por isso o estoque resultante da montadora, na forma de percentual programas como ojishuken.
sobre itens vendidos, é o mais baixo entre os OEMs. ,. A definição de capacidades, Os relacionamentos de longo prazo são cuidado­
Assim, o que pode um fornecedor esperar? Os fornecedores precisam considerar samente estimulados. Os fornecedores são envolvidos nos primeiros estágios
a implantação de suas fábricas próximo às da Toyota. sobretudo em um cenário em do projeto e recebem grande liberdade de expforar opções e alternativas. As
que a montadora planeja prosseguir com seu processo de expansão, construindo no­ equipes de jishvken desenvolvem capacitações tanto no fornecedor quanto na
vas unidades em todo o mundo. A proximidade de um fornecedor a urna unidade de Toyota, para facilitar a compreensão do funcionamento dos-sistemas de cada um
montagem da Toyota permite entregas frequentes à unidade de montagem da em­ desses atores.
presa, o que, por sua vez, acarreta estoques mais baixos no fornecedor e também na • A elaboraçõo de protocolos de ação. O trabalho do Centro de Apoio ao Forne­
unidade da montadora. Outra vantagem é que o veículo finalizado apresenta menos cedor Toyota auxilia a adoção de boas práticas em toda a cadeia de suprimen­
defeitos, porque as frequentes interações devidas ao maior número de entregas per­ tos. O processo de construção de relacionamentos com o fornecedor é planeja­
mite feedbacks mais rápidos e abre mais oportunidades para a solução de defeitos. do e organizado criteriosamente. para a maximização do impacto.
,
"
,
,
• A conscientízaçao em nível de sistema. A visão modular dos p'rocessos das
PONTOS PARA DISCUSSÃO equipes e o planejamento flexível são utilírndos para alinhar a cadeia de supri~
Esse capítulo oferece um contexto detalhado para examinar a utilização da aborda­ mentos às necessidades do cliente. A confiança é nutrida ao mesmo tempo que
gem v4l na gestão de fornecedores da Toyota. Existem diversos bons exemplos de
a geração de valor é enfatizada.
como os principios de aprendizado são aplicados e vinculados à estrutura do v4l: ,. Oexercício do controle de processos. Finalizado o processo, o controle é exerci~
do nos processos como se fossem sistemas internos .
• A variedade dos componentes produzidos por fornecedores é consistente com • AfociJitação da comvnicação. A comunicação é facilitada com uma variedade
sua flexibilidade. Uma vez que os projetos dos componentes facilitam a efici~n- de maneiras, entre as quais a lotação de engenheiros da Toyota nas Instalações
•. __ .. __________.._ _ _..:.:.....;,..........................,,_ _ _ ~ .•.• , ;','_~_--...: __ .""',,/i!...:....r.. ;~. ________ ~...;...,;......<-,,_-"_:;_=.~~'L~...·.'I.i::.r.&:,~:<0>v~~"'.,:;._.,,~ _ _ _· _:":;,---'-'~:-'_~"\~ '.; .• ___ ~ __ _..;,~.;........,::..:. "~~...........:...~_-_
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! IDI

120 A Gestão da Cadeia de Suprimentos da Toyota

do forn~cedor por longo tempo, e O envio de engenheiros convidados do for­

necedor para a Toyo,ta.

• A oferta de estabilidade. A estabilidade é oferecida aos fornecedores que" ne­

cessitam deste tipo de suporte, com a absorção do risco nos negócios em tem­

pos difíceis.

Notas

L "Stl'ained Relationships with Suppllers Costing GM and Forel," Planning Perspectives,

Im:.• Sirmingham, MI, 2006.

2. I/8Qdy in Whire," ou 81W. refere--sC' à carroceria do veículowntendo portas, capô e teto,

antes da instalação dos outros componentes,

3. OESA·McKinsey Study on CustomerSupplier Interface, 2003.


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Gestão Estratégica da Rede Global de Suprimentos 35

Base Global - Unidades no Brasil, EUA, Europa eÁsia'

China
I
I
li! ).......... .
Pequim
Harbin
Alverca
EUA
Nashville
Fort Lauderdale
Melbourne Cingapura
Brasil 11 Cingapura
Gavião Peixoto 1íl
Botucalu
São José dos Campos
ELEB
Eugênio de Melo
Taubaté
Fonte: http://www.embraetcom.br/portugues/content/imprensa/embraer_oumeros.asp. Acesso em: 9 Set. 2008.
Figura 2.5 A operação globalizada da Embraer, com linhas de montagem no Brasil e na China (Harbin) e
operações de serviço nas outras localidades.

