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IBP2163_11

SIMI. INVENTÁRIO/CADASTRO ASSOCIADO A UM


SISTEMA DE GESTÃO DE REDES MUNICIPAIS
Paulo Fonseca1, André Costa 2,Rui Vieira3

Copyright 2011, Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis - IBP


Este Trabalho Técnico foi preparado para apresentação no XVI CILA – Congresso Ibero-Latinoamericano do Asfalto, realizada no
período de 20 a 25 de novembro de 2011, no Rio de Janeiro. Este Trabalho Técnico foi selecionado para apresentação pelo Comitê
Técnico do evento, seguindo as informações contidas na sinopse submetida pelo(s) autor(es). O conteúdo do Trabalho Técnico, como
apresentado, não foi revisado pelo IBP. Os organizadores não irão traduzir ou corrigir os textos recebidos. O material conforme,
apresentado, não necessariamente reflete as opiniões do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis, seus Associados e
Representantes. É de conhecimento e aprovação do(s) autor(es) que este Trabalho Técnico seja publicado nos Anais do XVI CILA –
Congresso Ibero-Latinoamericano do Asfalto.

Resumo
Em redes de estradas de menor tráfego, como redes de estradas secundárias, associadas a organizações, nem sempre dotadas
de um quadro técnico abrangente, as decisões sobre a gestão dos activos são muitas vezes tomadas caso a caso, perdendo de
vista o panorama global da rede, e muitas vezes sem o suporte de um critério de decisão racional. A implementação de um
sistema de gestão, os custos e recursos envolvidos, podem ser um encargo problemático. Por outro lado, organismos que
não dispõe de informação organizável informaticamente, necessitam de levantamentos exaustivos da rede. Estas
dificuldades perpetuam formas de gestão desajustadas, com penalizações financeiras e do nível de serviço. Assim,
concebeu-se um modelo de gestão tendo em vista as redes rodoviárias de menor dimensão (no caso português, frequente a
nível municipal), em que se transfere para a iniciativa privada os trabalhos de inventariação e de armazenamento da
informação, bem como de produção de relatórios periódicos de análise da rede, tendo em vista disponibilizar informação
que permita fundamentar a tomada de decisões. Um elevado nível de especialização de recursos humanos e tecnológicos,
permite que esta gestão ao nível da aquisição, organização, armazenamento da informação e produção de relatórios
periódicos dos níveis de serviço e das intervenções de manutenção necessárias, possa ser feita, com elevados níveis de
qualidade e a baixo custo, através de empresas prestadoras de serviços. É o caso do Sistema Móvel de Inventário - SIMI.
Sendo fundamentalmente um “mobile mapping system”, que em paralelo com a aquisição de dados habituais em
pavimentos rodoviários, assim como de ground penetrating radar (GPR), permite a aquisição de imagens de alta definição,
georreferenciada, com uma precisão de posicionamento decimétrica, que, por via da obtenção de imagens simultâneas com
sobreposição parcial, permite à posterior, a análise estereoscópica e contagem ou medição de elementos da rede, ou do seu
estado de conservação, que se pretendam reunir na base de dados. Apresenta-se o equipamento, arquitectura de gestão de
dados e alguns detalhes do sistema bem como um caso real de aplicação.

Abstract
Road networks of lower traffic, as the secondary roads, managed by organizations not always endowed with a structured
technical framework, are often managed without objective principles. The decision is made in a case by case basis, loosing
the overall picture of the network, and almost always, not based on rational criteria. The implementation of a proper
management system, the costs and resources involved, can be problematic. On the other hand, organizations that do not
have historical information organized, require extensive surveys of the network. These problems perpetuate forms of
inappropriate management, with financial penalties and repercussions at the level of service to the road users. Thus, was
conceived a management model focused on lower traffic road networks (in the Portuguese case, often at municipal level),
which transfers to the private sector all work of data acquisition, analysis and storage of information to allow the production
of periodic reports of network analysis in order to provide information that enables decision support. High level of expertise
human resources, together with technological tools, allows acquisition, organization, information storage and production of
periodic reports of service levels and maintenance needs, with adequate levels of quality and at low cost, through service
provided with the SIMI system (inventory mobile system, Sistema Móvel de Inventário in Portuguese language). This
equipment, basically is a mobile mapping system, together with road pavement data acquisition sensors, and ground
penentrating radar (GPR), allows georeferenced high definition image acquisition, with a decimeter positioning accuracy,

