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Introdução

Introdução

Apresentação
Este manual é um guia de projeto e execução de estabilização de taludes no Rio de Janeiro.
Contempla a identificação e investigação dos acidentes, a solução de projeto geotécnico e
estrutural. Acompanham especificações para execução e desenhos típicos das diversas
soluções de contenção.
O Manual foi concebido como um instrumento para o engenheiro experiente, reunindo em um
só volume as técnicas mais usuais de estabilização. Não é um livro-texto, mas uma orientação
sobre a boa prática de projeto e execução.

Organização do manual
O texto do Manual de Investigações e Análises foi subdividido em vários capítulos, em que os
três primeiros visam o diagnóstico do problema. Dentro deste tópico, o primeiro é dedicado
aos Solos e rochas do Rio de Janeiro apresentando um sumário da geologia do Rio de Janeiro
e seus arredores. A seguir trata-se dos Movimentos de massa, em que os tipos de
deslizamento são classificados e identificados e das Investigações geotécnicas, bastante
resumidas, onde se apresentam critérios de investigação, sem detalhar a metodologia. Ao
final do capítulo acrescenta-se uma tabela com valores típicos de resultados de ensaios de
resistência nos solos cariocas.

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Introdução

Retaludamento

Fase de
Drenagem e
diagnóstico proteção
superficial

Geologia
Muros
Análise de
estabilidade
em solos
Classificação
Tipos de Cortinas
do movimento
solução ancoradas

Análise de
estabilidade
em rochas Reforço com
Investigações geossintéticos

Solo grampeado

Intrumentação Estabilização de
taludes em
rochas

Figura 1 Organização do texto

A seguir, dois capítulos discutem os métodos de análise de Estabilidade de taludes em solos


e em rochas. O primeiro trata dos métodos mais tradicionais de análise, indicando algumas
ferramentas computacionais. O segundo trata do que existe de mais atual sobre as rochas,
tanto na descrição das descontinuidades e avaliação de parâmetros de resistência, quanto nas
ferramentas computacionais usadas atualmente.
O capítulo seguinte, Escolha da Solução, aborda os diferentes métodos de estabilização de
taludes, apresentando critérios para a escolha da solução mais adequada, seja somente a
suavização do talude, ou abrangendo os mais diversos métodos de estabilização. O leitor é
apresentado ao um grande leque de soluções, desde as tradicionais ancoragens e cortinas
ancoradas, passando por muros de gravidade de vários tipos, solo grampeado, solo reforçado

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Introdução

com geossintéticos, técnicas de estabilização de taludes em rocha, drenagem e proteção


superficial e finalmente instrumentação de taludes.
O capítulo final versa sobre a Instrumentação de taludes e apresenta tanto as técnicas mais
tradicionais de observação de deslizamentos com inclinômetros, piezômetros e marcos
superficiais, quanto os sistemas automáticos. São discutidos dois critérios de instrumentação
de taludes sujeitos à instabilização por chuvas fortes: o critério de instrumentação de alarme
por área e de taludes específicos. O primeiro caso corresponde ao sistema Alerta-Rio,
aplicado no Rio de Janeiro, que inclui uma rede de pluviômetros automáticos e a previsão
meteorológica via radar. O segundo, abrange o monitoramento automático de taludes com
medição de deslocamentos e poropressões.
Vários anexos constam do final do texto. O primeiro contém as referências citadas, seguido
das listas de normas ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas, DNER Departamento
Nacional de Estradas de Rodagem e ABGE Associação Brasileira de Geologia de Engenharia.

Formato
O Manual contém uma grande quantidade de figuras, ábacos e fotos. Estas provêm dos
arquivos da GeoRio, que existem graças à dedicação de mais de quarenta anos do fotógrafo
Sr. Ary Maciel, e por cessão algumas empresas, como a Este Engenharia, Geoflex, Geokon e
dos arquivos pessoais dos autores.
As empresas Este SA, Geotécnica SA, Belgo-Mineira Bekaert e Maccaferri colaboraram
intensamente com a equipe do Manual: forneceram informações, fotos, elaboraram e
revisaram textos, mas principalmente contribuíram com a sua experiência.

Elaboração do Manual
O Manual de Encostas da GeoRio resultou de um contrato intitulado “Elaboração de Manuais
Técnicos de Projetos, Especificações e Execução para Obras de Estabilização”, contrato
091/98, entre a GeoRio e a Insitutek Ltda, que contou com uma equipe de especialistas
geotécnicos para elaboração.
A coordenação e editoração dos trabalhos foi realizada pelo Dr J A R Ortigão (UFRJ),
assistido pelo Dr A Sayão (PUC-RJ).
Os capítulos de Geologia e Movimentos de Massa foram de elaborados pelo Dr H Penha
(UFF),
• O Capítulo de Drenagem e Proteção Superficial pela Dra Denise Gerscovich (Uerj);
Os capítulos de Muros e Estabilidade de Taludes em Solo, pelo Dr A Sayão;
• O capítulo de Geossintéticos, Dr E M Palmeira (UnB).
Os capítulos de Investigações, Estabilidade de Taludes em Rocha, Cortinas, Solo
Grampeado, Estabilização de Taludes em Rocha e Instrumentação foram elaborados do
Dr J A R Ortigão, assistido pelo professor Eng C J R d’Ávila, UFRJ, na eletrônica
aplicada à instrumentação.
• O capítulo de Dimensionamento Estrutural foi elaborado pelo engenheiro J R Oliveira da
Insitutek.
• O capítulo de Concreto Projetado foi elaborado pelo engenheiro A Moraes da Belgo
Mineira-Bekaert e pelo Dr J A R Ortigão.

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Introdução

• O apoio técnico e editorial para elaboração do Manual foi coordenado pela Enga Lúcia
Alves.

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Introdução

Equipe da GeoRio
A Fiscalização do contrato 091/98 entre a GeoRio e a Insitutek Ltda, intitulado “Elaboração de
Manuais Técnicos de Projetos, Especificações e Execução para Obras de Estabilização”, foi exercida
pela GeoRio que designou os engenheiros Helio G de Brito Filho e Marcio J M Machado.
Coordenação Eng Helio G de Brito Filho (Diretor da Diretoria DEP) e Eng Marcio Mach
(Gerente de Obras)

Análise e revisão de Eng Helio G de Brito Filho (Diretor da Diretoria DEP)


textos
Eng Marcio Machado (Gerente de Obras)
Eng Luiz Otávio Vieira (Assessor da Diretoria)
Eng Renato Geraidini de Oliveira (Gerente de Projetos)
Geól. Ricardo D’Orsi (Gerente de Programas Especiais)
Geól. Claudio Amaral (Gerente de Gologia)
Eng R L Feijó
Elaboração e revisão Eng Luiz Otávio Vieira (Assessor da Diretoria)
de desenhos
Eng Renato Geraidini de Oliveira (Gerente de Projetos)
Enga Aidê Carramão
Enga Helena Quaresma
Enga Eclair Cardoso
Eng Geraldo Baptista (Diretor de Estruturas)
Eng Marcus Bergman
Revisão das Eng Sergio Correa (Diretor da Diretoria de Obras)
especificações
Eng Aldo Rosa (Diretor da Diretoria de Fiscalização e Licenciamento)
Eng Helio G de Brito Filho (Diretor da Diretoria DEP)
Eng Marcio Machado (Gerente de Obras)
Eng Andre Merlino
Eng Fábio Lessa (Gerente de Obras)
Eng A Carlos Guedes
Cálculo de custos Eng Fábio Lessa (Gerente de Obras)
comparativos entre
Eng Andre Merlino
soluções

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Rochas e solos

2 ROCHAS E SOLOS DO RIO DE JANEIRO

H Penha

Introdução
O conhecimento das Rochas e Solos do Rio de Janeiro tem grande importância na análise dos
processos de deslizamento de taludes. O substrato rochoso das encostas do Rio de Janeiro é
formado fundamentalmente por rochas metamórficas de alto grau, gnaisses e migmatitos e, ígneas
intrusivas graníticas que normalmente cortam as anteriores. Este contexto geológico apresenta
grande complexidade estrutural e de difícil relacionamento estratigráfico. Suas idades são Pré-
Cambrianas, isto é, superiores a 570 Ma, embora alguns granitos apresentem idades um pouco mais
jovens. Todo o conjunto é atravessado por ígneas mais recentes, na forma de diques básicos
(diabásios) ou alcalinos (tinguaítos, traquitos e fonolitos), estes associados ao grande corpo ígneo
sienítico do Maciço Mendanha-Gericinó e de idade Cretácea (65 Ma).
Os três maciços montanhosos encontrados no Município do Rio de Janeiro - Tijuca, Pedra Branca e
Gericinó-Mendanha - são constituídos por rochas gnáissicas, graníticas e alcalinas. O conjunto
gnáissico tem suas melhores exposições no Maciço da Tijuca e em áreas a ele periféricas da
Planície Litorânea e colinas relacionadas, com grande densidade populacional. Apresenta litologias
diversificadas, de composição mineralógica variável e com diferentes tipos de deformação
geológica. Os materiais de alteração e de coberturas relacionadas também apresentam expressiva
variabilidade, decorrente da estruturação geológica, do relevo e do clima.
Nos itens que se seguem são relacionados aspectos relevantes de natureza geológica e geotécnica
que, em seu conjunto, formam uma documentação básica orientativa para os profissionais de
Geologia e de Engenharia.

Litologias
As principais litologias ocorrentes no Município do Rio de Janeiro constam do Mapa Geológico do
Estado da Guanabara (Helmbold et al, 1965) em escala 1:50.000. Neste trabalho, é apresentada
uma divisão sistemática das rochas metamórficas da cidade: Uma Série Inferior, mais antiga,
caracterizada por gnaisses graníticos a quartzo-dioríticos e migmatitos e, uma Série Superior, de
gnaisses principalmente aluminosos, mais jovens. Tal trabalho constitui a base do conhecimento ao
nível de semi-detalhe da Geologia do Município e, ao lado de outros mais recentes e com objetivos
específicos, distinguem as litologias referenciadas no Manual.

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Rochas e solos

Série Inferior - Constituída por gnaisses granodioríticos a quartzo-dioríticos, com estrutura


complexa e xistosidade mal definida. Associam-se a migmatitos, freqüentemente estromáticos e
gnaisses finos bandados.
Esses gnaisses são grossos, equigranulares geralmente mesocráticos, de composição
granítica a quartzo-diorítica, constituídos de quartzo, microclina, ortoclásio, plagioclásio, biotita e
hornblenda, sendo abundante a titanita e ausente a granada. O conjunto é cortado por diques
básicos, aplíticos e pegmatíticos, deformados e metamorfizados.
Tais litotipos associados a corpos migmáticos intermediários e máficos, gnaissificados,
aparecem nas zonas norte e oeste da cidade e nas ilhas do Governador e Fundão.
Série Superior - É a que aglutina a maior parte dos gnaisses das encostas do Rio de Janeiro
e, em particular, do Maciço da Tijuca. Leptinitos, plagioclásio-gnaisses, microclina-gnaisses ou
gnaisse facoidal, biotita-gnaisses e kinzigitos, constituem seus principais representantes (Figura 1).

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Rochas e solos

N
S. do Engenho Novo
22º 55'
Lapa
15
Serra dos
Pretos Forros Grajaú 20
30
15
Tijuca 20
25 30 15 Baía de Guanabara
30
30 15
Elefante 25 25 5 Cosme
25
A 35 30 Velho Viúva
15

10 20
15 20
Tijuca Pão de Açúcar
45
Conde Queimado
15 Corcovado
10
25 45
Jacarepaguá 15 20
30

15 35 Leme
Furnas Legenda
35 20 Vista chinesa
15
Lagoa quaternário

40 diques de diabásio
20
30 granito favela
15
Foliação
Pedra Bonita tonalito grajaú principal
25 30
Leblon Ipanema
metagabro Fluxo
35
magmático
30 30 leptinito
Falhas e/ou
23º 00' 15 Gávea São Conrado kinzigito zonas de
cisalhamento
Oceano Atlântico biotita gnaisse
20 gnaisse facoidal
Barra da Tijuca
43º 20' 43º 15' 43º 10' gnaisse archer

Com base em Pires & Heilbron, 1984-1992


e Helmbold, R. ,1965

Figura 1 - Mapa geológico do maciço da Tijuca

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Rochas e solos

As rochas da Série Superior são as que apresentam maiores variações tanto composicionais
como texturais e estruturais. Esta variabilidade é considerada no comportamento geomecânico das
massas rochosas, bem como nos solos residuais, delas derivados. Tais litologias são associadas à
estruturação geológica do Maciço da Tijuca, e influenciam significativamente em sua morfologia,
evolução de suas encostas e nos processos geodinâmicos de risco, quando comparado com os
demais maciços do Município.
Apresentam-se a seguir, as principais litologias do Município com suas características
essenciais (Tabela 1 e Tabela 2).

Tabela 1 - Quadro geral dos grupos de rochas e seus principais representantes ocorrentes nas encostas do
Município do Rio de Janeiro

Grupo genérico Metamórficas/tectonitos Ígneas Formações


Estrutura usual Folheada Maciça Superficiais
Quartzo, Minerais
feldspato, Minerais claros dominantes escuros
micas, dominantes
Composição (quartzo, feldspato, mica e (inconsolidadas)
minerais
escuros muscovita) (ferromagnesi
aciculares anos)
50 muito
ácida intermediária básica
mm grosseiro
Pegmatito
G granito sienito gabro
R grosseiro gnaisse
A a (orto-para) quartzito sienito tálus
camadas
N médio Nefelínico e
alternadas de
minerais
U anfibolito colúvios
granulares
L 1 mm e lamelares
A cataclasito
Ç
0,1 migmatito
à fino microgranito tinguaito diabásio
mm milonito
O
muito traquito basalto
fino fonolito

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Rochas e solos

Tabela 2 - Principais litologias das encostas do Município do Rio de Janeiro e algumas características geológicas distintivas

Deformações Dúcteis e Feições


Litotipos Grupo Genético Cor Granulometria Textura Estrutura/Trama Petrografia Mineralogia Acessórios/Resistatos Material de Alteração Rúpteis mais Morfológicas
Representativas
Típicas
Migmatitos migmática cinza média variável migmatítica variável quartzo, k-feldspato, plagioclásio, variável argilas, resistatos dobras blocos
biotitta, augita
Gnaisse metamórfica cinza escuro fina granonematoblástica foliação metamórfica anfibolito anfibólio, plagioclásio magnetita, titanita argilas, limonita dobras blocos
Anfibolítico
Metagabro ígnea/metamórfica preta média/grossa panidiomórfica maciça gabro (levemente clinopiroxênio, plagioclásio, titanita, magnetita, argilas, limonita, falhas, Juntas núcleos rochosos,
granular metamorfizado) anfibólio, biotita ilmenita, pirita resistatos Campos de Matacão
Gnaisse Archer metamórfica cinza escuro média/grossa semi-porfiroblástica gnáisica a migmática plagioclásio gnaisse quartzo, plagioclásio, k-feldspato, allanita, zircão, opacos argilas, resistatos dobras, falhas, blocos
(PG gnaisse) biotitta, anfibólio juntas
Leptinito metamórfica cinza claro média/fina granolepidoblástica foliação gnáissica gnaisse quartzo quartzo, k-feldspato, plagioclásio, apatita, ilmenita, argilas, resistatos dobras, falhas, blocos, lascas
feldspático granada, biotitta magnetita, zircão (quartzo) juntas
Biotita-Gnaisse metamórfica tons de cinza média/fina granolepidoblástica xistosidade e foliação biotita gnaisse k-feldspato, plagioclásio, quartzo, granada argilas dobras, falhas, Blocos, lascas
gnáissica biotita, granada juntas
Quartzito metamórfica branca média/fina granoblástica maciça/foliada quartzito quartzo, k-feldspato monazita resistatos (quartzo) falhas, juntas blocos, lascas
Kinzigito metamórfica cinza rosado média/grossa granoporfiroblástica foliação gnáissica gnaisse aluminoso granada, sillimanita, cordierita, sillimanita, cordierita argilas, resistatos dobras, falhas, blocos, lascas
quartzo, k-feldspato, plagioclásio, juntas
biotita

Gnaisse metamórfica cinza rosado média/grossa porfiroblástica foliação gnáissica e/ou granitóide k-feldspato, plagioclásio, quartzo, magnetita, zircão argilas, resistatos dobras, falhas, pirâmides rochosas,
Facoidal milonítica gnaissificado biotita, granada (quartzo) cisalhamentos blocos
Granodiorito ígnea cinza média hipidiomórfica maciça/orientação de granodiorito quartzo, plagioclásio, biotita, titanita, ilmenita, argilas, resistatos falhas, juntas blocos, torres, lascas
Pedra Branca granular fluxo anfibólio magnetita, pirita
Granitóide ígnea cinza média/fina equigranular foliação metamórfica tonalito quartzo, plagioclásio, biotita, titanita argilas, resistatos juntas blocos
Grajaú anfibólio
(dique)
Granito Utinga ígnea/migmática branco rosado grossa/pegmat porfirítica migmática, algo granito quartzo, k-feldspato, biotita opacos argilas, resistatos juntas Blocos
(dique) óide foliado

Granito Favela ígnea cinza média hipidiomórfica maciça ou com biotita granito quartzo, k-feldspato, biotita allanita, apatita, zircão, argillas, resistatos falhas, juntas torres, campos de
(dique) inequigranular orientação de fluxo magnetita matacão, cornijas
Granito Rosa ígnea cinza rosado fina hipidiomórfica maciça leucogranito quartzo, k-feldspato, biotita, allanita, zircão, apatita argilas, resistatos juntas blocos
(dique) granular plagioclásio
Diabásio ígnea preta média/fina ofítica maciça, microcristalina diabásio plagioclásio, piroxênio, anfibólio pirita, magnetita argilas, limonita falhas., juntas campos de blocos
(dique) esfoliados

Sienito ígnea cinza claro média hipidiomórfica maciça sienito nefelínico ou feldspato, nefelina, piroxênio titanita, apatita, zircão argilas, resistatos falhas, juntas blocos
Nefelínico inequigranular foiaito
Traquito ígnea cinza claro rosado fina traquítica maciça, microcristalina traquito feldspato, biotita, piroxênio, anfibólio titanita, apatita argilas juntas blocos
(dique)
Fonolito ígnea cinza escuro fina microcristalina maciça, microcristalina fonolito k-feldspato, piroxênio, nefelina apatita, zircão argilas juntas campos de blocos
(dique) esverdeado porfirítica esfoliados

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Rochas e solos

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Rochas e solos

Litotipos gnáissicos
Leptinitos - São gnaisses quartzo-feldspáticos, leucocráticos, localmente bandados, laminados, com
granulação fina, e de coloração amarelada a cinza clara. Petrograficamente é constituído por
feldspato, quartzo e com granada e biotita subordinadas. Apatita, zircão, ilmenita e magnetita, são
minerais acessórios. Bancos métricos de quartzito e variação na proporção de biotita, definem o
bandeamento composicional, sendo a foliação metamórfica principal dada pela biotita.
Ocorrem principalmente na encosta meridional da Serra da Carioca, desde Santa Teresa até além do
Corcovado.
Plagioclásio Gnaisse - Equivalente ao Gnaisse Archer, é uma rocha escura acinzentada, granulação
média a grossa, apresentando textura semifacoidal dada por cristais lenticulares de feldspato. É
constituído por quartzo, feldspato, biotita e localmente hornblenda. Allanita, zircão e opacos, são
acessórios. O bandeamento metamórfico é destacado, principalmente nos tipos ricos em biotita,
interdigitados com material granítico rico em feldspato. Faixas porfiroblásticas (com cristais
centimétricos de feldspato), são encontradasa próximas aos contatos com o gnaisse facoidal.
Também ocorrem embutidos nestes gnaisses porções e lentes métricas de rochas básicas (rochas
dioríticas e gabróicas), xistosas, transformadas parcialmente em gnaisses básicos e biotíticos com
restos de anfibólio, devido ao metamorfismo e, charno-enderbitos.
Estes gnaisses afloram em bairros da zona norte do Rio, como no Méier, Serra do Engenho Novo,
Inhaúma, Morro dos Telégrafos, parte de Jacarepaguá e, na Floresta da Tijuca, no Morro do Archer,
Serrinha e Joá.
Gnaisse Facoidal –Rocha leucocrática de cor rosada a cinza clara, de granulação grosseira,
porfiroblástica ou porfiroclástica, apresentando grandes lentes ou “olhos” de feldspato creme ou
róseo (geralmente de microclina), às vezes bem orientados, e que se destacam entre camadas de
biotita. Pelo caráter porfiroblástico dos feldspatos centimétricos contornados por uma massa
granoblástica fina, este gnaisse também é denominado “augen-gnaisse” Sua foliação é dada pelos
filmes de biotita que contornam os grandes cristais de feldspato. Subordinadamente, apresenta uma
variedade granuloblástica grosseira.
Petrograficamente trata-se de um microclina-oligoclásio/andesina-quartzo-biotita-gnaisse com
granada subordinada, apresentando textura principalmente porfiroblástica (ou facoidal), com lentes
de biotita-gnaisses, leptinitos, kinzigitos, metabasitos e manchas esverdeadas charnoquíticas. Faz
contatos aparentemente gradacionais com leptinitos e com o biotita gnaisse. Em alguns pontos
apresenta contatos bruscos com aqueles gnaisses, aparentando intrusionamento ígneo.
Quando milonitizado, os feldspatos apresentam diferentes estágios de estiramento, comportando-se
como porfiroclastos feldspáticos. Estas feições estruturais, representadas pelos milonitos,
associam-se principalmente à Zona de Cisalhamento Dúctil Niterói, de direção nordeste e que se
estende por dezenas de quilômetros através dos Municípios do Rio de Janeiro e de Niterói.
Apresenta idade em torno de 620 Ma.
Kinzigito - Tem sua melhores ocorrências no flanco oriental do Maciço da Tijuca, particularmente
na Serra da Carioca. Trata-se de um gnaisse leuco a mesocrático, de cor rosada, granulação
grosseira com porfiroblastos de até 2 cm de granada do tipo almandina, mais raramente de
cordierita, e com quantidades variáveis de quartzo, feldspato, biotita e sillimanita .
A foliação é bem desenvolvida e localmente pode conter lentes e/ou camadas (cm a m) de rochas
calciossilicáticas, leptinitos e quartzitos. Se distingue das demais litologias pela expressiva
presença de aluminosilicatos, tais como, granada, cordierita e sillimanita. Associa-se com o Biotita
Gnaisse para o qual passa de forma gradativa.

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Rochas e solos

Biotita Gnaisse – Rocha com estrutura gnaissica típica, com textura granolepidoblástica a
lepidoblástica, granulação fina a média, cor variando de cinza claro a cinza escuro, às vezes
granatífero e com diversas intercalações centimétricas a métricas de quartzito puro ou feldspático,
de espessura variável, como observadas na escarpa norte do Maciço da Tijuca. Em alguns pontos
esse gnaisse exibe feições migmáticas e estruturas deformacionais, dobramento, bem características
que o distingue dos demais. Quando quartzítico, é um gnaisse bem laminado que ocorre em
pequenas extensões, podendo ser observada a sua presença no Alto da Boa Vista, em domínio do
Biotita Gnaisse e também sob a forma de camadas quartzosas no Leblon.
O conjunto Kinzigito-Biotita Gnaisse apresenta-se na Serra da Tijuca ao longo de uma faixa de
direção aproximada NW-SE, embora um prolongamento do gnaisse kinzigítico de direção ENE-
WSW alcança a Serra da Carioca onde faz contatos com o Gnaisse Facoidal e com o Leptinito .
De um modo geral os gnaisses do Rio de Janeiro apresentam idades em torno de 600 Ma.

Minerais das rochas metamórficas do Rio de Janeiro


Além do quartzo, dos feldspatos e das micas, comuns tanto nas rochas ígneas como nas
metamórficas, ocorrem alguns minerais característicos do processo metamórfico e constituídos
principalmente por aluminosilicatos. São eles:
Granada - Um grupo de minerais aluminosos de composição variada. Nos gnaisses do Rio de
Janeiro, é muito comum a presença da variedade almandina, de coloração avermelhada, na forma de
cristais perfeitos ou massas granulares. A composição da almandina é Fe3Al2(SiO4)3.
Sillimanita - É um aluminosilicato, de composição Al2SiO5 com algum Fe na estrutura substituindo
o Al. É um mineral claro, branco a amarelado, em cristais prismáticos a aciculares, ocorrente em
alguns paragnaisses do Rio de Janeiro, como o Kinzigito.
Cordierita - É um aluminosilicato contendo Fe e Mg na estrutura com composição
Al3(Mg,Fe)2[Si5AlO18] de coloração cinza-azulada. Ocorre nos kinzigitos do Rio de Janeiro junto
com a sillimanita e a almandina.
Clorita - Silicato de Fe, Mg e Al, hidratado de cor esverdeada a verde escura, similar às micas com
boa clivagem lamelar, mas não elástica. Ocorre em faixas hidrotermalizadas, em zonas fraturadas
de granitos, como mineral de alteração hidrotermal, e também em faixas cataclásticas em rochas
graníticas e gnáissicas como produto de alteração de minerais ferromagnesianos. Também é
mineral comumente encontrado em rochas metamórficas de baixo a médio grau.
Os termos mineral essencial e mineral acessório não são usuais para as rochas metamórficas.

Litotipos ígneos
Metagabro da Tijuca - Conhecido comercialmente como Granito Preto da Tijuca, aflora na Floresta
da Tijuca, particularmente nas adjacências da estrada do Soberbo, onde apresenta suas maiores
exposições e, geologicamente, está em grande parte englobado pelo Granito Favela que por sua vez
se encaixa entre o gnaisse Archer e o Facoidal.
É uma rocha ígnea, de composição gabroica a diorítica, levemente metamorfisada, mesocrática,
maciça ou com ligeira foliação, inequigranular, de granulometria variando de média a grossa, cor
preta, composta por placas maiores de biotita em matriz de plagioclásio, piroxênios, anfibolios,
epidoto e opacos. De acordo com Amaral e Porto Jr. (1989), na região do Soberbo, o corpo do
Metagabro forma um corpo com cerca de 1,5 km de diâmetro, envolvido, com exceção da faixa
sudoeste, pelo Granito Favela que configura um anel bastante irregular com largura de cerca de 200

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Rochas e solos

m. As encaixantes na região são representadas pelo Gnaisse Facoidal, a E e SE, e pelo Gnaisse
Archer.
O conjunto é cortado por diques de diabásio, subverticais e orientados na direção preferencial N45-
50E e N70E, e também por raros pegmatitos.
A alteração do Metagabro apresenta uma forma peculiar, principalmente com blocos arredondados
de rocha fresca ou levemente alterada, circundada por uma massa de solo areno siltoso, dando um
falso aspecto de depósito coluvionar ou tálus. Verifica-se também que o sistema de fraturas do
Metagabro é perfeitamente preservado no saprólito relacionado.
Granodiorito Pedra Branca – Apresenta ampla ocorrência no Município do Rio de Janeiro, situado
entre as planícies de Bangú, Campo Grande e Jacarepaguá, estando a ele associadas as serras do
Nogueira, Quilombo, Barata, Bangú e da Pedra Branca propriamente dita.
Trata-se de um corpo ígneo intrusivo de composição granodiorítica nas porções mais internas,
gradando lateralmente em direção as bordas (Norte e Sul) a tipos mais ácidos representados por um
granito megaporfirítico que apresenta estrutura de fluxo magmático, bandamento ígneo e camadas
de xenólitos máficos .
Próximo aos gnaisses, é um granito porfirítico, com fenocristais de feldspato potássico de até 10 cm
de comprimento, apresentando estrutura planar e linear (fluxo magmático) e notável bandeamento
magmático representado por níveis de distintas granulometrias, aleitamento mineralógico e raros
enxames de enclaves microgranulares alinhados ao fluxo, como pode ser observado na pedreira da
Ibrata em Vargem Pequena, Jacarepaguá.
Uma de suas características é a presença de feições migmáticas de intrusionamento, particularmente
na sua borda sul, na região da Prainha-Grumari. Desplacamentos através de juntas de
descompressão, que dão a massa rochosa uma aparente estratificação, são comuns, além de
extensos campos de matacões. Estas rochas granitóides são por sua vez atravessadas por diques de
granito com tendência porfirítica, rico em allanita e por diabásios.
É apresentada uma idade de 537 Ma (Rb/Sr) para essas rochas.
Tonalito Grajaú - Forma diques e apófises discordantes aos contatos entre os gnaisses, também
como xenólitos dentro do Granito Favela. Trata-se de uma rocha leuco a mesocrática, grão fino a
médio, foliada e constituída de quartzo, plagioclásio, anfibólio e titanita com textura mosqueada
dada por estes três últimos minerais.
Granito Utinga - Ocorre como corpos irregulares, em pequenas ocorrências ou na forma de injeções
concordantes a sub-condordantes com o Gnaisse Archer. Possui composição granítica, granulação
grossa com variedades pegmatóides, destacando-se grandes cristais de feldspato, coloração branca-
rosada, às vezes apresentando aspecto migmático com concentrações estiradas de biotita e foliação
ajustada com as rochas encaixantes. Os corpos mais expressivos ocorrem no flanco oeste do
Maciço da Tijuca, na vertente do bairro de Jacarepaguá, na Serra do Alemão, no Complexo do
Caricó e na Serra da Misericórdia. Pequenas lentes deste granitóide, são encontradas embutidas no
gnaisse facoidal nas proximidades da Estrada Grajaú-Jacarepaguá.
Granito Favela - Ocorre preferencialmente no setor norte-nordeste do Maciço da Tijuca, Serra dos
Pretos Forros e do Engenho Novo, na forma de diques, corpos tabulares que geram cimeiras
resistentes ao intemperismo no topo dos morros ou pequenas intrusões (Floresta da Tijuca). Trata-
se de um granito meso a leucocrático, estrutura maciça, homogêneo, inequigranular, ocorrendo em
diques (principalmente), muitas vezes potentes com espessura de vários metros, núcleos e lentes
subhorizontais, em contatos bruscos com as encaixantes. Apresenta-se com dois fácies texturais:
um equigranular com granulação média a fina; outro, porfirítico, com fenocristais de microclina.
Há presença de mantos de concentrações de máficos. A análise petrográfica indica um biotita
granito com allanita, zircão, magnetita e apatita como principais acessórios.

9
Rochas e solos

Estruturas de fluxo magmático são observáveis nos corpos maiores, e representadas pela orientação
preferencial de fenocristais de feldspato potássico, xenólitos alongados e aglomerados de biotita.
Este granito é correlacionado, no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, ao Granito Andorinha.
O Granito Favela normalmente se apresenta na forma de diques de espessura variável, de baixo
ângulo de mergulho e, quando aflorando em áreas montanhosas intrudido em gnaisses, tende, por
intemperismo diferencial, a se destacar das litologias encaixantes. Bem diaclasados nas elevações,
podem ocasionar a queda de blocos, e, nas encostas, produz extensos campos de matacões
arredondados ou facetados muitas vezes oferecendo perigo potencial aos moradores à jusante.
Na paisagem montanhosa, como outros granitos, tende também a formar “tors” ou torres,
caracteristicamente associadas com granitos bem diaclasados. Estas feições compõem-se de um
amontoado de blocos bem delimitados por diáclases, empilhados uns sobre os outros em suas
posições originais, sobressaindo-se abruptamente de uma vertente ou de um topo relativamente
plano. Exemplos destas feições de morfologia granítica podem ser vistos nas serras de Bangú e
Barata na zona oeste da cidade.
São apresentadas idades em torno de 490 M.a. para este granito.
Granito Rosa - Ocorre em diques pouco espessos, geralmente verticalizados, ou em pequenos
corpos (com diâmetro métrico). Apresenta-se homogêneo, com granulometria fina, sem estruturas
de fluxo ou bandeamento magmático e corta o Granito Favela. É constituído por feldspato, quartzo,
biotita, allanita, zircão e apatita.
Allanita Granito - Trata-se de um granito de granulometria grossa, com textura pegmatóide,
inomogêneo, ocorrendo em diques e bossas irregulares. Apresenta megacristais de feldspato
rosados (até 15 cm), e de allanita (até 10 cm de comprimento, com bordos metamictos). A
muscovita é secundária. Ele corta todas as outras rochas graníticas ocorrentes no Município.
Diabásio - Ocorre na forma de diques de espessuras variadas, de centímetros a vários metros que
podem se estender por dezenas de quilômetros. Trata-se de rocha melanocrática, de cor preta, de
granulação normalmente fina, textura ofítica, raramente porfirítica. Em diques de grande espessura,
pode possuir uma granulação grosseira confundindo-se com o gabro, do qual é representante
extrusivo. Mineralogicamente são basicamente formados de plagioclásios, anfibólios e piroxênios,
onde bastonetes de plagioclásio conferem a rocha a textura ofítica.
Como tem idade Mesozóica cortam, na forma de diques, todas as rochas cristalinas do Município,
granitos e gnaisses, a exceção das alcalinas que são mais jovens. Apresentam direções preferenciais
N40-50E e se encaixam em fraturas e/ou falhas geralmente regionais. Morfologicamente, no Rio de
Janeiro, os diques de diabásio, tendem a formar relevos baixos, retilíneos onde se encaixa a
drenagem, como por exemplo o Rio da Cachoeira/Rio Maracanã no Maciço da Tijuca.
Tais rochas apresentam idades em torno de 130 Ma.
Sienito Nefelínico ou Foiaito - Ocorre ao norte do Município, na Serra de Madureira ou Mendanha-
Gericinó e no Morro do Marapicu. É uma rocha alcalina plutônica, leucocrática, cinza clara, de
granulação grossa, homogênea e composta de uma massa de feldspatos alcalinos, nefelina e cristais
escuros de piroxênio sódico (aegirina). O aspecto lembra o granito do qual difere por não conter
quartzo .
Fonolito - É a variedade extrusiva do nefelina sienito e aparece na região, formando pequenos
derrames ou diques cortando os gnaisses e granitos adjacentes e ao próprio foiaito. É uma rocha de
granulação fina, cor cinza-esverdeada, maciça, que por ter uma estrutura microcristalina se mostra
muito resistente à decomposição. Esta rocha produz um som semelhante ao do sino, quando
golpeada pelo martelo.

10
Rochas e solos

Traquito - é o representante extrusivo do sienito e também aparece em diques que cortam os


gnaisses, granitos e sienitos . É uma rocha leucocrática, cinza clara a rosada, onde ripas de
feldspato aparecem destacadas e orientadas numa matriz afanítica cinzenta.
Os diques, tanto fonolíticos como traquíticos, embora ocorrentes em diferentes pontos do
Município, tornam-se mais freqüentes na sua porção mais ao norte, nas imediações do Maciço
Gericinó-Mendanha, onde comumente se apresentam dispostos na direção NE-SW.
Tais rochas alcalinas apresentam idades Meso-Cenozóicas, em torno de 65 Ma.
Exemplos das litologias mais representativas citadas, encontram-se no Anexo 1.

Minerais das rochas ígneas do Rio de Janeiro

Minerais Essenciais:
Auxiliam na classificação e são principalmente representados pelo quartzo, SiO2, isto é, sílica pura
e os feldspatos que formam o grupo mais importante como constituintes das rochas. Estes são
composicionalmente e cristalograficamente distinguidos em feldspatos potássicos ou k-feldspatos,
representados pelo ortoclásio e pela microclina, e pelos plagioclásios.

Minerais claros:
- Quartzo
- Feldspatos
a) K-feldspatos, genericamente denominados alcalinos, apresentam a composição K2O.Al2O3.6SiO2
e são cristalograficamente subdivididos em ortoclásio, com o sistema de cristalização monoclínico e
microclina com o sistema triclínico. São minerais geralmente brancos, embora a microclina tende a
ter uma cor rósea, ou “cor de carne”, num linguajar mais rotineiro. Alteram-se intempericamente
em caulinita.
b) Plagioclásios, que formam uma série segundo a variação de sódio relativo ao cálcio nos minerais.
O extremo sódico da série é representado pela albita (Na2O.Al2O3.6SiO2) e o do cálcio pela anortita
(CaO.Al2O3.2SiO2) que podem misturar-se em proporções variáveis. Apresentam normalmente a
cor branca ou acinzentada e se cristalizam no sistema triclínico.

Minerais escuros ou ferromagnesianos:


Olivina - Também chamado peridoto tem a composição (Mg,Fe)2.SiO4, sendo comum nas rochas
ultrabásicas, cujo representante é o peridotito.
Piroxênios - Possuem uma composição variável. São silicatos de Mg, Fe, Ca, com ou sem Al2O3 e
Fe2O3. Normalmente aparece em cristais prismáticos e em rochas magmáticas principalmente nas
escuras, como o Diorito e o Gabro. A augita é um dos piroxênios mais comuns. Produz óxido de
ferro por alteração.
Anfibólios - São quimicamente muito parecidos com os piroxênios, mas possuem (OH) na sua
constituição. Ocorrem na forma de prisma e agulhas em rochas ígneas e também em algumas
metamórficas. O anfibólio mais comum é a hornblenda. Sua alteração intempérica produz
argilominerais e óxido de ferro.
Micas - É um grupo de vários minerais. Distinguem-se duas variedades principais:
Biotita ou Mica Preta - é a mais comum e frequentemente encontrada nos granitos e em muitos
gnaisses. É um silicato complexo, contendo K, Mg, Fe e Al, com ótima clivagem laminar e boa
plasticidade. Altera-se em clorita, argilominerais e óxido de ferro.

11
Rochas e solos

Muscovita ou Mica Branca - é menos comum, ocorrendo principalmente em alguns granitos, em


pegmatitos, em micaxistos e alguns gnaisses. É um silicato de composição
K2O.3Al2O3.6SiO2.2H2O. Em placas grandes, são usadas na indústria como isolantes. Por
intemperismo pode se alterar em caulinita e gibsita.

Minerais Acessórios:
São muitos os minerais que ocorrem minoritariamente nas rochas ígneas e por isso são considerados
acessórios. Entre eles se destacam:
Nas rochas graníticas ou ácidas: zircão, esfeno ou titanita, apatita, allanita, monazita, ilmenita e
magnetita.
Nas rochas básicas, tais como gabros e diabásios: magnetita, ilmenita, pirita e calcopirita.

Minerais Resistatos:
São aqueles resistentes ao ataque químico do intemperismo químico, e aparecem individualizados
mineralogicamente nos solos e sedimentos, enriquecendo-os. O principal é o quartzo, seguido do
feldspato e da mica. Entre os acessórios, destacam-se a ilmenita, a magnetita, a monazita, o zircão
e o rutilo.

Estruturas Geológicas
As estruturas geológicas constituem a disposição espacial das rochas ou porções das rochas e suas
relações. Tais estudos são tratados pela Geologia Estrutural.
As estruturas geológicas podem ser originadas por forças tectônicas, que atuam no interior da terra,
ou por forças atectônicas, que atuam na superfície e principalmente associadas a forças
gravitacionais. É importante a compreensão não apenas das feições estruturais, mas também dos
processos deformacionais envolvidos, para o real entendimento de sua geometria e variabilidade no
maciço rochoso.
As estruturas tectônicas são aquelas geradas tanto em estado de fluxo plástico quanto em estado
rígido, dependendo das condições de deformação. As estruturas geradas por deformação dúctil são
representadas principalmente por dobras, zonas de cisalhamento dúctil, foliações e lineações. As
estruturas geradas por deformação rúptil são representadas pelas falhas e juntas.
As estruturas atectônicas aqui interessadas, são aquelas feições que se desenvolvem nas
rochas próximas ou na superfície terrestre em áreas restritas e que são formadas principalmente por
perda da pressão litostática ou de confinamento. São representadas basicamente pelas juntas de
alívio ou de descompressão.

Estruturas tectônicas

Falhas
São fraturas (descontinuidades), nas quais ocorre um deslocamento perceptível das partes, o
que se dá ao longo do plano de fratura. Ao se movimentarem os blocos separados atritam um
contra o outro, às vezes produzindo fragmentação e pulverização das rochas. Tais deslocamentos
podem ser milimétricos, centimétricos, decamétricos e até quilométricos. As falhas como as
fraturas em geral, representam importantes descontinuidades tanto em termos mecânicos como
hidráulicos. Representam caminhos preferenciais de alteração e afetam diretamente a dinâmica
hidrológica dos fluxos subterrâneos nas encostas.

12
Rochas e solos

Elementos da Falha:
Plano da Falha - É a superfície segundo a qual se dá o deslocamento. Muitas vezes o atrito causado
pelo movimento produz uma superfície lisa, podendo ter um brilho bem nítido graças ao polimento
produzido pela fricção. Denomina-se neste caso espelho de falha ou slickensides, que além do
polimento mostra com freqüência estrias ou caneluras. Além destas características, o espelho de
falha pode apresentar ressaltos ou rugosidades (nem sempre existentes) (Figura 2).

13
Rochas e solos
a
b

0
5 cm

Figura 2 - Plano de falha com estrias. Infere-se o sentido do movimento (seta ab) com base nos ressaltos na
superfície estriada

As estrias conjugadas com a rugosidade escalonada, indicam direção e sentido do movimento da


falha. Às vezes, e com muita freqüência nos planos de falhas no Rio de Janeiro, estas estrias podem
cruzar-se, indicando movimentos sucessivos com diferentes idades e direções. Assim, graças à
estriação pode-se conhecer a direção do movimento da falha e com a rugosidade o sentido da
movimentação já que a face abrupta do ressalto volta-se para o sentido da movimentação do bloco
oposto.
Nem sempre o plano de falha é um único plano. É comum ocorrerem largas faixas podendo ter
dezenas ou centenas de metros de largura, onde se situam os inúmeros planos da falha descontínuos
dispostos paralelamente uns dos outros. Estas Zonas de Falha, podem não representar
deslocamentos de grande amplitude, porém os movimentos de vaivem pode ser muito intenso,
esfacelando ou pulverizando a rocha num processo denominado cataclase. Brechas de atrito ou de
falha muitas vezes com cimento calcedônico (Figura3) e, gouges (farinha de falha), são de certa
forma assim gerados (Tabela 3) e servem como indicativos da presença do falhamento. É comum
processos de silicificação nessas fraturas, enrijecendo as áreas afetadas nos maciços rochosos.

Tabela 3 – Nomes de campo para rochas associadas a falhas, segundo a classificação da Série Cataclástica

Trama isotrópica Trama anisotrópica (planar,


Textura clástica linear)
Textura deformada -foliada
Rochas incoesas Brecha de falha (Não cimentada) Não visível
Rochas Proporção 90-100% Brecha de falha (cimentada) S C
coesas de Fragmentos>5mm Brecha s.s. É A
fragmento
Entre 1 e 5mm Brecha fina R T
s visíveis
Menor que 1mm Microdobra I A
E C
50-90% Protocataclasito L Protomilonito
Á
10-50% Cataclasito S Milonito
T
0-10% Ultracataclasito I Ultramilonito ou Filonito
C
A

14
Rochas e solos

Figura 3 - Brecha de falha com cimento calcedônico

Rejeito - É o deslocamento relativo de pontos previamente adjacentes nos lados opostos da falha,
sendo medido no plano da falha. Normalmente constata-se o falhamento à escala de afloramento
pela presença de superfícies polidas e estriadas em planos de fratura, sendo o rejeito muitas vezes
indeterminado.
Atitude da falha é a direção de uma linha horizontal situada no plano de falha e mergulho de falha o
ângulo diedro formado pelo plano de falha e em plano horizontal qualquer. A interseção do plano
de falha com a superfície terrestre denomina-se traço, linha ou afloramento de falha.

Juntas ou Diáclases
São fraturas que ocorrem de forma sistemática, segundo orientações preferenciais,
compondo famílias ou sistemas persistentes no maciço rochoso. Em geral, comparecem dois ou
mais sistemas que se entrecruzam, formando blocos poliédricos, cujas formas e dimensões
dependem das orientações e espaçamentos relativos de cada sistema. Elas tornam-se mais
adensadas nas proximidades das falhas regionais, podendo, em algumas situações, prognosticá-las.
Apresentam-se como superfícies planas ou irregulares e podem ser caracterizadas como
sistemáticas, quando têm orientação subparalela e espaçamento regular ou não-sistemáticas quando
não compartilham uma orientação comum normalmente aleatória ou condicionada pelas
sistemáticas e, apresentam a superfície irregular ou curva. Juntas que apresentam orientação similar
na mesma área constituem um conjunto ou família. Dois ou mais conjuntos de juntas na mesma
área constituem um sistema de juntas.
Juntas sistemáticas podem não estar preenchidas, isto é, a fratura pode estar aberta e desprovida de
minerais. Geralmente elas são as fraturas formadas mais recentemente na área, podendo apresentar
superfícies muito lisas. Algumas superfícies de juntas são bastante irregulares; outras são marcadas
por proeminências concêntricas, e são denominadas juntas plumosas.
Veios são juntas preenchidas e o preenchimento varia em composição de quartzo e feldspato a
quartzo, calcita, dolomita, adularia, clorita, epidoto, bem como minerais metálicos como a pirita e a
calcopirita. Fraturas podem também ser preenchidas com combinações de zeólitas, calcita e outros
minerais de baixa temperatura.
Fraturas preenchidas ou não podem ocorrer num sistema conjugado. Para pares de famílias serem
conjugados é necessário que tenham sido formados quase ao mesmo tempo por tensão ou
cisalhamento.

15
Rochas e solos

Normalmente, as juntas servem para a definição do estado de segmentação da massa rochosa, e é da


maior importância sua avaliação no campo, de forma sistemática e detalhada para cada domínio
homogêneo presente.

Dobras
As dobras são ondulações ou convexidades existentes em corpos rochosos originalmente planos.
Elas exibem dimensões variadíssimas e são observadas em diferentes escalas. Os lados das dobras
são denominados flancos que se unem na charneira. A superfície que divide a dobra em duas partes
similares é o plano axial. Um antiforme é uma dobra que converge ou que se fecha para cima e o
sinforme a que se fecha para baixo. Os tipos de dobras mais comuns são denominados anticlinais e
sinclinais.. Outros tipos de dobras são: isoclinal, monoclinal, recumbente e de arrasto.
É considerada isoclinal, quando ambos os flancos mergulham na mesma direção e com o mesmo
ângulo de mergulho; Monoclinal ou Flexão, quando se dá o encurvamento de apenas uma parte;
Recumbente ou deitada, cujo plano axial tende a horizontalidade e de Arrasto um conjunto de
dobras menores subordinadas a uma dobra maior.

Foliações e lineações
Foliação é o termo que se aplica a determinadas feições planares características de algumas rochas
metamórficas. Os mais importantes tipos de foliação encontrados em algumas rochas do Município
do Rio de Janeiro, são:
• Gnaissoidade, ou foliação gnáissica, decorrente da orientação paralela de minerais geralmente
placóides, como as micas ou de orientação planar de minerais alongados. Quando a rocha é
formada predominantemente de minerais placóides, micáceos, oferecendo forte laminação, tem-
se a xistosidade.
• Bandamento Composicional, definido por faixas paralelas de composições mineralógicas ou
texturais diferentes. Comum em gnaisses e migmatitos.
• Bandamento Magmático - Semelhante a anterior, porém tem a sua ocorrência restrita a algumas
massas ígneas plutônicas.
• Foliação Milonítica - Feição planar resultante do fluxo plástico laminar, imposto por
cisalhamento não-coaxial ao longo de zonas de cisalhamento dúctil.
• Lineação - São feições lineares definidas pelo eixo de alongamento de elementos geológicos
tais como minerais ou agregados minerais, ou por intersecções de feições planares
principalmente em rochas deformadas por sucessivas fases de dobramento. As lineações mais
importantes são a lineação mineral, dada pela orientação comum de eixos de minerais
prismáticos e a lineação de estiramento dada pela elongação de minerais e agregados de
minerais através da deformação.
Alguns corpos graníticos do Município do Rio de Janeiro, em particular o Granito Favela,
apresentam estruturas planares e lineares dadas pelo fluxo magmático. Tais estruturas, em
conjunto, podem originar uma foliação em algumas massas graníticas.

Zonas de Cisalhamento
Afetando particularmente os gnaisses do Rio de Janeiro, verificam-se bandas, faixas ou zonas de
cisalhamento dúctil, de diversas magnitudes, quase sempre de extensão regional e orientadas
preferencialmente na direção ENE-WSW (de N70E a E-W).
Estas zonas de cisalhamento, constituem estruturas de grande importância nos estudos de
caracterização dos maciços rochosos, face as peculiaridades que apresentam:

16
Rochas e solos

• Forte deformação no centro da zona que grada para uma encaixante, pouco ou nada deformada.
• A espessura dessas faixas pode variar de alguns milímetros a centenas de metros.
• Geralmente apresentam aspecto anastomosado, com articulação de faixas, isolando lentes de
rocha preservadas, configurando um padrão amendoado.
• Possui foliação penetrativa marcante.
• Formação de porfiroclastos e estiramento de minerais, sobretudo o quartzo.
• Desenvolvimento de rochas da série milonítica (Tabela 4).

Tabela 4 - Nomes de campo para rochas associadas a falhas segundo a classificação da Série Milonítica

Trama isotrópica Trama anisotrópica


Textura clástica (planar, linear)
Textura deformada -
Rochas incoesas Brecha de falha (Não cimentada) foliada
Rochas Proporção 90-100% Brecha de falha (cimentada) S C SM
coesas de Fragmentos>5mm Brecha s.s. É A
fragmento É I
Entre 1 e 5mm Brecha fina R T R L
s visíveis
Menor que 1mm Microdobra I A I O
E C E N
50-90% Protocataclasito L Protomilonito Í
Á T
10-50% Cataclasito S Milonito I
T C
0-10% Ultracataclasito I Ultramilonito ou A
C Filonito
A

Figura 13 - Rocha milonitizada

Falhamentos posteriores, que ajustam-se às faixas de cisalhamento, aproveitando-as como zonas de


debilidade crustal. Algumas destas fraturas encaixadas nas faixas de cisalhamento, servem de
estruturas para alojamento de diques.
As zonas de cisalhamento dúctil são geradas por falhamentos a grandes profundidades na crosta.
No Rio de Janeiro, estas zonas foram formadas há aproximadamente 548 Ma. e por isso não afetam
grande parte dos granitos intrusivos, pois estes são geralmente mais jovens.
Essas faixas milonitizadas apresentam forte laminação realçada pelo intemperismo, e a
conformação lenticular de corpos rochosos nas zonas de cisalhamento dúctil, se constitui de grande

17
Rochas e solos

interesse, pois auxilia a definição de domínios estruturais de comportamentos geomecânicos


distintos.

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Rochas e solos

Estruturas Atectônicas

Juntas de Alívio ou de Descompressão


São descontinuidades subparalelas à superfície topográfica, na forma de desplacamentos que
ocorrem principalmente em maciços rochosos resistentes, como aqueles constituídos por gnaisses
ou granitos. (Figuras 5,6,7,8,9 e 10)

Figura 6 - Juntas de alívio no gnaisse


Figura 5 - Juntas de alívio, com
individualização de lascas, granito Pedra
Branca

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Rochas e solos

Figura 7- Juntas de alívio acompanhando planos de


foliação do gnaisse, interceptadas por fraturas de
origem tectônica e gerando blocos

Figura 8 - Juntas de alívio interceptando fraturas


tectônicas com formação de blocos
Figura 9 - Juntas de alívio conjugadas com fraturas
tectônicas – formação de blocos

Figura 10 - Juntas de alívio e formação de lascas

20
Rochas e solos

Geralmente são pouco espaçadas na superfície, com intervalos que podem chegar a poucos
centímetros, tornando-se mais espaçadas em profundidades, onde tendem a se horizontalizar e
tornarem-se indistinguíveis a algumas dezenas de metros. Esta persistência associada às aberturas
por elas produzidas, configuram importantes condicionantes geotécnicos. Massas graníticas e
gnáissicas aflorando em diferentes condições topográficas no Município, mostram bons exemplos
dessas estruturas de relaxamento.
Como são caminhos preferenciais de percolação de água em subsuperfície, a alteração intempérica
se desenvolve nas paredes das descontinuidades, produzindo uma alternância de rocha sã com rocha
alterada, isto é, de materiais com diferentes níveis de alteração. Alguns escorregamentos podem ser
acionados em encostas íngremes, em massas rochosas com estas características.
Em algumas vertentes verifica-se a ocorrência de lascas instáveis formadas por juntas de alívio,
como aquelas citadas por Silva (1995) em afloramentos de leptinito no flanco nordeste do Morro de
Dona Marta no bairro de Laranjeiras. A maior exposição à insolação dessa encosta, contribui, em
parte, a geração dessas estruturas.
Deve-se assinalar, que os problemas de instabilidade em rocha no Rio de Janeiro, são mais graves
em escarpas íngremes como a do Morro Dona Marta, devido a conjunção destes planos de alívio
com as superfícies de falhas, uma vez que esta combinação geométrica acaba por individualizar
lascas rochosas sujeitas a quedas de grandes alturas. O reconhecimento dessas condições
estruturais é da maior importância nos projetos de estabilização requisitados.
Silva (1995), ao avaliar a resistência ao cisalhamento de juntas de alívio em leptinitos do Rio de
Janeiro, estabelece um ângulo de atrito básico de aproximadamente 34º e o ângulo de rugosidade
variando de 3º a 9º para essas descontinuidades.

Juntas de contração de Massas Ígneas


São feições que se desenvolvem nas partes mais externas de um corpo ígneo, após ele se cristalizar,
mas enquanto seu interior encontra-se ainda móvel. São reconhecidas as juntas transversais, de
distensão e perpendiculares ao fluxo magmático, as paralelas ao contato com as rochas encaixantes
e as longitudinais paralelas a estrutura planar do fluxo magmático.
Diques espessos de granitos, como o Granito Favela, apresentam uma série de juntas singenéticas
que numa trama ortogonal, limitam blocos quadráticos, arredondados pelo intemperismo e
individualizados nas encostas pela erosão, muitas vezes em condições de equilíbrio instável.
Diques de diabásio apresentam sistemas de juntas singenéticas tendentes a formar um padrão
colunar hexagonal perpendiculares ao contato com as encaixantes. São juntas de resfriamento ou
de tração oriundas do decréscimo de volume da massa ígnea durante a sua consolidação (Figura
11). Nos maciços rochosos granítico-gnáissicos atuam como importantes descontinuidades que
podem influenciar na dinâmica hidrológica à semelhança das falhas e inclusive condicionar a
ocorrência de escorregamentos. Como nos granitos, tendem a formar blocos arredondados,
geralmente em tamanhos inferiores, que se espalham pelas encostas nas proximidades do dique.

21
Rochas e solos

Figura 11 - Juntas de contração no diabásio com formação de blocos

Arcabouço Estrutural do Rio de Janeiro


A exceção de alguns granitos intrusivos, os conjuntos gnáissicos foram gerados e deformados em
regime dúctil durante a Orogênese Brasiliana do Proterozóico Superior, que configurou a atual
estruturação geológica NE-SW do Sudeste brasileiro.
Uma tectônica tangencial que produziu vários estilos de dobras e foliações associadas, evoluiu para
uma tectônica direcional expressada através de extensas zonas de cisalhamento dúctil-rúptil de
direção NE-SW que recortam o Estado do Rio de Janeiro, e bem representada pela Megazona de
Cisalhamento ou Sistema Transcorrente Paraíba do Sul. Na cidade do Rio de Janeiro e adjacências
é reconhecida a Zona de Cisalhamento Niterói, entre outras que afetam os diferentes gnaisses,
milonitizando-os em espessas e extensas faixas de direção NE-SW a ENE-WSW. Embora estas
faixas produzam uma marcante foliação tectônica, processos de silicificação observados em alguns
trechos, particularmente em falhas mais jovens nelas encaixadas, enrijecem a rocha afetada pela
deformação.
À tectônica dúctil sucedeu uma rúptil produzindo vários sistemas de falhas regionais, em grande
parte ajustadas direcionalmente à foliação NE-SW e com diversos episódios de reativação, em
tempos meso-cenozóicos, relacionados com a formação da Serra do Mar e dos Maciços Litorâneos.
Portanto, além de uma tectônica antiga, Pré-Cambriana, geradora em larga escala, das principais
feições estruturais do Rio de Janeiro, há evidentes indícios de uma Neotectônica, assinalada por
removimentações ao longo de antigos planos de falha durante o terciário e, até no quaternário.
Recentes estudos relativos a variações no campo de esforços na crosta desta região do sudeste,
sugerem que os maciços rochosos aí existentes, estejam no presente sob um regime compressivo, e
que ainda estão em desenvolvimento os fenômenos geotectônicos responsáveis por tais esforços e
deslocamentos associados.
Analisando-se a configuração do quadro morfo-lito-estrutural dos Maciços Litorâneos do Município
do Rio de Janeiro, em particular o da Tijuca face as litologias metamórficas existentes, e de acordo
com o indicado por Costa (1986) e por Heilbron et al (1993), constata-se:
A presença de deformações sin e pós-metamórficas, produziu a foliação principal, paralela ao
bandeamento migmatítico, lineação de estiramento, dobras apertadas isoclinais, recumbentes e
reclinadas observadas desde a escala de afloramento até a de mapas, zonas de cisalhamento com
milonitos associados e mais raramente xistosidade nos litotipos mais ricos em mica. Megadobras
recumbentes associadas à topografia íngreme, resultam no complexo padrão de afloramentos
observados em mapa. Posteriormente, foram geradas zonas de cisalhamento dúctil, N60-80E,
subverticais, e com orientação paralela aos planos axiais das dobras. Estas zonas de cisalhamento
são muito frequentes próximo ao litoral, na área do Pão de Açúcar e adjacências e na costa seguindo
a Av. Niemeyer.
22
Rochas e solos

Dobras isoclinais fechadas, associadas a zonas de cisalhamento dúctil, são observadas com
freqüência nos domínios do Biotita Gnaisse e Gnaisse Facoidal no Arpoador, Urca e pontos da
Serra da Carioca. Uma importante megadobra recumbente também relacionada, ocorre na porção
Nordeste da Serra da Carioca e sua estrutura monitora praticamente a distribuição dos conjuntos
litológicos no Rio de Janeiro. Lineações de estiramento de feldspatos potássicos no Gnaisse
Facoidal são paralelas aos eixos dessas dobras.

Variação da atitude da foliação principal dos Gnaisses do Maciço da Tijuca:


Na Serra da Carioca, a foliação apresenta-se com direção preferencial N60-70E com mergulhos
geralmente para o sul a megaescala e variável a nível de afloramento devido aos dobramentos.
Na Floresta da Tijuca, Serra da Tijuca e Pretos Forros a foliação principal dos gnaisses é noroeste,
com mergulhos de baixos ângulos para SW. A Serra dos Pretos Forros está em grande parte
estruturada por uma faixa de gnaisse facoidal e semifacoidal, em estrutura monoclinal ocupando
toda parte inferior de sua porção norte.
A tectônica rúptil posterior, em grande parte pré-Cambriana, muitas vezes se adapta
direcionalmente às faixas de cisalhamento dúctil, milonitizadas, produzindo falhas frequentemente
silicificadas, de direção nordeste, com a presença ou não de brechas tectônicas. Algumas são
nitidamente posteriores aos diques de diabásio e podem também se adaptar a essas antigas zonas de
fraqueza crustal. Aparentemente retomam os planos de fraqueza das zonas de cisalhamento, com
mergulhos fortes para SSE ou NNW. Exemplos dessas falhas de direção predominantemente ENE,
e quase sempre silicificadas, ocorrrem na vertente sul da Serra da Carioca e em Jacarepaguá.
Fraturamentos de direção noroeste, mais expressados no Maciço da Tijuca, em parte se ajustam à
foliação aí dominante, particularmente no domínio do Biotita Gnaisse na zona de inflexão de uma
megadobra. Alguns diques de rochas alcalinas e raros diabásios se encaixam em fraturas de direção
N60W e N30W, que podem ser mais jovens que as dominantes N80E a E-W e as N45-50E, estas
últimas com marcado encaixamento dos diques de diabásio ocorrentes em todo o Estado do Rio de
Janeiro. No Maciço da Pedra Branca destacam-se as direções N60-70E e N30W, todas quase
sempre com mergulhos subverticais. No Maciço Gericinó-Mendanha, destacam-se as direções E-
W, N50E e N60W. Também com mergulhos subverticais.

Solos e Perfis de Alteração

Introdução
Solo é um produto do intemperismo físico e químico das rochas, escavável, e que perde sua
resistência quando em contato com a água. Avaliar e classificar os solos é poder prever seus
comportamentos mecânicos e hidráulicos através das descrições realizadas em cortes e ensaios.
A descrição dos solos é feita através de um perfil geotécnico. A Pedologia privilegia os estudos nos
níveis mais superiores do perfil do solo, onde ocorre intensa evolução pedogenética - horizontes A e
B -, especial atenção é dada ao conhecimento dos níveis inferiores, denominado solo saprolítico ou
de alteração pela Geologia de Engenharia.

Classificação dos Solos


De maneira geral, pode-se estabelecer quatro tipos de classificação dos solos, segundo a forma de
abordagem e os fins a que se destinam. São elas:
1 - Pedológica
2 - Geológica
3 - Textural ou Granulométrica
23
Rochas e solos

4 - Geotécnica

Classificação Pedológica
De embasamento genético, apresenta uma série de divisões e subdivisões normalmente de
aplicabilidade limitada quanto as questões pertinentes à Geologia de Engenharia, sobretudo em
estudos de estabilidade das encostas. Sugere-se a classificação de Salomão e Antunes (1998), que é
abrangente e destaca as mais importantes características dos diferentes tipos de solo sob um
enfoque eminentemente pedológico
De um modo geral, nas montanhas do Rio de Janeiro ocorrem solos minerais não hidromórficos,
que se desenvolvem em zonas de oxidação do terreno, apresentando ótima drenagem e pouco
afetados pelo aquífero.
Incluem-se nesse grupo:
- Solos com horizonte B latossólico
- Solos com horizonte B textural (Podzólicos)
- Solos com horizonte B Câmbico ou incipiente
- Solos rasos ou litólicos, sem o horizonte B

Classificação Geológica
Em Geologia, solo é o manto de intemperismo ou regolito, que recobre as rochas, de espessura
variável, principalmente quando formado de material solto, incoerente, que, via de regra, passa
gradativamente para a rocha fresca, inalterada. Com essa base conceitual podem então ser
classificados:
- Solos Residuais ou Autóctones - derivados diretamente da rocha matriz pelo intemperismo. A
esse material residual in situ dá-se o nome de eluvião.
- Solos Transportados - são aqueles sobrejacentes a solos residuais mais antigos, decapitados por
processos erosivos de evolução das vertentes ou desenvolvidos sobre material alóctone, muitas
vezes de natureza coluvionar, que recobrem, como depósitos de rampa, os solos residuais
autóctones. Tais solos são frequentes nas vertentes do Sudeste e de difícil distinção dos
autóctonos subjacentes, principalmente quando evoluídos pedologicamente. Linhas de Pedras
(Stonelines), contínuas, horizontalizadas ou levemente inclinadas, servem, em alguns casos,
como marcadoras de contato entre eles e também entre distintas gerações de colúvios, pois
geneticamente estão, em grande parte associadas a antigas superfícies de erosão ou
paleosuperfícies. São consideradas também, em alguns casos, como um paleopavimento
detrítico.
- Colúvios - massas de solo e fragmentos de rochas em vários estágios de decomposição,
recobrindo algumas encostas, de espessura variável, que sofreram ou estão sofrendo
movimentação lenta, para baixo por ação da gravidade. São solos tidos como transportados e,
portanto, podem possuir constituintes mineralógicos e rochosos, estranhos a rocha subjacente.
Os colúvios apresentam estrutura porosa e geralmente com boa permeabilidade, o que não
impede seu frequente envolvimento em escorregamentos nas áreas montanhosas, muitas vezes
derivados da diminuição da coesão aparente em função do grau de saturação de água
subsuperficial.
- Tálus- depósito caótico e de grande heterogeneidade, encontrado principalmente no sopé das
escarpas (Figura 12), e originado por efeito da gravidade sobre fragmentos soltos de rocha e
material inconsolidado. Seu constituinte fragmentar é anguloso e não se observa acamamento
regular na massa detrítica. Tais depósitos apresentam mecanismos de instabilização próprios,

24
Rochas e solos

principalmente em áreas submetidas à ações antrópicas. Em alguns pontos da Serra do Mar a


espessura do conjunto tálus/colúvio chega a atingir até 80 m.

Figura 12 - Depósito de tálus, base do Morro Dois Irmãos

Examinando-se detidamente a classificação geológica segundo a sua formalização conceitual, com


rigor, a denominação de solo é exclusiva ao último estágio da evolução intempérica de uma rocha,
retratada pela sua decomposição total e pelo desaparecimento por completo de sua textura,
implicitando, consequentemente, ser sua origem obrigatoriamente autóctona. O que recobre é
sedimento e não solo.
Para Pastore e Fontes (1998), a utilização da classificação geológica em Geologia de Engenharia é
fundamental, pois sem esta, não é possível estabelecer a correlação entre os diversos horizontes ou
camadas de solos que ocorrem em determinada região. No entanto, como a classificação geológica
não fornece as propriedades mecânicas e hidráulicas dos solos, há necessidade de utilizar em
conjunto, quando pertinente, classificações geotécnicas de modo a poder agrupar os diversos
estratos, e considerando também as propriedades geotécnicas de interesse a determinado projeto.
Como também assinalam, a classificação geológica corresponde à interpretação da gênese do solo,
com base na análise tátil-visual já apresentada, e em observações de campo acerca da forma de
ocorrência (morfologia) e das relações estratigráficas com outras ocorrências (outros solos e
rochas), interpretando-se os processos responsáveis pela gênese e, eventualmente, da rocha de
origem.

Classificação Textural ou Granulométrica


Tem como base as dimensões dos grãos ou partículas que constituem o solo. Os diferentes tipos
são agrupados de acordo com sua textura, ou seja, o tamanho de suas partículas através de ensaios

25
Rochas e solos

de granulometria. É uma classificação limitada, pois o comportamento dos solos não depende
apenas da granulometria. No entanto, oferece uma informação essencial para a descrição dos solos,
principalmente para solos grossos, que são as areias e os pedregulhos, e por isto ainda é muito
utilizada.
A escala granulométrica internacional recomendada pela ISSMFE (International Society of Soil
Mechanics and Foundation Engineering) e já amplamente utilizada no país é a seguinte: (Tabela 5)

Tabela 5 - Escala granulométrica

Descrição Diâmetro das partículas

Argila < 2µ m
Silte 2 a 60µm
Areia fina 60 a 200 µm
Areia média 200 a 600 µm
Areia grossa 600µm a 2mm
Pedregulhos >2 mm

Classificação Geotécnica
Aquelas em que são consideradas e quantificadas propriedades geotécnicas, que determinam os
parâmetros de engenharia. De acordo com Vargas (1985), os solos tropicais apresentam duas
porções com comportamentos geotécnicos distintos: A porção superficial com intensa evolução
pedogenética e estágio avançado de laterização, constituindo-se no solo laterítico e a porção
profunda que apresenta estruturas reliquiares da rocha e se constitui no solo saprolítico. Nestas
circunstâncias, faz-se necessária uma amostragem adequada no perfil de alteração estabelecido,
pois ensaios especiais normalmente são requisitados nas classificações geotécnicas convencionais.
Nas classificações geotécnicas convencionais são requisitados, ensaios de granulometria e limites
de Atterberg, de liquidez e de plasticidade, para classificar e determinar o estado dos solos.
Entre as classificações geotécnicas mais utilizadas no mundo, encontra-se o USCS (Unified Soil
Classification System), derivada da classificação de Casagrande (1948) em que os solos são
agrupados em 14 grupos, representados por duas letras, que indicam tamanho dos grãos e grau de
seleção.

Perfil do Solo
É a secção vertical que, partindo da superfície aprofunda-se até onde chega a ação do intemperismo,
mostrando, na maioria das vezes, uma série de camadas dispostas horizontalmente denominadas
horizontes. Pedologicamente, os horizontes são zonas do solo, aproximadamente paralelas, que
possuem propriedades resultantes dos efeitos combinados dos processos genéticos. As
características consideradas para a diferenciação dos horizontes, usualmente são: cor, textura,
estrutura, consistência, composição.
Na descrição de um perfil hipotético de solo, são usadas letras para discriminar os horizonts tais
como: O, A, B, C e R e respectivas subdivisões, segundo uma divisão eminentemente pedológica.
(Tabela 6)

Tabela 6 - Perfil hipotético do solo

26
Rochas e solos

Horizonte Descrição

O Horizonte orgânico, com restos vegetais e animais em processo de decomposição.


A Presença de material orgânico na parte superior. Máxima perda por eluviação de argila, ferro e
alumínio, com concentrações de quartzo e outros minerais resistentes. Máxima atividade
biológica.
B Concentração iluvial de argila, sesquióxidos de ferro ou alumínio e algo de matéria orgânica.
Máxima expressão de cor e de estruturas.
C É o menos afetado pelos processos pedogenéticos, e que carece das propriedades diagnósticas
de A e B. Composição química, física e mineralógica similares ao da rocha matriz.
R Rocha sã

Na divisão geotécnica de um perfil de solo, os horizontes pedológicos A e B, constituem o solo


superficial, laterítico, e o horizonte C o solo de alteração ou saprolítico. Ainda há subdivisões, tais
como saprolito propriamente dito, ou grosseiro no nível inferior, constituindo-se no primeiro nível
de alteração da rocha e o saprolito fino ou residual jovem, que é um material arenoso, ainda com
alguma estrutura reliquiar da rocha original. Logo acima, tem-se o residual evoluído ou maduro,
com um maior percentual de argila e correlacionado ao horizonte B pedológico. A rocha alterada,
em geral muito fraturada, permite grande fluxo d’água através das descontinuidades.
Uma comparação entre ambas as divisões é apresentada a seguir. (Figura 13)
Classificação pedológica Classificação geotécnica
Restos vegetais 0
Mistura de material areia argilosa ou argila arenosa, vermelho
orgânico e minerais
1
amarelado escuro a marrom claro, heterogêneo
solo superficial (laterítico)

Horizonte de máxima sem estrutura original, com fragmentos de quartzo.


perda por eluviação A fração de areia é composta por grãos
A 2 arredondados de quartzo com matéria
de argilas, ferro e alumínio
Transição mais parecida orgânica no topo
3
com A que com B
Transição mais parecida 1
com B que com A residual, evoluído pedogeneticamente,
argilasiltosa/ argila arenosa/ areia siltosa, marrom escuro,
Máxima expressão de vermelho escuro, vermelho amarelado, amarelo,
cor e concentração de B 2 homogêneo, grãos de argila, agragados em grumos,
argila e ferro estrutura micho- agregada, macroporosa ou maciço porosa.
deslocado de A Laterização com concentração de sesquioxidos de Fe e Al,
lixiviação de bases, eventualmente formação de
Transição mais parecida com crostas duras
3
B que com C
residual, pouco evoluído, início do processo
pedogenético, silte argiloso, argila siltosa, argila arenosa
Solo de alteração (saprolítico)

dura, vermelho amarelomosaneado, com manchas


brancas, heterogêneo, com estrutura incipiente da rocha
original, cerosidade, alteração de fedspato em caolinita em
manchas brancas, micas alteradas ou não, fragmentos
de quartzo ( grãos residuais de cristais) eventualmente
Material inconsolodado, argilas expansivas
pouco afetado pelos
organismos, mas que pode C residual, primeiro nível de alteração do solo a
estar bem intemperizado partir da rocha, máximo grau de alteração da
rocha, areia siltosa, areia fina a média, silte
arenoso, branco, cinza a vermelho claro (róseo).
Heterogêneo, estrutura original da rocha preservada,
grãos de fedspato duros (cristais alterados),
fragmentos de quartzo e fedspato, blocos e matacões
de rocha alterada e sã
rocha

rocha

rocha consolidada rocha sã

Figura 13 - Perfil do solo: uma comparação entre as classificações pedológica e geotécnica (de Kertzman e Diniz,
modificado por Souza, 1992)

Perfis de Alteração

Definição e características
Entende-se como perfil de alteração ou de intemperismo, uma sequência de camadas com diferentes
propriedades físicas, que desenvolveram-se in situ e que estão sobre a rocha sã ou matriz.

27
Rochas e solos

A literatura especializada internacional apresenta perfis genéricos de intemperismo para rochas


graníticas e gnáissicas. Entre eles, destacam-se o de Deere e Patton (1971) (Figura 14). Um
esquema de classificação e descrição de maciços rochosos intemperizados é apresentado pela ISRM
(International Society for Rocks Mechanics) sendo rotineramente utilizado. (Tabela 7)
0 IA 2 4m
IB 1
I Solo residual 1
0.7
IC 5m
10
IIA 1
II Rocha alterada 5m

20 IIB

1
III Rocha sã
30 4

40

50

Zonas Descrição RQD (%) Recuperação Permeabilidade Resistência relativa


(φ=NX) (%) (φ=NX) relativa
IA – Horiz. A (Eluvial) Solo superficial, com raízes e matéria orgânica; - 0 Média a alta Baixa a média
zona de lixiviação e eluviação; pode ser porosa.
I – Solo residual lB – Horiz.B Iluvial) Zona tipicamente rica em argila; concentrações - 0 Baixa Baixa (alta se
de Fe, Al e Si, possibilidade de cimentação; cimentado)
ausência de estruturas reliquiares
IC- Horiz.C (saprolito) Presença de esstruturas reliquiares; graduação 0 ou não 0 a 10, em Alta (perdas Baixa a média
para materiais siltosos e arenosos; menos de aplicável geral d’água comuns) (influência das
10% de matacões; frequentemente micáceo estruturas
reliquiares)
II _ Rocha alterada (de IIA transição Altamente diversificada, desde materiais Variável, Variável, em Média a alta Média a baixa (se
solo residual ou saprolito terrosos a rochosos; areia comumente fina a em geral 0 geral 10 a as estruturas
até rocha parcialmente grossa; 10 a 95% de matacòes; alteração a 50 90% reliquiares forem de
alterada) esferoidal presente baixa resistência)
IIB rocha parcialmente Material rochoso, rocha branda a dura, 50 a 75 em > 90, em geral Baixa a média Média a alta **
alterada descontinuidades em diversos graus de geral
alteração; feldspatos e micas parcialmente
alterados
III Rocha sã Descontinuidades sem alteração e películas de >75 (>90 100, em geral Muito alta **
óxidos de ferro; feldspatos e micax inalteradas em geral)
Notas: * descrição de cada sona é a única forma viável de distinção entre elas.
** considerando apenas o maciço intacto, sem estruturas geológicas com altitudes desfavoráveis

Figura 14 – Características principais dos horizontes de um perfil de alteração de rochas ígneas e metamórficas
e respectivas soluções típicas para taludes de corte (Deere e Patton, 1971 apud Augusto Filho e Virgili, 1998)

Tabela 7 Esquema de classificação e descrição de maciços rochosos intemperizados segundo a ISRM.

Termo Descrição Classe

Nenhum sinal visível de alteração da matriz; possível leve descoloração ao


Sã I
longo das descontinuidades principais.
Descoloração indica intemperismo da matriz da rocha e de superfícies de
Levemente descontinuidade. Toda a matriz da rocha pode estar descolorida pelo
II
intemperizado intemperismo e pode estar algo mais branda extremamente do que na
condição sã.
Menos da mateda da matriz da rocha está decomposta e/ou desintegrada à
Mediamente
condição de solo. Rocha sã ou descolorida está presente formando um III
intemperizado
arcabouço descontínuo ou como núcleos de rocha.
Mais da metade da matriz da rocha está decomposta e/ou desintegrada à
Altamente
condição de solo. Rocha ã ou descolorida está presente formando um IV
intemperizado
arcabouço descontínuo ou como núcleos de rocha.
Completamen
Toda a matriz da rocha está decomposta e/ou desintegrada à condição de
te V
solo. A estrutura original está, em grande parte, preservada.
intemperizado
Toda a rocha está convertida em solo. A estrutura do maciço e da matriz da
Solo residual rocha eztá destruída. Há uma grande variação de volume, mas o solo não foi VI
significativamente transportado.

28
Rochas e solos

Uma terminologia para descrição genérica de perfis de alteração objetivando as descrições de


sondagens, escavações e afloramentos no âmbito da Geologia de Engenharia é proposta por Pastore
(1995) e apresentada na Tabela e na Figura 15:

Tabela 8 – Características gerais de um perfil de alteração

Horizonte Características gerais

Horizonte de Solo Orgânico


Correspondente ao horizonte A pedológico.
(I)
Correspondente ao horizonte B pedológico, podendo ser formada tanto
por solos residuais como transportados. Em depósitos de tálus antigos,
processos de evolução pedológica, como a laterização, afetam a matriz
Horizonte Laterítico (II)
de solo que envolve os blocos de rocha e matacões. Apresenta curva
granulométrica e espessura bastante variável, e não apresenta
estruturas típicas da rocha de origem.
Corresponde ao horizonte C pedológico e sua principal característica é
apresentar estrutura reliquiar da rocha de origem, podendo conter até
10% de blocos de rocha. Além da estrutura de rocha, descontinuidades
Horizonte de Solo
do maciço rochoso, tais como falhas, fraturas e juntas encontram-se
Saprolítico (III)
preservadas na forma reliquiar. A espessura e composição
granulométrica deste horizonte é muito variável, de cores geralmente
claras, às vezes micáceo, sendo um solo autenticamente residual.
É a transição entre a massa de solo e o maciço rochoso. É composto
basicamente por blocos ou camadas de rocha em vários estágios de
alteração, com dimensões variáveis, envolvidas por solo saprolítico. O
solo tende a se desenvolver ao longo de descontinuidades
remanescentes do maciço rochoso, onde a percolação de água é mais
Horizonte Saprolítico ou facilitada, e em zonas de rochas mais sensíveis à alteração. A
Saprolito (IV) quantidade de blocos é muito variável, de 10 a 90%, fazendo com que o
horizonte saprolítico apresente um comportamento geotécnico
extremamente variável. A espessura é bastante irregular, sendo
comum grandes variações e mesmo ausência de camada em certos
trechos da massa de solo. Há dificuldades de identificá-lo e geralmente
apresenta elevada permeabilidade e dificuldades de escavação.
Caracteriza o topo do maciço rochoso, sendo a rocha geralmente
composta por minerais em adiantado estágio de alteração, sem brilho e
Horizonte de Rocha muito
com resistência reduzida quando comparada à rocha sã. A alteração
Alterada (V)
da rocha é frequentemente mais intensa ao longo de juntas e fraturas
do maciço rochoso.
Neste horizonte a rocha apresenta minerais descoloridos devido ao
Horizonte de Rocha início do processo de alteração, sendo este mais pronunciado ao longo
Alterada (VI) de juntas e fraturas. A resistência da rocha é bem maior que a do
horizonte de rocha muito alterada.
É composto por rocha predominantemente sã, cujos minerais
Horizonte de Rocha Sã (VII) apresentam-se com brilho sem sinais evidentes de alteração, podendo
haver no entanto, indícios do início desta ao longo de juntas e fraturas.

