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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
2. O PROCESSO
3. AS MANIFESTAÇÕES SOBRE A FUSÃO
a. Manifestações de Setores de Representação Social
b. As Alegações da Cervejaria Kaiser
c. As Justificativas das Cervejarias Antarctica e Brahma
4. OS PARECERES
5. A DECISÃO
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
1. INTRODUÇÃO
2. DO PROCESSO1:
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Em conformidade com dados fornecidos pelo CADE.
ato ou, no mínimo, submete-lo a realização e sujeição a severos
condicionamentos estruturais e comportamentais para garantia do mercado.
Encabeçando o grupo de setores contrários a fusão, a empresa
Cervejaria Kaiser buscou provar que a operação de “fusão” entre a BRAHMA e
a Antarctica, se consumada, seria clamorosamente prejudicial à livre
concorrência, resultando em expressivo aumento de poder de mercado e, por
conseguinte, em dominação de mercado, em total prejuízo da coletividade -
titular do bem jurídico tutelado pela legislação concorrencial - e, em particular,
dos consumidores.
A sua maior preocupação estava em demonstrar que a operação
em questão não resultaria em um mercado normal, visto que, concentrando
mais de 73% do mercado doméstico de cerveja a AMBEV passaria a desfrutar
de excepcionais condições para o exercício de posição dominante,
aproximando-se de um monopsônio já que um das preocupações Cervejaria
Kaiser, dentre outras, era referente a demanda de embalagens metálicas e de
vidro para o envase da cerveja, além do malte, dos rótulos e rolhas metálicas
para embalagem que poderia ser controlada pela AMBEV.
Argumentações da concorrente a parte, não pode ignorar-se que
o ato de concentração ora estudado representa a concentração das duas
maiores competidoras que sempre lutaram acirradamente pela liderança do
mercado nacional de cervejas.
Iniciada a análise do ato de concentração foram enviados ofícios
para a Secretaria de Direito Econômico – SDE, à Cervejaria Kaiser, Schincariol
e à Fundação Antônio e Helena Zerrenner, para fornecimento de informações,
visando subsidiar a análise do presente Ato de Concentração.
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Fls. 4.127
Também consta manifestação contrária à fusão, encaminhada
pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de São José
dos Campos e Região, relatando que já vem ocorrendo centralização de alguns
setores, pois com a unificação da folha de pagamento muitos trabalhadores,
que trabalham nesse departamento serão demitidos porquanto os serviços
feitos nas unidades passarão para a sede da AMBEV.
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Na parte introdutória, o parecerista ressalta que possui 25 anos de promotoria ligados a assuntos
da lei antitruste, dentre os quais mais de 20 incluíram a representação de clientes, multinacionais e
associações comerciais no setor de bebidas alcoólicas. Destaca, ainda, atuação constante na
produção de artigos/pesquisas da ABA.
fator isolado e sim um conjunto de fatores estruturais composto pela marca,
pela diversidade de seu portfolio de produtos, pelo sistema de distribuição,
dentre outros. E o conjunto desses fatores envolve uma estrutura em nível
nacional não se manifestando somente em nível regional, nos seguintes
termos:
4. DOS PARECERES
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Para um melhor aprofundamento sobre a função social da empresa vide:
COMPARATO, Fábio Konder. Função Social da Propriedade dos Bens de Produção, in RDM
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estrangeiros, favorecendo o surgimento de uma luta pela conquista e
recuperação de fatias do mercado.
Outro fator observado pela parecerista que motiva a autorização
do ato de concentração diz respeito ao incremento das atividades tecnológicas
porquanto a fusão possibilitará a cooperação e a troca de tecnologias no
processo produtivo e o crescente investimento em áreas de desenvolvimento
tecnológico.
Outro parecer que consta no processo é da lavra de Manoel
Gonçalves Ferreira Filho e que contraria incisivamente as conclusões do
parecer da Secretária de Direito Econômico eis que o ato de concentração ora
analisado ocasionará um substancial aumento de produtividade e a melhoria da
qualidade dos bens, o que, na sua opinião, promove o aumento da eficiência e
não necessariamente a eliminação da concorrência.
Em resumo estes são os comentários sobre o andamento do
processo do ato de concentração, com as principais manifestações e
argumentações que orbitaram em torno da multicitada fusão. Importa salientar
que referidos comentários ora realizados não tem a pretensão de esgotar o
assunto tendo em vista a limitação de espaço. O intento almejado é o de
transmitir ao leitor uma síntese do andamento deste extenso processo
apresentando por fim a sua decisão. Passamos agora ao comento da audiência
em que foi proferida a decisão que resolveu o debate.
