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Introdução
Apresentação
Este manual é um guia de projeto e execução de estabilização de taludes no Rio de Janeiro.
Contempla a identificação e investigação dos acidentes, a solução de projeto geotécnico e
estrutural. Acompanham especificações para execução e desenhos típicos das diversas
soluções de contenção.
O Manual foi concebido como um instrumento para o engenheiro experiente, reunindo em um
só volume as técnicas mais usuais de estabilização. Não é um livro-texto, mas uma orientação
sobre a boa prática de projeto e execução.
Organização do manual
O texto do Manual de Investigações e Análises foi subdividido em vários capítulos, em que os
três primeiros visam o diagnóstico do problema. Dentro deste tópico, o primeiro é dedicado
aos Solos e rochas do Rio de Janeiro apresentando um sumário da geologia do Rio de Janeiro
e seus arredores. A seguir trata-se dos Movimentos de massa, em que os tipos de
deslizamento são classificados e identificados e das Investigações geotécnicas, bastante
resumidas, onde se apresentam critérios de investigação, sem detalhar a metodologia. Ao
final do capítulo acrescenta-se uma tabela com valores típicos de resultados de ensaios de
resistência nos solos cariocas.
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Introdução
Retaludamento
Fase de
Drenagem e
diagnóstico proteção
superficial
Geologia
Muros
Análise de
estabilidade
em solos
Classificação
Tipos de Cortinas
do movimento
solução ancoradas
Análise de
estabilidade
em rochas Reforço com
Investigações geossintéticos
Solo grampeado
Intrumentação Estabilização de
taludes em
rochas
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Introdução
Formato
O Manual contém uma grande quantidade de figuras, ábacos e fotos. Estas provêm dos
arquivos da GeoRio, que existem graças à dedicação de mais de quarenta anos do fotógrafo
Sr. Ary Maciel, e por cessão algumas empresas, como a Este Engenharia, Geoflex, Geokon e
dos arquivos pessoais dos autores.
As empresas Este SA, Geotécnica SA, Belgo-Mineira Bekaert e Maccaferri colaboraram
intensamente com a equipe do Manual: forneceram informações, fotos, elaboraram e
revisaram textos, mas principalmente contribuíram com a sua experiência.
Elaboração do Manual
O Manual de Encostas da GeoRio resultou de um contrato intitulado “Elaboração de Manuais
Técnicos de Projetos, Especificações e Execução para Obras de Estabilização”, contrato
091/98, entre a GeoRio e a Insitutek Ltda, que contou com uma equipe de especialistas
geotécnicos para elaboração.
A coordenação e editoração dos trabalhos foi realizada pelo Dr J A R Ortigão (UFRJ),
assistido pelo Dr A Sayão (PUC-RJ).
Os capítulos de Geologia e Movimentos de Massa foram de elaborados pelo Dr H Penha
(UFF),
• O Capítulo de Drenagem e Proteção Superficial pela Dra Denise Gerscovich (Uerj);
Os capítulos de Muros e Estabilidade de Taludes em Solo, pelo Dr A Sayão;
• O capítulo de Geossintéticos, Dr E M Palmeira (UnB).
Os capítulos de Investigações, Estabilidade de Taludes em Rocha, Cortinas, Solo
Grampeado, Estabilização de Taludes em Rocha e Instrumentação foram elaborados do
Dr J A R Ortigão, assistido pelo professor Eng C J R d’Ávila, UFRJ, na eletrônica
aplicada à instrumentação.
• O capítulo de Dimensionamento Estrutural foi elaborado pelo engenheiro J R Oliveira da
Insitutek.
• O capítulo de Concreto Projetado foi elaborado pelo engenheiro A Moraes da Belgo
Mineira-Bekaert e pelo Dr J A R Ortigão.
3
Introdução
• O apoio técnico e editorial para elaboração do Manual foi coordenado pela Enga Lúcia
Alves.
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Introdução
Equipe da GeoRio
A Fiscalização do contrato 091/98 entre a GeoRio e a Insitutek Ltda, intitulado “Elaboração de
Manuais Técnicos de Projetos, Especificações e Execução para Obras de Estabilização”, foi exercida
pela GeoRio que designou os engenheiros Helio G de Brito Filho e Marcio J M Machado.
Coordenação Eng Helio G de Brito Filho (Diretor da Diretoria DEP) e Eng Marcio Mach
(Gerente de Obras)
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Rochas e solos
H Penha
Introdução
O conhecimento das Rochas e Solos do Rio de Janeiro tem grande importância na análise dos
processos de deslizamento de taludes. O substrato rochoso das encostas do Rio de Janeiro é
formado fundamentalmente por rochas metamórficas de alto grau, gnaisses e migmatitos e, ígneas
intrusivas graníticas que normalmente cortam as anteriores. Este contexto geológico apresenta
grande complexidade estrutural e de difícil relacionamento estratigráfico. Suas idades são Pré-
Cambrianas, isto é, superiores a 570 Ma, embora alguns granitos apresentem idades um pouco mais
jovens. Todo o conjunto é atravessado por ígneas mais recentes, na forma de diques básicos
(diabásios) ou alcalinos (tinguaítos, traquitos e fonolitos), estes associados ao grande corpo ígneo
sienítico do Maciço Mendanha-Gericinó e de idade Cretácea (65 Ma).
Os três maciços montanhosos encontrados no Município do Rio de Janeiro - Tijuca, Pedra Branca e
Gericinó-Mendanha - são constituídos por rochas gnáissicas, graníticas e alcalinas. O conjunto
gnáissico tem suas melhores exposições no Maciço da Tijuca e em áreas a ele periféricas da
Planície Litorânea e colinas relacionadas, com grande densidade populacional. Apresenta litologias
diversificadas, de composição mineralógica variável e com diferentes tipos de deformação
geológica. Os materiais de alteração e de coberturas relacionadas também apresentam expressiva
variabilidade, decorrente da estruturação geológica, do relevo e do clima.
Nos itens que se seguem são relacionados aspectos relevantes de natureza geológica e geotécnica
que, em seu conjunto, formam uma documentação básica orientativa para os profissionais de
Geologia e de Engenharia.
Litologias
As principais litologias ocorrentes no Município do Rio de Janeiro constam do Mapa Geológico do
Estado da Guanabara (Helmbold et al, 1965) em escala 1:50.000. Neste trabalho, é apresentada
uma divisão sistemática das rochas metamórficas da cidade: Uma Série Inferior, mais antiga,
caracterizada por gnaisses graníticos a quartzo-dioríticos e migmatitos e, uma Série Superior, de
gnaisses principalmente aluminosos, mais jovens. Tal trabalho constitui a base do conhecimento ao
nível de semi-detalhe da Geologia do Município e, ao lado de outros mais recentes e com objetivos
específicos, distinguem as litologias referenciadas no Manual.
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Rochas e solos
2
Rochas e solos
N
S. do Engenho Novo
22º 55'
Lapa
15
Serra dos
Pretos Forros Grajaú 20
30
15
Tijuca 20
25 30 15 Baía de Guanabara
30
30 15
Elefante 25 25 5 Cosme
25
A 35 30 Velho Viúva
15
10 20
15 20
Tijuca Pão de Açúcar
45
Conde Queimado
15 Corcovado
10
25 45
Jacarepaguá 15 20
30
15 35 Leme
Furnas Legenda
35 20 Vista chinesa
15
Lagoa quaternário
40 diques de diabásio
20
30 granito favela
15
Foliação
Pedra Bonita tonalito grajaú principal
25 30
Leblon Ipanema
metagabro Fluxo
35
magmático
30 30 leptinito
Falhas e/ou
23º 00' 15 Gávea São Conrado kinzigito zonas de
cisalhamento
Oceano Atlântico biotita gnaisse
20 gnaisse facoidal
Barra da Tijuca
43º 20' 43º 15' 43º 10' gnaisse archer
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Rochas e solos
As rochas da Série Superior são as que apresentam maiores variações tanto composicionais
como texturais e estruturais. Esta variabilidade é considerada no comportamento geomecânico das
massas rochosas, bem como nos solos residuais, delas derivados. Tais litologias são associadas à
estruturação geológica do Maciço da Tijuca, e influenciam significativamente em sua morfologia,
evolução de suas encostas e nos processos geodinâmicos de risco, quando comparado com os
demais maciços do Município.
Apresentam-se a seguir, as principais litologias do Município com suas características
essenciais (Tabela 1 e Tabela 2).
Tabela 1 - Quadro geral dos grupos de rochas e seus principais representantes ocorrentes nas encostas do
Município do Rio de Janeiro
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Rochas e solos
Tabela 2 - Principais litologias das encostas do Município do Rio de Janeiro e algumas características geológicas distintivas
Gnaisse metamórfica cinza rosado média/grossa porfiroblástica foliação gnáissica e/ou granitóide k-feldspato, plagioclásio, quartzo, magnetita, zircão argilas, resistatos dobras, falhas, pirâmides rochosas,
Facoidal milonítica gnaissificado biotita, granada (quartzo) cisalhamentos blocos
Granodiorito ígnea cinza média hipidiomórfica maciça/orientação de granodiorito quartzo, plagioclásio, biotita, titanita, ilmenita, argilas, resistatos falhas, juntas blocos, torres, lascas
Pedra Branca granular fluxo anfibólio magnetita, pirita
Granitóide ígnea cinza média/fina equigranular foliação metamórfica tonalito quartzo, plagioclásio, biotita, titanita argilas, resistatos juntas blocos
Grajaú anfibólio
(dique)
Granito Utinga ígnea/migmática branco rosado grossa/pegmat porfirítica migmática, algo granito quartzo, k-feldspato, biotita opacos argilas, resistatos juntas Blocos
(dique) óide foliado
Granito Favela ígnea cinza média hipidiomórfica maciça ou com biotita granito quartzo, k-feldspato, biotita allanita, apatita, zircão, argillas, resistatos falhas, juntas torres, campos de
(dique) inequigranular orientação de fluxo magnetita matacão, cornijas
Granito Rosa ígnea cinza rosado fina hipidiomórfica maciça leucogranito quartzo, k-feldspato, biotita, allanita, zircão, apatita argilas, resistatos juntas blocos
(dique) granular plagioclásio
Diabásio ígnea preta média/fina ofítica maciça, microcristalina diabásio plagioclásio, piroxênio, anfibólio pirita, magnetita argilas, limonita falhas., juntas campos de blocos
(dique) esfoliados
Sienito ígnea cinza claro média hipidiomórfica maciça sienito nefelínico ou feldspato, nefelina, piroxênio titanita, apatita, zircão argilas, resistatos falhas, juntas blocos
Nefelínico inequigranular foiaito
Traquito ígnea cinza claro rosado fina traquítica maciça, microcristalina traquito feldspato, biotita, piroxênio, anfibólio titanita, apatita argilas juntas blocos
(dique)
Fonolito ígnea cinza escuro fina microcristalina maciça, microcristalina fonolito k-feldspato, piroxênio, nefelina apatita, zircão argilas juntas campos de blocos
(dique) esverdeado porfirítica esfoliados
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Rochas e solos
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Rochas e solos
Litotipos gnáissicos
Leptinitos - São gnaisses quartzo-feldspáticos, leucocráticos, localmente bandados, laminados, com
granulação fina, e de coloração amarelada a cinza clara. Petrograficamente é constituído por
feldspato, quartzo e com granada e biotita subordinadas. Apatita, zircão, ilmenita e magnetita, são
minerais acessórios. Bancos métricos de quartzito e variação na proporção de biotita, definem o
bandeamento composicional, sendo a foliação metamórfica principal dada pela biotita.
Ocorrem principalmente na encosta meridional da Serra da Carioca, desde Santa Teresa até além do
Corcovado.
Plagioclásio Gnaisse - Equivalente ao Gnaisse Archer, é uma rocha escura acinzentada, granulação
média a grossa, apresentando textura semifacoidal dada por cristais lenticulares de feldspato. É
constituído por quartzo, feldspato, biotita e localmente hornblenda. Allanita, zircão e opacos, são
acessórios. O bandeamento metamórfico é destacado, principalmente nos tipos ricos em biotita,
interdigitados com material granítico rico em feldspato. Faixas porfiroblásticas (com cristais
centimétricos de feldspato), são encontradasa próximas aos contatos com o gnaisse facoidal.
Também ocorrem embutidos nestes gnaisses porções e lentes métricas de rochas básicas (rochas
dioríticas e gabróicas), xistosas, transformadas parcialmente em gnaisses básicos e biotíticos com
restos de anfibólio, devido ao metamorfismo e, charno-enderbitos.
Estes gnaisses afloram em bairros da zona norte do Rio, como no Méier, Serra do Engenho Novo,
Inhaúma, Morro dos Telégrafos, parte de Jacarepaguá e, na Floresta da Tijuca, no Morro do Archer,
Serrinha e Joá.
Gnaisse Facoidal –Rocha leucocrática de cor rosada a cinza clara, de granulação grosseira,
porfiroblástica ou porfiroclástica, apresentando grandes lentes ou “olhos” de feldspato creme ou
róseo (geralmente de microclina), às vezes bem orientados, e que se destacam entre camadas de
biotita. Pelo caráter porfiroblástico dos feldspatos centimétricos contornados por uma massa
granoblástica fina, este gnaisse também é denominado “augen-gnaisse” Sua foliação é dada pelos
filmes de biotita que contornam os grandes cristais de feldspato. Subordinadamente, apresenta uma
variedade granuloblástica grosseira.
Petrograficamente trata-se de um microclina-oligoclásio/andesina-quartzo-biotita-gnaisse com
granada subordinada, apresentando textura principalmente porfiroblástica (ou facoidal), com lentes
de biotita-gnaisses, leptinitos, kinzigitos, metabasitos e manchas esverdeadas charnoquíticas. Faz
contatos aparentemente gradacionais com leptinitos e com o biotita gnaisse. Em alguns pontos
apresenta contatos bruscos com aqueles gnaisses, aparentando intrusionamento ígneo.
Quando milonitizado, os feldspatos apresentam diferentes estágios de estiramento, comportando-se
como porfiroclastos feldspáticos. Estas feições estruturais, representadas pelos milonitos,
associam-se principalmente à Zona de Cisalhamento Dúctil Niterói, de direção nordeste e que se
estende por dezenas de quilômetros através dos Municípios do Rio de Janeiro e de Niterói.
Apresenta idade em torno de 620 Ma.
Kinzigito - Tem sua melhores ocorrências no flanco oriental do Maciço da Tijuca, particularmente
na Serra da Carioca. Trata-se de um gnaisse leuco a mesocrático, de cor rosada, granulação
grosseira com porfiroblastos de até 2 cm de granada do tipo almandina, mais raramente de
cordierita, e com quantidades variáveis de quartzo, feldspato, biotita e sillimanita .
A foliação é bem desenvolvida e localmente pode conter lentes e/ou camadas (cm a m) de rochas
calciossilicáticas, leptinitos e quartzitos. Se distingue das demais litologias pela expressiva
presença de aluminosilicatos, tais como, granada, cordierita e sillimanita. Associa-se com o Biotita
Gnaisse para o qual passa de forma gradativa.
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Rochas e solos
Biotita Gnaisse – Rocha com estrutura gnaissica típica, com textura granolepidoblástica a
lepidoblástica, granulação fina a média, cor variando de cinza claro a cinza escuro, às vezes
granatífero e com diversas intercalações centimétricas a métricas de quartzito puro ou feldspático,
de espessura variável, como observadas na escarpa norte do Maciço da Tijuca. Em alguns pontos
esse gnaisse exibe feições migmáticas e estruturas deformacionais, dobramento, bem características
que o distingue dos demais. Quando quartzítico, é um gnaisse bem laminado que ocorre em
pequenas extensões, podendo ser observada a sua presença no Alto da Boa Vista, em domínio do
Biotita Gnaisse e também sob a forma de camadas quartzosas no Leblon.
O conjunto Kinzigito-Biotita Gnaisse apresenta-se na Serra da Tijuca ao longo de uma faixa de
direção aproximada NW-SE, embora um prolongamento do gnaisse kinzigítico de direção ENE-
WSW alcança a Serra da Carioca onde faz contatos com o Gnaisse Facoidal e com o Leptinito .
De um modo geral os gnaisses do Rio de Janeiro apresentam idades em torno de 600 Ma.
Litotipos ígneos
Metagabro da Tijuca - Conhecido comercialmente como Granito Preto da Tijuca, aflora na Floresta
da Tijuca, particularmente nas adjacências da estrada do Soberbo, onde apresenta suas maiores
exposições e, geologicamente, está em grande parte englobado pelo Granito Favela que por sua vez
se encaixa entre o gnaisse Archer e o Facoidal.
É uma rocha ígnea, de composição gabroica a diorítica, levemente metamorfisada, mesocrática,
maciça ou com ligeira foliação, inequigranular, de granulometria variando de média a grossa, cor
preta, composta por placas maiores de biotita em matriz de plagioclásio, piroxênios, anfibolios,
epidoto e opacos. De acordo com Amaral e Porto Jr. (1989), na região do Soberbo, o corpo do
Metagabro forma um corpo com cerca de 1,5 km de diâmetro, envolvido, com exceção da faixa
sudoeste, pelo Granito Favela que configura um anel bastante irregular com largura de cerca de 200
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Rochas e solos
m. As encaixantes na região são representadas pelo Gnaisse Facoidal, a E e SE, e pelo Gnaisse
Archer.
O conjunto é cortado por diques de diabásio, subverticais e orientados na direção preferencial N45-
50E e N70E, e também por raros pegmatitos.
A alteração do Metagabro apresenta uma forma peculiar, principalmente com blocos arredondados
de rocha fresca ou levemente alterada, circundada por uma massa de solo areno siltoso, dando um
falso aspecto de depósito coluvionar ou tálus. Verifica-se também que o sistema de fraturas do
Metagabro é perfeitamente preservado no saprólito relacionado.
Granodiorito Pedra Branca – Apresenta ampla ocorrência no Município do Rio de Janeiro, situado
entre as planícies de Bangú, Campo Grande e Jacarepaguá, estando a ele associadas as serras do
Nogueira, Quilombo, Barata, Bangú e da Pedra Branca propriamente dita.
Trata-se de um corpo ígneo intrusivo de composição granodiorítica nas porções mais internas,
gradando lateralmente em direção as bordas (Norte e Sul) a tipos mais ácidos representados por um
granito megaporfirítico que apresenta estrutura de fluxo magmático, bandamento ígneo e camadas
de xenólitos máficos .
Próximo aos gnaisses, é um granito porfirítico, com fenocristais de feldspato potássico de até 10 cm
de comprimento, apresentando estrutura planar e linear (fluxo magmático) e notável bandeamento
magmático representado por níveis de distintas granulometrias, aleitamento mineralógico e raros
enxames de enclaves microgranulares alinhados ao fluxo, como pode ser observado na pedreira da
Ibrata em Vargem Pequena, Jacarepaguá.
Uma de suas características é a presença de feições migmáticas de intrusionamento, particularmente
na sua borda sul, na região da Prainha-Grumari. Desplacamentos através de juntas de
descompressão, que dão a massa rochosa uma aparente estratificação, são comuns, além de
extensos campos de matacões. Estas rochas granitóides são por sua vez atravessadas por diques de
granito com tendência porfirítica, rico em allanita e por diabásios.
É apresentada uma idade de 537 Ma (Rb/Sr) para essas rochas.
Tonalito Grajaú - Forma diques e apófises discordantes aos contatos entre os gnaisses, também
como xenólitos dentro do Granito Favela. Trata-se de uma rocha leuco a mesocrática, grão fino a
médio, foliada e constituída de quartzo, plagioclásio, anfibólio e titanita com textura mosqueada
dada por estes três últimos minerais.
Granito Utinga - Ocorre como corpos irregulares, em pequenas ocorrências ou na forma de injeções
concordantes a sub-condordantes com o Gnaisse Archer. Possui composição granítica, granulação
grossa com variedades pegmatóides, destacando-se grandes cristais de feldspato, coloração branca-
rosada, às vezes apresentando aspecto migmático com concentrações estiradas de biotita e foliação
ajustada com as rochas encaixantes. Os corpos mais expressivos ocorrem no flanco oeste do
Maciço da Tijuca, na vertente do bairro de Jacarepaguá, na Serra do Alemão, no Complexo do
Caricó e na Serra da Misericórdia. Pequenas lentes deste granitóide, são encontradas embutidas no
gnaisse facoidal nas proximidades da Estrada Grajaú-Jacarepaguá.
Granito Favela - Ocorre preferencialmente no setor norte-nordeste do Maciço da Tijuca, Serra dos
Pretos Forros e do Engenho Novo, na forma de diques, corpos tabulares que geram cimeiras
resistentes ao intemperismo no topo dos morros ou pequenas intrusões (Floresta da Tijuca). Trata-
se de um granito meso a leucocrático, estrutura maciça, homogêneo, inequigranular, ocorrendo em
diques (principalmente), muitas vezes potentes com espessura de vários metros, núcleos e lentes
subhorizontais, em contatos bruscos com as encaixantes. Apresenta-se com dois fácies texturais:
um equigranular com granulação média a fina; outro, porfirítico, com fenocristais de microclina.
Há presença de mantos de concentrações de máficos. A análise petrográfica indica um biotita
granito com allanita, zircão, magnetita e apatita como principais acessórios.
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Rochas e solos
Estruturas de fluxo magmático são observáveis nos corpos maiores, e representadas pela orientação
preferencial de fenocristais de feldspato potássico, xenólitos alongados e aglomerados de biotita.
Este granito é correlacionado, no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, ao Granito Andorinha.
O Granito Favela normalmente se apresenta na forma de diques de espessura variável, de baixo
ângulo de mergulho e, quando aflorando em áreas montanhosas intrudido em gnaisses, tende, por
intemperismo diferencial, a se destacar das litologias encaixantes. Bem diaclasados nas elevações,
podem ocasionar a queda de blocos, e, nas encostas, produz extensos campos de matacões
arredondados ou facetados muitas vezes oferecendo perigo potencial aos moradores à jusante.
Na paisagem montanhosa, como outros granitos, tende também a formar “tors” ou torres,
caracteristicamente associadas com granitos bem diaclasados. Estas feições compõem-se de um
amontoado de blocos bem delimitados por diáclases, empilhados uns sobre os outros em suas
posições originais, sobressaindo-se abruptamente de uma vertente ou de um topo relativamente
plano. Exemplos destas feições de morfologia granítica podem ser vistos nas serras de Bangú e
Barata na zona oeste da cidade.
São apresentadas idades em torno de 490 M.a. para este granito.
Granito Rosa - Ocorre em diques pouco espessos, geralmente verticalizados, ou em pequenos
corpos (com diâmetro métrico). Apresenta-se homogêneo, com granulometria fina, sem estruturas
de fluxo ou bandeamento magmático e corta o Granito Favela. É constituído por feldspato, quartzo,
biotita, allanita, zircão e apatita.
Allanita Granito - Trata-se de um granito de granulometria grossa, com textura pegmatóide,
inomogêneo, ocorrendo em diques e bossas irregulares. Apresenta megacristais de feldspato
rosados (até 15 cm), e de allanita (até 10 cm de comprimento, com bordos metamictos). A
muscovita é secundária. Ele corta todas as outras rochas graníticas ocorrentes no Município.
Diabásio - Ocorre na forma de diques de espessuras variadas, de centímetros a vários metros que
podem se estender por dezenas de quilômetros. Trata-se de rocha melanocrática, de cor preta, de
granulação normalmente fina, textura ofítica, raramente porfirítica. Em diques de grande espessura,
pode possuir uma granulação grosseira confundindo-se com o gabro, do qual é representante
extrusivo. Mineralogicamente são basicamente formados de plagioclásios, anfibólios e piroxênios,
onde bastonetes de plagioclásio conferem a rocha a textura ofítica.
Como tem idade Mesozóica cortam, na forma de diques, todas as rochas cristalinas do Município,
granitos e gnaisses, a exceção das alcalinas que são mais jovens. Apresentam direções preferenciais
N40-50E e se encaixam em fraturas e/ou falhas geralmente regionais. Morfologicamente, no Rio de
Janeiro, os diques de diabásio, tendem a formar relevos baixos, retilíneos onde se encaixa a
drenagem, como por exemplo o Rio da Cachoeira/Rio Maracanã no Maciço da Tijuca.
Tais rochas apresentam idades em torno de 130 Ma.
Sienito Nefelínico ou Foiaito - Ocorre ao norte do Município, na Serra de Madureira ou Mendanha-
Gericinó e no Morro do Marapicu. É uma rocha alcalina plutônica, leucocrática, cinza clara, de
granulação grossa, homogênea e composta de uma massa de feldspatos alcalinos, nefelina e cristais
escuros de piroxênio sódico (aegirina). O aspecto lembra o granito do qual difere por não conter
quartzo .
Fonolito - É a variedade extrusiva do nefelina sienito e aparece na região, formando pequenos
derrames ou diques cortando os gnaisses e granitos adjacentes e ao próprio foiaito. É uma rocha de
granulação fina, cor cinza-esverdeada, maciça, que por ter uma estrutura microcristalina se mostra
muito resistente à decomposição. Esta rocha produz um som semelhante ao do sino, quando
golpeada pelo martelo.
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Rochas e solos
Minerais Essenciais:
Auxiliam na classificação e são principalmente representados pelo quartzo, SiO2, isto é, sílica pura
e os feldspatos que formam o grupo mais importante como constituintes das rochas. Estes são
composicionalmente e cristalograficamente distinguidos em feldspatos potássicos ou k-feldspatos,
representados pelo ortoclásio e pela microclina, e pelos plagioclásios.
Minerais claros:
- Quartzo
- Feldspatos
a) K-feldspatos, genericamente denominados alcalinos, apresentam a composição K2O.Al2O3.6SiO2
e são cristalograficamente subdivididos em ortoclásio, com o sistema de cristalização monoclínico e
microclina com o sistema triclínico. São minerais geralmente brancos, embora a microclina tende a
ter uma cor rósea, ou “cor de carne”, num linguajar mais rotineiro. Alteram-se intempericamente
em caulinita.
b) Plagioclásios, que formam uma série segundo a variação de sódio relativo ao cálcio nos minerais.
O extremo sódico da série é representado pela albita (Na2O.Al2O3.6SiO2) e o do cálcio pela anortita
(CaO.Al2O3.2SiO2) que podem misturar-se em proporções variáveis. Apresentam normalmente a
cor branca ou acinzentada e se cristalizam no sistema triclínico.
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Rochas e solos
Minerais Acessórios:
São muitos os minerais que ocorrem minoritariamente nas rochas ígneas e por isso são considerados
acessórios. Entre eles se destacam:
Nas rochas graníticas ou ácidas: zircão, esfeno ou titanita, apatita, allanita, monazita, ilmenita e
magnetita.
Nas rochas básicas, tais como gabros e diabásios: magnetita, ilmenita, pirita e calcopirita.
Minerais Resistatos:
São aqueles resistentes ao ataque químico do intemperismo químico, e aparecem individualizados
mineralogicamente nos solos e sedimentos, enriquecendo-os. O principal é o quartzo, seguido do
feldspato e da mica. Entre os acessórios, destacam-se a ilmenita, a magnetita, a monazita, o zircão
e o rutilo.
Estruturas Geológicas
As estruturas geológicas constituem a disposição espacial das rochas ou porções das rochas e suas
relações. Tais estudos são tratados pela Geologia Estrutural.
As estruturas geológicas podem ser originadas por forças tectônicas, que atuam no interior da terra,
ou por forças atectônicas, que atuam na superfície e principalmente associadas a forças
gravitacionais. É importante a compreensão não apenas das feições estruturais, mas também dos
processos deformacionais envolvidos, para o real entendimento de sua geometria e variabilidade no
maciço rochoso.
As estruturas tectônicas são aquelas geradas tanto em estado de fluxo plástico quanto em estado
rígido, dependendo das condições de deformação. As estruturas geradas por deformação dúctil são
representadas principalmente por dobras, zonas de cisalhamento dúctil, foliações e lineações. As
estruturas geradas por deformação rúptil são representadas pelas falhas e juntas.
As estruturas atectônicas aqui interessadas, são aquelas feições que se desenvolvem nas
rochas próximas ou na superfície terrestre em áreas restritas e que são formadas principalmente por
perda da pressão litostática ou de confinamento. São representadas basicamente pelas juntas de
alívio ou de descompressão.
Estruturas tectônicas
Falhas
São fraturas (descontinuidades), nas quais ocorre um deslocamento perceptível das partes, o
que se dá ao longo do plano de fratura. Ao se movimentarem os blocos separados atritam um
contra o outro, às vezes produzindo fragmentação e pulverização das rochas. Tais deslocamentos
podem ser milimétricos, centimétricos, decamétricos e até quilométricos. As falhas como as
fraturas em geral, representam importantes descontinuidades tanto em termos mecânicos como
hidráulicos. Representam caminhos preferenciais de alteração e afetam diretamente a dinâmica
hidrológica dos fluxos subterrâneos nas encostas.
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Rochas e solos
Elementos da Falha:
Plano da Falha - É a superfície segundo a qual se dá o deslocamento. Muitas vezes o atrito causado
pelo movimento produz uma superfície lisa, podendo ter um brilho bem nítido graças ao polimento
produzido pela fricção. Denomina-se neste caso espelho de falha ou slickensides, que além do
polimento mostra com freqüência estrias ou caneluras. Além destas características, o espelho de
falha pode apresentar ressaltos ou rugosidades (nem sempre existentes) (Figura 2).
13
Rochas e solos
a
b
0
5 cm
Figura 2 - Plano de falha com estrias. Infere-se o sentido do movimento (seta ab) com base nos ressaltos na
superfície estriada
Tabela 3 – Nomes de campo para rochas associadas a falhas, segundo a classificação da Série Cataclástica
14
Rochas e solos
Rejeito - É o deslocamento relativo de pontos previamente adjacentes nos lados opostos da falha,
sendo medido no plano da falha. Normalmente constata-se o falhamento à escala de afloramento
pela presença de superfícies polidas e estriadas em planos de fratura, sendo o rejeito muitas vezes
indeterminado.
Atitude da falha é a direção de uma linha horizontal situada no plano de falha e mergulho de falha o
ângulo diedro formado pelo plano de falha e em plano horizontal qualquer. A interseção do plano
de falha com a superfície terrestre denomina-se traço, linha ou afloramento de falha.
Juntas ou Diáclases
São fraturas que ocorrem de forma sistemática, segundo orientações preferenciais,
compondo famílias ou sistemas persistentes no maciço rochoso. Em geral, comparecem dois ou
mais sistemas que se entrecruzam, formando blocos poliédricos, cujas formas e dimensões
dependem das orientações e espaçamentos relativos de cada sistema. Elas tornam-se mais
adensadas nas proximidades das falhas regionais, podendo, em algumas situações, prognosticá-las.
Apresentam-se como superfícies planas ou irregulares e podem ser caracterizadas como
sistemáticas, quando têm orientação subparalela e espaçamento regular ou não-sistemáticas quando
não compartilham uma orientação comum normalmente aleatória ou condicionada pelas
sistemáticas e, apresentam a superfície irregular ou curva. Juntas que apresentam orientação similar
na mesma área constituem um conjunto ou família. Dois ou mais conjuntos de juntas na mesma
área constituem um sistema de juntas.
Juntas sistemáticas podem não estar preenchidas, isto é, a fratura pode estar aberta e desprovida de
minerais. Geralmente elas são as fraturas formadas mais recentemente na área, podendo apresentar
superfícies muito lisas. Algumas superfícies de juntas são bastante irregulares; outras são marcadas
por proeminências concêntricas, e são denominadas juntas plumosas.
Veios são juntas preenchidas e o preenchimento varia em composição de quartzo e feldspato a
quartzo, calcita, dolomita, adularia, clorita, epidoto, bem como minerais metálicos como a pirita e a
calcopirita. Fraturas podem também ser preenchidas com combinações de zeólitas, calcita e outros
minerais de baixa temperatura.
Fraturas preenchidas ou não podem ocorrer num sistema conjugado. Para pares de famílias serem
conjugados é necessário que tenham sido formados quase ao mesmo tempo por tensão ou
cisalhamento.
15
Rochas e solos
Dobras
As dobras são ondulações ou convexidades existentes em corpos rochosos originalmente planos.
Elas exibem dimensões variadíssimas e são observadas em diferentes escalas. Os lados das dobras
são denominados flancos que se unem na charneira. A superfície que divide a dobra em duas partes
similares é o plano axial. Um antiforme é uma dobra que converge ou que se fecha para cima e o
sinforme a que se fecha para baixo. Os tipos de dobras mais comuns são denominados anticlinais e
sinclinais.. Outros tipos de dobras são: isoclinal, monoclinal, recumbente e de arrasto.
É considerada isoclinal, quando ambos os flancos mergulham na mesma direção e com o mesmo
ângulo de mergulho; Monoclinal ou Flexão, quando se dá o encurvamento de apenas uma parte;
Recumbente ou deitada, cujo plano axial tende a horizontalidade e de Arrasto um conjunto de
dobras menores subordinadas a uma dobra maior.
Foliações e lineações
Foliação é o termo que se aplica a determinadas feições planares características de algumas rochas
metamórficas. Os mais importantes tipos de foliação encontrados em algumas rochas do Município
do Rio de Janeiro, são:
• Gnaissoidade, ou foliação gnáissica, decorrente da orientação paralela de minerais geralmente
placóides, como as micas ou de orientação planar de minerais alongados. Quando a rocha é
formada predominantemente de minerais placóides, micáceos, oferecendo forte laminação, tem-
se a xistosidade.
• Bandamento Composicional, definido por faixas paralelas de composições mineralógicas ou
texturais diferentes. Comum em gnaisses e migmatitos.
• Bandamento Magmático - Semelhante a anterior, porém tem a sua ocorrência restrita a algumas
massas ígneas plutônicas.
• Foliação Milonítica - Feição planar resultante do fluxo plástico laminar, imposto por
cisalhamento não-coaxial ao longo de zonas de cisalhamento dúctil.
• Lineação - São feições lineares definidas pelo eixo de alongamento de elementos geológicos
tais como minerais ou agregados minerais, ou por intersecções de feições planares
principalmente em rochas deformadas por sucessivas fases de dobramento. As lineações mais
importantes são a lineação mineral, dada pela orientação comum de eixos de minerais
prismáticos e a lineação de estiramento dada pela elongação de minerais e agregados de
minerais através da deformação.
Alguns corpos graníticos do Município do Rio de Janeiro, em particular o Granito Favela,
apresentam estruturas planares e lineares dadas pelo fluxo magmático. Tais estruturas, em
conjunto, podem originar uma foliação em algumas massas graníticas.
Zonas de Cisalhamento
Afetando particularmente os gnaisses do Rio de Janeiro, verificam-se bandas, faixas ou zonas de
cisalhamento dúctil, de diversas magnitudes, quase sempre de extensão regional e orientadas
preferencialmente na direção ENE-WSW (de N70E a E-W).
Estas zonas de cisalhamento, constituem estruturas de grande importância nos estudos de
caracterização dos maciços rochosos, face as peculiaridades que apresentam:
16
Rochas e solos
• Forte deformação no centro da zona que grada para uma encaixante, pouco ou nada deformada.
• A espessura dessas faixas pode variar de alguns milímetros a centenas de metros.
• Geralmente apresentam aspecto anastomosado, com articulação de faixas, isolando lentes de
rocha preservadas, configurando um padrão amendoado.
• Possui foliação penetrativa marcante.
• Formação de porfiroclastos e estiramento de minerais, sobretudo o quartzo.
• Desenvolvimento de rochas da série milonítica (Tabela 4).
Tabela 4 - Nomes de campo para rochas associadas a falhas segundo a classificação da Série Milonítica
17
Rochas e solos
18
Rochas e solos
Estruturas Atectônicas
19
Rochas e solos
20
Rochas e solos
Geralmente são pouco espaçadas na superfície, com intervalos que podem chegar a poucos
centímetros, tornando-se mais espaçadas em profundidades, onde tendem a se horizontalizar e
tornarem-se indistinguíveis a algumas dezenas de metros. Esta persistência associada às aberturas
por elas produzidas, configuram importantes condicionantes geotécnicos. Massas graníticas e
gnáissicas aflorando em diferentes condições topográficas no Município, mostram bons exemplos
dessas estruturas de relaxamento.
Como são caminhos preferenciais de percolação de água em subsuperfície, a alteração intempérica
se desenvolve nas paredes das descontinuidades, produzindo uma alternância de rocha sã com rocha
alterada, isto é, de materiais com diferentes níveis de alteração. Alguns escorregamentos podem ser
acionados em encostas íngremes, em massas rochosas com estas características.
Em algumas vertentes verifica-se a ocorrência de lascas instáveis formadas por juntas de alívio,
como aquelas citadas por Silva (1995) em afloramentos de leptinito no flanco nordeste do Morro de
Dona Marta no bairro de Laranjeiras. A maior exposição à insolação dessa encosta, contribui, em
parte, a geração dessas estruturas.
Deve-se assinalar, que os problemas de instabilidade em rocha no Rio de Janeiro, são mais graves
em escarpas íngremes como a do Morro Dona Marta, devido a conjunção destes planos de alívio
com as superfícies de falhas, uma vez que esta combinação geométrica acaba por individualizar
lascas rochosas sujeitas a quedas de grandes alturas. O reconhecimento dessas condições
estruturais é da maior importância nos projetos de estabilização requisitados.
Silva (1995), ao avaliar a resistência ao cisalhamento de juntas de alívio em leptinitos do Rio de
Janeiro, estabelece um ângulo de atrito básico de aproximadamente 34º e o ângulo de rugosidade
variando de 3º a 9º para essas descontinuidades.
21
Rochas e solos
Dobras isoclinais fechadas, associadas a zonas de cisalhamento dúctil, são observadas com
freqüência nos domínios do Biotita Gnaisse e Gnaisse Facoidal no Arpoador, Urca e pontos da
Serra da Carioca. Uma importante megadobra recumbente também relacionada, ocorre na porção
Nordeste da Serra da Carioca e sua estrutura monitora praticamente a distribuição dos conjuntos
litológicos no Rio de Janeiro. Lineações de estiramento de feldspatos potássicos no Gnaisse
Facoidal são paralelas aos eixos dessas dobras.
Introdução
Solo é um produto do intemperismo físico e químico das rochas, escavável, e que perde sua
resistência quando em contato com a água. Avaliar e classificar os solos é poder prever seus
comportamentos mecânicos e hidráulicos através das descrições realizadas em cortes e ensaios.
A descrição dos solos é feita através de um perfil geotécnico. A Pedologia privilegia os estudos nos
níveis mais superiores do perfil do solo, onde ocorre intensa evolução pedogenética - horizontes A e
B -, especial atenção é dada ao conhecimento dos níveis inferiores, denominado solo saprolítico ou
de alteração pela Geologia de Engenharia.
4 - Geotécnica
Classificação Pedológica
De embasamento genético, apresenta uma série de divisões e subdivisões normalmente de
aplicabilidade limitada quanto as questões pertinentes à Geologia de Engenharia, sobretudo em
estudos de estabilidade das encostas. Sugere-se a classificação de Salomão e Antunes (1998), que é
abrangente e destaca as mais importantes características dos diferentes tipos de solo sob um
enfoque eminentemente pedológico
De um modo geral, nas montanhas do Rio de Janeiro ocorrem solos minerais não hidromórficos,
que se desenvolvem em zonas de oxidação do terreno, apresentando ótima drenagem e pouco
afetados pelo aquífero.
Incluem-se nesse grupo:
- Solos com horizonte B latossólico
- Solos com horizonte B textural (Podzólicos)
- Solos com horizonte B Câmbico ou incipiente
- Solos rasos ou litólicos, sem o horizonte B
Classificação Geológica
Em Geologia, solo é o manto de intemperismo ou regolito, que recobre as rochas, de espessura
variável, principalmente quando formado de material solto, incoerente, que, via de regra, passa
gradativamente para a rocha fresca, inalterada. Com essa base conceitual podem então ser
classificados:
- Solos Residuais ou Autóctones - derivados diretamente da rocha matriz pelo intemperismo. A
esse material residual in situ dá-se o nome de eluvião.
- Solos Transportados - são aqueles sobrejacentes a solos residuais mais antigos, decapitados por
processos erosivos de evolução das vertentes ou desenvolvidos sobre material alóctone, muitas
vezes de natureza coluvionar, que recobrem, como depósitos de rampa, os solos residuais
autóctones. Tais solos são frequentes nas vertentes do Sudeste e de difícil distinção dos
autóctonos subjacentes, principalmente quando evoluídos pedologicamente. Linhas de Pedras
(Stonelines), contínuas, horizontalizadas ou levemente inclinadas, servem, em alguns casos,
como marcadoras de contato entre eles e também entre distintas gerações de colúvios, pois
geneticamente estão, em grande parte associadas a antigas superfícies de erosão ou
paleosuperfícies. São consideradas também, em alguns casos, como um paleopavimento
detrítico.
- Colúvios - massas de solo e fragmentos de rochas em vários estágios de decomposição,
recobrindo algumas encostas, de espessura variável, que sofreram ou estão sofrendo
movimentação lenta, para baixo por ação da gravidade. São solos tidos como transportados e,
portanto, podem possuir constituintes mineralógicos e rochosos, estranhos a rocha subjacente.
Os colúvios apresentam estrutura porosa e geralmente com boa permeabilidade, o que não
impede seu frequente envolvimento em escorregamentos nas áreas montanhosas, muitas vezes
derivados da diminuição da coesão aparente em função do grau de saturação de água
subsuperficial.
- Tálus- depósito caótico e de grande heterogeneidade, encontrado principalmente no sopé das
escarpas (Figura 12), e originado por efeito da gravidade sobre fragmentos soltos de rocha e
material inconsolidado. Seu constituinte fragmentar é anguloso e não se observa acamamento
regular na massa detrítica. Tais depósitos apresentam mecanismos de instabilização próprios,
24
Rochas e solos
25
Rochas e solos
de granulometria. É uma classificação limitada, pois o comportamento dos solos não depende
apenas da granulometria. No entanto, oferece uma informação essencial para a descrição dos solos,
principalmente para solos grossos, que são as areias e os pedregulhos, e por isto ainda é muito
utilizada.
A escala granulométrica internacional recomendada pela ISSMFE (International Society of Soil
Mechanics and Foundation Engineering) e já amplamente utilizada no país é a seguinte: (Tabela 5)
Argila < 2µ m
Silte 2 a 60µm
Areia fina 60 a 200 µm
Areia média 200 a 600 µm
Areia grossa 600µm a 2mm
Pedregulhos >2 mm
Classificação Geotécnica
Aquelas em que são consideradas e quantificadas propriedades geotécnicas, que determinam os
parâmetros de engenharia. De acordo com Vargas (1985), os solos tropicais apresentam duas
porções com comportamentos geotécnicos distintos: A porção superficial com intensa evolução
pedogenética e estágio avançado de laterização, constituindo-se no solo laterítico e a porção
profunda que apresenta estruturas reliquiares da rocha e se constitui no solo saprolítico. Nestas
circunstâncias, faz-se necessária uma amostragem adequada no perfil de alteração estabelecido,
pois ensaios especiais normalmente são requisitados nas classificações geotécnicas convencionais.
Nas classificações geotécnicas convencionais são requisitados, ensaios de granulometria e limites
de Atterberg, de liquidez e de plasticidade, para classificar e determinar o estado dos solos.
Entre as classificações geotécnicas mais utilizadas no mundo, encontra-se o USCS (Unified Soil
Classification System), derivada da classificação de Casagrande (1948) em que os solos são
agrupados em 14 grupos, representados por duas letras, que indicam tamanho dos grãos e grau de
seleção.
Perfil do Solo
É a secção vertical que, partindo da superfície aprofunda-se até onde chega a ação do intemperismo,
mostrando, na maioria das vezes, uma série de camadas dispostas horizontalmente denominadas
horizontes. Pedologicamente, os horizontes são zonas do solo, aproximadamente paralelas, que
possuem propriedades resultantes dos efeitos combinados dos processos genéticos. As
características consideradas para a diferenciação dos horizontes, usualmente são: cor, textura,
estrutura, consistência, composição.
Na descrição de um perfil hipotético de solo, são usadas letras para discriminar os horizonts tais
como: O, A, B, C e R e respectivas subdivisões, segundo uma divisão eminentemente pedológica.
(Tabela 6)
26
Rochas e solos
Horizonte Descrição
rocha
Figura 13 - Perfil do solo: uma comparação entre as classificações pedológica e geotécnica (de Kertzman e Diniz,
modificado por Souza, 1992)
Perfis de Alteração
Definição e características
Entende-se como perfil de alteração ou de intemperismo, uma sequência de camadas com diferentes
propriedades físicas, que desenvolveram-se in situ e que estão sobre a rocha sã ou matriz.
27
Rochas e solos
20 IIB
1
III Rocha sã
30 4
40
50
Figura 14 – Características principais dos horizontes de um perfil de alteração de rochas ígneas e metamórficas
e respectivas soluções típicas para taludes de corte (Deere e Patton, 1971 apud Augusto Filho e Virgili, 1998)
28
Rochas e solos
29
Rochas e solos
Rocha sã (VII)
Figura 15 - Perfil de alteração típico de rochas metamórficas e graníticas em regiões de serra (Pastore e Fontes,
1998).
A espessura e propriedades dos perfis dependem da litologia da rocha matriz, das descontinuidades
presentes, da topografia, da condição climática e da hidrologia. Como estes fatores variam
horizontalmente, o perfil de alteração pode variar significativamente com relação as distâncias
horizontais relativamente curtas, dificultando a determinação de perfis característicos para distintos
tipos de rocha matriz, Figuras 16 e 17.