29
Rochas e solos

Solo orgânico (I)


Bloco de rocha em matriz silto - argilosa laterizada
0,5 a 1,5m (coluvião) 2,0 a 10,0m (Talus)

Argila vermelha ou amarela (solo laterítico) (II)

Silte arenoso ou areia siltosa branca, amarelo,


rosa, marrom, na grande maioria areia quartzosa
e/ou micácea e silte caulínio e/ou micáceo
estrutura reliquiar
(solo saprolítico) (III)
5,0 a 30,0m

Blocos de rocha e solo (saprolítico) (IV)


5,0 a 10,0m

Rocha alterada ( V, VI)

Rocha sã (VII)

Figura 15 - Perfil de alteração típico de rochas metamórficas e graníticas em regiões de serra (Pastore e Fontes,
1998).

A espessura e propriedades dos perfis dependem da litologia da rocha matriz, das descontinuidades
presentes, da topografia, da condição climática e da hidrologia. Como estes fatores variam
horizontalmente, o perfil de alteração pode variar significativamente com relação as distâncias
horizontais relativamente curtas, dificultando a determinação de perfis característicos para distintos
tipos de rocha matriz, Figuras 16 e 17.

Figura 16 - Perfil de alteração em gnaisse com estruturas reliquiares, Rio das Pedras

30
Rochas e solos

Figura 17 - Perfil de alteração em gnaisse Archer com estruturas reliquiares e núcleos preservados, Rua
Gama Malcher

Examinando-se a geologia do Município, constata-se que as litologias de maior expressão areal e


mais frequentes nas encostas de áreas mais densamente ocupadas ou em franco processo de
ocupação, como as do Maciço da Tijuca, são aquelas que compõem os gnaisses da Série Superior,
representados pelo Leptinito, Gnaisse Facoidal, Biotita Gnaisse e Kinzigito e descritas no item 2.2
do Manual.
A observação de diversos perfis de alteração sobre essas rochas, tem demonstrado claras distinções
daqueles normalmente apresentados na literatura como sendo típicos de gnaisses.
Há grande dificuldade de reconhecimento das diferentes zonas de alteração, quando existentes.
Comumente verificam-se passagens, muitas vezes bruscas, entre os níveis identificados, sendo
frequentes os locais de contato direto entre solo residual e rocha sã. Acordando Marques (1998),
não há um perfil de intemperismo para os três gnaisses mais comuns no Rio de Janeiro - Biotita
Gnaisse/Kinzigito, Gnaisse Facoidal e Leptinito - mas sim uma “zona de alteração” controlada pela
presença de estruturas geológicas - falhas, fraturas, juntas de alívio, por onde percolam as águas de
subsuperfície, que determinam a distribuição espacial dos níveis de alteração identificados para
estas rochas. A foliação praticamente não apresenta influência no desenvolvimento destas zonas.
Um raro exemplo de um típico perfil de intemperismo na região, é aquele caracterizado por Lima
(1995), na Avenida Niemeyer em Kingizito (Tabela 9)

31
Rochas e solos

Tabela 9 – Perfil de intemperismo em kingizito da Av. Niemeyer

Nível de
Nível de alteração – Espessura
alteração Características principais
Lima ( 1995) (m)
correspondente

Formado por quartzo, feldspato potássico( microclina)


e plagioclásio ( oligoclásio), biotita (sã a levemente
alterada), granada, muscovita, silimanita, óxidos e
hidróxidos de ferro, pirita, hematita, zircão, cordierita e
R0 Nível I 10.0
epidoto. Fraturas preenchidas por argilo-minerais e
óxido de ferro. Aspecto são em amostras de mão.
Em lâmina notam-se evidências de alteração
incipiente.
Formado por quartzo, biotita sã e alterada (com sinais
de esfoliação), microlina, anortita em
subordinadamente, silimanita, ilmenita, magnetita,
R1 Nível II 2.0
hematita, pirita, zircão e argilominerais. Cordierita
totalmente alterada para argilomineral. Aumento da
porosidade produzida por fraturamento.
Amostra cinza amarelada, com grande concentração
de óxidos de ferro e manganês. Microscopicamente,
observa-se identidade mineralógica com a amostra do
nível anterior, entretanto com alteração mais intensa
R2 Nível III 2.0 sobre granada, biotita e feldspatos. A biotita
apresenta, como nível anterior, dois tipos de
comportamento de alteração: abertura de lamelas
(esfoliação) e abertura de lamelas + preenchimento
por argilominerais.
Amostra friável, cor avermelhada, composta por
quartzo, óxido de ferro e alumínio, feldspato (em
R3 Nível IV 6.0 menor quantidade) e tamanho- principalmente nas
bordas de fraturas) e biotita. Estrutura da rocha ainda
preservada.
SP(1a4) Nível V 30.0 Solos residuais não analisados no presente trabalho.

Perfis de alteração no Município, demonstram que a ação intempérica produz materiais


extremamente diferentes, mesmo para rochas idênticas, dependendo de sua localização na encosta,
do estágio de alteração e as descontinuidades estruturais presentes, que influenciam na circulação
da água em subsuperfície e, consequentemente, no avanço da frente de alteração em profundidade.
Nesse sentido, destacam-se os trabalhos de Rocha (1992), Menezes Filho (1993), Barroso (1993),
Sobreira (1993), Lima (1995), Pimentel (1995), Barroso et al (1996) e Marques (1998).
No Leptinito existente na Serra da Carioca estruturas geológicas condicionam fortemente o
desenvolvimento de perfis de alteração, como demonstram Sobreira (1993), Barroso (1993) e
Pimentel (1995). No Kinzigito, assinala Marques (1998), há forte controle estrutural através de
fraturas por onde percolam as águas de subsuperfície. A variação do microfraturamento ao longo
do perfil de alteração, reveste-se de grande importância, pois verifica-se a variação gradativa de
fraturas intragrãos para fraturas transgranulares, aliada a um aumento da abertura das fissuras e da
oxidação ao longo de seus planos. Essas transformações tem grande influência no comportamento
geotécnico da rocha matriz e seus produtos de alteração intempérica, em termos de resistência e
deformabilidade. Variações ao longo de perfis de alteração do Kinzigito, do Leptinito e do Gnaisse
Facoidal, segundo Marques (1998), estão indicadas na Tabela 9.

32
Rochas e solos

Tabela 9 - Variação do microfraturamento com a evolução do intemperismo

Nível de
Kinzigito Leptinito Gnaisse facoidal
alteração

Fraturas passando
gradualmente, com o
avanço do intemperismo,
Fraturas intragranulares mais
de intragranulares a
comuns, com fraturas trans e Apenas fraturas
Nível I intergranulares, localizadas
intergranulares subordinadas intragranulares seladas.
principalmente no contato
pouco oxidadas e abertas.
entre a matriz mais fina e
os facóides, paralelamente
à foliação.
Fraturas trans e intergranulares
Fraturas intragranulares
mais comuns com intergranulares
Nível II mais intergranulares,
subordinadas, oxidadas e pouco
paralelas à foliação.
abertas.
Intragranulares ainda mais
frequentes, podendo
originar fraturas
Fraturas trans e intergranulares
trasngranulares (locais).
mais comuns com intergranulares
Nível III Fraturas intergranulares
subordinadas, oxidadas e pouco
com maior abertura e
abertas.
persistência, paralelas à
foliação e no contato entre
os grãos.
Fraturas intra, inter e Predomínio de fraturas
Nível IV trasngranulares igualmente transgranulares que
presentes, bastante oxidadas. obliteram a foliação.
Fraturas inter e transgranulares
Nível V são as mais comuns, com Não foi identificado.
aberturas de até 2.0mm.

Critérios para descrição de perfis de alteração no Rio de Janeiro


O levantamento dos parâmetros a serem pesquisados para o reconhecimento do grau de alteração
intempérica da matriz, pode se feito através de dois tipos de observações a serem realizadas no
campo, segundo Barroso (1993) e indicados na Tabela 11.

33
Rochas e solos

Tabela 11 – Parâmetros a seresm investigados para reconhecimento do grau de alteração intempérica da matriz.

Tipo de observação Parâmetros

Visual e de reconhecimento Mineralogia/ granulometria


geológico Textura
Grau de descoloração
Decomposição mineralógica
Presença de estrutura original da matriz
Testes de reconhecimento mecânico Resistência ao golpe do martelo gológico
Escavação manual
Risco do canivete ou da unha
Facilidade do grão ser arrancado do arcabouço da rocha
Quebra de testemunhos NX
Desagragação do material em água

Os níveis ou estágios de alteração intempérica da rocha matriz, podem ser identificados através da
aplicação do cadastro de teste da matriz, desenvolvido para os materiais de alteração do Rio de
Janeiro por Barroso (1993) e indicados na Tabela 12.

34
Rochas e solos

Tabela 12 – Cadastro de testes da matriz para o reconhecimento e classificação dos estágios de alteração
intempérica em rocha.

Cadastro de testes da matriz

A. Breve descrição da rocha


B. Caracterização da decomposição química ( por mineral)
Inalterado
Sem brilho ou brilho reduzido
Descolorido ou com cor alterada
Argilização na superfície
Totalmente argilizado
Oxidado
C. Caracterização da desagregação física
C.a Resistência ao golpe do martelo geológico
Rocha pode ser apenas lascada
Rocha pode ser quebrada com diversos golpes
Ponta do martelo produz entalhe na superfície
Golpe do martelo desagraga parcialmente a rocha
Golpe desagrega completamente a amostra
C.b. Escavação manual usando pá ou mão
Não pode ser escavado com a pá
Escavado com grande dificuldade com a pá ou espátula
Escavado com dificuldade pelas mãos
Escavado facilmente com as mãos
C.c Risco do canivete e da unha ( por mineral)
Nenhum arranhão
Arranhado com dificuldade pelo canivete
Arranhado facilmente pelo canivete
Facilmente arrancados pelo canivete
C.d. Facilmente de ser arrancado do arcabouço da rocha ( por
mineral)
Não pode ser arrancado
Arrancado com dificuldade pelo canivete
Facilmente arrancados pelo canivete
C.e. Quebra de testemunhos NX
Não pode ser quebrado
Quebrado com as mãos

É importante, no campo, a observação do comportamento de minerais considerados marcadores das


passagens entre os níveis de alteração, como as biotitas, os feldspatos e, as granadas. A aplicação
desses marcadores em Kinzigitos tem dado bons resultados como demonstra Marques (1998).
Barroso et al (1996) apresentam as principais mudanças mineralógicas ocorridas com os gnaisses da
Série Superior com o avanço do intemperismo. (Tabela 13)

Tabela 13 – Principais mudanças mineralógicas ocorridas com os gnaisses da Série Superior com o avanço do
intemperismo. (Barroso et al, 1996)

35
Rochas e solos

Nível de
Gnaisse facoidal leptinito Kinzigito
alteração

Todos os minerais estão íntegros perante Os minerais apresentam-se sem


a observação macroscópica, apenas os alterações perceptíveis, eventualmente
feldspatos podem estar com o brlho os feldspatos podem estar com o brilho
Os minerais mantém o
reduzido. A rocha rompe com extrema reduzido. São necessários vários
brilho, a cor e a dureza
dificuldade, necessitando-se de mais de golpes de martelo geológico para
originais. Não é possível
um golpe com o martelo geológico para quebrar a rocha. Não é possível
Nível I arrancar grãos da matriz da
lascá-la ou quebrá-la. Neste estágio, a escavá-la manualmente. Apenas a
rocha. Para quebrá-la são
rocha não pode ser escavada biotita pode ser arranhada pelo canivete.
necessários vários golpes
manualmente. Com o uso do canivete, Nenhum mineral pode ser arrancado do
com o martelo geológico.
apenas a biotita é arranhada. Não é arcabouço da rocha. Os testemunhos
possível arrancar-se nenhum mineral do NX não podem ser quebrados com as
arcabouço da rocha. mãos.
Os feldspatos, botitas e granadas
Os feldspatos perdem seu brilho,
mostram redução do brilho original. A rocha apresenta sinais de
enquanto as biotitas e granadas
Biotitas tornam-se cinza e as granadas alteração incipiente.
apresentam uma acentuada redução do
ocre. A rocha é quebrada com diversos Alguns feldspatos
mesmo e da cor original. A rocha pode
golpes de martelo geológico. Não é apresentam perda de brilho.
ser quebrada com diversos golpes de
Nível II possível escavá-la manualmente. É As biotitas e granadas
martelo geológico, não sendo possível
possível riscar as granadas e feldspatos aparecem algo oxidadas.
escavá-la manualmente. As granadas já
com dificuldade, pelo canivete. Apenas Este estágio apresenta
podem ser arranhadas com dificuldade
a biotita pode ser, eventualmente, fraturas pouco oxidadas,
pelo canivete, embora nenhum mineral
arrancada da rocha.. Testemunhos NX em direções variadas.
possa ser arrancado da rocha.
não são quebrados com as mãos.
Os feldspatos apresentam-
Os feldspatos apresentam-se totalmente
Os feldspatos estão descoloridos e se superficialmente
descoloridos e, eventualmente, argilizados
argilizados na superfície. Biotitas e argilizados, e é possível
na superfície. Biotitas e granadas
granadas revelam acentuada mudaná riscá-los através do
apresentam acentuada alteração da cor,
de cor e claros sinais de oxidação. A canivete com relativa
sendo esta última possui claros sinais de
ponta do martelo geológico produz facilidade. As biotitas e
oxidação. A ponta do martelo geológico
entalho raso na superfície da rocha, não granadas apresentam-se
Nível III produz entalhe na rocha, que ainda não
sendo possível escavá-la manualmente. com oxidação acentuada.
pode ser escavada manualmente.
Com exceção do quartzo, todos os É possível a retirada de
Feldspatos, biotitas e granadas são
minerais são riscáveis pelo canivete, vários grãos da matriz e
arranhados pelo canivete, os dois últimos
biotitas e granadas mais facilmente. escavá-la localmente com o
mais facilmente. Neste estágio, algumas
Testemunhos NX não são quebrados auxílio do canivete. A
biotitas e granadas já podem ser
com as mãos. matriz apresenta-se
arrancados da matriz.
levemente oxidada.
A argilização dos feldspatos
À exceção do quartzo, todos os minerais
O único mineral que permanece é tão intensa que confere
estão alterados. As granadas estão muito
inalterado é o quartzo. Feldspatos, uma grande friabilidade à
oxidadas. Os feldspatos apresentam-se
biotitas e granadas estão argilizados, matriz da rocha. É possível
argilizados em superfície. O golpe do
embora não totalmente. O golpe do a retirada de grãos da
martelo desagrega parcialmente a rocha,
martelo produz desagregação parcial da matriz sem dificuldade.
e uma pá ou espátula são capazes de
amostra, que neste estágio já pode ser Algumas porções da rocha
escavá-la com grande dificuldade. Todos
Nível IV escavada por uma pá ou espátula com podem ser escavadas com
os minerais, excluindo-se o quartzo,
grande dificuldade. Todos os minerais, as mãos. Porém, também
podem ser arrancados pelo canivete,
excluindo-se o quartzo, podem ser há porções não
sendo que a granada pode ser arrancada
riscados facilmente pelo canivete. Os escarificáveis devido à
pela unha. O canivete é capaz de
minerais já podem ser arrancados pelo ocorrência de cimentação
produzir um sulco profundo sobre a matriz
canivete. Não se obteve testemunhos por óxido de fero, oriundo
e grande parte dos minerais podem ser
NX neste estágio. da intemperização das
arrancados da amostra.
biotitas e granadas.

Caracterização geomecânica dos materiais dos perfis de alteração

Procedimentos gerais:
No campo: Distinção das caracterísicas reconhecidas dos materiais de transição resultantes do
intemperismo. Deve-se considerar a relação com a geomorfologia e a geologia estrutural.
No laboratório: Estabelecer as características mineralógicas através de determinações petrográficas
macro e microscópicas, identificar as propriedades físicas dos materiais coletados através de
diferentes ensaios, tais como, peso específico aparente e saturado, porosidade, grau de saturação,
teor de umidade de saturação e, análises de resistência e deformabilidade através de ensaios de
tração, de compressão puntiforme, de compressão uniaxial e de compressão triaxial.

36
Rochas e solos

Caracterização de Maciços Rochosos


As características que traduzem a qualidade dos meios rochosos, do ponto de vista do seu
aproveitamento em engenharia, associam-se, fundamentalmente a litologia, ao estado de alteração, a
coerência e às descontinuidades.

Litologia
Diz respeito aos tipos de rochas que recebem denominações específicas e que são identificadas a
partir de um sistema de classificação.
As litologias são individualizadas através do reconhecimento da sua composição mineral, cor,
textura, tamanho dos grãos, estruturas e outras feições que permitam discriminá-las. Adota-se,
então, como critérios de classificação, o grupo genético, estruturas principais, textura, granulação e
mineralogia.
Considerando-se as litologias comuns nas encostas do Rio de Janeiro, indicadas e descritas no item
2.2 deste Manual, são apresentados a seguir, alguns parâmetros normalmente requisitados para
caracterizá-las.

Classificação para rochas ígneas


Classificação baseada na composição mineralógica é aplicada rotineiramente em petrografia. Entre
elas se destacam as propostas pela IUGS (International Union of Geological Sciences) compiladas
por Le Maitre (1989). Atende-se, no Manual, a classificação baseada em Streckeisen (1976), de
uso corrente e amplamente aplicada na qualificação petrográfica das rochas ígneas plutônicas e
vulcânicas. É comum na literatura geológica o termo granitóide, aplicado não apenas para o granito
“sensu stricto”, mas também para os granodioritos, tonalitos e alcaligranitos.
Para rochas metamórficas, a classificação é dada em função das condições de metamorfismo,
(pressão e temperatura principalmente), em que foram geradas e a composição
química/mineralógica do material original que sofreu a ação do metamorfismo.

Cor
Apesar de ser um parâmetro subjetivo e, muitas vezes variável num mesmo tipo de rocha, é
característico para um determinado corpo rochoso, servindo para qualificá-lo, em conjunto com os
demais aspectos macroscópicos de rochas ou amostra de mão (Frascá e Sartori, 1998).
Com um espécime fresco, torna-se possível uma subdivisão grosseira com base na cor. Rochas
ricas em sílica, como os granitos, usualmente contém considerável proporção de minerais claros,
como o quartzo e o feldspato. Rochas ricas em ferro e magnésio, como os diabásios, gabros e
dioritos, tendem a conter minerais escuros, como o piroxênio, o anfibólio e a biotita. Com base na
quantidade de cor versus o branco (ou claro), um índice de cor pode ser estabelecido que leva a um
caminho aproximado para a determinação da composição.
Assim, uma rocha que contém menos de 30% de minerais ferro-magnesianos (escuros ou máficos)
é considerada clara e pode ser denominada de Leucocrática. Entre 30% e 60% de ferro-
magnesianos, é denominada Mesocrática, e acima de 60% de Melanocrática. É comum as rochas
serem apenas consideradas félsicas (p.ex.: granito) ou máficas (p.ex.: gabro).
Tal índice é geralmente utilizado para rochas ígneas plutônicas e os principais minerais ferro-
magnesianos presentes são piroxênios, anfibólios e biotitas. Também pode-se utilizar para definir a
cor da rocha a tabela de cores para rochas publicada pela Geological Society of America (Rock-
Color Chart Comunittee, 1963).

37
Rochas e solos

Textura, Estrutura, Trama ou Fabric

Textura
Refere-se em geral a aparência física ou aos caracteres da rocha, incluindo aspecos geométricos e
relações mútuas entre eles, particularmente os componentes ou cristais por exemplo: cristalinidade,
granularidade ou então o grau de desenvolvimento dos cristais na rocha. O termo normalmente é
aplicado para pequenas feições, visíveis em amostras de mão ou com auxílio do microscópio.
Estrutura
É uma feição megascópica de uma massa rochosa ou unidade rochosa, geralmente observada em
cortes, pedreiras e grandes exposições. Pode representar uma descontinuidade, um acamamento ou
um bandeamento. A estrutura indica de certa forma como a rocha é organizada ou feita pelas suas
partes componentes. Não obstante os dois termos são frequentemente usados permutativamente.
Trama ou Fabric
É a soma das feições texturais e estruturais da rocha ou massa rochosa. O termo incorpora a noção
de função ou comportamento das propriedades físicas correlatas, bem como a forma e a disposição
espacial dos componentes estruturais e texturais. Um domínio de trama é uma área ou volume
tridimensional, definida por limites, tais como, descontinuidades estruturais ou composicionais,
dentro do qual a trama da rocha é uniforme. De um modo geral a trama ou fabric refere-se
especificamente ao arranjo dos grãos ou cristais constituintes da rocha, sendo a orientação
preferencial destes constituintes, o mais evidente aspecto do fabric da rocha.
Texturas Ígneas
Cristalinidade ou Grau de cristalização: É a proporção relativa de vidro e cristais.
- Tamanho dos cristais: fanerítica, quando os cristais são visíveis a olho nú e afanítica quando não
são visíveis a olho nú.
- Granularidade ou tamanho dos Grãos:
• grão fino: < 1 mm
• grão médio: 1 - 5mm
• grão grosso: 5 mm - 5 cm
Excepcionalmente se utiliza o termo muito grosso com grãos entre 5 cm e 20 cm . Acima disto diz-
se que a textura é pegmatítica.
Quando referente ao tamanho relativo dos grãos:
• Equigranular - quando todos os cristais teem aproximadamente o mesmo tamanho.
• Inequigranular: quando os cristais diferem substancialmente em tamanho.
Quando um cristal se destaca em tamanho com relação aos demais o denominamos fenocristal.
Com relação a forma, os cristais se didivem em idiomórficos ou euédricos, hipidiomórficos ou
subeuédricos e xenomorfos ou alotriomorfos ou anhedral, isto é, completamente limitados por faces
cristalinas, parcialmente limitados por faces cristalinas e desprovidos de faces cristalinas
respectivamente.
Padrão textural de rocha ígneas plutônicas
- Panidiomórfica: quando a grande maioria dos cristais são idiomórficos (mais de 90%). Podem ser
equigranular ou inequigranular.

38
Rochas e solos

- Hipidiomórfica: quando todos os cristais são hipidiomórficos ou bem existam cristais


idiomórficos, subidiomorfos ou hipidiomorfos e xenomorfos conjuntamente (caso mais comum).
Ela pode ser equi- e inequigranular.
- Alotriomórfica: quando a maioria dos cristais (mais de 90%) são xenomorfos. Também pode ser
equigranular ou inequigranular.
Texturas ígneas especiais:
- Textura granítica: característica das rochas graníticas (granitos, granodioritos e tonalitos). É uma
textura hipidiomórfica inequigranular de tamanho de grão variável.
- Textura diabásica: típica dos diabásios. É definida por uma disposição entrecruzada de
plagiclásios deixando ocos ocupados por piroxênios. Grada para a textura ofítica, uma variação da
diabásica.
Texturas Metamórficas
Lista-se aqui texturas normalmente encontradas nas rochas metamórficas do Município do Rio de
Janeiro. Tratando-se de rochas derivadas principalmente do metamorfismo regional de grau
elevado, apresentam em alto grau de cristalinidade. Por isso são caracteristicamente rochas com
textura cristaloblástica que podem ser agrupadas em quatro tipos morfológicos, dependendo do
hábito dos cristais que as formam.
- Textura granoblástica - característica dos quartzitos.
- Lepidoblástica - de alguns gnaisses biotíticos.
- Nematoblástica - dos gnaisses anfibolíticos.
- Porfiroblástica - pela presença de porfiroblastos, que são cristais maiores que a matriz, lembrando
a porfirítica das rochas ígneas. Seu representante é o gnaisse facoidal.
Pode haver combinações entre elas:
Textura granolepidoblástica - é a dos gnaisses bandados, onde observam-se alternância de bandas
ricas em micas com bandas ricas num agregado quartzo-feldspático.
Textura granonematoblástica - comum nos gnaisses anfibolíticos e nos anfibolitos.

1. Resistência
Refere-se ao grau de resistência da matriz rochosa entre descontinuidades. De certa forma pode ser
confundido com o grau de coerência normalmente aplicado em rochas sedimentares inexistentes nas
encostas do Rio de Janeiro.
De acordo com Guidicini e Nieble (1984), o ensaio de compressão puntiforme define a resistência
da matriz rochosa através de teste expedito, realizável no campo com um equipamento portátil, em
fragmentos rochosos irregulares, ou testemunhos de sondagens. Uma vez obtida a resistência da
rocha, esta é classificada segundo determinadas convenções, como a adotada abaixo, que divide o
campo de resistência à compressão uniaxial em seis faixas:

Tabela 14 Grau de resistência da matriz rochosa

39
Rochas e solos

Classificação Grau de resistência

Muito Dura > 200 MPa


Dura 120 – 200 MPa
R.elativamente Densa 60 – 120 MPa
Razoavelmente Macia 30 – 60 MPa
Macia 10 – 30 MPa
Extremamente Macia < 10 MPa

Observando-se tal classificação, infere-se, a grosso modo, que as rochas das encostas do Município
do Rio de Janeiro apresentam-se, quando não tectonizadas ou intemperizadas como resistentes ou
muito resistentes.

2. Alteração
A alteração da rocha, particularmente a derivada da ação dos processos intempéricos é da maior
importância na caracterização da massa rochosa. A decomposição do material rochoso favorece a
diminuição da resistência mecânica, favorece o aumento da deformabilidade e modifica as
propriedades de permoporosidade das rochas, isto é, há perda das características geomecânicas dos
materiais rochosos.
Como a alteração é o conjunto de modificações físico-químicas a que as rochas se encontram
submetidas, a consequência do fenômeno é a degradação de suas características mecânicas. Assim,
para o mesmo tipo litológico, a rocha mostra-se menos resistente e mais deformável, quanto, mais
avançada a alteração, o que permite reconhecer estágios ou graus de intensidade da manifestação do
processo. A caracterização do estado de alteração do meio rochoso é feita tatil-visualmente, com
base em variações do brilho e cor dos minerais e da rocha, além da friabilidade.

3. Descontinuidades
O estudo das descontinuidades é da maior importância na caracterização das massas rochosas, pois
condicionam significativamente a resistência, a deformabilidade e a permeabilidade do meio
rochoso, podendo, inclusive, controlar sua estabilidade.
Uma descontinuidade é qualquer feição geológica que interrompa a continuidade física de uma
dado meio rochoso. É um termo que coletivamente inclui juntas, fissuras, falhas, planos de
cisalhamento, xistosidade, planos de acamamento, etc. Devem ser descritas cuidadosamente e com
precisão pois controlam o comportamento geotécnico da maioria das massas rochosas.
Parâmetros a serem considerados: localização e orientação, espaçamento, persistência, rugosidade,
abertura, preenchimento e escoamento de água.
Guidicini e Nieble (1984), em alusão ao estudo da compartimentação da massa rochosa, propõem
distinguir três grandes grupos de descontinuidades, não em função de sua gênese, mas em função de
sua geometria, ou distribuição espacial, dentro do maciço. São eles:
- Compartimentação principal, constituída pelas famílias, jogos e sistemas de juntas; ou seja,
estruturas apresentando sensivelmente a mesma orientação, inclinação e intensidade de ocorrência;
são descontinuidades de segunda grandeza, tendo, em geral, extensão limitada. Isso significa que,
em um sistema desse tipo, eventuais rupturas poderão envolver trechos do maciço isentos de
descontinuidades, mobilizando a resistência da própria rocha intacta.
- Estruturas individuais significativas, representadas por falhas, juntas de alívio, planos de
acamamento, ou seja, por estruturas de relevante continuidade, capazes de controlar, por si só, o
comportamento de um talude.

40
Rochas e solos

- Descontinuidades aleatórias, constituídas por planos de fraqueza estrutural de distribuicão


irregular, reunidos sob a denominação genérica de fraturas.
Todas essas feições devem ser mapeadas, procedendo-se então o clássico levantamento estatístico
com o clinômetro-bússola. Um procedimento normalmente realizado, é o levantamento de todas as
feições contidas em áreas unitárias, normalmente graduadas ou retangulares. Este método é tido
como mais adequado quando na presença de descontinuidades aleatórias, irregularmente
distribuídas.
Para a representação desses dados estruturais, o emprego de diagramas de projeção esférica é o
mais usual, sendo comumente utilizado o de igual área, também conhecido como projeção de
Schmidt-Lambert. A metodologia referente a utilização da projeção estereográfica pode ser
encontrada em livros de Geologia Estrutural.
Localização e Atitude:
Cada descontinuidade deve ter registrada a sua exata localização e respectiva atitude dada pela sua
orientação e respectivo mergulho. Tais informações devem ser assinaladas em mapas ou plantas.
Normalmente, se utilizam diagramas de rosetas, que demonstram a freqüência direcional das
descontinuidades e, projeções estereográficas que levam em conta a direção e mergulho da
estrutura.
Espaçamento:
Corresponde a distância entre duas descontinuidades adjacentes de uma mesma família. É variável
o espaçamento entre as descontinuidades que podem ser extremamente espaçadas, como por
exemplo superior a 6 m ou extremamente pouco espaçada, com por exemplo com espaçamento
inferior a 20 mm.
Não há uma concordância geral com a escala a ser utilizada que pode até ser estabelecida em função
das características geológico-estrutural da região em que as massas rochosas se encontram e das
características do projeto de engenharia. A Tabela 15 apresenta classes de espaçamento de
descontinuidades indicadas pela ABGE (1983).

Tabela 15 - Espaçamento de descontinuidades (ABGE, 1983)

Siglas Espaçamento (cm) Denominações

E1 > 200 Muito afastadas


E2 60 - 200 Afastadas
E3 20 - 60 Medianamente afastadas
E4 6 - 20 Próximas
E6 <6 Muito próximas

Grau de Fraturamento:
É geralmente determinado por simples contagem de fraturas ao longo de uma direção, utilizando-se
normalmente o número de fraturas por metro. Convém não considerar aquelas descontinuidades
soldadas por materiais altamente coesivos. Recomenda-se a adoção da escala normalmente
utilizada nos trabalhos do IPT de São Paulo.

Tabela 16 – Grau de fraturamento (IPT, 1984)

41
Rochas e solos

Siglas Fraturas/m Denominações do Maciço

F1 <1 Ocasionalmente fraturado


F2 1a5 Pouco fraturado
F3 6 a 10 Medianamente fraturado
F4 11 a 20 Muito fraturado
Extremamente fraturado ou
F5 > 20
fragmentado

Persistência ou continuidade:
Refere-se a extensão areal ou tamanho da descontinuidade num plano. A dificuldade é constatar
sua persistência para dentro do maciço rochoso, já que para tal determinação, requisita-se uma visão
tridimensional. Praticamente este parâmetro só pode ser avaliado verificando-se a extensão do
traço do plano da fratura na superfície exposta. Se considera importante sua determinação em
alguns projetos de engenharia face a sua influência na resistência ao cisalhamento dos maciços
rochosos.
Entretanto, a experiência geológica permite deduzir que tratando-se de conjuntos de fraturas de
origem tectônica, sua persistência deve ser grande no maciço rochoso. Considera-se como de
grande persistência se sua extensão é superior a dezenas de metros e pequena, quando sua extensão
não exceder a 3 m. A Tabela 17 apresenta classes de persistência indicadas por Bieniawski (1989).

Tabela 17 – Comprimento da descontinuidade (L) ( Bieniawski, 1989)

Classificação Comprimento
Muito curta L<1m
Curta 1≤L<3m
Moderada 3 ≤ L < 10 m
Longa 10 ≤ L < 20 m
Muito longa L > 200 m

Rugosidade ou irregularidades:
Corresponde a ondulações e as asperezas nas superfícies das descontinuidades, quando se procura
avaliar sua importância na resistência ao cisalhamento.
A rugosidade de uma descontinuidade é produzida por ondulações que é uma irregularidade de
primeira ordem e as asperezas, também rugosidade sensu lato, de segunda ordem. Caso se verifique
a presença de estrias e polimento na superfície da descontinuidade, evidenciando movimentações,
tal plano é um “slickensided” ou espelho de falha, que também apresenta ondulações e rugosidades.
Piteau (1970) propõe que as ondulações sejam registradas em função de sua amplitude e
comprimento e que para as rugosidades se utilize uma escala de classificação que vai da categoria 1
- superfície estriada e polida, a categoria 5 - superfície muito irregular.
Convém assinalar que a escala de observação e medição das ondulações é métrica e das rugosidades
milimétrica, sendo estas últimas classificadas através do ângulo formado pela irregularidade com a
horizontal. Também pode ser classificada pelo seu perfil geométrico como o apresentado por
Barton et al (1974).
Abertura:
É a distância perpendicular entre as paredes de uma descontinuidade aberta, onde o espaço
intermediário está preenchido por ar ou água. A abertura é causada por inúmeros fatores, tais como
lavagem do material de preenchimento e/ou dissolução, e a descrição do tamanho da abertura é
importante porque ela influencia na resistência ao cisalhamento e na condutividade hidráulica da
42
Rochas e solos

descontinuidade. O tamanho da abertura pode variar de 0, tida como fechada a mais de 200 mm,
considerada muito larga. A Tabela 18 apresenta classes de abertura de descontinuidades indicadas
por Bieniawski (1989).

Tabela 18 - Abertura da descontinuidade (A) (Bieniawski, 1989).

Classificação Abertura

Fechada
Pequena A < 2 mm
Moderada 2 ≤ A ≤ 20 mm
Larga 20 ≤ A < 100 mm
Muito larga A > 100 mm

Preenchimento:
É o material diferente entre as paredes da descontinuidade que pode ter sido transportado para
dentro da descontinuidade ou ter sido formado in situ, como por exemplo ter sido formado pela
ação de intensa decomposição ao longo da junta. Normalmente são menos resistentes que a rocha
matriz. A Tabela 19 apresenta classes de preenchimento indicadas por Bieniawski (1989).

Tabela 19 - Preenchimento (Bieniawski, 1989).

Preenchimento Espessura

Nenhum
Preenchimento duro < 5 mm espessura
Preenchimento duro ≥ 5 mm espessura
Preenchimento mole < 5 mm espessura
Preenchimento mole ≥ 5 mm espessura

Preenchimentos típicos são formados por material caulinizado, argilas, limonita, calcita, sílica e no
caso da fratura ser uma falha , a presença de gouge ou brecha de falha pode ser assinalada. A
Tabela 19 apresenta tipos de superfície e preenchimentos proposto pelo IPT (1984).

Tabela 20 - Tipos de superfície e preenchimento de descontinuidades (IPT, 1984).

Sigla Superfície das descontinuidades

D1 Contato rocha-rocha, paredes sãs


D2 Contato rocha-rocha, presença de material pétreo rijo: Ca-calcita ou Si-sílica
D3 Paredes com alteração incipiente, sinais de percolação d’água, preenchimento ausente
D4 Paredes alteradas, preenchimento ausente
Paredes alteradas, com preenchimento
D5 ag1 - preenchimento argilaoso com espessura de 1 mm
gr10 - preenchimento granular com espessura de 10 mm

Surgência de água:
Sua presença ao longo da descontinuidade é frequentemente de grande importância nas avaliações
geotécnicas da massa rochosa e merece uma cuidadosa avaliação na respectiva descrição. A
quantidade de água percolando a descontinuidade pode ser sazonal o que implica diversas
observações durante um período de tempo, normalmente considerando as estações úmidas e secas.

43
Rochas e solos

Tais observações podem auxiliar significativamente no conhecimento hidrogeológico da massa


rochosa. A Tabela 21 apresenta condições de água na descontinuidade segundo Bieniawski (1989).

Tabela 21 - Condição de água na descontinuidade (Bieniawski, 1989).

1 Seca
2 Úmida
3 Molhada
4 Gotejante
5 Fluindo

Ensaios para caracterização de Maciços Rochosos

Caracterização Petrográfica
Executada em laboratório através da descrição macro e microscópia em seções delgadas, ensaios
granulométricos e análises químicas.
As análises petrográficas, identificam as litologias, caracterizam a mineralogia, texturas e
estruturas e, concomitantemente a microfissuração que exerce grande influência no comportamento
mecânico nos materiais rochosos e suas propriedades. Procedimentos concernentes são indicados
na NBR 7389 e na NBR 7390.

Propriedades Índices
Compreendem basicamente o teor de umidade, a porosidade, a massa específica, a absorção d’água,
a expansão e o desgaste a úmido. A caracterização destas propriedades é feita essencialmente
através de ensaios em laboratório. Os procedimentos para execução e análises referentes são
detalhados em Brown (1981).

Propriedades Mecânicas
São aquelas que interessam ao estudo da resistência ao cisalhamento, a deformabilidade e as
tensões naturais. São determinadas através de ensaios in situ, em furos de sondagens e em
laboratório. São os seguintes os principais ensaios (Tabela 22):

Tabela 22 - Ensaios

Ensaio Descrição
Ensaios de compressão puntiforme Fornecem um índice de resistência, correlacionável a
compressão uniaxial
Ensaios de compressão uniaxial Fornecem a resistência a ruptura, o coeficiente de Poisson e o
módulo de deformabilidade
Ensaios de compressão triaxial Fornecem a resistência e a deformabilidade sob determinada
pressão de confinamento, bem como a resistência ao
cisalhamento
Ensaios de cisalhamento in situ ou em Fornecem a resistência ao cisalhamento, principalmente de
laboratório descontinuidades
Ensaios de deformabilidade, in situ, Fornecem o módulo de deformabilidade e características de
através de dilatômetro, macacos fluência
planos, etc

Propriedades Hidráulicas
Nos maciços rochosos as descontinuidades mostram-se determinantes, no condicionamento do
fluxo d’água e permeabilidade do meio. A condutividfade hidráulia ou permeabilidade das massas
rochosas pode ser determinada através de ensaios de perda d’água sob pressão.

44
Rochas e solos

Retroanálise
Muito utilizada nos estudos de estabilidade de taludes, compreendendo, o estudo das condições em
que se deu determinada ruptura.

Classificações Geomecânicas
Apesar de existirem inúmeras classificações na bibliografia especializada, atualmente apenas as
classificações de Barton et al (1974), denominada Sistema Q e a de Bieniawski (1974, 1984),
denominada de Sistema RMR (Rock Mass Rating), originalmente empregadas em projetos de
túneis, são habitualmente utilizadas.
- Sistema RMR
A Classificação Geomecânica de Bieniawski, fornece uma avaliação geral da massa rochosa
(RMR), crescendo progressivametne com os atributos do maciço rochoso de 0 a 100. Ela está
baseada em cinco parâmetros universais: Resistência da rocha, RQD (Rock Quality Designation),
condições da água de subsuperfície, espaçamento entre as descontinuidades, características das
descontinuidades e, orientação das descontinuidades. Incrementos na avaliação da massa rochosa,
correspondentes a cada parâmetro, são somados para a determinação do RMR.
O parâmetro RQD, introduzido por Deere et al (1967), indica a qualidade do meio rochoso, a partir
das condições de um testemunho de sondagem rotativa, sendo obtido através da expressão:
RQD = (∑ p / n) × 100

onde:
p = o comprimento das peças da rocha sã superior a 10 cm.
n = a extensão total da manobra de perfuração num determinado trecho.
Este critério é aplicado em testemunho de sondagem rotativa, com barriletes duplo-livres e de
diâmetro mínimo NW (55 mm), e somente para rocha dura ou medianamente dura. Dessa forma, o
índice RQD é condicionado pelo espaçamento das descontinuidades e pela presença de rocha
alterada. Quando esta não existe, há uma relação estreita entre RQD e grau de fraturamento. No
Brasil, às vezes se utiliza o IQR (Índice de Qualidade da Rocha), basicamente com os mesmos
critérios do RQD, porém, ao invés da manobra, considera trechos em que o espaçamento das
descontinuidades é homogêneo, e o comprimento mínimo é de 0,5 m.
Segundo Bieniawski (1989), o sistema RMR, tem, entre outros, os seguintes objetivos:
- Caracterizar os parâmetros condicionantes do comportamento dos maciços rochosos;
- Compartimentar determinada formação rochosa em classes de maciço com atributos distintos;
- Fornecer parâmetros para o entendimento das características de cada classe de maciço;
- Fornecer dados quantitativos para o projeto geomecânico.
- Sistema Q
Introduzido por Barton et al. (1974), também chamado de Sistema NGI (Norwegian Geotechnical
Institute), combina seis parâmetros numa função multiaplicativa:
Q = ( RQD / J n ) × ( J r × J a ) × ( J w / SRF )
onde:
Jn = relaciona-se com o no de famílias de descontinuidades.
Jr = relaciona-se com a rugosidade das mais importantes descontinuidades.

45
Rochas e solos

Ja = relaciona-se com a condição de alteração das paredes das descontinuidades e/ou seu
preenchimento.
Jw = relaciona-se com a influência da ação da água subterrânea.
SRF = índice de influência do estado de tensões no maciço no entorno da cavidade (Stress
Reduction Factor)
Valores numéricos são determinados para cada parâmetro do sistema Q, segundo a descrição
detalhada encontrada no artigo de Barton et al. (1974), bem como as classes qualitativas de massas
rochosas segundo o valor total de Q.
O sistema Q e o sistema RMR, incluem alguns parâmetros distintos e por isso não podem ser
estritamente correlacionados.
Maiores informações sobre essas classificações geomecânicas, além das publicações dos autores,
recomenda-se o artigo de Serra Jr. e Ojima (1998) e o livro-texto “Introduction to Rock
Mechanics”, de Richard Goodman (1989).

Legenda para mapas, plantas e perfil geológico- geotécnico

Símbolos geológicos
Recomenda-se os símbolos listados na tabela para as principais litologias comumente encontrados
no Município do Rio de Janeiro. Os símbolos estão baseados nos apresentados pela Geological
Society (1972) com algumas alterações. (Figura 18a,18b e 19)

46
Rochas e solos

Contatos Clivagem, Xistosidade e Foliação

50
? ? ? ? 40

Contato Símbolos opcionais


Contato definido Contato Contato Contato Contato Direção e mergulho Direção de Xistosidade Direção e Direção de
transicional quando há mais de uma
ou observado aproximado inferido suposto encoberto de xistosidade ou xistosidade ou ou foliação mergulho de clivagem
ou gradativo clivagem, xistosidade
foliação foliação vertical horizontal clivagem vertical
ou foliação

Dobras

30 35 ? ?
?? ??
20 25
20 30 (a) (b) (a) (b) (a) (b)
(a) (b)

Anticlinal com linha Sinclinal com Anticlinal invertido Sinclinal invertido, com
Eixos aproximados: Eixos inferidos: Eixos encobertos: Eixos supostos:
de crista e seu linha de crista e com traço da superfície traço da superfície axial Anticlinal pequeno Sinclinal pequeno Eixos
(a) anticlinal
caimento seu caimento axial,mergulho dos mergulho dos flancos e mostrando caimento mostrando caimento (a) anticlinal (a) anticlinal (a) anticlinal horizontais
flancos e caimento (b) sinclinal (b) sinclinal (b) sinclinal (b) sinclinal
caimento

Dobras

30 35

20 20 30

Anticlinal com linha Sinclinal com Anticlinal invertido Sinclinal invertido, com Anticlinal pequeno
de crista e seu linha de crista e com traço da superfície traço da superfície axial mostrando caimento
caimento seu caimento axial,mergulho dos mergulho dos flancos e
flancos e caimento caimento

Falhas, zonas de cataclase e brechas

A
? ?
e
20
B B 60
55
(a) (b)

Falha Falha com Falha inversa, Lineamento


Falha Falha inferida: Falha Falha normal, Falha de rejeito Falha de Falha de Zona de
Falha indicação de com indicação Brecha estrutural Zona
observada,com aproximada (a) conjectural encoberta hachuras no de mergulho rejeito empurrão ou cataclase ou de falha
indicação do vertical lineação de do sentido e observado em cataclástica
(b) duvidosa bloco A-bloco alto direcional cavalgamento. milonitização
mergulho de seu estrias ou caimento do aero-fotos, de grande
deprimido B-bloco baixo Dentes no com indicação
plano "slickensides" movimento relativo mapas, imagens amplitude
bloco superior de mergulho
do bloco baixo (B) de radar,etc.

Figura 18a – Símbolos geológicos

47
Rochas e solos

Juntas

70
35
30

Direção e mergulho Direção de junta Direção e mergulho


de juntas vertical Junta horizontal de sistemas
múltiplos

Símbolos para rochas ígneas

γ σ τ λ y α ε β π θ δ
Intrusivas Intrusivas Intrusivas Intrusivas Intrusivas Extrusivas Extrusivas Extrusivas Extrusivas
Vulcânicas Metavulcânicas
ácidas intermediárias básicas alcalinas ultrabásicas ácidas intermediárias básicas alcalinas

Representação de diques

db
db db

Dique com indicação Dique de contato Dique


do tipo litológico mapeável indiscriminado
(db - diabásico)

Símbolos para seções geológicas

Falha normal Falha vertical Falha inversa Supra-cavalgamento Infra-cavalgamento Klippe Janela estrutural
("overthrust") ("underthrust") ( "Fenster")

Figura 18b – Símbolos geológicos (Continuação)

48
Rochas e solos

+10

SMV-7 SM- 35/36


7.93 m 7.79 m SM-10
6.872 m
aterro
20

33 aterro
+5 solo residual
30
de gnaisse SMV-12 SP-47 SMV-14 SPV-30
SPV-29
gnaisse 4.3 m 3.27 m 3.232 m 2.951 m
28
2.837 m
rocha alterado
18 Aterro
A-2 Areia siltosa c/
22 fragmentos de rocha
57
43 5.60 m
0 60 Areia fina-média
41
pouco argilosa
69
36 cinza
areia fina c/
64
33 gnaisse fragmentos
de conchas
40 extremamente alterado A-4 cinza
26
solo residual
59
36 de gnaisse areia fina c/
fragmentos
-5 59 de conchas
39 cinza
49
21
52
23
69
35
48
29
-10 48 areia fina argilosa c/
22 fragmentos
de conchas
49
18 cinza
30
05
30
07
30
06

-15
22.50 m

18.45 m

gnaisse muito alterado A-3 21.50 m

-20 22.02 m
23.05 m 21.50 m

20.95 m

Figura 19 - Perfil geológico- geotécnico

49
Rochas e solos

Anexo 1 – Litotipos gnáissicos e ígneos

Leptinito Plagioclásio gnaisse ou Gnaisse Archer

Gnaisse Facoidal Kingizito (corte perpendicular a foliação)

Metagabro Biotita Gnaisse bandado com níveis de leptinito

Granito Favela Granito Porfírico Pedra Branca, com estrutura de fluxo


magmático

Sienito nefelítico Diabásio

50
Movimentos de massa

3. MOVIMENTOS DE MASSA

H Penha

3.1. Introdução
Movimentos de massa têm importância como agentes atuantes na evolução das
encostas, e pelas implicações econômico-sociais resultantes dos processos de risco.
Este capítulo tem como objetivo apresentar conceitos, abordagens e metodologias
referentes a avaliação desses fenômenos geológicos, considerando-se o cenário
ambiental do Rio de Janeiro.

3.2. Classificação
São inúmeros os sistemas classificatórios de movimentos gravitacionais de
massa, sendo os mais recentes baseados nos seguintes critérios: (Augusto-Filho
(1995) e Augusto-Filho e Virgili (1998)
a) Cinética do movimento - definida pela relação entre a massa em
movimentação e o terreno estável (velocidade, direção e seqüência dos
deslocamentos).
b) Tipo do material - solo, rocha, detritos, depósitos, etc..., destacando a sua
estrutura, textura e conteúdo de água.
c) Geometria - tamanho e forma das massas mobilizadas..
d) Modalidade de deformação do movimento.
Entre os trabalhos que tratam de forma completa a evolução, os critérios, as
restrições e outros aspectos importantes dos sistemas classificatórios, destacam-se os
de Varnes (1958, 1978), Hutchinson (1968), Guidicini e Nieble (1974), Turner e
Sehuster (1996). A classificação proposta por Varnes (1978) é a mais utilizada
internacionalmente, sendo adotada pela IAEG (International Association for
Engineering Geology and the Environment) (Tabela 1 e Tabela 2).

1
Movimentos de massa

Tabela 1 - Classificação dos movimentos de encosta segundo Varnes (1978)

Tipo de material
Tipo de movimento Solo (engenharia)
Rocha
Grosseiro Fino
Quedas de rocha de detritos de terra
Tombamentos de rocha de detritos de terra
Abatimento e Abatimento de Abatimento de
rocha Detritos Terra
Rotacional Poucas unidades
Escorregamentos de blocos de Blocos de de Blocos de
rochosos Detritos Terra
Translacional Muitas unidades de rocha de Detritos de Terra
Expansões laterais de rocha de detritos de terra
de rocha (rastejo de detritos de terra
Corridas/escoamentos
profundo) (Rastejo de solo)
Complexos: combinação de 2 ou mais dos principais tipos de movimentos

A classificação dos movimentos de encosta (Varnes ,1978) ajustada às características


dos principais grandes grupos de processos de escorregamento, na dinâmica ambiental
brasileira é apresentada por Augusto-Filho (1992). (Tabela 2)

Tabela 2 - Características dos principais grandes grupos de processos de escorregamento


(Augusto-Filho, 1992)

Processos Características do movimento, material e geometria

Vários planos de deslocamento (internos)


Velocidades muito baixas (cm/ano) a baixas e decrescentes com a profundidade
Rastejo ou fluência Movimentos constantes, sazonais ou intermitentes
Solo, depósitos, rocha alterada/fraturada
Geometria indefinida
Poucos planos de deslocamento (externos)
Velocidades médias (km/h) a altas (m/s)
Pequenos a grandes volumes de material
Escorregamentos Geometria e materiais variáveis
Planares ⇒ solos pouco espessos, solos e rochas com um plano de fraqueza
Circulares ⇒ solos espessos homogêneos e rochas muito fraturadas
Em cunha ⇒ solos e rochas com dois planos de fraqueza
Sem planos de deslocamento
Movimentos tipo queda livre ou em plano inclinado
Velocidades muito altas (vários m/s)
Material rochoso
Quedas
Pequenos a médios volumes
Geometria variável: lascas, placas, blocos etc.
Rolamento de matacão
Tombamento
Muitas superfícies de deslocamento (internas e externas à massa em movimentação
Movimento semelhante ao de um líquido viscoso
Desenvolvimento ao longo das drenagens
Corridas Velocidades médias a altas
Mobilização de solo, rocha, detritos e água
Grandes volumes de material
Extenso raio de alcance, mesmo em áreas planas

Nestas classificações, os movimentos de massa são agrupados na concepção de


Hutchinson (1968) em: Rastejos ou fluência; Escorregamentos; Quedas e Corridas ou
fluxos. (Figura 1)

2
Movimentos de massa

Queda

descontinuidades blocos instáveis descontinuidades

maciço
rochoso

Tombamento
Escorregamento
planar

erosão/ escorregamento

Rolamento de matacões

Escorregamento circular
Escorregamento
crista em cunha

pé ou base

Figura 1 - Queda, Tombamento de blocos, rolamento de matacões e principais tipos de


escorregamentos

Cada um destes grandes grupos admite subdivisões, principalmente os


escorregamentos e as corridas, existindo extensas classificações e terminologia
específicas para cada um deles .
No inventário dos escorregamentos do Município do Rio de Janeiro, proposto
por Amaral (1996), adota-se a classificação de escorregamento do Glossário
Multilingue de Escorregamentos (WLI, 1993).
Tipos de escorregamentos indicados:
• Queda: Separação de uma massa ao longo de uma superfície sob o efeito da
gravidade.
• Deslizamento: Movimento de massas ao longo de uma superfície de ruptura bem
definida.
• Corrida: Ampla gama de movimentos semelhantes a um fluxo viscoso, com
velocidade e teor de umidade variável.
Quanto ao material desligado eles são subdivididos em:

3
Movimentos de massa

• Rocha
• Solo Residual
• Tálus/Colúvios
• Lixo
• Massa de detritos, uma combinação de materiais de diferentes granulometria e
gênese variada.

3.3. Classificação dos tipos de instabilidade de encosta no Rio de


Janeiro
Nunes et al (1979), dividiram os deslizamentos nas encostas cariocas em:
• Movimentos de lascas e blocos rochosos imersos em solo residual.
• Movimentos envolvendo predominantemente solo residual com plano de ruptura
sobre superfície de rocha.
• Movimentos envolvendo rocha alterada e complexos coluvionares devido a
chuvas excepcionais.
Esta classificação espelha a natureza do material e o condicionante geológico
envolvidos em deslizamentos, baseados em conhecimentos de detalhe de alguns
acidentes na cidade.
Uma classificação de instabilidade nas encostas na Região Metropolitana do Rio de
Janeiro é apresentada por Antunes e Barroso (1988):
Em Rocha
Escorregamentos causados por:
• estados diferenciados de alteração;
• diáclases com extensões, mergulhos, direções, espaçamento e preenchimentos
diversos;
• xistosidade de direções e mergulhos diversos;
• esfoliação esferoidal;
• formação de lascas de origem térmica;
• superfície de alívio de tensões;
• heterogeneidades litológicas.
Raramente a instabilidade é fruto da influência isolada de uma das descontinuidades
do quadro acima; o normal é a conjugação de duas ou mais descontinuidades
constituindo fatores predisponentes ao escorregamento. Exemplos:
• No Maciço da Tijuca: Alto do Sumaré, a montante da Clínica Santa Genoveva
(1988); em Petrópolis: Morin (1988) e diversos outros na BR-040.

Em tálus
Escorregamentos causados por grandes variações de pressão da água infiltrada, nos
períodos de alta pluviometria, provocadas por formas diversas de infiltração e ação no
contato impermeável com a rocha ou com o solo residual. Exemplos:
4
Movimentos de massa

• No Maciço da Tijuca: Clínica Santa Genoveva e Estrada do Soberbo (1988),


Comendador Martineli e Soberbo (1966); na BR-101, diversos escorregamentos
em anos diversos; em Petrópolis: Morin (1988) e BR-040 (1983).
Outra forma de instabilidade em tálus reside no descalçamento de blocos isolados e
rolamento encosta abaixo.

Em solo Residual
As instabilidades mostram, com freqüência, estreita correlação com as características
mineralógicas, texturais, estruturais e de espessura do horizonte C (solo residual
jovem). O dos gnaisses facoidais ou semifacoidais, leptinitos e granitos, de texturas
grosseiras, areno-argilosos, pouco micáceos e homogêneos, são os mais estáveis. Em
razão das descontinuidades remanescentes da rocha matriz, principalmente
xistosidades e heterogeneidades litológicas, os solos residuais jovens dos migmatitos e
dos biotita gnaisses são mais falíveis à instabilidade, via de regra deflagrada por
processos erosivos superficiais ou em subsuperfície que levam ao solapamento do
terreno. São ainda casos de macro descontinuidades em solo, entre os mais freqüente.
• solo coluvial (solo residual maduro - horizonte B) em passagem brusca para o solo
residual jovem (horizonte C).
• solo coluvial assentado diretamente sobre rocha.
• solo litólico (horizonte A) assentado diretamente sobre rocha.
Exemplos: são os casos mais freqüentes e de mais larga distribuição no Grande Rio,
principalmente em estradas (por má drenagem) e em favelas (cuja causa maior é uma
sucessão, encosta acima, de cortes e aterros, não drenados, para construção de platôs
onde se instalam os casebres).

Em Solo + Rocha
É também comum, está geralmente associado a uma cobertura de solo coluvial
assentado diretamente sobre camada de rocha fraturada e decomposta, individualizada
por junta de alívio de tensões. O contato entre a camada de rocha superior com a
rocha sotoposta, bem menos alterada ou quase sã, faz-se segundo superfície
praticamente contínua e impermeável que acompanha a forma do maciço. Nos
períodos de altas precipitações, as pressões da água infiltrada acabam por instabilizar
todo o pacote acima da rocha sã ou pouco alterada. Exemplos:
• No Maciço da Tijuca: Estrada da Vista Chinesa (1988); em Petrópolis: Alto da
Serra - Rua Lopes Trovão (1988).

Em blocos in situ
Os blocos representam remanescentes não diaclasados, quase inalterados, de setores
diaclasados de maciços rochosos, constituídos por rochas praticamente isotrópicas ou
núcleos graníticos, anteriormente envolvidos por litologias de alterabilidade bem
maior, muito comuns nos migmatitos heterogêneos do Grande Rio. São blocos
arredondados facilmente instabilizados pelos processos erosivos. Exemplos: muito
comuns no Maciço da Pedra Branca, na Estrada Grajaú-Jacarepaguá e em maciços e
serras isolados da Zona Norte do Rio de Janeiro.

5
Movimentos de massa

Depósitos de Lixo
É praxe o lançamento de lixo e entulho nas encostas, em geral pelas comunidades
carentes e por transportadores autônomos que despejam entulhos de obras de
demolição ao longo de ruas e estrada à meia encosta. O lixo passa a ser então um
componente, instável, da encosta. Exemplos: Favela do Morro Pavãozinho (1983) e
Favela do Morro Santa Marta (1988).
Para o município do Rio de Janeiro, Amaral (1996), apresenta os principais tipos de
escorregamentos :
A- Queda de Lascas ou Blocos de Rocha ou Solo Residual: Estes movimentos
envolvem a separação de uma massa rochosa sã a pouco alterada ou placa de solo
residual, ao longo de uma superfície por efeito da gravidade. Ex.: Vidigal, 1993,
Figura 2

Figura 2 - Queda de blocos e lascas – Encosta doVidigal, 1993 (foto Geo Rio)

B- Deslizamentos de Solo Residual, Depósitos de Tálus/Colúvio e Lixo:


Envolvem o movimento de massa terrosa ou detrítica ao longo de uma superfície de
ruptura no interior de zonas sujeitas a acentuada tensão de cisalhamento. Esta
categoria envolve predominantemente os movimentos rasos e com superfície de
ruptura paralela à superfície da rocha, mas também aqueles mais profundos, com
superfície de ruptura circular. Representa o tipo de processo de instabilidade que
predomina nas encostas do Rio de Janeiro. Ex.: Rua Capuri, São Conrado,1996 Figura
3.

6
Movimentos de massa

Figura 3 - Deslizamento de solo residual - São Conrado, 1996 (foto Geo Rio)

C- Corridas de Solo Residual, Tálus/Colúvio e Lixo: São movimentos similares a


um fluxo viscoso, contínuos espacialmente, que ocorrem ao longo de drenagens
naturais ou como conseqüência de escavações hidráulicas (erosão intensa) na crista de
taludes escavados. Ex.: Pavão-Pavãozinho, 1983, Figura 4.

Figura 4 - Corridas de Solo Residual e lixo - Pavão-Pavãozinho, 1983 (foto Geo Rio)

7
Movimentos de massa

D- Deslizamentos de Solo Residual, Tálus ou Colúvio seguidos de Corrida de


Massas de Detritos: Envolvem aqueles movimentos onde a parte superior desliza
translacional ou rotacionalmente e a parte inferior flui como um líquido viscoso,
englobando materiais diferentes (rocha, terra e detritos). Ex.: Quitite, Jacarepaguá ,
1996, Figura 5.

Figura 5 - Deslizamentos e corrida de detritos - Quitite, Jacarepaguá – 1996 (foto Geo Rio)

E- Corridas de Solo Residual ou Tálus/Colúvio, seguidas de Deslizamentos de


Queda de Rocha: Envolvem aqueles movimentos de escavação hidráulica em perfis de
intemperismo expostos à erosão acelerada ou depósitos de encostas, os quais levam a
instabilização de massas rochosas. Esta categoria engloba aqueles movimentos nos
quais a erosão da matriz fina é seguida de queda de blocos rochosos. É importante
notar que o primeiro movimento que leva ao desequilíbrio de blocos rochosos, pode
ser também um movimento complexo. Ex.: Estrada Grajaú-Jacarepaguá , 1996, Figura
6.

8
Movimentos de massa

Figura 6 - Corridas de solo residual e deslizamentos de rocha - Estrada Grajaú-Jacarepaguá,


1996 (foto Geo Rio)

A distinção entre corridas e deslizamentos nem sempre é fácil, por vezes a origem de
uma corrida é representada por um típico deslizamento, o que pode indicar que toda
corrida é na verdade um movimento complexo.
As corridas do Inventário do Rio de Janeiro, (Amaral, 1996) estão associadas
unicamente à concentração excessiva do fluxo superficial em algum ponto ou seção
de encosta e deflagração de um processo de fluxo contínuo de material terroso.
Considera-se que os escorregamentos no Rio de Janeiro envolvem materiais
extremamente heterogêneos, incluindo solos residuais com estruturas reliquiares,
blocos rochosos in situ integrantes de formações residuais e coluviais, depósitos de
encostas cuja diferenciação dos solos residuais é complexa e depósitos de lixo
misturados a aterros e a materiais naturais.
Perfis esquemáticos de alguns dos principais tipos de escorregamentos no Rio de
Janeiro (Figuras 7, 8, 9, 10 e 11) e condicionantes relacionadas, com base no trabalho
de Amaral (1996):

solo residual

300
? rocha sã
350
? juntas verticais
150.00m
?
300
?
juntas de alívio colúvio com blocos
?
Rua Capuri
?
bloco
?
?

Figura 7 - Perfil geológico esquemático da encosta da Rua Capuri, São Conrado

9
Movimentos de massa

• Deslizamento planar raso, no contato abrupto solo residual-rocha,


representativo do tipo de processo de instabilidade que predomina nas
encostas do Rio de Janeiro . (Figura 7)

mirante

solo residual

fraturas de alívio

obra de contenção
?
?
solo residual
?
depósito de blocos

tirante

favela
rocha sã

Figura 8 - Encosta do Morro Santa Marta

• Conjunção de planos de juntas de alívio com superfície de falha . (Figura 8)


NE

Alívio
Fenda de tração
(rocha alterada)

4600 m3

Fratura de alívio
(superfície irregular)

Rocha sã

65 0
SW

Figura 9 - Perfil geológico esquemático da encosta a montante da Clínica Santa Genoveva

• Ruptura de matacão rochoso, controlada por fratura de alívio . (Figura 9)

10
Movimentos de massa

Granito favela

Contato litológico

dique de
Estrada Grajaú - Jacarepaguá granito

gnaisses encaixantes

Figura 10 - Perfil geológico esquemático da encosta da estrada Grajaú-Jacarepaguá

• Deslocamento de blocos derivados de um dique do Granito Favela . (Figura 10)

S N
brecha silicificada

"curativo"de tirantes

35.00m solo residual de leptinito

Figura 11 - Brecha de falha saturada ocasionando instabilidade na encosta. Rua Almirante


Salgado, Laranjeiras

• Instabilidade da encosta, relacionada ao grau de alteração/fraturamento de uma


brecha tectônica silicificada no leptinito . (Figura 11)

3.4. Fatores que controlam os movimentos de massa

Condicionantes Geológicos e Geomorfológicos


De acordo com Fernandes e Amaral (1996), várias feições geológicas e
geomorfológicas podem atuar como fatores condicionantes de escorregamentos,
determinando a localização espacial e temporal dos movimentos de massa nas
condições de campo. Se destacam, segundo estes autores, as seguintes feições:
a) Fraturas, tanto de origem tectônica como atectônicas. Representam importantes
descontinuidades, tanto em termos mecânicos quanto hidráulicos.
b) Falhas, que tem um papel destacado no condicionamento dos movimentos de
massa. Como as juntas afetam a dinâmica hidrológica, favorecem o intemperismo
e quando silicificadas, geram uma barreira ao fluxo d’água pela
impermeabilização do plano de falha.

11
Movimentos de massa

c) Foliação e Bandamento Composicional - A orientação da foliação e/ou


bandamento composicional influenciam diretamente a estabilidade das encostas
em áreas onde afloram rochas metamórficas. De um modo geral a literatura
ilustra tal fato, chamando atenção para a situação desfavorável onde a foliação
e/ou bandamento, mergulham para fora da encosta em cortes de estrada.
d) Descontinuidades no Solo - Várias descontinuidades podem estar presentes dentro
do saprólito e do solo residual. Estas incluem principalmente, feições estruturais
relíqueas do embasamento rochoso (fraturas, falhas, foliação, bandamentos, etc.) e
horizontes de solo formados por processos pedogenéticos. Elas podem atuar de
modo decisivo no condicionamento da distribuição das poro-pressões no interior
da encosta e, consequentemente na sua estabilidade. A presença de fraturas
relíqueas além de favorecerem o avanço do intemperismo mais rapidamente que
na massa saprolítica não fraturada, podem até condicionar escorregamentos.
O tipo de movimento de massa a ser gerado em encostas constituídas por solos
saprolíticos pode estar diretamente relacionado às características originais das fraturas
relíqueas. Escorregamentos rotacionais podem predominar em encostas onde as
fraturas no embasamento rochoso se encontram pouco espaçadas, fazendo com que o
saprólito se comporte como um material granular. Escorregamentos translacionais
podem predominar em encostas com juntas relíqueas originadas a partir da alteração
de fraturas de alívio de tensão ou mesmo a partir de bandas composicionais.
Muitas vezes, os movimentos de massa podem ter o plano de ruptura condicionado
por descontinuidades hidráulicas existentes no interior do solo saprolítico, do solo
residual, ou mesmo no contato entre os dois. Tal fato pode também ocorrer em
encostas onde o solo saprolítico encontra-se recoberto por um manto coluvial pouco
espesso. Geralmente a condutividade hidráulica no saprólito tende a ser maior do que
aquela no manto coluvial sobrejacente. Consequentemente, podem se desenvolver
verdadeiras descontinuidades hidráulicas na passagem manto coluvial-saprólito, ou
mesmo dentro do saprólito, o qual atua como um dreno para os horizontes mais
superficiais.
e) Morfologia da Encosta - A morfologia de uma encosta, em perfil e em planta,
pode condicionar tanto de forma direta ou indireta, a geração de movimentos de
massa. A atuação direta é dada pela tendência de correlação entre a declividade e a
frequência dos movimentos, embora mapeamentos de campo revelam, no entanto, que
o maior número de escorregamentos não ocorre, necessariamente, nas encostas mais
íngremes. A atuação indireta está relacionada ao papel que a forma da encosta,
principalmente em planta, exerce na geração de zonas de convergência e divergência
dos fluxos d’água superficiais e subsuperficiais.
f) Depósitos de Encosta - Tais depósitos, tanto na forma de tálus como de
colúvio, estão diretamente relacionados as zonas de convergência na morfologia
descrita anteriormente. A combinação forma-material faz com que os depósitos de
encosta assumam grande importância como condicionantes de movimentos de massa.
Em geral, uma da principais características desses materiais é a grande
heterogeneidade interna, a qual é resultante direta da descontinuidade espacial e
temporal dos processos formadores desses depósitos. Muitos depósitos de encosta
repousam diretamente sobre rocha sã, gerando uma descontinuidade mecânica e
hidrológica ao longo desse contato. A drástica diminuição da condutividade
hidráulica nesse contato favorece a geração de fluxos d’água subsuperficiais, com
forte componente lateral. Ao longo desse contato, condições críticas de poro-pressão

12
Movimentos de massa

positiva podem ser alcançadas durante eventos pluviométricos de alta intensidade,


favorecendo a geração de escorregamentos translacionais.

Mecanismos de Deflagração dos Escorregamentos


Mecanismos deflagradores dos escorregamentos são indicados na literatura
especializada, como os apresentados por Guidicini e Niebli (1984), Tabela 3 e por
Varnes (1978), Tabela 4.

Tabela 3 - Agentes e causas dos escorregamentos (Guidicini e Nieble, 1984)

Agentes Causas

Efetivos
Predisponentes Internas Externas Intermediárias
Preparatórios Imediatos
Pluviosidade,
Elevação do nível
erosão pela água e
piezométrico em
Complexo vento,
Chuvas massas
geológico, congelamento e Mudanças na
intensas, Efeito das “homog6eneas”,
complexo degelo, variação geometria do
fusão do gelo oscilações elevação da coluna de
morfológico, da temperatura, sistema, efeitos
e neves, térmicas, água em
complexo dissolução de vibrações,
erosão, redução dos descontinuidades,
climato- química, ação de mudanças
terremoto, par6ametros de rebaixamento rápido do
hidrológico, fontes e naturais na
ondas, vento, resist6encia por lençol freático. Erosão
gravidade, calor mananciais, inclinação das
ação do intemperismo. subterrânea
solar, tipo de oscilação do camadas.
homem. retrogressiva (piping),
vegetação. freático, ação de
diminuição do efeito de
animais e
coesão aparente.
antrópica.

Tabela 4 - Fatores deflagradores dos movimentos de massa segundo Varnes (1978)

Ação Fatores Fenômenos geológicos/antrópicos

Remoção de massa (lateral ou da Erosão, escorregamentos


base) Cortes
Peso da água de chuva, neve, granizo, etc.
Acúmulo natural de material (depósitos)
Sobrecarga
Peso da vegetação
Aumento da solicitação
Construção de estruturas, aterros, etc.
Terremotos, ondas, vulcões, etc
Solicitações dinâmicas
Explosões, tráfego, sismos induzidos
Água em trincas, congelamento, material
Pressões laterais
expansivo
Características inerentes ao material Características geomecânicas do material,
(geometria, estruturas, etc.) tensões
Redução da resistência Intemperismo ➾ redução na coesão, ângulo
Mudanças ou fatores variáveis de atrito
Elevação do N.A.

Considerando a condição ambiental do Rio de Janeiro, alguns fatores são realçados:


Com relação a água de subsuperfície os principais mecanismos que atuam para a
deflagração dos escorregamentos são:

13
Movimentos de massa

• Formação ou aumento das poropressões que reduzem a resistência ao


cisalhamento, podendo levar os taludes à ruptura. O fenômeno está relacionado
com a elevação do nível piezométrico em períodos chuvosos.
• Diminuição da coesão aparente em massas de solo, com aumento do grau de
saturação, face a variação de permeabilidade através do maciço terroso e
formação, consequentemente formação de linhas de fluxo subverticais. Esse
mecanismo pode levar a ruptura alguns taludes mesmo sem a formação ou
elevação do N.A.. Segundo Augusto-Filho e Virgili (1998), esse é o principal
mecanismo deflagrador de escorregamentos planares de solo na Serra do Mar, no
Litoral Paulista.
• Elevação da coluna d’água em descontinuidades, mais intensa nos maciços
rochosos, conduz a diminuição tanto das tensões normais efetivas como podem
gerar esforços laterais cisalhantes e assim contribuir na condução do processo de
instabilidade.
Com relação às chuvas, é bem conhecida a vinculação entre pluviosidade e
escorregamentos, principalmente em períodos de chuvas intensas. Ortigão et al
(1997) tratam do assunto com aplicações ao Rio de Janeiro. O capítulo de
Instrumentação de Taludes, deste Manual, trata deste tema.
Com relação a cobertura vegetal, são atribuídos efeitos favoráveis e desfavoráveis
com relação a estabilidade das encostas como assinalam Gray e Leiser (1982).
Mesmo considerando opiniões aparentemente contraditórias, a avaliação global das
diferentes teorias indicam que, a longo prazo, a retirada da cobertura vegetal é
indiscutivelmente um poderoso fator de instabilização como assinala Gray (1970).
Para Prandini et al. (1976), de um modo global, a atuação da floresta se dá no sentido
de reduzir a intensidade da ação dos agentes do clima no maciço natural, de modo
favorável à estabilidade das encostas. Isto se dá através da ação específica dos
diversos componentes da cobertura florestal. Tratando-se da Região Metropolitana do
Rio de Janeiro, e em particular, da cidade do Rio de Janeiro, que orla o Maciço da
Tijuca, Penha (1988) considera que a cobertura florestal atua também como um
agente limitador das áreas afetadas por escorregamentos, através do efeito frenador e
dissipador de energia das massas deslocadas, restringindo as áreas afetadas e
minimizando os danos em terrenos situados à jusante, como ficou exemplificado nas
chuvas de fevereiro e março de 1988.
Com relação a ação antrópica, representada pela ocupação e uso do solo, constata-se
que o homem vem se constituindo no mais importante agente modificador da
dinâmica das encostas.
Nunes et al (1990) e Nakazawa e Cerri (1990) afirmam que mais de 90% dos
escorregamentos verificados em Petrópolis (RJ), em 1988, foram induzidos pela
ocupação desordenada das encostas deste município. Para Penha (1990) o processo
acelerado de favelização em Petrópolis, levou à destruição da densa cobertura
florestal até então existente na maioria das encostas afetadas, repercutindo de forma
notável no ecossistema e, consequentemente, na estabilidade dos terrenos degradados.
Constatou-se também uma relação dos escorregamentos nas áreas favelizadas com
zonas de falha de grande magnitude, face a presença de brechas bastante fraturadas,
demonstrando já uma certa propensão do maciço rochoso, nas áreas mais afetadas, à
instabilização.
As principais modificações oriundas das interferências antrópicas indutoras dos
movimentos gravitacionais de massa são Augusto-Filho (1995):
14
Movimentos de massa

• Remoção da cobertura vegetal.


• Lançamento e concentração de águas pluviais e/ou servidas.
• Vazamentos na rede de abastecimento, esgoto e presença de fossas.
• Execução de cortes com geometria incorreta (altura/inclinação).
• Execução deficiente de aterros (geometria, compactação e fundação).
• Lançamento de lixo nas encostas/taludes.
A partir de informações geradas em mapeamentos geológico-geotécnicos, no Rio de
Janeiro, Amaral et al (1997) apontam alguns itens que devem ser considerados nos
estudos de instabilidade e deflagração de acidentes:
1. Distribuição e espessura dos solos e dos materiais antrópicos (lixo, por ex.).
2. Compartimentação e grau de fraturamento dos maciços rochosos.
3. Hidrologia das encostas.
4. Características texturais, granulométricas, mineralógicas e estruturais dos perfis de
alteração das rochas e depósitos de vertente.

3.5. Critérios para descrição dos movimentos de massa


Variam de acordo com a natureza do movimento. Uma relação dos elementos
considerados significativos para a descrição de um movimento de massa hipotético, já
ocorrido ou em vias de ocorrer deve ser procurada e servir como para base numa
sistemática de caracterização.

Elementos significativos
Guidicini e Niebli (1984) com base na sistemática de Penta (1963) apresentam uma
série de características de interesse na descrição de um movimento de massa. São as
seguintes:
Características geométricas e morfológicas - Extensão do movimento, dimensões de
escorregamento, inclinação da superfície externa, profundidade atingida pelo
fenômeno, direção da movimentação, volume, forma, aspecto exterior, forma de
manifestação (abatimento, deformação plástica, colapso, assentamento, abaixamento,
despreendimento).

15
Movimentos de massa

Tabela 5 - Elementos significativos na descrição de um movimento de massa

Descrição das partes típicas Raiz ou região de destaque, extensão de movimentação, base ou
zona de deposição.

Material rochoso (maciço, estratificado, xistoso, gnaissificado, compacto,


fraturado, desagregado), material incoerente (areias, siltes, lama,
Natureza e estado do material
detritos, materiais aluviais em geral), material coerente (argilas não-
envolvido
saturadas, argilas endurecidas, argilas tixotrópicas, turfa), estado do
material da massa movimentada (sólido, líquido, plástico, fragmentário).
Homogeneidade ou heterogeneidade estrutural, presença de atitude de
falhas, intercalações de baixa resistência mecânica, sistema de
Características estruturais compartimentação (direção, mergulho, frequência, espaçamento,
abertura e preenchimento de descontinuidades, rugosidade,
encurvamento e ondulações).
Propriedades da rocha intacta entre descontinuidades, previsão de
Características mecânicas
comportamento diferenciado diante das solicitações.
Início, desenvolvimento, evolução, duração, velocidade, discriminação
Mecanismo de movimentação
de causa e agente, forma de atuação.
Presença ou ausência, natureza, continuidade, superfícies múltiplas,
Superfície de movimentação
descontinuidades, vazios, inclinação, irregularidades, abaulamentos.
Periodicidade, frequência no mesmo local, sucessivos estágios de
Comportamento no tempo
desenvolvimento.
Coexistência, contemporaneidade, sucessão, distribuição, termos de
Relação com outros movimentos
passagem, densidade regional.
Influência na morfologia local, ou regional, implicações econômicas,
Consequências na área
mudanças no regime de escoamento superficial ou subterrâneo.

De acordo com o WLI (1993) devem ser distinguidas:

1. Estilo do escorregamento
Tabela 6 - Estilo do escorregamento

Tipo Descrição

Complexo Exibe pelo menos dois tipos de movimentos (queda, escorregamento fluxo) em sequência.
Composto Exibe pelo menos dois tipos de movimentos simultâneos em diferentes partes da massa deslocada.
Sucessivo É do mesmo tipo de um escorregamento anterior vizinho, mas não compartilha o material deslocado
ou superfície de rutura com ele.
Simples É um simples movimento de material deslocado.
Múltiplo Apresenta repetidos desenvolvimentos no mesmo tipo de movimento.

2. Velocidade dos Movimentos de Massas


Variam entre extremamente rápidos, com velocidades superiores a 3 m/s a
extremamente lentos, com velocidades inferiores a 0,3 m/5 anos. Indica-se a seguir as
classes de velocidade geralmente utilizadas:

16
Movimentos de massa

Tabela 7 - Classificação da velocidade de deslocamento

Classificação Velocidade

Muito lento de 0,3 m/5 anos a 1,5 m/ano


Lento de 1,5 m/ano a 1,5 m/mês
Moderado de 1,5 m/mês a 1,5 m/dia
Rápido de 1,5 m/dia a 0,3 m/min
Muito rápido de 0,3 m/min a 3 m/s

Normalmente a velocidade dos escorregamentos varia de moderada a rápida.

3. Estado de atividade do escorregamento


Tabela 8 - Estado de atividade do escorregamento

Estado de
Descrição
atividade

Ativo Está atualmente em movimento.


Paralisado Moveu-se nos últimos 12 meses, mas não está ativo no presente.
Reativado É um ativo que estava inativo.
Inativo Não se moveu nos últimos 12 meses.
Adormecido Inativo que pode ser reativado por suas causas originais, ou por outras causas.
Abandonado Inativo que não está mais afetado pelas causas originais.
Estabilizado Inativo que está protegido de suas causas originais por medidas corretivas artificiais.
Um escorregamento inativo, que se desenvolveu sob condições climáticas e geomorfológicas
Reliquiar consideravelmente diferentes que as do presente. São também denominados movimentos de
massas fósseis.

