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Apostila

Resenha crítica

TEXTOS

−Cátedra, 2021a, “Atividades práticas” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

RESENHA CRÍTICA
−Cátedra, 2021b, “Resenha crítica” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .4
−Cátedra, 2021c, “Um exemplo de Resenha crítica” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
−Kolak, Daniel; Martin, Raymond, 2004, “Conhecimento de qualidade” . . . . . . . 10
−Anonimus, João, 2017, “Resenha crítica [de Kolak e Martin 2004]” . . . . . . . . . . 11
−Sobre as referências bibliografias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

TEXTOS COMPLEMENTARES
−Eco, Umberto, 1987, “A iniciação à pesquisa” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18
−Cátedra, 2018d, A ética na pesquisa e na Universidade –O PLÁGIO” . . . . . . . . . .20
−Eco, Umberto, 1998, “Paráfrases e plágio” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21
−Vídeos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
−Concepción, David, 2020, “Ler como um filósofo” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1
ATIVIDADES PRÁTICAS
Cátedra, 2021a

Durante o curso, como atividades complementares, serão exigidas Atividades práticas,


tais como Respostas a perguntas, Análise de vídeos, Dissertações (argumentativas),
Resenhas (críticas) etc.
Caracterizações básicas de algumas destas modalidades poderão ser encontradas,
respectivamente, nos seguintes textos:
• “Resenha crítica”
• “Dissertação argumentativa”

Data de entrega das Atividades práticas


Observação importante: Uma das mais importantes regras acadêmicas −aplicadas pelos
organizadores de Congressos, os professores universitários e os editores de revistas
científicas− é a de não aceitar os trabalhos entregues fora da data pautada.
Não se aceitam trabalhos entregues fora da data pautada. E isto pela simples razão
de que sem prazos firmes não haveria organização possível, e sem organização
dificilmente haveria produção intelectual. Por isso, e por outras razões, um dos
conselhos básicos da metodologia é ‘sempre redigir os trabalhos com antecedência’.

Sempre redigir os trabalhos com antecedência

Considerando que um dos objetivos de nossa disciplina é incorporar os hábitos de


trabalho da vida acadêmica e laboral, em nosso curso adotaremos e aplicaremos a regra
crua, mas didática, de ‘não aceitar os trabalhos entregues fora da data e das
especificações pautadas’.

REGRA METODOLÓGICA: Na entrega de Trabalhos não serão aceitos textos


incompletos ou fora das especificações exigidas.
NÃO HAVERÁ EXCEÇÃO À APLICAÇÃO DESTA REGRA

Evidentemente essa regra (em qualquer de suas versões) não pode ser considerada como
uma regra restritiva, já que sempre temos a liberdade de entregar nossos trabalhos
antes da data pautada –de fato, nas especificações acima se indica que as datas de
entrega são ‘até o dia...’.
Em síntese: temos uma regra acadêmica simples, ampla e não restritiva; portanto,
não há possibilidades de reclamações nem desculpas.
Para que fique bem claro: Imaginemos que a data determinada para a entrega de uma
Resenha, ou de uma Dissertação é, p.ex., “até o dia 17 de fevereiro”. Algum aluno,
depois do dia 17 de fevereiro, poderá tentar se desculpar por não ter entregado a
Atividade prática a tempo dizendo que no dia 17 teve que viajar, ou que esteve doente
etc. O professor simplesmente responderá que o aluno teve mais de x dias para entregar
esse trabalho (!!), dias nos quais o aluno não viajou nem esteve doente (já que nesse
caso provavelmente estaria reprovado por faltas), e que, infelizmente, por razões
pedagógicas o trabalho não poderá ser aceito.
Em síntese: seja responsável com suas obrigações acadêmicas (frequência, entrega de
APs etc.). Isso contribuirá com suas notas e –mais importante– com seu aprendizado.
2
Revisão do Trabalho, correção e aprimoramento
Eliminar os espaços duplos, as palavras unidas, outros erros de digitação etc. Justificar
o texto. Entregar no formato especificado.

NUNCA ENTREGAR/ENVIAR UM TEXTO SEM


TER FEITO UMA REVISÃO PRÉVIA!

As Atividades Práticas deverão ser entregues impressas (digitadas), em folha A4,


justificados.

A Atividade deve ser redigida com espaço simples, em letra Times New Roman,
tamanho 14.

• As folhas devem ser entregues grampeadas (não é necessário que as


Atividades sejam entregues encadernadas).
• Não é necessário que as Atividades tenham folha de capa.

Nas Atividades Práticas também se aplicam as regras do Plágio (ver textos


indicados sobre Plágio em “A ética na pesquisa e na Universidade –o
plágio”).
Simplificando: plágio total ou parcial equivale a reprovação.

REGRA METODOLÓGICA: Na entrega de Trabalhos não serão aceitos textos


incompletos ou fora das especificações exigidas.
NÃO HAVERÁ EXCEÇÃO À APLICAÇÃO DESTA REGRA

O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.


Albert Einstein

3
RESENHA CRÍTICA
Cátedra, 2021b1

[A leitura deste texto pressupõe a leitura prévia do texto: Cátedra, “Atividades


práticas”, onde se especificam os aspectos formais da apresentação].

Resenha crítica (RC)


(de textos, comunicações etc.)2.

Uma ‘Resenha crítica’ (RC) é uma exposição crítica.


Uma RC está conformada de duas partes: Resumo objetivo e Comentários pessoais.

(i) Resumo objetivo: uma síntese do texto resenhado.


(ii) Comentários pessoais: seguida da apresentação da própria opinião
sobre o assunto, opinião que supõe uma valoração pessoal justificada.

Uma RC, então, implica (i) fazer uma análise, um exame, e, (ii) também e
principalmente, emitir um julgamento, uma opinião fundamentada.
Destacando a mesma ideia em outras palavras: a ‘RC’ é um tipo especial de
síntese, onde se apresenta de maneira clara e sucinta um texto acadêmico. É (i) uma
síntese, mas é (ii) uma síntese crítica e abrangente, que permite comentários e
opiniões, inclui julgamento de valor, comparação com outros textos da mesma área, e
avaliação da relevância do texto analisado em relação a outros do mesmo gênero.
Resenhar significa sintetizar e destacar os pontos principais de uma obra e,
principalmente, criticar a obra, avaliá-la criticamente. ‘Resenhar’, então, não implica
simplesmente ou somente resumir. Uma resenha pressupõe −também e
principalmente− uma apreciação sobre um texto. Assim sendo, podemos caracterizar
a Resenha crítica como uma síntese crítica de um texto, em que se destacam e
julgam as principais ideias contidas nele.
Embora o texto a ser resenhado tenha um autor, quem elabora a resenha deve ser o
autor da sua própria resenha. Isto é: é importante manter a identidade de quem
escreveu o trabalho que você está analisando, mas é preciso transparecer a sua
própria presença, como voz crítica sobre o texto.
A resenha é uma útil ferramenta de estudo e aprendizagem.

1 Aqueles alunos interessados em aprofundar a técnica da resenha –a qual pode ser utilizada como técnica de estudo–, podem
consultar o site: <http://www.ronaldomartins.pro.br/materiais/resenha.htm>, acesso em 02/03/2007.
2 Para simplificar, a seguir falaremos só de resenha de ‘texto’. Mas, é importante destacar que uma resenha não se restringe a um

texto ‘escrito’: há resenha de conferências, palestras, comunicações, aulas etc. Em outras palavras, as indicações abaixo são válidas
para qualquer tipo de modalidade comunicativa.
4
Técnicas de resenha

1o) Ler a totalidade da obra a ser resenhada: Assistir à totalidade da conferência,


aula ou apresentação a ser resenhada etc.
2o) Pesquisar sobre o assunto em questão: por exemplo, sobre a história do
problema, ou sobre a situação atual da pesquisa sobre o tema. Sempre colocar as
referências completas das obras consultadas.
3o) Elaborar um esquema com as principais etapas a serem desenvolvidas na
resenha. Antes de começar a redação, um esquema ou quadro ajuda a organizar
as ideias.
4o) Consultar outras fontes: por exemplo, outros textos da disciplina relacionados
ao assunto principal do texto objeto da resenha.
−Não utilizar sites ou blogs da Internet!
−Só utilizar −e citar− artigos com ISSN e livros com ISBN (independentemente
de terem sido obtidos, ou não, na Internet).
5o) Referências bibliográficas: As fontes utilizadas sempre devem ser indicadas
incluindo uma Bibliografia no fim da resenha.
6o) Incluir exemplos e contraexemplos (quando possível).
7o) Incluir citações (se necessário): As citações (sejam do autor resenhado, sejam
de outros autores) devem ir entre aspas duplas, “ ”, e com referências
bibliográficas.
8o) Fazer paráfrases (se necessário): ver, abaixo, Eco, 1998.
9o) Utilizar recursos legítimos: O aluno tem à sua disposição uma enorme
quantidade de recursos expositivos e de estilo: citação, paráfrase, síntese,
argumentação, contra-argumentação, analogias etc.
−O único ‘recurso’ que NÃO pode utilizar é o plágio (seja total, seja
parcial).
10o) Revisar o texto. Eliminar os espaços duplos, as palavras unidas, outros erros de
digitação etc. Dar coerência ao texto, evitando as repetições de ideias.