______________________________
1
Engenheiro Civil, Administrador, GRUPO MONTE SGPS
2
Mestre Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, Geólogo, MONTEADRIANO SA
3
Mestre Engenharia Rodoviária, Engenheiro Geógrafo, ID RESEARCH SA
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which, through the simultaneous acquisition of images with partial overlap, allows subsequent stereoscopic analysis,
counting or measurement of the road network elements, or of its conservation condition, that are intended to be relevant to
store in the database. Here it is presented the equipment, data management architecture; some details of the system and a
real application case.

1. Introdução
Actualmente, a manutenção e a reabilitação do património constituem objectivos políticos bem definidos e
associados a um factor potenciador do crescimento económico, mas fortemente limitado pelas restrições financeiras
impostas aos governos centrais e locais. Nesse sentido, as entidades que gerem ou exploram uma rede rodoviária, sejam
entidades públicas ou privadas, necessitam de ter um perfeito conhecimento dos activos que constituem o seu património.
Para a gestão eficiente e eficaz desse património é imperioso definir estratégias centradas na correcta avaliação do
período de vida útil restante (Figura 1), na análise de ciclo de vida das beneficiações em análise, no impacto ambiental e
social das mesmas e, também, que rentabilizem os recursos financeiros disponíveis para a sua concretização. Deste modo, a
avaliação de uma dada rede com recurso a um Índice da Qualidade, ponderado em função das características funcionais e
estruturais dessa rede, coloca a necessidade da reabilitação a nível do critério da rentabilidade do investimento em
detrimento do critério da oportunidade.

A) B) Estado da via

Excelente

Qualidade
Bom

Vida expectável
Médio

Insatisfatório
Qualidade

Mau

Vida expectável
Ruína

Anos

Figura 1 – Gestão do ciclo de vida de estruturas rodoviárias. A- evolução sem reabilitação; B – Reabilitação e manutenção
do nível de qualidade

O objectivo principal do presente sistema, é, enquanto ferramenta de planeamento estratégico, permitir aos
exploradores de redes rodoviárias:
- Capitalizar os investimentos realizados em infra-estruturas e equipamentos;
- Aumentar a eficácia de actuação;
- Melhorar a produtividade e optimizar os recursos materiais;
- Monitorizar e comunicar a qualidade de serviço prestado ao utente da rede.

Está em causa inventariar, através de aquisição de dados a partir de uma viatura, designada por SIMI, Sistema
Móvel de Inventário (Figura 2), as infra-estruturas, as dependências e os equipamentos que existem nas vias rodoviárias;
proceder à avaliação do seu estado de conservação e à definição de estratégias de manutenção; centrando-se a análise na
qualidade do serviço prestado aos utentes e na optimização da gestão do ciclo de vida da via e dos equipamentos
complementares a esta.

Figura 2 – SIMI viatura de inspecção de pavimentos


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Como exemplos de elementos de redes rodoviárias, susceptíveis de inventariação e tratamento automático por este
sistema, podem considerar-se:
- Sinalização vertical;
- Sinalização horizontal;
- Drenagem da plataforma;
- Equipamento de segurança;
- Pontes;
- Passagens hidráulicas;
- Taludes de escavação/aterro;
- Iluminação pública;
- Paragens de autocarro;
- Equipamentos urbanos;
- Outros que o cliente achar relevantes.