5. DA DECISÃO5
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Consoante informações fornecidas pelo CADE.
argumentações tanto a favor da realização de referido ato como em sentido
contrário.
O choque entre as diversas alegações foi forte principalmente
tendo em vista os substanciais interesses envolvidos e de igual forma o grande
poder econômico dos opositores. Referida luta adentrou a audiência realizada
no plenário do CADE para a decisão da contenda de modo que houveram
várias interrupções, ameaças e tentativas de interromper o seu
prosseguimento, culminando na impetração de um Habeas Corpus em favor
dos Conselheiros do CADE para que só então a audiência tivesse seguimento.
Referida audiência realizada no dia 29 de março de 2000 teve a
duração de 14 (quatorze) horas, encerrando-se na manhã do dia 30 de março
com a imposição de um termo de compromisso de desempenho assinado pela
diretoria da AMBEV como condição para a autorização do ato de concentração.
Para possibilitar ao leitor a apreensão do clima turbulento que
envolveu a realização de referida audiência, achou-se por bem utilizar a
narrativa fornecida pelo próprio CADE para que nenhum detalhe seja olvidado,
conforme segue.
Ab initio, o Presidente do CADE Gesner Oliveira levou ao Plenário
os termos de Despacho, indeferindo o pedido, feito pela Cervejaria Kaiser
Ltda., de suspensão do ato de concentração nº 08012.005846/99-12, em razão
de matéria publicada em 22.03.2000 na Folha de São Paulo.
O Presidente ressaltou a existência de decisões judiciais
impedindo a suspensão do julgamento do processo e levou ao Plenário os
termos de Despacho, indeferindo o pedido, feito pela Cervejaria Kaiser Ltda.,
de anulação do parecer da Procuradoria nº 121/00. O Presidente ressaltou que
a Procuradoria do CADE é órgão de assessoramento, vinculada à Advocacia-
Geral da União, e que não cabe ao Plenário exercer controle de legalidade dos
atos da Procuradoria do CADE.
A Conselheira Hebe Romano proferiu despacho, indeferindo o
pedido, feito pela Cervejaria Kaiser Ltda., de suspensão do ato de
concentração nº 08012.005846/99-12, ressaltando que o artigo 12 da Lei
8884/946 será cumprido por ocasião da decisão plenária, que encaminhará
cópia dos autos ao Ministério Público Federal para ciência. O Plenário, por
unanimidade, referendou os termos do Despacho.
Ainda referida Conselheira proferiu despacho, indeferindo o
pedido, feito pela Cervejaria Kaiser Ltda., de suspensão do ato de
concentração nº 08012.005846/99-12, acerca de gravações clandestinas,
ressaltando que a empresa poderá levar a questão ao órgão competente. O
Plenário, por unanimidade, referendou os termos do Despacho.
Os Conselheiros João Bosco Leopoldino e Lucia Helena Salgado
não participaram do julgamento, em virtude de declaração de impedimento
apresentada anteriormente.
A Relatora iniciou a leitura do relatório, após a qual, manifestou-
se oralmente o Procurador-Geral do CADE.
Cumprindo-se determinação judicial, o Advogado da empresa
Cervejaria Kaiser Ltda., Luiz Antonio D’Arace Vergueiro e o Presidente da
Cervejaria Kaiser, Humberto Pandolpho, fizeram uso da palavra em
sustentação oral.
O Advogado das requerentes, Carlos Francisco Magalhães, fez
uso da palavra em sustentação oral.
Às 16h45min, o advogado da empresa Cervejaria Kaiser Ltda.,
Luiz Antonio D’Arace Vergueiro, solicitou a palavra para comunicar a existência
de decisão judicial liminar, proferida pelo Meritíssimo Juiz Federal de São José
dos Campos, determinando a suspensão do julgamento. O Presidente Gesner
Oliveira solicitou a manifestação do Procurador-Geral do CADE. O Procurador-
Geral Amauri Serralvo afirmou que a decisão foi apresentada em fac-símile
recebido por escritório de advocacia particular, sendo inservível como meio de
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(Lei n.º 8.884/94) Art. 12. O Procurador-Geral da República, ouvido o Conselho Superior,
designará membro do Ministério Público Federal para, nesta qualidade, oficiar nos processos
sujeitos à apreciação do CADE.