NUNCA ENTREGAR UM TEXTO SEM TER FEITO UMA REVISÃO PRÉVIA!

Bibliografia: Utilizar SOMENTE a bibliografia disponível no SIGAA.


Não utilizar textos da Internet.

5
Características técnicas da Resenha crítica

Apresentação de uma RESENHA CRÍTICA


Ao longo das próximas aulas esclareceremos e exemplificaremos a tarefa.

* A RESENHA CRÍTICA deve ser entregue impressa (digitada), enviada em folha A4,
justificada, em letra Times New Roman (TNR).

Importante: espaçamento entre linhas: simples.

Regras gráficas: Se ainda não conhece nenhuma das regras habituais de citação
(ABNT, Vancouver, APA etc.), siga o modelo.

Na correção, priorizaremos a estrutura expositiva do texto e a capacidade


argumentativa do aluno. Mas, é claro: um texto desleixado não será avaliado
positivamente.

* Corpo do texto: espaçamento simples, TNR tamanho 14.

* Citações: espaçamento simples, TNR 12. Recuo de 1 cm de cada lado.

* Notas de rodapé: espaçamento simples, TNR 10.

* Bibliografia: espaçamento simples, TNR 12.

Utilize recursos expositivos! Citação, paráfrase etc...

* Extensão mínima e máxima: ver, abaixo, “Extensão da resenha”.

Sempre −SEMPRE− coloque as referências bibliográficas do material utilizado.

−Não utilizar sites ou blogs da Internet!

−Utilizar −e citar− só artigos com ISSN e livros com ISBN (independentemente de terem sido
obtidos, ou não, na Internet).

Bibliografia: Utilizar SOMENTE a bibliografia disponível no SIGAA.


Não utilizar textos da Internet.

6
Extensão da resenha

A extensão da resenha dependerá, claro, do assunto e da extensão do texto resenhado.


Considerando que a primeira parte de toda Resenha é um Resumo objetivo, uma
síntese do texto resenhado, seguramente sua extensão será muito menor que a do texto
resenhado. Considerando que a segunda parte de toda Resenha está constituída pelas
Considerações ou comentários pessoais, i.e., de uma exposição da opinião crítica do
aluno sobre o assunto, sua extensão será diretamente proporcional ao trabalho que o
aluno dedicar à resenha. Por isso, sua extensão será determinada pelo professor.

VER, NAS ESPECIFICAÇÕES DE CADA RESENHA, A


EXTENSÃO EXIGIDA.

Elementos da resenha
A Resenha se estrutura em três partes lógico-redacionais:

Cabeçalho
1. Resumo
2. Comentários pessoais
[Geralmente, as Resenhas críticas não separam o Resumo dos Comentários
pessoais. Porém, por razões didáticas, diferenciaremos com títulos essas duas
atividades: (1.) Resumo e (2.) Comentários pessoais.
Mesmo que a distinção seja artificial, ajudará a que o aluno entenda a diferença
entre sintetizar e argumentar, e a valorizar a importância da argumentação, da
avaliação, da ponderação, i.e., da crítica dos textos.]
3. Bibliografia

Bibliografia: Utilizar SOMENTE a bibliografia disponível no SIGAA.


Não utilizar textos da Internet.

(Ver página seguinte →)

7
Elementos da resenha
A Resenha se estrutura em três partes lógico-redacionais:
0. Cabeçalho
No começo da primeira folha, devem ser colocados os dados pessoais (nome
completo do aluno), seguidos dos dados editoriais do texto analisado)3.

Dados do aluno: _______________


Dados do texto resenhado: _______________

1. Resumo
A seguir, sempre na primeira folha, deve se colocar o título ‘1. Resumo’. Nessa
seção, deve se fazer uma exposição sintética do conteúdo da fonte, o resumo ou
síntese do material resenhado (segundo especificado acima). Nela devem ser
destacadas as ideias principais, e esclarecer-se questões como as seguintes: De
que trata o texto? Como foi abordado o assunto? O autor faz conclusões? Quais
são? etc.
2. Comentários pessoais
A continuação, em página independente (nova), sob o título ‘2. Comentários
pessoais’, deve se fazer uma crítica, uma avaliação, uma apreciação pessoal
fundamentada.

Exemplo: 3. Bibliografia

2. Comentários pessoais

Resenha crítica
Dados do aluno: _______

HEMPEL, Carl, 1974, Filosofia da ciência natural,


Zahar, R.J., capitulo: “Descoberta e avaliação
científica”, 13-31.

1. Resumo
Neste texto, o autor tenta esclarecer
as noções de ‘descoberta’ e de
‘avaliação’ em ciência.
Em termos muitos claros, Hempel
apresenta estas questões a partir da
análise de um caso científico muito
conhecido: a descoberta, feita pelo...
1

3
Caso a resenha seja uma aula ou de outra modalidade de exposição, se deve indicar a data em que o trabalho
resenhado foi apresentado, título do trabalho, nome do evento etc.
8
Um exemplo de
Resenha crítica
Cátedra, 2020c

Nas páginas seguintes você encontrará:


i) Texto a ser resenhado: O texto de Kolak e Martin, 2004, “Conhecimento de
qualidade”, um texto muito breve que inclui conceitos úteis para nossa
disciplina e para a formação geral do aluno.
ii) Modelo de resenha crítica: Uma Resenha crítica do texto de Kolak e Martin,
que serve como modelo para a tarefa de redigir uma Resenha crítica.
Um modelo ou exemplo funciona como um parâmetro geral que orienta sobre como
proceder quando se deve realizar uma tarefa que se desconhece. O aluno pode utilizar
o modelo como um ponto de partida para realizar suas próprias resenhas críticas.
Como você poderá observar, o aluno que fez a Resenha, João, se apoiou em outros
textos da disciplina para fazer seus próprios comentários. Esse é um recurso válido e
recomendado (Ver a regra 4 das Técnicas de resenha).
Também colocou exemplos do que afirma (Ver a regra 6 das Técnicas de resenha).
Também fez citações (do autor resenhado e de outros autores). (Ver a regra 7 das
Técnicas de resenha).
Por outro lado, fez paráfrases. (Ver a regra 8 das Técnicas de resenha). O texto de
Eco, Umberto, 1998, “Paráfrases e plágio” (ver abaixo) é excelente para aprender a
fazer paráfrases.
Você observará que o aluno colocou, na página final de sua Resenha crítica, uma
Bibliografia com as referências completas dos textos que utilizou.
Observe que todos os textos que ele utilizou são de fontes confiáveis –não de blogs
de estudantes etc.).

