Você está na página 1de 34

 

PSICOLOGIA SÓCIO-INTERACIONISTA
 
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA (Módulo 0)
 
Organização do material:
 
Nesta disciplina, você terá oportunidade de estudar a teoria do desenvolvimento psicológico
de Lev S. Vygotsky (1896-1934) e sua abordagem Sócio-Interacionista do desenvolvimento
e da aprendizagem. Estudará também a teoria do desenvolvimento psicológico de Henri
Wallon (1879-1962) e sua concepção dialética do desenvolvimento infantil.
 
O material poderá ser utilizado como orientação para seu estudo e como complemento das
atividades realizadas nas aulas presenciais.
 
O programa da disciplina está distribuído em 8 módulos, que devem ser estudados ao longo
do semestre letivo. Alguns tópicos serão objeto de avaliação na NP1 (Módulos 1 a 4) e outros
serão avaliados na NP2 (Módulos 5 a 8).
 
Sugerimos que você siga a ordem abaixo apresentada, ao planejar seu estudo, uma vez que
os temas mantém entre si uma relação lógica.
 
Módulo 1:
Vygotsky: vida e obra.
Bases da teoria vygotskiana.
Mediação simbólica: instrumentos e signos.
 
Módulo 2:
Pensamento e linguagem.
O significado das palavras.
O discurso interior e a fala egocêntrica.
 
Módulo 3:
Desenvolvimento e aprendizado.
O conceito de zona de desenvolvimento proximal.
O papel da intervenção pedagógica no desenvolvimento.
 
Módulo 4:
Brinquedo e desenvolvimento.
A evolução da escrita na criança.
A mediação da percepção, atenção e memória.
 
Módulo 5:
Henri Wallon: vida e obra.
Método de pesquisa: análise genética comparativa multidimensional.
Principais conceitos da teoria de Wallon.
 
 
Módulo 6:
Psicogênese da Pessoa Completa
Impulsivo Emocional
Sensório Motor e Projetivo
 
Módulo 7:
Personalismo
Categorial
Puberdade e Adolescência
 
Módulo 8:
A questão da afetividade na teoria de Wallon.
Wallon e a Educação.
Wallon e a Psicologia.
 
 
Em cada um dos módulos, haverá uma breve apresentação do assunto, indicação de material
para leitura, atividades de estudo e exercícios de verificação da aprendizagem. Lembre-se
que a mera realização dos exercícios não permitirá a aprendizagem dos temas. É
imprescindível que você realize todas as atividades descritas em cada módulo.
 
O presente conteúdo, por se tratar da apresentação do curso, não inclui exercícios. 
 
Bibliografia:
 
A Bibliografia apresentada a seguir relaciona as obras consideradas importantes para o
estudo dos temas. Em cada módulo, serão indicados os trechos específicos que devem ser
lidos.
 
 
Bibliografia Básica:
 
MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. (org.) Henri Wallon. Psicologia e Educação. São Paulo:
Loyola, 2000.
 
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky. Aprendizado e Desenvolvimento um processo sócio-
histórico. 4ª ed. São Paulo: Scipione, 1997.
 
VEER, R. V. D; VALSNER, J. Vygotsky uma síntese. São Paulo: Loyola, 1991.
 
 
Bibliografia Complementar:
 
BOCK, A. M. B.; GONÇALVES, M. G. M.; FURTADO, O. (orgs). Psicologia Sócio-
histórica. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2007.
 
VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. (Trad. José Cipolla Neto; Luís Silveira
Menna Barreto; Solange Castro Afeche). São Paulo: Martins Fontes, 2007.
 
VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem.(Trad. Paul Bezerra).
São Paulo: Martins Fontes, 2001.
 
WALLON, H. (1941) A evolução psicológica da criança. (Trad. Claudia Berliner) São
Paulo: Martins Fontes, 2007.
 
MALUF, M. R; MOZZER, G. N. S. Operações com signos em crianças de 5 a 7 anos.
In: Psicologia: Teoria e Pesquisa. Brasília, vol. 16, nº 1, jan./abr.
2000. www.scielo.br/pdf/ptp/v16n1/4389.pdf
 
MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. (org.) Constituição da pessoa na proposta de Henri
Wallon. São Paulo: Loyola, 2004.
 
 
Além destas referências, é desejável que você recorra a outras fontes, caso queira se
aprofundar em algum tópico específico do programa. É importante que, em sua pesquisa,
você recorra a fontes confiáveis. Indicamos a seguir alguns endereços eletrônicos cuja
consulta é recomendada:
 
BIBLIOTECA DIGITAL DE TESES E DISSERTAÇÕES (USP)
http://www.teses.usp.br/
 
PEPSIC – PERIÓDICOS ELETRÔNICOS EM PSICOLOGIA
http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php
 
BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE (BVS) - www.bvs-psi.org.br
 
PERIÓDICOS CAPES - www.periodicos.capes.gov.br
 
DVD Coleção Grandes Educadores – Lev Vygotsky com apresentação de Marta Kohl de
Oliveira (ATTA mídia e educação - Editora Paulus www.paulus.com.br)
 
DVD Coleção Grandes Educadores – Henri Wallon com apresentação de Heloisa Dantas (ATTA
mídia e educação - Editora Paulus www.paulus.com.br)
 
 
Se você necessitar de informações adicionais para ampliar seus conhecimentos, solicite-as do
professor, nas aulas presenciais.

Módulo 1
 
 
(A) Vygotsky: vida e obra.
 
Leitura Obrigatória:
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky. Aprendizado e Desenvolvimento um processo sócio-
histórico. 1ª ed. Coleção Pensamento e Ação na sala de aula. São Paulo: Scipione, 2010.

Leitura para Aprofundamento:


VEER, R. V. D; VALSNER, J. Vygotsky uma síntese. São Paulo: Loyola, 1996.
 
 
Diferentemente de outros teóricos, Vygotsky não pode escrever sua autobiografia, pois
morreu muito cedo. Os dados biográficos são escritos por Vander Veer (1991) a partir dos
relatos de amigos e parentes. A seguir é apresentada uma síntese de sua história e os
principais fatos que marcaram a construção de sua obra.
 
1896 – nasceu em Orsha, Bielo Rússia, no dia 5 de novembro de 1896. O sobrenome
Vygodsky significa aquele que vem da aldeia vygotovo; não se sabe por que Vygotsky
assinava dessa forma. Há variações de tradução encontradas: Vygotsky (inglês e português),
Vygotski (francês), Vigotsky (espanhol), Vigotskij (italiano), portanto, todas elas estão
corretas.
 
Vygotsky é o segundo de uma família de oito filhos. Os pais eram membros bem instruídos
da comunidade judaica de Gomel e mantinham as tradições judaicas (educação tradicional).
Sua mãe era professora e seu pai trabalhava como chefe de departamento no Banco Unido e
como representante de uma companhia de seguros. Possuíam boas condições financeiras,
todos os filhos tiveram tutores. Moravam em um amplo apartamento, em um território de
assentamento na cidade (PALE), que possuía uma ampla biblioteca. Quando jovem, seus
hobbies eram: coleção de selos, xadrez, correspondência em esperanto, discussão de
assuntos abstratos com amigos, teatro.
 
1905 – (9 anos) – Revolução popular contra o czar. Acentua-se a crise social na Rússia.
1911 (15 anos) – Ingressou pela 1ª vez numa instituição escolar, após anos de instrução
com tutores particulares, além de seus próprios pais (Gymnasium, judeu particular, em
Gomel).
1913 (17 anos) – Forma-se no curso secundário com medalha de ouro. Isso lhe permite
ingressar na Universidade de Moscou, no curso de direito.
1914 (18 anos) – Estuda na Universidade Popular de Shanyavskii – história, filosofia,
literatura, arte, psicologia, psicanálise.
1916 (20 anos) – Escreve A tragédia de Hamlet: príncipe da Dinamarca.
1917 (21 anos) – Forma-se em direito na Universidade de Moscou. Revolução Russa. É
criado o Conselho dos Comissários do Povo, presidido por Lênin.
1917-1923 (21-27 anos) – Volta para Gomel, leciona literatura e psicologia. As razões que
levaram Vygotsky a retornar a sua terra natal não são claras, algumas hipóteses dos
biógrafos são: os pais estavam empobrecidos em função da Revolução e ele volta para
ajuda-los; porque não conseguiu permissão para ficar em Moscou; para se casar com Roza
Smekhova.
 
Este é um período vazio na história das publicações de Vygotsky que ainda está para ser
explicado. Atividades profissionais que exerce nesse período são: deu aulas na Escola
Trabalhista Soviética, no Colégio Pedagógico de Gomel (Laboratório Psicológico), na Escola
Noturna para Trabalhadores Adultos, e em cursos preparatórios para pedagogos. Além disso,
reunia-se com amigos no que chamava de “Segundas-Feiras Literárias”, para discutir
assuntos de literatura, língua russa, lógica, psicologia, pedagogia.
 
1918 (22 anos) – Funda duas editoras com Semyon Dobkin e David Vygodsky.
1920 (24 anos) – Seu irmão contrai tuberculose e Vygotsky vai ajudá-lo, mas contrai
também a doença. Na época não havia tratamento muito menos a cura da doença e a morte
era rápida, mas Vygotsky vive inexplicavelmente com esta doença por 14 anos, com muito
sofrimento físico e psicológico.
1922 (26 anos) – Centralização do poder. Stalin é nomeado secretário-geral do Partido
Comunista. Constituição da URSS.
1924 (28 anos) – Participa da conferência no II Congresso de Psiconeurologia de Leningrado
e conhece Luria e Leontiev, dois grandes amigos e colaboradores.
1924 – Vygotsky casa-se com Roza Smekhova, com quem tem duas filhas. Muda-se para
Moscou e vai lecionar no Instituto de Psicologia a convite de Kornilov. Morre Lênin. Stálin
assume o poder.
1925 (29 anos) – Escreve o livro Psicologia da arte que somente foi publicado em 1965, na
URSS. É nesse ano que Vygotsky viaja pela primeira vez para a Europa e conhece alguns dos
livros de Piaget. Organiza o Instituto e Laboratório de Estudos sobre as Deficiências que
chamou de “estudos de defectologia”.
1925-1934 (29 – 37 anos) – Trabalha no departamento de educação para crianças
deficientes físicas e mentais, no Instituto Pedagógico de Moscou e no Instituto Pedagógico de
Leningrado (Hertzen). Estuda medicina para compreender os problemas neurológicos e suas
implicações no desenvolvimento psicológico. Considera a pedologia a ciência mais completa
para o estudo da criança, pois integra aspectos da biologia, psicologia, antropologia e
pedagogia. Funda o Laboratório de Psicologia na escola de formação de professores (Gomel)
e reúne jovens cientistas para estudos sobre psicologia e anormalidades.
1928 (32 anos) – Processo de modernização da URSS; industrialização reforma agrária,
alfabetização.
1929 (33 anos) – Início da ditadura stalinista.
1934 – Ano de sua morte. O fim da vida de Vygotsky é marcado por muitos problemas:
desintegração de seu grupo de colaboradores, traições pessoais, más condições físicas
repetidas hemorragias e estado de espírito deprimido. Dobkin, seu amigo de infância, diz:
“Vygotsky fez tudo para não viver nos últimos anos de sua vida”. Morre em Moscou, Rússia,
aos 37 anos, em 11 de junho de 1934. Ao longo de sua curta, mas brilhante carreira,
Vygotsky deixou 200 trabalhos científicos escritos, ditados, anotados. No ano de sua morte é
publicado, na URSS, o livro Pensamento e linguagem.
1936–1937 – Período mais violento do regime stalinista.
1936-1956 – Vygotsky é acusado de “idealista” por Stalin, sua obra foi proibida por 20
anos. As obras deixam de ser publicadas na URSS por motivos políticos, e parte do material
é destruído.
1953 – Morre Stalin; Kruchev sobe ao poder.
1956 – Kruchev dá início ao processo de “desestalinização” da URSS.
1962 – Publicação Pensamento e linguagem nos EUA (28 anos depois).
1982-1984 – Publicação Edição das Obras selecionadas, de Vygotsky, na URSS.
1984-1988 – Publicação no Brasil dos livros: A formação social da mente; Pensamento e
linguagem; Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem.
 
Embora com um percurso de vida tão curto, Vygotsky deixou uma produção escrita muito
vasta, com aproximadamente 200 trabalhos científicos, cujos temas vão desde a
neuropsicologia até a crítica literária, passando por deficiência, linguagem, psicologia,
educação e questões teóricas e metodológicas relacionadas às ciências humanas. (Oliveira,
2010: 21).
 
 
Atividades recomendadas:
 
1) Levante informações por meios tradicionais ou eletrônicos sobre a vida de Vygotsky e
reflita de que maneira o contexto sócio histórico influenciou em sua concepção de
inteligência.
 
2) Assista ao DVD “Lev Vygotsky” - Coleção Grandes Educadores (2006).
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
A breve vida de Vygotsky foi marcada por conflitos sociais que influenciaram a construção de
sua obra. De acordo com isso, em relação à vida e obra vygotskiana, podemos afirmar que:
I. Foi à escola formal somente aos quinze anos e isso, de certa forma, comprometeu sua
produção intelectual e a formalização de suas ideias.
II. Trabalhou no departamento de educação para crianças deficientes físicas e mentais e
estudou medicina para compreender os problemas neurológicos e suas implicações no
desenvolvimento psicológico.
III. Conheceu Luria e Leontiev no II Congresso de Psiconeurologia de Leningrado e serão
estes dois grandes amigos e colaboradores que darão continuidade ao seu trabalho após sua
morte.
Assinale a alternativa correta:
a) I e II estão corretas.
b) I e III estão corretas.
c) II e III estão corretas.
d) somente II está correta.
e) somente III está correta.
 