Parágrafo único. O CADE poderá requerer ao Ministério Público Federal que promova a
execução de seus julgados ou do compromisso de cessação, bem como a adoção de medidas
judiciais, no exercício da atribuição estabelecida pela alínea b do inciso XIV do art. 6º da Lei
Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993.
intimação do CADE, pelo que não poderá ser obstaculizado o julgamento do
processo, o que acarretaria a aprovação incondicional por decurso de prazo,
nos termos do artigo 54, § 7º da Lei 8884/94. O Presidente Gesner Oliveira,
após ouvir o Procurador-Geral, determinou o prosseguimento dos trabalhos da
Sessão.
Às 18h45min, adentrou o recinto do Plenário o Sr. Oficial de
Justiça, portando a contra-fé da decisão judicial liminar proferida pelo
Meritíssimo Juiz Federal de São José dos Campos, para intimar o Presidente
do CADE sobre a determinação de suspensão do julgamento. O Presidente
Gesner Oliveira solicitou a manifestação do Procurador-Geral do CADE, que
afirmou estar o Meritíssimo Juiz Federal de São José dos Campos submetido a
autoridade jurisdicional do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, cuja
decisão, lida no início da sessão de julgamento, entendeu estar prevento o
Meritíssimo Juiz de Belo Horizonte - MG, pelo que deveria ter prosseguimento
o julgamento.
Após este fato pediu a palavra, pela ordem, o advogado da
Cervejaria Kaiser Ltda., Luiz Antônio D'Arace Vergueiro, e, afirmando estar o
CADE a descumprir ordem judicial, o que poderia caracterizar crime de
desobediência e ensejar a prisão do Presidente do CADE, da Sra. Relatora
Hebe Romano e do Procurador-Geral do CADE, o que ensejou a imediata
impetração de ordem de Habeas Corpus pela Procuradoria do CADE, a fim de
que fosse assegurado o prosseguimento do julgamento, tendo sido concedida
medida liminar pelo MM. Juiz Plantonista da Justiça Federal em Brasília,
assegurando salvo conduto aos Senhores Conselheiros.
O Presidente Gesner Oliveira, após ouvir o Procurador-Geral,
determinou o prosseguimento dos trabalhos da Sessão.
Decisão: Quanto às questões preliminares, o Plenário, por
unanimidade, acompanhou o voto da Conselheira-Relatora. Quanto ao mérito,
o Plenário, por maioria, vencido o Conselheiro Ruy Santacruz, aprovou o ato de
concentração, condicionando-o à implementação das seguintes medidas:
1. viabilização de entrada de nova empresa, no prazo de 8 (oito)
meses a contar da data da assinatura do termo de compromisso de
desempenho entre a AMBEV e o CADE, contendo todas as determinações a
seguir, sem prejuízo dos demais prazos estipulados nesta decisão:
(a) alienação da marca Bavaria, bem como a transferência dos
contratos de fornecimento e distribuição relacionados a esta marca, vencido
neste ponto o Conselheiro Marcelo Calliari, que adicionava à proposta a venda
das marcas Polar e Bohemia;
(b) alienação de 01 (uma) unidade fabril para a produção de
cerveja, localizada em cada uma das regiões do território nacional, a saber: 1
(uma) fábrica na Região Sul, localizada em Getúlio Vargas-RS, com
capacidade instalada de 607 mil hl, de propriedade da Antarctica; 1 (uma)
fábrica na Região Sudeste, em Ribeirão Preto-SP, com capacidade instalada
de 2.400 mil hl, sendo 500 mil hl de chopp e 1900 mil hl de cerveja, de
propriedade da Antarctica, a qual deverá encontrar-se em atividade e equipada
com maquinário capaz de oferecer envasamento em latas, vencido neste ponto
o Conselheiro Marcelo Calliari, que adicionava a oferta de alternativa ao
comprador, da unidade fabril de Guarulhos-SP; 1 (uma) fábrica na Região
Centro Oeste, localizada em Cuiabá-MT, com capacidade de 700 mil hl, de
propriedade da Brahma; 1 (uma) fábrica na Região Nordeste, localizada em
Camaçari-BA, com capacidade instalada de 2.900 mil hl, de propriedade da
Brahma; e 1 (uma) fábrica na Região Norte, localizada em Manaus-AM, com
capacidade instalada de 487 mil hl, de propriedade da Brahma;
(c) as fábricas a serem alienadas para a produção de cervejas,
deverão apresentar-se nas seguintes condições: perfeito estado de