1.1. Métodos de Investigação utilizados no Estudo dos Movimentos de


Massa

Conhecimento Geológico
É o requisito essencial para a formação de um conceito perspicaz sobre os processos
que podem levar ao colapso da encosta.

Caracterização Geológico-Geotécnica
É necessária para as medidas emergenciais e corretivas, tendo como objetivos a
identificação dos agentes, causas e condicionantes atuantes no processo de
instabilização existente ou potencial através da obtenção de dados de superfície e de
subsuperfície. Por meio desta caracterização, são determinados parâmetros
qualitativos e quantitativos das unidades geológicas presentes na área de estudo em
diferentes níveis ou escala de abordagem como o preconizado por Augusto-Filho
(1995).

Objetivos
• determinação das características do processo de instabilização de uma encosta ou
talude, através da identificação dos seus agentes/causas; geometria; do mecanismo
de movimentação; da natureza e estado do material mobilizado e seu
comportamento no tempo, estabelecimento do modelo fenomenológico;

17
Movimentos de massa

• identificação, caracterização e mapeamento espacial das unidades geológico-


geotécnicas presentes na área de estudo;
• correlação entre as unidades mapeadas e o processo de instabilização;
• previsão do comportamento destas unidades ante as solicitações impostas por
alguns tipos de obras de contenção.

Etapas para a caracterização geológico-geotécnica


1. Planejamento
2. Levantamento de dados de interesse já existente
3. Investigações de superfície, com vistoria na área de estudo, programação e
realização de novos levantamentos que se fizerem necessários
4. Formulação de modelo fenomenológico do processo de investigação
5. Avaliação do modelo
6. Projeto de estabilização
Se insuficiente o modelo, deverão ser feitas programações de:
⇒ Investigações de subsuperfície
⇒ Instrumentação
⇒ Ensaios (in situ e de laboratório)
⇒ Obs.: Novas investigações de superfície podem ser requisitadas.
As investigações de superfície são realizadas através de:
⇒ Vistorias de campo, onde será emitido um laudo de vistoria com o preenchimento
de uma ficha cadastral (Figura 12)

18
Movimentos de massa

LAUDO DE VISTORIA Nº _________


1- LOCAL:
2- DATA DO PEDIDO: 3- DATA DA VISTORIA:
7.6 – Risco
4- ORIGEM/ MOTIVO DO PEDIDO: 7.6.1 – Tipo 7.6.2 Grau
5- SOLICITANTE Potencial 1 Alto
Instalado2 Médio
6- ASPECTOS REGIONAIS
Inexistente Baixo
6.1- Tipo de ocupação: Densidade ocupacional 7.2 – Espessura média aproximada 1 – Possibilidade de ocorrência de movimento de massa sem atingimento de
moradias ou bens públicos
Alta do perfil de solo (m) _______ 2 – Possibilidade de ocorrência de movimento de massa com atingimento de
moradias ou bens públicos
Favela Média 7.3 – Drenagem: Condição: 8 – CARACTERÍSTICAS DA OCORRÊNCIA
Natural Satisfatória 8.1 – Situação
Loteamento irregular
Construida Danificada
Com possibilidade de ocorrência
Área urbana estruturada Obstruída
Ocorrido
Insuficiente
Trecho da encosta desocupada
8.2 – Data: ___/ ____/ ____
Outras: ______________________________________ 7.4 – Condições de Água Subterrânea Hora aproximada: ___: ___
6.2- Tipo de ocupação: Densidade Com surgência
Umidade 8.3 – Volume estimado do material mobilizado:
Arbórea Alta _______m3
Seco
Rasteira Média Tubulações rompidas
8.4 – Tipo(s) de Movimento(s)
Outros:
Arbustiva Espararsa
8.4.1 – Superfície 8.4.2 – Classificação
Nenhuma 7.5 – Geometria do Talude de deslizamento Escorregamento em solo
Outras: ______________________________________ Encosta natural Sobre rocha Escorregamento de lixo/ entulho
Sobre solo Escorregamento de solo e rocha
6.3- Relevo: E
Sem superfície Ruptura de talude de corte
h
Escarpado Ondulado Outras_______ Ruptura de aterro
α
Montanhoso Suave ______________ Ruptura de obra de contenção
L Deslocamento de blocos/ lascas
7 – CARACTERÍSTICAS LOCAIS Corridas
Talude de corte Outros: ___________________
7.1- Tipo do talude: Natureza do material
___________________________
Encosta natural Solo E
h
8.5 – Consequências
α 9 – PROVIDÊNCIAS
Talude de corte Rocha Obstrução de vias
L Danos a moradias Vítimas fatais:
Talude de aterro Solo e rocha Danos a bens públicos Sim nº _____
Com obra de contenção Lixo/ entulho Vítimas não fatais Não
(desabrigados, etc.)
Tipo(s) de obra(s):_______ Matacões “in situ” 10 – OBSERVAÇÕES GERAIS:

______________________ Tálus h – altura (m) _________ 8.6 – Descrição da ocorrência:


Lascas E – extensão (m) ______ 11 – RESPONSÁVEL PELA VISTORIA
_______________________
OBS: L – largura (m) _______
α – inclinação ________ 12- ANEXOS: Fotos Mapas Outros

19
Movimentos de massa

Figura 12 - Modelo de ficha para laudo de vistoria

20
Movimentos de massa

⇒ Levantamento Geológico/Geotécnico
⇒ . Levantamento topográfico
⇒ . Levantamento fotogramétrico
As investigações de subsuperfície são realizadas através de:
a) Métodos Diretos
⇒ . Poços, trincheiras, cachimbos
⇒ . Sondagem a trado
⇒ . Sondagem a percursão
⇒ . Sondagem rotativa
b) Métodos Indiretos
⇒ . Por geofísica - sísmicos, geoelétricos e Radar de Penetração no Solo (GPR)
⇒ . Por Sensoriamento Remoto

Exemplo de técnica de monitoramento de escorregamento


Um exemplo de execução de estudos geológicos e geotécnicos e de aplicação
de instrumentação geotécnica em área povoada com reativação do processo de
instabilização, é aquela realizada nas encostas do Itanhangá (RJ) e descrita por
Ortigao et al (1997).

3.7 Mapas de Susceptibilidade e Cartas de Risco a Escorregamentos


A aplicação de instrumentos cartográficos aos acidentes associados aos
escorregamentos, enquadra-se na concepção de Cerri et al. (1993), a filosofia de
detalhamento progressivo.
No Rio de Janeiro, tem-se empregado a Cartografia Geotécnica, representada pela
elaboração de Cartas de Susceptibilidade, de Cartas Geológico/Geotécnicas ou
Geotécnicas propriamente ditas e as Cartas de Risco, como instrumentos eficazes e de
baixo custo para orientar as medidas preventivas e corretivas concernentes aos
escorregamentos e administrar a ocupação e uso do solo em áreas de risco potencial.
Com base em Cerri et al. (1993) e segundo o roteiro apresentado por Amaral et al.
(1997), parte-se da visualização global dos problemas numa escala de 1:25.000, onde
as unidades do terreno são hierarquizadas de acordo com sua susceptibilidade a
sofrerem escorregamentos, amplia-se o nível de trabalho com a preparação de um
mapa na escala 1:10.000, onde são incorporadas as propriedades de solos e rochas, as
características dos escorregamentos e as zonas de comportamento homogêneo,
perante o potencial de ocorrência de escorregamentos. Seguem-se a cartografia na
escala 1:2.000 retratando o potencial de ocorrência de escorregamentos e os
elementos urbanos passíveis de serem afetados.
Com os dados oferecidos pelos distintos mapeamentos técnico-científicos, chega-se o
Projeto de Intervenção, com indicação de soluções para setores específicos de cada
encosta, passível de gerar risco.

21
Movimentos de massa

Critérios para Confecção de Mapas de Susceptibilidade e Cartas de Risco a


Escoregamentos

Mapas de Susceptibilidade a Deslizamentos


Para Fernandes e Amaral (1996), constituem-se em instrumentos técnico-científicos
indispensáveis no sentido de reduzir as consequências desses acidentes, e têm como
um dos objetivos a previsão da ocorrência de escorregamentos. Através dele, se
determina um zoneamento de susceptibilidade a deslizamentos, subdividindo a área de
estudo em zonas de igual susceptibilidade, com informações sobre probabilidade
espacial, probabilidade temporal, tipos, magnitudes e velocidades de avanço dos
deslizamentos numa determinada área geográfica.
O modelo mais simples de zoneamento de susceptibilidade é um mapa de inventário
de deslizamentos, indicando os já ocorridos e os ainda ativos. A maior parte dos
métodos de zoneamento propostos na literatura envolve a combinação e a integração
de uma série de mapas temáticos daqueles fatores deflagradores dos deslizamentos.
No Rio de Janeiro, o Mapa de Susceptibilidade a deslizamentos foi preparado na
escala 1:25.000 envolvendo a definição dos principais fatores que influenciam a
distribuição dos escorregamentos nas encostas cariocas: Uso do solo, Geologia,
Distribuição dos Depósitos Superficiais e Declividade. O mapa final apresenta à
cores, a distribuição areal das 4 classes de susceptibilidade a deslizamentos que
compreendem Áreas de Muito Baixa, de Baixa, de Moderada e de Alta
Susceptibilidade (cor vermelha) que corresponde às áreas críticas conhecidas, seja
pela frequência de acidentes, seja pelo elevado número de obras de contenção
executadas nas encostas e em geral, envolvem áreas com favelas, caracterizadas por
depósitos de tálus, blocos rochosos e lascas instáveis.
Segue-se, nas áreas de maior susceptibilidade à deslizamentos, a elaboração das
Cartas de Risco de Acidentes Associados a Deslizamentos.

Cartas de Risco - Metodologia de Preparação e Atualização


São mapas geológico-geotécnicos específicos, analíticos e detalhados, produzidos na
escala de detalhe, 1:2.000, no Rio de Janeiro.
Segundo roteiro apresentado por Fernandes e Amaral (1996), sua preparação deve
seguir as seguintes exigências:
• Fornecer informações sobre trechos da encosta afetados por escorregamentos no
passado, e dentre estes, quais os que já foram estabilizados, por obras de
contenção. Para atingir tal objetivo, é preciso consultar o Inventário Local de
Escorregamentos e o Banco de Dados de Obras de Contenção na Diretoria de
Geotécnica.
• As cartas devem indicar áreas sujeitas a novos escorregamentos, discriminando o
tipo de processo que pode ocorrer e o potencial de destruição imposto por ele.
Para atingir tal objetivo, é preciso reunir todas as informações disponíveis sobre a
geologia, pedologia e hidrologia das encostas, além de efetuar um mapeamento
geológico-geotécnico preliminar baseado em perfis (rápidos) de grande resolução.
As Cartas de Risco devem indicar todos os taludes potencialmente instáveis. O
Cadastro de Risco Individual é anexado ao Texto Explicativo, incluindo a
descrição da geometria do talude, o perfil solo/rocha e suas descontinuidades e o
número de casas ameaçadas. Todos os pontos de risco imediato devem ser

22
Movimentos de massa

fotografados e contemplados com perfis transversais, nos quais se indica o tipo de


obra de contenção capaz de eliminar o risco de acidentes.
• As cartas devem ser acompanhadas de mapas complementares, onde estão
indicadas as sondagens diretas do subsolo e pontos de ensaios amostrados.
• As Cartas de Risco, devem, em função do tipo de escorregamento predominante e
da concentração de pontos críticos (imediatos ou futuros), estar zoneadas em alto,
médio e baixo risco, coloridas e numeradas, de modo a facilitar a sua utilização
por administradores e equipes da Defesa Civil Municipal.
• As Cartas de Risco devem ser acompanhadas por fotografias aéreas, onde estão
indicados todos os taludes instáveis que trazem risco imediato de acidentes e que
necessitam ou de obras de contenção ou de relocação das moradias.
• Nestas cartas o risco de acidentes é zoneado em Alto Risco (Risco III - em
vermelho), Médio e Baixo, indicando-se o tipo de escorregamento que pode
ocorrer em cada trecho da encosta. Ela deve estar acompanhada de fotografias
aéreas, onde estão indicados os taludes potencialmente instáveis e no texto
explicativo discute-se as condicionantes geoambientais que levam ao risco.
Para a identificação das situações de risco, são realizadas atividades de campo na qual
alguns aspectos devem ser observados:
• Tipo de material: in situ, transportado ou resultante da ação humana (rocha, solo
residual, colúvio, tálus, aterro, lixo, etc.).
• Características geológico-geotécnicas do material.
• Rocha - litotipo, fraturamento, foliação, presença de blocos, matacões e paredões
rochosos, grau de alteração.
• Solo - textura, coesão, estruturas remanescentes, erodibilidade, drenabilidade e
espessura.
• Morfologia: inclinação e forma da encosta
• Ocupação do solo: cortes, aterros, densidade de ocupação, desmatamento,
alterações na drenagem, etc.
• Histórico de ocorrências: laudo de vistoria, trabalhos anteriores, indícios de
acidentes pretéritos e depoimento de moradores.
Processos:
• Rocha - rolamento de blocos, desplacamento de lascas, erosão diferencial
• Solo - deslizamento superficial ou profundo, rastejos, surgência de água, erosão,
ravinamento.
• Hierarquização do risco: alto, médio ou baixo.
Definição de conceitos adotados:
Risco - é a probabilidade de ocorrência do deslizamento e as consequências sociais
e/ou econômicaspotenciais.
É expressado segundo a equação:
R = P×C
sendo:

23
Movimentos de massa

R o risco de deslizamento,
P a possibilidade de ocorrência do fenômeno,
C as consequências do acidente.
Esta equação é a base da hierarquização do risco.
Pontos de alto risco - são aqueles em que o risco é evidente e eminente, abrangendo
um grande número de casas, e/ou área fonte de risco, mas que, em geral, pode ser
eliminado na maior parte dos casos com obras de contenção.
Pontos de baixo risco - o risco é reduzido ou inexistente. Nestes locais, em geral, a
ocupação é razoavelmente ordenada e/ou as características geológico-geotécnicas
favoráveis ou já realizada obra de contenção que resolveu a situação de risco anterior
existentes.
Deve-se diferenciar o significado de pontos de risco e de áreas de risco como o
proposto por Amaral e D’Orsi (1992), bem como entre cadastramento e zoneamento
de risco, proposto por Cerri et al (1992).
Pontos de risco - são situações pontuais, nas quais devem ser empregadas soluções
específicas e localizadas, representando um nível de detalhe maior, indicando as
situações de risco, moradia por moradia (cadastro de risco). Esses pontos são
discriminados no mapa de pontos.
Áreas de risco - englobam porções da encosta, com formas e tamanhos irregulares,
com características geológico-geotécnicas ocupacionais próprias, com maior ou
menor risco de escorregamentos, aqui envolvidas as áreas planas que podem ser
atingidas pelo material movimentado. As áreas delimitadas através do zoneamento de
risco, envolvem várias moradias e podem ou não conter pontos de risco de graus
diferentes.
Exemplos de cartas de risco elaboradas pela Geo Rio no Município do Rio de Janeiro:
(Figuras 13 e 14).

24
Movimentos de massa

Risco geotécnico Simbologia Predominantes

Áreas ocupadas com infra-estrutura


I urbana e baixo potencial de acidentes
Áreas não ocupadas, com declividade
I NO elevada e características desfavoráveis
a ocupação
IEO BAIXO
Áreas esparsamente ocupadas com
I EO boas características gerais a ocupação
Iu IU
Áreas medianamente ocupadas com
50 ~ ~ ~ ~
130 I MO boas características geotécnicas e
IMO
60
~
~
O

~
~
O
10
pequeno e localizado potencial de
IIMO acidentes, em geral associados' a
140
U
A
INO
L

+ 120
150
pequenos cortes e depósitos de
O
L + Gr +
70
+
~
~

~
~ Gn ~~ IIIP 160
lixo/ entulho
~
~ + Gr
+ +
170 Áreas densamente ocupadas com
pequeno e localizado potencial de
+ 180
L
+
190 IU
+
Gr
200 deslizamentos de solo, em geral,
associados a pequenos cortes/aterros
+ +

IMO e depósito de lixo/entulho.


A infraestrutura urbana é precária
~ Gn
~ ~ 67
O

IIIP +
+
INO 210
Área não ocupada com declividade
IIDO
+ Gr +

+
P +
Gr +
200
elevada, constituindo área-fonte de
Gr
blocos sujeitos a movimentação
IIIP
190
+
Gr
+
P
Áreas esparsamente ocupadas com
II EO
+ L
+
Gr
190 características (declividade e hidrologia)
IIEO
CA L

desfavoráveis a ocupação
+
+
Gr + 180
+ + B

MEDIO
+
+
L
170
Áreas medianamente ocupadas onde
II MO
Gr CA Gr
+

há tendência de adensamento da
+

IDO
CA
III +

IU MO P

Gr + INO Co/R
160
ocupação,com aumento do grau de risco,
ligado a deslizamentos de solo associados
CA CA NO

100

a pequenos cortes/aterros e depósitos


+
+ Gr
L

IEO L
+

de lixo/entulho
'
L
~~ CA 140

130
P
Áreas ocupadas, constituídas por
120 II DO taludes naturais com declividade
IIMO IIEO EO moderada e características geotécnicas
IU U
MO
desfavoráveis e/ou pequeno número de
60

cortes/aterros. Estão sujeitas a serem


70
atingidas por rolamento de blocos a
IEO Ta
IIDO partir de afloramento a montante.
IMO MO
SR

III Talvegues naturais preenchidos por


+ DO
Gr
+

+ Gr ALTO DT/CB
depósito de tálus/colúvio (DT), com
IDO 120
grande potencial de acidentes
INO
Ta NO
IIIDT 130
(movimentação de blocos de rocha e/ou
IDO
+ Gr +

IINO solo); ou por campo de blocos (CB)


IIIDT INO sujeitos a movimentação

INO Taludes rochosos naturais ou pedreiras


INO IIIP e suas áreas de influência, com grande
potencial de acidentes (queda de lascas
e/ou blocos)

ESCALA GRÁFICA
0 100 200 m

Figura 13 - Exemplo de carta de setorização de risco

25
Movimentos de massa

BAÍA DE GUANABARA
43 15' 00'' 680000 682000 684000 686000
22 52' 30'' 688000 690000 43 07' 30''
22 52' 30''

Av
.B
ra
sil
7468000 I. das Enseadas

I. de Santa
I. Pombeba Bárbara

orto Av. Rodrigue


oP s Alves
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Ca Ilha das
Cobras
Ilha Fiscal

Ru
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7466000

elo
Aeroporto
Santos
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Rua
7464000

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Morro do
Mirante
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Prazeres
I. da Laje
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R. Pin
7462000
Viúva Morro

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Cara de Cão
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Formiga Morro de
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D. Marta Enseada
de Botafogo

Pão de Açúcar
Morro
Corcovado
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Estrada
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do Red ent
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7460000 Babilônia

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Av. Saudade I. da Catundaba
Rua Pacheco Leão
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7458000 n te CONVENÇÕES CARTOGRÁFICAS


op

ce Lagoa Rodrigo de Freitas


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qu - VIAS DE ACESSO
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R. Av. Epitácio Pessoa
Rodovias

Ferrovias
Av. Vieira Souto
lfim Moreira
Av. De - HIDROGRAFIA
n Praia de Ipanema
do Leblo
Praia

7456000
er
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Av
23 00' 00''
43 15' 00''
23 00' 00''

MAPA INDICATIVO DO RISCO DE ARTICULAÇÃO DAS FOLHAS


(SF-23-Z)

LEGENDA ESCORREGAMENTO NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

Risco de Escorregamento:
A-IV-4-NO A-IV-4-NE B-IV-3-NO B-IV-3-NE B-IV-4-NO

Escala 1 : 25 000
Muito baixo ou sem risco A-IV-3-SE A-IV-4-SO A-IV-4-SE B-IV-3-SO B-IV-3-SE B-IV-4-SO

500 m 1500 m
Baixo 0 500 1000
C-III-1-NO C-III-1-NE D-I-1-NO D-I-1-NE

Moderado Digitalizado em Novembro de 1996

Alto

Figura 14 - Detalhe de parte do mapa indicativo de risco de escorregamento

26
Investigações geotécnicas

Investigações geotécnicas

J A R Ortigão & A S J Sayão

Introdução
Este capítulo trata sucintamente das investigações geotécnicas necessárias a uma obra de
estabilização de taludes na cidade do Rio de Janeiro. Devido 1a grande experiência com obras de
estabilização no Rio de Janeiro, as fases de investigação se resumem, na maioria dos casos, à
inspeção por geólogo e engenheiro experientes e às sondagens a percussão e rotativas. Nos casos
correntes não são realizadas investigações geofísicas, nem ensaios de laboratório.
Em casos mais complexos, as investigações são abrangentes, envolvendo geofísica, sondagens,
retirada de amostras, ensaios in situ e laboratoriais.
Não é intenção deste manual tratar detalhadamente das investigações, o que pode ser visto nas
seguintes principais referências: ABGE (1998), GEO (1993), Lima (1976), Weltman e Head (1983)
e Clayton (1982).

Investigações expeditas

Inspeção por geólogos e engenheiros


Consta de uma vistoria de campo com objetivo de levantar:
• Formações geológicas presentes na área de interesse.
• Características do material de cobertura e do perfil de alteração.
• Estruturas geológicas identificáveis ao nível de afloramento (foliação, fraturas, contatos
litológicos, variação textural, etc.).
• Hidrologia do talude: surgências d’água e zonas de saturação.
• Instabilizações existentes (tipo, características, área de influência).
• Feições de movimentação (trincas, degraus, “embarrigamentos”, abatimentos, etc.).
• Geometria da encosta e processo de instabilização.

1
Investigações geotécnicas

• Cobertura vegetal (tipo, indicação de movimento pela inclinação das árvores)


• Interferências antrópicas (cortes, aterros, desorganização da drenagem, lançamento de águas
servidas, acumulação de lixo, desmatamento, etc.).

Cadastramento da ocorrência:

Deve constar dos seguintes itens:

• Fotos aéreas e obtidas no local.


• Descrição das principais características da encosta e da ocorrência.
• Dados pluviométricos;
• Classificação dos movimentos observados e potenciais.
• Avaliação da susceptibilidade dos processos de instabilização.
• Sugestões para a qualificação e quantificação dos danos decorrentes dos processos de
instabilização e avaliação da gravidade do risco.
• Avaliação da gravidade do risco
• Soluções preliminares.

Levantamentos topográficos preliminares


Nas fases iniciais dos estudos, poderão ser feitos levantamentos topográficos expeditos, utilizando
trena, clinômetro e bússola.
Devem elaboradas seções transversais com auxílio da trena e do nível de mangueira,
freqüentemente em escala igual ou superior a 1:500.

Normas de sondagens e amostragem


As principais normas ABNT aplicáveis constam da Tabela 1. As recomendações da Associação
Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE), constam da Tabela 2.

Tabela 1 Normas ABNT de sondagem e amostragem

Norma ABNT Título

ABNT NBR 9604 Abertura de poço e trincheira de inspeção em solo, com retirada de amostras deformadas e
indeformadas
ABNT NBR 6457 Amostras de solo – Preparação para ensaios de compactação e ensaios de caracterização
ABNT NBR 9820 Coleta de amostras indeformadas em solo em furos de sondagem
ABNT TB-38 Equipamento a diamante para sondagem
ABNT NBR 6484 Execução de sondagens de simples reconhecimento dos solos
ABNT NBR 7250 Identificação e descrição de amostras de solos obtidos em sondagens de simples reconhecimento
dos solos
ABNT NBR 8036 Programação de sondagens de simples reconhecimento dos solos para fundações de edifícios
ABNT NBR 6490 Reconhecimento e amostragem para fins de caracterização de ocorrência de rochas
ABNT NBR 6491 Reconhecimento e amostragem para fins de caracterização de pedregulho e areia
ABNT NBR 9603 Sondagem a trado

2
Investigações geotécnicas

Tabela 2 Recomendações da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia – ABGE

Referência Título

ABGE (1975) Ensaios de perda d’água sob pressão, Diretrizes Boletim no. 2
ABGE (1990a) Diretrizes para a execução de sondagens, Boletim Especial
ABGE (1996) Ensaios de permeabilidade em solos, Boletim 4

Sondagens a trado
É uma perfuração manual de pequeno diâmetro, de acordo com a norma ABNT NBR 9603. É feita
com um trado, tipo cunha ou tipo espiral, para investigação de solo de baixa a média resistência ao
nível de reconhecimento. Tais furos permitem uma rápida perfilagem do material atravessado,
retirada de amostras deformadas e melhor conhecimento da estratigrafia do terreno. O diâmetro
usual do trado é 75 mm e a coleta de amostras é feita a cada metro de avanço ou então quando
ocorre mudança do tipo de material. Estes furos geralmente penetram no máximo 5 m de
profundidade, apenas em solo acima do nível de água.

Poços de inspeção
São escavações verticais com 0,8 a 3 m de diâmetro, que permitem o acesso para exame in situ do
material investigado. São realizadas observações detalhadas e a retirada de amostras indeformadas
de blocos. Na descrição do poço podem ser feitas avaliações pormenorizadas da macroestrutura dos
horizontes atravessados, além de indicações sobre a permeabilidade e da resistência do solo.

Investigações detalhadas

Topografia
São levantamentos planialtimétricos cobrindo a região considerada crítica e suas circunvizinhanças
em escalas apropriadas (1:500 a 1:200). Os levantamentos topográficos são orientados para o
cadastro dos aspectos de interesse, levantados nas vistorias de campo e nas investigações expeditas,
tais como afloramentos rochosos, feições de instabilidade, surgência d’água e interferências
antrópicas. Os levantamentos são realizados a partir de seções, preferencialmente demarcadas no
campo, com piquetes, para facilitar detalhamentos.

Métodos indiretos
Os métodos indiretos abrangem principalmente os métodos geofísicos. Permitem determinar a
distribuição de parâmetros dos maciços, tais como contrastes litológicos, descontinuidades, grau de
alteração e profundidade do topo rochoso.
Os principais métodos geofísicos utilizados são: sísmicos e geoelétricos.

Métodos Sísmicos
A sísmica de refração é uma investigação de subsuperfície empregada para determinação da
profundidade do topo do embasamento rochoso, espessura das camadas, localização de zonas de
falhas, contatos geológicos e diques.

3
Investigações geotécnicas

O método se baseia no fato de que as ondas sísmicas geradas na superfície sofrem refração ao
atingir a interface entre dois meios. Sensores denominados registram geofones o tempo de
propagação das ondas refletidas que retornam à superfície. Um equipamento de registro, o
sismógrafo, grava os sinais recebido em forma digital. Os resultados impressos desta investigação
são denominados sismogramas.
O método sísmico de refração utiliza fontes de energia de natureza impulsiva que produzem
deformações elásticas no meio, gerando ondas sísmicas que se propagam através das diferentes
interfaces geológicas. Como fonte, normalmente se utilizam explosivos, mas em áreas povoadas ou
urbanas, são usadas fontes alternativas como o rifle sísmico, o martelo ou a simples queda de pesos.
É desejável a utilização de outros métodos geofísicos acompanhando o método sísmico, e nos
estudos de interesse geotécnico normalmente se associam métodos geoelétricos, sobretudo a
sondagem elétrica vertical. Entretanto a interpretação dos dados de refração é complexa quando a
declividade da área estudada é superior a 25o. Os dados obtidos devem ser confrontados com dados
geológicos de superfície e subsuperfície (derivados de sondagens) e analisados conjuntamente com
outros métodos de investigação.
A sísmica de reflexão vem recentemente sendo adotada também em investigação rasa
(profundidades inferiores a 30 m), fornecendo subsídios fundamentais à investigação geológico-
geotécnica. A aquisição dos dados é análoga à da sísmica de refração, e o sucesso de sua aplicação
depende dos equipamentos geofísicos empregados e das características geológicas do terreno.
A aplicação do método está diretamente vinculada à existência de contrastes de impedância acústica
em subsuperfície, o que geralmente ocorre no contato entre camadas geológicas, e é capaz de
observar detalhes da subsuperfície não captadas pela refração.
A existência de matacões causa reflexão e dificulta a interpretação, podendo tornar impraticável a
aplicação de geofísica a certos terrenos.

Métodos geoelétricos
Constam principalmente de ensaios de eletrorresistividade, pela polarização induzida e pela
condutividade. Os métodos de medição de eletrorresistividade são a sondagem elétrica vertical e o
caminhamento elétrico.
As sondagens elétricas são empregadas para determinar o recobrimento do substrato, porém só são
úteis se os materiais forem eletricamente distintos. Servem para determinar o topo rochoso e a
profundidade do nível d’água. Os caminhamentos servem para detectar falhas ou variações laterais
com contraste elétrico.
Para definição do aquífero e comportamento do fluxo de água subterrânea, utiliza-se o método
geofísico do potencial natural (SP) ou espontâneo. Mapas de isovalores dos potenciais naturais em
subsolo homogêneo fornecem informações sobre a configuração, direção e sentido do fluxo
subterrâneos, tanto em planos horizontais quanto verticais.

Métodos diretos

Sondagens
É a mais comum das investigações detalhadas, realizada a partir de uma perfuração no terreno. São
coletadas amostras e se realizam alguns tipos de ensaios descritos mais adiante. Os procedimentos
de investigação são bem definidos nas normas ABNT e ABGE. O projetista deverá definir um
programa de investigações em que conste o número e tipo de sondagens e amostragem.

4
Investigações geotécnicas

Sondagem a percussão
É o método mais comum de investigação para a definição do perfil geotécnico em solos. Obtém-se
amostras a cada metro, a posição do nível d’água e o índice de resistência à penetração (N) através
de ensaios SPT. A penetração é impedida em materiais resistentes, como os matacões, quando
outro tipo de sondagem deve ser adotado.

Sondagem Rotativa
É o melhor recurso para caracterização de terrenos, principalmente quando há necessidade de
reconhecer o material em profundidade e em materiais resistentes. Obtém-se amostras ou
testemunhos com diâmetro entre 20 e 100 mm. Permite alcançar as posições do lençol freático em
grande profundidade e também a superfície de movimentação, em casos onde o acesso direto por
meio de poços e trincheiras não seja viável.

motor Bomba
hidráulica

movimento de rotação

coluna de perfuração
fluxo de água

testemunho de sondagem

barrilete

broca

Figura 1 Sonda rotativa

O equipamento (Figura 1) consta de uma sonda motorizada, bomba de água, hastes, barriletes e
coroas. A operação da sondagem rotativa se faz por ciclos sucessivos de corte e retirada dos
testemunhos do interior do barrilete, procedimento este denominado manobra. O avanço de cada
manobra depende da qualidade do material que está sendo perfurado. Se de boa qualidade, o
comprimento de testemunho obtido em cada manobra pode ser quase igual ao tamanho do barrilete
da ordem de 3 m.

5
Investigações geotécnicas

Sondagem Mista
Utilizada quando maciço rochoso a ser estudado está coberto por material terroso. A sondagem
rotativa só é iniciada quando se atinge o impenetrável na sondagem a percussão, ou N maior que 50.

Perfis de Sondagens
Os perfis individuais ou boletins de sondagens devem conter informações técnicas, desde a
perfuração até dados interpretativos. Os boletins de sondagem devem conter:
1. Diâmetro do furo
2. Tipo de ferramenta utilizada na perfuração.
3. Posição do revestimento.
4. Profundidades atingidas e posição do NA (nível d’água).
5. Descrição dos materiais e definições das unidades geológicas
6. Nas sondagem a percussão: o gráfico de N em função da profundidade.
7. Nas sondagens rotativas: informações qualitativas do maciço, grau de alteração da rocha, grau
de fraturamento, RQD, inclinação das estruturas geológicas, rugosidade, alteração e
preenchimento de juntas, resistência da rocha, resultados de ensaios de permeabilidade, perda
d’água durante a perfuração e características geotécnicas importantes observadas nos
testemunhos.

Coleta de amostras em blocos


O procedimento para a coleta de amostras indeformadas de solo em blocos para ensaios de
laboratório é apresentado na Figura 2 (ABNT NBR 9604). Consiste em talhar no fundo ou parede
da escavação um cubo de 30 cm de aresta e protegê-lo com camadas de parafina fundida e de
talagarça, entremeadas. As amostras devem conter indicações sobre sua posição espacial. O
transporte deverá ser em caixas de madeira contendo serragem úmida.

6
Investigações geotécnicas

base da trincheira

base da caixa

largura
FASE A da amostra
parafina
proteção com tela e parafina

serragem úmida
FASE B seccionar a base
com cuidado
caixa de proteção

amostra pronta
para o embarque
FASE C

base da
trincheira
ou poço

Figura 2 Amostragem em blocos

Ensaios in situ
São pouco frequentes os ensaios in situ em solos residuais, exceto os ensaios de permeabilidade.
Os ensaios de permeabilidade in situ são realizados em furos de sondagem ou, mais raramente em
cavas. Os procedimentos de ensaio estão detalhados no boletim ABGE (1996).

Ensaios de laboratório
Os ensaios de laboratório comuns são os de caracterização e de determinação da resistência ao
cisalhamento.

Ensaios de caracterização
Os ensaios de caracterização consistem em ensaios correntes de laboratório de análise
granulométrica, determinação de peso específico, teor de umidade e limites de Atterberg. As
normas aplicáveis constam da Tabela 3.

Tabela 3 Ensaios de caracterização

7
Investigações geotécnicas

Norma Ensaio

ABNT NBR 7181 Solo – Análise granulométrica


ABNT NBR 6459 Solo – Determinação do Limite de Liquidez
ABNT NBR 7180 Solo – Determinação do Limite de Plasticidade

Ensaios para a determinação da resistência ao cisalhamento


Os ensaios de laboratório correntes para determinação da resistência ao cisalhamento estão
detalhados em vários livros-texto de mecânica dos solos (e.g. Ortigão, 1995). Os mais comuns são
os de cisalhamento direto e os triaxiais. Em encostas, a situação mais comum é representada por
ensaios em que a drenagem é totalmente livre durante todas as fases de ensaio, sendo portanto, os
ensaios classificados como drenados. Em particular, o ensaio de cisalhamento direto é mais
simples e só deve ser realizado em condições de drenagem completa. Os ensaios drenados têm uma
fase inicial de consolidação nas tensões principais de ensaio, seguida pela fase de cisalhamento
drenado. Com isso, estes ensaios são classificados como CD (C = consolidados, D = drenados).

1.1
1.0 σff'
σff' (MPa)
0.6
0.8 τff ∆L
τ
(MPa) 0.4 0.55

0.2
0.35

0 10 20
(a) ∆L (mm)

0.8

0.6 φ'= 35º


τff
(MPa) 0.4

0.2

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2

(b) σ'ff (MPa)

Figura 3 Apresentação de resultados de ensaios de cisalhamento direto drenado

O ensaio de cisalhamento direto está esquematizado na Figura 3, que também indica a maneira
usual de plotar os resultados: um gráfico tensão versus deslocamento e noutro, o diagrama de Mohr-
Coulomb, onde se obtém parâmetros de resistência.
Resultados típicos de ensaios triaxiais CD em solo arenoso constam da Figura 4 e da Figura 5. A
primeira apresenta curvas de tensão deformação, a segunda a envoltória de resistência.

8
Investigações geotécnicas

1000

800 σ'c = 300 kPa

σ1− σ3
(σ1-σ3) 600 200 kPa
σ '3
(kPa) σ'3
400
100 kPa

200

0 1 2 3 4 5

ε1 (%)
Figura 4 Curvas tensão-deformação de ensaios triaxiais drenados em solos arenosos

φ'

500
τ
(kPa) Envoltória de Mohr- Coulomb

0
500 1000
σ ' (kPa)

Figura 5 Envoltória de Mohr-Coulomb em ensaios triaxiais

Parâmetros típicos de resistência


A Tabela 4 apresenta resultados típicos de parâmetros de resistência ao cisalhamento de solos
residuais de gnaisse encontrados no Rio de Janeiro.

Tabela 4 Parâmetros de resistência ao cisalhamento de solos residuais de gnaisse

9
Investigações geotécnicas

Local (referência) Características do solo Ensaios Coesão tan φ


realizados

Nº Tipo Valor COV n Valor COV n


médio (%) médio (%)
(kPa)
Rod. RJ-18- Solo micácio não 7 CD 35.7 24.7 19 0.36 8.8 5
Catingueiro submerso, paralelo à
(Campos,1974) xistosidade, cinza escuro
não submerso, paralelo à 5 CD 37.5 49.0 120 0.31 15.9 9
xistosidade, preto
não submerso, paralelo à 4 CD 40.7 42.1 60 0.56 9.7 5
xistosidade, cinza claro
não submerso, paralelo à 4 CD 39.0 28.0 24 0.35 9.9 5
xistosidade, branco
submerso, paralelo à 9 CD 29.4 20.7 14 0.39 4.8 3
xistosidade, cinza escuro
submerso, paralelo à 5 CD 25.9 20.4 14 0.35 4.5 3
xistosidade, preto
submerso, paralelo à 4 CD 12.9 130.4 x 0.60 8.8 5
xistosidade, cinza claro
submerso, paralelo à 4 CD 27.6 10.2 5 0.39 2.4 3
xistosidade, branco
não submerso, 4 CD 52.3 45.5 60 0.42 16.9 10
perpendicular à
xistosidade, cinza escuro
submerso, perpendicular 4 CD 49.2 44.5 60 0.40 17.2 10
à xistosidade, cinza
escuro
Campo solo residual gneissico 40 CD 55.2 13.4 7 0.64 3.5 3
experimental 1 da jovem não submerso
PUC – Rio
(Maccarini, 1980)
submerso 40 CD 38.1 15.2 9 0.62 2.8 3

submerso 28 CID 50.2 18.4 12 0.62 3.7 3

Campo colúvio 11 CID 70.0 30.1 27 0.35 18.5 12


experimental 2 da
PUC – Rio
(Marinho, 1986) solo residual de gneiss 6 CID 47.2 40.2 60 0.31 17.4 11
(saprolito)

COV = coeficiente de variação


CD = cisalhamento direto drenado
CID = triaxial consolidado isotropicamente drenado
n = número de ensaios

Critérios de investigações a realizar


O número, tipo e localização das investigações são determinadas pelo engenheiro geotécnico
responsável, com base nos resultados das inspeções preliminares. A título de exemplo, são
fornecidas algumas indicações no caso de um projeto de um muro com altura H e comprimento L =
100 m (Figura 6).

10
Investigações geotécnicas

A
Locação das sondagens
25 m

15 m
Localização
da estrutura
de contenção
A a projetar
100 m

Seção AA

Sondagem
a montante
2H

Sondagem
Sondagem
na posição
a jusante
do muro
H
2H

Figura 6 Exemplo de programação de investigações (a) planta, (b) seção transversal

Para este caso, a programação de investigações é:


• Sondagens: seis sondagens mistas que devem atingir uma profundidade de 2H ou, pelo menos 3
m em rocha.
• Todas as amostras devem ser classificadas por geólogo de engenharia, que assinará o boletim de
sondagens.

11
Investigações geotécnicas

Exemplo de investigação: o escorregamento do Soberbo


Um dos casos mais interessantes e complexos de investigações geotécnicas no Rio de Janeiro foi a
do escorregamento do Soberbo. O primeiro grande deslizamento neste local ocorreu em 1967,
atingindo a Estrada do Soberbo e a de Furnas, ambas interrompidas (Figura 7). Foram, então,
executadas obras de estabilização e o escorregamento foi considerado solucionado.
Anos após, os moradores da área notaram movimentos no terreno. Especialistas foram consultados
e foi realizada ampla campanha de investigações com sondagens, ensaios e instrumentação com
piezômetros e inclinômetros. O perfil geotécnico foi interpretado conforme indicado na Figura 8:
uma massa coluvial sobrejacente à rocha muito fraturada. Níveis d’água muito elevados foram
observados através de piezômetros instalados nos contatos litológicos. Os movimentos
continuavam e eram mais acelerados durante chuvas fortes. O fenômeno foi interpretado como
fluência no colúvio e por cerca de dez anos foram realizados estudos sobre este assunto.
Em 1988 ocorreu um deslizamento de grandes proporções destruindo uma cortina ancorada e
interrompendo novamente o tráfego na Estrada do Soberbo (Figura 8).
.

Estrada
do
Soberbo

Estrada
de
Furnas

0 100 m

0 100

Figura 7 Mapa do escorregamento do Soberbo de 1967

12
Investigações geotécnicas

Estrada
do
Soberbo

Cortina
ancorada

Deslizamento de 1988

Nível piezométrico
Rocha
fraturada
Colúvio

0 40 m

Figura 8 Perfil geotécnico estudado nas décadas de 70 e 80

Barros et al, 1994 analisaram o problema e decidiram realizar sondagens rotativas inclinadas com o
objetivo de localizar falhas estruturais. Descobriu-se uma família de diques de diabásio verticais
com vários metros de espessura e totalmente sãos em uma massa rochosa fraturada (Figura 9). Os
diques formavam uma verdadeira barragem subterrânea elevando os níveis piezométricos que
provocavam deslizamentos. Uma solução provisória de drenagem profunda conseguiu estabilizar
este deslizamento de causas tão complexas.

13
Investigações geotécnicas

Dique de
diabásio
Rocha
fraturada
Colúvio

0 40 m

Figura 9 Perfil geotécnico da década de 90, após estudo detalhado da geologia estrutural

14
Taludes em solo

Análise da estabilidade de taludes em solo

A S J Sayão

Introdução
Este capítulo trata da identificação dos tipos e causas de escorregamentos em encostas, dos
conceitos de segurança e das principais técnicas de análise da estabilidade de taludes.
A estabilidade de obras de engenharia é definida usualmente em termos determinísticos, através de
um fator de segurança (FS). A escolha do método de análise mais adequado é um aspecto relevante
a ser considerado, sendo função tanto da importância da obra quanto da qualidade dos dados
disponíveis. Em casos de taludes naturais, a análise da estabilidade pode fazer uso também de
técnicas probabilísticas, considerando que a escolha dos parâmetros mais relevantes está
inevitavelmente sujeita a incertezas. Assim, o cálculo da segurança de um talude inclui erros e/ou
imprecisões que são relativos não só aos parâmetros relevantes ao problema, mas também ao
método de análise adotado.

Objetivos
O principal objetivo da análise de estabilidade é verificar a condição de segurança de um talude
existente e a eventual necessidade de medidas preventivas ou corretivas, tais como obras de
contenção. No caso de taludes em projeto, as análises de estabilidade permitem definir a geometria
mais adequada ou econômica para garantir um nível mínimo de segurança, sob as diferentes
condições de solicitação naturais (ex: chuva, vegetação) ou decorrentes da ação do homem (ex:
sobrecarga, escavação, drenagem). Estudos de estabilidade de encostas podem, portanto, envolver
análises paramétricas de taludes, verificando-se a sensibilidade do fator FS para variações impostas
aos parâmetros geométricos e geotécnicos do problema.
Pode-se, também, retroanalisar escorregamentos já ocorridos, de modo a se obter informações sobre
os mecanismos de ruptura e aferição dos parâmetros geotécnicos relevantes ao estudo. Em uma
retroanálise de ruptura, sabe-se que FS = 1,0 e consideram-se as condições originais de geometria e
poropressão, determinando-se os parâmetros médios de resistência do material. Em contraste, nas
análises usuais de estabilidade, os parâmetros de resistência são normalmente estipulados com
conservadorismo, de forma a se estimar o valor do fator FS mínimo existente.
Classificação dos escorregamentos
As tabelas seguintes apresentam classificações de escorregamentos segundo a forma ou tipo do
movimento (Tabela 1), quanto às condições de amolgamento do solo (Tabela 2) ou quanto às
condições de drenagem (Tabela 3).

Tabela 1 Classificação dos escorregamentos quanto ao tipo de movimento

1 - Quedas (falls): decorrentes da ação da gravidade, ocorrem com velocidades elevadas.

2 - Tombamentos (toppling): rotação com basculamento de placas de material rochoso; causado pela ação da
gravidade ou poropressão em fissuras.
3.1 - Rotacionais: em geral 3.1.1 -simples: uma superfície de ruptura,
ocorrem com materiais rasa ou profunda .
3 - Escorregamentos (slides):
homogêneos; a massa instável
movimentos com superfícies de 3.1.2 - sucessivos: mais de uma superfície de
é considerada rígida .
ruptura bem definidas . ruptura; podem ser progressivos ou
retrogressivos .
3.2 - Translacionais: superfície de ruptura plana, relacionada com zonas de
fraqueza (falhas, contato solo/rocha, estratificação); movimento contínuo.
3.3 - Compostas: ocorrem em taludes naturais de solos não homogêneos,
com superfícies de ruptura não lineares
4.1.1 - Rasos: profundidade da massa em
movimento inferior a 5m .
4 - Escoamentos (flows): 4.1 - Lentos (creep): também
movimentos contínuos de denominados fluência, 4.1.2 - Profundos: profundidade da massa
solos, rochas e/ou detritos com ocorrem em materiais com em movimento superior a 5m .
zona de ruptura bem definida; comportamento plástico;
4.1.3 - Progressivos: movimentos com
material com comportamento movimentos contínuos sem
aceleração gradual com o tempo.
viscoso . superfície de ruptura definida,
sob tensões totais constantes 4.1.4 - Pós ruptura: a massa permanece em
movimento após o escorregamento;
movimentos usuais em talus e materiais
coluvionares.
4.2.1 - Corridas de terra (flow slides):
colapso de estruturas fofas de solos arenosos
4.2 – Rápidos (Corridas) :
e siltosos, com acréscimo de poropressão
em forma de língua com
devido a vibrações ou saturação.
espalhamento na base; usuais
em taludes suaves; material 4.2.2 - Corrida de lama (mudflow):
com comportamento de fluido movimentos rápidos em solos moles
pouco viscoso e sob condicões sensitivos.
não drenadas.
4.2.3 - Corrida de detritos (debris flow):
avalanches de grandes volumes de massas de
blocos de rocha, solo e detritos vegetais.

5 - Complexos: envolvem
vários tipos de movimentos;
comuns em encostas íngremes.

2
Tabela 2 Classificação dos escorregamentos quanto às condições de amolgamento

Escorregamentos Ocorrem em geral em material indeformado, com parâmetros de


virgens resistência associados à condição de pico da curva tensão-deformação.

Escorregamentos Ocorrem com material amolgado, em superfícies pré-existentes, que


reativados sofreram escorregamentos anteriores; a resistência do material tende
para a condição residual.

Tabela 3 Classificação dos escorregamentos quanto às condições de poropressão

Condições drenadas Poropressão associada a fluxo permanente no material.


(longo prazo) Dissipação total das poropressões geradas pelo cisalhamento.

Condições parcialmente drenadas Parte da poropressão gerada pelo cisalhamento é dissipada.


(prazo intermediário)

Condições não drenadas Materiais com baixo valor de coeficiente de adensamento c v .


(curto prazo) Geração de excessos de poropressão associados ao
cisalhamento do material.

Causas de escorregamentos
Os escorregamentos ou os movimentos de um talude são induzidos por fatores que contribuem para
o aumento da solicitação (tensões cisalhantes) ou para a redução da resistência do maciço. No
primeiro caso, o aumento das tensões cisalhantes é em geral devido a: sobrecarga no topo (aterros),
descarregamento na base (cortes ou erosões), vibrações (terremotos, máquinas), remoção de suporte
de sub-superfície (erosão por piping, cavernas, etc). No segundo caso, os fatores mais comuns para
a redução da resistência são: intemperismo físico-químico dos minerais, modificações estruturais
(fissuramento, amolgamento), aumento da poropressão (nos vazios de solos ou em fissuras de
rochas).

Tipos de análises de estabilidade


Existem duas formas de conduzir uma análise de estabilidade de taludes. A primeira é em termos de
tensões totais, correspondendo a situações de curto prazo (final de construção), em solos saturados,
sob condições não drenadas. A segunda é em termos de tensões efetivas, podendo corresponder a
situações de longo prazo (condições drenadas) ou de curto prazo (condições não drenadas). No caso
de estabilidade de encostas, recomenda-se a realização de análises em termos de tensões efetivas,
com avaliação criteriosa das condições de poropressão. Em particular, deve-se atentar para o nível
freático a ser atingido quando ocorrer a chuva máxima prevista em projeto.

Definição do fator de segurança (FS)


Existem várias definições possíveis para o fator de segurança, cada uma podendo implicar em
valores diferentes de FS. As definições mais usuais de FS em análises de estabilidade de taludes
são:

3
(a) Fator de segurança relativo ao equilíbrio de momentos: aplicado usualmente em análises de
movimentos rotacionais, considerando-se superfície de ruptura circular,

Mr
FS = ,
Ma

onde M r é o somatório de momentos das forças resistentes e M a é o somatório de momentos


das forças atuantes (ou solicitantes).
(b) Fator segurança relativo ao equilíbrio de forças: aplicado em análises de movimentos
translacionais ou rotacionais, considerando-se superfícies planas ou poligonais,

Fr
FS = ,
Fa

onde Fr é o somatório de forças resistentes e Fa é o somatório de forças atuantes.

Com estas definições, considera-se que um talude é instável para valores de FS inferiores à
unidade. No entanto, casos com taludes instáveis e FS > 1,0 não são raros na prática da
engenharia, devido às simplificações dos principais métodos de análise e à variabilidade dos
parâmetros geotécnicos e geométricos envolvidos nas análises.
A definição do valor admissível para o fator de segurança (FSadm) vai depender, entre outros fatores,
das conseqüências de uma eventual ruptura, em termos de perdas humanas e/ou econômicas. A
Tabela 4 apresenta uma recomendação para valores de FSadm e os custos de construção para
elevados fatores de segurança. Deve-se ressaltar que o valor de FSadm deve considerar não somente
as condições atuais do talude, mas também o uso futuro da área, preservando-se o talude contra
cortes na base, desmatamento, sobrecargas e infiltração excessiva.
Para taludes temporários, o valor de FSadm deve ser o mesmo recomendado na Tabela 4,
considerando-se, ainda, as solicitações previstas para o período de construção.
Para escorregamentos iminentes ou pré-existentes, a definição das medidas de remediação mais
adequadas é função da história do escorregamento. São necessárias investigações geológicas e
geotécnicas detalhadas (reconhecimento do subsolo, dados pluviométricos locais, dados de
monitoramentos da área, etc.) para a identificação da história do escorregamento. A Tabela 5 sugere
valores de FSadm para estes casos.
Nos casos onde a definição dos parâmetros de resistência do solo é imprecisa, é usual a adoção de
um fator de redução diretamente aplicado aos parâmetros de resistência ao longo da superfície de
ruptura:
c' tgφ '
i - em termos de tensões efetivas: τ = + σ 'N ;
F1 F2
Su
ii - em termos de tensões totais: τ = ,
F3
onde c’ e φ’ são os parâmetros efetivos de resistência, Su é a resistência não drenada (solos
argilosos saturados) e F1 , F2 , e F3 são os fatores de redução. Estes fatores dependem da qualidade
das estimativas dos parâmetros de resistência e podem variar entre 1,0 e 1,5.

4
Tabela 4 Recomendação para fatores de segurança admissíveis (modificado de GEO., 1984)

FS adm Risco de perda de vidas humanas


desprezível médio elevado
desprezível
Risco de perdas econômicas

1,1 1,2 1,4


médio

1,2 1,3 1,4


elevado

1,4 1,4 1,5

i) Fatores de segurança para tempo de recorrência de 10 anos .

ii) Para condições de riscos elevados e subsolo mole, o valor admissível


de FS pode ser majorado em até 10% .

Tabela 5 Fatores de segurança recomendados para remediação de escorregamentos existentes (GEO., 1984)

Risco de perda de vidas humanas

desprezível médio elevado


FS > 1,1 FS > 1,2 FS > 1,3

Obs.: Fatores de segurança para período de


recorrência de 10 anos .

Técnicas de análise
As técnicas de análise são divididas em duas categorias: métodos determinísticos, onde a medida da
segurança do talude é feita em termos de um fator de segurança; e métodos probabilísticos, onde a
medida de segurança é feita em termos da probabilidade ou do risco de ocorrência da ruptura.

5
Métodos determinísticos

Equilíbrio limite:
Neste tipo de análise, estão incorporadas as seguintes hipóteses: a superfície potencial de ruptura é
previamente conhecida ou arbitrada; a massa de solo encontra-se em condições iminentes de ruptura
generalizada (isto é, equilíbrio limite); o critério de ruptura de Mohr-Coulomb é satisfeito ao longo
de toda superfície de ruptura; e o fator de segurança é único ao longo da superfície potencial de
ruptura. Uma revisão crítica dos principais métodos de análise por equilíbrio limite foi apresentada
por Whitman e Bailey (1967). Estes métodos podem ser divididos em dois grupos principais:
(a) Métodos das fatias: a massa instável de solo é dividida em fatias verticais, sendo que a
superfície potencial de ruptura pode ser circular ou poligonal. Exemplos de métodos com
superfície circular: Fellenius (1936), Taylor (1949) e Bishop (1955). Exemplos com superfície
qualquer: Janbu (1973), Morgenstern e Price (1965) e Spencer (1967);
(b) Métodos das cunhas: empregam a técnica de dividir o material em cunhas ou lamelas com
inclinações variáveis nas interfaces e superfície de ruptura poligonal. Exemplos: métodos de
Sultan e Seed (1967), Martins et al (1979), Kovari e Fritz (1978) e Sarma (1979).
No caso de encostas naturais, o mecanismo de ruptura é controlado pelas características geológicas
do material. No caso de rochas alteradas de origem granito-gnáissica, as falhas, juntas e/ou
superfícies de estratificação são dominantes para a imposição de rupturas segundo superfícies
planas ou poligonais. O mesmo se dá quando a camada superficial de solo é pouco espessa,
favorecendo a ocorrência da ruptura ao longo da superfície de contacto solo-rocha. No caso de
taludes em colúvios ou em solos residuais maduros de grande espessura, as características
estruturais do material são em geral pouco relevantes, sendo as rupturas usualmente induzidas ao
longo de superfícies circulares.
No caso do escorregamento de um talude, a resistência disponível depende da distribuição das
tensões normais (σ) ao longo da superfície de ruptura. A influência sobre o valor de FS das várias
hipóteses de distribuições de σ foi estudada em detalhe por Frölich (1955), que sugeriu a existência
de um limite inferior e de um limite superior para os valores possíveis de FS. No caso de se usar o
teorema do limite inferior, obedece-se às equações de equilíbrio e ao critério de ruptura, sendo as
condições de contorno especificadas em termos de tensões. A análise baseada no limite inferior
pode definir um campo de tensões admissíveis não realista. No caso do teorema do limite superior,
obedece-se às equações de compatibilidade do problema, sendo as condições de contorno
especificadas em termos de deslocamentos e admitindo-se que o trabalho externo é igual à
dissipação de energia interna. A análise baseada no limite superior pode definir de forma incorreta o
mecanismo de ruptura. Hoek e Bray (1981) sugerem que a solução pelo limite inferior fornece um
valor de FS situado bem próximo ao valor real. Taylor (1948), usando o método do círculo de atrito,
concluiu também que a solução por limite inferior é suficientemente precisa para problemas
práticos envolvendo ruptura circular em taludes homogêneos.
A Tabela 6 apresenta um resumo dos principais métodos de equilíbrio limite normalmente usados
na prática da engenharia para análise da estabilidade de taludes.
Análises de estabilidade podem ser realizadas de maneira simples e rápida com o auxílio de ábacos
e gráficos, sendo particularmente úteis para fases preliminares de projeto ou para avaliações
paramétricas. Por questão de simplicidade, os ábacos são usualmente produzidos para taludes
homogêneos com inclinação superficial constante. No caso de um talude com mais de uma camada
de solo, valores médios dos parâmetros geotécnicos devem ser estimados, conhecendo-se a posição
aproximada da superfície crítica de ruptura. A Figura 1 apresenta o ábaco de Taylor (1948), que
fornece o valor da altura crítica (Hc) do talude para causar ruptura (FS = 1,0), considerando-se nível
d’água profundo. No ábaco de Taylor, a superfície de ruptura é considerada circular, passando pelo
pé do talude. Terzaghi e Peck (1967) indicam que esta posição da superfície de ruptura é

6
usualmente a mais desfavorável, exceto no caso de solos saturados sob condições não drenadas
(φ = 0).

12

11

º
25
φ=

º
20
Fator de estabilidade Ns = γHc / c
10

º
15
φ=
φ=

º
10
9

φ=


=
8 φ

6
Ns = 5, 52
β = 53º
5

3
90º 80º 70º 60º 50º 40º 30º 20º 10º 0º
Ângulo de inclinação do talude β

Figura 1 Ábaco de Estabilidade de Taylor (1948)

Uma série de ábacos para obter o valor de FS em taludes, considerando-se várias posições possíveis
para o nível d’água, é apresentada nas Figura 2 a Figura 6 (Hoek e Bray, 1981). Nestes ábacos, a
superfície crítica é também considerada circular, passando pelo pé do talude, com uma trinca de
tração existente em sua extremidade superior. Foram consideradas cinco situações distintas de linha
freática, definidas geometricamente pela razão Lw / H , onde H é a altura do talude e Lw é a distância
entre o pé do talude e o ponto onde a linha freática atinge a superfície do terreno. A situação
correspondente a solo saturado (Figura 6) é a mais desfavorável para a estabilidade, pois admite
uma ocorrência típica de chuva intensa, com fluxo de água paralelo à face do talude.

7
trinca

β H
superfície
crítica

0 1 2 3
200 4 5 6
7
8
9
180 10
11
12
13
160 14
15
16 c'
17 (x10-2)
18 γ H .tan φ'
140 19
20

120 25

β 30
100 90º
tan φ' 35
(x10-2)
FS 40
80
45
50
80º
60 60
70º 70
60º 80
40 90
50º 100
40º
30º 150
20 20º 200
10º 400
8

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34

c'
(x10-2)
γ H FS

Figura 2 Ábaco de Estabilidade de Hoek and Bray (1981): linha freática profunda.

8
LW

trinca
β H

superfície
crítica
0 1 2
200 3 4
5
6
7
8
180 9
10
11
12
13 c'
160 14 (x10-2)
15 γ H. tanφ'
16
17
18
140 19
20

120 25

β
90º 30
100
tan φ' x -2 40
( 10 )
FS 45
80
50
60
80º
60 70
70º
80
60º 90
40 50º 100
40º
30º
20º 150
20 10º 200

400
8

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34

c' (x10-2)
γ H FS

Figura 3 Ábaco de Estabilidade de Hoek and Bray (1981): linha freática com Lw = 8 H

9
LW

trinca
H
β

superfície
crítica

0 1 2 3
200 4 5
6
7
8
9
180 10
11
12 c'
13 (x10-2)
160 14 γ H. tanφ'
15
16
17
18
140 19
20

120 25
tan φ' β
FS
(x10 )
-2
90º 30
100
35
40
80 45
50
80º
60 60
70º 70
60º 80
50º 90
40 40º 100
30º
20º 150
20 200
400
8

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34

c'
(x10-2)
γ H FS

Figura 4 Ábaco de Estabilidade de Hoek and Bray (1981): linha freática com Lw = 4 H

10
LW

H
β

0 1 2 3
200 4 5
6
7
8
180 9
10 c'
11
12
(x10-2)
13 γ H. tan φ'
160 14
15
16
17
18
140 19
20

120
β 25
90º
tan φ'
(x10-2) 30
FS 100
35
40
80
80º 50
60
60 70º 70
60º 80
90
40 50º 100

150
20 200
400
0
8

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34

c'
(x10-2)
γ H FS

Figura 5 Ábaco de Estabilidade de Hoek and Bray (1981): linha freática com Lw = 2 H

11
trinca
β H

superfície
crítica

0 1 2 3
200 4
5
6
7
8
9 c'
180 10 (x10-2)
11 γ H. tan φ'
12
13
160 14
15
16
17
18
140 19
20

120 25
tan φ' (x10-2)
FS 100 30

35
β 40
80
80º 45
50
70º
60 60
60º
70
50º
40º 80
40 90
30º 100
20º 150
20 10º 200
400
0
8

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34

c' (x10-2)
γ H FS

Figura 6 Ábaco de Estabilidade de Hoek and Bray (1981): solo saturado

Exemplo
Este exemplo ilustra a utilização dos ábacos de estabilidade de Hoek e Bray (1981) apresentados
neste capítulo. Seja um talude a analisar com 15 m de altura e inclinação de 60 graus, conforme
indicado na Figura 7. Os parâmetros de resistência adotados neste exemplo são: c’= 20 kPa e

12
φ’ = 30 graus. O peso específico do material é 18 kN/m3, acima ou abaixo do nível d’água, o qual
está representado na Figura 7. Este caso corresponde ao ábaco da Figura 3.

60o
15 m

Figura 7 Exemplo de análise de estabilidade

A análise de estabilidade consta dos seguintes passos:


1. Selecionar o ábaco que mais se adapta ao caso de linha freática na encosta; neste caso é o ábaco
da Figura 3 (linha freática com Lw = 8 H ).
2. Calcular o valor da seguinte razão adimensional:

c 20
= = 0,13
γH tan φ 18 ×15 × tan 30

3. Entrar no ábaco selecionado (Figura 3) com o valor acima na linha radial, determinando-se o
ponto que corresponde ao talude com β = 60 graus. Obtém-se:

tan φ
= 0,58 ⇒ FS = 1,00
FS

4. O valor encontrado para o FS é muito baixo. Nesse caso será verificada uma solução de
estabilização por retaludamento, suavizando-se a inclinação do talude.
5. Entrando-se novamente no ábaco, mas com valores inferiores de ângulo β do talude, obtém-se:

tan φ
talude com β = 45 graus: = 0,52 ⇒ FS = 1,11
FS

tan φ
talude com β = 40 graus: = 0,44 ⇒ FS = 1,31
FS

6. Foi então adotado um talude de 40 graus de inclinação média, implantando-se uma banqueta a
meia altura para facilitar a drenagem e manutenção (Figura 8).

13
FS = 1,00 FS = 1,31

15 m 60o

40o

Figura 8 Exemplo de solução de retaludamento para estabilização do talude

Figura 9 Exemplo de suavização de talude com implantação de banquetas

Taludes infinitos
No Rio de Janeiro, são comuns situações onde a encosta apresenta-se com uma camada superficial
de solo com pequena espessura, sobre uma camada mais rígida de solo residual jovem ou de
embasamento rochoso. Em tais situações, a superfície crítica é paralela ao talude, conforme
ilustrado na Figura 10, e o talude é considerado infinito. Segundo Duncan (1996), o fator de
segurança de taludes infinitos pode ser expresso por:

tan φ ′ c′
FS = A +B
tan β γ .H

onde os parâmetros A e B são obtidos nos ábacos apresentados na Figura 11.

14
b
o
flux

a ial
E+dE Linh ipotenc
E qu
β
X+dX
X
W superfície
z E de ruptura
S

N
β
l

Figura 10 Talude infinito: forças atuantes em uma fatia genérica

1.0
0.1
0.2
0.8
0.3
0.6 0.4
Parâmetro
A 0.5
0.4 0.6
ru
0.2
1
b
0
0 1 2 3 4 5 6
β
10

8
tan β = 1/b
6
Parâmetro
B
4

0
0 1 2 3 4 5
Fator de inclinação b

Figura 11 Ábacos de Duncan (1996): talude infinito

Análise de tensões e deformações:


São satisfeitas as equações de equilíbrio e de compatibilidade e as relações entre tensão,
deformação e resistência do solo. As condições de contorno são especificadas em termos de
deslocamentos e/ou tensões. Para a solução destes problemas, é necessária a utilização de técnicas
numéricas, sendo o método dos elementos finitos a mais comum. Outras técnicas numéricas, como
as diferenças finitas e os elementos de contorno podem também ser utilizadas para o cálculo de FS.
Este tipo de análise requer dados sobre perfil geotécnico e determinação detalhada dos parâmetros
de deformabilidade e resistência dos materiais envolvidos. Estas análises são em geral sofisticadas,
sendo mais comuns em obras de grande porte. As principais aplicações são em estudos
paramétricos, retroanálises associadas a dados de instrumentação no campo, e investigações sobre o
15
mecanismo provável de ruptura. Podem ser realizadas análises bidimensionais (estado plano de
deformação) ou tridimensionais, sendo estas últimas mais caras e menos usuais. Um exemplo sobre
a aplicação deste método está apresentado por Lins e Celestino (1998).

Métodos probabilísticos
Este tipo de análise é relevante para confecção de mapas de risco de ruptura, mapas de ocupação e
aproveitamento de solos, etc. Os métodos probabilísticos são também aplicados em estudos de
estabilidade de taludes, com o objetivo de quantificar algumas incertezas inerentes ao fator de
segurança FS obtido por métodos determinísticos. Isto é em geral feito através de uma análise de
confiabilidade relativa, na qual determina-se o índice de confiabilidade (β) do fator de segurança.
Com base no valor de β e de uma hipótese sobre a distribuição da frequência do fator FS, pode-se
computar a probabilidade de ruptura (Pr) do talude. A consideração de uma distribuição normal
para o fator de segurança é mais simples e conduz a resultados satisfatórios em análises da
estabilidade de taludes (Avanzi e Sayão, 1998). Detalhes do método de cálculo da probabilidade de
ruptura estão apresentados por Christian et al (1994) e Guedes (1997).
Com estas análises, obtem-se estimativas do valor relativo de β ou Pr , pois são consideradas apenas
as incertezas possíveis de se quantificar, ou seja, aquelas relacionadas com os parâmetros
geotécnicos e geométricos considerados como variáveis do problema. Para cada um destes
parâmetros, são determinados estatisticamente o valor médio e o respectivo desvio padrão. Não
existem normas ou recomendações gerais para definição de valores admissíveis para β e Pr , os
quais devem ser estipulados caso a caso, em função do método adotado e das consequências de
eventuais rupturas (Guedes, 1997).
Uma descrição detalhada dos métodos probabilísticos pode ser encontrada no livro de Harr (1987).

16
Taludes em solo

Tabela 6 Principais métodos de análise de estabilidade de taludes em solo (continua)

Método Superfície Considerações Vantagens Limitações Fator de Segurança Aplicação


Método do círculo de Determinação do valor da altura crítica Hc
Método simples, Aplicado somente para algumas
Taylor (1948) atrito. Análise em termos c H Estudos preliminares.
circular com cálculos condições geométricas indicadas FS = c
(figura 1) de tensões totais. Taludes Hc = Ns Pouco usado na prática.
homogêneos.
manuais. nos ábacos. γ H
c'  tan φ '  Escorregamentos longos,
FS = .B +   .A
Estabilidade global Aplicado somente para taludes γ .z  tan α  com pequena espessura da
Método simples, B = s ec α . cosec α
Talude infinito representada pela com altura infinita em relação à massa instável; por
plana com cálculos
(figura 2) estabilidade de um fatia profundidade da superfície de A = (1 - r u .sec 2
α ) exemplo, uma camada fina
manuais. u
vertical. ruptura. ru = de solo sobre o
γ .z embasamento rochoso.
Resolução
Equilíbrio isolado de cada Considera cunhas rígidas. O Determinação gráfica dos erros em
Método das analítica ou
superfície cunha, compatibilizando- resultado é sensível ao ângulo (δ) polígonos de força para fatores F arbitrados. Materiais estratificados,
cunhas gráfica, com
poligonal se as forças de contato de inclinação das forças de Cálculo de FS por interpolação para erro com falhas ou juntas.
(figura 3) cálculos
entre cunhas. contato entre as cunhas. nulo.
manuais.
Método simples,
Considera o equilíbrio de
com cálculos F=
l ∑[c' b + (W − ub) tgφ ' ]
Bishop forças e momentos entre
manuais ou em Método iterativo. Aplicação ∑W senα mα Método muito usado na
simplificado as fatias. prática. O método
circular computador. imprecisa para solos  tanα . tanφ ' 
(1955) Resultante das forças mα = cosα . 1+ simplificado é recomendado
(figura 4) verticais entre fatias é
Resultados estratificados.
 F 
 para projetos simples.
conservativos.
nula.
.
Bishop e Para estudos preliminares
Aplica o método Facilidade de Limitado a solos homogêneos e
Morgenstern circular o Retirado diretamente de ábacos. em projetos simples de
simplificado de Bishop. uso. taludes superiores a 27
(1960) taludes homogêneos.
Tabela 6 - Resumo dos métodos de análise de estabilidade de taludes em solo (continuação)

Massa instável Uso simples.


Taludes Para materiais homogêneos, com Para estudos preliminares,
Hoek e Bray considerada como um
circular o 5 condições específicas de nível Retirado diretamente de ábacos com riscos reduzidos de
(1981) corpo rígido. Solução pelo inclinados de 10
freático no talude. escorregamento.
limite inferior. o
a 90 .
Superfícies de
Satisfaz o equilíbrio de Aplicado para solos homogêneos.
ruptura Grande utilização prática.
forças e momentos em Pode subestimar o fator de Pode ser calculado manualmente, com o
não realísticas. Devem ser consideradas as
Janbu (1972) cada fatia, porém despreza segurança. O método auxílio de ábacos, ou por programas de
circular Implementação limitações das rotinas de
as forças verticais entre as generalizado não tem esta computador.
simples em calculo.
fatias. limitação.
computadores.
Satisfaz todas as
condições de equilíbrio Considerações
Morgenstern e não estático. Resolve o mais precisas Não é um método simples. Exige Calculado por interações, com o uso de Para estudos ou analises
Price (1965) circular equilíbrio geral do que no método cálculos em computador. computadores detalhadas (retroanálises).
sistema. É um método de Janbu.
rigoroso.
Redução no
Método rigoroso, atende Método exige cálculos em
tempo de É aplicado como uma
Sarma não as condições de equilíbrio. computador. O método de Sarma Calculado por interações, com o uso de
cálculo, sem alternativa ao método de
(1973,1979) circular Considera forças sísmicas (1973) pode ser resolvido computadores.
perda de Morgenstern e Price
(terremotos). manualmente.
precisão.

18
Taludes em solo

(a) perfil do talude, com divisão em 2 cunhas (b) polígono de forças da cunha 1

Figura 12 Método das cunhas com superfície de ruptura poligonal

R
b A

H R W
i h

B α
C
U

w = γ.h.b = peso da fatia


u = u/l = poropressão na base
h = altura média da fatia
H = altura do talude
α = inclinação da base da fatia
i = inclinação do talude

Figura 13 Método de Bishop(1955): superfície de ruptura circular


d c

W1 u12
E'2 s
E'1
W'2 γ
E'1
u12 u12 θ1 wL
b p'
1
s2
v2 p u1
p'2 1

Figura 14 Método das cunhas

Análises de estabilidade de taludes

Modos de ruptura
Para a escolha do método de análise, deve-se considerar o modo de ruptura provável do talude. As
ruptura observadas em taludes de solo na cidade do Rio de Janeiro são normalmente rasas ou pouco
profundas. A profundidade dos escorregamentos é controlada principalmente pela espessura da
camada superficial de solo e pelas taxas de infiltração da água de chuva. Os escorregamentos na sua
maioria são caracterizados como corridas de terra, freqüentemente provocando danos (Amaral,
1992). Estas rupturas devem se iniciar como escorregamentos, transformando-se em corridas de
terra, e eventualmente corrida de detritos, devido à grande inclinação e à abundância de água de
chuva, que são condições usuais nas encostas da cidade do Rio de Janeiro.

Dados de entrada
Os principais dados de entrada para uma análise de estabilidade são:
(a) Topografia: deve definir a área de estudo e dar condições para o traçado dos perfis do terreno
nas seções críticas;
(b) Geologia: deve dar condições para definição da geologia nos perfis das seções críticas. Deve
ser observado o perfil de intemperismo, presença de colúvios e aterros, contatos de materiais
diferentes, afloramentos e planos de fraqueza;
(c) Parâmetros do material: os materiais envolvidos na ruptura são normalmente caracterizados
pela sua resistência ao cisalhamento de Mohr-Coulomb. Esta é usualmente expressa em termos
de parâmetros efetivos (c’ e φ’) ou totais (c = Su , φ = 0). No caso de encostas em solos
coluviais ou residuais, as análises são usualmente efetuadas em termos de tensões efetivas.
Parâmetros de resistência em termos de tensões totais são usados para solos saturados sob
condições não drenadas. Os valores dos parâmetros de resistência devem ser determinados a
partir de ensaios de laboratório em amostras indeformadas e representativas do material do
talude. Estes parâmetros podem ser eventualmente estimados a partir de ensaios de campo.
(d) Água subterrânea: Devem ser determinados os níveis da poropressão ao longo da massa
envolvida no estudo da estabilidade. Em solicitações drenadas, esta determinação pode ser feita
através da instalação de piezômetros no talude, observando-se a variação das poropressões
associadas à precipitação de chuva no local. Uma análise, para ser considerada confiável, deve

20
considerar um tempo de recorrência para a precipitação máxima, compatível com a vida do
projeto.
(e) Cargas externas: Devem ser consideradas as sobrecargas mais significativas, como por
exemplo: fundações, contenções, aterros, pilhas de estoque ou bota-fora, torres de transmissão,
tráfego, detonações, cravação de estacas, etc.

Escolha do método de análise


Para projetos preliminares e classificados como risco desprezível, o tempo consumido em análises
detalhadas não é justificado. Recomenda-se, nestes casos, o uso de métodos convencionais e
simplificados, com superfícies circulares de ruptura (ex: Bishop simplificado).
Para projetos classificados como risco pequeno a médio, recomenda-se o uso de métodos
simplificados com superfícies de ruptura não circulares (ex: Janbu), ou métodos rigorosos (ex:
Morgenstern & Price). Todavia, análises com superfícies de ruptura circulares (Bishop) podem ser
ainda ocasionalmente aplicadas em estudos preliminares. Para projetos de risco elevado, são
requeridos estudos geológicos e geotécnicos mais detalhados da área e análises rigorosas de
estabilidade (ex: Morgenstern & Price, Spencer ou Sarma).

Software
Existe no mercado uma grande variedade de softwares especializados para análise automática de
estabilidade de taludes em microcomputadores, com preços variando entre $500 e $5000 dólares
americanos. Os mais caros oferecem mais recursos de edição gráfica, enquanto os mais baratos
estão ainda em apresentados em DOS. O uso de um programa de computador permite analisar
casos complexos envolvendo camadas de materiais distintos, carregamentos aplicados sobre o
talude e condições variadas de poropressão, entre outras vantagens.

21
Taludes em rocha

Análise de estabilidade de taludes em rochas

J A R Ortigão

Introdução
Este capítulo versa sobre a estabilidade de taludes em rocha que teve um avanço considerável nos
últimos vinte anos principalmente quanto aos métodos de se estimar a resistência dos maciços
rochosos, do efeito das descontinuidades e métodos de análise. O assunto é muito bem descrito nos
seguintes trabalhos Hoek (1998), Hoek e Bray (1981), Wyllie e Norish (1996 a & b), Norish e
Wyllie (1996), Giani (1992) entre outros.
Este capítulo apresenta um resumo para os tipos de problemas mais encontrados no Rio de Janeiro.

1
Taludes em rocha

Tabela 1 Problemas típicos, características, métodos de análise e critérios de aceitação da segurança de taludes
em rocha (adaptado de Hoek, 1998)

Figura Problemas típicos Parâmetro críticos Métodos de Critérios de


análise aceitação

Deslizamentos Ruptura com geometria Fraturas regionais Equilíbrio limite O Fator de Segurança
complexa com superfícies Resistência ao com superfícies (FS) absoluto tem
de ruptura circulares ou cisalhamento dos de ruptura pouco significado, mas
poligonais envolvendo materiais ao longo das circulares e a variação do mesmo
deslizamento nas descontinuidades poligonais permite julgar as
descontinuidades soluções de
Poropressões,
estabilização
particularmente sob
chuvas intensas A monitoração de
movimentos e
poropressões é o
único meio seguro e
prático de julgar a
eficiência da obra de
estabilização
Maciço de solo ou rocha Ruptura circular em forma Altura e inclinação do Método de FS > 1.5 para taludes
estruturado por severas de concha através de solo talude equilíbrio limite com grande risco
descontinuidades ou rocha intensamente Resistência ao bidimensionais
fraturada cisalhamento ao longo com pesquisa
da superfície de ruptura automática da
superfície crítica
Poropressões

Rocha fraturada Cunha deslizando ao Altura do talude, Equilíbrio limite de FS > 1.5 para taludes
longo das inclinação e orientação cunhas com grande risco
descontinuidades da Mergulho e orientação
rocha das descontinuidades
Poropressões

Rocha com fraturas Queda de colunas ou Altura do talude, Métodos Não há critério
verticais blocos condicionados por inclinação e orientação simplificados de universalmente aceito,
fraturas verticais na rocha Mergulho e orientação investigação de mas é fácil identificar o
das descontinuidades potencialidade de potencial de ruptura.
ruptura Recomenda-se
Poropressões
monitorar
deslocamentos

Queda de blocos Deslizamento, rotação e Geometria do talude Estimativa da O mapeamento


queda de blocos soltos em Ocorrência de blocos trajetória de superficial, fotos
um talude soltos queda aéreas poderão
Coeficiente de permitir avaliação do
restituição dos materiais risco e soluções de
estabilização

Mecanismos de ruptura
O principais mecanismos de ruptura em taludes rochosos estão apresentados nas Figura 1 a Figura
5.

2
Taludes em rocha

• A ruptura planar é governada por uma descontinuidade principal que mergulha na direção do
talude (Figura 1).
• A ruptura em cunha envolve duas descontinuidades planares cuja interseção mergulha em
direção do talude (Figura 2).
• A ruptura por tombamento envolve lajes verticais ou colunas que mergulham quase
verticalmente próximas à face do talude (Figura 3).
• A ruptura circular, cuja superfície de deslizamento tem forma de concha, ocorre em massas
rochosas muito fraturadas ou em solos (Figura 4).
• A queda de blocos soltos consiste no deslizamento e ou tombamento de blocos que se projetam
ou deslizam no talude (Figura 5).

Figura 1 Mecanismo de ruptura planar: queda de blocos no Rio de Janeiro (Fotos GeoRio)

3
Taludes em rocha

Figura 2 Ruptura em cunha (foto Norish e Wyllie, 1996)

Figura 3 Ruptura por tombamento (foto Norish e Wyllie, 1996)

Figura 4 Ruptura circular (foto Norish e Wyllie, 1996)

4
Taludes em rocha

Figura 5 Queda de blocos soltos

Representação gráfica de descontinuidades


A representação gráfica e análise das descontinuidades é realizada através da técnica de projeção
estereográfica (Figura 6 e Figura 7). A primeira figura, apresenta a nomenclatura empregada e a
segunda, a representação de planos e retas.
A técnica representação estereográfica sofreu um grande avanço com o uso dos computadores. Um
dos programas mais populares é o Dips (Hoek et al, 1995)1, apresentado na Figura 8. Para um
determinado talude a analisar, Dips importa um arquivo com os dados digitalizados das
descontinuidades, plota os pontos correspondentes aos pólos dos planos representados e permite
analisar estatisticamente os dados.

