Você está na página 1de 1

FIUS Advogados – Campinas / São Paulo

A IMPORTÂNCIA DA LIVRE
CONCORRÊNCIA E DOS ATOS
DE CONCENTRAÇÃO QUE
CONFIGURAM INFRAÇÃO À
ORDEM ECONÔMICA À LUZ
DO CADE E DA LEI 12.529/11
Emerson Rodrigo 4 anos atrás

A livre concorrência é um princípio


constitucional, previsto no artigo 170, inciso IV da
Constituição Federal, que tem como pressuposto a
justa concorrência, e não restrita ou limitada
apenas aos agentes econômicos com maior poder
de mercado. Como um preceito constitucional, é
imprescindível que a livre concorrência seja
resguardada sempre, pois é graças a ela que os
consumidores podem escolher e desfrutar dos
bens e serviços que melhor lhe convirem, além de
estimular os fornecedores a manterem os preços
de seus produtos ou serviços em níveis
economicamente adequados.

Nesse sentido, com o objetivo de fiscalizar,


prevenir e apurar abusos do poder econômico – e,
nessa seara, suprimir o monopólio no mercado
concorrencial –,foi criado o CADE – Conselho
Administrativo de Defesa Econômica, órgão
julgador responsável por analisar e julgar as
matérias relativas à defesa da concorrência.
Dentre todas as matérias de proteção à ordem
econômica e que podem sofrer penalidades
atribuídas pelo CADE, os atos de concentração são
os de notável relevância.

Previstos no artigo 90 da Lei 12.529/11, os atos de


concentração são “as fusões de duas ou mais
empresas anteriormente independentes; as
aquisições de controle ou de partes de uma ou
mais empresas por outras; as incorporações de
uma ou mais empresas por outras; ou, ainda, a
celebração de contrato associativo, consórcio
ou joint venture entre duas ou mais empresas.”

Portanto, para que as empresas atuantes no


mercado concorrencial possam se juntar, é
obrigatório que o CADE analise os aspectos
concorrenciais da operação, levando em
consideração a participação de mercado das
empresas envolvidas, se os concorrentes são
rivais, qual a relevância daquele mercado,
inclusive na esfera geográfica, lhe sendo facultado,
inclusive, a imposição de condições a serem
seguidas pelas empresas.

Entretanto, não são todos os atos que devem


passar pela aprovação do CADE, e essa é
justamente a parte interessante para os detentores
de poder no mercado que pretendem realizar um
ato de concentração.

De acordo com o artigo 88 da mesma Lei e o artigo


54 da Lei 8.884/94, devem ser notificados ao
CADE apenas aqueles atos que se enquadrem aos
critérios legais de notificação obrigatória. Se as
empresas realizarem um ato sem a prévia
notificação ao CADE, poderão ser penalizadas pela
prática do gun jumping – ou seja, a consumação
dos atos de concentração econômica antes da
decisão final do CADE, acarretando a nulidade da
operação e a imposição de multa pecuniária – a
depender da condição econômica dos envolvidos,
podendo, inclusive, ser aberto processo
administrativo, além de ser configurado o dolo e a
má-fé dos participantes.

Para elucidar, podemos mencionar um caso


clássico de ato de concentração ocorrido no Brasil.
Duas grandes empresas de bebidas – então
concorrentes –, submeteram à apreciação do
CADE, em setembro de 1999, a sua associação,
com nova denominação.

Nesse caso, três mercados relevantes foram


afetados pela operação: o mercado de águas, de
refrigerantes e de cervejas. O CADE fez uma
análise criteriosa, na qual fora constatada que
somente o mercado de cervejas precisaria de
atenção especial, pois em algumas regiões a
haveria uma concentração considerada alta, uma
vez que a nova empresa reuniria três das maiores
marcas de cerveja no Brasil.

Contudo, observando as peculiaridades do caso, a


decisão do CADE foi positiva quanto à operação,
pois a constituição da nova empresa resultaria em
melhorias tanto na produtividade, quanto na
qualidade dos bens ofertados, e geraria
desenvolvimento tecnológico capaz de compensar
os prejuízos à concorrência. Para isso, o CADE lhe
impôs condições, como, por exemplo,
compartilhar sua rede distribuição em cada um
dos cinco mercados geográficos relevantes
definidos, além de manter o nível de emprego,
sendo que eventuais dispensas associadas à
reestruturação empresarial deveriam ser
acompanhadas de programas de retreinamento e
recolocação.

Conclui-se, portanto, que as companhias que


realizam atos de concentração podem contribuir
significativamente para a economia do País, pois,
em muitos casos, o exercício deste direito tende a
contribuir para o avanço e desenvolvimento do
mercado brasileiro, bem como para avanços
tecnológicos e reinvenção de companhias no
mercado concorrencial. Deve-se ter em mente,
contudo, o dever de respeitar os requisitos para
que a livre concorrência não seja violada e os
consumidores não deixem de desfrutar das
diversas possibilidades e opções de ofertas de bens
e serviços, mediante a cobrança de um preço
economicamente adequado.

Jaqueline Galbiatti Venâncio da Silva

Jaqueline.galbiatti@fius.com.br

Categorias: Artigo, Cível

Deixar um comentário

FIUS Advogados – Campinas / São Paulo


Ir para o topo

Sair da versão mobile

Você também pode gostar