A alternativa correta é a (C). As afirmativas II e III estão corretas, pois apresentam dois
momentos importantes na vida de Vygotsky. A afirmativa I está errada. Vygotsky realmente
vai para a escola somente aos 15 anos, mas a maior parte de sua educação formal, antes
disso, foi realizada em casa por meio de tutores particulares, além de seus pais, uma das
famílias mais cultas da cidade, oferecendo uma atmosfera intelectual aos filhos deste muito
cedo. A biblioteca dos pais estava sempre à disposição dos filhos e de seus amigos para o
estudo individual e para reunião de grupos, onde debatiam sistematicamente sobre diversos
assuntos. Este ambiente, sem dúvida, fortaleceu a construção de sua produção intelectual e
a formalização de suas ideias.
 
 
(2) Bases da teoria vygotskiana.
 
Leitura Obrigatória:
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky. Aprendizado e Desenvolvimento um processo sócio-
histórico. 4ª ed. São Paulo: Scipione, 1997.

Leitura para Aprofundamento:


VEER, R. V. D; VALSNER, J. Vygotsky uma síntese. São Paulo: Loyola, 1991.
 
 
Vygotsky, Luria e Leontiev faziam parte de um grupo de jovens intelectuais russos, que
buscavam muito mais que a elaboração de uma teoria científica, mas que a mesma
possibilitasse a construção de uma nova sociedade com maior possibilidade de reflexão e
condições sociais. Compreendiam que as teorias psicológicas estavam atravessadas pelas
questões sociais de sua época e pelo regime social recém-implantado, por isso propunham a
construção de uma nova psicologia que consistia em uma síntese entre duas fortes
tendências presentes na psicologia do início do século XX:

• A psicologia como ciência natural (psicologia experimental – estudo dos processos


psicológicos e elementares – reflexos, sensoriais);
• A psicologia como ciência mental (filosofia, ciências humanas – estudo dos
processos psicológicos superiores – mente, consciência, espírito).

A nova psicologia, portanto, seria aquela abordagem que busca uma síntese para a
psicologia integra, numa mesma perspectiva, o homem enquanto corpo e mente,
enquanto ser biológico e ser social, enquanto membro da espécie humana e
participante de um processo histórico. (Oliveira, 1997:23).

Sendo assim, Vygotsky elaborou uma teoria do desenvolvimento intelectual,


sustentando que todo o conhecimento é construído socialmente, no âmbito das
relações humanas, estando pautada em três ideias principais:

• as funções psicológicas têm suporte biológico, pois são produtos da atividade


cerebral;

• o funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sociais entre o indivíduo


e o mundo exterior, as quais se desenvolvem num processo histórico;

• a relação homem/trabalho é mediada por sistemas simbólicos.

Atividades recomendadas:
 
1) Faça as leituras indicadas, observando as bases que fundamentam teoricamente as ideias
de Vygotsky e que são apresentadas pelos autores.
 
2) Levante informações por meios tradicionais ou eletrônicos sobre os casos de crianças que
se perderam muito jovens de suas famílias e viveram na floresta sem o contato com os
humanos na companhia de animais. Analise a origem do conhecimento dessas crianças a
partir das concepções psicológicas da teoria de Vygotsky.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Vygotsky foi um teórico que revolucionou a maneira de pensar e estudar as questões
psicológicas de sua época. Propõe a construção de uma nova psicologia que consiste na
síntese de duas fortes tendências no início do século XX, a psicologia como ciência natural e
a psicologia como ciência mental. Sendo assim, os pilares básicos do pensamento de
Vygotsky, nesta nova abordagem para a psicologia são:
I. As funções psicológicas têm um suporte biológico, pois são produtos da atividade cerebral.
II. O funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sociais entre o indivíduo e o
mundo exterior e se desenvolve em um processo histórico.
III. A relação homem/mundo é uma relação mediada por sistemas simbólicos.
Há afirmações falsas, dentre as apresentadas?
a) Não, todas as afirmações são verdadeiras.
b) Sim, a I.
c) Sim, a II.
d) Sim, a III.
e) Sim a I e a II.
 
Se você compreendeu adequadamente as bases teóricas da teoria de Vygotsky, assinalou a
alternativa (A). As afirmações I, II e III apresentam um resumo adequado desta teoria.
 
 
(3) Mediação simbólica: instrumentos e signos.
 
Leitura Obrigatória:
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky. Aprendizado e Desenvolvimento um processo sócio-
histórico. 4ª ed. São Paulo: Scipione, 1997.

Leitura para Aprofundamento:


VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. (Trad. José Cipolla Neto; Luís Silveira
Menna Barreto; Solange Castro Afeche). São Paulo: Martins Fontes, 2007.
 
 
 
Um conceito central para compreender a concepção sócio-histórica do funcionamento
psicológico de Vygotsky é o conceito de mediação simbólica, em que qualquer que seja a
relação do homem com o mundo esta será mediada por sistemas simbólicos.
 
Mediação simbólica, portanto, é o processo de intervenção de um elemento intermediário
numa relação, a relação deixa de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento que
pode ser externo ou interno. Nessa perspectiva, a relação do homem com o mundo deixa de
ser entendida como sendo direta (S-R) e passa a ser compreendida como uma relação
mediada por um elemento intermediário (memória, lembrança, atenção, ajuda de alguém).
 
Os mediadores podem ser de dois tipos: instrumentos ou instrumentos físicos - elementos
externos, ações concretas. De acordo com Oliveira (1997), o instrumento é um elemento
interposto entre o trabalhador e o objeto de seu trabalho, ampliando as possibilidades de
transformação da natureza. O instrumento é feito ou buscado especialmente para certo
objetivo. Ele carrega consigo, portanto, a função para a qual foi criado e o modo de
utilização desenvolvido durante a história do trabalho coletivo. É, pois, um objeto social e
mediador da relação entre o indivíduo e o meio. Ex.: mão / machado.
 
Os signos ou instrumentos psicológicos são também mediadores, mas elementos internos,
ações mentais. De acordo com Oliveira (1997), os signos são orientados para o próprio
sujeito, para dentro do indivíduo; dirigem-se ao controle de ações psicológicas, seja do
próprio indivíduo, seja de outras pessoas. São ferramentas que auxiliam nos processos
psicológicos e não nas ações concretas, como os instrumentos. Ex.: a palavra “mesa”, o
número 3, a cartola na porta do banheiro masculino, contagem de varetas, fazer uma lista
compras, dar um nó em um lenço. O signo, portanto, é uma representação de um
pensamento e para ser compreendido requer uma interpretação do sujeito.
 
Dessa forma, o processo de mediação por meio de instrumentos e signos é fundamental para
o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, distinguindo o homem dos outros
animais. E a mediação é um processo essencial para tornar possíveis atividades psicológicas
voluntárias, intencionais, e controladas pelo próprio individuo.
 
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, observando os argumentos utilizados
pelos autores ao definirem o conceito de mediação simbólica na teoria de Vygotsky.
 
2) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Para realizar uma receita, Luís Felipe, mestre em gastronomia do Hotel Ceasar Park, utilizou
várias panelas (1), frigideiras (2) e um grande fogão industrial (3). Para medir os
ingredientes, utilizou colheres (4) que indicavam quantidades diferentes para efetuar os
cálculos. Com base no conceito de mediação utilizado por Vygotsky, é correto afirmar que:
a) Os elementos 1, 2 e 3 são instrumentos físicos e o elemento 4 é signo ou instrumento
psicológico.
b) Os elementos 1 e 2 são instrumentos e os elementos 3 e 4 são signos.
c) Apenas o elemento 4 é instrumento e os outros elementos 1, 2 e 3 são signos.
d) Na verdade, todos os elementos são instrumentos físicos que possibilitam ao cozinheiro
realizar a culinária.
e) Todos os elementos 1, 2, 3 e 4 são tanto instrumentos físicos como instrumentos
psicológicos porque possibilitam ao cozinheiro interagir com o meio em um nível superior de
qualidade.
 
Se você compreendeu adequadamente, assinalou a alternativa (A). As panelas (1),
frigideiras (2) e o grande fogão industrial (3) são instrumentos, elementos externos que
carregam consigo a função para a qual foi criado e o modo de utilização desenvolvido
durante a história do trabalho coletivo. É, pois, um objeto social e mediador da relação entre
o indivíduo e o meio; é um elemento interposto entre o trabalhador e o objeto de seu
trabalho, ampliando as possibilidades de transformação da natureza. As colheres (4) que
indicam quantidades diferentes para efetuar os cálculos são ferramentas que auxiliam nos
processos psicológicos e não nas ações concretas, como os instrumentos, é uma
representação de um pensamento e para ser compreendido requer uma interpretação do
sujeito.
 
3) Realize os exercícios deste módulo, anotando as dúvidas que surgirem durante a
resolução. Estas dúvidas devem ser motivo de novas pesquisas bibliográficas, na tentativa
de saná-las. Caso elas persistam, apresente-as ao professor, nas aulas presenciais.

Módulo 2
 
(A)Pensamento e linguagem.
 
Leitura Obrigatória:
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky. Aprendizado e Desenvolvimento um processo sócio-
histórico. 1ª ed. Coleção Pensamento e Ação na sala de aula. São Paulo: Scipione, 2010.

Leitura para Aprofundamento:


VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem.(Trad. Paul Bezerra). São
Paulo: Martins Fontes, 2001.
 
 
No início do desenvolvimento, pensamento e linguagem caminham separadamente:
Fase pré-verbal do pensamento - utilização de instrumentos, inteligência prática (criança pré-
verbal faz e não sabe explicar).
Fase pré-intelectual da linguagem - utilização da linguagem como alívio emocional e como
função social (criança pré-intelectual).
 
Aos dois anos, com o aparecimento da linguagem, o pensamento e a linguagem passam a
funcionar de maneira integrada, o pensamento se torna verbal e a linguagem racional. De
acordo com Vygotsky, é nesse momento que ocorre a transformação do sujeito puramente
biológico em um sujeito sócio-histórico: a mediação da linguagem irá possibilitar o
funcionamento das funções psicológicas (pensamento).
 
As funções básicas da linguagem são: intercâmbio social e pensamento generalizante.
O intercambio social é a construção de um sistema de linguagem criado pelo homem para
comunicar-se com seus semelhantes. Nas palavras de Oliveira (2010): “É a necessidade de
comunicação que impulsiona, inicialmente, o desenvolvimento da linguagem”.
 
A segunda função da linguagem é o pensamento generalizante que consiste no agrupamento
de todas as ocorrências de uma mesma classe de objetos, eventos, situações, sob uma
mesma categoria conceitual. Por exemplo: ao denominar um objeto de cachorro estou
classificando este objeto nesta categoria e diferenciando-o de outras categorias de objetos
(gatos, pássaros, carros, plantas, etc.). Essa função generalizante do pensamento que torna a
linguagem um instrumento do pensamento, pois será a linguagem que organizará o real e
possibilitará com isso a mediação de melhor qualidade do sujeito com o mundo a ser
conhecido.
 
Dessa forma, o sistema psicológico passa a ser mediado pela linguagem que no início é social,
e depois será organizado por um sistema interpsíquico que gradativamente vai sendo
internalizado, tornando-se, assim, uma linguagem individual (sistema intrapsíquico). Este é o
processo de internalização da linguagem descrito por Vygotsky:
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça as leituras indicadas, observando as bases que fundamentam os conceitos de
pensamento e linguagem na teoria de Vygotsky.
 
2) Levante informações por meios tradicionais ou eletrônicos sobre Chimpanzés em situação
de comunicação social e estabeleça uma comparação com a maneira de comunicação humana
e o processo de desenvolvimento do pensamento e da linguagem.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
A questão do desenvolvimento da linguagem e suas relações com o pensamento ocupa lugar
central na obra de Vygotsky uma vez que a linguagem é o sistema simbólico básico de todos
os grupos humanos. De acordo com isso, podemos afirmar que:
I. A linguagem possui duas funções básicas, o intercâmbio social e o pensamento
generalizante, fundamentais para compreensão do funcionamento psicológico.
II. O surgimento da linguagem como sistema de signo, é um momento crucial no
desenvolvimento ontogenético em que o biológico transforma-se em sócio-histórico.
III. Os chimpanzés utilizam instrumentos como mediadores para solução de problemas, sendo
esse modo de funcionamento intelectual dependente da sua linguagem e do estabelecimento
de signos internalizados.
Assinale a alternativa correta:
a) I e II estão corretas.
b) I e III estão corretas.
c) II e III estão corretas.
d) somente II está correta.
e) somente III está correta.
 
A alternativa correta é a (A). As afirmativas I e II estão corretas, porque apresentam as funções
da linguagem no desenvolvimento psicológico humano e a transformação do homem de
biológico em sócio-histórico quando passa a ter a mediação simbólica da linguagem. A
afirmativa III está errada, porque embora os chimpanzés utilizem instrumentos como
mediadores para solução de problemas o faz como uma espécie de inteligência prática que
independe da linguagem e do estabelecimento de signos internalizados.
 