conservação e funcionamento (físicas, elétricas, hidráulicas, maquinários e
equipamentos); capacidade instalada em condições de competir, em relação ao
abastecimento, no mercado regional onde esteja localizado; atualização
tecnológica satisfatória; disponibilização, já existente, de linhas de produção de
garrafas retornáveis; e disponibilização de mão-de-obra necessária ao
funcionamento;
(d) a AMBEV deverá apresentar avaliação e auditoria das
unidades fabris mencionadas no item (b) acima, por empresa independente, a
ser por ela contratada, encaminhando laudo pericial, no prazo de 10 (dez) dias
corridos, contado da data da publicação do acórdão da presente decisão, sobre
as condições enumeradas no item (c) acima, e firmando termo de
responsabilidade com o CADE de acordo com a Resolução CADE nº 13/98;
(e) a AMBEV deverá compartilhar sua rede de distribuição com o
comprador, em todas as regiões do País, durante o prazo de 4 (quatro) anos,
prorrogável por mais 2 (dois) anos, devendo: i) disponibilizar rede de
distribuidores, de forma a assegurar plenamente a distribuição da(s) marca(s)
de cerveja do comprador, em quaisquer pontos de venda no território nacional
onde a AMBEV estiver presente; ii) disciplinar, em contrato específico firmado
entre a AMBEV e comprador, a distribuição compartilhada dos produtos da
AMBEV e do comprador, assegurando-se igualdade de condições na
distribuição dos produtos, igualdade nos custos de distribuição incorridos pela
AMBEV e pelo comprador, e a mais ampla distribuição dos produtos do
comprador referentes ao mercado de cervejas; iii) em locais onde houver
distribuição direta, deverá a AMBEV distribuir, pela sua rede própria, os
produtos do comprador referentes ao mercado de cervejas; e iv) dispensar o
comprador, expressamente, do pagamento da comissão de distribuição à
AMBEV, nos primeiros 4 (quatro) anos;
(f) o atendimento do conjunto integrado das medidas previstas
nos itens (a), (b), (c), (d), e (e) acima, que viabilizam a entrada de comprador
em escala nacional, deverá ser feito por empresa independente, que tenha
condições não apenas de manter o negócio em funcionamento, como também
potencial para competir em igualdade de condições, no mercado nacional, até
o término do prazo de compartilhamento da distribuição, não podendo esta
empresa independente deter, na presente data, mais de 5% (cinco por cento)
de participação do mercado brasileiro de cerveja;
(g) para fins desta decisão, entende-se como empresa
independente a empresa nacional ou estrangeira que não mantenha
participação acionária ou qualquer outro vínculo, ainda que minoritário, com a
AMBEV, ou com quaisquer de suas coligadas, controladas ou controladoras;
(h) a escolha da modalidade de venda ficará a cargo da AMBEV;
(i) o comprador deverá ser aprovado, previamente, pelo CADE,
em procedimento próprio; e
(j) na hipótese de o conjunto de medidas previstas nos itens (a),
(b), (c), (d), e (e) acima não ser implementado dentro do prazo de 8 (oito)
meses, previsto nesta decisão, a execução deverá ser realizada mediante
intervenção judicial, de acordo com os procedimentos previstos no Título VIII
da Lei nº 8.884/94, sem prejuízo das demais providências cabíveis.
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(Lei n.º 8.884/94) Art. 25. Pela continuidade de atos ou situações que configurem infração
da ordem econômica, após decisão do Plenário do CADE determinando sua cessação, ou pelo
descumprimento de medida preventiva ou compromisso de cessação previsto nesta Lei, o
responsável fica sujeito a multa diária de valor não inferior a 5.000 (cinco mil) Unidades Fiscais
de Referência - UFIR, ou padrão superveniente, podendo ser aumentada em até vinte vezes se
assim o recomendar sua situação econômica e a gravidade da infração.
13. O Plenário, por unanimidade, determinou o envio de ofício ao
Ministério Público Federal, em atendimento ao disposto no art. 12, da Lei n.
8.884/94 (retrotranscrito), anexando cópia de inteiro teor do presente processo,
inclusive dos apartados confidenciais.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS