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Este romance é dedicado a todos os que já

lutaram contra o peso da gravidade, na


esperança de que um dia eles alcançarão
as estrelas
Indice
Prólogo: 14 Anos Atrás
Capítulo 01: A Lua Estéril
Capítulo 02: Pontos de Carma
Capítulo 03: Pequenas Embalagens
Capítulo 04: Grandes Expectativas
Capítulo 05: Muito Perspicaz
Capítulo 06: Por Poucos Momentos
Capítulo 07: Piadas de mau gosto
Capítulo 08: Medos que valem a pena
Capítulo 09: Paredes Nuas
Capítulo 10: Pintura a Dedo
Capítulo 11: Imbecil Narcisista
Capítulo 12: Na Beira do Penhasco
Capítulo 13: Em Queda livre
Capítulo 14: Lutar ou Fugir
Capítulo 15: Missão Cumprida
Capítulo 16: Pego de Surpresa
Capítulo 17: Ponto de Ruptura
Capítulo 18: 100% de Garantia
Capítulo 19: Revelações
Capítulo 20: Escolha-me
Epílogo: Em Seguida
Playlist
"Eu nunca fui de pegar pacientemente fragmentos
quebrados, colá-los juntos novamente e dizer a mim
mesma que todo remendado era tão bom como o novo.
O que está quebrado é quebrado e eu prefiro lembrar
dele como era no seu melhor do que consertá-lo e ver os
lugares quebrados enquanto viver."

MARGARET MITCHELL
Sinopse
Brooklyn "Abelhinha" Turner, vinte anos, está acostumada a
tristeza. Depois de testemunhar o assassinato brutal de sua mãe aos
seis anos, Brooklyn é fechada, danificada, e – sob todos os aspectos –
uma cadela. E é apenas o jeito que ela gosta disso, se significa manter
todos no comprimento do braço.

Quando ela tropeça, literalmente, em Finn Chambers –


conquistador do campus feminino e o vocalista de uma banda local –
ela está despreparada para a sua persistência em fazer amizade com
ela, e para a atração perigosa que ela começa a sentir por ele.

Porque com Finn, ela sabe que seria mais do que apenas
sexo.

Mais do que apenas amizade.

E talvez ainda mais do que simplesmente amor.

Quando uma presença sinistra de seu passado ressurge,


Brooklyn será empurrada para seu ponto de ruptura. Pela primeira vez
em 15 anos, ela vai enfrentar tanto a sua dor como suas memórias,
enquanto ela joga um jogo mortal de gato e rato com um inimigo
inesperado.

Porque às vezes, os demônios que devemos enfrentar não


estão apenas no interior...

*** Like Gravity (Como a gravidade) é um novo romance


autônomo de suspense destinado ao público acima de 17 anos ***
Prólogo
14 Anos Atrás

"Mamãe, eu posso ter o Bubble Tape1 rosa? Por Favor?"

Levantei o rolo, oferecendo-lhe um vislumbre do recipiente


BubbleTape na minha mão pequena. Bubble Tape era o melhor tipo de
chiclete; cada aluno da primeira série sabia. Mamãe não respondeu. Ela
estava cantarolando, um pequeno sorriso rodeando seus lábios quando
ela entrega os pacotes de comida do nosso carrinho para a senhora do
caixa do supermercado.

Virei minha atenção de volta para o chiclete, cruzando meus


braços finos na frente do meu peito enquanto eu olho as outras opções.
A fila do caixa, com todos os doces brilhantemente embalados, sempre
foi a minha parte favorita do supermercado.

"Mamãe!" eu disse, desta vez mais alto, determinada a chamar


a sua atenção.

"Mmmm, o que querida?" ela murmurou distraidamente.

"Por favor, posso pegar a BubbleTape rosa? Todas as meninas


da minha turma comem um depois do almoço."

"Claro, Abelhinha. Aqui, entregue-o a simpática senhora para


que possamos pagar por isso, ok?"

Estendi minha mão sobre minha cabeça para passar o chiclete


para a senhora do supermercado; mesmo na ponta dos pés, era difícil
1
Marca de chiclete
ver seu rosto. Ela se inclinou para pegar a embalagem da minha mão e
sorriu para mim. Seus dentes estavam manchados de rosa do seu
batom e seu rosto estava enrugado como uma maçã, mas ela parecia
agradável.

"E quantos anos você têm?" ela perguntou.

"Vou fazer sete em poucos meses", vangloriei-me. "Estou na


primeira série."

"Oh! Que maravilha," ela sorriu. "Você deve estar muito


orgulhosa," acrescentou para mamãe.

"Oh, sim, é claro", mamãe sorriu, entregando o último pacote


para a senhora.

Enquanto mamãe pagava, fui em direção ao nosso carrinho


lotado, espiando nas sacolas plásticas transparentes na esperança de
avistar a embalagem do chiclete.