Figura 16 - Perfil de alteração em gnaisse com estruturas reliquiares, Rio das Pedras
30
Rochas e solos
Figura 17 - Perfil de alteração em gnaisse Archer com estruturas reliquiares e núcleos preservados, Rua
Gama Malcher
31
Rochas e solos
Nível de
Nível de alteração – Espessura
alteração Características principais
Lima ( 1995) (m)
correspondente
32
Rochas e solos
Nível de
Kinzigito Leptinito Gnaisse facoidal
alteração
Fraturas passando
gradualmente, com o
avanço do intemperismo,
Fraturas intragranulares mais
de intragranulares a
comuns, com fraturas trans e Apenas fraturas
Nível I intergranulares, localizadas
intergranulares subordinadas intragranulares seladas.
principalmente no contato
pouco oxidadas e abertas.
entre a matriz mais fina e
os facóides, paralelamente
à foliação.
Fraturas trans e intergranulares
Fraturas intragranulares
mais comuns com intergranulares
Nível II mais intergranulares,
subordinadas, oxidadas e pouco
paralelas à foliação.
abertas.
Intragranulares ainda mais
frequentes, podendo
originar fraturas
Fraturas trans e intergranulares
trasngranulares (locais).
mais comuns com intergranulares
Nível III Fraturas intergranulares
subordinadas, oxidadas e pouco
com maior abertura e
abertas.
persistência, paralelas à
foliação e no contato entre
os grãos.
Fraturas intra, inter e Predomínio de fraturas
Nível IV trasngranulares igualmente transgranulares que
presentes, bastante oxidadas. obliteram a foliação.
Fraturas inter e transgranulares
Nível V são as mais comuns, com Não foi identificado.
aberturas de até 2.0mm.
33
Rochas e solos
Tabela 11 – Parâmetros a seresm investigados para reconhecimento do grau de alteração intempérica da matriz.
Os níveis ou estágios de alteração intempérica da rocha matriz, podem ser identificados através da
aplicação do cadastro de teste da matriz, desenvolvido para os materiais de alteração do Rio de
Janeiro por Barroso (1993) e indicados na Tabela 12.
34
Rochas e solos
Tabela 12 – Cadastro de testes da matriz para o reconhecimento e classificação dos estágios de alteração
intempérica em rocha.
Tabela 13 – Principais mudanças mineralógicas ocorridas com os gnaisses da Série Superior com o avanço do
intemperismo. (Barroso et al, 1996)
35
Rochas e solos
Nível de
Gnaisse facoidal leptinito Kinzigito
alteração
Procedimentos gerais:
No campo: Distinção das caracterísicas reconhecidas dos materiais de transição resultantes do
intemperismo. Deve-se considerar a relação com a geomorfologia e a geologia estrutural.
No laboratório: Estabelecer as características mineralógicas através de determinações petrográficas
macro e microscópicas, identificar as propriedades físicas dos materiais coletados através de
diferentes ensaios, tais como, peso específico aparente e saturado, porosidade, grau de saturação,
teor de umidade de saturação e, análises de resistência e deformabilidade através de ensaios de
tração, de compressão puntiforme, de compressão uniaxial e de compressão triaxial.
36
Rochas e solos
Litologia
Diz respeito aos tipos de rochas que recebem denominações específicas e que são identificadas a
partir de um sistema de classificação.
As litologias são individualizadas através do reconhecimento da sua composição mineral, cor,
textura, tamanho dos grãos, estruturas e outras feições que permitam discriminá-las. Adota-se,
então, como critérios de classificação, o grupo genético, estruturas principais, textura, granulação e
mineralogia.
Considerando-se as litologias comuns nas encostas do Rio de Janeiro, indicadas e descritas no item
2.2 deste Manual, são apresentados a seguir, alguns parâmetros normalmente requisitados para
caracterizá-las.
Cor
Apesar de ser um parâmetro subjetivo e, muitas vezes variável num mesmo tipo de rocha, é
característico para um determinado corpo rochoso, servindo para qualificá-lo, em conjunto com os
demais aspectos macroscópicos de rochas ou amostra de mão (Frascá e Sartori, 1998).
Com um espécime fresco, torna-se possível uma subdivisão grosseira com base na cor. Rochas
ricas em sílica, como os granitos, usualmente contém considerável proporção de minerais claros,
como o quartzo e o feldspato. Rochas ricas em ferro e magnésio, como os diabásios, gabros e
dioritos, tendem a conter minerais escuros, como o piroxênio, o anfibólio e a biotita. Com base na
quantidade de cor versus o branco (ou claro), um índice de cor pode ser estabelecido que leva a um
caminho aproximado para a determinação da composição.
Assim, uma rocha que contém menos de 30% de minerais ferro-magnesianos (escuros ou máficos)
é considerada clara e pode ser denominada de Leucocrática. Entre 30% e 60% de ferro-
magnesianos, é denominada Mesocrática, e acima de 60% de Melanocrática. É comum as rochas
serem apenas consideradas félsicas (p.ex.: granito) ou máficas (p.ex.: gabro).
Tal índice é geralmente utilizado para rochas ígneas plutônicas e os principais minerais ferro-
magnesianos presentes são piroxênios, anfibólios e biotitas. Também pode-se utilizar para definir a
cor da rocha a tabela de cores para rochas publicada pela Geological Society of America (Rock-
Color Chart Comunittee, 1963).
37
Rochas e solos
Textura
Refere-se em geral a aparência física ou aos caracteres da rocha, incluindo aspecos geométricos e
relações mútuas entre eles, particularmente os componentes ou cristais por exemplo: cristalinidade,
granularidade ou então o grau de desenvolvimento dos cristais na rocha. O termo normalmente é
aplicado para pequenas feições, visíveis em amostras de mão ou com auxílio do microscópio.
Estrutura
É uma feição megascópica de uma massa rochosa ou unidade rochosa, geralmente observada em
cortes, pedreiras e grandes exposições. Pode representar uma descontinuidade, um acamamento ou
um bandeamento. A estrutura indica de certa forma como a rocha é organizada ou feita pelas suas
partes componentes. Não obstante os dois termos são frequentemente usados permutativamente.
Trama ou Fabric
É a soma das feições texturais e estruturais da rocha ou massa rochosa. O termo incorpora a noção
de função ou comportamento das propriedades físicas correlatas, bem como a forma e a disposição
espacial dos componentes estruturais e texturais. Um domínio de trama é uma área ou volume
tridimensional, definida por limites, tais como, descontinuidades estruturais ou composicionais,
dentro do qual a trama da rocha é uniforme. De um modo geral a trama ou fabric refere-se
especificamente ao arranjo dos grãos ou cristais constituintes da rocha, sendo a orientação
preferencial destes constituintes, o mais evidente aspecto do fabric da rocha.
Texturas Ígneas
Cristalinidade ou Grau de cristalização: É a proporção relativa de vidro e cristais.
- Tamanho dos cristais: fanerítica, quando os cristais são visíveis a olho nú e afanítica quando não
são visíveis a olho nú.
- Granularidade ou tamanho dos Grãos:
• grão fino: < 1 mm
• grão médio: 1 - 5mm
• grão grosso: 5 mm - 5 cm
Excepcionalmente se utiliza o termo muito grosso com grãos entre 5 cm e 20 cm . Acima disto diz-
se que a textura é pegmatítica.
Quando referente ao tamanho relativo dos grãos:
• Equigranular - quando todos os cristais teem aproximadamente o mesmo tamanho.
• Inequigranular: quando os cristais diferem substancialmente em tamanho.
Quando um cristal se destaca em tamanho com relação aos demais o denominamos fenocristal.
Com relação a forma, os cristais se didivem em idiomórficos ou euédricos, hipidiomórficos ou
subeuédricos e xenomorfos ou alotriomorfos ou anhedral, isto é, completamente limitados por faces
cristalinas, parcialmente limitados por faces cristalinas e desprovidos de faces cristalinas
respectivamente.
Padrão textural de rocha ígneas plutônicas
- Panidiomórfica: quando a grande maioria dos cristais são idiomórficos (mais de 90%). Podem ser
equigranular ou inequigranular.
38
Rochas e solos
1. Resistência
Refere-se ao grau de resistência da matriz rochosa entre descontinuidades. De certa forma pode ser
confundido com o grau de coerência normalmente aplicado em rochas sedimentares inexistentes nas
encostas do Rio de Janeiro.
De acordo com Guidicini e Nieble (1984), o ensaio de compressão puntiforme define a resistência
da matriz rochosa através de teste expedito, realizável no campo com um equipamento portátil, em
fragmentos rochosos irregulares, ou testemunhos de sondagens. Uma vez obtida a resistência da
rocha, esta é classificada segundo determinadas convenções, como a adotada abaixo, que divide o
campo de resistência à compressão uniaxial em seis faixas:
39
Rochas e solos
Observando-se tal classificação, infere-se, a grosso modo, que as rochas das encostas do Município
do Rio de Janeiro apresentam-se, quando não tectonizadas ou intemperizadas como resistentes ou
muito resistentes.
2. Alteração
A alteração da rocha, particularmente a derivada da ação dos processos intempéricos é da maior
importância na caracterização da massa rochosa. A decomposição do material rochoso favorece a
diminuição da resistência mecânica, favorece o aumento da deformabilidade e modifica as
propriedades de permoporosidade das rochas, isto é, há perda das características geomecânicas dos
materiais rochosos.
Como a alteração é o conjunto de modificações físico-químicas a que as rochas se encontram
submetidas, a consequência do fenômeno é a degradação de suas características mecânicas. Assim,
para o mesmo tipo litológico, a rocha mostra-se menos resistente e mais deformável, quanto, mais
avançada a alteração, o que permite reconhecer estágios ou graus de intensidade da manifestação do
processo. A caracterização do estado de alteração do meio rochoso é feita tatil-visualmente, com
base em variações do brilho e cor dos minerais e da rocha, além da friabilidade.
3. Descontinuidades
O estudo das descontinuidades é da maior importância na caracterização das massas rochosas, pois
condicionam significativamente a resistência, a deformabilidade e a permeabilidade do meio
rochoso, podendo, inclusive, controlar sua estabilidade.
Uma descontinuidade é qualquer feição geológica que interrompa a continuidade física de uma
dado meio rochoso. É um termo que coletivamente inclui juntas, fissuras, falhas, planos de
cisalhamento, xistosidade, planos de acamamento, etc. Devem ser descritas cuidadosamente e com
precisão pois controlam o comportamento geotécnico da maioria das massas rochosas.
Parâmetros a serem considerados: localização e orientação, espaçamento, persistência, rugosidade,
abertura, preenchimento e escoamento de água.
Guidicini e Nieble (1984), em alusão ao estudo da compartimentação da massa rochosa, propõem
distinguir três grandes grupos de descontinuidades, não em função de sua gênese, mas em função de
sua geometria, ou distribuição espacial, dentro do maciço. São eles:
- Compartimentação principal, constituída pelas famílias, jogos e sistemas de juntas; ou seja,
estruturas apresentando sensivelmente a mesma orientação, inclinação e intensidade de ocorrência;
são descontinuidades de segunda grandeza, tendo, em geral, extensão limitada. Isso significa que,
em um sistema desse tipo, eventuais rupturas poderão envolver trechos do maciço isentos de
descontinuidades, mobilizando a resistência da própria rocha intacta.
- Estruturas individuais significativas, representadas por falhas, juntas de alívio, planos de
acamamento, ou seja, por estruturas de relevante continuidade, capazes de controlar, por si só, o
comportamento de um talude.
40
Rochas e solos
Grau de Fraturamento:
É geralmente determinado por simples contagem de fraturas ao longo de uma direção, utilizando-se
normalmente o número de fraturas por metro. Convém não considerar aquelas descontinuidades
soldadas por materiais altamente coesivos. Recomenda-se a adoção da escala normalmente
utilizada nos trabalhos do IPT de São Paulo.
41
Rochas e solos
Persistência ou continuidade:
Refere-se a extensão areal ou tamanho da descontinuidade num plano. A dificuldade é constatar
sua persistência para dentro do maciço rochoso, já que para tal determinação, requisita-se uma visão
tridimensional. Praticamente este parâmetro só pode ser avaliado verificando-se a extensão do
traço do plano da fratura na superfície exposta. Se considera importante sua determinação em
alguns projetos de engenharia face a sua influência na resistência ao cisalhamento dos maciços
rochosos.
Entretanto, a experiência geológica permite deduzir que tratando-se de conjuntos de fraturas de
origem tectônica, sua persistência deve ser grande no maciço rochoso. Considera-se como de
grande persistência se sua extensão é superior a dezenas de metros e pequena, quando sua extensão
não exceder a 3 m. A Tabela 17 apresenta classes de persistência indicadas por Bieniawski (1989).
Classificação Comprimento
Muito curta L<1m
Curta 1≤L<3m
Moderada 3 ≤ L < 10 m
Longa 10 ≤ L < 20 m
Muito longa L > 200 m
Rugosidade ou irregularidades:
Corresponde a ondulações e as asperezas nas superfícies das descontinuidades, quando se procura
avaliar sua importância na resistência ao cisalhamento.
A rugosidade de uma descontinuidade é produzida por ondulações que é uma irregularidade de
primeira ordem e as asperezas, também rugosidade sensu lato, de segunda ordem. Caso se verifique
a presença de estrias e polimento na superfície da descontinuidade, evidenciando movimentações,
tal plano é um “slickensided” ou espelho de falha, que também apresenta ondulações e rugosidades.
Piteau (1970) propõe que as ondulações sejam registradas em função de sua amplitude e
comprimento e que para as rugosidades se utilize uma escala de classificação que vai da categoria 1
- superfície estriada e polida, a categoria 5 - superfície muito irregular.
Convém assinalar que a escala de observação e medição das ondulações é métrica e das rugosidades
milimétrica, sendo estas últimas classificadas através do ângulo formado pela irregularidade com a
horizontal. Também pode ser classificada pelo seu perfil geométrico como o apresentado por
Barton et al (1974).
Abertura:
É a distância perpendicular entre as paredes de uma descontinuidade aberta, onde o espaço
intermediário está preenchido por ar ou água. A abertura é causada por inúmeros fatores, tais como
lavagem do material de preenchimento e/ou dissolução, e a descrição do tamanho da abertura é
importante porque ela influencia na resistência ao cisalhamento e na condutividade hidráulica da
42
Rochas e solos
descontinuidade. O tamanho da abertura pode variar de 0, tida como fechada a mais de 200 mm,
considerada muito larga. A Tabela 18 apresenta classes de abertura de descontinuidades indicadas
por Bieniawski (1989).
Classificação Abertura
Fechada
Pequena A < 2 mm
Moderada 2 ≤ A ≤ 20 mm
Larga 20 ≤ A < 100 mm
Muito larga A > 100 mm
Preenchimento:
É o material diferente entre as paredes da descontinuidade que pode ter sido transportado para
dentro da descontinuidade ou ter sido formado in situ, como por exemplo ter sido formado pela
ação de intensa decomposição ao longo da junta. Normalmente são menos resistentes que a rocha
matriz. A Tabela 19 apresenta classes de preenchimento indicadas por Bieniawski (1989).
Preenchimento Espessura
Nenhum
Preenchimento duro < 5 mm espessura
Preenchimento duro ≥ 5 mm espessura
Preenchimento mole < 5 mm espessura
Preenchimento mole ≥ 5 mm espessura
Preenchimentos típicos são formados por material caulinizado, argilas, limonita, calcita, sílica e no
caso da fratura ser uma falha , a presença de gouge ou brecha de falha pode ser assinalada. A
Tabela 19 apresenta tipos de superfície e preenchimentos proposto pelo IPT (1984).
Surgência de água:
Sua presença ao longo da descontinuidade é frequentemente de grande importância nas avaliações
geotécnicas da massa rochosa e merece uma cuidadosa avaliação na respectiva descrição. A
quantidade de água percolando a descontinuidade pode ser sazonal o que implica diversas
observações durante um período de tempo, normalmente considerando as estações úmidas e secas.
43
Rochas e solos
1 Seca
2 Úmida
3 Molhada
4 Gotejante
5 Fluindo
Caracterização Petrográfica
Executada em laboratório através da descrição macro e microscópia em seções delgadas, ensaios
granulométricos e análises químicas.
As análises petrográficas, identificam as litologias, caracterizam a mineralogia, texturas e
estruturas e, concomitantemente a microfissuração que exerce grande influência no comportamento
mecânico nos materiais rochosos e suas propriedades. Procedimentos concernentes são indicados
na NBR 7389 e na NBR 7390.
Propriedades Índices
Compreendem basicamente o teor de umidade, a porosidade, a massa específica, a absorção d’água,
a expansão e o desgaste a úmido. A caracterização destas propriedades é feita essencialmente
através de ensaios em laboratório. Os procedimentos para execução e análises referentes são
detalhados em Brown (1981).
Propriedades Mecânicas
São aquelas que interessam ao estudo da resistência ao cisalhamento, a deformabilidade e as
tensões naturais. São determinadas através de ensaios in situ, em furos de sondagens e em
laboratório. São os seguintes os principais ensaios (Tabela 22):
Tabela 22 - Ensaios
Ensaio Descrição
Ensaios de compressão puntiforme Fornecem um índice de resistência, correlacionável a
compressão uniaxial
Ensaios de compressão uniaxial Fornecem a resistência a ruptura, o coeficiente de Poisson e o
módulo de deformabilidade
Ensaios de compressão triaxial Fornecem a resistência e a deformabilidade sob determinada
pressão de confinamento, bem como a resistência ao
cisalhamento
Ensaios de cisalhamento in situ ou em Fornecem a resistência ao cisalhamento, principalmente de
laboratório descontinuidades
Ensaios de deformabilidade, in situ, Fornecem o módulo de deformabilidade e características de
através de dilatômetro, macacos fluência
planos, etc
Propriedades Hidráulicas
Nos maciços rochosos as descontinuidades mostram-se determinantes, no condicionamento do
fluxo d’água e permeabilidade do meio. A condutividfade hidráulia ou permeabilidade das massas
rochosas pode ser determinada através de ensaios de perda d’água sob pressão.
44
Rochas e solos
Retroanálise
Muito utilizada nos estudos de estabilidade de taludes, compreendendo, o estudo das condições em
que se deu determinada ruptura.
Classificações Geomecânicas
Apesar de existirem inúmeras classificações na bibliografia especializada, atualmente apenas as
classificações de Barton et al (1974), denominada Sistema Q e a de Bieniawski (1974, 1984),
denominada de Sistema RMR (Rock Mass Rating), originalmente empregadas em projetos de
túneis, são habitualmente utilizadas.
- Sistema RMR
A Classificação Geomecânica de Bieniawski, fornece uma avaliação geral da massa rochosa
(RMR), crescendo progressivametne com os atributos do maciço rochoso de 0 a 100. Ela está
baseada em cinco parâmetros universais: Resistência da rocha, RQD (Rock Quality Designation),
condições da água de subsuperfície, espaçamento entre as descontinuidades, características das
descontinuidades e, orientação das descontinuidades. Incrementos na avaliação da massa rochosa,
correspondentes a cada parâmetro, são somados para a determinação do RMR.
O parâmetro RQD, introduzido por Deere et al (1967), indica a qualidade do meio rochoso, a partir
das condições de um testemunho de sondagem rotativa, sendo obtido através da expressão:
RQD = (∑ p / n) × 100
onde:
p = o comprimento das peças da rocha sã superior a 10 cm.
n = a extensão total da manobra de perfuração num determinado trecho.
Este critério é aplicado em testemunho de sondagem rotativa, com barriletes duplo-livres e de
diâmetro mínimo NW (55 mm), e somente para rocha dura ou medianamente dura. Dessa forma, o
índice RQD é condicionado pelo espaçamento das descontinuidades e pela presença de rocha
alterada. Quando esta não existe, há uma relação estreita entre RQD e grau de fraturamento. No
Brasil, às vezes se utiliza o IQR (Índice de Qualidade da Rocha), basicamente com os mesmos
critérios do RQD, porém, ao invés da manobra, considera trechos em que o espaçamento das
descontinuidades é homogêneo, e o comprimento mínimo é de 0,5 m.
Segundo Bieniawski (1989), o sistema RMR, tem, entre outros, os seguintes objetivos:
- Caracterizar os parâmetros condicionantes do comportamento dos maciços rochosos;
- Compartimentar determinada formação rochosa em classes de maciço com atributos distintos;
- Fornecer parâmetros para o entendimento das características de cada classe de maciço;
- Fornecer dados quantitativos para o projeto geomecânico.
- Sistema Q
Introduzido por Barton et al. (1974), também chamado de Sistema NGI (Norwegian Geotechnical
Institute), combina seis parâmetros numa função multiaplicativa:
Q = ( RQD / J n ) × ( J r × J a ) × ( J w / SRF )
onde:
Jn = relaciona-se com o no de famílias de descontinuidades.
Jr = relaciona-se com a rugosidade das mais importantes descontinuidades.
45
Rochas e solos
Ja = relaciona-se com a condição de alteração das paredes das descontinuidades e/ou seu
preenchimento.
Jw = relaciona-se com a influência da ação da água subterrânea.
SRF = índice de influência do estado de tensões no maciço no entorno da cavidade (Stress
Reduction Factor)
Valores numéricos são determinados para cada parâmetro do sistema Q, segundo a descrição
detalhada encontrada no artigo de Barton et al. (1974), bem como as classes qualitativas de massas
rochosas segundo o valor total de Q.
O sistema Q e o sistema RMR, incluem alguns parâmetros distintos e por isso não podem ser
estritamente correlacionados.
Maiores informações sobre essas classificações geomecânicas, além das publicações dos autores,
recomenda-se o artigo de Serra Jr. e Ojima (1998) e o livro-texto “Introduction to Rock
Mechanics”, de Richard Goodman (1989).
Símbolos geológicos
Recomenda-se os símbolos listados na tabela para as principais litologias comumente encontrados
no Município do Rio de Janeiro. Os símbolos estão baseados nos apresentados pela Geological
Society (1972) com algumas alterações. (Figura 18a,18b e 19)
46
Rochas e solos
50
? ? ? ? 40
Dobras
30 35 ? ?
?? ??
20 25
20 30 (a) (b) (a) (b) (a) (b)
(a) (b)
Anticlinal com linha Sinclinal com Anticlinal invertido Sinclinal invertido, com
Eixos aproximados: Eixos inferidos: Eixos encobertos: Eixos supostos:
de crista e seu linha de crista e com traço da superfície traço da superfície axial Anticlinal pequeno Sinclinal pequeno Eixos
(a) anticlinal
caimento seu caimento axial,mergulho dos mergulho dos flancos e mostrando caimento mostrando caimento (a) anticlinal (a) anticlinal (a) anticlinal horizontais
flancos e caimento (b) sinclinal (b) sinclinal (b) sinclinal (b) sinclinal
caimento
Dobras
30 35
20 20 30
Anticlinal com linha Sinclinal com Anticlinal invertido Sinclinal invertido, com Anticlinal pequeno
de crista e seu linha de crista e com traço da superfície traço da superfície axial mostrando caimento
caimento seu caimento axial,mergulho dos mergulho dos flancos e
flancos e caimento caimento
A
? ?
e
20
B B 60
55
(a) (b)
47
Rochas e solos
Juntas
70
35
30
γ σ τ λ y α ε β π θ δ
Intrusivas Intrusivas Intrusivas Intrusivas Intrusivas Extrusivas Extrusivas Extrusivas Extrusivas
Vulcânicas Metavulcânicas
ácidas intermediárias básicas alcalinas ultrabásicas ácidas intermediárias básicas alcalinas
Representação de diques
db
db db
Falha normal Falha vertical Falha inversa Supra-cavalgamento Infra-cavalgamento Klippe Janela estrutural
("overthrust") ("underthrust") ( "Fenster")
48
Rochas e solos
+10
33 aterro
+5 solo residual
30
de gnaisse SMV-12 SP-47 SMV-14 SPV-30
SPV-29
gnaisse 4.3 m 3.27 m 3.232 m 2.951 m
28
2.837 m
rocha alterado
18 Aterro
A-2 Areia siltosa c/
22 fragmentos de rocha
57
43 5.60 m
0 60 Areia fina-média
41
pouco argilosa
69
36 cinza
areia fina c/
64
33 gnaisse fragmentos
de conchas
40 extremamente alterado A-4 cinza
26
solo residual
59
36 de gnaisse areia fina c/
fragmentos
-5 59 de conchas
39 cinza
49
21
52
23
69
35
48
29
-10 48 areia fina argilosa c/
22 fragmentos
de conchas
49
18 cinza
30
05
30
07
30
06
-15
22.50 m
18.45 m
-20 22.02 m
23.05 m 21.50 m
20.95 m
49
Rochas e solos
50
Movimentos de massa
3. MOVIMENTOS DE MASSA
H Penha
3.1. Introdução
Movimentos de massa têm importância como agentes atuantes na evolução das
encostas, e pelas implicações econômico-sociais resultantes dos processos de risco.
Este capítulo tem como objetivo apresentar conceitos, abordagens e metodologias
referentes a avaliação desses fenômenos geológicos, considerando-se o cenário
ambiental do Rio de Janeiro.
3.2. Classificação
São inúmeros os sistemas classificatórios de movimentos gravitacionais de
massa, sendo os mais recentes baseados nos seguintes critérios: (Augusto-Filho
(1995) e Augusto-Filho e Virgili (1998)
a) Cinética do movimento - definida pela relação entre a massa em
movimentação e o terreno estável (velocidade, direção e seqüência dos
deslocamentos).
b) Tipo do material - solo, rocha, detritos, depósitos, etc..., destacando a sua
estrutura, textura e conteúdo de água.
c) Geometria - tamanho e forma das massas mobilizadas..
d) Modalidade de deformação do movimento.
Entre os trabalhos que tratam de forma completa a evolução, os critérios, as
restrições e outros aspectos importantes dos sistemas classificatórios, destacam-se os
de Varnes (1958, 1978), Hutchinson (1968), Guidicini e Nieble (1974), Turner e
Sehuster (1996). A classificação proposta por Varnes (1978) é a mais utilizada
internacionalmente, sendo adotada pela IAEG (International Association for
Engineering Geology and the Environment) (Tabela 1 e Tabela 2).
1
Movimentos de massa
Tipo de material
Tipo de movimento Solo (engenharia)
Rocha
Grosseiro Fino
Quedas de rocha de detritos de terra
Tombamentos de rocha de detritos de terra
Abatimento e Abatimento de Abatimento de
rocha Detritos Terra
Rotacional Poucas unidades
Escorregamentos de blocos de Blocos de de Blocos de
rochosos Detritos Terra
Translacional Muitas unidades de rocha de Detritos de Terra
Expansões laterais de rocha de detritos de terra
de rocha (rastejo de detritos de terra
Corridas/escoamentos
profundo) (Rastejo de solo)
Complexos: combinação de 2 ou mais dos principais tipos de movimentos
2
Movimentos de massa
Queda
maciço
rochoso
Tombamento
Escorregamento
planar
erosão/ escorregamento
Rolamento de matacões
Escorregamento circular
Escorregamento
crista em cunha
pé ou base
3
Movimentos de massa
• Rocha
• Solo Residual
• Tálus/Colúvios
• Lixo
• Massa de detritos, uma combinação de materiais de diferentes granulometria e
gênese variada.
Em tálus
Escorregamentos causados por grandes variações de pressão da água infiltrada, nos
períodos de alta pluviometria, provocadas por formas diversas de infiltração e ação no
contato impermeável com a rocha ou com o solo residual. Exemplos:
4
Movimentos de massa
Em solo Residual
As instabilidades mostram, com freqüência, estreita correlação com as características
mineralógicas, texturais, estruturais e de espessura do horizonte C (solo residual
jovem). O dos gnaisses facoidais ou semifacoidais, leptinitos e granitos, de texturas
grosseiras, areno-argilosos, pouco micáceos e homogêneos, são os mais estáveis. Em
razão das descontinuidades remanescentes da rocha matriz, principalmente
xistosidades e heterogeneidades litológicas, os solos residuais jovens dos migmatitos e
dos biotita gnaisses são mais falíveis à instabilidade, via de regra deflagrada por
processos erosivos superficiais ou em subsuperfície que levam ao solapamento do
terreno. São ainda casos de macro descontinuidades em solo, entre os mais freqüente.
• solo coluvial (solo residual maduro - horizonte B) em passagem brusca para o solo
residual jovem (horizonte C).
• solo coluvial assentado diretamente sobre rocha.
• solo litólico (horizonte A) assentado diretamente sobre rocha.
Exemplos: são os casos mais freqüentes e de mais larga distribuição no Grande Rio,
principalmente em estradas (por má drenagem) e em favelas (cuja causa maior é uma
sucessão, encosta acima, de cortes e aterros, não drenados, para construção de platôs
onde se instalam os casebres).
Em Solo + Rocha
É também comum, está geralmente associado a uma cobertura de solo coluvial
assentado diretamente sobre camada de rocha fraturada e decomposta, individualizada
por junta de alívio de tensões. O contato entre a camada de rocha superior com a
rocha sotoposta, bem menos alterada ou quase sã, faz-se segundo superfície
praticamente contínua e impermeável que acompanha a forma do maciço. Nos
períodos de altas precipitações, as pressões da água infiltrada acabam por instabilizar
todo o pacote acima da rocha sã ou pouco alterada. Exemplos:
• No Maciço da Tijuca: Estrada da Vista Chinesa (1988); em Petrópolis: Alto da
Serra - Rua Lopes Trovão (1988).
Em blocos in situ
Os blocos representam remanescentes não diaclasados, quase inalterados, de setores
diaclasados de maciços rochosos, constituídos por rochas praticamente isotrópicas ou
núcleos graníticos, anteriormente envolvidos por litologias de alterabilidade bem
maior, muito comuns nos migmatitos heterogêneos do Grande Rio. São blocos
arredondados facilmente instabilizados pelos processos erosivos. Exemplos: muito
comuns no Maciço da Pedra Branca, na Estrada Grajaú-Jacarepaguá e em maciços e
serras isolados da Zona Norte do Rio de Janeiro.
5
Movimentos de massa
Depósitos de Lixo
É praxe o lançamento de lixo e entulho nas encostas, em geral pelas comunidades
carentes e por transportadores autônomos que despejam entulhos de obras de
demolição ao longo de ruas e estrada à meia encosta. O lixo passa a ser então um
componente, instável, da encosta. Exemplos: Favela do Morro Pavãozinho (1983) e
Favela do Morro Santa Marta (1988).
Para o município do Rio de Janeiro, Amaral (1996), apresenta os principais tipos de
escorregamentos :
A- Queda de Lascas ou Blocos de Rocha ou Solo Residual: Estes movimentos
envolvem a separação de uma massa rochosa sã a pouco alterada ou placa de solo
residual, ao longo de uma superfície por efeito da gravidade. Ex.: Vidigal, 1993,
Figura 2
Figura 2 - Queda de blocos e lascas – Encosta doVidigal, 1993 (foto Geo Rio)
6
Movimentos de massa
Figura 3 - Deslizamento de solo residual - São Conrado, 1996 (foto Geo Rio)
Figura 4 - Corridas de Solo Residual e lixo - Pavão-Pavãozinho, 1983 (foto Geo Rio)
7
Movimentos de massa
Figura 5 - Deslizamentos e corrida de detritos - Quitite, Jacarepaguá – 1996 (foto Geo Rio)
8
Movimentos de massa
A distinção entre corridas e deslizamentos nem sempre é fácil, por vezes a origem de
uma corrida é representada por um típico deslizamento, o que pode indicar que toda
corrida é na verdade um movimento complexo.
As corridas do Inventário do Rio de Janeiro, (Amaral, 1996) estão associadas
unicamente à concentração excessiva do fluxo superficial em algum ponto ou seção
de encosta e deflagração de um processo de fluxo contínuo de material terroso.
Considera-se que os escorregamentos no Rio de Janeiro envolvem materiais
extremamente heterogêneos, incluindo solos residuais com estruturas reliquiares,
blocos rochosos in situ integrantes de formações residuais e coluviais, depósitos de
encostas cuja diferenciação dos solos residuais é complexa e depósitos de lixo
misturados a aterros e a materiais naturais.
Perfis esquemáticos de alguns dos principais tipos de escorregamentos no Rio de
Janeiro (Figuras 7, 8, 9, 10 e 11) e condicionantes relacionadas, com base no trabalho
de Amaral (1996):
solo residual
300
? rocha sã
350
? juntas verticais
150.00m
?
300
?
juntas de alívio colúvio com blocos
?
Rua Capuri
?
bloco
?
?
9
Movimentos de massa
mirante
solo residual
fraturas de alívio
obra de contenção
?
?
solo residual
?
depósito de blocos
tirante
favela
rocha sã
Alívio
Fenda de tração
(rocha alterada)
4600 m3
Fratura de alívio
(superfície irregular)
Rocha sã
65 0
SW
10
Movimentos de massa
Granito favela
Contato litológico
dique de
Estrada Grajaú - Jacarepaguá granito
gnaisses encaixantes
S N
brecha silicificada
"curativo"de tirantes
11
Movimentos de massa
12
Movimentos de massa
Agentes Causas
Efetivos
Predisponentes Internas Externas Intermediárias
Preparatórios Imediatos
Pluviosidade,
Elevação do nível
erosão pela água e
piezométrico em
Complexo vento,
Chuvas massas
geológico, congelamento e Mudanças na
intensas, Efeito das “homog6eneas”,
complexo degelo, variação geometria do
fusão do gelo oscilações elevação da coluna de
morfológico, da temperatura, sistema, efeitos
e neves, térmicas, água em
complexo dissolução de vibrações,
erosão, redução dos descontinuidades,
climato- química, ação de mudanças
terremoto, par6ametros de rebaixamento rápido do
hidrológico, fontes e naturais na
ondas, vento, resist6encia por lençol freático. Erosão
gravidade, calor mananciais, inclinação das
ação do intemperismo. subterrânea
solar, tipo de oscilação do camadas.
homem. retrogressiva (piping),
vegetação. freático, ação de
diminuição do efeito de
animais e
coesão aparente.
antrópica.
13
Movimentos de massa
Elementos significativos
Guidicini e Niebli (1984) com base na sistemática de Penta (1963) apresentam uma
série de características de interesse na descrição de um movimento de massa. São as
seguintes:
Características geométricas e morfológicas - Extensão do movimento, dimensões de
escorregamento, inclinação da superfície externa, profundidade atingida pelo
fenômeno, direção da movimentação, volume, forma, aspecto exterior, forma de
manifestação (abatimento, deformação plástica, colapso, assentamento, abaixamento,
despreendimento).
15
Movimentos de massa
Descrição das partes típicas Raiz ou região de destaque, extensão de movimentação, base ou
zona de deposição.
1. Estilo do escorregamento
Tabela 6 - Estilo do escorregamento
Tipo Descrição
Complexo Exibe pelo menos dois tipos de movimentos (queda, escorregamento fluxo) em sequência.
Composto Exibe pelo menos dois tipos de movimentos simultâneos em diferentes partes da massa deslocada.
Sucessivo É do mesmo tipo de um escorregamento anterior vizinho, mas não compartilha o material deslocado
ou superfície de rutura com ele.
Simples É um simples movimento de material deslocado.
Múltiplo Apresenta repetidos desenvolvimentos no mesmo tipo de movimento.
16
Movimentos de massa
Classificação Velocidade
Estado de
Descrição
atividade
Conhecimento Geológico
É o requisito essencial para a formação de um conceito perspicaz sobre os processos
que podem levar ao colapso da encosta.
Caracterização Geológico-Geotécnica
É necessária para as medidas emergenciais e corretivas, tendo como objetivos a
identificação dos agentes, causas e condicionantes atuantes no processo de
instabilização existente ou potencial através da obtenção de dados de superfície e de
subsuperfície. Por meio desta caracterização, são determinados parâmetros
qualitativos e quantitativos das unidades geológicas presentes na área de estudo em
diferentes níveis ou escala de abordagem como o preconizado por Augusto-Filho
(1995).
Objetivos
• determinação das características do processo de instabilização de uma encosta ou
talude, através da identificação dos seus agentes/causas; geometria; do mecanismo
de movimentação; da natureza e estado do material mobilizado e seu
comportamento no tempo, estabelecimento do modelo fenomenológico;
17
Movimentos de massa
18
Movimentos de massa
19
Movimentos de massa
20
Movimentos de massa
⇒ Levantamento Geológico/Geotécnico
⇒ . Levantamento topográfico
⇒ . Levantamento fotogramétrico
As investigações de subsuperfície são realizadas através de:
a) Métodos Diretos
⇒ . Poços, trincheiras, cachimbos
⇒ . Sondagem a trado
⇒ . Sondagem a percursão
⇒ . Sondagem rotativa
b) Métodos Indiretos
⇒ . Por geofísica - sísmicos, geoelétricos e Radar de Penetração no Solo (GPR)
⇒ . Por Sensoriamento Remoto
21
Movimentos de massa
22
Movimentos de massa
23
Movimentos de massa
R o risco de deslizamento,
P a possibilidade de ocorrência do fenômeno,
C as consequências do acidente.
Esta equação é a base da hierarquização do risco.
Pontos de alto risco - são aqueles em que o risco é evidente e eminente, abrangendo
um grande número de casas, e/ou área fonte de risco, mas que, em geral, pode ser
eliminado na maior parte dos casos com obras de contenção.
Pontos de baixo risco - o risco é reduzido ou inexistente. Nestes locais, em geral, a
ocupação é razoavelmente ordenada e/ou as características geológico-geotécnicas
favoráveis ou já realizada obra de contenção que resolveu a situação de risco anterior
existentes.
Deve-se diferenciar o significado de pontos de risco e de áreas de risco como o
proposto por Amaral e D’Orsi (1992), bem como entre cadastramento e zoneamento
de risco, proposto por Cerri et al (1992).
Pontos de risco - são situações pontuais, nas quais devem ser empregadas soluções
específicas e localizadas, representando um nível de detalhe maior, indicando as
situações de risco, moradia por moradia (cadastro de risco). Esses pontos são
discriminados no mapa de pontos.
Áreas de risco - englobam porções da encosta, com formas e tamanhos irregulares,
com características geológico-geotécnicas ocupacionais próprias, com maior ou
menor risco de escorregamentos, aqui envolvidas as áreas planas que podem ser
atingidas pelo material movimentado. As áreas delimitadas através do zoneamento de
risco, envolvem várias moradias e podem ou não conter pontos de risco de graus
diferentes.
Exemplos de cartas de risco elaboradas pela Geo Rio no Município do Rio de Janeiro:
(Figuras 13 e 14).
24
Movimentos de massa
~
~
O
10
pequeno e localizado potencial de
IIMO acidentes, em geral associados' a
140
U
A
INO
L
+ 120
150
pequenos cortes e depósitos de
O
L + Gr +
70
+
~
~
~
~ Gn ~~ IIIP 160
lixo/ entulho
~
~ + Gr
+ +
170 Áreas densamente ocupadas com
pequeno e localizado potencial de
+ 180
L
+
190 IU
+
Gr
200 deslizamentos de solo, em geral,
associados a pequenos cortes/aterros
+ +
IIIP +
+
INO 210
Área não ocupada com declividade
IIDO
+ Gr +
+
P +
Gr +
200
elevada, constituindo área-fonte de
Gr
blocos sujeitos a movimentação
IIIP
190
+
Gr
+
P
Áreas esparsamente ocupadas com
II EO
+ L
+
Gr
190 características (declividade e hidrologia)
IIEO
CA L
desfavoráveis a ocupação
+
+
Gr + 180
+ + B
MEDIO
+
+
L
170
Áreas medianamente ocupadas onde
II MO
Gr CA Gr
+
há tendência de adensamento da
+
IDO
CA
III +
IU MO P
Gr + INO Co/R
160
ocupação,com aumento do grau de risco,
ligado a deslizamentos de solo associados
CA CA NO
100
IEO L
+
de lixo/entulho
'
L
~~ CA 140
130
P
Áreas ocupadas, constituídas por
120 II DO taludes naturais com declividade
IIMO IIEO EO moderada e características geotécnicas
IU U
MO
desfavoráveis e/ou pequeno número de
60
+ Gr ALTO DT/CB
depósito de tálus/colúvio (DT), com
IDO 120
grande potencial de acidentes
INO
Ta NO
IIIDT 130
(movimentação de blocos de rocha e/ou
IDO
+ Gr +
ESCALA GRÁFICA
0 100 200 m
25
Movimentos de massa
BAÍA DE GUANABARA
43 15' 00'' 680000 682000 684000 686000
22 52' 30'' 688000 690000 43 07' 30''
22 52' 30''
Av
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7468000 I. das Enseadas
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7466000
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Aeroporto
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7464000
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7462000
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7460000 Babilônia
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Rua Pacheco Leão
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Rodovias
Ferrovias
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do Leblo
Praia
7456000
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23 00' 00''
43 15' 00''
23 00' 00''
Risco de Escorregamento:
A-IV-4-NO A-IV-4-NE B-IV-3-NO B-IV-3-NE B-IV-4-NO
Escala 1 : 25 000
Muito baixo ou sem risco A-IV-3-SE A-IV-4-SO A-IV-4-SE B-IV-3-SO B-IV-3-SE B-IV-4-SO
500 m 1500 m
Baixo 0 500 1000
C-III-1-NO C-III-1-NE D-I-1-NO D-I-1-NE
Alto
26
Investigações geotécnicas
Investigações geotécnicas
Introdução
Este capítulo trata sucintamente das investigações geotécnicas necessárias a uma obra de
estabilização de taludes na cidade do Rio de Janeiro. Devido 1a grande experiência com obras de
estabilização no Rio de Janeiro, as fases de investigação se resumem, na maioria dos casos, à
inspeção por geólogo e engenheiro experientes e às sondagens a percussão e rotativas. Nos casos
correntes não são realizadas investigações geofísicas, nem ensaios de laboratório.
Em casos mais complexos, as investigações são abrangentes, envolvendo geofísica, sondagens,
retirada de amostras, ensaios in situ e laboratoriais.
Não é intenção deste manual tratar detalhadamente das investigações, o que pode ser visto nas
seguintes principais referências: ABGE (1998), GEO (1993), Lima (1976), Weltman e Head (1983)
e Clayton (1982).
Investigações expeditas
1
Investigações geotécnicas
Cadastramento da ocorrência:
ABNT NBR 9604 Abertura de poço e trincheira de inspeção em solo, com retirada de amostras deformadas e
indeformadas
ABNT NBR 6457 Amostras de solo – Preparação para ensaios de compactação e ensaios de caracterização
ABNT NBR 9820 Coleta de amostras indeformadas em solo em furos de sondagem
ABNT TB-38 Equipamento a diamante para sondagem
ABNT NBR 6484 Execução de sondagens de simples reconhecimento dos solos
ABNT NBR 7250 Identificação e descrição de amostras de solos obtidos em sondagens de simples reconhecimento
dos solos
ABNT NBR 8036 Programação de sondagens de simples reconhecimento dos solos para fundações de edifícios
ABNT NBR 6490 Reconhecimento e amostragem para fins de caracterização de ocorrência de rochas
ABNT NBR 6491 Reconhecimento e amostragem para fins de caracterização de pedregulho e areia
ABNT NBR 9603 Sondagem a trado
2
Investigações geotécnicas
Referência Título
ABGE (1975) Ensaios de perda d’água sob pressão, Diretrizes Boletim no. 2
ABGE (1990a) Diretrizes para a execução de sondagens, Boletim Especial
ABGE (1996) Ensaios de permeabilidade em solos, Boletim 4
Sondagens a trado
É uma perfuração manual de pequeno diâmetro, de acordo com a norma ABNT NBR 9603. É feita
com um trado, tipo cunha ou tipo espiral, para investigação de solo de baixa a média resistência ao
nível de reconhecimento. Tais furos permitem uma rápida perfilagem do material atravessado,
retirada de amostras deformadas e melhor conhecimento da estratigrafia do terreno. O diâmetro
usual do trado é 75 mm e a coleta de amostras é feita a cada metro de avanço ou então quando
ocorre mudança do tipo de material. Estes furos geralmente penetram no máximo 5 m de
profundidade, apenas em solo acima do nível de água.
Poços de inspeção
São escavações verticais com 0,8 a 3 m de diâmetro, que permitem o acesso para exame in situ do
material investigado. São realizadas observações detalhadas e a retirada de amostras indeformadas
de blocos. Na descrição do poço podem ser feitas avaliações pormenorizadas da macroestrutura dos
horizontes atravessados, além de indicações sobre a permeabilidade e da resistência do solo.
Investigações detalhadas
Topografia
São levantamentos planialtimétricos cobrindo a região considerada crítica e suas circunvizinhanças
em escalas apropriadas (1:500 a 1:200). Os levantamentos topográficos são orientados para o
cadastro dos aspectos de interesse, levantados nas vistorias de campo e nas investigações expeditas,
tais como afloramentos rochosos, feições de instabilidade, surgência d’água e interferências
antrópicas. Os levantamentos são realizados a partir de seções, preferencialmente demarcadas no
campo, com piquetes, para facilitar detalhamentos.
Métodos indiretos
Os métodos indiretos abrangem principalmente os métodos geofísicos. Permitem determinar a
distribuição de parâmetros dos maciços, tais como contrastes litológicos, descontinuidades, grau de
alteração e profundidade do topo rochoso.
Os principais métodos geofísicos utilizados são: sísmicos e geoelétricos.
Métodos Sísmicos
A sísmica de refração é uma investigação de subsuperfície empregada para determinação da
profundidade do topo do embasamento rochoso, espessura das camadas, localização de zonas de
falhas, contatos geológicos e diques.
3
Investigações geotécnicas
O método se baseia no fato de que as ondas sísmicas geradas na superfície sofrem refração ao
atingir a interface entre dois meios. Sensores denominados registram geofones o tempo de
propagação das ondas refletidas que retornam à superfície. Um equipamento de registro, o
sismógrafo, grava os sinais recebido em forma digital. Os resultados impressos desta investigação
são denominados sismogramas.