Importante!: Número de palavras (NP)


Na RC, indicar o número de palavras (i) do Resumo e (ii) dos Comentários pessoais
Contar o número de palavras (caixa de diálogo do Word: Contar palavras).
–Para cada Resenha crítica, o professor indicará um intervalo de palavras (número
mínimo e máximo de palavras) específico.
–O NP possibilita uma avaliação comparativa.
–O NP evita respostas telegráficas e informação irrelevante ou repetida.
Importante!
9
Indicar o número de
palavras de (i) e (ii)
Conhecimento de qualidade daquilo em que acredita através das evidências
e/ou razões que tem para acreditar nisso? E não
Daniel Kolak e Raymond Martin, 2004a4
terão essas razões ou evidências de ser
Você tem muitas crenças. Mas quais das suas adequadas para justificar epistemicamente* a
crenças é conhecimento, se é que alguma o é? O sua crença? O que torna implausível dizer que o
que é o conhecimento*? Quando uma pessoa apostador tem conhecimento mesmo que
está legitimada a afirmar ‘sei’ ou ‘conheço’? aposte num cavalo vencedor, é que ele não tem
O conhecimento não é mera crença*. Se uma boas razões e/ou evidências para pensar que o
pessoa acredita e afirma que sabe algo e outra cavalo em que ele aposta irá ganhar. Em vez
acredita e afirma que sabe o oposto, então pelo disso, o apostador ganha por sorte.
menos uma delas está enganada. Quando duas Mas o que é que são evidências*? Quando as
pessoas acreditam em coisas contrarias não evidências são adequadas? Estas são perguntas
podem ambas saber aquilo que afirmam saber, difíceis. Para não nos desviarmos do nosso
pois uma das duas crenças tem de ser falsa. problema, suponhamos, para efeitos de
Acreditar meramente em algo, não importa discussão, que sabemos o que faz de um bit de
quão ardentemente, não faz disso uma verdade. informação uma evidência a favor de uma
Acreditar meramente em algo, não importa crença. Suponhamos também que sabemos qual
quão ardentemente, não faz disso uma a quantidade de evidência necessária para
verdade*. Para que se saiba algo, não temos sustentar adequadamente uma crença. Ao
somente de acreditar nisso; isso também tem de supor que sabemos isso não elevamos
ser verdade. Como destacava Platão, não é demasiado as nossas exigências. Em vez de
possível conhecer falsidades −sendo, possível, e supor que para as evidências serem adequadas
até frequente, ter opiniões falsas. para o conhecimento elas têm de estabelecer
Para afirmar que sabemos/ conhecemos algo, conclusivamente a verdade da crença que
temos de acreditar nisso e isso também tem de suportam, supomos que as evidências são
ser verdade. Mas, será isto tudo o que é adequadas quando tornam, em um determinado
requerido? É o conhecimento mera crença contexto, a verdade de uma crença mais
verdadeira? provável ou mais plausível* do que o seu
Suponha que alguém aposta regularmente contrário. (Se estes pressupostos estiverem
em cavalos. Ele tenta sempre apostar em errados, podemos sempre reformulá-los mais
vencedores, mas raramente o faz. Contudo, está tarde. Aceitá-los momentaneamente, simplifica
tão cheio de ilusão, pressentimento ou os problemas e nos ajuda a manter-nos na
esperança, que sempre que faz uma aposta direção certa. Depois de tudo a ciência –o
acredita ardentemente que o seu cavalo vai melhor exemplo que podemos dar de
ganhar. Mas, nas raras ocasiões em que o cavalo conhecimento de qualidade– adota essa
ganha, saberia o apostador que o cavalo dele estratégia).
iria ganhar? Claro que não. (Ele poderia sentir- O conhecimento pode ser mais (ou menos) do
se completamente confiante, mas isso é outra que mera crença suportada por evidências
história). Para se saber algo, não se pode apenas adequadas. Mas se o conhecimento for pelo
adivinhá-lo, mesmo que se acerte, e não o menos isso, então uma das coisas que devemos
sabemos por maior que seja a confiança que perguntar às nossas autoridades é que
depositamos no nosso palpite. Assim, que mais evidências têm elas para as coisas que afirmam
é necessário para o conhecimento, além da saber. E uma das coisas que temos de perguntar
crença verdadeira? a nós próprios, quando aceitamos certas
Não será ‘ter razões e evidências’ a resposta? pessoas como autoridades, é que evidências
Isto é, para o leitor ter conhecimento não mostram que essas pessoas são competentes e
consistirá em estar conectado com a verdade fidedignas.
Kolak, Daniel; Martin, Raymond, 2004, Sabedoria sem respostas: Uma breve
4 Versão do texto original parcialmente modificada. Introdução à filosofia, Temas e debates, Lisboa, 51-52.

10
Resenha crítica

Dados do aluno: João Anonimus

Kolak, Daniel; Martin, Raymond, 2004, “Conhecimento de qualidade”, in Sabedoria sem respostas:
Uma breve introdução à filosofia, Temas e debates, Lisboa, 51-52.

1. Resumo
O texto resenhado corresponde às páginas 51 e 52 do livro de Daniel Kolak e
Raymond Martin, de 2004: Sabedoria sem respostas: Uma breve introdução à
filosofia.
O texto segue a estrutura clássica das introduções à Epistemologia: procura
responder à pergunta ‘O que é o conhecimento?’, e a esclarecer as relações do
conhecimento com a crença, a verdade e a justificação.
Os autores tentam mostrar, na sequência, os problemas que surgem quando
pretendemos definir ‘O que é o conhecimento’. “O conhecimento não é mera crença”,
afirmam (Kolak e Martin, 2004: 13). Se uma pessoa acredita em uma coisa, e outra
no oposto, pelo menos uma delas não tem conhecimento. Em outras palavras: uma
crença falsa não é conhecimento, o que nos leva a pensar que para conhecer alguma
coisa “não temos somente de acreditar nisso, [mas que] isso também tem de ser
verdade” (ibid.). Porém, observam os autores, ainda que crença e verdade pareçam
ser condições necessárias para ter conhecimento, não são condições suficientes, pois a
mera crença verdadeira não constitui conhecimento: posso acreditar em alguma coisa
–por exemplo, que há 81.357 pessoas em um ato político–, essa crença ser verdadeira
–há, de fato, 81.357 nesse ato político−, e mesmo assim não ter conhecimento –pois o
número que chutei foi arbitrário e bem poderia ter sido outro. E aqui surge uma
terceira condição: a de justificação. Tenho que ter alguma boa razão, alguma
evidência −em síntese, algum argumento− para sustentar aquilo que sustento. (E aqui
os autores dedicam alguns parágrafos a esclarecer o que é evidência; basicamente, a
parcela de informação que sustenta racionalmente uma crença).

Tabulação, 0.5

Importante!
Indicar o número de
palavras

Número de palavras: 275

11
1
Em página nova/
independente
Referência bibliográfica:
autor, ano: n° pág.

