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PDENG – Conservação e Inspecção de Estruturas – Georardar na inspecção e diagnóstico de tabuleiro em betão armado

PROGRAMA DOUTORAL EM ENGENHARIA CIVIL

CONSERVAÇÃO E INSPECÇÃO DE ESTRUTURAS

Professor Doutor Paulo Lourenço

TEMA DO TRABALHO:

GEORADAR NA INSPECÇÃO E DIAGNÓSTICO NO TABULEIRO DE


BETÃO ARMADO DA PONTE D. LUÍS, SANTARÉM

André João de Vilhena Costa

Fevereiro de 2011
PDENG – Conservação e Inspecção de Estruturas – Georadar na inspecção e diagnóstico de tabuleiro em betão armado

GEORADAR NA INSPECÇÃO E DIAGNÓSTICO NO TABULEIRO DE BETÃO ARMADO DA


PONTE D. LUÍS, SANTARÉM

O presente trabalho foi desenvolvido no âmbito da disciplina de


Conservação e Inspecção de Estruturas ministrada pelo
Professor Doutor Paulo Lourenço.

Tendo por base um trabalho de inspecção de estruturas com


georadar, apresenta-se uma breve revisão bibliográfica sobre o
assunto em questão e a reinterpretação dos dados obtidos no
âmbito da inspecção da estrutura.

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PDENG – Conservação e Inspecção de Estruturas – Georardar na inspecção e diagnóstico de tabuleiro em betão armado

Índice
1. Introdução ................................................................................................................................................................ 2

2. O Georadar no âmbito das inspecções de estruturas .............................................................................................. 2

3. Objecto de inspecção ............................................................................................................................................... 2

4. Georadar .................................................................................................................................................................. 3

3.1 O método................................................................................................................................................................. 3

3.2 O georadar na inspecção de tabuleiros de betão armado ................................................................................... 4

3.3 Metodologia de trabalho implementada ............................................................................................................... 8

3.4 Critérios de interpretação .................................................................................................................................... 9

4. Resultados obtidos ................................................................................................................................................. 11

5. Considerações à posteriori .................................................................................................................................... 12

6. Conclusões ............................................................................................................................................................ 17

ANEXO I – Desenhos ..................................................................................................................................................... 19

ANEXO II – Resumo estatístico dos resultados ............................................................................................................... 2

ANEXO III – Referências bibliográficas sobre o assunto em análise ............................................................................... 2

Índice de imagens

Imagem 1 - Aplicação do georadar na detecção de estruturas enterradas ...................................................................... 4

Imagem 2 - Aplicação do georadar na inspecção de pavimentos e em grandes superfícies ........................................... 4

Imagem 3 - Aplicação do georadar com antena de alta frequência ................................................................................. 4

Imagem 4 – Causas da atenuação de sinal (in Costa, 2009 adaptado de Cassidy, 2008) .............................................. 8

Imagem 5 – Juntas transversais com espaçamento de 2,2 m. ...................................................................................... 12

Imagem 6 – Remate em junta de dilatação com utilização de fibras tipo “dramix” ......................................................... 12

Imagem 7 – Remate em junta de dilatação com utilização de fibras tipo “dramix” ......................................................... 13

Imagem 8 – Marcação do tabuleiro para trabalhos de saneamento ............................................................................... 13

Imagem 9 – Zona a ser objecto de saneamento, onde a armadura tinha um recobrimento reduzido a nulo................. 14

Imagem 10 - Zona identificada como susceptível de saneamento (situação idêntica à da imagem 9). ......................... 14

Imagem 11 - Zonas identificadas como susceptíveis de saneamento (situação idêntica à da imagem 9) .................... 15

Imagem 12 – Registo da espessura de misturas betuminosas ...................................................................................... 15

Imagem 13 – Variação da espessura das misturas betuminosas registada no lancil .................................................... 16


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Índice de quadros

Quadro 1 - Comprimentos de onda função da frequência para diferentes meios ............................................................ 6

Quadro 2 – Valores de permitividade dieléctrica relativa no betão ................................................................................. 10

Quadro 3 – Relação entre a amplitude de reflexão e a atenuação correspondente ...................................................... 10

Quadro 4 – Distribuição dos valores da permitividade dieléctrica relativa ...................................................................... 11

Quadro 5 – Valores anómalos da amplitude de reflexão ................................................................................................ 11

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1. Introdução

O presente relatório foi elaborado no âmbito da disciplina Conservação e Inspecção de Estruturas do Programa
Doutoral em Engenharia Civil da Universidade do Minho, ministrada pelo Professor Doutor Paulo Lourenço

2. O Georadar no âmbito das inspecções de estruturas

De acordo com Topczewski, 2007 as aplicações do georadar ao campo da engenharia civil são numerosas e
amplamente estudadas, consistindo maioritariamente:

- Controlo/garantia de qualidade de estruturas novas;

- inspecção interna de estruturas novas;

- inspecção interna das condições em construções existentes no âmbito de projectos com propósitos de reabilitação;

- inspecção de paredes, lajes e tabuleiros;

- inspecção de colunas e vigas estruturais;

- inspecção de hateais, soleira e abóbada de túneis;

- inspecção de parqueamentos e garagens;

- localização de armaduras, negativos e cabos de pré-esforço;

- localização de vazios no tardoz de muros e lajes de betão;

- localização de “tendom ducts” e descontinuidades em calda de selagem no seu interior;

- mapeamento da espessura de camadas de betão;

- mapeamento da espessura de tauleiros de pontes

3. Objecto de inspecção

No presente trabalho, está em causa a inspecção do tabuleiro da Ponte D. Luís em Santarém, com uma extensão
aproximada de 1.200 m e largura de 6,6m, acrescida de passeios com 0,9m, realizada no dia 19 de Novembro de
2010.

O trabalho foi desenvolvido no sentido de atender às especificações constantes do Caderno de Encargos da


empreitada lançada pelas Estradas de Portugal SA, visando a identificação das zonas de menor amplitude de
reflexão, tendo em vista estabelecer a correlação com o estado de oxidação das armaduras, existência de cloretos ou
carbonatação do betão.

Paralelamente, aproveitou-se a oportunidade desta inspecção para a a sua abordagem no contexto da disciplina de
Conservação e Inspecção de Estruturas do Programa de Doutoramento em Engenharia Civil.

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4. Georadar

3.1 O método

O georadar é um método de inspecção subsuperficial, não destrutivo e não invasido, que recorre à emissão de
impulsos de energia electromagnética para obter informação em profundidade. É possível através deste método obter
imagens através do solo, betão, misturas betuminosas, rocha, madeira, gelo e inclusive, água.

A sua utilização é indicada na detecção de tubagens, fundações, vazios, trincheiras, camadas geológicas, armaduras
de betão ou camadas de estruturas de pavimentos.

As condições ideais de utilização são ambientes secos, apesar de se poder obter informação mesmo em condições
de saturação. Verdadeiramente limitativo é a presença de elevados níveis de salinidade ou de argilas densas.

O método georadar é utilizado no âmbito de diversos ramos de actividade desde a engenharia geotécnica, engenharia
de estruturas ou de pavimentos, geologia, arqueologia, hidrogeologia, ambiente, investigação forense, sendo
particularmente popular na detecção de serviços enterrados e em pavimentos rodoviários.

Quando o sistema georadar se movimenta sob a superfície de inspecção, emite impulsos electromagnéticos, na
direcção da sub superfície a partir de uma antena de transmissão.A energia propaga-se através desse meio e é
reflectida na direcção da superfíce por eventuais objectos enterrados, sendo registada por uma antena receptora.

Estes sinais de retorno são convertidos em “scans” ou “traces”, os quais quando agrupados sequencialmente
configuram uma secção ou perfil de georadar, também designado radargrama. Esta imagem é apresentada num
monitor de computador em tempo real. O conhecimento, experiência e habilidade para processar essa informação do
melhor modo, condiciona significativamente a interpretação que vai ser possível fazer com os dados obtidos.

As inspecções são habitualmente conduzidas segundo perfis, obtendo-se informação 2D. Perfis suficientemente
próximos entre si permitem obter informação 3D.

O georadar opera numa gama de frequências mais habitual entre 20 MHz e 2GHz. Até 250MHz têm-se registos
profundos (conseguem-se atingir profundidades da ordem de 20 m com frequências de 20Hz), mas apenas de
objectos de grande dimensão (para tais profundidades, pode considerar-se que só se detectam objectos com
dimensão superior a 2m). Estas frequências são mais habituais nos domínios da geologia, hidrogeologia ou
glaciologia. Frequências superiores a 250 MHz, permitem atingir profundidades da ordem dos 3 a 3,5 m, com
resolução da ordem de 0,3m (no caso de 250MHz) e são aquelas mais habitualmente utilizadas no contexto da
engenharia ou arqueologia, pois permitem detecção de feições de menor dimensão. No contexto da engenharia de
estruturas, podem detectar-se feições da ordem dos 3 cm (ou mesmo inferior no caso de existir um marcado contraste
dieléctrico) para frequências de 1,5GHz - 2GHz, mas, nessa altura, com restrições do alcance em profundidade, para
valores da ordem dos 0,5 ou menos.

Entre antenas tipo “ground coupled” e “air coupled”; com uma arquitectura electrónica tipo “bowtie” ou “horn”; das
mais simples de um canal em monofrequência, aos “arrays” com até 64 antenas a cobrir frequências dos 100 MHz
aos 3GHz, existe uma grande diversidade de equipamento. Se é verdade que existem equipamentos de maior
capacidade, ou mais evoluídos tecnologicamente, e que isso nem sempre os torna no factor determinante do sucesso
de uma determinada inspecção, também é verdade que se existem tarefas que podem ser realizadas com
equipamentos muito diferentes, há outras funções que são apenas acessíveis a determinadas configurações
específicas. À complexidade do equipamento, soma-se a sofisticação do software de pós-procesamento. Todas estas
variáveis devem ser ponderadas face à especificidade de cada trabalho.