 
(B)O significado das palavras.
 
Leitura Obrigatória:
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky. Aprendizado e Desenvolvimento um processo sócio-
histórico. 1ª ed. Coleção Pensamento e Ação na sala de aula. São Paulo: Scipione, 2010.

Leitura para Aprofundamento:


VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem.(Trad. Paul Bezerra). São
Paulo: Martins Fontes, 2001.
 
 
Quando Vygotsky apresenta suas ideias sobre o pensamento e a linguagem, a questão do
significado das palavras ocupa lugar fundamental para compreendermos esse processo. Nas
palavras de Oliveira (2010), o significado é o componente essencial da palavra e é também um
ato de pensamento, pois ao dar um significado para a palavra o sujeito realiza uma
generalização. Portanto, é no significado das palavras que o pensamento e a fala se unem em
pensamento verbal.
 
É na atribuição de significado para as palavras que se encontram as duas funções básicas da
linguagem, o intercambio social e o pensamento generalizante. Ao dizer ‘boneca’ estou dizendo
uma palavra que tem um significado que possibilita a comunicação entre as pessoas da mesma
língua e, ao mesmo tempo, define um modo de organização do mundo, por categorias de
pensamento desses objetos.
 
Sendo assim, são os significados que irão possibilitar a mediação simbólica do sujeito com o
mundo e as relações que com ele irá estabelecer. Para Vygotsky, a palavra sem significado é
um som vazio e não representa nada ao sujeito, portanto, não funciona como mediador.
 
O significado da palavra é construído socialmente e por isso sofre modificação ao longo do
tempo em função do contexto sócio-histórico que pertence. Da mesma forma a criança, na
aquisição da linguagem, passa pelo mesmo processo, no início o significado da palavra tem um
caráter individual e na interação verbal com adultos e crianças mais velhas vai ajustando este
significado aproximando-os dos conceitos do grupo cultural e linguístico a que pertence. Assim
sendo, o significado da palavra transforma-se ao longo do tempo, tornando-se cada vez mais
próximo dos conceitos estabelecidos pela cultura.
 
Vygotsky distingue dois aspectos do significado da palavra: o significado propriamente dito e o
sentido. O significado propriamente dito refere-se ao sistema de relações objetivas que se
formou no processo de desenvolvimento da palavra, consistindo num núcleo relativamente
estável de compreensão da palavra, compartilhado por todas as pessoas que a utilizam.
O sentido, por sua vez, refere-se ao significado da palavra para cada indivíduo, composto por
relações que dizem respeito ao contexto de uso da palavra e às vivencias afetivas do individuo.
(Oliveira, 2010:50)
 
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça as leituras indicadas, observando as bases que fundamentam teoricamente as ideias
de Vygotsky e que são apresentadas pelos autores.
 
2) Como foi estudado, o significado das palavras é construído socialmente e por isso sofre
modificação ao longo do tempo em função do contexto sócio-histórico que pertence. Pesquise
uma palavra em português que sofreu essa transformação no significado e leve para discutir
em aula com seu professor.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Para Vygotsky, o significado é um componente essencial das palavras. Leia atentamente a
seguinte situação e responda a questão: Uma criança pequena aprende a palavra au-au para
significar cachorro, mas ela aplica tal palavra para qualquer animal doméstico, porém não
aplica essa palavra para um cachorro da raça "fila", por que:
I. O sistema de generalização contido em uma palavra não se modifica ao longo do
desenvolvimento, assim, provavelmente ela acredita que sua palavra au-au contemple o
significado social desejado.
II. Através da intervenção social das crianças mais velhas e dos adultos, a criança da situação
acima tem a possibilidade de reajustar o significado da palavra au-au além de aprender outros
novos significados.
III. Ao tomar posse dos significados expressos pela linguagem a criança os aplica a seu
universo particular de conhecimentos sobre o mundo.
Assinale a alternativa correta:
a) I e II estão corretas.
b) I e III estão corretas.
c) II e III estão corretas.
d) somente II está correta.
e) somente III está correta.
 
A alternativa correta é a (C). II e III estão corretos, porque ao tomar posse dos significados
expressos pela linguagem, a criança os aplica a seu universo particular de conhecimentos
sobre o mundo (por exemplo, o Nescau é o leite quente que toma toda manhã e não o
reconhece como leite gelado com chocolate). Portanto, o sistema de generalização contido em
uma palavra se modifica ao longo do desenvolvimento, assim, embora ela acredite que sua
palavra au-au contemple o significado social desejado, será por meio da intervenção social das
crianças mais velhas e dos adultos, que ela irá reajustar o significado da palavra au-au além de
aprender outros novos significados para esta palavra.
 
 
(C)O discurso interior e a fala egocêntrica.
 
Leitura Obrigatória:
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky. Aprendizado e Desenvolvimento um processo sócio-
histórico. 1ª ed. Coleção Pensamento e Ação na sala de aula. São Paulo: Scipione, 2010.

Leitura para Aprofundamento:


VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem.(Trad. Paul Bezerra). São
Paulo: Martins Fontes, 2001.
 
O uso da linguagem como instrumento do pensamento pressupõe um processo de
internalização da linguagem que vai da atividade social (intrapsíquica) para a atividade
individual (intrapsíquica). Sendo assim, a criança inicialmente utiliza a linguagem como
comunicação social e com o passar do tempo passa a utilizá-la como ferramenta do
pensamento. Portanto, o processo de internalização do discurso ocorre em etapas e é gradual,
completando somente nas fases mais avançadas da aquisição da linguagem.
 
De acordo com Vygotsky, nesse processo de internalização a linguagem no início apresenta-se
como um mediador em forma de discurso socializado (função de comunicação e contato social)
e gradativamente vai sendo internalizada tornando-se também um discurso interior (diálogo
consigo mesmo por meio de um dialeto pessoal). Entre essas duas formas de expressão da
linguagem têm a fala egocêntrica (por volta dos 3 a 4 anos) ou discurso egocêntrico, no qual o
sujeito fala consigo mesmo em voz alta; não tem o objetivo de comunicação com o outro, mas
funciona como auxiliar do pensamento para o sujeito. À medida que a linguagem vai sendo
internalizado, o discurso egocêntrico vai desaparecendo e o sujeito passa a utilizar o discurso
interior como mediador do pensamento.
 
Concluindo, a trajetória da criança vai em direção dos processos socializados para os
processos internos, sendo a fala egocêntrica um procedimento de transição no qual o discurso
já tem a função que terá como discurso interior, mas ainda tem a forma da fala socializada,
externa. (Oliveira, 2010:52)
 
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, observando os argumentos utilizados pelos
autores ao definirem o processo de internalização da linguagem  na teoria de Vygotsky.
 
2) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Ana, Miguel, João e Cecília brincam e tagarelam dentro de um tanque de areia. Ana diz:
‘Ganhei uma bola de aniversário’. Miguel comenta: ‘Hoje eu vou ao Zoológico com meu pai.
Mas depois tenho que dormir’. João espera que Miguel termine de falar e então reclama em
voz alta: ‘Eu comi macarrão no almoço! Detesto macarrão! ’. Cecília, empurrando para um
canto do tanque uma grande quantidade de areia com os pés, afirma satisfeita: ‘Ficou
igualzinha à montanha do urso’. Para Vygotsky, que tipo de linguagem as crianças estão
realizando e como isso pode afetar seu desenvolvimento?
a) As crianças apresentam uma dificuldade de comunicação própria dessa idade, uma vez que
são muito egocêntricas e dependentes dos adultos.
b) As crianças apresentam um discurso interior, uma vez que nessa idade já houve
internalização dos signos e seus significados.
c) As crianças apresentam um discurso socializado, uma vez que já aprenderam a linguagem
materna e a utilizam como forma de comunicação.
d) As crianças utilizam uma fala egocêntrica como apoio ao planejamento de sequências a
serem seguidas, como auxiliar na solução de problemas.
e) As crianças apresentam fala egocêntrica, indicando a sua trajetória de processos internos
para processos socializados.
 
A alternativa correta é a (D). As crianças utilizam uma fala egocêntrica como apoio ao
planejamento de sequências a serem seguidas, como auxiliar na solução de problemas, sendo
esperado isso por volta dos 3 e 4 anos e utilizado como ferramenta de transição à
internalização da linguagem em um discurso interior.
 
 
3) Realize os exercícios deste módulo, anotando as dúvidas que surgirem durante a resolução.
Estas dúvidas devem ser motivo de novas pesquisas bibliográficas, na tentativa de saná-
las. Caso elas persistam, apresente-as ao professor, nas aulas presenciais.

Módulo 3
 
(A) Desenvolvimento e aprendizado.
 
Leitura Obrigatória:
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky. Aprendizado e Desenvolvimento um processo sócio-
histórico. 1ª ed. Coleção Pensamento e Ação na sala de aula. São Paulo: Scipione, 2010.

Leitura para Aprofundamento:


VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. (Trad. José Cipolla Neto; Luís Silveira
Menna Barreto; Solange Castro Afeche). São Paulo: Martins Fontes, 2007.
 
 
A preocupação de Vygotsky foi estudar a origem e o desenvolvimento dos processos
psicológicos ao longo da história da espécie humana e da história individual, adotando para
isso a abordagem psicogenética comum a outras teorias psicológicas.
 
No entanto, diferentemente desses outros autores (Piaget e Wallon) que apresentam teorias
genéticas do desenvolvimento psicológico, completas e articuladas, Vygotsky não chegou a
formular uma concepção estruturada do desenvolvimento humano, com a descrição das
características e do percurso do ser humano do nascimento até a vida adulta. Sua obra
apresenta reflexões e dados de pesquisa sobre vários aspectos do desenvolvimento, que
permitem compreender como esse processo ocorre e de que maneira epistemológica
compreende o conhecimento no homem.
 
Nesse sentido, afirma que o desenvolvimento é determinado pelos processos de aprendizado
pelos quais o sujeito passa ao longo da vida. Embora não negue a importância do processo
de maturação do organismo individual, afirma que é o aprendizado que possibilita o
despertar destes processos internos de desenvolvimento, que se não fosse o contato do
indivíduo com o ambiente, não ocorreriam.
 
Nesse sentido, para Vygotsky a aprendizagem é um processo de conhecimento individual e
o aprendizado é resultado da mediação, portanto, das relações do sujeito em seu ambiente
sociocultural, fundamental no processo de internalização do conhecimento pelo sujeito. Esta
é a importância que Vygotsky atribui ao papel do outro no desenvolvimento psicológico,
fundamentada pelo conceito de zona de desenvolvimento proximal.
 
Com isso Vygotsky afirma que há dois níveis de desenvolvimento que ocorrem de maneira
simultânea durante toda a vida psicológica do sujeito.
 
Onível de desenvolvimento realsem ajuda do outro. Por exemplo: uma criança de 5 anos
sabe andar, alimentar-se sozinha, tomar banho. consiste nos conhecimentos já construídos
pelo sujeito, o que ele consegue fazer sozinho,
 
O nível de desenvolvimento potencial é o nível onde estão os conhecimentos que o sujeito
ainda não construiu e que, portanto, ele precisa da ajuda do outro para realizá-los. Por
exemplo: uma criança de cinco anos precisa de alguém para ler e escrever para ela, nadar
em uma piscina, andar de patins. Nesse sentido, precisa de alguém para ensiná-la a fazer
essas coisas, pois são conhecimentos ainda não internalizados.
 
Entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial, há a zona de
desenvolvimento proximal, que consiste no espaço entre os dois níveis, onde atuam os
mediadores como desencadeadores de processos de aprendizado.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça as leituras indicadas, observando as bases que fundamentam os conceitos de
desenvolvimento e aprendizado na teoria de Vygotsky.
 
2) Segundo Vygotsky o desenvolvimento fica impedido de ocorrer na falta de situações
propicias ao aprendizado. Nesse sentido, o ser humano cresce num ambiente social e a
interação com outras pessoas é essencial ao seu desenvolvimento. Levante informações por
meios tradicionais ou eletrônicos sobre as diferenças dessas concepções na teoria de Piaget.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Vygotsky analisa a relação entre aprendizagem e desenvolvimento. O autor considera que a
melhor definição para esta relação é:     
a) Aprendizagem e desenvolvimento são processos independentes, que ocorrem em paralelo,
ou seja, a aprendizagem não participa ativamente do processo de desenvolvimento da
criança.
b) Aprendizagem e desenvolvimento são processos absolutamente dependentes, isto é,
aprendizagem é desenvolvimento.
c) Aprendizagem e desenvolvimento são processos ora dependentes, ora independentes, o
que implica uma teoria dualista de desenvolvimento infantil.
d) O processo de desenvolvimento é posterior ao processo de aprendizagem, não havendo
qualquer relação desses processos com a zona de desenvolvimento proximal da criança.
e) O processo de desenvolvimento não coincide com o processo de aprendizagem; o
processo de desenvolvimento segue o processo de aprendizagem criando a zona de
desenvolvimento proximal.
 
 
Se você compreendeu adequadamente as bases teóricas da teoria de Vygotsky, assinalou a
alternativa (E). O processo de desenvolvimento não coincide com o processo de
aprendizagem, porque para este autor o aprendizado antecipa-se ao desenvolvimento; o
processo de desenvolvimento segue o processo de aprendizagem criando a zona de
desenvolvimento proximal, onde atuam os mediadores possibilitando que o conhecimento em
nível potencial seja internalizado em nível real.
 