1
Obtido através da Rocscience Ltd, rocscience.com

5
Taludes em rocha

Figura 6 Mapeamento de descontinuidades e representação estereográfica (Hoek e Bray, 1981)

Figura 7 Representação estereográfica de planos e retas (Hoek e Bray, 1981)

As técnicas de mapeamento e cadastramento de descontinuidades são objeto de outro capítulo deste


Manual.

Figura 8 Análise estereográfica através do programa Dips

A representação estereográfica de um talude permite caracterizar o tipo de ruptura, conforme


indicado na Figura 9.

6
Taludes em rocha

Figura 9 Representação estereográfica de cada tipo de ruptura (Hoek e Bray, 1981)

Resistência ao cisalhamento de descontinuidades


Todas massas rochosas contém descontinuidades que consistem em
planos de foliação, juntas, justas de cisalhamento e falhas. A

7
Taludes em rocha

pequenas profundidades onde as tensões são baixas, a possibilidade


de ruptura da rocha em si é mínima e o comportamento do maciço é
controlado pela não-rocha, ou seja, as descontinuidades. Para a
análise da estabilidade de um sistema de blocos individuais de
rocha é necessário entender os fatores que controlam a resistência
das descontinuidades.

Resistência ao cisalhamento de superfícies planas


Seja uma amostra de rocha a ser submetida a ensaio de
cisalhamento. Cada corpo-de-prova extraído desta amostra contém
um plano de foliação ao longo do qual a será cisalhado, cuja
superfície está cimentada e uma força de tração será aplicada para
provocar a separação das partes que compõem o corpo-de-prova. O
plano de foliação é absolutamente planar, sem irregularidades ou
ondulações.
A Figura 10 apresenta um esquema do ensaio de cisalhamento onde se
aplica a tensão normal σn ao plano de foliação e se mede a tensão
cisalhante τ necessária para causar o deslocamento δ. A tensão τ
aumenta rapidamente até atingir o pico da curva. Corresponde à
soma da resistência ao cisalhamento entre as duas partes que
compõem o corpo-de-prova mais a resistência do material de
cimentação da foliação. Continuando o ensaio, a tensão τ
decrescerá até atingir um valor residual e aí permanecerá
constante mesmo para grandes deformações. Plotando o diagrama de
Mohr-Coulomb (Figura 10), obtém-se as envoltórias de pico e residual
indicadas. Em superfícies planares, os pontos que compõem as
envoltórias geralmente se alinham segundo retas. A envoltória de
pico tem inclinação φ e intercepto na origem c. A envoltória
residual tem inclinação φr. As equações que representam as
envoltórias de Mohr-Coulomb são:
Envoltória de pico: τ = c + σ n tan φ
Envoltória residual: τ = σ n tan φ r
onde
c = coesão da superfície cimentada
φ = ângulo de atrito de pico
φr= ângulo de atrito residual

8
Taludes em rocha

τ
σn

τ τ
φr

δ σ

Figura 10 Ensaio de cisalhamento em descontinuidade

O ângulo de atrito de pico φ pode ser considerado como constituído


de duas parcelas:
φ = φb + i
Onde φb é denominado atrito básico entre suas superfícies planares e
i corresponde à influência da rugosidade. Este conceito é
semelhante à analogia do dente de serra e serve para explicar o
efeito da dilatância das areias compactas que consta de vários
textos de mecânica dos solos (e.g. Ortigão, 1995).

(φb+ i)

σn

Figura 11 Analogia do dente de serra (Patton, 1966)

O critério de ruptura de Barton


Barton e colaboradores (1973, 1976, 1977, 1990) estudaram o
comportamento das rochas e propuseram a seguinte equação para a
envoltória de resistência ao cisalhamento:
  JCS 
τ = σ n tan φb + JRC log 
  σ n 
onde:

9
Taludes em rocha

JRC = coeficiente de rugosidade da rocha


JCS = resistência à compressão

Estimativa de JRC
O coeficiente de rugosidade da rocha JRC é um número que é
avaliado comparando a aparência da superfície com perfis
publicados por Barton e outros. A Figura 12 e a Figura 13 permitem
estimar este coeficiente.

Rugosidade da superfície JRC

JRC = 0 - 2

JRC = 2 - 4

JRC = 4 - 6

JRC = 6 - 8

JRC = 8 - 10

JRC = 10 - 12

JRC = 12 - 14

JRC = 14 - 16

JRC = 16 - 18

JRC = 18 - 20

0 5 cm 10

Figura 12 Estimativa de JRC (Barton e Choubey, 1977)

10
Taludes em rocha

amplitude da rugosidade

comprimento

400 20
300 16
12
200 10
8
6

JRC
100 5
4
3

50
2
30
amplitude da rugosidade (mm)

20 1

10 0.5

0.5
0.4
0.3

0.2

0.1
0.1 0.2 0.3 0.5 1 2 3 4 5 10

comprimento (m)

Figura 13 Método alternativo para estimativa de JRC (Barton , 1982)

Estimativa de JCS
O coeficiente JCS deve ser estimado de acordo com o método sugerido pela International Society
for Rock Mechanics (ISRM, 1978). O esclerômetro de Schmidt foi proposto por Deere e Miller
(1966) para estimar a resistência à compressão da superfície da junta, conforme ilustrado na Figura
14. Este equipamento é semelhante ao empregado na avaliação de propriedades do concreto e
consta de um cilindro que contém um pistão ou martelo acionado por uma mola. Quando esta é
disparada, faz com que o pistão bata sobre a superfície da rocha e retroceda. O retrocesso do
mesmo é medido por um dispositivo simples e é utilizado, conforme indicado na Figura 14.

11
Taludes em rocha

400
350 32

peso específico da rocha (kN/m 3)


300
30
250 28
200
26
resistência a compressão uniaxial (MPa)

24
150
22
20
100
90
80
70
60

50

40

30

20

orientação do
martelo
10
0 10 20 30 40 50 60

0 10 20 30 40 50 60

0 10 20 30 40 50 60

0 10 20 30 40 50 60

Figura 14 Estimativa da resistência à compressão da superfície da junta com o esclerômetro de Schmidt

Correção de JRC e JCS devido à escala


Barton e Bandis (1982) propuzeram correções de escala em JRC através da seguinte equação:
−0.02 JRC0
L 
JRCn = JRC0  n 
 L0 
onde JRC0 e L0 (comprimento) correspondem a corpos-de-prova de laboratório com 100 mm de
comprimento e JRCn e Ln correspondem ao tamanho do bloco in situ
O outro fator de escala a ser considerado (Barton e Bandis, 1982) leva em conta a redução de JCS
através de equação:
−0.03 JCS0
L 
JCS n = JCS 0  n 
 L0 

12
Taludes em rocha

onde JCS0 e L0 (comprimento) correspondem a corpos-de-prova de laboratório com 100 mm de


comprimento e JCSn e Ln correspondem ao tamanho do bloco in situ

Resistência de descontinuidades preenchidas


Se a descontinuidade da rocha for preenchida com solos, isso terá
grande influência na resistência. Barton (1974) apresenta revisão
bastante abrangente do assunto, resumida na Tabela 2.

Tabela 2 Resistência ao cisalhamento de descontinuidaes preenchidas (adaptado de Barton, 1974)

Material Descrição Pico Residual

c (MPa) φ (o) c (MPa) φ (o)


Bentonita Veio de bentonita em calcário 0.015 7.5
Camada fina 0.09 – 0.12 12 - 17
Ensaio triaxial 0.06 – 0.1 9 - 13
Argilas Argila pré-consolidadada 0 – 0.18 12 - 18 0 – 0.03 10 -16
Granito Descontinuidade preenchida com 0 – 0.1 24 - 45
argila
Idem areia 0.05 40
Zona de falha em granito muito 0.24 42
fraturado

A tabela indica grande dispersão de resultados, entre 24 e 45


graus, se a descontinuidade for preenchida com argila. Se a
superfície da rocha for rugosa, a ruptura ocorrerá no solo com
ângulo de atrito residual. A resistência poderá ser estimada
através da Figura 15.

Kanji ( 1970, 1974)

Lupini et al ( 1981)
30º
Fleisher ( 1972)
Ângulo de atrito residual , φ'res.

20º
φ'res = 46.6/ (IP) 0,446

10º


0 20 40 60 80 100

Índice de plasticidade , IP (%)

13
Taludes em rocha

Figura 15 Estimativa de ângulo de atrito residual em argilas em função do índice de plasticidade (IP), (Kanji,
1998)

Efeito da pressão da água


A pressão da água ou poropressões no maciço rochoso atua nas descontinuidades reduzindo a
tensão normal de contato σn. A resistência ao cisalhamento deve, então, ser tomada em relação às
pressões normais efetivas ( σ n′ ) de acordo com equação de Terzaghi σ n′ = σ n − u .

Parâmetros de resistência equivalentes de Mohr-Coulomb


Os engenheiros geotécnicos estão acostumados a empregar os
parâmetros de Mohr-Coulomb, em lugar dos de Barton descritos
anteriormente. Esta equação, entretanto, não é linear e, por
isso, só é possível obter parâmetros equivalentes de Mohr-Coulomb
correspondentes a determinados níveis de tensão normal (Figura 16).

φi

c'

σ
Figura 16 Parâmetros Mohr-Coulomb equivalentes

Os parâmetros instantâneos de Mohr-Coulomb (ci e φi) são dados pelas


seguintes equações:
 ∂τ 
φi = arctan 
∂σ
 n
ci = τ − tan φ i
onde:
∂τ  JCS  π JRC  2  JCS  
= tan JRC log + φ b  −  tan  JRC log + φ b  + 1
∂σ n  σn  180 ln 10   σn  

Retroanálise de rupturas
A retroanálise de rupturas é a maneira mais confiável de se obter valores de parâmetros de
resistência. O valor do FS é conhecido e os resultados podem ser representados com os da Figura
15.

14
Taludes em rocha

58º superfície
de ruptura

50 m
20º

200

150
coesão (kPa)

100

50

5 10 15 20 25 30

ângulo de atrito (graus)

Figura 17 Exemplo de retroanálise de ruptura

Análise de estabilidade
As técnicas de análise de estabilidade de taludes em rocha serão vistas neste item abrangendo:
ruptura planar, em cunha, tombamento e queda de blocos.

Ruptura planar
A ruptura planar consiste no deslizamento de uma massa de solo segundo uma superfície de
deslizamento que se aproxima de um único plano. É um caso muito comum no Rio de Janeiro.
O método de análise consiste numa análise bidimensional de uma cunha conforme indicado na
Figura 18. O fator de segurança é calculado somente com as equações de equilíbrio de forças
horizontais e verticais.

15
Taludes em rocha

αW

U
H T
θ zw
W 1/2 zw
ψf ψp

Figura 18 Ruptura planar

O fator de segurança é obtido pelas seguintes equações:


c A + (W (cos Ψ p − α sen Ψ p ) − U + T cos θ ) tan φ
FS =
W (sin Ψ p + α cos Ψ p ) − T sin θ
onde:
H
A=
sin ψ p

γ H2
W = (cot ψ p − cot ψ f )
2
γ w H w2
U=
4 sin ψ p

b
ψs

z
αW V zw
W
T U
θ
H

ψf

Figura 19 Ruptura planar com trinca de tração com água

16
Taludes em rocha

Um caso particular e com grande redução no valor do FS é a ocorrência de uma trinca de tração no
topo do talude, principalmente se preenchida com água (Figura 19). Nesse caso, as equações para o
álculo do FS são:
c A + (W (cos Ψ p − α sen Ψ p ) − U − V senΨ p + T cos θ ) tan φ
FS =
W (senΨ p + α cos Ψ p ) + V cos Ψ p − T senθ
onde:
z = H + b tan Ψs − (b + H cot Ψ f ) tan Ψ p

A = ( H cot Ψ f + b) sec Ψ p

W = 0.5 γ ( H 2 cot Ψ f X + bHX + bz )

X = 1 − tan Ψ p cot Ψ f

γ w zw A
U=
2
γ w z w2
V =
2

Tabela 3 Simbologia e unidades empregadas

Símbolo Descrição Unidade

H Altura do talude m
Ψf Inclinação da face do talude graus
Ψs Inclinação da parte superior do talude ou berma graus
Ψp Inclinação da superfície de ruptura graus
b Distância da trinca de tração da crista do talude m
α Coeficiente de aceleração horizontal, devido à explosão próxima ou
sismicidade, dado em relação à aceleração da gravidade
T Força de ancoragem (se existir) por metro linear MN/m
θ Ângulo de inclinação da ancoragem em relação à normal à superfície de graus
ruptura
c Coesão na superfície de ruptura MPa
φ Ângulo de atrito da superfície de ruptura graus
3
γ Peso específico da rocha MN/m
3
γw Peso específico da água MN/m
zw Altura de água na trinca de tração m
z Profundidade da trinca de tração m
U Força de submersão da água por metro linear MN/m
V Esforço instabilizante da água por metro linear MN/m
W Peso do bloco de rocha por metro linear MN/m
2
A Área da superfície de ruptura por metro linear m

17
Taludes em rocha

Exemplo
Seja um talude com 12 m de altura cuja geometria é apresentada na Figura
20. O demais dados estão apresentados na Tabela 4. O valor do FS
calculado sem a força de ancoragem é de 0.6. O valor da força T foi
incrementado, calculando-se of FS’s correspondentes. Os resultados estão
apresentados na Figura 21, mostrando que para atingir um FS de 1.5,
necessita-se de uma força de ancoragem de 0.4 MN/m.

5m

15º
8.86 m

3m
W

12 m U
0 MN/m
20º

80º

Figura 20 Exemplo de análise de estabilidade de cunha com trinca de tração

Tabela 4 Dados do exemplo de análise de estabilidade de cunha com trinca de tração

18
Taludes em rocha

Símbolo Descrição Valor

H Altura do talude 12 m
Ψf Inclinação da face do talude 80 graus
Ψs Inclinação da parte superior do talude ou berma 11 graus
Ψp Inclinação da superfície de ruptura 30 graus
b Distância da trinca de tração da crista do talude 5m
α Coeficiente de aceleração horizontal 0
T Força de ancoragem por metro linear (Variável) 0 MN/m
θ Ângulo de inclinação da ancoragem em relação à normal à superfície de 20 graus
ruptura
c Coesão na superfície de ruptura 0 MPa
φ Ângulo de atrito da superfície de ruptura 25 graus
3
γ Peso específico da rocha 0.027 MN/m
3
γw Peso específico da água 0.01 MN/m
zw Altura de água na trinca de tração 3m
z Profundidade da trinca de tração (Calculado) 8.86 m
U Força de submersão da água por metro linear (Calculado) 0.123 MN/m
V Esforço instabilizante da água por metro linear (Calculado) 0.045 MN/m
W Peso do bloco de rocha por metro linear (Calculado) 1.63 MN/m
2
A Área da superfície de ruptura por metro linear (Calculado) 8.22 m

2.0

FS
1.5

1.0

0.5

0.0
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6

T (MN/m)

Figura 21 Exemplo: Estudo de sensibilidade do FS ao valor da carga de ancoragem aplicada

Ruptura em cunha
A ruptura de uma cunha de deslizamento é tratada como um problema de um bloco rígido
deslizando sobre os dois planos que a formam. Este assunto é vastamente explorado por vários
autores, especialmente no livro de Hoek e Bray (1981) que apresentam todo o desenvolvimento
matemático do problema. Não é objetivo deste manual apresentar todas as equações para a análise
de estabilidade. O assunto será tratado resumidamente através de um exemplo com programa de
computador Swedge2, desenvolvido da Universidade de Toronto. Este programa importa

2
Disponível através da empresa Rocscience Ltd (www.rocscience.com)

19
Taludes em rocha

diretamente os resultados da análise estereográfica do Dips e os apresenta graficamente na dados na


tela. Permite selecionar para a análise os sistemas de juntas que formam cunhas, simular juntas de
tração preenchidas com água e a aplicação de ancoragens e chumbadores para estabilizar o talude.
O exemplo seguinte demonstra o uso do Swedge. Seja uma investigação de campo que identificou
as seguintes descontinuidades em um talude em rocha:

Conjunto de fraturas Mergulho (graus) Direção do mergulho (graus)

Foliação 48 168
Fraturamento 45 265
Deseja-se cortar o talude com altura de 12 m, face mergulhando a 76 graus com direção do
mergulho de 196 graus. A resistência ao cisalhamento nos planos de foliação e fraturamento foi
estimada com ângulo de atrito de 30 graus e coesão nula.
A representação estereográfica da maior cunha formada no talude é obtida pelo Swedge e consta da
Figura 22. Os círculos indicados correspondem respectivamente à foliação (círculo 1), fraturamento
(círculo 2) e face do talude (FS = face slope). O passo seguinte é o cálculo do valor do fator de
segurança. O cálculo pelo Swedge fornece fator de segurança de 0.67 e massa da cunha de 2018
toneladas.
Para estabilizar o talude, aumentando-se o FS até valores seguros, Swedge permite utilização de
ancoragens ou chumbadores. São introduzidos a partir da tela de cálculo apresentada na Figura 23.
Neste exemplo, empregou-se um chumbador com carga de 30 MN, capaz de elevar o fator de
segurança para 1.25.

Figura 22 Projeção estereográfica da cunha, programa Swedge

20
Taludes em rocha

Figura 23 Programa Swedge: cunha analisada, cálculo do fator de segurança adotando-se ancoragem

Tombamento de blocos
O tombamento é uma situação de instabilidade freqüente no caso de massas rochosas subdivididas
em blocos e lajes, ou no caso de colunas de rocha formadas por fraturamento paralelo à face do
talude. Hoek e Bray (1981) subdivide as formas de tombamento em primárias e secundárias (Figura
24 e Figura 25).

21
Taludes em rocha

Tombamento por flexão em


rocha dura com descontinuidades
quase verticais

Tombamento de blocos em
rocha dura

Tombamento e flexão de colunas


de blocos

Figura 24 Formas de tombamento primário (Hoek e Bray,1981)

22
Taludes em rocha

Tombamento por ruptura da camada superior

Tombamento e deslizamento de colunas de rocha


devido ao intemperismo do material inferior

Tombamento por fraturas de tração


em material coesivo

Figura 25 Formas secundárias de tombamento (Hoek e Bray,1981)

Não há critérios de análise universalmente aceitos, sendo que uma discussão detalhada foge do
escopo deste manual.
A estabilização de taludes sujeitos ao tombamento pode ser realizada através de: redução da altura,
corte para implantação de banquetas, fixação de blocos ou lajes por ancoragens ou chumbadores e
preenchimento de fraturas verticais com calda de cimento.

Queda de blocos
A queda de blocos ou lascas é um problema tradicional no Rio de Janeiro e muitas obras da GeoRio
foram realizadas por conta deste fenômeno. Na maioria das vezes a queda está associada às chuvas
intensas de verão. Alguns casos clássicos serão comentados a seguir:
Uma situação de grande risco no Rio de Janeiro são as construções próximas aos taludes das antigas
pedreiras. Há casos clássicos como as Pedreiras do Morro da Providência, próxima à Cidade Nova
(Figura 26). Foi explorada no século passado e foi ocupada por barracos pelos soldados e
sobreviventes que retornaram da Guerra de Canudos. O local começou, então, a ser chamado de
Morro da Favela, em alusão a um dos morros que circundavam o povoado de Canudos. Este fato
deu origem ao nome favela.

23
Taludes em rocha

Figura 26 Escarpa rochosa deixada por antiga pedreira no Morro da Providência (Fotos GeoRio)

Figura 27 Blocos soltos necessitanto estabilização (Fotos GeoRio)

24
Taludes em rocha

Figura 28 Deslizamento de blocos, Linha Amarela, Rio de Janeiro (Foto GeoRio)

Outro caso clássico é a Estrada Grajaú-Jacarepaguá, que atravessa a Serra do Mateus na zona norte
da cidade. Foi construída na década de 50 e duplicada nos anos 70. A estrada atravessa região
montanhosa e de talus, com quantidade muito grande de blocos soltos, alguns dos quais com
dimensões de 10 m ou maiores. Foram registrados muitos deslizamentos neste local nas grandes
chuvas no Rio. A quantidade de blocos soltos é tal que a estabilização por fixação individual é
impossível.
Dependendo da inclinação do talude o deslocamento do bloco pode ser por rolamento, deslizamento
ou queda livre (Figura 29). Em casos complexos, a trajetória de um bloco pode ser simulada
numericamente por computador. Um exemplo essa simulação através é apresentado na Figura 30.
Foi empregado o programa Grocks3, desenvolvido na Universidade de Toronto.
A partir do momento que o movimento de um bloco começa, o fator mais importante que controla a
trajetória do mesmo é a geometria do talude. Superfícies do talude em rocha sã de granito e gneiss,
casos freqüentes no Rio de Janeiro, não amortecem a queda, como aconteceria em solos, e facilitam
o deslocamento da massa rochosa.

3
Disponível através da Rocscience Ltd, www.rocscience.com

25
Taludes em rocha

30 graus

45 graus rolamento de blocos


altura
60 graus
deslizamento de blocos
profundidade
distância
queda de blocos

Figura 29 Queda, deslizamento e rolamento de blocos (FHWA, 1991)

Figura 30 Análise da trajetória de queda, programa Grocks

26
Escolha da solução

Escolha da solução

J A R Ortigão e H Brito

Introdução
A realização completa de um projeto de estabilização implica em três fases distintas:
diagnóstico, solução e monitoramento (Figura 1). A primeira foi objeto de três capítulos
anteriores deste Manual e incluem a identificação do movimento de massa somado aos
estudos geológicos e geotécnicos (Figura 2). Ao final da fase de diagnóstico o engenheiro
está de posse de todos os elementos que lhe permitem, então, decidir sobre a solução a adotar.
Este capítulo tem por objetivo ser um guia preliminar para esta decisão.

Fases do projeto

Diagnóstico Solução Monitoramento

Figura 1 Fases de projeto

Diagnóstico

Estudos Estudos
geológicos geotécnicos

Figura 2 Fase de diagnóstico

1
Escolha da solução

Na maioria dos casos existe mais de uma alternativa de solução. A escolha será decidida por
aquela de menor custo.
A terceira fase será objeto de discussão no capítulo de Instrumentação de Taludes.

Taludes em solo
As diversas soluções que são objeto deste Manual constam da Figura 3. A drenagem e a
proteção superficial são soluções sempre presentes na estabilização de taludes. As demais
podem variar caso a caso.
Alternativas
de solução

Retaludamento

Drenagem e
proteção
superficial

Muros

Taludes em
solo

Cortinas
ancoradas

Reforço com
geossintéticos

Solo grampeado

Figura 3 Fase de solução, taludes em solo, alternativas

A Figura 4 apresenta um fluxograma para auxiliar a escolha da solução.

2
Escolha da solução

Suavização

Retaludamento
Bermas ou
banquetas

Solo grampeado
Cortes

Cortinas
ancoradas
Taludes em Drenagem e
solo proteção
superficial

Muros

Aterros

Reforço com
geossintéticos

Figura 4 Escolha da solução para taludes em solo

Os seguintes aspectos também são relevantes para a escolha da solução em taludes em solos:
• Acesso e meios de transporte: se o acesso é difícil, como frequentemente ocorre no Rio de
Janeiro, pode-se utlizar meios não convencionais: através de teleféricos, pelos próprios
trabalhadores, com o uso de mulas ou helicóptero (Figura 5). Portanto, equipamentos e
materiais de maior porte são inadequados.

3
Escolha da solução

Figura 5 Transporte de equipamentos para locais de difícil acesso: transporte com helicóptero, mulas,
teleférico e trabalhadores (Fotos GeoRio)

• Altura do talude: os muros em geral são economicamente eficientes para pequenas alturas,
até 3 m. Acima deste valor, as soluções de reforço de solo tendem a ser mais econômicas.
• Drenagem: solução presente em todos os taludes.
• Retaludamento: depende da disponibilidade de área livre para a implantação de novo corte
e banquetas.
• Cortinas ancoradas: solução tradicional muito empregada pela flexibilidade de poder ser
aplicada em cortes (método construtivo descendente) e aterros (método construtivo
ascendente). O sistema de contenção com ancoragens pré-tensionadas é suficientemente
rígido para limitar os deslocamentos do terreno. Por isso é aconselhado também em casos
em que se deseja reduzir efeitos de deslocamentos em construções e fundações muito
próximas.
• Solo grampeado: em cortes ou escavações é em geral a que apresenta o menor custo, pois
os equipamentos trabalhos nas banquetas do corte, sem andaimes. É facilmente aplicada a
taludes inclinados, sem a necessidade cortes adicionais para a verticalização da parede.
• Muros ou taludes de solo reforçado: em geral a solução mais barata para aterros com
alturas maiores que 3 m e com extensões maiores que 20 m. Pode-se adotar a solução de
solo compactado e envelopado com geossintético. A face pode ser executada com
elementos de concreto armado, pari passu ao aterro compactado, ou uma alvenaria a
posteriori, O primeiro tipo pode ser aplicado mesmo em solos de fundação de baixa
capacidade de carga, pois o muro resultante é muito flexível, com maior capacidade de
adaptação a recalques diferenciais. Já os muros em que a face de concreto é executada à
medida que o muro é construído, exigem fundação competente.

4
Escolha da solução

Taludes com contato solo rocha


Taludes que apresentam contato solo-rocha, como o caso de um depósito de talus junto a uma
escarpa rochosa (Figura 6), têm como necessidade primordial a drenagem. Nesse caso, é
necessário evitar a penetração da água de chuva no talus. Isso é conseguido com a
implantação de canaletas fixadas no sopé da escarpa.

Figura 6 Escarpa rochosa em contato com talus (fotos GeoRio)

Taludes em rocha
As soluçoes de projeto para os taludes em rocha, ou em tálus com blocos soltos, constam da
Figura 7. A definição da solução depende de vários fatores indicados nesta figura.
Os tipos de solução foram agrupados da seguinte maneira:: eliminação, estabilização ou
convivência (Figura 7). O primeiro tipo procura-se eliminar o problema (Figura 8),
relocando-se a estrutura em risco, ou eliminando-se a causa, através do desmonte do bloco ou
talude causador do risco.

5
Escolha da solução

Eliminação

Caracterização do problema

Localização
Situação
Inclinação do talude
Risco
Taludes em Volume e forma dos blocos Decisão
Estabilização
rocha Centro de gravidade de projeto
Estruturas
Litologia
Grau de alteração
Condição de apoio
Praça de trabalho
Bota-fora

Convivência

Figura 7 Alternativas de solução, taludes em rocha

Nos casos em que se adota solução de estabilização do maciço, as soluções constam da Figura
9.

Desmonte e
fragmentação de
blocos

Eliminação

Relocação da
estrutura sujeita a
risco

Figura 8 Taludes em rocha, solução de eliminação do problema

6
Escolha da solução

Com
contrafortes

Ancoragens e e
chumbadores

Com grelhas

Implantação de
banquetas

Preenchimento de
Estabilização
fissuras

Proteção Concreto
superficial projetado

Drenagem

Figura 9 Estabilização de taludes em rocha

Banquetas para
redução de
energia
Barreiras
flexíveis

Barreiras e muros
de impacto

Muros rígidos

Convivência
Tela metálica
com problema

Trincheira para
coleta de blocos

Túnel falso

7
Escolha da solução

Figura 10 Taludes em rocha, convivência com o problema

O terceiro tipo de solução para taludes em rocha é a convivência com o problema. Isso se
aplica em taludes muito fraturados ou com grande quantidade de blocos soltos em que a
fixação ou desmonte são antieconômicos. As alternativas de convivência com o problema
constam da Figura 10.

Resumo das soluções


A Tabela 1 resume as soluções de estabilização de talude que constam deste Manual.

Tabela 1 Resumo das soluções de estabilização

Ancoragens com grelhas

Remoção de blocos
Cortinas ancoradas

Concreto projetado

Barreiras flexíveis
Muros de impacto
Ancoragens com
Solo grampeado
Retaludamento

Material Tipo de ruptura

Solo reforçado

Chumbadores

Tela metálica
contrafortes
Drenagem

Muros

Solo ou
rocha a a a a a a
m uito
fraturada

a a a a a a

a a a a a

Rocha

a a a a

a a a a a a a

8
Drenagem e Proteção Superficial

2.Drenagem e Proteção Superficial

Denise Gerscovich

2.1 Introdução
A instabilização de taludes naturais se deve a diversos fatores, tais como: ação do homem
(cortes e aterros), variações das condições hidrológicas do talude etc. Independentemente das
soluções adotadas para estabilização de uma encosta, o controle das condições de drenagem é
fundamental e se faz presente em todos os projetos. Em alguns casos, a simples utilização de
um sistema de drenagem, combinado com elementos de proteção superficial, pode se
apresentar como uma solução suficiente para conter o mecanismo de instabilização.
Este capítulo trata dos efeitos da água na estabilidade do talude e descreve os métodos para
dimensionamento de sistemas de drenagem superficial, proteção de talude e drenagem
profunda.

2.2 Balanço hídrico


Na natureza existe um sistema de circulação de água que envolve processos de precipitação,
condensação e evaporação. Este sistema, denominado ciclo hidrológico, está
esquematicamente representado na Figura 1. A equação que estabelece os componentes deste
processo, denominada balanço hidrológico, pode ser expressa da seguinte forma:

P = Q + E + I + ∆W + χ
onde P representa a precipitação total; Q o fluxo superficial (runoff), E a parcela perdida por
evapotranspiração;, ∆W a variação do nível do reservatório (rios, lagos e mares); I a variação
de umidade do solo decorrente do processo de infiltração, e χ perdas adicionais, que incluem
interceptação pela vegetação e armazenamento parcial em depressões superficiais.

1
Drenagem e Proteção Superficial

Precipitação
Evaporação
Interceptação
pela vegetação

Evapotranspiração

Fluxo sub-superficial
Infiltração
Fluxo superficial (Runoff)

Nível Freático

Fluxo Interno

Rocha

Figura 1 - Esquema do ciclo hidrológico

Quando uma determinada quantidade de água chega à superfície de um solo não saturado,
inicia-se um processo de infiltração, essencialmente vertical, em decorrência da ação conjunta
de forças capilares e gravitacionais.
Dependendo da intensidade de chuva e duração da chuva, do ângulo do talude, da capacidade
de infiltração do solo (infiltrabilidade) etc. é possível encontrar situações em que todo o
volume de água é absorvido pelo solo ou situações em que parte deste volume escorre
superficialmente (runoff). Conforme o esquema apresentado na Figura 2, sempre que a
intensidade de chuva for inferior à infiltrabilidade, a infiltração se dará continuamente. Caso
contrário, quando a intensidade de chuva for superior à infiltrabilidade, haverá um acúmulo de
água na superfície/runoff e a taxa de infiltração se igualará à permeabilidade saturada.
O runoff é mais intenso em regiões em que a cobertura vegetal e a espessura de solo são
pequenas. Similarmente, em áreas urbanas densamente ocupadas (por exemplo, favelas), o
fluxo superficial representa uma elevada porcentagem do volume de água precipitada. Em
áreas com vegetação densa e perfis de solo bem desenvolvidos, a parcela correspondente ao
runoff é em geral pequena, tornando-se mais importante quando a duração da chuva é
prolongada. A presença de vegetação, além de interceptar parte do volume precipitado,
possibilita a formação de camadas superficiais de solo de alta condutividade hidráulica, que
facilitam o processo de infiltração (Selby, 1982; Harr, 1977).
Na literatura existem algumas proposições para estimativa do runoff. Embora esses modelos
sejam úteis para se entender a influência da topografia na hidrologia de taludes, eles
apresentam restrições importantes, uma vez que foram estabelecidos em função de um
número limitado de medições de campo (GCO, 1986; Coelho Neto, 1987).

2
Drenagem e Proteção Superficial

Taxa de
Infiltração
Curva A - R < ksat
C Curva B - I > R > ksat
Curva C - R > I > ksat

ksat

A
Tempo
R - Intensidade de Chuva
I – Capacidade de Infiltração (Infiltrabilidade)
ksat – Permeabilidade Saturada

Figura 2 - Diferentes processos de infiltração (Gerscovich, 1994)

Convém ressaltar que quando se avaliam processos de infiltração com o objetivo de observar
mudanças nas condições hidrológicas de um talude, deve-se considerar não só a
potencialidade de infiltração superficial, decorrente das chuvas, mas também a influência do
embasamento rochoso. Sistemas de fraturas, interconectados, podem ser saturados em eventos
pluviométricos e gerar processos internos de infiltração (Wilson, 1988).
Além disso, no que diz respeito à quantificação do runoff, deve-se avaliar a possibilidade de
surgência de água na superfície do talude, em virtude da interceptação de linhas freáticas
associadas a níveis d’água suspensos (Selby, 1982).

2.3 - Drenagem superficial e proteção de talude


Projetos de drenagem superficial têm por objetivo melhorar as condições de estabilidade,
reduzindo processos de infiltração. Em geral, independentemente da solução de estabilização,
os projetos combinam aspectos de drenagem, assim como de proteção superficial.
A erosão em taludes é causada pelos escoamentos superficial e subsuperficial. Os fatores
controladores deste fenômeno são a precipitação de chuva (intensidade e total pluviométrico)
e a energia cinética associada, as propriedades do solo (textura, densidade, porosidade, teor de
matéria orgânica, pH do solo etc.), o tipo e a porcentagem de cobertura vegetal e, finalmente,
a geometria da encosta (inclinação, comprimento e forma) (Guerra e Cunha, 1994).
Não existe um índice universalmente aceito para se definir o potencial de erodibilidade dos
solos, apesar dos diversos ensaios para este fim (ensaio de dispersão, esmagamento e
puncionamento). Com base no sistema unificado de classificação e nos limites de
consistência, Gray e Leiser (1982) sugerem uma hierarquia para o grau de erodibilidade dos
solos: [ML>SM>SC>MH>OL] >> [CL>CH>GM>GP>GW].

Drenagem Superficial
Sistemas de drenagem superficial devem captar e conduzir as águas que incidem na superfície
do talude, considerando-se não só a área da região estudada como toda a bacia de captação.
3
Drenagem e Proteção Superficial

Diversos dispositivos podem ser selecionados para o projeto, dependendo da natureza da área
(ocupação densa, com vegetação etc.), das condições geométricas do talude, do tipo de
material (solo/rocha). Alguns exemplos de sistemas de drenagem estão mostrados nas Figuras
de 3 a 5, apresentando soluções adotadas no Rio de Janeiro em taludes em solo e em rocha.

Figura 3 – Sistema de drenagem superficial de talude Figura 4 – Canaleta chumbada em rocha no


contato com Talus/Colúvio

Figura 5 – Canaleta chumbada na rocha

A cidade do Rio de Janeiro tem muitas encostas ocupadas por favelas e, devido à ocupação
desordenada e à inexistência de condições de saneamento nestes locais, sistemas de drenagem
aí implantados devem prever a captação de fluxos adicionais, como esgoto e/ou águas de uso
residencial.
4
Drenagem e Proteção Superficial

Dimensionamento Hidráulico
O dimensionamento hidráulico de dispositivos de drenagem depende da estimativa da
descarga de contribuição, cujo valor é função de parâmetros tais como: área de captação,
precipitação de projeto, características geométricas, condições superficiais (cobertura vegetal,
impermeabilização etc.). Com base nesses parâmetros, dimensiona-se o dispositivo de
drenagem mediante a comparação entre a velocidade admissível com a velocidade de
escoamento calculada.

Vazão de Contribuição
O método racional é o procedimento mais utilizado para a determinação da vazão de
contribuição, em virtude da sua simplicidade e pelo fato de fornecer bons resultados, em
particular em pequenas áreas de captação, de até 100ha. (Sousa Pintoet al., 1976)
Neste método, a vazão é calculada a partir da seguinte expressão:

c i A
Q =
3600
onde Q é a máxima vazão de contribuição (m3/s); c o coeficiente de escoamento superficial,
função da geometria e condições de cobertura superficial; i a intensidade de precipitação de
projeto (mm/h) , função do tempo de concentração, e A a área de captação (m2).
Ressalta-se que em regiões de favelas, em face da ocupação desordenada e da inexistência de
condições de saneamento, as vazões de contribuição devem ser corrigidas de forma a incluir
vazões adicionais decorrentes da captação de esgoto.

Área de Captação
Define-se como área de captação a região delimitada por divisores de água das vertentes
laterais e a montante, considerando como referência a seção de estudo. Sua determinação é
feita com base em levantamentos topográficos, aerofotogramétricos ou expeditos,
considerando que o fluxo superficial ocorre perpendicularmente às curvas de nível.
Quando a área a ser projetada já dispõe de subsistemas de drenagem que interferem na
hidrologia do talude, os efeitos destas construções devem ser considerados no
dimensionamento global do sistema de drenagem. Entretanto, os cálculos de vazão de
contribuição podem ser realizados independentemente da existência desses sistemas e
considerando-se, portanto, toda a área de captação.

Tempo de Concentração
Define-se como tempo de concentração o tempo máximo necessário para uma partícula de
água se deslocar entre os limites da área de concentração e o sistema de drenagem que se
deseja projetar; ou seja, o tempo necessário para que toda a área de captação passe a
contribuir para a vazão total de projeto. De maneira geral, o tempo de concentração depende
de parâmetros como: área da bacia, topografia do terreno (declividade, morfologia), tipo de
recobrimento superficial etc.
Em áreas urbanas, o tempo de concentração pode ser subdividido em duas parcelas: tempo
necessário para atingir a rede de drenagem e tempo de translação ao longo da própria rede.
Existem diversas fórmulas empíricas e ábacos que fornecem o valor do tempo de
concentração em função das características físicas da bacia, sua ocupação e, eventualmente,

5
Drenagem e Proteção Superficial

da intensidade de chuva. (Tucci et al., 1995; Sousa Pinto et al., 1976; GCO, 1984). Entre estas
cita-se a equação proposta por Bransby-Williams, desenvolvida para áreas naturais de
captação, que estabelece:

 L 
t = 0,14465  0, 2 0,1 
H A 
onde t é o tempo de concentração (min); A a área de captação (m2); H a diferença média entre
a cota do divisor de águas a montante e a cota do projeto, normalizado por cada 100m em
planta (m/100m), e L a máxima distância a ser percorrida por uma partícula de água (m).
Ribeiro (1961), baseado na experiência brasileira, propõe:

16 × L
t =
(1,05 − 0,2 × p)(100 × S ) 0, 04
onde t é o tempo de concentração (min); L a distância média a ser percorrida por uma
partícula de água ao longo do talvegue (km); p a porcentagem decimal da área da bacia
coberta pela vegetação, e S a declividade média (m/m).
Por serem empíricas, as expressões em geral fornecem bons resultados em condições
semelhantes às de suas determinações. A adoção de qualquer dessas fórmulas deve ser
precedida de análise criteriosa para evitar emprego indevido e, conseqüuentemente, estimativa
incorreta do tempo de concentração.
Nos casos em que a distância média a ser percorrida pela partícula de água (L) é inferior a
60m, é possível, como uma primeira aproximação, estabelecer valores para os tempos de
concentração como os indicados na Tabela 1.
Ressalta-se que o erro na estimativa do tempo de concentração será tanto mais grave quanto
menor a duração a ser considerada, uma vez que é maior a variação da intensidade com o
tempo.

Tabela 1 – Estimativa do tempo de concentração (Alcântara, 1962)

Natureza da area Declividade (i)


i < 3% i > 3%
Área de construção densa 10min 7min
Área residencial 12min 10min
Parques e jardins e campos 13min 12min

Intensidade Média de Precipitação


A intensidade de precipitação, no método racional, representa um valor médio a ser
estabelecido em um determinado tempo e espaço.
Define-se como intensidade de precipitação instantânea a relação entre o acréscimo de
precipitação e o espaço de tempo em que esta ocorre, sendo este valor variável ao longo do
tempo. A intensidade média de precipitação de projeto deve, então, estar associada à maior
média observada num certo intervalo de tempo, considerando-se um determinado período de
recorrência. Com base em análises estatísticas de registros pluviométricos é possível construir
curvas relacionando-se intensidade de chuva, freqüência de ocorrência e tempo de duração,
conforme o gráfico apresentado na Figura 3, desenvolvido a partir de registros de uma estação
pluviométrica instalada no Jardim Botânico.

6
Drenagem e Proteção Superficial

Como a intensidade média de precipitação reduz com o tempo de duração da chuva, a maior
vazão de contribuição ocorrerá quando a duração da chuva for igual ao tempo de
concentração. Assim sendo, o tempo de duração que corresponde à situação crítica a ser
adotada em projeto será igual ao tempo de concentração.
Dependendo do projeto de drenagem, tempos de recorrência maiores ou menores podem ser
adotados. Em taludes íngremes, quando a estabilidade global pode ser severamente afetada
por um mau funcionamento do sistema de drenagem, sugere-se a adoção de tempos de
recorrência bastante elevados, podendo chegar a 200 anos. Para situações menos complexas, é
possível utilizar tempos de recorrência menores, da ordem de 10 anos De uma forma geral, a
Tabela 2 apresenta valores de tempo de recorrência em função da natureza de ocupação e tipo
de obra.

400

350

300
Intensidade de Chuva (mm/min)

250

Tempo de
200 Recorrência
(ano)

2
150
5
10

100
20
50
100
50 200
500
1000
0
0 25 50 75 100 125

Tempo de Concentração (min)

Figura 6 – Curvas relacionando intensidade de precipitação, tempo de duração e de recorrência com


basea em registros no Jardim Botânico

7
Drenagem e Proteção Superficial

Tabela 2 – Tempo de recorrência em função do tipo de obra e natureza de ocupação (Tucci et al., 1995)

Tipo de obra Natureza de Ocupação Tempo de Recorrência (anos)

Residencial 2
Comercial 5
Microdrenagem Áreas com edifícios de serviço público 5
Aeroportos 2-5
Áreas comerciais e artérias de tráfego 5-10
Áreas comerciais e residenciais 50-100
Macrodrenagem Áreas de importância específica 500

Coeficiente de Escoamento Superficial


Do volume precipitado sobre o talude somente uma parcela escoa superficialmente. No
método racional, o parâmetro c tem a função de estabelecer a relação entre os volumes
escoado e precipitado. A quantificação do runoff é extremamente difícil, uma vez que
depende de fatores como: distribuição da chuva, geomorfologia, rede de drenagem
preexistente, condições antecedentes de umidade etc.
Várias proposições empíricas e alguns ábacos têm sido propostos para estimativa do
coeficiente de escoamento superficial em função da ocupação do solo. (Tucci et al., 1995;
Fendrich et al, 1988) A Tabela 3 sugere valores para o coeficiente de escoamento superficial
adotados pela prefeitura de São Paulo, válidos para tempos de recorrência da ordem de 5 a10
anos.

Tabela 3 – Coeficientes de escoamento superficial (Tucci et al., 1995)

Ocupação do solo C

Edificação muito densa: partes centrais densamente construídas de uma cidade com ruas e calçadas 0,70 a 0,95
pavimentadas
Edificação não muito densa: partes adjacentes ao centro de menor densidade de habitações, mas 0,60 a 0,70
com ruas calçadas e pavimentadas
Edificação com poucas superfícies livres: partes residenciais com construções cerradas, ruas 0,50 a 0,60
pavimentadas
Edificação com muitas superfícies livres: partes residenciais com ruas pavimentadas, mas com 0,25 a 0,50
muitas áreas verdes
Subúrbios com alguma pavimentação: partes de arrebaldes e subúrbios com pequena densidade de 0,10 a 0,25
construções
Matas, parques e campos de esportes: partes rurais, áreas verdes, superfícies arborizadas, parques 0,05 a 0,20
ajardinados e campos de esporte sem pavimentação

Para períodos de recorrência maiores, recomenda-se corrigir o valor do coeficiente de


escoamento superficial, através da seguinte expressão:

Ccorrigido = 0,8T 0,1C


onde T é o tempo de recorrência (anos) e C o valor do coeficiente de escoamento obtido na
Tabela 3.

8
Drenagem e Proteção Superficial

Em face das incertezas na determinação deste parâmetro, recomenda-se, no caso de taludes, a


adoção do valor 1,0, emboraeste acarrete uma superestimativa dos volumes escoados,
particularmente quando a superfície do talude possui cobertura vegetal.

Velocidade de Escoamento
Fixada a seção do dispositivo de drenagem a ser projetado e determinada a vazão de
contribuição, calcula-se a velocidade de escoamento neste sistema.
O dimensionamento hidráulico de sistemas de drenagem baseia-se no regime de fluxo
estabelecido no interior do canal, o qual pode ser classificado em função da quantidade de
energia associada ao processo de fluxo:

v2
E = y+
2g
onde y é a altura de lâmina d’água; v a velocidade de escoamento e g a aceleração da
gravidade. Define-se como regime crítico aquele que se realiza com o mínimo de energia.
Para uma dada vazão, um aumento da declividade da canaleta acarreta uma redução da altura
da lâmina d’água no interior do canal e, conseqüentemente, uma mudança na velocidade de
escoamento.
Em um regime crítico, a relação entre a velocidade de escoamento e a altura da lâmina
d’água, conhecida como número adimensional de Froude (F), deve satisfazer a seguinte
equação:

v
F= =1
g y
onde v é a velocidade de escoamento (m/s) ; y a altura de fluxo (m) e g a aceleração da
gravidade (m/s2).
Considerando-se a ocorrência de fluxo uniforme, a velocidade de escoamento pode ser
calculada a partir da fórmula de Manning:

v =
n
{
1 2 / 3 1/ 2
R I }
onde v é a velocidade de escoamento (m/s); n o coeficiente de rugosidade de Manning; I o
gradiente longitudinal da valeta (m/m) e R o raio hidráulico (m), definido como a relação
entre área (m2) e perímetro molhados do dispositivo de drenagem. A Tabela 4 apresenta as
grandezas hidráulicas associadas às geometrias dos canais.

9
Drenagem e Proteção Superficial

Tabela 4 – Grandezas hidráulicas (DNER, 1990)

Seção tipo Área molhada (A) Perímetro molhado Raio hidráulico (R) Largura
(P) superficial (B)

B θ − sen θ 2 θ θ − sen θ θ
A= D P= D R= D B = D sen
D
8 2 4θ 2
d
θ

B A = Bd P = B + 2d Bd B
R=
H B + 2d
d

B A = b + md P = b + 2d 1 + m 2 b + md B = b + 2md
R=
d
H b + 2d 1 + m 2
b
θ

Notas:
i) θ em radianos
ii) m=cotan (θ)

Toda vez que o escoamento se dá a uma declividade superior à correspondente ao escoamento


crítico, o regime é classificado como supercrítico; caso contrário este é classificado como
subcrítico. Em um fluxo uniforme, o aumento da inclinação da canaleta (regime supercrítico)
causa uma redução da altura da lâmina d’água e conseqüente aumento da velocidade de
escoamento. Há, entretanto, uma restrição para esta velocidade, função do tipo de
revestimento do conduto.
As Figuras 7a e 7b apresentam exemplos de ábacos para dimensionamento de canaletas de
drenagem.
O coeficiente de rugosidade de Manning é um número adimensional, função do tipo de
revestimento adotado. Este parâmetro pode variar de 0,01, para o caso de condutos metálicos,
a 0,045, para o caso de cortes em rocha áspera e irregular (Tabela 5).

10
Drenagem e Proteção Superficial

0.30
0.6
0.20 5000 70
0.5 0.15
4000 60
0.4 0.10 50
0.08
0.60 m 3000
0.06 40
0.05
0.3
0.04 n =0.015 2000 30
0.03

0.02
1500
0.2 0.015 curva crítica 20
De 1000 15
cli
vid
0.15 0.01 ad 800
0.008 e 10
-m
0.005 et
os

ro 600
s
em metr

0.004 8.0
po
0.002
r m 500
et
0.1 ro
6.0
0.0015 400
fluxo

0.09
5.0

Vazão Q - litros/s
0.08 0.001
300
4.0
Altura do

0.0008
0.0006
0.07

Escala Qn
0.0005
0.06 0.0004 200 3.0
0.0003
0.05
0.0002 150
2.0
0.00015
0.04 0.00001
100 1.5

80
1.0
0.03
60
0.8
50

40 0.6
0.5

30
0.4

20 0.3

15 0.2

10 0.15

8
1.0

0.6

0.4

0.3
1.5

5.0

1.5
3.0

0.8
8.0

2.0

1.0
4.0
6.0

0.5

0.2

V m/s

Escala Vn
0.003
0.006
0.015

0.008

0.004
0.005
0.15

0.08

0.06

0.05
0.04

0.03

0.02

0.01
0.2

0.1

Largura b=0,60 m
Figura 7a – Ábaco para dimensionamento de canaletas, largura b= 0,60m

11
Drenagem e Proteção Superficial

0.9
0.8 0.30
0.20
15000 200
0.7
0.15
0.6
10000 150
0.10
0.08
0.5 0.90 m 8000
0.06
0.05 100
0.4 0.04
n =0.015 6000
0.03
5000 80
0.02
0.3 4000 60

0.015
curva crítica 3000
40
De
s
m metro

cli

Vazão Q litros/s
0.005 vid
0.2 ad
0.004 e- 2000 30
me
tro
o fluxo e

0.003
s po
0.15
rm 1500
0.002 etr 20
o
0.0015
Altura d

0.001 1000 15

0.0008
0.1 0.0006 800
10
0.09 0.0005
0.0004 600
0.08 0.003 8.0
500
0.07
0.0002
0.00015 400 6.0
0.06
5.0
0.0001
300
0.05 4.0

200

Escala Qn
3.0
0.04

150
2.0

0.03
100 1.5

80
1.0
60 0.8
50
0.6
40
0.5
30
0.4
8.0

6.0
5.0

4.0

3.0

2.0

1.5

1.0

0.8

0.6
0.5

0.4

0.3

V m/s
20

15

10
0.30

0.20

0.15

0.10

0.08

0.06

0.05

0.04

0.03

0.02

0.015

0.010

0.008

0.006
0.005

0.004

Escala Vn

Largura b = 0,90m

Figura 7b – Ábaco para dimensionamento de canaletas, largura b= 0,90m

12
Drenagem e Proteção Superficial

Tabela 5 – Valores para o coeficiente de rugosidade de Manning (n) (Neves, 1974)

Natureza das Paredes Condições

Muito Boas Boas Regulares Más


Tubos de ferro fundido sem revestimento 0,012 0,013 0,014 0,015
Tubos de ferro galvanizado 0,013 0,014 0,015 0,017
Alvenaria de tijolos com argamassa de cimento; 0,012 0,013 0,015 0,017
condutos e esgoto de tijolos
Superfície de cimento alisado 0,010 0,011 0,012 0,013
Superfície de argamassa de cimento 0,011 0,012 0,013 0,015
Tubos de concreto 0,012 0,013 0,015 0,016
Canais com revestimento de concreto 0,012 0,014 0,016 0,018
Calhas metálicas lisas (semicirculares) 0,011 0,012 0,013 0,015
Calhas metálicas corrugadas (semicirculares) 0,0225 0,025 0,0275 0,030
Canais de terra, retilíneos e uniformes 0,017 0,020 0,0225 0,025
Canais abertos em rocha, lisos e uniformes 0,025 0,030 0,033 0,035
Canais abertos em rocha, irregulares, ou de paredes de 0,035 0,040 0,045
pedra irregulares e mal arrumadas e uniformes

Em canais, o gradiente longitudinal mínimo é determinado pela velocidade de fluxo suficiente


para remover materiais sólidos que vão sendo depositados ao longo do tempo (velocidade de
autolimpeza). Este gradiente deve ser tal que a velocidade de escoamento mínima,
considerando-se chuvas de pico e um tempo de recorrência de pelo menos dois anos, não seja
inferior a 1,3m/s.

Metodologia de Cálculo
Uma vez calculada a velocidade de escoamento, a vazão de contribuição (Q) associada é
determinada a partir da equação da continuidade (Q=vA) e, em seguida, comparada com a
vazão admissível do dispositivo de drenagem pré-selecionado, estabelecendo a necessidade ou
não de alterar o projeto original. Em geral a seqüência de cálculo observa os seguintes passos:
a) Fixa-se o tipo de seção a ser adotada, deixando a altura a determinar;
b) Define-se a declividade da canaleta;
c) Fixa-se a velocidade máxima admissível, tendo em vista o tipo de revestimento (Tabela
6);
d) Através de tentativas, atribuem-se valores para a altura da lâmina d’água (h) e calculam-se
os elementos hidráulicos da seção, a velocidade de escoamento e a vazão associada;
e) Compara-se a vazão de contribuição com a vazão calculada no item d, avaliando a
necessidade ou não de aumentar a altura da lâmina d’água (h);
f) Verifica-se o regime de fluxo em função do número adimensional de Froude. A altura de
fluxo deve diferir da crítica dentro de uma faixa de no mínimo 10%.

13
Drenagem e Proteção Superficial

Tabela 6 – Velocidades máximas admissíveis para a água (DNER, 1990)

Cobertura superficial Velocidade máxima (m/s)

Grama comum firmemente implantada 1,5 - 1,8


Tufos de grama com solo exposto 0,6 – 1,2
Argila 0,8 – 1,3
Areia fina 0,3 - 0,4
Areia média 0,35 - 0,45
Cascalho fino 0,5 – 0,8
Alvenaria de tijolos 2,5
Concreto de cimento Portland 4,5
Aglomerados resistentes 2,0
Revestimento betuminoso 3,0 – 4,0

Ao final do dimensionamento, estabelece-se a borda livre da canaleta, definida como a


distância vertical do topo do canal à superfície da água na condição de projeto. Este valor
pode ser estimado analiticamente em função da vazão admissível da canaleta e tipo de
revestimento. O USBR, por exemplo, recomenda valores de borda livre iguais a 0,3m, para
vazões de aproximadamente 0,3m3/s, e 1,7m para vazões de 300m3/s. (Tucci et al., 1995). Em
regiões urbanas, onde o problema de acúmulo de lixo é acentuado, ou no caso de canaletas
longitudinais de descida, em degraus, devido ao fluxo turbulento que se estabelece em épocas
de chuvas de alta intensidade, é recomendável se adotar uma magnitude de borda livre mais
elevada do que a estabelecida no projeto. Nestas condições, a folga deve atender ao limite
mínimo de 1/3 da altura da lâmina d´água, não devendo ser inferior a 30cm.

Projetos de Sistemas de Drenagem Superficial

Considerações Gerais
Sistemas eficientes de drenagem superficial podem ser projetados de forma a utilizar uma
série de dispositivos com objetivos específicos: canaletas transversais, canaletas longitudinais
de descida (escada), dissipadores de energia, caixas coletoras etc.
Em um talude, as águas superficiais devem ser conduzidas de forma mais linear possível,
através de sistemas de drenagem superficial instalados no talude (Figura 8). Quando a
velocidade de escoamento for elevada, dissipadores de energia devem ser incluídos no interior
das calhas (Figura 9). Sempre que houver mudança na geometria e nas dimensões da canaleta
ou na junção entre diferentes dispositivos de drenagem, caixas de passagem devem ser
previstas. (Figura 10)

14
Drenagem e Proteção Superficial

Figura 8 – Canaleta transversal com Figura 9– Canaleta longitudinal de descida


seção circular (GEO, 1995) (GeoRio)

Figura 10 – Caixa de passagem (GeoRio)

Sempre que bermas forem incorporadas ao projeto, canaletas transversais devem ser previstas
nestes locais, para evitar o armazenamento e infiltração da água. Quando a superfície de
15
Drenagem e Proteção Superficial

talude é erodível, recomenda-se um espaçamento vertical entre bermas de no máximo 6 a 7m,


a fim de limitar a altura de descida da água sobre o talude e diminuir sua ação erosiva; em
taludes impermeabilizados superficialmente, esta distância pode ser de até 12m.
Recomenda-se, também, evitar mudanças bruscas de direção, tanto em planta quanto em
perfil, devido às perdas de carga localizadas ea eventual desgaste do revestimento da
canaleta.
As canaletas devem ser executadas em seção aberta e nunca devem ser preenchidas, mesmo
que o material utilizado seja drenante. A presença de materiais no interior de canais reduz sua
capacidade drenante e o acúmulo de materiais sólidos transportados pode impedir o fluxo
livre, tornando todo o sistema ineficaz (Figura11). Como critério de projeto recomenda-se,
sempre que possível, a instalação de escadas de acesso para possibilitar a manutenção e a
limpeza das canaletas (Figura 12).

Figura 11 – Acúmulo de material sólido (GEO, 1995) Figura 12 – Escada de acesso (GEO,
1995)

O projeto deve contemplar um balanceamento entre dimensionamento de canaletas e


velocidades de escoamento/declividade das canaletas de tal forma que, em épocas de elevada
intensidade de chuva, o escoamento da água seja capaz de lavar o material eventualmente
depositado durante outras chuvas menores. Para canaletas de concreto pode-se adotar
velocidades de até 3,5m/s nas vazões de pico, o que acarreta velocidades razoáveis mesmo
para as vazões mais baixas, evitando, assim, a deposição do material carreado.
No caso de taludes não naturais, recomenda-se para canaletas transversais limitar seu
comprimento máximo em 80m e estabelecer uma declividade mínima da ordem de 2% a 3%.
Quanto às canaletas longitudinais de descida, recomenda-se a instalação de um único
dispositivo, na seção extrema do talude mais próxima do corpo coletor.

16
Drenagem e Proteção Superficial

Em taludes naturais as canaletas de descida devem ser implantadas sobre os talvegues


principais, procurando-se sempre que possível dividir a área do talude em bacias
aproximadamente iguais, impondo-se declividades altas, superiores ou iguais a 3%.
No contato da canaleta com o solo, deve ser prevista a execução simultânea de uma proteção
lateral impermeável, com inclinação direcionada à canaleta, de forma a retornar, para este
sistema, as águas que eventualmente ultrapassam as alturas de projeto.
Ressalta-se que o projeto de um sistema de drenagem superficial deve ser feito de modo a
sempre compatibilizar os requisitos operacionais dos dispositivos e seus custos de execução e
manutenção.

Dispositivos de drenagem
A seguir se abordarão as características principais, os elementos de projeto e o
dimensionamento hidráulico para cada um dos dispositivos de drenagem Nos elementos de
projeto procurou-se mostrar tipos de seções, revestimentos recomendados e especificações
mais importantes para sua construção.

Canaletas Transversais
As canaletas devem ser executadas em seção aberta, em forma retangular, trapezoidal, meia
cana ou em forma de U, com revestimento de concreto (simples ou armado) ou metálico. A
Figura 13 apresenta um detalhe de canaleta em conjunto com sugestões de dimensionamento.
Como não há preocupação de erosão interna da calha, declividades elevadas, da ordem de
3%, podem ser adotadas. Recomenda-se que a canaleta seja sempre executada no local.

Dimensões canaleta
Altura nominal Espessura lateral Espessura base
H (mm) t (mm) b (mm)
225 a 600 150 150
675 a 1200 175 225
Figura 13 – Detalhe de dimensionamento de canaleta com proteção lateral

O projeto é executado fixando-se inicialmente o tipo e a geometria da seção, deixando a altura


da canaleta (h) para ser determinada posteriormente em função do dimensionamento
hidráulico. Define-se o gradiente da canaleta e fixa-se a velocidade máxima admissível.
Através de um processo de tentativas, atribuem-se valores para a altura da canaleta (h) e
verifica-se a relação entre vazão de projeto e vazão admissível (ver item “Velocidade de
escoamento”).
Quando a canaleta não puder acompanhar a declividade natural do terreno, porque, neste caso,
implicaria velocidades de escoamento superiores à permitida, recomenda-se introduzir
dissipadores contínuos de energia, de acordo com esquema apresentado na Figura 14. O
espaçamento entre elementos pode ser calculado pela expressão (DNER, 1990):

100 H
E=
α−β
17
Drenagem e Proteção Superficial

onde E é o espaçamento (m); H a altura da barragem (m); α a declividade natural do terreno


(em %) e β a declividade desejada para o nível d’água em cada trecho escalonado (em %).
Recomenda-se, ainda, que este espaçamento não seja superior a 50m, o que corresponde a
uma declividade de 2%, com diferença de altura de 1m entre dois elementos consecutivos. As
pequenas barragens podem ser executadas com diferentes materiais: concreto, chapas
metálicas etc.

β
α
H

E
(a) Corte

(b) Planta

Figura 14 – Barragens de dissipação

Canaletas Longitudinais de Descida (Escada)


As canaletas longitudinais de descida podem ser do tipo rápido ou em degraus, sendo a
escolha entre um ou outro tipo função da velocidade limite do escoamento. Sempre que esta
velocidade for superior a 4m/s ou quando a declividade for superior a 5%, recomenda-se a
introdução de degraus, cuja finalidade é reduzir a energia cinética do escoamento pelo
impacto da água em cada degrau. Esta solução, apesar de ser comumente adotada na prática,
não pode ser classificada como uma alternativa eficiente de dissipação de energia.
Recomenda-se que canaletas de descida, mesmo que projetadas em degraus, não apresentem
inclinações superiores a 50º. Nestes casos, a descida deverá ser feita segundo uma direção de
menor inclinação ou a dissipação de energia ser realizada com barragens de dissipação
(Figura 14).
As canaletas de descida devem ser executadas em seção aberta, em forma retangular,
trapezoidal, meia cana ou em forma de U, com revestimento de concreto armado ou metálico.
É desaconselhável a construção da canaleta em módulos, pois a ação dinâmica do fluxo pode
acarretar o descalçamento e a separação dos módulos. Recomenda-se, portanto, que este tipo
de canaleta seja executado no local, com fôrmas de madeira, em calha ou em degraus.

18
Drenagem e Proteção Superficial

Quando a velocidade de escoamento na boca de jusante for superior à recomendada para a


natureza do terreno ou revestimento existente (Tabela 7), o projeto deve prever a inclusão de
bacias de amortecimento nestes locais.
A Figura 15 apresenta detalhes dos elementos de projeto e sugestões de dimensionamento
para este dispositivo. A inclinação do degrau pode ser obtida através da fórmula de Manning
(vide item “Velocidade de escoamento”).
Devido à inexistência de observações de campo capazes de possibilitar a determinação de um
procedimento apropriado para o dimensionamento hidráulico deste dispositivo, o cálculo da
velocidade de escoamento pode ser executado conforme o item “Velocidade de escoamento”.
Alternativamente, pode-se utilizar um método empírico em que, fixada a largura (L), define-se
a altura do canal (H) a partir da seguinte expressão (DNER, 1990):
Q = 2,07 L0,9 H 1,6
onde Q é a vazão de projeto a ser conduzida pela canaleta (m3/s); L a largura da canaleta (m)
e H a altura média das paredes laterais (m).
A velocidade de escoamento no pé do talude (vb), necessária para se dimensionar a caixa
coletora, localizada na base do talude, a qual estabelecerá a inclusão ou não, no projeto, de
elementos dissipadores de energia, pode ser calculada a partir de:

vb = 2 gH
onde H é a diferença de cota entre o topo e a base da canaleta (m) e g a aceleração da
gravidade (m/s2).
Havendo necessidade de cálculos mais precisos recomenda-se verificar a solução obtida
através das equações da teoria da hidráulica de movimento uniformemente variado.

Caixa de Passagem
As caixas coletoras de passagem têm como objetivo possibilitar mudanças de dimensão,
declividade ou direção de canaletas de drenagem.
As caixas podem ser abertas ou fechadas, com tampa removível, executadas em concreto
armado. Caixas com tampa, em forma de grelha, são indicadas quando localizadas em pontos
que possam afetar a segurança ou se destinem a coletar águas contendo sólidos que possam
obstruir o coletor.

Notas : dimensões em mm
Dimensões canaleta em degraus
Altura nominal Espessura lateral Espessura base Borda livre
H (mm) t (mm) b (mm) s (mm)
225 a 600 150 150 200
375 a 675 150 150 350
750 a 900 125 200 400
Figura 15 –Detalhe de canaleta de descida em degraus

O dimensionamento das caixas de passagem é função da geometria dos dispositivos aos quais
estas estarão conectadas. A profundidade da caixa é determinada pelas cotas de instalação dos
19
Drenagem e Proteção Superficial

condutos que dela partem ou chegam e a área transversal pode ser definida pela fórmula
(DNER, 1990):

Q
A = 0,226
c H
onde Q é a vazão a captar (m3/s); H a altura do fluxo (m) e c o coeficiente de vazão, podendo
ser fixado igual a 0,6.
A Figura 16 apresenta detalhes do dimensionamento de caixa de passagem.
variável
125 125
previsão de degraus em ferro
caso a altura da caixa exceda 1500

placa de concreto armado

aberturas para atender


requisitos de projeto
300

>1:50

concreto magro

Seção A-A

canaleta de
canaleta
descida
reforço lateral
125

em concreto
canaleta
250

A A
variável

250
125

125 125
variável

Planta

Nota: dimensões em mm

Figura 16 – Detalhe de caixa de passagem (GCO, 1984)

As caixas de passagem podem também ser projetadas de forma a reter material sólido,
reduzindo assim a possibilidade de entupimento dos sistemas de drenagem a jusante. Nestes
casos, sugere-se a introdução de um anteparo e de um dispositivo filtrante, conforme
apresentado esquematicamente na Figura 17, estabelecendo-se um sistema de retenção para
resíduos finos. Tratando-se de resíduos grossos, pode-se introduzir uma grelha metálica,
conforme o esquema apresentado na Figura 18.

20
Drenagem e Proteção Superficial

placa de cobertura ( se necessária)

entrada nível máximo da água


1:F

h>300
300
0.25D
>D + 150

ou >375

D
saída
1:40

placa perfurada filtro granular


com 50 de espessura

seção A-A

L >750

A A
B W

Seção em planta

barra plana 25x16

barras φ 16 a cada 100

drenos φ 150

1:40
W

Seção B-B

.
Notas:
i) dimensões em mm;
ii) dimensionamento adequado para drenos de diâmetro máximo de 90mm. Para drenos maiores, a caixa de
retenção deve ser redimensionada;
iii) dimensões:
D ≥ 750
W ≥B
L = 4,8 D 0, 67 h 0,5 F −0,5 ≥ 4 B
Figura 17 – Caixa de passagem com sistema de retenção de material sólido fino (GCO,1984)

21
Drenagem e Proteção Superficial

altura adequada
para projeto da
canaleta de descida

canaleta de
descida

Seção A-A

3S 4S

A A

S
5S

grelha com espaçamento adequado


para retenção de material sólido
Planta

Nota: dimensões em mm
Figura 18 – Esquema de dispositivo de retenção de material sólido grosso (GCO,1984)

Em casos em que as velocidades de escoamento dos dispositivos que chegam à caixa de


passagem são tais que se espera turbulência em junções, é possível prever a execução de uma
parede de proteção, conforme o esquema apresentado na Figura 19.

22
Drenagem e Proteção Superficial

d= s+H/2
10
1
> d+ 450

300
b
h

Seção A-A

600
Proteção lateral de canaleta

t
A A

H
5H

t
600
Proteção lateral de canaleta

Nota: dimensões em mm

Figura 19 – Junção de canal de descida em degraus e canal na base do talude (GCO,1984)

Bacias de Amortecimento
As bacias de amortecimento são classificadas como dissipadores localizados de energia. Estes
dispositivos, executados em concreto armado, são instalados no pé de canaletas longitudinais
de descida e têm a função de reduzir a velocidade da água quando esta passa do dispositivo de
drenagem superficial para outro sistema.
O dimensionamento hidráulico deste dispositivo, apresentado esquematicamente na Figura
20, é calculado em função da velocidade de escoamento a montante, equivalente à velocidade
de escoamento calculada no pé do talude (vb) e da altura do fluxo afluente. As dimensões do
ressalto hidráulico podem, então, ser estabelecidas em função do número de Froude (F1), o
qual é calculado pela seguinte expressão (DNER, 1990):

23
Drenagem e Proteção Superficial

vb
F1 =
g y1
onde vb é a velocidade do fluxo afluente (m/s) ; y1 a altura de fluxo afluente (m) e g a
aceleração da gravidade (m/s2).

Cunhas Soleira
0,2y1
Dentes 0,375y1 C=0,07y2

0,75y1

1
1 0,75y1
y1 y1 Rip-Rap

2 1

0,8y2
L

Figura 20 – Bacia de amortecimento (DNER, 1990)

Para números de Froude até 1,7 não há a necessidade de elementos dissipadores de energia,
pois haverá apenas turbulência na superfície da água. Para números de Froude entre 1,7 e 2,5
e entre 4,5 e 9,0, recomenda-se a instalação de bacia de amortecimento lisa de concreto. Do
contrário, em situações em que F1 é menor ou igual a 1,7, elementos como cunhas e dentes
devem ser previstos.
Após a passagem do fluxo e o fenômeno do ressalto, a altura da lâmina d’água na saída da
bacia de amortecimento (y2) pode ser calculada com base na equação:

1
y2 = y1 
2
( )
1 + 8F12 − 1

Para o dimensionamento dos demais elementos como: comprimento mínimo da bacia de
dissipação e altura da parede, recomenda-se o procedimento proposto pelo USBR (1978).

Proteção Superficial
Sistemas de proteção de talude têm como função reduzir a infiltração e a erosão, decorrentes
da precipitação de chuva sobre o talude. Em geral, os projetos de estabilização combinam
aspectos de drenagem, assim como de proteção superficial.
As alternativas de proteção superficial podem ser classificadas em dois grupos: proteção com
vegetação (Figura 21) e proteção com impermeabilização (Figura 22).

24
Drenagem e Proteção Superficial

Não existe uma regra para a concepção de projetos desta natureza, entretanto deve-se sempre
considerar a proteção vegetal como a primeira alternativa, em particular, para taludes não
naturais.

Figura 21 - Cobertura vegetal com canaletas de Figura 22 - Cobertura com concreto projetado
drenagem (GEO, 1995) (GEO, 1995)

Tendo em vista o aspecto estético, a solução com vegetação é mais uma vez recomendada.
Nos casos em que a impermeabilização superficial se apresenta como alternativa mais
adequada, seu impacto visual pode ser minimizado plantando-se vegetação em determinados
pontos do talude, de forma controlada, conforme o esquema sugerido na Figura 23. Uma vez
adotado este procedimento, cuidados devem ser tomados quanto à seleção das espécies, para
evitar rachaduras na placa impermeabilizante, em virtude do crescimento de raízes.

25
Drenagem e Proteção Superficial

50

>1
=~1

50
>5
0

solo retido

>75
Anel de concreto
para proteção da árvore

superfície
impermeabilizada

diam. >600 + diam. da árvore


Nota: dimensões em mm

Figura 23 - Detalhe de plantio de vegetação em taludes com proteção impermeável (GCO, 1984)

Vegetação
A aplicação de cobertura vegetal em taludes não naturais é uma alternativa eficiente de
controle de erosão e estabilização.
O efeito da vegetação na estabilidade é difícil de ser quantificado, pois interfere não apenas
no aspecto mecânico como no aspecto hidrológico. Considerando-se a interceptação do
volume de água precipitado pode-se prever redução tanto dos volumes de água escoados
superficialmente (runoff) quanto dos volumes infiltrados. Em contrapartida, observa-se um
aumento significativo da umidade nas regiões próximas aos troncos de árvores, além da
criação de caminhos preferenciais de infiltração proporcionados pelas raízes. Quanto ao
aspecto mecânico, a vegetação pode atuar como agente estabilizador, considerando-se o
reforço do solo devido à malha de raízes. Entretanto, o peso próprio da vegetação, associado a
ações dinâmicas externas (vento), causam acréscimo de tensões cisalhantes, reduzindo o grau
de estabilidade do talude.
Apesar da dificuldade de quantificação dos efeitos da vegetação na estabilidade, pesquisas
têm indicado predominância de uma ação positiva, em particular devido ao reforço do solo
proporcionado pela malha de raízes. (Andrade, 1990; Gray e Leiser,1982)
A eficiência do estabelecimento da cobertura vegetal em taludes construídos depende da
escolha da época adequada para plantio, da inclinação do talude e do tipo de solo. A
inclinação do talude, no entanto, se apresenta como o fator predominante e algumas diretrizes
são apresentadas na Tabela 8. Recomenda-se, também, selecionar vegetação de baixo porte

26
Drenagem e Proteção Superficial

em taludes de inclinação elevada e, em áreas urbanas, utilizar sempre que possível vegetação
rasteira.

Tabela 8 – Influência da inclinação do talude no estabelecimento da cobertura vegetal (GCO, 1984)

Inclinação Grama Arbusto/arvore

o o
0 –30 Dificuldade baixa Dificuldade baixa
Técnicas usuais de plantio Técnicas usuais de plantio
o o
30 –45 Dificuldade média Dificuldade elevada
Recomenda-se hidrossemeadura
o
> 45 Dificuldade elevada Recomenda-se plantio em bermas

O solo constituinte do talude tem efeito direto no processo de germinação, considerando-se


sua fertilidade e resistência à penetração das raízes.
Como regra geral, técnicas convencionais de plantio podem ser adotadas (DNER, 1978). Em
taludes recém-construídos, o plantio deve se iniciar com grama, podendo depois ser
implantadas vegetações de maior porte, garantida a compatibilidade de espécies, de forma a se
obter uma cobertura estável e eficiente no combate à erosão superficial. Na seleção de
espécies, cuidados devem ser tomados com relação a riscos de incêndio em épocas de seca.
A consulta a especialistas na área de engenharia florestal e agricultura é extremamente
recomendável no que diz respeito à concepção e execução de um programa de plantio.
A seguir, apresentam-se alguns aspectos construtivos relacionados à proteção superficial com
cobertura vegetal.

Grama
Existem diferentes técnicas de plantio de grama: hidrossemeadura, grama em placas ou em
tufos e semeadura.
A hidrossemeadura se caracteriza pela aplicação de uma mistura aquosa de sementes,
fertilizantes e elementos fibrosos para proteção de raízes. A vantagem desta técnica reside na
facilidade, baixo custo e rapidez de execução em grandes áreas, independentemente da
inclinação do talude. Além disso, a seleção da espécie a ser plantada pode ser feita sem
qualquer restrição.
A técnica de plantio de grama em placas ou em tufos consiste na colocação da grama com
raízes e folhas já desenvolvidas. Quando plantada em tufos, a grama é aplicada em grupos ou
individualmente em intervalos de 7cm a 15cm. Apesar de bastante eficiente, esta técnica
consome mais tempo e é limitada à disponibilidade de grama para o plantio, tanto em
qualidade quanto em quantidade.
A semeadura é executada plantando-se as sementes de grama, de forma mecânica ou manual,
em uma camada superficial de solo previamente preparada para este fim. Em geral, esta
técnica é utilizada no caso de reparos ou em pequenas áreas.
A Figura 24 apresenta um exemplo de utilização desta alternativa em conjunto com a solução
de estabilização com cortinas ancoradas.

27
Drenagem e Proteção Superficial

Figura 24 – Grama combinada com solução de estabilização em cortina ancorada (GeoRio)

Árvores e Arbustos
Árvores e arbustos devem ser plantados em mudas, em escavações de pequenas dimensões
(0,3cm x 0,3cm x 0,3cm), previamente executadas no talude. As árvores, nesta fase, não
devem ter mais do que 60cm de altura e o espaçamento entre mudas pode ser da ordem de
1,5m a 2m. Cuidados devem ser tomados para que a distância entre árvores e canais de
drenagem ou outras estruturas presentes no talude não seja inferior a 1m.

Tela Vegetal
A tela vegetal tem como função proteger o solo contra a erosão e proporcionar ambiente
adequado para a revegetação de taludes.
A tela vegetal constitui-se de um biotêxtil translúcido, flexível, composto por material vegetal
fibroso, desidratado, entrelaçado por fibras têxteis 100% degradáveis, com densidade,
resistência e degradação variáveis, dependendo da especificação da tela.
Recomenda-se, antes da execução, preparar a camada superficial do talude com fertilizantes,
sementes e corretivos para facilitar a revegetação. Caso haja erosões prévias no talude, estas
áreas devem ser preenchidas de forma a nivelar o terreno.
Após a aplicação da tela, efetua-se a sua fixação através de grampos de aço, bambu ou
madeira, dependendo do tipo de solo em que esta será fixada. Em seguida, este material é
reidratado e passa por uma lenta decomposição. Devido a sua alta infiltrabilidade, a umidade
do talude é mantida em níveis elevados, evitando-se, assim, a formação de pontos erosivos.
Com o passar do tempo, cria-se um ambiente extremamente favorável à germinação e
desenvolvimento de espécies vegetais.
A vantagem desta técnica reside na facilidade, baixo custo e rapidez de execução, podendo ser
aplicada em qualquer talude, independentemente da sua inclinação. As Figuras de 25 a 27
apresentam um exemplo de utilização desta técnica para proteção superficial de uma encosta
na estrada de Furnas, Rio de Janeiro.

28
Drenagem e Proteção Superficial

Figura 25 Vista inicial do talude (GeoRio) Figura 26 Aplicação da tela vegetal (GeoRio)

Figura 27 Após germinação

Geomembranas
As geomantas atuam como elementos de proteção contra a erosão superficial durante o
período de desenvolvimento e fixação da capa vegetal. As telas são fabricadas com material
sintético, não degradável, oferecendo ancoragem adequada para as raízes após o crescimento
da vegetação. As Figuras de 28 a 30 mostram detalhes da estrutura da geomanta e esquema de
aplicação.

29
Drenagem e Proteção Superficial

Figura 28 – Detalhe da geomanta (MacGuide, 1999) Figura 29 – Esquema de aplicação


(MacGuide, 1999)

Figura 30 – Vista geral de talude protegido com geomanta (MacGuide, 1999)

As biomantas desenvolvem a mesma função que as geomantas. Entretanto, por serem


produzidas com materiais biodegradáveis, apresentam-se como uma solução de baixo impacto
ambiental, pois se degradarão após o desenvolvimento da camada vegetal. As Figuras 31 e 32
mostram o procedimento de instalação das biomantas e o posterior desenvolvimento de
vegetação.

30
Drenagem e Proteção Superficial

Figura 31 – Esquema de aplicação Figura 32 – Desenvolvimento de vegetação


(MacGuide, 1999) (MacGuide, 1999)

As geocélulas são recomendadas em taludes em solo árido, onde não se consegue um bom
desenvolvimento de vegetação. Nestes casos esta alternativa possibilita a obtenção de uma
cobertura estável de solo vegetal, a partir do preenchimento das geocélulas com solo
adequado para este fim. As Figuras 33 e 34 apresentam detalhe da geocélula e de uma etapa
de instalação.

