Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Reli Quia
Reli Quia
BRASIL
POR
ANTONIO A L V E S CAMARA
BRASILEIRO H DA SOCIUDADB DB G B O C R A P H I A DO R I O DB J A N B I R O .
JR.10 DE JANEIRO
T y p . dc ü . L E U Z I N G E R & F I L H O S . Ouvidor 31
1888
í
MUSEU I 3 ? 1 8 l i l
DivltJo tf; Dx«.7.cr.taçlo
tf w
^i- i — — i
O desejo de ser util ao nosso paiz moveu-nos a
escrever a presente monographia sobre as suas con-
slrucções navaes indígenas.
E' ella o resultado de observações próprias, de
algumas informações fidedignas, e da leitura que
podemos fazer em nossos lazeres.
Sobre este assumpto, aliás tão vasto e curioso,
o Brazil era até hoje menos conhecido do que as
ilhas da Oceania.
Procuramos amenisar as descripções technicas
do fabrico das embarcações, naluralnmite um tanto
andas pára o leitor não profissioíial, com a inserção
de alguns factos historicos, a exposição de costumes e
usos, que lhes são relativos, e a transcripção de algu-
mas poesias, ou estrophes que a cilas se referem; e
para tornai-as comprehensiveis em alguns pontos
addicionamos um vocabidario.
Como seu nome indica, é este livro um ensaio,
que urgia em todo o caso ser feito por constituir
o seu contexto parte da nossa historia patria. Não o
julgamos sem erros, nem lacimas; mas fizemos o que
podemos na occasião com os escassos elementos de
que dispunhamos.
Que este ensaio mereça a atienção do leitor, e
seja motivo para escrever-se obra completa sobre o
assumpto é o que em verdade mais almejamos.
DO BRASIL
Ia Conslruction
ou Navale <lcs iicuples extra-curopécns,
pÍro uc$
de la MníaWe^ u T ^ , ? . S « m t r u i t s par lcs habitante dc 1'Asic
a d
lkitnuid " °CCan' cl d c
«'Amcriquc. Paris, Libr. Arthur
7
2 í n , i f r Cn f. C COr a d o R e i n o <lc
? Portugal, sitio d a Bahia dc T o d a s os
ntos CoUccçíto de noticias para a Historia c Ceographia das Nações
qU
! V , y c m n o s ^ominios Portuguezcs, ou lhes silo visinhas :
pu hcadajHrla Academia Real de Scicncias. T o m o I I I , Parte I. Lisbôa,
i ) p . da mesma Academia, 1 8 2 5 , pag. 190
11
JANGADA—Bahia
A i , ai, ó d o r e s !
Quem pôde viver alegre
A u s e n t e d e seus amores.
E m q u a n t o as ondas prateadas
V ã o cantando o seu poema,
E nas brisas perfumadas
Ouve-se a voz de Iracema
BALSAS DOS P A U M A R Y S — R i o P u r ü s
E u vi de Nevina ingrata
O pobre infeliz amante,
J á sem canôa, sem remo,
Vagando na praia errante
»
49
Mulata bonita
Nào bambêa
N o fundo do mar
T e m balêa.
CANOA — R i o d c Janeiro
« S o b r e as agoas
Muitos dos inimigos j á feridos
Luctavam p ' r a subir sobre as canôas,
Aos remos se a g a r r a v a m , e uns e outros
Seguros mutua guerra se f a z i a m .
Que confusão! que h o r r o r ! que g r i t a r i a !
T u d o era fogo e fumo, e sangue e r a i v a !
um losango.
A canôa n'esse rio prende-se á lenda da Ca-
choeira de Paulo Affonso, segundo a qual o padre
Jcsuita d'esse nome, sorprehendido 110 alto em
uma canôa com um indio, precipitara-se no abysmo,
do qual sahira com vida e incólume, tendo mor-
rido o indio; ou, segundo outra versão, fallecêra
com o indio.
68
(') Navegação feita <la cidade d o Oram-Pará até á l>oca do rio Ma-
deira pela escolta que por este rio subiu ás Minas de Matto Grosso por
ordem mui rccommcndada de Sua Magcstadc Fidelissima no anno dc 1749-
hscripta |>or José Gonçalves da Fonseca no mesmo anno. — N a collccç.io
de Noticias Ultramarinas 11.® i , vol. 4. 0 pg. 8S. 1 S 2 6 , Lisboa, Typ. da
Academia Kcal dc Scicncias.
73
« 'Iodos los que vivem a Ias orillas deste gran Rio, estan
poblados en grandes poblaciones, y como Venecianos, o Me-
xicanos todo su trato es por agua, en embarcaciones pequenas,
que llaman canoas; estas de ordinário son de c e d r o ; de que
la Providencia de Dios les provcyo abundantemente, sin que
les cueste trabajo de cortalos, ni sacarlos dei monte, invian-
_ 0
doselos con Ias avenidas dcl R i o , que para suplir esta neces-
sidad, los arranca dc Ias mas distantes Cordillcras dei Peru,
y sc los pone a Ias puertas dc sus casas, donde cada uno
cscogc lo que mas acuento lc parece.
« Y es de admirar, ver entre tanta infinidad de índios,
que cada uno necessita, por lo menos para su família, de uno,
o dos paios, dc que labre una, o dos canôas, como de hecho Ias
tienen; a ninguno lc cuesta mas trabajo, que saliendo a la
orilla ccharle cm quando va palazoando, y amarrarle a los
mismos umbralcs de sus puertas, d o n d e queda preso, hasta
que aviendo ya baxado Ias aguas, y applicando cada uno su
industria y trabajo, labra la embarcacion, de que tiene ne-
cessidad. »
U I Í Á — Rio Amazonas
MONTARIA — R i o Amazonas
TRATADO IV
DA FACTURA DAS CANOAS OU EMBARCAÇÕES
DO AMAZONAS
CAPITULO I
CAPÍTULO II
DOS M U I T O S INCONVENIENTES QUE TÊM E S T A P R A X E D A S CANOAS
2.°
3 "
gesta rum, sub prafectura, illustrissimi comitis I. MavritU Nassovia-, & Co-
B A R C O D E B A R R A FÓRA — Bahia
•
G c/i
O
0
23'
— G M
CS j
0 V
*V C &>
CJ O£
N O M E S "DAS E M B A R C A Ç Õ E S
tfi t»
C/
J V-
tf
S
t/}
«
O 8)
.TÍ 0
V-
Cl — (A ^ 1
~
•fH £ ,
*
N.° i . ° barco I). P e d r o 3 5 15 5 °
N.° 2. 0 dito I). L ê o p o l d i n a 46 22 68
N.° 3.°dito Vinte Cinco dc Junho 60 2 S 88
N.° 4. 0 dito canhoneira 1). M a r i a da
42 8 5o
0
N.° 5. barco 1). J a n u a r i a 40 27 67
N.° 6.° dito D. Paula ... 5 °
12 62
0
N.° 7. dito V i l l a d e S. F r a n c i s c o 3 ° 25 55
N.° 8.° dito Prêza 5 O 20 70
Escuna Cachoeira;- 70 3 9
109
Lanchas baleeiras de abordagem e bom-
1
9 1 9
BARCOS MINEIROS
B A R C A C I N H A — A l a g o a s c Pernambuco
— .
137
S A V E I R O DE PESCARIA — Itaparica—Bahia
S o b r e a borda do saveiro
Canta o terno pescador
Os grilhões do captiveiro,
B e m d i z e n d o o deus d ' a m o r
P o r se v e r prisioneiro (*).
10
Lanchas
%
LANCHA DE B A R R A F O R A — B a h i a
147
BALEEIRA — Bahia
L á surge ao longe a b a l ê a !
A o mar, ao mar, companheiros,
Que nunca sc arreceia
O peito dos baleeiros.
«I..., •
A g o r a meu peito a n c e i a
P o r uma chula rasgada,
Depois que d e r c o m a b a l ê a
Na minha P e d r a - f u r a d a .
V i v a ! v i v a S o b r a ç o forte
Desta gente da B a h i a
Pois que não teme a morte
N o s mares desta bahia.
GAROUPEIRA — Bahia,
ALVARENGA — Bahia c R e c i f e .
SAVEIRO — R i o d c Janeiro.
ALVARENGA — Baliia.
RIO D E J A N E I R O
VERGAS
CAVERNA ME
TABOADO
Oi ti — Brozimum lutenm.
Potumujú, para os altos — Ccntrolobium ro-
buslum.
Vinhatico — Echyrospermum Balthazarii.
%
CINTADO
CAVILHAS
MASTREAÇÃO
REMOS
I»ÁS
PERNAMBUCO E ALAGOAS
C O S T A D O E T A BOA DO
CAVERNAME
MASTROS
E M liONOS
AMAZÔNIA
CASCOS
FALCAME E IJANCOS
BRAÇOS li RODELLAS
MASTROS
CAVILHAS
VARAS
( p a r a d a r m o v i m e n t o ás e m b a r c a ç õ e s )
REMOS
Amapá * — ?
Apecuitaua * — Cassia Apocouila.
Araraihua * — ?
Ayutayica * — Laurinea
Carapanayua * — Calophyllum brasilieus,
Itauba * — Acrodiclidium Itauba.
Jagucuitaua-iuá * — ?
Louro * —Nectandra sp.
Manga-narana — Ancoruia pubesceus.
185
VARAS ( p a r a as t o l d a s )
( P a r a as toldas )
CIPÓS
Muru Kitica * — ( ? )
ESTOPA
BREU
( 1 ) Msc. cit.
187
PINTURA
Esparrela*—Vide bolina.
E s p e q u e s * — Os tres páos encavilhados nos das jangadas,
que formam o aracambuz ( C e a r á ) .
E s p i c h a — V a r a que sc mette no ilhol do pcnol dc uma
vela em uma das extremidades, ficando a outra em um
estropo do mastro, afim de destender a vela, que toma a
fôrma quadrangular, dispensando assim a carangueija.
E s t a i s — Cabos que agüentam os mastros e mastaréos dc ré
para vante.
E s t a l e i r o — L u g a r onde sc constroe qualquer embarcação.
E s t e i r a d o n a v i o — Rasto deixado 110 mar pela pôpa da
embarcação em movimento.
E s t i b o r d o — V i d e Boreste.
E s t r o p o — P e d a ç o de cabo com as extremidades cosidas, ern
cujo seio, ou curvatura, se colloca qualquer objecto para
ser abarcado por elle, e sc poder i ç a r . — d a verga, é o que
está passado na verga para sc fixar a adriça.
F a b r i c a r — Concertar, ou reparar.
F a i n a — Qualquer trabalho de bordo, manobra, suspender,
fundear, etc.
F a l c ã o — (ter. ant.) C a n h ã o dc tres pollcgadas dc diâmetro,
que j o g a v a bailas de libra c meia. D e v i a seu nome a o
facto de ser muito destruetivo.
F a l c a m e * — T a b o a s sobrepostas ao casco das embarcações, e
n'elle pregadas, e nas cavernas ( A m a z ô n i a ) .
F a t e i x a — Haste de ferro tendo cm uma extremidade uma
argolla, c na outra quatro braços curvos com unhas.
F e m e a d e g o v e r n o * — Pequenos calços dc madeira pre-
gados nas extremidades dos páos da j a n g a d a , onde tra-
balha o leme ( C e a r á ) .
G o v e r n a d u r a s — M a c h o s e fêmeas d o leme.
G u a r d a d o r e s * — Caixões em fôrma triangular, fixos nas
amuradas da baleeira a prôa, que servem para n'clles se
guardarem as lanças ( B a h i a ) .
G u a r d a l a n ç a s * — V i d e Guardadores.
202
L a t i n o s — Velas triangulares, ou q u a d r a n g u l a r e s , e n v e r g a d a s
em estais, ou em carangueijas.
L e m e — A p p a r e l h o d e m a d e i r a c o l l o c a d o n o c e n t r o da p ô p a
das embarcações, que g y r a para um e outro l a d o afim d e
dar-lhes direcçào c o n v e n i e n t e , q u a n d o se m o v e m .
L i g e i r a * — C a b o d e m a n o b r a da j a n g a d a e c a n ô a s d e c m -
bono. Serve para agüentar a v e r g a no b a l a n ç o ( A l a g ô a s ,
Pernambuco e C e a r á ) .
L i m a r a v e l a * — Esfregar a vela d a jangada com limo de
páo e agua salgada, e d e p o i s e x p ô l - a a o v e n t o , c o m o fim
de dar-lhe maior d u r a ç ã o ( C e a r á ) .
L o t a ç ã o — Numero d e homens, q u e devem g u a r n e c e r uma
embarcação qualquer.