(B) O conceito de zona de desenvolvimento proximal.
 
Leitura Obrigatória:
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky. Aprendizado e Desenvolvimento um processo sócio-
histórico. 1ª ed. Coleção Pensamento e Ação na sala de aula. São Paulo: Scipione, 2010.

Leitura para Aprofundamento:


VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. (Trad. José Cipolla Neto; Luís Silveira
Menna Barreto; Solange Castro Afeche). São Paulo: Martins Fontes, 2007.
 
 
De acordo com Oliveira (2010:59), a possibilidade de alteração no desempenho de uma
pessoa pela interferência de outra é fundamental na teoria de Vygotsky, levando-se em
consideração as condições do sujeito em se beneficiar (ou não) dessa mediação.
 
Sendo assim, Vygotsky salienta a importância da interação social no processo de construção
das funções psicológicas superiores. Em outras palavras, o desenvolvimento individual ocorre
na relação com o outro em um ambiente social determinado, sendo o mesmo fundamental
para a construção deste ser psicológico individual.
 
Nesse sentido, o conceito de zona de desenvolvimento proximal assume um papel de
relevância em sua teoria. Vygotsky define ZDP como sendo a distancia entre o nível de
desenvolvimento real (solução independente de problemas) e o nível de desenvolvimento
potencial (solução de problemas com auxilio); é o caminho que o sujeito irá percorrer no
processo de internalização do conhecimento com auxílio dos mediadores que irão atuar neste
espaço.
 
A ZDP é um domínio psicológico em constante transformação, pois o que em um momento o
sujeito precisa de ajuda de mediadores para realizar, amanhã já conseguirá fazer sozinho,
pois já foi internalizado e está em nível real.
 
Nas palavras de Oliveira (2010:60): Interferindo constantemente na ZDP das crianças, os
adultos e as crianças mais experientes contribuem para movimentar os processos de
desenvolvimento dos membros imaturos da cultura.
 
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça as leituras indicadas, observando as bases que fundamentam teoricamente a ideia
de Vygotsky sobre o conceito de zona de desenvolvimento proximal.
 
2) A partir da leitura, procure definir zona de desenvolvimento proximal. Confronte se sua
definição se afina com a proposta de Vygotsky, de que a medição do outro é fundamental na
construção psicológica do sujeito.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Zona de desenvolvimento proximal é um conceito fundamental na teoria de Vygotsky e foi
definida por esse teórico como sendo a distância entre o que uma criança pode realizar...
a) No momento atual e o que poderá realizar quando atingir a maturidade.
b) Sem estímulos e o que poderá realizar se for adequadamente motivada por seus pais e/ou
professores.
c) Naturalmente e o que poderá realizar se for submetida a um programa específico de
recuperação.
d) Sozinha e o que poderá realizar com o auxílio de um adulto ou de um companheiro mais
capaz.
d) Antes de ingressar na escola e o que poderá realizar após sofrer as influências do
processo de escolarização.
 
Se você compreendeu adequadamente o processo de desenvolvimento e aprendizado
propostos por Vygotsky, assinalou a alternativa (D). Zona de desenvolvimento proximal é
um conceito fundamental na teoria de Vygotsky e foi definida por esse teórico como sendo a
distância entre o que uma criança pode realizar sozinha (nível de desenvolvimento real) e o
que poderá realizar com o auxílio de um adulto ou de um companheiro mais capaz (nível de
desenvolvimento potencial).
 
 
(C) O papel da intervenção pedagógica no desenvolvimento.
 
Leitura Obrigatória:
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky. Aprendizado e Desenvolvimento um processo sócio-
histórico. 1ª ed. Coleção Pensamento e Ação na sala de aula. São Paulo: Scipione, 2010.

Leitura para Aprofundamento:


VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. (Trad. José Cipolla Neto; Luís Silveira
Menna Barreto; Solange Castro Afeche). São Paulo: Martins Fontes, 2007.
 
 
Se para Vygotsky o conceito de zona de desenvolvimento proximal é fundamental no
processo de desenvolvimento das funções psicológicas superiores, podemos depreender o
significado da escola nessa teoria. Ao afirmar que é na ZDP que a interferência de outros
indivíduos é a mais transformadora, chama a atenção para o papel da mediação da escola
nesse processo, indicando inclusive o momento ideal para ocorrer esta atuação.
 
Se o sujeito já tem um conhecimento em nível real e, portanto, internalizado, não há
necessidade de uma medição na ZDP desse sujeito, pois ensinar o que já se sabe não tem
significado para o processo de desenvolvimento psicológico. Ao mesmo tempo,
conhecimentos ainda não possíveis de serem reconhecidos pelo sujeito podem também não
serem reconhecidos como mediadores nesse processo (ensinar uma criança de um ano a
amarrar o sapato, mesmo com ajuda).
 
Sendo assim, somente se beneficia do auxilio na tarefa (mediação) o sujeito que ainda não
aprendeu, mas que possui um processo de desenvolvimento para essa habilidade ou
aprendizagem. Nesse sentido, é fundamental a compreensão do professor em relação a isso
e a implicação de sua atuação, em escolher os mediadores que irão beneficiar o processo de
desenvolvimento e aprendizado do sujeito.
 
A escola, portanto, tem um papel muito importante como mediadora, atuando na zona de
desenvolvimento proximal do aluno, pois por meio da interação com o professor, com os
colegas e o contato com diferentes signos, conhecimentos em nível potencial são
internalizados e tornam-se conhecimentos em nível real.
 
Concluindo, o professor tem o papel explícito de intervir na ZDP dos alunos, provocando
avanços que não ocorreriam espontaneamente, pois segundo Vygotsky o único bom ensino é
aquele que se adianta ao desenvolvimento.
 
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, observando os argumentos utilizados
pelos autores ao definirem o papel da escola como mediadora do processo de
desenvolvimento das funções psicológicas superiores.
 
2) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Ao entrar na escola duas crianças apresentam idade cronológica de sete anos e idade mental
de oito anos, verificada através de um teste de inteligência. Após a testagem, as crianças
foram trabalhadas, em grupos de alunos mais experientes e pela professora, em tarefas que
a princípio não conseguiam fazer sozinhas. Este trabalho foi realizado durante algumas
semanas com várias atividades diferentes, por meio de demonstração geral, de soluções
iniciadas pela professora e concluídas pelos alunos ou por meio do fornecimento de pistas.
Uma nova testagem foi realizada, sendo que a primeira criança demonstrou idade mental de
oito anos e três meses, enquanto a segunda, nove anos.
Por meio de qual conceito da teoria de Vygotsky a atuação da professora e dos colegas pode
ser explicada?
a) Desenvolvimento real
b) Zona de desenvolvimento proximal
c) Linguagem egocêntrica
d) Hereditariedade
e) Discurso Socializado
 
A alternativa correta é a (B). A profa e os colegas mais experientes atuaram na zona de
desenvolvimento proximal dos alunos que, por isso, puderam internalizar as informações e
tornar os conhecimentos de nível potencial em conhecimentos em nível real.
 
 
3) Realize os exercícios deste módulo, anotando as dúvidas que surgirem durante a
resolução. Estas dúvidas devem ser motivo de novas pesquisas bibliográficas, na tentativa
de saná-las. Caso elas persistam, apresente-as ao professor, nas aulas presenciais.

Módulo 4:
 
(A) Brinquedo e desenvolvimento.
 
Leitura Obrigatória:
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky. Aprendizado e Desenvolvimento um processo sócio-
histórico. 1ª ed. Coleção Pensamento e Ação na sala de aula. São Paulo: Scipione, 2010.

Leitura para Aprofundamento:


VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. (Trad. José Cipolla Neto; Luís Silveira
Menna Barreto; Solange Castro Afeche). São Paulo: Martins Fontes, 2007.
 
 
Além da escola, Vygotsky afirma que o brinquedo e o jogo simbólico também são
importantes no desenvolvimento psicológico do sujeito, pois atuam como mediadores e
favorecem o desenvolvimento das funções psicológicas superiores.
 
O brinquedo e a situação de brincadeira, aparentemente sem um papel importante no
desenvolvimento, possibilita a criação de uma zona de desenvolvimento proximal na criança,
uma vez que é levada a imaginar e vivenciar uma situação muitas vezes impossível de ser
experimentada concretamente.
 
Por isso Vygotsky refere-se especialmente ao jogo de faz de conta (simbólico) como brincar
de casinha, escolinha, etc., em que a criança utiliza a representação simbólica, liberando o
funcionamento psicológico das experiências concretas. Sendo assim, numa situação
imaginária como a brincadeira de faz de conta, a criança é levada a agir em um mundo de
fantasia, portanto, imaginário, onde a situação é definida pelo significado estabelecido pela
brincadeira - ônibus, motorista, passageiros - e não pelos elementos reais concretamente
presentes – cadeiras da sala onde está brincando de ônibus. (Oliveira, 2010:66)
 
Ao brincar com a boneca a criança se relaciona com o significado e não com o objeto
concreto. O brinquedo provê, assim, uma situação de transição entre a ação da criança com
objetos concretos e suas ações com significados. (Oliveira, 2010:66)
 
Além disso, a brincadeira e o brinquedo são organizados em um sistema de regras e são
justamente essas regras que permitem a criança se comportar de forma mais avançada do
que aquela correspondente à sua idade: ao brincar de escolinha assume o papel de
professora e para isso tem que utilizar o modelo de professora que conhece e extrair dele um
significado geral e abstrato de professora. E também precisa brincar conforme as regras e
desempenhar o papel desta profissional, o que a impulsiona para além de seu
comportamento como criança.
 
Concluindo, no brinquedo a criança comporta-se de forma mais avançada do que nas
atividades da vida real e também aprende a separar o objeto do significado. (...) Sendo
assim, a promoção de atividades que favoreçam o envolvimento da criança em brincadeiras,
principalmente aquelas que promovem a criação de situações imaginárias, tem nítida função
pedagógica. (Oliveira, 2010:67)
 
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça as leituras indicadas observando os argumentos utilizados pelos autores sobre o
papel do brinquedo no funcionamento psicológico na teoria de Vygotsky.
 
2) Por meio de filmes, aniversários ou situações livres em shoppings e parques, observe
crianças em atividades de jogo simbólico e procure identificar os conceitos vygotskianos
estudados neste tópico.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Uma menina está brincando de casinha. Uma caixa de sapatos emborcada faz às vezes de
fogão. Cozinha em cima da caixa, usando suas panelas: um cinzeiro, uma pequena vasilha e
uma tampa de garrafa. Num dado momento, muda a posição da caixa, põe dentro dela sua
boneca e canta para que a boneca durma.
De acordo com a teoria do desenvolvimento de Lev Vygotsky, como podemos analisar o
comportamento dessa menina?
a) Numa situação imaginária, a criança utiliza diferentes símbolos que possibilitam a criação
de situações irreais, nunca vivenciadas por ela antes.
b) Ao brincar com a caixa de sapato como se fosse fogão, a criança se relaciona com o
significado em questão e não com o objeto concreto que tem em suas mãos.
c) As regras das brincadeiras não permitem que a criança se comporte de maneira mais
avançada do que a habitual para sua idade.
d) Para brincar conforme as regras, a criança não tem que se esforçar para exibir um
comportamento semelhante ao da mãe, permitindo que continue criança cumprindo as
etapas do desenvolvimento.
e) De forma nenhuma, no jogo simbólico, a criança comporta-se de forma mais avançada do
que nas atividades da vida real e também não aprende a separar o objeto de seu significado.
 
A alternativa correta é a (B). Na brincadeira a criança comporta-se de forma mais avançada
do que nas atividades da vida real e também aprende a separar o objeto do significado,
possibilitando o desenvolvimento das funções psicológicas superiores.
 
 
(B) A evolução da escrita na criança.
 
Leitura Obrigatória:
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky. Aprendizado e Desenvolvimento um processo sócio-
histórico. 1ª ed. Coleção Pensamento e Ação na sala de aula. São Paulo: Scipione, 2010.

Leitura para Aprofundamento:


VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. (Trad. José Cipolla Neto; Luís Silveira
Menna Barreto; Solange Castro Afeche). São Paulo: Martins Fontes, 2007.
 
 
Os estudos de Vygotsky sobre a evolução da escrita são muito contemporâneos e partem da
concepção de que é um sistema simbólico de representação da realidade, assumindo junto
com outros conceitos (linguagem, mediação simbólica) papel central em sua teoria.
 
Para Vygotsky a escrita apenas pode ser investigada por meio de uma abordagem genética
que inicia muito antes da criança entrar na escola e se estende por muitos anos depois, por
isso, afirma a importância de se estudar a pré-história da linguagem escrita. (Oliveira,
2010:68)
 
A fim de conhecer esse processo, Vygotsky e Luria, solicitaram a crianças que não sabiam ler
e escrever que memorizassem uma série de sentenças ditadas por eles. Como não
conseguiam se lembrar das sentenças faladas, foi sugerido que ‘escrevessem’ as sentenças
como auxílio da memória. As estratégias utilizadas pelas crianças permitiu que
identificassem um percurso para a pré-história da escrita.
 