Figura 33 – Detalhe da geocélula Figura 34 – Instalação de geocélula em talude


(MacGuide, 1999) (MacGuide, 1999)

Impermeabilização Superficial
A função principal deste tipo de proteção superficial é impedir processos de infiltração de
água, com vistas principalmente à melhoria das condições de estabilidade do talude e a
processos de erosão superficial.
Para tal, esta alternativa deve atender a critérios de baixa permeabilidade, resistência e
durabilidade. A eficácia da impermeabilização superficial pode ser aferida medindo-se
31
Drenagem e Proteção Superficial

mudanças do grau de saturação na região superficial do talude após eventos pluviométricos.


Já o material utilizado deve apresentar resistência à erosão, em face do escoamento
superficial, assim como a variações térmicas, as quais podem proporcionar o aparecimento de
trincas, devido a sua exposição contínua às intempéries. Existe muito pouca informação
quanto à vida útil dos diferentes tipos de impermeabilização superficial; entretanto, é possível
prever a interferência da espessura adotada, tipo de material e controle da execução.
A impermeabilização superficial deve ser executada em toda a superfície a ser protegida,
estendendo-a para além do topo do talude até o sistema de drenagem implantado na crista.
Recomenda-se, também, a instalação de elementos de drenagem que permitam a dissipação de
excessos de poropressão que possam ocorrem na parte interna da placa de impermeabilização,
em decorrência de processos de infiltração de água. Estes elementos podem ser constituídos
de pequenos tubos de PVC de 5cm de diâmetro e/ou drenos geossintéticos, instalados atrás da
superfície impermeável. No caso da utilização de geodrenos é importante garantir uma
ancoragem adequada entre o geossintético e o solo para evitar a ocorrência de vazios e,
conseqüentemente, o desenvolvimento de processos erosivos. O espaçamento entre os
geodrenos pode ser ajustado de forma que pelo menos 1/3 da área impermeabilizada esteja
coberta com material drenante.
A impermeabilização superficial pode ser executada espalhando-se sobre o talude uma
mistura de solo-cimento-cal, água-cimento ou água-cimento com agregados finos. Uma outra
técnica consiste em cobrir a superfície com pequenos blocos de alvenaria, de cascalho
argamassado ou mesmo de rocha.
Tendo em vista o impacto visual que esta alternativa causa, recomenda-se sempre que
possível executar ações complementares, como por exemplo a sugerida na Figura 34, de
forma a minimizar os efeitos ambientais negativos.
Apresenta-se, a seguir, alguns aspectos construtivos relacionados às alternativas de proteção
superficial impermeabilizante.

Mistura Solo-Cimento
A mistura solo-cimento-cal, denominada na literatura como chunam, deve ser preparada
respeitando-se as seguintes proporções, estabelecidas em peso: uma parte de cimento
Portland, três partes de cal hidratada e 20 partes de solo residual argiloso, inorgânico, livre de
raízes ou matéria orgânica.
Inicialmente, o cimento e a cal devem ser misturados secos e e, em seguida, o solo deve ser
adicionado. A água deve, então, ser introduzida na medida necessária para possibilitar a
trabalhabilidade da mistura, uma vez que o aparecimento de trincas está em geral associado à
utilização de uma quantidade excessiva de água.
Antes da aplicação, deve-se executar a limpeza de toda a superfície do talude, removendo a
camada orgânica superficial. A argamassa é, então, aplicada na superfície do talude em duas
camadas de no mínimo 2cm de espessura. Para auxiliar sua fixação no talude, sugere-se a
colocação de pequenos grampos; em Hong Kong, este sistema auxiliar é feito com peças de
bambu de 2,5cm de diâmetro e 30cm de comprimento, cravadas no solo a intervalos de 1,5m,
deixando expostos 2,5cm da peça (GCO, 1984). O tempo de cura de um dia é considerado
suficiente para o lançamento da segunda camada.
Esta alternativa de impermeabilização foi empregada em alguns taludes na cidade de Hong
Kong, tendo sido observado, ao longo do tempo, o aparecimento de pequenas fissuras que, em

32
Drenagem e Proteção Superficial

alguns casos, evoluíram para trincas de dimensões significativas, o que possibilitou o


desenvolvimento de processos erosivos na encosta.
Assim sendo, devido à baixa durabilidade da mistura solo-cimento-cal (chunam), esta solução
não é recomendada e seu uso deve ser estrito à obras temporárias.

Concreto Projetado
A impermeabilização superficial pode ser executada espalhando-se sobre o talude uma
mistura de água-cimento e agregados finos.
Estes agregados devem ser selecionados de forma a se obter uma superfície razoavelmente
plana e de forma a se evitar segregação durante o processo de bombeamento. Assim sendo,
recomenda-se que o diâmetro do agregado não exceda 1cm. O tempo de cura não deve ser
inferior a sete dias.
A Figura 35 apresenta um exemplo de emprego do concreto projetado como medida de
proteção superficial em obra de estabilização com cortinas ancoradas.

Figura 35 – Concreto projetado combinado com solução de estabilização


em cortina ancorada (GeoRio)

Blocos
Blocos de alvenaria ou de cascalho argamassado ou mesmo de rocha podem ser utilizados
como elementos de impermeabilização superficial (Figura 36). As espessuras típicas adotadas
variam de 20cm a 30cm. Os blocos devem ser assentados em uma fina camada de cimento
previamente lançada. Abaixo desta camada recomenda-se a execução de uma camada
drenante de no mínimo 7,5cm de espessura e a instalação de elementos de drenagem
exclusivamente no pé. As juntas entre blocos deverão ser preenchidas com uma mistura de
cimento e areia, na proporção 1:3, para evitar infiltração e desenvolvimento de vegetação.
Esta solução é considerada a alternativa de impermeabilização superficial mais eficaz e mais
durável. Além disso, a estrutura composta por blocos interconectados gera uma rigidez no
conjunto, a qual eventualmente atua como agente estabilizador do talude.

33
Drenagem e Proteção Superficial

Figura 36 – Impermeabilização superficial com blocos (GEO, 1995)

2.4 – Drenagem subsuperficial


Projetos de drenagem subsuperficial de talude têm por objetivo melhorar as condições de
estabilidade, controlando a magnitude das pressões de água decorrentes ou não de processos
de infiltração. Em geral, tais projetos combinam aspectos de drenagem subsuperficial e
superficial, assim como de proteção de talude.
Em um talude, as pressões de água podem ser positivas (poropressão) ou negativas (sucção).
A pressão atmosférica, adotada como referência, ocorre em toda a superfície freática e
delimita as regiões denominadas não-saturadas, onde a água se encontra sob pressão negativa,
e saturadas, onde ocorrem as pressões positivas. As poropressões são, portanto, nulas em
pontos localizados sobre o nível d’água.
Sob condições hidrostáticas, as pressões positivas são calculadas diretamente em função da
distância vertical do ponto considerado à superfície freática. Na existência de regimes de
fluxo, entretanto, o cálculo das poropressões é mais complexo. No caso de condições de fluxo
permanente, as pressões de água são, em geral, obtidas a partir da utilização de métodos
gráficos (redes de fluxo). Alternativamente, pode-se utilizar ferramentas numéricas (MDF ou
MEF), que possibilitam a resolução da equação diferencial de fluxo, independentemente do
regime estabelecido (permanente e/ou transiente). Esta metodologia é particularmente
recomendada no caso de taludes, uma vez que permite incorporar aspectos como infiltração
e/ou evaporação, além de qualquer outro fator condicionante de seu regime de fluxo
(Gerscovich, 1992a e 1992b). No campo, as poropressões podem ser determinadas
diretamente, a partir da instalação de piezômetros (Dunnicliff e Green, 1988).
Na região não saturada, a sucção é função direta do teor de umidade. A relação entre estes
dois parâmetros, denominada curva característica, varia com o tipo de solo, arranjo estrutural,
34
Drenagem e Proteção Superficial

sentido de variação do grau de saturação (secagem ou umedecimento) etc. Não existe um


procedimento matemático para determinação da sucção. Assim sendo, sua magnitude pode ser
observada a partir da instalação de instrumentação de campo apropriada (tensiômetros ou
psicrômetros) ou através de determinações indiretas, com base no conhecimento do teor de
umidade e da curva característica. Existem diversas técnicas experimentais para obtenção da
curva característica; estas técnicas diferem entre si na forma de obtenção do teor de umidade
(método direto, sonda de nêutrons, resistência elétrica, papel filtro etc.) (Gerscovich, 1994).
Processos de infiltração decorrentes da precipitação de chuva podem alterar as condições
hidrológicas do talude, reduzindo as sucções e/ou aumentando a magnitude das poropressões.
Em ambos os casos, estas mudanças acarretam uma redução na tensão efetiva e,
conseqüentemente, uma diminuição da resistência ao cisalhamento do material, tendendo a
causar instabilidade.
Ressalta-se que, no caso de taludes localizados em áreas urbanas, mudanças nas condições
hidrológicas podem ocorrer não somente devido à infiltração das águas de chuva, como
também devido a infiltrações causadas por vazamentos em tubulações de água e/ou esgoto.
Este dado é de grande importância, sendo extremamente recomendado, em projetos de
estabilização de taludes, mapear todas as estruturas preexistentes e, se possível, verificar sua
integridade. Para tal, os ensaios geofísicos (eletrorresistividade ou potencial elétrico) podem
se apresentar como ferramentas adequadas para a determinação de zonas de percolação de
água no interior do talude.
Sistemas de drenagem subsuperficiais têm como função controlar as magnitudes de pressões
de água e/ou captar fluxos que ocorrem no interior dos taludes. Estes sistemas tendem a
causar rebaixamento do nível piezométrico, sendo o volume de água que flui através dos
drenos diretamente proporcional ao coeficiente de permeabilidade e ao gradiente hidráulico.
Com o rebaixamento do nível piezométrico, o gradiente hidráulico diminui e o fluxo então
vai se reduzindo progressivamente até se restabelecer uma condição de regime permanente.
Em solos de baixa condutividade hidráulica, esta redução pode significar a inexistência de um
volume de drenagem visível a olho nu, a qual não deve, entretanto, ser associada à
deterioração do dreno. Este tipo de comportamento muitas vezes gera dúvidas quanto a
eficácia do sistema de drenagem, sugerindo a possibilidade de colmatação. Neste sentido,
recomenda-se a monitoração contínua, através da instalação de piezômetros, comparando-se
registros antes, durante e após a construção.
Neste item serão abordados aspectos de dimensionamento e execução de drenos horizontais,
trincheiras drenantes longitudinais, drenos internos de estruturas de contenção, filtros
granulares e geodrenos.

Drenos Suborizontais
Sistemas de drenagem subsuperficial são relativamente simples e de fácil execução. Os drenos
são constituídos por tubos de PVC providos de ranhuras ou orifícios, introduzidos em
perfurações executadas na face do talude, conforme esquema apresentado na Figura 37.

35
Drenagem e Proteção Superficial

superfície do talude
protegida contra erosão

Trecho perfurado ou com ranhuras


Trecho sem perfuração envolto em geotêxtil

saída do dreno

tampão
Injeção de cimento
ou argamassa

proteção contra erosão

proteção contra erosão


canaleta

Figura 37 – Esquema de instalação de drenos suborizontais

Quando o material local é constituído de rochas ou solos heterogêneos, os drenos devem ser
projetados de forma a interceptar o maior número possível de veios permeáveis, sendo
necessário levantar o sistema de fraturamento, direção e ângulo de mergulho.
No caso de solos homogêneos e fluxo de água em regime permanente, os ábacos de Kenney e
colaboradores (1977) podem ser utilizados como uma primeira estimativa do número,
comprimento e espaçamento dos drenos (Figuras 38 e 39). Estes ábacos foram desenvolvidos
e se aplicam exclusivamente a taludes com inclinação 1:2 e 1:3 (V:H), sendo a condição
inicial da poropressão, antes da colocação dos drenos, caracterizada pela relação Hu/H. Para a
faixa de valores de Hu/H entre 0,5 a 0,7, os ábacos fornecem resultados aceitáveis. Para
taludes com relações de Hu/H superiores a esta faixa, os resultados tendem a ficar
subestimados e, para relações menores, os ábacos superestimam a influência dos drenos. No
caso de, por exemplo, o talude em estudo se ajustar à situação da Figura 38(a) e o aumento
desejado do fator de segurança for de 25%, o ábaco indica para drenos com relação L/S igual
a 0,7 as relações L/H e S/H da ordem de 2,4 e 1,6, respectivamente.
Os espaçamentos e comprimentos obtidos a partir dos ábacos de Kenney são úteis como
previsão inicial, devendo ser ajustados em cada caso, de acordo com a geologia local e a
experiência do projetista.
Levantamentos geofísicos (eletrorresistividade) têm se apresentado como ferramenta
importante para a investigação das condições hidrológicas nos taludes. Estas informações,
associadas à modelagem numérica de processos de fluxo, possibilitam um direcionamento e
racionalização de projetos de drenagem subsuperficial.

36
Drenagem e Proteção Superficial

Superfície de ruptura
esperada

~3
1 H
Hu L

Linhas de mesmo comp. total


0.4
de drenos
2.0 l=L/H
fator de segurança

1.5
Aumento do

∆F/F0

1.0
0.2 0.8 3
2.5
0.6
2
1.5 L/H
1.0

0
0 1 2 3 4 5 6
Espaçamento entre drenos S/H
(a) Taludes com largura > 4H

~
S/H = 1,5 Linhas do mesmo comp. total de drenos
l=L/S
0.4
fator de segurança

3
Aumento do

∆F/F0

2
L/H
0.2
1.5
2

0
0 1 2 3 4
Número de drenos

~ 4H
(b) Taludes com largura =

Figura 38 – Ábacos para pré-dimensionamento de tubos de drenagem (0,5<Hu/H,0,7) (DNER, 1990)

37
Drenagem e Proteção Superficial

Superfície de ruptura
esperada

~3
1 H
Hu
L

0,4
linhas de mesmo comp. total
de drenos l= L/H
fator de segurança
Aumento do

∆F/ F0

0,2 4 3 2 5
4 L/H
1.5 3
1.0 2

0
0 1 2 3 4 5 6
Espaçamento entre drenos S/H

(a) Taludes com largura > 4H

0.4

S/H ~
=2
fator de segurança
Aumento do

5
4
∆F/F0

0.2 3 L/H
2

linhas do mesmo comprimento total


dos drenos

0
0 1 2 3 4
Número de drenos

~ 4H
(b) Taludes com largura =

Figura 39 – Ábacos para pré-dimensionamento de tubos de drenagem (0,5<Hu/H,0,7) (DNER, 1990)

Em linhas gerais, em termos de comprimento, drenos longos mais espaçados são mais
eficientes do que drenos mais curtos com espaçamento menor. Quanto mais suave for o
talude, maior deverá ser o comprimento do dreno. Optando-se por tubos de PVC, a extensão
do dreno não deve exceder a 40m e, quando for o caso, sugere-se utilizar material mais
resistente, como ferro galvanizado ou inoxidável.
A vida útil de um dreno depende da composição química da água, da qualidade de execução
e, principalmente, do acompanhamento constante. Neste sentido, ressalta-se a necessidade da
instrumentação de campo, por meio de piezômetros instalados desde a fase de execução da
obra. O acompanhamento das flutuações piezométricas, nesta etapa, possibilita que correções
38
Drenagem e Proteção Superficial

no espaçamento e/ou número de drenos possam ser efetuadas para que sejam atingidas as
condições piezométricas especificadas em projeto.
A experiência demonstra, entretanto, que, mesmo executando-se manutenção periódica de
limpeza e verificação dos drenos suborizontais, a longo prazo o processo de colmatação reduz
sua capacidade drenante, tornando-os ineficazes. Assim sendo, esta solução não é
recomendada, sendo a utilização deste dispositivo restrita a aplicações temporárias.

Filtros e Drenos
Filtros granulares são elementos drenantes, que devem atender a critérios de projeto tais
como: estabilidade (os poros devem ser pequenos o suficiente para evitar sua colmatação),
condutividade hidráulica (sua permeabilidade deve ser muito superior ao solo a ser drenado) e
qualidade de instalação (não deve haver segregação de partículas ou contaminação antes ou
durante sua execução). Vários critérios de dimensionamento, baseados em relações
granulométricas foram propostos na literatura (Sherard et al.,1984a e 1984b; USBR, 1974;
GEO, 1993). Recomenda-se que quando o solo a ser drenado é heterogêneo, o material de
filtro deve ser estabelecido exclusivamente com base na fração granulométrica fina. A Tabela
9 resume os critérios usualmente adotados no dimensionamento de filtros e a Tabela 10 lista
valores médios de condutividade hidráulica saturada para diferentes materiais.
Drenos granulares são elementos com capacidade de transmitir vazão, conduzindo o fluxo
sem causar forças de percolação ou pressões hidrostáticas adicionais. Para tal, estes
dispositivos devem apresentar permeabilidade compatível e distribuição granulométrica
suficiente para evitar erosão e colmatação.
Nos casos em que filtros são usados em conjunto com materiais drenantes, a gradação entre
ambos os materiais deve também atender aos critérios de estabilidade, permeabilidade e
segregação.
Na prática, a granulometria do filtro é estabelecida com base na granulometria do solo a
drenar, de forma a satisfazer aos critérios de dimensionamento acima mencionados. Uma vez
definida a faixa granulométrica desejada, checa-se a granulometria da jazida e, caso esta não
satisfaça aos requisitos de projeto, misturas de materiais de diferentes procedências são
testadas.

39
Drenagem e Proteção Superficial

Tabela 9- Critério de dimensionamento de filtro granular (GCO, 1984)

Regra Requisito atendido

D15 F ≤ 5 × D85S
Estabilidade
D15 F ≤ 40 × D15S (os poros devem ser pequenos
o suficiente para evitar
carreamento de material e
D60 S
ou, no caso de solos uniformes, <4 conseqüente entupimento)
D10 S
........ D15 F ≤ 20 × D15S

D50 F ≤ 25 × D50S
A granulometria do material do filtro não deve ser descontínua

D15 F ≥ 5 × D15S Permeabilidade


( a permeabilidade do filtro
Não mais que 5% passa na peneira #200 e o solo deve ser granular, não-coesivo deve ser superior à do solo a
ser drenado)
D60 F
Coeficiente de uniformidade: 4 ≤ ≤ 20 Segregação
D10 F (o filtro não deve ficar
Dimensão máxima da partícula igual a 50mm segregado ou contaminado
durante a execução)
D85 F
Aberturas circulares... ≥1 a 2 Não entupimento do tubo
d
D85 F
Ranhuras................... ≥ 1,2 a 2
d
Notas:
Nomeclatura
D15F: diâmetro correspondente à porcentagem igual a 15% do material que passa do solo do filtro.
D85S: diâmetro correspondente à porcentagem igual a 85% do material que passa do solo a drenar.
d: diâmetro do furo/ abertura da ranhura.
A determinação da granulometria do solo de base e do material de filtro deve ser obtida sem uso de dispersantes.
A espessura do filtro não deve ser inferior a 30cm, para construção manual, ou 45cm, no caso de utilização de
máquinas.

40
Drenagem e Proteção Superficial

Tabela 10- Valores médios de permeabilidade (DNER, 1990)

Material Granulometria (cm) k (cm/s)

Brita 5 7,5 a 10 100


Brita 4 5 a 7,5 80
Brita 3 2,5 a 5 45
Brita 2 2 a 2,5 25
Brita 1 1a2 15
Brita 0 0,5 a 1 5
-1
Areia grossa 0,2 a 0,5 10
-3
Areia fina 0,005 a 0,04 10
-5
Silte 0,0005 a 0,005 10
-8
Argila < 0,0005 10

Trincheiras Drenantes
As trincheiras são elementos de interceptação do fluxo subsuperficial, sendo normalmente
instaladas próximas ao pé do talude. Em geral, este sistema é constituído por uma vala, de
profundidade da ordem de 1,5m a 2,0m, preenchida com materiais granulares, tubos de
drenagem ou geossintéticos, com funções drenante/filtrante. No caso de trincheiras drenantes
executadas com profundidade superior a 2,0m, recomenda-se a execução de escoramento das
paredes da cava, que pode ser realizado segundo procedimentos da Norma Brasileira sobre
Segurança de Escavações a Céu Aberto (ABNT NBR 9061/85).
As valas são abertas manual ou mecanicamente, mantendo-se larguras mínimas no fundo e na
boca de 0,5m e 0,6m, respectivamente. O material drenante no interior da vala tem a função
de captar e conduzir as águas, devendo então apresentar uma granulometria adequada ao
volume escoado, sendo recomendada a utilização de materiais inertes, como brita, cascalho ou
areia lavada. Na presença de tubos de drenagem, filtros devem ser previstos para evitar a
colmatação, em virtude do carreamento de finos.
De maneira geral os tubos de drenagem podem ser de material plástico (PVC), concreto,
cerâmica, fibrocimento ou metálico. Dependendo do material empregado, os diâmetros
variam de 5cm a 25cm e os orifícios ou ranhuras devem ter aberturas entre de 0,6cm e 1cm.
As extremidades dos tubos de drenagem devem ser fechadas para evitar a entrada do material
granular drenante/filtrante no interior do tubo.
A Figura 40 apresenta diferentes alternativas construtivas com relação ao preenchimento da
vala com material drenante/filtrante. Quanto maior for a porcentagem de material drenante,
maior será o raio hidráulico e, conseqüentemente, menor possibilidade de arraste de finos,
reduzindo o processo de colmatação.
A escolha dos materiais de preenchimento da vala deve satisfazer aos critérios de
dimensionamento de filtros, apresentados no item “Filtros e drenos”. A solução apresentada
na Figura 40 (a) é recomendada quando o material filtrante satisfaz a todos os critérios.
Quando a condição do não-entupimento do tubo não é satisfeita, recomenda-se a alternativa
mostrada na Figura 40 (b). Já o esquema apresentado na Figura 40 (c) é empregado se existir
a expectativa de grandes volumes de água fluindo através da vala ou quando o requisito de
permeabilidade do material de filtro não for atendido.

41
Drenagem e Proteção Superficial

Material Filtrante 7cm


Material Material
Filtrante Material Filtrante
Drenante Material
Drenante
1,5 a 2,0m
7cm

≥3cm ≥3cm
10cm 5cm 5cm

45cm 50cm 50cm

(a) (b) (c)

Figura 40 – Esquemas de trincheiras drenantes

Tubos de Drenagem
Em casos de rebaixamento do lençol d’água, o dimensionamento de tubos de drenagem é feito
segundo a lei de Darcy, a partir da seguinte expressão:

kH 2
Q=
Χ
onde Q é a vazão por metro, calculada a partir do traçado de redes de fluxo, k é a
condutividade hidráulica (permeabilidade) do solo ao redor do tubo; H a altura máxima do
lençol e X a distância entre o centro do tubo e o ponto de altura máxima do lençol, conforme
esquema apresentado na Figura 41.

nível do lençol d'água

H
dreno

Figura 41 - Dimensionamento de tubo – rebaixamento do lençol d’água

Para o caso de drenos profundos com função de interceptação, faz-se necessário considerar
também a precipitação na região a ser drenada, em função da distância entre o dreno e os
limites desta área. Uma vez estabelecida a vazão de projeto, o cálculo do diâmetro do tubo
pode ser efetuado em função da fórmula de Hazen-Williams:

Q = 0,2875 × C × D 2, 63 × I 0,54
onde Q é a vazão (m/s); D o diâmetro do tubo, I a declividade do dreno (m/m) e C um
coeficiente que depende da rugosidade das paredes internas do tubo (Cconcreto ou cerâmica =120).
Alternativamente, a fórmula de Manning pode também ser utilizada para o dimensionamento
da tubulação de drenagem (ver item “Velocidade de escoamento”). Neste caso, adota-se o

42
Drenagem e Proteção Superficial

coeficiente de rugosidade (n) entre 0,015 e 0,016 para tubos de plástico, flexíveis e
corrugados.
Recomenda-se, independentemente da solução adotada, que a vazão a ser considerada seja o
dobro da descarga de projeto, em virtude da conveniência de o tubo trabalhar sempre a meia
seção.

Geossintéticos
Diversos tipos de geossintéticos podem ser utilizados como drenos e/ou filtros. Em obras
geotécnicas empregam-se, em geral, os geotêxteis, as geomalhas e os geocompostos.
Os geossintéticos podem ter a função de filtração ou de drenagem. Quando instalado entre um
solo e o meio drenante, o geotêxtil tem a função de filtro. Neste caso, este elemento deve
permitir a livre passagem da água e ao mesmo tempo reter as partículas de solo necessárias
para sua estabilização. Na função de drenagem, o geotêxtil deve possibilitar a livre passagem
de fluidos através da sua espessura, no plano da manta.
De uma forma geral, os problemas mais comuns associados ao uso desses elementos são:
deterioração à exposição aos raios ultravioleta (luz do sol); reação a elementos químicos
presentes no solo; formação de planos de fraqueza durante a colocação, redução da
permeabilidade por compressão (em particular os geotêxteis e geocompostos) etc. Ensaios
realizados em diferentes tipos de geotêxtil indicaram reduções da ordem de 85% para a
permeabilidade normal e 65% para a abertura de filtração, quando submetidos a incrementos
de tensão normal até 200kPa. (Palmeira, 1997) Se estes aspectos são solucionados durante o
projeto e durante a fase de execução, o uso desta alternativa acelera o tempo de construção,
podendo, inclusive, reduzir os custos da obra.
Existe, entretanto, muito pouca experiência sobre o uso de geossintéticos em sistemas
permanentes de drenagem. Assim sendo, esta técnica deve ser empregada em situações de
baixo risco ou em casos nos quais se prevê monitoração contínua, com possibilidade de
remoção e reinstalação do elemento drenante, se este se tornar inoperante.
Para a quantificação do comportamento de geossintéticos como elementos de drenagem e
filtração, é importante o conhecimento dos seguintes parâmetros:
a) Permeabilidade ao longo do plano do geossintético(kp).
b) Permeabilidade normal ao plano do geossintético (kn).
c) Permissividade (θ), definida como a razão entre o coeficiente de permeabilidade normal e
a espessura do geossintético (tGT).
d) Transmissividade (Ψ), definida como produto entre a permeabilidade ao longo do plano e
a espessura do geossintético.
e) Abertura de filtração (Of), definida como o tamanho do maior grão de solo capaz de
atravessar uma manta geotêxtil. Dependendo do país, a terminologia empregada varia,
sendo as mais comuns: AOS (Aparent Opening Size, nos Estados Unidos), FOS
(Filtration Opening Size), O90 ou O95. (Palmeira et al., 1996).
Assim como os filtros granulares, os geotêxteis devem satisfazer os critérios básicos de
condutividade hidráulica (a permeabilidade deve ser superior à do solo a ser drenado) e
estabilidade ou retenção (os poros devem ser pequenos o suficiente para reter as partículas de
solo). (Fisher et al., 1990)

43
Drenagem e Proteção Superficial

Várias organizações internacionais estabeleceram critérios de dimensionamento de filtros com


geossintéticos (Heerten, 1986; Christopher e Holtz, 1988; CFGG, 1989). Em geral, tais
critérios baseiam-se em equações do tipo:
kn Of
≥C e ≤B
ks D85S
onde kn é o coeficiente de permeabilidade normal ao geotêxtil; ks a condutividade hidráulica
do solo a ser drenado; Of a abertura de filtração do geotêxtil; D85S o diâmetro correspondente
a 15% do material que passa da curva granulométrica do solo a ser drenado; C e B constantes.
A Tabela 11 reproduz o critério proposto pela experiência francesa (CFGG, 1989), que se
apresenta como a metodologia mais geral e que incorpora os parâmetros mais importantes nas
funções de drenagem e filtragem.
Ressalta-se que os diversos critérios de dimensionamento propostos na literatura adotam
diferentes parâmetros e, principalmente, diferentes metodologias de determinação destes
parâmetros. Neste sentido, não se recomenda comparar a aplicabilidade dos diferentes
critérios para uma situação comum (GEO, 1993).
Uma vez atendidos os condicionantes de permeabilidade e retenção, o geossintético
selecionado para o projeto deve também satisfazer aos requisitos de instalação: resistência à
tração, resistência ao alongamento, resistência ao puncionamento, resistência ao estouro e
resistência à propagação de rasgos.
Na fase de instalação recomenda-se a limpeza da superfície e cuidados na fase de aplicação da
manta, de forma a evitar solicitações exageradas ou a presença de vazios entre o solo e o
geotêxtil. Na emenda entre mantas recomenda-se, também, um recobrimento mínimo de
0,2m.
Quando utilizado como elemento de drenagem associado a técnicas de impermeabilização
superficial (por exemplo, concreto projetado, cortina atirantada etc), o espaçamento entre os
geodrenos pode ser ajustado de forma que pelo menos 1/3 da área impermeabilizada esteja
coberta com material drenante (GEO, 1996b). As Figuras 42 e 43 apresentam detalhes de
utilização desta alternativa. Em algumas situações, é possível também prever a instalação de
faixas de geodrenos horizontais, posicionadas em juntas de construção.

44
Drenagem e Proteção Superficial

Tabela 11 - Critério de dimensionamento de geotêxtil (CFGG, 1989)

Requisito atendido /
Notas
Regra
i) C g = C1 × C2 × C3 × C4

C1 =1,0 → solos bem graduados


0,8 → solos uniformes (Cu<4)
C2 =1,25 → solo denso(♣) e confinado
0,8 → solo fofo ou não confinado
C3 =1,0 → gradiente hidráulico (i) inferior a 5
0,8 → 5<i<20
0,6 → 20<i<40 ou fluxo alternado
C4 =1,0 → função de filtragem
0,3 → função de filtragem e drenagem
ii) Of → abertura de filtração (AOS, FOS, O90 ou O95), determinado em ensaio
Estabilidade hidrodinâmico
No caso de solos finos, isto é:
C g × D85 S < 0,05mm
O f < C × g D85S
considerar Of = 0,05mm
iii) D85S → diâmetro correspondente a 85% do material que passa do solo a ser
drenado.
iv) Cu = coeficiente de uniformidade do solo ( Cu = D60S D10 S ).

v) No caso de solos contendo finos que podem ficar em suspensão (areia fina com
baixo teor de argila), deve-se também atender a equação:
4 D15 S < O f

♣ solo denso: GC ≥ 95%γ d max ou DR ≥ 65% DR; onde GC é o grau de


compactação, DR a densidade relativa e γdmax peso específico aparente seco máximo

i) Ag = A1 × A2 × A3 × A4 × A5

i.1) Em barragens de terra:


Permeabilidade
(A1 = 100; A2 = 3; A3 = 10; A4 = 10 e A5 = 3)

Ψ > 10 5 × k s
Ψ > Ag × k s
i.2) Em outras estruturas (taludes, aterros e trincheiras de drenagem etc.)

Ψ > 10 4 × k s
i.3) Em areias limpas, com 12%<0,08mm

Ψ > 10 3 × k s
ii) ks condutividade hidráulica do solo

45
Drenagem e Proteção Superficial

faixa de drenos geossintéticos

conforme especificado em projeto

(a) Vista fontal

parede
dreno geossintético

contraforte
de concreto

tubo de drenagem filtro


geossintético

canaleta

(b) Solução com tubo de drenagem

dreno geossintético

dreno granular contínuo

filtro geossintético

tubo de
drenagem

(c) Solução com dreno granular

Figura 42 – Esquema de utilização de drenos (Poterfield, 1994)

46
Drenagem e Proteção Superficial

(a) Etapa inicial (b) Após execução de painel


Figura 43 – Detalhe de instalação de geodreno (Poterfield, 1994)

No caso de trincheiras drenantes a instalação do geotêxtil deve ser feita logo após a abertura
da vala. O sentido de lançamento do material de enchimento deve ser tal que impeça o
deslocamento ou levantamento do geotêxtil nas regiões de recobrimento. Após o enchimento
da trincheira e rebatimento do geotêxtil na superfície (fechamento superior do filtro), o selo
superior deverá ser imediatamente executado, para impedir a entrada de partículas na vala,
devido, por exemplo, à incidência de águas de chuva. A circulação de equipamentos de obra
sobre a trincheira drenante antes da sua conclusão deve ser proibida.

Drenos Internos em Estruturas de Contenção


O efeito da água em contato com a estrutura de contenção representa uma parcela
significativa dos empuxos ativos nela atuantes. A drenagem interna, nestes casos, tem por
objetivo aliviar as pressões de água e reduzir a resultante de empuxo. Dependendo da
alternativa adotada, a solução gráfica fornece vazões e magnitude de empuxos diferentes
(Figura 44).

47
Drenagem e Proteção Superficial

(a) Muro gravidade com dreno vertical

(b) Muro Cantilever com dreno inclinado

Figura 44 – Redes de fluxo em drenos internos

Em projetos de contenção, é fundamental que haja um tratamento adequado para os sistemas


de drenagem, uma vez que a maior parte das rupturas observadas em estruturas de arrimo
ocorre devido à falta ou à execução inadequada destes sistemas.
Quando o dreno é instalado na vertical na face de montante do muro (Figura 45a), as águas
devido à infiltração na superfície do terreno geram poropressões, que devem ser incorporadas
ao dimensionamento da estrutura de contenção. Por outro lado, a forma mais eficiente de se
anular o empuxo de água é instalar drenos inclinados (Figura 45b). Neste caso, as linhas de
fluxo junto à estrutura são essencialmente verticais e, portanto, as poropressões são nulas.

48
Drenagem e Proteção Superficial

infiltração

(a) Muro gravidade com dreno vertical

infiltração

(b) Muro cantilever com dreno inclinado

Figura 45 – Redes de fluxo em drenos internos sujeitos a processos de infiltração

Na prática, quando o muro de contenção possui menos de 2m de altura, a drenagem é em


geral feita exclusivamente ao longo da face vertical do muro (Figura 46). Em alguns casos,
devido a dificuldades executivas ou falta de materiais drenantes, pode ser mais econômico
omitir-se a drenagem e projetar o muro considerando o empuxo hidrostático total.

49
Drenagem e Proteção Superficial

Figura 46 - Muro com contrafortes

Em estruturas de arrimo com altura superior a 2m, a drenagem deve ser sempre prevista, pois
a consideração de empuxo pleno leva a projetos mais robustos, com mais consumo de
materiais, passando a ser antieconômico.
Idealmente o sistema de drenagem deve ser inclinado, conforme apresentado na Figura 47,
devendo as pressões de água ser simplesmente ignoradas no cálculo dos empuxos ativos. Nos
casos em que condições geométricas e de estabilidade não conduzam a esta solução, outras
disposições podem ser adotadas, conforme as sugeridas na figura 48. Nestes casos, as
pressões de água, calculadas através de redes de fluxo, deverão ser incorporadas ao cálculo da
estabilidade da estrutura e pressões hidrostáticas atuarão contra a parede abaixo do ponto mais
baixo de saída da drenagem.

50
Drenagem e Proteção Superficial

canaleta
proteção lateral

proteção lateral canaleta

aterro aterro
compactado compactado
mat. drenante
em sacos porosos
tubo de PVC φ 75
filtro/ material drenante
tubo de PVC φ 75 filtro

canaleta tubo de drenagem canaleta mat. drenante

concreto magro
(a) concreto magro
(b)

proteção lateral proteção lateral


canaleta
canaleta

aterro aterro
compactado mat. drenante compactado filtro
tubo de PVC φ 75 em sacos porosos

filtro/ materiais drenantes

material drenante
canaleta tubo de drenagem
canaleta
tubo de drenagem base impermeável
concreto magro concreto magro
(c) (d)

Notas:
i) Onde as camadas do filtro são muito inclinadas, o material drenante pode ser colocado em sacos porosos.
Figura 47 – Sistemas de drenagem em muros de contenção – dreno inclinado

51
Drenagem e Proteção Superficial

proteção lateral proteção lateral


canaleta canaleta

tubo de tubo de
PVC φ 75 aterro PVC φ 75
compactado

filtro/material filtro/material
canaleta drenante
canaleta drenante

tubo de drenagem
(a) tubo de drenagem (b) concreto magro
concreto magro

proteção lateral proteção lateral


canaleta
canaleta

filtro
tubo PVC tubo de PVC aterro
φ 75 φ 75 compactado
aterro compactado
filtro
canaleta
canaleta

mat. drenante mat. drenante


em sacos porosos

(c) concreto magro concreto magro


(d)

Nota:
i) Onde as camadas do filtro são muito inclinadas, o material drenante pode ser colocado em sacos
porosos.
Figura 48 – Sistemas de drenagem em muros de contenção

O dimensionamento hidráulico do sistema de drenagem depende diretamente do projeto do


muro e das condições hidrológicas locais (presença de nível d’água no interior do maciço,
taxas de infiltração etc.). Por outro lado, os esforços transmitidos à estrutura, informação
fundamental para a verificação da estabilidade do muro, dependem do estabelecimento prévio
do posicionamento e das características dos elementos drenantes. A solução deste problema
passa, então, por um processo iterativo, no qual os diversos elementos são ajustados até que se
obtenha uma solução adequada ao projeto em questão.
Para o cálculo da vazão que o sistema de drenagem deverá comportar, é essencial que se
conheça a condutividade hidráulica do maciço a drenar, a qual pode ser determinada através
de ensaios de permeabilidade no laboratório ou através de ensaios de infiltração e/ou
recuperação em furos de sondagem. Como regra geral, recomenda-se que a condutividade
hidráulica do material drenante seja no mínimo 100 vezes maior do que a do solo a ser
drenado, garantindo uma condição de drenagem livre, isto é:

k d ≥ 100 × k s
onde kd e ks são a condutividade hidráulica do dreno e do solo, respectivamente.

52
Drenagem e Proteção Superficial

A espessura do dreno pode ser calculada em função da lei de Darcy ou através do traçado de
redes de fluxo, considerando-se, nesta abordagem, o contraste entre as condutividades
hidráulicas do solo e do dreno. (Cedergreen, 1977) No caso da determinação a partir da lei de
Darcy, fixa-se a área transversal mínima necessária com base na seguinte expressão.

q
Ad =
kd i
onde Ad é a área da seção transversal; q a vazão captada pelo dreno, estabelecida pela rede de
fluxo (fluxo interno e infiltração); kd a condutividade hidráulica do dreno e i o gradiente
hidráulico máximo no dreno, definido como a razão entre a máxima perda de carga no dreno e
seu correspondente comprimento de percolação. No caso de drenos inclinados, o gradiente
hidráulico (i) pode ser aproximado como sendo:

i = sen( β d )
onde βd é o o ângulo de inclinação do dreno com a horizontal.
Na prática, a espessura do dreno é estabelecida em função dos condicionantes construtivos,
acarretando, em geral, espessuras superiores às definidas em projeto. Como uma estimativa
inicial, drenos internos de 30cm são usualmente adequados em projetos de muros com
retroaterro compactado.
O uso de geossintéticos, combinando elementos com funções de filtragem e drenagem, tem
sido bastante difundido em projetos de estruturas de contenção. Nestes casos recomenda-se
reduzir a transmissividade (ψ) do dreno por um fator de correção igual a 10 (GEO, 1996).
Independentemente do material adotado, os critérios de dimensionamento de filtros devem ser
sempre atendidos. A não-obediência a estes critérios tem sido apontada como o principal
fator de insucessos.
Durante a construção da estrutura de arrimo, a execução dos drenos deve ser cuidadosamente
acompanhada, observando o posicionamento do colchão de drenagem e garantindo que
durante o lançamento do material não haja contaminação e/ou segregação.
No caso de estruturas de contenção executadas em concreto armado, furos de drenagem
(barbacãs) devem ser executados, em faixa, na face do muro. Neste caso, recomendam-se
furos com 7,5cm de diâmetro espaçados de até 1,5m na horizontal e 1,0m na vertical,
formando arranjos em posições alternadas. A linha inferior deve ser posicionada
aproximadamente 30cm acima da base do muro.
Tratando-se de muros em fogueira (crib walls) e gabiões, recomenda-se a instalação de filtro
vertical na face interna do muro, a menos que o material de preenchimento atue como filtro,
impedindo o carreamento da fração fina do retroaterro.
Em gabiões, recomenda-se , ainda, a instalação de uma camada drenante na base para
proteção da fundação contra eventuais processos erosivos. Em gabiões preenchidos com
material de alta permeabilidade, a infiltração das águas de chuva pode também causar erosão
na base. Sendo assim, sugere-se a instalação de uma camada impermeável na base (GEO,
1996).

53
Muros

Muros

A S J Sayão

Introdução
Este capítulo tem por objetivo abranger as principais recomendações para o projeto e construção de
muros de contenção. Vários textos clássicos, entre livros e manuais, são referidos neste capítulo.
Os seguintes principais tipos de estruturas de contenção são enfocados neste capítulo:
• Muros de peso: alvenaria de pedras, concreto gravidade, gabiões, solo-pneus, solo reforçado e
sacos de solo cimento
• Muros de concreto armado: seção em L, com contrafortes e chumbado

Empuxos de solo

Considerações gerais
O estado de tensões atuando em um elemento de solo pode ser representado por um círculo no
diagrama de Mohr (tensão cisalhante τ vs tensão normal σ ). À medida que o solo é submetido a
uma solicitação de cisalhamento, o círculo de Mohr varia de diâmetro. Enquanto o círculo situa-se
abaixo da envoltória de resistência, usualmente representada por uma linha reta denominada
envoltória de Mohr-Coulomb, o elemento de solo permanece em equilíbrio (Figura 1a).

1
Muros

φ'

c' R
x x C x
pa p0 pp
-c' σ'

φ'
a) Diagrama de Mohr

α'

A
K0
a' R
C
pa p0 pp p'
-a'

α'

b) Diagrama MIT

Figura 1 Estados de Tensão em um Elemento de Solo

Um caso de equilíbrio com particular interesse é o estado de repouso do solo, correspondente às


condições de campo onde as deformações laterais são nulas, ou seja, quando o solo sofre
deformações somente na direção vertical. Este caso é representado pelo ponto R na Figura 1. Se a
solicitação imposta ao solo envolver deformações laterais de compressão ou de extensão, o
equilíbrio é alterado e o solo afasta-se da condição de repouso. Dependendo da magnitude das
deformações laterais, o estado de tensões no solo pode situar-se entre as condições de repouso e de
ruptura. Quando a solicitação levar a uma condição de tensões com o círculo de Mohr
tangenciando a envoltória, a resistência ao cisalhamento disponível do solo passa a ser
integralmente mobilizada e o elemento atinge o estado de equilíbrio plástico ou equilíbrio limite.
Os termos ativo e passivo são usualmente empregados para descrever as condições limites de
equilíbrio correspondentes ao empuxo do solo de retroaterro contra a face interna (tardoz) do muro.
Estas condições limites estão respectivamente representadas pelos pontos A e P na Figura 1.

2
Muros

Casos ativo e passivo


O estado de repouso corresponde à pressão exercida pelo solo de retroaterro sobre um muro de
contenção rígido e fixo, ou seja, que não sofre movimentos na direção lateral. O estado ativo ocorre
quando o muro sofre movimentos laterais suficientemente grandes no sentido de se afastar do
retroaterro. De forma análoga, o estado passivo corresponde à movimentação do muro de encontro
ao retroaterro. As trajetórias de tensões ou diagrama tipo MIT (Lambe e Whitman, 1969) para um
elemento de solo do retroaterro próximo ao tardoz do muro estão ilustradas na Figura 1b. Os
valores de p e q nesta figura são respectivamente a semi-soma e a semi-diferença das tensões
verticais e horizontais. Para o caso ativo, a trajetória corresponde a um descarregamento da tensão
lateral (redução da tensão principal menor σ3 ), enquanto que, para o caso passivo, a trajetória pode
ser associada a um carregamento lateral (aumento da tensão principal maior σ1 ).
Os deslocamentos relativos entre o muro e o solo, necessários para mobilizar os estados ativo e
passivo de equilíbrio limite, dependem do tipo de solo e da trajetória de tensões. A Figura 2 ilustra
uma variação típica do coeficiente de empuxo K em função do deslocamento de translação lateral
de um muro rígido em relação ao retroaterro (Rowe e Peaker 1965; Terzaghi e Peck, 1967). Pode-
se notar que o movimento lateral necessário para atingir o estado ativo é muito reduzido, da ordem
de 0,1% a 0,4% da altura do muro, dependendo da densidade do solo. Para um muro com altura H
= 4m, um deslocamento horizontal x = 4mm é em geral suficiente para mobilizar o estado ativo de
equilíbrio limite em um retroaterro de areia compacta. A Figura 2 indica, ainda, que valores
significativamente maiores de deslocamento do muro (x = 1% a 4% H) são necessários para
mobilizar o estado passivo de equilíbrio limite.
Em ambos os casos (ativo ou passivo), a tensão lateral (pA ou pP) no tardoz do muro pode ser
considerada com valor proporcional à tensão vertical (σ’v.), ou seja, com distribuição triangular ao
longo da profundidade (equação 9.1). Esta consideração é razoavelmente precisa desde que os
movimentos do muro sejam de translação ou de rotação no topo (CGS, 1985).
pA = KA σ’v ; pP = KP σ’v (9.1)
onde: KA ou KP = coeficientes de empuxo ativo ou passivo; σ’v = γ.z = tensão efetiva vertical, γ =
peso específico do solo; z = profundidade do retroaterro.
Para outros tipos de movimentação do muro, tais como rotação na base ou translação não uniforme
em muro flexível, a distribuição pode ser significativamente diferente da triangular e os métodos
usuais de cálculo de empuxo podem não ser válidos. Uma revisão concisa do assunto é apresentada
em Terzaghi e Peck (1967) e GEO (1993).

3
Muros

ATIVO PASSIVO
x x

4.5

D
4.0

3.5
Coeficiente de empuxo

3.0

F
2.5

2.0
D = Areia densa
KP
1.5
F = Areia fofa

1.0

0.5 K0
F
D KA
0
2 1 0 1 2 3 4

Movimento relativo do muro x (%)


H

Figura 2 Variação do coeficiente de empuxo em função do movimento de translação do muro

Método de Rankine
A teoria clássica de Rankine para o cálculo de empuxos de solo é válida para muros de contenção
de grande altura, com tardoz vertical liso, suportando retroaterro com superfície horizontal. Com
estas condições, as tensões principais (σ1 e σ3) existentes em um elemento de solo próximo ao
tardoz do muro estão sempre atuando nas direções vertical e horizontal. As indicações da Figura 1
são, portanto, válidas para a teoria de Rankine, quando toda a massa de solo no retroaterro
encontra-se em um estado de equilíbrio plástico. A teoria considera, portanto, que os movimentos
do muro são suficientes para mobilizar os estados de tensão ativo ou passivo. A Figura 3 apresenta
de forma resumida o método de Rankine para o cálculo do empuxo E nos estados ativo e passivo de
tensões, para o caso de retroaterro com superfície horizontal. Como a distribuição de tensões
laterais no muro é admitida como sendo triangular, o ponto de aplicação do empuxo E situa-se a
33% da altura do muro. Resultados experimentais em modelos reduzidos (Terzaghi e Peck, 1967)
indicam, no entanto, que em muros com rotação no topo ou com retroaterros de areia compacta, o
ponto de aplicação de E pode situar-se mais acima, da ordem de 40 a 50% da altura do muro. Com

4
Muros

isto, a tendência ao tombamento do muro é, na realidade, maior do que a prevista na teoria de


Rankine, sendo o erro contrário à segurança do muro.

M A P

θA θP
H
E
H
3
o P

ATIVO PASSIVO
φ' φ'
θ A = 45 +   θ P = 45 −  
2 2

KA =
(tan θ A ) (tan θ P )
KP =
(tan θ P ) (tan θ A )
PA = K A γ H - 2 c' K A PP = K P γ H + 2c' K P

EA =
(PA × H ) (PP × H )
EP =
2 2
γ, c’, φ’ = parâmetros efetivos do retroaterro

Figura 3 Método de Rankine: cálculo do empuxo para retroaterro horizontal

Outro aspecto importante a ser ressaltado é que a teoria de Rankine despreza a ocorrência de
resistência ao cisalhamento (atrito e adesão) no contato solo/muro. Esta simplificação pode levar a
valores significativamente maiores de empuxo ativo. Neste caso, porém, o erro da teoria é favorável
à segurança do muro, apesar de anti-econômico.
As superfícies de ruptura (linhas OA ou OP na Figura 3), desenvolvidas no solo ao serem atingidos
os estados limites de equilíbrio ativo ou passivo, apresentam inclinação θA ou θP, respectivamente,
em relação à direção horizontal. Os valores de EA e EP correspondem aos empuxos efetivos do solo
sobre o muro, ou seja, não incluem a ação da água eventualmente presente no retroaterro.
A teoria de Rankine pode ser estendida para o caso de retroaterro com superfície inclinada de um
ângulo β com a horizontal (Figura 4). Neste caso, a pressão efetiva do solo sobre o muro pode
ainda ser admitida com distribuição triangular, porém atuando com direção β , paralela à superfície
do retroaterro. A Figura 4 resume os procedimentos do método de Rankine para cálculo do empuxo
ativo do solo sobre o muro.

5
Muros

M β

H θA EA

H/3
β
p
O

1.0
ε = arcsen senβ senφ ′ 
  20 φ'
(ε − φ ′) 25

θ A = 45 +  φ 2  + 30
  2 35

k A = cos β ⋅
cos β − (cos 2
β − cos 2 φ ′) 40
cos β + (cos 2
β − cos φ ′)
2
0.5 45

p A = k A ⋅ γ ⋅ H − 2 ⋅ c′ k A
kA
(pA ⋅ H )
EA =
2
γ, c’, φ’= parâmetros efetivos do retroaterro
ε = fator angular do retroaterro (β < ε < 90º)
0.0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
β (graus)

Figura 4 Método de Rankine: cálculo do empuxo ativo para retroaterro inclinado

Método de Coulomb
Na teoria de Coulomb, considera-se o equilíbrio limite de uma cunha de solo com seção triangular,
delimitada pelo tardoz do muro e pelas superfícies do retroaterro e de ruptura. A solução do
problema não é rigorosamente correta, pois considera unicamente duas equações de equilíbrio de
forças, desprezando o equilíbrio de momentos. Para o caso ativo, a incorreção da teoria de
Coulomb é em geral desprezível (GEO, 1993).
Em relação à teoria de Rankine, o método de Coulomb tem aplicação mais ampla, pois vale para
condições irregulares de geometria de muro e superfície de retroaterro, sem desprezar a resistência
mobilizada entre o muro e o solo. Em um caso geral, a solução gráfica, considerando superfície de
ruptura planar, é a mais adequada, apesar de trabalhosa. Um exemplo deste procedimento gráfico
para solução do empuxo pelo método de Coulomb está apresentado na Figura 5 para o caso ativo.
Deve-se notar que o procedimento gráfico possibilita a incorporação de sobrecargas concentradas
ou distribuídas no topo do retroaterro ou ainda a existência de nível freático no interior do
retroaterro.
Os principais passos para a solução gráfica de Coulomb estão resumidos a seguir.
(i) arbitra-se uma superfície de ruptura (superfície OA1 na Figura 5), com inclinação próxima à
indicada pelo método de Rankine;
(ii) plota-se o polígono de forças, considerando todas as magnitudes e direções das forças que
atuam na cunha OA1M de solo instável (Figura 5);

6
Muros

(iii) determina-se o valor do empuxo E1 correspondente à superfície OA1 arbitrada;


(iv) arbitra-se uma nova superfície de ruptura (OA2), plota-se o novo polígono de forças e
determina-se o empuxo E2 correspondente;
(v) repete-se o procedimento por diversas vezes, com o objetivo de se obter um gráfico da
variação do empuxo E com a distância X (afastamento do ponto A da superfície de ruptura
em relação ao ponto M no topo do muro);
(vi) no caso ativo, o ponto correspondente ao valor máximo do gráfico E vs X indica a
magnitude do empuxo EA e a posição da superfície crítica de Coulomb. No caso passivo, o
empuxo EP e a superfície crítica de Coulomb correspondem ao valor mínimo do gráfico E vs
X.

A W
C
U2 U1
R
δ EA φ'

O
Superfície OA : arbitrada
(a) Forças atuando na cunha OAM
Peso W = γ . V
EA
Coesão C = c' . S1
R Adesão A = cw . S2

Ação da água U1 = u1 . S1

U2
Ação da água U2 = u2 . S2
A
Ação da Normal RA ( direção φ')
C
W Empuxo EA ( direção δ)
U1
V = volume da cunha OAM

(b) Polígono de forças S1 = área da superfície OA

S2 = área do tardoz OM

EA E4

E1

X
A A4
M A1

EA = empuxo ativo
OA = superfície crítica

(c) Gráfico E vs X para as superfícies arbitradas

7
Muros

Figura 5 Método de Coulomb: determinação gráfica do empuxo ativo

O ângulo de atrito δ mobilizado no contato solo/muro pode apresentar valores entre 0 e φ’ ,


dependendo do tipo do solo, do material do muro e do deslocamento relativo entre o solo e o muro.
Em geral, o valor do empuxo ativo diminui com o aumento do ângulo δ , o qual deve ser
determinado experimentalmente. Na ausência de dados experimentais, é usual se adotar δ da ordem
de 1/3 a 2/3 do ângulo φ’, com os maiores valores correspondendo a muros rugosos de alvenaria
ou de concreto. Na realidade o valor de δ não afeta significativamente a magnitude do empuxo EA ,
mas sim a sua direção (ou linha de ação), com consequente influência na largura da base do muro
necessária para garantir a estabilidade. Este assunto está detalhado no item 3 a seguir.
O método de Coulomb trata apenas do equilíbrio de forças, sem considerações sobre a distribuição
das tensões laterais no tardoz do muro. Com isso, o ponto de aplicação do empuxo deve ser
definido por um procedimento gráfico aproximado, conforme ilustrado na Figura 6.

G
c a
íti
EA cr
cie
δ
erfí
P p
Su

Procedimento:

1) Determina-se a superfície crítica (OA)

2) Determina-se o centro de gravidade ( ponto G) da cunha OAM

3) Pelo ponto G, traça-se uma reta paralela a superfície OA

4) Determina-se o ponto P, que corresponde ao ponto de aplicação do empuxo EA no tardoz do muro

Figura 6 Determinação do ponto de aplicação do empuxo

No caso de empuxo ativo provocado por retroaterro não coesivo (c’ = 0), a solução analítica do
método de Coulomb está apresentada na Figura 7. A solução vale para tardoz com inclinação α ,
retroaterro com inclinação β e atrito solo/muro δ . No caso particular de valores nulos para α , β e
δ , são obtidos os resultados previstos pela teoria de Rankine. Os valores do coeficiente de empuxo
KA podem ser obtidos diretamente a partir dos ábacos apresentados na Figura 8. Os ábacos estão
apresentados para os valores usuais de δ = 0 e δ / φ’ = 2/3. Uma estimativa preliminar de KA pode
ser rapidamente obtida por interpolação a partir dos casos apresentados na Figura 8.

8
Muros

M β

H
α α
δ
H/3 Ep
o

Ep = (Kp . γ . H2) / 2 = Empuxo Passivo


Kp = K*p . Rδ = Coeficiente de Empuxo Passivo

K*p = Coef. de empuxo passivo para δ=φ'


Rδ= Fator de redução para 0<δ<φ'
γ, φ'= Parâmetros efetivos do reaterro (c'=0)

100 15
1.0 0º
50 0.8 10 10º
β/φ' 0.6 α 20º
0.4
0.2 30º
0.0
5 40º
K*p 10 K*p
5

1
1
0 10 20 30 40 0 10 20 30 40

φ' φ'
1.0 1.0
δ/φ' δ/φ'
0.8 0.7 0.8 0.7

0.6 0.5
Rδ 0.6
0.5

0.3 0.3
0.4 0.4
0.1 0.1
0.0 0.0
0.2 0.2

0.0 0.0
0 10 20 30 40 0 10 20 30 40

φ' φ'
(a) Muro Vertical (α=0) (b) Retroaterro Horizontal (β=0)

De maneira análoga, a Figura 9 permite a obtenção do coeficiente de empuxo KP para a estimativa


do empuxo passivo, neste caso com base nos ábacos apresentados por Caquot e Kerisel (1948). Em
ambas as figuras, estão disponíveis os ábacos para as situações mais simples de muro com tardoz
vertical ou de retroaterro com superfície horizontal.

9
Muros

M β

EA
θA α
α

H
3
δ
α
o

sen(φ '+δ ) × cos(δ + α )


cot (θ A − β ) = sec(φ '+δ + α − β ) × − tan (φ '+δ + α − β )
sen(φ '− β ) × cos(β − α )

cos 2 (φ '−α )
KA =
sen(φ '+δ ) × sen(φ '− β ) 
2

cos α × cos (δ + α ) × 1 +
2

 cos(δ + α ) × cos(β − α ) 

EA =
(K A ×γ × H 2)
2

γ, φ’ = Parâmetros efetivos do retroaterro não coesivo ( c’=0)

Figura 7 Método de Coulomb: equação para cálculo do empuxo ativo

10
Muros

1.0 1.2
20 20
25 φ'
0.8 30 1.0 φ' 25
30
40
45 35
0.6 0.8 40
KA 50 45
KA 0.6
0.4
0.4
0.2
δ=0 0.2 δ=0
0.0
0.0
0 10 20 30 40 50
0 10 20 30 40 50
β α
1.0 1.2
20
20 25 φ' 25
30
0.8 35
1.0 φ' 30
35
40
0.8 40
0.6 45 45
KA
KA 0.6
0.4
0.4

2 2 φ'
0.2
δ= φ' 0.2 δ=
3 3
0.0 0.0
0 10 20 30 40 50
0 10 20 30 40 50 α
β
(a) Muro vertical (α=0) (b) Terrapleno horizontal (β=0)

Figura 8 Método de Coulomb: ábacos para estimativa do coeficiente KA

11
Muros

M β

H
α α
δ
H/3 Ep
o

Ep = (Kp . γ . H2) / 2 = Empuxo Passivo


Kp = K*p . Rδ = Coeficiente de Empuxo Passivo

K*p = Coef. de empuxo passivo para δ=φ'


Rδ= Fator de redução para 0<δ<φ'
γ, φ'= Parâmetros efetivos do reaterro (c'=0)

100 15
1.0 0º
50 0.8 10 10º
β/φ' 0.6 α 20º
0.4
0.2 30º
0.0
5 40º
K*p 10 K*p
5

1
1
0 10 20 30 40 0 10 20 30 40

φ' φ'
1.0 1.0
δ/φ' δ/φ'
0.8 0.7 0.8 0.7

0.6 0.5
Rδ 0.6
0.5

0.3 0.3
0.4 0.4
0.1 0.1
0.0 0.0
0.2 0.2

0.0 0.0
0 10 20 30 40 0 10 20 30 40

φ' φ'
(a) Muro Vertical (α=0) (b) Retroaterro Horizontal (β=0)

Figura 9 Método de Coulomb: cálculo do empuxo passivo com os ábacos de Caquot e Kerisel (1948)

12
Muros

Efeitos da água
Os métodos de cálculo de empuxo apresentados neste item referem-se apenas ao empuxo efetivo do
retroaterro sobre o muro, o qual é considerado perfeitamente drenante. No caso, porém, de muro
impermeável ou com sistema de drenagem defeituoso, pode ocorrer uma elevação do nível d’água
no retroaterro, provocado, por exemplo, por chuvas intensas. Nestas situações, o muro passa a
suportar também o empuxo hidrostático provocado pela água .
O efeito do empuxo (EW) provocado pela água do retroaterro sobre o muro é sempre contrário à
estabilidade. Para a pior situação, considerando um muro totalmente impermeável, com nível
d’água na superfície do retroaterro, o valor do empuxo ativo total (solo + água) atuando no muro
pode chegar ao dobro do empuxo do solo no caso de muro permeável com nível d’água profundo.
É, portanto, de fundamental importância que as estruturas de contenção sejam dotadas de sistemas
de drenagem adequados, com vistoria e manutenção frequentes.

Estabilidade de muros
Os muros de peso, também denominados muros de gravidade, dependem da geometria e do peso
próprio para a sua estabilidade. Um muro de peso deve ser construído com largura suficiente para
evitar o surgimento de tensões de tração no interior do muro. Estas tensões seriam provocadas pela
ação instabilizante do empuxo do solo, com tendência ao deslizamento da base e ao tombamento do
muro.
Para garantia de estabilidade do muro, os seguintes mecanismos potenciais de ruptura deverão ser
cuidadosamente estudados e verificados:
• instabilidade global do talude;
• deslizamento ao longo da base do muro;
• tombamento em relação ao pé do muro;
• capacidade de suporte do solo de fundação do muro.
Os itens acima são comuns ao projeto e dimensionamento de todos os tipos convencionais de muros
de arrimo. A Figura 10 apresenta uma ilustração destes mecanismos potenciais de ruptura de muros
de peso.

13
Muros

a) Instabilidade global do talude b) Deslizamento na base

c) Tombamento d) Ruptura do solo de fundação

Figura 10 Condições de estabilidade em muros de peso

Verificação da instabilidade global


A possibilidade de instabilidade global do talude, envolvendo o conjunto de muro e solo deve ser
cuidadosamente verificada através dos métodos de análise de estabilidade de taludes por equilíbrio
limite, tratados no capítulo 5. Para a análise da estabilidade global, os principais parâmetros a
serem determinados são os pesos específicos dos materiais (muro e solo) e os parâmetros de
resistência (coesão e ângulo de atrito) do solo.
Os parâmetros de resistência são usualmente obtidos para a condição de ruptura (pico da curva
tensão-deformação) do solo e, a seguir, corrigidos por fatores de redução, conforme indicado a
seguir.

 tan φ ' p   c' p 


φ ' d = arctan  ; c' d =   [1]
 FS φ   FSc 

onde: φ’d e c’d são, respectivamente, o ângulo de atrito e a coesão para dimensionamento; φ’p e
c’p são, respectivamente, o ângulo de atrito e a coesão de pico; e FSφ e FSc são os fatores de
redução para atrito e coesão, respectivamente. Os valores de FSφ e FSc devem ser adotados na
faixa entre 1,0 e 1,5, dependendo da importância da obra e da confiança na estimativa dos valores
dos parâmetros de resistência φ’p e c’p.
A Tabela 1 apresenta uma indicação de valores típicos dos parâmetros geotécnicos usualmente
necessários para pré-dimensionamento de muros de contenção com solos da região do Rio de
Janeiro. Na Tabela 1 estão apresentados o peso específico total (γ), o ângulo de atrito efetivo (φ’) e
a coesão efetiva (c’), correspondentes aos níveis de tensões e às condições de umidade ou saturação
usuais no campo. Deve-se observar que os valores da Tabela 1 são apenas indicativos, pois os

14
Muros

valores de γ , φ’ e c’ podem depender fortemente de inúmeros fatores, tais como nível de tensões,
condições de saturação, condições de carregamento, etc. Esta tabela não substitui, portanto, os
resultados obtidos diretamente a partir de ensaios no laboratório ou no campo.

Tabela 1 Valores típicos de parâmetros geotécnicos para projeto de muros

TIPO DE SOLO γ 3
( kN/m ) φ’ (graus) c’ ( kPa )

Aterro compactado 19 - 21 32 -42 0 - 20


(silte areno-argiloso)
Solo residual maduro 17 - 21 30 - 38 5 - 20
Colúvio in situ 15 - 20 27 - 3 5 0 - 15
Areia densa 18 - 21 35 - 40 0
Areia fofa 17 - 19 30 - 35 0
Pedregulho uniforme 18 - 21 40 - 47 0
Pedregulho arenoso 19 - 21 35 - 42 0

Verificação do deslizamento ao longo da base


Esta verificação consiste na determinação do fator de segurança contra o deslizamento da base do
muro (Figura 11). O fator de segurança, obtido pela razão entre os somatórios das forças resistentes
(Fr) e solicitantes (Fs), deve ser igual ou superior a 1,5 (equação 2).
Fr
FS d = ≥ 1,5 [2]
Fs

onde: FSd = fator de segurança contra o deslizamento na base do muro;


Fs = resultante das forças solicitantes (empuxo EA ou EP);

Fr = A (c’ + σ v tan δ ) = resultante das forças resistentes;
A = B . 1 = área da base do muro (por metro linear);
c’ e δ = parâmetros de resistência (coesão e ângulo de atrito) no contacto solo / muro;
σ’v = γm . H = tensão vertical efetiva na base do muro,
γm = peso específico efetivo do material do muro;
H = altura do muro.
Na Figura 11, a força E corresponde ao empuxo resultante sobre o muro e inclui o efeito da
sobrecarga (q) distribuída na superfície do retroaterro.

15
Muros

muro reaterro

H W
E

N
Solo de fundação
B

Figura 11 Verificação da estabilidade do muro contra o deslizamento na base.

Verificação do tombamento em relação ao pé do muro


A análise da possibilidade de tombamento de um muro de contenção consiste na verificação dos
momentos atuantes na estrutura, em relação à aresta externa da base (pé do muro), como
apresentado na Figura 12. O fator de segurança contra o tombamento é definido como indicado na
equação 3:

∑Mr
FS t = ≥ 2,0 [3]
∑Ms

onde ∑ M r = somatório dos momentos das forças resistentes (estabilizantes) e


∑ Ms = somatório dos momentos das forças solicitantes (instabilizantes).

W . a + α EP . b
FS =
EA EA . c

W
c
b EP

Figura 12 Análise de estabilidade do muro contra o tombamento

Deve-se ressaltar que, no caso da base do muro apresentar um embutimento, o empuxo passivo
atuando a jusante deve ser considerado na análise da estabilidade. No entanto, é usualmente
recomendado o uso de um fator de redução (α) do empuxo passivo, tendo em vista a possibilidade
de erosão ou escavação do solo no pé do muro e a diferença entre os deslocamentos necessários
para mobilizar os empuxos passivo e ativo. O valor de α geralmente recomendado nas normas
norte americanas e européias situa-se entre 0 e 1/2, sendo usual a adoção de α = 1/3.
Adicionalmente, a segurança contra o tombamento do muro deve ser também garantida por um
outro critério gráfico. A resultante vetorial (R’) entre as forças de empuxo (E) e peso do muro (W)
deve ter linha de ação passando dentro do terço central da área da base do muro. Desta forma,
16
Muros

garante-se que ocorrem somente pressões de compressão no contacto muro/fundação, minimizando


a possibilidade de tombamento do muro.

Verificação da capacidade de suporte do solo de fundação


A distribuição de pressões verticais na base do muro apresenta uma forma trapezoidal, conforme
indicado na Figura 13. Esta distribuição não uniforme é devida à ação combinada do peso W e do
empuxo E sobre o muro. Assim, obtém-se:

σ max  [4]
 ∑ FV  6e 
= 1 ± 
A  B
σ min 

onde: σmax e σmin = pressões verticais máxima e mínima na base do muro.


ΣFV = somatório das forças verticais;
A e B = área e largura da base do muro, respectivamente;
e = excentricidade da resultante N em relação ao centro da base do muro;
Para evitar a ruptura do solo de fundação do muro, o critério usualmente adotado recomenda que o
valor de σmax < qmax / 2,5 , sendo qmax a capacidade de suporte calculada pelo método clássico de
Terzaghi-Prandtl (Terzaghi e Peck, 1967), conforme mostra a equação 5. Neste caso, a base do
muro é considerada como sendo uma sapata.

q max = c '. N c + q s . N q + 0,5. γ f . B ' . N γ [5]

onde: B’ = B - 2e = largura equivalente da base do muro; c’ = coesão do solo de fundação; γf =


peso específico do solo de fundação; Nc , Nq , Nγ = fatores de capacidade de carga (Tabela 2); qs=
sobrecarga efetiva no nível da base da fundação. Deve-se adotar qs = 0, caso a base do muro não
esteja embutida no solo de fundação.
Deve-se garantir, ainda, que σmin ≥ 0 (ou seja, e ≤ B / 6 ) para evitar pressões de tração na base
do muro. Uma revisão da metodologia usada para o projeto de fundações rasas é apresentada em
GEO (1993).

H EA
W
c

σ máx σ min

N
e

17
Muros

Figura 13 Distribuição de pressões na base do muro

18
Muros

Tabela 2 - Fatores de capacidade de carga (Vesic, 1975)

φ (graus) Nc Nq Nγ

0 5.14 1.00 0.00


2 5.63 1.20 0.15
4 6.19 1.43 0.34
6 6.81 1.72 0.57
8 7.53 2.06 0.86
10 8.35 2.47 1.22
12 9.28 2.97 1.69
14 10.37 3.59 2.29
16 11.63 4.34 3.06
18 13.10 5.26 4.07
20 14.83 6.40 5.39
22 16.88 7.82 7.13
24 19.32 9.60 9.44
26 22.25 11.85 12.54
28 25.80 14.72 16.72
30 30.14 18.40 22.40
32 35.49 23.18 30.22
34 42.16 29.44 41.06
36 50.59 37.75 56.31
38 61.35 48.93 78.03
40 75.31 64.20 109.41
42 93.71 85.38 155.55
44 118.37 115.31 224.64
46 152.10 158.51 330.35
48 199.26 222.31 496.01
50 266.89 319.07 762.89

Muros de concreto armado


Existem vários tipos de muros que utilizam o concreto armado como material de construção, de
modo a minimizar o volume da estrutura de arrimo. Um muro de concreto armado resiste aos
esforços de flexão provocados pelo empuxo do solo de retroaterro. Em geral, o peso do retroaterro
atuando sobre a laje de base do muro funciona como uma força estabilizante. O conjunto concreto-
retroaterro age como uma estrutura de gravidade, com um tardoz virtual na linha AB (Figura 14).
As verificações de projeto quanto à estabilidade contra deslizamento e tombamento consideram o
empuxo ativo atuando no tardoz virtual. Em termos estruturais, no entanto, o muro de concreto
armado deve ser projetado para resistir ao empuxo no repouso do solo, a menos que os
deslocamentos do muro sejam suficientes para garantir a imposição de empuxo ativo.
Os principais tipos de muros de concreto armado são:
- muro em L (ou T – invertido): usualmente considerado para alturas inferiores a 6m.
- muro com contrafortes no interior do retroaterro: os contrafortes trabalham à tração e são usados
para minimizar a seção transversal de muros com alturas acima de 6m.

19
Muros

- muros com gigantes na face externa do muro: os gigantes trabalham à compressão, porém este
tipo de muro tem sido bem menos usado que os dois tipos anteriores.

Muro em L
O tipo mais usual de muro de concreto armado é o muro com seção em L (ou muro de flexão),
ilustrado na Figura 14. Uma fotografia é apresentada na Figura 15. O muro consta de uma laje de
base, enterrada no terreno de fundação, e uma face vertical (ou subvertical). A laje de base em
geral apresenta largura entre 50 e 70% da altura do muro. A face trabalha à flexão e pode empregar
se necessário vigas de enrijecimento, no caso alturas maiores. Para muros com alturas superiores a
cerca de 5 m, é conveniente a utilização de contrafortes (ou nervuras), para aumentar a estabilidade
contra o tombamento. No caso da laje de base ser interna, ou seja, sob o retroaterro, os contrafortes
devem ser adequadamente armados para resistir a esforços de tração. No caso de laje externa ao
retroaterro, os contrafortes trabalham à compressão. Esta configuração é menos usual, pois acarreta
perda de espaço útil a jusante da estrutura de contenção. Os contrafortes são em geral espaçados de
cerca de 70% da altura do muro.

Figura 14 Muro de concreto armado em L: seção transversal

Figura 15 Muro de concreto armado (Foto GeoRio)

20
Muros

Muro ancorado na base


A Figura 16 apresenta uma ilustração de um muro cuja base é estabilizada através de ancoragens.
Esta concepção de projeto, muito empregada no Rio de Janeiro, adota a carga de trabalho da
ancoragem como uma das forças de estabilização do muro. Esta solução de projeto pode ser adotada
quando na fundação do muro ocorre material competente (rocha sã ou alterada) e quando há
limitação de espaço disponível para que a base do muro apresente as dimensões necessárias para a
estabilidade.

Figura 16 Muro de concreto ancorado na base: seção transversal

Muro chumbado na rocha


A Figura 17 apresenta um caso de muro de concreto armado apoiado diretamente sobre a rocha sã
ou pouco fraturada, comum no Rio de Janeiro. Nesse caso, usam-se chumbadores de barras de aço
embutidos no concreto em furos na rocha (Figura 18). Os detalhes destas barras e da necessária
proteção contra a corrosão estão descritos em outro capítulo (Manual sobre Ancoragens e
Grampos).

Figura 17 Muro de concreto armado com contrafortes chumbados na rocha (Foto GeoRio)

21
Muros

Chumbadores Contrafortes

a) seção transversal b) vista frontal

Figura 18 Muro de concreto armado chumbado na rocha

Muros de peso

Muros de alvenaria de pedras


Em um muro de peso, a reação ao empuxo do solo é proporcionada pelo peso próprio da estrutura e
pelo atrito em sua base, o qual é função direta deste peso. Dentre os muros de peso, os construídos
com blocos de pedras são naturalmente os mais antigos e numerosos. Estas estruturas apresentam
rigidez elevada, com movimentos somente por translação, sem deformações ou distorções
significativas.
No caso de muro de pedras arrumadas manualmente, a resistência do muro resulta unicamente do
embricamento dos blocos de pedras (Figura 19). Este muro apresenta como vantagens a
simplicidade de construção e a dispensa de dispositivos de drenagem, pois o material do muro é
drenante. Outra vantagem é o custo reduzido, especialmente quando os blocos de pedras são
disponíveis no local. No entanto, a estabilidade interna do muro requer que os blocos devem ter
dimensões aproximadamente regulares, o que causa um valor menor do atrito entre as pedras.
Muros de pedra sem argamassa devem ser recomendados unicamente para a contenção de taludes
com alturas de até 2m. A base do muro deve ter largura mínima de 0,5 a 1,0m e deve ser apoiada
em uma cota inferior à da superfície do terreno, de modo a reduzir o risco de ruptura por
deslizamento no contato muro/fundação.
No caso de taludes de maior altura (cerca de uns 3m), deve ser utilizada argamassa de cimento e
areia para preencher os vazios dos blocos de pedras. Neste caso, podem ser utilizados blocos de
dimensões variadas. A argamassa provoca uma maior rigidez no muro, porém elimina a sua
capacidade drenante. É necessária então a implementação dos dispositivos usuais de drenagem de
muros impermeáveis, tais como, dreno de areia ou geossintético no tardoz e tubos barbacãs para
alívio de poropressões na estrutura de contenção.

22
Muros

Figura 19 Muros de alvenaria de pedra.

Muros de concreto ciclópico ou concreto gravidade.


Estes muros são em geral economicamente viáveis apenas quando a altura não é superior a cerca de
4 metros. Para maiores alturas, outros tipos de estrutura de contenção serão provavelmente mais
econômicos.
A sessão transversal é usualmente trapezoidal, com largura da base da ordem de 50% da altura do
muro (Figura 20). A especificação do muro com faces inclinadas ou em degraus pode causar uma
economia significativa de material. No entanto, a simplificação das fôrmas e das especificações
construtivas pode resultar em custos ainda menores que os de simples economia de material. A
seção transversal destes muros pode ainda ser influenciada por fatores não relacionados à
estabilidade, tais como métodos construtivos, aspectos estéticos, e uso do espaço na frente do muro.
Para muros com face frontal plana e vertical, deve-se recomendar uma inclinação para trás (em
direção ao retroaterro) de pelo menos 1:30 (cerca de 2 graus com a vertical), de modo a evitar a
sensação ótica de uma inclinação do muro na direção do tombamento para a frente.
As especificações devem prever um concreto de durabilidade adequada, especialmente em presença
de solo ou águas com condições agressivas. Em casos de extrema agressividade, o tardoz do muro
deve ser protegido com uma camada de pintura asfáltica ou manta impermeável do tipo
geomembrana. Nestes casos, atenção especial deve ser dada ao sistema de drenagem das águas do
material contido pelo muro, de modo a minimizar o empuxo hidrostático no tardoz.
As condições estéticas da face frontal do muros de concreto podem ser melhoradas através da
atenção com os detalhes de acabamento. Nos casos onde a estética é relevante, uma face frontal em
alvenaria de pedras deve ser preferida. Os furos de drenagem devem ser posicionados de modo a
minimizar o impacto visual causado pelas manchas que o fluxo de água causa na face frontal do
muro. Alternativamente, pode-se realizar a drenagem na face posterior (tardoz) do muro através de
uma manta de material geossintético (tipo geotêxtil). Neste caso, a água é recolhida através de tubos
de drenagem adequadamente posicionados. Este assunto está tratado em detalhes no capítulo 8
deste manual.
O muro de concreto ciclópico é uma estrutura construída através do preenchimento de uma forma
com concreto e blocos de rocha de dimensões variadas. Devido à impermeabilidade deste muro, é
imprescindível a execução de um sistema adequado de drenagem. O muro de concreto ciclópico
pode ser utilizado em casos de contenção de taludes com alturas máximas na faixa de 4 a 5m.