Rede de suprimentos Havia no mercado especialistas em partes do avião


Acompanhando a sua impressionante evolução que poderiam desenvolvê-Ias e produzi-Ias melhor e de
quanto à engenharia de desenvolvimento de produtos, forma mais inovadora que a Embraer. Para o projeto da
a Embraer também, ao longo dos anos, fez evoluir sua então revolucionária família ERJ, a Embraer buscou par­
gestão de rede de suprimento, que tem tido um papel ceiros tecnologicamente fortes que estivessem dispostos
estratégico crucial no :sucesso competitivo da empresa. a desenvolver relacionamentos mais cooperativos com a
'De .limaempresa verticalmente integrada nos anos 70 e empresa desde oprojeto do produto, compartilhando, por
80 (anteriores à privalização), que produZia amaior parte exemplo, riscos ecustos de desenvolvimento.
das peças componentes de uma variedade relativamen­ A Gamesa, a C&D, a Sonaca e a Enaer foram então
te modesta de produtos; a Emlíraer, desde os anos 90, selecionadas epassaram adesenvolver efornecer parce­
tem alterado substancialmente sua estratégia de rede de las maiores da estrutura edo interior da aeronave (o total
suprimento no sentido de ampliar suas parcerias com for­ de fornecadores envolvidos na família ERJ caiu de mais
necedores-chaves. Alguns números podem ilustrar essa dos 500 da época do "Brasília" para 350). Esse esforço
mudança: nos anos 80, a Embraer trabalhava com mais conjunto resultou num produto avançado tecnologica­
de 500 fornecedores de componentes sem substancial mente e num desenvolvimento mais rápido, de apenas
compartilhamento de esforços de engenharia edesenvol­ cinco anos, dando à Embraer uma importante vantagem
vimento e com relacionamento relativamente tênue e de de "pioneira" do então crescente filão da aviação regional,
mais curto prazo com eles. em relação aos principais concorrentes (como, por exem­
Praticamente todo o esforço de desenvolvimento de plo, a canadense Bombardier).
aeronaves como o avião "Brasília" era feito internamente, Nos anos 90, a gestão da rede de suprimentos da ,.'.-;
o que, pelas restrições naturais de recursos, levou a um Embraer continuou a evoluir no seu esforço estratégico >.~

tempo de introdução do produto no mercado em torno de de aumentar a velocidade de lançamento de produtos, a


oito anos..Nos anos 80, visando mercados mais sofistica­ atualização tecnológica e a sua flexibilidade de resposta
dOSdeal'iação;regional,a Embraer percebeu que, com a ao mercado. O desenvolvimento da famflia EMBRAER
evolução tecnológica cada vez mais rápida, seria lento e (170,175,190,195) foifeilo não com apenas quatro, mas
I
ineficaz continuar desenvolvendo oproduto todo sozinha. com 29 (por exemplo, Kawasaki, Honeywell, C&D, Late-
\:,1

i
-<I
.. I 36 Gestão de Redes de Suprimento " Corrêa
j
coere eGamesa) parceiros estratégicos, fornecedores de Estratégia corporativa
módulos da estrutura, do interior etambém de sistemas.
Onúmero total de fornecedores com os quaiS aEm­ Há vários níveis de estratégia, nas organiza­
braer trabalha em sua tamJ1ia de jatos EMBRAER reduziu­ ções. O nível mais alto é o da estratégia corpora­

I se dos 350 dos ERJs para apenas 22, com os quais a


Embraer tem relacionamento muito mais próximo, cola­
borativo eeficaz; com riscos ebenefícios compartilhadOS
tiva e em geral esta só tem sentido isoladamente
quando se trata de corporações compostas por vá­
rias unidades de negócio. Quando a corporação é
I desde odesenvolvimento dos produtos.
O resultado foi uma redução do tempo de desenvol­
composta de apenas uma unidade de negócio, a
estratégia corporativa confunde-se com a estraté­
{
, 1
vimento para menos de quatro anos (mesmo levando em
conta que a família EMBRAER tem maior complexidade
que a famflia ERJ). Esse relacionamento mais próximo
gia competitiva, descrita mais adiante. Pense por
exemplo na corporação japonesa Honda. Ela tem
várias unidades de negócio que vão de fabricantes
reflete-se em um grande número de iniciativas da Embra­ de motocicletas, passando por velculos automo­
er, como por exemplo o E;SAC (Embraer and Supp/iers tores (que fabrica carros como o Civic ou o Fit)
Advisory Councm, um conselho consultivo formado por
fornecedores parceiros e a Embraer para realizar ativida­ até cortadores de grama. No nível corporativo,
des como melhoramento de comunicação, compartilha­ na sede da Honda, no Japão, estabelecem-se os
mento de boas práticas gerenciais, compartilhamento de objetivos de longo prazo para a corporação como
decisões estràtégicas etáticas emelhoria do nível de con­ um todo e as formas gerais de atingi-los. São de­
~j
,< fiança nos relacionamentos da rede. cididos aspectos como: quais unidades de negó­
A Embraer também realiza anualmente um congres­ cio criar, manter, adquirir ou vender, quais as si-o
'lI so mundial com seus fornecedores, o ESC (Embraer Su­ nergias entre elas (por exemplo, note que muitas
.i ppliers Conference), em que se celebram as conquistas das unidades de negócio da Honda foram criadas
,I , e compartilham,se informações estratégicas importantes em tomo da legendária competência da empresa
I
I
éom os fomecedores (parceiros estratégicos ou não). em produzir motores leves e eficientes) e quais as
expectativas em relação a cada uma delas para a
,
~
, Hoje é muito claro para a Embraer que pelo menos
tão importante quanto suas estratégias de mercado, de éontribuição esperada ao sucesso da corporação.
~
~
engenharia e,financeira é a sua estratégia de rede de su­
primento. Agestão estratégica da rede de suprimentos da
~ Embraer permite e alavanca sua vantagem competitiva,
já que garante que ela possa se concentrar nas ativida­
Estratégia competitiva
I des que faz melhor do que ninguém etambém que seus Dada a expectativa da corporação quan.to às
.parceiros estratégiCOS tragam para o produto Embraer as
I mais avançadas competências complementares no pro­
unidades de negócio, num nível intermediário
está' a estratégia competitiva, que vai definir as
jeto e produção eficientes e eficazes de seus aviões, re­
sultando em um produto extremamente competitivo, no formas segundo as quais a unidade de negócio vai
'tempo certo'eao custo certo. atuar nos seus mercados. Esse nível não se refere
1. Como epor que aestratégia de rede de suprimento da ' mais à corporação, portanto, mas a cada unida­
Embraer mudou desde 1996? de de negócio. A estratégia competitiva define,
. frente às suas competências correntes, aos atuais
2. O fato de a Embraer terceirizar parcelas maiores da
produção de seus aviões para parceiros significa risco e potenciais concorrentes, aos fornecedores e ao
de aEmb,raer tornar-se menos importante estrategica­ ambiente onde a unidade se insere, qual o con­
mente na sua rede de suprimentos? junto de necessidades e desejos dos consumido­
3. Por que o desenvolvimento compartilhada do produto res - de quais mercados e de que forma - que a
da Embraer resultou em tempo menor de desenvolvi­ unidade de negócio pretende satisfazer .com seus
mento? Que vantagens estratégicas isso pode trazer? produtos e serviços. Porter (I980) identifica três
Que risco estratégiCO isso pode representar? estratégias competitivas genéricas: liderança em
custo, diferenciação e foco. Na liderança em cus­
to, a empresa busca tornar-se o produtor de mais
ESTRATÉGIA baixo custo no setor; as fontes de vantagens de .;.
custo são variadas e podem incluir, por exemplo, a
A seguir, será examinada a questão de como busca de economias de escala, o uso de tecnologia
definir uma'estratégia de rede de suprimento que mais eficiente ou o acesso preferencial a fontes de
seja alinhada às estratégias do negócio em que se matérias-primas (pense nos fabricantes chineses
insere. de brinquedos).
Gestão Estratégica da Rede Global de Suprimentos 59