2. Comentários pessoais
O texto é muito claro e está bem redigido. Por apresentar vários tópicos na forma de
perguntas (retóricas), consegue problematizar rapidamente o assunto e interessar o
leitor na leitura.
O texto começa formulando as questões básicas da Epistemologia: O que é o
conhecimento? Quando estamos legitimados a afirmar que temos conhecimento?
Temos conhecimento? Essas questões, como bem sabemos, também são questões
básicas da filosofia (cf., por exemplo, Law, 2007: 11) e de nossa existência em geral.
Como indiquei (em 1. Resumo), os autores tentam mostrar, em sequência, os
problemas que surgem quando pretendemos definir conhecimento como crença
verdadeira justificada, interpretando cada um destes componentes –crença, verdade e
justificação− como condições individualmente necessárias e, em conjunto,
suficientes, para ter conhecimento.
Com relação a essas questões gerais, o texto não se diferencia da maioria dos
vários artigos disponíveis em português sobre o assunto. O aspecto que faz o texto
interessante, e um bom complemento dos artigos mencionados, reside em suas
observações incidentais. Por exemplo, quando explicam por que o conhecimento não
é mera crença, os autores fazem o seguinte comentário: “acreditar meramente em
algo, não importa quão ardentemente, não faz disso uma verdade” (ibid.). Por um
lado, a frase contém a objeção clássica, já destacada por Platão: “não é possível
conhecer falsidades –sendo, possível, e até frequente, ter opiniões falsas” (Almeida
2009: 12); por outro lado, enfatiza uma questão que, mesmo não sendo
epistemicamente relevante, é importante para que o leitor entenda a relevância
vivencial do assunto: não importa “quão ardentemente” acreditemos, a intensidade de
nossa crença não tem relação com a verdade. Em síntese, trata-se de uma variante da
famosa frase de Oscar Wilde: “Uma crença não é necessariamente verdadeira pelo
fato de um homem morrer por ela”. Ou, para mencionar um antecedente mais
filosófico, um exemplo concreto da pontual observação de Francis Bacon (1620, I:
49; itálico meu): “A vontade e os afetos colorem e contaminam o entendimento; [por
isso] o homem acredita mais facilmente no que gostaria que fosse verdade”.
Infelizmente, não por serem muito desejadas ou merecidas as coisas são como
achamos que deveriam ser. A realidade é independente de nossas ilusões,
pressentimentos, sonhos, desejos e esperanças. Como chancela Bertrand Russell: “A
verdade ou falsidade de uma crença depende sempre de algo que está fora da própria
crença” (1912, cap. 12, itálico meu).
Outra interessante observação incidental do texto é a passagem em que insinua que
o conhecimento tem a ver, essencialmente, com a justificação; especificamente, com
a justificação epistêmica ou racional. Isto é, não com motivos ou questões práticas –
por exemplo: acredito em A porque A é bom para mim−, mas com razões ou questões
objetivas −acredito em A porque existem razões e evidências em favor de A. O
conhecimento de uma pessoa tem a ver com “estar conectado com a verdade daquilo
em que acredita através das evidências e/ou razões que tem para acreditar nisso” (p.
13).
12 Número de página
2
Outro ponto de destaque no texto está no fato dos autores adotarem uma posição
falibilista do conhecimento: “Em vez de supor que para as evidências serem
adequadas para o conhecimento elas têm de estabelecer conclusivamente a verdade da
crença que sustentam, supomos que as evidências são adequadas quando tornam, em
um determinado contexto, a verdade de uma crença mais provável ou mais plausível
do que o seu contrário” (p. 14; itálico meu).
Essa posição permite aos autores evitar, pelo menos momentaneamente, as
discussões técnicas que surgem dos contraexemplos de tipo Gettier: “O conhecimento
pode ser mais (ou menos) do que mera crença suportada por evidências adequadas”,
eles concedem, mas entendem que começar por essa concepção é um bom ponto de
partida para compreender o problema. Acredito que a estratégia dos autores é válida.
Depois de tudo, os problemas levantados por Gettier residem na justificação (cf.
Nunes 2015c), isto é, nas exigências que impusermos aos procedimentos de
justificação. Além disso, se a verdade não se manifesta por si mesma, a única
conexão racional que temos com a verdade é a justificação epistêmica. Como afirma
Stolnitz, “a verdade de uma crença tem de depender dos seus próprios méritos”
(1960: 5) –não de uma autoridade ou de nossa vontade−, e a única forma de avaliar os
méritos de uma verdade é avaliando as evidências e razões em favor dessa verdade
(que é o único recurso de que dispomos).
Por último, os autores levantam uma questão central na Epistemologia: dado que o
conhecimento está fortemente ligado à justificação, uma tarefa que devemos –e que
podemos− realizar, é “perguntar às nossas autoridades que evidências elas têm para
as coisas que afirmam saber” (p. 14). Com isso, eles colocam novamente o peso da
escolha ou da aceitação na justificação epistêmica ou racional. As autoridades, assim
como nossos desejos e nossas fantasias, são irrelevantes para determinar a verdade de
uma teoria ou afirmação −e, portanto, deveriam ser irrelevantes para fixar nossas
crenças. Se estamos interessados em nos relacionar de modo frutífero com a
realidade (depois de tudo, o conhecimento controla e dirige o curso de nossas vidas;
cf. Stolnitz 1960), o nosso conhecimento tem de descrever adequadamente a
realidade. E a única forma de poder descobrir se as afirmações, teorias etc. (que são
objeto de nossas crenças) de fato descrevem adequadamente a realidade, é consultar a
própria realidade: confrontar diretamente a verdade nas limitadas ocasiões em que
isso é possível, e, nas ilimitadas ocasiões em que não temos aceso à verdade, analisar
as evidências disponíveis que funcionam como indícios indiretos que podem nos
conduzir falivelmente em direção da verdade. Só temos isso. Pouco, fraco, triste, mas
autoridade, revelação, vontade etc. são fontes piores e perigosas.

Importante!
Indicar o número de
palavras
Número de palavras: 756

3
13
3. Bibliografia
−Almeida, Aires, 2009, “Epistemologia ou Teoria do conhecimento”, in Cátedra, 2016, Teoria do
conhecimento: Parte A, 12.
–Bacon, Francis, 1620, Novum Organum, Abril, S.P., 1979.
−Kolak, Daniel; Martin, Raymond, 2004, “Conhecimento de qualidade”, in Sabedoria sem
Respostas: Uma Breve Introdução à Filosofia, Temas e Debates, Lisboa, 51-52.
−Law, Stephen, 2007, “O conhecimento”, in Cátedra, 2016, Teoria do conhecimento: Parte A, 11.
−Nunes, Álvaro, 2015c, “Os contraexemplos de Gettier e Russell”, in Cátedra, 2016, Teoria do
conhecimento: Parte A, 38-41.
−Russell, Bertrand, 1912, Os problemas da filosofia, 1912, Edições 70, Lisboa, 1999.
−Stolnitz, Jerome, 1960, “Filosofia: a crítica de nossas crenças”, in Cátedra, 2016, Teoria do
conhecimento: Parte A, 3-6.

Nota do professor: Observe que o aluno integrou e utilizou conhecimentos e


citações de outros textos −todos os textos referenciados na bibliografia são
textos analisados e discutidos no curso.

Importante!
Indicar o número de
palavras de (i) e (ii)

14
Sobre as referências bibliografias
A seção ‘Bibliografia’ −ou ‘Referências bibliográficas’− deve ser redigida
conforme as regras adotadas por sua Universidade, ou pela Revista na qual você
deseja publicar seu artigo.
Caso você inicie sua pesquisa antes de ler um manual de regras gráficas,
ou de decidir em que revista você tentará publicar seu artigo, não
esqueça de registrar (idealmente em ‘fichas bibliográficas’) os seguintes
dados das fontes consultadas5:
SOBRENOME, Nome, ano, Título do livro: subtítulo, Editora, Cidade.

Todos os elementos consignados: sobrenome de autor, cidade em que o


livro foi editado etc., são os elementos que a maioria dos Sistemas
internacionais de regras gráficas considera como essenciais. Conformam o
‘endereço’ do livro; informam ao leitor onde pode procurar a informação
referenciada no texto.
Entretanto, conforme a sua temática, algumas publicações solicitam
outros −ou mais− elementos. As revistas de literatura, por exemplo,
exigem que se coloque, também, o nome do tradutor do livro
referenciado; as revistas de história, o ano de publicação original dos
textos utilizados etc. (em todos esses casos, concordaremos, a exigência é
razoável). Por isso, pode ser de utilidade para trabalhos futuros anotar a
lápis, no reverso da ficha, os elementos complementares: ano de publicação
original, número de edição, nome do tradutor etc. (Considere que, depois
de tudo, você só fará esta tarefa uma só vez em sua vida).
Não esqueça, tampouco, de registrar o(s) número(s) da(s) página(s)
do texto do qual tirou uma citação!
(Na UFS, geralmente são exigidas as regras da ABNT −Associação Brasileira De
Normas Técnicas. Para uma apresentação das mesmas, ver, p.ex., Mattos et al.
2005:110-124).

Importante:
• Sempre registrar as referências completas das fontes consultadas.