O método sísmico de refração utiliza fontes de energia de natureza impulsiva que produzem
deformações elásticas no meio, gerando ondas sísmicas que se propagam através das diferentes
interfaces geológicas. Como fonte, normalmente se utilizam explosivos, mas em áreas povoadas ou
urbanas, são usadas fontes alternativas como o rifle sísmico, o martelo ou a simples queda de pesos.
É desejável a utilização de outros métodos geofísicos acompanhando o método sísmico, e nos
estudos de interesse geotécnico normalmente se associam métodos geoelétricos, sobretudo a
sondagem elétrica vertical. Entretanto a interpretação dos dados de refração é complexa quando a
declividade da área estudada é superior a 25o. Os dados obtidos devem ser confrontados com dados
geológicos de superfície e subsuperfície (derivados de sondagens) e analisados conjuntamente com
outros métodos de investigação.
A sísmica de reflexão vem recentemente sendo adotada também em investigação rasa
(profundidades inferiores a 30 m), fornecendo subsídios fundamentais à investigação geológico-
geotécnica. A aquisição dos dados é análoga à da sísmica de refração, e o sucesso de sua aplicação
depende dos equipamentos geofísicos empregados e das características geológicas do terreno.
A aplicação do método está diretamente vinculada à existência de contrastes de impedância acústica
em subsuperfície, o que geralmente ocorre no contato entre camadas geológicas, e é capaz de
observar detalhes da subsuperfície não captadas pela refração.
A existência de matacões causa reflexão e dificulta a interpretação, podendo tornar impraticável a
aplicação de geofísica a certos terrenos.
Métodos geoelétricos
Constam principalmente de ensaios de eletrorresistividade, pela polarização induzida e pela
condutividade. Os métodos de medição de eletrorresistividade são a sondagem elétrica vertical e o
caminhamento elétrico.
As sondagens elétricas são empregadas para determinar o recobrimento do substrato, porém só são
úteis se os materiais forem eletricamente distintos. Servem para determinar o topo rochoso e a
profundidade do nível d’água. Os caminhamentos servem para detectar falhas ou variações laterais
com contraste elétrico.
Para definição do aquífero e comportamento do fluxo de água subterrânea, utiliza-se o método
geofísico do potencial natural (SP) ou espontâneo. Mapas de isovalores dos potenciais naturais em
subsolo homogêneo fornecem informações sobre a configuração, direção e sentido do fluxo
subterrâneos, tanto em planos horizontais quanto verticais.
Métodos diretos
Sondagens
É a mais comum das investigações detalhadas, realizada a partir de uma perfuração no terreno. São
coletadas amostras e se realizam alguns tipos de ensaios descritos mais adiante. Os procedimentos
de investigação são bem definidos nas normas ABNT e ABGE. O projetista deverá definir um
programa de investigações em que conste o número e tipo de sondagens e amostragem.
4
Investigações geotécnicas
Sondagem a percussão
É o método mais comum de investigação para a definição do perfil geotécnico em solos. Obtém-se
amostras a cada metro, a posição do nível d’água e o índice de resistência à penetração (N) através
de ensaios SPT. A penetração é impedida em materiais resistentes, como os matacões, quando
outro tipo de sondagem deve ser adotado.
Sondagem Rotativa
É o melhor recurso para caracterização de terrenos, principalmente quando há necessidade de
reconhecer o material em profundidade e em materiais resistentes. Obtém-se amostras ou
testemunhos com diâmetro entre 20 e 100 mm. Permite alcançar as posições do lençol freático em
grande profundidade e também a superfície de movimentação, em casos onde o acesso direto por
meio de poços e trincheiras não seja viável.
motor Bomba
hidráulica
movimento de rotação
coluna de perfuração
fluxo de água
testemunho de sondagem
barrilete
broca
O equipamento (Figura 1) consta de uma sonda motorizada, bomba de água, hastes, barriletes e
coroas. A operação da sondagem rotativa se faz por ciclos sucessivos de corte e retirada dos
testemunhos do interior do barrilete, procedimento este denominado manobra. O avanço de cada
manobra depende da qualidade do material que está sendo perfurado. Se de boa qualidade, o
comprimento de testemunho obtido em cada manobra pode ser quase igual ao tamanho do barrilete
da ordem de 3 m.
5
Investigações geotécnicas
Sondagem Mista
Utilizada quando maciço rochoso a ser estudado está coberto por material terroso. A sondagem
rotativa só é iniciada quando se atinge o impenetrável na sondagem a percussão, ou N maior que 50.
Perfis de Sondagens
Os perfis individuais ou boletins de sondagens devem conter informações técnicas, desde a
perfuração até dados interpretativos. Os boletins de sondagem devem conter:
1. Diâmetro do furo
2. Tipo de ferramenta utilizada na perfuração.
3. Posição do revestimento.
4. Profundidades atingidas e posição do NA (nível d’água).
5. Descrição dos materiais e definições das unidades geológicas
6. Nas sondagem a percussão: o gráfico de N em função da profundidade.
7. Nas sondagens rotativas: informações qualitativas do maciço, grau de alteração da rocha, grau
de fraturamento, RQD, inclinação das estruturas geológicas, rugosidade, alteração e
preenchimento de juntas, resistência da rocha, resultados de ensaios de permeabilidade, perda
d’água durante a perfuração e características geotécnicas importantes observadas nos
testemunhos.
6
Investigações geotécnicas
base da trincheira
base da caixa
largura
FASE A da amostra
parafina
proteção com tela e parafina
serragem úmida
FASE B seccionar a base
com cuidado
caixa de proteção
amostra pronta
para o embarque
FASE C
base da
trincheira
ou poço
Ensaios in situ
São pouco frequentes os ensaios in situ em solos residuais, exceto os ensaios de permeabilidade.
Os ensaios de permeabilidade in situ são realizados em furos de sondagem ou, mais raramente em
cavas. Os procedimentos de ensaio estão detalhados no boletim ABGE (1996).
Ensaios de laboratório
Os ensaios de laboratório comuns são os de caracterização e de determinação da resistência ao
cisalhamento.
Ensaios de caracterização
Os ensaios de caracterização consistem em ensaios correntes de laboratório de análise
granulométrica, determinação de peso específico, teor de umidade e limites de Atterberg. As
normas aplicáveis constam da Tabela 3.
7
Investigações geotécnicas
Norma Ensaio
1.1
1.0 σff'
σff' (MPa)
0.6
0.8 τff ∆L
τ
(MPa) 0.4 0.55
0.2
0.35
0 10 20
(a) ∆L (mm)
0.8
0.2
O ensaio de cisalhamento direto está esquematizado na Figura 3, que também indica a maneira
usual de plotar os resultados: um gráfico tensão versus deslocamento e noutro, o diagrama de Mohr-
Coulomb, onde se obtém parâmetros de resistência.
Resultados típicos de ensaios triaxiais CD em solo arenoso constam da Figura 4 e da Figura 5. A
primeira apresenta curvas de tensão deformação, a segunda a envoltória de resistência.
8
Investigações geotécnicas
1000
σ1− σ3
(σ1-σ3) 600 200 kPa
σ '3
(kPa) σ'3
400
100 kPa
200
0 1 2 3 4 5
ε1 (%)
Figura 4 Curvas tensão-deformação de ensaios triaxiais drenados em solos arenosos
φ'
500
τ
(kPa) Envoltória de Mohr- Coulomb
0
500 1000
σ ' (kPa)
9
Investigações geotécnicas
10
Investigações geotécnicas
A
Locação das sondagens
25 m
15 m
Localização
da estrutura
de contenção
A a projetar
100 m
Seção AA
Sondagem
a montante
2H
Sondagem
Sondagem
na posição
a jusante
do muro
H
2H
11
Investigações geotécnicas
Estrada
do
Soberbo
Estrada
de
Furnas
0 100 m
0 100
12
Investigações geotécnicas
Estrada
do
Soberbo
Cortina
ancorada
Deslizamento de 1988
Nível piezométrico
Rocha
fraturada
Colúvio
0 40 m
Barros et al, 1994 analisaram o problema e decidiram realizar sondagens rotativas inclinadas com o
objetivo de localizar falhas estruturais. Descobriu-se uma família de diques de diabásio verticais
com vários metros de espessura e totalmente sãos em uma massa rochosa fraturada (Figura 9). Os
diques formavam uma verdadeira barragem subterrânea elevando os níveis piezométricos que
provocavam deslizamentos. Uma solução provisória de drenagem profunda conseguiu estabilizar
este deslizamento de causas tão complexas.
13
Investigações geotécnicas
Dique de
diabásio
Rocha
fraturada
Colúvio
0 40 m
Figura 9 Perfil geotécnico da década de 90, após estudo detalhado da geologia estrutural
14
Taludes em solo
A S J Sayão
Introdução
Este capítulo trata da identificação dos tipos e causas de escorregamentos em encostas, dos
conceitos de segurança e das principais técnicas de análise da estabilidade de taludes.
A estabilidade de obras de engenharia é definida usualmente em termos determinísticos, através de
um fator de segurança (FS). A escolha do método de análise mais adequado é um aspecto relevante
a ser considerado, sendo função tanto da importância da obra quanto da qualidade dos dados
disponíveis. Em casos de taludes naturais, a análise da estabilidade pode fazer uso também de
técnicas probabilísticas, considerando que a escolha dos parâmetros mais relevantes está
inevitavelmente sujeita a incertezas. Assim, o cálculo da segurança de um talude inclui erros e/ou
imprecisões que são relativos não só aos parâmetros relevantes ao problema, mas também ao
método de análise adotado.
Objetivos
O principal objetivo da análise de estabilidade é verificar a condição de segurança de um talude
existente e a eventual necessidade de medidas preventivas ou corretivas, tais como obras de
contenção. No caso de taludes em projeto, as análises de estabilidade permitem definir a geometria
mais adequada ou econômica para garantir um nível mínimo de segurança, sob as diferentes
condições de solicitação naturais (ex: chuva, vegetação) ou decorrentes da ação do homem (ex:
sobrecarga, escavação, drenagem). Estudos de estabilidade de encostas podem, portanto, envolver
análises paramétricas de taludes, verificando-se a sensibilidade do fator FS para variações impostas
aos parâmetros geométricos e geotécnicos do problema.
Pode-se, também, retroanalisar escorregamentos já ocorridos, de modo a se obter informações sobre
os mecanismos de ruptura e aferição dos parâmetros geotécnicos relevantes ao estudo. Em uma
retroanálise de ruptura, sabe-se que FS = 1,0 e consideram-se as condições originais de geometria e
poropressão, determinando-se os parâmetros médios de resistência do material. Em contraste, nas
análises usuais de estabilidade, os parâmetros de resistência são normalmente estipulados com
conservadorismo, de forma a se estimar o valor do fator FS mínimo existente.
Classificação dos escorregamentos
As tabelas seguintes apresentam classificações de escorregamentos segundo a forma ou tipo do
movimento (Tabela 1), quanto às condições de amolgamento do solo (Tabela 2) ou quanto às
condições de drenagem (Tabela 3).
2 - Tombamentos (toppling): rotação com basculamento de placas de material rochoso; causado pela ação da
gravidade ou poropressão em fissuras.
3.1 - Rotacionais: em geral 3.1.1 -simples: uma superfície de ruptura,
ocorrem com materiais rasa ou profunda .
3 - Escorregamentos (slides):
homogêneos; a massa instável
movimentos com superfícies de 3.1.2 - sucessivos: mais de uma superfície de
é considerada rígida .
ruptura bem definidas . ruptura; podem ser progressivos ou
retrogressivos .
3.2 - Translacionais: superfície de ruptura plana, relacionada com zonas de
fraqueza (falhas, contato solo/rocha, estratificação); movimento contínuo.
3.3 - Compostas: ocorrem em taludes naturais de solos não homogêneos,
com superfícies de ruptura não lineares
4.1.1 - Rasos: profundidade da massa em
movimento inferior a 5m .
4 - Escoamentos (flows): 4.1 - Lentos (creep): também
movimentos contínuos de denominados fluência, 4.1.2 - Profundos: profundidade da massa
solos, rochas e/ou detritos com ocorrem em materiais com em movimento superior a 5m .
zona de ruptura bem definida; comportamento plástico;
4.1.3 - Progressivos: movimentos com
material com comportamento movimentos contínuos sem
aceleração gradual com o tempo.
viscoso . superfície de ruptura definida,
sob tensões totais constantes 4.1.4 - Pós ruptura: a massa permanece em
movimento após o escorregamento;
movimentos usuais em talus e materiais
coluvionares.
4.2.1 - Corridas de terra (flow slides):
colapso de estruturas fofas de solos arenosos
4.2 – Rápidos (Corridas) :
e siltosos, com acréscimo de poropressão
em forma de língua com
devido a vibrações ou saturação.
espalhamento na base; usuais
em taludes suaves; material 4.2.2 - Corrida de lama (mudflow):
com comportamento de fluido movimentos rápidos em solos moles
pouco viscoso e sob condicões sensitivos.
não drenadas.
4.2.3 - Corrida de detritos (debris flow):
avalanches de grandes volumes de massas de
blocos de rocha, solo e detritos vegetais.
5 - Complexos: envolvem
vários tipos de movimentos;
comuns em encostas íngremes.
2
Tabela 2 Classificação dos escorregamentos quanto às condições de amolgamento
Causas de escorregamentos
Os escorregamentos ou os movimentos de um talude são induzidos por fatores que contribuem para
o aumento da solicitação (tensões cisalhantes) ou para a redução da resistência do maciço. No
primeiro caso, o aumento das tensões cisalhantes é em geral devido a: sobrecarga no topo (aterros),
descarregamento na base (cortes ou erosões), vibrações (terremotos, máquinas), remoção de suporte
de sub-superfície (erosão por piping, cavernas, etc). No segundo caso, os fatores mais comuns para
a redução da resistência são: intemperismo físico-químico dos minerais, modificações estruturais
(fissuramento, amolgamento), aumento da poropressão (nos vazios de solos ou em fissuras de
rochas).
3
(a) Fator de segurança relativo ao equilíbrio de momentos: aplicado usualmente em análises de
movimentos rotacionais, considerando-se superfície de ruptura circular,
Mr
FS = ,
Ma
Fr
FS = ,
Fa
Com estas definições, considera-se que um talude é instável para valores de FS inferiores à
unidade. No entanto, casos com taludes instáveis e FS > 1,0 não são raros na prática da
engenharia, devido às simplificações dos principais métodos de análise e à variabilidade dos
parâmetros geotécnicos e geométricos envolvidos nas análises.
A definição do valor admissível para o fator de segurança (FSadm) vai depender, entre outros fatores,
das conseqüências de uma eventual ruptura, em termos de perdas humanas e/ou econômicas. A
Tabela 4 apresenta uma recomendação para valores de FSadm e os custos de construção para
elevados fatores de segurança. Deve-se ressaltar que o valor de FSadm deve considerar não somente
as condições atuais do talude, mas também o uso futuro da área, preservando-se o talude contra
cortes na base, desmatamento, sobrecargas e infiltração excessiva.
Para taludes temporários, o valor de FSadm deve ser o mesmo recomendado na Tabela 4,
considerando-se, ainda, as solicitações previstas para o período de construção.
Para escorregamentos iminentes ou pré-existentes, a definição das medidas de remediação mais
adequadas é função da história do escorregamento. São necessárias investigações geológicas e
geotécnicas detalhadas (reconhecimento do subsolo, dados pluviométricos locais, dados de
monitoramentos da área, etc.) para a identificação da história do escorregamento. A Tabela 5 sugere
valores de FSadm para estes casos.
Nos casos onde a definição dos parâmetros de resistência do solo é imprecisa, é usual a adoção de
um fator de redução diretamente aplicado aos parâmetros de resistência ao longo da superfície de
ruptura:
c' tgφ '
i - em termos de tensões efetivas: τ = + σ 'N ;
F1 F2
Su
ii - em termos de tensões totais: τ = ,
F3
onde c’ e φ’ são os parâmetros efetivos de resistência, Su é a resistência não drenada (solos
argilosos saturados) e F1 , F2 , e F3 são os fatores de redução. Estes fatores dependem da qualidade
das estimativas dos parâmetros de resistência e podem variar entre 1,0 e 1,5.
4
Tabela 4 Recomendação para fatores de segurança admissíveis (modificado de GEO., 1984)
Tabela 5 Fatores de segurança recomendados para remediação de escorregamentos existentes (GEO., 1984)
Técnicas de análise
As técnicas de análise são divididas em duas categorias: métodos determinísticos, onde a medida da
segurança do talude é feita em termos de um fator de segurança; e métodos probabilísticos, onde a
medida de segurança é feita em termos da probabilidade ou do risco de ocorrência da ruptura.
5
Métodos determinísticos
Equilíbrio limite:
Neste tipo de análise, estão incorporadas as seguintes hipóteses: a superfície potencial de ruptura é
previamente conhecida ou arbitrada; a massa de solo encontra-se em condições iminentes de ruptura
generalizada (isto é, equilíbrio limite); o critério de ruptura de Mohr-Coulomb é satisfeito ao longo
de toda superfície de ruptura; e o fator de segurança é único ao longo da superfície potencial de
ruptura. Uma revisão crítica dos principais métodos de análise por equilíbrio limite foi apresentada
por Whitman e Bailey (1967). Estes métodos podem ser divididos em dois grupos principais:
(a) Métodos das fatias: a massa instável de solo é dividida em fatias verticais, sendo que a
superfície potencial de ruptura pode ser circular ou poligonal. Exemplos de métodos com
superfície circular: Fellenius (1936), Taylor (1949) e Bishop (1955). Exemplos com superfície
qualquer: Janbu (1973), Morgenstern e Price (1965) e Spencer (1967);
(b) Métodos das cunhas: empregam a técnica de dividir o material em cunhas ou lamelas com
inclinações variáveis nas interfaces e superfície de ruptura poligonal. Exemplos: métodos de
Sultan e Seed (1967), Martins et al (1979), Kovari e Fritz (1978) e Sarma (1979).
No caso de encostas naturais, o mecanismo de ruptura é controlado pelas características geológicas
do material. No caso de rochas alteradas de origem granito-gnáissica, as falhas, juntas e/ou
superfícies de estratificação são dominantes para a imposição de rupturas segundo superfícies
planas ou poligonais. O mesmo se dá quando a camada superficial de solo é pouco espessa,
favorecendo a ocorrência da ruptura ao longo da superfície de contacto solo-rocha. No caso de
taludes em colúvios ou em solos residuais maduros de grande espessura, as características
estruturais do material são em geral pouco relevantes, sendo as rupturas usualmente induzidas ao
longo de superfícies circulares.
No caso do escorregamento de um talude, a resistência disponível depende da distribuição das
tensões normais (σ) ao longo da superfície de ruptura. A influência sobre o valor de FS das várias
hipóteses de distribuições de σ foi estudada em detalhe por Frölich (1955), que sugeriu a existência
de um limite inferior e de um limite superior para os valores possíveis de FS. No caso de se usar o
teorema do limite inferior, obedece-se às equações de equilíbrio e ao critério de ruptura, sendo as
condições de contorno especificadas em termos de tensões. A análise baseada no limite inferior
pode definir um campo de tensões admissíveis não realista. No caso do teorema do limite superior,
obedece-se às equações de compatibilidade do problema, sendo as condições de contorno
especificadas em termos de deslocamentos e admitindo-se que o trabalho externo é igual à
dissipação de energia interna. A análise baseada no limite superior pode definir de forma incorreta o
mecanismo de ruptura. Hoek e Bray (1981) sugerem que a solução pelo limite inferior fornece um
valor de FS situado bem próximo ao valor real. Taylor (1948), usando o método do círculo de atrito,
concluiu também que a solução por limite inferior é suficientemente precisa para problemas
práticos envolvendo ruptura circular em taludes homogêneos.
A Tabela 6 apresenta um resumo dos principais métodos de equilíbrio limite normalmente usados
na prática da engenharia para análise da estabilidade de taludes.
Análises de estabilidade podem ser realizadas de maneira simples e rápida com o auxílio de ábacos
e gráficos, sendo particularmente úteis para fases preliminares de projeto ou para avaliações
paramétricas. Por questão de simplicidade, os ábacos são usualmente produzidos para taludes
homogêneos com inclinação superficial constante. No caso de um talude com mais de uma camada
de solo, valores médios dos parâmetros geotécnicos devem ser estimados, conhecendo-se a posição
aproximada da superfície crítica de ruptura. A Figura 1 apresenta o ábaco de Taylor (1948), que
fornece o valor da altura crítica (Hc) do talude para causar ruptura (FS = 1,0), considerando-se nível
d’água profundo. No ábaco de Taylor, a superfície de ruptura é considerada circular, passando pelo
pé do talude. Terzaghi e Peck (1967) indicam que esta posição da superfície de ruptura é
6
usualmente a mais desfavorável, exceto no caso de solos saturados sob condições não drenadas
(φ = 0).
12
11
º
25
φ=
º
20
Fator de estabilidade Ns = γHc / c
10
º
15
φ=
φ=
º
10
9
φ=
5º
=
8 φ
6
Ns = 5, 52
β = 53º
5
3
90º 80º 70º 60º 50º 40º 30º 20º 10º 0º
Ângulo de inclinação do talude β
Uma série de ábacos para obter o valor de FS em taludes, considerando-se várias posições possíveis
para o nível d’água, é apresentada nas Figura 2 a Figura 6 (Hoek e Bray, 1981). Nestes ábacos, a
superfície crítica é também considerada circular, passando pelo pé do talude, com uma trinca de
tração existente em sua extremidade superior. Foram consideradas cinco situações distintas de linha
freática, definidas geometricamente pela razão Lw / H , onde H é a altura do talude e Lw é a distância
entre o pé do talude e o ponto onde a linha freática atinge a superfície do terreno. A situação
correspondente a solo saturado (Figura 6) é a mais desfavorável para a estabilidade, pois admite
uma ocorrência típica de chuva intensa, com fluxo de água paralelo à face do talude.
7
trinca
β H
superfície
crítica
0 1 2 3
200 4 5 6
7
8
9
180 10
11
12
13
160 14
15
16 c'
17 (x10-2)
18 γ H .tan φ'
140 19
20
120 25
β 30
100 90º
tan φ' 35
(x10-2)
FS 40
80
45
50
80º
60 60
70º 70
60º 80
40 90
50º 100
40º
30º 150
20 20º 200
10º 400
8
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34
c'
(x10-2)
γ H FS
Figura 2 Ábaco de Estabilidade de Hoek and Bray (1981): linha freática profunda.
8
LW
trinca
β H
superfície
crítica
0 1 2
200 3 4
5
6
7
8
180 9
10
11
12
13 c'
160 14 (x10-2)
15 γ H. tanφ'
16
17
18
140 19
20
120 25
β
90º 30
100
tan φ' x -2 40
( 10 )
FS 45
80
50
60
80º
60 70
70º
80
60º 90
40 50º 100
40º
30º
20º 150
20 10º 200
400
8
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34
c' (x10-2)
γ H FS
Figura 3 Ábaco de Estabilidade de Hoek and Bray (1981): linha freática com Lw = 8 H
9
LW
trinca
H
β
superfície
crítica
0 1 2 3
200 4 5
6
7
8
9
180 10
11
12 c'
13 (x10-2)
160 14 γ H. tanφ'
15
16
17
18
140 19
20
120 25
tan φ' β
FS
(x10 )
-2
90º 30
100
35
40
80 45
50
80º
60 60
70º 70
60º 80
50º 90
40 40º 100
30º
20º 150
20 200
400
8
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34
c'
(x10-2)
γ H FS
Figura 4 Ábaco de Estabilidade de Hoek and Bray (1981): linha freática com Lw = 4 H
10
LW
H
β
0 1 2 3
200 4 5
6
7
8
180 9
10 c'
11
12
(x10-2)
13 γ H. tan φ'
160 14
15
16
17
18
140 19
20
120
β 25
90º
tan φ'
(x10-2) 30
FS 100
35
40
80
80º 50
60
60 70º 70
60º 80
90
40 50º 100
150
20 200
400
0
8
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34
c'
(x10-2)
γ H FS
Figura 5 Ábaco de Estabilidade de Hoek and Bray (1981): linha freática com Lw = 2 H
11
trinca
β H
superfície
crítica
0 1 2 3
200 4
5
6
7
8
9 c'
180 10 (x10-2)
11 γ H. tan φ'
12
13
160 14
15
16
17
18
140 19
20
120 25
tan φ' (x10-2)
FS 100 30
35
β 40
80
80º 45
50
70º
60 60
60º
70
50º
40º 80
40 90
30º 100
20º 150
20 10º 200
400
0
8
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34
c' (x10-2)
γ H FS
Exemplo
Este exemplo ilustra a utilização dos ábacos de estabilidade de Hoek e Bray (1981) apresentados
neste capítulo. Seja um talude a analisar com 15 m de altura e inclinação de 60 graus, conforme
indicado na Figura 7. Os parâmetros de resistência adotados neste exemplo são: c’= 20 kPa e
12
φ’ = 30 graus. O peso específico do material é 18 kN/m3, acima ou abaixo do nível d’água, o qual
está representado na Figura 7. Este caso corresponde ao ábaco da Figura 3.
60o
15 m
c 20
= = 0,13
γH tan φ 18 ×15 × tan 30
3. Entrar no ábaco selecionado (Figura 3) com o valor acima na linha radial, determinando-se o
ponto que corresponde ao talude com β = 60 graus. Obtém-se:
tan φ
= 0,58 ⇒ FS = 1,00
FS
4. O valor encontrado para o FS é muito baixo. Nesse caso será verificada uma solução de
estabilização por retaludamento, suavizando-se a inclinação do talude.
5. Entrando-se novamente no ábaco, mas com valores inferiores de ângulo β do talude, obtém-se:
tan φ
talude com β = 45 graus: = 0,52 ⇒ FS = 1,11
FS
tan φ
talude com β = 40 graus: = 0,44 ⇒ FS = 1,31
FS
6. Foi então adotado um talude de 40 graus de inclinação média, implantando-se uma banqueta a
meia altura para facilitar a drenagem e manutenção (Figura 8).
13
FS = 1,00 FS = 1,31
15 m 60o
40o
Taludes infinitos
No Rio de Janeiro, são comuns situações onde a encosta apresenta-se com uma camada superficial
de solo com pequena espessura, sobre uma camada mais rígida de solo residual jovem ou de
embasamento rochoso. Em tais situações, a superfície crítica é paralela ao talude, conforme
ilustrado na Figura 10, e o talude é considerado infinito. Segundo Duncan (1996), o fator de
segurança de taludes infinitos pode ser expresso por:
tan φ ′ c′
FS = A +B
tan β γ .H
14
b
o
flux
a ial
E+dE Linh ipotenc
E qu
β
X+dX
X
W superfície
z E de ruptura
S
N
β
l
1.0
0.1
0.2
0.8
0.3
0.6 0.4
Parâmetro
A 0.5
0.4 0.6
ru
0.2
1
b
0
0 1 2 3 4 5 6
β
10
8
tan β = 1/b
6
Parâmetro
B
4
0
0 1 2 3 4 5
Fator de inclinação b
Métodos probabilísticos
Este tipo de análise é relevante para confecção de mapas de risco de ruptura, mapas de ocupação e
aproveitamento de solos, etc. Os métodos probabilísticos são também aplicados em estudos de
estabilidade de taludes, com o objetivo de quantificar algumas incertezas inerentes ao fator de
segurança FS obtido por métodos determinísticos. Isto é em geral feito através de uma análise de
confiabilidade relativa, na qual determina-se o índice de confiabilidade (β) do fator de segurança.
Com base no valor de β e de uma hipótese sobre a distribuição da frequência do fator FS, pode-se
computar a probabilidade de ruptura (Pr) do talude. A consideração de uma distribuição normal
para o fator de segurança é mais simples e conduz a resultados satisfatórios em análises da
estabilidade de taludes (Avanzi e Sayão, 1998). Detalhes do método de cálculo da probabilidade de
ruptura estão apresentados por Christian et al (1994) e Guedes (1997).
Com estas análises, obtem-se estimativas do valor relativo de β ou Pr , pois são consideradas apenas
as incertezas possíveis de se quantificar, ou seja, aquelas relacionadas com os parâmetros
geotécnicos e geométricos considerados como variáveis do problema. Para cada um destes
parâmetros, são determinados estatisticamente o valor médio e o respectivo desvio padrão. Não
existem normas ou recomendações gerais para definição de valores admissíveis para β e Pr , os
quais devem ser estipulados caso a caso, em função do método adotado e das consequências de
eventuais rupturas (Guedes, 1997).
Uma descrição detalhada dos métodos probabilísticos pode ser encontrada no livro de Harr (1987).
16
Taludes em solo
18
Taludes em solo
(a) perfil do talude, com divisão em 2 cunhas (b) polígono de forças da cunha 1
R
b A
H R W
i h
B α
C
U
W1 u12
E'2 s
E'1
W'2 γ
E'1
u12 u12 θ1 wL
b p'
1
s2
v2 p u1
p'2 1
Modos de ruptura
Para a escolha do método de análise, deve-se considerar o modo de ruptura provável do talude. As
ruptura observadas em taludes de solo na cidade do Rio de Janeiro são normalmente rasas ou pouco
profundas. A profundidade dos escorregamentos é controlada principalmente pela espessura da
camada superficial de solo e pelas taxas de infiltração da água de chuva. Os escorregamentos na sua
maioria são caracterizados como corridas de terra, freqüentemente provocando danos (Amaral,
1992). Estas rupturas devem se iniciar como escorregamentos, transformando-se em corridas de
terra, e eventualmente corrida de detritos, devido à grande inclinação e à abundância de água de
chuva, que são condições usuais nas encostas da cidade do Rio de Janeiro.
Dados de entrada
Os principais dados de entrada para uma análise de estabilidade são:
(a) Topografia: deve definir a área de estudo e dar condições para o traçado dos perfis do terreno
nas seções críticas;
(b) Geologia: deve dar condições para definição da geologia nos perfis das seções críticas. Deve
ser observado o perfil de intemperismo, presença de colúvios e aterros, contatos de materiais
diferentes, afloramentos e planos de fraqueza;
(c) Parâmetros do material: os materiais envolvidos na ruptura são normalmente caracterizados
pela sua resistência ao cisalhamento de Mohr-Coulomb. Esta é usualmente expressa em termos
de parâmetros efetivos (c’ e φ’) ou totais (c = Su , φ = 0). No caso de encostas em solos
coluviais ou residuais, as análises são usualmente efetuadas em termos de tensões efetivas.
Parâmetros de resistência em termos de tensões totais são usados para solos saturados sob
condições não drenadas. Os valores dos parâmetros de resistência devem ser determinados a
partir de ensaios de laboratório em amostras indeformadas e representativas do material do
talude. Estes parâmetros podem ser eventualmente estimados a partir de ensaios de campo.
(d) Água subterrânea: Devem ser determinados os níveis da poropressão ao longo da massa
envolvida no estudo da estabilidade. Em solicitações drenadas, esta determinação pode ser feita
através da instalação de piezômetros no talude, observando-se a variação das poropressões
associadas à precipitação de chuva no local. Uma análise, para ser considerada confiável, deve
20
considerar um tempo de recorrência para a precipitação máxima, compatível com a vida do
projeto.
(e) Cargas externas: Devem ser consideradas as sobrecargas mais significativas, como por
exemplo: fundações, contenções, aterros, pilhas de estoque ou bota-fora, torres de transmissão,
tráfego, detonações, cravação de estacas, etc.
Software
Existe no mercado uma grande variedade de softwares especializados para análise automática de
estabilidade de taludes em microcomputadores, com preços variando entre $500 e $5000 dólares
americanos. Os mais caros oferecem mais recursos de edição gráfica, enquanto os mais baratos
estão ainda em apresentados em DOS. O uso de um programa de computador permite analisar
casos complexos envolvendo camadas de materiais distintos, carregamentos aplicados sobre o
talude e condições variadas de poropressão, entre outras vantagens.
21
Taludes em rocha
J A R Ortigão
Introdução
Este capítulo versa sobre a estabilidade de taludes em rocha que teve um avanço considerável nos
últimos vinte anos principalmente quanto aos métodos de se estimar a resistência dos maciços
rochosos, do efeito das descontinuidades e métodos de análise. O assunto é muito bem descrito nos
seguintes trabalhos Hoek (1998), Hoek e Bray (1981), Wyllie e Norish (1996 a & b), Norish e
Wyllie (1996), Giani (1992) entre outros.
Este capítulo apresenta um resumo para os tipos de problemas mais encontrados no Rio de Janeiro.
1
Taludes em rocha
Tabela 1 Problemas típicos, características, métodos de análise e critérios de aceitação da segurança de taludes
em rocha (adaptado de Hoek, 1998)
Deslizamentos Ruptura com geometria Fraturas regionais Equilíbrio limite O Fator de Segurança
complexa com superfícies Resistência ao com superfícies (FS) absoluto tem
de ruptura circulares ou cisalhamento dos de ruptura pouco significado, mas
poligonais envolvendo materiais ao longo das circulares e a variação do mesmo
deslizamento nas descontinuidades poligonais permite julgar as
descontinuidades soluções de
Poropressões,
estabilização
particularmente sob
chuvas intensas A monitoração de
movimentos e
poropressões é o
único meio seguro e
prático de julgar a
eficiência da obra de
estabilização
Maciço de solo ou rocha Ruptura circular em forma Altura e inclinação do Método de FS > 1.5 para taludes
estruturado por severas de concha através de solo talude equilíbrio limite com grande risco
descontinuidades ou rocha intensamente Resistência ao bidimensionais
fraturada cisalhamento ao longo com pesquisa
da superfície de ruptura automática da
superfície crítica
Poropressões
Rocha fraturada Cunha deslizando ao Altura do talude, Equilíbrio limite de FS > 1.5 para taludes
longo das inclinação e orientação cunhas com grande risco
descontinuidades da Mergulho e orientação
rocha das descontinuidades
Poropressões
Rocha com fraturas Queda de colunas ou Altura do talude, Métodos Não há critério
verticais blocos condicionados por inclinação e orientação simplificados de universalmente aceito,
fraturas verticais na rocha Mergulho e orientação investigação de mas é fácil identificar o
das descontinuidades potencialidade de potencial de ruptura.
ruptura Recomenda-se
Poropressões
monitorar
deslocamentos
Mecanismos de ruptura
O principais mecanismos de ruptura em taludes rochosos estão apresentados nas Figura 1 a Figura
5.
2
Taludes em rocha
• A ruptura planar é governada por uma descontinuidade principal que mergulha na direção do
talude (Figura 1).
• A ruptura em cunha envolve duas descontinuidades planares cuja interseção mergulha em
direção do talude (Figura 2).
• A ruptura por tombamento envolve lajes verticais ou colunas que mergulham quase
verticalmente próximas à face do talude (Figura 3).
• A ruptura circular, cuja superfície de deslizamento tem forma de concha, ocorre em massas
rochosas muito fraturadas ou em solos (Figura 4).
• A queda de blocos soltos consiste no deslizamento e ou tombamento de blocos que se projetam
ou deslizam no talude (Figura 5).
Figura 1 Mecanismo de ruptura planar: queda de blocos no Rio de Janeiro (Fotos GeoRio)
3
Taludes em rocha
4
Taludes em rocha
1
Obtido através da Rocscience Ltd, rocscience.com
5
Taludes em rocha
6
Taludes em rocha
7
Taludes em rocha
8
Taludes em rocha
τ
σn
τ τ
φr
δ σ
(φb+ i)
σn
9
Taludes em rocha
Estimativa de JRC
O coeficiente de rugosidade da rocha JRC é um número que é
avaliado comparando a aparência da superfície com perfis
publicados por Barton e outros. A Figura 12 e a Figura 13 permitem
estimar este coeficiente.
JRC = 0 - 2
JRC = 2 - 4
JRC = 4 - 6
JRC = 6 - 8
JRC = 8 - 10
JRC = 10 - 12
JRC = 12 - 14
JRC = 14 - 16
JRC = 16 - 18
JRC = 18 - 20
0 5 cm 10
10
Taludes em rocha
amplitude da rugosidade
comprimento
400 20
300 16
12
200 10
8
6
JRC
100 5
4
3
50
2
30
amplitude da rugosidade (mm)
20 1
10 0.5
0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
0.1 0.2 0.3 0.5 1 2 3 4 5 10
comprimento (m)
Estimativa de JCS
O coeficiente JCS deve ser estimado de acordo com o método sugerido pela International Society
for Rock Mechanics (ISRM, 1978). O esclerômetro de Schmidt foi proposto por Deere e Miller
(1966) para estimar a resistência à compressão da superfície da junta, conforme ilustrado na Figura
14. Este equipamento é semelhante ao empregado na avaliação de propriedades do concreto e
consta de um cilindro que contém um pistão ou martelo acionado por uma mola. Quando esta é
disparada, faz com que o pistão bata sobre a superfície da rocha e retroceda. O retrocesso do
mesmo é medido por um dispositivo simples e é utilizado, conforme indicado na Figura 14.
11
Taludes em rocha
400
350 32
24
150
22
20
100
90
80
70
60
50
40
30
20
orientação do
martelo
10
0 10 20 30 40 50 60
0 10 20 30 40 50 60
0 10 20 30 40 50 60
0 10 20 30 40 50 60
12
Taludes em rocha
Lupini et al ( 1981)
30º
Fleisher ( 1972)
Ângulo de atrito residual , φ'res.
20º
φ'res = 46.6/ (IP) 0,446
10º
0º
0 20 40 60 80 100
13
Taludes em rocha
Figura 15 Estimativa de ângulo de atrito residual em argilas em função do índice de plasticidade (IP), (Kanji,
1998)
φi
c'
σ
Figura 16 Parâmetros Mohr-Coulomb equivalentes
Retroanálise de rupturas
A retroanálise de rupturas é a maneira mais confiável de se obter valores de parâmetros de
resistência. O valor do FS é conhecido e os resultados podem ser representados com os da Figura
15.
14
Taludes em rocha
58º superfície
de ruptura
50 m
20º
200
150
coesão (kPa)
100
50
5 10 15 20 25 30
Análise de estabilidade
As técnicas de análise de estabilidade de taludes em rocha serão vistas neste item abrangendo:
ruptura planar, em cunha, tombamento e queda de blocos.
Ruptura planar
A ruptura planar consiste no deslizamento de uma massa de solo segundo uma superfície de
deslizamento que se aproxima de um único plano. É um caso muito comum no Rio de Janeiro.
O método de análise consiste numa análise bidimensional de uma cunha conforme indicado na
Figura 18. O fator de segurança é calculado somente com as equações de equilíbrio de forças
horizontais e verticais.
15
Taludes em rocha
αW
U
H T
θ zw
W 1/2 zw
ψf ψp
γ H2
W = (cot ψ p − cot ψ f )
2
γ w H w2
U=
4 sin ψ p
b
ψs
z
αW V zw
W
T U
θ
H
ψf
16
Taludes em rocha
Um caso particular e com grande redução no valor do FS é a ocorrência de uma trinca de tração no
topo do talude, principalmente se preenchida com água (Figura 19). Nesse caso, as equações para o
álculo do FS são:
c A + (W (cos Ψ p − α sen Ψ p ) − U − V senΨ p + T cos θ ) tan φ
FS =
W (senΨ p + α cos Ψ p ) + V cos Ψ p − T senθ
onde:
z = H + b tan Ψs − (b + H cot Ψ f ) tan Ψ p
A = ( H cot Ψ f + b) sec Ψ p
X = 1 − tan Ψ p cot Ψ f
γ w zw A
U=
2
γ w z w2
V =
2
H Altura do talude m
Ψf Inclinação da face do talude graus
Ψs Inclinação da parte superior do talude ou berma graus
Ψp Inclinação da superfície de ruptura graus
b Distância da trinca de tração da crista do talude m
α Coeficiente de aceleração horizontal, devido à explosão próxima ou
sismicidade, dado em relação à aceleração da gravidade
T Força de ancoragem (se existir) por metro linear MN/m
θ Ângulo de inclinação da ancoragem em relação à normal à superfície de graus
ruptura
c Coesão na superfície de ruptura MPa
φ Ângulo de atrito da superfície de ruptura graus
3
γ Peso específico da rocha MN/m
3
γw Peso específico da água MN/m
zw Altura de água na trinca de tração m
z Profundidade da trinca de tração m
U Força de submersão da água por metro linear MN/m
V Esforço instabilizante da água por metro linear MN/m
W Peso do bloco de rocha por metro linear MN/m
2
A Área da superfície de ruptura por metro linear m
17
Taludes em rocha
Exemplo
Seja um talude com 12 m de altura cuja geometria é apresentada na Figura
20. O demais dados estão apresentados na Tabela 4. O valor do FS
calculado sem a força de ancoragem é de 0.6. O valor da força T foi
incrementado, calculando-se of FS’s correspondentes. Os resultados estão
apresentados na Figura 21, mostrando que para atingir um FS de 1.5,
necessita-se de uma força de ancoragem de 0.4 MN/m.
5m
15º
8.86 m
3m
W
12 m U
0 MN/m
20º
80º
18
Taludes em rocha
H Altura do talude 12 m
Ψf Inclinação da face do talude 80 graus
Ψs Inclinação da parte superior do talude ou berma 11 graus
Ψp Inclinação da superfície de ruptura 30 graus
b Distância da trinca de tração da crista do talude 5m
α Coeficiente de aceleração horizontal 0
T Força de ancoragem por metro linear (Variável) 0 MN/m
θ Ângulo de inclinação da ancoragem em relação à normal à superfície de 20 graus
ruptura
c Coesão na superfície de ruptura 0 MPa
φ Ângulo de atrito da superfície de ruptura 25 graus
3
γ Peso específico da rocha 0.027 MN/m
3
γw Peso específico da água 0.01 MN/m
zw Altura de água na trinca de tração 3m
z Profundidade da trinca de tração (Calculado) 8.86 m
U Força de submersão da água por metro linear (Calculado) 0.123 MN/m
V Esforço instabilizante da água por metro linear (Calculado) 0.045 MN/m
W Peso do bloco de rocha por metro linear (Calculado) 1.63 MN/m
2
A Área da superfície de ruptura por metro linear (Calculado) 8.22 m
2.0
FS
1.5
1.0
0.5
0.0
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6
T (MN/m)
Ruptura em cunha
A ruptura de uma cunha de deslizamento é tratada como um problema de um bloco rígido
deslizando sobre os dois planos que a formam. Este assunto é vastamente explorado por vários
autores, especialmente no livro de Hoek e Bray (1981) que apresentam todo o desenvolvimento
matemático do problema. Não é objetivo deste manual apresentar todas as equações para a análise
de estabilidade. O assunto será tratado resumidamente através de um exemplo com programa de
computador Swedge2, desenvolvido da Universidade de Toronto. Este programa importa
2
Disponível através da empresa Rocscience Ltd (www.rocscience.com)
19
Taludes em rocha
Foliação 48 168
Fraturamento 45 265
Deseja-se cortar o talude com altura de 12 m, face mergulhando a 76 graus com direção do
mergulho de 196 graus. A resistência ao cisalhamento nos planos de foliação e fraturamento foi
estimada com ângulo de atrito de 30 graus e coesão nula.
A representação estereográfica da maior cunha formada no talude é obtida pelo Swedge e consta da
Figura 22. Os círculos indicados correspondem respectivamente à foliação (círculo 1), fraturamento
(círculo 2) e face do talude (FS = face slope). O passo seguinte é o cálculo do valor do fator de
segurança. O cálculo pelo Swedge fornece fator de segurança de 0.67 e massa da cunha de 2018
toneladas.
Para estabilizar o talude, aumentando-se o FS até valores seguros, Swedge permite utilização de
ancoragens ou chumbadores. São introduzidos a partir da tela de cálculo apresentada na Figura 23.
Neste exemplo, empregou-se um chumbador com carga de 30 MN, capaz de elevar o fator de
segurança para 1.25.
20
Taludes em rocha
Figura 23 Programa Swedge: cunha analisada, cálculo do fator de segurança adotando-se ancoragem
Tombamento de blocos
O tombamento é uma situação de instabilidade freqüente no caso de massas rochosas subdivididas
em blocos e lajes, ou no caso de colunas de rocha formadas por fraturamento paralelo à face do
talude. Hoek e Bray (1981) subdivide as formas de tombamento em primárias e secundárias (Figura
24 e Figura 25).
21
Taludes em rocha
Tombamento de blocos em
rocha dura
22
Taludes em rocha
Não há critérios de análise universalmente aceitos, sendo que uma discussão detalhada foge do
escopo deste manual.
A estabilização de taludes sujeitos ao tombamento pode ser realizada através de: redução da altura,
corte para implantação de banquetas, fixação de blocos ou lajes por ancoragens ou chumbadores e
preenchimento de fraturas verticais com calda de cimento.
Queda de blocos
A queda de blocos ou lascas é um problema tradicional no Rio de Janeiro e muitas obras da GeoRio
foram realizadas por conta deste fenômeno. Na maioria das vezes a queda está associada às chuvas
intensas de verão. Alguns casos clássicos serão comentados a seguir:
Uma situação de grande risco no Rio de Janeiro são as construções próximas aos taludes das antigas
pedreiras. Há casos clássicos como as Pedreiras do Morro da Providência, próxima à Cidade Nova
(Figura 26). Foi explorada no século passado e foi ocupada por barracos pelos soldados e
sobreviventes que retornaram da Guerra de Canudos. O local começou, então, a ser chamado de
Morro da Favela, em alusão a um dos morros que circundavam o povoado de Canudos. Este fato
deu origem ao nome favela.
23
Taludes em rocha
Figura 26 Escarpa rochosa deixada por antiga pedreira no Morro da Providência (Fotos GeoRio)
24
Taludes em rocha
Outro caso clássico é a Estrada Grajaú-Jacarepaguá, que atravessa a Serra do Mateus na zona norte
da cidade. Foi construída na década de 50 e duplicada nos anos 70. A estrada atravessa região
montanhosa e de talus, com quantidade muito grande de blocos soltos, alguns dos quais com
dimensões de 10 m ou maiores. Foram registrados muitos deslizamentos neste local nas grandes
chuvas no Rio. A quantidade de blocos soltos é tal que a estabilização por fixação individual é
impossível.