o estágio da ideia inicial até o ponto do início da Cajamar, na Grande São Paulo, Otime de cientistas mais
produção em escala. do que dobrou de tamanho nos últimos três anos - e os
investimentos da empresa em pesquisa alcançaram 110
O grau de integração dos fornecedores ao
milhões de reais em 2007, equivalentes a 2,5% de seu fa­
processo de desenvolvimento do produto também turamento total. Mesmo com esse aumento de orçamento
pode variar. São os seguintes os crescentes graus ede pessoal, a Natura não seria capaz de desenvolver so­
de integração possíveis: zinha os mais de 200 produtos que lançará no mercado
em 2008. Hoje, a pesquisa de quase metade das 120 no-.
1. Nenhuma: integração: a empresa faz todo
vas tecnologias em estudo pela empresa está nas mãos
o desenvolvimento e depois cota os possí­ de uma rede de parceiros efornecedores que vem-se mul­
veis componentes com vários fornecedo­ tiplicando rapidamente e já representa um grupo de quase
res que não tomaram qualquer parte no uma centena de universidades e companhias dentro efora
desenvolvimento. Um exemplo é o forne­ do país, Graças a essa cadeia, coordenada pela estrutura
cimento de parafusos padrão para a indús­ de gestão de redes de inovação da Natura, otempo médio
-~ , tria de eletrodomésticos; de desenvolvimento de novos produtos da empresa caiu
2. Integração para fornecimento "caixa-bran­ de cinco para dois anos. A meta éfazer com que parceiros
ca": o fornecedor é trazido de forma pon­ brasileiros, franceses, alemães e americanos supram a
tual e informal, na medida da necessida­ metade da necessidade de inovação da empresa até 2010.
Num movimento simbólico, em meados de. 2009, o la­
de, ao processo de desenvolvimento para
"1 ­ boratório da Natura deverá deixar o prédio da sede em
atuar como consultor para auxiliar o time Cajamar e passará a funcionar em Campinas, no interior
interno de desenvolvimento a especificar de São Paulo, próximo de universidades e empresas com ;
melhor o componente tecnológico de es­ as quais a fabricante mantém parceria, "Minha tarefa. é I
pecialidade do fornecedor. Um exemplo
é o apoio de' fornecedores de matérias­
mapear e me aproximar cada vez mais de parceiros.com
competência para vencer os nossos desafios tecnológi­
I
t
I
primas plásticas na especificação de peças cos", diz uma executiva da Natura, .responsável pela rede b
de inovação. I
injetadas na indústria de brinquedos;
i
3. Integração para fornecimento "caixa-cin­ A rede de inovação da Natura é um exemplo de uso

za": o fornecedor é trazido de maneira de parceiros inovadores da rede de suprimento da empre­

mais formal, com atividades conjuntas en­ sa para melhorar seu desempenho em termos de lança­

tre seus engenheiros de projeto e aqueles mento de novos produtos, considerado estrategicamente

da empresa. Essas atividades podem ser essencial nesse mercado. .

de projeto conjunto, produção de protó­ 1. Quais voc~ considera serem as competências centrais

tipos, testes, entre outros. Exemplos são da Natura?

fornecedores de tecido, que trabalham 2. Que tipo de relacionamento você acha que a Natura

junto com os estilistas e produtores de deve manter com seus parceiros de desenvolvimento?

roupas, para desenvolvimento conjunto; 3. Que riscos e beneficios o arranjo da rede de inovação

4. Integração para fornecimento "caixa-pre­ da Natura traz à estratégia da empresa?

ta": nesse nível máximo de integração e Fonte: Baseada em matéria da Revista Exame de 12 de junhO de

confiança, o fornecedor ganha formal­ . 2008, por Crlstiana Mano.