Esta viatura SIMI, está integrada num sistema mais vasto, ainda em desenvolvimento, designado por Sistema de
Gestão de Activos de redes Rodoviárias (SARA), e que tem por objectivo disponibilizar critérios racionais de decisão
relativamente à gestão da rede, independentemente do nível organizacional da entidade gestora, da complexidade da rede
rodoviária em questão, ou da informação disponível sobre a mesma. Isso será conseguido, através da inventariação e
caracterização da rede a velocidades normais de circulação (50 a 80 km/h), o que permitirá adquirir informação da ordem
das centenas de quilómetro por dia. Por sua vez, a funcionalidade de detecção automática sobre as imagens adquiridas,
permitirá disponibilizar rapidamente a informação de input ao sistema de cálculo dos indicadores que traduzem o estado da
rede (Figura 3).

Para que sejam atingidos os objectivos delineados, o SARA será um sistema flexível, constituído por vários
módulos, que possibilitem construir soluções customizadas, adaptáveis às diferentes necessidades dos clientes e das vias a
analisar.

Nesse sentido, o SARA irá proporcionar:


- Cálculo de estratégias de manutenção óptimas a curto e longo prazo;
- Visualização dos dados e de estratégias de manutenção em mapas interactivos;
- Administração e gestão do património inserido na rede;
- Integração com um sistema de Georreferenciação.

A especificação e setup deste sistema são etapas fundamentais para enfrentar os principais desafios do projecto:
- A captura de dados em movimento e de forma contínua;
- A sincronização de todos os equipamentos de recolha de informação, compatibilizando diferentes sinais
de entrada e saída de dados.

A arquitectura do veículo SIMI contemplará:


- Autonomia –fonte de alimentação própria que garanta energia ao funcionamento do sistema;
- Gravação e interface com o utilizador para controlo de equipamentos;
- Posicionamento dinâmico através de GPS duplo, odómetro e sistema inercial;
- Aquisição de vídeo 3D;
- Filmagem do pavimento com câmera linear de alta resolução;
- Perfilómetro laser para determinação do International Roughness Index (IRI);
- Ground Penetrating Radar para avaliação de espessuras e anomalias dieléctricas dos materiais do
pavimento;
- Botoneira para registo de incidências

2. O SIMI no contexto alargado do Sistema de Gestão de Activos Rodoviários

O sistema de aquisição de dados (SIMI), alimentará o Sistema de Gestão de Activos Rodoviários (SARA). Este,
por sua vez cruza os dados históricos da rede, com os dados obtidos por via do modelo de detecção e geo-referenciação
automática, tendo em vista suportar as decisões relativas às intervenções de manutenção e/ou reabilitação da via.
Para suportar todo o sistema será criada uma base de dados geográfica temporal que foi considerada o tipo de ferramenta
que melhor responde às necessidades do sistema.

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Esta base de dados mantém uma estabilidade e consistência elevadas perante as alterações relativas ao estado de
conservação dos elementos da via ao longo dos tempos.

Histórico da Rede
Redes complementares
Inventário de Rede
SIMI

Modelo de seccionamento
da Rede
Detecção automática de
Modelo de detecção e Georeferenciação

elementos da Rede
Base de Dados

Contagem e identificação
SIG da Rede
automática de veículos

Detecção automática de
patologias do pavimento

Índice de Qualidade da Rede


automática

Indicador Estrutural da Rede

Indicador Funcional da Rede

Modelo de Estratégias de Conservação

Figura 3 – Modelo conceptual do sistema de gestão

A metodologia de análise de redes suportada pelo SARA conta com um Índice da Qualidade Global (Figura 4), o
qual irá integrar a análise e processamento de todos os elementos recolhidos. O objectivo é classificar a via de uma forma
objectiva, com base em algoritmos que integram a informação recolhida. Este Índice inclui não só um Indicador Estrutural,
mas também um Indicador Funcional, de forma a poder incluir não só a capacidade de suporte e estrutura do pavimento,
mas também a segurança e conforto que a via oferece aos seus utentes, e ainda, permitir definir estratégias de manutenção
(Figura 5).