Dependendo da inclinação do talude o deslocamento do bloco pode ser por rolamento, deslizamento
ou queda livre (Figura 29). Em casos complexos, a trajetória de um bloco pode ser simulada
numericamente por computador. Um exemplo essa simulação através é apresentado na Figura 30.
Foi empregado o programa Grocks3, desenvolvido na Universidade de Toronto.
A partir do momento que o movimento de um bloco começa, o fator mais importante que controla a
trajetória do mesmo é a geometria do talude. Superfícies do talude em rocha sã de granito e gneiss,
casos freqüentes no Rio de Janeiro, não amortecem a queda, como aconteceria em solos, e facilitam
o deslocamento da massa rochosa.
3
Disponível através da Rocscience Ltd, www.rocscience.com
25
Taludes em rocha
30 graus
26
Escolha da solução
Escolha da solução
J A R Ortigão e H Brito
Introdução
A realização completa de um projeto de estabilização implica em três fases distintas:
diagnóstico, solução e monitoramento (Figura 1). A primeira foi objeto de três capítulos
anteriores deste Manual e incluem a identificação do movimento de massa somado aos
estudos geológicos e geotécnicos (Figura 2). Ao final da fase de diagnóstico o engenheiro
está de posse de todos os elementos que lhe permitem, então, decidir sobre a solução a adotar.
Este capítulo tem por objetivo ser um guia preliminar para esta decisão.
Fases do projeto
Diagnóstico
Estudos Estudos
geológicos geotécnicos
1
Escolha da solução
Na maioria dos casos existe mais de uma alternativa de solução. A escolha será decidida por
aquela de menor custo.
A terceira fase será objeto de discussão no capítulo de Instrumentação de Taludes.
Taludes em solo
As diversas soluções que são objeto deste Manual constam da Figura 3. A drenagem e a
proteção superficial são soluções sempre presentes na estabilização de taludes. As demais
podem variar caso a caso.
Alternativas
de solução
Retaludamento
Drenagem e
proteção
superficial
Muros
Taludes em
solo
Cortinas
ancoradas
Reforço com
geossintéticos
Solo grampeado
2
Escolha da solução
Suavização
Retaludamento
Bermas ou
banquetas
Solo grampeado
Cortes
Cortinas
ancoradas
Taludes em Drenagem e
solo proteção
superficial
Muros
Aterros
Reforço com
geossintéticos
Os seguintes aspectos também são relevantes para a escolha da solução em taludes em solos:
• Acesso e meios de transporte: se o acesso é difícil, como frequentemente ocorre no Rio de
Janeiro, pode-se utlizar meios não convencionais: através de teleféricos, pelos próprios
trabalhadores, com o uso de mulas ou helicóptero (Figura 5). Portanto, equipamentos e
materiais de maior porte são inadequados.
3
Escolha da solução
Figura 5 Transporte de equipamentos para locais de difícil acesso: transporte com helicóptero, mulas,
teleférico e trabalhadores (Fotos GeoRio)
• Altura do talude: os muros em geral são economicamente eficientes para pequenas alturas,
até 3 m. Acima deste valor, as soluções de reforço de solo tendem a ser mais econômicas.
• Drenagem: solução presente em todos os taludes.
• Retaludamento: depende da disponibilidade de área livre para a implantação de novo corte
e banquetas.
• Cortinas ancoradas: solução tradicional muito empregada pela flexibilidade de poder ser
aplicada em cortes (método construtivo descendente) e aterros (método construtivo
ascendente). O sistema de contenção com ancoragens pré-tensionadas é suficientemente
rígido para limitar os deslocamentos do terreno. Por isso é aconselhado também em casos
em que se deseja reduzir efeitos de deslocamentos em construções e fundações muito
próximas.
• Solo grampeado: em cortes ou escavações é em geral a que apresenta o menor custo, pois
os equipamentos trabalhos nas banquetas do corte, sem andaimes. É facilmente aplicada a
taludes inclinados, sem a necessidade cortes adicionais para a verticalização da parede.
• Muros ou taludes de solo reforçado: em geral a solução mais barata para aterros com
alturas maiores que 3 m e com extensões maiores que 20 m. Pode-se adotar a solução de
solo compactado e envelopado com geossintético. A face pode ser executada com
elementos de concreto armado, pari passu ao aterro compactado, ou uma alvenaria a
posteriori, O primeiro tipo pode ser aplicado mesmo em solos de fundação de baixa
capacidade de carga, pois o muro resultante é muito flexível, com maior capacidade de
adaptação a recalques diferenciais. Já os muros em que a face de concreto é executada à
medida que o muro é construído, exigem fundação competente.
4
Escolha da solução
Taludes em rocha
As soluçoes de projeto para os taludes em rocha, ou em tálus com blocos soltos, constam da
Figura 7. A definição da solução depende de vários fatores indicados nesta figura.
Os tipos de solução foram agrupados da seguinte maneira:: eliminação, estabilização ou
convivência (Figura 7). O primeiro tipo procura-se eliminar o problema (Figura 8),
relocando-se a estrutura em risco, ou eliminando-se a causa, através do desmonte do bloco ou
talude causador do risco.
5
Escolha da solução
Eliminação
Caracterização do problema
Localização
Situação
Inclinação do talude
Risco
Taludes em Volume e forma dos blocos Decisão
Estabilização
rocha Centro de gravidade de projeto
Estruturas
Litologia
Grau de alteração
Condição de apoio
Praça de trabalho
Bota-fora
Convivência
Nos casos em que se adota solução de estabilização do maciço, as soluções constam da Figura
9.
Desmonte e
fragmentação de
blocos
Eliminação
Relocação da
estrutura sujeita a
risco
6
Escolha da solução
Com
contrafortes
Ancoragens e e
chumbadores
Com grelhas
Implantação de
banquetas
Preenchimento de
Estabilização
fissuras
Proteção Concreto
superficial projetado
Drenagem
Banquetas para
redução de
energia
Barreiras
flexíveis
Barreiras e muros
de impacto
Muros rígidos
Convivência
Tela metálica
com problema
Trincheira para
coleta de blocos
Túnel falso
7
Escolha da solução
O terceiro tipo de solução para taludes em rocha é a convivência com o problema. Isso se
aplica em taludes muito fraturados ou com grande quantidade de blocos soltos em que a
fixação ou desmonte são antieconômicos. As alternativas de convivência com o problema
constam da Figura 10.
Remoção de blocos
Cortinas ancoradas
Concreto projetado
Barreiras flexíveis
Muros de impacto
Ancoragens com
Solo grampeado
Retaludamento
Solo reforçado
Chumbadores
Tela metálica
contrafortes
Drenagem
Muros
Solo ou
rocha a a a a a a
m uito
fraturada
a a a a a a
a a a a a
Rocha
a a a a
a a a a a a a
8
Drenagem e Proteção Superficial
Denise Gerscovich
2.1 Introdução
A instabilização de taludes naturais se deve a diversos fatores, tais como: ação do homem
(cortes e aterros), variações das condições hidrológicas do talude etc. Independentemente das
soluções adotadas para estabilização de uma encosta, o controle das condições de drenagem é
fundamental e se faz presente em todos os projetos. Em alguns casos, a simples utilização de
um sistema de drenagem, combinado com elementos de proteção superficial, pode se
apresentar como uma solução suficiente para conter o mecanismo de instabilização.
Este capítulo trata dos efeitos da água na estabilidade do talude e descreve os métodos para
dimensionamento de sistemas de drenagem superficial, proteção de talude e drenagem
profunda.
P = Q + E + I + ∆W + χ
onde P representa a precipitação total; Q o fluxo superficial (runoff), E a parcela perdida por
evapotranspiração;, ∆W a variação do nível do reservatório (rios, lagos e mares); I a variação
de umidade do solo decorrente do processo de infiltração, e χ perdas adicionais, que incluem
interceptação pela vegetação e armazenamento parcial em depressões superficiais.
1
Drenagem e Proteção Superficial
Precipitação
Evaporação
Interceptação
pela vegetação
Evapotranspiração
Fluxo sub-superficial
Infiltração
Fluxo superficial (Runoff)
Nível Freático
Fluxo Interno
Rocha
Quando uma determinada quantidade de água chega à superfície de um solo não saturado,
inicia-se um processo de infiltração, essencialmente vertical, em decorrência da ação conjunta
de forças capilares e gravitacionais.
Dependendo da intensidade de chuva e duração da chuva, do ângulo do talude, da capacidade
de infiltração do solo (infiltrabilidade) etc. é possível encontrar situações em que todo o
volume de água é absorvido pelo solo ou situações em que parte deste volume escorre
superficialmente (runoff). Conforme o esquema apresentado na Figura 2, sempre que a
intensidade de chuva for inferior à infiltrabilidade, a infiltração se dará continuamente. Caso
contrário, quando a intensidade de chuva for superior à infiltrabilidade, haverá um acúmulo de
água na superfície/runoff e a taxa de infiltração se igualará à permeabilidade saturada.
O runoff é mais intenso em regiões em que a cobertura vegetal e a espessura de solo são
pequenas. Similarmente, em áreas urbanas densamente ocupadas (por exemplo, favelas), o
fluxo superficial representa uma elevada porcentagem do volume de água precipitada. Em
áreas com vegetação densa e perfis de solo bem desenvolvidos, a parcela correspondente ao
runoff é em geral pequena, tornando-se mais importante quando a duração da chuva é
prolongada. A presença de vegetação, além de interceptar parte do volume precipitado,
possibilita a formação de camadas superficiais de solo de alta condutividade hidráulica, que
facilitam o processo de infiltração (Selby, 1982; Harr, 1977).
Na literatura existem algumas proposições para estimativa do runoff. Embora esses modelos
sejam úteis para se entender a influência da topografia na hidrologia de taludes, eles
apresentam restrições importantes, uma vez que foram estabelecidos em função de um
número limitado de medições de campo (GCO, 1986; Coelho Neto, 1987).
2
Drenagem e Proteção Superficial
Taxa de
Infiltração
Curva A - R < ksat
C Curva B - I > R > ksat
Curva C - R > I > ksat
ksat
A
Tempo
R - Intensidade de Chuva
I – Capacidade de Infiltração (Infiltrabilidade)
ksat – Permeabilidade Saturada
Convém ressaltar que quando se avaliam processos de infiltração com o objetivo de observar
mudanças nas condições hidrológicas de um talude, deve-se considerar não só a
potencialidade de infiltração superficial, decorrente das chuvas, mas também a influência do
embasamento rochoso. Sistemas de fraturas, interconectados, podem ser saturados em eventos
pluviométricos e gerar processos internos de infiltração (Wilson, 1988).
Além disso, no que diz respeito à quantificação do runoff, deve-se avaliar a possibilidade de
surgência de água na superfície do talude, em virtude da interceptação de linhas freáticas
associadas a níveis d’água suspensos (Selby, 1982).
Drenagem Superficial
Sistemas de drenagem superficial devem captar e conduzir as águas que incidem na superfície
do talude, considerando-se não só a área da região estudada como toda a bacia de captação.
3
Drenagem e Proteção Superficial
Diversos dispositivos podem ser selecionados para o projeto, dependendo da natureza da área
(ocupação densa, com vegetação etc.), das condições geométricas do talude, do tipo de
material (solo/rocha). Alguns exemplos de sistemas de drenagem estão mostrados nas Figuras
de 3 a 5, apresentando soluções adotadas no Rio de Janeiro em taludes em solo e em rocha.
A cidade do Rio de Janeiro tem muitas encostas ocupadas por favelas e, devido à ocupação
desordenada e à inexistência de condições de saneamento nestes locais, sistemas de drenagem
aí implantados devem prever a captação de fluxos adicionais, como esgoto e/ou águas de uso
residencial.
4
Drenagem e Proteção Superficial
Dimensionamento Hidráulico
O dimensionamento hidráulico de dispositivos de drenagem depende da estimativa da
descarga de contribuição, cujo valor é função de parâmetros tais como: área de captação,
precipitação de projeto, características geométricas, condições superficiais (cobertura vegetal,
impermeabilização etc.). Com base nesses parâmetros, dimensiona-se o dispositivo de
drenagem mediante a comparação entre a velocidade admissível com a velocidade de
escoamento calculada.
Vazão de Contribuição
O método racional é o procedimento mais utilizado para a determinação da vazão de
contribuição, em virtude da sua simplicidade e pelo fato de fornecer bons resultados, em
particular em pequenas áreas de captação, de até 100ha. (Sousa Pintoet al., 1976)
Neste método, a vazão é calculada a partir da seguinte expressão:
c i A
Q =
3600
onde Q é a máxima vazão de contribuição (m3/s); c o coeficiente de escoamento superficial,
função da geometria e condições de cobertura superficial; i a intensidade de precipitação de
projeto (mm/h) , função do tempo de concentração, e A a área de captação (m2).
Ressalta-se que em regiões de favelas, em face da ocupação desordenada e da inexistência de
condições de saneamento, as vazões de contribuição devem ser corrigidas de forma a incluir
vazões adicionais decorrentes da captação de esgoto.
Área de Captação
Define-se como área de captação a região delimitada por divisores de água das vertentes
laterais e a montante, considerando como referência a seção de estudo. Sua determinação é
feita com base em levantamentos topográficos, aerofotogramétricos ou expeditos,
considerando que o fluxo superficial ocorre perpendicularmente às curvas de nível.
Quando a área a ser projetada já dispõe de subsistemas de drenagem que interferem na
hidrologia do talude, os efeitos destas construções devem ser considerados no
dimensionamento global do sistema de drenagem. Entretanto, os cálculos de vazão de
contribuição podem ser realizados independentemente da existência desses sistemas e
considerando-se, portanto, toda a área de captação.
Tempo de Concentração
Define-se como tempo de concentração o tempo máximo necessário para uma partícula de
água se deslocar entre os limites da área de concentração e o sistema de drenagem que se
deseja projetar; ou seja, o tempo necessário para que toda a área de captação passe a
contribuir para a vazão total de projeto. De maneira geral, o tempo de concentração depende
de parâmetros como: área da bacia, topografia do terreno (declividade, morfologia), tipo de
recobrimento superficial etc.
Em áreas urbanas, o tempo de concentração pode ser subdividido em duas parcelas: tempo
necessário para atingir a rede de drenagem e tempo de translação ao longo da própria rede.
Existem diversas fórmulas empíricas e ábacos que fornecem o valor do tempo de
concentração em função das características físicas da bacia, sua ocupação e, eventualmente,
5
Drenagem e Proteção Superficial
da intensidade de chuva. (Tucci et al., 1995; Sousa Pinto et al., 1976; GCO, 1984). Entre estas
cita-se a equação proposta por Bransby-Williams, desenvolvida para áreas naturais de
captação, que estabelece:
L
t = 0,14465 0, 2 0,1
H A
onde t é o tempo de concentração (min); A a área de captação (m2); H a diferença média entre
a cota do divisor de águas a montante e a cota do projeto, normalizado por cada 100m em
planta (m/100m), e L a máxima distância a ser percorrida por uma partícula de água (m).
Ribeiro (1961), baseado na experiência brasileira, propõe:
16 × L
t =
(1,05 − 0,2 × p)(100 × S ) 0, 04
onde t é o tempo de concentração (min); L a distância média a ser percorrida por uma
partícula de água ao longo do talvegue (km); p a porcentagem decimal da área da bacia
coberta pela vegetação, e S a declividade média (m/m).
Por serem empíricas, as expressões em geral fornecem bons resultados em condições
semelhantes às de suas determinações. A adoção de qualquer dessas fórmulas deve ser
precedida de análise criteriosa para evitar emprego indevido e, conseqüuentemente, estimativa
incorreta do tempo de concentração.
Nos casos em que a distância média a ser percorrida pela partícula de água (L) é inferior a
60m, é possível, como uma primeira aproximação, estabelecer valores para os tempos de
concentração como os indicados na Tabela 1.
Ressalta-se que o erro na estimativa do tempo de concentração será tanto mais grave quanto
menor a duração a ser considerada, uma vez que é maior a variação da intensidade com o
tempo.
6
Drenagem e Proteção Superficial
Como a intensidade média de precipitação reduz com o tempo de duração da chuva, a maior
vazão de contribuição ocorrerá quando a duração da chuva for igual ao tempo de
concentração. Assim sendo, o tempo de duração que corresponde à situação crítica a ser
adotada em projeto será igual ao tempo de concentração.
Dependendo do projeto de drenagem, tempos de recorrência maiores ou menores podem ser
adotados. Em taludes íngremes, quando a estabilidade global pode ser severamente afetada
por um mau funcionamento do sistema de drenagem, sugere-se a adoção de tempos de
recorrência bastante elevados, podendo chegar a 200 anos. Para situações menos complexas, é
possível utilizar tempos de recorrência menores, da ordem de 10 anos De uma forma geral, a
Tabela 2 apresenta valores de tempo de recorrência em função da natureza de ocupação e tipo
de obra.
400
350
300
Intensidade de Chuva (mm/min)
250
Tempo de
200 Recorrência
(ano)
2
150
5
10
100
20
50
100
50 200
500
1000
0
0 25 50 75 100 125
7
Drenagem e Proteção Superficial
Tabela 2 – Tempo de recorrência em função do tipo de obra e natureza de ocupação (Tucci et al., 1995)
Residencial 2
Comercial 5
Microdrenagem Áreas com edifícios de serviço público 5
Aeroportos 2-5
Áreas comerciais e artérias de tráfego 5-10
Áreas comerciais e residenciais 50-100
Macrodrenagem Áreas de importância específica 500
Ocupação do solo C
Edificação muito densa: partes centrais densamente construídas de uma cidade com ruas e calçadas 0,70 a 0,95
pavimentadas
Edificação não muito densa: partes adjacentes ao centro de menor densidade de habitações, mas 0,60 a 0,70
com ruas calçadas e pavimentadas
Edificação com poucas superfícies livres: partes residenciais com construções cerradas, ruas 0,50 a 0,60
pavimentadas
Edificação com muitas superfícies livres: partes residenciais com ruas pavimentadas, mas com 0,25 a 0,50
muitas áreas verdes
Subúrbios com alguma pavimentação: partes de arrebaldes e subúrbios com pequena densidade de 0,10 a 0,25
construções
Matas, parques e campos de esportes: partes rurais, áreas verdes, superfícies arborizadas, parques 0,05 a 0,20
ajardinados e campos de esporte sem pavimentação
8
Drenagem e Proteção Superficial
Velocidade de Escoamento
Fixada a seção do dispositivo de drenagem a ser projetado e determinada a vazão de
contribuição, calcula-se a velocidade de escoamento neste sistema.
O dimensionamento hidráulico de sistemas de drenagem baseia-se no regime de fluxo
estabelecido no interior do canal, o qual pode ser classificado em função da quantidade de
energia associada ao processo de fluxo:
v2
E = y+
2g
onde y é a altura de lâmina d’água; v a velocidade de escoamento e g a aceleração da
gravidade. Define-se como regime crítico aquele que se realiza com o mínimo de energia.
Para uma dada vazão, um aumento da declividade da canaleta acarreta uma redução da altura
da lâmina d’água no interior do canal e, conseqüentemente, uma mudança na velocidade de
escoamento.
Em um regime crítico, a relação entre a velocidade de escoamento e a altura da lâmina
d’água, conhecida como número adimensional de Froude (F), deve satisfazer a seguinte
equação:
v
F= =1
g y
onde v é a velocidade de escoamento (m/s) ; y a altura de fluxo (m) e g a aceleração da
gravidade (m/s2).
Considerando-se a ocorrência de fluxo uniforme, a velocidade de escoamento pode ser
calculada a partir da fórmula de Manning:
v =
n
{
1 2 / 3 1/ 2
R I }
onde v é a velocidade de escoamento (m/s); n o coeficiente de rugosidade de Manning; I o
gradiente longitudinal da valeta (m/m) e R o raio hidráulico (m), definido como a relação
entre área (m2) e perímetro molhados do dispositivo de drenagem. A Tabela 4 apresenta as
grandezas hidráulicas associadas às geometrias dos canais.
9
Drenagem e Proteção Superficial
Seção tipo Área molhada (A) Perímetro molhado Raio hidráulico (R) Largura
(P) superficial (B)
B θ − sen θ 2 θ θ − sen θ θ
A= D P= D R= D B = D sen
D
8 2 4θ 2
d
θ
B A = Bd P = B + 2d Bd B
R=
H B + 2d
d
B A = b + md P = b + 2d 1 + m 2 b + md B = b + 2md
R=
d
H b + 2d 1 + m 2
b
θ
Notas:
i) θ em radianos
ii) m=cotan (θ)
10
Drenagem e Proteção Superficial
0.30
0.6
0.20 5000 70
0.5 0.15
4000 60
0.4 0.10 50
0.08
0.60 m 3000
0.06 40
0.05
0.3
0.04 n =0.015 2000 30
0.03
0.02
1500
0.2 0.015 curva crítica 20
De 1000 15
cli
vid
0.15 0.01 ad 800
0.008 e 10
-m
0.005 et
os
ro 600
s
em metr
0.004 8.0
po
0.002
r m 500
et
0.1 ro
6.0
0.0015 400
fluxo
0.09
5.0
Vazão Q - litros/s
0.08 0.001
300
4.0
Altura do
0.0008
0.0006
0.07
Escala Qn
0.0005
0.06 0.0004 200 3.0
0.0003
0.05
0.0002 150
2.0
0.00015
0.04 0.00001
100 1.5
80
1.0
0.03
60
0.8
50
40 0.6
0.5
30
0.4
20 0.3
15 0.2
10 0.15
8
1.0
0.6
0.4
0.3
1.5
5.0
1.5
3.0
0.8
8.0
2.0
1.0
4.0
6.0
0.5
0.2
V m/s
Escala Vn
0.003
0.006
0.015
0.008
0.004
0.005
0.15
0.08
0.06
0.05
0.04
0.03
0.02
0.01
0.2
0.1
Largura b=0,60 m
Figura 7a – Ábaco para dimensionamento de canaletas, largura b= 0,60m
11
Drenagem e Proteção Superficial
0.9
0.8 0.30
0.20
15000 200
0.7
0.15
0.6
10000 150
0.10
0.08
0.5 0.90 m 8000
0.06
0.05 100
0.4 0.04
n =0.015 6000
0.03
5000 80
0.02
0.3 4000 60
0.015
curva crítica 3000
40
De
s
m metro
cli
Vazão Q litros/s
0.005 vid
0.2 ad
0.004 e- 2000 30
me
tro
o fluxo e
0.003
s po
0.15
rm 1500
0.002 etr 20
o
0.0015
Altura d
0.001 1000 15
0.0008
0.1 0.0006 800
10
0.09 0.0005
0.0004 600
0.08 0.003 8.0
500
0.07
0.0002
0.00015 400 6.0
0.06
5.0
0.0001
300
0.05 4.0
200
Escala Qn
3.0
0.04
150
2.0
0.03
100 1.5
80
1.0
60 0.8
50
0.6
40
0.5
30
0.4
8.0
6.0
5.0
4.0
3.0
2.0
1.5
1.0
0.8
0.6
0.5
0.4
0.3
V m/s
20
15
10
0.30
0.20
0.15
0.10
0.08
0.06
0.05
0.04
0.03
0.02
0.015
0.010
0.008
0.006
0.005
0.004
Escala Vn
Largura b = 0,90m
12
Drenagem e Proteção Superficial
Metodologia de Cálculo
Uma vez calculada a velocidade de escoamento, a vazão de contribuição (Q) associada é
determinada a partir da equação da continuidade (Q=vA) e, em seguida, comparada com a
vazão admissível do dispositivo de drenagem pré-selecionado, estabelecendo a necessidade ou
não de alterar o projeto original. Em geral a seqüência de cálculo observa os seguintes passos:
a) Fixa-se o tipo de seção a ser adotada, deixando a altura a determinar;
b) Define-se a declividade da canaleta;
c) Fixa-se a velocidade máxima admissível, tendo em vista o tipo de revestimento (Tabela
6);
d) Através de tentativas, atribuem-se valores para a altura da lâmina d’água (h) e calculam-se
os elementos hidráulicos da seção, a velocidade de escoamento e a vazão associada;
e) Compara-se a vazão de contribuição com a vazão calculada no item d, avaliando a
necessidade ou não de aumentar a altura da lâmina d’água (h);
f) Verifica-se o regime de fluxo em função do número adimensional de Froude. A altura de
fluxo deve diferir da crítica dentro de uma faixa de no mínimo 10%.
13
Drenagem e Proteção Superficial
Considerações Gerais
Sistemas eficientes de drenagem superficial podem ser projetados de forma a utilizar uma
série de dispositivos com objetivos específicos: canaletas transversais, canaletas longitudinais
de descida (escada), dissipadores de energia, caixas coletoras etc.
Em um talude, as águas superficiais devem ser conduzidas de forma mais linear possível,
através de sistemas de drenagem superficial instalados no talude (Figura 8). Quando a
velocidade de escoamento for elevada, dissipadores de energia devem ser incluídos no interior
das calhas (Figura 9). Sempre que houver mudança na geometria e nas dimensões da canaleta
ou na junção entre diferentes dispositivos de drenagem, caixas de passagem devem ser
previstas. (Figura 10)
14
Drenagem e Proteção Superficial
Sempre que bermas forem incorporadas ao projeto, canaletas transversais devem ser previstas
nestes locais, para evitar o armazenamento e infiltração da água. Quando a superfície de
15
Drenagem e Proteção Superficial
Figura 11 – Acúmulo de material sólido (GEO, 1995) Figura 12 – Escada de acesso (GEO,
1995)
16
Drenagem e Proteção Superficial
Dispositivos de drenagem
A seguir se abordarão as características principais, os elementos de projeto e o
dimensionamento hidráulico para cada um dos dispositivos de drenagem Nos elementos de
projeto procurou-se mostrar tipos de seções, revestimentos recomendados e especificações
mais importantes para sua construção.
Canaletas Transversais
As canaletas devem ser executadas em seção aberta, em forma retangular, trapezoidal, meia
cana ou em forma de U, com revestimento de concreto (simples ou armado) ou metálico. A
Figura 13 apresenta um detalhe de canaleta em conjunto com sugestões de dimensionamento.
Como não há preocupação de erosão interna da calha, declividades elevadas, da ordem de
3%, podem ser adotadas. Recomenda-se que a canaleta seja sempre executada no local.
Dimensões canaleta
Altura nominal Espessura lateral Espessura base
H (mm) t (mm) b (mm)
225 a 600 150 150
675 a 1200 175 225
Figura 13 – Detalhe de dimensionamento de canaleta com proteção lateral
100 H
E=
α−β
17
Drenagem e Proteção Superficial
β
α
H
E
(a) Corte
(b) Planta
18
Drenagem e Proteção Superficial
vb = 2 gH
onde H é a diferença de cota entre o topo e a base da canaleta (m) e g a aceleração da
gravidade (m/s2).
Havendo necessidade de cálculos mais precisos recomenda-se verificar a solução obtida
através das equações da teoria da hidráulica de movimento uniformemente variado.
Caixa de Passagem
As caixas coletoras de passagem têm como objetivo possibilitar mudanças de dimensão,
declividade ou direção de canaletas de drenagem.
As caixas podem ser abertas ou fechadas, com tampa removível, executadas em concreto
armado. Caixas com tampa, em forma de grelha, são indicadas quando localizadas em pontos
que possam afetar a segurança ou se destinem a coletar águas contendo sólidos que possam
obstruir o coletor.
Notas : dimensões em mm
Dimensões canaleta em degraus
Altura nominal Espessura lateral Espessura base Borda livre
H (mm) t (mm) b (mm) s (mm)
225 a 600 150 150 200
375 a 675 150 150 350
750 a 900 125 200 400
Figura 15 –Detalhe de canaleta de descida em degraus
O dimensionamento das caixas de passagem é função da geometria dos dispositivos aos quais
estas estarão conectadas. A profundidade da caixa é determinada pelas cotas de instalação dos
19
Drenagem e Proteção Superficial
condutos que dela partem ou chegam e a área transversal pode ser definida pela fórmula
(DNER, 1990):
Q
A = 0,226
c H
onde Q é a vazão a captar (m3/s); H a altura do fluxo (m) e c o coeficiente de vazão, podendo
ser fixado igual a 0,6.
A Figura 16 apresenta detalhes do dimensionamento de caixa de passagem.
variável
125 125
previsão de degraus em ferro
caso a altura da caixa exceda 1500
>1:50
concreto magro
Seção A-A
canaleta de
canaleta
descida
reforço lateral
125
em concreto
canaleta
250
A A
variável
250
125
125 125
variável
Planta
Nota: dimensões em mm
As caixas de passagem podem também ser projetadas de forma a reter material sólido,
reduzindo assim a possibilidade de entupimento dos sistemas de drenagem a jusante. Nestes
casos, sugere-se a introdução de um anteparo e de um dispositivo filtrante, conforme
apresentado esquematicamente na Figura 17, estabelecendo-se um sistema de retenção para
resíduos finos. Tratando-se de resíduos grossos, pode-se introduzir uma grelha metálica,
conforme o esquema apresentado na Figura 18.
20
Drenagem e Proteção Superficial
h>300
300
0.25D
>D + 150
ou >375
D
saída
1:40
seção A-A
L >750
A A
B W
Seção em planta
drenos φ 150
1:40
W
Seção B-B
.
Notas:
i) dimensões em mm;
ii) dimensionamento adequado para drenos de diâmetro máximo de 90mm. Para drenos maiores, a caixa de
retenção deve ser redimensionada;
iii) dimensões:
D ≥ 750
W ≥B
L = 4,8 D 0, 67 h 0,5 F −0,5 ≥ 4 B
Figura 17 – Caixa de passagem com sistema de retenção de material sólido fino (GCO,1984)
21
Drenagem e Proteção Superficial
altura adequada
para projeto da
canaleta de descida
canaleta de
descida
Seção A-A
3S 4S
A A
S
5S
Nota: dimensões em mm
Figura 18 – Esquema de dispositivo de retenção de material sólido grosso (GCO,1984)
22
Drenagem e Proteção Superficial
d= s+H/2
10
1
> d+ 450
300
b
h
Seção A-A
600
Proteção lateral de canaleta
t
A A
H
5H
t
600
Proteção lateral de canaleta
Nota: dimensões em mm
Bacias de Amortecimento
As bacias de amortecimento são classificadas como dissipadores localizados de energia. Estes
dispositivos, executados em concreto armado, são instalados no pé de canaletas longitudinais
de descida e têm a função de reduzir a velocidade da água quando esta passa do dispositivo de
drenagem superficial para outro sistema.
O dimensionamento hidráulico deste dispositivo, apresentado esquematicamente na Figura
20, é calculado em função da velocidade de escoamento a montante, equivalente à velocidade
de escoamento calculada no pé do talude (vb) e da altura do fluxo afluente. As dimensões do
ressalto hidráulico podem, então, ser estabelecidas em função do número de Froude (F1), o
qual é calculado pela seguinte expressão (DNER, 1990):
23
Drenagem e Proteção Superficial
vb
F1 =
g y1
onde vb é a velocidade do fluxo afluente (m/s) ; y1 a altura de fluxo afluente (m) e g a
aceleração da gravidade (m/s2).
Cunhas Soleira
0,2y1
Dentes 0,375y1 C=0,07y2
0,75y1
1
1 0,75y1
y1 y1 Rip-Rap
2 1
0,8y2
L
Para números de Froude até 1,7 não há a necessidade de elementos dissipadores de energia,
pois haverá apenas turbulência na superfície da água. Para números de Froude entre 1,7 e 2,5
e entre 4,5 e 9,0, recomenda-se a instalação de bacia de amortecimento lisa de concreto. Do
contrário, em situações em que F1 é menor ou igual a 1,7, elementos como cunhas e dentes
devem ser previstos.
Após a passagem do fluxo e o fenômeno do ressalto, a altura da lâmina d’água na saída da
bacia de amortecimento (y2) pode ser calculada com base na equação:
1
y2 = y1
2
( )
1 + 8F12 − 1
Para o dimensionamento dos demais elementos como: comprimento mínimo da bacia de
dissipação e altura da parede, recomenda-se o procedimento proposto pelo USBR (1978).
Proteção Superficial
Sistemas de proteção de talude têm como função reduzir a infiltração e a erosão, decorrentes
da precipitação de chuva sobre o talude. Em geral, os projetos de estabilização combinam
aspectos de drenagem, assim como de proteção superficial.
As alternativas de proteção superficial podem ser classificadas em dois grupos: proteção com
vegetação (Figura 21) e proteção com impermeabilização (Figura 22).
24
Drenagem e Proteção Superficial
Não existe uma regra para a concepção de projetos desta natureza, entretanto deve-se sempre
considerar a proteção vegetal como a primeira alternativa, em particular, para taludes não
naturais.
Figura 21 - Cobertura vegetal com canaletas de Figura 22 - Cobertura com concreto projetado
drenagem (GEO, 1995) (GEO, 1995)
Tendo em vista o aspecto estético, a solução com vegetação é mais uma vez recomendada.
Nos casos em que a impermeabilização superficial se apresenta como alternativa mais
adequada, seu impacto visual pode ser minimizado plantando-se vegetação em determinados
pontos do talude, de forma controlada, conforme o esquema sugerido na Figura 23. Uma vez
adotado este procedimento, cuidados devem ser tomados quanto à seleção das espécies, para
evitar rachaduras na placa impermeabilizante, em virtude do crescimento de raízes.
25
Drenagem e Proteção Superficial
50
>1
=~1
50
>5
0
solo retido
>75
Anel de concreto
para proteção da árvore
superfície
impermeabilizada
Figura 23 - Detalhe de plantio de vegetação em taludes com proteção impermeável (GCO, 1984)
Vegetação
A aplicação de cobertura vegetal em taludes não naturais é uma alternativa eficiente de
controle de erosão e estabilização.
O efeito da vegetação na estabilidade é difícil de ser quantificado, pois interfere não apenas
no aspecto mecânico como no aspecto hidrológico. Considerando-se a interceptação do
volume de água precipitado pode-se prever redução tanto dos volumes de água escoados
superficialmente (runoff) quanto dos volumes infiltrados. Em contrapartida, observa-se um
aumento significativo da umidade nas regiões próximas aos troncos de árvores, além da
criação de caminhos preferenciais de infiltração proporcionados pelas raízes. Quanto ao
aspecto mecânico, a vegetação pode atuar como agente estabilizador, considerando-se o
reforço do solo devido à malha de raízes. Entretanto, o peso próprio da vegetação, associado a
ações dinâmicas externas (vento), causam acréscimo de tensões cisalhantes, reduzindo o grau
de estabilidade do talude.
Apesar da dificuldade de quantificação dos efeitos da vegetação na estabilidade, pesquisas
têm indicado predominância de uma ação positiva, em particular devido ao reforço do solo
proporcionado pela malha de raízes. (Andrade, 1990; Gray e Leiser,1982)
A eficiência do estabelecimento da cobertura vegetal em taludes construídos depende da
escolha da época adequada para plantio, da inclinação do talude e do tipo de solo. A
inclinação do talude, no entanto, se apresenta como o fator predominante e algumas diretrizes
são apresentadas na Tabela 8. Recomenda-se, também, selecionar vegetação de baixo porte
26
Drenagem e Proteção Superficial
em taludes de inclinação elevada e, em áreas urbanas, utilizar sempre que possível vegetação
rasteira.
o o
0 –30 Dificuldade baixa Dificuldade baixa
Técnicas usuais de plantio Técnicas usuais de plantio
o o
30 –45 Dificuldade média Dificuldade elevada
Recomenda-se hidrossemeadura
o
> 45 Dificuldade elevada Recomenda-se plantio em bermas
Grama
Existem diferentes técnicas de plantio de grama: hidrossemeadura, grama em placas ou em
tufos e semeadura.
A hidrossemeadura se caracteriza pela aplicação de uma mistura aquosa de sementes,
fertilizantes e elementos fibrosos para proteção de raízes. A vantagem desta técnica reside na
facilidade, baixo custo e rapidez de execução em grandes áreas, independentemente da
inclinação do talude. Além disso, a seleção da espécie a ser plantada pode ser feita sem
qualquer restrição.
A técnica de plantio de grama em placas ou em tufos consiste na colocação da grama com
raízes e folhas já desenvolvidas. Quando plantada em tufos, a grama é aplicada em grupos ou
individualmente em intervalos de 7cm a 15cm. Apesar de bastante eficiente, esta técnica
consome mais tempo e é limitada à disponibilidade de grama para o plantio, tanto em
qualidade quanto em quantidade.
A semeadura é executada plantando-se as sementes de grama, de forma mecânica ou manual,
em uma camada superficial de solo previamente preparada para este fim. Em geral, esta
técnica é utilizada no caso de reparos ou em pequenas áreas.
A Figura 24 apresenta um exemplo de utilização desta alternativa em conjunto com a solução
de estabilização com cortinas ancoradas.
27
Drenagem e Proteção Superficial
Árvores e Arbustos
Árvores e arbustos devem ser plantados em mudas, em escavações de pequenas dimensões
(0,3cm x 0,3cm x 0,3cm), previamente executadas no talude. As árvores, nesta fase, não
devem ter mais do que 60cm de altura e o espaçamento entre mudas pode ser da ordem de
1,5m a 2m. Cuidados devem ser tomados para que a distância entre árvores e canais de
drenagem ou outras estruturas presentes no talude não seja inferior a 1m.
Tela Vegetal
A tela vegetal tem como função proteger o solo contra a erosão e proporcionar ambiente
adequado para a revegetação de taludes.
A tela vegetal constitui-se de um biotêxtil translúcido, flexível, composto por material vegetal
fibroso, desidratado, entrelaçado por fibras têxteis 100% degradáveis, com densidade,
resistência e degradação variáveis, dependendo da especificação da tela.
Recomenda-se, antes da execução, preparar a camada superficial do talude com fertilizantes,
sementes e corretivos para facilitar a revegetação. Caso haja erosões prévias no talude, estas
áreas devem ser preenchidas de forma a nivelar o terreno.
Após a aplicação da tela, efetua-se a sua fixação através de grampos de aço, bambu ou
madeira, dependendo do tipo de solo em que esta será fixada. Em seguida, este material é
reidratado e passa por uma lenta decomposição. Devido a sua alta infiltrabilidade, a umidade
do talude é mantida em níveis elevados, evitando-se, assim, a formação de pontos erosivos.
Com o passar do tempo, cria-se um ambiente extremamente favorável à germinação e
desenvolvimento de espécies vegetais.
A vantagem desta técnica reside na facilidade, baixo custo e rapidez de execução, podendo ser
aplicada em qualquer talude, independentemente da sua inclinação. As Figuras de 25 a 27
apresentam um exemplo de utilização desta técnica para proteção superficial de uma encosta
na estrada de Furnas, Rio de Janeiro.
28
Drenagem e Proteção Superficial
Figura 25 Vista inicial do talude (GeoRio) Figura 26 Aplicação da tela vegetal (GeoRio)
Geomembranas
As geomantas atuam como elementos de proteção contra a erosão superficial durante o
período de desenvolvimento e fixação da capa vegetal. As telas são fabricadas com material
sintético, não degradável, oferecendo ancoragem adequada para as raízes após o crescimento
da vegetação. As Figuras de 28 a 30 mostram detalhes da estrutura da geomanta e esquema de
aplicação.
29
Drenagem e Proteção Superficial
30
Drenagem e Proteção Superficial
As geocélulas são recomendadas em taludes em solo árido, onde não se consegue um bom
desenvolvimento de vegetação. Nestes casos esta alternativa possibilita a obtenção de uma
cobertura estável de solo vegetal, a partir do preenchimento das geocélulas com solo
adequado para este fim. As Figuras 33 e 34 apresentam detalhe da geocélula e de uma etapa
de instalação.
Impermeabilização Superficial
A função principal deste tipo de proteção superficial é impedir processos de infiltração de
água, com vistas principalmente à melhoria das condições de estabilidade do talude e a
processos de erosão superficial.
Para tal, esta alternativa deve atender a critérios de baixa permeabilidade, resistência e
durabilidade. A eficácia da impermeabilização superficial pode ser aferida medindo-se
31
Drenagem e Proteção Superficial
Mistura Solo-Cimento
A mistura solo-cimento-cal, denominada na literatura como chunam, deve ser preparada
respeitando-se as seguintes proporções, estabelecidas em peso: uma parte de cimento
Portland, três partes de cal hidratada e 20 partes de solo residual argiloso, inorgânico, livre de
raízes ou matéria orgânica.
Inicialmente, o cimento e a cal devem ser misturados secos e e, em seguida, o solo deve ser
adicionado. A água deve, então, ser introduzida na medida necessária para possibilitar a
trabalhabilidade da mistura, uma vez que o aparecimento de trincas está em geral associado à
utilização de uma quantidade excessiva de água.
Antes da aplicação, deve-se executar a limpeza de toda a superfície do talude, removendo a
camada orgânica superficial. A argamassa é, então, aplicada na superfície do talude em duas
camadas de no mínimo 2cm de espessura. Para auxiliar sua fixação no talude, sugere-se a
colocação de pequenos grampos; em Hong Kong, este sistema auxiliar é feito com peças de
bambu de 2,5cm de diâmetro e 30cm de comprimento, cravadas no solo a intervalos de 1,5m,
deixando expostos 2,5cm da peça (GCO, 1984). O tempo de cura de um dia é considerado
suficiente para o lançamento da segunda camada.
Esta alternativa de impermeabilização foi empregada em alguns taludes na cidade de Hong
Kong, tendo sido observado, ao longo do tempo, o aparecimento de pequenas fissuras que, em
32
Drenagem e Proteção Superficial
Concreto Projetado
A impermeabilização superficial pode ser executada espalhando-se sobre o talude uma
mistura de água-cimento e agregados finos.
Estes agregados devem ser selecionados de forma a se obter uma superfície razoavelmente
plana e de forma a se evitar segregação durante o processo de bombeamento. Assim sendo,
recomenda-se que o diâmetro do agregado não exceda 1cm. O tempo de cura não deve ser
inferior a sete dias.
A Figura 35 apresenta um exemplo de emprego do concreto projetado como medida de
proteção superficial em obra de estabilização com cortinas ancoradas.
Blocos
Blocos de alvenaria ou de cascalho argamassado ou mesmo de rocha podem ser utilizados
como elementos de impermeabilização superficial (Figura 36). As espessuras típicas adotadas
variam de 20cm a 30cm. Os blocos devem ser assentados em uma fina camada de cimento
previamente lançada. Abaixo desta camada recomenda-se a execução de uma camada
drenante de no mínimo 7,5cm de espessura e a instalação de elementos de drenagem
exclusivamente no pé. As juntas entre blocos deverão ser preenchidas com uma mistura de
cimento e areia, na proporção 1:3, para evitar infiltração e desenvolvimento de vegetação.
Esta solução é considerada a alternativa de impermeabilização superficial mais eficaz e mais
durável. Além disso, a estrutura composta por blocos interconectados gera uma rigidez no
conjunto, a qual eventualmente atua como agente estabilizador do talude.
33
Drenagem e Proteção Superficial
Drenos Suborizontais
Sistemas de drenagem subsuperficial são relativamente simples e de fácil execução. Os drenos
são constituídos por tubos de PVC providos de ranhuras ou orifícios, introduzidos em
perfurações executadas na face do talude, conforme esquema apresentado na Figura 37.
35
Drenagem e Proteção Superficial
superfície do talude
protegida contra erosão
saída do dreno
tampão
Injeção de cimento
ou argamassa
Quando o material local é constituído de rochas ou solos heterogêneos, os drenos devem ser
projetados de forma a interceptar o maior número possível de veios permeáveis, sendo
necessário levantar o sistema de fraturamento, direção e ângulo de mergulho.
No caso de solos homogêneos e fluxo de água em regime permanente, os ábacos de Kenney e
colaboradores (1977) podem ser utilizados como uma primeira estimativa do número,
comprimento e espaçamento dos drenos (Figuras 38 e 39). Estes ábacos foram desenvolvidos
e se aplicam exclusivamente a taludes com inclinação 1:2 e 1:3 (V:H), sendo a condição
inicial da poropressão, antes da colocação dos drenos, caracterizada pela relação Hu/H. Para a
faixa de valores de Hu/H entre 0,5 a 0,7, os ábacos fornecem resultados aceitáveis. Para
taludes com relações de Hu/H superiores a esta faixa, os resultados tendem a ficar
subestimados e, para relações menores, os ábacos superestimam a influência dos drenos. No
caso de, por exemplo, o talude em estudo se ajustar à situação da Figura 38(a) e o aumento
desejado do fator de segurança for de 25%, o ábaco indica para drenos com relação L/S igual
a 0,7 as relações L/H e S/H da ordem de 2,4 e 1,6, respectivamente.
Os espaçamentos e comprimentos obtidos a partir dos ábacos de Kenney são úteis como
previsão inicial, devendo ser ajustados em cada caso, de acordo com a geologia local e a
experiência do projetista.
Levantamentos geofísicos (eletrorresistividade) têm se apresentado como ferramenta
importante para a investigação das condições hidrológicas nos taludes. Estas informações,
associadas à modelagem numérica de processos de fluxo, possibilitam um direcionamento e
racionalização de projetos de drenagem subsuperficial.