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Nos últimos anos tem sido possível participar em trabalhos de inspecção com georadar em distintos ambientes e com
distintos objectivos. Apresentam-se algumas imagens do tipo de equipamento utilizado nos trabalhos mais comuns já
realizados.

Imagem 1 - Aplicação do georadar na detecção de estruturas enterradas

Imagem 2 - Aplicação do georadar na inspecção de pavimentos e em grandes superfícies

Imagem 3 - Aplicação do georadar com antena de alta frequência

3.2 O georadar na inspecção de tabuleiros de betão armado

A inspecção de tabuleiros de betão armado com georadar é uma técnica com mais de 20 anos em países como os
Estados Unidos da América. Não só existem normas norte-americanas publicadas (AASHTO (TP36) e ASTM D6087 –
08), empresas com muitas dezenas de tabuleiros de pontes e viadutos inspeccionados, como existe um grande
número de artigos publicados em congressos técnicos na área da engenharia de estruturas, dos métodos de
inspecção não destrutivos e do georadar.

3.2.1. A realidade nacional

Pese embora a experiência neste sector a nível internacional, não é esse o panorama no contexto nacional. O
georadar embora já seja de uso corrente para efeitos de localização de armaduras, avaliação de espessuras ou
detecção de cavidades, ainda não é entre nós um ensaio de rotina do ponto de vista da inferição da qualidade dos
materiais de construção. Ou seja, a abordagem aqui em questão é de um nível de exigência superior ao habitual.

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Por outro lado, na nossa opinião, o georadar não oferece neste campo, resultados de objectividade absoluta, mas
antes indicativos, que, mediante sobreposição com levantamentos de inspecções visuais e obtidos por outros
métodos não destrutivos e até mesmo “ground-truth”, permite uma interpretação mais rigorosa e próxima da realidade
física da obra de arte.

Assim, a inclusão deste método no caderno de encargos da reabilitação do tabuleiro de uma obra emblemática como
a Ponte D. Luís, com os objectivos aí enunciados, é de uma importância particular. Trata-se de uma aposta das
Estradas de Portugal SA, através da empresa projectista J.L.Câncio Martins, Projecto de Estruturas Lda na utilização
de um método que já se vulgarizou noutros mercados, naturalmente que devido aos bons resultados alcançados.

3.2.2. Princípio de operação

A informação apresentada neste ponto é transcrita de Huston et al (1999).

O princípio de funcionamento do GPR baseia-se na transmissão de uma onda oscilatória eletromagnética, por uma
antena, na direcção da estrutura em análise. As ondas eletromagnéticas interagem com os elementos da estrutura.
As ondas são refletidas, transmitidas, absorvidas e refratadas. Como o acesso a ambos os lados da estrada é muitas
vezes difícil, o estado do interior do tabuleiro, geralmente é diagnosticado a partir de uma interpretação da reflexão de
ondas. Uma antena capta as ondas refletidas, que são medidas, armazenadas e processadas. Os sinais de ondas
refletidas são então analisados para determinar o estado dos elementos subjacentes à superfície de circulação.
Existem sistemas configurados para a inspecção da plataforma a alta velocidade, operados por tripulações a
velocidades normais de tráfego.

A interacção das ondas electromagnéticas com o meio sob inspecção é um fenómeno complexo. Para a utilização do
GPR para a inspecção da estrada, são utilizados modelos simplificados da interacção das ondas electromagnéticas
com a estrutura. Talvez o modelo mais simples seja a abordagem unidimensional, onde as ondas de GPR são
modeladas como ondas planas, e o pavimento como um meio de camadas com extensão infinita.

Os materiais podem ser classificados como metálicos ou dielétricos. Os materiais metálicos geralmente são bons
condutores, tanto eléctrica como térmicamente, enquanto as substâncias dielétricas são maus condutores. Ondas
electromagnéticas são capazes de penetrar em materiais dielétricos, enquanto substâncias metálicas tendem a refletir
essas ondas. Quando uma onda eletromagnética se transmite a um meio dielétrico, vai-se propagar por esse meio
até que encontre um limite. Neste caso, um limite pode ser definido como uma mudança nas propriedades dielétricas
do material. Quando este limite for atingido, parte da onda será refletida e outra parte será transmitida através dessa
fronteira.

A interacção das ondas electromagnéticas com os materiais é descrita pela sua permitividade dieléctrica, ’. Para um
material não metálico, a permitividade dieléctrica tem uma componente real e imaginária e afecta a absorção e
velocidade das ondas. A constante dielétrica é geralmente normalizada relativamente à permitividade do espaço livre,

0, e é chamada constante dieléctrica relativa r’

r = r’+
r i rr’’ r

ou

r = r’+
r i (
r 0)r
onde

r – permitividade dieléctrica relativa


r
complexa do meio (adimensional)
r r

r’ – componente real da permitividade dieléctrica (adimensional)

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r’’ – componente imaginária da permitividade dieléctrica (adimensional)

– condutividade dieléctrica do meio (mho/m)

– frequência angular (rad/seg)


-12
0 – permitividade dieléctrica do vazio = 8,854x 10 farad/m.~

Na tabela 1 apresentam-se as propriedades dieléctricas e comprimento de onda de radiação electromagnética de


diferentes frequências quando se propagam em diferentes materiais.