"Vamos, Brooklyn," Mamãe disse, dirigindo o carrinho com uma


mão em direção ao estacionamento. Ela estendeu a outra mão para me
segurar, puxando-me próxima do seu lado, enquanto nós caminhávamos
pelas portas automáticas para o nosso carro. Coloquei a mão na dela,
espremendo apertado. Sorrindo para mim, ela balançou suavemente
nossos dedos entrelaçados para frente e para trás.

O ar estava pesado e com umidade em agosto, e minha


camiseta rosa Hello Kitty parecia colar na minha pele enquanto
caminhávamos pelo estacionamento. As rodas do nosso carrinho não
estavam funcionando direito - e chiaram bem alto em sinal de protesto
enquanto mamãe lutou para colocá-las em linha reta de volta no
caminho.

Eu ri com seus esforços.


Seus dedos se mantiveram firmes nos meus até chegarmos ao
SUV. Deixando o carrinho na parte traseira, ela me pegou em seus
braços, fazendo cócegas implacáveis, gritei e me contorci em seu aperto,
amando cada pedacinho de sua atenção.

"Então você acha que é bom rir da mamãe quando ela luta com
o carrinho, né?". Ela riu. "Não é tão engraçado agora, não é Abelhinha?"

"Sinto muito!" Eu gritei, ofegante, rindo mesmo quando a


tortura de cócegas chegou ao fim. Ela me levou até a porta traseira e me
colocou em minha cadeirinha.

"Ufa! Você está ficando muito pesada para eu carregá-la por aí"
queixou-se. "Muito em breve você não terá que usar a cadeirinha mais.
Você está ficando tão grande". Ela colocou meu cinto de segurança no
lugar, dando-lhe um puxão extra para verificar se estava seguro e
deixou cair um rápido beijo na minha testa.

"Eu tenho que colocar os sacos de comida no porta-malas


rapidinho, mas então, o que você acha de nós termos um pouco de
sorvete no caminho de casa, Abelhinha?" Mamãe perguntou, usando seu
apelido favorito para mim.

"Sim!" Exclamei, minha mente já está ocupada retratando um


sundae de chocolate coberto com uma montanha de chantilly e
granulados coloridos.

"Ok, eu já volto, amor." Ela sorriu, bagunçando meu cabelo


escuro, uma última vez antes de fechar a porta. Ela voltou-se para o
carrinho e eu podia ouvi-la cantarolando enquanto carregava os
mantimentos para o SUV. De repente, lembrando do meu chiclete, eu
virei no meu lugar para enfrentar o porta-malas aberto.

"Mamãe, posso ter o meu chiclete agora?" Eu chamei, aliviando


o cinto de segurança apertado longe de minha garganta para que eu
pudesse respirar mais fácil.
Quando ela não respondeu desafivelei, virando totalmente em
torno da minha cadeirinha, e olhei através do espaço do porta-malas até
onde ela estava. Ela parou de arrumar as sacolas e ficou congelada,
com as mãos estendidas à sua frente. Pareceu-me, muito quieto sem o
alegre cantarolar. Ela parecia assustada - e mamãe nunca olhou
assustada, nem mesmo quando eu disse a ela que havia monstros no
meu armário ou debaixo da minha cama.

Algo não estava certo.

Eu tinha acabado de abrir a boca para perguntar o que estava


errado quando vi o homem. Ele estava a poucos metros de distância de
mamãe, o carrinho cheio de comida abandonado no espaço entre eles.

"Dê-me as chaves", ele zombou de mamãe, com a voz abafada


pelo capuz preto cobrindo a boca. Seus olhos, a única parte do seu rosto
não escondido pela máscara, olhou sombriamente.

Ele parecia falar como um dos vilões em meus desenhos


animados de sábado de manhã. Não gostava dele, e eu poderia dizer
que a mamãe também não. Segurando uma mochila preta firmemente
em uma mão, ele se moveu para trás e para frente, de um pé para o
outro. Seus olhos continuavam correndo para a loja de bebidas atrás
dele, aquela em que mamãe às vezes comprava as garrafas de vinho
que bebia no jantar. Eu não tinha permissão para tê-lo; ela disse que
era uma bebida adulta.

Os olhos da mamãe cintilaram sobre o banco traseiro, e


olhando em meus olhos arregalados por um curto segundo. Sua cabeça
balançou ligeiramente para trás e para frente, no mais ínfimo dos
movimentos, e eu sabia que ela estava tentando me dizer para me
manter quieta e silenciosa. Queria perguntar o que estava acontecendo e
quem era aquele homem irritado, mas fiz o que ela pediu.
"Você está fodidamente surda? Eu disse para me dar as
chaves! Pareço que estou de brincadeira senhora?" O homem estava
gritando agora, caminhando mais perto de mamãe e olhou com mais
raiva do que nunca. Os olhos dela se separaram de mim, enquanto ela
endireitou os ombros e olhou para o homem mais uma vez.

"Não", ela disse, com voz triste.

Por que ela estava tão triste?