36
Drenagem e Proteção Superficial
Superfície de ruptura
esperada
~3
1 H
Hu L
1.5
Aumento do
∆F/F0
1.0
0.2 0.8 3
2.5
0.6
2
1.5 L/H
1.0
0
0 1 2 3 4 5 6
Espaçamento entre drenos S/H
(a) Taludes com largura > 4H
~
S/H = 1,5 Linhas do mesmo comp. total de drenos
l=L/S
0.4
fator de segurança
3
Aumento do
∆F/F0
2
L/H
0.2
1.5
2
0
0 1 2 3 4
Número de drenos
~ 4H
(b) Taludes com largura =
37
Drenagem e Proteção Superficial
Superfície de ruptura
esperada
~3
1 H
Hu
L
0,4
linhas de mesmo comp. total
de drenos l= L/H
fator de segurança
Aumento do
∆F/ F0
0,2 4 3 2 5
4 L/H
1.5 3
1.0 2
0
0 1 2 3 4 5 6
Espaçamento entre drenos S/H
0.4
S/H ~
=2
fator de segurança
Aumento do
5
4
∆F/F0
0.2 3 L/H
2
0
0 1 2 3 4
Número de drenos
~ 4H
(b) Taludes com largura =
Em linhas gerais, em termos de comprimento, drenos longos mais espaçados são mais
eficientes do que drenos mais curtos com espaçamento menor. Quanto mais suave for o
talude, maior deverá ser o comprimento do dreno. Optando-se por tubos de PVC, a extensão
do dreno não deve exceder a 40m e, quando for o caso, sugere-se utilizar material mais
resistente, como ferro galvanizado ou inoxidável.
A vida útil de um dreno depende da composição química da água, da qualidade de execução
e, principalmente, do acompanhamento constante. Neste sentido, ressalta-se a necessidade da
instrumentação de campo, por meio de piezômetros instalados desde a fase de execução da
obra. O acompanhamento das flutuações piezométricas, nesta etapa, possibilita que correções
38
Drenagem e Proteção Superficial
no espaçamento e/ou número de drenos possam ser efetuadas para que sejam atingidas as
condições piezométricas especificadas em projeto.
A experiência demonstra, entretanto, que, mesmo executando-se manutenção periódica de
limpeza e verificação dos drenos suborizontais, a longo prazo o processo de colmatação reduz
sua capacidade drenante, tornando-os ineficazes. Assim sendo, esta solução não é
recomendada, sendo a utilização deste dispositivo restrita a aplicações temporárias.
Filtros e Drenos
Filtros granulares são elementos drenantes, que devem atender a critérios de projeto tais
como: estabilidade (os poros devem ser pequenos o suficiente para evitar sua colmatação),
condutividade hidráulica (sua permeabilidade deve ser muito superior ao solo a ser drenado) e
qualidade de instalação (não deve haver segregação de partículas ou contaminação antes ou
durante sua execução). Vários critérios de dimensionamento, baseados em relações
granulométricas foram propostos na literatura (Sherard et al.,1984a e 1984b; USBR, 1974;
GEO, 1993). Recomenda-se que quando o solo a ser drenado é heterogêneo, o material de
filtro deve ser estabelecido exclusivamente com base na fração granulométrica fina. A Tabela
9 resume os critérios usualmente adotados no dimensionamento de filtros e a Tabela 10 lista
valores médios de condutividade hidráulica saturada para diferentes materiais.
Drenos granulares são elementos com capacidade de transmitir vazão, conduzindo o fluxo
sem causar forças de percolação ou pressões hidrostáticas adicionais. Para tal, estes
dispositivos devem apresentar permeabilidade compatível e distribuição granulométrica
suficiente para evitar erosão e colmatação.
Nos casos em que filtros são usados em conjunto com materiais drenantes, a gradação entre
ambos os materiais deve também atender aos critérios de estabilidade, permeabilidade e
segregação.
Na prática, a granulometria do filtro é estabelecida com base na granulometria do solo a
drenar, de forma a satisfazer aos critérios de dimensionamento acima mencionados. Uma vez
definida a faixa granulométrica desejada, checa-se a granulometria da jazida e, caso esta não
satisfaça aos requisitos de projeto, misturas de materiais de diferentes procedências são
testadas.
39
Drenagem e Proteção Superficial
D15 F ≤ 5 × D85S
Estabilidade
D15 F ≤ 40 × D15S (os poros devem ser pequenos
o suficiente para evitar
carreamento de material e
D60 S
ou, no caso de solos uniformes, <4 conseqüente entupimento)
D10 S
........ D15 F ≤ 20 × D15S
D50 F ≤ 25 × D50S
A granulometria do material do filtro não deve ser descontínua
40
Drenagem e Proteção Superficial
Trincheiras Drenantes
As trincheiras são elementos de interceptação do fluxo subsuperficial, sendo normalmente
instaladas próximas ao pé do talude. Em geral, este sistema é constituído por uma vala, de
profundidade da ordem de 1,5m a 2,0m, preenchida com materiais granulares, tubos de
drenagem ou geossintéticos, com funções drenante/filtrante. No caso de trincheiras drenantes
executadas com profundidade superior a 2,0m, recomenda-se a execução de escoramento das
paredes da cava, que pode ser realizado segundo procedimentos da Norma Brasileira sobre
Segurança de Escavações a Céu Aberto (ABNT NBR 9061/85).
As valas são abertas manual ou mecanicamente, mantendo-se larguras mínimas no fundo e na
boca de 0,5m e 0,6m, respectivamente. O material drenante no interior da vala tem a função
de captar e conduzir as águas, devendo então apresentar uma granulometria adequada ao
volume escoado, sendo recomendada a utilização de materiais inertes, como brita, cascalho ou
areia lavada. Na presença de tubos de drenagem, filtros devem ser previstos para evitar a
colmatação, em virtude do carreamento de finos.
De maneira geral os tubos de drenagem podem ser de material plástico (PVC), concreto,
cerâmica, fibrocimento ou metálico. Dependendo do material empregado, os diâmetros
variam de 5cm a 25cm e os orifícios ou ranhuras devem ter aberturas entre de 0,6cm e 1cm.
As extremidades dos tubos de drenagem devem ser fechadas para evitar a entrada do material
granular drenante/filtrante no interior do tubo.
A Figura 40 apresenta diferentes alternativas construtivas com relação ao preenchimento da
vala com material drenante/filtrante. Quanto maior for a porcentagem de material drenante,
maior será o raio hidráulico e, conseqüentemente, menor possibilidade de arraste de finos,
reduzindo o processo de colmatação.
A escolha dos materiais de preenchimento da vala deve satisfazer aos critérios de
dimensionamento de filtros, apresentados no item “Filtros e drenos”. A solução apresentada
na Figura 40 (a) é recomendada quando o material filtrante satisfaz a todos os critérios.
Quando a condição do não-entupimento do tubo não é satisfeita, recomenda-se a alternativa
mostrada na Figura 40 (b). Já o esquema apresentado na Figura 40 (c) é empregado se existir
a expectativa de grandes volumes de água fluindo através da vala ou quando o requisito de
permeabilidade do material de filtro não for atendido.
41
Drenagem e Proteção Superficial
≥3cm ≥3cm
10cm 5cm 5cm
Tubos de Drenagem
Em casos de rebaixamento do lençol d’água, o dimensionamento de tubos de drenagem é feito
segundo a lei de Darcy, a partir da seguinte expressão:
kH 2
Q=
Χ
onde Q é a vazão por metro, calculada a partir do traçado de redes de fluxo, k é a
condutividade hidráulica (permeabilidade) do solo ao redor do tubo; H a altura máxima do
lençol e X a distância entre o centro do tubo e o ponto de altura máxima do lençol, conforme
esquema apresentado na Figura 41.
H
dreno
Para o caso de drenos profundos com função de interceptação, faz-se necessário considerar
também a precipitação na região a ser drenada, em função da distância entre o dreno e os
limites desta área. Uma vez estabelecida a vazão de projeto, o cálculo do diâmetro do tubo
pode ser efetuado em função da fórmula de Hazen-Williams:
Q = 0,2875 × C × D 2, 63 × I 0,54
onde Q é a vazão (m/s); D o diâmetro do tubo, I a declividade do dreno (m/m) e C um
coeficiente que depende da rugosidade das paredes internas do tubo (Cconcreto ou cerâmica =120).
Alternativamente, a fórmula de Manning pode também ser utilizada para o dimensionamento
da tubulação de drenagem (ver item “Velocidade de escoamento”). Neste caso, adota-se o
42
Drenagem e Proteção Superficial
coeficiente de rugosidade (n) entre 0,015 e 0,016 para tubos de plástico, flexíveis e
corrugados.
Recomenda-se, independentemente da solução adotada, que a vazão a ser considerada seja o
dobro da descarga de projeto, em virtude da conveniência de o tubo trabalhar sempre a meia
seção.
Geossintéticos
Diversos tipos de geossintéticos podem ser utilizados como drenos e/ou filtros. Em obras
geotécnicas empregam-se, em geral, os geotêxteis, as geomalhas e os geocompostos.
Os geossintéticos podem ter a função de filtração ou de drenagem. Quando instalado entre um
solo e o meio drenante, o geotêxtil tem a função de filtro. Neste caso, este elemento deve
permitir a livre passagem da água e ao mesmo tempo reter as partículas de solo necessárias
para sua estabilização. Na função de drenagem, o geotêxtil deve possibilitar a livre passagem
de fluidos através da sua espessura, no plano da manta.
De uma forma geral, os problemas mais comuns associados ao uso desses elementos são:
deterioração à exposição aos raios ultravioleta (luz do sol); reação a elementos químicos
presentes no solo; formação de planos de fraqueza durante a colocação, redução da
permeabilidade por compressão (em particular os geotêxteis e geocompostos) etc. Ensaios
realizados em diferentes tipos de geotêxtil indicaram reduções da ordem de 85% para a
permeabilidade normal e 65% para a abertura de filtração, quando submetidos a incrementos
de tensão normal até 200kPa. (Palmeira, 1997) Se estes aspectos são solucionados durante o
projeto e durante a fase de execução, o uso desta alternativa acelera o tempo de construção,
podendo, inclusive, reduzir os custos da obra.
Existe, entretanto, muito pouca experiência sobre o uso de geossintéticos em sistemas
permanentes de drenagem. Assim sendo, esta técnica deve ser empregada em situações de
baixo risco ou em casos nos quais se prevê monitoração contínua, com possibilidade de
remoção e reinstalação do elemento drenante, se este se tornar inoperante.
Para a quantificação do comportamento de geossintéticos como elementos de drenagem e
filtração, é importante o conhecimento dos seguintes parâmetros:
a) Permeabilidade ao longo do plano do geossintético(kp).
b) Permeabilidade normal ao plano do geossintético (kn).
c) Permissividade (θ), definida como a razão entre o coeficiente de permeabilidade normal e
a espessura do geossintético (tGT).
d) Transmissividade (Ψ), definida como produto entre a permeabilidade ao longo do plano e
a espessura do geossintético.
e) Abertura de filtração (Of), definida como o tamanho do maior grão de solo capaz de
atravessar uma manta geotêxtil. Dependendo do país, a terminologia empregada varia,
sendo as mais comuns: AOS (Aparent Opening Size, nos Estados Unidos), FOS
(Filtration Opening Size), O90 ou O95. (Palmeira et al., 1996).
Assim como os filtros granulares, os geotêxteis devem satisfazer os critérios básicos de
condutividade hidráulica (a permeabilidade deve ser superior à do solo a ser drenado) e
estabilidade ou retenção (os poros devem ser pequenos o suficiente para reter as partículas de
solo). (Fisher et al., 1990)
43
Drenagem e Proteção Superficial
44
Drenagem e Proteção Superficial
Requisito atendido /
Notas
Regra
i) C g = C1 × C2 × C3 × C4
v) No caso de solos contendo finos que podem ficar em suspensão (areia fina com
baixo teor de argila), deve-se também atender a equação:
4 D15 S < O f
i) Ag = A1 × A2 × A3 × A4 × A5
Ψ > 10 5 × k s
Ψ > Ag × k s
i.2) Em outras estruturas (taludes, aterros e trincheiras de drenagem etc.)
Ψ > 10 4 × k s
i.3) Em areias limpas, com 12%<0,08mm
Ψ > 10 3 × k s
ii) ks condutividade hidráulica do solo
45
Drenagem e Proteção Superficial
parede
dreno geossintético
contraforte
de concreto
canaleta
dreno geossintético
filtro geossintético
tubo de
drenagem
46
Drenagem e Proteção Superficial
No caso de trincheiras drenantes a instalação do geotêxtil deve ser feita logo após a abertura
da vala. O sentido de lançamento do material de enchimento deve ser tal que impeça o
deslocamento ou levantamento do geotêxtil nas regiões de recobrimento. Após o enchimento
da trincheira e rebatimento do geotêxtil na superfície (fechamento superior do filtro), o selo
superior deverá ser imediatamente executado, para impedir a entrada de partículas na vala,
devido, por exemplo, à incidência de águas de chuva. A circulação de equipamentos de obra
sobre a trincheira drenante antes da sua conclusão deve ser proibida.
47
Drenagem e Proteção Superficial
48
Drenagem e Proteção Superficial
infiltração
infiltração
49
Drenagem e Proteção Superficial
Em estruturas de arrimo com altura superior a 2m, a drenagem deve ser sempre prevista, pois
a consideração de empuxo pleno leva a projetos mais robustos, com mais consumo de
materiais, passando a ser antieconômico.
Idealmente o sistema de drenagem deve ser inclinado, conforme apresentado na Figura 47,
devendo as pressões de água ser simplesmente ignoradas no cálculo dos empuxos ativos. Nos
casos em que condições geométricas e de estabilidade não conduzam a esta solução, outras
disposições podem ser adotadas, conforme as sugeridas na figura 48. Nestes casos, as
pressões de água, calculadas através de redes de fluxo, deverão ser incorporadas ao cálculo da
estabilidade da estrutura e pressões hidrostáticas atuarão contra a parede abaixo do ponto mais
baixo de saída da drenagem.
50
Drenagem e Proteção Superficial
canaleta
proteção lateral
aterro aterro
compactado compactado
mat. drenante
em sacos porosos
tubo de PVC φ 75
filtro/ material drenante
tubo de PVC φ 75 filtro
concreto magro
(a) concreto magro
(b)
aterro aterro
compactado mat. drenante compactado filtro
tubo de PVC φ 75 em sacos porosos
material drenante
canaleta tubo de drenagem
canaleta
tubo de drenagem base impermeável
concreto magro concreto magro
(c) (d)
Notas:
i) Onde as camadas do filtro são muito inclinadas, o material drenante pode ser colocado em sacos porosos.
Figura 47 – Sistemas de drenagem em muros de contenção – dreno inclinado
51
Drenagem e Proteção Superficial
tubo de tubo de
PVC φ 75 aterro PVC φ 75
compactado
filtro/material filtro/material
canaleta drenante
canaleta drenante
tubo de drenagem
(a) tubo de drenagem (b) concreto magro
concreto magro
filtro
tubo PVC tubo de PVC aterro
φ 75 φ 75 compactado
aterro compactado
filtro
canaleta
canaleta
Nota:
i) Onde as camadas do filtro são muito inclinadas, o material drenante pode ser colocado em sacos
porosos.
Figura 48 – Sistemas de drenagem em muros de contenção
k d ≥ 100 × k s
onde kd e ks são a condutividade hidráulica do dreno e do solo, respectivamente.
52
Drenagem e Proteção Superficial
A espessura do dreno pode ser calculada em função da lei de Darcy ou através do traçado de
redes de fluxo, considerando-se, nesta abordagem, o contraste entre as condutividades
hidráulicas do solo e do dreno. (Cedergreen, 1977) No caso da determinação a partir da lei de
Darcy, fixa-se a área transversal mínima necessária com base na seguinte expressão.
q
Ad =
kd i
onde Ad é a área da seção transversal; q a vazão captada pelo dreno, estabelecida pela rede de
fluxo (fluxo interno e infiltração); kd a condutividade hidráulica do dreno e i o gradiente
hidráulico máximo no dreno, definido como a razão entre a máxima perda de carga no dreno e
seu correspondente comprimento de percolação. No caso de drenos inclinados, o gradiente
hidráulico (i) pode ser aproximado como sendo:
i = sen( β d )
onde βd é o o ângulo de inclinação do dreno com a horizontal.
Na prática, a espessura do dreno é estabelecida em função dos condicionantes construtivos,
acarretando, em geral, espessuras superiores às definidas em projeto. Como uma estimativa
inicial, drenos internos de 30cm são usualmente adequados em projetos de muros com
retroaterro compactado.
O uso de geossintéticos, combinando elementos com funções de filtragem e drenagem, tem
sido bastante difundido em projetos de estruturas de contenção. Nestes casos recomenda-se
reduzir a transmissividade (ψ) do dreno por um fator de correção igual a 10 (GEO, 1996).
Independentemente do material adotado, os critérios de dimensionamento de filtros devem ser
sempre atendidos. A não-obediência a estes critérios tem sido apontada como o principal
fator de insucessos.
Durante a construção da estrutura de arrimo, a execução dos drenos deve ser cuidadosamente
acompanhada, observando o posicionamento do colchão de drenagem e garantindo que
durante o lançamento do material não haja contaminação e/ou segregação.
No caso de estruturas de contenção executadas em concreto armado, furos de drenagem
(barbacãs) devem ser executados, em faixa, na face do muro. Neste caso, recomendam-se
furos com 7,5cm de diâmetro espaçados de até 1,5m na horizontal e 1,0m na vertical,
formando arranjos em posições alternadas. A linha inferior deve ser posicionada
aproximadamente 30cm acima da base do muro.
Tratando-se de muros em fogueira (crib walls) e gabiões, recomenda-se a instalação de filtro
vertical na face interna do muro, a menos que o material de preenchimento atue como filtro,
impedindo o carreamento da fração fina do retroaterro.
Em gabiões, recomenda-se , ainda, a instalação de uma camada drenante na base para
proteção da fundação contra eventuais processos erosivos. Em gabiões preenchidos com
material de alta permeabilidade, a infiltração das águas de chuva pode também causar erosão
na base. Sendo assim, sugere-se a instalação de uma camada impermeável na base (GEO,
1996).
53
Muros
Muros
A S J Sayão
Introdução
Este capítulo tem por objetivo abranger as principais recomendações para o projeto e construção de
muros de contenção. Vários textos clássicos, entre livros e manuais, são referidos neste capítulo.
Os seguintes principais tipos de estruturas de contenção são enfocados neste capítulo:
• Muros de peso: alvenaria de pedras, concreto gravidade, gabiões, solo-pneus, solo reforçado e
sacos de solo cimento
• Muros de concreto armado: seção em L, com contrafortes e chumbado
Empuxos de solo
Considerações gerais
O estado de tensões atuando em um elemento de solo pode ser representado por um círculo no
diagrama de Mohr (tensão cisalhante τ vs tensão normal σ ). À medida que o solo é submetido a
uma solicitação de cisalhamento, o círculo de Mohr varia de diâmetro. Enquanto o círculo situa-se
abaixo da envoltória de resistência, usualmente representada por uma linha reta denominada
envoltória de Mohr-Coulomb, o elemento de solo permanece em equilíbrio (Figura 1a).
1
Muros
φ'
c' R
x x C x
pa p0 pp
-c' σ'
φ'
a) Diagrama de Mohr
α'
A
K0
a' R
C
pa p0 pp p'
-a'
α'
b) Diagrama MIT
2
Muros
3
Muros
ATIVO PASSIVO
x x
4.5
D
4.0
3.5
Coeficiente de empuxo
3.0
F
2.5
2.0
D = Areia densa
KP
1.5
F = Areia fofa
1.0
0.5 K0
F
D KA
0
2 1 0 1 2 3 4
Método de Rankine
A teoria clássica de Rankine para o cálculo de empuxos de solo é válida para muros de contenção
de grande altura, com tardoz vertical liso, suportando retroaterro com superfície horizontal. Com
estas condições, as tensões principais (σ1 e σ3) existentes em um elemento de solo próximo ao
tardoz do muro estão sempre atuando nas direções vertical e horizontal. As indicações da Figura 1
são, portanto, válidas para a teoria de Rankine, quando toda a massa de solo no retroaterro
encontra-se em um estado de equilíbrio plástico. A teoria considera, portanto, que os movimentos
do muro são suficientes para mobilizar os estados de tensão ativo ou passivo. A Figura 3 apresenta
de forma resumida o método de Rankine para o cálculo do empuxo E nos estados ativo e passivo de
tensões, para o caso de retroaterro com superfície horizontal. Como a distribuição de tensões
laterais no muro é admitida como sendo triangular, o ponto de aplicação do empuxo E situa-se a
33% da altura do muro. Resultados experimentais em modelos reduzidos (Terzaghi e Peck, 1967)
indicam, no entanto, que em muros com rotação no topo ou com retroaterros de areia compacta, o
ponto de aplicação de E pode situar-se mais acima, da ordem de 40 a 50% da altura do muro. Com
4
Muros
M A P
θA θP
H
E
H
3
o P
ATIVO PASSIVO
φ' φ'
θ A = 45 + θ P = 45 −
2 2
KA =
(tan θ A ) (tan θ P )
KP =
(tan θ P ) (tan θ A )
PA = K A γ H - 2 c' K A PP = K P γ H + 2c' K P
EA =
(PA × H ) (PP × H )
EP =
2 2
γ, c’, φ’ = parâmetros efetivos do retroaterro
Outro aspecto importante a ser ressaltado é que a teoria de Rankine despreza a ocorrência de
resistência ao cisalhamento (atrito e adesão) no contato solo/muro. Esta simplificação pode levar a
valores significativamente maiores de empuxo ativo. Neste caso, porém, o erro da teoria é favorável
à segurança do muro, apesar de anti-econômico.
As superfícies de ruptura (linhas OA ou OP na Figura 3), desenvolvidas no solo ao serem atingidos
os estados limites de equilíbrio ativo ou passivo, apresentam inclinação θA ou θP, respectivamente,
em relação à direção horizontal. Os valores de EA e EP correspondem aos empuxos efetivos do solo
sobre o muro, ou seja, não incluem a ação da água eventualmente presente no retroaterro.
A teoria de Rankine pode ser estendida para o caso de retroaterro com superfície inclinada de um
ângulo β com a horizontal (Figura 4). Neste caso, a pressão efetiva do solo sobre o muro pode
ainda ser admitida com distribuição triangular, porém atuando com direção β , paralela à superfície
do retroaterro. A Figura 4 resume os procedimentos do método de Rankine para cálculo do empuxo
ativo do solo sobre o muro.
5
Muros
M β
H θA EA
H/3
β
p
O
1.0
ε = arcsen senβ senφ ′
20 φ'
(ε − φ ′) 25
′
θ A = 45 + φ 2 + 30
2 35
k A = cos β ⋅
cos β − (cos 2
β − cos 2 φ ′) 40
cos β + (cos 2
β − cos φ ′)
2
0.5 45
p A = k A ⋅ γ ⋅ H − 2 ⋅ c′ k A
kA
(pA ⋅ H )
EA =
2
γ, c’, φ’= parâmetros efetivos do retroaterro
ε = fator angular do retroaterro (β < ε < 90º)
0.0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
β (graus)
Método de Coulomb
Na teoria de Coulomb, considera-se o equilíbrio limite de uma cunha de solo com seção triangular,
delimitada pelo tardoz do muro e pelas superfícies do retroaterro e de ruptura. A solução do
problema não é rigorosamente correta, pois considera unicamente duas equações de equilíbrio de
forças, desprezando o equilíbrio de momentos. Para o caso ativo, a incorreção da teoria de
Coulomb é em geral desprezível (GEO, 1993).
Em relação à teoria de Rankine, o método de Coulomb tem aplicação mais ampla, pois vale para
condições irregulares de geometria de muro e superfície de retroaterro, sem desprezar a resistência
mobilizada entre o muro e o solo. Em um caso geral, a solução gráfica, considerando superfície de
ruptura planar, é a mais adequada, apesar de trabalhosa. Um exemplo deste procedimento gráfico
para solução do empuxo pelo método de Coulomb está apresentado na Figura 5 para o caso ativo.
Deve-se notar que o procedimento gráfico possibilita a incorporação de sobrecargas concentradas
ou distribuídas no topo do retroaterro ou ainda a existência de nível freático no interior do
retroaterro.
Os principais passos para a solução gráfica de Coulomb estão resumidos a seguir.
(i) arbitra-se uma superfície de ruptura (superfície OA1 na Figura 5), com inclinação próxima à
indicada pelo método de Rankine;
(ii) plota-se o polígono de forças, considerando todas as magnitudes e direções das forças que
atuam na cunha OA1M de solo instável (Figura 5);
6
Muros
A W
C
U2 U1
R
δ EA φ'
O
Superfície OA : arbitrada
(a) Forças atuando na cunha OAM
Peso W = γ . V
EA
Coesão C = c' . S1
R Adesão A = cw . S2
Ação da água U1 = u1 . S1
U2
Ação da água U2 = u2 . S2
A
Ação da Normal RA ( direção φ')
C
W Empuxo EA ( direção δ)
U1
V = volume da cunha OAM
S2 = área do tardoz OM
EA E4
E1
X
A A4
M A1
EA = empuxo ativo
OA = superfície crítica
7
Muros
G
c a
íti
EA cr
cie
δ
erfí
P p
Su
Procedimento:
No caso de empuxo ativo provocado por retroaterro não coesivo (c’ = 0), a solução analítica do
método de Coulomb está apresentada na Figura 7. A solução vale para tardoz com inclinação α ,
retroaterro com inclinação β e atrito solo/muro δ . No caso particular de valores nulos para α , β e
δ , são obtidos os resultados previstos pela teoria de Rankine. Os valores do coeficiente de empuxo
KA podem ser obtidos diretamente a partir dos ábacos apresentados na Figura 8. Os ábacos estão
apresentados para os valores usuais de δ = 0 e δ / φ’ = 2/3. Uma estimativa preliminar de KA pode
ser rapidamente obtida por interpolação a partir dos casos apresentados na Figura 8.
8
Muros
M β
H
α α
δ
H/3 Ep
o
100 15
1.0 0º
50 0.8 10 10º
β/φ' 0.6 α 20º
0.4
0.2 30º
0.0
5 40º
K*p 10 K*p
5
1
1
0 10 20 30 40 0 10 20 30 40
φ' φ'
1.0 1.0
δ/φ' δ/φ'
0.8 0.7 0.8 0.7
0.6 0.5
Rδ 0.6
0.5
Rδ
0.3 0.3
0.4 0.4
0.1 0.1
0.0 0.0
0.2 0.2
0.0 0.0
0 10 20 30 40 0 10 20 30 40
φ' φ'
(a) Muro Vertical (α=0) (b) Retroaterro Horizontal (β=0)
9
Muros
M β
EA
θA α
α
H
3
δ
α
o
cos 2 (φ '−α )
KA =
sen(φ '+δ ) × sen(φ '− β )
2
cos α × cos (δ + α ) × 1 +
2
cos(δ + α ) × cos(β − α )
EA =
(K A ×γ × H 2)
2
10
Muros
1.0 1.2
20 20
25 φ'
0.8 30 1.0 φ' 25
30
40
45 35
0.6 0.8 40
KA 50 45
KA 0.6
0.4
0.4
0.2
δ=0 0.2 δ=0
0.0
0.0
0 10 20 30 40 50
0 10 20 30 40 50
β α
1.0 1.2
20
20 25 φ' 25
30
0.8 35
1.0 φ' 30
35
40
0.8 40
0.6 45 45
KA
KA 0.6
0.4
0.4
2 2 φ'
0.2
δ= φ' 0.2 δ=
3 3
0.0 0.0
0 10 20 30 40 50
0 10 20 30 40 50 α
β
(a) Muro vertical (α=0) (b) Terrapleno horizontal (β=0)
11
Muros
M β
H
α α
δ
H/3 Ep
o
100 15
1.0 0º
50 0.8 10 10º
β/φ' 0.6 α 20º
0.4
0.2 30º
0.0
5 40º
K*p 10 K*p
5
1
1
0 10 20 30 40 0 10 20 30 40
φ' φ'
1.0 1.0
δ/φ' δ/φ'
0.8 0.7 0.8 0.7
0.6 0.5
Rδ 0.6
0.5
Rδ
0.3 0.3
0.4 0.4
0.1 0.1
0.0 0.0
0.2 0.2
0.0 0.0
0 10 20 30 40 0 10 20 30 40
φ' φ'
(a) Muro Vertical (α=0) (b) Retroaterro Horizontal (β=0)
Figura 9 Método de Coulomb: cálculo do empuxo passivo com os ábacos de Caquot e Kerisel (1948)
12
Muros
Efeitos da água
Os métodos de cálculo de empuxo apresentados neste item referem-se apenas ao empuxo efetivo do
retroaterro sobre o muro, o qual é considerado perfeitamente drenante. No caso, porém, de muro
impermeável ou com sistema de drenagem defeituoso, pode ocorrer uma elevação do nível d’água
no retroaterro, provocado, por exemplo, por chuvas intensas. Nestas situações, o muro passa a
suportar também o empuxo hidrostático provocado pela água .
O efeito do empuxo (EW) provocado pela água do retroaterro sobre o muro é sempre contrário à
estabilidade. Para a pior situação, considerando um muro totalmente impermeável, com nível
d’água na superfície do retroaterro, o valor do empuxo ativo total (solo + água) atuando no muro
pode chegar ao dobro do empuxo do solo no caso de muro permeável com nível d’água profundo.
É, portanto, de fundamental importância que as estruturas de contenção sejam dotadas de sistemas
de drenagem adequados, com vistoria e manutenção frequentes.
Estabilidade de muros
Os muros de peso, também denominados muros de gravidade, dependem da geometria e do peso
próprio para a sua estabilidade. Um muro de peso deve ser construído com largura suficiente para
evitar o surgimento de tensões de tração no interior do muro. Estas tensões seriam provocadas pela
ação instabilizante do empuxo do solo, com tendência ao deslizamento da base e ao tombamento do
muro.
Para garantia de estabilidade do muro, os seguintes mecanismos potenciais de ruptura deverão ser
cuidadosamente estudados e verificados:
• instabilidade global do talude;
• deslizamento ao longo da base do muro;
• tombamento em relação ao pé do muro;
• capacidade de suporte do solo de fundação do muro.
Os itens acima são comuns ao projeto e dimensionamento de todos os tipos convencionais de muros
de arrimo. A Figura 10 apresenta uma ilustração destes mecanismos potenciais de ruptura de muros
de peso.
13
Muros
onde: φ’d e c’d são, respectivamente, o ângulo de atrito e a coesão para dimensionamento; φ’p e
c’p são, respectivamente, o ângulo de atrito e a coesão de pico; e FSφ e FSc são os fatores de
redução para atrito e coesão, respectivamente. Os valores de FSφ e FSc devem ser adotados na
faixa entre 1,0 e 1,5, dependendo da importância da obra e da confiança na estimativa dos valores
dos parâmetros de resistência φ’p e c’p.
A Tabela 1 apresenta uma indicação de valores típicos dos parâmetros geotécnicos usualmente
necessários para pré-dimensionamento de muros de contenção com solos da região do Rio de
Janeiro. Na Tabela 1 estão apresentados o peso específico total (γ), o ângulo de atrito efetivo (φ’) e
a coesão efetiva (c’), correspondentes aos níveis de tensões e às condições de umidade ou saturação
usuais no campo. Deve-se observar que os valores da Tabela 1 são apenas indicativos, pois os
14
Muros
valores de γ , φ’ e c’ podem depender fortemente de inúmeros fatores, tais como nível de tensões,
condições de saturação, condições de carregamento, etc. Esta tabela não substitui, portanto, os
resultados obtidos diretamente a partir de ensaios no laboratório ou no campo.
TIPO DE SOLO γ 3
( kN/m ) φ’ (graus) c’ ( kPa )
15
Muros
muro reaterro
H W
E
N
Solo de fundação
B
∑Mr
FS t = ≥ 2,0 [3]
∑Ms
W . a + α EP . b
FS =
EA EA . c
W
c
b EP
Deve-se ressaltar que, no caso da base do muro apresentar um embutimento, o empuxo passivo
atuando a jusante deve ser considerado na análise da estabilidade. No entanto, é usualmente
recomendado o uso de um fator de redução (α) do empuxo passivo, tendo em vista a possibilidade
de erosão ou escavação do solo no pé do muro e a diferença entre os deslocamentos necessários
para mobilizar os empuxos passivo e ativo. O valor de α geralmente recomendado nas normas
norte americanas e européias situa-se entre 0 e 1/2, sendo usual a adoção de α = 1/3.
Adicionalmente, a segurança contra o tombamento do muro deve ser também garantida por um
outro critério gráfico. A resultante vetorial (R’) entre as forças de empuxo (E) e peso do muro (W)
deve ter linha de ação passando dentro do terço central da área da base do muro. Desta forma,
16
Muros
σ max [4]
∑ FV 6e
= 1 ±
A B
σ min
H EA
W
c
σ máx σ min
N
e
17
Muros
18
Muros
φ (graus) Nc Nq Nγ
19
Muros
- muros com gigantes na face externa do muro: os gigantes trabalham à compressão, porém este
tipo de muro tem sido bem menos usado que os dois tipos anteriores.
Muro em L
O tipo mais usual de muro de concreto armado é o muro com seção em L (ou muro de flexão),
ilustrado na Figura 14. Uma fotografia é apresentada na Figura 15. O muro consta de uma laje de
base, enterrada no terreno de fundação, e uma face vertical (ou subvertical). A laje de base em
geral apresenta largura entre 50 e 70% da altura do muro. A face trabalha à flexão e pode empregar
se necessário vigas de enrijecimento, no caso alturas maiores. Para muros com alturas superiores a
cerca de 5 m, é conveniente a utilização de contrafortes (ou nervuras), para aumentar a estabilidade
contra o tombamento. No caso da laje de base ser interna, ou seja, sob o retroaterro, os contrafortes
devem ser adequadamente armados para resistir a esforços de tração. No caso de laje externa ao
retroaterro, os contrafortes trabalham à compressão. Esta configuração é menos usual, pois acarreta
perda de espaço útil a jusante da estrutura de contenção. Os contrafortes são em geral espaçados de
cerca de 70% da altura do muro.
20
Muros
Figura 17 Muro de concreto armado com contrafortes chumbados na rocha (Foto GeoRio)
21
Muros
Chumbadores Contrafortes
Muros de peso
22
Muros
23
Muros
Muros de gabiões
Uma outra solução que pode ser também cogitada é a execução de muros de contenção de encostas
com gabiões.
Os gabiões são gaiolas metálicas preenchidas com pedras arrumadas manualmente e construídas
com fios de aço galvanizado em malha hexagonal com dupla torção. As dimensões usuais dos
gabiões são: comprimento de 2m e seção transversal quadrada com 1m de aresta. No caso de muros
de grande altura, gabiões mais baixos (altura = 0,5m), que apresentam maior rigidez e resistência,
devem ser posicionados nas camadas inferiores, onde as tensões de compressão são mais
significativas. No caso de muros muito longos, gabiões com comprimento de até 4m podem ser
utilizados para agilizar a construção. A Figura 21 apresenta ilustrações de gabiões.
A rede metálica que compõe os gabiões apresenta resistência mecânica elevada. No caso da ruptura
de um dos arames, a dupla torção dos elementos preserva a forma e a flexibilidade da malha,
absorvendo as deformações excessivas. O arame dos gabiões é protegido por uma galvanização
dupla e, em alguns casos, por revestimento com uma camada de PVC. Esta proteção é eficiente
contra a ação das intempéries e de águas e solos agressivos (Maccaferri, 1990).
24
Muros
Os gabiões são montados individualmente no local da obra e costurados por arames de aço com
características semelhantes aos utilizados nas gaiolas, porém de diâmetro inferior, para melhor
trababilidade. As costuras são executadas ao longo das arestas dos gabiões em contacto, tanto na
lateral quanto na vertical. Deste modo, o muro de gabiões comporta-se como uma estrutura
monolítica, com uniformidade das características geotécnicas, tais como rigidez e ângulo de atrito
interno. Os blocos de pedras utilizados no preenchimento dos gabiões devem ser sãos e apresentar
granulometria uniforme, com diâmetro entre 1,0 e 2,0 vezes a dimensão da malha. As
características geotécnicas dos gabiões usualmente adotadas em projeto são: peso específico = 17
kN/m3 e ângulo de atrito = 35 graus.
A execução de muros de gabiões é simples, não requerendo equipamentos ou mão de obra
especializados. O preenchimento pode ser executado manualmente, com blocos de rocha naturais
(seixos rolados) ou artificiais (brita ou blocos de pedreiras).
A base de um muro de gabiões tem normalmente cerca de 40 a 60% da altura total. Por razões
estéticas e de limitação de espaço, é comum que os muros de gabiões apresentem seção transversal
com face externa vertical e tardoz com degraus internos. No entanto, do ponto de vista da
estabilidade, é recomendável a existência de degraus na face externa, com um recuo mínimo de uns
20cm entre camadas sucessivas de gabiões. Alternativamente, a face externa pode ser construída
com uma pequena inclinação (5 a 10 graus) em relação à vertical, em direção ao retroaterro. Para
estes muros inclinados e apoiados sobre uma camada de concreto de regularização da fundação, é
recomendável a colocação de dispositivos de drenagem dispostos ao longo da base do tardoz do
muro, de modo a permitir a condução da água para fora da estrutura.
Em muros de gabiões com retroaterro de solo argiloso, deve-se executar uma camada de filtro de
areia e pedrisco, com cerca de 50cm de espessura, adjacente ao tardoz. Este filtro é um dispositivo
de grande importância para evitar o carreamento das partículas de argila por entre os vazios dos
blocos dos gabiões, garantindo a integridade da obra.
As principais características dos muros de gabiões são: flexibilidade elevada, permitindo
deformações diferenciais do retroaterro e do terreno de fundação do muro; resistência elevada,
devida ao peso dos gabiões e ao coeficiente de atrito dos blocos de rocha sã; e permeabilidade
elevada, devida à granulometria uniforme dos blocos, que garante a drenagem da encosta e a
ausência de empuxo hidrostático no tardoz do muro,.
As Figura 22 apresenta um muro de gabiões em execução e a Figura 23 um outro após a execução.
25
Muros
Muros de solo-pneus
A utilização de pneus usados em obras geotécnicas apresenta-se como uma solução que combina a
elevada resistência mecânica do material com o baixo custo, comparativamente aos materiais
convencionais. O muro de solo-pneus é um muro de gravidade, construído através da combinação
de pneus usados com solo localmente disponível. Isto garante a simplicidade de construção e o
custo reduzido. A primeira construção documentada de um muro de solo-pneus foi reportada por
Long (1990). Este muro possui altura variando de 2 a 7m e comprimento total da ordem de 650m.
Sendo um muro de peso, os muros de solo-pneus estão limitados a alturas inferiores a 5m e à
disponibilidade de espaço para a construção de uma base com largura da ordem de 40 a 60% da
26
Muros
altura do muro. Deve-se ressaltar, no entanto, que o muro de solo-pneus é uma estrutura flexível e,
portanto, as deformações horizontais e verticais podem ser superiores às usuais em muros de peso
de alvenaria ou concreto. Assim sendo, não se recomenda a construção de muros de solo-pneus
para contenção de terrenos que sirvam de suporte a obras civis pouco deformáveis, tais como
estruturas de fundações ou ferrovias.
A execução de um muro de solo-pneus requer apenas equipamentos simples, tais como ferramentas
manuais (enxadas, pás e picaretas), compactador manual (tipo placa vibratória) e máquina de cortar
pneus (opcional). Uma vantagem adicional é o fato de não ser necessária mão de obra especializada
para a execução. Pneus de qualquer tipo, desde que apresentem diâmetros semelhantes, podem ser
utilizados no muro.
Como elemento de amarração entre pneus, recomenda-se a utilização de cordas de polipropileno
com 6mm de diâmetro. Cordas de nylon ou sisal são facilmente degradáveis e não devem ser
utilizadas.
O peso específico do material solo-pneus utilizado no muro foi determinado a partir de ensaios de
densidade no campo (Medeiros et al, 1997), e varia na faixa de 15,5 kN/m3 (solo com pneus
inteiros) a 16,5 kN/m3 (solo com pneus cortados).
Após o preparo da superfície do terreno, a primeira camada de pneus deve ser lançada em linhas, de
tal forma a ocupar a largura da base. O posicionamento das sucessivas linhas nas camadas
horizontais deve minimizar os espaços vazios entre pneus. Desta forma, os centros dos pneus entre
as sucessivas linhas devem ficar desalinhados. O número de amarrações entre pneus adjacentes em
uma camada de solo-pneus, bem como o número de voltas da corda para cada amarração, são
detalhes relevantes. Na linha mais externa, todos os pneus devem ser amarrados a seus adjacentes
(laterais e internos), com duas voltas da corda. Nas demais linhas, recomenda-se a amarração de
cada pneu com somente 4 dos 6 pneus adjacentes, bastando apenas uma volta na corda.
Para o enchimento dos pneus, o material de aterro a ser utilizado pode ser obtido no próprio local de
execução da obra. Para a utilização de materiais predominantemente argilosos, os pneus devem ser
preferencialmente cortados, com a retirada de uma das bandas laterais, o que facilita o
preenchimento do pneu com o solo. A utilização de materiais argilosos pode, no entanto, provocar
deformações ou poropressões elevadas durante a execução do muro. Neste caso, é recomendável a
utilização de drenos internos, usual em muros impermeáveis. No caso da utilização de materiais
arenosos, os pneus podem ser cortados ou inteiros, desde que seja evitada a possibilidade de
carreamento do material devido a condições desfavoráveis de fluxo interno de água.
O lançamento do aterro para a construção do muro deve ser feita em camadas sucessivas, em toda a
largura do muro. Para o enchimento do muro, o material deverá ser lançado até 5cm acima da
borda do pneu, correspondendo a uma camada de aproximadamente 25 cm de espessura antes da
compactação.
A face externa do muro de pneus deve ser revestida, não só para evitar o carreamento ou erosão do
solo de enchimento dos pneus, mas como também para evitar vandalismo ou a possibilidade de
incêndios. O revestimento da face do muro deverá ser suficientemente resistente e flexível, ter boa
aparência, e ser de fácil construção. As principais opções de revestimento do muro são alvenaria
em blocos de concreto, concreto projetado sobre tela metálica, placas pré-moldadas ou vegetação.
A seção típica do muro experimental de solo-pneus relatado por Medeiros et al (1997) está
apresentada na Figura 24. Uma fotografia do muro, após o final da execução é mostrada na Figura
25.
27
Muros
1
1
2,0 m
sobrecarga
7 pneus 4 pneus
1,1 m 1 2,4 m 0,4 m
8 retroaterro
5 pneus
9 pneus 3,0 m
1,45 m 1,0 m
Encosta
9 pneus 6 pneus 0,9 m
1,45 m 3,6 m
0,6 m
células de pressão
2,5 m 3,0 m
inclinômetros
ordem de 60% do custo de um muro de igual altura executado em concreto armado (Marangon,
1992).
Após o transporte desde a jazida até o local da construção do muro, o solo é inicialmente submetido
a um peneiramento em uma malha de 9mm, com o objetivo de retirar os pedregulhos de maior
porte. Em seguida, o cimento é espalhado e misturado, de modo a permitir uma coloração
homogênea do material. Uma proporção cimento/solo da ordem de 1:10 a 1:15 (em volume) tem
sido a prática corrente para a estabilização de todos os solos utilizados na construção de muros.
Adiciona-se, então, água em quantidade 1% acima da correspondente à umidade ótima de
compactação proctor normal.
Após a homogeneização, a mistura é colocada em sacos de poliester ou similares, com
preenchimento até cerca de dois terços do volume útil do saco. O fechamento dos sacos são então
procedidos através de costura manual. O ensacamento do material facilita o transporte para o local
da obra e torna dispensável a utilização de fôrmas para a execução do muro.
No local de construção, os sacos de solo-cimento são arrumados em camadas posicionadas
horizontalmente e, a seguir, cada camada do material é compactada de modo a reduzir o volume de
vazios. A compactação é em geral procedida manualmente com soquetes.
As camadas apresentam cerca de 10cm de altura, o que corresponde à espessura dos sacos
preenchidos com material. A seguir, uma nova camada de sacos é posicionada e compactada por
sobre a camada anterior. O posicionamento dos sacos de uma camada é propositalmente
desencontrado em relação à camada imediatamente inferior, de modo a garantir um maior
intertravamento entre os sacos e, em consequência, uma maior densidade do muro. Após alguns
anos, os sacos expostos nas faces externas do muro desintegram-se totalmente, porém o material
solo-cimento preserva a forma original moldada pelos sacos. Estas faces externas do muro podem
receber uma proteção superficial de argamassa de concreto magro, de modo a prevenir contra a
ação erosiva de ventos e águas superficiais. Uma ilustração de muro com sacos de solo-cimento é
apresentada na Figura 26.
Como vantagens adicionais desta técnica, pode-se citar a facilidade de execução do muro com
forma curva (adaptada à topografia local) e a adequabilidade do uso de solos residuais de rochas
granítico-gnáissicas. Estes solos são localmente encontrados nas encostas da região sudeste do país
e apresentam-se em geral com granulometria predominantemente arenosa, com cerca de 20 a 40%
de material silto-argiloso. Nestes casos, a presença de uma pequena porcentagem de argilominerais
(caulinita), em um solo arenoso bem graduado, é benéfica para o processo de estabilização do solo
com cimento. No caso de solos residuais maduros, predominantemente argilosos, a estabilização
com cal pode ser mais eficiente que o cimento. Detalhes sobre estabilização de solos com cal e com
29
Muros
cimento podem ser obtidos em Ingles e Metcalf (1973), Pinto e Boscov (1990) e em Marangon
(1992).
Quanto ao tipo de cimento, os diferentes tipos utilizados em concreto podem ser empregados nas
misturas de solo-cimento. O mais usual, no entanto, é o cimento Portland comum, o qual é
constituído por silicatos e aluminatos de cálcio. Em presença de água, estes elementos se hidratam,
produzindo o endurecimento da mistura. No caso de solos contendo matéria orgânica, os cimentos
de alta resistência inicial são os mais recomendados. O cimento deve sempre ser estocado em local
com baixa umidade ambiente, até o dia da utilização.