mente o poder de projetar completamente


o seu componente segundo especificações Evidentemente, a definição de que fornecedo­

funcionais de desempenho dadas pela em­ res de tecnologias deverão ser trazidos ao proces­

presa. Um Pratt & Whitney, trabalhando so de desenvolvimento de produtos e qual o nível

com as montadoras de aeronaves, como a de integração mais adequado dependerá da con­

exemplo são os fornecedores de motores figuração de competências da empresa em rela­

para aviões, como a GE, a Rolls Royce e a ção ao seu setor industrial e, em particular, do seu

Embraer ou a Boeing. mercado fornecedor. O processo decisório geral

. descrito pela Figura 2.18, entretanto, pode ajudar


.Boxe 2.5 Ainovação sem fronteira na Natura.. a estruturar processos decisórios específicos de
yma equjpe de 200 pesquisadores - quase todos
empresas em particular buscando fazer melhores
com mesírado ou doutorado - trabalha no centro de pes­
decisões quanto à integração de fornecedores nos
quisas da sede da fabricante de cosméticos Natura, em
seus processos de desenvolvimento de produtos.
Gestão Estratégica da Rede Global de Suprimentos 63

A concepção do Cons6rcio Modular de Resende • Prioridade junto à casa matriz do fornecedor do módu­

O Consórcio Modular de Resende foi construido lo em caso de problema de entrega ou qualidade, pois

numa lógica segundo a qual a VW decidiu terceirizar a há "embaixadores" do modulista dentro da montadora.

manufatura de todas as partes de seus caminhões. Deci­ • Qualidade de montagem melhorada, pois feita pelo for­

diu manter internamente apenas as atividades de coorde­ necedor·do módulo, que tende aseguir à risca prescri­

nação (compras, planejamento, programação e controle ções de montagem, o que não acontece em fábricas

de produção emateriais), marca, controle de qualidade do montadoras convencionais.

produto final e engenharia para configuração dos ônibus • Melhora rápida de níveis de produtividade equalidade,

ecaminhões produzidos, além de marketing, distribuição já que o ciclo de resolução de problemas e de melho­

eserviço pós-venda. ramentos fica encurtado pela presença do fornecedor

Projetistas dividiram o produto em (grandes) sub­ dentro da montadora.

montagens ou conjuntos de componentes' (módulos) • Aprendizado aumentado pela presença, debaixo de um

cujo fornecimento seria inteiramente terceirizado. Os for­ mesmo teto, de numerosas empresas diferentes, que

necedores dos módulos para afábrica de Resende teriam trazem um arcabouço de conhecimentos rico, permi­

ainda a responsabilidade adicional de montar os módulos tindo fertilização cruzada.

diretamente na linha de montagem da VW. A fábrica foi • Prazos de desenvolvimento e lançamento de novos

então desenhada para abrigar as operações de preparação produtos encurtados, já que as empresas parceiras tra­

e montagem final dos módulos de sete fornecedores na balham juntas há muito tempo e a prática de engenha­

Unhada VW: ria simultânea fica facilitada.

• Maxion - fornecedor do módulo chassis. • Para alguns modulistas (como o responsável por ei­
• Meritor - fornecedor do módulo de eixos (dianteiro e
trazeiro).
xos), há garantia de fornecimento, permitindo planeja­
mento de mais longo prazo.
,.,.
• Powertrain (MWM +Cummins) - fornecedor do módu­ • Estruturas menores e descentralizadas de cada forne- .
lo que inclui motor etransmissão. cedor dentro do consórcio permitem decisões mais
• Remon (Bridgestone + Borlem)- fornecedor do módu­ ágeis que se tomadas dentro de uma só grande estru­
lo rodas epneus. tura, como no caso de uma montadora tradicional.
• Delga - fornecedor do módulo estrutura e painéis da • Menor tendência de agendas paralelas pessoais de ge­
cabine. rentes e executivos interferirem nas decisões, já que
os vários gerentes dos diferentes módulos não estão
• VDa - fornecedor do módulo de interior da cabine e
compelindO pelas mesmas promoções.
instrumentos.
• Aprendizado organizacional em negociação. Como
• Carese -fornecedor dos serviços de pintura da cabine.
traia-se de empresas separadas, não pode haver im­
Apenas cerca de 20% dos funcionários do consórcio posição de posições resultando em um perdedor e um
modular de Resende são da VW. isso significa anecessi­ ganhador. A única forma de fazer um ponto de vista
dade de gerenciar um caldo cultural que inclui empresas prevalecer é o convencimento, a persuasão, que não ~ ..
de passado, porte, origem epOllticas gerenciaiS bastante geram perdedores. ~,.:

variadas, todas convivendo sob omesmo teto. Com todas • Possibilidade de presença física de fornecedores de
as dificuldades, afábrica de Resende iniciou operação em módulos sem necessidade de estabelecerem unidades
novembro de 1996, dentro do cronograma estabelecido. industriais independentes - relevante quando se trata
Passados pouco mais de dez anos desde a inauguração, de volumes de produção que trariam dificuldade de
o consórcio modular parece ter sido um sucesso, pelo break-even dessas unidades independentes.
menos nesse período.
Por outro lado, Observaram-se algumas desvanta­
Vantagens edesvantagens do consórcio modular do gens, ainda segundo a opinião dos exec.utivós entrevis­
ponto de vista dos envolvidos tados:
Uma pesquisa feita com entrevistas com diversos • Negociação salarial nivelada pelos padrões de monta­
dos gerentes da VW, além de executivos das empresas dora, com possível perda de margem pelas fornecedo­
modulistas, identificou as seguintes vantagens do ponto ras de autopeças.
de vista dos envolvidos: • Assuntos tratados têm de passar pela concordância
• Comprometimento dos fornecedores de módulos com de oito parceiros, podendo levar a tempo mais longo,
. o sucesso do conjunto e não de partes do produto, já como no caso de uma negociação sindical.
que só são remunerados quando oproduto é aprovado • No start up, narrado por todos os entrevistados como
efunciona:lmente aceito. tendo sido difícil devido ao caldo cultural gerencial, a
.,