Quadro 1 - Comprimentos de onda função da frequência para diferentes meios

Comprimento de onda (m)

Ar Betuminoso Betão Água


Frequência  r = 1.0  r = 5.0  r = 7.5  r = 78.0
(GHz) Velocity = 3E+8 velocidade = 1.34E+8 velocidade = 1.09E+8 velocidade = 3.39E+7

0.5 0.600 0.268 0.218 0.068


1 0.300 0.134 0.109 0.034
2 0.150 0.067 0.055 0.017
3 0.100 0.045 0.036 0.011
4 0.075 0.034 0.027 0.008
5 0.060 0.027 0.022 0.007
6 0.050 0.022 0.018 0.006

A amplitude e a polaridade da onda refletida, quando ocorre uma mudança nas propriedades dielétricas, dependem
da relação dos valores da constante dielétrica relativa dos dois meios e é referida como o coeficiente de reflexão. A
partir de Moore et al. E Bhandarkar (in Huston et al,1999), o coeficiente de reflexão, R, no limite é dado pela
expressão

R1,2  Z2 - Z1) / (Z2 + Z1)

Em que Z1 e Z2 são as impendâncias do meio 1 e 2, respectivamente.

Para um condutor perfeito, a impendância de onda é zero, pois num meio não condutor, não ferroso, como o solo
seco ou betão, a impedência de onda é

Z = [( i     +   r  )] 

Onde o é a permitividade magnética no vazio (4x10 henrys/m). Para um meio ligeiramente condutor, como o betão
-7

(’’<<’), a equação anterior se simplifica

o =o (r  /  r )
I 1/2
IZI
Obtendo-se

R1,2 = [( r1) - ( r2)] / [( r1) + ( r2)]

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onde r é a constante dieléctrica relativa do meio. Note-se que se o meio 1 tiver uma menor constante
dielétrica relativa do que o meio 2, R1,2 tem um valor negativo. Se o meio 1 tiver uma maior constante
dielétrica relativa do meio 2, R1,2 é positivo. A magnitude do coeficiente de reflexão determina a amplitude
da onda refletida, e o sinal do coeficiente de reflexão impõe a mudança de fase da onda de retorno.
Quando R1,2 é negativo a onda incidente vai sofrer uma mudança de fase de 180 graus quando é refletida
e, quando R1,2 é positivo não ocorre mudança de fase. Reflexões metálicas podem ser produzidas,
assumindo que a constante dielétrica de um metal é infinitamente negativa. Neste caso, o coeficiente de
reflexão R1,2 é -1.

Modelos estratificados unidimensionais são úteis para interpretar as propriedades a um nível global, para inferir a o
estado geral do tabuleiro de uma ponte. Um método possível de avaliar o nível de infiltração de cloretos e de outras
patologias do tabuleiro baseia-se na magnitude da onda refletida. As áreas danificadas tendem a ter menores
coeficientes dielétricos e menores coeficientes de reflexão, logo menores amplitudes de reflexão. Outra aplicação
deste tipo de modelos é a estimativa da espessura do pavimento em misturas betuminosas e do próprio tabuleiro, o
que abre a possibilidade da utilização do método em termos do controle de qualidade na reabilitação do pavimento
existente, bem como na construção de pavimentos novos.

O alcance deste tipo de modelos encontra limitações para além deste ponto.

A natureza da propagação da onda surge como um problema porque as ondas eletromagnéticas são muitas vezes
“demasiado grandes” para distinguirem as feições individuais de menor dimensão. Na tabela 1 é apresentada a
relação do comprimento de onda versus as freqüências e propriedades dielétricas. Ondas com freqüências de 1 GHz
têm no betão comprimentos de onda da ordem de 100 a 150 mm, o que é por vezes de uma dimensão que ultrapassa
a possibilidade de identificar feições de interesse, como são por exemplo fissuras.

Se se tiverem freqüências da ordem de 6 GHz, os comprimentos de onda são no betão da ordem de 20 mm.
Claramente, freqüências mais altas podem ser vantajosas para a identificação de feições do betão. No entanto, as
ondas de maior freqüência sofrem maior atenução apresentando dificuldade em penetrar até profundidades
adequadas.

O sucesso do uso de GPR exige a execução bem-sucedida em várias etapas:

1. Radiação com energia eletromagnética do meio a inspeccionar - Uma onda eletromagnética deve ser iniciado a
partir da fonte da antena e com amplitude suficiente, com uma boa forma e freqüência, para se possam registar sinais
com qualidade. Isso requer uma antena de onda com frequência e forma adequadas, uma fonte de sinal com
capacidade e cabos de alta-fidelidade;

2. Posicionamento da antena emissora - A antena de origem movimenta-se ao longo do tabuleiro da ponte,


exigindo-se que mantenha a altura e ângulo de incidência. A posição da antena no espaço tem que ser registada
(odómetro, gps, marcas de incidência, câmara de vídeo,…).