Índice Global Tipo de Soluções

5
Sem intervenção
4
Conservação corrente
3
Reparações localizadas
2
Reparações gerais
1
Reforço ou Reconstrução
0

Figura 4 – Índice Global de Qualidade do Pavimento

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Base de Dados

Índice de Qualidade da Rede

Indicador Estrutural da Rede

Indicador Funcional da Rede

Reparação imediata

Estratégias de Conservação

Não
Modelos de Comportamento
Cenário
Serve? Custos de Obras de Reabilitação
incluindo materiais e processos

Condições de tráfego, de operação


e climáticas
sim

Orçamento

Plano de investimentos
Reabilitação e Conservação

Figura 5 – Fluxograma do processo

3. Componentes do SIMI

O sistema SIMI integra a componente de hardware de aquisição de dados no exterior, paralelamente o SARA
integra ainda software de armazenamento de dados e uma componente de análise e produção de relatórios.

3.1 Equipamentos de inspecção


Os equipamentos a instalar no SIMI são:
- sistemas de georreferenciação, com um receptor de 12 canais L1/L2/L2C e L5 (GNSS associado a
sistema inercial a 256 Hz e odómetro);
- aquisição de pares de imagem estereoscópicas (resolução dependente das câmaras utilizadas);
- sistema de imagem 3D com iluminação por “led” para detecção de anomalias no pavimento (fissuras,
peladas, etc.);
- sistema LiDAR para identificação de cavados de rodeira e execução de perfis transversais;
- perfilómetro laser para determinação do International Roughness Index (IRI);
- aquisição de dados com Ground Penetrating Radar (GPR).

O SIMI, que incorpora já diversas das funcionalidades previstas no projecto (Figura 6), é um sistema aberto,
permitindo a integração de novos equipamentos, sejam derivados de novos desenvolvimentos tecnológicos, seja pela
especificidade imposta por um determinado serviço particular.

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Figura 6 – SIMI - Sistema de Inventário Móvel

A aquisição de dados tem uma componente fundamental na detecção automática, a partir de pares de imagens
estereoscópicas. A importância deste aspecto reside no rigor dos dados obtidos, na sua georreferenciação, e na redução de
tempo e dos custos de mão-de-obra relativamente a tarefas de interpretação e edição em gabinete.
A aquisição de imagens é realizada por 2 ou 3 câmaras que podem ter resoluções variáveis, bem como ângulos de
captação consoante as especificidades do trabalho a realizar. A 3ª câmara pode ser de 360o, ser apenas de controlo ou captar
imagens térmicas num registo de infravermelhas, o que permite destacar algumas feições por vezes menos nítidas no
domínio do visível.
Neste sistema é utilizado um receptor GNSS de dupla frequência, 12 canais com captação de L1, L2, L2C e L5 e
com possibilidade de se obterem dados para pós-processamento.
Um odómetro permite calibrar o sistema GNSS nas distâncias percorridas de modo a não acumular erros em
distância, caso se perca o sinal.
O IMU constituído por giroscópios e acelerómetros de 3 eixos cada e uma frequência de 256 Hz, vai permitir
corrigir as direcções para que não sejam acumulados desvios significativos quando o sinal GNSS é fraco ou inexistente.
Com este sistema de posicionamento podemos obter precisões absolutas de ordem decimétrica e georreferenciadas.
Um sistema CAM-SYNC permite sincronizar a obtenção de imagens e etiquetá-las com o tempo GNSS emitido
pelas efemérides (Figura 7).
O sistema tem autonomia para períodos de operação até 10 horas, os dados são gravados num “dataloger “de alta
capacidade com memórias não mecânicas para melhor resistir às vibrações provocadas pelo deslocamento da viatura. Trinta
minutos de recolha de imagens com resolução de 800X640 equivalem a cerca de 60 Mb de dados armazenados.