5Denomina-se ‘fonte’ o meio no qual se obtém as informações. As fontes podem ser ‘escritas’ −livros, artigos,
periódicos, monografias, revistas e todo tipo de material produzido gráfica ou eletronicamente− ou ‘orais’
−conferências, entrevistas, palestras, seminários, aulas etc.
15
16
TEXTOS COMPLEMENTARES

17
A INICIAÇÃO À
PESQUISA

Umberto Eco, 1987

Fazer uma pesquisa significa:


1. Identificar um tema.
2. Delimitar e problematizar o tema (tecnicamente, ‘construir um objeto’ de pesquisa).
3. Recolher documentação e evidências sobre o tema.
3.1. Pôr em ordem a informação recolhida, explicitar o ‘Estado da arte’, isto é, as
principais respostas (hipóteses) e argumentos já existentes sobre o assunto;
3.2. Reexaminar em primeira mão o tema à luz dos argumentos disponíveis, procurar
respostas para o problema; analisar, argumentar, criticar todas as respostas
possíveis.
4. Organizar a resposta, empenhar-se para que o leitor compreenda o que se quis dizer.
5. Publicar a pesquisa: torná-la pública através da participação em congressos,
seminários etc., ou da publicação em revistas acadêmicas. Assim, outros
pesquisadores poderão revisá-la, modificá-la, utilizá-la em suas próprias pesquisas,
ou continuar o tema por conta própria.
Aprender a pesquisar significa, pois, aprender a organizar os dados disponíveis sobre
um assunto, a identificar hipóteses e argumentos e, principalmente, aprender a pôr
ordem nas próprias ideias. É uma experiência de trabalho metodológico que, como
princípio, deve também servir aos outros.
Na iniciação à pesquisa mais do que o tema pesquisado importa a experiência de
trabalho que ela comporta. Quem souber documentar bem sobre a tradição empirista
em filosofia, a teoria da educação de Dewey, as leis de Newton em física, sobre a
possibilidade de que as máquinas pensem, sobre as relações entre ciência e religião
etc., saberá depois trabalhar crítica e criativamente em seu trabalho, seja qual for:
um organismo turístico, uma empresa de comércio exterior, etc.
Enfim, fazer uma pesquisa é como exercitar a memória. Ela será boa quando
velhos se a exercitarmos desde a meninice. E não importa se a exercitamos decorando
os nomes dos jogadores dos times de um torneio, os poemas de Vinicius de Moraes
ou a série de imperadores romanos de Augusto a Rômulo Augusto. Por certo, se o
caso for aprimorar a memória, é melhor aprender coisas que nos interessam ou nos
sirvam: por vezes, mesmo aprender coisas inúteis constitui bom exercício.
Analogamente, embora seja melhor fazer um artigo (ou uma monografia) sobre um
tema que nos agrade, ou que seja socialmente ou economicamente importante, o tema
é secundário comparado ao método de trabalho e à experiência daí advinda.

Para mais informação sobre esse assunto, cf. Eco, Umberto, 1987, Como se faz uma tese.

18
19
A ética na pesquisa e na
Universidade – O PLÁGIO Cátedra, 2018d

O problema da (falta de) ética na pesquisa –a desonestidade intelectual– se


manifesta de muitas maneiras nos meios acadêmicos e na construção do
conhecimento em geral. Ocultamento de informação, alteração de resultados
experimentais, falsificação de documentos, roubo de ideias, plágio total ou parcial,
até o ‘colar’ nos exames, são exemplos de desonestidade intelectual. Esta falta de
ética se dá por diferentes motivos –dinheiro, reconhecimento, falta de ideias
(próprias) etc. E se dá em todos os níveis da pirâmide intelectual: tanto nas
pesquisas de ponta como nos cursos introdutórios das Universidades.
Todas as ‘desonestidades intelectuais’ que indicamos acima quebram a máxima
central da pesquisa enunciada pelo cientista e filósofo C.S. Peirce: “Não bloquear o
caminho da pesquisa!” (Do not block the way of inquiry!).

Não bloquear o caminho da pesquisa!

Peirce opunha essa máxima ao dogmatismo, e a toda forma de falta de ética na


produção e comunicação do conhecimento. O dogmatismo detém o caminho da
pesquisa afirmando a infalibilidade de seus procedimentos e a verdade absoluta
das crenças alcançadas. A desonestidade intelectual bloqueia o caminho da
indagação na medida em que impede a formação do cientista (inclusive, do próprio
estudante desonesto) e a invenção e crítica de ideias; isto é, se apresenta como
um obstáculo para o avanço do conhecimento em geral.

A seguir, se anexam alguns textos breves de diversos autores, todos relacionados com o
problema da ética no conhecimento, principalmente com o plágio. (Ler, também, o texto de U.
Eco, «Paráfrases e plágio»).

Se você, depois de ler estes textos ainda tiver dúvidas sobre o quê é ‘plágio’,
consulte livros de metodologia ou pergunte a seu professor. Mas sempre se
lembre desta regra clara:

‘Transcrição sem aspas é plágio; transcrição com aspas é citação’.


(Mas ATENÇÃO: ‘citar’ implica (1) colocar aspas no texto transcrito, e,
também, (2) especificar a fonte original –não adianta simplesmente pôr as
referências do texto plagiado na Bibliografia final!!).

20
Código de Honra do Estudante6
Espera-se que cada aluno obtenha seu grau baseado exclusivamente na avaliação de
seu esforço e trabalho pessoal. Consequentemente qualquer forma de conversa em
exames, ou o plágio de trabalhos, constitui-se em fraude inaceitável e em desonestidade.

O Plágio (1)7
Plagiar significa copiar, imitar (obra alheia), apresentar como seu o trabalho intelectual de
outra pessoa.
Reproduzir em sua totalidade, ou apenas partes de um texto, sem aspas duplas (“”), e
sem citar sua fonte (textos impressos, internet, companheiros etc.), é plágio.
Na nossa maneira de ver se alguém acha interessante copiar ou imitar um trabalho é
porque está lhe atribuindo importância, o que prova que o trabalho ao menos atinge
algum objetivo de qualidade. É pena, porém que alguns demonstrem falta de ética
copiando literalmente o trabalho de outros sem citar a fonte, o que significa uma
incapacidade de produzir conhecimento próprio.

O Plágio (2)8
O plágio é o ato pelo qual um indivíduo faz crer aos outros, mesmo que por omissão, que
um determinado trabalho intelectual é de sua autoria (isto é, assinando-o com o seu nome
sem declarar explicitamente que porção ou porções são pertencentes a determinado
autor), quando na verdade ele é cópia de algum outro trabalho anterior. Tal ato é
normalmente considerado antiético em praticamente todo o mundo, chegando a ser
classificado como crime em vários países, especialmente no meio académico.

Plágio: a praga da universidade9


‘Plágio’ é uma palavra de origem grega (plágios) que indica “oblíquo, que não está em
linha reta, que está de lado; transversal, inclinado” e, por extensão “que usa meios
oblíquos; equívoco”. O plágio assola a vida cotidiana da universidade brasileira, e
também os níveis fundamentais da educação em nosso país.
O plágio, antes de uma ‘esperteza’, é, sem dúvida, uma demonstração de
incapacidade, inaptidão, inferioridade intelectual, ética, moral e técnica. Um plagiador
é uma pessoa que assume –embora não publicamente− sua falta de capacidade para a
vida profissional e social. Assumir incapacidade não é fracasso; tentar encobri-la com o
plágio, sim. O plagiador acredita, em sua ética distorcida e avessa, que foi esperto, ou
que conseguiu enganar um grupo de pessoas. Ele ludibriou a sociedade, o sistema, o
estado de direito como um todo.
Uma pessoa que comete plágio não tem qualquer direito ou embasamento moral para
cobrar qualquer coisa que seja de qualquer pessoa, grupo, instituição ou governo. Ele
está usando de meios ilícitos e imorais para obter uma certificação profissional para
atuar numa sociedade da qual não tem nem mesmo o direito a participar como cidadão.

6
Código de Honra, <http://www.inf.ufrgs.br/~palazzo/disciplinas/codigo_de_honra.htm>, acesso em 02/03/2007.
7
<http://br.geocities.com/direitoaplicado/plagio.htm>, acesso em 02/03/2007.
8
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Pl%C3%A1gio>, acesso em 02/03/2007.
9
<http://homemportrasdosoculos.blogspot.com/2006/07/plgio-praga-da-universidade.html>, acesso em 02/05/2007
21
Se você é aluno e fez um plágio ou está prestes a fazê-lo, pense duas vezes. Esse seu
erro irá beneficiá-lo temporariamente, mas irá prejudicá-lo e à sociedade de forma
permanente, indelével. Disse um monge budista certa vez: “O pior erro é aquele que
você sabe que está errando”.