3. Antena de recepção - a antena de recepção (que pode ser a mesma que a antena de emissora se o sistema é
operado em um modo monostatic) também deve manter a sua possição face à superfície sob inspecção.

4. O processamento de sinal - Os sinais de dados devem ser armazenados e tratados adequadamente.

5. Interpretação do sinal - os dados GPR devem ser correlacionados com outras informações sobre o estado da
ponte, como a observação visual, observações com outros métodos não destrutivos, planos estruturais e análises de
amostras do tabuleiro, na combinação dessa informação se obter uma avaliação do tabuleiro da ponte.

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Antes de avançar, consideramos oportuno apresentar a esquematização proposta por Cassidy, 2008
(imagem 4), relativamente às fontes de atenuação do sinal no seio de um meio sob inspecção. Ou seja,
quando se equaciona associar as amplitudes de reflexão e desse modo a atenuação de sinal à presença
de cloretos e/ou de eventuais patologias (prática que está instituída e demonstrou já os seus bons
resultados), convém ter presente que o fenómeno é complexo, não permitindo uma interpretação directa e
de solução única.

Fonte do sinal transmitido Sinal registado

Eficiência da antena
(perdas ~5dB) Perdas decorrentes da
Antena acoplagem da antena
Antena transmissora (~3 dB por antena)
receptora Ar

Perdas por
Efeito térmico dispersão Sub superfície
geométrica (~20 a
60 dB, dependendo
do tipo de
antena,distância
percorrida, etc,…)
Perdas por dispersão em
materiais de pequena Onda reflectida
Perdas por atenuação nos
dimensão e isolados (~0 a 3dB, Interface com contraste de
materiais subsuperficiais
dependendo da quantidade, propriedades eléctricas
(0,1 a 100 dB/m)
tamanho, forma, etc))

Reflexão/Transmissão
(< 3dB))
Onda transmitida

Imagem 4 – Causas da atenuação de sinal (in Costa, 2009 adaptado de Cassidy, 2008)

3.3 Metodologia de trabalho implementada

De acordo com as especificações de caderno de encargos, utilizou-se uma antena de frequência superior a 1,5GHz
ao longo de perfis longitudinais à obra de arte e com espaçamento inferior a 0,5m (incluindo passeios), procedendo-
se de seguida à compilação de resultados e apresentação sob a forma de mapas colorimétricos, com indicação da
cartografia de contorno das áreas degradadas e respectiva escala de cores.

No cumprimento do especificado, realizaram-se perfis longitudinais com antena tipo “horn air launched” de 2 GHz de
frequência central.

A utilização de um sistema de antenas tipo “horn”, “air launched”, permitiu mediante um ensaio prévio de calibração
numa placa metálica, que numa fase de pós-processamento fosse calculado em cada “scan” a variação da constante

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dieléctrica das duas primeiras camadas interpretadas. Este aspecto, permite uma grande independência
relativamente à habitual carotagem para aferição das velocidades de propagação da energia electromagnética e
ultrapassar o erro que advém do facto desta velocidade nunca ser constante, particularmente em estruturas antigas e
com patologias. Não se quer com isto sugerir que num trabalho deste tipo se deva dispensar a carotagem de alguns
pontos escolhidos após interpretação dos dados do georadar, e, conjugando estas duas fontes de informação, inferir
o motivo efectvo das anomalias dieléctricas evidenciadas nos mapas de isovalores.

Pese embora o equipamento em questão permita ser operado a velocidades significativamente elevadas (da ordem
de 60 km/h), na presente situação, para assegurar um correcto percurso ao longo de cada um dos perfis, a
velocidade não excedeu os 20Km/h. Sem que tivesse sido necessário recorrer à sinalização dos trabalhos, a
inspecção realizou-se sem constituir qualquer penalização, risco ou incómodo, para os utilizadores da ponte.

A interpretação dos perfis georadar, permitiu obter informação sobre as amplitudes de reflexão, assim como da
permitividade dieléctrica relativa e das espessuras de misturas betuminosas e recobrimentos de armaduras. Por
interpolação de dados obtidos nos 14 alinhamentos de inspecção georadar, obtiveram-se mapas de isovalores nos
quais se evidencia a variação dos parâmetros atrás indicados. As indicações das causas dessas anomalias deverão
contar com um reconhecimento de superfície e demais informação existente sobre o tabuleiro. Uma ideia rigorosa da
situação, só é possível após a obtenção de algumas carotes ou, face aos trabalhos de fresagem que se adivinham,
através da inspecção visual da superfície que vais ficar exposta, após fresagem do tabuleiro.