M a c h o s d c g o v e r n o * — T a b o a s p r e g a d a s n o s b o r d o s , que
servem para n'ellas trabalhar o leme, e não estragar a
madeira da j a n g a d a , que é muito f r a c a ( A l a g ô a s , P e r n a m -
buco e Ceará).
— do l e m e — Peças d e metal fixas no leme, ou no ca-
daste, que sc introduzem c m outros c h a m a d o s fêmeas, e
permittem que o leme g y r e , c o m o uma porta sobre
gonzos.
M a n c o s — Cavernas que constituem a a r m a ç ã o da pôpa.
M a s t a r é o — Mastro superior, a o s que assentam na quilha.
Mastreação—Conjuncto de mastros e vergas d e uma em-
barcação.
M a s t r o g r a n d e — O mastro d o m e i o , q u a n d o a embarcação
é de tres, e o d c ré, q u a n d o é d e dous.
— * — O de vante da j a n g a d a ( B a h i a ) .
— do m e s t r e * — O d e ré da j a n g a d a (Bahia).
— de m e z e n a * — O pequeno m a s t r o d a j a n g a d a , e m que
está envergada a v e l a triangular. T a m b é m c h a m a m mastro
do mestre ( B a h i a ) . •
M é c h a — E x t r e m i d a d e i n f e r i o r d o mastro, que encaixa cm
uma concavidade c h a m a d a c a r l i n g a .
M e i o s * — Os dous páos do centro das j a n g a d a s ( B a h i a até
Ceará).
9
Pg-
CANÔAS dc casca na bahia dc Todos os Santos • • . . - 75
Lenda indígena 76
Montarias 78
Pesca do peixe-boi c do pirarucu 80
Igaritcs 83
Vigilengas $5
— cobertas
Factos historicos 87
Gambarra 89
D a factura das canôas do Amazonas 91
Das velas dos indios 97
Do fabrico das cordas dc guambé 98
— grandes * 74
Ajoujos 102
BARCOS 105
Factos historicos 1*4
BARCOS MINEIROS 122
BARCAS 125
BARCAÇAS 133
Factos historicos 137
SAVEIROS 140
Sua festa 144
LANCHAS 146
BALEEIRAS 149
Pesca da Balêa 156
GAROUPEIRAS 166
ALVARENGAS 169
PELOTAS 172
M A D E I R A S DE CONSTRUCÇÃO 177
VOCAUULARIO NOS TERMOS TECÜNICOS E OUTROS EMI'REGA1X)S NESTA
OBRA 1S9
COLLOCAÇÀO DAS ESTAMPAS
Ps-
Jangada. — Bahia 13
Jangada. — Alagôas, Pernambuco, Ceará 19
Balsa dos Paumarys. — Rio Purüs 30
Canôa. — Bahia 37
Canôa. — Rio dc Janeiro 52
Peru (barco da roça). — Rio de Janeiro 61
Canôa de embono. — Alagôas, Pernambuco 63
Ubá. — Rio Amazonas 74
Montaria. — R i o Amazonas 79
Igarctc. — R i o Amazonas 83
Canôa coberta. — Rio Amazonas 86
Barco. — Bahia 106
Barco do Recôncavo. — Bahia xio
Barco dc barra-fóra. — Bahia m
Barco mineiro. — Rios Araguaya e Tocantins — Goyaz 123
Barcacinha. — Alagôas c Pernambuco 134
Barcaça. — Norte da Bahia, Alagôas, Pernambuco, Parahyba c Rio
Grande do Norte
l
Saveiro dc cács. — Bahia 4l
Saveiro dc pescaria. — Itaparica — Bahia M2
Saveiro dc carga. — Itapagipc — Bahia >4 2
!
Saveiro de carga — Bahia 43
Ilincha dc barra-fóra. — Bahia m6
x
Lancha dc barra-fóra. — Bahia 47
Lancha bicira. — Bahia
BalOcira. — Bahia '49
Garoujxiira. — Uahia
Alvarenga. — Bahia e Recife. Saveiro. — Rio dc Janeiro 169
Alvarenga. — Bahia '7°
Pelota. — Rios do Brazil '72
Pelota. — Rios do Brazil l73
T Y P . Hl< C . L K V Z I K G R M * I I I . H O S R I O l>R J A N P I R O ,
rci
LIIIN