O plágio e o registro lícito da informação10


Plagiar é "assinar ou apresentar como seu (obra artística ou científica de outrem)",
ou ainda, "imitar trabalho alheio".
Quando você escreve um trabalho, um projeto ou qualquer outro documento
você deve indicar se contém ideias ou frases de outras pessoas. Para isso, no
momento do levantamento dos dados, você deve anotar de onde essa informação
saiu, ou seja, se de um livro, artigo de revista ou jornal, ou mesmo da internet.
O que anotar: o nome completo do autor, o título do livro ou artigo e a página de
onde está a informação, a editora e ano de publicação enfim, qualquer dado que
outra pessoa possa localizar de onde você tirou a informação apresentada.
Existem três modos lícitos de registrar uma informação. Você pode:

Resumir –reescrever as principais ideias do autor em uma versão mais curta, usando
suas próprias palavras;
Parafrasear –apresentar as principais ideias usando as suas próprias palavras;
Citar –usando exatamente as mesmas palavras da fonte, colocando aspas nas citações
diretas.

Citações. Citar a fonte é dar crédito de autoria de onde você tirou as informações
para compor o seu trabalho. Elas podem aparecer em uma lista ao final do trabalho
ou ao longo do texto como notas de rodapé.
Mas, o que é passível de citação? Você deve dar crédito a: dados, desenhos,
exemplos, experimentos, gráficos e tabelas, ideias, incluindo uma interpretação,
opinião, conceito ou conclusão, fotografia, solução a um problema, discurso,
sequência de fatos, ideias ou argumentos, vídeo ou filme, palavras que você citou,
resumiu ou reescreveu incluindo uma expressão de conhecimento, nas palavras de
alguém.
Se você tiver dúvida, inclua a citação, que é mais tranquilo.

10
Versão adaptada de <www.escolatecnica.ufrgs.br>, acesso em 02/03/2007.
22
Paráfrases
e
Umberto Eco, 1998
plágio

ECO, Umberto, 1998, “Citações, paráfrases e plágio”, in: Como se faz uma tese, São Paulo: Perspectiva, 128-9.

Ao elaborar uma resenha ou uma ficha de leitura, você resumiu vários pontos do/a
autor/a que lhe interessavam: isto é, fez paráfrases e repetiu com suas próprias
palavras o pensamento do autor. E também reproduziu trechos inteiros entre aspas.
Ao passar para a redação da tese ou da dissertação, já não terá sob os olhos o texto, e
provavelmente copiará longos trechos das fichas. Aqui, é preciso certificar-se de que os
trechos que copiou são realmente paráfrases e não citações sem aspas. Do contrário,
terá cometido um plágio.
Essa forma de plágio é assaz comum nas teses e artigos. O estudante fica com a
consciência tranquila porque informa, antes ou depois, em nota de rodapé, que está se
referindo àquele autor. Mas o leitor que, por acaso, percebe na página não uma
paráfrase do texto original, mas uma verdadeira cópia sem aspas, pode tirar dai uma
péssima impressão. E isto não diz respeito apenas ao orientador, mas a quem quer que
posteriormente estude seu trabalho, para publicá-la ou para avaliar sua competência.
Como ter certeza de que uma paráfrase não é um plágio? Antes de tudo, se for muito
mais curta do que o original, é claro. Mas há casos em que o autor diz coisas de grande
conteúdo numa frase ou período curtíssimo, de sorte que a paráfrase deve ser muito
mais longa do que o trecho original. Neste caso, não se deve preocupar doentiamente
em nunca colocar as mesmas palavras, pois às vezes é inevitável ou mesmo útil que
certos termos permaneçam imutáveis. A prova mais cabal é dada quando conseguimos
parafrasear o texto sem tê-lo diante dos olhos, significando que não só não o copiamos
como o entendemos.

–Para melhor esclarecer esse ponto, transcrevo –com o número 1– um trecho de um


livro (trata-se de Cohn, Norman, 1965, I fanatici dell’Apocalisse, Vominitá, Milano).
–Com o número 2 exemplifico uma paráfrase razoável.
–Com o número 3 exemplifico uma falsa paráfrase, que constitui um plágio.
–Com o número 4 exemplifico uma paráfrase igual à do número 3, mas onde o plágio
é evitado pelo uso honesto de aspas.

1. O texto original
A vinda do Anticristo deu lugar a uma desordem”; e, já que os “sinais”
tensão ainda maior. Sucessivas incluíam maus governantes, discórdia
gerações viveram numa constante civil, guerra, fome, carestia, peste,
expectativa do demônio destruidor, cujo cometas, mortes imprevistas de
reino seria de fato um caos sem lei, pessoas eminentes e uma crescente
uma era votada à rapina e ao saque, à pecaminosidade geral, nunca houve
tortura e ao massacre, mas também o dificuldade em detectá-los.
prelúdio de um termo ansiado, a
Segunda Vinda e o Reino dos Santos.
As pessoas estavam sempre alerta,
atentas aos “sinais” que, segundo a
tradição profética, anunciariam e
acompanhariam o último “período de
23
Atividades práticas − Resenha crítica

2. Uma paráfrase honesta


A esse respeito, Cohn (1965:128) é bastante explícito. Debruça-se sobre a situação
de tensão típica desse período, em que a expectativa do Anticristo é, ao mesmo
tempo, a do reino do demônio, inspirado na dor e na desordem, mas também
prelúdio da chamada Segunda Vinda, a Parúsia, a volta do Cristo triunfante. Numa
época dominada por acontecimentos sombrios, saques, rapinas, carestia e pestes,
não faltavam às pessoas os “sinais” correspondentes aos sintomas que os textos
proféticos haviam sempre anunciado como típicos da vinda do Anticristo.

3. Uma falsa paráfrase (que constitui um plágio)


Segundo Cohn... [segue-se uma lista de opiniões expressas pelo autor em outros
capítulos]. Por outro lado, cumpre não esquecer que a vinda do Anticristo deu lugar
a uma tensão ainda maior. As gerações viviam na constante expectativa do demônio
destruidor, cujo reino seria de fato um caos sem lei, uma era consagrada à rapina e
ao saque, à tortura e ao massacre, mas também o prelúdio à Segunda Vinda ou ao
Reino dos Santos. As pessoas estavam sempre alerta, atentas aos sinais que,
segundo os profetas, acompanhariam e anunciariam o último “período de
desordem”: e, já que esses “sinais” incluíam os maus governantes, a discórdia civil,
a guerra, a seca, a fome, a carestia, as pestes e os cometas, além das mortes
imprevistas de pessoas importantes (e uma crescente pecaminosidade geral), nunca
houve dificuldade em detectá-los.

4. Uma paráfrase quase textual que evita o plágio


O próprio Cohn, já citado, recorda ainda que “a vinda do Anticristo deu lugar a uma
tensão ainda maior”. As diversas gerações viviam em constante expectativa do
demônio destruidor, “cujo reino seria de fato um caos sem lei, uma era consagrada à
rapina e ao saque, à tortura e ao massacre, mas também o prelúdio de um termo
ansiado, a Segunda Vinda e o Reino dos Santos”.
As pessoas estavam sempre alerta e atentas aos sinais que, segundo os
profetas, acompanhariam e anunciariam o último “período de desordens”. Ora,
sublinha Cohn, uma vez que estes sinais incluíam “maus governantes, discórdia
civil, guerra, seca, fome, carestia, peste, cometas, mortes imprevistas de pessoas
eminentes e uma crescente pecaminosidade geral, nunca houve dificuldade em
detectá-los”11.

Ora, é claro que, ao invés de dar-se ao trabalho de elaborar a paráfrase n° 4, melhor


fora transcrever como citação o trecho completo. Mas para isso seria preciso que sua
resenha ou sua ficha de leitura já contivesse todo o trecho ou uma paráfrase insuspeita.
Como, ao redigir a dissertação, não poderá mais recordar-se do que foi feito na fase de
fichamento ou resenha, cumpre proceder corretamente a partir daí. Você deve estar
seguro de que, não existindo aspas na ficha, o que ali está é uma paráfrase e não um
plágio.

