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INFORMAÇÃO N.

º 001/CA/ARC/2021

Assunto: Seminário sobre a Política da Defesa da Concorrência- UNCTAD e países


PALOP em desenvolvimento.

Data da Solicitação: 4/8/2021.

Proveniência: Serviço de Políticas de Concorrência e Protecção do Consumidor da


UNCTAD.

I. Enquadramento

1. A presente informação surge na sequência de um projecto de assistência técnica


dirigido aos países lusófonos - “Providing Technical Assitance and Capacity
Building on Competition and Consumer Protection to Portuguese Speaking
developing countries”, cujo objectivo é prestar assessoria jurídica e económica à
criação, desenvolvimento e aperfeiçoamento da legislação e políticas nas áreas da
Concorrência e da Protecção do Consumidor, bem como desenvolver actividades
de capacitação institucional em ambas áreas, desenvolvido pelo Serviço de
Políticas de Concorrência e Protecção do Consumidor da UNCTAD - Conferência
das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento.

2. Destaca-se, ainda, que estas políticas proporcionam uma excelente oportunidade


para o aperfeiçoamento de medidas e de iniciativas em áreas directamente
afectadas pela pandemia da COVID-19, e, também, para o estreitamento de laços
entre os países lusófonos mediante a troca de informações e o intercâmbio de
experiências.

3. Nesse sentido, a UNCTAD está a organizar um webinar para discutir os desafios


enfrentados pelas Autoridades de Concorrência dos países PALOP e o papel das
organizações regionais económicas, tendo convidado Autoridade Reguladora da
Concorrência (ARC) a participar e questionado sobre os seus principais desafios,
entre outras questões.

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Órgão Superintendido pelo Ministério das Finanças Avenida Ho Chi Minh, Largo da Independência, Torres Dipanda (B), 6º geral.arc@minfin.gov.ao
Andar
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II. Principais desafios do Direito da Concorrência e da ARC

4. A ARC é o órgão público encarregue de garantir a observância e o respeito pelas


regras da concorrência, em Angola, com vista ao funcionamento eficiente e
equilibrado dos mercados, à afectação óptima dos recursos e à protecção dos
interesses dos consumidores, pelo que, no âmbito da sua implementação e
cumprimento da sua missão, a ARC tem enfrentado determinados desafios, que
são abaixo expostos de acordo com as questões colocadas pelo Serviço de Políticas
de Concorrência e Protecção do Consumidor da UNCTAD, para efeito do trabalho
que se propõem realizar.

Quais são os principais desafios actuais na aplicação do Direito da


Concorrência?

5. A aplicação efectiva do Direito da Concorrência em Angola é um facto recente,


apesar de consagrada a sã concorrência como um princípio estruturante da
organização económica na Constituição da República de Angola de 2010.

6. Somente com a aprovação da Lei n.º 5/18 de 10 de Maio, Lei da Concorrência, do


Decreto Presidencial n.º 240/18 de 12 de Outubro, Regulamento da Lei da
Concorrência e do Decreto Presidencial n.º 313/18 de 21 de Dezembro, Estatuto
Orgânico da Autoridade Reguladora da Concorrência, é que se materializou o
regime jurídico de promoção e defesa da concorrência, constituindo-se, deste
modo, os principais pilares do Direito da Concorrência em Angola.

7. Assim, derivados fundamentalmente do carácter de novidade adstrito a este


regime jurídico, uma legislação com apenas 3 (três) anos de existência e 2 (dois) de
efectiva aplicação, sem qualquer precedente de aplicação prática, não resultou
ainda de jurisprudência firmada ou doutrina local, pelo que os principais desafios
da aplicação do Direito da Concorrência colocam-se ao nível da aplicação da

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legislação de concorrência e da organização administrativa e judicial,
nomeadamente:

a) Processo legislativo regulamentar – necessidade de regulamentação da


legislação inferior de determinados institutos jurídicos, como por exemplo
o regime de derrogação de processos de controlo de concentração de
empresas e o regime jurídico da autorização e controlo dos auxílios
públicos, etc.

b) Processo legislativo de ajustamento – falta de harmonização e


compatibilização com a legislação processual vigente, fundamentalmente
no que se refere ao contencioso administrativo, cuja matriz ainda assenta
no regime da transgressão administrativa ao invés da contraordenação, que
seria mais adequado e responderia melhor a aplicação supletiva das
normas processuais, incluindo o regime de recursos;

c) Organização administrativa e judicial – necessidade de um Tribunal de


especialidade, justificando-se pelo alto grau de complexidade e
particularidades deste ramo de Direito, bem como a necessidade de
discricionariedade técnica que pode estar condicionada pelas características
do recurso administrativo hierárquico (a superintendência), que devia ser
residual, porém é um recurso comum em simultâneo com o judicial.