Porém, com o objectivo de avançar desde já uma estimativa das zonas do tabuleiro mais susceptíveis de intervenção
ao nível do betão armado, utilizam-se os parâmetros obtidos com o georadar para inferir o estado de conservação do
betão existente.

Face à largura do tabuleiro, realizaram-se 14 perfis longitudinais espaçados de 0,5m. O posicionamento da viatura no
seu tajecto que define os alinhamentos é aproximado, existindo sempre um erro na trajectória da viatura. Os desvios
que inevitavelmente ocorrerão não terão expressão à escala de uma extensão de 1.200 m.

O posicionamento dos dados para efeitos da sua interpretação fez-se essencialmente com base nos dados da
distância percorrida, obtida com o odómetro.

3.4 Critérios de interpretação

3.4.1 - Atenuação

O critério defenido no documento SHRP Product 2015, em que se sugere -14dB como a atenuação de sinal limite
para lá da qual se estará perante anomalia do estado do betão, pode ser uma fronteira a considerar, porém, como já
referido atrás, pela complexidade do fenómeno de atenuação do sinal georadar, critérios genéricos como este devem
merecer cautelosas reservas. Note-se que em diversas situações, em trabalhos realizados por empresas de
referência do sector do georadar, valores de atenuação dessa ordem de grandeza nem sempre são associados a
patologias. Ou seja, a definição do valor fronteira, carece de trabalho suplementar de análise, com cruzamento de
dados de outras origens, nomeadamente inspecção visual.

Assume-se como conceito de atenuação de sinal:

Atenuação (dB) = 10 x log10 (Amplitude máxima de reflexão na placa metálica/Amplitude de reflexão na interface)

Deverá adoptar-se um sinal negativo que traduza a diminuição de energia envolvida. Por outro lado, uma vez que o
termo de referência foi a amplitude de reflexão total que se verifica numa chapa metálica (os valores máximos do
ensaio de calibração coincidem com os valores máximos na superfície do pavimento nas zonas de juntas d
edilatação), deverá ter-se em consideração que não está aqui em causa uma atenuação corrigida e relativa

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especificamente à que ocorre na camada de betão, mas antes a que resulta da entropia global da interacção da
energia electromagnética com o ambiente e, particularmente, com a estrutura.

Pela importância atribuída a estas ressalvas, os mapas interpretativos são expressos em termos de amplitude de
reflexão e deixa-se aqui uma escala de correspondências entre essas amplitudes e a atenuação correspondente.

3.4.2 Permitividade dieléctrica relativa

A definição mais criteriosa de valores de permitividade dieléctrica relativa considerados normais ou aceitáveis,
especificos do presente caso, passaria pela localização, numa fase mais avançada dos trabalhos, de diferentes
estados de conservação do betão ao longo do tabuleiro.

Adoptando valores tido como comuns na bibliografia, podemos considerar as fontes do quadro 3.
Quadro 2 – Valores de permitividade dieléctrica relativa no betão

Valores de permitividade dieléctrica relativa de betão Referência


4 a 10 (no estado seco) Daniels, 2007
10 a 20 (na presença de humidade) Cassidy, 2008
8 a 10 (valores mais comuns) Saarenketo, 2006
5,8 a 8,5 (no estado seco)
13 a 27,5 (na presença de humidade)
6 Conyers e Goodman, 1997

Em face destes valores propostos por autores de referência, e uma vez que o estado hídrico do betão do tabuleiro à
data da inspecção não se apresentava seco, adoptaram-se valores entre 8 e 16 como correspondendo a uma
situação de normalidade.

Quadro 3 – Relação entre a amplitude de reflexão e a atenuação correspondente

Amplitude de reflexão Atenuação dB)


17400 0
6000 5
4000 6
2000 9
600 15
0
-600 -15
-2000 9
-4000 6
-6000 5
-17400 0

Desta relação amplitude/atenuação, infere-se que para valores de amplitude de reflexão (valores absolutos) inferiores
a 600, corresponderá uma atenuação superior a 14dB, eventualmente identificativa de um pior estado de conservação
do betão.

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4. Resultados obtidos

Os resultados obtidos e apresentados nos três desenhos que integram este relatório, incluem a representação de três
variáveis a dois níveis de profundidade do tabuleiro (na interface betuminoso/betão e ao nível de possicionamento das
armaduras), segundo mapas colorimétricos:

- Amplitude de reflexão;

- Permitividade dieléctrica relativa;

- Espessura de misturas betuminosas e de recobrimento das armaduras.

Para efeitos de conclusões desta análise, adoptam-se como valores “normais”:

Amplitude de reflexão (valor absoluto)

- nível superior da armadura > 600

Permitividade dieléctrica relativa

- betuminoso – 4 a 7

- betão – 8 a 16

O quadro seguinte apresenta a percentagem de valores que não se enquadram nestes intervalos e que, podendo ser
interpretados como anómalos, podem ser associados a situações de patologia dos materiais a que dizem respeito.