23
Muros

Figura 20 Muros de concreto ciclópico (ou concreto gravidade)

Muros de gabiões
Uma outra solução que pode ser também cogitada é a execução de muros de contenção de encostas
com gabiões.
Os gabiões são gaiolas metálicas preenchidas com pedras arrumadas manualmente e construídas
com fios de aço galvanizado em malha hexagonal com dupla torção. As dimensões usuais dos
gabiões são: comprimento de 2m e seção transversal quadrada com 1m de aresta. No caso de muros
de grande altura, gabiões mais baixos (altura = 0,5m), que apresentam maior rigidez e resistência,
devem ser posicionados nas camadas inferiores, onde as tensões de compressão são mais
significativas. No caso de muros muito longos, gabiões com comprimento de até 4m podem ser
utilizados para agilizar a construção. A Figura 21 apresenta ilustrações de gabiões.
A rede metálica que compõe os gabiões apresenta resistência mecânica elevada. No caso da ruptura
de um dos arames, a dupla torção dos elementos preserva a forma e a flexibilidade da malha,
absorvendo as deformações excessivas. O arame dos gabiões é protegido por uma galvanização
dupla e, em alguns casos, por revestimento com uma camada de PVC. Esta proteção é eficiente
contra a ação das intempéries e de águas e solos agressivos (Maccaferri, 1990).

a) gaiola metálica b) seções transversais

Figura 21 Muros de gabiões

24
Muros

Os gabiões são montados individualmente no local da obra e costurados por arames de aço com
características semelhantes aos utilizados nas gaiolas, porém de diâmetro inferior, para melhor
trababilidade. As costuras são executadas ao longo das arestas dos gabiões em contacto, tanto na
lateral quanto na vertical. Deste modo, o muro de gabiões comporta-se como uma estrutura
monolítica, com uniformidade das características geotécnicas, tais como rigidez e ângulo de atrito
interno. Os blocos de pedras utilizados no preenchimento dos gabiões devem ser sãos e apresentar
granulometria uniforme, com diâmetro entre 1,0 e 2,0 vezes a dimensão da malha. As
características geotécnicas dos gabiões usualmente adotadas em projeto são: peso específico = 17
kN/m3 e ângulo de atrito = 35 graus.
A execução de muros de gabiões é simples, não requerendo equipamentos ou mão de obra
especializados. O preenchimento pode ser executado manualmente, com blocos de rocha naturais
(seixos rolados) ou artificiais (brita ou blocos de pedreiras).
A base de um muro de gabiões tem normalmente cerca de 40 a 60% da altura total. Por razões
estéticas e de limitação de espaço, é comum que os muros de gabiões apresentem seção transversal
com face externa vertical e tardoz com degraus internos. No entanto, do ponto de vista da
estabilidade, é recomendável a existência de degraus na face externa, com um recuo mínimo de uns
20cm entre camadas sucessivas de gabiões. Alternativamente, a face externa pode ser construída
com uma pequena inclinação (5 a 10 graus) em relação à vertical, em direção ao retroaterro. Para
estes muros inclinados e apoiados sobre uma camada de concreto de regularização da fundação, é
recomendável a colocação de dispositivos de drenagem dispostos ao longo da base do tardoz do
muro, de modo a permitir a condução da água para fora da estrutura.
Em muros de gabiões com retroaterro de solo argiloso, deve-se executar uma camada de filtro de
areia e pedrisco, com cerca de 50cm de espessura, adjacente ao tardoz. Este filtro é um dispositivo
de grande importância para evitar o carreamento das partículas de argila por entre os vazios dos
blocos dos gabiões, garantindo a integridade da obra.
As principais características dos muros de gabiões são: flexibilidade elevada, permitindo
deformações diferenciais do retroaterro e do terreno de fundação do muro; resistência elevada,
devida ao peso dos gabiões e ao coeficiente de atrito dos blocos de rocha sã; e permeabilidade
elevada, devida à granulometria uniforme dos blocos, que garante a drenagem da encosta e a
ausência de empuxo hidrostático no tardoz do muro,.
As Figura 22 apresenta um muro de gabiões em execução e a Figura 23 um outro após a execução.

25
Muros

Figura 22 Execução de muro em gabiões (Foto GeoRio)

Figura 23 Muro em gabiões (Foto GeoRio)

Muros de solo-pneus
A utilização de pneus usados em obras geotécnicas apresenta-se como uma solução que combina a
elevada resistência mecânica do material com o baixo custo, comparativamente aos materiais
convencionais. O muro de solo-pneus é um muro de gravidade, construído através da combinação
de pneus usados com solo localmente disponível. Isto garante a simplicidade de construção e o
custo reduzido. A primeira construção documentada de um muro de solo-pneus foi reportada por
Long (1990). Este muro possui altura variando de 2 a 7m e comprimento total da ordem de 650m.
Sendo um muro de peso, os muros de solo-pneus estão limitados a alturas inferiores a 5m e à
disponibilidade de espaço para a construção de uma base com largura da ordem de 40 a 60% da

26
Muros

altura do muro. Deve-se ressaltar, no entanto, que o muro de solo-pneus é uma estrutura flexível e,
portanto, as deformações horizontais e verticais podem ser superiores às usuais em muros de peso
de alvenaria ou concreto. Assim sendo, não se recomenda a construção de muros de solo-pneus
para contenção de terrenos que sirvam de suporte a obras civis pouco deformáveis, tais como
estruturas de fundações ou ferrovias.
A execução de um muro de solo-pneus requer apenas equipamentos simples, tais como ferramentas
manuais (enxadas, pás e picaretas), compactador manual (tipo placa vibratória) e máquina de cortar
pneus (opcional). Uma vantagem adicional é o fato de não ser necessária mão de obra especializada
para a execução. Pneus de qualquer tipo, desde que apresentem diâmetros semelhantes, podem ser
utilizados no muro.
Como elemento de amarração entre pneus, recomenda-se a utilização de cordas de polipropileno
com 6mm de diâmetro. Cordas de nylon ou sisal são facilmente degradáveis e não devem ser
utilizadas.
O peso específico do material solo-pneus utilizado no muro foi determinado a partir de ensaios de
densidade no campo (Medeiros et al, 1997), e varia na faixa de 15,5 kN/m3 (solo com pneus
inteiros) a 16,5 kN/m3 (solo com pneus cortados).
Após o preparo da superfície do terreno, a primeira camada de pneus deve ser lançada em linhas, de
tal forma a ocupar a largura da base. O posicionamento das sucessivas linhas nas camadas
horizontais deve minimizar os espaços vazios entre pneus. Desta forma, os centros dos pneus entre
as sucessivas linhas devem ficar desalinhados. O número de amarrações entre pneus adjacentes em
uma camada de solo-pneus, bem como o número de voltas da corda para cada amarração, são
detalhes relevantes. Na linha mais externa, todos os pneus devem ser amarrados a seus adjacentes
(laterais e internos), com duas voltas da corda. Nas demais linhas, recomenda-se a amarração de
cada pneu com somente 4 dos 6 pneus adjacentes, bastando apenas uma volta na corda.
Para o enchimento dos pneus, o material de aterro a ser utilizado pode ser obtido no próprio local de
execução da obra. Para a utilização de materiais predominantemente argilosos, os pneus devem ser
preferencialmente cortados, com a retirada de uma das bandas laterais, o que facilita o
preenchimento do pneu com o solo. A utilização de materiais argilosos pode, no entanto, provocar
deformações ou poropressões elevadas durante a execução do muro. Neste caso, é recomendável a
utilização de drenos internos, usual em muros impermeáveis. No caso da utilização de materiais
arenosos, os pneus podem ser cortados ou inteiros, desde que seja evitada a possibilidade de
carreamento do material devido a condições desfavoráveis de fluxo interno de água.
O lançamento do aterro para a construção do muro deve ser feita em camadas sucessivas, em toda a
largura do muro. Para o enchimento do muro, o material deverá ser lançado até 5cm acima da
borda do pneu, correspondendo a uma camada de aproximadamente 25 cm de espessura antes da
compactação.
A face externa do muro de pneus deve ser revestida, não só para evitar o carreamento ou erosão do
solo de enchimento dos pneus, mas como também para evitar vandalismo ou a possibilidade de
incêndios. O revestimento da face do muro deverá ser suficientemente resistente e flexível, ter boa
aparência, e ser de fácil construção. As principais opções de revestimento do muro são alvenaria
em blocos de concreto, concreto projetado sobre tela metálica, placas pré-moldadas ou vegetação.
A seção típica do muro experimental de solo-pneus relatado por Medeiros et al (1997) está
apresentada na Figura 24. Uma fotografia do muro, após o final da execução é mostrada na Figura
25.

27
Muros

1
1
2,0 m

sobrecarga
7 pneus 4 pneus
1,1 m 1 2,4 m 0,4 m
8 retroaterro
5 pneus
9 pneus 3,0 m
1,45 m 1,0 m
Encosta
9 pneus 6 pneus 0,9 m
1,45 m 3,6 m
0,6 m
células de pressão
2,5 m 3,0 m

inclinômetros

Figura 24 Seção esquemática de muros de solo-pneus.

Figura 25 Muro de solo-pneus (Foto GeoRio)

Muros de sacos de solo-cimento


Esta é uma técnica alternativa para contenção de encostas, utilizando sacos de solo estabilizado com
cimento. Esta técnica tem se mostrado promissora devido ao baixo custo e pelo fato de não
requerer mão de obra ou equipamentos especializados. Segundo dados da prefeitura de Juiz de
Fora, onde dezenas de obras utilizando solo-cimento ensacado foram já construídas nas duas
últimas décadas, um muro de arrimo de solo-cimento com altura entre 2 e 5 metros tem custo da
28
Muros

ordem de 60% do custo de um muro de igual altura executado em concreto armado (Marangon,
1992).
Após o transporte desde a jazida até o local da construção do muro, o solo é inicialmente submetido
a um peneiramento em uma malha de 9mm, com o objetivo de retirar os pedregulhos de maior
porte. Em seguida, o cimento é espalhado e misturado, de modo a permitir uma coloração
homogênea do material. Uma proporção cimento/solo da ordem de 1:10 a 1:15 (em volume) tem
sido a prática corrente para a estabilização de todos os solos utilizados na construção de muros.
Adiciona-se, então, água em quantidade 1% acima da correspondente à umidade ótima de
compactação proctor normal.
Após a homogeneização, a mistura é colocada em sacos de poliester ou similares, com
preenchimento até cerca de dois terços do volume útil do saco. O fechamento dos sacos são então
procedidos através de costura manual. O ensacamento do material facilita o transporte para o local
da obra e torna dispensável a utilização de fôrmas para a execução do muro.
No local de construção, os sacos de solo-cimento são arrumados em camadas posicionadas
horizontalmente e, a seguir, cada camada do material é compactada de modo a reduzir o volume de
vazios. A compactação é em geral procedida manualmente com soquetes.
As camadas apresentam cerca de 10cm de altura, o que corresponde à espessura dos sacos
preenchidos com material. A seguir, uma nova camada de sacos é posicionada e compactada por
sobre a camada anterior. O posicionamento dos sacos de uma camada é propositalmente
desencontrado em relação à camada imediatamente inferior, de modo a garantir um maior
intertravamento entre os sacos e, em consequência, uma maior densidade do muro. Após alguns
anos, os sacos expostos nas faces externas do muro desintegram-se totalmente, porém o material
solo-cimento preserva a forma original moldada pelos sacos. Estas faces externas do muro podem
receber uma proteção superficial de argamassa de concreto magro, de modo a prevenir contra a
ação erosiva de ventos e águas superficiais. Uma ilustração de muro com sacos de solo-cimento é
apresentada na Figura 26.

Figura 26 Muro de contenção com sacos de solo-cimento

Como vantagens adicionais desta técnica, pode-se citar a facilidade de execução do muro com
forma curva (adaptada à topografia local) e a adequabilidade do uso de solos residuais de rochas
granítico-gnáissicas. Estes solos são localmente encontrados nas encostas da região sudeste do país
e apresentam-se em geral com granulometria predominantemente arenosa, com cerca de 20 a 40%
de material silto-argiloso. Nestes casos, a presença de uma pequena porcentagem de argilominerais
(caulinita), em um solo arenoso bem graduado, é benéfica para o processo de estabilização do solo
com cimento. No caso de solos residuais maduros, predominantemente argilosos, a estabilização
com cal pode ser mais eficiente que o cimento. Detalhes sobre estabilização de solos com cal e com

29
Muros

cimento podem ser obtidos em Ingles e Metcalf (1973), Pinto e Boscov (1990) e em Marangon
(1992).
Quanto ao tipo de cimento, os diferentes tipos utilizados em concreto podem ser empregados nas
misturas de solo-cimento. O mais usual, no entanto, é o cimento Portland comum, o qual é
constituído por silicatos e aluminatos de cálcio. Em presença de água, estes elementos se hidratam,
produzindo o endurecimento da mistura. No caso de solos contendo matéria orgânica, os cimentos
de alta resistência inicial são os mais recomendados. O cimento deve sempre ser estocado em local
com baixa umidade ambiente, até o dia da utilização.
É importante também ressaltar que a água a ser utilizada na mistura solo-cimento não deve conter
impurezas, tais como sais, ácidos, álcalis ou matéria orgânica.
Com estas substâncias, as reações de estabilização do solo com cimento podem ser retardadas ou
prejudicadas.
Resultados típicos de ensaios de laboratório com misturas de solo-cimento estão resumidos na
Tabela 3. Nestes ensaios, foram utilizados solos residuais jovens, provenientes de saibreiras em
maciços gnáissicos. Estes solos apresentavam granulometria bem graduada, sendo cerca de 70 a
90% de areia. A densidade real dos grãos sólidos (Gs) era de 2,70, sendo a caulinita o mineral
predominante na fração argila.
Na Tabela 3, C/S representa a porcentagem em peso do teor de cimento na mistura, ω e γd são os
resultados de compactação proctor normal (respectivamente, teor de umidade ótima e peso
específico seco máximo), E é o módulo de elasticidade (inclinação do trecho linear da curva tensão-
deformação) e σr é a resistência à compressão simples da mistura de solo-cimento. Os valores de E
e σr são resultados de ensaios de compressão simples em corpos de prova cilíndricos com 100mm
de altura e 50mm de diâmetro, após 7 dias de cura. Pode-se verificar que uma variação do teor de
cimento causa uma alteração reduzida nos resultados de compactação. No entanto, a rigidez e a
resistência crescem significativamente com o aumento do teor de cimento, dentro da faixa
considerada no programa experimental.
Os valores registrados para σr poderiam qualificar o material solo-cimento com um comportamento
de rocha branda (σr entre 1 e 25 MPa, segundo a classificação da ISRM, 1979). Deve-se ainda
ressaltar que, após 1 mês de cura, foram observados valores de σr cerca de 50 a 100% superiores
aos obtidos aos 7 dias. Como conclusão da pesquisa, um teor de cimento (C/S) da ordem de 7 a 8%
em peso foi considerado adequado para a estabilização dos solos em obras de contenção de
encostas.

Tabela 3. Parâmetros típicos de misturas de solo-cimento (Marangon, 1992)

C/S (%) ω (%) γd (kN/m3) E (MPa) σr (kPa)

0 14,1 17,2 -- --
5 12,9 17,8 405 1177
7 13,3 18,0 767 1771
8 12,7 18,0 921 2235

Muros de terra armada


Estes muros têm como característica a introdução de fitas metálicas no material do retroaterro.
Estas fitas atuam como elementos de reforço, com o objetivo de conferir resistência à tração ao solo
30
Muros

do retroaterro. Os muros de terra armada consistem na associação de solo compactado e as


armaduras metálicas, além de um paramento externo vertical, composto de placas de concreto sem
função estrutural. As armaduras ou fitas metálicas são elementos flexíveis que trabalham à tração e
devem possuir resistência adequada à corrosão. As fitas metálicas são fixadas às placas do
paramento externo através de parafusos. Este sistema de contenção é patenteado, o que reduz a sua
aplicabilidade, em termos práticos. A Figura 27 apresenta uma ilustração de muro de terra armada.

Figura 27 Muro de terra armada

31
Geossintéticos

Reforço com geossintéticos

E M Palmeira

1. Introdução
Geossintéticos são materiais sintéticos para aplicação em obras de engenharia civil,
particularmente as geotécnicas e de proteção ambiental. Os geossintéticos compreendem
um conjunto de materiais poliméricos com características e funções diferenciadas. Os
polímeros mais comumente utilizados na confecção destes materiais são o polipropileno, o
polietileno e o poliéster. Os principais geossintéticos disponíveis, suas funções e
características estão sumariadas na Tabela 1 e Figura 1.

Tabela 1 Tipos de geossintéticos e suas aplicações possíveis

Tipo Função Característica

reforço separação drenagem filtração proteção


Geotêxtil Tecido ✓ ✓ ✓
Geotêxtil Não tecido ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
Geogrelha ✓
Tiras ✓
Fios, Fibras, Micro-Telas ✓
Geomalha ✓
Geodrenos ✓ ✓
Geomembranas ✓ ✓
Geocélulas ✓ ✓
Geocompostos ✓ ✓ ✓ ✓

As definições dos diversos tipos de geossintéticos, segundo a norma técnica ABNT NBR
12553, são apresentadas no anexo Glossário.

1
Geossintéticos

Os geotêxteis e as geogrelhas são os geossintéticos mais utilizados como elementos de


reforço em solos de aterros com taludes íngremes ou estruturas de contenção. Os
geossintéticos são fornecidos em rolos ou painéis, dependo do tipo e dimensões do
produto. A Figura 1.2 esquematiza obras típicas de estruturas de contenção e aterros
íngremes reforçados com geossintéticos. Tais obras se caracterizam pelo lançamento e
compactação de aterro granular juntamente com as camadas de geossintéticos, que servem
como elementos de reforço para a garantia de estabilidade da obra.

2
Geossintéticos

geotêxtil tecido geotêxtil não-tecido geogrelha


(a) (b) (c)

geomalha geomembrana geocomposto


(d) (e) (f)

tiras fibras (fibrosolo) geodreno

(g) (h) (i)

geocélula
(j)
Figura 1 Tipos comuns de geossintéticos (Modificado de Palmeira, 1995).

3
Geossintéticos

geossintético

face

barbacã

aterro
terreno
natural

(a) Estrutura de contenção

geossintético

terra vegetal
com ou sem
geocélula

aterro terreno natural

(b) Talude íngreme


Figura 2 Esquemas típicos de estruturas em solo reforçado com geossintéticos

2. Propriedades Relevantes dos Geossintéticos

2.1 Introdução
Alguns requisitos básicos devem ser atendidos de modo a que um determinado
geossintético possa ser utilizado com elemento de reforço em uma obra geotécnica, quais
sejam:
• Resistência e rigidez à tração compatíveis;
• Comportamento à fluência compatível;
• Resistência a esforços de instalação compatível;
• Grau de interação entre solo e reforço;
• Durabilidade compatível com a vida útil da obra

4
Geossintéticos

Para obras típicas de contenção a resistência à tração do geossintético deve ser obtida em
ensaios realizados sob condições de deformação plana, sendo o ensaio de tração de tira
larga o mais comumente utilizado. Em vista disso, a resistência à tração de um
geossintético ensaiado à tração plana é expressa em unidade de força por unidade de
comprimento normal à direção solicitada, kN/m. O ensaio deve ser executado em
condições padronizadas e o resultado obtido deve ser considerado como um valor índice
uma vez que, dependendo do polímero utilizado na confecção do geossintético, os valores
de resistência e rigidez à tração podem variar em função das condições de ensaio,
particularmente da velocidade de ensaio. Geossintéticos à base de polipropileno e
polietileno são mais sensíveis à velocidade de ensaio e à fluência do que geossintéticos à
base de poliéster ou poliamida.
Em condições de campo, devido ao confinamento proporcionado pelo solo, a rigidez à
tração obtida em ensaios de tração em geotêxteis, principalmente os não tecidos, pode ser
significativamente superior à obtida em ensaios em isolamento (McGown et al, 1982,
Gomes, 1993, Tupa, 1994, Palmeira et al, 1996). A rigidez obtida em ensaios de tração
com confinamento por solo pode ser de 4 a 8 vezes maior que a obtida em isolamento,
dependendo das características do geotêxtil, nível de deformações considerado e tensão
normal confinante. Assim um geotêxtil aparentemente extensível em isolamento pode ser
significativamente mais rígido quando sob confinamento na obra.
A fluência pode ser ou não relevante, dependendo do tipo e características do elemento de
reforço e características e vida útil da obra. É importante também observar que a fluência
pode ser significativamente inibida pelo confinamento do geossintético na massa de solo
(McGown et al, 1982). Fatores de redução aplicados sobre a resistência à tração índice do
geossintético podem ser empregados de modo a se ter um comportamento seguro do
reforço quanto à fluência ao longo da vida útil da estrutura.
A resistência a esforços de instalação pode ser estimada através de ensaios apropriados
(Koerner, 1998, Palmeira, 1998). Devem ser evitadas práticas construtivas que provoquem
dano mecânico ao geossintético tais como, tráfego de veículos sobre a manta, material de
aterro com arestas, pontas e cantos agressivos, etc.
O grau de interação entre solo e reforço, caracterizado pelo ângulo de atrito de interface
(δ), é também avaliado através de ensaios com geossintéticos e solos (cisalhamento direto
ou arrancamento, por exemplo). É importante se identificar perfeitamente o mecanismo de
interacão entre solo e reforço. Os geotêxteis tipicamente interagem com os solos em
contacto por atrito, ao passo que as geogrelhas interagem por atrito mas,
predominantemente, por ancoragem dos seus membros transversais. A obtenção do ângulo
de atrito entre solo e geotêxtil é relativamente fácil. Na falta de resultados de ensaios para a
determinação de δ, e para análises preliminares, recomendam-se os valores apresentados
na Tabela 2 (condições drenadas de cisalhamento).

Tabela 2Valores de δ para análises preliminares

(*)
Tipo de solo Geotêxtil Tecido Geotêxtil Não Tecido Geogrelhas

Areias e siltes arenosos ≤ 0.8φ’ ≤ 0.9φ’ (0.5 a 0.85)φ’


Siltes argilosos ≤ 0.7φ’ ≤ 0.8φ’ ≤ 0.5φ’

5
Geossintéticos

Notas:
φ’ = ângulo de atrito do solo obtido em condições de cisalhamento drenado.
(*) área sólida em planta menor que 85% da área total em planta e boa interação por
ancoragem com o solo envolvente.

Para geogrelhas a obtenção de atrito de interface é mais complexa. Isto se deve ao fato que
a intensidade de interação entre solo e geogrelha depende das características mecânicas da
geogrelha, das características do solo, da geometria da grelha, do comprimento ensaiado e
das condições de ensaio (Palmeira, 1987 e Palmeira e Milligan, 1989). Jewell et al. (1984)
sugerem a expressão abaixo para a estimativa do coeficiente de interação entre solo e
geogrelha (Figura 3 Esquema da geometria de uma geogrelha):

tan δ  tan δ p   α b b  σ b’  1 
fb = = αs  +    [2.1]
tan φ ’  tan φ ’   s g  σ ’  2 tan φ ’ 
    v   

onde:
fb - coeficiente de aderência entre solo e geogrelha;
δ - ângulo de atrito de interface equivalente entre solo e geogrelha;
φ’ - ângulo de atrito do solo;
αs - percentagem da parcela sólida em planta da grelha disponível para atrito de pele
com o solo (< 1);
δp - angulo de atrito de interface do solo com a superfície sólida da geogrelha;
αb - percentagem da área total sólida disponível para ancoragem em cada membro de
ancoragem da grelha ao longo da largura da geogrelha;
b - altura ou espessura dos membros de ancoragem da geogrelha (Figura 3);
sg - espaçamento entre membros de ancoragem (Figura 3);
σ’b - tensão normal desenvolvida em cada membro de ancoragem;
σ’v - tensão vertical atuante sobre a geogrelha.

6
Geossintéticos

membros de longitudinais
membros de ancoragem
b

área disponível
para ancoragem
σ'b
sg

esforço de tração na área disponível


geogrelha para atrito
Figura 3 Esquema da geometria de uma geogrelha

Para reforços planos (geotêxteis) αb = 0 e αs = 1 ⇒ fb = tan δ/tan φ’.


O valor de σ’b /σ’v pode ser estimado por (Jewell et al, 1984):

’π  ’
σ b’  π φ ’   2 +φ  tan φ
= tan + e   [2.2]

σv  4 2 
 

Palmeira (1987) observa que no caso de geogrelhas com aberturas pequenas e/ou
comprimentos grandes a interferência entre membros de ancoragem pode alterar
significativamente o valor dado pela expressão 2.1.
Os geossintéticos são materiais extremamente duráveis em condições normais de solo.
Assim, a deterioração por ataques de substâncias presentes no solo só se constitui em
problema em ambientes agressivos. Nestes casos os fabricantes dos produtos devem ser
consultados e ensaios especiais devem ser exigidos. Deve-se evitar a exposição prolongada
do geossintético à luz solar durante estocagem, devido aos raios ultra-violetas poderem
comprometer propriedades importantes do mesmo.

2.2 Definição de Parâmetros de Dimensionamento

2.2.1 Aspectos Relativos aos Solos

Os tipos de solos mais indicados para utilização em obras de solo reforçado são àqueles
materiais predominantemente arenosos, com boa resistência friccional e elevada
capacidade drenante. Experiências bem sucedidas com a utilização de solos pouco
plásticos com certa percentagem de finos, particularmente os siltes arenosos, são
reportadas na literatura. Para solos com elevada percentagem de finos (≥ 30% passando na
peneira 200) devem ser tomados cuidados quanto à drenagem, deformabilidade do maciço
e interação solo-reforço. Estruturas executada com solos possuindo elevada percentagem
de finos são susceptíveis a geração de poropressões durante a construção e a deslocamento
significativos da face (Murray & Bolden, 1979). Em situações em que tais fatores são
controlados ou aceitáveis os resultados obtidos têm sido bastante promissores.

7
Geossintéticos

Em vista da extensibilidade dos geossintéticos e da diferença de níveis de deformação


necessários para romper o solo e o reforço, é recomendável que o ângulo de atrito do solo
para dimensionamento seja o valor o valor de resistência de pico dividido por um fator de
redução. Jewell (1996) recomenda que o valor do ângulo de atrito do solo obtido para
condições de resistência de pico seja minorado por um fator de redução que resulte em um
ângulo de atrito de dimensionamento próximo ao valor do ângulo de atrito do solo a
volume constante (φ’cv). Assim:

 ’ 
−1  tan φ p  ’
φ ’ = tan ≅ φ cv [2.3]
 ƒφ 
 

onde:
φ' - ângulo de atrito efetivo do solo para dimensionamento;
φ’ p - ângulo de atrito efetivo do solo obtido em condições de pico de resistência;
ƒφ - fator de redução no valor do ângulo de atrito do solo;
φ'cv - ângulo de atrito do solo em condições de volume constante.
Para solos predominantemente arenosos o valor de φ’cv varia tipicamente entre 27° e 38°.
Para areias limpas à base de quartzo esse valor é aproximadamente igual a 33° e para areias
limpas à base de feldspato 36° (Bolton, 1986). A presença de parcela significativa de finos
ou mica pode reduzir o valor de φ’cv consideravelmente.

2.2.2 Aspectos Relativos ao Geossintético


Genericamente, quando submetido a uma determinada carga de tração mantida constante, o
geossintético levará um intervalo de tempo t para atingir a ruptura por fluência, que pode
variar entre alguns segundos e teóricamente um valor infinito. O tempo para atingir a
ruptura nestas condições será função do tipo de polímero, da grandeza da carga de tração
aplicada e da temperatura ambiente. A curva relacionando a carga de tração aplicada com o
tempo para atingir a ruptura, a uma dada temperatura, é denominada Curva de Referência
do geossintético (Figura 4). O comportamento de referência é usualmente aproximado por
uma reta em um gráfico semi-logarítmico (Figura 4). Embora alguns fabricantes de
geossintéticos disponham de ensaios de fluência com mais de 10 anos de duração, os
ensaios de laboratório geralmente têm duração mais limitada e normalmente inferior à vida
útil da obra. Em vista disto, fazem-se necessárias extrapolações para a estimativa da carga
de tração de ruptura ao final da vida útil da obra e reduções na resistência índice obtida em
laboratório para ensaio com duração menor, como esquematizado na Figura 4.
A resistência do geossintético a ser utilizada no dimensionamento de um aterro reforçado
deve ser baseada na expectativa da resistência do material ao final da vida útil da obra
(Figura 3). Sendo assim, a Resistência à Tração de Referência do geossintético é dada por:

Tindice
Tref = [2.4]
ƒ fl

onde:
Tref - resistência à tração de referência do geossintético ao final da vida útil da obra;

8
Geossintéticos

Tíndice - resistência à tração índice obtida em ensaio de laboratório em condições de


deformação plana com duração inferior à vida útil da obra;
ƒfl - fator de redução devido ao efeito de fluência para a temperatura ambiente
esperada na obra.

Tíndice extrapo
carga de tração

lação
Tref

tlaboratório vida útil


tempo de ruptura (log)
Figura 4Comportamento típico da resistência à tração versus

O valor de ƒfl típico depende das características do geossintético (polímero constituinte,


processo de fabricação, etc.), das características e condições do ensaio realizado para se
obter Tíndice, das condições de temperatura ambiente e das características e vida útil da
obra. Tipicamente, para geossintéticos à base de poliéster, o valor de ƒfl varia de 1.6 a 2.
Para geossintéticos à base de polietileno e polipropileno o valor de ƒfl varia de 3 a 5.
A resistência à tração de projeto do geossintético é, então, dada pela expressão:

Tref
Td = [2.5]
ƒ m ƒ dm ƒ amb

onde:
Td - resistência à tração de dimensionamento;
ƒm - fator de redução devido a incertezas quanto ao material;
ƒdm - fator de redução devido a danos mecânicos durante a instalação/ construção;
ƒamb - fator de redução devido a danos provocados pelo ambiente (ataque por
substâncias agressivas, etc.).
O valor de ƒm é função da qualidade e acurácia dos resultados de ensaios de laboratório,
conhecimento e experiência com o produto e outras eventuais incertezas. Um valor mínimo
recomendado para ƒm é igual a 1.1.
O valor de ƒdm depende das condições de instalação do geossintético, do tipo de material
de aterro e dos cuidados e técnicas de construção (equipamentos e energia de compactação,
por exemplo). Os geossintéticos mais leves (menor gramatura, MA) são mais sensíveis a
danos, particularmente os com gramatura inferior a 300 g/m2. As Tabela 3 e Tabela 4

9
Geossintéticos

apresentam valores mínimos recomendados para ƒdm para geotêxteis e geogrelhas,


respectivamente. Quanto menor a gramatura, mais relevantes podem ser as perdas de
resistência devidas a danos mecânicos e efeitos do ambiente. A Tabela 5 apresenta valores
mínimos recomendados para a gramatura do geossintético em aterros reforçados.

Tabela 3 Valores mínimos deƒdm para geotêxteis

Tipo de Aterro Tamanho máximo 140<MA≤200 200<MA≤400 MA>400


do grão (mm)

2 2 2
(g/m ) (g/m ) (g/m )

Pedras < 200 1.50 1.45 1.40


Pedregulhos < 100 1.35 1.30 1.25
Areias <4 1.30 1.25 1.20
Siltes e argilas < 0.06 1.25 1.20 1.10

Tabela 4 Valores mínimos de ƒdm para geogrelhas

Tipo de Aterro Tamanho máximo 200<MA≤500 500<MA≤1000 MA>1000


do grão (mm)

2 2 2
(g/m ) (g/m ) (g/m )

Pedras < 125 1.70 1.60 1.60


Pedregulhos < 75 1.50 1.40 1.30
Areias < 20 1.30 1.25 1.15
Areias finas, siltes e <2 1.20 1.15 1.10
argilas

O valor de ƒamb depende das características do geossintético, particularmente do tipo de


polímero e processo de fabricação, e das condições de agressividade do meio onde o
mesmo será enterrado (ambientes muito ácidos ou muito alcalinos). O valor mínimo de
ƒamb recomendado é 1.10.

Tabela 5 Recomendações quanto a gramatura mínima para geossintéticos

Altura da estrutura, H (m) 2


MA (g/m )

≤2 ≥140
2<H≤4 ≥ 200
4<H≤10 ≥ 300
H≥10 ≥500

O valor mínimo do produto ƒmƒdmƒamb, na expressão 2.4 recomendado é 1.50.

10
Geossintéticos

A durabilidade dos geossintéticos é um fator fundamental no projetos de obras


permanentes. É sabido que em geral os plásticos são muito resistentes ao ataque de
diversas substâncias, particularmente às presentes nos solos normais. Expectativas de vida
de alguns polímeros, nestes casos, podem chegar a algumas centenas de anos. Esta é uma
das razões pela qual os geossintéticos vêm apresentando utilização crescente em obras de
proteção ambiental e de disposição de resíduos. Assim, na fase de conhecimento atual,
deve-se evitar a utilização de geossintéticos em obras permanentes quando o ambiente for
muito ácido ou muito básico (pH < 4 ou pH >10). Palmeira (1998) apresenta um sumário
de avaliações de bons desempenhos de amostras de geossintéticos exumadas de obras reais
com até 20 anos de existência. A ação danosa de roedores é também possível, mas em
geral improvável e certamente com efeito localizado. Não há registros na literatura de
efeitos significativos de roedores, ou de outros animais, a reforços geossintéticos que
possam ter comprometido a estrutura.

3. Dimensionamento de Estruturas de Contenção e Taludes Íngremes


Reforçados com Geossintéticos

Estruturas de Contenção
São consideradas estruturas de contenção em solo reforçado com geossintéticos os aterros
reforçados com face vertical ou muito próxima à vertical, conforme esquematizado na
Figura 5. As camadas de reforço são instaladas horizontalmente, à medida que o aterro vai
sendo alteado.
As seguintes condições de estabilidade devem ser verificadas para o maciço em solo
reforçado:
• Estabilidade externa;
• Estabilidade interna;
• Estabilidade global
Como será visto adiante, a verificação das condições de estabilidade externa é a mesma
empregada para estruturas de arrimo de gravidade convencionais.
q

H
S

Figura 5 Estrutura de contenção em solo reforçado com geossintético

11
Geossintéticos

3.2 Análise de Estabilidade Externa


Seja considerar o maciço reforçado esquematizado na Figura 6, sob a ação de seu peso
próprio, sobrecargas e empuxo de terra. Na situação mostrada na figura está se admitindo
que o maciço reforçado possa ser construído com um tipo de solo diferente do restante do
aterro. O empuxo de terra (E) pode ser calculado por uma das diversas teorias de empuxo
disponíveis, sendo a de Rankine a mais comumente utilizada. As condições de estabilidade
externa a serem atendidas são descritas a seguir.
Q= qB

solo 1 solo 2
c'1, γ1 e φ'1 c'2, γ2, e φ'2
W

H
E

B yE

N' tanδb
N'

Figura 6 Forças atuantes para estudo de estabilidade

3.2.1 Deslizamento da Estrutura ao Longo da Base


Admitindo-se a teoria de Rankine para o cálculo do empuxo de terra, a análise de
equilíbrio do maciço reforçado fornece a seguinte expressão para a largura da sua base,
com segurança contra o deslizamento:

FS d E
Bd = [3.1]
(γ 1 H + q ) tan δ b

onde:
q - sobrecarga uniformemente distribuída sobre o terrapleno;
FSd - fator de segurança contra o deslizamento ao longo da base (≥ 1.5);
γ1 - peso específico do material 1;
E - empuxo ativo por Rankine
H - altura do maciço reforçado;
δb - ângulo de atrito entre a base do maciço reforçado e o solo de fundação.

12
Geossintéticos

O valor do empuxo de terra (E) deve ser aquele obtido desprezando-se eventuais tensões
ativas negativas até a profundidade da trinca de tração, no caso de aterros coesivos.
No caso de aterros não coesivos (c1 = c2 = 0), a expressão 3.1 se transforma em:

 q 
k a 2 1 + 2 
 γ 2 H 
Bd = FS d H [3.2]
γ q 
2 tan δ b  1 + 
 γ 2 γ 2H 

onde:
ka2 - coeficiente de empuxo ativo para o material 2 (Figura 6);
γ2 - peso específico do material 2;
O valor de ka2, por Rankine, é dado por:

2  φ2' 
o
ka 2 = tan 45 − [3.3]
 2 

onde: φ’2 é o ângulo de atrito efetivo do solo 2.


O valor de δb a ser utilizado depende das condições na base da estrutura. Caso exista uma
camada de geossintético instalada na base do maciço reforçado (caso mais comum), o valor
de δb será o valor do ângulo de atrito de interface entre geossintético e solo de fundação
(δ).
No caso do maciço reforçado estar assente sobre solo fino e as condições de deslizamento
ao longo da base serem não-drenadas, o valor da largura da base é dado pela expressão
(para c1 = c2 = 0):

 q 
k a 2 1 + 2 
 γ 2H  FS H
Bd = d [3.4]
2a u

onde: au = adesão entre base do muro e solo de fundação (au = λSu, onde Su é a resistência
não-drenada do solo de fundação e 0 < λ ≤ 1).
A presença de sobrecargas localizadas na superfície do terreno devem ser levadas em
conta, através da consideração dos acréscimos de tensões horizontais sobre a face interna
do maciço reforçado devido ao carregamento ou através da utilização de outra metodologia
de cálculo de empuxos de terras (Coulomb, por exemplo). A abordagem da presença de
sobrecargas localizadas será vista adiante.

3.2.2 Análise da Possibilidade de Tombamento


Outro mecanismo de instabilidade considerado é a possibilidade do maciço reforçado girar
ao redor do seu pé (ponto O na Figura 6). Utilizando-se a teoria de Rankine para o cálculo
das tensões horizontais ativas, o somatório de momentos em relação ao ponto O permite

13
Geossintéticos

determinar a expressão abaixo para largura da massa reforçada de modo a se garantir a


estabilidade quanto ao tombamento:

2 FS t Ey E
Bt = [3.5]
γ 1H + q

onde:
Bt - largura da base da massa de solo reforçado de modo a se atender à condição de
estabilidade contra o tombamento;
FSt - fator de segurança contra o tombamento (≥ 2).
yE - braço de alavanca do empuxo ativo em relação ao pé da estrutura.
No caso de aterros não coesivos, tem-se:

 q 
FSt k a 2 1 + 3 
 γ 2 H 
Bt = H [3.6]
γ q 
3 1 + 
 γ 2 γ 2H 

Nesta fase de dimensionamento deve-se adotar provisoriamente o maior dos valores entre
Bd e Bt (expressões 3.1, ou 3.4, e 3.5) para a largura da base (B, Figura 6).

3.2.3 Verificação da Distribuição de Tensões na Base e Capacidade de Carga do Solo de


Fundação
Em vista da carga atuante na base da estrutura ser excêntrica, é prática corrente assumir-se
um carregamento com forma trapezoidal para a distribuição de tensões normais na
superfície do terreno de fundação, conforme esquematizado na Figura 7. Neste caso, os
valores das tensões normais máxima e mínima do carregamento trapezoidal são dadas
pelas seguintes expressões:

2 N  3x R 
σ v min =  − 1 [3.7]
B  B 

2N  3x 
σ v max = 2 − R  [3.8]
B  B 

com:

WxW + QxQ − Ey E
xR = [3.9]
W +Q

onde:
σvmax - tensão vertical máxima na base;

14
Geossintéticos

σvmin - tensão vertical mínima na base;


N - força normal na base (= W + Q);
xR - distância da resultante das forças na base ao pé da estrutura.
Q= qB

solo 1 solo 2
c'1, γ1 e φ'1 c'2, γ2, e φ'2

W
H

E
B/2 B/2
yE
e
O
σvmin
σvmax

Figura 7 Distribuição de tensões verticais na base

A excentricidade da resultante em relação ao centro da base (e) é dada por:

B B
e= − xR ≤ [3.10]
2 6

onde: e = excentricidade da carga na base da estrutura e B largura da base da estrutura


(maior entre os valores de Bd e Bt).
No caso de aterros não-coesivos, as fórmulas acima se transformam em:

2
H 
σ v max = γ 1H + q + k a 2 (γ 2 H + 3q)  [3.11]
B

2
H 
σ v min = γ 1H + q − k a 2 (γ 2 H + 3q)  [3.12]
B

Neste caso (c1 = c2 = 0), a excentricidade da carga na base da massa de solo reforçado é
dada por:

15
Geossintéticos

 q 
k a 2 1 + 3 
 γ 2 H   H 2  B
e= ≤ [3.13]
 γ1 q   B  6
6 + 
 γ 2 γ 2H 

O valor da excentricidade (e) deve ser menor ou igual a B/6, de modo a que teóricamente
toda a base da estrutura esteja comprimida (σvmin ≥ 0).
Para a análise da capacidade de carga do solo de uma fundação com carga excêntrica pode-
se utilizar a sugestão de Meyerhoff (1953), considerando-se a base da estrutura como uma
sapata equivalente com largura (B’) dada por:

B ' = B − 2e [3.14]

Adotando-se a sugestão de Meyerhoff (1953), pode-se obter a tensão normal


uniformemente distribuída sobre a sapata equivalente (σ) pela expressão:

N
σ= [3.15]
B’

ou, no caso de aterros não-coesivos:

3(γ 1H + q)
σ = 2
[3.16]
 γ H + 3q  H 
3 − k a 2  2  
 γ 1 H + q  B 

O valor dado pela expressão 3.16 deve, então, ser comparado à capacidade de carga do
solo de fundação. Para esta comparação pode-se utilizar a tradicional expressão para o
cálculo de capacidade de carga de uma fundação corrida (Terzaghi e Peck, 1967):

q max = c' N c + q s N q + 0.5γ f B' Nγ [3.17]

onde:
qmax - capacidade de carga do solo de fundação;
c’ - coesão do solo de fundação;
qs - sobrecarga ao nível da base da estrutura, caso esta esteja parcialmente enterrada;
γf - peso específico do solo de fundação;
Nc, Nq e Nγ - fatores de capacidade de carga obtidos em função do ângulo de atrito do solo
de fundação (Terzaghi e Peck, 1967).
No caso de solo de fundação fino solicitado por carregamento não-drenado, a expressão de
capacidade de carga a utilizar é dada por:

q max = S u N c + q s [3.18]

16
Geossintéticos

Tanto no caso de carregamento drenado como no caso não-drenado, deve-se ter:

q max
FS f = ≥3 [3.19]
σ

onde FSf é o fator de segurança contra a ruptura do solo de fundação;.

3.3 Verificação da Estabilidade Global


O dimensionamento da estrutura de contenção é efetuada de modo a garantir a estabilidade
do solo próximo à mesma. Entretanto, a sua presença ocasiona sobrecargas no talude, o
que pode desencadear outros mecanismos de ruptura, particularmente quando da presença
de camadas de solo mais fracos na fundação (Figura 8). Neste caso, métodos de análise de
estabilidade de taludes devem ser empregados de modo a se verificar as condições de
estabilidade global do maciço. O método de análise de estabilidade a ser escolhido
dependerá das características do problema em estudo. Para situações em que superfícies de
deslizamento circulares podem ser empregadas, é comum a utilização do método de
Bishop Modificado.

Figura 8 Análise de Estabilidade Externa

3.4 Análise das Condições de Estabilidade Interna da Estrutura


A análise da estabilidade interna do maciço reforçado visa verificar a possibilidade de
mecanismos de rupturas internos à massa reforçada e também a possibilidade de colapso
por falta de ancoragem das camadas de reforço, conforme esquematizado na Figura 9. Tais
mecanismos de ruptura podem ser evitados com a determinação do espaçamento entre
reforços e comprimento dos reforços apropriados.

3.4.1 Determinação do Espaçamento entre Camadas de Reforço


A tensão horizontal junto à face do maciço reforçado depende da tensão vertical, cuja
variação na horizontal é função das características do solo e dimensões do maciço
reforçado. John (1987) apresenta uma metodologia de cálculo assumindo que o diagrama
de tensões verticais em um dado nível tem a forma trapezoidal, com a tensão máxima
ocorrendo junto à face, em contraste com a abordagem tradicional, em que a tensão vertical
na massa reforçada é considerada como uniforme e igual ao peso de terra mais sobrecargas
acima do nível considerado (Jewell, 1996, Koerner, 1998, por exemplo). A hipótese de

17
Geossintéticos

distribuição de tensões verticais trapezoidais no interior da massa reforçada pode levar a


espaçamentos entre reforços da ordem de 30% menores que os previstos pela abordagem
tradicional em estruturas de contenção de média altura. Entretanto, reduções significativas
das tensões verticais junto à face da estrutura têm sido observadas em obras típicas
instrumentadas e em ensaios com modelos (Wawrychuck,1987, Lanz, 1992). Em ensaios
em modelos com maciços reforçados esbeltos (B/H ≤ 0.5) observaram-se diagramas de
tensões verticais com a tensão máxima ocorrendo junto à face (Ashaari, 1990, Lanz, 1992).
Assumindo-se a hipótese de distribuição de tensões verticais na massa reforçada uniforme,
pode-se determinar a tensão horizontal ativa junto à face, na profundidade z, por:

’ ’  2c1’ 
σ hz = k a1σ vz = k a1 γ 1 z + q −  [3.20]
 k a1 

z1

S
Iai

45º + φ'/2

Figura 9 Análise de capacidade de ancoragem do reforço

O valor de ka1 pode ser obtido por:

 φ' 
k a1 = tan 2  45o − 1  [3.21]
 2 

onde φ’1 é o ângulo de atrito efetivo de dimensionamento do solo 1.


Caso se assuma distribuição de tensões verticais trapezoidal, tem-se:

’ ’  2c1’ Ey 
σ hz = k a1σ vz = k a1 γ 1z + q − +6 E [3.22]
 k a1 B 2 

onde E é o empuxo de terra atuante sobre o trecho vertical com comprimento z e yE é a


distância, na vertical, do ponto de aplicação do empuxo E à linha horizontal na
profundidade z. A parcela EyE/B varia com z e diminui próximo à superfície. Por
simplicidade nas contas (e conservativamente) é comum admitir-se, para qualquer
profundidade z, o valor de E como sendo o dado pelo empuxo total sobre a face interna do

18
Geossintéticos

maciço reforçado e o valor de yE como sendo o braço de alavanca deste empuxo em relação
ao ponto O na Figura 7.
Considerando-se o equilíbrio de uma camada de reforço na face da estrutura, conforme
esquematizado na Figura 10, pode-se determinar o esforço de tração no reforço i, a uma
profundidade z, por:

’ ’  2c1’ 
Ti = σ hz S = k a1σ vz S = k a1 γ 1 z + q − S [3.23]
 k a1 

onde:
Ti - esforço de tração no reforço i;
S - espaçamento entre reforços na profundidade z.

distribuição de tensões
horizontais ativas

σ'hi reforço i
S

Figura 10 Transmissão de tensões para o reforço

Para i = 1 (reforço mais superficial) substitui-se o valor de S na expressão 3.15 pela altura
de terra sob responsabilidade daquele reforço, que é a distância ao longo da vertical entre a
superfície do terreno e o ponto médio entre a primeira e a segunda camada de reforço.
Admitindo-se que o esforço no reforço seja igual à sua resistência à tração de
dimensionamento, obtém-se a seguinte expressão para o espaçamento necessário entre
reforços na profundidade z:

Td
S= [3.24]
 2c1’ 
k a1 γ 1 z + q − 
 k a1 

19
Geossintéticos

onde Td é a resistência à tração de dimensionamento do geossintético, dada pela expressão


2.5, reapresentada abaixo, onde ƒm, ƒdm e ƒamb são fatores de redução da resistência do
geossintético já definidos anteriormente.

Tref
Td = [2.5]
ƒ m ƒ dm ƒ amb

Pela expressão 3.24 pode-se observar que o espaçamento necessário entre reforços varia
inversamente com a profundidade. Neste caso, pode-se variar o espaçamento entre reforços
ao longo da altura do aterro de modo a ser ter um projeto mais optimizado. Tanto no caso
de espaçamento constante entre reforços quanto no caso de espaçamento variável, a
camada de reforço mais solicitada é a mais profunda, em geral na base do maciço
reforçado (z = H). Neste caso, o espaçamento uniforme entre reforços é dado por:

Td
S uniforme = [3.25]
 2c1’ 
k a1 γ 1H + q + − 
 k a1 

A opção de utilizar espaçamento entre reforços variável ao longo da altura do aterro,


embora economize camadas de reforço, torna a estrutura menos rígida (menos camadas de
reforço) e adiciona um complicador construtivo. Em geral, tal opção só se justifica para
aterros de maior altura, em que não se requeira uma maior rigidez do maciço reforçado.
Neste caso, é comum se utilizar zonas de espaçamento entre reforços constantes, mas
múltiplos da espessura da camada de solo compactado do aterro, conforme esquematizado
na Figura 11, por comodidade construtiva.

3.4.2 Verificação das Condições de Ancoragem do Reforço

3.4.2.1 Ancoragem da Extremidade Interna do Reforço


No que diz respeito à possibilidade de arrancamento da camada de reforço, para uma
estrutura de contenção como a esquematizada na Figura 9, a situação crítica ocorre nos
reforços superficiais. No caso de presença de sobrecarga localizada na superfície do
terrapleno esta situação pode se alterar, dependendo do tipo e intensidade da sobrecarga e
da sua distância à face interna da massa reforçada.
Pela teoria de Rankine a superfície crítica de deslizamento está inclinada com a horizontal
de um ângulo igual a 45o+φ’1/2, onde φ’1 é o ângulo de atrito efetivo do solo da massa
reforçada, conforme esquematizado na Figura 9. Assim, o comprimento de ancoragem do
reforço i, na profundidade zi, é dado por:

 φ' 
lai = B − ( H − zi ) tan 45o − 1  .26]
 2 

onde lai é o comprimento de ancoragem do reforço i.

20
Geossintéticos

região com espaçamento S1

H região com espaçamento S2

região com espaçamento S3

Figura 11 Arranjo com regiões com diferentes espaçamentos entre reforços

Para a verificação do fator de segurança contra o arrancamento do reforço, duas situações


devem ser consideradas, a saber:

(a) Sem sobrecarga distribuída na superfície do terrapleno

Neste caso, o fator de segurança contra a ruptura por ancoragem do reforço i é dado por:

2l ai γ 1 z i tan δ
FS anci = ≥2 [3.27]
Ti

onde:
δ - ângulo de atrito entre solo e reforço;
Ti - esforço de tração no reforço i (expressão 3.23)

(b) Com sobrecarga distribuída na superfície do terrapleno:

2l ai (γ 1 z i + q ) tan δ
FS anci = ≥2 [3.28]
Ti

Para muros sob as condições esquematizadas na Figura 9 a tendência é o fator de


segurança contra a ruptura por ancoragem aumentar com a profundidade do reforço. Em
função do valor do fator de segurança obtido para a ancoragem, pode ser necessário
aumentar os comprimentos de alguns reforços. Caso isso seja necessário, dependendo dos
custos relativos dos materiais, pode ser mais interessante aumentar o comprimento de
todos os reforços da mesma quantidade para manter o comprimento constante ao longo da
altura da estrutura e facilitar o controle de construção.
O comprimento final dos reforços (largura da base do maciço reforçado) deve ser tal que
todas as condições de estabilidade (interna e externa) sejam atendidas.

21
Geossintéticos

3.4.2.2 Ancoragem da Extremidade Dobrada do Reforço Junto à Face


Há também a necessidade de ancorar a extremidade dobrada do reforço na face do muro,
conforme esquematizado na Figura 12. Isto se aplica a aterros reforçados construídos de
modo incremental (ver item 5). O estado de tensões junto à face de geossintético da
estrutura (ainda sem o revestimento definitivo) é certamente complexo, uma vez que
envolve o arqueamento da massa de solo junto à face por causa do abaulamento do
geossintético que compõe a face provisória. Assumindo-se que as tensões normais sobre os
comprimento la e lb são iguais a tensão vertical no meio do comprimento la e desprezando-
se efeitos de concentração de tensões nos cantos (conservativo), para as condições da
Figura 12, o valor de lb é dado por:

 FS af σ h' 2  S
lb =  −  [3.29]
 tan δ σ v sin θ  1 + tan δ inf 
'

 tan δ 

onde:
lb - comprimento de ancoragem ao longo da horizontal;
FSaf - fator de segurança para a ancoragem na face (≥ 1.5);
σ’h - tensão horizontal média entre duas camadas de reforço;
σ’v - tensão vertical entre duas camadas de reforço;
θ - inclinação do comprimento la com a horizontal (Figura 12);
δinf - ângulo de atrito de interface entre a face inferior do trecho com comprimento lb e
o material subjascente (solo ou reforço, se solo: δinf = δ);
δ - ângulo de atrito entre o reforço e o solo de aterro 1.
Da expressão 3.32 pode-se observar que a situação mais crítica ocorre em reforços
superficiais (σ’v baixos). Ensaios em modelos confirmam tal situação (Lanz, 1992).
Assim, para a camada de reforço mais superficial, situada na profundidade z1 à partir da
superfície do terrapleno, tem-se:

γz1
σ v' = +q [3.30]
2

logo:

 FS af σ h' 1  2 z1
lb =  −  [3.31]
tan δ inf 
 tan δ γz1 + 2q sin θ  1 + 
 tan δ 

Quanto à expressão 3.31, são importantes as seguintes considerações:


Se as duas faces do reforço ao longo do comprimento lb estão em contacto com solo:

tan δ inf
=1 [3.32]
tan δ

22
Geossintéticos

Se a face inferior do comprimento dobrado está em contacto com a camada de reforço,


dependendo do tipo de reforço, tem-se:

tan δ inf
0.2 ≤ ≤1 [3.33]
tan δ

T
la z1
σ'v
S
σ'θ θ reforço i
t
σ'h lb

a) Reforço i, a uma profundidade zi.

T
la
σ'v
S z1
σ'θθ
t

σ'h lb

b) Reforço na superfície do aterro, i = 1.

Figura 12 Ancoragem do reforço junto à face

Para geogrelhas com baixa razão entre área sólida em planta e área total em planta, de
forma a favorecer o intertravamento dos grãos entre os membros da grelha, o valor de
tan δinf /tan δ é próximo a 1. Ângulos de atrito de interface entre geotêxteis podem variar
de 6° a 30°, dependendo das características de rugosidade da superficie do geotêxtil.
Geotêxteis do tipo tecido, razoávelmente lisos, tendem a fornecer baixos valores de ângulo
de atrito de interface geotêxtil-geotêxtil (< 15°) . Tupa e Palmeira (1995) apresentam
valores de ângulos de atrito de interface entre diferentes geossintéticos. Caso o trecho
dobrado esteja em contacto com a camada de reforço ao longo do comprimento lb e não de
disponha de dados de ensaios, pode-se adotar conservativamente tan δinf /tan δ = 0 na
expressão 3.31.

23
Geossintéticos

• Se σ’hcomp ≥ σ‘h (em z = z1/2), usar σ‘h = σ’hcomp e q = 0 na expressão 3.31, onde
σ’hcomp é tensão horizontal induzida pela compactação (item 3.4.3).
• Se σ’hcomp < σ‘h (em z = z1/2), usar σ‘h = σ‘h (para z = z1/2) e q (≠ 0) na expressão 3.34,
onde σ‘h (para z = z1/2) é a tensão efetiva horizontal no estado ativo na profundidade
z1/2.
• valor da inclinação θ é arbitrado pelo projetista. Para materiais de aterro
predominantemente arenosos, pode-se utilizar o valor de θ próximo ao ângulo de atrito
da areia no repouso ou aproximadamente igual ao φ’cv do material de aterro.
O comprimento total do trecho dobrado para o reforço superficial (i = 1) é dado por:

 
 1  FS af σh '
1   2 
lo = la + lb = z1  + −  ≥ 1m [3.34]
 sin θ  tan δ γz1 + 2q sin θ  1 + tan δ inf  
  
 tan δ  

Por razões de facilidade construtiva é recomendado que o comprimento total dobrado (lo)
não seja inferior a 1 m (Koerner, 1998).
A sequência de cálculo de lo é a seguinte:
1. Calcular o valor de la, admitindo-se que o trecho lb é desnecessário (lb = 0):

FS af σ h' S
la = [3.35]
2σ v' tan δ

Para zi = z1 (camada de reforço superficial, i = 1) fazer:

S = z1

γz1
σ v' = + q e σ‘h = σ‘h (em z = z1/2), se σ’hcomp < σ‘h (em z = z1/2) ou
2

γz1
σ v' = e σ‘h = σ’hcomp , se σ’hcomp ≥ σ‘h (em z = z1/2).
2

Para zi > z1 fazer:

S = espaçamento entre reforços;

S
σ v' = γ ( zi − ) + q e σ‘h = σ‘h (em z = zi - S/2), se σ’hcomp < σ‘h (em z = zi - S/2)
2

ou

24
Geossintéticos

 S
σ v' = γ  zi −  e σ‘h = σ’hcomp, se σ’hcomp ≥ σ‘h (em z = zi - S/2)
 2

S (ou z1 , para i = 1)
Se: 1 m ≤ la ≤ ⇒ OK ⇒ Não é necessário o comprimento lb e, neste
sinθ
caso:

lo = l a ≥ 1 m [3.36]

Se o trecho com comprimento lb é necessário, calcular:

 FS af σ h' 2  S
lb =  −  [3.37]
tan δ inf 
 tan δ σ v sin θ  1 +
'

 tan δ 

Com:
Para zi = z1 (camada de reforço superficial, i = 1), fazer:

S = z1

γz1
σ v' = + q e σ‘h = σ‘h (em z = z1/2), se σ’hcomp < σ‘h (em z = z1/2) ou
2

γz1
σ v' = e σ‘h = σ’hcomp , se σ’hcomp ≥ σ‘h (em z = z1/2).
2

Para zi > z1, fazer:

S = espaçamento entre reforços;

 S
σ v' = γ  zi −  + q e σ‘h = σ‘h (em z = zi - S/2), se σ’hcomp < σ‘h (em z = zi - S/2)
 2

ou

 S
σ v' = γ  zi −  e σ‘h = σ’hcomp, se σ’hcomp ≥ σ‘h (em z = zi - S/2)
 2

25
Geossintéticos

Neste caso:

z −t
la = 1 [3.38]
sin θ

lo = l a + l b ≥ 1 m [3.39]

onde t é a espessura de solo abaixo do trecho com comprimento lb (Figura 12). Para os
demais reforços, z1 deve ser substituído por S na expressão 3.38.

3.4.3 Sobrecargas Localizadas e Efeito da Compactação


Sobrecargas localizadas devem ser levadas em conta nas análises de estabilidade externa e
interna. Apesar da contradição do uso de soluções plásticas e elásticas em um mesmo
problema, as soluções oriundas da teoria da elasticidade têm sido comumente utilizadas
para a estimativa de acréscimos de tensões horizontais. Poulos e Davis (1974) apresentam
soluções elásticas para variados tipos de carregamentos. As Figura 13(a) e (b)
esquematizam a presença de sobrecargas localizadas na superfície do terrapleno. É
importante frisar que estruturas em solo reforçado, como outros tipos de estruturas de
contenção de peso, são usualmente consideradas deslocáveis para a presença de estruturas
sensíveis a recalques na superfície do terrapleno. Há uma grande experiência muito bem
sucedida com a presença de pavimentos sobre o maciço reforçado bem projetado.
Entretanto, a experiência com a presença de elementos de fundações estruturais ainda é
limitada. Palmeira e Gomes (1996) discutem a análise de estabilidade de estruturas
reforçadas sob a ação de carregamentos localizados.
Uma abordagem simplificada para se levar em conta a presença de uma sobrecarga
localizada (em faixa) sobre o maciço reforçado é esquematizada na Figura 14. Neste caso,
o acréscimo de carga horizontal que deve ser absorvida pelas camadas de reforço pode ser
estimado por (Jewell, 1996):

∆Ph = Qh + ka1Qv [3.40]

onde:
∆Ph - acréscimo de carga horizontal devido à sobrecarga localizada na superfície;
Qh - componente horizontal da carga na superfície;
Qv - componente vertical da carga na superfície;
ka1 - coeficiente de empuxo ativo do solo 1.
Os acréscimos máximos de tensões horizontais devido às componentes horizontal e
vertical do carregamento são dados por:
Acréscimo devido à componente horizontal da força Q:

26
Geossintéticos

2Qh
∆σ hh = [3.41]
hc

Acréscimo devido à componente vertical:

Qv k a1
∆σ hv = [3.42]
hc

com:

 φ’ 
hc = d tan 45o + 1  [3.43]
 2 

onde d é a distância da borda externa do carregamento à face da estrutura (Figura 12).


q
muro reforçado
b

∆σh

(a) Acréscimos de tensões sobre a face interna

b
q
muro reforçado

2 2
1 1

∆σh

(b) Acréscimos desprezíveis

Figura 13 Sobrecargas localizadas no terrapleno

Abaixo da profundidade limitada pela inclinação de espraiamento do carregamento vertical


à partir da borda externa do carregamento (hc, Figura 14), o acréscimo de tensão horizontal

27
Geossintéticos

em uma determinada profundidade é dado pelo acréscimo de tensão vertical, multiplicado


pelo coeficiente de empuxo horizontal no solo 1 (Figura 24), admitindo-se a distribuição de
acréscimos de tensões verticais segundo um prisma trapezoidal (V:H = 2:1). Neste caso,
para profundidades (z) entre hc e H (Figura 24), o acréscimo de tensão horizontal é dado
por:

Qv k a1
∆σ hz = [3.44]
b+ z
x+
2

onde:
x - distância da face da estrutura ao ponto médio do carregamento distribuído;
b - largura do carregamento distribuído;
z - profundidade considerada.

As Figura 24 e Figura 25 apresentam separadamente os efeitos das componentes horizontal


e vertical do carregamento superficial. A Figura 26 apresenta a composição dos diversos
acréscimos de tensões horizontais para a análise de estabilidade interna.

Qh

Qv Q carregamento em faixa

hc ∆Ph
H
45o + φ'1/2

B maciço reforçado
Figura 14 Carregamento localizado sobre o maciço reforçado (Jewell, 1996)

O efeito da compactação é aumentar as tensões laterais no aterro. O método tradicional de


compactação do solo próximo à face exige que o equipamento a ser utilizado nesta região
seja leve e operado manualmente. Jewell (1996) sugere que tensões laterais devido à
compactação (σhcomp) entre 10 e 30 kPa podem ocorrer em materiais de aterro granulares.
Para equipamentos de compactação leves Jewell (1996) sugere que uma tensão horizontal
de 15 kPa seja levada em conta nos cálculos na superfície do aterro reforçado, caso a
tensão horizontal nesta região devido à ação de peso próprio e sobrecargas seja inferior a

28
Geossintéticos

este valor, conforme esquematizado na Figura 27. Na realidade, é de se esperar que as


tensões horizontais criadas pela compactação tendam a se dissipar com o tempo devido a
deformações da massa reforçada (fluência do reforço, por exemplo). Ehrlich e Mitchell
(1994) discutem o efeito da compactação em aterros reforçados com elementos de reforço
rígidos. Neste trabalho os autores mostram que o ‘metodo prevê ou superestima
ligeiramente as tensões horizontais medidas em aterros reforçados com reforços rígidos.
No único caso de aterro reforçado com geogrelhas, as tensões previstas pelos citados
autores foram próximas às obtidas para o material de aterro no estado ativo. Isso pode ser
explicado como sendo devido, em parte, à maior deformabilidade do reforço geossintético.

Dimensionamento de Taludes Íngremes Reforçados

4.1 Cálculo de Empuxos e Tensões


Em virtude da utilização da teoria de Rankine para o cálculo do empuxo de terra e das
características geométricas, as expressões apresentadas anteriormente não são válidas para
maciços reforçados com a face inclinada, como esquematizado na Figura 15. Para
inclinações da face entre 60 e 90 é comum a utilização do método de Coulomb. Várias
superfícies planas de deslizamento são pesquisadas de modo a se determinar aquela que
fornece o maior empuxo ativo (Figura 16). Neste caso, as condições de estabilidade a
serem verificadas são as mesmas apresentadas para as estruturas de contenção em solo
reforçado, embora por meio de expressões matemáticas diferentes. A medida que o ângulo
da face se torna muito abatido erros importantes podem surgir devido à superfície plana de
deslizamento hipotética se afastar muito da superfície de deslizamento real nestes casos.

4.2 Metodologia de Jewell (1989)


Jewell (1989 e 1996) apresenta gráficos para o dimensionamento de taludes íngremes em
solos não coesivos através de superfícies de deslizamento em forma de espiral logarítmica.
O caso típico analisado por Jewell aparece esquematizado na Figura 17. Admite-se que o
solo de fundação é tão ou mais resistente que o material de aterro. A metodologia permite
que se leve em conta eventuais poropressões no aterro, através do parâmetro de
poropressão ru, definido por:

u
ru = [4.1]
γz

onde:
ru - parâmetro de poropressão;
γ - peso específico do solo;
z - profundidade do elemento de solo considerado.
Comumente se utiliza um valor constante de ru para todo o maciço.
Os gráficos para a determinação do coeficiente de empuxo horizontal (kReq) neste caso são
apresentados nas Figura 18 a Figura 20. Nestas figuras aparecem também os gráficos para
determinação dos comprimentos dos reforços de modo a se atender a estabilidade interna e
a segurança contra o deslizamento ao longo da base.

29
Geossintéticos

Uma sobrecarga uniformemente distribuída no terrapleno pode ser levada em conta no


dimensionamento através da consideração da altura de terra equivalente, dada pela
expressão:

H eq = H + ho [4.2]

geossintético

aterro
ρ
terreno
natural

Figura 15 Talude íngreme reforçado com geossintéticos

E
Emax

ρ
q
maciço reforçado

Emax
E max
H
δsm

ρcrítico

Figura 16 Análise de várias superfícies planas para cálculo de empuxos.

30
Geossintéticos

com:

q
ho = [4.3]
γ

onde:
Heq - altura equivalente do talude levando em conta a sobrecarga na superfície;
H - altura real do talude;
ho - espessura equivalente de solo para a sobrecarga na superfície do terrapleno;
q - sobrecarga uniformemente distribuída na superfície do terrapleno;
γ - peso específico do material de aterro.
maciço reforçado
q

H
u
Emax

Figura 17 Características do problema analisado por Jewell (1996).

Os passos a serem seguidos para o dimensionamento de um talude íngreme por Jewell


(1989 e 1996) são descritos abaixo:
1) Com as características do talude obtém-se o valor de kReq e LR através das Figura 18 a
Figura 20(a a c), dependendo do valor de ru adotado. O valor de LR é o maior entre os
valores que garantam estabilidade interna e contra o deslizamento ao longo da base. Os
gráficos para d determinação de LR foram construídos admitindo-se um coeficiente de
interação fb = 0.8 (ver equação 2.1). Caso o valor de fb seja diferente, o valor de LR
obtido pelo gráfico deve ser multiplicado por 0.8/ fb.
2) espaçamento entre reforços requerido na base é dado por:

Td
S=
k d γH eq
[4.4]

O espaçamento pode ser constante ao longo de toda a altura do talude (igual ao valor dado
pela equação 4.4) ou variar, de modo semelhante ao apresentado para estruturas de
contenção.

31
Geossintéticos

3) A resistência por ancoragem limita a carga que o reforço é capaz de desenvolver de


modo a manter o equilíbrio da estrutura. Para compensar a perda de força capaz de ser
mobilizada no reforço, utiliza-se o coeficiente de empuxo de dimensionamento dado
por:

φ'
0,5 20o
ru = 0
0,4
25o

30o
0,3
35o
k
40o
0,2
45o
50o
0,1

0
30 40 50 60 70 80 90
β ( o)
(a) Coeficiente de empuxo

LR
LR
H
H int desliz

1.2 ru = 0
1.2 ru = 0

φ'
0.8 20o 0.8
φ'
30o 20o
40o 0.4
0.4 25o
50o
30o
45o 35o
0 40o
0
30 50 70 90 30 50 70 90
β β
(o ) (o )

(b) Estabilidade interna (c) Deslizamento ao longo da base.


Figura 18 Ábacos para dimensionamento de taludes íngremes (Jewell, 1996) - ru = 0

32
Geossintéticos

20o φ'
0,6
25o
ru = 0,25 30o
0,5
35o
40o
0,4 45o
50o
k 0,3

0,2

0,1

0
30 40 50 60 70 80 90
β (o)
(a) Coeficiente de empuxo

LR LR
H H desliz
int

1.8 ru = 0,25 1.8 ru = 0,25

1.2 1.2 φ'


φ'
20o
20o

30o
0.6 0.6
40o
50o 30o
40o
0 0 50o
30 50 70 90 30 50 70 90
β (o) β (o)

(b) Estabilidade interna (c) Deslizamento ao longo da base.


Figura 19 Ábacos para dimensionamento de taludes íngremes (Jewell, 1996) - ru = 0.25

33
Geossintéticos

φ'
0,8 20o
0,7 ru = 0,50 30o
40o
0,6
50o
0,5
k 0,4

0,3

0,2

0,1
0
30 40 50 60 70 80 90
β (o)
(a) Coeficiente de empuxo

LR LR
H int H
desliz
3.0 3.0
ru = 0,50 ru = 0,50
φ'
2.0 2.0 20o
φ'
20o
25o

1.0 1.0 30o


30o
40o 35o
50o 40o
50o
0 0
30 50 70 90 30 50 70 90
β (o) β (o)

(b) Estabilidade interna (c) Deslizamento ao longo da base.


Figura 20 Ábacos para dimensionamento de taludes íngremes (Jewell, 1996) - ru = 0.50

k Re q
kd = [4.5]
L
1− B
LR

com:

34
Geossintéticos

 T  1  1 

LB =  d   [4.6]
 2γH 2  1 − ru
 f b tan φ 

 

onde:
kd - coeficiente de empuxo ser usado no dimensionamento;
LB - comprimento de ancoragem requerido para o reforço na base da estrutura;
LR - comprimento do reforço de modo a atender às condições de estabilidade interna e
segurança contra o deslizamento. Maior dos valores obtidos nas Figura 18 (b) e (c), no
caso de ru = 0, por exemplo;
Td - resistência à tração do reforço de dimensionamento;
fb - coeficiente de interação entre solo e reforço (ver equação 2.1)

Para evitar mecanismos de ruptura superficiais, não passando pelo pé do aterro reforçado,
aumenta-se a tensão horizontal na região superficial do aterro de um valor dado por:

σ min = γzcrit k Re q [4.7]

com:

LB
z crit = H [4.8]
LR

onde:
σmin - tensão a ser equilibrada pelos reforços na região superficial do aterro (é assumida
constante até a profundidade zcrit. Se σmin é menor que σhcomp, deve-se usar σhcomp.
zcrit - profundidade crítica, acima da qual o reforço só é capaz de mobilizar um esforço
de tração igual a sua resistência por ancoragem.
O diagrama de tensões ativas a ser equilibrado pelas camadas de reforço aparece
esquematizado na Figura 21. Os reforços podem ser distribuídos ao longo da altura real da
estrutura (com espaçamento constante ou variável) de modo a equilibrar o diagrama de
tensões horizontais da Figura 21.

35
Geossintéticos

maior valor entre


σ'crit e σ'hcomp
q σ'h

z'

z'crit
Heq

z' kdσ'v
Figura 21 Diagrama de tensões ativas na massa reforçada

4.3 Tensões na Base e Capacidade de Carga do Solo de Fundação


De acordo com a Figura 22, a posição da resultante das forças na base do maciço reforçado
pode ser obtida por:

WxW + QxQ − Ey E
xR = [4.9]
W +Q

com:

kdγ
E= ( H eq2 − ho2 ) [4.10]
2

onde E é o empuxo de terra sobre a massa reforçada, e yE é a distância, na vertical, do


ponto de aplicação de E à base da massa reforçada (obtido do diagrama de tensões
horizontais).
O módulo da excentricidade da resultante em relação ao centro da base na base é dado por:

B
e= − xR [4.11]
2

As pressões que definem o diagrama trapezoidal de tensões verticais na base são dadas por:

2N  3x 
σ v max = 2 − R  ≥ 0 [4.12]
B  B 

2N  3x R 
σ v min =  − 1 ≥ 0 [4.13]
B  B 

36
Geossintéticos

B
β

σvmin
σvmax

N
xR
onde N é a força norma na base (
Figura 23), dada por:

N =W +Q [4.14]

maciço reforçado
xQ Q=qB

W
xw

H u
Emax
B

α yE

Ntanδb
N

xR

Figura 22 Análise de condições de estabilidade externa

Para a verificação da capacidade de carga do solo de fundação, procede-se de modo


semelhante ao caso de estrutura de contenção, utilizando-se a metodologia de Meyerhoff
(1953). Assim:

B ' = B − 2e [4.15]

N
σ= [4.16]
B'

q max = c' N c + q s N q + 0.5γ f B' Nγ [4.17]

37
Geossintéticos

Com:

q max
FS f = ≥3 [4.18]
σ

B
β

σvmin
σvmax

N
xR

Figura 23 Distribuição de tensões na base.

O comprimento final dos reforços (largura da base do maciço reforçado) deve ser tal que
todas as condições de estabilidade (interna e externa) sejam atendidas.
As considerações sobre compactação apresentadas para as estruturas de contenção podem
também ser estendidas ao caso de taludes íngremes reforçados.

Verificação da Estabilidade Global


Neste caso procede-se de modo semelhante ao apresentado para estruturas de contenção
em solo reforçado com geossintéticos (ver item 3.3).
x
Qh
Qv Q maciço reforçado
Qv ka1 /hc

b
1
2
hc

45o + φ'1/2 H

Qv ka1
x + (b + z)/2
B
z

Figura 24 Efeito da componente vertical da carga na superfície (Jewell, 1996)

38
Geossintéticos

Qh
Qv Q maciço reforçado
2Qh/hc

hc
H
45o + φ'1/2

B
Figura 25 Efeito da componente horizontal da carga na superfície (Jewell, 1996)

3.5 Deslocamentos Horizontais na Face da Estrutura

Na presente data ainda não são disponíveis métodos simples para a estimativa de
deslocamentos horizontais na face de estruturas de arrimo em solo reforçado com
geossintéticos. Dados de obras reais sugerem deslocamento horizontais máximos entre 0.2
e 3% da altura da estrutura (tipicamente entre 0.2 e 1.2% da altura), dependendo das
características da obra, rigidez do reforço, tipo de solo, compressibilidade da fundação, etc.
Em vista da complexidade do problema, é importante frisar que as metodologias
apresentadas abaixo devem ser encaradas como ferramentas um tanto grosseiras para se ter
uma indicação do possível nível de deslocamentos horizontais máximos de faces de
estruturas de contenção em solo reforçado com geossintéticos.

4
1 - carregamento uniformemente
distribuído na superfície;
2 - peso próprio do solo;
3 - componente horizontal de carregamento
localizado na superfície;
5
4 e 5 - componente vertical de carregamento
1 localizado na superfície.

Figura 26 Composição de carregamentos para análise de estabilidade interna (Jewell, 1996)

39
Geossintéticos

se σhcomp > σh(z = 0)


σhcomp

σh(z = 0)

envoltória de tensões horizontais


na face levando em conta tensões
de compactação

Figura 27 Efeito da compactação (Jewell, 1996).

O Departamento de Transportes Americano (FHWA, 1990) apresenta as seguintes


expressões empíricas para estimativa do deslocamento máximo da face de estruturas
reforçadas com até 6 m de altura:

H
δ h max = δ R , para reforços extensíveis [3.45]
75

H
δ h max = δ R , para reforços rígidos [3.46]
250

onde δmax é o deslocamento máximo esperado e H é a altura da estrutura

O coeficiente δR é obtido do gráfico da Figura 28 em função das dimensões da massa


reforçada. O valor de δR obtido da Figura 28 deve ser aumentado em 25% para cada 20 kPa
de sobrecarga sobre a estrutura (FHWA, 1990).
Assim, dependendo da rigidez do reforço, é de se esperar que o deslocamento horizontal
máximo da face esteja entre os seguintes limites:

H  q  H q 
δR 1 + 0.25  ≤ δ h max ≤ δ R 1 + 0.25  [3.47]
250  20  75  20 

onde q é a sobrecarga na superfície do terrapleno (em kPa).

40
Geossintéticos

δR

0
0 0.5 1.0 1.5
B/H
Figura 28 Gráfico para estimativa de deslocamentos horizontais máximos (FHWA, 1990)

Jewell e Milligan (1989) apresentam uma metodologia para a estimativa do deslocamento


máximo na face da estrutura para materiais de aterro predominantemente arenosos sobre
fundação rígida. A Figura 29(a) e (b) apresentam gráficos para a estimativa do
deslocamento máximo na face para uma estrutura com espaçamento uniforme entre
camadas de reforço (Figura 29a) e para espaçamento variável, em que se tenha a mesma
carga de tração em todos os reforços (Figura 29b). O resultado obtido é função do ângulo
de atrito mobilizado no solo de aterro, do ângulo de dilatância do solo de aterro (ψ), da
rigidez do reforço (J) e das cargas de tração nos reforços, com:

Tbase = k a1S (γ 1H + q) [3.47]

E
Tr = [3.48]
n

γH + 2q
E = k a1 H [3.49]
2

onde:
Tbase - esforço de tração no reforço na base da estrutura;
Tr - esforço de tração constante em cada reforço para espaçamento variável;
E - empuxo ativo a ser resistido pelas camadas de reforço;
n - número de camadas de reforço.
Comparações entre a metodologia proposta por Jewell (1996) e resultados de modelos
físicos de estruturas reforçadas mostraram boa concordância somente quando o valor

41
Geossintéticos

adotado para o ângulo de atrito mobilizado foi igual a φ’cv e com ângulo de dilatância igual
a zero, ou seja, em condições de estado crítico (Palmeira e Lanz, 1994).
Na falta de valores de ensaios, o valor do ângulo de dilatância de areias pode ser estimado
pela relação apresentada por Bolton (1986):

ψ ≅ 1.25(φ ’p − φ cv’ ) [3.50]

onde:
ψ - ângulo de dilatância da areia;
φ’ p - ângulo de atrito de pico da areia em condições de deformação plana;
φ’cv - ângulo de atrito da areia a volume constante.
Como a correlação apresentada pela FHWA (1990) é baseada na observação de obras reais
ela embute deslocamentos horizontais que possam ter seido causados por compressão do
solo de fundação, o que não ocorre na metodologia apresentada por Jewell e Milligan
(1989).

0,55

0,5
ψ = 0o
0,45

0,4
δhmaxJ ψ = 10o
HTbase 0,35

0,3
ψ = 20o
0,25

0,2
20 25 30 35 40 45
Ângulo de atrito mobilizado (graus)

(a) Espaçamento uniforme entre reforços.

42
Geossintéticos

0,9

δhmaxJ
0,8
HTr

0,7

0,6
0 5 10 15 20 25
Ângulo de dilatância, ψ (graus)
(b) Espaçamento variável e carga constante nos reforços.

Figura 29 Estimativa de deslocamentos horizontais na face – aterros arenosos (Jewell e Milligan, 1989)

A estimativa de deslocamentos horizontais causados por compressão do solo de fundação


sob a massa reforçada pode ser efetuada pela solução elástica apresentada por Milovic et
al. (1970) para sapatas corridas submetidas a carregamento excêntrico sobre material de
fundação elástico linear com espessura (D) finita sobre base rígida, conforme
esquematizado na Figura 30. Assumindo-se que a massa de solo reforçado translada e roda
como um bloco rígido, o deslocamento horizontal e a rotação da base do maciço podem ser
estimados por:

N
δ xe = u OT sin λ [3.51]
Ef

 Ne 
ω e = tan −1  2 ω cos λ  [3.52]
 E B 2 CM 
 f 

com:

E
λ = tan −1   [3.53]
N

onde:
δxe - deslocamento horizontal elástico da base da massa reforçada;
λ - inclinação da resultante das forças na base da estrutura com a vertical;
N - força normal na base da estrutura;
Ef - módulo de elasticidade do solo de fundação;

43
Geossintéticos

ωe - rotação elástica da base da estrutura;


e - excentricidade da força na base da estrutura;
B - largura da base da estrutura;
E - empuxo ativo (horizontal) atuante sobre a estrutura;
uOT e ωCM - coeficientes obtidos na Tabela 6, em função do coeficiente de Poisson (νf) e da
espessura relativa do solo de fundação (D/B), onde D é a espessura de solo de fundação
(entre a base da estrutura e sobre a camada rígida).
N
R
λ
E

Ef, ςr
B/2 B/2

Base rígida

Figura 30 Sapata com Carga Excêntrica Sobre Camada Elástica (Milovic et al, 1970)

Tabela 6 Valores de uOT e ωCM (Milovic et al., 1970)

D/B νf = 0.005 νf = 0.30 νf = 0.45

uOT ωCM uOT ωCM uOT ωCM


1.0 1.235 2.819 1.461 2.770 1.491 2.244
2.0 1.616 2.927 1.853 3.013 1.889 2.609
3.0 1.978 3.125 2.233 3.190 2.225 2.749

O deslocamento máximo por compressão elástica do solo de fundação é então estimado


por:

δ he = δ xe + H sin ω e [3.54]

onde H é a altura da estrutura.


hO deslocamento horizontal elástico devido à compressão do solo de fundação seria então
somado ao deslocamento do maciço reforçado para se ter uma estimativa do deslocamento
totala da face. De posse desse valor pode ser feita antecipadamente uma eventual correção
da inclinação da face para compensar a movomentação prevista e manter a face vertical.