64 Gestão de Redes de Suprimento • Corrêa

curva de aprendizado foi árdua e pOderia ter tumado em releção ao. rrodelo de Resende,.t,que os módl'los .
rumo difere o te, considerados principais do veículo (motor.etransmissão·
o Questões e ~ções trabalhistas que porvenWr surjam incluídos) não foram terceirizados, continuaf1doa~endo'
dévido aos modulistas estarem executando atividades­ feitos por apelações internas dávw. 'ISSÍ) denotaria uma
percepção da WI de que o modelo de consórcio modular
I
i
fim da WI são uma incógnita. Não se sabe que rumos
ajurisprudência pode vir atomar, fracassou?
'" , o Riscoestrattlgico de haver evoluções tecnológicas em 1. Qual o risco de a WI tornar-se., .com o tempo,. uma
í um módulo, mas que porventura não sejam'a'COmpa­ empresa· vazia de competências na fabricaçãó de
I nhadas pelo. parceiro correspondente - dificuldáde de caminhões etornar-se dlspensável.narede .desuprl­
>:,I mudar oparceiro. Sinaliza para ogrande cuidado na se-' mentos? .'., ,'.
leção de parceiros num modelo de Consórcio Modular. 2. Se a ideia do consórcio modular tl tão boa e nípre- .
A questão central parece ser o risco estratégico que sentou sucesso comercial para a WI no mercado de
o modelo de Consórcio Modular representaria em termos caminhões, pelo menos nos dez anos iniciais, por
,I de terceirização de competências centrais {"core campe­ que não foi seguida nas plantas subsequentes da WI,
tences"}. Num contínuo variando de "fazer tudo interna­ inauguradas no Brasil?
:;,:
mente" até "terceirlzar tudo", a WI optou, para sua fábri­ 3. Se uma empresa modulista causa uma parada de linha
ca de Resende, por colocar-se no extremo de terceirizar no consórcio modular, com coriespondente preju(zo
tudo, pelO menos em relação às atividades de manufatura para todos, ela não é responsabilizada e por contrato
S;j
"'I e em relação a grande parte das atividades de projeto. não pode ser acionada judicialmente pelas outras por
:0'1 Com isso, uma das mais cabíveis questões ase levantar é perdas incorridas, Quais os prós econtras dessa for­
j até que ponto aWI, com essa decisão, corre o risco, no ma de conduzir os relacionamentos entre os parceiros
longo prazo, de tornar-se uma ho/low company, ou uma
í
.I
'empresa vazia, despida de competências que adistingam
do consórcio?
de concorrentes ou que reforcem sua importância para a 4.-Você acha possível criar uma situação similar à custo- .
.mização em massa para aprodução de caminhões em
I
I
rede em que se insere. Em outras palavras,tornar-se vazia
significa terceirizar todas as competências, ficando sem Resende? Descreva brevemente como isso poderia
"músculo" suficiente para suportar oesforço competitivo. ser feito,
Um dos funcionários de uma das empresas modulis­ 5. Como os parceiros da rede de suprimentos da WI
'"! tas disse em uma entrevista: . Resende colaboram com a inovação dos projetos de
novos produtos da empresa?
"hoje em dia nós modulistas sabemos muito mais
sobre fazer caminhões que aprópria VW - afinal, so­
mos nós que estamos no dia a dia da fábrica resol­
vendo problemas, melhorando processos 11 apren­ QUESTÕES PARA DISCUSSÃO
dendo [H.]" .
1. Quais os diferentes níveis de estratégia numa'
Adicionalmente, embora López tenha dito que acre­
., ·ditava fortemenie que o modelo de consórcio modular
corporação e como eles diferem entre si? Em
,deveria ser o ponto final de modelo de projeto derede de
que nível encontra-se a estratégia de rede de
suprimentos para todas as fábricas da WI ao redor do suprimento?
mundo, nenhUma das duas fábricas pertencentes ao gru­ 2. Quais as características das redes eficientes e
po alemão Inauguradas no Brasil depois de 1996 foram como diferem das características das redes de
· projetadas conforme o modelo de consórcio: a primeira, resposta rápida? Dê exemplos reais de redes
uma fábrica de motores em São Carlos, construída para eficientes e de resposta rápida que produzam
suprir a altademarida de motores de 1.000 cc, embora
produtos físicos e exemplos de redés eficien­
· anunciada por López como mais uma fábrica ausar ocon­
·ceito de coósórcio modular, na verdade foi drasticamen­ tes e de resposta rápida que produzem servi­
te alterada quando López deixou a empresa. A segunda. ços ou informações. Justifiqueseus exemplos.
· fábrica inaúgurada foi de São José dos Pinhàis, Paraná, 3. As redes de suprimento eficientes e de respos­
para montar veículos Gol! e Audi A3, Embora adotando ta rápida são mais adequadas a produzir e en­
fortemente afilosofia modular, tendo mais de 20 forne­ tregar quais tipos de produto?
cedores de grande submontagens colocalizados num as­
·sim chamado "condomínio industrial" ao redor da fábrica 4.. Qual a relação entre as alternativas genéricas
", montadorá em si, nem·todos os modullstas são responsá­ de estratégia competitiva de Porter (1980) es­
veis por montar os seus módulos na linha de montagem tudadas no capítulo - custo, diferenciação e
· da montadora. Outra diferença, ainda mais. substancial foco e as alternativas de desenho estratégico
Gestão dos Relacionamentos na Rede Global de Suprimentos 93