Quadro 4 – Distribuição dos valores da permitividade dieléctrica relativa

Permitividade dieléctrica relativa


< 4a7 >
Betuminoso 3% 83% 14%

< 8 a 16 >
Betão 45% 42% 13%

Quadro 5 – Valores anómalos da amplitude de reflexão

Amplitude de reflexão (valor absoluto)

< 600
Nível das armaduras superiores 40%

Estes valores, á data desta interpretação, não puderam ser confrontados com qualquer tipo de confirmação em obra,
do tipo “ground truth”. Esta interpretação não contou com resultados de carotes ou com pontos de inspecção em que
se tenha saneado o betão para inferir o estado geral do betão armado em pontos de anomalias inferidas com o
georadar. Assim a aferição da adequação do valor fronteira considerado, a atenuação de 14 dB, e que permitiu
estimar as percentagens do tabuleiro susceptíveis de requererem tratamento, não foi sujeito a validação.

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5. Considerações à posteriori

Já numa fase posterior deste trabalho, após a apresentação de relatório relativo à inspecção com georadar, foi
possível avaliar alguns dos locais que vinham sendo objecto de tratamento, dos quais se apresentam nas imagens 5
a 8.

Na imagem 5 podem observar-se juntas que se associam no registo georadar a um conjunto de hipérboles espaçadas
cerca de 2 m, que são identificadas em toda a extensão do tabuleiro.

Imagem 5 – Juntas transversais com espaçamento de 2,2 m.

Nalguns locais (imagens 6 e 7), foi possível observar juntas de dilatação cujos bordos apresentavam um betão
armado com fibras do tipo “dramix”.

Imagem 6 – Remate em junta de dilatação com utilização de fibras tipo “dramix”

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Imagem 7 – Remate em junta de dilatação com utilização de fibras tipo “dramix”

Após fresagem das misturas betuminosas, foram assinalados no tabuleiro, os locais susceptíveis de saneamento e
limpeza das armaduras, através de marcação com “spay” de cor vermelha (imagem 8).

Imagem 8 – Marcação do tabuleiro para trabalhos de saneamento

Na imagem 9 pode observar-se a situação mais comum, em que a armadura ocorria quase imediatamente após o
betuminoso, sem que apresentasse significativo recobrimento com betão.

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Imagem 9 – Zona a ser objecto de saneamento, onde a armadura tinha um recobrimento


reduzido a nulo.

Imagem 10 - Zona identificada como susceptível de saneamento (situação idêntica à da imagem


9).

Na imagem 11, apresentam-se alguns locais objecto de tratamento por saneamento, antes ainda da aplicação de
impermeabilização e preenchimento com calda específica para este tipo de tratamento.

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Imagem 11 - Zonas identificadas como susceptíveis de saneamento (situação idêntica à da


imagem 9)

Nesta visita aos trabalhos de reparação do tabuleiro, foi possível ter uma ideia da espessura de mistura betuminosa
fresada, através da marca deixada no lancil (imagens 12 e 13).

Imagem 12 – Registo da espessura de misturas betuminosas

A espessura avaliada através da impressão da superfície do betuminoso no lancil, varia entre 5 e 6 cm.

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Imagem 13 – Variação da espessura das misturas betuminosas registada no lancil

Com base nestas observações, pôde concluir-se:

- a avaliação das espessuras de misturas betuminosas com o georadar, nas zonas em que é possível confirmá-lo,
que são as que se localizam junto ao lancil onde o topo do betuminoso ficou marcado, parece não divergir
significativamente da espessura real;

- A equipa em obra, transmitiu que ao eixo do tabuleiro, a espessura de misturas betuminosas era inferior ao que
havia sido previsto pelo georadar. Essa espessura oscilaria entre os 4 a 5 cm. Trta-se de uma informação que, neste
momento, não é passível de qualquer aferição à posteriori;

- A área susceptível de intervenção avaliada com o georadar foi significativamente empolada pela interpretação com
georadar. O critério de referência foi o valor de atenuação de 14 dB. Note-se que durante a elaboração do relatório se
identificou existir um empolamento das zonas identificadas como susceptívei de tratamento, de modo que se utilizou
um algoritmo de determinação da atenuação mais habitual no cálculo da atenuação de sinal em cabos de fibra óptica
do que acontece no caso do GPR (Atenuação (dB) = 10 x log10 (Amplitude máxima de reflexão na placa
metálica/Amplitude de reflexão na interface) em detrimento de Atenuação (dB) = 20 x log10 (Amplitude máxima de
reflexão na placa metálica/Amplitude de reflexão na interface);

- Como explicação parcial do empolamento das zonas susceptíveis de tratamento, deve considerar-se o facto de não
se ter deduzido a atenuação correspondente à profundidade, que ocorreria sempre em condições de normalidade,
independentemente da existência de qualquer tipo de patologia. Ou seja, a atenuação não foi normalizada para a
profundidade a que se encontrava o reflector, tendo-se considerado a globalidade da atenuação, pelo que estiveram
em consideração valores de atenuação superiores;