Rabiscos Mecânicos é a imitação do formato da escrita do adulto e para isso a criança utiliza
como forma de representação cobrinhas.
Marcas Topográficas é a distribuição dos registros no espaço do papel, possibilitando a
lembrança pelo local marcado.
Representações Pictográficas são desenhos estilizados usados como forma de escrita.
Escritas Simbólicas é o momento em que a criança passa a inventar formas para representar
informações difíceis de serem desenhadas, surgindo assim os signos que não
necessariamente tem uma relação lógica com os objetos e situações representadas. Será a
partir daqui que irá aprender a língua escrita propriamente dita.
 
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça as leituras indicadas, observando o conceito vygotskiano sobre o processo de pré-
história da linguagem escrita.
 
2) Levante informações por meios tradicionais ou eletrônicos sobre as relações entre os
estudos sobre o desenvolvimento da escrita em Vygotsky e Emília Ferreiro.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
A questão da evolução da escrita na criança é bastante importante no conjunto das
colocações de Vygotsky sobre desenvolvimento e aprendizado, por duas razões: suas ideias
sobre esse tema são contemporâneas e porque sua concepção sobre a escrita está
estreitamente associada a questões centrais de sua teoria. Dessa forma, constitui-se a ‘pré-
história da linguagem escrita’ as seguintes fases:
a) Representações pictográficas, rabiscos mecânicos, palavras e escrita simbólica.
b) Rabiscos, garatujas, letras, sílabas e palavras.
c) Rabiscos mecânicos, marcas topográficas, representações pictográficas e escrita simbólica.
d) Escrita simbólica, garatujas, rabiscos mecânicos, primeiras letras, frases simples.
e) Rabiscos mecânicos, representações pictográficas, marcas topográficas e escrita
simbólica.
 
Se você compreendeu adequadamente a ‘pré-história da linguagem escrita’ assinalou a
alternativa (C), que apresenta os momentos desta psicogênese.
 
 
(C) A mediação da percepção, atenção e memória.
 
Leitura Obrigatória:
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky. Aprendizado e Desenvolvimento um processo sócio-
histórico. 1ª ed. Coleção Pensamento e Ação na sala de aula. São Paulo: Scipione, 2010.

Leitura para Aprofundamento:


VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. (Trad. José Cipolla Neto; Luís Silveira
Menna Barreto; Solange Castro Afeche). São Paulo: Martins Fontes, 2007.
 
 
Os estudos de Vygotsky sobre a gênese, função e estrutura dos processos psicológicos
superiores em uma perspectiva interdependente do desenvolvimento e aprendizagem, levou-
o a compreender os mecanismos mais simples (funções psicológicas elementares) e os mais
sofisticados (funções psicológicas superiores) no funcionamento psicológico.
 
Em função disso, estudou temas clássicos da psicologia, como a percepção, atenção e
memória e as implicações no funcionamento psicológico.
 
A mediação simbólica e a origem sociocultural dos processos psicológicos superiores são
fundamentais para explicar o funcionamento da percepção. O bebe nasce com características
do sistema sensorial humano, mas pela internalização da linguagem, pelos conceitos e
significados culturalmente desenvolvidos, transforma a percepção de uma relação direta
entre o individuo e o meio, para uma relação mediada por conteúdos culturais. (Oliveira,
2010:73)
 
Sendo assim, nossa relação perceptual com o mundo não se dá em termos de atributos
físicos isolados, mas em termos de objetos, eventos e situações rotulados pela linguagem e
categorizados pela cultura. (Oliveira, 2010:74)
 
Dessa forma, há uma interpretação dos dados perceptuais a partir do conhecimento de
mundo, uma percepção do objeto como um todo, uma realidade completa, articulada e não
simplesmente um conjunto de informações sensoriais.
 
A atenção segue também o mesmo principio. O homem nasce com uma bagagem inata que
gradativamente vai sendo submetida a processos conscientes em grande parte pela
mediação simbólica. Ao longo do desenvolvimento, o sujeito passa a ser capaz de dirigir
voluntariamente sua atenção para elementos do ambiente que ele tenha definido como
relevante.
 
Em relação à memoria Vygotsky apresenta uma distinção: memoria natural, aquela não
mediada e a memoria mediada por signos. A memoria não mediada assim como a percepção
sensorial e a atenção involuntária é mais elementar, presente nas determinações inatas da
espécie humana. A memoria mediada é a ação voluntária do sujeito em utilizá-la como
mediadora para lembrar-se de conteúdos específicos.
 
Portanto, as funções psicológicas superiores, típicas do ser humano, são, por um lado,
apoiadas nas características biológicas da espécie humana (funções psicológicas
elementares) e, por outro lado, construídas ao longo de sua historia social. (Oliveira,
2010:78)
 
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, observando os argumentos utilizados
pelos autores ao definirem a percepção, atenção e memoria como mediadores do processo
de desenvolvimento das funções psicológicas superiores.
 
2) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Um indivíduo está caminhando por uma longa rua, procurando uma farmácia onde já esteve
uma vez. Vai olhando todos os edifícios, dos dois lados da rua, mas sua atenção está
deliberadamente focalizada na busca de uma determinada farmácia. Isto é, não é qualquer
edifício na rua que chama sua atenção: as casas, lojas e prédios é uma espécie de ‘pano de
fundo’, no qual vai se destacar a farmácia que está sendo intencionalmente procurada.  (In:
Vygotsky; Aprendizado e Desenvolvimento, um processo sócio histórico, p.77).
 
Neste fragmento, como podemos identificar a integração entre percepção, memória e
atenção?
 
a) Somente com a mediação de outro sujeito é que esse indivíduo irá encontrar a farmácia,
pois será com sua mediação que terá condições de utilizar a memória, atenção e percepção,
todas em nível de desenvolvimento potencial no sujeito.
b) Mesmo utilizando a memória, o sujeito terá dificuldade para encontrar a farmácia, pois
sua percepção e atenção estão em nível de desenvolvimento potencial.
c) Para encontrar a farmácia, o sujeito somente pode contar com a mediação da memória
que atua em sua zona desenvolvimento proximal. A percepção e a atenção dependem dessa
mediação.
d) O conhecimento anterior, muitas vezes, não permite que a atenção e a memória sejam
dirigidas pela percepção e auxiliem o sujeito a encontrar o que está procurando. Isso porque
depende de níveis de desenvolvimento.
e) O conhecimento anterior, já construído, dirige a atenção e a memória do sujeito,
orientando sua percepção e facilitando a realização da tarefa.
 
A alternativa correta é a (E). O conhecimento anterior, já construído, dirige a atenção e a
memória do sujeito, orientando sua percepção e facilitando a realização da tarefa.
 
 
3) Realize os exercícios deste módulo, anotando as dúvidas que surgirem durante a
resolução. Estas dúvidas devem ser motivo de novas pesquisas bibliográficas, na tentativa
de saná-las. Caso elas persistam, apresente-as ao professor, nas aulas presenciais.
 

Módulo 5:
 
Henri Wallon: vida e obra.
 
Leitura Obrigatória:
MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. (org.) Henri Wallon. Psicologia e Educação. São Paulo:
Loyola, 2000.

Leitura para Aprofundamento:


WALLON, H. (1941) A evolução psicológica da criança. (Trad. Claudia Berliner) São
Paulo: Martins Fontes, 2007.
 
 
Henri Wallon estudou o desenvolvimento da criança e a seguir é apresentada uma síntese de
sua história e os principais fatos que marcaram a construção de sua obra.
 
1879 – Nasceu em Paris, França, em 1879. Estudou medicina (psiquiatria), filosofia e
psicologia. Membro de uma família de tradição universitária humanista, seu avô foi um
grande historiador, discípulo de Michelet, introduziu a palavra “república” na Constituição de
1875. Jules Michelet (1798-1874) nasceu pouco após a Revolução Francesa, fato que
marcou a transição da Idade Média para a Modernidade. Michelet tornou-se conhecido como
o primeiro historiador a afirmar que não eram as grandes personalidades, e sim as massas, o
único agente de transformação histórica.
1902 – Com 23 anos, formou-se em filosofia pela Escola Normal Superior.
1908 – Formou-se em medicina. Viveu num período marcado por instabilidade social e
turbulência política. As duas guerras mundiais (1914-18 e 1939-45), o avanço do fascismo
no período entre guerras, as revoluções socialistas e as guerras para libertação das colônias
na África atingiam a Europa, em especial, a França. Crises sociais e instabilidades políticas
foram fundamentais para Wallon construir sua teoria pedagógica, pois serviram de estímulo
para que ele organizasse suas ideias. Isso explica, em parte, a visão marxista que deu à sua
obra e por que aderiu, no período anterior à Primeira Guerra, aos movimentos de esquerda e
ao Partido Socialista.
1914 – Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), atuou como médico no exército
francês, ajudando a cuidar de pessoas com distúrbios psiquiátricos. Ao lidar constantemente
com ex-combatentes portadores de lesões cerebrais, reviu posições neurológicas que havia
desenvolvido no trabalho com crianças deficientes.
1925 - Funda o Laboratório de Psicobiologia da Criança, destinado à pesquisa e ao
atendimento de deficientes. Localizado perto de uma escola da periferia, dava acesso ao
contexto social da criança. Publica sua tese de doutorado: A criança turbulenta. Inicia um
período de intensa produção com livros voltados para a psicologia da criança.
1929 – É encarregado de conferências sobre a psicologia da criança como professor na
Universidade de Sorbonne e em outras instituições de ensino superior.
1931 – Atuou como médico em instituições psiquiátricas e, nesse período, consolida-se seu
interesse pela psicologia da criança. Viaja para Moscou e é convidado para integrar o Círculo
da Rússia Nova, grupo formado por intelectuais que se reuniam com o objetivo de
aprofundarem o estudo do materialismo dialético e de examinarem as possibilidades
oferecidas por este referencial aos vários campos da ciência. Neste grupo, o marxismo que
se discutia não era o sistema de governo, mas a corrente filosófica.
1935 – Viaja para o Brasil.
1937 a 1949 – Lecionou psicologia e educação no Colégio de França (berço da psicologia
francesa). Integrou a Sociedade Francesa de Pedagogia (1937 a 1962).
1939 a 1945 – França é ocupada pelos alemães (2ª Guerra Mundial). Atuou na resistência
francesa, foi perseguido pela Gestapo (polícia nazista), viveu clandestinamente. Escreveu o
livro Origens do pensamento na criança.
1944 / 1946 – Integra a Comissão do Ministério da Educação Nacional para reformulação
do sistema de ensino francês. Torna-se vice-presidente do Grupo Francês de Educação Nova
(1946 a 1962) — instituição que ajudou a revolucionar o sistema de ensino daquele país e da
qual foi presidente de 1946 até sua morte. Considerava uma relação recíproca entre
psicologia e educação. Criticou o ensino tradicional, participando do Movimento da Escola
Nova. “Reprovar é sinônimo de expulsar, negar, excluir. É a própria negação do ensino”.
(Wallon, 2007)
 
Juntamente com o físico Langevin, coordenou a reforma do ensino francês, chamada Projeto
Langevin-Wallon (série de propostas similares à nossa Lei de Diretrizes e Bases), tendo em
vista toda uma mudança no sistema educacional francês. Uma das propostas do projeto, por
exemplo, é a de que nenhum aluno deve ser reprovado numa avaliação escolar. “É a cultura
e a linguagem que fornecem ao pensamento os instrumentos para sua evolução.” (Wallon,
2007).
 
1948 – Cria e lança a revista ENFANCE. Este é um periódico que ainda hoje é utilizado como
fonte de pesquisa por pesquisadores em psicologia do desenvolvimento. Ao longo de toda a
vida, dedicou-se a conhecer a infância e os caminhos da inteligência nas crianças e, de
acordo com seus pressupostos, o meio exerce influência fundamental sobre o
desenvolvimento da pessoa humana, considerando o alimento cultural.
1962 – Morre em Paris, França, em 1962, aos 83 anos.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça as leituras indicadas sobre a vida e a obra de Wallon e analise como o contexto
sócio-histórico em que viveu influenciou a sua compreensão sobre o desenvolvimento da
criança.
 
2) Assista ao DVD “Henri Wallon” - Coleção Grandes Educadores (2006).
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Leia o fragmento seguir e responda a questão:
Falar que a escola deve proporcionar formação integral (intelectual, afetiva e social) às
crianças é comum hoje em dia. No início do século passado, porém, essa ideia foi uma
verdadeira revolução no ensino. Uma revolução comandada por um médico, psicólogo e
filósofo francês chamado Henri Wallon (1879-1962). Sua teoria pedagógica, que diz que o
desenvolvimento intelectual envolve muito mais do que um simples cérebro, abalou as
convicções numa época em que memória e erudição eram o máximo em termos de
construção do conhecimento.
http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/educador-integral-
423298.shtml
 
A marca essencial, o princípio organizador da teoria walloniana é a integração – a pessoa
inteira (afetivo, cognitivo e motor) e em transformação. Foram condições que podem ser
consideradas como necessárias para a construção da referida teoria:
I. Wallon participou ativamente nas duas guerras mundiais, na primeira, como médico e, na
segunda, dentro do movimento de Resistência, e ambas as atuações permitiram-lhe a
observação de lesões orgânicas e seus desdobramentos psicológicos.
II. Wallon identificou os princípios reguladores do processo de desenvolvimento por meio de
testes de inteligência com crianças normais, e como Vygotsky, não identificou estágios
desenvolvimentais.
III. O materialismo dialético sugeriu a Wallon, considerar as condições orgânicas e sociais,
numa dada cultura e época, para definir as possibilidades e limites do processo de
desenvolvimento.
Assinale a alternativa correta:
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) I e III, apenas.
e) I, II e III.
 