"Sua escolha, então," ele disse, levantando a mão para cima do


seu lado e apontando uma arma para o rosto de mamãe. Antes que eu
pudesse fazer um som, ele disparou uma única bala na testa dela e
assistiu em silêncio enquanto ela caiu no cimento.

"Cadela estúpida", ele murmurou.

Sentei-me congelada no lugar, incapaz de desviar o olhar da


mamãe sangrando no estacionamento, vendo, com os olhos arregalados,
quando ele arrancou as chaves da mão dela e bateu o porta-malas
fechado.

Correu ao redor do SUV, pulou no banco do motorista, o banco


da mamãe, e rapidamente ligou o motor. Ele saiu do estacionamento
sem olhar para trás na calçada manchada de sangue. Virei-me
lentamente de volta em minha cadeirinha, tremendo de medo e
descrença, e vi quando ele jogou a arma no banco do passageiro da
frente, seguido de uma mochila que estava transbordando de dinheiro
amassado. Lágrimas turvaram a minha visão e rastejaram lentamente
pelo meu rosto, mas me lembrei de mamãe balançando a cabeça para
mim e de alguma forma conseguiu ficar quieta.

Para ela.
Nunca, nem uma vez o homem olhou para trás e percebeu a
pequena menina cujo mundo tinha terminado de acabar, chorando no
banco de trás.
Capítulo 01
A Lua Estéril

O grito de pânico que irrompeu de minha garganta era uma


homenagem a uma longa lembrança de terror ofuscada pela passagem
do tempo. A criança de seis anos dentro de mim gritou em desespero
como se eu tivesse sido arrancada do pesadelo. O pesadelo tinha sido
meu companheiro à noite, durante 14 anos, uma constante lembrança
do dia em que tudo em minha vida mudou.

Como se eu pudesse ter esquecido.

Não havia dúvida de que os eventos ficariam gravados


permanentemente em minha memória, uma tatuagem indesejada, que
eu não tinha pedido e nunca poderia remover, mesmo se os pesadelos
tivessem parado. De alguma forma, porém, eu sabia que eles não
iriam. Na verdade eles foram ficando piores, tornando-se mais vivos e
frequentes com o passar dos anos.

Limpei as gotas de suor da minha testa, puxei meu cabelo


úmido para cima em um rabo de cavalo frouxo, e desembaracei os
lençóis retorcidos de minhas pernas. O pequeno brilho da luz da noite
ao lado da minha cama desviou para longe as sombras que de alguma
forma ameaçavam me consumir. Concentrando na luz cálida e suave,
tentei empurrar as memórias da minha mente. Embora eu tivesse
bastante prática em espantar os terrores noturnos, levou mais esforço
do que eu gostaria de admitir para a minha mente resolver e a
frequência do meu coração parar de trovejar no meu peito como um
maldito ataque de cavalaria.

Arrastando uma respiração instável em meus pulmões, agito


minhas pernas para o chão e caminho para fora do meu pequeno
quarto. Ladrilhos de linóleo gelados da cozinha estavam
desconfortáveis debaixo dos meus pés descalços, e eu corri para me
servir um pouco de água da torneira, antes de voltar nas pontas dos
pés para o aconchego da minha cama.

Tomei um gole de água depois de escorregar de volta para


debaixo das cobertas, procurando o livro que sempre mantive ao
alcance no meu criado-mudo. Qualquer esperança de mais descanso
esta noite seria inútil; depois do pesadelo inevitavelmente bater, eu
nunca conseguiria relaxar minha mente o suficiente para dormir. Às
vezes eu tinha sorte e o sonho não iria levantar sua feia cabeça até
perto do amanhecer, permitindo-me algumas horas sólidas de
descanso. Outras noites, como esta, eu não tinha tanta sorte.

Uma olhada no meu celular me informou que era apenas


02:37 AM, deixando-me com quase seis horas, até que a minha
primeira aula do semestre começasse. Ótima maneira de começar o
segundo ano, Brooklyn, eu pensei amargamente. Exausta e mal-
humorada. Oh, e olheiras estão tããããõoo na moda...

As olheiras constantes quase como hematomas em torno dos


meus olhos eram controladas geralmente com a ajuda de alguma base
de qualidade. A maioria das pessoas nunca iria observá-las em tudo, e
aqueles que fizeram nunca iriam descobrir sua origem. Manter as
pessoas à distância de um braço era mais fácil e, a longo prazo, salvou
a todos de muita de dor e sofrimento desnecessários.

Eu nunca fui aquela de fazer companhia ou dar conforto as


pessoas. Aqueles que gravitam em minha órbita social eram ou
felizmente egocêntricos ou simplesmente desinteressados em meu
passado. Qualquer um que me empurrou para mais foi abandonado
como um mau hábito.

Eu não diria que eu tinha amigos - conhecidos, talvez, mas


não amigos. Amigos geralmente queriam saber informações pessoais,
eles gostavam de fazer perguntas. E isso fez dos amigos algo que eu
realmente não poderia me dar o luxo de manter.

Houve uma exceção a esta regra, que era Lexi. Então,


novamente, Lexi não segue nenhuma das regras que ela faz para a sua
própria vida, então acho que eu não deveria ter me surpreendido
quando ela quebrou todas as minhas também. Ela se moveu na minha
vida como um tornado, arrancando tudo em seu caminho e criando o
caos na frágil ilusão de normalidade que eu tinha tentado reconstruir
depois do assassinato de minha mãe. Na segunda série, no meu
primeiro dia em uma nova escola, Lexi tinha declarado que ela gostou
da minha mochila azul brilhante, e que seríamos amigas.

E assim fomos.

É raro Lex não conseguir o que quer. As pessoas são atraídas


para ela como se ela exalasse um pouco de força magnética invisível,
puxando-os e se tornando impossível lhe negar qualquer coisa. Ela é
alta, com cabelos cor de fogo e olhos azuis que brilham
constantemente com malícia. Em muitos aspectos, ela é meu oposto.

Enquanto ela tem 1,77, eu mal chego 1,65 no meu mais alto
par de sapatos de salto alto. Sua cabeleira cor cobre fica em torno de
seus ombros como uma auréola luminosa; a minha é castanho escuro
que caem em ondas soltas quase na minha cintura. Sua pele sardenta
brilha com luminescência pálida; meu tom de oliva natural deixa-me
parecendo um pouco bronzeada mesmo em pleno inverno.
A maior diferença entre nós, porém, não é detectável se você
olhar apenas superficialmente. Porque abaixo da superfície, onde
ninguém pode ver, algo está quebrado dentro de mim. Ou talvez não
quebrado, mas definitivamente faltando.

Inferno, talvez eu nunca tenha possuído de qualquer forma.

Porque é indiscutível que Lexi é quente, brilhante e cheia de


vida; seus olhos dançam com aquela centelha permanente de vida. Em
vez disso, eu sou fria; vazia de brilho interno e totalmente incapaz de
fazer os meus olhos cor esmeralda parecerem qualquer coisa, além de
sem vida e cauteloso. Comparar Lexi a mim era como comparar o sol à
lua: ela, uma estrela quente produtora de vida em torno da qual todo
mundo orbita, e eu, uma solitária, lua estéril, iluminada apenas por
outras luzes refletidas e crivada de crateras.

Com um suspiro de resignação, afastei-me da espiral de


pensamentos depressivos que me rondava sempre que me comparei
com Lexi. Ela tinha sido minha melhor amiga - minha única amiga –
desde oito anos de idade. Até mesmo inscrevemos para a faculdade
juntas e, depois de um ano como calouro miserável vivendo no campus
e com companheiros distribuídos aleatoriamente, estávamos prestes a
sermos estudantes do segundo ano com o nosso próprio apartamento
minúsculo. Nossos dois quartos com suítes com banheira dupla, que
ocupavam todo o segundo andar de uma antiga e dilapidada casa de
estilo vitoriano em ruinas, que tinha sido dividida para acomodar
locatários estudantis. Sim, era um lugar imundo, e sim, a água quente
raramente funcionava corretamente; mas era nosso, e o aluguel era de
apenas U$ 450,00 por mês - muito mais acessível do que algumas das
novas propriedades luxuosas espalhadas pelo bairro de alojamento de
estudantes.
Os vizinhos de baixo mantiveram-se para si mesmos; ainda
tínhamos de conhecê-los, e nos mudamos há um mês.
Convenientemente, não temos que passar pelo seu apartamento para
chegar às escadas, o nosso senhorio tinha construído uma fraca e
íngreme escada exterior, que levava à nossa varanda no segundo
andar. Improvisada com madeira compensada, provavelmente não era
a porta de entrada mais segura, mas ela serviu seu objetivo.

Universidades estaduais geralmente têm todos os tipos:


atletas, estudiosos, lerdos, princesas. Com quase 20.000 estudantes
de graduação no campus, tenho certeza de que algumas pessoas se
sentiram perdidas, oprimidas pela aglomeração do campus. Onde
outros podem ter se sentido sozinhos, eu me alegrava com o
anonimato. Aqui, eu não tinha passado. Ninguém sabia a minha
história. Se eu sentir o desejo de desaparecer no meio da multidão,
sem rosto e desconectada, ninguém sequer vai olhar para cima, saindo
de suas próprias vidas o tempo suficiente para perceber. Era
exatamente o oposto da minha experiência do ensino médio, e era tudo
o que esperava quando eu tinha me inscrito.

Rastejando até o pé da minha cama, abri a janela para deixar


algum ar úmido da Virginia entrar. O final da noite de agosto era
escuro e silencioso; os bares fecharam horas atrás e ninguém estava
na rua. A maioria das pessoas estaria levantando cedo amanhã,
ansiosas para começarem o novo semestre. Depois de cerca de uma
semana assistindo todas as aulas e tomando notas, o que chamo de
"síndrome do bom aluno" poderia rapidamente desgastar a maioria dos
universitários. O fim do semestre geralmente marca o lançamento da
temporada de festas e, consequentemente, o fim das noites tranquilas
na minha rua com bares cheios.