É importante também ressaltar que a água a ser utilizada na mistura solo-cimento não deve conter
impurezas, tais como sais, ácidos, álcalis ou matéria orgânica.
Com estas substâncias, as reações de estabilização do solo com cimento podem ser retardadas ou
prejudicadas.
Resultados típicos de ensaios de laboratório com misturas de solo-cimento estão resumidos na
Tabela 3. Nestes ensaios, foram utilizados solos residuais jovens, provenientes de saibreiras em
maciços gnáissicos. Estes solos apresentavam granulometria bem graduada, sendo cerca de 70 a
90% de areia. A densidade real dos grãos sólidos (Gs) era de 2,70, sendo a caulinita o mineral
predominante na fração argila.
Na Tabela 3, C/S representa a porcentagem em peso do teor de cimento na mistura, ω e γd são os
resultados de compactação proctor normal (respectivamente, teor de umidade ótima e peso
específico seco máximo), E é o módulo de elasticidade (inclinação do trecho linear da curva tensão-
deformação) e σr é a resistência à compressão simples da mistura de solo-cimento. Os valores de E
e σr são resultados de ensaios de compressão simples em corpos de prova cilíndricos com 100mm
de altura e 50mm de diâmetro, após 7 dias de cura. Pode-se verificar que uma variação do teor de
cimento causa uma alteração reduzida nos resultados de compactação. No entanto, a rigidez e a
resistência crescem significativamente com o aumento do teor de cimento, dentro da faixa
considerada no programa experimental.
Os valores registrados para σr poderiam qualificar o material solo-cimento com um comportamento
de rocha branda (σr entre 1 e 25 MPa, segundo a classificação da ISRM, 1979). Deve-se ainda
ressaltar que, após 1 mês de cura, foram observados valores de σr cerca de 50 a 100% superiores
aos obtidos aos 7 dias. Como conclusão da pesquisa, um teor de cimento (C/S) da ordem de 7 a 8%
em peso foi considerado adequado para a estabilização dos solos em obras de contenção de
encostas.
0 14,1 17,2 -- --
5 12,9 17,8 405 1177
7 13,3 18,0 767 1771
8 12,7 18,0 921 2235
31
Geossintéticos
E M Palmeira
1. Introdução
Geossintéticos são materiais sintéticos para aplicação em obras de engenharia civil,
particularmente as geotécnicas e de proteção ambiental. Os geossintéticos compreendem
um conjunto de materiais poliméricos com características e funções diferenciadas. Os
polímeros mais comumente utilizados na confecção destes materiais são o polipropileno, o
polietileno e o poliéster. Os principais geossintéticos disponíveis, suas funções e
características estão sumariadas na Tabela 1 e Figura 1.
As definições dos diversos tipos de geossintéticos, segundo a norma técnica ABNT NBR
12553, são apresentadas no anexo Glossário.
1
Geossintéticos
2
Geossintéticos
geocélula
(j)
Figura 1 Tipos comuns de geossintéticos (Modificado de Palmeira, 1995).
3
Geossintéticos
geossintético
face
barbacã
aterro
terreno
natural
geossintético
terra vegetal
com ou sem
geocélula
2.1 Introdução
Alguns requisitos básicos devem ser atendidos de modo a que um determinado
geossintético possa ser utilizado com elemento de reforço em uma obra geotécnica, quais
sejam:
• Resistência e rigidez à tração compatíveis;
• Comportamento à fluência compatível;
• Resistência a esforços de instalação compatível;
• Grau de interação entre solo e reforço;
• Durabilidade compatível com a vida útil da obra
4
Geossintéticos
Para obras típicas de contenção a resistência à tração do geossintético deve ser obtida em
ensaios realizados sob condições de deformação plana, sendo o ensaio de tração de tira
larga o mais comumente utilizado. Em vista disso, a resistência à tração de um
geossintético ensaiado à tração plana é expressa em unidade de força por unidade de
comprimento normal à direção solicitada, kN/m. O ensaio deve ser executado em
condições padronizadas e o resultado obtido deve ser considerado como um valor índice
uma vez que, dependendo do polímero utilizado na confecção do geossintético, os valores
de resistência e rigidez à tração podem variar em função das condições de ensaio,
particularmente da velocidade de ensaio. Geossintéticos à base de polipropileno e
polietileno são mais sensíveis à velocidade de ensaio e à fluência do que geossintéticos à
base de poliéster ou poliamida.
Em condições de campo, devido ao confinamento proporcionado pelo solo, a rigidez à
tração obtida em ensaios de tração em geotêxteis, principalmente os não tecidos, pode ser
significativamente superior à obtida em ensaios em isolamento (McGown et al, 1982,
Gomes, 1993, Tupa, 1994, Palmeira et al, 1996). A rigidez obtida em ensaios de tração
com confinamento por solo pode ser de 4 a 8 vezes maior que a obtida em isolamento,
dependendo das características do geotêxtil, nível de deformações considerado e tensão
normal confinante. Assim um geotêxtil aparentemente extensível em isolamento pode ser
significativamente mais rígido quando sob confinamento na obra.
A fluência pode ser ou não relevante, dependendo do tipo e características do elemento de
reforço e características e vida útil da obra. É importante também observar que a fluência
pode ser significativamente inibida pelo confinamento do geossintético na massa de solo
(McGown et al, 1982). Fatores de redução aplicados sobre a resistência à tração índice do
geossintético podem ser empregados de modo a se ter um comportamento seguro do
reforço quanto à fluência ao longo da vida útil da estrutura.
A resistência a esforços de instalação pode ser estimada através de ensaios apropriados
(Koerner, 1998, Palmeira, 1998). Devem ser evitadas práticas construtivas que provoquem
dano mecânico ao geossintético tais como, tráfego de veículos sobre a manta, material de
aterro com arestas, pontas e cantos agressivos, etc.
O grau de interação entre solo e reforço, caracterizado pelo ângulo de atrito de interface
(δ), é também avaliado através de ensaios com geossintéticos e solos (cisalhamento direto
ou arrancamento, por exemplo). É importante se identificar perfeitamente o mecanismo de
interacão entre solo e reforço. Os geotêxteis tipicamente interagem com os solos em
contacto por atrito, ao passo que as geogrelhas interagem por atrito mas,
predominantemente, por ancoragem dos seus membros transversais. A obtenção do ângulo
de atrito entre solo e geotêxtil é relativamente fácil. Na falta de resultados de ensaios para a
determinação de δ, e para análises preliminares, recomendam-se os valores apresentados
na Tabela 2 (condições drenadas de cisalhamento).
(*)
Tipo de solo Geotêxtil Tecido Geotêxtil Não Tecido Geogrelhas
5
Geossintéticos
Notas:
φ’ = ângulo de atrito do solo obtido em condições de cisalhamento drenado.
(*) área sólida em planta menor que 85% da área total em planta e boa interação por
ancoragem com o solo envolvente.
Para geogrelhas a obtenção de atrito de interface é mais complexa. Isto se deve ao fato que
a intensidade de interação entre solo e geogrelha depende das características mecânicas da
geogrelha, das características do solo, da geometria da grelha, do comprimento ensaiado e
das condições de ensaio (Palmeira, 1987 e Palmeira e Milligan, 1989). Jewell et al. (1984)
sugerem a expressão abaixo para a estimativa do coeficiente de interação entre solo e
geogrelha (Figura 3 Esquema da geometria de uma geogrelha):
tan δ tan δ p α b b σ b’ 1
fb = = αs + [2.1]
tan φ ’ tan φ ’ s g σ ’ 2 tan φ ’
v
onde:
fb - coeficiente de aderência entre solo e geogrelha;
δ - ângulo de atrito de interface equivalente entre solo e geogrelha;
φ’ - ângulo de atrito do solo;
αs - percentagem da parcela sólida em planta da grelha disponível para atrito de pele
com o solo (< 1);
δp - angulo de atrito de interface do solo com a superfície sólida da geogrelha;
αb - percentagem da área total sólida disponível para ancoragem em cada membro de
ancoragem da grelha ao longo da largura da geogrelha;
b - altura ou espessura dos membros de ancoragem da geogrelha (Figura 3);
sg - espaçamento entre membros de ancoragem (Figura 3);
σ’b - tensão normal desenvolvida em cada membro de ancoragem;
σ’v - tensão vertical atuante sobre a geogrelha.
6
Geossintéticos
membros de longitudinais
membros de ancoragem
b
área disponível
para ancoragem
σ'b
sg
’π ’
σ b’ π φ ’ 2 +φ tan φ
= tan + e [2.2]
’
σv 4 2
Palmeira (1987) observa que no caso de geogrelhas com aberturas pequenas e/ou
comprimentos grandes a interferência entre membros de ancoragem pode alterar
significativamente o valor dado pela expressão 2.1.
Os geossintéticos são materiais extremamente duráveis em condições normais de solo.
Assim, a deterioração por ataques de substâncias presentes no solo só se constitui em
problema em ambientes agressivos. Nestes casos os fabricantes dos produtos devem ser
consultados e ensaios especiais devem ser exigidos. Deve-se evitar a exposição prolongada
do geossintético à luz solar durante estocagem, devido aos raios ultra-violetas poderem
comprometer propriedades importantes do mesmo.
Os tipos de solos mais indicados para utilização em obras de solo reforçado são àqueles
materiais predominantemente arenosos, com boa resistência friccional e elevada
capacidade drenante. Experiências bem sucedidas com a utilização de solos pouco
plásticos com certa percentagem de finos, particularmente os siltes arenosos, são
reportadas na literatura. Para solos com elevada percentagem de finos (≥ 30% passando na
peneira 200) devem ser tomados cuidados quanto à drenagem, deformabilidade do maciço
e interação solo-reforço. Estruturas executada com solos possuindo elevada percentagem
de finos são susceptíveis a geração de poropressões durante a construção e a deslocamento
significativos da face (Murray & Bolden, 1979). Em situações em que tais fatores são
controlados ou aceitáveis os resultados obtidos têm sido bastante promissores.
7
Geossintéticos
’
−1 tan φ p ’
φ ’ = tan ≅ φ cv [2.3]
ƒφ
onde:
φ' - ângulo de atrito efetivo do solo para dimensionamento;
φ’ p - ângulo de atrito efetivo do solo obtido em condições de pico de resistência;
ƒφ - fator de redução no valor do ângulo de atrito do solo;
φ'cv - ângulo de atrito do solo em condições de volume constante.
Para solos predominantemente arenosos o valor de φ’cv varia tipicamente entre 27° e 38°.
Para areias limpas à base de quartzo esse valor é aproximadamente igual a 33° e para areias
limpas à base de feldspato 36° (Bolton, 1986). A presença de parcela significativa de finos
ou mica pode reduzir o valor de φ’cv consideravelmente.
Tindice
Tref = [2.4]
ƒ fl
onde:
Tref - resistência à tração de referência do geossintético ao final da vida útil da obra;
8
Geossintéticos
Tíndice extrapo
carga de tração
lação
Tref
Tref
Td = [2.5]
ƒ m ƒ dm ƒ amb
onde:
Td - resistência à tração de dimensionamento;
ƒm - fator de redução devido a incertezas quanto ao material;
ƒdm - fator de redução devido a danos mecânicos durante a instalação/ construção;
ƒamb - fator de redução devido a danos provocados pelo ambiente (ataque por
substâncias agressivas, etc.).
O valor de ƒm é função da qualidade e acurácia dos resultados de ensaios de laboratório,
conhecimento e experiência com o produto e outras eventuais incertezas. Um valor mínimo
recomendado para ƒm é igual a 1.1.
O valor de ƒdm depende das condições de instalação do geossintético, do tipo de material
de aterro e dos cuidados e técnicas de construção (equipamentos e energia de compactação,
por exemplo). Os geossintéticos mais leves (menor gramatura, MA) são mais sensíveis a
danos, particularmente os com gramatura inferior a 300 g/m2. As Tabela 3 e Tabela 4
9
Geossintéticos
2 2 2
(g/m ) (g/m ) (g/m )
2 2 2
(g/m ) (g/m ) (g/m )
≤2 ≥140
2<H≤4 ≥ 200
4<H≤10 ≥ 300
H≥10 ≥500
10
Geossintéticos
Estruturas de Contenção
São consideradas estruturas de contenção em solo reforçado com geossintéticos os aterros
reforçados com face vertical ou muito próxima à vertical, conforme esquematizado na
Figura 5. As camadas de reforço são instaladas horizontalmente, à medida que o aterro vai
sendo alteado.
As seguintes condições de estabilidade devem ser verificadas para o maciço em solo
reforçado:
• Estabilidade externa;
• Estabilidade interna;
• Estabilidade global
Como será visto adiante, a verificação das condições de estabilidade externa é a mesma
empregada para estruturas de arrimo de gravidade convencionais.
q
H
S
11
Geossintéticos
solo 1 solo 2
c'1, γ1 e φ'1 c'2, γ2, e φ'2
W
H
E
B yE
N' tanδb
N'
FS d E
Bd = [3.1]
(γ 1 H + q ) tan δ b
onde:
q - sobrecarga uniformemente distribuída sobre o terrapleno;
FSd - fator de segurança contra o deslizamento ao longo da base (≥ 1.5);
γ1 - peso específico do material 1;
E - empuxo ativo por Rankine
H - altura do maciço reforçado;
δb - ângulo de atrito entre a base do maciço reforçado e o solo de fundação.
12
Geossintéticos
O valor do empuxo de terra (E) deve ser aquele obtido desprezando-se eventuais tensões
ativas negativas até a profundidade da trinca de tração, no caso de aterros coesivos.
No caso de aterros não coesivos (c1 = c2 = 0), a expressão 3.1 se transforma em:
q
k a 2 1 + 2
γ 2 H
Bd = FS d H [3.2]
γ q
2 tan δ b 1 +
γ 2 γ 2H
onde:
ka2 - coeficiente de empuxo ativo para o material 2 (Figura 6);
γ2 - peso específico do material 2;
O valor de ka2, por Rankine, é dado por:
2 φ2'
o
ka 2 = tan 45 − [3.3]
2
q
k a 2 1 + 2
γ 2H FS H
Bd = d [3.4]
2a u
onde: au = adesão entre base do muro e solo de fundação (au = λSu, onde Su é a resistência
não-drenada do solo de fundação e 0 < λ ≤ 1).
A presença de sobrecargas localizadas na superfície do terreno devem ser levadas em
conta, através da consideração dos acréscimos de tensões horizontais sobre a face interna
do maciço reforçado devido ao carregamento ou através da utilização de outra metodologia
de cálculo de empuxos de terras (Coulomb, por exemplo). A abordagem da presença de
sobrecargas localizadas será vista adiante.
13
Geossintéticos
2 FS t Ey E
Bt = [3.5]
γ 1H + q
onde:
Bt - largura da base da massa de solo reforçado de modo a se atender à condição de
estabilidade contra o tombamento;
FSt - fator de segurança contra o tombamento (≥ 2).
yE - braço de alavanca do empuxo ativo em relação ao pé da estrutura.
No caso de aterros não coesivos, tem-se:
q
FSt k a 2 1 + 3
γ 2 H
Bt = H [3.6]
γ q
3 1 +
γ 2 γ 2H
Nesta fase de dimensionamento deve-se adotar provisoriamente o maior dos valores entre
Bd e Bt (expressões 3.1, ou 3.4, e 3.5) para a largura da base (B, Figura 6).
2 N 3x R
σ v min = − 1 [3.7]
B B
2N 3x
σ v max = 2 − R [3.8]
B B
com:
WxW + QxQ − Ey E
xR = [3.9]
W +Q
onde:
σvmax - tensão vertical máxima na base;
14
Geossintéticos
solo 1 solo 2
c'1, γ1 e φ'1 c'2, γ2, e φ'2
W
H
E
B/2 B/2
yE
e
O
σvmin
σvmax
B B
e= − xR ≤ [3.10]
2 6
2
H
σ v max = γ 1H + q + k a 2 (γ 2 H + 3q) [3.11]
B
2
H
σ v min = γ 1H + q − k a 2 (γ 2 H + 3q) [3.12]
B
Neste caso (c1 = c2 = 0), a excentricidade da carga na base da massa de solo reforçado é
dada por:
15
Geossintéticos
q
k a 2 1 + 3
γ 2 H H 2 B
e= ≤ [3.13]
γ1 q B 6
6 +
γ 2 γ 2H
O valor da excentricidade (e) deve ser menor ou igual a B/6, de modo a que teóricamente
toda a base da estrutura esteja comprimida (σvmin ≥ 0).
Para a análise da capacidade de carga do solo de uma fundação com carga excêntrica pode-
se utilizar a sugestão de Meyerhoff (1953), considerando-se a base da estrutura como uma
sapata equivalente com largura (B’) dada por:
B ' = B − 2e [3.14]
N
σ= [3.15]
B’
3(γ 1H + q)
σ = 2
[3.16]
γ H + 3q H
3 − k a 2 2
γ 1 H + q B
O valor dado pela expressão 3.16 deve, então, ser comparado à capacidade de carga do
solo de fundação. Para esta comparação pode-se utilizar a tradicional expressão para o
cálculo de capacidade de carga de uma fundação corrida (Terzaghi e Peck, 1967):
onde:
qmax - capacidade de carga do solo de fundação;
c’ - coesão do solo de fundação;
qs - sobrecarga ao nível da base da estrutura, caso esta esteja parcialmente enterrada;
γf - peso específico do solo de fundação;
Nc, Nq e Nγ - fatores de capacidade de carga obtidos em função do ângulo de atrito do solo
de fundação (Terzaghi e Peck, 1967).
No caso de solo de fundação fino solicitado por carregamento não-drenado, a expressão de
capacidade de carga a utilizar é dada por:
q max = S u N c + q s [3.18]
16
Geossintéticos
q max
FS f = ≥3 [3.19]
σ
17
Geossintéticos
’ ’ 2c1’
σ hz = k a1σ vz = k a1 γ 1 z + q − [3.20]
k a1
z1
S
Iai
45º + φ'/2
φ'
k a1 = tan 2 45o − 1 [3.21]
2
’ ’ 2c1’ Ey
σ hz = k a1σ vz = k a1 γ 1z + q − +6 E [3.22]
k a1 B 2
18
Geossintéticos
maciço reforçado e o valor de yE como sendo o braço de alavanca deste empuxo em relação
ao ponto O na Figura 7.
Considerando-se o equilíbrio de uma camada de reforço na face da estrutura, conforme
esquematizado na Figura 10, pode-se determinar o esforço de tração no reforço i, a uma
profundidade z, por:
’ ’ 2c1’
Ti = σ hz S = k a1σ vz S = k a1 γ 1 z + q − S [3.23]
k a1
onde:
Ti - esforço de tração no reforço i;
S - espaçamento entre reforços na profundidade z.
distribuição de tensões
horizontais ativas
σ'hi reforço i
S
Para i = 1 (reforço mais superficial) substitui-se o valor de S na expressão 3.15 pela altura
de terra sob responsabilidade daquele reforço, que é a distância ao longo da vertical entre a
superfície do terreno e o ponto médio entre a primeira e a segunda camada de reforço.
Admitindo-se que o esforço no reforço seja igual à sua resistência à tração de
dimensionamento, obtém-se a seguinte expressão para o espaçamento necessário entre
reforços na profundidade z:
Td
S= [3.24]
2c1’
k a1 γ 1 z + q −
k a1
19
Geossintéticos
Tref
Td = [2.5]
ƒ m ƒ dm ƒ amb
Pela expressão 3.24 pode-se observar que o espaçamento necessário entre reforços varia
inversamente com a profundidade. Neste caso, pode-se variar o espaçamento entre reforços
ao longo da altura do aterro de modo a ser ter um projeto mais optimizado. Tanto no caso
de espaçamento constante entre reforços quanto no caso de espaçamento variável, a
camada de reforço mais solicitada é a mais profunda, em geral na base do maciço
reforçado (z = H). Neste caso, o espaçamento uniforme entre reforços é dado por:
Td
S uniforme = [3.25]
2c1’
k a1 γ 1H + q + −
k a1
φ'
lai = B − ( H − zi ) tan 45o − 1 .26]
2
20
Geossintéticos
Neste caso, o fator de segurança contra a ruptura por ancoragem do reforço i é dado por:
2l ai γ 1 z i tan δ
FS anci = ≥2 [3.27]
Ti
onde:
δ - ângulo de atrito entre solo e reforço;
Ti - esforço de tração no reforço i (expressão 3.23)
2l ai (γ 1 z i + q ) tan δ
FS anci = ≥2 [3.28]
Ti
21
Geossintéticos
FS af σ h' 2 S
lb = − [3.29]
tan δ σ v sin θ 1 + tan δ inf
'
tan δ
onde:
lb - comprimento de ancoragem ao longo da horizontal;
FSaf - fator de segurança para a ancoragem na face (≥ 1.5);
σ’h - tensão horizontal média entre duas camadas de reforço;
σ’v - tensão vertical entre duas camadas de reforço;
θ - inclinação do comprimento la com a horizontal (Figura 12);
δinf - ângulo de atrito de interface entre a face inferior do trecho com comprimento lb e
o material subjascente (solo ou reforço, se solo: δinf = δ);
δ - ângulo de atrito entre o reforço e o solo de aterro 1.
Da expressão 3.32 pode-se observar que a situação mais crítica ocorre em reforços
superficiais (σ’v baixos). Ensaios em modelos confirmam tal situação (Lanz, 1992).
Assim, para a camada de reforço mais superficial, situada na profundidade z1 à partir da
superfície do terrapleno, tem-se:
γz1
σ v' = +q [3.30]
2
logo:
FS af σ h' 1 2 z1
lb = − [3.31]
tan δ inf
tan δ γz1 + 2q sin θ 1 +
tan δ
tan δ inf
=1 [3.32]
tan δ
22
Geossintéticos
tan δ inf
0.2 ≤ ≤1 [3.33]
tan δ
T
la z1
σ'v
S
σ'θ θ reforço i
t
σ'h lb
T
la
σ'v
S z1
σ'θθ
t
σ'h lb
Para geogrelhas com baixa razão entre área sólida em planta e área total em planta, de
forma a favorecer o intertravamento dos grãos entre os membros da grelha, o valor de
tan δinf /tan δ é próximo a 1. Ângulos de atrito de interface entre geotêxteis podem variar
de 6° a 30°, dependendo das características de rugosidade da superficie do geotêxtil.
Geotêxteis do tipo tecido, razoávelmente lisos, tendem a fornecer baixos valores de ângulo
de atrito de interface geotêxtil-geotêxtil (< 15°) . Tupa e Palmeira (1995) apresentam
valores de ângulos de atrito de interface entre diferentes geossintéticos. Caso o trecho
dobrado esteja em contacto com a camada de reforço ao longo do comprimento lb e não de
disponha de dados de ensaios, pode-se adotar conservativamente tan δinf /tan δ = 0 na
expressão 3.31.
23
Geossintéticos
• Se σ’hcomp ≥ σ‘h (em z = z1/2), usar σ‘h = σ’hcomp e q = 0 na expressão 3.31, onde
σ’hcomp é tensão horizontal induzida pela compactação (item 3.4.3).
• Se σ’hcomp < σ‘h (em z = z1/2), usar σ‘h = σ‘h (para z = z1/2) e q (≠ 0) na expressão 3.34,
onde σ‘h (para z = z1/2) é a tensão efetiva horizontal no estado ativo na profundidade
z1/2.
• valor da inclinação θ é arbitrado pelo projetista. Para materiais de aterro
predominantemente arenosos, pode-se utilizar o valor de θ próximo ao ângulo de atrito
da areia no repouso ou aproximadamente igual ao φ’cv do material de aterro.
O comprimento total do trecho dobrado para o reforço superficial (i = 1) é dado por:
1 FS af σh '
1 2
lo = la + lb = z1 + − ≥ 1m [3.34]
sin θ tan δ γz1 + 2q sin θ 1 + tan δ inf
tan δ
Por razões de facilidade construtiva é recomendado que o comprimento total dobrado (lo)
não seja inferior a 1 m (Koerner, 1998).
A sequência de cálculo de lo é a seguinte:
1. Calcular o valor de la, admitindo-se que o trecho lb é desnecessário (lb = 0):
FS af σ h' S
la = [3.35]
2σ v' tan δ
S = z1
γz1
σ v' = + q e σ‘h = σ‘h (em z = z1/2), se σ’hcomp < σ‘h (em z = z1/2) ou
2
γz1
σ v' = e σ‘h = σ’hcomp , se σ’hcomp ≥ σ‘h (em z = z1/2).
2
S
σ v' = γ ( zi − ) + q e σ‘h = σ‘h (em z = zi - S/2), se σ’hcomp < σ‘h (em z = zi - S/2)
2
ou
24
Geossintéticos
S
σ v' = γ zi − e σ‘h = σ’hcomp, se σ’hcomp ≥ σ‘h (em z = zi - S/2)
2
S (ou z1 , para i = 1)
Se: 1 m ≤ la ≤ ⇒ OK ⇒ Não é necessário o comprimento lb e, neste
sinθ
caso:
lo = l a ≥ 1 m [3.36]
FS af σ h' 2 S
lb = − [3.37]
tan δ inf
tan δ σ v sin θ 1 +
'
tan δ
Com:
Para zi = z1 (camada de reforço superficial, i = 1), fazer:
S = z1
γz1
σ v' = + q e σ‘h = σ‘h (em z = z1/2), se σ’hcomp < σ‘h (em z = z1/2) ou
2
γz1
σ v' = e σ‘h = σ’hcomp , se σ’hcomp ≥ σ‘h (em z = z1/2).
2
S
σ v' = γ zi − + q e σ‘h = σ‘h (em z = zi - S/2), se σ’hcomp < σ‘h (em z = zi - S/2)
2
ou
S
σ v' = γ zi − e σ‘h = σ’hcomp, se σ’hcomp ≥ σ‘h (em z = zi - S/2)
2
25
Geossintéticos
Neste caso:
z −t
la = 1 [3.38]
sin θ
lo = l a + l b ≥ 1 m [3.39]
onde t é a espessura de solo abaixo do trecho com comprimento lb (Figura 12). Para os
demais reforços, z1 deve ser substituído por S na expressão 3.38.
onde:
∆Ph - acréscimo de carga horizontal devido à sobrecarga localizada na superfície;
Qh - componente horizontal da carga na superfície;
Qv - componente vertical da carga na superfície;
ka1 - coeficiente de empuxo ativo do solo 1.
Os acréscimos máximos de tensões horizontais devido às componentes horizontal e
vertical do carregamento são dados por:
Acréscimo devido à componente horizontal da força Q:
26
Geossintéticos
2Qh
∆σ hh = [3.41]
hc
Qv k a1
∆σ hv = [3.42]
hc
com:
φ’
hc = d tan 45o + 1 [3.43]
2
∆σh
b
q
muro reforçado
2 2
1 1
∆σh
27
Geossintéticos
Qv k a1
∆σ hz = [3.44]
b+ z
x+
2
onde:
x - distância da face da estrutura ao ponto médio do carregamento distribuído;
b - largura do carregamento distribuído;
z - profundidade considerada.
Qh
Qv Q carregamento em faixa
hc ∆Ph
H
45o + φ'1/2
B maciço reforçado
Figura 14 Carregamento localizado sobre o maciço reforçado (Jewell, 1996)
28
Geossintéticos
u
ru = [4.1]
γz
onde:
ru - parâmetro de poropressão;
γ - peso específico do solo;
z - profundidade do elemento de solo considerado.
Comumente se utiliza um valor constante de ru para todo o maciço.
Os gráficos para a determinação do coeficiente de empuxo horizontal (kReq) neste caso são
apresentados nas Figura 18 a Figura 20. Nestas figuras aparecem também os gráficos para
determinação dos comprimentos dos reforços de modo a se atender a estabilidade interna e
a segurança contra o deslizamento ao longo da base.
29
Geossintéticos
H eq = H + ho [4.2]
geossintético
aterro
ρ
terreno
natural
E
Emax
ρ
q
maciço reforçado
Emax
E max
H
δsm
ρcrítico
30
Geossintéticos
com:
q
ho = [4.3]
γ
onde:
Heq - altura equivalente do talude levando em conta a sobrecarga na superfície;
H - altura real do talude;
ho - espessura equivalente de solo para a sobrecarga na superfície do terrapleno;
q - sobrecarga uniformemente distribuída na superfície do terrapleno;
γ - peso específico do material de aterro.
maciço reforçado
q
H
u
Emax
Td
S=
k d γH eq
[4.4]
O espaçamento pode ser constante ao longo de toda a altura do talude (igual ao valor dado
pela equação 4.4) ou variar, de modo semelhante ao apresentado para estruturas de
contenção.
31
Geossintéticos
φ'
0,5 20o
ru = 0
0,4
25o
30o
0,3
35o
k
40o
0,2
45o
50o
0,1
0
30 40 50 60 70 80 90
β ( o)
(a) Coeficiente de empuxo
LR
LR
H
H int desliz
1.2 ru = 0
1.2 ru = 0
φ'
0.8 20o 0.8
φ'
30o 20o
40o 0.4
0.4 25o
50o
30o
45o 35o
0 40o
0
30 50 70 90 30 50 70 90
β β
(o ) (o )
32
Geossintéticos
20o φ'
0,6
25o
ru = 0,25 30o
0,5
35o
40o
0,4 45o
50o
k 0,3
0,2
0,1
0
30 40 50 60 70 80 90
β (o)
(a) Coeficiente de empuxo
LR LR
H H desliz
int
30o
0.6 0.6
40o
50o 30o
40o
0 0 50o
30 50 70 90 30 50 70 90
β (o) β (o)
33
Geossintéticos
φ'
0,8 20o
0,7 ru = 0,50 30o
40o
0,6
50o
0,5
k 0,4
0,3
0,2
0,1
0
30 40 50 60 70 80 90
β (o)
(a) Coeficiente de empuxo
LR LR
H int H
desliz
3.0 3.0
ru = 0,50 ru = 0,50
φ'
2.0 2.0 20o
φ'
20o
25o
k Re q
kd = [4.5]
L
1− B
LR
com:
34
Geossintéticos
T 1 1
LB = d [4.6]
2γH 2 1 − ru
f b tan φ
’
onde:
kd - coeficiente de empuxo ser usado no dimensionamento;
LB - comprimento de ancoragem requerido para o reforço na base da estrutura;
LR - comprimento do reforço de modo a atender às condições de estabilidade interna e
segurança contra o deslizamento. Maior dos valores obtidos nas Figura 18 (b) e (c), no
caso de ru = 0, por exemplo;
Td - resistência à tração do reforço de dimensionamento;
fb - coeficiente de interação entre solo e reforço (ver equação 2.1)
Para evitar mecanismos de ruptura superficiais, não passando pelo pé do aterro reforçado,
aumenta-se a tensão horizontal na região superficial do aterro de um valor dado por:
com:
LB
z crit = H [4.8]
LR
onde:
σmin - tensão a ser equilibrada pelos reforços na região superficial do aterro (é assumida
constante até a profundidade zcrit. Se σmin é menor que σhcomp, deve-se usar σhcomp.
zcrit - profundidade crítica, acima da qual o reforço só é capaz de mobilizar um esforço
de tração igual a sua resistência por ancoragem.
O diagrama de tensões ativas a ser equilibrado pelas camadas de reforço aparece
esquematizado na Figura 21. Os reforços podem ser distribuídos ao longo da altura real da
estrutura (com espaçamento constante ou variável) de modo a equilibrar o diagrama de
tensões horizontais da Figura 21.
35
Geossintéticos
z'
z'crit
Heq
z' kdσ'v
Figura 21 Diagrama de tensões ativas na massa reforçada
WxW + QxQ − Ey E
xR = [4.9]
W +Q
com:
kdγ
E= ( H eq2 − ho2 ) [4.10]
2
B
e= − xR [4.11]
2
As pressões que definem o diagrama trapezoidal de tensões verticais na base são dadas por:
2N 3x
σ v max = 2 − R ≥ 0 [4.12]
B B
2N 3x R
σ v min = − 1 ≥ 0 [4.13]
B B
36
Geossintéticos
B
β
σvmin
σvmax
N
xR
onde N é a força norma na base (
Figura 23), dada por:
N =W +Q [4.14]
maciço reforçado
xQ Q=qB
W
xw
H u
Emax
B
α yE
Ntanδb
N
xR
B ' = B − 2e [4.15]
N
σ= [4.16]
B'
37
Geossintéticos
Com:
q max
FS f = ≥3 [4.18]
σ
B
β
σvmin
σvmax
N
xR
O comprimento final dos reforços (largura da base do maciço reforçado) deve ser tal que
todas as condições de estabilidade (interna e externa) sejam atendidas.
As considerações sobre compactação apresentadas para as estruturas de contenção podem
também ser estendidas ao caso de taludes íngremes reforçados.
b
1
2
hc
45o + φ'1/2 H
Qv ka1
x + (b + z)/2
B
z
38
Geossintéticos
Qh
Qv Q maciço reforçado
2Qh/hc
hc
H
45o + φ'1/2
B
Figura 25 Efeito da componente horizontal da carga na superfície (Jewell, 1996)
Na presente data ainda não são disponíveis métodos simples para a estimativa de
deslocamentos horizontais na face de estruturas de arrimo em solo reforçado com
geossintéticos. Dados de obras reais sugerem deslocamento horizontais máximos entre 0.2
e 3% da altura da estrutura (tipicamente entre 0.2 e 1.2% da altura), dependendo das
características da obra, rigidez do reforço, tipo de solo, compressibilidade da fundação, etc.
Em vista da complexidade do problema, é importante frisar que as metodologias
apresentadas abaixo devem ser encaradas como ferramentas um tanto grosseiras para se ter
uma indicação do possível nível de deslocamentos horizontais máximos de faces de
estruturas de contenção em solo reforçado com geossintéticos.
4
1 - carregamento uniformemente
distribuído na superfície;
2 - peso próprio do solo;
3 - componente horizontal de carregamento
localizado na superfície;
5
4 e 5 - componente vertical de carregamento
1 localizado na superfície.
39
Geossintéticos
σh(z = 0)
H
δ h max = δ R , para reforços extensíveis [3.45]
75
H
δ h max = δ R , para reforços rígidos [3.46]
250
H q H q
δR 1 + 0.25 ≤ δ h max ≤ δ R 1 + 0.25 [3.47]
250 20 75 20
40
Geossintéticos
δR
0
0 0.5 1.0 1.5
B/H
Figura 28 Gráfico para estimativa de deslocamentos horizontais máximos (FHWA, 1990)
E
Tr = [3.48]
n
γH + 2q
E = k a1 H [3.49]
2
onde:
Tbase - esforço de tração no reforço na base da estrutura;
Tr - esforço de tração constante em cada reforço para espaçamento variável;
E - empuxo ativo a ser resistido pelas camadas de reforço;
n - número de camadas de reforço.
Comparações entre a metodologia proposta por Jewell (1996) e resultados de modelos
físicos de estruturas reforçadas mostraram boa concordância somente quando o valor
41
Geossintéticos
adotado para o ângulo de atrito mobilizado foi igual a φ’cv e com ângulo de dilatância igual
a zero, ou seja, em condições de estado crítico (Palmeira e Lanz, 1994).
Na falta de valores de ensaios, o valor do ângulo de dilatância de areias pode ser estimado
pela relação apresentada por Bolton (1986):
onde:
ψ - ângulo de dilatância da areia;
φ’ p - ângulo de atrito de pico da areia em condições de deformação plana;
φ’cv - ângulo de atrito da areia a volume constante.
Como a correlação apresentada pela FHWA (1990) é baseada na observação de obras reais
ela embute deslocamentos horizontais que possam ter seido causados por compressão do
solo de fundação, o que não ocorre na metodologia apresentada por Jewell e Milligan
(1989).
0,55
0,5
ψ = 0o
0,45
0,4
δhmaxJ ψ = 10o
HTbase 0,35
0,3
ψ = 20o
0,25
0,2
20 25 30 35 40 45
Ângulo de atrito mobilizado (graus)
42
Geossintéticos
0,9
δhmaxJ
0,8
HTr
0,7
0,6
0 5 10 15 20 25
Ângulo de dilatância, ψ (graus)
(b) Espaçamento variável e carga constante nos reforços.
Figura 29 Estimativa de deslocamentos horizontais na face – aterros arenosos (Jewell e Milligan, 1989)
N
δ xe = u OT sin λ [3.51]
Ef
Ne
ω e = tan −1 2 ω cos λ [3.52]
E B 2 CM
f
com:
E
λ = tan −1 [3.53]
N
onde:
δxe - deslocamento horizontal elástico da base da massa reforçada;
λ - inclinação da resultante das forças na base da estrutura com a vertical;
N - força normal na base da estrutura;
Ef - módulo de elasticidade do solo de fundação;
43
Geossintéticos
Ef, ςr
B/2 B/2
Base rígida
Figura 30 Sapata com Carga Excêntrica Sobre Camada Elástica (Milovic et al, 1970)
δ he = δ xe + H sin ω e [3.54]
44
Geossintéticos
6. Exemplo de Cálculo
Seja dimensionar a estrutura de contenção em solo reforçado com geossintéticos para a
situação esquematizada na Figura 31. Os dados do problema são:
Altura da estrutura: 5 m
Dados do Solos:
Solo Símbolo Valor
3
1 γ1 17 kN/m
c'1 0
φ’1 = φ’cv 32º
φ’p 39º
δ 29°
3
2 γ2 = 19 kN/m
c'1 = 6 kPa
φ’2 = 30°
Fundação δb 25°
c’ 10 kPa
φ’ 34°
Ef 30 MPa
νf 0.30
Reforço:
Geotêxtil não tecido de poliéster
MA = 430 g/m2
ƒfl = 1.8
solo 2
H=5m
D=7,2
45
Geossintéticos
onde:
φ' 30°
k a 2 = tan 2 45° − 2 = tan 2 45° − = 0.333
2 2
E = 62.11 kN/m
yE = 1.48 m
1.5 × 62.11
Bd = = 2.10 m
(17 × 5 + 10) tan 28°
Verificação do Tombamento
2 FS t Ey E
Bt = [3.5]
γ 1H + q
46
Geossintéticos
solo 1
σ'h = 3,59 kPa
0 10 20 30 σ'h (kPa)
0,57 m
2
solo 2
H=5m
E=62,1 kN/m
4
1,48 m
Q = 2.1x10 = 21 kN/m
xW = xQ = 1.05 m
WxW + QxQ − Ey E
xR = [3.9]
W +Q
Então:
2N 3x R
σ v min = − 1 [3.7]
B B
199.5 3 × 0.59
σ v min = − 1 = −10.93 kPa → < 0
2.1 2
Deve-se aumentar a base da estrutura de modo a se ter σvmin positivo e não muito pequeno.
Seja, então, admitir-se B = 3.5 m. Neste caso:
47
Geossintéticos
Q = 3.5x10 = 35 kN/m
xW = xQ = 1.75 m
Então:
332.5 3 × 1.47
σ v min = − 1 = 24.7 kPa
3.5 3.5
Então:
2N 3x
σ v max = 2 − R [3.8]
B B
2 × 332.5 3 × 1.47
σ v max = 2 − = 140.6 kPa
3.5 3.5
B B
e= − xR ≤ [3.10]
2 6
B 3.5
e= − xR = − 1.47 = 0.28 m
2 2
B ' = B − 2e [3.14]
N
σ= [3.15]
B’
48
Geossintéticos
332.5
σ= = 113.10 kPa
2.94
Então:
q
FS f = max ≥ 3 [3.19]
σ
1628.76
FS f = = 14.4 ≥ 3 ⇒ OK
113.10
Estabilidade Interna
39.2
Tref = = 21.8 kN/m
1.8
Tref
Td = [2.5]
ƒ m ƒ dm ƒ amb
21.8
Td = = 15 kN/m
1.1 × 1.2 × 1.1
49
Geossintéticos
Td
S= [3.24]
2c1’
k a1 γ 1 z + q −
k a1
com:
φ'
k a1 = tan 2 45° − 1 [3.21]
2
32°
k a1 = tan 2 45° − = 0.31
2
15
S uniforme = = 0.51m
2×0
0.31 × 17 × 5 + 10 −
0.31
O arranjo para reforços com espaçamento uniforme aparece esquematizado na Figura 33.
O total de camadas de reforço nesse caso seriam n = 10 camadas.
reforço
5m
0.5 m
50
3.6 m
Geossintéticos
Para S variável ao longo da altura, a variação de S com a profundidade z seria dada por:
15 15
S= =
0.31 × [17 z + 10] 5.27 z + 3.1
51
Geossintéticos
profundidade, z (m)
2
5m
3.6m
φ'
lai = B − ( H − zi ) tan 45° − 1 [3.26]
2
52
Geossintéticos
32°
lai = 3.5 − (5 − 0.50) tan 45° − = 1.01 m
2
2laiγ 1 zi tan δ
FS anci = ≥2 [3.27]
Ti
S
T1 = z1 + σ 'hz
2
’ ’ 2c1’
σ hz = k a1σ vz = k a1 γ 1z + q − [3.20]
k a1
A Figura 36 (a) e (b) apresenta os diagramas de tensões horizontais na face para os casos
sem e com sobrecarga na superfície. Nesta situação, em ambos os casos a tensão horizontal
crítica é o valor induzido pela compactação. Nesse caso σ’hz = 10 kPa. Então:
53
Geossintéticos
Como a tensão horizontal induzida pela compactação é maior que oriunda do peso próprio
do solo, tem-se σ‘h = σ‘hcomp = 10 kPa. Então, para o reforço superficial (S = z1 = 0.45 m):
FS af σ h’ z1
la = [3.35]
2σ v’ tan δ
1.5 × 10 × 0.75
la = = 1.59 m
0.75
2 × 17 × tan 29°
2
54
Geossintéticos
efeito da compactação
σ'h = 3,10 kPa
0 10 20 30 σ'h (kPa) 0 10 20 30 40 σ'h (kPa)
2 2
4 4
Admitindo-se θ = 30º:
z1 0.75
= = 1.50 m < la ⇒ o comprimento lb é necessário. Então:
sin θ sin 30°
FS af σ h' 2 S
lb = − [3.37]
tan δ σ v sin θ 1 + tan δ inf
'
tan δ
Então:
1.5 10 2 0.75
lb = − = 0.09 m
17 × 0.75 sin 30° (1 + 1)
tan 29°
2
z − t 0.75 − 0.1
la = 1 = = 1.13 m [3.38]
tan θ tan 30°
55
Geossintéticos
Pelo gráfico da Figura 3.15 (FHWA, 1990), para B/H = 3.6/5 = 0.72, tem-se δR = 1.0.
Majorando-se esse valor pelo efeito da sobrecarga, tem-se:
H q H q
δR 1 + 0.25 ≤ δ h max ≤ δ R 1 + 0.25 [3.47]
250 20 75 20
5 10 5 10
1.0 × 1 + 0.25 ≤ δ h max ≤ 1.0 1 + 0.25
250 20 75 20
ψ ≅ 1.25(φ ’p − φcv
’
) [3.48]
56
Geossintéticos
δ h max J
= 0.39
HTbase
Tbase = ka1S(γ1H+q)
Então:
0.39 × 5 × 14.73
δ h max = = 0.072m = 7.2 cm
400
Os valores obtidos pela FHWA (1990) e por Jewell e Milligan (1989), foram muito
próximos, adote-se δhmax= 7.5 cm.
N
δ xe = uOT sin λ [3.51]
Ef
Como a base da estrutura foi alterada para atender a ancoragem, a nova excentricidade é
dada por:
57
Geossintéticos
Q = 3.6 x 10 = 36 kN/m
N = W + Q = 342 kN/m
xW = xQ = 1.80 m
WxW + QxQ − Ey E
xR = [3.9]
W +Q
B 3.60
e= − xR = − 1.53 = 0.27m
2 2
E 62.11
λ = tan −1 = tan −1 = 10.29°
N 342
Então:
N 342
δ xe = uOT sin λ = 1.853 × sin 10.29° × = 0.0038m = 0.38cm
Ef 30000
Ne
ω e = tan −1 2 ω cos λ [3.52]
E B 2 CM
f
58
Geossintéticos
342 × 0.27
ω e = tan −1 2 2
× 3.013 × cos 10.29° = 0.081°
30000 × 3.60
Logo, δhmax/H = 8.6/500 = 0.017 ≈ 2/100 ⇒ inclinar face em por uma relação 1/50.
Detalhe 1
0,10
0,50
0,10
~
1,5 1,0 0,30
5,0
Detalhe 2 0,5
1,5 Detalhe 2
1,0
Detalhe 3
1,15
3,6
0,5
Figura 37.
59
Geossintéticos
Detalhe 1
Detalhe 1
0,10
0,50
0,10
~
1,5 1,0 0,30
5,0
Detalhe 2 0,5
1,5 Detalhe 2
1,0
Detalhe 3
1,15
3,6
0,5
Figura 37
60
Cortinas ancoradas
Cortinas ancoradas
Introdução
Este capítulo trata das cortinas ancoradas, que são estruturas de contenção que
empregam tirantes. Neste Manual, este assunto é tratado distintamente das ancoragens,
que são discutidas em um capítulo à parte.
As cortinas ancoradas tiveram um grande desenvolvimento no Brasil graças ao trabalho
incansável do professor A J da Costa Nunes da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
que desenvolveu o método a partir de 1957 na empresa Tecnosolo SA. Nunes e co-
autores publicaram um grande número de trabalhos sobre o assunto (e.g., Nunes e
Velloso, 1963, Nunes, 1987, Hunt e Nunes, 1978). Outros trabalhos importantes foram
publicados por ex-colaboradores (Cerqueira, 1978, Yassuda e Dias, 1998) que resumem
a experiência brasileira. A experiência internacional é resumida em Hanna (1982),
Weatherby (1982), Cheney (1984), Fernandes (1981, 1990), Pinelo (1980), entre outros.