11
Cohn, Norman, 1965, I fanatici dell’Apocalisse, Vominitá, Milano, p. 128.

24
Atividades práticas − Resenha crítica

Sobre os vídeos
Uma observação geral sobre os vídeos. A Internet está repleta de
vídeos –sobre qualquer assunto. Mas a maioria deles são ruins ou
muito ruins. Não é de se estranhar: muitos são feitos por alunos, que
mal começaram a ler sobre o assunto, ou por influenciadores que
fazem vídeos sobre todos os assuntos –o que equivale a dizer: sobre
nada.
Em geral, os alunos gostam de se informar a partir de vídeos. Para
eles, segue esta dica geral: cuidado, a maioria deles são ruins ou muito
ruins!

Sobre os vídeos da disciplina:


Alguns, como os da CrahCourse, são excelentes. Os demais são Assistir o vídeo
razoáveis.

Sobre os vídeos sobre Resenha crítica:


A presente Apostila é dedicada à Resenha crítica. O material, com
destaque para o texto “Resenha crítica” (p. 4-15), é mais do que
suficiente para aprender a fazer uma boa Resenha crítica.
Os seguintes vídeos são indicados somente em carácter
complementar.
Em síntese: leia a Apostila.

Resenha crítica | Introdução ao texto acadêmico


https://youtu.be/ASdbHtHmq5s

Como fazer uma resenha crítica!


https://youtu.be/T1eZM7MhWQ4

25
Atividades práticas − Resenha crítica

Ler como um filósofo


David W. Concepción, 2020

Ao lado do grande “D” vermelho, na parte inferior do trabalho final que escrevi para
um curso de ciência política de nível médio, durante o segundo semestre da faculdade,
estava escrito: “Você pensa como um filósofo, não como um cientista político”. Tomei
alegremente este comentário, o único comentário, como um conselho sábio, em vez de
um insulto desdenhoso, e me inscrevi para fazer o curso Teorias da Natureza Humana
no departamento de filosofia, no semestre seguinte.
Lembro-me de ter uma sensação profunda, mas vaga, que foi uma mistura de
alívio e de alegria durante a primeira semana de Teorias da Natureza Humana.
“Encontrei meus iguais”, pensei. Eu não sabia que existia um campo de estudo que
considerava sensatas as questões que estavam sempre na minha cabeça. Ainda mais
surpreendente é que o tipo de ideias que eu oferecia como respostas, ainda que
desorganizadas, era o mesmo tipo de respostas que os filósofos fornecem. Mudei de
curso antes do final do semestre.
Mas tinha um problema. Eu não sabia como ler filosofia. Não sabia como
conectar razões a conclusões, acompanhar mudanças na expressão, decifrar sutilezas,
avaliar argumentos ou usar o texto para criticar as minhas próprias opiniões. Eu sabia
como ler a fim de extrair informações que poderiam me ser solicitadas a regurgitar em
algum momento posterior, mas não sabia ler como os filósofos liam. Embora a
destilação precisa de informações básicas seja necessária para uma experiência
significativa de leitura filosófica, é infelizmente insuficiente. No meu primeiro curso de
filosofia, li cada texto lentamente, com um dicionário de filosofia e um dicionário geral
ao meu lado. Com exceção de Kant — que eu sabia que não entendia —, descobri e
redescobri todos os dias, em sala de aula, que o que eu havia feito, da maneira como
havia lido, não me preparava para me engajar com as ideias da maneira como era
esperada de mim. Como um entusiasta novo da filosofia, andava em círculos. O que
segue é uma lista das 10 coisas que eu gostaria de saber quando comecei a ler filosofia.

1. Não existe leitura sem qualificação


Em vez disso, há o ler como filósofo, como historiador, como cartógrafo, como
jornalista e assim por diante. Mesmo dentro de uma disciplina, não há uma única
maneira de ler. Em parte, isso ocorre porque há muitos subtipos de escrita em cada
campo. Talvez a forma de escrita que predomina entre os filósofos seja a escrita
argumentativa. Nesta forma, o autor defende uma tese pela tentativa de mostrar que
determinadas inferências, de algo incontroverso a algo surpreendente, são plausíveis.
Também é provável que o autor tente mostrar que não foram bem-sucedidas as
tentativas de mostrar que as suas inferências não se sustentam. Mas alguns filósofos se
aproximam da intersecção entre filosofia e crítica literária, onde a frase “eu defendo
que…” simplesmente significa “eu acredito que…”, e poucas inferências podem ser
oferecidas. Outros filósofos trabalham perto da intersecção entre filosofia e física, onde
sentenças como “∀n (Q(n) → P(n))” podem ocorrer. Alguns filósofos citam muito, na
26
Atividades práticas − Resenha crítica

tentativa de mostrar que uma interpretação de um texto é superior a uma interpretação


alternativa, enquanto outros filósofos tentam defender uma ideia de modo que as
citações e notas de rodapé são apenas para salientar que outros disseram algo sobre o
tópico. E uma recente explosão em filosofia experimental deu origem a outra forma de
escrita filosófica.
Menciono essa variedade para deixar claro que o que se segue deve ser
entendido como incompleto. Reflete minha formação como um eticista que trabalha
sobretudo com artigos e com capítulos, escritos em inglês, dos séculos XX e XXI,
numa tradição pluralista, mas analítica.
Além das diferenças nos tipos de escrita filosófica, existem diferenças nos
objetivos que se pode ter ao ler a filosofia. Os objetivos que se têm influenciam como
se deve ler. O que mais me entusiasma em ler filosofia é a oportunidade de ter minhas
crenças e meus valores desafiados. Leio filosofia para identificar, esclarecer e testar
minhas crenças e valores atuais. Como tal, a leitura filosófica é um ato de criação,
autocriação de sabedoria perspícua sobre como viver bem com os outros. Como um
passo em direção a essa sabedoria, espero que os alunos do primeiro ano em meus
cursos de filosofia se tornem mais intelectualmente humildes e menos dogmáticos,
como resultado da leitura filosófica. Para a maioria das pessoas, esses objetivos são
inatingíveis, a menos que se entreguem à estranheza e à inquietação que tantas vezes
vêm com a leitura de filosofia.

2. A experiência de ler filosofia é amiúde estranha


É estranha, em parte, porque o assunto da filosofia é imaterial. Isso não deve sugerir
que fatos não importam em filosofia. Um mantra de um professor de ética meu foi “A
boa ética começa com bons fatos”. Ele estava certo. Em vez disso, dizer que o assunto
da filosofia é imaterial é dizer que questões como “O que é a justiça?”, “O Deus de
Abraão existe?” e “O que eu posso saber?” não são respondidas pela sondagem das
profundidades de objetos empíricos, ou mesmo de objetos sociais. Elas são
respondidas por meio de inferências para aumentar a coerência em um conjunto de
crenças e, no caso incomum, derivar corolários de verdades (aparentemente)
autoevidentes. O que é estranho nisso é que a filosofia é ostensivamente uma prática
de busca da verdade. No entanto, busca a verdade sem presumir fundamentos
doutrinários nem o uso do método científico; a filosofia tenta alcançar um fim sem
usar nenhum um dos meios de pensamento centenários apropriados para essa tarefa.
Para piorar, amiúde a tentativa não logra êxito. A filosofia mostra que muitas coisas
que são consideradas verdadeiras não o são, mas ela não estabelece muitas verdades. A
filosofia é estranha porque é mais um empreendimento de estabelecimento de
falsidades do que construção de verdades. Essa estranheza confirma para mim que a
filosofia diz respeito sobretudo ao ganho de sabedoria, e não ao ganho de verdade,
embora não se deva desprezar a verdade, se ela for encontrada.
A estranheza da filosofia tem implicações para o leitor de filosofia. O leitor de
filosofia não deve procurar por fatos estabelecidos, ou mesmo por provas concebidas
para confirmar uma hipótese a respeito de um fato empírico (ou social). Em vez disso,

27
Atividades práticas − Resenha crítica

em um texto, um leitor de filosofia deve procurar inferências ou conexões entre


suposições altamente plausíveis e conclusões surpreendentes que são difíceis de
rejeitar.