Aproveitando a noite tranquila, tirei lentamente o pé fora da


minha cama e sai para o telhado de ardósia diretamente abaixo da
minha janela aberta. A cobertura era quase plana, grande o suficiente
para eu deitar com as minhas pernas curtas totalmente estendidas.
Tecnicamente, ela serviu para cobrir a varanda que circundava abaixo,
componente persistente da Virginia, mas em minha mente, o telhado
foi criado especialmente para mim. Era o meu lugar especial, meu
recanto privado - o único lugar onde eu poderia bloquear o resto do
mundo e me sentir segura.

Segura.

Eu acho que não deveria parecer em um estado tão


inatingível. Tenho certeza de que isso não é para pessoas normais.
Mas eu tinha aceitado há muito tempo que eu não era, nem queria ser,
uma garota normal. Após o incidente, há catorze anos, fui levada em
custódia do Estado até que o meu pai biológico pode ser notificado.
Minha mãe nunca quis ter nada a ver com ele e, como ele estava muito
longe quando ela descobriu que estava grávida, ela nunca o localizou.
Passei os primeiros seis anos de vida acreditando que seríamos sempre
apenas nós duas - que não precisava de um homem para fazer de nós
uma família. E nos anos seguintes, comecei a acreditar que eu não
precisava de uma família afinal.

Desde que ela nunca o tinha informado de seus deveres


paternais, depois da morte de minha mãe havia alguma confusão
sobre o que fazer comigo. Demorou aos serviços de proteção à criança
quase seis meses para encontrar o homem cujo nome constava na
minha certidão de nascimento. O atraso, aparentemente foi devido a
sua viagem a negócios estendida a Pequim, deixou-me abandonada por
meses sem um responsável. Então, como minha mãe não tinha
parentes vivos, fui colocada em um lar adotivo até que meu pai
pudesse se dar ao trabalho para me recolher.
A maioria das minhas lembranças daquela época é inacessível
para mim. Não tenho certeza se eu forçosamente bloqueei ou
involuntariamente as reprimi, mas seja qual for o caso, esse tempo da
minha vida continua a ser um borrão.

Algumas imagens são mais claras do que outras. Eu quase


posso ainda ouvir as vozes simpáticas dos assistentes sociais e
médicos me explicarem que a vida que eu conhecia havia acabado. O
desespero devorador que senti com a perda de minha mãe nunca tinha
realmente ido embora.

Após o incidente, eu sei que não falei com ninguém por vários
meses. A mãe adotiva na qual eu fui colocada, tinha a certeza de que
eu comia e vestia a cada dia. Uma psicóloga passava várias vezes por
semana para traçar o meu progresso em seu pequeno caderno emitido
pelo estado, assegurando-me de que tudo ficaria bem. Mas, realmente,
o que mais ela poderia dizer?

Nada estava bem. Eu era uma criança de seis anos que


testemunhou o assassinato violento da única fonte de amor que eu já
tinha conhecido. Eu nunca estaria "ok" de novo, apesar das garantias
do psiquiatra.

Ao longo dos anos, eu vi um desfile interminável de


terapeutas, psicólogos, e psiquiatras, todos igualmente ansiosos para
obter um vislumbre dentro da minha mente jovem problemática. Estas
consultas, invariavelmente, procederam da mesma forma - com eles
me levando a falar sobre meu "trauma de infância", e eu sentada em
uma cadeira de couro um pouco desconfortável, olhando para o relógio
em silêncio, absorta em pensamentos. Após as primeiras sessões
implacáveis, meu psiquiatra da semana inevitavelmente se tornava
frustrado, acusando-me de enterrar meus sentimentos, e afirmando
que eu permaneceria "espiritualmente perdida" ou "danificada" até que
eu lutasse com alguma besteira de guerra interior emocional.

O que eu não disse, durante todas essas semanas de silêncio,


foi que nenhuma quantidade introspecção repararia o meu passado.
Não havia mágico Band-Aid que eu pudesse colocar no meu coração,
não tinha cola especial que eu poderia usar para tornar-me inteira
novamente. Eu era quebrada em pedaços como um vaso frágil no
concreto; alguns fragmentos poderiam ser grosseiramente remendados
novamente, mas muitas das minhas partes vitais tinham
simplesmente tinham virado pó, pulverizadas e dispersas pela primeira
rajada de vento.

Inclinando para trás em minhas mãos, fechei os olhos e puxei


uma respiração profunda pelo meu nariz. O ar da noite de verão
cheirava a grama recém-cortada e um leve toque do próximo outono.
Havia um ligeiro frio na brisa, um farfalhar das folhas da árvore mais
próximas da casa, enviando arrepios percorrendo pelos meus braços.
Esfreguei-os distraidamente, meus olhos explorando os galhos
graciosamente inclinados para a rua tranquila abaixo.