;: ..plas conexões entre muitas pessoas, em muitos nfveis . A empresa deve portanto denvolver a habili­

organizacionais. Os parceiros tornam-se instrutores e dade de desenhar um adequado portf6lio de re­

>aprendlzes. lacionamentos com aqueles fornecedores para os

• Institucionalização: a relação recebe um status formal, quais resolver terceirizar atividades. Tratar homo­

com responsabilidades e processos de decisão claros. geneamenre fornecedores que tenham diferentes

Ela se estende além das pessoas especificas que afor­ importâncias estratégicas pode ser um erro estra­

maram e não pode ser desfeita por um motivo idios­ tégico importante.

sincrático.
• integridade: os parceiros comportam-se, um em rela­
ção ao outro, com modos honrados que demonstram e Caso para estudo: Relacionamento com fornecedóres
acentuam aconfiança mútua. Eles não abusam da infor­
na Tayota e na General Molors
mação que ganham enem minam aposição do outro.
Toyola
Parceria para desenvolvimento AToyota Motor Co., a maior fabricante de carros do

mundo, gerencia a relação com muitos dos seus fornece­

No caso da região da matriz em que há bai- . dores de acordo com um modelo que é tradicional entre·

xo custo de troca e alto grau de centralidade, o empresas japonesas..Trata-se de uma variação do modelo

,.'
cliente vê-se numa desconfortável situação em de keiretsu (veja oBoxe 1.3), uma espécie de federação de .

que uma determinada atividade central está ter­ empresas dominadas por uma principal, como a Toyota,

ceirizada, mas pode haver numerosos fornecedo­ com poderes especiais sobre o grupo. Os fornecedores

res possíveis de serem usados para realizá-la. Isso associados com a keíretsu são chamados kankei-kaisha

(empresas afiliadas); em geral, aempresa dominante tem

significa que a concorrência tem também acesso


alguma participação acionária em cada: uma dasempre­

a esse grande número de fornecedores e que a sas afiliadas e, não raro, transfere funcionários para elas..

atividade provavelmente não é tão diferencia: Entretanto, mesmo empresas independentes fora da kei­
·da. Isso pode significar que a fonte de vantagem retsu que não têm nenhuma relação a.cionária com aem­

competitiva que a atividade é hoje pode não ser presa dominante frequentemente trabalham com ela de

sustentável e esforços podem ser compensadores forma similar.

no sentido de desenvolver um ou alguns poucos Ouso geral do modelo de keíretsu implica troca in- .
desses fornecedores para que possam diferenciar . tensa de informação, réalimentação e sugestões mútuas
sua oferta para migrar para o quadrante superior para melhoria de desempenho. Além disso, requer aliá
direito, o que virá acompanhado de esforços do grau de comprometimento. No Japão, esse comprome­
cliente de intensificar o relacionamento, podendo timento pode assumir diferentes formas, incluindo inves­
a partir de certo ponto incluir cláusulas de exclusi­ timento em ativos, contratos implícitos de longo prazo,
vidade ou mesmo integração verticaL Expandindo colocalização de funcionários e investilnento em ativos
o exemplo dado sobre essa questão no Capítulo específicos da relação. Um problema ocorrtdo pela pri- . .";

2, o McDonald's, ao chegar ao Brasil nos anos 80, meira vez dispara esforços para consertar oproblema, em
percebeu que as batatas fornecidas pelos forne­ vez de uma busca de um fornecedor a~ernativo .,. embora
cedores brasileiros não atendiam às necessidades a recorrência do problema possa levar ao término do re·
de padrões internacionais da empresa. Item com lacionamento.
grau considerável de centraljdade, relativamente Há muito tempo considerado como sendo omais efi­

baixo custo de troca e portanto risco estratégico ciente fabricante de carros do m'undo, a Toyota esforça­

de a imagem de "crocânda" da batata frita do se muito para espalhar suas técnicas de iean productíon

McDonald's tornar-se apenas mais uma de tan­ (também chamada manufatura enxuta, um conjunto de

técnicas com inspiração no Just iri Time, também conhe­

tas batatas fritas oferecidas pelos concorrentes.


cido como TPS - Toyota Production System - Sistema

O McDonald's disparou então uma iniciativa de


Toyota de Produção -, que centra-se na eliminação de

desenvolvimento conjunto com alguns fornece­ desperdícios eno melhoramento contfnuo - Veja Corrêa e

dores para desenvolver uma variedade de bata­ Corrêa, 2008, Capitulo 20, para detalhes) entre seus for:

ta que se conformasse aos padrões internacionais necedores. Nos Estados Unidos, assim como na Europa·

da empresa. A partir disso, alguns fornecedores e no Japão, a Toyota instituiu os chamados Centros de .

