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Reabilitação Neuropsicológica

do idoso com comprometimento


cognitivo

Márcia Motta
Doutoranda em Psicobiologia – FFCLRP-USP
Prof. Dra Carla Santana
Prof. Responsável
Um aspecto importante da prática do terapeuta ocupacional é
correlacionar as perdas cognitivas com as perdas funcionais,
pois um indivíduo com comprometimento cognitivo pode ter
as habilidades preservadas para a realização de determinada
atividade ou tarefa diária.

Além disso, a adaptação contínua, para lidar com o ambiente, é


necessária para o exercício e participação das atividades que
constituem o cotidiano, como trabalhar, fazer compras, limpar
a casa, conversar, assistir um filme.
A Reabilitação Neuropsicológica é uma terapêutica que visa a recuperação e a
melhoria de processos cognitivos e emocionais afetados por danos ao cérebro,
além de promover o bem estar, a qualidade de vida e minimizar a magnitude
dos déficits na vida dos indivíduos.

A reabilitação cognitiva visa reabilitar um indivíduo para utilizar as funções


psicológicas básicas que são designadas como cognitivas: atenção, memória,
habilidades sociais, além da capacidade de julgamento, e de avaliar e imaginar
situações futuras, bem como, de usar a linguagem e a comunicação, em geral.

A estimulação cognitiva refere-se a todas as atividades desenvolvidas com o


intuito de manter as funções cognitivas preservadas, e compensar alterações
nas funções que começaram a sofrer declínio, tais como: memória, atenção
linguagem ou funções executivas.

O Treino Cognitivo é uma técnica (ensinar e treinar) que objetiva potencializar o


desempenho cognitivo de componentes remanescentes que correm o risco de
sofrer prejuízos, além de servir como recurso de compensação.
Pontos importantes

✓ Evitar atividades infantilizadas. Materiais destinados ao


público adulto devem ser localizados ou elaborados.

✓ Atividades nem muito simples e nem muito complexas para


evitar desinteresse e frustração, respectivamente.

✓ Foco nas habilidades preservadas.

✓ Sempre que possível, uso de estratégias e atividades que


possam ser aplicadas no cotidiano.
Pontos importantes

✓ Ele gosta? O que tem a ver com a vida da pessoa.

✓ Acolhimento constante. Cuidado com o blá, blá, blá.

✓ Descrever a atividade com calma. Utilizar palavras simples.


Descrever o material.

✓ Incentivo. Feedback positivo.

✓ Respeitar o momento: cada dia é um dia. O tempo é de cada


um.
Orientação temporal e espacial

As atividades de orientação temporal e espacial têm como


intuito direcionar o idoso para a realidade.

Falta de orientação: confusão, sentimento de estar perdido.


Saber o ano pode ajudar a lembrar se está aposentado ou não,
tarefas do dia, pode fornecer pistas sobre onde mora,
membros da família que faleceram, se é avô, dentre outras
informações.
Orientação temporal e espacial

Dispositivos: agenda, bipe, calendário...

Letras e números grandes. Estimular a dizer em voz alta: “Hoje é


dia _ do mês de _ do ano de _. O dia da semana é _”. Fazer um
X no dia que passou.
A repetição é importante para que a informação seja guardada
na memória.

Perguntar: “Onde estamos?” Oferecer dicas verbais (começa


com “São...), visuais ou do ambiente.
Linguagem: Fluência verbal

A fluência verbal é a velocidade da fala. O estudo da fluência


verbal permite diagnosticar problemas de linguagem e os
caracterizar.

Restrição por categoria: “O que encontramos no


supermercado?”

Restrição fonológica (restringindo a letra): “Digam-me nomes


com a letra A”.

Restrição por categoria e fonológica: “O que há na cozinha com a


letra A?”
Visuoconstrução

Capacidade para realizar atividades formativas ou construtivas.


É a habilidade de manejar partes ou estímulos físicos
organizando-os para formar uma entidade única.

Quebra-cabeças (ideal entre 15 e 30 peças).


Ordenação de eventos

Filipetas com os passos descritos para fazer alguma atividade, e


pede-se para que o idoso coloque na ordem correta.

Prática familiar ao cotidiano do idoso.

Discutir, conversar sobre cada etapa, fazer paralelos com a vida.


É possível graduar.
Atenção

A atenção é uma qualidade da percepção que funciona como


uma espécie de filtro dos estímulos ambientais, avaliando
quais são os mais relevantes e dotando-os de prioridade para
o processamento cognitivo.

Atenção sustentada e Atenção seletiva


Atenção visual

Jogos de sete erros, caça-palavras, atividades


de rastreio visual, dentre outras.

Atenção auditiva

Música: quantas vezes aparece determinada palavra, qual o sentido da letra.


Falar três palavras distintas e pedir para que repita de trás para frente. Gato,
tigre, leão.
Frases desconexas que devem ser colocadas em ordem: “O vidro quebrado da
janela está”.
Atenção auditiva

Exercício de atenção auditiva no qual uma lista de headlines sobre


hábitos de vida saudável são apresentados e os participantes têm
que decidir se cada item é bom ou ruim elevando sua mão direita
ou esquerda, respectivamente. Após, espera-se que os
participantes possam lembrar a última palavra de cada headline.
Atenção dividida

Observar o padrão de um desenho contendo diversos


quadrados, círculos, triângulos e corações, e enquanto
repetem uma seqüência silábica em voz alta (pa-pa-ra-pa-pa)
devem contar quantas figuras de cada tipo estão desenhadas.
Memória

A memória é a capacidade de adquirir, armazenar e recuperar


(evocar) informações disponíveis, seja internamente, no
cérebro (memória biológica), seja externamente, em
dispositivos artificiais (memória artificial).
Memória retrospectiva

“O que fizemos hoje?”

Memória prospectiva (lembrar de lembrar)

Elaborar estratégias, junto com o idoso, que podem ser utilizadas para
melhorar a memória.

Que estratégias internas você poderia usar para gravar o caminho para
o seu novo médico?

Para guardar informações pessoais sobre um(a) novo(a) amigo(a)?

Para lembrar do nome de um restaurante?


Memória

Explicações sobre os benefícios da organização para a memória,


explicações sobre como organizar uma lista de supermercado
em categorias (oferecendo um exemplo) e posterior exercício
de memorização de lista com encorajamento para utilização
de categorização.
Função executiva

A função executiva é um termo abrangente para a gestão (regulação,


controle) dos processos cognitivos. O sistema executivo controla e
gerencia outros processos cognitivos , como memória de trabalho,
raciocínio, flexibilidade de tarefas e resolução de problemas, bem como o
planejamento e execução de tarefas.

Relato dos pacientes acerca de atividades do dia-a-dia referente a


organização, planejamento, orientação temporal e espacial, resolução de
problemas e memória.

Jogo do labirinto: Um idoso precisa encontrar uma saída de um labirinto para


chegar até a farmácia e comprar seus remédios.
Estratégias de Atendimento

1. Terapia de Orientação da Realidade

2. Terapia de Reminiscência
Terapia de orientação da realidade

A terapia de orientação da realidade (OR) tem como princípio


apresentar dados de realidade ao paciente de forma
organizada e contínua, criando estímulos ambientais que
facilitem a orientação e levando em conta que a realidade não
consiste apenas em orientação temporal.

Na OR tenta-se engajar o indivíduo em interações sociais e


melhorar a comunicação através de informação contínua,
sinalizações no ambiente, linguagem clara ou não verbal e
treinamento de habilidades cognitivas, com atividades
adequadas às suas dificuldades.
Terapia de orientação da realidade

Realizar treinos das atividades do dia-a-dia mais comprometidas


como atender corretamente o telefone, anotar recados,
agendar consultas e outros compromissos e tomar os
medicamentos adequadamente.
Terapia de Reminiscência

A terapia de reminiscência tem como objetivo estimular o


resgate de informações por meio de figuras, fotos, músicas,
jogos e outros estímulos relacionados à juventude dos idosos.