Merda! Que diabos é isso? Correção - quem diabos é esse?

Meu pulso começou imediatamente a bater nas minhas veias


quando os meus olhos confirmaram que havia, de fato, alguém na rua
mal iluminada.

Observando-me.

Meus músculos tencionaram e congelei como um cervo nos


faróis - uma presa ingênua aprisionada perfeitamente no covil de um
predador.

Era definitivamente um homem. Embora eu só pudesse ver


uma silhueta, já que a lâmpada da rua que funcionava mais próxima
estava a meio quarteirão de distância, os ombros eram muito largos, a
estrutura muito alta, para ser qualquer outra coisa senão sexo
masculino. Ou, era possivelmente uma das nadadoras abusando de
esteroides da equipe olímpica da China, pensei comigo mesma, quase
bufando em voz alta com o pensamento. Sim, Brooklyn, é totalmente
provável.

Meu breve momento de leveza morreu e uma sensação de


pavor irracional comandou meus sentidos. Permaneci congelada, não
tendo certeza se eu deveria voltar para dentro. Ele poderia me ver? Ele
estava me observando? Certamente estava escuro demais para o
estranho notar uma garota relativamente pequena em cima de um
telhado no escuro.

Podia ver a pequena chama incandescente de seu cigarro


incendiar mais brilhante sempre que ele puxava para dar uma
tragada. O resto da rua permaneceu vazio, mas o homem ainda
continuou encostado contra a sua moto, parecia uma Harley,
aparentemente esperando por alguém ou alguma coisa.

Claramente, ele não estava esperando por mim ou me


observando, raciocinei. Eu nunca o tinha visto antes em minha vida.
Embora não pudesse ver seu rosto na escuridão, eu sabia
simplesmente por sua estrutura, sua escolha de transporte, e a
fumaça esvoaçante de seus pulmões, que nós não frequentávamos
exatamente os mesmos círculos sociais.

Ainda assim, não estava disposta a sentar sozinha no meio da


noite, vestida apenas com uma regata e uma bermuda de algodão de
dormir, quando havia um homem qualquer à espreita na frente da
minha casa. Era hora de voltar para dentro, de preferência sem atrair
qualquer atenção indevida para mim mesma.
Canalizando minha interior Sydney Bristow 2, deslizei minhas
mãos para trás até que meus dedos roçaram a borda da janela. Muito
lentamente, movi meu corpo para trás, mantendo meus olhos
treinados no homem sombrio. Quando ele não teve nenhuma reação
aos meus movimentos secretos, senti a sensação do pânico pesado
saindo do meu peito. Ele não tinha me notado; ele nem estava olhando
para mim.

Bond, Brooklyn Bond.3

Mais confiante, girei minhas pernas e deslizei para dentro da


janela, meus joelhos afundaram no meu edredom. Olhei mais uma vez
para o homem na rua quando comecei a colocar meu tronco para
dentro, minhas mãos apoiadas contra o parapeito da janela.

Através da escuridão, senti nossos olhos se encontrarem. Não


era como se eu pudesse ver fisicamente os olhos, mas de alguma forma
eu sabia que eles estavam olhando diretamente para os meus.

Tanta coisa para a minha teoria de que ele não podia me ver.

Eu observei quando ele deu uma última tragada em seu


cigarro, moveu a mão em sua testa, e me enviou uma saudação de
zombaria, como se para reconhecesse a minha saída do telhado. Meus
olhos seguiram o movimento de sua mão, inequivocamente identificada
pelo brilho fraco de seu cigarro, e eu rapidamente movi o resto do meu
corpo para dentro, trancando a janela atrás de mim.

Que imbecil.

De volta à segurança do meu quarto, meu medo desvaneceu-


se rapidamente. Quem quer que fosse, estava claramente satisfeito
com o fato de que ele conseguiu me fazer tão desconfortável
simplesmente por vagabundagem. Provavelmente era algum irmão de

2
Sydney Bristow - personagem de Jennifer Garner na série Alias. Ela era uma agente secreta.
3
Referência a James Bond, famoso espião inglês.
fraternidade estúpido, esperando por seu colega de irmandade
tropeçar para fora de um encontro de fim de noite. Ele não tem nada a
ver comigo.

Pelo menos, é isso que eu disse a mim mesma quando olhei


para fora da janela um minuto depois e vi que a moto tinha
desaparecido completamente.

***

Algumas horas mais tarde, sentada em um de nossas


banquetas do balcão na ilha da cozinha, tomei um gole do meu café
avidamente. Ah, cafeína. Doce néctar dos deuses. O fraco sol da
manhã escorria através de uma claraboia na parte de cima,
iluminando nossos armários com pintura descascada e móveis
incompatíveis. Meus dedos distraidamente moviam-se na bancada
manchada, traçando uma coleção de arranhões escavados na última
década pelos inquilinos.