- Aguarda-se ainda a recepção do levantamento topográfico das zonas objecto de tratamento, para permitir inferir
quais os níveis de atenuação corresppndentes. Estes níveis, deveriam ter sido obtidos numa fase anterior dos
trabalhos, com recurso a “ground truth”, o que teria permitido uma interpretação mais correcta desde o início;

- Relativamente à localização das armaduras, há a registar que nas zonas em que as armaduras estão mais juntas
(chegam a espaçar-se cerca de 5 cm), o que ocorre em elementos transversais ao tabuleiro, com um espassamento
de cerca de 2m (nessas zonas o betão difere na coloração, apresenta fibras tipo “dramix” e parece representar uma
fase de trabalhos diferente), aí o georadar registou hipérboles do conjunto das “vigas” e não de cada armadura
individualmente. Também não deixa dúvidas, que os radargramas não têm a sequência completa de hipérboles, que
se considera que teriam sido obtidas com antenas tipo ground numa inspecção realizada a velocidade apeada.
Salienta-se que este tipo de registo, não era no presente estudo, um objectivo.

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6. Conclusões

Os resultados obtidos situam-se dentro das expectativas daquilo que foi a proposta inicial do trabalho e que era o
estabelecido no caderno de encargo das Estradas de Portugal SA.

Os resultados obtidos não devem deixar de ter presente que foram obtidos após período de ligeira precipitação, pese
embora a superfície do pavimento se encontrasse superficialmente seco e sem acumulações de água à data da
realização da inspecção.

Nos registos georadar identificaram-se as hipérboles bem definidas dos elementos estruturais de maior secção,
espaçados de 2m a 2,2m; e, de forma menos evidente, dos elementos estruturais de menor secção, com
espaçamento mínimo da ordem dos 30 cm, o que não representa a globalidade dos elementos estruturais presentes
no tabuleiro.

Relativamente aos elementos de reforço posicionados na face inferior do tabuleiro, há um nível de omissão mais
significativo, que se atribui à atenuação sofrida no tabuleiro pela radiação de alta frequência utilizada.

A interpretação à data da entrega do relatório relativo à inspecção com georadar, indicava que uma percentagem
significativa (45%) dos valores de permitividade dieléctrica relativa, avaliados no betão, se encontravam abaixo dos
valores normais neste tipo de material, desvio que tem paralelismo com a percentagem que corresponderá a uma
atenuação superior a 14dB, e que é da ordem dos 40%.

Nesse relatório entregue antes do início dos trabalhos de reparação do tabuleiro de betão armado, perseguindo o
objectivo de fornecer informação objectiva para os interesses da obra, correu-se o risco de, apenas tendo por base os
dados do georadar, e sem contar com mais informação de outro tipo, avançar percentagens da área do tabuleiro em
que se verifica algum tipo de anomalia. No referido relatório, ficou registado não ser esse o procedimento mais
adequado e aconselhou-se vivamente a que a tomada de decisão não se baseasse exclusivamente no mesmo. O
confronto dos resultados do georadar com outros resultados obtidos por métodos directos (“ground truth”) afigura-se
como uma regra de boa arte que se deverá ter sempre presente. Já nessa altura se supunha que as percentagens
indicadas nesse relatório, após um trabalho de interpretação com mais informação sobre o estado do tabuleiro,
poderiam variar significativamente.

Proximamente deverá confrontar-se o levantamento das zonas que foram objecto de tratamento e proceder à
sobreposição com a interpretação do georadar. Neste confronto, deve proceder-se a uma reinterpretação do
georadar, de modo a aferir sobre a sobreposição entre as zonas alvo de tratamento e as zonas de anomalia em
termos de atenuação do sinal.

Deve fazer parte da reinterpretação indicada no ponto anterior, a normalização da atenuação para a profundidade Só
assim se evitará que a varões envolvidos por um betão com um estado de conservação equivalente, que apresentam
um nível de corrosão idêntico, pelo simples facto de se encontrarem a profundidades diferentes, lhes correspondam
níveis de atenuação diferentes.

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Pese embora as cautelas registadas no relatório entregue (que de algum modo fizeram eco das prerrogativas já
anunciadas na proposta), a experiência deste trabalho, reforça a necesidade de existir um entendimento mais
generalizado sobre o alcance do georadar e em que medida ele é possível obter, de modo a que os Cadernos de
Encargos enquadrem devidamente esta técnica e permitam que ela seja utilizada em todo o alcance que lhe está
reconhecido internacionalmente, mas também com todas as reservas que merece e se conhecem. Neste último
grupo, inclui-se a necessidade imperiosa de existir “ground truth”, que poderá consistir num reduzido nº de carotes ou
mesmo em zonas de saneamento de betão de modo a confirmar as singularidades detectadas com o georadar e
permitir confirmar, ou ajustar, a interpretação dos dados do georadar.

Vila do Conde, 25 de Fevereiro 2011

André João de Vilhena Costa


Geólogo (Lic)
Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (MSc)

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ANEXO I – Desenhos

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ANEXO II – Resumo estatístico dos resultados


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ANEXO III – Referências bibliográficas sobre o assunto em análise

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