tornaram-se exclusivos Csubsequente migração Apoio ao Fornecedor Toyota, escolas onde os fornecedo­

para o quadrante estratégico), preservando-se a ' res podem aprender os princípios Jean do Sistema Toyota

centralidade da atividade. de Produção e desenvolver planos de implantação deles

.:~ .)
.1
·1 94 Gestão de Redes de Suprimento • Corrêa

em suas próprias fábricas, Centenas de gestores de alto


pertise técnica passam a ser usados. Mesmo quando a
nível de fornecedores frequentam esses centms anual­
empresa torna-se um fornecedor preferencial, é raro a
mente, A preocupação com fornecedores tem raízes hIs­
Toyota delegar a ele completamente a tarefa de projeto
tóricas na Toyota, Em 1943, a empresa fundou no Japão
da peça. AToyota é contra a abordagem de comprar com­
..! uma associação de fornecedores para promover "amizade
ponentes "caixa-preta", principalmente em partes centrais
mútua" e a troca de informações técnicas entre a Toyo­
. como motores etransmissões. Ainda assim, os fornece­
.;j . a
ta e seus fornecedores. Mais tarde, Toyoía inaugurou
dores apreciam fazer negóciO com aToyota por causa de
uma iniciàtiva similar com seus fornecedores americanos,
sua confiabilidade, justiça eprevisibilidade nos processos .
o que foi visto inicialmente com ·certa desconfíaça, mas de gestão de seus fornecedores.
posteriormente teve sucesso, A Toyota sempre valorizou

J o relacionamento face a face com seus fornecedores, dai


ter sido mais lenta que as montadoras americanas para
aderir a práticas de suprimentos baseadas na Internet. O
General Matars
A General Motors até muito recentemente era a li­

ger mundial (em volume) na fabricação de veiculos. AGM

I perfil dos fornecedores da Toyota quanto á percentagem manteve-se bastante integrada verticalmente ao longo

í dos custos de componentes mostrado na Figura 3.15 é de toda a sua história e por muito tempo produzia inter­

bem diferente daquele dos da General Motors.. namente em torno de 65% dos componentes dos seus

~: ".!

-
veiculos, Suas compras, primeira 'e predominantemente,

~ .. eram feitas de acordo com uma relação que chamamos

Percentagem do custo lotai de componentes


neste capítulo de "mercado puro", muito baseada em

}; Feitos por cotações solicitadas a cinco fornecedores, com compra

Feitos por
Féitos fornecedores daquele de mais baixo preço entre elas. Tradicionalmen­

fornecedores tipo mercado-'


internamente .te, a relação da GM com seus fornecedores poderia ser
parceiros
j puro considerada como "adversária", As fábricas americanas
da GM e de seus fornecedores são espalhadas pelo ter­

.~
Toyota
General
27%

55%
48%
10%
25%

35%
ritório americano, em claro contraste com a abordagem
da Toyota. Previsivelmente, a GM nunca priorizou muito
Motors
~ Figura 3.15 Toyota e GM: distribuição de fornecimento
as relações face aface com seus fornecedores. De acordo

I,
d
por tipo de relação com fornecedor.
com muitos pesquisadores, o nlvel de confiança entre a
GM e seus fornecedores também nunca foi comparável
àqúele da Toyota com os seus, Em 1992, por exemplo,
j Coerente com o Sistema Toyota de Produção como confrontada com um baixo desempenho financeiro, o en­
. seguido noJapão, a maioria das fábricas montadoras da tão vice-presidente glObal de compras Jose Ignacio Lo­
Toyota localiza-se num raio de 50 km da sede da corpo­ pez de Arriortua (o mesmo que acabou na VW - veja o
.ração e de seu centro tecnológico. Os fornecedores, en­ caso ao final do CapitulO 2) disparou uma iniciativa ainda
tão, ficam em "aglomerados" ao redor das fábricas. As mais agressiva com os fornecedores, em alguns casos
fábricas Toyota de componentes estão muito próximas demandando reduções percentuais de preço de dois digi­

I
,
(15 km, em média), as de fornecedores kankei-kaisha, um
pouco mais afastadas (5Q km, em média), e as de forne­
tas. Ele até mesmo quebrou atradição da renovação anual
de contratos com fornecedores de longo prazo, em vez
disso passando a trocar frequentemente de fornecedores
cedores de fora do .. keiretsu modificado", a 130 km, em
média. Essas distâncias todas, entretanto, são muito me­ com base em cotações e compra do mais barato. Alega­
nores do que aquelas das redes de suprimentos das mon­ se que em algumas situações, depois de um fornecedor
tadoras americanas. Em média, um fornecedorToyota faz comprometer recursos no desenvolvimento e projeto de
em torno de oito entregas just in time por dia -levando a uma peça, a GM sob Lopez usou o desenho da peça em
estoques muito menores que o dos concorrentes ameri­ questão para gerar "chamadas de cotação" para outros
canos. A Toyota só parece fazer negÓciO com fornecedo­ fornecedores. Compradores da GM eram proibidOS de
res que podem ter presença global, capacidade de inova­ aceitar convites para refeições com fornecedores, exce­
.ção tecnOlógica e velocidade de atendimento. Assuntos to em situações extraordinárias - e mesmo assim essa
como qualidade, confiabilidade e comprometimento com prática era desencorajada, Um executivo teria dito: "Não
redução de custo parecem ser pré-requisitos para a con­ entendemos bem o que parceria com fornecedores traz
sideraçao inicial de uma potencial empresa fornecedora. de beneficios. Parceria amarra você.. , nós não gostamos
A evolução do relacionamento de um fornecedor com a nem da palavra 'parceiro....
Toyota segue a seguinte sequência: primeiro, o.fornece­ No curto prazo, a GM conseguiu US$ 4 bilhões de
dor fornece uma peça que foi completamente projetada economia em materiais sob Lopez, mas à custa do rela­
pela Toyota; apenas depois de um longo período de alto cionamento de mais longo prazo com seus fornecedores,
desempenho e continua construção de relacionamento o que tornaram-se cada vez mais resistentes a compartilha­
fornecedor atinge o estágio em que seus projetos e ex­ rem suas melhores ou mais recentes idelas com a GM,
Gestão dos Relacionamentos na Rede Global de Suprimentos 95