Lexi se arrastou até a cozinha, seu cabelo vermelho ainda


despenteado do sono e os pés enfiados em um par de chinelos
medonho de sapo verde.

"Café", ela murmurou.

Lexi não era exatamente o que você chamaria de uma pessoa


da manhã.

"Já fiz," disse, escondendo um sorriso por trás da minha


caneca de café quando avistei diante de mim seu cabelo desgrenhado e
pijamas amarrotados.

"Você é uma santa", disse ela, servindo-se de uma xícara


fumegante e inalando profundamente o aroma em seu nariz.
"Pensei que nós havíamos decidido queimar esses chinelos
após a sétima série, juntamente com sua coleção de Beanie Babies e
pôsteres do N’Sync" observei sarcasticamente. Lexi simplesmente
olhou para mim, sem vontade de dar uma resposta.

"Como você já vestida e perfeita? Eu ainda tenho que tomar


banho antes da aula às oito. Que horas são, afinal?" Ela perguntou.

"Para responder à sua primeira pergunta - eu estive acordada


a noite toda e tive tempo de sobra para me vestir. E, quanto à
segunda," olhei para o relógio digital do micro-ondas, "É 6:57."

Lexi fez uma careta de simpatia com o pensamento da minha


noite sem dormir. Então, novamente, aquela garota podia dormir 15
horas por dia e, provavelmente, ainda não seria suficiente para ela.
Sua cama era, muito possivelmente, o seu lugar favorito no mundo.

"Espere! Merda! Já são sete?" Lexi exclamou, pulando para


fora da banqueta e quase derrubando seu café no processo. "Eu nunca
vou estar pronta a tempo! Perfeição não acontece, é preciso tempo,
Brooklyn. Acho que vou me atrasar para a minha primeira aula.
Merda!", amaldiçoou novamente, correndo para fora da cozinha.

"O professor provavelmente só irá passar por cima do


programa de estudo de qualquer maneira! Nada crucial", falei para o
corredor atrás dela.

Não que isso importasse; se ela tinha cinco minutos ou


quarenta, Lexi poderia reunir uma aparência elegante que a maioria de
nós só conseguiria com a ajuda de especialistas treinados em
maquiagem. De alguma forma, ela até mesmo fazia cabelo
desgrenhado ficar atraente. Inferno, se Lexi fosse para a aula usando
aqueles chinelos de sapo malditos, metade do corpo estudantil
feminino estaria usando dentro de uma semana.
Parecia-me irônico que, graças às minhas noites sem dormir,
eu tinha horas para ficar pronta quando raramente necessitava de
mais de dez minutos para fazer meu cabelo e maquiagem. Quanto a
escolher roupas, eu nunca fui de meticulosamente planejar ou colocar
acessórios nas minhas roupas. Normalmente, eu apenas jogava minha
combinação padrão de jeans, um top e chinelos. Quanto ao resto,
depois de esconder minhas escuras olheiras sob os olhos, passava um
toque de rímel e brilho labial, e deixava minhas ondas escuras caírem
livremente, estava pronta para ir.

Eu não entendia o que poderia tomar de Lexi tanto tempo. Ao


longo dos anos, ela frequentemente tinha sido frustrada pela minha
total falta de interesse em roupas, maquiagem, e compras. Segundo os
deveres da minha melhor amiga, eu servi como sua conselheira
sensata de camarim por muitos anos, enquanto ela incansavelmente
pesava os prós e contras de um vestido especial ou um par de sapatos
de salto. Eu estabeleci um limite, no entanto, deixando-a escolher a
roupa para mim. Como uma coordenadora de moda, ela estava
constantemente tentando me desviar da minha aparência de menina-
chata-ao-lado, mas não via o ponto. Minhas roupas estavam boas,
mesmo que lhes faltasse grifes ou toque vanguardista.

Eu considerei servir para mim outra xícara de café, mas


decidi contra isso. Dois copos eram o meu limite - mais e eu seria
instável e inquieta para o resto do dia. Vagando de volta para o meu
quarto, verifiquei novamente que eu tinha alguns cadernos vazios e
uma cópia do meu horário de aula dobrado ordenadamente em minha
mochila.

Eu tinha três matérias hoje: Justiça Criminal, Sociologia, e


falar em público. Ótimo. Pré-direito da universidade abrangia um leque
variado de cursos, a maioria dos quais eram extremamente chatos e
cheios de advogados argumentativos.
Não posso esperar. Revirei os olhos. Estudante do segundo
ano, lá vou eu.

***

Lexi ofereceu um comentário sobre moda enquanto


caminhávamos os três blocos do nosso apartamento para o campus.
Na maior parte da vezes eu só ouvia e tentava manter uma cara séria.