A alternativa correta é a (D).Apenas I e III estão corretas. A afirmativa II está errada porque
Wallon não aplicou testes de inteligência e identificou cinco estágios de desenvolvimento.
 
 
Método de pesquisa: análise genética comparativa multidimensional.
 
Leitura Obrigatória:
MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. (org.) Henri Wallon. Psicologia e Educação. São Paulo:
Loyola, 2000.

Leitura para Aprofundamento:


WALLON, H. (1941) A evolução psicológica da criança. (Trad. Claudia Berliner) São
Paulo: Martins Fontes, 2007.
 
Para realizar os estudos sobre o desenvolvimento infantil, Wallon utilizou um método de
análise, tendo como base a psicologia genética, pois considerava que esta referencia era a
mais adequada para estudar os processos pelos quais a criança passa da infância à idade
adulta.
 
Assim sendo, com base na psicologia genética e no materialismo histórico, elaborou um
método próprio para realizar as investigações psicológicas: a análise genética comparativa
multidimensional, que consiste em realizar diferentes comparações para compreender
adequadamente o desenvolvimento humano. Sendo assim, compara a criança com
patologias com a criança normal, a criança normal com o adulto normal adulto de hoje com
civilizações primitivas; as crianças normais da mesma idade e idades diferentes; a criança
com o animal. Ao fazer essas comparações Wallon analisa o desenvolvimento em suas várias
determinações, orgânicas, neurofisiológicas, sociais e as relações entre esses fatores.
 
Assim sendo, destaca dois grandes pressupostos:
- A pessoa está continuamente em desenvolvimento.
- Em cada instante desse processo a pessoa é uma totalidade, um conjunto resultante da
integração dos conjuntos motor, afetivo e cognitivo.
 
Assim sendo, o desenvolvimento humano é resultado das relações entre as dimensões
motor, afetivo, cognitivo e os fatores determinantes – orgânicos e sociais.
 
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça as leituras indicadas, observando as bases que fundamentam teoricamente as ideias
de Wallon e que são apresentadas pelos autores.
 
2) Levante informações por meios tradicionais ou eletrônicos sobre os casos de crianças que
se perderam muito jovens de suas famílias e viveram na floresta sem o contato com os
humanos na companhia de animais. Você já fez uma analise da origem do conhecimento
dessas crianças a partir das concepções psicológicas da teoria de Vygotsky, agora faça o
mesmo a partir de Wallon.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Sobre o método de análise de Wallon podemos afirmar:
I. O método elaborado por Wallon foi o método clínico crítico.
II. O método de Wallon é multidimensional porque analisa o fenômeno em suas várias
determinações: orgânicas, neurofisiológicas, sociais e a relação entre esses fatores.
III. O único conhecimento possível é o do fenômeno fragmentado em cada uma das suas
unidades e estudado exaustivamente em suas particularidades.
Assinale a alternativa correta:
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) I e III, apenas.
e) I, II e III.
 
A alternativa correta é a (B).O método de Wallon é multidimensional porque analisa o
fenômeno em suas várias determinações: orgânicas, neurofisiológicas, sociais e a relação
entre esses fatores.
 
 
Principais conceitos da teoria de Wallon.
 
Leitura Obrigatória:
MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. (org.) Henri Wallon. Psicologia e Educação. São Paulo:
Loyola, 2000.

Leitura para Aprofundamento:


WALLON, H. (1941) A evolução psicológica da criança. (Trad. Claudia Berliner) São
Paulo: Martins Fontes, 2007.
 
O desenvolvimento psicológico é dividido em estágios (não rígidos, mas contínuos, marcado
por rupturas, retrocessos e reviravoltas) inicialmente biológicos, depois sociais. Não é
possível definir um limite terminal para o desenvolvimento da inteligência, pois isso depende
das condições oferecidas pelo meio. Os estágios do desenvolvimento segundo Wallon são:
impulsivo-emocional (0 a 1 ano); sensório-motor e projetivo (1 a 3 anos); personalismo (3 a
6 anos);    categorial (6 a 11 anos); puberdade e adolescência (11 anos em diante).
 
De acordo com Wallon, o desenvolvimento infantil é dinâmico – não há linearidade. Os
fatores orgânicos (biológicos) determinam a sequência fixa dos estágios do desenvolvimento,
que se tornam flexíveis pela influência dos fatores sociais (alimento cultural = linguagem e
conhecimento). Em outras palavras, a gênese da inteligência para Wallon é genética e
organicamente social. Nesse sentido, a teoria do desenvolvimento cognitivo é centrada na
psicogênese da pessoa completa, ou seja, em cada estágio temos uma pessoa inteira,
completa e em transformação constante, a partir das dimensões afetiva, cognitiva e motora.
(Mahoney, 2000)
 
O desenvolvimento é emocional (afetividade), cognitivo (inteligência) e motor (movimento),
determinado por fatores orgânicos e sociais. Assim, há sempre a predominância funcional de
uma dimensão do desenvolvimento em relação aos outros e em cada período, sendo que no
final há uma integração funcional. Portanto, o desenvolvimento é pontuado por crises ou
conflitos chamados de fatores dinamogênicos, que podem ser de natureza endógena /
interna (maturação nervosa) e de natureza exógena / externa (cultural). A isso, Wallon
chamou de lei de alternância funcional: ora o conflito é interno ora é externo, constituindo-se
num motor propulsor ao desenvolvimento.
 
Períodos do desenvolvimento: Impulsivo emocional (0-1a); Personalismo (3-6a); Puberdade
e adolescência (11 anos).
- Fatores dinamogênicos è endógeno.
- Predominância funcional è afetivo (centrípeta).
 
Períodos do desenvolvimento: Sensório-motor e projetivo (1-3 a); Categorial (6-11a).
- Fatores dinamogênicos è exógeno.
- Predominância funcional è cognitivo (centrífuga).
 
No último estágio do desenvolvimento há a integração funcional em que não há mais a
predominância de uma dimensão do desenvolvimento em relação à outra. Caso isso não
aconteça, Wallon identifica uma série de problema, chamando de criança turbulenta.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados e monte um glossário dos principais
assuntos e conceitos tratados.
 
2) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Quanto ao princípio da alternância funcional, podemos afirmar que:
a) Predominância cognitiva ocorre no estágio do personalismo, categorial e da adolescência.
b) Predominância afetiva ocorre no estágio sensório-motor e projetivo e no categorial.
c) Predominância cognitiva ocorre no estágio impulsivo-emocional e da adolescência.
d) Predominância afetiva e cognitiva não se alterna nos estágios de desenvolvimento.
e) Predominância afetiva ocorre nos estágio impulsivo-emocional, do personalismo e da
adolescência.
 
A alternativa correta é a (E). Predominância afetiva ocorre nos estágio impulsivo-emocional,
do personalismo e da puberdade e adolescência. Predominância cognitiva ocorre nos estágios
sensório-motor e projetivo e no categorial.
 
 
3) Realize os exercícios deste módulo, anotando as dúvidas que surgirem durante a
resolução. Estas dúvidas devem ser motivo de novas pesquisas bibliográficas, na tentativa
de saná-las. Caso elas persistam, apresente-as ao professor, nas aulas presenciais.

Módulo 6:
 
Psicogênese da Pessoa Completa
 
Leitura Obrigatória:
MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. (org.) Henri Wallon. Psicologia e Educação. São Paulo:
Loyola, 2000.

Leitura para Aprofundamento:


GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento
infantil. 15ª. Edição. Petrópolis/RJ: Vozes, 202.
 
 
Assim como Piaget e Vygotsky, Henri Wallon buscou explicitar os fundamentos
epistemológicos, objetivos e métodos que embasaram sua compreensão sobre o
desenvolvimento humano, dialogando, para isso, com as principais correntes filosóficas do
pensamento ocidental e questionando as contradições da psicologia de sua época.
 
Nesse sentido, opõem-se as concepções reducionistas (a concepção idealista e a concepção
materialista mecanicista ou organicista) que limitam a compreensão do psiquismo humano a
um ou outro termo da dualidade (inato-adquirido).
 
Propõe, então, o materialismo dialético como a única abordagem que permite a superação
dos antagonismos que entravam a objetiva compreensão da realidade, na medida em que
permite a coordenação de pontos de vista diversos, compreendendo a contradição como
constitutiva do sujeito e do objeto.
 
Sendo assim, para Wallon, o estudo da realidade movediça e contraditória que é o homem e
seu psiquismo beneficia-se enormemente do recurso ao materialismo dialético, perspectiva
filosófica especialmente capaz de captar a realidade em suas permanentes mudanças e
transformações, adotando-o como método de análise e fundamento epistemológico de sua
teoria psicológica, uma psicologia dialética. (Galvão, 2002)
 
Atividades recomendadas:
 
1) Levante informações por meios tradicionais ou eletrônicos sobre a vida de Vygotsky e
reflita de que maneira o contexto sócio histórico influenciou em sua concepção de
inteligência.
 
2) Assista ao DVD “Henri Wallon” - Coleção Grandes Educadores (2006).
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Buscando compreender o psiquismo humano, Wallon volta sua atenção para a criança, pois
através dela é possível ter acesso à gênese dos processos psíquicos. Em relação à obra deste
teórico é incorretoafirmar que:
a) Opõe-se às concepções reducionistas que limitam a compreensão do psiquismo humano a
um ou outro termo da dualidade espírito-matéria.
b) Para o autor, o homem é um ser indissociavelmente biológico e social. Assim, para a
psicologia constituir-se como ciência precisa unir o espírito e a matéria, o orgânico e o
psíquico.
c) Adota o materialismo dialético como método de análise e fundamento epistemológico de
sua teoria, uma psicologia dialética.
d) A análise genética é, para Wallon, o único procedimento que não dissolve em elementos
estanques e abstratos a totalidade da vida psíquica.
e) Podemos definir o projeto teórico de Wallon como a elaboração de uma psicogênese da
inteligência.
 
A alternativa incorreta é a (E). Podemos definir o projeto teórico de Wallon como a
elaboração de uma psicogênese não apenas da inteligência, pois enfoca em sua teoria o
desenvolvimento em seus domínios afetivo, cognitivo e motor, mostrando quais são, nas
diferentes etapas, os vínculos entre cada campo e suas implicações com o todo representado
pela personalidade.
 
 
Impulsivo Emocional
 
Leitura Obrigatória:
MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. (org.) Henri Wallon. Psicologia e Educação. São Paulo:
Loyola, 2000.

Leitura para Aprofundamento:


WALLON, H. (1941) A evolução psicológica da criança. (Trad. Claudia Berliner) São
Paulo: Martins Fontes, 2007.
 
No Estágio impulsivo-emocional (0 a 1 ano) a predominância funcional é afetiva (relações
afetivas) e o conflito é de natureza endógena (centrípeta). A afetividade é marcante nesse
período, a criança nutre-se pelo olhar, pelo contato físico e se expressa por gestos, mímicas
e posturas.
 
Essa é a etapa da formação do eu corporal, a criança está voltada à construção de si mesmo.
No início há uma total indiferenciação eu - outro (simbiose), depois ocorre a diferenciação do
espaço objetivo e subjetivo (recorte corporal), por exemplo, morder o próprio braço e não
perceber que foi ela mesma.
 
O estágio está dividido em dois momentos:
Impulsivo (0 a 3 meses) - organismo puro; sua atividade se manifesta apenas por reflexos e
movimentos impulsivos: exploração do corpo, movimentos bruscos, desordenados, existe
uma simbiose fisiológica.
Emocional (3 a 12 meses) - construção de padrões emocionais de medo, alegria, raiva =
formas de comunicação corporal; existe uma simbiose afetiva que caracteriza o início do
psiquismo ou vida psíquica.
 
Aos seis meses inicia-se a atividade circular, ou seja, um gesto da criança cria um resultado
auditivo e/ou visual e ela tentará reproduzi-lo, isso possibilitará a organização dos exercícios
sensório motores e irá preparar a criança para o estágio seguinte. Piaget denomina tal ação
de “reação circular”. Essa atividade circular pode ser observada em várias ações infantis:
balbuciar, movimentar as pernas e os braços, morder objetos, pegar e deixar cair milhares
de vezes um brinquedo etc.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça as leituras indicadas, observando as bases que fundamentam teoricamente as ideias
de Wallon e que são apresentadas pelos autores.
 
2) Assista aos filmes “Olhe quem está falando” e “Ninguém segura esse bebê”. Procure
identificar as características da fase do desenvolvimento impulsivo emocional estudado por
Wallon.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Mariana está sentada em seu carrinho. Brinca animadamente com as suas mãos: abre e
fecha os dedos, segura uma mão contra a outra, coloca-as na boca. Agarra seus pés, coloca-
os na boca... E começa a chorar porque mordeu os seus pés. A partir dessa situação é
possível inferir que:
I. Mariana está no estágio impulsivo emocional.
II. No caso, o eu-corporal ainda está indiferenciado, sem a diferenciação entre o espaço
objetivo e o espaço subjetivo (morde o próprio pé).
III. Neste estágio a criança apresenta simbiose afetiva com o meio.
Assinale a alternativa correta:
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) I e III, apenas.
e) I, II e III.
 