A norma ABNT NBR 5629 trata das ancoragens e também das estruturas ancoradas.
Uma cortina ancorada compreende uma parede de concreto armado, espessura em geral
entre 20 e 30 cm, em sfunção das cargas nos tirantes, fixada no terreno através das
ancoragens pré-tensionadas (Figura 1). Com isso obtém-se uma estrutura com rigidez
suficiente para minimizar deslocamentos do terreno.
Concreto
armado Ancoragens
1
Cortinas ancoradas
2
Cortinas ancoradas
Análise de estabilidade
Analisar a estabilidade de uma cortina ancorada significa garantir a estabilidade de
todos os modos de ruptura indicados na Figura 6, que são tratados a seguir.
3
Cortinas ancoradas
• Puncionamento da base: Pode ocorrer quando o solo onde se apoia a base da cortina
é de baixa capacidade de suporte. Toma-se como material de baixa capacidade de
suporte, ou seja capacidade de carga inferior a 20 kPa, ou índice N de resistência a
penetração, SPT, inferior a 10. Nesse caso, uma das soluções é a adoção de
microestacas de apoio, assunto que será tratado mais adiante neste capítulo.
• Ruptura de fundo da escavação: Situação que pode ocorrer se uma camada mole
existir abaixo do nível de escavação.
• Ruptura global: a ruptura global pode ser subdividida em dois casos, o de uma
cunha de ruptura e de uma ruptura generalizada e profunda (Figura 7). O primeiro,
pode ser analisado pelo método das cunhas, o segundo pelo método de equilíbrio
limite com superfície circular ou poligonal. Um caso comum de risco de ruptura em
cunha ocorre durante a escavação, situação que pode ser estabilizada através de
escavação em nichos.
• Deformação excessiva: Pode ocorrer durante a construção antes da protensão de um
determinado nível de ancoragens. Uma vez a obra executada, dificilmente ocorre,
pois as cortinas ancoradas são suficiente rígidas
• Ruptura das ancoragens: Ocorre por capacidade de carga insuficiente das
ancoragens ou durante a execução quando outros níveis de ancoragem ainda não
foram instalados. Por exemplo, em estruturas ancoradas utilizadas na base de
taludes muito altos (Figura 8). Havendo instabilização do talude e deslocamentos da
massa de solo, as ancoragens poderão ser supertensionadas e romper. O
dimensionamento das ancoragens isoladas é tratado em outro capítulo deste Manual.
4
Cortinas ancoradas
• Ruptura da parede. Pode haver duas situações: ruptura por flexão devido a
armadura insuficiente e ruptura por puncionamento das ancoragens. Ambos os
casos são pouco comuns e são tratados em outro capítulo.
As rupturas por deformação excessiva, das ancoragens ou da estrutura da parede são
consideradas como internas, as demais externas.
Ruptura em cunha Ruptura generalizada
5
Cortinas ancoradas
O método alemão emprega duas cunhas de deslizamento, sendo que a segunda corta a
ancoragem no seu ponto médio. Este método foi aplicado por Jelinek e Ostermeyer
(1966 e 1967) e Ranke e Ostermeyer (1968).
Método alemão Método brasileiro
2
1
q
l1
Ψs
θ
T h
A
l3 H
zw
U
Ψf Ψp cr
O fator de segurança (FS) é dado pela seguinte equação (Hoek e Bray, 1981):
6
Cortinas ancoradas
onde:
Ψf +φ
Ψ pcr =
2
θ = 90° − (Ψ p + ξ )
cr
l 3 ⋅ cos Ψ f + l1 ⋅ cos Ψs
l2 =
cos Ψ p
A = l2 × 1 m
H
l3 =
sen Ψ f
h = l 3 ⋅ sen ρ
l ⋅ sen ρ
l1 = 3
sen δ
A⋅h
S=
2
ρ = Ψ f − Ψpcr
δ = Ψpcr − Ψs
W = S ⋅ γ + q l1 cos Ψs
γ w ⋅ z w2 ⋅
U=
4 ⋅ sen Ψ pcr
7
Cortinas ancoradas
H Altura do talude m
Ψf Inclinação da face do talude graus
Ψs Inclinação da parte superior do talude ou berma graus
Ψpcr Inclinação crítica da superfície de ruptura graus
q Sobrecarga distribuída no topo do talude kPa
b Distância da trinca de tração da crista do talude m
α Coeficiente de aceleração horizontal, devido à explosão próxima ou
sismicidade, dado em relação à aceleração da gravidade
T Força de ancoragem por metro linear kN/m
ξ Ângulo de inclinação da ancoragem com a horizontal graus
θ Ângulo de inclinação da ancoragem em relação à normal à superfície de graus
ruptura
c Coesão na superfície de ruptura MPa
φ Ângulo de atrito da superfície de ruptura graus
3
γ Peso específico da rocha kN/m
3
γw Peso específico da água kN/m
zw Altura do NA m
U Força de submersão da água por metro linear kN/m
V Esforço instabilizante da água por metro linear kN/m
W Peso do bloco de rocha por metro linear kN/m
2
A Área da superfície de ruptura por metro linear m /m
A equação anterior para um talude sem água e aceleração sísmica nula pode ser
simplificada para:
c A + (W cos Ψ pcr + T cos θ ) tan φ
FS =
WsenΨ pcr − T senθ
Ábacos de pré-dimensionamento
Os ábacos apresentados na Figura 11 a Figura 16 podem ser empregados em pré-
dimensionamento de casos simples. Fornecem a carga de ancoragem necessária para
atingir um FS = 1,5 em função da altura da cortina para valores selecionados de ângulo
de atrito e de coesão do terreno. Os valores da sobrecarga q e do peso específico do
solo γ foram tomados respectivamente iguais a 20 kPa e 18 kN/m3.
8
Cortinas ancoradas
200
º
25 30º
=
φ T
160 º
35 15º H
T
(kN/m) 120
80
40
c = 10 kPa
γ = 18 kN/m3
0
3 4 5 6 7
H (m)
Figura 11 Carga de ancoragem (FS = 1,5) em cortina vertical sem água, talude no topo horizontal
400
350 25º T ψs
φ= 30º 15º
300 H
T 35º
250
(kN/m)
200
150
c = 10 kPa
100 γ = 18 kN/m3
Ψs = 30º
50
0
3 4 5 6 7
H (m)
Figura 12 Carga de ancoragem (FS = 15) em cortina vertical com talude 30o, sem água
9
Cortinas ancoradas
250
º
º
25
30 T
φ
=
H
15º
º H
200 35 zw =
2
T
(kN/m)
150
100
50
c = 10 kPa
3
γ = 18 kN/m
0
3 4 5 6 7
H (m)
Figura 13 Carga de ancoragem (FS = 1.5) para cortina vertical com água (50%), talude no topo
horizontal
300
º
30
º
25
T
φ
=
15º zw = H
250 35º
T
(kN/m) 200
150
100
50
c = 10 kPa
γ = 18 kN/m3
0
3 4 5 6 7
H (m)
Figura 14 Carga de ancoragem (FS=1.5) cortina com água (100%), talude no topo horizontal
10
Cortinas ancoradas
450
º
400 25 º
φ= 30
º
350 35
T
(kN/m) 300
250
ψs
200
T
15º H
150 H
zw =
2
100
c = 10 kPa
50
γ = 18 kN/m3
ψs = 30º
0
3 4 5 6 7
H (m)
Figura 15 Carga de ancoragem (FS = 1.5) em cortina com talude 30o, com água (50%)
500
450 º
25 30º
φ= º
400 35
T
350
(kN/m)
300
ψs
250
T
200
15º zw = H
150
100
c = 10 kPa
50
γ = 18 kN/m3
ψs = 30º
0
3 4 5 6 7
H (m)
Figura 16 Carga de ancoragem (FS = 1.5) em cortina com talude 30o, com água (100%)
11
Cortinas ancoradas
O efeito da ancoragem sobre o talude pode ser simulado através de uma força aplicada
sobre a superfície do mesmo.
12
Cortinas ancoradas
Espaçamento de ancoragens
O espaçamento entre ancoragens deve ser tal que elimine a interação entre os bulbos
ancorados e também em função do dimensionamento estrutural da parede de concreto
armado. Pinelo (1980) utilizou o método dos elementos finitos para estudar a interação
entre bulbos e recomendou utilizar espaçamentos indicados na Figura 19 para eliminar
este efeito.
>5m
H > 6 D (> 1 m)
min 0,15 H
> 6 D (> 1 m)
>6D
2 D (1 − ν s )
2
L0 = 3
Es
13
Cortinas ancoradas
E h3
D=
12(1 − ν 2 )
140
e a do estado de deformação plana (%)
120
a distribuição de tensões real
Diferença máxima entre
100
S
80
60
40
20
0
0 1 2 3 4 5 6
S / L0
Figura 20 Erro na distribuição de tensões calculada em estado plano de deformações (Tsui, 1974)
14
Cortinas ancoradas
Na etapa inicial da obra instala-se no terreno uma linha de microestacas a partir do topo
do talude. As microestacas são dimensionadas para suportar com segurança a carga do
painel de concreto armado. O comprimento é determinado considerando somente o
atrito lateral das microestacas com o solo, conforme norma de fundações ABNT NBR
6122.
300 mm
Microestacas
Figura 21 Emprego de microestacas para suporte da parede e reforço de solo durante a escavação
A capacidade de carga de uma microestaca isolada (Ql) por atrito lateral pode ser
estimada pela seguinte equação:
Ql = π D l f s
onde:
D = diâmetro da microestaca
l = comprimento do trecho da estaca embutida no terreno;
fs = atrito lateral unitário em kPa, podendo ser estimado através de correlações com o
SPT da seguinte maneira:
fs = 3 N
15
Cortinas ancoradas
Aço 50 A
fck = 18 MPa
16
Solo grampeado
Solo grampeado
Introdução
Este capítulo versa sobre uma das técnicas de reforço de solos em que se empregam inclusões
semi-rígidas denominadas grampos, e daí a denominação solo grampeado. Esta técnica foi
aplicada de maneira intuitiva na década de 70 em São Paulo. Na sua fase atual, análises de
estabilidade em que se simula o efeito do reforço têm levado a soluções alternativas mais
econômicas.
O solo grampeado é uma técnica bastante prática e comprovadamente eficiente para a
estabilização de taludes de escavações através do reforço do solo in situ. Foi empregada no
Brasil de maneira intuitiva por construtores de túneis desde 1970, mas esta bem sucedida
experiência só foi divulgada recentemente (Ortigão et al, 1993 e 1995).
Em 1972 foi empregada pela primeira vez na França com o nome de sol cloué (Toudic, 1975)
e, desde então, tem sido aplicada na Alemanha (Stocker et al, 1979 e 1990; Gässler, 1991),
Canadá (Fannin et al., 1991; Bowden, 1991, EUA (Shen et al.,1981 e Thompson et al., 1990),
França (Clouterre, 1991 e Plumelle et al., 1990) e Grã-Bretanha (Bruce et al., 1986), entre
outros.
Sua origem é semelhante à técnica de execução de túneis (Figura 1) com suporte flexível,
permitindo a deformação do terreno. Com isso permite-se a formação de uma região
plastificada no entorno da escavação, que pode ser reforçada através de chumbadores.
Ao contrário, no método convencional de execução de túneis, com suporte rígido, os
deslocamentos do terreno são impedidos por um revestimento rígido que, por sua vez,
mobiliza no maciço esforços muito maiores e é uma solução mais cara. Pode-se afirmar,
então, que uma escavação de solo grampeado está para execução de túneis com revestimento
flexível da mesma forma que a solução convencional de túneis se compara a uma cortina
ancorada.
1
Solo grampeado
Figura 1 Comparação com a técnicas de execução de túneis com revestimento flexível e rígido
Descrição da técnica
O grampeamento do solo consta de um reforço obtido através da inclusão de elementos
resistentes à flexão composta, denominados grampos, que podem ser barras de aço, barras
sintéticas de seção cilíndrica ou retangular, microestacas, ou em casos especiais, estacas. Os
grampos são instalados suborizontalmente, de forma a introduzir esforços resistentes de tração
e cisalhamento. Aplicações típicas tanto na estabilização de taludes quanto em escavações
constam na Figura 2.
Figura 2 Aplicações do reforço de solos através do grampeamento: (a) na estabilização de taludes; (b) no
escoramento de escavações
2
Solo grampeado
Vantagens
A técnica de solo grampeado apresenta vantagens econômicas tanto no escoramento de
escavações quanto na estabilização de taludes. Desde o primeiro emprego no Brasil em 1970
vários projetistas e construtores têm optado por esta solução e já se obteve uma razoável
experiência em obras executadas, mas muito pouco esforço na observação de deslocamentos e
tensões no reforço.
A evolução dos métodos de análise e a experiência na execução e nos bons resultados permite
otimizar o projeto, reduzindo-se o comprimento total de grampos em relação aos projetos
elaborados da década de 70-80.
Método executivo
Muros de solo grampeado têm sido empregados tanto em taludes naturais ou previamente
escavados, em que as condições de estabilidade não são satisfatórias, quanto em escavações.
Neste caso, o grampeamento é feito na massa de solo à medida em que a escavação é
executada em etapas (Figura 3), em geral com 1 a 2m de profundidade, obtendo-se uma zona
de solo reforçado que funcionará como suporte do material atrás sem reforço.
3
Solo grampeado
Figura 4 Fases executivas em solo grampeado:da esquerda para à direita: escavação, instalação dos
grampos e contenção pronta (Linha Amarela, Rio de Janeiro, Foto GeoRio)
Figura 5 Execução do concreto projetado (Linha Amarela, Rio de Janeiro, Foto GeoRio)
mm, seguido de injeção de nata de cimento com pressões baixas, inferiores a 100 kPa. A nata
de cimento pode melhorar muito com o uso de aditivos como os expansores de calda de
cimento que evitam a retração. Com este processo, o atrito lateral unitário obtido em solos
compactos ou rijos é razoavelmente elevado.
Detalhes executivos e controles de construção são detalhadamente revistos no trabalho da
FHWA (1984).
400
Silte arenoso, São Paulo
2
(r = 0.624)
Saprolitos de ardósia,
200 Brasília
Dois pontos adicionais, correspondentes a ensaios recentes realizados pela GeoRio (Feijó,
1999), foram adicionados na Figura 6. Tais pontos plotam bem abaixo da recomendação
contida na citada figura.
Ensaios de arrancamento
O atrito solo-grampo deve ser medido através de ensaios de arrancamento, como indicado na
Figura 7 e detalhados em outro capítulo deste Manual.
5
Solo grampeado
Deflectômetro
Placa
de aço
Célula de
carga
Macaco
hidráulico
Trecho injetado
A Figura 8 apresenta detalhes de grampos utilizados. No primeiro tipo (Figura 8a), a porca e
placa de apoio permitem a aplicação de uma pequena carga de incorporação da ordem de
5 kN. Isto serve para garantir contato solo-concreto-projetado, precaução importante no caso
de muros com paramento vertical. O segundo tipo (Figura 8b), empregado em taludes
inclinados, a extremidade do grampo com diâmetro de 20 mm é dobrada para fixação ao
revestimento.
6
Solo grampeado
Porca
Barra de aço Placa metálica
Barra Calda
Calda de cimento
150 mm de de
80 mm
aço cimento
Centralizador
(a)
(b)
Figura 8 Detalhes de grampos mais comuns: (a) barra de aço com diâmetro igual ou maior que 20 mm;
(b) barra de aço com diâmetro inferior a 20 mm
Concreto projetado
0
30
0
20 Concreto
0 moldado in loco
20 50
0
30
25 50 Grampo
0
50
Dimensões em mm
A pesquisa de novos materiais sintéticos e compostos têm levado à utilização dos plásticos
reforçados por fibras (FRP - Fibre reinforced plastics, Figura 10, Ortigão, 1995) que são
imunes à corrosão a uma grande maioria de agentes agressivos. As barras de FRP são
produzidas por um processo denominado pultrusão e o produto final apresenta grande
resistência à tração - até 3 vezes a do aço, baixo peso específico, mas o custo em geral é
superior ao do aço. O uso do plástico reforçado só é recomendado em meio ambiente de
extrema agressividade, o que não ocorre em geral no Rio de Janeiro.
cargas de 200 a 500 kN, para prevenir deslocamentos da cortina, os grampos sofrem no
máximo uma pequena pré-tensão, da ordem de 5 kN, com a finalidade exclusiva de garantir a
ligação com o concreto projetado, principalmente em paramentos verticais.
Os grampos, ao contrário das ancoragens, não têm trecho livre, transferindo tensões para o
solo ao longo de todo seu comprimento. Em conseqüência, a distribuição de tensões na massa
de solo é diferente.
Ancoragens
Figura 11 Mecanismos de transferência de carga: (a) cortina ancorada; (b) muro em solo grampeado
9
Solo grampeado
0 10m
Figura 13 Contenção de taludes de emboques em 1970 (a) Corte; (b) Vista, (obra Este Engenharia)
• Icaraí, Niterói, RJ
Em Niterói, RJ, foi executado em 1984 um corte de 35 m de altura (Figura 14) em solo
saprolítico de gnaisse. A parte inferior do corte com altura até 18 m foi estabilizada com
ancoragens injetadas protendidas. A parte superior, com altura de 17 m e inclinação de 75o
foi grampeada com barras de 6 e 9 m de comprimento e 25 mm de diâmetro instalados em
furos de 90 mm preenchidos com calda de cimento. Foi adotado espaçamento de 1,5 m tanto
na direção vertical, quanto na horizontal. O paramento do muro, tanto na parte superior
quanto na inferior, foi executado em concreto projetado com 150 mm de espessura armado
com duas telas metálicas.
10
Solo grampeado
9m
Concreto 6m
17 m projetado 9m
Grampos
35 m 6m
Concreto
projetado 16m
16 m 14m
12m
16m
ancoragens 14m
convencionais
Figura 14 Contenção de escavação em solo residual gnaisse para implantação de prédio de apartamentos,
Icaraí, Niterói, RJ (obra Este Engenharia).
Durante a obra verificou-se a ocorrência de trincas de tração na crista do talude, que chegaram
a abrir cerca de 5 mm. Foram preenchidas com calda de cimento e desde então não houve
indícios de movimentação.
Concreto
projetado
Grampos
25m
26 m
20m
10m
0 10 m
11
Solo grampeado
Figura 15 Contenção de talude em filito sob a fundação de viaduto ferroviário (a) seção transversal do
talude; (b) (foto Este Engenharia
Experiência da GeoRio
A primeira experiência em solo grampeado da GeoRio foi a obra do Morro da Formiga em
1992 (Figura 16), tendo sido de caráter exclusivamente experimental.
Grampos φ32mm
L=3m
furo φ 75mm
5m espaçamento horizontal
e vertical 1,5m
inclinação dos grampos 20°
Saprolito de
gneiss
A primeira obra projetada e executada pela GeoRio foi em 1996, em uma encosta da Av
Automóvel Club, 2500 m2 de área de contenção (Figura 17). Os grampos tiveram
comprimentos de 6 e 4 m, com barras de aço de 25 mm de diâmetro.
A Solo grampeado
110
105 construção
12051
Aterro
Concreto
projetado 6m
H=11 m
4m
Avenida Automóvel Clube
Argila siltosa
média a dura
A
construção
0 5 10 m
12
Solo grampeado
Várias obras de contenção com solo grampeado foram executadas para contenção de encostas
da Linha Amarela, construída entre 1995 e 97. A Figura 18 mostra o emboque do Túnel da
Covanca, Linha Amarela, onde do lado esquerdo foram executadas contenções em solo
grampeado (Figura 4, Figura 5).
mureta
Concreto
projetado 80mm
Saprolito
8m
20m 6m
Rocha alterada
3m
Rocha sã
1 5m
Figura 18 Contenções no emboque do Túnel da Covanca, Linha Amarela, solo grampeado à esquerda
Métodos de análise
Os principais métodos de análise de obras de solo grampeado estão sumarizados na Tabela 1.
Todos subdividem o terreno atrás do muro em uma cunha ativa, limitada por uma superfície
potencial de deslizamento, sendo o restante considerado zona passiva, onde os grampos são
fixados. A análise de estabilidade global é feita aplicando-se os esforços estabilizantes dos
grampos na cunha ativa.
Os métodos de análise diferem, entretanto, quanto à forma da superfície de ruptura, o método
de cálculo do equilíbrio das forças atuantes e a natureza dessas forças.
13
Solo grampeado
CARACTERÍSTICAS MÉTODOS
Referência Stocker et al, Shen et al, Schlosser,1983 Juran et al, Bridle, Anthoine,
1979 1981 1988
1989 1990
Superfície de ruptura Bi-linear Parabólica Circular ou espiral log espiral log espiral log
poligonal
Grampos resistem a:
Tração x x x x x x
Cisalhamento x x x
Flexão x x x
Uma conclusão importante é que a flexão nos grampos de pequeno diâmetro tem pouca
importância na estabilidade de um muro. A flexão afeta pouco o fator de segurança global, no
máximo 3% e, por isso pode ser desprezada sem problemas. Por esta razão, considera-se
somente o efeito da tração para estabilizar a cunha ativa através da seguinte equação:
T = π Dq s L p
Programas de análise
Alguns programas comerciais para PC empregados na análise de taludes e muros de solo
grampeado estão comparados na Tabela 2.
Tabela 2 Características de alguns softwares de análise de estabilidade com grampos (Ortigão et al, 1995)
15
Solo grampeado
Ábacos de pré-dimensionamento
Pode-se empregar ábacos de estabilidade para o pré-dimensionamento de muros de solo
grampeado. A metodologia seguinte é a recomendada pelo projeto Clouterre (1991) e consta
de ábacos que relacionam a densidade de grampeamento d com a relação de estabilidade N e o
ângulo de atrito φ do terreno.
Define-se:
π D qs
Densidade de grampeamento: d =
γ sv s h
16
Solo grampeado
0.3
L / H = 0,6
L
0.2 H
N=c/γH
0.1
M (N, tan φ) d=0
tan φ
17
Solo grampeado
0.3
L / H = 0,8
0.2 H
N= c/γH
0.1
M (N, tan φ)
A d=0
0.3
L /H =1
0.2 H
N= c /γH
0.1
d=0
d=1 0,5
0,4 0,3 0,2 0,1
0,75
0.0
0 1 2
tan φ
18
Solo grampeado
0.3
L /H =1,2
0.2 H
N= c /γH
0.1
d=0
tan φ
19
Concreto Projetado
Concreto projetado
funil superior
cilindros rotativos
suprimento de
ar comprimido
suprimento de
ar comprimido
1
Concreto Projetado
A maneira em que a água é adicionada à mistura tem grande influência no processo. No caso da
água ser adicionada próximo ao final do mangote, tem-se o que se denomina processo via seca
(Figura 2), se adicionada na bomba, tem-se concreto via úmida (Figura 3).
Em obras de menor porte, como é a maioria dos casos de obras de contenção, emprega-se em geral
o concreto via seca. O via úmida só é utilizado em geral em casos de grandes volumes, superiores a
5 m3 aplicados ininterruptamente, pois a cada paralisação é necessário efetuar uma limpeza geral no
mangote, o que não seria prático em pequenas obras.
As bombas mais modernas, como a apresentada Figura 4, permitem a projeção via seca ou úmida.
A Figura 5 apresenta um exemplo de projeção em um talude existente.
Suprimento Concreto
de ar projetado
comprimido Bomba
Agregados Água
Cimento
Aditivos
Suprimento Concreto
de ar projetado
comprimido Bomba
Agregados
Cimento
Água Aditivos
2
Concreto Projetado
3
Concreto Projetado
Nas aplicações em contenção de encostas, a opção por fibras apresenta em geral várias vantagens:
• Redução de mão de obra: as fibras são aplicadas como um agregado, eliminando a operação de
montagem das telas.
• Redução do volume: a tela não consegue acompanhar as irregularidades do terreno (Figura 7),
resultando em volumes até 25% maiores.
• Maior resistência ao fissuramento: as fibras de aço aumentam a resistência ao fissuramento e,
com isso, se obtém maior resistência à corrosão. As fibras asseguram que a corrosão não se
propague, pois são descontínuas, conforme indicado na Figura 8.
fibras de aço
4
Concreto Projetado
concreto
projetado
Tela fissura
metálica
< 20µm
Propacação
da corrosão
5
Concreto Projetado
6
Concreto Projetado
fissura
sem fibras
concentração de tensões
na frente de propagação
da fissura
fissura
7
Concreto Projetado
carga
P
P 1a fis. A b
h
l
B
Tf = Área O ABC
Tf
O C deslocamento
vertical
Resistência equivalente
A resistência equivalente à tração na flexão dos concretos reforçados com fibras é determinada a
partir do conhecimento da tenacidade Tf:
Tf l
f ctm, eq = ⋅
l 150 b ⋅ h 2
Coeficiente de ductilidade
Este parâmetro pode ser utilizado no dimensionamento, permitindo quantificar a contribuição das
fibras de aço no comportamento pós fissuração dos concretos.
É expresso pela relação entre a resistência equivalente à tração na flexão (fct,eq), e a resistência à
tração na flexão do concreto (fctm,ul).
Re = (fctm,eq / fctm,ul) )
8
Concreto Projetado
εfc,1 - Deformação devida à máxima compressão no concreto reforçado com fibras de aço
εfcu - Deformação máxima por compressão no concreto reforçado com fibras de aço
ffc
simplificação
0,4 ffc
10%
1% Ec εfc,1 εfc, u
ε 0,37 fct,et,150
0,37 fct,et,500
ffct,ax
Se fct,eq,300 não for conhecido
9
Concreto Projetado
A distribuição das tensões de tração no concreto, na seção, se faz de acordo com o diagrama
apresentado na Figura 11, tendo-se então:
0,37 fct,eq
Figura 13 Momentos
Exemplo de aplicação
Exemplo
10
Concreto Projetado
1,4⋅247 ⋅103
σC1 = = 2 ,88 MPa
1000⋅120
1,4⋅10⋅103 ⋅1000⋅6
σt1 = =5,83 MPa
1000⋅1202
∴ há necessidade de se ter um concreto reforçado com fibras de aço onde a sua resistência
equivalente média à tração na flexão (fctm,eq) apresente um valor igual ou superior a 2,96 MPa.
Características da fibra
a) Fator de forma:
d = 0,55 mm
11
Concreto Projetado
l / d = 30 / 0,55 = 55
l = 30 mm
Características do concreto
- Resistência à compressão - fck = 30 MPa
- Resistência média à tração na flexão - fctm,fl = 4,8 MPa
Resistências equivalentes
As resistências equivalentes médias à tração na flexão que se esperam para as dosagens seguintes
são:
30 kg/m3 - fctm,,eq = 2,5 MPa - Re = 52% - 0,52 x 4,8
Com estas informações, é possível fazer a especificação da dosagem desta fibra, sendo que deverá
ser usado 40 kg/m3, de fibras incorporadas à mistura. Deve-se ter a atenção para a situação de
execução do concreto projetado, uma vez que há necessidade de se prever a reflexão de fibras,
devendo ser acrescida à esta dosagem um valor percentual referente a isto. Em geral estas reflexões
devem estar entre 10% e 15% para o concreto projetado via úmida e entre 20% e 25% para o
concreto projetado via seca.
- via úmida - 40 kg/m3 x 1,15 ≈ 45 kg/m3 (dosagem na obra)
- via seca - 40 kg/m3 x 1,25 ≈ 50 kg/m3 (dosagem na obra)
12
Concreto Projetado
13
Estabilização taludes em rocha
Introdução
Este capítulo apresenta as principais técnicas de estabilização de taludes rochosos que podem ser
subdivididas em dois grandes grupos: (1) as que procuram fixar os blocos ou lascas, evitando o seu
deslizamento; ou (2) as que procuram conviver com o problema, permitindo a queda dos blocos de
maneira segura, sem causar danos. A aplicabilidade dessas soluções depende de vários fatores, tais
como: risco, características do talude, número e dimensões dos blocos, grau de alteração, inclinação
da encosta, condições de apoio (Figura 1), entre outros fatores.
Rocha sã
FIXAÇÃO DO BLOCO
DESMONTE RECOMENDÁVEL
Saprolito
Blocos
Tálus
Figura 1 Decisão sobre fixação ou desmonte de blocos função das condições de apoio (Barros, 1999)
1
Estabilização taludes em rocha
Figura 3 Remoção de blocos após deslizamento na Linha Amarela, Rio de Janeiro (Foto GeoRio)
2
Estabilização taludes em rocha
• Fixação com ancoragens com ou sem contrafortes: pode ser aplicada para fixar blocos de
maior porte com a utilização de ancoragens e chumbadores. Um exemplo importante desta
técnica foi a estabilização de um bloco de grandes dimensões próximo ao pico do Corcovado
(Totis, 1986) onde foram aplicados 25 tirantes de 480 kN em contrafortes (Figura 5 a Figura 7).
A Figura 8 apresenta também um caso especial de um bloco de grandes dimensões localizado
no Corte do Cantagalo que foi estabilizado no final da década de 60 através de quatro pilares de
concreto armado com tirantes na rocha.
3
Estabilização taludes em rocha
Mirante do Corcovado
25 m
fratura
11 m
m
15
25 tirantes
~ 500 m
de 490 kN cada 4 contrafortes de
concreto armado
4
Estabilização taludes em rocha
Figura 8 Exemplo de contrafortes atirantados para estabilização do Corte do Cantagalo (Foto GeoRio)
• Fixação com grelha ancorada: pode ser aplicada no caso de blocos muito grandes (Figura 10),
justapostos, ou no caso de taludes com foliação mergulhando desfavoravelmente.
5
Estabilização taludes em rocha
Superfície da rocha
Estrutura
de concreto
armado Ancoragens
chumbador
ou tirante
lasca
concreto de
regularização
concreto de
regularização
lasca
6
Estabilização taludes em rocha
Concreto projetado
Drenos
Chumbadores
Região de falha
Chumbadores
Ancoragens
DHP
• Concreto projetado: Para tratamento superficial de rocha muito fissurada e alterada. O concreto
projetado é aplicado através de equipamentos especiais de projeção que empregam ar
comprimido. Uma espessura mínima de 30 mm é necessária. Como reforço do concreto há
duas alternativas, a primeira, mais tradicional, consta do uso de tela de aço soldada que é
estendida sobre a superfície do talude. A outra possibilidade é o uso de fibras de aço misturadas
no concreto como um agregado, objeto de outro capítulo deste manual.
7
Estabilização taludes em rocha
Os taludes rochosos muito fraturados, como nas escarpas de antigas pedreiras no Rio de Janeiro, é
praticamente impossível a estabilização por fixação. Nesse caso pode-se procurar conviver com o
problema, mas de uma forma mais segura possível, conduzindo a queda do bloco de tal forma que o
risco seja mínimo. Essa técnica está apresentada na Figura 14, onde há exemplos do uso de:
1. Bermas para redução da energia cinética ou conter a queda blocos
2. Uso de túnel falso para proteção de uma via;
3. Implantação de trincheira para coletar o bloco
4. Muro de impacto rígido
5. Uso de anteparo flexível tal como uma cerca de impacto.
6. Uso de telas para evitar o salto do bloco
O emprego de telas protetoras na superfície do talude em conjunto com anteparos flexíveis está
apresentado na Figura 15. Aí está exemplificado o uso em conjunto de cerca flexível na superfície
do talude para dirigir a queda, trincheiras coletoras de blocos, anteparos flexíveis e sinalização para
o público.
8
Estabilização taludes em rocha
Cercas
flexíveis
Telas de aço
Deslocar
locação da
estrutura Berma
para local coletora
seguro de blocos
Aviso
de risco
Cerca Valeta
flexível coletora
ou muro
Figura 15 Estabilização de talude em rocha muito fraturada com blocos soltos empregando: tela, trincheira de
coleta de blocos, anteparos flexíveis e avisos ao público
Ancoragem
da tela
Figura 16 Aplicação de tela de proteção para proteção de taludes próximo a casas, Rio de Janeiro: (a) Situação
do talude e casas, (b) Aplicação da tela, (c) fixação da tela
São apresentados dois exemplos de estabilização de taludes rochosos. O primeiro causado pela
degradação ambiental causada por uma pedreira antiga em Jacarepaguá, Rio de Janeiro. Há alguns
anos um condomínio de casas de alto padrão nasceu próximo ao talude, que foi estabilizado com
uma tela de aço fixada ao mesmo (Figura 16). Esta técnica é detalhada por Agostini et al (1988).
9
Estabilização taludes em rocha
A Estrada Grajaú-Jacarepaguá é outro exemplo da aplicação dessas técnicas pela GeoRio, conforme
indicado na Figura 17. Trata-se de uma região de talus com grande quantidade de blocos soltos cuja
fixação é praticamente impossível e uma proteção com cerca flexível foi adotada. Um detalhe da
cerca é mostrado na Figura 18.
10
Estabilização taludes em rocha
V zw
αW
U
θ W
U
T
A
Ψp
O bloco pode ser estabilizado aplicando-se a força T e o fator de segurança nesta situação é dado
pela seguinte equação:
11
Estabilização taludes em rocha
Onde:
γ w zw A
U=
2
γ w z w2
V =
2
O caso mais comum no Rio de Janeiro é a consideração de coesão e aceleração horizontal nulas e a
equação anterior simplifica para:
(W cos Ψ p − U − V senΨ p + T cos θ ) tan φ
FS =
WsenΨ p + V cos Ψ p − T senθ
É importante frisar que θ é o ângulo formado pela força de ancoragem T e a normal à superfície de
ruptura, diferente do ângulo entre o eixo longitudinal da ancoragem e a normal quando chumbador é
projetado ao esforço normal combinado ao cisalhamento (Figura 21). O esforço estabilizante T
pode ser obtido por ancoragens ou chumbadores. No primeiro caso, o valor de T corresponde à
carga de trabalho das mesmas. No segundo, pode-se levar em consideração o efeito de flexão
composta, dependendo do valor da orientação dos chumbadores, como se discutirá a seguir.
O uso de chumbadores apresenta algumas vantagens. Primeiro são passivos, não necessitando de
pré-carga, nem de verificação de carga ao longo da vida útil. Sua execução é muito mais simples,
principalmente nas condições de acesso difíceis em que muitas vezes tem que ser empregados.
Os chumbadores podem ser projetados somente ao cisalhamento ou considerando o efeito
combinado de tração e cisalhamento.
12
Estabilização taludes em rocha
Figura 20 Chumbadores projetados ao cisalhamento (casos a e b), e projetados a flexão composta (caso c)
13
Estabilização taludes em rocha
mm kN kN kN
20 71 20 141
22 89 25 179
25 110 31 221
32 181 51 362
Com efeito, a adoção de chumbadores embutidos em concreto implica uma redução considerável da
resistência em relação ao cisalhamento do aço.
Tc max
Tcβ
Tcβ Tβ
Tβ
β
Tnβ β
Tnβ Tn max Tn
O critério de Tresca, ilustrado na Figura 21, limita as componentes axial e cisalhante conforme a
seguinte inequação:
2 2
Tnβ Tcβ
+ ≤ 1
Tn max Tc max
Esta equação corresponde a uma elipse que pode ser expressa na forma paramétrica como função do
ângulo do chumbador com a normal ao plano de ruptura (β):
Tn max
tan β * = tan β
Tc max
14
Estabilização taludes em rocha
2
Tβ = Tn2β + Tc2β
500
T
400
(kN)
T
300
Tn
200
100 Tc
0
0 20 40 60 80 100
β (graus)
O valor máximo de T para o caso de flexão composta se iguala a Tn (tração) para ângulos β
elevados, conforme indicado na Figura 22 e comentado na Tabela 2.
Ábacos de pré-dimensionamento
O ábaco apresentado na Figura 24 é indicado para pré-dimensionamento de chumbadores. Este
ábaco fornece um fator de eficiência ef usado para se obter o número n de chumbadores a serem
utilizados
T
n=
e f ⋅ T1
onde
ef é o fator de eficiência, adimensional, obtido do ábaco da Figura 24;
T1 é a carga de cálculo de um chumbador, incluídos os respectivos fatores de segurança;
T é a força de ancoragem necessária, calculada por
[ ]
T = FS W (senΨ p + α cos Ψ p ) + V cos Ψ p − c A − (W (cos Ψ p − α sen Ψ p ) − U − V senΨ p ) tan φ
15
Estabilização taludes em rocha
Ψp
Figura 23 Esquema dos ângulos referidos no ábaco de pré-dimensionamento – sentidos positivos indicados com
referência à horizontal
Fatores de eficiência para pré-dimensionamento de chumbadores
(inclinação Ψp qualquer)
1.8
φ = 40o cisalhamento + tração
1.7 somente tração
φ = 35o
1.6
somente cisalhamento
φ = 30o
1.5
1.4
φ = 0o
Fator de eficiência modificado ( ef,mod )
1.3
φ = 10o
1.2
φ = 20o
1.1
1.0
0.9
0.8
0.7
0.6
0.5
φ = 40o
0.4
φ = 35o
0.3
φ = 30o
0.2
φ = 20o
0.1 φ = 10o
0.0
φ = 0o
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
η + Ψp (graus)
16
Estabilização taludes em rocha
0.9
φ = 40o
0.8
φ = 35o
0.7 φ = 30o
0.6 φ = 20o
0.5 φ = 10o
0.4 φ = 0o
0.3
0.2
0.1
0.0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
η + Ψp (graus)
Figura 25 Relação entre a carga axial efetivamente utilizada e a carga de ruptura do chumbador
O comprimento de ancoragem pode ser reduzido considerando-se que o estado limite último é uma
combinação de esforços normais e cisalhantes no grampo. Isto é, estando o comprimento de
ancoragem dimensionado para a carga de ruptura do grampo, estará existindo em grande parte dos
casos um superdimensionamento da ancoragem, que pode ser reduzida aplicando-se a este
comprimento um fator multiplicativo menor que 1. Para esta redução deve-se seguir o disposto no
item 4.1.6.2b da norma ABNT NBR 6118 que recomenda o comprimento de ancoragem reta para
barras tracionadas (lb) igual a:
Φ f yd
lb = f red
4 τ bu
onde
Φ é o diâmetro da barra;
fyd é a resistência de cálculo do aço à tração;
τbu é a tensão última de aderência, indicado no item 5.3.1.2c da norma ABNT NBR 6118;
fred é um fator de redução relativo ao sub-aproveitamento da seção de aço existente.
Este fator de redução fred pode ser obtido com o auxílio do ábaco da Figura 25, que fornece a
relação entre a carga axial efetivamente sendo utilizada e a carga axial última do chumbador quando
utilizado o dimensionamento combinado (tração e cisalhamento) conforme o ábaco da Figura 24.
Deve-se frisar que o valor do comprimento de ancoragem calculado desta forma nunca deverá ser
inferior a qualquer dos três valores:
Φ f yd
, 10Φ, 10 cm
12 τ bu
17
Estabilização taludes em rocha
Exemplo de dimensionamento
Seja um bloco de rocha com peso W = 200 kN/m, apoiado em rocha com inclinação Ψp = 40o e
ângulo de atrito entre o bloco e a superfície da rocha de φ = 30o. Considera-se um chumbador φ 25
cuja resistência é 220 kN e fator de conformação ηb = 1,5. O concreto utilizado tem resistência
fck = 20 MPa. O aço, fyk = 500 MPa.
Entrando no ábaco da Figura 24 com η + Ψp = 60o obtém-se ef = 1,35, considerando-se o
cisalhamento combinado à tração. A força de ancoragem T tem o valor
T = 1,5 ⋅ 200 ⋅ sen40 o − 200 ⋅ cos 40 o tan 30 o = 104,4 kN
O número de chumbadores n é então igual a
T 104,4
n= = = 0,35 por metro
e f ⋅ T1 1,35 ⋅ 220
que equivale a um espaçamento de 2,9 m.
Como o chumbador foi projetado com cisalhamento combinado á tração, calcula-se o comprimento
de ancoragem com o auxílio da Figura 25. Neste ábaco, para φ = 30o e η + Ψp = 60o , obtém-se o
fator de redução fred = 0,93. A tensão última de aderência é
18
Instrumentação
Instrumentação de taludes
J A R Ortigão
Introdução
Em 1967 o escorregamento das Laranjeiras provocado pelas fortes chuvas de verão foi responsável
por cerca de 190 mortes. Este fato chocou os cariocas e levou à criação do Instituto de Geotécnica,
atual GeoRio. Muito se discutiu sobre instrumentação de taludes e alarme contra deslizamentos. No
final dos anos 60 a GeoRio iniciou a observação de taludes com o inclinômetro. Os sistemas de
instrumentação automatizados começaram a ser testados em 1992. Somente em 1996 é implantado
o Alerta-Rio, o sistema de alerta de deslizamentos. Em 1999 a GeoRio dá mais um grande passo
com a utilização do radar meteorológico.
Este capítulo discute a filosofia e as técnicas recomendadas na instrumentação de taludes e
estruturas de contenção. Tanto as técnicas tradicionais quanto às mais modernas e totalmente
automatizadas são apresentadas.
1
Instrumentação
Grandezas a medir
O principal agente causador de movimentos de massa no Rio de Janeiro é a chuva, por isso
conhecer a sua intensidade e correlacioná-la com outros fenômenos resultantes é importante para
interpretar a estabilidade uma encosta. Por outro lado, a previsão meteorológica de curto prazo, ou
seja com poucas horas de antecedência, permite prever a chegada de grandes chuvas à cidade e é
um dos mais eficazes instrumentos de alerta.
A infiltração da água no terreno provoca redução da sucção e aumento de poropressões que, por sua
vez, podem causar deslocamentos e grandes movimentos. Por isso, a medição de poropressões e
níveis d’água com piezômetros e indicadores de nível d’água também é necessária.
Uma vez instável, a massa de solo ou rocha se desloca. Se este movimento for muito rápido,
dificilmente será observado. Entretanto em regiões de escorregamentos antigos pode haver massas
que se deslocam lentamente. Nesse caso, sua observação poderá ser um fator importante na
interpretação do comportamento de uma encosta. Nesse caso há grande interesse na medição de
deslocamentos superficiais e profundos.
As estruturas de contenção que empregam ancoragens poderão ter o seu comportamento analisado
através da medição de carga nas ancoragens e a sua variação com o tempo.
Instrumentos
Os principais tipos de instrumentos empregados na monitoração de encostas são os pluviômetros, os
piezômetros e indicadores de nível d’água, os medidores de deslocamento como os marcos
superficiais e inclinômetros. São empregados também medidores de convergência, medidores de
inclinação, células de carga entre outros. Para a medição do comportamento de estruturas utilizam-
se ainda as células de carga. Não é objetivo deste trabalho uma cobertura detalhada de todos os
aspectos ligados à instrumentação geotécnica. O leitor que precisar de mais detalhes sugere-se os
livros de Hanna (1985) e Dunnicliff (1988). Este trabalho se concentrará nos instrumentos mais
empregados e na experiência atual da GeoRio com o sistema Alerta-Rio e a instrumentação da
encosta do Itanhangá.
Pluviômetro
Os pluviômetros mais comuns, denominados de Ville de Paris pelo hidrólogos, são do tipo gangorra
ou báscula. A chuva penetra por um funil no topo com 200 mm de diâmetro e atingem um pequeno
reservatório. Quando este está preenchido, bascula e permite o acionamento de um contato elétrico
que fornece um pulso para o sistema de aquisição de dados. A contagem dos pulsos em um
determinado período permite determinar a chuva acumulada e a intensidade da mesma. A acurácia
do instrumento é da ordem de 0,5 mm de chuva.
Os instrumentos modernos como o indicado na Figura 2.dispõem de sistema de aquisição de dados
e podem ou não ser dotados de um sistema de telemetria automática e painel solar para alimentação
das baterias
2
Instrumentação
Piezômetros
Os diversos tipos de piezômetros e as suas aplicações em geotecnia foram revistos por Ortigão
(1975). As modificações introduzidas desde então nos sistemas de piezômetros foram poucas, mas
os instrumentos elétricos tiveram um avanço enorme graças à eletrônica moderna. Pode parecer
paradoxal, mas alguns dos tipos mais antigos, um denominado de corda vibrante e desenvolvido na
França nos anos 30, outro nos EUA nos anos 40 por Casagrande, são os mais utilizados e mais
confiáveis. O primeiro tipo, foi reabilitado com o advento da eletrônica, e é um dos mais
empregados nos anos 90. Os denominados Casagrande são os mais simples e mais confiáveis e,
portanto, muito utilizados.
Existem outros tipos de piezômetro que tendem a ser menos empregados, como os hidráulicos de
dois tubos e os pneumáticos. Os primeiros foram muito usados em barragens e obras de solo mole
até os anos 70 (Ortigao et al, 1983, Ortigao, 1988), mas tem instalação e operação complexa. Os
instrumentos pneumáticos vem sendo pouco a pouco substituídos pelos elétricos por serem mais
fáceis de instalar, operar e automatizar.
Piezômetro Casagrande
O piezômetro Casagrande (Figura 3) consta de um tubo vertical ligado a uma ponta porosa por onde
a água pode livremente entrar ou sair. Mede-se a poropressão através da altura de coluna d’água no
tubo.
A leitura é realizada com um instrumento indicador de nível d’água que consta de um torpedo
contendo uma chave elétrica, um fio graduado e um carretel. Quando o torpedo atinge a água do
tubo de acesso, fecha-se um circuito elétrico que toca a buzina no carretel. Com isso determina-se a
profundidade do nível d água no tubo.
3
Instrumentação
indicador
tubo de
acesso de PVC
calda de bentonita
areia
ponta porosa
Instalação do piezômetro
Executa-se furo por percussão ou rotativa com diâmetro entre 75 a 100 mm. Não se deve usar lama
de perfuração que poderia impermeabilizar as paredes do furo e prejudicar o funcionamento do
instrumento. Estando o furo pronto, instala-se um tubo de acesso vertical de PVC com diâmetro
entre 12 e 32 mm tendo na sua extremidade o elemento poroso, por onde a água entra ou sai do
instrumento (Figura 4, Fase 1). Em seguida executa-se o bulbo de areia em geral com um metro de
altura com areia grossa lavada (Fase 2).