3. A experiência da leitura de filosofia é amiúde inquietante


Ao ler filosofia, os valores em torno dos quais alguém organizou, até então, sua vida,
podem parecer provincianos, categoricamente errados ou mesmo malignos. Quando
as crenças previamente mantidas como verdades são tornadas implausíveis, novas
crenças, novos valores e modos de vida podem ser necessários. Esse ferimento
filosófico no núcleo dos modos de vida, dos valores e das crenças, por si só, já é
bastante difícil. Para piorar, os filósofos ainda recomendam que não se costure a ferida,
até o momento em que seja encontrada ou revelada uma nova resposta defensável. Às
vezes, a escrita filosófica é até mesmo estritamente crítica, na medida em que nem
sequer tenta fornecer uma alternativa, depois de derrubar uma cidadela cultural ou
conceitual. O leitor de filosofia deve estar preparado para a possibilidade dessa
experiência. Embora a leitura de filosofia possa ajudar a esclarecer os valores de uma
pessoa, e até mesmo a torná-la autoconsciente pela primeira vez do fato de que há
boas razões para acreditar no que se acredita, ela também pode gerar dúvidas
incorrigíveis com as quais é difícil viver.

4. Para ler bem filosofia, é preciso coragem


Por fim, antes de passar para práticas de leitura mais concretas, vamos lembrar que,
quando bem-feita, a leitura filosófica é um exemplo do fazer filosófico. Se alguém usa
os argumentos encontrados em um texto filosófico como a oportunidade para avaliar a
plausibilidade de suas próprias razões para acreditar no que se acredita, faz, em razão
disso, filosofia. Depois de ler filosofia, frequentemente reunimos algumas informações
e ficamos entretidos. Mas ler filosofia é, no fundo, um ato de criação. Ler filosofia é
mais excitante quando o leitor se coloca em risco por estar aberto à persuasão. Às
vezes, nada menos do que a identidade de alguém está em jogo.
Assim, os filósofos leem corajosamente, avaliando a plausibilidade de
inferências, com uma abertura para a autorrecriação extraída de uma dissipação e
reconstrução da verdade. Mas como se lê desse jeito? Existem dois passos principais:
compreender e avaliar.

Compreensão: 5) Delimite o cenário


Antes de ler um ensaio sobre o qual sei muito pouco, às vezes acho útil ler um resumo
da Wikipédia. Mas frequentemente a Wikipédia não é detalhada o suficiente. Quando
preciso de mais conhecimento básico, recorro à Enciclopédia de Filosofia da Stanford
ou à Enciclopédia de Filosofia da Internet. A Enciclopédia da Internet é geralmente
um pouco mais acessível, enquanto a Enciclopédia da Stanford é geralmente mais
completa. Ao adquirir alguma compreensão do terreno conceitual dentro do qual o

28
Atividades práticas − Resenha crítica

ensaio que estou lendo reside, geralmente consigo entender melhor a discussão
refinada encontrada no ensaio.

Compreensão: 6) Localize a estrutura e a voz da argumentação


Textos filosóficos têm conclusões, razões, críticas e respostas. Primeiro, discirna o que
o autor espera defender. Embora a conclusão seja geralmente declarada bem no início,
pode ser que esteja no final da primeira seção, bem como pode não ser declarada com
clareza até a seção final do ensaio. Segundo, descubra por que o autor acha que está
certo. Tipicamente, o argumento inicial deve aparecer no início no ensaio, mas pode
ser que não seja mobilizado por completo até o final. Ao longo do artigo, é provável
que o autor considere objeções às asserções que faz. É importante notar a mudança na
voz que procede a explicação de uma objeção. Por exemplo, um leitor pode ver
“críticos dessa ideia podem argumentar…” Essas mudanças, frequentemente breves, e
às vezes apenas implícitas, para a voz do crítico são cruciais para localizar o argumento.
Em quase todos os casos, uma objeção será seguida por um retorno à voz do autor:
“Como resposta...”. Marcar onde os movimentos do argumento, da crítica e da
resposta ocorrem, torna muito mais fácil reunir todo o argumento.

Compreensão: 7) Avalie e registre o progresso


Algumas passagens são particularmente espinhosas. Por conseguinte, é muito comum
ler filosofia muito mais devagar do que ler outros textos. De fato, muitos filósofos
principiantes param no final das seções e, às vezes, dos parágrafos, ou mesmo frases,
para verificar se podem reconstruir as ideias em suas próprias palavras. Se for difícil
fazê-lo, é necessária alguma releitura antes de prosseguir. Para os textos mais difíceis,
crio resumos a cada parágrafo à medida que escrevo uma oração ou uma frase que é
uma paráfrase do conteúdo central de um parágrafo. Ao me certificar de que entendo
um parágrafo bem o suficiente para exprimir seu ponto principal com minhas próprias
palavras, sei que estou pronto para seguir em frente.

Compreensão: 8) Junte tudo


Acho muito útil escrever um resumo do argumento quando chego ao final de um
ensaio. Esse resumo compila as suposições e inferências que o autor acredita levar à
conclusão, bem como as objeções e as respostas consideradas ao longo do caminho.
Normalmente, esses resumos são bastante abreviados; eles contêm marcadores e listas.
O objetivo desse resumo não é gerar um resumo em prosa acessível, mas sim captar,
apenas para meu uso, os principais movimentos argumentativos do ensaio. Sem os
movimentos argumentativos prontamente disponíveis, seria difícil fazer a parte
divertida: seria difícil avaliar o texto.

9. Avaliar
À sua vontade, pense nas razões adicionais que poderia haver para pensar que o autor
está correto ou incorreto. Pondere se: nossa experiência de vida fornece alguma

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Atividades práticas − Resenha crítica

revelação sobre os méritos dos argumentos? Caso o autor esteja correto, quais são as
consequências? Para a verdade? Para as suas crenças? Para como você deve viver?
Discuta com amigos sobre os argumentos, especialmente com aqueles que
provavelmente discordarão de você. Elabore críticas adicionais e veja se consegue
imaginar respostas em nome do autor.

10. Decida
Depois de um tempo suficiente, passe da avaliação dos argumentos para as suas
próprias conclusões. O autor está certo, errado ou, mais provavelmente, parcialmente
certo e parcialmente errado? Sobre o que, se alguma coisa, você deveria mudar de
ideia? Depois de decidir o que pensa sobre as ideias do ensaio, escolha outro que
contenha novos argumentos que possam fazê-lo mudar de ideia novamente.
Quanto ao que ler, quem é que sabe? Leia o que instiga você. Acredito que as
pessoas que estão no início de uma carreira de leitura de filosofia estão bem providas
ao se dedicarem a artigos e capítulos, até encontrarem um autor ou tópico que
realmente gostem. Se você não sabe quais são seus interesses, procure algo diferente
do que normalmente lê, então comece pela navegação da Enciclopédia de Filosofia da
Stanford. Se tiver sorte, haverá um livro que coleta ensaios sobre um tema que lhe
provoca. Se você for realmente sortudo, um autor favorito terá um livro que reúna os
ensaios dele, de modo que você obtenha versões revisadas que tenham algo como uma
pista, mesmo que continuem independentes.
Três de meus favoritos, quando comecei minha jornada como leitor de filosofia,
foram Mortal Questions, de Thomas Nagel, Moral Luck, de Bernard Williams, e The
Politics of Reality, de Marilyn Frye. No lado mais literário da filosofia estão James
Baldwin, Collected Essays e A Sand County Almanac, e Sketches Here and There de
Aldo Leopold. Finalmente, quando você realmente se apaixona por um pensador,
como me apaixonei por John Rawls, é hora de pegar um livro inteiro. A Theory of
Justice de Rawls pode mudar sua vida.

David W. Concepción
Publicado originalmente em The Philosopher's Magazine.

Nota
1. Agradecemos ao Prof. Dr. David Concepción, da Ball State University, pela autorização da tradução.

Tradução de Rodrigo Freitas Costa Canal e Breno Ricardo Guimarães Santos.


Revisão científica de Israel Meneses Santos Vilas Bôas.
https://criticanarede.com/lercomofilosofo.html

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