A alternativa correta é a (E). Todas as afirmativas trazem as características do estágio
impulsivo emocional.
 
 
Sensório Motor e Projetivo
 
Leitura Obrigatória:
MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. (org.) Henri Wallon. Psicologia e Educação. São Paulo:
Loyola, 2000.

Leitura para Aprofundamento:


WALLON, H. (1941) A evolução psicológica da criança. (Trad. Claudia Berliner) São
Paulo: Martins Fontes, 2007.
 
 
A predominância funcional é cognitiva (relações cognitivas) e o conflito é de natureza
exógena (centrífuga). Período marcado pela diferenciação do corpo físico (mas não
psíquico).Esse período é marcado pela exploração sensório-motora do mundo físico (agarrar,
segurar, sentar, marchar). Além disso, há o desenvolvimento da função simbólica e da
linguagem – o ato mental “projeta-se” em atos motores.
 
Portanto, é um estágio dividido em dois momentos:
Sensório-motor è inteligência prática: movimentos motores com o início da marcha
acompanhado dos demais movimentos - agarrar, segurar, sentar, virar, rodar, pular.
Projetivo è inteligência simbólica: movimentos motores acompanhados de gestos e
projeções. Aparecimento da linguagem. A criança necessita dos gestos para expressar seus
pensamentos e, nesse sentido, o gesto precede a palavra e a criança é incapaz de imaginar
sem representar gestualmente. O ato mental projeta-se em atos motores.
 
A atividade projetiva, por volta dos 2 e 3 anos, continua a aparecer nos jogos simbólicos e
nas histórias infantis e abre caminho para outras formas de representação, uma vez que a
ação motora organiza seu pensamento. Há vários movimentos projetivos nessa fase:
imitação, simulacro, animismo e o uso da 3ª pessoa:
Imitação: atividade que relaciona o movimento de um modelo exterior e a representação. A
criança reproduz modelos das pessoas e situações que a atraem.
Simulacro: pelos gestos, a criança simula uma situação de utilização de um objeto sem tê-
lo de fato. Trata-se de um ato sem o objeto real, pois é um pensamento apoiado em gestos
e serve de suporte a sua linguagem (faz de conta). O gesto torna presente o objeto.
Animismo: a criança atribui vida a alguma parte de seu corpo, tratando-a como se fosse
uma pessoa.
Uso da 3ª pessoa: refere-se a sua pessoa pelo próprio nome ou usa a 3ª pessoa ao invés
de utilizar o pronome “eu”, indicando uma indiferenciação do eu psíquico. Por exemplo:
“Mariana” está triste, “ela” quer brincar, dê para “ela”.
 
Nessa etapa, há a integração do corpo, das sensações ao corpo visual (espelho). A criança
somente irá perceber sua imagem projetada no espelho por volta dos dois anos
(diferenciação do eu físico ou eu corporal). Antes disso, acredita que a imagem é de outra
criança e tenta comunicar-se com ela, atribui-lhe existência, vida própria. Apresenta também
diálogo consigo mesma representando vários personagens.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados e monte um glossário dos principais
assuntos e conceitos tratados.
 
2) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
A proposta genética de Wallon para a Psicologia do desenvolvimento enfatiza um processo
que vai de um estado de indiferenciação até a formação de uma unidade diferenciada que
caracteriza a personalidade de cada sujeito. Fernanda, de três anos, enquanto brinca repete
o próprio nome ou utiliza a terceira pessoa ao se referir a ela mesma com frases como:
“nenê pega a colher”, “Fernanda come tudo”.
Este fato caracteriza o que Wallon classifica como:
a) indiferenciação do eu corporal
b) diferenciação do eu psíquico
c) indiferenciação do eu psíquico
d) diferenciação do eu corporal
e) indiferenciação do eu corporal e psíquico
 
A alternativa correta é a (C). Fernanda está no estágio sensório motor e projetivo (1 a 3
anos) e apresenta uma indiferenciação do eu psíquico (ilustrado no exemplo acima – uso da
3ª pessoa) e também indiferenciação do eu corporal até por volta dos dois anos quando
ainda não se reconhece na imagem projetada no espelho.
 
 
3) Realize os exercícios deste módulo, anotando as dúvidas que surgirem durante a
resolução. Estas dúvidas devem ser motivo de novas pesquisas bibliográficas, na tentativa
de saná-las. Caso elas persistam, apresente-as ao professor, nas aulas presenciais.

Módulo 7:
 
Personalismo
 
Leitura Obrigatória:
MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. (org.) Henri Wallon. Psicologia e Educação. São Paulo:
Loyola, 2000.

Leitura para Aprofundamento:


WALLON, H. (1941) A evolução psicológica da criança. (Trad. Claudia Berliner) São
Paulo: Martins Fontes, 2007.
 
 
A predominância funcional é afetiva (relações afetivas) e o conflito é de natureza endógena
(centrípeta). Período de formação da personalidade, marcado por conflitos e crises.Nessa
fase, a afetividade que é simbólica incorpora os recursos intelectuais (principalmente a
linguagem) e se exprime por palavras e ideias.
 
São características desse estágio: atividades de oposição; atividades de sedução (idade da
graça); atividades de imitação; discriminação “eu e o outro”; uso da 1ª pessoa para referir-
se a si mesmo: eu, meu, não; desaparecimento gradativo dos diálogos que tem consigo
mesma.
 
Há a ocorrência de conflitos pessoais: oposição ao não eu (confrontos = ciúmes, tirania,
agressividade). Disputa de brinquedos: desejo de propriedade conta mais do que o próprio
objeto (sentimento de posse). Portanto, há a expulsão e a incorporação do outro, ou seja,
movimentos complementares e alternantes no processo de formação do “eu”.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça as leituras indicadas, observando as bases que fundamentam teoricamente as ideias
de Wallon e que são apresentadas pelos autores.
 
2) Assista aos filmes “Um tira no jardim da infância”; “Paizão”; “A creche do papai”. Procure
identificar as características da fase do desenvolvimento impulsivo emocional estudado por
Wallon.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Pedro, três anos e seis meses, apresenta comportamento que irrita muito os pais: ciúmes do
irmão, tirania, teimosia e possessividade. Eles perdem a paciência com ele facilmente, e
agora pensam em tomar atitudes mais enérgicas para conter seu comportamento “rebelde”.
Com base na teoria Walloniana, que orientações você daria aos pais:
a) Este comportamento é consequência da atitude superprotetora dos pais, o que deve
mudar.
b) Pedro está testando a autoridade dos pais, os quais devem deixar claro que as decisões
devem partir deles.
c) Pedro tenta chamar a atenção dos pais, com medo do amor que eles sentem pelo irmão.
d) A atitude de Pedro revela sua busca por uma personalidade diferenciada e particular.
e) A oposição é uma maneira de Pedro demonstrar sua insegurança e ansiedade diante das
situações difíceis.
 
A alternativa correta é a (D). A atitude de Pedro revela sua busca por uma personalidade
diferenciada e particular, característica do estágio personalismo (3 a 6 anos), marcado pela
oposição.
 
 
Categorial
 
Leitura Obrigatória:
MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. (org.) Henri Wallon. Psicologia e Educação. São Paulo:
Loyola, 2000.

Leitura para Aprofundamento:


WALLON, H. (1941) A evolução psicológica da criança. (Trad. Claudia Berliner) São
Paulo: Martins Fontes, 2007.
 
A predominância funcional é cognitiva (relações cognitivas) e o conflito é de natureza
exógena (centrífuga). Período marcado pela exploração mental do mundo físico, mediante
atividades de agrupamento, seriação, classificação, categorização (pensamento categorial). A
afetividade é racional, os sentimentos são elaborados no plano mental.
 
Há a consolidação da função simbólica e a diferenciação da personalidade, que permitem
progressos intelectuais e revelam o interesse da criança para o conhecimento. Período de
razoável estabilidade se comparado com o estágio do personalismo. No transcorrer,
desaparece o sincretismo, e a criança apresenta uma autodisciplina mental ou atenção que
marca sua entrada na escola – idade escolar.
 
Esse estágio está dividido em dois momentos:
Pré-categorial (6 a 9 anos): sincretismo (pensamento confuso no qual os critérios afetivos
prevalecem). O pensamento sincrético pode ser:
- tautologia – repetição de um termo várias vezes na frase;
- elisão – fala confusa, faltando trechos;
- fabulação – invenção de histórias para contar fatos;
- pensamento por pares – existência de um objeto ou situação apenas em seu pensamento,
estando em relação a outro que lhe dê identidade; ex.: uma pessoa dorme porque sonha.
Categorial (9 a 12 anos): operações mentais e formação de categorias intelectuais que
auxiliam na representação das coisas e na explicação do real. São exemplos de categorias
intelectuais: identificar, analisar, definir, classificar, seriar.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça as leituras indicadas, observando as bases que fundamentam teoricamente as ideias
de Wallon e que são apresentadas pelos autores.
 
2) Assista aos filmes “Esqueceram de mim”; “Desventuras em série”; “Harry Potter”.
Procure identificar as características da fase do desenvolvimento impulsivo emocional
estudado por Wallon.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Rafaela brinca com sua caixa de brinquedos. Separa as peças de montar a princípio de
acordo com a forma. Em seguida, embaralha tudo de novo e revolve organizar tudo de
acordo com as cores. Pega um jogo de memórias e separa as cartas agrupando figuras de
casas, de bichos e de pessoas.
 
Com base nos estágios de desenvolvimento de Wallon (I) e no conceito de predominância
funcional (II), qual das alternativas abaixo melhor representa a compreensão do
comportamento descrito aqui.
a) (I) do personalismo; (II) cognitiva.
b) (I) categorial; (II) afetiva.
c) (I) do personalismo; (II) afetiva.
d) (I) categorial; (II) cognitiva.
e) (I) sensório-motor e projetivo; (II) cognitiva.
 
A alternativa correta é a (D). Rafaela apresenta as características do estágio categorial em
que há predominância funcional cognitiva.
 
 
Puberdade e Adolescência
 
Leitura Obrigatória:
MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. (org.) Henri Wallon. Psicologia e Educação. São Paulo:
Loyola, 2000.

Leitura para Aprofundamento:


WALLON, H. (1941) A evolução psicológica da criança. (Trad. Claudia Berliner) São
Paulo: Martins Fontes, 2007.
 
 
A predominância funcional é afetiva (relações afetivas) e o conflito é de natureza endógena
(centrípeta). Essa é a última e movimentada etapa que separa a criança do adulto que ela
tende a ser. A crise pubertária rompe a tranquilidade da fase anterior: modificações
hormonais e corporais levam às crises morais e existenciais. A afetividade é racional, os
sentimentos são elaborados no plano mental.
 
Novamente ocorre o conflito eu – outro (do personalismo), agora mais cognitivo do que
emocional. Há a exploração de si mesmo com uma identidade autônoma, mediante
atividades de confronto, autoafirmação, questionamentos. Domínio de categorias cognitivas
de maior nível de abstração com discriminação mais clara dos limites de sua autonomia e de
sua dependência.
 
O estágio da puberdade e adolescência é também chamado de período da crise da
puberdade, pois nele ocorrem modificações fisiológicas, corporais e psicológicas. Há o
amadurecimento sexual, provocando na criança profundas transformações corporais
acompanhadas de modificações psíquicas. O corpo da menina fica diferente do corpo do
menino, crescem pelos, há a modificação da voz, crescimento dos seios e dos órgãos
genitais, além do aumento acelerado na estatura. A menina apresenta a menarca e o menino
a emissão de espermas (aquisição da função reprodutora).
           
O espelho é o grande rival: ao mesmo tempo em que se apresenta como companhia
constante, proporcionando momentos de prazer, causa inquietação e angústia, pois, em
função das mudanças corporais tão rápidas, o adolescente não se reconhece na imagem
refletida e isso lhe proporciona mal-estar.
 
Nas palavras de Wallon (1975:218): “Assinalou-se o que foi denominado signo do espelho:
tanto os rapazes como as moças têm necessidade de se examinar num espelho e observar
as transformações do rosto, sentem-se mudar e ficam desorientados. Sente ainda mais essa
mudança, essa desorientação perante eles mesmos, em relação a seu meio ambiente.”
 
Todas essas modificações geram uma ambivalência de atitudes e sentimentos, marcados
principalmente pela crise em relação ao adulto (ambivalência afetiva). Por isso, tanto nessa
fase como no personalismo, o adulto deve estar muito bem preparado para lidar com as
situações e poder ajudar o jovem em desenvolvimento.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados e monte um glossário dos principais
assuntos e conceitos tratados. Assista os filmes “Lagoa Azul”; “Kids”; “Diário de um
adolescente”; “Aos treze”.
 
2) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 Aquele era seu pior inimigo (espelho). O mais cruel, o mais cínico, o mais sem piedade. Um
inimigo que falava a verdade. Ainda com a escova de cabelo na mão, ela não podia deixar de
encará-lo.
-          Feia...
Isabel sufocou um soluço.
-          Gorducha.
Uma lágrima formou-se na pontinha da pálpebra.
-          Que óculos horrorosos...
-          Você plantou uma rosa no nariz, é?
-          Sabe que essa rosa vai ficar amarela? Amarela e grande...
-          O seu nariz vai inchar...
Aquela garota que sempre tinha uma resposta pra tudo, sempre uma gozação na hora certa,
não sabia o que dizer quando seu grande inimigo apontava sadicamente cada ponto fraco
que havia para apontar. (BANDEIRA, Pedro - A marca de uma lágrima, 1988, pg. 6).
 