44
Geossintéticos

6. Exemplo de Cálculo
Seja dimensionar a estrutura de contenção em solo reforçado com geossintéticos para a
situação esquematizada na Figura 31. Os dados do problema são:
Altura da estrutura: 5 m
Dados do Solos:
Solo Símbolo Valor

3
1 γ1 17 kN/m
c'1 0
φ’1 = φ’cv 32º
φ’p 39º
δ 29°
3
2 γ2 = 19 kN/m
c'1 = 6 kPa
φ’2 = 30°
Fundação δb 25°
c’ 10 kPa
φ’ 34°
Ef 30 MPa
νf 0.30
Reforço:
Geotêxtil não tecido de poliéster

MA = 430 g/m2

ƒfl = 1.8

Tíndice = 39.2 kN/m

J = 400 kN/m (módulo confinado obtido para a faixa de deformações esperada no


reforço)
solo 1
q=10

solo 2

H=5m

D=7,2

Figura 31 Esquema do exemplo.

45
Geossintéticos

Análise de Estabilidade Externa

Cálculo do Empuxo e Tensões Ativas na Face Interna do Maciço Reforçado:


Pela teoria de Rankine, obtém-se o diagrama de tensões ativas apresentado na Figura 32.
Com:
σ h' = (γz + q)k a 2 − 2c2' k a 2

onde:
 φ'   30° 
k a 2 = tan 2  45° − 2  = tan 2  45° −  = 0.333
 2   2 
 

Desprezando-se a parcela negativa do diagrama de tensões horizontais, o empuxo ativo é


dado por:

E = 62.11 kN/m

Da Figura 32, obtém-se o ponto de aplicação do empuxo igual a:

yE = 1.48 m

Deslizamento ao Longo da Base


FS d E
Bd = [3.1]
(γ 1H + q) tan δ b

1.5 × 62.11
Bd = = 2.10 m
(17 × 5 + 10) tan 28°

Verificação do Tombamento

2 FS t Ey E
Bt = [3.5]
γ 1H + q

2 × 2.0 × 62.11 × 1.48


Bt = = 1.96m
17 × 5 + 10

Como Bd > Bt, admite-se provisoriamente B = 2.10 m

46
Geossintéticos

solo 1
σ'h = 3,59 kPa

0 10 20 30 σ'h (kPa)

0,57 m

2
solo 2

H=5m

E=62,1 kN/m
4

1,48 m

σ'h =28,04 kPa

Figura 32 Distribuição de tensões horizontais na face interna do maciço reforçado.

6.1.4 Distribuição de Tensões na Base e Capacidade de Carga do Solo de Fundação


W = 17x2.1x5 = 178.50 kN/m

Q = 2.1x10 = 21 kN/m

xW = xQ = 1.05 m

WxW + QxQ − Ey E
xR = [3.9]
W +Q

178.5 × 1.05 + 21 × 1.05 − 62.11 × 1.48


xR = = 0.59 m
178.5 + 21

Então:

N = W + Q = 178.5 + 21 = 199.5.0 kN/m

2N  3x R 
σ v min =  − 1 [3.7]
B  B 

199.5  3 × 0.59 
σ v min =  − 1 = −10.93 kPa → < 0
2.1  2 

Deve-se aumentar a base da estrutura de modo a se ter σvmin positivo e não muito pequeno.
Seja, então, admitir-se B = 3.5 m. Neste caso:

47
Geossintéticos

W = 17x3.5x5 = 297.5 kN/m

Q = 3.5x10 = 35 kN/m

xW = xQ = 1.75 m

297.5 × 1.75 + 35 × 1.75 − 62.11 × 1.48


xR = = 1.47 m
297.5 + 35

Então:

N = W + Q = 297.5 + 35 = 332.5 kN/m

332.5  3 × 1.47 
σ v min =  − 1 = 24.7 kPa
3.5  3.5 

Então:

2N  3x 
σ v max = 2 − R  [3.8]
B  B 

2 × 332.5  3 × 1.47 
σ v max = 2 −  = 140.6 kPa
3.5  3.5 

A excentricidade da resultante na base é dada por:

B B
e= − xR ≤ [3.10]
2 6

B 3.5
e= − xR = − 1.47 = 0.28 m
2 2

A largura equivalente da base é dada por:

B ' = B − 2e [3.14]

B’ = 3.5 – 2x0.28 = 2.94 m

Tensão norma média equivalente:

N
σ= [3.15]
B’

48
Geossintéticos

332.5
σ= = 113.10 kPa
2.94

A capacidade de carga do solo de fundação é dada por:

qmax = c' N c + qs N q + 0.5γ f B' Nγ [3.17]

Para φ’ = 34° → Nc = 42.16, Nq = 29.44 e Nγ = 41.06. Logo:

qmax = 10 × 42.16 + 0 × 29.44 + 0.5 × 20 × 2.94 × 41.06 = 1628.76 kPa

Então:

q
FS f = max ≥ 3 [3.19]
σ

1628.76
FS f = = 14.4 ≥ 3 ⇒ OK
113.10

Estabilidade Interna

Dados do reforço para dimensionamento:


T
Tref = indice [2.4]
ƒ fl

39.2
Tref = = 21.8 kN/m
1.8

Tref
Td = [2.5]
ƒ m ƒ dm ƒ amb

adotando-se: ƒm = 1.1, ƒdm = 1.2 e ƒamb = 1.1, tem-se:

21.8
Td = = 15 kN/m
1.1 × 1.2 × 1.1

49
Geossintéticos

6.2.2 Determinação do Espaçamento entre Reforços

Td
S= [3.24]
 2c1’ 
k a1 γ 1 z + q − 
 k a1 

com:

 φ' 
k a1 = tan 2  45° − 1  [3.21]
 2 

 32° 
k a1 = tan 2  45° −  = 0.31
 2 

S espaçamento uniforme, para z = H = 5 m:

15
S uniforme = = 0.51m
 2×0 
0.31 × 17 × 5 + 10 −
 0.31 

Então Suniforme = 0.50 m.

O arranjo para reforços com espaçamento uniforme aparece esquematizado na Figura 33.
O total de camadas de reforço nesse caso seriam n = 10 camadas.

reforço
5m

0.5 m
50
3.6 m
Geossintéticos

Figura 33 Arranjo dos reforços com espaçamento uniforme.

Para S variável ao longo da altura, a variação de S com a profundidade z seria dada por:

15 15
S= =
0.31 × [17 z + 10] 5.27 z + 3.1

A Figura 34 apresenta a variação do S requerido com a profundidade à partir da superfície


do terrapleno.

No caso o espaçamento variável ao longo da altura da estrutura, várias opções são


possíveis, desde que se atenda aos requisitos da Figura 34 e tendo-se em mente que a
estrutura se torna mais deformável. Caso se opte por espaçamentos múltiplos da espessura
da camada de solo compactado (admitida igual a 0.25 m), pode-se utilizar espaçamento S =
0.50 m da profundidade z = 5 m até z = 3 m e S = 0.75 m de z = 3 m a z = 0 (total de
camadas n = 9). Nestas condições o arranjo dos reforços está apresentado na Figura 35.

6.2.3 Verificação do Comprimento de Ancoragem do Reforço

Adotou-se a solução em espaçamento entre reforços uniforme

51
Geossintéticos

espaçamento requerido, S (m)


0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
0

profundidade, z (m)
2

Figura 34 Variação de S requerido com a profundidade.

trecho com S = 0.75m

5m

trecho com S = 0.5m

3.6m

Figura 35 Arranjo dos reforços com espaçamento variável.

6.2.3.1 Extremidade Interna do Reforço

 φ' 
lai = B − ( H − zi ) tan  45° − 1  [3.26]
 2 

52
Geossintéticos

Para arranjo com espaçamento uniforme entre reforços:

Para o reforço mais superficial, z1 = 0.50 m

 32° 
lai = 3.5 − (5 − 0.50) tan 45° −  = 1.01 m
 2 

Sem sobrecarga distribuída na superfície do terrapleno

2laiγ 1 zi tan δ
FS anci = ≥2 [3.27]
Ti

onde, para o primeiro reforço:

 S
T1 =  z1 + σ 'hz
 2

onde: z1 + S/2 = 0.50 + 0.50/2 = 0.75 m

e σ’hz é a tensão horizontal média ao longo do trecho da face sob responsabilidade do


reforço. O diagrama de tensões horizontais dentro da massa reforçada, junto à face é dada
pela expressão abaixo:

’ ’  2c1’ 
σ hz = k a1σ vz = k a1 γ 1z + q −  [3.20]
 k a1 

A Figura 36 (a) e (b) apresenta os diagramas de tensões horizontais na face para os casos
sem e com sobrecarga na superfície. Nesta situação, em ambos os casos a tensão horizontal
crítica é o valor induzido pela compactação. Nesse caso σ’hz = 10 kPa. Então:

53
Geossintéticos

T1 = 0.75x10 = 7.50 kN/m

2 × 1.01 × 17 × 0.75 × tan 29°


FS anci = = 1.90 < 2 ⇒ aumentar la
7.50

Aumentando-se 0.10 m o comprimento dos reforços, tem-se la = 1.11 m, logo:

2 × 1.11 × 17 × 0.75 × tan 29°


FS anci = = 2.09 ≥ 2 ⇒ OK
7.50

Assim, para satisfazer a ancoragem dos reforços, adote-se B = 3.60 m.

6.2.3.2 Ancoragem da Extremidade da Reforço junto à Face:

Como a tensão horizontal induzida pela compactação é maior que oriunda do peso próprio
do solo, tem-se σ‘h = σ‘hcomp = 10 kPa. Então, para o reforço superficial (S = z1 = 0.45 m):

FS af σ h’ z1
la = [3.35]
2σ v’ tan δ

1.5 × 10 × 0.75
la = = 1.59 m
0.75
2 × 17 × tan 29°
2

54
Geossintéticos

efeito da compactação
σ'h = 3,10 kPa
0 10 20 30 σ'h (kPa) 0 10 20 30 40 σ'h (kPa)

2 2

4 4

z(m) σ'h = 26,35 kPa


z (m) σ'h= 29,45 kPa

(a) sem sobrecarga


(b) com sobrecarga

Figura 36 Distribuição de tensões horizontais na face da estrutura.

Admitindo-se θ = 30º:

z1 0.75
= = 1.50 m < la ⇒ o comprimento lb é necessário. Então:
sin θ sin 30°

 FS af σ h' 2  S
lb =  −  [3.37]
 tan δ σ v sin θ  1 + tan δ inf 
'

 tan δ 

Com: σ‘h = σ‘hcomp = 10 kPa, S = z1 = 0.75 m e tan δinf = tan δ.

Então:

 
 1.5 10 2  0.75
lb =  − = 0.09 m
17 × 0.75 sin 30°  (1 + 1)
 tan 29° 
 2 

Devido ao reduzido valor de lb, adote’se lb = 0.30 m.


Admitindo-se pelo menos 10 cm de solo abaixo do segmento com comprimento lb, tem-se:

z − t 0.75 − 0.1
la = 1 = = 1.13 m [3.38]
tan θ tan 30°

55
Geossintéticos

Então, para o reforço mais superficial:

lo = la + lb = 1.13 + 0.30 = 1.43 m ⇒ adote-se lo = 1.50 m.

Para o 2o reforço (z = 1.00 m):

1.5 × 10 × 0.50 0.5


la = = 0.40m ≤ = 1.00m ⇒ não precisa de lb.
2 × 1.00 × 17 × tan 29° sin30°

Adotar então lo = 1 m para os demais reforços.

Estimativa do Deslocamento Máximo na Face

Pelo gráfico da Figura 3.15 (FHWA, 1990), para B/H = 3.6/5 = 0.72, tem-se δR = 1.0.
Majorando-se esse valor pelo efeito da sobrecarga, tem-se:

H  q  H q 
δR 1 + 0.25  ≤ δ h max ≤ δ R 1 + 0.25  [3.47]
250  20  75  20 

5  10  5  10 
1.0 × 1 + 0.25  ≤ δ h max ≤ 1.0 1 + 0.25 
250  20  75  20 

0.023m ≤ δ h max ≤ 0.075m

ou: 2.3cm ≤ δ h max ≤ 7.5cm

Por Jewell e Milligan (1989):

ψ ≅ 1.25(φ ’p − φcv

) [3.48]

56
Geossintéticos

ψ ≅ 1.25(39° − 32°) ≅ 8.8°

Da Figura 3.16 , para φ‘ = φ‘cv = 32º e ψ = 0º:

δ h max J
= 0.39
HTbase

Tbase = ka1S(γ1H+q)

Tbase = 0.31x0.50x(17x5+10) = 14.73 kN/m

Então:

0.39 × 5 × 14.73
δ h max = = 0.072m = 7.2 cm
400

Os valores obtidos pela FHWA (1990) e por Jewell e Milligan (1989), foram muito
próximos, adote-se δhmax= 7.5 cm.

Deslocamento elástico (Milovic et al., 1970):

N
δ xe = uOT sin λ [3.51]
Ef

Para νf = 0.3 e D/B = 2, Tabela 3.1 ⇒ uOT = 1.853 e ωCM = 3.13

Como a base da estrutura foi alterada para atender a ancoragem, a nova excentricidade é
dada por:

57
Geossintéticos

W = 17x 3.6 x 5 = 306 kN/m

Q = 3.6 x 10 = 36 kN/m

N = W + Q = 342 kN/m

xW = xQ = 1.80 m

WxW + QxQ − Ey E
xR = [3.9]
W +Q

306 × 1.80 + 36 × 1.80 − 62.11 × 1.48


xR = = 1.53m
306 + 36

B 3.60
e= − xR = − 1.53 = 0.27m
2 2

E  62.11 
λ = tan −1   = tan −1   = 10.29°
N  342 

Então:

N 342
δ xe = uOT sin λ = 1.853 × sin 10.29° × = 0.0038m = 0.38cm
Ef 30000

 Ne 
ω e = tan −1  2 ω cos λ  [3.52]
 E B 2 CM 
 f 

58
Geossintéticos

 342 × 0.27 
ω e = tan −1  2 2
× 3.013 × cos 10.29°  = 0.081°
 30000 × 3.60 

δ he = δ xe + H sin ω e = 0.38 + 500 × sin 0.081° = 1.1cm [3.54]

O deslocamento máximo seria, então, da ordem de:

δ h max = 1.09 + 7.5 = 8.6cm

Logo, δhmax/H = 8.6/500 = 0.017 ≈ 2/100 ⇒ inclinar face em por uma relação 1/50.

O esquema final da estrutura reforçada é mostrado na


Detalhe 1

0,30 solo argiloso

Detalhe 1
0,10

0,50
0,10

~
1,5 1,0 0,30

5,0

Detalhe 2 0,5
1,5 Detalhe 2

1,0
Detalhe 3

1,15
3,6

nota: Dimensões em metros


tubo perfurado envolto
em geotêxtil não tecido

sapata para reforço


a face geotêxtil

0,5

Figura 37.

59
Geossintéticos

Detalhe 1

0,30 solo argiloso

Detalhe 1
0,10

0,50
0,10

~
1,5 1,0 0,30

5,0

Detalhe 2 0,5
1,5 Detalhe 2

1,0
Detalhe 3

1,15
3,6

nota: Dimensões em metros


tubo perfurado envolto
em geotêxtil não tecido

sapata para reforço


a face geotêxtil

0,5

Figura 37

60
Cortinas ancoradas

Cortinas ancoradas

J A R Ortigão & H Brito

Introdução
Este capítulo trata das cortinas ancoradas, que são estruturas de contenção que
empregam tirantes. Neste Manual, este assunto é tratado distintamente das ancoragens,
que são discutidas em um capítulo à parte.
As cortinas ancoradas tiveram um grande desenvolvimento no Brasil graças ao trabalho
incansável do professor A J da Costa Nunes da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
que desenvolveu o método a partir de 1957 na empresa Tecnosolo SA. Nunes e co-
autores publicaram um grande número de trabalhos sobre o assunto (e.g., Nunes e
Velloso, 1963, Nunes, 1987, Hunt e Nunes, 1978). Outros trabalhos importantes foram
publicados por ex-colaboradores (Cerqueira, 1978, Yassuda e Dias, 1998) que resumem
a experiência brasileira. A experiência internacional é resumida em Hanna (1982),
Weatherby (1982), Cheney (1984), Fernandes (1981, 1990), Pinelo (1980), entre outros.
A norma ABNT NBR 5629 trata das ancoragens e também das estruturas ancoradas.
Uma cortina ancorada compreende uma parede de concreto armado, espessura em geral
entre 20 e 30 cm, em sfunção das cargas nos tirantes, fixada no terreno através das
ancoragens pré-tensionadas (Figura 1). Com isso obtém-se uma estrutura com rigidez
suficiente para minimizar deslocamentos do terreno.

Concreto
armado Ancoragens

1
Cortinas ancoradas

Figura 1 Cortina ancorada

O processo executivo das cortinas pode ser descendente (Figura 2) ou ascendente,


respectivamente em cortes e aterros e compreende:
• A execução dos tirantes;
• Escavação ou reaterro, conforme seja descendente ou ascendente
• A execução da parede (forma, armadura)
• Testes e protensão nas ancoragens até a carga de trabalho.

Figura 2 Fases de execução de uma cortina (Foto GeoRio)

Para aumentar a estabilidade do talude durante as fases de execução, o talude é


escavado em nichos conforme indicado na Figura 3 a Figura 5.

2
Cortinas ancoradas

Figura 3 Escavação em nichos (Foto GeoRio)

Figura 4 Escavação em nichos

Figura 5 Escavação em nichos (Fotos GeoRio)

Análise de estabilidade
Analisar a estabilidade de uma cortina ancorada significa garantir a estabilidade de
todos os modos de ruptura indicados na Figura 6, que são tratados a seguir.

3
Cortinas ancoradas

Puncionamento na base Ruptura de fundo Ruptura global


da escavação

Deformação excessiva Ruptura das ancoragens Ruptura da parede

Figura 6 Estados de ruptura de uma cortina ancorada

• Puncionamento da base: Pode ocorrer quando o solo onde se apoia a base da cortina
é de baixa capacidade de suporte. Toma-se como material de baixa capacidade de
suporte, ou seja capacidade de carga inferior a 20 kPa, ou índice N de resistência a
penetração, SPT, inferior a 10. Nesse caso, uma das soluções é a adoção de
microestacas de apoio, assunto que será tratado mais adiante neste capítulo.
• Ruptura de fundo da escavação: Situação que pode ocorrer se uma camada mole
existir abaixo do nível de escavação.
• Ruptura global: a ruptura global pode ser subdividida em dois casos, o de uma
cunha de ruptura e de uma ruptura generalizada e profunda (Figura 7). O primeiro,
pode ser analisado pelo método das cunhas, o segundo pelo método de equilíbrio
limite com superfície circular ou poligonal. Um caso comum de risco de ruptura em
cunha ocorre durante a escavação, situação que pode ser estabilizada através de
escavação em nichos.
• Deformação excessiva: Pode ocorrer durante a construção antes da protensão de um
determinado nível de ancoragens. Uma vez a obra executada, dificilmente ocorre,
pois as cortinas ancoradas são suficiente rígidas
• Ruptura das ancoragens: Ocorre por capacidade de carga insuficiente das
ancoragens ou durante a execução quando outros níveis de ancoragem ainda não
foram instalados. Por exemplo, em estruturas ancoradas utilizadas na base de
taludes muito altos (Figura 8). Havendo instabilização do talude e deslocamentos da
massa de solo, as ancoragens poderão ser supertensionadas e romper. O
dimensionamento das ancoragens isoladas é tratado em outro capítulo deste Manual.

4
Cortinas ancoradas

• Ruptura da parede. Pode haver duas situações: ruptura por flexão devido a
armadura insuficiente e ruptura por puncionamento das ancoragens. Ambos os
casos são pouco comuns e são tratados em outro capítulo.
As rupturas por deformação excessiva, das ancoragens ou da estrutura da parede são
consideradas como internas, as demais externas.
Ruptura em cunha Ruptura generalizada

Figura 7 Ruptura em cunha e generalizada

Figura 8 Cortina no pé de talude alto

A análise de estabilidade de um talude em solo que a estabilização é obtida por meio de


uma cortina ancorada pode ser realizada através de métodos simplificados ou mais
rigorosos, tratados a seguir.

Análise de estabilidade, método das cunhas


O primeiro a aplicar o método simplificado de equilíbrio limite das cunhas à análise das
de cortinas ancoradas foi Kranz (1953). A partir daí este método tem sido aplicado às
cortinas ancoradas de duas maneiras distintas, à alemã ou à brasileira (Figura 9).

5
Cortinas ancoradas

O método alemão emprega duas cunhas de deslizamento, sendo que a segunda corta a
ancoragem no seu ponto médio. Este método foi aplicado por Jelinek e Ostermeyer
(1966 e 1967) e Ranke e Ostermeyer (1968).
Método alemão Método brasileiro

2
1

Figura 9 Método das cunhas de análise de estabilidade

O desenvolvimento do método de análise no Brasil por A J C Nunes foi anterior aos


estudos alemães, pois foi aplicado desde a primeira cortina ancorada no Brasil em 1957
(Nunes e Velloso, 1963). O método de análise empregado por Nunes foi o de uma
cunha deslizante, conforme indicado na Figura 9. É um método recomendado para
situações simples, com solo homogêneo e topo do talude horizontal ou com pequena
inclinação (menor que 30 graus), conforme Figura 10. O problema é tratado
fisicamente como uma massa sobre um plano inclinado em que as forças de atrito na
base são comparadas com as forças que provocam o deslizamento. O fator de segurança
é obtido utilizando-se somente duas das equações de equilíbrio: das forças horizontais e
verticais.
As expressões a seguir são as mesmas empregadas por Nunes, utilizando-se a notação
apresentada na Tabela 1 e empregada em outros capítulos.

q
l1
Ψs
θ
T h
A
l3 H
zw
U
Ψf Ψp cr

Figura 10 Análise de estabilidade, método das cunhas

O fator de segurança (FS) é dado pela seguinte equação (Hoek e Bray, 1981):

6
Cortinas ancoradas

c A + (W (cos Ψ pcr − α sen Ψ pcr ) − U + T cos θ ) tan φ


FS =
W (senΨ pcr + α cos Ψ pcr ) − T senθ

onde:
Ψf +φ
Ψ pcr =
2
θ = 90° − (Ψ p + ξ )
cr

l 3 ⋅ cos Ψ f + l1 ⋅ cos Ψs
l2 =
cos Ψ p

A = l2 × 1 m
H
l3 =
sen Ψ f

h = l 3 ⋅ sen ρ
l ⋅ sen ρ
l1 = 3
sen δ
A⋅h
S=
2
ρ = Ψ f − Ψpcr
δ = Ψpcr − Ψs

W = S ⋅ γ + q l1 cos Ψs

γ w ⋅ z w2 ⋅
U=
4 ⋅ sen Ψ pcr

Tabela 1 Simbologia e unidades empregadasSimbologia e unidades empregadas

7
Cortinas ancoradas

Símbolo Descrição Unidade

H Altura do talude m
Ψf Inclinação da face do talude graus
Ψs Inclinação da parte superior do talude ou berma graus
Ψpcr Inclinação crítica da superfície de ruptura graus
q Sobrecarga distribuída no topo do talude kPa
b Distância da trinca de tração da crista do talude m
α Coeficiente de aceleração horizontal, devido à explosão próxima ou
sismicidade, dado em relação à aceleração da gravidade
T Força de ancoragem por metro linear kN/m
ξ Ângulo de inclinação da ancoragem com a horizontal graus
θ Ângulo de inclinação da ancoragem em relação à normal à superfície de graus
ruptura
c Coesão na superfície de ruptura MPa
φ Ângulo de atrito da superfície de ruptura graus
3
γ Peso específico da rocha kN/m
3
γw Peso específico da água kN/m
zw Altura do NA m
U Força de submersão da água por metro linear kN/m
V Esforço instabilizante da água por metro linear kN/m
W Peso do bloco de rocha por metro linear kN/m
2
A Área da superfície de ruptura por metro linear m /m

A equação anterior para um talude sem água e aceleração sísmica nula pode ser
simplificada para:
c A + (W cos Ψ pcr + T cos θ ) tan φ
FS =
WsenΨ pcr − T senθ

Esta equação corresponde exatamente as equações adotadas por Nunes e Velloso


(1963), apresentadas em um anexo deste Manual.

Ábacos de pré-dimensionamento
Os ábacos apresentados na Figura 11 a Figura 16 podem ser empregados em pré-
dimensionamento de casos simples. Fornecem a carga de ancoragem necessária para
atingir um FS = 1,5 em função da altura da cortina para valores selecionados de ângulo
de atrito e de coesão do terreno. Os valores da sobrecarga q e do peso específico do
solo γ foram tomados respectivamente iguais a 20 kPa e 18 kN/m3.

8
Cortinas ancoradas

200
º
25 30º
=
φ T
160 º
35 15º H

T
(kN/m) 120

80

40
c = 10 kPa
γ = 18 kN/m3
0
3 4 5 6 7

H (m)

Figura 11 Carga de ancoragem (FS = 1,5) em cortina vertical sem água, talude no topo horizontal

400

350 25º T ψs
φ= 30º 15º
300 H

T 35º
250
(kN/m)
200

150
c = 10 kPa
100 γ = 18 kN/m3
Ψs = 30º
50

0
3 4 5 6 7

H (m)

Figura 12 Carga de ancoragem (FS = 15) em cortina vertical com talude 30o, sem água

9
Cortinas ancoradas

250

º
º

25
30 T
φ

=
H
15º
º H
200 35 zw =
2

T
(kN/m)
150

100

50

c = 10 kPa
3
γ = 18 kN/m

0
3 4 5 6 7

H (m)

Figura 13 Carga de ancoragem (FS = 1.5) para cortina vertical com água (50%), talude no topo
horizontal

300
º
30
º
25

T
φ
=

15º zw = H
250 35º

T
(kN/m) 200

150

100

50
c = 10 kPa
γ = 18 kN/m3
0
3 4 5 6 7

H (m)

Figura 14 Carga de ancoragem (FS=1.5) cortina com água (100%), talude no topo horizontal

10
Cortinas ancoradas

450

º
400 25 º
φ= 30
º
350 35
T
(kN/m) 300

250

ψs
200
T
15º H
150 H
zw =
2
100

c = 10 kPa
50
γ = 18 kN/m3
ψs = 30º
0
3 4 5 6 7

H (m)

Figura 15 Carga de ancoragem (FS = 1.5) em cortina com talude 30o, com água (50%)

500

450 º
25 30º
φ= º
400 35
T
350
(kN/m)
300

ψs
250
T
200
15º zw = H

150

100

c = 10 kPa
50
γ = 18 kN/m3
ψs = 30º
0
3 4 5 6 7

H (m)

Figura 16 Carga de ancoragem (FS = 1.5) em cortina com talude 30o, com água (100%)

11
Cortinas ancoradas

Análise de estabilidade de casos complexos


Casos mais complexos de análise de estabilidade requerem o emprego de métodos de
equilíbrio limite através de superfícies circulares ou poligonais. Entre os casos
complexos (Figura 17) se enquadram os que apresentam:
• Topo do talude inclinado com mais de 30 graus
• Geometria do talude complexa
• Carregamentos diversos aplicados sobre o talude
• Ocorrência de água
• Solo estratificado com a ocorrência de camadas mais fracas
Nessas situações recomenda-se o emprego de um programa de computador que utilize
os métodos de análise de equilíbrio limite de fatias tratados no capítulo deste manual
sobre análise de estabilidade em solo.

Figura 17 Exemplo de caso complexo

Figura 18 Efeito do tirante

O efeito da ancoragem sobre o talude pode ser simulado através de uma força aplicada
sobre a superfície do mesmo.

12
Cortinas ancoradas

Espaçamento de ancoragens
O espaçamento entre ancoragens deve ser tal que elimine a interação entre os bulbos
ancorados e também em função do dimensionamento estrutural da parede de concreto
armado. Pinelo (1980) utilizou o método dos elementos finitos para estudar a interação
entre bulbos e recomendou utilizar espaçamentos indicados na Figura 19 para eliminar
este efeito.

>5m

H > 6 D (> 1 m)

min 0,15 H

> 6 D (> 1 m)

>6D

Figura 19 Recomendações para espaçamento de ancoragens

Erro da hipótese de deformação plana


Ao se admitir a hipótese de estado plano de deformações comete-se um erro, pois o
problema de análise de uma cortina é na realidade um problema tri-dimensional. Este
problema foi estudado por Tsui (1974), que realizou estudos em modelos e concluiu
sobre o erro cometido.
Aquele autor pode constatar que, para cortinas contínuas, o espaçamento entre
ancoragens s e as características do solo, da cortina e a sua inércia, influenciam a
distribuição de tensões no contato solo-cortina. A relação entre as características do
solo e as da cortina é quantificada através do comprimento característico L0 definido
por:

2 D (1 − ν s )
2
L0 = 3
Es

13
Cortinas ancoradas

E h3
D=
12(1 − ν 2 )

onde: h é a espessura da cortina, E e ν e Es e νs, respectivamente, os parâmetros


elásticos da cortina e do solo.
O valor de Es em MPa pode ser estimado por Es = 3 N, sendo N o índice de resistência
SPT. Em solos arenosos, adota-se νs = 0,3, em solos coesivos, νs = 0,5. Para o
concreto, pode-se adotar E = 21 GPa e ν = 0,3.

140
e a do estado de deformação plana (%)

120
a distribuição de tensões real
Diferença máxima entre

100
S

80

60

40

20

0
0 1 2 3 4 5 6

S / L0

Figura 20 Erro na distribuição de tensões calculada em estado plano de deformações (Tsui, 1974)

A Figura 20 permite estimar o erro máximo que se comete na distribuição de tensões


considerada uniforme, em relação à distribuição real, em função da relação S / L0 , onde
S é o espaçamento entre ancoragens.

Execução de cortinas apoiadas em microestacas


Em solos de baixa resistência um método executivo com a utilização de microestacas
veio permitir a execução de cortinas com segurança. O procedimento está indicado na
Figura 21 e serve para evitar a ruptura por puncionamento do pé da cortina, bem como
aumentar a estabilidade durante a escavação.

14
Cortinas ancoradas

Na etapa inicial da obra instala-se no terreno uma linha de microestacas a partir do topo
do talude. As microestacas são dimensionadas para suportar com segurança a carga do
painel de concreto armado. O comprimento é determinado considerando somente o
atrito lateral das microestacas com o solo, conforme norma de fundações ABNT NBR
6122.
300 mm

Microestacas

Figura 21 Emprego de microestacas para suporte da parede e reforço de solo durante a escavação

A capacidade de carga de uma microestaca isolada (Ql) por atrito lateral pode ser
estimada pela seguinte equação:

Ql = π D l f s

onde:
D = diâmetro da microestaca
l = comprimento do trecho da estaca embutida no terreno;
fs = atrito lateral unitário em kPa, podendo ser estimado através de correlações com o
SPT da seguinte maneira:

fs = 3 N

onde N é o valor médio do índice de resistência à penetração ao longo do comprimento


embutido da estaca no terreno. Um fator de redução de pelo menos 2 deve ser aplicado
ao valor de Ql para se obter a capacidade de carga admissível da microestaca.
O número necessário de estacas é obtido dividindo-se a carga devido ao peso da cortina
pela capacidade de carga das estacas, adotando-se neste cálculo fatores de majoração de
cargas e de redução de resistência apropriados. A Tabela 2 apresenta a capacidade de
carga estrutural de microestacas que podem ser empregadas.

15
Cortinas ancoradas

Tabela 2 Capacidade de carga estrutural de microestacas e armadura necessária (Fundesp)

Capacidade Diâmetro final da estaca raiz


de carga
estrutural
200 160 150 120 100
kN mm
400 5φ 16
300 4φ 16 3φ 20
200 4φ 16 3φ 20 3φ 16
3φ 16
100 1φ 25 1φ 25
Estribos φ5 c20

Aço 50 A
fck = 18 MPa

16
Solo grampeado

Solo grampeado

J A R Ortigão & E M Palmeira

Introdução
Este capítulo versa sobre uma das técnicas de reforço de solos em que se empregam inclusões
semi-rígidas denominadas grampos, e daí a denominação solo grampeado. Esta técnica foi
aplicada de maneira intuitiva na década de 70 em São Paulo. Na sua fase atual, análises de
estabilidade em que se simula o efeito do reforço têm levado a soluções alternativas mais
econômicas.
O solo grampeado é uma técnica bastante prática e comprovadamente eficiente para a
estabilização de taludes de escavações através do reforço do solo in situ. Foi empregada no
Brasil de maneira intuitiva por construtores de túneis desde 1970, mas esta bem sucedida
experiência só foi divulgada recentemente (Ortigão et al, 1993 e 1995).
Em 1972 foi empregada pela primeira vez na França com o nome de sol cloué (Toudic, 1975)
e, desde então, tem sido aplicada na Alemanha (Stocker et al, 1979 e 1990; Gässler, 1991),
Canadá (Fannin et al., 1991; Bowden, 1991, EUA (Shen et al.,1981 e Thompson et al., 1990),
França (Clouterre, 1991 e Plumelle et al., 1990) e Grã-Bretanha (Bruce et al., 1986), entre
outros.
Sua origem é semelhante à técnica de execução de túneis (Figura 1) com suporte flexível,
permitindo a deformação do terreno. Com isso permite-se a formação de uma região
plastificada no entorno da escavação, que pode ser reforçada através de chumbadores.
Ao contrário, no método convencional de execução de túneis, com suporte rígido, os
deslocamentos do terreno são impedidos por um revestimento rígido que, por sua vez,
mobiliza no maciço esforços muito maiores e é uma solução mais cara. Pode-se afirmar,
então, que uma escavação de solo grampeado está para execução de túneis com revestimento
flexível da mesma forma que a solução convencional de túneis se compara a uma cortina
ancorada.

1
Solo grampeado

Figura 1 Comparação com a técnicas de execução de túneis com revestimento flexível e rígido

Descrição da técnica
O grampeamento do solo consta de um reforço obtido através da inclusão de elementos
resistentes à flexão composta, denominados grampos, que podem ser barras de aço, barras
sintéticas de seção cilíndrica ou retangular, microestacas, ou em casos especiais, estacas. Os
grampos são instalados suborizontalmente, de forma a introduzir esforços resistentes de tração
e cisalhamento. Aplicações típicas tanto na estabilização de taludes quanto em escavações
constam na Figura 2.

Figura 2 Aplicações do reforço de solos através do grampeamento: (a) na estabilização de taludes; (b) no
escoramento de escavações

2
Solo grampeado

Vantagens
A técnica de solo grampeado apresenta vantagens econômicas tanto no escoramento de
escavações quanto na estabilização de taludes. Desde o primeiro emprego no Brasil em 1970
vários projetistas e construtores têm optado por esta solução e já se obteve uma razoável
experiência em obras executadas, mas muito pouco esforço na observação de deslocamentos e
tensões no reforço.
A evolução dos métodos de análise e a experiência na execução e nos bons resultados permite
otimizar o projeto, reduzindo-se o comprimento total de grampos em relação aos projetos
elaborados da década de 70-80.

Método executivo
Muros de solo grampeado têm sido empregados tanto em taludes naturais ou previamente
escavados, em que as condições de estabilidade não são satisfatórias, quanto em escavações.
Neste caso, o grampeamento é feito na massa de solo à medida em que a escavação é
executada em etapas (Figura 3), em geral com 1 a 2m de profundidade, obtendo-se uma zona
de solo reforçado que funcionará como suporte do material atrás sem reforço.

Escavação Instalação Concreto


do grampo projetado

Figura 3 Fases construtivas

A Figura 4 apresenta as primeiras fases construtivas de uma grande contenção em solo


grampeado. A Figura 5 apresenta a fase de projeção do concreto sobre tela soldada.
A altura máxima a escavar em cada etapa depende do tipo de terreno e da inclinação da face
de escavação, que deverá ser estável durante a fase crítica que ocorre entre a escavação,
instalação do reforço e aplicação de um revestimento delgado de concreto projetado.
O material a ser escavado deve apresentar uma resistência aparente não drenada ao
cisalhamento mínima de 10 kPa, do contrário não se poderá executar esta escavação. Uma
resistência como esta, entretanto, é possível obter na maioria dos solos argilosos e arenosos,
mesmo em areias puras úmidas, devido ao efeito de capilaridade. Somente em areias secas e
sem nenhuma cimentação entre grãos, ou em solos argilosos muito moles este processo
dificilmente terá sucesso.

3
Solo grampeado

Figura 4 Fases executivas em solo grampeado:da esquerda para à direita: escavação, instalação dos
grampos e contenção pronta (Linha Amarela, Rio de Janeiro, Foto GeoRio)

Figura 5 Execução do concreto projetado (Linha Amarela, Rio de Janeiro, Foto GeoRio)

Execução dos grampos


Logo após a escavação instalam-se os grampos por percussão, ou por perfuração e injeção
sem pressão. A técnica por percussão consta da cravação de barras ou perfis metálicos
esbeltos com auxílio de martelete pneumático, o que leva a um processo de execução muito
rápido, mas a resistência ao cisalhamento do contato solo-grampo é em geral pequena, sendo
típico valores da ordem de 30 a 40 kPa em solos arenosos. Este processo não pode ser
empregado quando há ocorrência de pedregulhos e em solos muito resistentes, como os
saprolitos de granito e gneiss, pois é muito difícil cravar o grampo nessas condições.
A técnica mais comum é semelhante à execução de ancoragens de barra: perfura-se o terreno
com diâmetro entre 50 a 100 mm, introduz-se uma barra de aço com diâmetro entre 25 a 32
4
Solo grampeado

mm, seguido de injeção de nata de cimento com pressões baixas, inferiores a 100 kPa. A nata
de cimento pode melhorar muito com o uso de aditivos como os expansores de calda de
cimento que evitam a retração. Com este processo, o atrito lateral unitário obtido em solos
compactos ou rijos é razoavelmente elevado.
Detalhes executivos e controles de construção são detalhadamente revistos no trabalho da
FHWA (1984).

Atrito solo grampo


O valor do atrito unitário solo-grampo (qs) tem papel preponderante no comportamento do
sistema de reforço. Na fase preliminar da obra o atrito pode ser estimado através de
correlações empíricas como as apresentadas na Figura 6.

400
Silte arenoso, São Paulo

300 Argilas arenosas, Rio


qs = 67 + 60 ln N
Argilas porosas, Brasília
qs (kPa)

2
(r = 0.624)
Saprolitos de ardósia,
200 Brasília

Siltes arenosos, São Paulo


100
GeoRio
90% limite inferior
Limite inferior sugerido de confiaça
0
1 2 3 4 5 6 7 8 910 20 30 40 50

Figura 6 Resultado de ensaios de arrancamento no Brasil (Ortigão e Palmeira, 1997)

Dois pontos adicionais, correspondentes a ensaios recentes realizados pela GeoRio (Feijó,
1999), foram adicionados na Figura 6. Tais pontos plotam bem abaixo da recomendação
contida na citada figura.

Ensaios de arrancamento
O atrito solo-grampo deve ser medido através de ensaios de arrancamento, como indicado na
Figura 7 e detalhados em outro capítulo deste Manual.

5
Solo grampeado

Deflectômetro
Placa
de aço

Célula de
carga

Macaco
hidráulico

Trecho injetado

Figura 7 Ensaio de arrancamento

A Figura 8 apresenta detalhes de grampos utilizados. No primeiro tipo (Figura 8a), a porca e
placa de apoio permitem a aplicação de uma pequena carga de incorporação da ordem de
5 kN. Isto serve para garantir contato solo-concreto-projetado, precaução importante no caso
de muros com paramento vertical. O segundo tipo (Figura 8b), empregado em taludes
inclinados, a extremidade do grampo com diâmetro de 20 mm é dobrada para fixação ao
revestimento.

6
Solo grampeado

Telas Metálicas Fibra de aço


ou tela
Concreto Projetado

Porca
Barra de aço Placa metálica

Barra Calda
Calda de cimento
150 mm de de
80 mm
aço cimento
Centralizador
(a)
(b)

Figura 8 Detalhes de grampos mais comuns: (a) barra de aço com diâmetro igual ou maior que 20 mm;
(b) barra de aço com diâmetro inferior a 20 mm

Concreto projetado
0
30

0
20 Concreto
0 moldado in loco
20 50
0
30

25 50 Grampo
0
50

Dimensões em mm

Figura 9 Grampo com extremidade embutida no terreno, empregado em taludes inclinados

Outros métodos de instalação do reforço em que a injeção de calda se dá pela ponta de


um tubo têm sido desenvolvidos. É o caso do processo Hurpinoise (Louis, 1981), francês, e
do Titan (Dywidag, Gassler, 1991), alemão.
7
Solo grampeado

Proteção contra a corrosão


Este assunto é apresentado em outro capítulo deste Manual para grampos de aço.

A pesquisa de novos materiais sintéticos e compostos têm levado à utilização dos plásticos
reforçados por fibras (FRP - Fibre reinforced plastics, Figura 10, Ortigão, 1995) que são
imunes à corrosão a uma grande maioria de agentes agressivos. As barras de FRP são
produzidas por um processo denominado pultrusão e o produto final apresenta grande
resistência à tração - até 3 vezes a do aço, baixo peso específico, mas o custo em geral é
superior ao do aço. O uso do plástico reforçado só é recomendado em meio ambiente de
extrema agressividade, o que não ocorre em geral no Rio de Janeiro.

Figura 10 Chumbadores e grampos de plástico reforçado (Foto J A R Ortigão)

O revestimento de concreto projetado


O revestimento de concreto projetado é, em geral, a solução mais recomendada em casos de
acesso fácil, onde os equipamentos necessários podem ser transportados sem problemas. Este
assunto é detalhado em outro capítulo deste Manual.
A armadura pode ser constituída de tela metálica, que é uma opção tradicional, ou fibras de
aço, uma alternativa mais recente. No caso de emprego de fibras, as mesmas são misturadas
ao concreto como um agregado. Obtém-se um material homogêneo com resistência à tração,
ductilidade e maior resistência à corrosão. As vantagens para o construtor são: (i) a
velocidade de execução, pois se elimina a etapa da colocação da tela, (ii) redução de volume
do concreto projetado, pois se minimizam as perdas por reflexão e melhor controle sobre a
espessura da camada.

Comparação com a técnica de cortinas ancoradas


Embora possa parecer que há grande similaridade entre os grampos e as ancoragens ou os
tirantes convencionais, quando utilizados para a estabilização de taludes ou escavações, há
distinções muito importantes com aplicações específicas para cada caso (Bruce e Jewell,
1986) (Figura 11). Por exemplo, enquanto as ancoragens são fortemente pré-tensionadas com
8
Solo grampeado

cargas de 200 a 500 kN, para prevenir deslocamentos da cortina, os grampos sofrem no
máximo uma pequena pré-tensão, da ordem de 5 kN, com a finalidade exclusiva de garantir a
ligação com o concreto projetado, principalmente em paramentos verticais.
Os grampos, ao contrário das ancoragens, não têm trecho livre, transferindo tensões para o
solo ao longo de todo seu comprimento. Em conseqüência, a distribuição de tensões na massa
de solo é diferente.

Concreto Revestimento Tmáx


armado
Zona
ativa
Zona passiva

Ancoragens

Figura 11 Mecanismos de transferência de carga: (a) cortina ancorada; (b) muro em solo grampeado

As cortinas convencionais têm a parede de concreto dimensionada ao puncionamento das


cargas elevadas dos tirantes. Já os grampos, como suportam pequenas cargas, não exigem
maiores cuidados.
A grande maioria das cortinas tradicionais tem parede moldada in loco vertical, pois a
concretagem inclinada apresenta problemas executivos que devem ser evitados. Ao contrário,
os muros de solo grampeado podem facilmente ter paredes inclinadas acompanhando a
inclinação natural do terreno, reduzindo-se escavações e com vantagens para a estabilidade da
obra.

Comparação com a terra armada


A técnica de solo grampeado é bastante semelhante à terra armada tanto em conceituação
quanto no método de análise. A principal diferença reside na técnica construtiva. A terra
armada é executada em aterros, de baixo para cima e os deslocamentos horizontais do muro
ocorrem principalmente na parte de baixo, conforme indicado na Figura 12 (Schlosser, 1983).
No muro de solo grampeado, como a execução é em corte,de cima para baixo, os maiores
deslocamentos ocorrem na parte de cima do muro.

9
Solo grampeado

Solo grampeado Terra armada


δ

Figura 12 Deslocamentos horizontais no muro de terra armada e no de solo grampeado

Obras de solo grampeado no Brasil


O histórico do desenvolvimento de solo grampeado no Brasil no período 1970 a 1994 foi
publicado por Ortigão et al (1993 e 1995). A primeira obra ocorreu por volta de 1970 na
contenção de emboques de túneis em São Paulo (Figura 13) projetada empiricamente com
base na experiência na execução de túneis. Outros exemplos de obras são descritos a seguir.

0 10m

Figura 13 Contenção de taludes de emboques em 1970 (a) Corte; (b) Vista, (obra Este Engenharia)

• Icaraí, Niterói, RJ
Em Niterói, RJ, foi executado em 1984 um corte de 35 m de altura (Figura 14) em solo
saprolítico de gnaisse. A parte inferior do corte com altura até 18 m foi estabilizada com
ancoragens injetadas protendidas. A parte superior, com altura de 17 m e inclinação de 75o
foi grampeada com barras de 6 e 9 m de comprimento e 25 mm de diâmetro instalados em
furos de 90 mm preenchidos com calda de cimento. Foi adotado espaçamento de 1,5 m tanto
na direção vertical, quanto na horizontal. O paramento do muro, tanto na parte superior
quanto na inferior, foi executado em concreto projetado com 150 mm de espessura armado
com duas telas metálicas.

10
Solo grampeado

9m
Concreto 6m
17 m projetado 9m

Grampos
35 m 6m

Concreto
projetado 16m
16 m 14m

12m

16m
ancoragens 14m
convencionais

Figura 14 Contenção de escavação em solo residual gnaisse para implantação de prédio de apartamentos,
Icaraí, Niterói, RJ (obra Este Engenharia).

Durante a obra verificou-se a ocorrência de trincas de tração na crista do talude, que chegaram
a abrir cerca de 5 mm. Foram preenchidas com calda de cimento e desde então não houve
indícios de movimentação.

• Estabilização de talude de filito sob a fundação de viaduto ferroviário


Trata-se de um encontro de ponte ferroviária (Figura 19) com talude de 26 m de altura e 75o
de inclinação em filito bastante alterado. Foram adotados grampos de 75 mm de diâmetro
armados com barra de aço de 25 mm e injetados com calda de cimento sem pressão. O
espaçamento vertical foi de 2 m e o horizontal de 2,5 m. O revestimento de concreto
projetado teve espessura de 50 mm.

Concreto
projetado

Grampos

25m
26 m
20m

10m

0 10 m

11
Solo grampeado

Figura 15 Contenção de talude em filito sob a fundação de viaduto ferroviário (a) seção transversal do
talude; (b) (foto Este Engenharia

Experiência da GeoRio
A primeira experiência em solo grampeado da GeoRio foi a obra do Morro da Formiga em
1992 (Figura 16), tendo sido de caráter exclusivamente experimental.

Grampos φ32mm
L=3m
furo φ 75mm
5m espaçamento horizontal
e vertical 1,5m
inclinação dos grampos 20°

Saprolito de
gneiss

Figura 16 Muro experimental no Morro da Formiga (Ortigão et al, 1992)

A primeira obra projetada e executada pela GeoRio foi em 1996, em uma encosta da Av
Automóvel Club, 2500 m2 de área de contenção (Figura 17). Os grampos tiveram
comprimentos de 6 e 4 m, com barras de aço de 25 mm de diâmetro.
A Solo grampeado

110

105 construção

12051
Aterro

Concreto
projetado 6m

H=11 m
4m
Avenida Automóvel Clube

Argila siltosa
média a dura
A
construção

0 5 10 m

Figura 17 Solo grampeado, Av Automóvel Club, planta e seção

12
Solo grampeado

Várias obras de contenção com solo grampeado foram executadas para contenção de encostas
da Linha Amarela, construída entre 1995 e 97. A Figura 18 mostra o emboque do Túnel da
Covanca, Linha Amarela, onde do lado esquerdo foram executadas contenções em solo
grampeado (Figura 4, Figura 5).

mureta

Concreto
projetado 80mm
Saprolito

8m

20m 6m

Rocha alterada

3m
Rocha sã

1 5m

Figura 18 Contenções no emboque do Túnel da Covanca, Linha Amarela, solo grampeado à esquerda

Métodos de análise
Os principais métodos de análise de obras de solo grampeado estão sumarizados na Tabela 1.
Todos subdividem o terreno atrás do muro em uma cunha ativa, limitada por uma superfície
potencial de deslizamento, sendo o restante considerado zona passiva, onde os grampos são
fixados. A análise de estabilidade global é feita aplicando-se os esforços estabilizantes dos
grampos na cunha ativa.
Os métodos de análise diferem, entretanto, quanto à forma da superfície de ruptura, o método
de cálculo do equilíbrio das forças atuantes e a natureza dessas forças.

Interna Externa Mista

13
Solo grampeado

Figura 19 Tipos de análise de estabilidade em função da localização da superfície

Tabela 1 Métodos de análise de muros de solo grampeado (Ortigão et al, 1993)

CARACTERÍSTICAS MÉTODOS

Alemão Davis Multicritério Cinemático Cardiff Escoamento

Referência Stocker et al, Shen et al, Schlosser,1983 Juran et al, Bridle, Anthoine,
1979 1981 1988
1989 1990

Análise Equilíbrio Equilíbrio Equilíbrio limite Tensões Equilíbrio limite Teoria de


limite limite internas escoamento

Divisão da massa de solo 2 cunhas 2 blocos Fatias Fatias Bloco rígido

Fator de segurança Global Global Global e local Local Global Global

Superfície de ruptura Bi-linear Parabólica Circular ou espiral log espiral log espiral log
poligonal

Grampos resistem a:
Tração x x x x x x
Cisalhamento x x x
Flexão x x x

Inclinação da parede vertical ou vertical qualquer vertical ou vertical ou vertical ou


inclinada inclinada inclinada inclinada

No de camadas de solo 1 1 qualquer 1 1 1

A Tabela 1 compara diversos métodos de análise.

Uma conclusão importante é que a flexão nos grampos de pequeno diâmetro tem pouca
importância na estabilidade de um muro. A flexão afeta pouco o fator de segurança global, no
máximo 3% e, por isso pode ser desprezada sem problemas. Por esta razão, considera-se
somente o efeito da tração para estabilizar a cunha ativa através da seguinte equação:

T = π Dq s L p

onde: T é a força de tração em um grampo, qs é o atrito unitário na interface solo-grampo, Lp


é o comprimento da parcela do grampo embutida na zona passiva e D é o diâmetro do furo. O
valor de T deve ser máximo igual à resistência à tração do material do grampo.
Uma vez determinado T o seu efeito é incluído na análise de estabilidade de taludes. O
método de equilíbrio limite pode ser utilizado e o efeito do reforço incluído como forças
atuantes na base das fatias conforme indicado na Figura 21.
14
Solo grampeado

Figura 20 Efeito da tensão nos grampos

Figura 21 Inclusão do efeito do grampo na base de uma fatia

Programas de análise
Alguns programas comerciais para PC empregados na análise de taludes e muros de solo
grampeado estão comparados na Tabela 2.

Tabela 2 Características de alguns softwares de análise de estabilidade com grampos (Ortigão et al, 1995)

Nome do programa Rstabl Clouage Talren Nixesc Prosper


Referência Ortigão et Gigan, 1986 Blondeau et Rajot, 1983 Delmas et al,
al, 1995 al, 1984 1986

15
Solo grampeado

Método de análise Bishop and Bishop Bishop Perturbações Perturbações


Janbu
Perturbações
Tensão, flexão Tensão Tensão Tensão e Tensão e Tensão e
flexão flexão flexão
Fixação da cabeça dos Livre ou fixa Fixa Livre ou fixa Livre ou fixa Livre ou fixa
grampos

Ábacos de pré-dimensionamento
Pode-se empregar ábacos de estabilidade para o pré-dimensionamento de muros de solo
grampeado. A metodologia seguinte é a recomendada pelo projeto Clouterre (1991) e consta
de ábacos que relacionam a densidade de grampeamento d com a relação de estabilidade N e o
ângulo de atrito φ do terreno.
Define-se:
π D qs
Densidade de grampeamento: d =
γ sv s h

D é o diâmetro do grampo e qs é o atrito unitário, γ é o peso específico do solo, sh e sv são


respectivamente o espaçamento vertical e horizontal dos grampos. A utilização dos ábacos se
faz da seguinte maneira:
1. Seleciona-se o ábaco em função do valor da relação L/H (comprimento do grampo /
altura do muro) entre 0,6 a 1,2;
c
2. Determina-se o valor da relação N = , onde c é a coesão do solo.
γ H
3. Determinar o ponto M com coordenadas (tan φ, N)
4. Selecionar no ábaco o valor de d densidade de grampeamento por interpolação entre
duas curvas próximas, de tal forma a obter um fator de segurança (FS) adequado.
OM
5. O FS é dados pela relação entre os segmentos de retas FS =
OA

16
Solo grampeado

0.3
L / H = 0,6
L

0.2 H
N=c/γH

0.1
M (N, tan φ) d=0

0,5 0,3 0,1


d=1 0,2
0,75 0,4
0.0
0 1 2

tan φ

Figura 22 Ábaco de estabilidade para L/H = 0,6 (Clouterre, 1991)

17
Solo grampeado

0.3

L / H = 0,8

0.2 H
N= c/γH

0.1
M (N, tan φ)
A d=0

0,5 0,3 0,1


d=1 0,75 0,4 0,2
0.0
0 1 2
d=0
tan φ

Figura 23 Ábaco de estabilidade para L/H = 0,8 (Clouterre, 1991)

0.3

L /H =1

0.2 H
N= c /γH

0.1

d=0

d=1 0,5
0,4 0,3 0,2 0,1
0,75
0.0
0 1 2

tan φ

18
Solo grampeado

Figura 24 Ábaco de estabilidade para L/H = 1 (Clouterre, 1991)

0.3

L /H =1,2

0.2 H
N= c /γH

0.1

d=0

0,5 0,3 0,1


d=1 0,2
0,75 0,4
0.0
0 1 2

tan φ

Figura 25 Ábaco de estabilidade para L/H = 1,2 (Clouterre, 1991)

19
Concreto Projetado

Concreto projetado

A Moraes & J A R Ortigão


O concreto projetado é empregado na execução de faces de muros de solo grampeado, na fixação de
blocos em taludes em rocha e na proteção superficial contra a erosão em taludes em solo. Com isso
obtém-se uma camada protetora com boa resistência, durabilidade e grande resistência à erosão.
A máquina ou bomba de projeção mais comum está esquematizada na Figura 1. A mistura do
cimento e agregados é introduzida no funil superior. Logo abaixo dele há um conjunto de cilindros
rotativos, funcionam de maneira semelhante a um barril de revólver. A cada avanço na rotação a
mistura é introduzida em um cilindro rotativo. Quando este atinge a posição do suprimento de ar
comprimido, é impulsionado através do mangote.

funil superior

cilindros rotativos

suprimento de
ar comprimido

suprimento de
ar comprimido

Figura 1 Máquina ou bomba de projeção

1
Concreto Projetado

A maneira em que a água é adicionada à mistura tem grande influência no processo. No caso da
água ser adicionada próximo ao final do mangote, tem-se o que se denomina processo via seca
(Figura 2), se adicionada na bomba, tem-se concreto via úmida (Figura 3).
Em obras de menor porte, como é a maioria dos casos de obras de contenção, emprega-se em geral
o concreto via seca. O via úmida só é utilizado em geral em casos de grandes volumes, superiores a
5 m3 aplicados ininterruptamente, pois a cada paralisação é necessário efetuar uma limpeza geral no
mangote, o que não seria prático em pequenas obras.
As bombas mais modernas, como a apresentada Figura 4, permitem a projeção via seca ou úmida.
A Figura 5 apresenta um exemplo de projeção em um talude existente.

Suprimento Concreto
de ar projetado
comprimido Bomba

Agregados Água
Cimento

Aditivos

Figura 2 Projetado via seca

Suprimento Concreto
de ar projetado
comprimido Bomba

Agregados
Cimento

Água Aditivos

Figura 3 Projetado via úmida

2
Concreto Projetado

Figura 4 Equipamento de projeção via seca ou úmida (Este Engenharia)

Figura 5 Concreto projetado em talude (Foto Genco)

3
Concreto Projetado

Reforço no concreto projetado


Há duas alternativas para se obter o reforço no concreto projetado: o uso de tela de aço ou o
emprego de fibras metálicas na mistura. A utilização de tela de aço é mais tradicional e não será
discutida com maiores detalhes.
As fibras consistem em elementos metálicos (Figura 6) que são misturados no concreto como um
agregado e servem para aumentar a ductilidade e a resistência à tração. Não têm nenhum efeito na
resistência à compressão.
Aço de de alta resistência à tração ( >1GPa)

fibras coladas Ancoragem da fibra

Figura 6 Fibras de aço (Foto fibra tipo Dramix)

Nas aplicações em contenção de encostas, a opção por fibras apresenta em geral várias vantagens:
• Redução de mão de obra: as fibras são aplicadas como um agregado, eliminando a operação de
montagem das telas.
• Redução do volume: a tela não consegue acompanhar as irregularidades do terreno (Figura 7),
resultando em volumes até 25% maiores.
• Maior resistência ao fissuramento: as fibras de aço aumentam a resistência ao fissuramento e,
com isso, se obtém maior resistência à corrosão. As fibras asseguram que a corrosão não se
propague, pois são descontínuas, conforme indicado na Figura 8.

fibras de aço

4
Concreto Projetado

Figura 7 Economia no volume de concreto projetado

Reforço com fibra metálica

concreto
projetado
Tela fissura
metálica
< 20µm
Propacação
da corrosão

Figura 8 Propagação da corrosão

A adição de fibras de aço


A adição de fibras de aço ao concreto incorpora ao material características importantes tais como:
ductilidade, resistência à tração na flexão, controle de fissuração, resistência ao impacto, resistência
à fadiga e resistência ao cisalhamento.
Dentre estas características destacam-se a ductilidade e a resistência à tração na flexão, as quais são
muito importantes no dimensionamento de revestimentos de túneis e de taludes, quando se utiliza o
concreto projetado.
A introdução dos valores da resistência à tração na flexão pode ser feita sem grandes alterações nos
procedimentos usuais de cálculo, bastando para isto levar em consideração algumas das
propriedades inerentes ao material, quais sejam, sua capacidade de absorver moderados esforços de
tração e ductilidade à tração. Desta forma é possível aproveitar o material quando o revestimento
apresenta sua seção totalmente comprimida, bem como em casos onde se tem a seção submetida à
flexão com esforços de tração.

Definição e materiais constituintes


O concreto reforçado com fibras de aço é um composito onde a matriz é o concreto de cimento
Portland e o reforço constituído com fibras de aço aleatoriamente distribuídas na matriz. As fibras
são elementos descontínuos com seu comprimento predominante sobre sua seção transversal.
As fibras de aço para adição em concreto têm comprimentos que variam entre 30 e 60 mm e
diferentes formas de seção transversal, dependendo do processo de fabricação. Fibras de seção
transversal circular são produzidas a partir do corte de arames, enquanto que as de seção retangular,
a partir do corte de chapas de aço.
As fibras de aço são mais eficientes do ponto de vista da ductilidade do que outros tipos de fibras,
como de asbesto, sintéticas (nylon ou polipropileno) e de vidro, graças a sua alta resistência à tração
e grande capacidade de aderência à matriz que a envolve.
Geralmente, estas fibras possuem deformações ao longo de todo o seu comprimento (fibras
onduladas) ou somente nas extremidades, formando ganchos. Tais deformações têm a finalidade de
melhorar o comportamento da fibra com relação à aderência, através de ancoragem mecânica.

5
Concreto Projetado

A eficiência de um compósito está intimamente relacionada às seguintes propriedades fundamentais


da fibra de aço: sua resistência à tração, ancoragem, dosagem e o seu fator de forma, que é a relação
entre o comprimento da fibra e seu diâmetro (diâmetro equivalente no caso de seção transversal não
circular). Quanto maior o fator de forma, utilizando-se uma matriz de concreto adequada, maior
será a quantidade de fibras incorporadas, aumentando, portanto, a eficiência do compósito.
A matriz do compósito pode ser constituída de concreto convencional ou de alto desempenho. Na
dosagem de uma matriz de concreto para confecção de um compósito com fibras, deve-se ter
atenção com a trabalhabilidade da mistura, uma vez que a adição das fibras causa um considerável
aumento de consistência (perda de trabalhabilidade aparente). Isto ocorre porque as fibras , por
possuírem grande área superficial, têm maior contato entre si e com os outros elementos
constituintes do concreto, aumentando muito o atrito entre os materiais, diminuindo a fluidez da
mistura.
Misturas com maior percentagem de argamassa e o uso de aditivos superplastificantes auxiliam
neste aspecto.
Outro fator importante a considerar no estudo da dosagem da matriz diz respeito ao diâmetro
máximo do agregado graúdo, que não deve ser maior do que 2 vezes o comprimento da fibra, pois o
efeito de ponte de transferência de tensões da fibra de aço no compósito pode ser reduzido.
Tal fato ocorre quando o agregado, por ser maior que a fibra, intercepta a fissura que se propaga
preferencialmente ao longo da interface agregado-argamassa do que ao longo ou através da fibra.
Por este motivo, nos concretos projetados, recomenda-se o uso de agregados com diâmetro máximo
não superior a 9,5 mm.

Função das fibras de aço como reforço


As matrizes de concreto sem o reforço das fibras apresentam comportamento frágil, com baixa
capacidade portante e baixas deformações quando submetidas a esforços de tração, praticamente
não apresentando deformações plásticas.
A maioria dos concretos empregados correntemente, que incorporam fibras de aço, utilizam baixos
consumos de fibra, o que resulta num aumento muito pouco significativo de suas resistências à
compressão e à tração. Desta forma, a matriz fissura com o mesmo nível de tensão e de deformação
do que quando não armada.
O reforço com fibras descontínuas e aleatoriamente distribuídas na matriz tem como papel principal
controlar a propagação de fissuras no concreto, alterando o seu comportamento mecânico após a
ruptura da matriz, melhorando consideravelmente a capacidade de absorção de energia do concreto,
ou seja, a sua tenacidade, transformando um material de característica frágil em dúctil. Isto ocorre
porque as fibras criam pontes de transferência de tensões através das fissuras, preservando uma
certa capacidade portante das seções.

6
Concreto Projetado

fissura

sem fibras

concentração de tensões
na frente de propagação
da fissura
fissura

fibras atuando como


ponte de transferência
de tensões

Figura 9 Mecanismo de reforço das fibras de aço

Tenacidade e resistência equivalente à tração na flexão


A avaliação do material e o controle de qualidade dos concretos reforçados com fibras de aço é
efetuada através da medida de sua tenacidade, principal propriedade incrementada pela adição das
fibras ao concreto.
O papel principal das fibras se desenvolve após a fissuração da matriz, pois elas geram mecanismos
de absorção de energia relacionados com o alongamento das fibras presentes na zona fissurada e
com a ruptura da aderência fibra-matriz, aumentando assim a tenacidade do compósito.
A tenacidade à flexão dos concretos reforçados com fibras é, de acordo com a JSCE SF4 (1984),
numericamente igual à área contida sob a curva carga-deslocamento vertical, para um deslocamento
vertical máximo de l / 150.
Na Figura 9 é mostrada, esquematicamente, a curva carga-deslocamento vertical e as dimensões e
esquemas de carregamento de corpos de prova empregados nos ensaios.

7
Concreto Projetado

carga
P

P 1a fis. A b
h

l
B
Tf = Área O ABC
Tf

O C deslocamento
vertical

Figura 10 Critério da JSCE SF4 (1984) para determinação da tenacidade

Resistência equivalente
A resistência equivalente à tração na flexão dos concretos reforçados com fibras é determinada a
partir do conhecimento da tenacidade Tf:
Tf l
f ctm, eq = ⋅
l 150 b ⋅ h 2

Coeficiente de ductilidade
Este parâmetro pode ser utilizado no dimensionamento, permitindo quantificar a contribuição das
fibras de aço no comportamento pós fissuração dos concretos.
É expresso pela relação entre a resistência equivalente à tração na flexão (fct,eq), e a resistência à
tração na flexão do concreto (fctm,ul).
Re = (fctm,eq / fctm,ul) )

Bases para o dimensionamento


Este procedimento vale para seções solicitadas à flexão simples, flexo-compressão e compressão.
Como base para o cálculo na flexão simples e flexo-compressão, quando se utiliza o concreto
reforçado com fibras de aço, usa-se o diagrama tensão-deformação da Figura 11. Os valores
tomados para projeto expresso em tal diagrama são obtidos pelos ensaios de caracterização, como
por exemplo o apresentado anteriormente (JSCE). Em muitos casos, devido a grande variação dos
tipos de fibras, alguns fabricantes apresentam valores que se esperam para as resistências, em
função dos tipos de concretos e dosagens de fibras. A especificação pode ser dada pela resistência
equivalente à tração na flexão (fct,eq) ou pelo fator de ductilidade (Re).
No diagrama tem-se a seguinte notação:

fct,eq,150 - Resistência equivalente à tração na flexão para um deslocamento vertical de l/150

8
Concreto Projetado

fct,eq,300 - Resistência equivalente à tração na flexão para um deslocamento vertical de l/300


Ec - Módulo de deformação secante para o concreto reforçado com fibras de aço

εfc,1 - Deformação devida à máxima compressão no concreto reforçado com fibras de aço
εfcu - Deformação máxima por compressão no concreto reforçado com fibras de aço
ffc

simplificação

0,4 ffc

10%
1% Ec εfc,1 εfc, u
ε 0,37 fct,et,150
0,37 fct,et,500
ffct,ax
Se fct,eq,300 não for conhecido

Figura 11 Diagrama Tensão-Deformação

Tensões na seção transversal


É feita uma associação da distribuição de tensões na seção transversal muito próximo do Estádio Ιb,
uma vez que o fato da utilização das fibras de aço permite ao material que este possa se plastificar à
tração, assim sendo pode-se levar em consideração, até certos limites esta contribuição, o que
propicia um aumento no momento resistente da peça, comparado com o concreto simples.

Figura 12 Distribuição de tensões

9
Concreto Projetado

A distribuição das tensões de tração no concreto, na seção, se faz de acordo com o diagrama
apresentado na Figura 11, tendo-se então:

0,37 fct,eq

Figura 13 Momentos

O equilíbrio de momentos é dado por:


Mext = Mint = M
Para resistir o momento externo solicitante, a seção transversal da peça deve resistir ao momento de
dimensionamento Md, isto é, deve absorver o momento fletor Md:
Md = Γf . M = 0.37 fct,eq . 0,9 . h . b . (0,5 . h)
Md = Γf . M = 0.167 fct,eq . b . h2
Md 6⋅M d
= f ct ,eq ⇒ f ct ,eq =
0.167⋅b⋅h 2
b⋅h 2

A parcela da expressão 6 . Md / b . h2, representa a tensão calculada elasticamente (Estádio Ia) na


seção transversal. Assim sendo pode-se fazer a análise das seções no Estádio Ia, chegando à tensão
solicitante. A tensão admissível para a tração pode ser adotada igual à resistência equivalente à
tração na flexão do concreto reforçado com fibras de aço.

Exemplo de aplicação
Exemplo

1) M = 10 kN.m/m N = 247 kN/m (compressão)


h = 120 mm
Para esta situação, seção transversal solicitada à flexo-compressão, o procedimento é dado pela
composição das tensões nas fibras mais solicitadas à tração, fazendo-se à partir das tensões
solicitantes a opção pelo concreto e tipo de fibra necessária.

10
Concreto Projetado

1,4⋅247 ⋅103
σC1 = = 2 ,88 MPa
1000⋅120

1,4⋅10⋅103 ⋅1000⋅6
σt1 = =5,83 MPa
1000⋅1202

σt =5,83− 2,88= 2,96 MPa

∴ há necessidade de se ter um concreto reforçado com fibras de aço onde a sua resistência
equivalente média à tração na flexão (fctm,eq) apresente um valor igual ou superior a 2,96 MPa.

Opção pelas fibras de aço


Para obtenção das resistências equivalentes médias à tração na flexão dos concretos reforçados com
fibras de aço (fctm,eq) é importante ter informações sobre as características das fibras, uma vez que
isto é de grande importância para o desempenho do material. Estas características podem ser
divididas em:
• Fator de Forma: relação entre o comprimento (l) e o diâmetro (d) da fibra. Este número é
bastante importante uma vez que nos dá informação sobre quantidades de fibras por quilo.
• Ancoragem: as fibras que apresentam ancoragem, especialmente aquelas em que as mesmas
estão nas extremidades, têm grande melhora de desempenho na obtenção das resistências
equivalentes.
• Tensão de escoamento do aço: outro fator bastante importante, uma vez que, para fibras de
baixa tensão de escoamento, as mesmas não propiciam grandes ganhos em resistências
equivalentes, pois quando solicitadas acabam se rompendo não conferindo ao material valores
significativos de resistência equivalente. Tensões aconselháveis devem ser superiores a 1 GPa.
Todos estes aspectos devem ser levados em consideração na opção do tipo de fibra a ser utilizada. A
seguir será apresentado as características de um tipo de fibra fabricada no Brasil.

Características da fibra
a) Fator de forma:

d = 0,55 mm

11
Concreto Projetado

l / d = 30 / 0,55 = 55

l = 30 mm

número de fibras por quilo = 16.750

b) Ancoragem: dupla ancoragem nas extremidades

c) Tensão de escoamento do aço: 1150 MPa

Características do concreto
- Resistência à compressão - fck = 30 MPa
- Resistência média à tração na flexão - fctm,fl = 4,8 MPa

Resistências equivalentes
As resistências equivalentes médias à tração na flexão que se esperam para as dosagens seguintes
são:
30 kg/m3 - fctm,,eq = 2,5 MPa - Re = 52% - 0,52 x 4,8

35 kg/m3 - fctm,,eq = 2,9 MPa - Re = 60% - 0,60 x 4,8

40 kg/m3 - fctm,,eq = 3,2 MPa - Re = 67% - 0,67 x 4,8

Com estas informações, é possível fazer a especificação da dosagem desta fibra, sendo que deverá
ser usado 40 kg/m3, de fibras incorporadas à mistura. Deve-se ter a atenção para a situação de
execução do concreto projetado, uma vez que há necessidade de se prever a reflexão de fibras,
devendo ser acrescida à esta dosagem um valor percentual referente a isto. Em geral estas reflexões
devem estar entre 10% e 15% para o concreto projetado via úmida e entre 20% e 25% para o
concreto projetado via seca.
- via úmida - 40 kg/m3 x 1,15 ≈ 45 kg/m3 (dosagem na obra)
- via seca - 40 kg/m3 x 1,25 ≈ 50 kg/m3 (dosagem na obra)

12
Concreto Projetado

13
Estabilização taludes em rocha

Estabilização de taludes em rocha

J A R Ortigão & H Brito

Introdução
Este capítulo apresenta as principais técnicas de estabilização de taludes rochosos que podem ser
subdivididas em dois grandes grupos: (1) as que procuram fixar os blocos ou lascas, evitando o seu
deslizamento; ou (2) as que procuram conviver com o problema, permitindo a queda dos blocos de
maneira segura, sem causar danos. A aplicabilidade dessas soluções depende de vários fatores, tais
como: risco, características do talude, número e dimensões dos blocos, grau de alteração, inclinação
da encosta, condições de apoio (Figura 1), entre outros fatores.

Rocha sã
FIXAÇÃO DO BLOCO
DESMONTE RECOMENDÁVEL

Saprolito

Blocos

Tálus

Figura 1 Decisão sobre fixação ou desmonte de blocos função das condições de apoio (Barros, 1999)

1
Estabilização taludes em rocha

As que se enquadram no primeiro tipo são:


• Fragmentação e remoção: blocos soltos de pequeno porte podem ser removidos da superfície
rochosa. Blocos maiores podem ser fragmentados com explosivo ou com o uso de uma técnica
mais moderna que consiste no emprego de um polímero expansivo. Este material quando
expande em um furo é capaz de fragmentar a rocha, sem o perigo de explosão.

Figura 2 Fragmentação de bloco (Foto GeoRio)

Figura 3 Remoção de blocos após deslizamento na Linha Amarela, Rio de Janeiro (Foto GeoRio)

• Fixação ou reforço através de chumbadores: o uso de chumbadores é exemplificado na Figura


4. Têm em geral comprimentos de 3 m em rocha sã e podem ser empregados no reforço de
rocha com fraturamento muito próximo. Podem ser aplicados em conjunto com o concreto
projetado, semelhante ao que se faz em túneis, ou contrafortes de concreto armado. Isso evita
desprendimento e queda de blocos.

2
Estabilização taludes em rocha

Figura 4 Uso de chumbadores para fixação de lasca (Foto GeoRio)

• Fixação com ancoragens com ou sem contrafortes: pode ser aplicada para fixar blocos de
maior porte com a utilização de ancoragens e chumbadores. Um exemplo importante desta
técnica foi a estabilização de um bloco de grandes dimensões próximo ao pico do Corcovado
(Totis, 1986) onde foram aplicados 25 tirantes de 480 kN em contrafortes (Figura 5 a Figura 7).
A Figura 8 apresenta também um caso especial de um bloco de grandes dimensões localizado
no Corte do Cantagalo que foi estabilizado no final da década de 60 através de quatro pilares de
concreto armado com tirantes na rocha.

Figura 5 Estabilização de bloco com contrafortes no Corcovado (Foto GeoRio)

3
Estabilização taludes em rocha

Mirante do Corcovado

25 m

rocha alterada rocha sã


gnaisse bloco de 550 m 3

fratura
11 m

m
15
25 tirantes
~ 500 m
de 490 kN cada 4 contrafortes de
concreto armado

Figura 6 Projeto de estabilização do Alto do Corcovado (Totis, 1986)

Figura 7 Estabilização do Corcovado durante e após a execução (Fotos GeoRio)

4
Estabilização taludes em rocha

Figura 8 Exemplo de contrafortes atirantados para estabilização do Corte do Cantagalo (Foto GeoRio)

• Fixação com grelha ancorada: pode ser aplicada no caso de blocos muito grandes (Figura 10),
justapostos, ou no caso de taludes com foliação mergulhando desfavoravelmente.

Figura 9 Uso de contrafortes ancorados (Foto GeoRio)

5
Estabilização taludes em rocha

Figura 10 Grelha ancorada (Foto GeoRio)

• Concreto dental ou de regularização: escavações ou remoções de blocos podem expor rocha


alterada. O vazio resultante deve ser preenchido com concreto para proteger a superfície do
material exposto. Fendas ou trincas de tração devem ser preenchidas e drenadas na parte
inferior, evitando-se o acúmulo de água.

Superfície da rocha

Estrutura
de concreto
armado Ancoragens

chumbador
ou tirante

lasca
concreto de
regularização
concreto de
regularização
lasca

Figura 11 Exemplos de fixação de blocos e lascas

6
Estabilização taludes em rocha

Concreto projetado
Drenos

Chumbadores

Região de falha

Chumbadores

Ancoragens

DHP

Figura 12 Medidas de controle de estabilidade

• Concreto projetado: Para tratamento superficial de rocha muito fissurada e alterada. O concreto
projetado é aplicado através de equipamentos especiais de projeção que empregam ar
comprimido. Uma espessura mínima de 30 mm é necessária. Como reforço do concreto há
duas alternativas, a primeira, mais tradicional, consta do uso de tela de aço soldada que é
estendida sobre a superfície do talude. A outra possibilidade é o uso de fibras de aço misturadas
no concreto como um agregado, objeto de outro capítulo deste manual.

Figura 13 Concreto projetado para proteção de talude rochoso (Foto Insitutek)

7
Estabilização taludes em rocha

Os taludes rochosos muito fraturados, como nas escarpas de antigas pedreiras no Rio de Janeiro, é
praticamente impossível a estabilização por fixação. Nesse caso pode-se procurar conviver com o
problema, mas de uma forma mais segura possível, conduzindo a queda do bloco de tal forma que o
risco seja mínimo. Essa técnica está apresentada na Figura 14, onde há exemplos do uso de:
1. Bermas para redução da energia cinética ou conter a queda blocos
2. Uso de túnel falso para proteção de uma via;
3. Implantação de trincheira para coletar o bloco
4. Muro de impacto rígido
5. Uso de anteparo flexível tal como uma cerca de impacto.
6. Uso de telas para evitar o salto do bloco

Figura 14 Alternativas de se evitar a queda de blocos

O emprego de telas protetoras na superfície do talude em conjunto com anteparos flexíveis está
apresentado na Figura 15. Aí está exemplificado o uso em conjunto de cerca flexível na superfície
do talude para dirigir a queda, trincheiras coletoras de blocos, anteparos flexíveis e sinalização para
o público.

8
Estabilização taludes em rocha

Cercas
flexíveis

Telas de aço

Deslocar
locação da
estrutura Berma
para local coletora
seguro de blocos

Aviso
de risco

Cerca Valeta
flexível coletora
ou muro

Figura 15 Estabilização de talude em rocha muito fraturada com blocos soltos empregando: tela, trincheira de
coleta de blocos, anteparos flexíveis e avisos ao público

Ancoragem
da tela

Figura 16 Aplicação de tela de proteção para proteção de taludes próximo a casas, Rio de Janeiro: (a) Situação
do talude e casas, (b) Aplicação da tela, (c) fixação da tela

São apresentados dois exemplos de estabilização de taludes rochosos. O primeiro causado pela
degradação ambiental causada por uma pedreira antiga em Jacarepaguá, Rio de Janeiro. Há alguns
anos um condomínio de casas de alto padrão nasceu próximo ao talude, que foi estabilizado com
uma tela de aço fixada ao mesmo (Figura 16). Esta técnica é detalhada por Agostini et al (1988).