8. Sem prejuízo dos desafios acima referidos, importa salientar que os cursos de
licenciatura em Direito, em Angola, não contêm nos seus planos curriculares
matérias específicas de Direito da Concorrência, pelo que, consequentemente, não
há relevante produção de pensamento crítico ou a promoção de discussão técnico-
jurídica sobre temas de concorrência, para além das iniciativas institucionais da
ARC que são limitadas aos seus recursos e finalidade, situação que tem como
impacto a indisponibilidade de quadros especialistas na matéria.

Quais são os principais desafios que a Autoridade da Concorrência


enfrenta atualmente no contexto das investigações?

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9. Os desafios que a ARC enfrenta no domínio das investigações colocam-se em
duas perspectivas, alguns são de carácter genérico e outros especiais. O primeiro
desafio, aplicável a todo o Direito da Concorrência, é relativo a existência e
disponibilidade da informação económica necessária para a análise
jusconcorrencial dos processos, pois a investigação em sede da defesa da
concorrência caracteriza-se especialmente pela análise da informação, e esta,
quando existe, pode não conter a qualidade necessária ou estar acessível com a
celeridade exigida, impactando, grandemente, na qualidade e o tempo de resposta
da ARC.

10. O segundo desafio, é distinto, pois, tratando-se da investigação no âmbito do


Controlo de Concentrações de Empresas, reside no monitoramento das fusões e
aquisições, que poderia ser feito através de registos oficiais, porém estes não estão
consolidados em plataforma própria, são múltiplos e controlados por diversas
entidades, nomeadamente da AIPEX, Cartórios Notariais e Conservatórias dos
Registos, Reguladores Sectoriais, Administração Tributária, etc., cuja
acessibilidade nem sempre é fácil. No que se refere às investigações por Práticas
Restritivas da Concorrência, a necessidade de adequação constitucional e
sistémica da utilização dos instrumentos injuntivos de investigação, especialmente
relativos às buscas, revistas, apreensões, inspecções e selagem dos espaços, é um
grande desafio. De igual modo, a insuficiência de meios técnicos e tecnológicos,
assim como a carência de pessoal qualificado e especializado, para dinamizar as
investigações e assegurar com eficácia a concretização da missão da ARC, são
importantes desafios a ter em conta.

11. Adicionalmente, são, também, apresentados desafios internos da própria


efectividade da ARC, no que se refere à definição de procedimentos de
investigação, resultantes da experiência prática e legislação aplicável,
especialmente tratando-se de uma entidade nova, entendemos que a criação e
sistematização de procedimentos pode ser feita, gradualmente, à medida que a

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implementação da ARC e a aplicação concreta do regime jurídico da promoção e
defesa da concorrência vigente vai se solidificando.

12. Por fim, importa referir o desafio inerente ao elemento histórico e cultural,
verificado através do desconhecimento e, em alguns casos, incompreensão da
sociedade sobre o regime jurídico de promoção e defesa da concorrência,
especialmente no que diz respeito às empresas, entidades reguladoras sectoriais,
formuladores de políticas públicas e órgãos judiciais.

Quais são os principais tópicos que escolheria para um seminário de


formação na área da Concorrência?

13. Atendendo ao estágio de institucionalização da ARC e o curto período de


aplicação do regime jurídico da concorrência em Angola, os principais tópicos
para a realização de formações seriam:

a) Determinação do mercado relevante;


b) Análise das infracções concorrenciais por efeito e por objecto;
c) Técnicas de investigação de práticas restritivas da concorrência, com o
foco na identificação de carteis e combate ao conluio na contratação
pública;
d) Tramitação processual do processo sancionatório;
e) Garantias da defesa dos visados;
f) Elaboração de estudos económicos e inquéritos sectoriais para
acompanhamento de mercado;
g) Avaliação de Políticas Públicas;
h) Aplicação das decisões e monitoramento das recomendações relativas
a práticas restritivas da concorrência e outras com impacto na
concorrência.

III. Conclusão

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14. Conforme acima exposto, foram apresentados, neste documento, alguns
constrangimentos ligados à aplicação do Direito da Concorrência em Angola e à
implementação da ARC, respondendo as questões colocadas, sem prejuízo de
outras inquietações inerentes ao quadro legal e institucional da melhoria do
ambiente de negócios e concorrência em Angola.

15. Assim, entendemos que os desafios apresentados podem ser superados,


gradualmente, em alinhamento às diversas reformas em curso no País, seja a
Reforma da Justiça e do Direito, assim como a Reforma da Administração Pública,
ou as políticas relativas a melhoria do ambiente de negócios e concorrência, sendo
o apoio multilateral, inegavelmente, necessário para o desenvolvimento do
Direito da Concorrência e melhoria do desempenho das Políticas de Concorrência
em Angola.

AUTORIDADE REGULADORA DA CONCORRÊNCIA, em Luanda 9 de Agosto de


2021.

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