Figura 7 – Unidade de armazenamento de dados e sistemas de GPS

Está ainda prevista a utilização de câmaras 3D para avaliar o estado de fissuração e sensores laser para a
determinação da irregularidade do pavimento (IRI) fundamentais à definição do Índice de Qualidade.
Outro dos equipamentos complementares do SIMI é a unidade de Ground Penetrating Radar (GPR), que permite
registar as interfaces do pavimento que ocorrem em profundidade, e assim, as diferentes camadas que constituem o
pavimento, assim como a definição da sua espessura. Também este equipamento permite operar a velocidades compatíveis
com o tráfego.
O conhecimento da natureza dos campos electromagnéticos descrita por Maxwell em 1864 e a Lei de Snell criam o
campo teórico de suporte ao método GPR. O facto da velocidade de propagação da energia electromagnética e o modo
como sofre reflexão nas interfaces entre diferentes materiais, serem afectados pelas propriedades eléctricas e magnéticas
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dos materiais em que se propagam, permite utilizar o registo do sinal reflectido para interpretar um meio sob investigação,
de forma não destrutiva e não invasiva (Costa, 2009).
Um sistema radar típico actual, integra quatro componentes: unidade de controlo, antena(s) radar, unidade de
visualização e dispositivo de armazenamento de dados. A unidade de controlo de um sistema radar é um dispositivo
electrónico composto por um microprocessador, e memória para armazenamento da configuração e definições de cálculo, e,
eventualmente, de dados de campo. Os sistemas modernos são controlados digitalmente e o armazenamento da informação
é também digital, permitindo o seu tratamento posterior. A unidade de controlo é uma componente de frequência
independente, cujo primeiro propósito é gerar sinais electromagnéticos de curto período e elevada voltagem, e transmiti-los
à antena de transmissão, a qual, por sua vez, é responsável pela emissão da radiação sobre a superfície a investigar (Costa,
2009).
A Figura 8 exemplifica o modo de funcionamento de sistemas GPR usuais na inspecção de pavimentos
rodoviários.

Figura 8 - Princípios básicos da técnica georadar com antenas aéreas para auscultação de pavimentos. T – antena
de transmissão; R – antena de recepção; 1 – interface ar-pavimento; 2 – interface betuminoso – base; 3 – interface base –
sub base (Costa, 2009 adaptado de Saarenketo, 2006)

A utilização do método GPR, permite obter informação sobre a espessura das diferentes camadas dos pavimentos,
assim como a análise dos materiais rodoviários do ponto de vista das suas características dieléctricas, em inspecções sem
interferência com o tráfego (Figura 9).

Figura 9 – Antena de GPR instaladas na viatura de inspecção

O GPR é um método de inspecção em contínuo, que apenas com um reduzido número de carotes de confirmação,
apresenta significativas vantagens sobre a tradicional inspecção exclusivamente suportada por carotagem (Figura 10),
permitindo eliminar as dúvidas sobre os pontos exactos em que ocorre uma mudança entre estruturas de pavimento
diferentes.

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Figura 10 – Comparação de um radargrama (amostragem contínua) com dados discretos de carotes

A utilização do registo de reflexão electromagnético proporcionado pelo GPR, abre ainda a possibilidade de
estudar os materiais rodoviários sob o ponto de vista das suas características dieléctricas, o que oferece perspectivas
alargadas que vão desde a inferição de patologias nas camadas betuminosas, como o “stripping”, à detecção de estados
hídricos diferenciais nas camadas granulares. Estes assuntos são também campo de investigação no contexto do projecto
SARA.
Conforme a especificidade de uma determinada rede viária, ou desígnio do cliente, o sistema em questões é
flexível ao ponto de poder envolver níveis de análise mais ou menos detalhados, onde não se exclui a aquisição e integração
de qualquer outro tipo de dados.

3.2 Bases de dados


O sistema de aquisição de dados (SIMI), alimentará o Sistema de Gestão de Activos Rodoviários (SARA). Este,
por sua vez cruza os dados históricos da rede, com os dados obtidos por via do modelo de detecção e georreferenciação
automática, tendo em vista suportar as decisões relativas às intervenções de manutenção e/ou reabilitação da via.
Para suportar todo o sistema será criada uma base de dados geográfica temporal que foi considerada o tipo de
ferramenta que melhor responde às necessidades do sistema.
Esta base de dados mantém uma estabilidade e consistência elevadas perante as alterações relativas ao estado de
conservação dos elementos da via ao longo dos tempos.