9
Estabilização taludes em rocha

A Estrada Grajaú-Jacarepaguá é outro exemplo da aplicação dessas técnicas pela GeoRio, conforme
indicado na Figura 17. Trata-se de uma região de talus com grande quantidade de blocos soltos cuja
fixação é praticamente impossível e uma proteção com cerca flexível foi adotada. Um detalhe da
cerca é mostrado na Figura 18.

Figura 17 Cerca flexível implantada na Estrada Grajaú-Jacarepaguá (Foto GeoRio)

10
Estabilização taludes em rocha

Figura 18 Detalhe da cerca flexível (Foto GeoRio)

Cálculos de fixação de blocos com ancoragens e chumbadores


Os cálculos de fixação de blocos com ancoragens e chumbadores são realizados através de modelos
simples de deslizamento de bloco rígido sobre um plano inclinado (Figura 19)

V zw

αW
U
θ W
U
T
A

Ψp

Figura 19 Análise de estabilidade de bloco

O bloco pode ser estabilizado aplicando-se a força T e o fator de segurança nesta situação é dado
pela seguinte equação:

c A + (W (cos Ψ p − α sen Ψ p ) − U − V senΨ p + T cos θ ) tan φ


FS =
W (senΨ p + α cos Ψ p ) + V cos Ψ p − T senθ

A Tabela 1 apresenta a simbologia e unidades empregadas.

11
Estabilização taludes em rocha

Tabela 1 Simbologia e unidades empregadas

Símbolo Descrição Unidade

Ψp Inclinação da superfície de ruptura graus


α Coeficiente de aceleração horizontal, devido à explosão próxima ou
sismicidade, dado em relação à aceleração da gravidade
T Força de ancoragem (se existir) por metro linear kN/m
θ Ângulo de inclinação da força de ancoragem em relação à normal à graus
superfície de ruptura
c Coesão na superfície de ruptura kPa
φ Ângulo de atrito da superfície de ruptura graus
3
γ Peso específico da rocha kN/m
3
γw Peso específico da água kN/m
zw Altura de água na trinca de tração m
U Força de submersão da água por metro linear kN/m
V Esforço instabilizante da água por metro linear kN/m
W Peso do bloco de rocha por metro linear kN/m
2
A Área da superfície de ruptura por metro linear m

Onde:
γ w zw A
U=
2
γ w z w2
V =
2
O caso mais comum no Rio de Janeiro é a consideração de coesão e aceleração horizontal nulas e a
equação anterior simplifica para:
(W cos Ψ p − U − V senΨ p + T cos θ ) tan φ
FS =
WsenΨ p + V cos Ψ p − T senθ

É importante frisar que θ é o ângulo formado pela força de ancoragem T e a normal à superfície de
ruptura, diferente do ângulo entre o eixo longitudinal da ancoragem e a normal quando chumbador é
projetado ao esforço normal combinado ao cisalhamento (Figura 21). O esforço estabilizante T
pode ser obtido por ancoragens ou chumbadores. No primeiro caso, o valor de T corresponde à
carga de trabalho das mesmas. No segundo, pode-se levar em consideração o efeito de flexão
composta, dependendo do valor da orientação dos chumbadores, como se discutirá a seguir.
O uso de chumbadores apresenta algumas vantagens. Primeiro são passivos, não necessitando de
pré-carga, nem de verificação de carga ao longo da vida útil. Sua execução é muito mais simples,
principalmente nas condições de acesso difíceis em que muitas vezes tem que ser empregados.
Os chumbadores podem ser projetados somente ao cisalhamento ou considerando o efeito
combinado de tração e cisalhamento.

12
Estabilização taludes em rocha

Figura 20 Chumbadores projetados ao cisalhamento (casos a e b), e projetados a flexão composta (caso c)

O projeto de chumbadores ao cisalhamento considera duas situações: projeto ao cisalhamento puro


e projeto à flexão composta.

Chumbadores projetados ao cisalhamento puro


Este é o caso em que se considera o chumbador instalado segundo a normal ao plano de
deslizamento, conforme indicado pelos casos a e b na Figura 20. No caso a chumbador está
embutido no concreto armado do contraforte.
A força estabilizante ao cisalhamento da seção do material do chumbador (Tc) é dada pela equação:
0.9 f y As
Tc =
2
onde fy é a resistência à tração do aço e As é a área da seção do chumbador.
O efeito de pino na parte superior do chumbador, que está embutida no concreto, considera uma
redução no valor de Tc. O modelo de cálculo de um pino em concreto é obtido em compêndios de
cálculo estrutural (e.g., Leonhardt e Mönig, 1978). O valor máximo de Tcp nesse caso é dado pela
seguinte equação:
1
Tcp = 2.5 D 2 f ck f y
fr
onde fr é um fator de redução que deve ser tomado igual a 5 (Leonhardt e Mönig, 1978)., D é o
diâmetro da barra, fck é a resistência característica do concreto armado e fy a resistência à tração do
aço.
Considerando, fck = 20 MPa, aço CA-50A com fy = 500 MPa e barras de aço de 25 e 32 mm, obtém-
se:

13
Estabilização taludes em rocha

Tabela 2 Resistência de chumbadores embutidos em rocha e embutidos em concreto

Diâmetro do chumbador Resistência do chumbador

Ao cisalhamento Ao cisalhamento À tração máxima do


considerando somente a considerando efeito de aço (Tn) ou flexão
resistência do aço (Tc) pino embutido no composta máxima (T)
concreto (Tcp)

mm kN kN kN
20 71 20 141
22 89 25 179
25 110 31 221
32 181 51 362

Com efeito, a adoção de chumbadores embutidos em concreto implica uma redução considerável da
resistência em relação ao cisalhamento do aço.

Chumbadores projetados à flexão composta


Os chumbadores podem ser projetados à flexão composta, conforme o caso c indicado na Figura 20.
Neste caso β é o ângulo entre o eixo da ancoragem e a força estabilizante T (Figura 19), notada
neste tópico por Tβ para dar ênfase à dependência do ângulo β.
Tc

Tc max
Tcβ
Tcβ Tβ

β
Tnβ β

Tnβ Tn max Tn

Figura 21 Dimensionamento de chumbadores à tração e ao cisalhamento

O critério de Tresca, ilustrado na Figura 21, limita as componentes axial e cisalhante conforme a
seguinte inequação:
2 2
 Tnβ   Tcβ 
  +   ≤ 1
 Tn max   Tc max 
Esta equação corresponde a uma elipse que pode ser expressa na forma paramétrica como função do
ângulo do chumbador com a normal ao plano de ruptura (β):
Tn max
tan β * = tan β
Tc max

Tnβ = Tn max ⋅ cos β * Tcβ = Tc max ⋅ sen β *

14
Estabilização taludes em rocha

2
Tβ = Tn2β + Tc2β

onde β * é um ângulo auxiliar utilizado para simplificar as equações.

Aplicando-se as equações anteriores para um chumbador de aço CA-50 A com 32 mm de diâmetro


obtém-se os resultados mostrados na Figura 22 em função do ângulo β.

500

T
400
(kN)
T

300

Tn

200

100 Tc

0
0 20 40 60 80 100

β (graus)

Figura 22 Valores de forças de tração, cisalhamento e resultante em chumbador de aço CA 50 A com 32 mm de


diâmetro

O valor máximo de T para o caso de flexão composta se iguala a Tn (tração) para ângulos β
elevados, conforme indicado na Figura 22 e comentado na Tabela 2.

Ábacos de pré-dimensionamento
O ábaco apresentado na Figura 24 é indicado para pré-dimensionamento de chumbadores. Este
ábaco fornece um fator de eficiência ef usado para se obter o número n de chumbadores a serem
utilizados
T
n=
e f ⋅ T1
onde
ef é o fator de eficiência, adimensional, obtido do ábaco da Figura 24;
T1 é a carga de cálculo de um chumbador, incluídos os respectivos fatores de segurança;
T é a força de ancoragem necessária, calculada por
[ ]
T = FS W (senΨ p + α cos Ψ p ) + V cos Ψ p − c A − (W (cos Ψ p − α sen Ψ p ) − U − V senΨ p ) tan φ

15
Estabilização taludes em rocha

onde a simbologia utilizada está descrita na Tabela 1.


Cada ábaco contém fatores de eficiência considerando somente tração (linha somente
cisalhamento (linha tracejada) e tração/cisalhamento combinados (linha sólida). Os ângulos Ψp e η
que aparecem nos ábacos estão esquematizados na Figura 23.

Ψp

Figura 23 Esquema dos ângulos referidos no ábaco de pré-dimensionamento – sentidos positivos indicados com
referência à horizontal
Fatores de eficiência para pré-dimensionamento de chumbadores
(inclinação Ψp qualquer)
1.8
φ = 40o cisalhamento + tração
1.7 somente tração
φ = 35o
1.6
somente cisalhamento
φ = 30o
1.5

1.4
φ = 0o
Fator de eficiência modificado ( ef,mod )

1.3
φ = 10o
1.2
φ = 20o
1.1

1.0

0.9

0.8

0.7

0.6

0.5
φ = 40o
0.4
φ = 35o
0.3
φ = 30o
0.2
φ = 20o
0.1 φ = 10o
0.0
φ = 0o
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

η + Ψp (graus)

Figura 24 Ábaco de pré-dimensionamento para chumbadores

16
Estabilização taludes em rocha

Relação entre carga atuante e carga de ruptura do chumbador


1.0

0.9
φ = 40o
0.8
φ = 35o
0.7 φ = 30o
0.6 φ = 20o
0.5 φ = 10o
0.4 φ = 0o
0.3

0.2

0.1

0.0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

η + Ψp (graus)

Figura 25 Relação entre a carga axial efetivamente utilizada e a carga de ruptura do chumbador

O comprimento de ancoragem pode ser reduzido considerando-se que o estado limite último é uma
combinação de esforços normais e cisalhantes no grampo. Isto é, estando o comprimento de
ancoragem dimensionado para a carga de ruptura do grampo, estará existindo em grande parte dos
casos um superdimensionamento da ancoragem, que pode ser reduzida aplicando-se a este
comprimento um fator multiplicativo menor que 1. Para esta redução deve-se seguir o disposto no
item 4.1.6.2b da norma ABNT NBR 6118 que recomenda o comprimento de ancoragem reta para
barras tracionadas (lb) igual a:
Φ f yd
lb = f red
4 τ bu
onde
Φ é o diâmetro da barra;
fyd é a resistência de cálculo do aço à tração;
τbu é a tensão última de aderência, indicado no item 5.3.1.2c da norma ABNT NBR 6118;
fred é um fator de redução relativo ao sub-aproveitamento da seção de aço existente.
Este fator de redução fred pode ser obtido com o auxílio do ábaco da Figura 25, que fornece a
relação entre a carga axial efetivamente sendo utilizada e a carga axial última do chumbador quando
utilizado o dimensionamento combinado (tração e cisalhamento) conforme o ábaco da Figura 24.
Deve-se frisar que o valor do comprimento de ancoragem calculado desta forma nunca deverá ser
inferior a qualquer dos três valores:
Φ f yd
, 10Φ, 10 cm
12 τ bu

17
Estabilização taludes em rocha

Para chumbadores projetados somente ao cisalhamento, recomenda-se a adoção do maior valor


entre estes.

Exemplo de dimensionamento
Seja um bloco de rocha com peso W = 200 kN/m, apoiado em rocha com inclinação Ψp = 40o e
ângulo de atrito entre o bloco e a superfície da rocha de φ = 30o. Considera-se um chumbador φ 25
cuja resistência é 220 kN e fator de conformação ηb = 1,5. O concreto utilizado tem resistência
fck = 20 MPa. O aço, fyk = 500 MPa.
Entrando no ábaco da Figura 24 com η + Ψp = 60o obtém-se ef = 1,35, considerando-se o
cisalhamento combinado à tração. A força de ancoragem T tem o valor
T = 1,5 ⋅ 200 ⋅ sen40 o − 200 ⋅ cos 40 o tan 30 o = 104,4 kN
O número de chumbadores n é então igual a
T 104,4
n= = = 0,35 por metro
e f ⋅ T1 1,35 ⋅ 220
que equivale a um espaçamento de 2,9 m.
Como o chumbador foi projetado com cisalhamento combinado á tração, calcula-se o comprimento
de ancoragem com o auxílio da Figura 25. Neste ábaco, para φ = 30o e η + Ψp = 60o , obtém-se o
fator de redução fred = 0,93. A tensão última de aderência é

τ bu = 0,42 ⋅ 3 f cd2 = 2,47 MPa


O comprimento de ancoragem necessário é dado então por
0.025 500 / 1,15
lb = ⋅ ⋅ 0,93 = 1,0 m ,
4 2,47
.

18
Instrumentação

Instrumentação de taludes

J A R Ortigão

Introdução
Em 1967 o escorregamento das Laranjeiras provocado pelas fortes chuvas de verão foi responsável
por cerca de 190 mortes. Este fato chocou os cariocas e levou à criação do Instituto de Geotécnica,
atual GeoRio. Muito se discutiu sobre instrumentação de taludes e alarme contra deslizamentos. No
final dos anos 60 a GeoRio iniciou a observação de taludes com o inclinômetro. Os sistemas de
instrumentação automatizados começaram a ser testados em 1992. Somente em 1996 é implantado
o Alerta-Rio, o sistema de alerta de deslizamentos. Em 1999 a GeoRio dá mais um grande passo
com a utilização do radar meteorológico.
Este capítulo discute a filosofia e as técnicas recomendadas na instrumentação de taludes e
estruturas de contenção. Tanto as técnicas tradicionais quanto às mais modernas e totalmente
automatizadas são apresentadas.

Figura 1 Escorregamento das Laranjeiras, 1967 (foto GeoRio)

1
Instrumentação

Grandezas a medir
O principal agente causador de movimentos de massa no Rio de Janeiro é a chuva, por isso
conhecer a sua intensidade e correlacioná-la com outros fenômenos resultantes é importante para
interpretar a estabilidade uma encosta. Por outro lado, a previsão meteorológica de curto prazo, ou
seja com poucas horas de antecedência, permite prever a chegada de grandes chuvas à cidade e é
um dos mais eficazes instrumentos de alerta.
A infiltração da água no terreno provoca redução da sucção e aumento de poropressões que, por sua
vez, podem causar deslocamentos e grandes movimentos. Por isso, a medição de poropressões e
níveis d’água com piezômetros e indicadores de nível d’água também é necessária.
Uma vez instável, a massa de solo ou rocha se desloca. Se este movimento for muito rápido,
dificilmente será observado. Entretanto em regiões de escorregamentos antigos pode haver massas
que se deslocam lentamente. Nesse caso, sua observação poderá ser um fator importante na
interpretação do comportamento de uma encosta. Nesse caso há grande interesse na medição de
deslocamentos superficiais e profundos.
As estruturas de contenção que empregam ancoragens poderão ter o seu comportamento analisado
através da medição de carga nas ancoragens e a sua variação com o tempo.

Instrumentos
Os principais tipos de instrumentos empregados na monitoração de encostas são os pluviômetros, os
piezômetros e indicadores de nível d’água, os medidores de deslocamento como os marcos
superficiais e inclinômetros. São empregados também medidores de convergência, medidores de
inclinação, células de carga entre outros. Para a medição do comportamento de estruturas utilizam-
se ainda as células de carga. Não é objetivo deste trabalho uma cobertura detalhada de todos os
aspectos ligados à instrumentação geotécnica. O leitor que precisar de mais detalhes sugere-se os
livros de Hanna (1985) e Dunnicliff (1988). Este trabalho se concentrará nos instrumentos mais
empregados e na experiência atual da GeoRio com o sistema Alerta-Rio e a instrumentação da
encosta do Itanhangá.

Pluviômetro
Os pluviômetros mais comuns, denominados de Ville de Paris pelo hidrólogos, são do tipo gangorra
ou báscula. A chuva penetra por um funil no topo com 200 mm de diâmetro e atingem um pequeno
reservatório. Quando este está preenchido, bascula e permite o acionamento de um contato elétrico
que fornece um pulso para o sistema de aquisição de dados. A contagem dos pulsos em um
determinado período permite determinar a chuva acumulada e a intensidade da mesma. A acurácia
do instrumento é da ordem de 0,5 mm de chuva.
Os instrumentos modernos como o indicado na Figura 2.dispõem de sistema de aquisição de dados
e podem ou não ser dotados de um sistema de telemetria automática e painel solar para alimentação
das baterias

2
Instrumentação

Figura 2 Pluviômetros empregados pela GeoRio

Piezômetros
Os diversos tipos de piezômetros e as suas aplicações em geotecnia foram revistos por Ortigão
(1975). As modificações introduzidas desde então nos sistemas de piezômetros foram poucas, mas
os instrumentos elétricos tiveram um avanço enorme graças à eletrônica moderna. Pode parecer
paradoxal, mas alguns dos tipos mais antigos, um denominado de corda vibrante e desenvolvido na
França nos anos 30, outro nos EUA nos anos 40 por Casagrande, são os mais utilizados e mais
confiáveis. O primeiro tipo, foi reabilitado com o advento da eletrônica, e é um dos mais
empregados nos anos 90. Os denominados Casagrande são os mais simples e mais confiáveis e,
portanto, muito utilizados.
Existem outros tipos de piezômetro que tendem a ser menos empregados, como os hidráulicos de
dois tubos e os pneumáticos. Os primeiros foram muito usados em barragens e obras de solo mole
até os anos 70 (Ortigao et al, 1983, Ortigao, 1988), mas tem instalação e operação complexa. Os
instrumentos pneumáticos vem sendo pouco a pouco substituídos pelos elétricos por serem mais
fáceis de instalar, operar e automatizar.

Piezômetro Casagrande
O piezômetro Casagrande (Figura 3) consta de um tubo vertical ligado a uma ponta porosa por onde
a água pode livremente entrar ou sair. Mede-se a poropressão através da altura de coluna d’água no
tubo.
A leitura é realizada com um instrumento indicador de nível d’água que consta de um torpedo
contendo uma chave elétrica, um fio graduado e um carretel. Quando o torpedo atinge a água do
tubo de acesso, fecha-se um circuito elétrico que toca a buzina no carretel. Com isso determina-se a
profundidade do nível d água no tubo.

3
Instrumentação

indicador

tubo de
acesso de PVC

calda de bentonita

areia

ponta porosa

Figura 3 Piezômetro Casagrande

Instalação do piezômetro
Executa-se furo por percussão ou rotativa com diâmetro entre 75 a 100 mm. Não se deve usar lama
de perfuração que poderia impermeabilizar as paredes do furo e prejudicar o funcionamento do
instrumento. Estando o furo pronto, instala-se um tubo de acesso vertical de PVC com diâmetro
entre 12 e 32 mm tendo na sua extremidade o elemento poroso, por onde a água entra ou sai do
instrumento (Figura 4, Fase 1). Em seguida executa-se o bulbo de areia em geral com um metro de
altura com areia grossa lavada (Fase 2).
A fase 3 consta do selo impermeável com bolas de bentonita com altura de pelo menos de 0,5 m.
Na fase 4 o furo é preenchido até a superfície com calda de bentonita-cimento na relação 10:1 em
volume. Finalmente (fase 5) executa-se uma caixa de proteção.

areia grossa tampa de proteção

calda de
tubo de bentonita
acesso cimento
bolas de
bentonita

areia
piezômetro

1 2 3 4 5

Figura 4 Fases de instalação de um piezômetro Casagrande

4
Instrumentação

Vantagens e desvantagens
O piezômetro Casagrande apresenta as seguintes vantagens:
• Simples, baixo custo;
• Bastante confiável;
• Auto-desaerável, ou seja, eventuais bolhas de ar que se formem, podem escapar pelo tubo de
acesso, desde o mesmo tenha diâmetro igual ou superior a 12 mm.
Por outro lado, este instrumento apresenta as seguintes limitações:
• Tubulação vertical pode interferir com a construção
• Tempo de resposta muito grande se instalado em solos de baixa permeabilidade.
O tempo de resposta de um piezômetro ( ∆t res ) é definido como o intervalo de tempo que este
instrumento leva para indicar uma variação de poropressão que ocorreu no terreno. Depende do
tempo que a água leva para entrar ou sair do sistema. Em solos finos, ∆t res pode ser muito grande
em certos tipos de piezômetros e isto deve ser considerado na fase de seleção do tipo de
instrumento. O piezômetro Casagrande necessita de um grande volume de água entrar ou sair do
tubo de acesso para indicar uma variação de poropressão. Por isso, pode ter um tempo de resposta
de semanas em solos de baixa permeabilidade, o que é uma desvantagem.

Indicador de nível d’água (INA)


O indicador de nível d’água (INA) é uma variação do piezômetro Casagrande. Tem o mesmo
princípio de funcionamento, mas com um bulbo de maior comprimento, situado na região de
variação do NA.

selo

max
areia

tubo de PVC perfurado


e enrolado em tela ou
min geossintético permeável

Figura 5 Indicador de nível d'água INA

5
Instrumentação

Piezômetro elétrico de corda vibrante


Os piezômetros elétricos de corda vibrante (PECV) foram desenvolvidos originalmente nos anos 30
na França. Utilizam o princípio que está presente em qualquer instrumento de corda, ou seja, a
freqüência de vibração depende da tensão aplicada na corda.

Figura 6 Exemplo de piezômetros elétricos de corda vibrante e unidade de leitura portátil (fotos Geokon)

Exemplos de piezômetro elétrico de corda vibrante e unidade de leitura constam da Figura 6.


Um fio de invar é fixado em duas extremidades e fica livre para vibrar na sua freqüência natural.
Tal qual uma corda de piano, a freqüência varia com a tensão aplicada e isso permite medir
movimentos relativos muito pequenos entre as duas extremidades. Em última análise funciona
como um extensômetro em que a deformação é medida pela variação da freqüência de vibração. A
medição se dá magneticamente no meio da corda onde está instalado uma bobina elétrica. Uma
segunda bobina serve para medir a freqüência de vibração.

unidade de leitura

bobinas cabo elétrico

fio de invar

Figura 7 Princípio de funcionamento do instrumento de corda vibrante

A relação entre freqüência e deformação específica é dada pela seguinte equação:

6
Instrumentação

1 Egε
f =
2L ρ
onde
f = freqüência de vibração (s-1)
L = comprimento da corda (m)
E = módulo de Young da corda (GPa)
g = aceleração da gravidade ( m/s 2 )
ε = deformação específica
ρ = massa específica da corda (Gg/m3)
Rearranjando os termos da equação anterior, obtém-se:

ε = K ( f 2 − f 02 )
onde:
4 L2 ρ
K=
Eg
f0 = é a freqüência inicial

Vantagens do sistema de corda vibrante


As principais vantagens do sistema de corda vibrante são a estabilidade com o tempo e o sinal de
freqüência. A experiência demonstra que os instrumentos elétricos de corda vibrante são muito
estáveis com o tempo, sua calibração permanece inalterada por anos e anos, ao contrário dos
instrumentos resistivos que têm maior suscetibilidade à deriva e á perda de acurácia com o tempo
(Dunnicliff, 1988).
Os sinais elétricos podem ser de voltagem, corrente ou freqüência. O sinal de freqüência,
empregado nos instrumentos de corda vibrante, pode ser transmitidos por cabo a distâncias muito
grandes, até 2 km, ser perda da qualidade e sem sofrer influência da resistência do cabo. Outra
característica do do sinal de freqüência é totalmente imune à entrada de umidade ou mesmo
presença de água em contato com os fios que compõem o cabo.
Outra vantagem importante é a possibilidade de automação das leituras. Com o barateamento da
eletrônica os sistemas automatizados de leitura estão cada vez mais sendo empregados em obras que
há dez anos seria impossível pensar em tal sofisticação. Como os custos de pessoal para efetuar
leituras são altos, os sistemas automatizados estão se tornando mais competitivos.

Proteção elétrica
Na década de 70 houve no Brasil alguns relatos de problemas com instrumentos de origem alemã e
francesa instalados em usinas hidrelétricas que queimaram devido a descargas elétricas (Ortigão,
1975). Isso ocorria devido a qualidade dos sistemas de proteção elétrica que se usava na época estar
bem aquém do que se faz hoje. A engenharia eletrônica avançou muito e com ele os sistemas de

7
Instrumentação

proteção. Hoje existem os varistores de plasma e outros dispositivos que descarregam para a malha
de aterramento qualquer descarga excessiva (Figura 8).

cabo blindado e aterrado

corpo em aço inox

proteção elétrica
com varistor de plasma
113 mm

sensor

bobinas

corda vibrante

diafragma sensor

ponta porosa
aço sinterizado

φ 19 mm

Figura 8 Piezômetro elétrico de corda vibrante


Os instrumentos que foram empregados na instrumentação instalada pela GeoRio na Encosta do
Itanhangá (Ortigão et al, 1997), possuem vários níveis de proteção elétrica e com isso não sofreram
nenhum dano, apesar de muitos raios terem caído no local.
As proteções constam de:
1. Cabos blindados e aterrados
2. Proteção embarcada no sensor (Figura 8), composta de varistor de plasma, conectado ao terra do
cabo;
3. Dispositivo eletrônico de proteção na superfície no local do instrumento (Figura 9);
4. Aterramento junto ao instrumento (Figura 9);
5. Dispositivo eletrônico de proteção e aterramento da unidade de leitura (Figura 9).

cabo extendido próximo


unidade de leitura
ou sob a superfície do
terreno

circuito de proteção aterramento


aterramento

Figura 9 Proteção elétrica dos instrumentos de corda vibrante

8
Instrumentação

Na instrumentação do Itanhangá queda de raios, devido à proteção, não causou nenhum problema
aos instrumentos. O mesmo tipo de proteção esta empregado na rede de pluviômetros, também com
bons resultados.

Instalação do piezômetro
As fases de instalação constam da Figura 10.
1. Inserir o sensor previamente saturado dentro do furo;
2. Depositar areia grossa lavada no furo formando o bulbo de areia com 1 m de altura;
3. Jogar bolas de bentonita, formando um selo com pelo menos 0,50 m de altura;
4. Inserir uma calda grossa de bentonita, injetando sem pressão com a bomba através de mangueira
de injeção, preenchendo todo o furo;
5. Instalar o terminal de leituras nas imediações, conectando os cabos.

Areia grossa
mangeira
lavada
de injeção conexão dos
cabos

calda
cabo grossa de
bentonita
bolas de
bentonita

piezômetro

1 2 3 4 5

Figura 10 Fases de instalação de piezômetro elétrico

O piezômetro elétrico de corda vibrante também pode ser empregado para automatizar um
piezômetro Casagrande, bastando para isso instalar o sensor dentro do tubo de acesso daquele
piezômetro.

Inclinômetros
O inclinômetro é um instrumento que serve para medir deslocamentos horizontais dentro do terreno.
Permite localizar a profundidade da superfície de ruptura e saber, com várias leituras versus tempo,
como estão progredindo os movimentos de uma encosta. Por essas razões, é um instrumento dos
mais importantes com presença certa na maioria das obras geotécnicas.
A Figura 11 apresenta as partes em que compõem o equipamento: um torpedo sensor de inclinação,
cabo elétrico, unidade de leitura e os tubos de acesso ranhurados. O esquema de instalação consta
da Figura 12.

9
Instrumentação

Figura 11 Inclinômetro: torpedo, unidade de leitura automática, tubos de acesso (fotos Geokon)

0189

torpedo

tubo de
acesso

Figura 12 Esquema de funcionamento do inclinômetro

Instalação do tubo de acesso


O tubo de acesso é instalado previamente no terreno através de furo com pelo menos 100 mm de
diâmetro até uma profundidade tal que atravesse o campo de deslocamentos previstos para a obra.
A extremidade inferior do tubo deve ser localizada em região do terreno que não se deve deslocar.
Este tubo é de alumínio ou plástico com diâmetro da ordem de 80 mm e possui quatro ranhuras
diametralmente opostas que servem para guiar o instrumento durante as leituras. O tubo é orientado
por ocasião da instalação de tal forma que as ranhuras concordem com os eixos principais da obra.

10
Instrumentação

tampa de proteção

Calda de
cimento
bentonita

1 2 3 4

Figura 13 Fases de instalação do tubo de acesso

As fases de instalação do tubo de acesso (Figura 13) constam de:


1. Introdução do tubo de acesso no furo, mantendo o alinhamento das ranhuras conforme os eixos
principais da obra;
2. Adicionar mais segmentos de tubo, rebitando-os ou unindo de acordo com as recomendações do
fabricante do tubo;
3. Preencher totalmente o espaço anelar entre o tubo e as paredes do furo com calda de cimento-
bentonita (1:10) que deve ser aplicada pelo método ascendente e através de mangueira de
injeção;
4. Instalar caixa de proteção.

Torpedo de leituras e medições


O torpedo padrão tem 25 mm de diâmetro é do tipo deslizante, percorrendo o tubo de baixo para
cima efetuando as leituras conforme indicado na Figura 14. O sensor é guiado por rodinhas auto-
alinháveis que mantêm o instrumento posicionado no centro do tubo. A distância entre rodinhas (L)
é, em geral, de 0,5 m, correspondente à distância entre duas leituras consecutivas.
A unidade de leitura convencionais são de leitura manual. A da Figura 11 é do tipo automático,
sendo as leituras são registradas na memória interna ao se acionar um botão. Posteriormente, os
dados são transferidos para um micro tipo PC por cabo serial.
O cálculo dos deslocamentos é muito simples e está apresentada na Figura 14 através da equação:
δ h = L ∑ sin θ

11
Instrumentação

δh

L
m
4
3
2
1

δh

Figura 14 Cálculo dos deslocamentos com o inclinômetro

Variação das leituras Deflexão (mm)


-400 -300 -200 -100 0 100 200 300 400 -10 -5 0 5 10
0 0

1 1

2 2
Profundidade (m)

3 3
Superfície de
ruptura
4 4

5 5

6 6

7 7

8 8

Figura 15 Resultados de leituras e deslocamentos com o inclinômetro

A Figura 15 demonstra um resultado típico de inclinômetro em que se localizou a superfície de


ruptura pela variação brusca das inclinações medidas.

Células de carga
As células de carga são empregadas em obras de cortinas ancoradas e solo grampeado com o
objetivo de monitorar as cargas nos tirantes e grampos, seja para a fase de testes de controle de
qualidade ou ao longo da vida útil da estrutura.
O uso de macacos hidráulicos, mesmo que somente para ensaios, leva a erros enormes que
facilmente atingem a 20% da carga conforme exemplificado na Figura 16. Mesmo com a aferição
do macaco não se elimina o erro, pois a sua maior parcela é causada pelo desalinhamento da carga,
fazendo com que o pistão seja submetido a uma força lateral que aumenta consideravelmente o
atrito. A solução é o uso de uma célula de carga.

12
Instrumentação

400 20%

300

200 10%
Erro (kN)

100

-100
-10%
-200
0 400 800 1200 1600 2000
Carga aplicada (kN)

Figura 16 Erros devido ao uso de macacos hidráulicos (Ortigão, 1997)

As células de carga elétricas de corda vibrante (Figura 17) tem grande acurácia e são relativamente
baratas. Um exemplo de utilização em ensaios de ancoragem consta da Figura 18.

Figura 17 Células de carga de corda vibrante (foto Geokon)

Figura 18 Exemplo de emprego de célula de carga de corda vibrante em ensaio de tração (foto Geokon)

13
Instrumentação

A instalação de uma célula de carga para a observação de cargas em ensaio de ancoragem está
apresentada na Figura 18. A célula deve ser posicionada entre duas placas de aço rígidas de apoio
com espessura maior que 30 mm. Com isso evita-se a possibilidade de torção da célula quando
carregada.

Medição de deslocamentos superficiais


Deslocamentos na superfície do terreno podem ser observados através de marcos topográficos ou
superficiais.
Um método bastante promissor foi sugerido por Ávila et al (1992) e consiste na utilização de
marcos eletrônicos que se comunicam por telemetria.

Sistemas de alarme
Veja na Figura 19 a ruptura catastrófica que ocorreu em 1988. A encosta à montante do prédio no
Rio de Janeiro deslizou sem qualquer aviso. Um programa de instrumentação de encostas em um
caso como este teria pouca utilidade, pois é impossível praticamente impossível prever situações de
risco como esta. Os instrumentos não teriam indicado nada de útil antes, pois o fenômeno foi muito
brusco, sem aviso. Pelas razões expostas o Rio de Janeiro tem adotado a seguinte filosofia:
• Alarme por área
• Instrumentação em uma encosta específica

Figura 19 Ruptura em encosta Av Epitácio Pessoa, 1988 (foto GeoRio)

Conceito de alarme por área


O conceito de alarme por área deriva da observação de inúmeros acidentes imprevisíveis em Hong
Kong (Malone, 1988, Premchitt, 1988 e Kay et al 1995) e no Rio de Janeiro, causados por grandes
chuvas de verão. Nesse caso, medir a chuva é monitorar o agente deflagrador do escorregamento.

14
Instrumentação

Muitos outros fatores, tais como a declividade do talude, tipo de solo ou rocha e condições na
superfície do talude influenciam no risco. Entretanto, a inclusão dos mesmos no sistema de alarme
o tornaria muito mais complexo, se não impraticável.
O sistema de alerta do Rio de Janeiro recebeu o nome de Alerta-Rio e foi descrito por d’Orsi et al
(1997). Consta de uma rede de pluviômetros automáticos (Figura 2) que enviam a cada 15 minutos
os resultados para uma estação central (Figura 21). Os operadores acompanham o progresso da
chuva sobre a cidade através do computador que mostra uma série de gráficos como os
apresentados na Figura 22 . O sistema funciona também automaticamente, sem a intervenção de
operador, e envia faxes para a equipe técnica que decide o alarme, assim que uma situação de
grande chuva for detectada.

Estação
Central

0 10 km

Estação pluviométrica
Estação repetidora

Figura 20 Rede de pluviômetros do Rio de Janeiro

Figura 21 Sala de controle do Alerta-Rio

15
Instrumentação

Figura 22 Tela do computador do Alerta-Rio

Níveis críticos de precipitação


Os níveis críticos de precipitação são determinados com base na experiência acumulada e são
específicos de um local ou área. Não podem ser extrapolados de um local para outro. No início da
operação do Alerta-Rio foi difícil determinar os critérios de alarme, pois não havia dados em
quantidade e qualidade necessária. O critério inicial foi baseado na experiência de outras cidades
com problemas semelhantes e o assunto foi largamente discutido por d’Orsi et al (1997).
Após dois anos de operação do Alerta-Rio cerca de 30 acidentes foram registrados e os critérios
foram, então, reanalisados. Os resultados constam da Figura 23 em que está plotada relação entre a
chuva antecedente de 24 horas ao evento em função da chuva antecedente de quatro dias. Os
acidentes são também representados e se procura obter uma relação ou limite de deslizamento.
Analogamente, utiliza-se uma relação com a chuva antecedente de quatro dias.
À medida que se obtém novos dados, o critério deverá ser reavaliado.
O alarme deve ser emitido bem antes do critério de deslizamento ser atingido, por isso se adota o
valor de 75% como nível de decisão de emissão do alarme.

16
Instrumentação

270
grandes deslizamentos
pequenos deslizamentos
240 taludes estáveis

210
Intensidade (mm/24h)

180

150

120

90
Novo critério de deslizamento

60

Critério anterior de deslizamento


30

0
0 100 200 300 400 500 600
Chuva antecedente de 4 dias, iac (mm/96horas)

Figura 23 Critério atual (1999)de alarme de deslizamento adotado na GeoRio

Figura 24 Alerta-Rio: exemplo de gráfico da chuva de 1 hora versus chuva acumulada de 4 dias

Previsão meteorológica de curto prazo


A partir de janeiro de 1999 a GeoRio conta com um sistema de previsão meteorológica de curto
prazo com base em radar meteorológico instalado no Pico do Couto, Terezópolis. O equipamento
empregado é um radar Doppler digital que envia as imagens para a sala de controle da GeoRio e os

17
Instrumentação

dados são analisados por meteorologistas. O objetivo é uma previsão de curto prazo, ou seja, com
antecedência de quatro a seis horas na previsão de chuvas intensas no Rio de Janeiro.
Enquanto o radar mede o potencial de ocorrência de uma chuva e a aproximação da frente, a rede de
pluviômetros mede quanto está chovendo. Os dados pluviométricos são também empregados na
calibração dos modelos matemáticos de previsão meteorológica.

Instrumentação automática de encostas específicas


Além do alarme por área, há necessidade de instrumentar algumas encostas específicas. Este
trabalho tem dois objetivos principais:
1. Observar encostas com uma história de movimentos para o acompanhamento dos efeitos da
estabilização principalmente na evolução dos deslocamentos horizontais e poropressões.
2. Desenvolvimento de estudos e pesquisas.
3. Monitoramento de cargas em ancoragens.
O assunto será tratado através do exemplo da encosta do Itanhangá.

Monitoramento da encosta do Itanhangá


A encosta do Itanhangá sofreu movimentos durante chuvas fortes em 67, 88 e 92, com danos a
várias casas e pavimentos. Por isso foi instrumentada em 1996 e as medições continuam até a
presente data (1999). Um relato completo sobre o assunto foi apresentado por Ortigão et al (1997).
A instrumentação automática remota constou de três estações com leitura automática de
inclinômetros e piezômetros. Uma planta da área do deslizamento é apresentada na Figura 25 e
uma seção transversal com a localização dos instrumentos consta da Figura 26.

Estação instrumentada

Figura 25 Encosta do Itanhangá

18
Instrumentação

Inclinômetro
Cota (m)
Piezômetro blocos de rocha (< 8 m3)

100 Estação 1
rua
Estação 2
80

rua aterro

60
aterro
rocha
nível d'água
solo residual
40

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220

Distância (m)

Figura 26 Seção transversal Encosta do Itanhagá

Os inclinômetros foram automatizados através do Cliper que consta de um trem de sensores de


rotação com um metro de comprimento, instalado conforme indicado na Figura 27 e na Figura 28.
Os sensores são denominados de eletroníveis e tem sido muito empregados na medição de rotação
(eg, Ortigao et al, 1993, Campanella et al, 1994).
caixa protetora θ

cabo elétrico

Sensor

1m

1m

cabo

Figura 27 Cliper Inclinômetro permanente

19
Instrumentação

Figura 28 Instalação do Cliper

A Figura 29 apresenta os instrumentos que compõem uma estação: dois piezômetros, o inclinômetro
Cliper sendo instalado e à direita a unidade de aquisição de dados.

Figura 29 Instalação da instrumentação, Encosta do Itanhagá (Foto Insitutek)

As estações enviam os dados através de rádio para uma estação concentradora instalada no local,
que por sua vez envia todos os registros via modem e linha privada telefônica para a Estação
Central localizada na GeoRio, conforme o esquema indicado na Figura 30.

20
Instrumentação

Estações
remotas
Unidade Central
Encosta 3
1

modem
2

Estação
concentradora

Figura 30 Esquema de transmissão de dados do Itanhangá

Unidade Central
A unidade central que funciona na GeoRio recebe os dados em um microcomputador tipo PC e
realiza várias operações como: verificação e armazenamento, back-up, apresentação dos dados na
tela, impressão de resultados.
Os programas funcionam em ambiente Windows 98 e duas telas são comentadas aqui. A Figura 31
demonstra a primeira tela do programa que apresenta a localização dos instrumentos em planta.
Clicando-se sobre um instrumento na tela com o mouse, pode-se obter um gráfico de dados do
instrumento versus um período determinado, como a apresentada na Figura 32.

Figura 31 Tela do programa gerenciador de dados, Encosta do Itanhangá

21
Instrumentação

Figura 32 Exemplo de tela com dados de piezômetros, Encosta do Itanhangá

Exemplo de resultados
Alguns resultados da instrumentação do Itanhangá estão apresentados nas Figura 33 a Figura 35.
Na primeira estão plotados resultados de poropressões na parte inferior da encosta, onde o nível
d’água é mais elevado. A influência da precipitação nos valores de poropressão é muito claro, os
piezômetros respondem rapidamente à chuva, mas o piezômetro A tem tempo de resposta bem
menor.
A Figura 35 demonstra que não se mede o nível d’água nos piezômetros instalados na parte alta da
encosta, exceto por um curto período de tempo sob as chuvas fortes de Janeiro. Os piezômetros A e
B (Figura 35) começaram a ser afetados pela chuva por volta das 12-13 horas e as pressões estavam
totalmente dissipadas por volta das 4 horas do dia seguinte.
Esses dados demonstram claramente as vantagens de uma instrumentação automática.

22
Instrumentação

30
Chuva diária (mm)

20

10

0
Aug-97 Sep-97 Nov-97 Dec-97 Feb-98 Apr-98

Data
80
Poropressão (kPa)

60
40
20 PZA PZB
0
Aug-97 Sep-97 Nov-97 Dec-97 Feb-98 Apr-98
Data

Figura 33 Resultados de poropressões e precipitação versus tempo, Encosta do Itanhangá

350
300
Chuva acumulada (mm)

250
200
150
100
50
0
0 5 10 15 20 25 30
Tempo decorrido (dias)

Pluv. Acum
Poropressão (kPa)

30
25
20 PZA PZB
15
10
5
0
0 5 10 15 20 25 30
Tempo decorrido (dias)

Figura 34 Poropressões e precipitação, Estação 2, topo da Encosta do Itanhangá

23
Instrumentação

Poropressão (kPa)
30
25
PZA PZB
20
15
10
5
0
0 4 8 12 16 20 0 4 8 12 16 20

Tempo decorrido (horas)

Figura 35 Poropressões versus tempo, Estação 2, topo da Encosta do Itanhangá

Monitoração automática para um pequeno número de instrumentos


A monitoração automática pode ser empregada mesmo em projetos com um pequeno número de
instrumentos. A Figura 36 apresenta um sistema de aquisição de dados de um canal somente que
registra as leituras no próprio local na memória do instrumento. Os dados são descarregados
periodicamente, uma vez por semana ou por mês, em um PC via serial. Este tipo de instrumento
pode ser aplicado para medir níveis d’água, por exemplo, ou observar a variação de carga em uma
ancoragem.

Figura 36 Sistema de aquisição de dados de um canal (foto Geokon)

24
Referências

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5
Anexo 6 Normas ABNT

Cimento, concreto e argamassa


ABNT NBR 5732 Cimento Portland comum - Especificação
ABNT NBR 7480 Barras e fios de aço destinados a armaduras para concreto armado – Especificação
ABNT NBR 7681 Calda de cimento para injeção – Especificação
ABNT NBR 6118 Projeto e construção de obras de concreto armado

Agregados
ABNT NBR 7220 Agregado – Determinação de impurezas orgânicas húmicas em agregado miúdo
ABNT NBR 9773 Agregado – Reatividade potencial de álcalis em combinações cimento-agregado.
ABNT NBR 9935 Agregados
ABNT NBR 6465 Agregados – Determinação da abrasão “Los Angeles “
ABNT NBR 7217 Agregados – Determinação da composição granulométrica
ABNT NBR 10341 Agregados – Determinação do módulo de deformação estático e coeficiente de poisson
de rochas
ABNT NBR 9939 Agregados – Determinação do teor de umidade total, por secagem, em agregado graúdo
ABNT NBR 12696 Agregados – Verificação do comportamento mediante ciclagem artificial água-estufa
ABNT NBR 12695 Agregados – Verificação do comportamento mediante ciclagem natural
ABNT NBR 7216 Amostragem de agregados
ABNT NBR 7389 Apreciação petrográfica de materiais naturais, para utilização como agregado em
concreto
ABNT NBR 7225 Materiais de pedra e agregados naturais

Água
ABNT NBR 5761 Água – Determinação da dureza – Método complexométrico
ABNT NBR 9251 Água – Determinação do pH – Método eletrométrico
ABNT NBR 12614 Águas – Determinação da demanda bioquímica de oxigênio DBO – método de
incubação 20 graus Celsius, cinco dias
ABNT NBR 10357 Águas – Determinação da demanda química de oxigênio DQO – Método de refluxo
aberto, refluxo fechado – Titulométrico e refluxo fechado - Colorimétrico
ABNT NBR 12244 Construção de poço para captação de água subterrânea
ABNT NBR 5762 Determinação da alcalinidade em água – Método por titulação direta
ABNT NBR 9896 Glossário de poluição das águas
ABNT NBR 12212 Projeto de poço para captação de água subterrânea

Aterros
ABNT NBR 10007 Amostragem de resíduos - Procedimentos
ABNT NBR 8849 Apresentação de projetos de aterros controlados de resíduos sólidos urbanos
ABNT NBR 8418 Apresentação de projetos de aterros de resíduos industriais perigosos
ABNT NBR 8419 Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos
ABNT NBR 9288 Emprego de terrenos reforçados
ABNT NBR 9285 Micro-ancoragem
ABNT NBR 10004 Resíduos sólidos
ABNT NBR 9286 Terra armada
ABNT NBR 7950 Terraplenagem para via férrea – Aterro – Projeto

Efluentes
ABNT NBR 13402 Caracterização de cargas poluidoras em efluentes líquidos industriais e domésticos
ABNT NBR 13403 Mediação de vazão em efluentes líquidos e corpos receptores – Escoamento líquido

1
Fundações
ABNT NBR 6122 Projeto e execução de fundações
ABNT NBR 6489 Prova de carga direta sobre terreno de fundação
ABNT NBR 12131 Estacas - Prova de carga estática
ABNT NBR 13208 Estacas – Ensaio de carregamento dinâmico

Gestão ambiental
ABNT NBR ISO 14004 Sistemas de gestão ambiental – Diretrizes gerais sobre princípios, sistemas e
técnicas de apoio
ABNT NBR ISO 14011 Diretrizes para auditoria ambiental – Procedimentos de auditoria – Auditoria de
sistemas de gestão ambiental

Levantamentos e projetos
ABNT NBR 6497 Levantamento geotécnico
ABNT NBR 8044 Projeto geotécnico

Mineração
ABNT NBR 13029 Elaboração e apresentação de projeto de disposição de estéril, em pilha, em mineração
ABNT NBR 13028 Elaboração e apresentação de projeto de disposição de rejeitos de beneficiamento, em
barramento, em mineração
ABNT NBR 13030 Elaboração e apresentação de projeto de reabilitação de áreas degradadas pela
mineração

Rochas e Solos
ABNT NBR 7390 Análise petrográfica de rochas
ABNT NBR 10803 Degradação do solo
ABNT NBR 6502 Rochas e solos
ABNT NBR 7181 Solo – Análise granulométrica
ABNT NBR 13292 Solo – Determinação do coeficiente de permeabilidade de solos granulares à carga
constante
ABNT NBR 12007 Solo – Ensaio de adensamento unidimensional
ABNT NBR 7182 Solo – Ensaio de compactação
ABNT NBR 12069 Solo – Ensaio de penetração de cone in situ CPT
ABNT NBR 10905 Solo – Ensaios de palheta in situ
ABNT NBR 6459 Solo – Determinação do Limite de Liquidez
ABNT NBR 7180 Solo – Determinação do Limite de Plasticidade
ABNT NBR 6508 Solo – Determinação da Densidade Real dos Grãos
ABNT NBR 9895 Solo – Índice de suporte Califórnia

Sondagens e amostragem
ABNT NBR 9604 Abertura de poço e trincheira de inspeção em solo, com retirada de amostras
deformadas e indeformadas
ABNT NBR 6457 Amostras de solo – Preparação para ensaios de compactação e ensaios de caracterização
ABNT NBR 9820 Coleta de amostras indeformadas em solo em furos de sondagem
ABNT TB-38 Equipamento a diamante para sondagem
ABNT NBR 6484 Execução de sondagens de simples reconhecimento dos solos
ABNT NBR 7250 Identificação e descrição de amostras de solos obtidos em sondagens de simples
reconhecimento dos solos
ABNT NBR 8036 Programação de sondagens de simples reconhecimento dos solos para fundações de
edifícios
ABNT NBR 6490 Reconhecimento e amostragem para fins de caracterização de ocorrência de rochas
ABNT NBR 6491 Reconhecimento e amostragem para fins de caracterização de pedregulho e areia
ABNT NBR 9603 Sondagem a trado

2
Taludes e escavações
ABNT NBR 9061 Segurança de escavações a céu aberto
ABNT NBR 11682 Estabilidade de taludes
ABNT NBR 12589 Proteção de taludes e fixação de margens em obras portuárias

Tirantes
ABNT NBR 5629 Execução de tirantes ancorados no terreno

Gabiões
ABNT NBR 8964 Arame de aço de baixo teor de carbono, zincado, para gabiões
ABNT NBR 10514 Redes de aço com malha hexagonal de dupla torção, para confecção de gabiões

Desenho
ABNT NBR 08403 Aplicaçäo de linhas em desenhos - Tipos de linhas - Larguras das linhas
ABNT NBR 10582 Apresentaçäo da folha para desenho técnico
ABNT NBR 10647 Desenho técnico
ABNT NBR 13142 Dobramento de cópia de desenho técnico
ABNT NBR 13272 Elaboraçäo da lista de itens em desenho técnico
ABNT NBR 08196 Emprego de escalas em desenho técnico
ABNT NBR 08402 Execuçäo de caracter para escrita em desenho técnico
ABNT NBR 07191 Execuçäo de desenhos para obras de concreto simples ou armado
ABNT NBR 10068 Folha de desenho – Lay-out e dimensöes
ABNT NBR 08404 Indicaçäo do estado de superfícies em desenhos técnicos
ABNT NBR 10067 Princípios gerais de representaçäo em desenho técnico
ABNT NBR 13273 Referência a itens em desenho técnico
ABNT NBR 08993 Representaçäo convencional de partes roscadas em desenhos técnicos
ABNT NBR 13963 Móveis para escritório - Móveis para desenho - Classificaçäo e características físicas e
dimensionais
ABNT NBR 11534 Representaçäo de engrenagem em desenho técnico
ABNT NBR 13104 Representaçäo de entalhado em desenho técnico
ABNT NBR 11145 Representaçäo de molas em desenho técnico
ABNT NBR 12298 Representaçäo de área de corte por meio de hachuras em desenho técnico
ABNT NBR 06409 Tolerâncias geométricas - Tolerâncias de forma, orientaçäo, posiçäo e batimento -
Generalidades, símbolos, definiçöes e indicaçöes em desenho
ABNT NBR 10126 Cotagem em desenho técnico

Relatório
ABNT NBR 10719 Apresentaçäo de relatórios técnico-científicos
ABNT NBR 11192 Exigências na apresentaçäo de relatório de ensaio
ABNT NBR 07679 Termos básicos relativos a cor

Projeto
ABNT NBR 13896 Aterros de resíduos näo perigosos - Critérios para projeto, implantaçäo e operaçäo -
Procedimento
ABNT NBR 07190 Projeto de estruturas de madeira
ABNT NBR 06122 Projeto e execuçäo de fundaçöes
ABNT NBR 06118 Projeto e execuçäo de obras de concreto armado
ABNT NBR 07187 Projeto e execuçäo de pontes de concreto armado e protendido
ABNT NBR 08044 Projeto geotécnico
ISO09001 Sistemas da qualidade - Modelo para garantia da qualidade em projetos,
desenvolvimento, produçäo, instalaçäo e serviços associados
ABNT NBR 07808 Símbolos gráficos para projetos de estruturas

3
Drenagem
ABNT NBR 08216 Irrigaçäo e drenagem
ABNT NBR 12266 Projeto e execuçäo de valas para assentamento de tubulaçäo de água, esgoto ou
drenagem urbana

ENSAIO DE CONE
ABNT NBR 12069 Solo - Ensaio de penetraçäo de cone in situ (CPT)

CONCRETO
ABNT NBR 7223 Concreto – determinação do Abatimento pelo Tronco de Cone
ABNT NBR 10908 Aditivos para argamassa e concretos - Ensaios de uniformidade
ABNT NBR NM00034 Aditivos para argamassa e concreto - Ensaios de uniformidade
ABNT NBR 11768 Aditivos para concreto de cimento Portland
ABNT NBR NM00035 Agragados leves para concreto estrutural - Especificaçäo
ABNT NBR 07211 Agregado para concreto
ABNT NBR EB00228 Agregados leves para concreto de elementos para alvenaria
ABNT NBR 07213 Agregados leves para concreto isolante térmico
ABNT NBR EB00230 Agregados leves para concreto estrutural
ABNT NBR 09917 Agregados para concreto - Determinaçäo de sais, cloretos e sulfatos solúveis
ABNT NBR NM00050 Agregados para concreto - Determinaçäo de sais, cloretos e sulfatos solúveis
ABNT NBR NM00054 Agregados para concreto - Exame petrográfico
ABNT NBR 11560 Agua destinada ao amassamento do concreto para estruturas classe I, em centrais
nucleoelétricas - Qualidade e controle
ABNT NBR 07389 Apreciaçäo petrográfica de materiais naturais, para utilizaçäo como agregado em
concreto
ABNT NBR 07222 Argamassa e concreto - Determinaçäo da resistência à traçäo por compressäo
diametral de corpos-de-prova cilíndricos
ABNT NBR 09778 Argamassa e concreto endurecidos - Determinaçäo da absorçäo de água por
imersäo - Indice de vazios e massa específica
ABNT NBR 09779 Argamassa e concreto endurecidos - Determinaçäo da absorçäo de água por
capilaridade
ABNT NBR 08965 Barras de aço CA 42 S com características de soldabilidade destinadas a
armaduras para concreto armado
ABNT NBR 08548 Barras de aço destinadas a armaduras para concreto armado com emenda
mecânica ou por solda - Determinaçäo da resistência à traçäo
ABNT NBR 07480 Barras e fios de aço destinados a armaduras para concreto armado
ABNT NBR NM00002 Cimentos, concretos e agregados - Terminologia - Lista de termos
ABNT NBR NM00033 Concreto - Amostragem de concreto fresco
ABNT NBR NM00033 Concreto - Amostragem de concreto fresco
ABNT NBR NM00067 Concreto - Determinaçäo da consistência pelo abatimento do tronco de cone
ABNT NBR NM00068 Concreto - Determinaçäo da consistência pelo espalhamento na mesa de Graff
ABNT NBR NM00102 Concreto - Determinaçäo da exsudação
ABNT NBR 08045 Concreto - Determinaçäo da resistência acelerada à compressäo - Método da
água em ebuliçäo
ABNT NBR 12142 Concreto – Determina çäo da resistência à traçäo na flexäo em corpos-de-prova
prismáticos
ABNT NBR NM00008 Concreto - Determinaçäo da resistência à traçäo por compressäo diametral
ABNT NBR NM00055 Concreto - Determinaçäo da resistência à traçäo na flexäo de corpos-de-prova
prismáticos
ABNT NBR 08522 Concreto - Determinaçäo do módulo de deformaçäo estática e diagrama -
Tensäo-deformaçäo
ABNT NBR NM00047 Concreto - Determinaçäo do teor de ar em concreto fresco - Método
pressométrico

4
ABNT NBR NM00047 Concreto - Determinaçäo do teor de ar em concreto fresco - Método
pressométrico
ABNT NBR 5739 Concreto - Ensaio de compressäo de corpos-de-prova cilíndricos
ABNT NBR NM00101 Concreto - Ensaio de compressäo de corpos-de-prova cilíndricos
ABNT NBR NM00069 Concreto - Extraçäo, preparaçäo e ensaio de testemunhos de estruturas de
concreto
ABNT NBR 10342 Concreto - Perda de abatimento
ABNT NBR NM00077 Concreto - Preparaçäo das bases dos corpos-de-prova e testemunhos cilíndricos
para ensaios de compressäo
ABNT NBR NM00079 Concreto - Preparaçäo de concreto em laboratório
ABNT NBR 12655 Concreto - Preparo, controle e recebimento
ABNT NBR 09605 Concreto - Reconstituiçäo do traço de concreto fresco
ABNT NBR 09832 Concreto e argamassa - Determinaçäo dos tempos de pega por meio da
resistência à penetraçäo
ABNT NBR 12819 Concreto e argamassa - Determinaçäo da elevaçäo adiabática da temperatura
ABNT NBR NM00009 Concreto e argamassa - Determinaçäo dos tempos de pega por meio de
resistência à penetraçäo
ABNT NBR 07584 Concreto endurecido - Avaliaçäo da dureza superficial pelo esclerômetro de
reflexäo
ABNT NBR NM00078 Concreto endurecido - Avaliaçäo da dureza superficial pelo esclerômetro de
reflexäo
ABNT NBR 08224 Concreto endurecido - Determinaçäo da fluência
ABNT NBR 08802 Concreto endurecido - Determinaçäo da velocidade de propagaçäo de onda ultra-
sônica
ABNT NBR 09204 Concreto endurecido - Determinaçäo da resistividade elétrica-volumétrica
ABNT NBR 10787 Concreto endurecido - Determinaçäo da penetraçäo de água sob pressäo
ABNT NBR 10786 Concreto endurecido - Determinaçäo do coeficiente de permeabilidade à água
ABNT NBR 12815 Concreto endurecido - Determinaçäo do coeficiente de dilataçäo térmica linear
ABNT NBR 12816 Concreto endurecido - Determinaçäo da capacidade de deformaçäo de concreto
submetido à traçäo na flexäo
ABNT NBR 12817 Concreto endurecido - Determinaçäo do calor específico
ABNT NBR 12820 Concreto endurecido - Determinaçäo da condutividade térmica
ABNT NBR NM00057 Concreto endurecido - Determinaçäo da penetraçäo de água sob pressäo
ABNT NBR NM00058 Concreto endurecido - Determinaçäo da velocidade de propagaçäo de onda ultra-
sônica
ABNT NBR 09833 Concreto fresco - Determinaçäo da massa específica e do teor de ar pelo método
gravimétrico
ABNT NBR NM00056 Concreto fresco - Determinaçäo da massa específica, do rendimento e do teor de
ar, pelo método gravimétrico
ABNT NBR NM00036 Concreto fresco - Separaçäo de agregados grandes por peneiramento
ABNT NBR NM00036 Concreto fresco - Separaçäo de agregados grandes por peneiramento
ABNT NBR 08953 Concreto para fins estruturais - Classificaçäo por grupos de resistência
ABNT NBR 14279 Concreto projetado - Aplicaçäo por via seca - Procedimento
ABNT NBR 13069 Concreto projetado - Determinaçäo dos tempos de pega em pasta de cimento
Portland, com ou sem a utilizaçäo de aditivo acelerador de pega
ABNT NBR 13317 Concreto projetado - Determinaçäo do índice de reflexäo por mediçäo direta
ABNT NBR 13354 Concreto projetado - Determinaçäo do índice de reflexäo em placas
ABNT NBR 14278 Concreto projetado - Determinaçäo da consistência através da agulha de Proctor
ABNT NBR 14026 Concreto projetado - Especificaçäo
ABNT NBR 13044 Concreto projetado - Reconstituiçäo da mistura recém-projetada
ABNT NBR 12654 Controle tecnológico de materiais componentes do concreto
ABNT NBR 07483 Cordoalhas de aço para concreto protendido
ABNT NBR 09479 Câmaras úmidas e tanques para cura de corpos-de-prova de argamassa e
concreto
ABNT NBR 07477 Determinaçäo do coeficiente de conformaçäo superficial de barras e fios de aço
destinados a armaduras de concreto armado

5
ABNT NBR 14268 Elemento de fixaçäo - Parafusos auto-atarraxantes para concreto e alvenaria -
Especificaçäo
ABNT NBR 14269 Elementos de fixaçäo - Pregos de aço temperado para fixaçäo em concreto e
alvenaria - Especificaçäo
ABNT NBR 10788 Execuçäo da injeçäo em concreto protendido com aderência posterior
ABNT NBR 10789 Execuçäo da protensäo em concreto protendido com aderência posterior
ABNT NBR 07212 Execuçäo de concreto dosado em central
ABNT NBR 07191 Execuçäo de desenhos para obras de concreto simples ou armado
ABNT NBR 10839 Execuçäo de obras de arte especiais em concreto armado e concreto protendido
ABNT NBR 12645 Execuçäo de paredes em concreto celular espumoso moldadas no local
ABNT NBR 07680 Extraçäo, preparo, ensaio e análise de testemunhos de estruturas de concreto
ABNT NBR 07482 Fios de aço para concreto protendido
ABNT NBR 05916 Junta de tela de aço soldada para armadura de concreto - Ensaio de resistência
ao cisalhamento
ABNT NBR 13070 Moldagem de placas para ensaio de argamassa e concreto projetados
ABNT NBR 05738 Moldagem e cura de corpos-de-prova cilíndricos ou prismáticos de concreto
ABNT NBR 07478 Método de ensaio de fadiga de barras de aço para concreto armado
ABNT NBR 12624 Perfil de elastômero vulcanizado, extrudado para vedaçäo de junta de dilataçäo
de estruturas de concreto ou aço
ABNT NBR NM00007 Perfil extrudado à base de cloreto de polivinila (PVC) para juntas de estruturas
de concreto - Especificaçäo
ABNT NBR NM00007 Perfil extrudado à base de cloreto de polivinila (PVC) para juntas de estruturas
de concreto - Especificaçäo
ABNT NBR NM00006 Perfil extrudado à base de elastômeros para juntas de estruturas de concreto -
Determinaçäo de características físicas, extraçäo acelerada e efeito de álcalis
ABNT NBR NM00006 Perfil extrudado à base de elastômeros para juntas de estruturas de concreto -
Determinaçäo de características físicas, extraçäo acelerada e efeito de álcalis
ABNT NBR 12821 Preparaçäo de concreto em laboratório
ABNT NBR 13597 Procedimento para qualificaçäo de mangoteiro de concreto projetado aplicado
por via seca
ABNT NBR 07197 Projeto de estruturas de concreto protendido
ABNT NBR 09062 Projeto e execuçäo de estruturas de concreto pré-moldado
ABNT NBR 06118 Projeto e execuçäo de obras de concreto armado
ABNT NBR 07187 Projeto e execuçäo de pontes de concreto armado e protendido
ABNT NBR 09607 Prova de carga em estruturas de concreto armado e protendido
ABNT NBR 13956 Sílica ativa para uso em cimento Portland, concreto, argamassa e pasta de
cimento Portland - Especificaçäo
ABNT NBR 13957 Sílica ativa para uso em cimento Portland, concreto, argamassa e pasta de
cimento Portland - Métodos de ensaio
ABNT NBR 07481 Tela de aço soldada - Armadura para concreto
ABNT NBR 12317 Verificaçäo de desempenho de aditivos para concreto
ABNT NBR 11919 Verificaçäo de emendas metálicas de barras de concreto armado
ABNT NBR 09452 Vistorias de pontes e viadutos de concreto

Aterros
ABNT NBR 08418 Apresentaçäo de projetos de aterros de resíduos industriais perigosos
ABNT NBR 08419 Apresentaçäo de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos
ABNT NBR 08849 Apresentaçäo de projetos de aterros controlados de resíduos sólidos urbanos
ABNT NBR 13896 Aterros de resíduos näo perigosos - Critérios para projeto, implantaçäo e operaçäo -
Procedimento
ABNT NBR 10157 Aterros de resíduos perigosos - Critérios para projeto, construçäo e operaçäo
ABNT NBR 05681 Controle tecnológico da execuçäo de aterros em obras de edificaçöes

Apresentação
ABNT NBR 10582 Apresentaçäo da folha para desenho técnico

6
ABNT NBR 06022 Apresentaçäo de artigos em públicaçöes periódicas
ABNT NBR 10520 Apresentaçäo de citaçöes em documentos
ABNT NBR 06029 Apresentaçäo de livros
ABNT NBR 06030 Apresentaçäo de ofício ou carta formato A-4
ABNT NBR 12256 Apresentaçäo de originais
ABNT NBR 06021 Apresentaçäo de periódicos
ABNT NBR 08418 Apresentaçäo de projetos de aterros de resíduos industriais perigosos
ABNT NBR 08419 Apresentaçäo de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos
ABNT NBR 08849 Apresentaçäo de projetos de aterros controlados de resíduos sólidos urbanos
ABNT NBR 13031 Apresentaçäo de publicaçöes oficiais
ABNT NBR 10719 Apresentaçäo de relatórios técnico-científicos
ABNT NBR NM00001 Diretivas para redaçäo e apresentaçäo de normas Mercosul
ABNT NBR 11192 Exigências na apresentaçäo de relatório de ensaio
ABNT NBR 12286 Roteiro para elaboraçäo e apresentaçäo do Código de Obras

ANCORAGEM
ABNT NBR 08264 Adequaçäo da limpeza de superfície e do perfil de ancoragem, de aço, aos sistemas de
revestimentos protetores
ABNT NBR 09285 Micro-ancoragem
ABNT NBR 11230 Revestimentos têxteis de piso - Determinaçäo da força de arrancamento dos tufos -
Ancoragem

SOLOS
ABNT NBR 09604 Abertura de poço e trincheira de inspeçäo em solo, com retirada de amostras
deformadas e indeformadas
ABNT NBR 06457 Amostras de solo - Preparaçäo para ensaios de compactaçäo e ensaios de caracterizaçäo
ABNT NBR 10834 Bloco vazado de solo-cimento sem funçäo estrutural
ABNT NBR 10836 Bloco vazado de solo-cimento sem funçäo estrutural - Determinaçäo da resistência à
compressäo e da absorçäo de água
ABNT NBR 10835 Bloco vazado de solo-cimento sem funçäo estrutural - Forma e dimensöes
ABNT NBR 13537 Carga aérea e equipamento de apoio no solo para aeronave
ABNT NBR 09820 Coleta de amostras indeformadas de solos de baixa consistência em furos de sondagem
ABNT NBR 07450 Corretivos da acidez dos solos - Determinaçäo do valor total de neutralizaçäo
ABNT NBR 07984 Corretivos da acidez dos solos - Determinaçäo de cálcio e magnésio pelo método Edta
ABNT NBR 10703 Degradaçäo do solo
ABNT NBR 07183 Determinaçäo do limite e relaçäo de contraçäo dos solos
ABNT NBR 10578 Ensaios básicos climáticos e mecânicos - Ensaio Sa - Irradiaçäo solar artificial ao nível
do solo
ABNT NBR 13296 Espaço físico para o uso do solo urbano
ABNT NBR 06484 Execuçäo de sondagens de simples reconhecimento dos solos
ABNT NBR 12254 Execuçäo de sub-base ou base de solo-cimento
ABNT NBR 06508 Gräos de solos que passam na peneira de 4,8 mm - Determinaçäo da massa específica
ABNT NBR 07250 Identificaçäo e descriçäo de amostras de solos obtidas em sondagens de simples
reconhecimento dos solos
ABNT NBR 11798 Materiais para sub-base ou base de solo-cimento
ABNT NBR 11805 Materiais para sub-base ou base de solo-brita
ABNT NBR 07117 Mediçäo da resistividade do solo pelo método dos quatro pontos (wenner)
ABNT NBR 07582 Pedra britada graduada e solo para base tipo macadame
ABNT NBR 08036 Programaçäo de sondagens de simples reconhecimento dos solos para fundaçöes de
edifícios
ABNT NBR 14283 Resíduos em solos - Determinaçäo da biodegradaçäo pelo método respirométrico
ABNT NBR 06502 Rochas e solos
ABNT NBR 13441 Rochas e solos
ABNT NBR 07181 Solo - Análise granulométrica
ABNT NBR 12102 Solo - Controle de compactaçäo pelo método de Hilf

7
ABNT NBR 07185 Solo - Determinaçäo da massa específica aparente, in situ, com emprego do frasco de
areia.
ABNT NBR 09813 Solo - Determinaçäo da massa específica aparente In Situ, com emprego de cilindro de
cravaçäo
ABNT NBR 10838 Solo - Determinaçäo da massa específica aparente de amostras indeformadas, com
emprego da balança hidrostática
ABNT NBR 13292 Solo - Determinaçäo do coeficiente de permeabilidade de solos granulares à carga
constante
ABNT NBR 09252 Solo - Determinaçäo do grau de acidez
ABNT NBR 06459 Solo - Determinaçäo do limite de liquidez
ABNT NBR 07180 Solo - Determinaçäo do limite de plasticidade
ABNT NBR 13600 Solo - Determinaçäo do teor de matéria orgânica por queima a 440 graus Celsius
ABNT NBR 12004 Solo - Determinaçäo do índice de vazios máximo de solos näo coesivos
ABNT NBR 12051 Solo - Determinaçäo do índice de vazios mínimos de solos näo-coesivos
ABNT NBR 07182 Solo - Ensaio de compactaçäo
ABNT NBR 12069 Solo - Ensaio de penetraçäo de cone in situ (CPT)
ABNT NBR 10905 Solo - Ensaios de palheta in situ
ABNT NBR 09895 Solo - Indice de suporte califórnia
ABNT NBR 14114 Solo - Solos argilosos dispersivos - Identificaçäo e classificaçäo por meio do ensaio do
furo de agulha (pinhole test)
ABNT NBR 12770 Solo coesivo - Determinaçäo da resistência à compressäo näo confinada
ABNT NBR 12052 Solo ou agregado miúdo - Determinaçäo de equivalente de areia
ABNT NBR 12053 Solo-brita - Determinaçäo de dosagem
ABNT NBR 13555 Solo-cimento - Determinaçäo da absorçäo d'água
ABNT NBR 12253 Solo-cimento - Dosagem para emprego como camada de pavimento
ABNT NBR 12023 Solo-cimento - Ensaio de compactaçäo
ABNT NBR 12025 Solo-cimento - Ensaio de compressäo simples de corpos-de-prova cilíndricos
ABNT NBR 13554 Solo-cimento - Ensaio de durabilidade por molhagem e secagem
ABNT NBR 12024 Solo-cimento - Moldagem e cura de corpos-de-prova cilíndricos
ABNT NBR 12265 Sub-base ou base de solo-brita

Geossintéticos
ABNT NBR 12593 Amostragem e preparaçäo de corpos-de-prova de geotêxteis
ABNT NBR 12553 Geotêxteis
ABNT NBR 12569 Geotêxteis - Determinaçäo da espessura
ABNT NBR 12568 Geotêxteis - Determinaçäo da gramatura
ABNT NBR 12824 Geotêxteis - Determinaçäo da resistência à traçäo näo-confinada - Ensaio de traçäo de
faixa larga
ABNT NBR 13134 Geotêxteis - Determinaçäo da resistência à traçäo näo-confinada de emendas - Ensaio
de traçäo de faixa larga
ABNT NBR 13359 Geotêxteis - Determinaçäo da resistência ao puncionamento estático - Ensaio com
pistäo tipo CBR
ABNT NBR 12592 Identificaçäo de geotêxteis para fornecimento

8
Anexo 7 Normas DNER

Especificações de serviços
ES 039/71 Muros de arrimo. 2p.
ES 044/71 Revestimento de taludes com solo-cimento.3p.
ES 329/97 Obras de arte especiais - serviços preliminares.3p.
ES330/97 Obras de arte especiais - concretos e argamassas.13p.
ES 331/97 Obras de arte especiais- armaduras para concreto armado.8p.
ES 333/97 Obras de arte especiais-formas.3p.
ES334/97 Obras de arte especiais- fundações.13p.
ES 335/97 Obras de arte especiais- estruturas de concreto armado.7p.
ES 341/97 Proteção do corpo estradal- proteção vegetal.7p.

Instrução de Ensaio (IE)


IE 004/94 Solos coesivos - determinação da compressão simples de amostras
inderformadas.11p.
IE 005/94 Solos - adensamento.
IE006/94 Materiais rochosos usados em rodovias - análise petrográfica. 4p.

Métodos de ensaio (ME)


ME 035/98 Agregados - determinação da abrasão Los Angeles.6p.
ME036/94 Solo - determinação da massa especifica aparente in situ com emprego do
balão de borracha.5p.
ME 037/94 Solo - determinação da massa especifica in situ com emprego do óleo.3p.
ME 040/95 Prospeção geofísica pelo método de eletrorresistividade. 17p.

1
ME 041/94 Solos - preparação de amostras para ensaios de caracterização.4p.
ME 045/95 Prospeção geofísica pelo método da sísmica de refração.13p.
ME049/94 Solos - determinação do índice de suporte Califórnia utilizando amostras
não trabalhadas. 14p.
ME 051/94 Solos - análise granulométrica.12p.
ME 052/94 Solos e agregados miúdos - determinação da umidade pelo método
expedito speedy.
ME 080/94 Solos - análise granulométrica por peneiramento.
ME 082/94 Solos - determinação do limite de plasticidade. 3p.
ME 083/94 Agregados - análise granulométrica. 3p
ME 091/94 Concreto - ensaio de compressão de corpos de prova cilíndricos (ABNT-
NBR 5739).
ME 092/94 Solo determinação da massa especifica aparente in situ com emprego do
frasco de areia. 5p.
ME 093/94 Solos - determinação da densidade real. 4p.
ME 122/94 Solos - determinação do limite de liquidez - método de referência e
método expedito. 7p.
ME 129/94 Solos - compactação utilizando amostras não trabalhadas. 7p
ME 131/94 Solos - determinação do módulo de resiliência. 8p.
ME 162/94 Solos - ensaio de compactação utilizando amostras trabalhadas. 7p
ME 213/94 Solos - determinação do teor de umidade. 3p

Procedimentos (PRO)
PRO 002/94 Coleta de amostras indeformadas de solos. 12p.
PRO 003/94 Coleta de amostras deformadas de solos. 4p.
PRO 012/95 Fotointerpretação aplicada à engenharia rodoviária. 29p.
PRO 014/95 Mapeamento geológico-geotécnico para obras viárias. 17p.
PRO 102/97 Sondagem de reconhecimento pelo método rotativo. 24p
PRO 103/94 Coleta de amostras de óleos e graxas lubrificantes. 7p.
PRO 380/98 Geossintéticos para obras rodoviárias
PRO 381/98 Projeto de aterros sobre solo mole

2
Anexo Comparativo de custo de obras

Introdução
Este anexo apresenta comparações entre custos de diversas obras de contenção, visando uma
orientação preliminar para a escolha da solução.

Hipóteses consideradas
Os tipos de obras que tiveram os seus custos comprados constam da Figura 1. São elas: muros de
concreto armado em L, muros de concreto ciclópico, cortina ancorada e solução em solo
grampeado.
Muro em L Muro em ciclópico

45º 45º

Cortina ancorada Solo grampeado


45º

45º

Figura 1 Seções típicas analisadas

1
Todas as alternativas de solução analisadas foram para estabilizar um talude com inclinação de 45
graus, sendo as obras implantadas em seção mista com corte e aterro, exceto para o caso de solo
grampeado, como indicado na figura. Imaginou-se o talude formado de solos típicos do Rio de
Janeiro, sem água.
Os custos foram calculados para uma obra de comprimento de 10 m para várias alturas do talude e
variando também a distância de transporte a partir de um ponto fácil acesso no pé da encosta . A
partir deste ponto, admitiu-se que o transporte de materiais e equipamentos fosse manual.
Nos custos de cada solução estão computados as parcelas relativas a administração, mobilização e
desmobilização. Os orçamentos foram elaborados com base no Catálogo de Referência de Preços
da FGV / SCO – Sistema de Custos e Orçamentos do Município do Rio de Janeiro, referência
junho/1999. Os resultados obtidos foram convertidos para dólares americanos segundo a taxa de
R$1,8493 reais por dólar (cotação de 08/08/1999 dólar comercial):

Resultados
Os resultados obtidos de custo por metro quadrado de contenção estão apresentados nas figuras
seguintes. A Figura 2 apresenta os custos para os muros de concreto armado L em função da
altura e distância de transporte. A Figura 3, apresenta o mesmo para muros de concreto ciclópico.

500

400 acesso
100 m
200 m
300 m
Custo 300 400 m
2
(US$/m )

200

100

0
0 1 2 3 4 5
Altura do muro (m)

Figura 2 Efeito da variação da altura em muro de concreto armado L

2
500

400 acesso
100 m
200 m
300 m
Custo 300 400 m
2
(US$/m )

200

100

0
0 1 2 3 4 5
Altura do muro (m)

Figura 3 Efeito da variação da altura em muro de concreto ciclópico

A Figura 4 compara as soluções de concreto armado e ciclópico. Verifica-se que para a mesma
altura o muro de concreto ciclópico é ligeiramente mais econômico. Para altura de 3m e à 300 m de
distância do acesso, os custos das duas soluções são praticamente idênticos e, a 400 m de distância,
o muro em concreto armado se torna ligeiramente mais vantajoso.

500

400

Custo 300
2
(US$/m )

H=2m, armado
200
H=3m, armado
H=4m, armado
H=2m, ciclópico
100 H=4m, ciclópico
H=4m, ciclópico

0
0 10 20 30 40
Distância ao longo da encosta (m)

Figura 4 Comparação de custo entre muros de concreto armado e concreto ciclópico

A Figura 5 compara custos da solução de cortina ancorada e solo grampeado. Esta última é sempre
mais econômica, independente da distância ao longo da encosta. Além disso, a vantagem da
solução de solo grampeado se acentua com o aumento da distância de transporte..

3
1000

900 H=4m, cortina


H=6m, cortina
800 H=4m, solo grampeado
H=6m, solo grampeado
700
Custo 600
2
(US$/m )
500

400

300

200

100

0
0 10 20 30 40
Distância ao longo da encosta (m)

Figura 5 Comparação entre cortina ancorada e solo grampeado versus distância de transporte

A Figura 6 compara todas as alternativas de solução para um talude de 4 m de altura e em função


da distância de transporte. Verifica-se que a cortina ancorada é sempre a mais cara, podendo
duplicar os preços da obra. A solução em concreto ciclópico é a mais econômica para distâncias
de transporte até 100 m, sendo então superada pelo solo grampeado.
600

500

400
Custo
2
(US$/m )
300

200
Muro em L
Ciclópico
100 Cortina
Solo grampeado

0
0 10 20 30 40
Distância ao longo da encosta (m)

Figura 6 Comparação entre todas as soluções em função da distância de transporte para talude com altura do
de 4 m

Conclusões
A decisão sobre o tipo de solução deve sempre ser pautada em estudos econômicos de várias
alternativas. Uma solução que a princípio apresenta-se desfavorável economicamente em certa
posição da encosta pode se tornar mais atraente em função alteração de distância de transporte..
4
Anexo 9 Manuais GEO

Publicações do Geotechnical Engineering Office (GEO) de Hong Kong

1. GEO (1984) Geotechnical Manual for slopes, 2nd edition, Geotechnical Engineering
Office, Hong Kong, 295 p.
2. GEO (1982) Guide to retaining wall design, Geoguide 1, Geotechnical Engineering
Office, Hong Kong, 154 p.
3. GEO (1987) Guide to site investigation, Geoguide 2, Geotechnical Engineering Office,
Hong Kong, 362 p.
4. GEO (1989) Model specification for prestressed ground anchors, Geospec 1, Geotechnical
Engineering Office, Hong Kong, 168 p.

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