tendendo a vendê-Ias para empresas Que tendessem a . 3. Compare as duas empresas em termos das 'suas pos­
valorizar mais um bom relacionamento. Depois Que Lopez turas de negOCiação com seus fornecedores.
deixou a GM, indo para a VOlksWagen, em 1993, o novo . 4. Analise asituação presente do mundo automobilístico
chefe de compras, Richard Wagoner (que foi presidente (nos anos 90, a Toyota era a 4' maior montadora do
da VW Brasil efoi, até o inicio de 2009, o CEO da Corpo­ mundo, atrás das três grandes americanas. Em 2008,
ração GM), adotou uma postura mais suave quanto aos ela era a maior do mundo e as três grandes ameri­
fornecedores. Ele não repudiou 100% dos métodos de canas estavam enfrentando séria ameaça de falência).
Lopez, mas aparentemente os mais radicais passaram a Quanto você imagina que as diferentes posturas da
ser menos enfatizados. Wagoner afirmou em 1993 que 13M e da Toyota Quanto a suprimentos num ambiente
"A 13M continuaria a ser dura com s.eus fornecedores. em Que mais e mais peças são terceirizadas influen­
Não acreditamos na velha prática do 'abraço de urso', ciou o destino competitivo de ambas?
com todos falando o quanto nos amamos ou quanto nos
fonte: Baseado em Enright (2003).
odiamos. Parcerias têm que ser baseadas na demanda do
mercado e expectativas dos clientes".
O seu sucessor a partir da metade dos anos 90,
Harold Kutner, manteve uma filosofia similar. Ele disse: QUESTÕES PARA DISCUSSÃO
. "Nosso foco não é necessariamente ter grandes parcerias
com nossos fornecedores com relacionamentos assumi­ 1. Por qt.te considera-se que uma das questões
dos para a vida toda. Éter relacionamento com fomece­ mais importantes para o sucesso de uma rede
dores com altos níveis de expectativas. Os fornecedores de suprimentos é o nível de confiança entre
devem esperar de nós que sejamos bons clientes. Preci­ os parceiros componentes da rede? No que a
samos compartilhar dados, oportunidades futuras e pre­ falta de confiança entre parceiros pode afetar
visões de volume. E precisamos compartilhar com eles
qualquer informação que auxilie a eliminar desperdlcios
o desempenho da rede?
I
I
•do sístema. Por outro lado, nós temos altas expectativas: 2. Explique em suas palavras o que é e quais as
primeiro, que o fornecedor deve se tornar global; e se­ lições que podem ser tiradas do chamado "di­
gundo, que seu desempenho possa ser comparável com lema do prisioneiro".
o das melhores empresas do mundo". Mas Kutner foi su­
3. Como se pode influenciar o nível de confiança
ave só se comparado aos padrões tradicionais da 13M. Ele
entre parceiros de uma rede de suprimentos?
tinha areputação junto aos fornecedores de serum nego­

ciador duríssimo na pressão para reduzir preços.


4. Como os estilos de negociação entre compo­
nentes de uma rede de suprimentos podem
Conforme comentado neste capítulo, os três grandes
afetar seu desempenho como um todo?
fabricantes de veículos americanos - GM, Ford eChrysler
- estabeleceram uma plataforma conjunta baseada na In­ 5. Explique, em suas palavras, dando exemplos
ternet chamada Covisint em 2000 para aumentar volumes concretos, o que são os estilos ganha-ganha,
comprados através da consolidação de compras e con­ ganha-perde e perde-perde de negociação.
seguir vantagens em preço - através de um sistema de Você acha que o estilo perde-perde é sempre o
cotações eleilões on fine. Embora houvesse àquela época menos desejável dos três? Por quê?
grandes expectativas em relação a soluções de compras
6. Imagine que você está dando uma festa em seu
baseadas na Internet, aToyota permaneceu fiel ao concei­
to de que relacionamentos face aface com fornecedores apartamento para comemorar a promoção dos
e inspeções nas suas fábricas não pOdiam ser feitas via seus sonhos. Seus convidados, inclusive o seu
InterneI. De fato, a partir já de 2002, a Covisinl já não chefe, estão animadíssimos, dançando, quan­
apresentava o desempenho esperado, tendo sido poste­ do toca a campainha: é o seu vizinho de bai.­
riormente vendida. Muitos fornecedores relutaram em xo, de pijama, demandando que a música seja
participar dos leilões da Covisint por enxergarem nessa desligada imediatamente, dado o avançado da
inciativa uma forma adicional de as grandes montadoras hora. Todos os seus colegas têm você como um
cortarem preços via poder de barganha (conseguir fatias . grande negociador e param para ver qual será
maiores do bolo em vez de fazer crescer o bOlo). sua reação. Use os "pressupostos para uma ne­
1. Faça uma análise comparativa das posturas da GM eda gociação de sucesso" do texto adaptados para
Toyota quanto ao relacionamento com fornecedores. a situação delicada em que você está, com sua
2. Compare as duas abordagens, da GM e da Toyota, festa suspensa, e defina para cada um dos itens
quanto ao desenvolvimento emanutenção de confian­ listados o que você faria para ter "sucesso" nes­
ça entre membros das suas redes de suprimento. sa negociação importante.

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