3.3 Modelo de Estratégias de Conservação


A metodologia de análise de redes suportada pelo SARA contará com um Índice de Qualidade Global (Equação 1),
o qual irá integrar a análise e processamento de todos os elementos recolhidos. O objectivo é definir uma forma objectiva
de classificar uma via rodoviária, com base em toda a informação recolhida. Este Índice irá incluir não só um Indicador
Estrutural, mas também um Indicador Funcional, de forma a poder incluir não só a capacidade de suporte e estrutura do
pavimento, mas também a segurança e conforto que a via oferece aos seus utentes.

IQt = ∫ IQf + ∫ IQe


(1)

Um exemplo de modelo de cálculo do Índice de Qualidade desenvolvido com base em informação obtida em ensaios de
caracterização do pavimento é o da metodologia AASHTO (equação 2).

IQt = 5 × e −0, 0002598×IRIt − 0,002139 × Rt − 0,1× (Ct + St + Pt )


2 0,5
(2)

Em que:
IRIt- é a irregularidade longitudinal do pavimento no ano t (mm/km);
Rt – é a profundidade média das rodeiras no ano t (mm);
Ct – é o coeficiente de área com fendilhamento no ano t (m2/100m2)
St – é o coeficiente de área com degradação superficial de materiais (covas e peladas) no ano t (m2/100m2)
Pt – é o coeficiente de área com reparações no ano t (m2/100m2)

3.4 Software
Além do software instalado na viatura que permite a georreferenciação, recolha e armazenamento das imagens,
este sistema possui um software de reconhecimento automático de imagem de modo a detectar em tempo real os objectos
inventariados, identificá-los e georreferenciá-los. Numa posterior passagem da viatura as correcções e alterações serão
feitas de modo quase automático.

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Na Figura 11 podem ver-se algumas medições realizadas com o software Mobil – Sistema Móvel de Levantamento
(Madeira, 2007), bem como o ficheiro .txt (Figura 8B) resultante das coordenadas medidas sobre a Guarda de Segurança,
susceptível de ser interpretado por qualquer SIG ou programa tipo Cad.

A B

C D

Figura 11 – Situações de medição suportadas por pares de imagens estereoscópicas do software Mobil-Sistema
Móvel de Levantamento. A – Largura da via (3,42m); B – Guarda de segurança; C- Sinalização horizontal (8,26m) e D-
gabarit de obra de arte (6,09m).

Após os dados serem armazenados na base de dados geográfica temporal passa-se ao software de classificação das
vias.
O desenvolvimento e ajuste de algoritmos permitirão disponibilizar indicadores, objectivos e racionais, de apoio à
tomada de decisões de gestão no âmbito da exploração das vias da rede.
No âmbito do SARA será possível produzir relatórios de avaliação da rede; definição de estratégias de intervenção
e identificação de prioridades, assim como mapas temáticos da rede sobre aspectos de inventário e de análise de
funcionalidade da rede.

4. CASOS DE ESTUDO
O Sistema Móvel de Inventário, que constitui a primeira fase de um projecto mais vasto designado por SARA,
reúne um conjunto de valências, algumas das quais ainda num domínio de investigação e desenvolvimento (I&D). Porém,
não se encontra integralmente numa fase de pré-produção, pois contam-se já com diversos trabalhos em curso suportados
por esta tecnologia.
Um dos casos de aplicação mais interessantes e actualmente em curso, é o inventário da rede rodoviária do Distrito
do Porto em Portugal, para a autoridade rodoviária nacional Estradas de Portugal, EP, que perfaz uma extensão total de
mais de 770 km de vias. Recorrendo a imagens estereoscópicas georreferenciadas torna-se possível, após uma rápida