Essa técnica tem sido muito utilizada para resgatar emoções


vividas previamente, gerando maior sociabilização.

Os exercícios visam o treinamento de memória autobiográfica.


Terapia de Reminiscência

Na terapia por reminiscência podem ser resgatadas lembranças


ligadas a questões emocionais.

As atividades podem estar relacionadas a relatos sobre a história


de vida dos pacientes, suas alegrias e frustrações.

Fotos pessoais e canções antigas podem ser utilizadas


Usando produtos da despensa

✓ Na despensa separe os produtos que serão utilizados. Deixei-os todos em


alturas funcionais.
✓ Individualmente, peça para o idoso encontrá-los um a um e separá-los,
levando-os para uma mesa onde vocês possam dar continuidade.
✓ Verificar validade dos produtos.
✓ Propor a ele identificar pratos que podem ser feitos com produtos cuja
data de validade está próxima. Podem ser pratos para cada produtos ou
até mesmo um que combine todos eles.
✓ Verificar por quanto tempo o produto durou (use a data de fabricação e a
validade); Quanto tempo ele ainda tem de validade? Adapte a
complexidade do cálculo à capacidade do idoso.
✓ Organizar a despensa de acordo com as validades do produto.
Uma atividade como esta é super importante para pessoas que sempre
estiveram à diante do funcionamento da casa e, devido a uma disfunção
cognitiva, tiveram que se ausentar.
Referências
Abreu, V. P. S. (2007). Avaliação da percepção e da cognição. In: Cavalcante, A. & Galvão, C. Terapia
Ocupacional: fundamentação & prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 94-101.
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trabalho em equipe multidisciplinar. Arq Neuropsiquiatr, 60(1), 70-79.
Brum, P. S. & Yassuda, M. S. (2012). A estimulação cognitiva no comprometimento cognitivo leve e doença de
Alzheimer no contexto Multidisciplinar. In: Forlenza, O. et al. (2012). Doença de Alzheimer: uma
perspectiva do tratamento multiprofissional. São Paulo: Editora Atheneu. 51-60.
Chaves, G. F. S. & Paula, V. J. R. (2012). Terapia Ocupacional e o uso de jogos como estímulo cognitivo. In:
Forlenza, O. et al. (2012). Doença de Alzheimer: uma perspectiva do tratamento multiprofissional. São
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Oliveira, A. M. (2012). Métodos e técnicas de terapia ocupacional utilizados no tratamento de idosos com
demência. In: Forlenza, O. et al. (2012). Doença de Alzheimer: uma perspectiva do tratamento
multiprofissional. São Paulo: Editora Atheneu. 93-100.
Carvalho, F. C. R., Neri, A. L., & Yassuda, M. S. (2010). Treino de memória episódica com ênfase em
categorização para idosos sem demência e depressão. Psicol Reflex Crit, Porto Alegre, 23(2), 317-323.
Lima-Silva, T. B., Fabrício, A. T., Silva, L. D. S. V., Oliveira, G. M. D., Silva, W. T. D., Kissaki, P. T., ... & Aramaki, F. O.
(2012). Training of executive functions in healthy elderly: Results of a pilot study. Dementia &
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Silva, T. B. L. D., Oliveira, A. C. V. D., Paulo, D. L. V., Malagutti, M. P., Danzini, V. M. P., & Yassuda, M. S. (2011).
Treino cognitivo para idosos baseado em estratégias de categorização e cálculos semelhantes a tarefas do
cotidiano. Rev. bras. geriatr. gerontol, 14(1), 65-74.

Site: http://www.reab.me/
Memória

Memória operacional/funcional

Colocar 3 palavras pronunciadas em ordem alfabética sem anotar.

Colocar palavras (adulto, bebê, adolescente) na seqüência temporal correta


(bebê, adolescente, adulto).

Observar fragmentos de palavras (dit, m, o, su, osca) e mentalmente formam


palavras sem usar o mesmo fragmento mais de uma vez (súdito, mosca),
sem anotar.

Realizar operações matemáticas simples mentalmente (8 x 2, 3 x 4, 7 x 5).

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