A fase 3 consta do selo impermeável com bolas de bentonita com altura de pelo menos de 0,5 m.
Na fase 4 o furo é preenchido até a superfície com calda de bentonita-cimento na relação 10:1 em
volume. Finalmente (fase 5) executa-se uma caixa de proteção.
calda de
tubo de bentonita
acesso cimento
bolas de
bentonita
areia
piezômetro
1 2 3 4 5
4
Instrumentação
Vantagens e desvantagens
O piezômetro Casagrande apresenta as seguintes vantagens:
• Simples, baixo custo;
• Bastante confiável;
• Auto-desaerável, ou seja, eventuais bolhas de ar que se formem, podem escapar pelo tubo de
acesso, desde o mesmo tenha diâmetro igual ou superior a 12 mm.
Por outro lado, este instrumento apresenta as seguintes limitações:
• Tubulação vertical pode interferir com a construção
• Tempo de resposta muito grande se instalado em solos de baixa permeabilidade.
O tempo de resposta de um piezômetro ( ∆t res ) é definido como o intervalo de tempo que este
instrumento leva para indicar uma variação de poropressão que ocorreu no terreno. Depende do
tempo que a água leva para entrar ou sair do sistema. Em solos finos, ∆t res pode ser muito grande
em certos tipos de piezômetros e isto deve ser considerado na fase de seleção do tipo de
instrumento. O piezômetro Casagrande necessita de um grande volume de água entrar ou sair do
tubo de acesso para indicar uma variação de poropressão. Por isso, pode ter um tempo de resposta
de semanas em solos de baixa permeabilidade, o que é uma desvantagem.
selo
max
areia
5
Instrumentação
Figura 6 Exemplo de piezômetros elétricos de corda vibrante e unidade de leitura portátil (fotos Geokon)
unidade de leitura
fio de invar
6
Instrumentação
1 Egε
f =
2L ρ
onde
f = freqüência de vibração (s-1)
L = comprimento da corda (m)
E = módulo de Young da corda (GPa)
g = aceleração da gravidade ( m/s 2 )
ε = deformação específica
ρ = massa específica da corda (Gg/m3)
Rearranjando os termos da equação anterior, obtém-se:
ε = K ( f 2 − f 02 )
onde:
4 L2 ρ
K=
Eg
f0 = é a freqüência inicial
Proteção elétrica
Na década de 70 houve no Brasil alguns relatos de problemas com instrumentos de origem alemã e
francesa instalados em usinas hidrelétricas que queimaram devido a descargas elétricas (Ortigão,
1975). Isso ocorria devido a qualidade dos sistemas de proteção elétrica que se usava na época estar
bem aquém do que se faz hoje. A engenharia eletrônica avançou muito e com ele os sistemas de
7
Instrumentação
proteção. Hoje existem os varistores de plasma e outros dispositivos que descarregam para a malha
de aterramento qualquer descarga excessiva (Figura 8).
proteção elétrica
com varistor de plasma
113 mm
sensor
bobinas
corda vibrante
diafragma sensor
ponta porosa
aço sinterizado
φ 19 mm
8
Instrumentação
Na instrumentação do Itanhangá queda de raios, devido à proteção, não causou nenhum problema
aos instrumentos. O mesmo tipo de proteção esta empregado na rede de pluviômetros, também com
bons resultados.
Instalação do piezômetro
As fases de instalação constam da Figura 10.
1. Inserir o sensor previamente saturado dentro do furo;
2. Depositar areia grossa lavada no furo formando o bulbo de areia com 1 m de altura;
3. Jogar bolas de bentonita, formando um selo com pelo menos 0,50 m de altura;
4. Inserir uma calda grossa de bentonita, injetando sem pressão com a bomba através de mangueira
de injeção, preenchendo todo o furo;
5. Instalar o terminal de leituras nas imediações, conectando os cabos.
Areia grossa
mangeira
lavada
de injeção conexão dos
cabos
calda
cabo grossa de
bentonita
bolas de
bentonita
piezômetro
1 2 3 4 5
O piezômetro elétrico de corda vibrante também pode ser empregado para automatizar um
piezômetro Casagrande, bastando para isso instalar o sensor dentro do tubo de acesso daquele
piezômetro.
Inclinômetros
O inclinômetro é um instrumento que serve para medir deslocamentos horizontais dentro do terreno.
Permite localizar a profundidade da superfície de ruptura e saber, com várias leituras versus tempo,
como estão progredindo os movimentos de uma encosta. Por essas razões, é um instrumento dos
mais importantes com presença certa na maioria das obras geotécnicas.
A Figura 11 apresenta as partes em que compõem o equipamento: um torpedo sensor de inclinação,
cabo elétrico, unidade de leitura e os tubos de acesso ranhurados. O esquema de instalação consta
da Figura 12.
9
Instrumentação
Figura 11 Inclinômetro: torpedo, unidade de leitura automática, tubos de acesso (fotos Geokon)
0189
torpedo
tubo de
acesso
10
Instrumentação
tampa de proteção
Calda de
cimento
bentonita
1 2 3 4
11
Instrumentação
δh
L
m
4
3
2
1
δh
1 1
2 2
Profundidade (m)
3 3
Superfície de
ruptura
4 4
5 5
6 6
7 7
8 8
Células de carga
As células de carga são empregadas em obras de cortinas ancoradas e solo grampeado com o
objetivo de monitorar as cargas nos tirantes e grampos, seja para a fase de testes de controle de
qualidade ou ao longo da vida útil da estrutura.
O uso de macacos hidráulicos, mesmo que somente para ensaios, leva a erros enormes que
facilmente atingem a 20% da carga conforme exemplificado na Figura 16. Mesmo com a aferição
do macaco não se elimina o erro, pois a sua maior parcela é causada pelo desalinhamento da carga,
fazendo com que o pistão seja submetido a uma força lateral que aumenta consideravelmente o
atrito. A solução é o uso de uma célula de carga.
12
Instrumentação
400 20%
300
200 10%
Erro (kN)
100
-100
-10%
-200
0 400 800 1200 1600 2000
Carga aplicada (kN)
As células de carga elétricas de corda vibrante (Figura 17) tem grande acurácia e são relativamente
baratas. Um exemplo de utilização em ensaios de ancoragem consta da Figura 18.
Figura 18 Exemplo de emprego de célula de carga de corda vibrante em ensaio de tração (foto Geokon)
13
Instrumentação
A instalação de uma célula de carga para a observação de cargas em ensaio de ancoragem está
apresentada na Figura 18. A célula deve ser posicionada entre duas placas de aço rígidas de apoio
com espessura maior que 30 mm. Com isso evita-se a possibilidade de torção da célula quando
carregada.
Sistemas de alarme
Veja na Figura 19 a ruptura catastrófica que ocorreu em 1988. A encosta à montante do prédio no
Rio de Janeiro deslizou sem qualquer aviso. Um programa de instrumentação de encostas em um
caso como este teria pouca utilidade, pois é impossível praticamente impossível prever situações de
risco como esta. Os instrumentos não teriam indicado nada de útil antes, pois o fenômeno foi muito
brusco, sem aviso. Pelas razões expostas o Rio de Janeiro tem adotado a seguinte filosofia:
• Alarme por área
• Instrumentação em uma encosta específica
14
Instrumentação
Muitos outros fatores, tais como a declividade do talude, tipo de solo ou rocha e condições na
superfície do talude influenciam no risco. Entretanto, a inclusão dos mesmos no sistema de alarme
o tornaria muito mais complexo, se não impraticável.
O sistema de alerta do Rio de Janeiro recebeu o nome de Alerta-Rio e foi descrito por d’Orsi et al
(1997). Consta de uma rede de pluviômetros automáticos (Figura 2) que enviam a cada 15 minutos
os resultados para uma estação central (Figura 21). Os operadores acompanham o progresso da
chuva sobre a cidade através do computador que mostra uma série de gráficos como os
apresentados na Figura 22 . O sistema funciona também automaticamente, sem a intervenção de
operador, e envia faxes para a equipe técnica que decide o alarme, assim que uma situação de
grande chuva for detectada.
Estação
Central
0 10 km
Estação pluviométrica
Estação repetidora
15
Instrumentação
16
Instrumentação
270
grandes deslizamentos
pequenos deslizamentos
240 taludes estáveis
210
Intensidade (mm/24h)
180
150
120
90
Novo critério de deslizamento
60
0
0 100 200 300 400 500 600
Chuva antecedente de 4 dias, iac (mm/96horas)
Figura 24 Alerta-Rio: exemplo de gráfico da chuva de 1 hora versus chuva acumulada de 4 dias
17
Instrumentação
dados são analisados por meteorologistas. O objetivo é uma previsão de curto prazo, ou seja, com
antecedência de quatro a seis horas na previsão de chuvas intensas no Rio de Janeiro.
Enquanto o radar mede o potencial de ocorrência de uma chuva e a aproximação da frente, a rede de
pluviômetros mede quanto está chovendo. Os dados pluviométricos são também empregados na
calibração dos modelos matemáticos de previsão meteorológica.
Estação instrumentada
18
Instrumentação
Inclinômetro
Cota (m)
Piezômetro blocos de rocha (< 8 m3)
100 Estação 1
rua
Estação 2
80
rua aterro
60
aterro
rocha
nível d'água
solo residual
40
Distância (m)
cabo elétrico
Sensor
1m
1m
cabo
19
Instrumentação
A Figura 29 apresenta os instrumentos que compõem uma estação: dois piezômetros, o inclinômetro
Cliper sendo instalado e à direita a unidade de aquisição de dados.
As estações enviam os dados através de rádio para uma estação concentradora instalada no local,
que por sua vez envia todos os registros via modem e linha privada telefônica para a Estação
Central localizada na GeoRio, conforme o esquema indicado na Figura 30.
20
Instrumentação
Estações
remotas
Unidade Central
Encosta 3
1
modem
2
Estação
concentradora
Unidade Central
A unidade central que funciona na GeoRio recebe os dados em um microcomputador tipo PC e
realiza várias operações como: verificação e armazenamento, back-up, apresentação dos dados na
tela, impressão de resultados.
Os programas funcionam em ambiente Windows 98 e duas telas são comentadas aqui. A Figura 31
demonstra a primeira tela do programa que apresenta a localização dos instrumentos em planta.
Clicando-se sobre um instrumento na tela com o mouse, pode-se obter um gráfico de dados do
instrumento versus um período determinado, como a apresentada na Figura 32.
21
Instrumentação
Exemplo de resultados
Alguns resultados da instrumentação do Itanhangá estão apresentados nas Figura 33 a Figura 35.
Na primeira estão plotados resultados de poropressões na parte inferior da encosta, onde o nível
d’água é mais elevado. A influência da precipitação nos valores de poropressão é muito claro, os
piezômetros respondem rapidamente à chuva, mas o piezômetro A tem tempo de resposta bem
menor.
A Figura 35 demonstra que não se mede o nível d’água nos piezômetros instalados na parte alta da
encosta, exceto por um curto período de tempo sob as chuvas fortes de Janeiro. Os piezômetros A e
B (Figura 35) começaram a ser afetados pela chuva por volta das 12-13 horas e as pressões estavam
totalmente dissipadas por volta das 4 horas do dia seguinte.
Esses dados demonstram claramente as vantagens de uma instrumentação automática.
22
Instrumentação
30
Chuva diária (mm)
20
10
0
Aug-97 Sep-97 Nov-97 Dec-97 Feb-98 Apr-98
Data
80
Poropressão (kPa)
60
40
20 PZA PZB
0
Aug-97 Sep-97 Nov-97 Dec-97 Feb-98 Apr-98
Data
350
300
Chuva acumulada (mm)
250
200
150
100
50
0
0 5 10 15 20 25 30
Tempo decorrido (dias)
Pluv. Acum
Poropressão (kPa)
30
25
20 PZA PZB
15
10
5
0
0 5 10 15 20 25 30
Tempo decorrido (dias)
23
Instrumentação
Poropressão (kPa)
30
25
PZA PZB
20
15
10
5
0
0 4 8 12 16 20 0 4 8 12 16 20
24
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Cortinas ancoradas
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Anexo 6 Normas ABNT
Agregados
ABNT NBR 7220 Agregado – Determinação de impurezas orgânicas húmicas em agregado miúdo
ABNT NBR 9773 Agregado – Reatividade potencial de álcalis em combinações cimento-agregado.
ABNT NBR 9935 Agregados
ABNT NBR 6465 Agregados – Determinação da abrasão “Los Angeles “
ABNT NBR 7217 Agregados – Determinação da composição granulométrica
ABNT NBR 10341 Agregados – Determinação do módulo de deformação estático e coeficiente de poisson
de rochas
ABNT NBR 9939 Agregados – Determinação do teor de umidade total, por secagem, em agregado graúdo
ABNT NBR 12696 Agregados – Verificação do comportamento mediante ciclagem artificial água-estufa
ABNT NBR 12695 Agregados – Verificação do comportamento mediante ciclagem natural
ABNT NBR 7216 Amostragem de agregados
ABNT NBR 7389 Apreciação petrográfica de materiais naturais, para utilização como agregado em
concreto
ABNT NBR 7225 Materiais de pedra e agregados naturais
Água
ABNT NBR 5761 Água – Determinação da dureza – Método complexométrico
ABNT NBR 9251 Água – Determinação do pH – Método eletrométrico
ABNT NBR 12614 Águas – Determinação da demanda bioquímica de oxigênio DBO – método de
incubação 20 graus Celsius, cinco dias
ABNT NBR 10357 Águas – Determinação da demanda química de oxigênio DQO – Método de refluxo
aberto, refluxo fechado – Titulométrico e refluxo fechado - Colorimétrico
ABNT NBR 12244 Construção de poço para captação de água subterrânea
ABNT NBR 5762 Determinação da alcalinidade em água – Método por titulação direta
ABNT NBR 9896 Glossário de poluição das águas
ABNT NBR 12212 Projeto de poço para captação de água subterrânea
Aterros
ABNT NBR 10007 Amostragem de resíduos - Procedimentos
ABNT NBR 8849 Apresentação de projetos de aterros controlados de resíduos sólidos urbanos
ABNT NBR 8418 Apresentação de projetos de aterros de resíduos industriais perigosos
ABNT NBR 8419 Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos
ABNT NBR 9288 Emprego de terrenos reforçados
ABNT NBR 9285 Micro-ancoragem
ABNT NBR 10004 Resíduos sólidos
ABNT NBR 9286 Terra armada
ABNT NBR 7950 Terraplenagem para via férrea – Aterro – Projeto
Efluentes
ABNT NBR 13402 Caracterização de cargas poluidoras em efluentes líquidos industriais e domésticos
ABNT NBR 13403 Mediação de vazão em efluentes líquidos e corpos receptores – Escoamento líquido
1
Fundações
ABNT NBR 6122 Projeto e execução de fundações
ABNT NBR 6489 Prova de carga direta sobre terreno de fundação
ABNT NBR 12131 Estacas - Prova de carga estática
ABNT NBR 13208 Estacas – Ensaio de carregamento dinâmico
Gestão ambiental
ABNT NBR ISO 14004 Sistemas de gestão ambiental – Diretrizes gerais sobre princípios, sistemas e
técnicas de apoio
ABNT NBR ISO 14011 Diretrizes para auditoria ambiental – Procedimentos de auditoria – Auditoria de
sistemas de gestão ambiental
Levantamentos e projetos
ABNT NBR 6497 Levantamento geotécnico
ABNT NBR 8044 Projeto geotécnico
Mineração
ABNT NBR 13029 Elaboração e apresentação de projeto de disposição de estéril, em pilha, em mineração
ABNT NBR 13028 Elaboração e apresentação de projeto de disposição de rejeitos de beneficiamento, em
barramento, em mineração
ABNT NBR 13030 Elaboração e apresentação de projeto de reabilitação de áreas degradadas pela
mineração
Rochas e Solos
ABNT NBR 7390 Análise petrográfica de rochas
ABNT NBR 10803 Degradação do solo
ABNT NBR 6502 Rochas e solos
ABNT NBR 7181 Solo – Análise granulométrica
ABNT NBR 13292 Solo – Determinação do coeficiente de permeabilidade de solos granulares à carga
constante
ABNT NBR 12007 Solo – Ensaio de adensamento unidimensional
ABNT NBR 7182 Solo – Ensaio de compactação
ABNT NBR 12069 Solo – Ensaio de penetração de cone in situ CPT
ABNT NBR 10905 Solo – Ensaios de palheta in situ
ABNT NBR 6459 Solo – Determinação do Limite de Liquidez
ABNT NBR 7180 Solo – Determinação do Limite de Plasticidade
ABNT NBR 6508 Solo – Determinação da Densidade Real dos Grãos
ABNT NBR 9895 Solo – Índice de suporte Califórnia
Sondagens e amostragem
ABNT NBR 9604 Abertura de poço e trincheira de inspeção em solo, com retirada de amostras
deformadas e indeformadas
ABNT NBR 6457 Amostras de solo – Preparação para ensaios de compactação e ensaios de caracterização
ABNT NBR 9820 Coleta de amostras indeformadas em solo em furos de sondagem
ABNT TB-38 Equipamento a diamante para sondagem
ABNT NBR 6484 Execução de sondagens de simples reconhecimento dos solos
ABNT NBR 7250 Identificação e descrição de amostras de solos obtidos em sondagens de simples
reconhecimento dos solos
ABNT NBR 8036 Programação de sondagens de simples reconhecimento dos solos para fundações de
edifícios
ABNT NBR 6490 Reconhecimento e amostragem para fins de caracterização de ocorrência de rochas
ABNT NBR 6491 Reconhecimento e amostragem para fins de caracterização de pedregulho e areia
ABNT NBR 9603 Sondagem a trado
2
Taludes e escavações
ABNT NBR 9061 Segurança de escavações a céu aberto
ABNT NBR 11682 Estabilidade de taludes
ABNT NBR 12589 Proteção de taludes e fixação de margens em obras portuárias
Tirantes
ABNT NBR 5629 Execução de tirantes ancorados no terreno
Gabiões
ABNT NBR 8964 Arame de aço de baixo teor de carbono, zincado, para gabiões
ABNT NBR 10514 Redes de aço com malha hexagonal de dupla torção, para confecção de gabiões
Desenho
ABNT NBR 08403 Aplicaçäo de linhas em desenhos - Tipos de linhas - Larguras das linhas
ABNT NBR 10582 Apresentaçäo da folha para desenho técnico
ABNT NBR 10647 Desenho técnico
ABNT NBR 13142 Dobramento de cópia de desenho técnico
ABNT NBR 13272 Elaboraçäo da lista de itens em desenho técnico
ABNT NBR 08196 Emprego de escalas em desenho técnico
ABNT NBR 08402 Execuçäo de caracter para escrita em desenho técnico
ABNT NBR 07191 Execuçäo de desenhos para obras de concreto simples ou armado
ABNT NBR 10068 Folha de desenho – Lay-out e dimensöes
ABNT NBR 08404 Indicaçäo do estado de superfícies em desenhos técnicos
ABNT NBR 10067 Princípios gerais de representaçäo em desenho técnico
ABNT NBR 13273 Referência a itens em desenho técnico
ABNT NBR 08993 Representaçäo convencional de partes roscadas em desenhos técnicos
ABNT NBR 13963 Móveis para escritório - Móveis para desenho - Classificaçäo e características físicas e
dimensionais
ABNT NBR 11534 Representaçäo de engrenagem em desenho técnico
ABNT NBR 13104 Representaçäo de entalhado em desenho técnico
ABNT NBR 11145 Representaçäo de molas em desenho técnico
ABNT NBR 12298 Representaçäo de área de corte por meio de hachuras em desenho técnico
ABNT NBR 06409 Tolerâncias geométricas - Tolerâncias de forma, orientaçäo, posiçäo e batimento -
Generalidades, símbolos, definiçöes e indicaçöes em desenho
ABNT NBR 10126 Cotagem em desenho técnico
Relatório
ABNT NBR 10719 Apresentaçäo de relatórios técnico-científicos
ABNT NBR 11192 Exigências na apresentaçäo de relatório de ensaio
ABNT NBR 07679 Termos básicos relativos a cor
Projeto
ABNT NBR 13896 Aterros de resíduos näo perigosos - Critérios para projeto, implantaçäo e operaçäo -
Procedimento
ABNT NBR 07190 Projeto de estruturas de madeira
ABNT NBR 06122 Projeto e execuçäo de fundaçöes
ABNT NBR 06118 Projeto e execuçäo de obras de concreto armado
ABNT NBR 07187 Projeto e execuçäo de pontes de concreto armado e protendido
ABNT NBR 08044 Projeto geotécnico
ISO09001 Sistemas da qualidade - Modelo para garantia da qualidade em projetos,
desenvolvimento, produçäo, instalaçäo e serviços associados
ABNT NBR 07808 Símbolos gráficos para projetos de estruturas
3
Drenagem
ABNT NBR 08216 Irrigaçäo e drenagem
ABNT NBR 12266 Projeto e execuçäo de valas para assentamento de tubulaçäo de água, esgoto ou
drenagem urbana
ENSAIO DE CONE
ABNT NBR 12069 Solo - Ensaio de penetraçäo de cone in situ (CPT)
CONCRETO
ABNT NBR 7223 Concreto – determinação do Abatimento pelo Tronco de Cone
ABNT NBR 10908 Aditivos para argamassa e concretos - Ensaios de uniformidade
ABNT NBR NM00034 Aditivos para argamassa e concreto - Ensaios de uniformidade
ABNT NBR 11768 Aditivos para concreto de cimento Portland
ABNT NBR NM00035 Agragados leves para concreto estrutural - Especificaçäo
ABNT NBR 07211 Agregado para concreto
ABNT NBR EB00228 Agregados leves para concreto de elementos para alvenaria
ABNT NBR 07213 Agregados leves para concreto isolante térmico
ABNT NBR EB00230 Agregados leves para concreto estrutural
ABNT NBR 09917 Agregados para concreto - Determinaçäo de sais, cloretos e sulfatos solúveis
ABNT NBR NM00050 Agregados para concreto - Determinaçäo de sais, cloretos e sulfatos solúveis
ABNT NBR NM00054 Agregados para concreto - Exame petrográfico
ABNT NBR 11560 Agua destinada ao amassamento do concreto para estruturas classe I, em centrais
nucleoelétricas - Qualidade e controle
ABNT NBR 07389 Apreciaçäo petrográfica de materiais naturais, para utilizaçäo como agregado em
concreto
ABNT NBR 07222 Argamassa e concreto - Determinaçäo da resistência à traçäo por compressäo
diametral de corpos-de-prova cilíndricos
ABNT NBR 09778 Argamassa e concreto endurecidos - Determinaçäo da absorçäo de água por
imersäo - Indice de vazios e massa específica
ABNT NBR 09779 Argamassa e concreto endurecidos - Determinaçäo da absorçäo de água por
capilaridade
ABNT NBR 08965 Barras de aço CA 42 S com características de soldabilidade destinadas a
armaduras para concreto armado
ABNT NBR 08548 Barras de aço destinadas a armaduras para concreto armado com emenda
mecânica ou por solda - Determinaçäo da resistência à traçäo
ABNT NBR 07480 Barras e fios de aço destinados a armaduras para concreto armado
ABNT NBR NM00002 Cimentos, concretos e agregados - Terminologia - Lista de termos
ABNT NBR NM00033 Concreto - Amostragem de concreto fresco
ABNT NBR NM00033 Concreto - Amostragem de concreto fresco
ABNT NBR NM00067 Concreto - Determinaçäo da consistência pelo abatimento do tronco de cone
ABNT NBR NM00068 Concreto - Determinaçäo da consistência pelo espalhamento na mesa de Graff
ABNT NBR NM00102 Concreto - Determinaçäo da exsudação
ABNT NBR 08045 Concreto - Determinaçäo da resistência acelerada à compressäo - Método da
água em ebuliçäo
ABNT NBR 12142 Concreto – Determina çäo da resistência à traçäo na flexäo em corpos-de-prova
prismáticos
ABNT NBR NM00008 Concreto - Determinaçäo da resistência à traçäo por compressäo diametral
ABNT NBR NM00055 Concreto - Determinaçäo da resistência à traçäo na flexäo de corpos-de-prova
prismáticos
ABNT NBR 08522 Concreto - Determinaçäo do módulo de deformaçäo estática e diagrama -
Tensäo-deformaçäo
ABNT NBR NM00047 Concreto - Determinaçäo do teor de ar em concreto fresco - Método
pressométrico
4
ABNT NBR NM00047 Concreto - Determinaçäo do teor de ar em concreto fresco - Método
pressométrico
ABNT NBR 5739 Concreto - Ensaio de compressäo de corpos-de-prova cilíndricos
ABNT NBR NM00101 Concreto - Ensaio de compressäo de corpos-de-prova cilíndricos
ABNT NBR NM00069 Concreto - Extraçäo, preparaçäo e ensaio de testemunhos de estruturas de
concreto
ABNT NBR 10342 Concreto - Perda de abatimento
ABNT NBR NM00077 Concreto - Preparaçäo das bases dos corpos-de-prova e testemunhos cilíndricos
para ensaios de compressäo
ABNT NBR NM00079 Concreto - Preparaçäo de concreto em laboratório
ABNT NBR 12655 Concreto - Preparo, controle e recebimento
ABNT NBR 09605 Concreto - Reconstituiçäo do traço de concreto fresco
ABNT NBR 09832 Concreto e argamassa - Determinaçäo dos tempos de pega por meio da
resistência à penetraçäo
ABNT NBR 12819 Concreto e argamassa - Determinaçäo da elevaçäo adiabática da temperatura
ABNT NBR NM00009 Concreto e argamassa - Determinaçäo dos tempos de pega por meio de
resistência à penetraçäo
ABNT NBR 07584 Concreto endurecido - Avaliaçäo da dureza superficial pelo esclerômetro de
reflexäo
ABNT NBR NM00078 Concreto endurecido - Avaliaçäo da dureza superficial pelo esclerômetro de
reflexäo
ABNT NBR 08224 Concreto endurecido - Determinaçäo da fluência
ABNT NBR 08802 Concreto endurecido - Determinaçäo da velocidade de propagaçäo de onda ultra-
sônica
ABNT NBR 09204 Concreto endurecido - Determinaçäo da resistividade elétrica-volumétrica
ABNT NBR 10787 Concreto endurecido - Determinaçäo da penetraçäo de água sob pressäo
ABNT NBR 10786 Concreto endurecido - Determinaçäo do coeficiente de permeabilidade à água
ABNT NBR 12815 Concreto endurecido - Determinaçäo do coeficiente de dilataçäo térmica linear
ABNT NBR 12816 Concreto endurecido - Determinaçäo da capacidade de deformaçäo de concreto
submetido à traçäo na flexäo
ABNT NBR 12817 Concreto endurecido - Determinaçäo do calor específico
ABNT NBR 12820 Concreto endurecido - Determinaçäo da condutividade térmica
ABNT NBR NM00057 Concreto endurecido - Determinaçäo da penetraçäo de água sob pressäo
ABNT NBR NM00058 Concreto endurecido - Determinaçäo da velocidade de propagaçäo de onda ultra-
sônica
ABNT NBR 09833 Concreto fresco - Determinaçäo da massa específica e do teor de ar pelo método
gravimétrico
ABNT NBR NM00056 Concreto fresco - Determinaçäo da massa específica, do rendimento e do teor de
ar, pelo método gravimétrico
ABNT NBR NM00036 Concreto fresco - Separaçäo de agregados grandes por peneiramento
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ABNT NBR 08953 Concreto para fins estruturais - Classificaçäo por grupos de resistência
ABNT NBR 14279 Concreto projetado - Aplicaçäo por via seca - Procedimento
ABNT NBR 13069 Concreto projetado - Determinaçäo dos tempos de pega em pasta de cimento
Portland, com ou sem a utilizaçäo de aditivo acelerador de pega
ABNT NBR 13317 Concreto projetado - Determinaçäo do índice de reflexäo por mediçäo direta
ABNT NBR 13354 Concreto projetado - Determinaçäo do índice de reflexäo em placas
ABNT NBR 14278 Concreto projetado - Determinaçäo da consistência através da agulha de Proctor
ABNT NBR 14026 Concreto projetado - Especificaçäo
ABNT NBR 13044 Concreto projetado - Reconstituiçäo da mistura recém-projetada
ABNT NBR 12654 Controle tecnológico de materiais componentes do concreto
ABNT NBR 07483 Cordoalhas de aço para concreto protendido
ABNT NBR 09479 Câmaras úmidas e tanques para cura de corpos-de-prova de argamassa e
concreto
ABNT NBR 07477 Determinaçäo do coeficiente de conformaçäo superficial de barras e fios de aço
destinados a armaduras de concreto armado
5
ABNT NBR 14268 Elemento de fixaçäo - Parafusos auto-atarraxantes para concreto e alvenaria -
Especificaçäo
ABNT NBR 14269 Elementos de fixaçäo - Pregos de aço temperado para fixaçäo em concreto e
alvenaria - Especificaçäo
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ABNT NBR 07212 Execuçäo de concreto dosado em central
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ABNT NBR 07680 Extraçäo, preparo, ensaio e análise de testemunhos de estruturas de concreto
ABNT NBR 07482 Fios de aço para concreto protendido
ABNT NBR 05916 Junta de tela de aço soldada para armadura de concreto - Ensaio de resistência
ao cisalhamento
ABNT NBR 13070 Moldagem de placas para ensaio de argamassa e concreto projetados
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ABNT NBR 07478 Método de ensaio de fadiga de barras de aço para concreto armado
ABNT NBR 12624 Perfil de elastômero vulcanizado, extrudado para vedaçäo de junta de dilataçäo
de estruturas de concreto ou aço
ABNT NBR NM00007 Perfil extrudado à base de cloreto de polivinila (PVC) para juntas de estruturas
de concreto - Especificaçäo
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Determinaçäo de características físicas, extraçäo acelerada e efeito de álcalis
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ABNT NBR 12821 Preparaçäo de concreto em laboratório
ABNT NBR 13597 Procedimento para qualificaçäo de mangoteiro de concreto projetado aplicado
por via seca
ABNT NBR 07197 Projeto de estruturas de concreto protendido
ABNT NBR 09062 Projeto e execuçäo de estruturas de concreto pré-moldado
ABNT NBR 06118 Projeto e execuçäo de obras de concreto armado
ABNT NBR 07187 Projeto e execuçäo de pontes de concreto armado e protendido
ABNT NBR 09607 Prova de carga em estruturas de concreto armado e protendido
ABNT NBR 13956 Sílica ativa para uso em cimento Portland, concreto, argamassa e pasta de
cimento Portland - Especificaçäo
ABNT NBR 13957 Sílica ativa para uso em cimento Portland, concreto, argamassa e pasta de
cimento Portland - Métodos de ensaio
ABNT NBR 07481 Tela de aço soldada - Armadura para concreto
ABNT NBR 12317 Verificaçäo de desempenho de aditivos para concreto
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Aterros
ABNT NBR 08418 Apresentaçäo de projetos de aterros de resíduos industriais perigosos
ABNT NBR 08419 Apresentaçäo de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos
ABNT NBR 08849 Apresentaçäo de projetos de aterros controlados de resíduos sólidos urbanos
ABNT NBR 13896 Aterros de resíduos näo perigosos - Critérios para projeto, implantaçäo e operaçäo -
Procedimento
ABNT NBR 10157 Aterros de resíduos perigosos - Critérios para projeto, construçäo e operaçäo
ABNT NBR 05681 Controle tecnológico da execuçäo de aterros em obras de edificaçöes
Apresentação
ABNT NBR 10582 Apresentaçäo da folha para desenho técnico
6
ABNT NBR 06022 Apresentaçäo de artigos em públicaçöes periódicas
ABNT NBR 10520 Apresentaçäo de citaçöes em documentos
ABNT NBR 06029 Apresentaçäo de livros
ABNT NBR 06030 Apresentaçäo de ofício ou carta formato A-4
ABNT NBR 12256 Apresentaçäo de originais
ABNT NBR 06021 Apresentaçäo de periódicos
ABNT NBR 08418 Apresentaçäo de projetos de aterros de resíduos industriais perigosos
ABNT NBR 08419 Apresentaçäo de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos
ABNT NBR 08849 Apresentaçäo de projetos de aterros controlados de resíduos sólidos urbanos
ABNT NBR 13031 Apresentaçäo de publicaçöes oficiais
ABNT NBR 10719 Apresentaçäo de relatórios técnico-científicos
ABNT NBR NM00001 Diretivas para redaçäo e apresentaçäo de normas Mercosul
ABNT NBR 11192 Exigências na apresentaçäo de relatório de ensaio
ABNT NBR 12286 Roteiro para elaboraçäo e apresentaçäo do Código de Obras
ANCORAGEM
ABNT NBR 08264 Adequaçäo da limpeza de superfície e do perfil de ancoragem, de aço, aos sistemas de
revestimentos protetores
ABNT NBR 09285 Micro-ancoragem
ABNT NBR 11230 Revestimentos têxteis de piso - Determinaçäo da força de arrancamento dos tufos -
Ancoragem
SOLOS
ABNT NBR 09604 Abertura de poço e trincheira de inspeçäo em solo, com retirada de amostras
deformadas e indeformadas
ABNT NBR 06457 Amostras de solo - Preparaçäo para ensaios de compactaçäo e ensaios de caracterizaçäo
ABNT NBR 10834 Bloco vazado de solo-cimento sem funçäo estrutural
ABNT NBR 10836 Bloco vazado de solo-cimento sem funçäo estrutural - Determinaçäo da resistência à
compressäo e da absorçäo de água
ABNT NBR 10835 Bloco vazado de solo-cimento sem funçäo estrutural - Forma e dimensöes
ABNT NBR 13537 Carga aérea e equipamento de apoio no solo para aeronave
ABNT NBR 09820 Coleta de amostras indeformadas de solos de baixa consistência em furos de sondagem
ABNT NBR 07450 Corretivos da acidez dos solos - Determinaçäo do valor total de neutralizaçäo
ABNT NBR 07984 Corretivos da acidez dos solos - Determinaçäo de cálcio e magnésio pelo método Edta
ABNT NBR 10703 Degradaçäo do solo
ABNT NBR 07183 Determinaçäo do limite e relaçäo de contraçäo dos solos
ABNT NBR 10578 Ensaios básicos climáticos e mecânicos - Ensaio Sa - Irradiaçäo solar artificial ao nível
do solo
ABNT NBR 13296 Espaço físico para o uso do solo urbano
ABNT NBR 06484 Execuçäo de sondagens de simples reconhecimento dos solos
ABNT NBR 12254 Execuçäo de sub-base ou base de solo-cimento
ABNT NBR 06508 Gräos de solos que passam na peneira de 4,8 mm - Determinaçäo da massa específica
ABNT NBR 07250 Identificaçäo e descriçäo de amostras de solos obtidas em sondagens de simples
reconhecimento dos solos
ABNT NBR 11798 Materiais para sub-base ou base de solo-cimento
ABNT NBR 11805 Materiais para sub-base ou base de solo-brita
ABNT NBR 07117 Mediçäo da resistividade do solo pelo método dos quatro pontos (wenner)
ABNT NBR 07582 Pedra britada graduada e solo para base tipo macadame
ABNT NBR 08036 Programaçäo de sondagens de simples reconhecimento dos solos para fundaçöes de
edifícios
ABNT NBR 14283 Resíduos em solos - Determinaçäo da biodegradaçäo pelo método respirométrico
ABNT NBR 06502 Rochas e solos
ABNT NBR 13441 Rochas e solos
ABNT NBR 07181 Solo - Análise granulométrica
ABNT NBR 12102 Solo - Controle de compactaçäo pelo método de Hilf
7
ABNT NBR 07185 Solo - Determinaçäo da massa específica aparente, in situ, com emprego do frasco de
areia.
ABNT NBR 09813 Solo - Determinaçäo da massa específica aparente In Situ, com emprego de cilindro de
cravaçäo
ABNT NBR 10838 Solo - Determinaçäo da massa específica aparente de amostras indeformadas, com
emprego da balança hidrostática
ABNT NBR 13292 Solo - Determinaçäo do coeficiente de permeabilidade de solos granulares à carga
constante
ABNT NBR 09252 Solo - Determinaçäo do grau de acidez
ABNT NBR 06459 Solo - Determinaçäo do limite de liquidez
ABNT NBR 07180 Solo - Determinaçäo do limite de plasticidade
ABNT NBR 13600 Solo - Determinaçäo do teor de matéria orgânica por queima a 440 graus Celsius
ABNT NBR 12004 Solo - Determinaçäo do índice de vazios máximo de solos näo coesivos
ABNT NBR 12051 Solo - Determinaçäo do índice de vazios mínimos de solos näo-coesivos
ABNT NBR 07182 Solo - Ensaio de compactaçäo
ABNT NBR 12069 Solo - Ensaio de penetraçäo de cone in situ (CPT)
ABNT NBR 10905 Solo - Ensaios de palheta in situ
ABNT NBR 09895 Solo - Indice de suporte califórnia
ABNT NBR 14114 Solo - Solos argilosos dispersivos - Identificaçäo e classificaçäo por meio do ensaio do
furo de agulha (pinhole test)
ABNT NBR 12770 Solo coesivo - Determinaçäo da resistência à compressäo näo confinada
ABNT NBR 12052 Solo ou agregado miúdo - Determinaçäo de equivalente de areia
ABNT NBR 12053 Solo-brita - Determinaçäo de dosagem
ABNT NBR 13555 Solo-cimento - Determinaçäo da absorçäo d'água
ABNT NBR 12253 Solo-cimento - Dosagem para emprego como camada de pavimento
ABNT NBR 12023 Solo-cimento - Ensaio de compactaçäo
ABNT NBR 12025 Solo-cimento - Ensaio de compressäo simples de corpos-de-prova cilíndricos
ABNT NBR 13554 Solo-cimento - Ensaio de durabilidade por molhagem e secagem
ABNT NBR 12024 Solo-cimento - Moldagem e cura de corpos-de-prova cilíndricos
ABNT NBR 12265 Sub-base ou base de solo-brita
Geossintéticos
ABNT NBR 12593 Amostragem e preparaçäo de corpos-de-prova de geotêxteis
ABNT NBR 12553 Geotêxteis
ABNT NBR 12569 Geotêxteis - Determinaçäo da espessura
ABNT NBR 12568 Geotêxteis - Determinaçäo da gramatura
ABNT NBR 12824 Geotêxteis - Determinaçäo da resistência à traçäo näo-confinada - Ensaio de traçäo de
faixa larga
ABNT NBR 13134 Geotêxteis - Determinaçäo da resistência à traçäo näo-confinada de emendas - Ensaio
de traçäo de faixa larga
ABNT NBR 13359 Geotêxteis - Determinaçäo da resistência ao puncionamento estático - Ensaio com
pistäo tipo CBR
ABNT NBR 12592 Identificaçäo de geotêxteis para fornecimento
8
Anexo 7 Normas DNER
Especificações de serviços
ES 039/71 Muros de arrimo. 2p.
ES 044/71 Revestimento de taludes com solo-cimento.3p.
ES 329/97 Obras de arte especiais - serviços preliminares.3p.
ES330/97 Obras de arte especiais - concretos e argamassas.13p.
ES 331/97 Obras de arte especiais- armaduras para concreto armado.8p.
ES 333/97 Obras de arte especiais-formas.3p.
ES334/97 Obras de arte especiais- fundações.13p.
ES 335/97 Obras de arte especiais- estruturas de concreto armado.7p.
ES 341/97 Proteção do corpo estradal- proteção vegetal.7p.
1
ME 041/94 Solos - preparação de amostras para ensaios de caracterização.4p.
ME 045/95 Prospeção geofísica pelo método da sísmica de refração.13p.
ME049/94 Solos - determinação do índice de suporte Califórnia utilizando amostras
não trabalhadas. 14p.
ME 051/94 Solos - análise granulométrica.12p.
ME 052/94 Solos e agregados miúdos - determinação da umidade pelo método
expedito speedy.
ME 080/94 Solos - análise granulométrica por peneiramento.
ME 082/94 Solos - determinação do limite de plasticidade. 3p.
ME 083/94 Agregados - análise granulométrica. 3p
ME 091/94 Concreto - ensaio de compressão de corpos de prova cilíndricos (ABNT-
NBR 5739).
ME 092/94 Solo determinação da massa especifica aparente in situ com emprego do
frasco de areia. 5p.
ME 093/94 Solos - determinação da densidade real. 4p.
ME 122/94 Solos - determinação do limite de liquidez - método de referência e
método expedito. 7p.
ME 129/94 Solos - compactação utilizando amostras não trabalhadas. 7p
ME 131/94 Solos - determinação do módulo de resiliência. 8p.
ME 162/94 Solos - ensaio de compactação utilizando amostras trabalhadas. 7p
ME 213/94 Solos - determinação do teor de umidade. 3p
Procedimentos (PRO)
PRO 002/94 Coleta de amostras indeformadas de solos. 12p.
PRO 003/94 Coleta de amostras deformadas de solos. 4p.
PRO 012/95 Fotointerpretação aplicada à engenharia rodoviária. 29p.
PRO 014/95 Mapeamento geológico-geotécnico para obras viárias. 17p.
PRO 102/97 Sondagem de reconhecimento pelo método rotativo. 24p
PRO 103/94 Coleta de amostras de óleos e graxas lubrificantes. 7p.
PRO 380/98 Geossintéticos para obras rodoviárias
PRO 381/98 Projeto de aterros sobre solo mole
2
Anexo Comparativo de custo de obras
Introdução
Este anexo apresenta comparações entre custos de diversas obras de contenção, visando uma
orientação preliminar para a escolha da solução.
Hipóteses consideradas
Os tipos de obras que tiveram os seus custos comprados constam da Figura 1. São elas: muros de
concreto armado em L, muros de concreto ciclópico, cortina ancorada e solução em solo
grampeado.
Muro em L Muro em ciclópico
45º 45º
45º
1
Todas as alternativas de solução analisadas foram para estabilizar um talude com inclinação de 45
graus, sendo as obras implantadas em seção mista com corte e aterro, exceto para o caso de solo
grampeado, como indicado na figura. Imaginou-se o talude formado de solos típicos do Rio de
Janeiro, sem água.
Os custos foram calculados para uma obra de comprimento de 10 m para várias alturas do talude e
variando também a distância de transporte a partir de um ponto fácil acesso no pé da encosta . A
partir deste ponto, admitiu-se que o transporte de materiais e equipamentos fosse manual.
Nos custos de cada solução estão computados as parcelas relativas a administração, mobilização e
desmobilização. Os orçamentos foram elaborados com base no Catálogo de Referência de Preços
da FGV / SCO – Sistema de Custos e Orçamentos do Município do Rio de Janeiro, referência
junho/1999. Os resultados obtidos foram convertidos para dólares americanos segundo a taxa de
R$1,8493 reais por dólar (cotação de 08/08/1999 dólar comercial):
Resultados
Os resultados obtidos de custo por metro quadrado de contenção estão apresentados nas figuras
seguintes. A Figura 2 apresenta os custos para os muros de concreto armado L em função da
altura e distância de transporte. A Figura 3, apresenta o mesmo para muros de concreto ciclópico.
500
400 acesso
100 m
200 m
300 m
Custo 300 400 m
2
(US$/m )
200
100
0
0 1 2 3 4 5
Altura do muro (m)
2
500
400 acesso
100 m
200 m
300 m
Custo 300 400 m
2
(US$/m )
200
100
0
0 1 2 3 4 5
Altura do muro (m)
A Figura 4 compara as soluções de concreto armado e ciclópico. Verifica-se que para a mesma
altura o muro de concreto ciclópico é ligeiramente mais econômico. Para altura de 3m e à 300 m de
distância do acesso, os custos das duas soluções são praticamente idênticos e, a 400 m de distância,
o muro em concreto armado se torna ligeiramente mais vantajoso.
500
400
Custo 300
2
(US$/m )
H=2m, armado
200
H=3m, armado
H=4m, armado
H=2m, ciclópico
100 H=4m, ciclópico
H=4m, ciclópico
0
0 10 20 30 40
Distância ao longo da encosta (m)
A Figura 5 compara custos da solução de cortina ancorada e solo grampeado. Esta última é sempre
mais econômica, independente da distância ao longo da encosta. Além disso, a vantagem da
solução de solo grampeado se acentua com o aumento da distância de transporte..
3
1000
400
300
200
100
0
0 10 20 30 40
Distância ao longo da encosta (m)
Figura 5 Comparação entre cortina ancorada e solo grampeado versus distância de transporte
500
400
Custo
2
(US$/m )
300
200
Muro em L
Ciclópico
100 Cortina
Solo grampeado
0
0 10 20 30 40
Distância ao longo da encosta (m)
Figura 6 Comparação entre todas as soluções em função da distância de transporte para talude com altura do
de 4 m
Conclusões
A decisão sobre o tipo de solução deve sempre ser pautada em estudos econômicos de várias
alternativas. Uma solução que a princípio apresenta-se desfavorável economicamente em certa
posição da encosta pode se tornar mais atraente em função alteração de distância de transporte..
4
Anexo 9 Manuais GEO
1. GEO (1984) Geotechnical Manual for slopes, 2nd edition, Geotechnical Engineering
Office, Hong Kong, 295 p.
2. GEO (1982) Guide to retaining wall design, Geoguide 1, Geotechnical Engineering
Office, Hong Kong, 154 p.
3. GEO (1987) Guide to site investigation, Geoguide 2, Geotechnical Engineering Office,
Hong Kong, 362 p.
4. GEO (1989) Model specification for prestressed ground anchors, Geospec 1, Geotechnical
Engineering Office, Hong Kong, 168 p.