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passagem pelos lanços de estrada alvo do cadastro, reunir em trabalho de gabinete, a informação mais relevante relativa à
sinalização vertical e horizontal existente na via, equipamentos de segurança, sistema de iluminação, muros, taludes, estado
do pavimento, etc.
Neste trabalho incluem-se já 350 km de vias inspeccionadas e em fase de interpretação em gabinete.
Tirando proveito da colecção de imagens com sobreposição, adquiridas segundo eixos paralelos, e baseado nos
efeitos de paralaxe, a constituição de pares de fotografias estereoscópicas, permite medições directamente sobre as
fotografias.
Deste modo, transfere-se para uma fase de edição em gabinete, um trabalho que até aqui teria que ser desenvolvido
in situ, com todas as penalizações que isso implicava, nomeadamente e com grande importância, do ponto de vista de custos
e qualidade do trabalho efectuado.
Naturalmente que existem sempre detalhes e particularidades que justificam uma fase posterior de trabalho de
campo, para controlo da qualidade dos dados por via de confirmação presencial por amostragem, assim como a inspecção
no local dos aspectos sobre os quais possa pender alguma dúvida, não eliminada com base na análise das imagens.
Outros trabalhos que se prevêem iniciar brevemente, estão relacionados com a gestão de pavimentos para donos de
obra a nível local/regional, que não dispondo de estrutura técnica para administrar as redes viárias por que são responsáveis,
perceberam já a importância da gestão sistematizada e suportada por critérios racionais que o SARA apresenta.

6. CONCLUSÕES

O SIMI, sistema de inventário móvel, é a componente de aquisição de dados do SARA, sistema de gestão de
activos rodoviários, que é um sistema de gestão de redes rodoviárias que, com recurso a ferramentas de auscultação e a
modelos de previsão do comportamento, pretende dotar os gestores de redes dos instrumentos necessários para a
implementação das estratégias de conservação mais adequadas, tendo em conta os recursos económicos disponíveis, face a
padrões de qualidade predefinidos, fundamentados no conhecimento da evolução do comportamento dos eventos da rede ao
longo do tempo.
Este Sistema de Inventário Móvel, quando completo, integrará sistemas de georeferenciação (GNSS associado a
sistema inercial e odómetro); sistema aquisição de pares de imagens estereoescópicas georeferenciadas; sistemas de
imagens 3D; sistema LIDAR; perfilómetro laser; câmera de infravermelhos e Ground Penetrating Radar.
As potencialidades do SARA tornam-no numa ferramenta indispensável para a gestão optimizada de redes
rodoviárias, com importância num contexto internacional e com especial relevância em contratos de conservação integral do
tipo Performance Based Contracts.
Nos casos já realizados de aplicação, o sistema implementado, permitiu confirmar as potencialidades que lhe estão
associadas, não só do ponto de vista da velocidade/custo da aquisição de dados sobre a via, como do ponto de vista do seu
rigor e do registo perpétuo que se constitui das estruturas no momento da inspecção.
Com um nível de implementação ainda da ordem dos 40%, inseridos num contexto alargado do ambicioso projecto
de investigação em curso, face aos resultados já obtidos, prevê-se uma evolução muito significativa a breve prazo deste
sistema, e a colocação no mercado de serviços inovadores nesta área da gestão de vias rodoviárias.

BIBLIOGRAFIA

AASHTO, Guide for Design of Pavement Structures, American Association of State Highway and Transportation Officials,
USA, 1993.
AZEVEDO, M. C.; SANTOS, L. P.; FERREIRA, A.; MATOS, J.; PEREIRA, F. C. - “Pavement Management System for
the Portuguese Administration”. 9th International Road Conference Budapest - Roads for Sustainable Development,
Budapeste, Hungria, Abril, 2006.
COSTA, A.; FONSECA, P.; GOMES CORREIA, A.. “Moisture Map of Pavement by GPR. An Informative Case Study”.
European Geoscientists Union General Assembly. Vienna, Austria, 2011.
MADEIRA, S. “Sistema Móvel de Levantamento com Integração em SIG”. Faculdade de Ciências da Universidade do
Porto, Portugal, 2007
SAARENKETO, T. “Electrical properties of road materials and subgrade soils and the use of ground penetrating radar in
traffic infrastructure surveys”. Oulu University. Finland, 2006

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