De acordo com o postulado por Wallon é correto afirmar:
          I.    Trata-se do estágio da Puberdade e da Adolescência.
        II.    Neste estágio o espelho se torna uma companhia constante, é a necessidade do
jovem de reconhecer o corpo que se transforma, muitos se sentem desvalorizados ou
inibidos em razão de alguns problemas estéticos.
       III.    As modificações fisiológicas impostas pelo amadurecimento sexual, provocam
profundas transformações corporais acompanhadas por uma transformação psíquica.
 
Assinale a alternativa correta:
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) I e III, apenas.
e) I, II e III.
 
A alternativa correta é a (E). Todas as afirmativas trazem as características do estágio
puberdade e adolescência.
 
3) Realize os exercícios deste módulo, anotando as dúvidas que surgirem durante a
resolução. Estas dúvidas devem ser motivo de novas pesquisas bibliográficas, na tentativa
de saná-las. Caso elas persistam, apresente-as ao professor, nas aulas presenciais.

Módulo 8:
 
 
A questão da afetividade na teoria de Wallon.
 
Leitura Obrigatória:
MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. (org.) Henri Wallon. Psicologia e Educação. São Paulo:
Loyola, 2000.

Leitura para Aprofundamento:


WALLON, H. (1941) A evolução psicológica da criança. (Trad. Claudia Berliner) São
Paulo: Martins Fontes, 2007.
 
 
Para Wallon a emoção é orgânica e social. É orgânica porque tem controle subcortical e tem
repercussões tônicas. A emoção faz parte da vida orgânica e cognitiva. É através dela que o
indivíduo se socializa. É pela comunicação afetiva que temos acesso ao mundo humano. “No
primeiro ano de vida nutrir a inteligência é nutrir o afeto". Segundo o autor a emoção é
social e epidêmica e a mãe é afetada pelo choro do bebê. A criança sobrevive graças à
mobilização do outro pela emoção. Primeiramente a emoção é controlada pelo subcórtex. À
medida que o córtex vai amadurecendo, vai ocorrendo à possibilidade de um controle maior.
Em um primeiro momento a emoção é incontrolada, passando a controlar-se lentamente
através da maturação e do processo social. Crianças muito impulsivas podem apresentar
alguma lesão subcortical. Podem também, segundo o autor, apresentar um problema de
"educação da emoção" - o que fazer com a emoção, emoção descontrolada.

A afetividade não é apenas uma das dimensões da pessoa: é também uma fase de
desenvolvimento, a mais primitiva A história da construção da pessoa se dará por uma
sucessão pendular de movimentos dominantemente afetivos ou dominantemente cognitivos -
não paralelos, mas integrados. Isto significa que a afetividade depende, para evoluir, de
conquistas realizadas no plano da inteligência. Com a linguagem surgem outras formas de
vinculação afetiva, é uma forma cognitiva de vinculação afetiva. Wallon falava, então, em
três momentos dessa afetividade: 1-afetividade emocional ou tônica, inicial. 2- Afetividade
simbólica. 3- Afetividade categorial.
 
A construção da pessoa é uma autoconstrução. O vínculo afetivo supre a insuficiência da
inteligência do início da vida, quando ainda não é possível a ação cooperativa que vem da
articulação de pontos de vista bem diferenciados. O contágio afetivo cria os elos necessários
à ação coletiva. Com o passar do tempo, a essa forma primitiva acrescenta-se outra e assim
vai se construindo como sujeito.
 
Maria Inês Naujorks. Henri Wallon: por uma teoria dialética na educação. Cadernos de
Educação Especial / Universidade Federal de Santa Maria. Centro de Educação /
Departamento de Educação Especial / Laboratório de Pesquisa e Documentação - LAPEDOC -
Vol. 2 (2000) - Nº 16 (2000) - 85 p.- Santa Maria.
Disponível em: http://coralx.ufsm.br/revce/ceesp/2000/02/a6.htm
Acesso em: 12 de março de 2011.
 
 
Atividades recomendadas:
 
1) Levante informações por meios tradicionais ou eletrônicos sobre os três momentos da
afetividade segundo Wallon: afetividade emocional ou tônica, inicial; afetividade simbólica;
afetividade categorial. Leve para sala de aula o resultado de sua pesquisa e apresente ao seu
professor e colegas.
 
2) Faça uma síntese dos principais pontos da teoria de Piaget, Vygotsky e Wallon.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Wallon destacou-se, por um lado, por reunir elementos que podem ser encontrados em
outras teorias, num todo coerente e integrado, e por outro, por apresentar propostas
inovadoras. Por meio de seus estudos ofereceu uma visão interacionista de homem e
preocupou-se com o papel da intervenção pedagógica no desenvolvimento do sujeito. De
acordo com esta teoria, leia o excerto a seguir e responda a questão:
Em um grupo de estudos sobre as teorias psicogenéticas, um dos membros do grupo, diz:
“Gostaria de refletir sobre as ideias de Wallon acerca do papel da afetividade no
desenvolvimento”.
Assinale a alternativa abaixo que correspondem as ideias desse teórico:
a) A dimensão afetiva ocupa lugar secundário.
b) A emoção assume posição que contraria a visão sócio-histórica.
c) O sujeito se constrói pela interação dialética da afetividade com as outras dimensões do
desenvolvimento.
d) O homem deve ser estudado somente em sua dimensão cognitiva.
e) A emoção é de caráter puramente psicológico.
 
A alternativa correta é a (C). O sujeito se constrói pela interação dialética da dimensão
afetiva em relação com as outras dimensões do desenvolvimento, cognitivo e motor, em um
contexto sócio-histórico.
 
 
Wallon e a Educação.
 
Leitura Obrigatória:
MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. (org.) Henri Wallon. Psicologia e Educação. São Paulo:
Loyola, 2000.

Leitura para Aprofundamento:


GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento
infantil. 15ª. Edição. Petrópolis/RJ: Vozes, 202.
 
 
Para Wallon, o estudo da criança não é um mero instrumento para a compreensão do
psiquismo humano, mas também uma maneira de contribuir para a educação. Mais do que
um estado provisório, considerava a infância como uma idade única e fecunda, cujo
atendimento é tarefa da educação.
 
A preocupação pedagógica é presença forte na psicologia de Wallon, tanto nos escritos em
que trata de questões mais propriamente psicológicas – que consiste a maioria – como
naqueles em que discute assuntos específicos da pedagogia. (Galvão, 2002, p.12)
 
A fecundidade das contribuições da psicologia genética de Wallon para a educação deve-se à
perspectiva global pela qual enfoca o desenvolvimento infantil, mas também à atitude teórica
que adota. Utilizando o materialismo dialético como fundamento filosófico e como método de
análise, as ideias de Wallon refletem uma incrível mobilidade de pensamento, capaz de
resolver muitos impasses e contradições a que levam teorias baseadas numa lógica rígida e
mecânica. Contrário a qualquer simplicação, enfrenta a complexidade do real, procurando
compreendê-la e explicá-la por uma perspectiva dinâmica, multifacetada e extremamente
original. (Galvão, 2002, p.12)
 
Ao tratar de temas como emoção, movimento, formação da personalidade, linguagem,
pensamento e tantos outros, fornece valioso material para a adequação da prática
pedagógica ao desenvolvimento da criança. Sendo assim, Wallon tratou de explicar em
artigos, interessantes considerações acerca da educação, como a reforma da universidade,
doutrinas sobre a Escola Nova, orientação profissional, o papel do psicólogo escolar,
formação de professor, interação entre alunos e problemas de comportamentos.
 
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça as leituras indicadas, observando as bases que fundamentam teoricamente as ideias
de Wallon acerca das implicações da educação no processo de desenvolvimento psicológico
da criança.
 
2) Levante informações por meios tradicionais ou eletrônicos sobre o “Projeto Langevin-
Wallon”, que propunha a reforma do sistema de ensino francês do pós-guerra e a
participação de Wallon nesse trabalho.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Das ideias pedagogicas explicitadas por Wallon, destaca-se a que se refere à:
I. Necessidade de superação da dicotomia entre individuo e sociedade subjacente à maior
parte dos sistemas de ensino.
II. Construção de uma educação tradicional tendo por objetivo transmitir aos alunos a
herança dos antepassados e a manutenção da ordem social.
III. Busca do rompimento da opressão do individuo pela sociedade, desprezando as
dimensões sociais da educação e valorizando o individualismo.
Assinale a alternativa correta:
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) I e III, apenas.
e) I, II e III.
 
A alternativa correta é a (A).Das ideias pedagogicas explicitadas por Wallon, destaca-se a
que se refere à necessidade de superação da dicotomia entre individuo e sociedade
subjacente à maior parte dos sistemas de ensino. Segundo nosso autor, os sistemas
educacionais oscilam ora pela valorização da educação tradicional (afirmativa II) e ora pela
educação espontaneísta que esquece o social valorizando apenas o individuo (afirmativa III).
Wallon é contra essas duas concepções e propõe um compreensão dialética do esnsino.
 
 
Wallon e a Psicologia.
 
Leitura Obrigatória:
MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. (org.) Henri Wallon. Psicologia e Educação. São Paulo:
Loyola, 2000.

Leitura para Aprofundamento:


WALLON, H. (1941) A evolução psicológica da criança. (Trad. Claudia Berliner) São
Paulo: Martins Fontes, 2007.
 
Ao fornecer informações e explicações acerca das características da atividade da criança nas
várias fases de seu desenvolvimento, a psicologia genética constitui-se numa valiosa
ferramenta para a construção de uma prática em psicologia, especialmente aquela voltada à
área escolar.
 
O psicólogo escolar é capaz, a partir desse referencial teórico, compreender o funcionamento
da escola e os fatores que tornam a criança turbulenta, construindo uma série de estratégias
que permitam a intervenção no próprio sistema educacional, em relação aos sujeitos
constituídos e constituintes deste processo, diminuindo o encaminhamento a consultório
clínico, muitas vezes não aceito pelos pais ou interrompido pela falta de compreensão sobre
a real necessidade da criança em relação aos mesmos.
 
Sendo assim, o psicólogo walloniano auxilia na adequação dos objetivos e métodos
pedagógicos às possiblidades e necessidades infantis, favorecendo uma prática de melhor
qualidade, tanto em seus resultados como em seu processo. Em outras palavras, a teoria
walloniana, como instrumento para a reflexão pedagógica, tanto dos pais como dos
professores, mediadores pela ação do psicólogo, permite a construção de uma prática
pedagógica que considera os planos afetivo, cognitivo e motor, promovendo o
desenvolvimento em todos os sentidos.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, defina e explique o que Wallon chama de
“Criança Turbulenta”. Leve os resultados de sua pesquisa para discutir em sala de aula com
seu professor e colegas.
 
2) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Em sua teoria Henri Wallon indica um princípio ordenador para a compreensão das relações
psicológicas que caracterizam os processos entre as esferas ou dimensões da constituição
psicológica do indivíduo. Considerando as informações na citação abaixo, escolha qual das
alternativas abaixo corresponde melhor a este princípio?
 
“(...) com frequência na pesquisa psicológica. Como se se pudesse separara – como comenta
A. Luria -, de um lado o enfoque científico natural dos fenômenos, “como a tarefa de explicar
os processos psíquicos limitando-se de fato, a examinar os fenômenos complexos e
especificamente humanos da atividade consciente”; de outro lado, tomando-se “como objeto
de análise justamente esses fenômenos exteriores da atividade consciente e especificamente
humanos, limitando-se, porém, a descrição das manifestações subjetivas de tais fenômenos,
considerando-os manifestações de espírito e recusando-se a dar aos mesmos o enfoque
científico causal” (Luria, 1979, p. 6), (...)” José Lino de Oliveira Bueno USP – Ribeirão Preto.
 
Assinale a alternativa correta:
a)    É o processo de desenvolvimento biológico que aparece como único princípio.
b)    A ordem organizadora das relações que constituem a pessoa é dada naturalmente pela
hereditariedade que caracteriza a constituição genética do indivíduo.
c)    A integração entre as dimensões psicológicas, fisiológicas e sociais, é o princípio através
do qual se pode compreender o desenvolvimento do indivíduo.
d)    A espontaneidade é o princípio ordenador das relações psicológicas, haja a vista que,
não se pode localizar com eficiência no biológico ou no social a sua origem.
e)    Não há um processo de unificação entre as dimensões psicológicas, pois elas são
independentes entre si e respondem por suas especificidades.
 
A alternativa correta é a (C). A integração entre as dimensões psicológicas, fisiológicas e
sociais, é o princípio através do qual se pode compreender o desenvolvimento do indivíduo –
Psicogênese da Pessoa Completa.
 
3) Realize os exercícios deste módulo, anotando as dúvidas que surgirem durante a
resolução. Estas dúvidas devem ser motivo de novas pesquisas bibliográficas, na tentativa
de saná-las. Caso elas persistam, apresente-as ao professor, nas aulas presenciais.

Você também pode gostar