"O que é aquilo que aquela menina veste? Aquilo é uma saia
xadrez!" Lexi sussurrou, claramente indignada quando ela apontou
para a menina, que andava alguns passos a nossa frente. "É como se
Rory tivesse saído do set de Gilmore Girls!" Ela balançou a cabeça em
descrença.

"Você tem assistido reprises no ABC Family, novamente, não


é?" Eu acusei.

"Psh, Brooke. Você está brincando? Eu possuo o box de


DVDs"

"Você tem tantos problemas."

"Eu sei, mas é por isso que você me amaaaaa!", Ela cantou,
jogando um braço em volta dos meus ombros e me impulsionando
mais rápido pela calçada.

"Hum, Lex, suas pernas são pelo menos seis centímetros mais
longa do que a minha", reclamei, lutando para igualar o seu ritmo
cada vez maior.

"Eu sei, mas acho que eu vejo Finn lá na frente", disse ela,
espiando por cima do ombro da 'Rory' para ter um vislumbre de
qualquer garoto que havia lhe chamado à atenção.
Evidentemente insatisfeita com a visão, ela me puxou em
volta da menina vestida de um xadrez desgastado Gilmore e quase
capotou em sinal de parada, recusando-se a ir mais devagar, mesmo
quando eu gritei em protesto e tentei me soltar de sua mão. Ela nem
sequer se preocupou em reconhecer minha luta e, depois de várias
tentativas de fuga sem sucesso, parei de lutar. Permitindo ser
arrastada, dei um suspiro martirizado e resignei-me ao meu destino.

"E quem, posso perguntar, é Finn?"

Isso chamou a atenção dela. Sua cabeça virou tão rápido que
imediatamente lembrei-me da cena do filme O Exorcista a cabeça
girando.

"O que quer dizer com quem é ele? Você sempre escuta
quando eu falo? Espere, não, não responda a isso", ela olhou para
mim, ainda caminhando a um ritmo alucinante. "Ele é apenas o
espécime mais atraentes de masculinidade neste campus! A estrela
Irmanstituta de cada fantasia!"

"Irmanstituta?"

"Algo como irmandade com prostituta. Meio cativante, certo?"


Lexi sorriu por um breve segundo antes de escorregar para sua mais
severa careta de desaprovação. "Eita, Brooke. Eu sei que você não tem
o menor interesse em fofocas, mas, no mínimo, é preciso reconhecer os
homens produtores de baba no campus! Eles são poucos e distantes
entre si."

"Desculpe. Por favor, continue descrevendo esse espécime de


masculinidade", pedi com sarcasmo considerável.

"Bem, ele é lindo. E completamente inacessível, é claro. Quero


dizer, ele dorme por aí, não me interprete mal. Mas ele não fica por
perto. Usa e joga fora, pelo que ouvi dizer", ela falou. "Ele é um sênior,
transferiu-se para cá no ano passado."
Lexi continuou a percorrer a calçada em frente a nós, na
esperança de manter seu alvo esquivo à vista. Aparentemente,
estávamos sendo perseguidoras agora. Não admira que este menino
não ficasse por aqui. Se Lexi fosse qualquer indicação, as alunas da
escola, realmente não entendiam de limites.

"É definitivamente ele, siga em frente", ela gritou, sua voz,


pelo menos, três oitavas acima do normal.

Não conseguia ver por cima das cabeças das três meninas que
andavam diretamente à nossa frente, e, assim, foi negado um
vislumbre da nova obsessão de Lexi.

"O que você vai fazer se você conseguir alcançá-lo, gênio?" Eu


respirei, ligeiramente sem fôlego.

Em vez de responder, Lexi me puxou para o lado, passando


pelo aglomerado de meninas e me jogando direto no caminho de um
hidrante que não vi. Afastei-me, cavando em meus calcanhares e
tentando desesperadamente retardar o meu ritmo, mas o impulso de
Lexi tornou impossível evitar a colisão que se aproximava. Colidindo
com o hidrante em velocidade máxima, o vento foi batido de meus
pulmões e eu navegava no ar. Eu só tive tempo suficiente para jogar
minhas mãos na frente do meu rosto e apertar meus olhos fechados
antes do chão apressasse para me encontrar.
Capítulo 02
Pontos de Carma

Havia algo molhado gotejando nos meus olhos e ao lado do


meu rosto. Estava escuro. Meus olhos estavam pesados, como se
tivessem sido colados fechados. Tentei puxar uma respiração
profunda, estremecendo de dor quando o ar encheu meus pulmões
doloridos.

"Puxe pequenas respirações, por agora. Isso foi um tombo


bastante desagradável que você teve", disse uma voz profunda, perto
do meu ouvido.

Isso definitivamente não é Lexi.

Experimentalmente, puxei uma pequena respiração pelo nariz


e segurei dentro dos meus pulmões, aliviada de que não havia
nenhuma sensação de queimação acentuada neste momento.
Liberando a respiração, lentamente comecei a reunir os meus sentidos.
Ainda estava deitada na calçada, a julgar pela superfície dura e fria
abaixo de mim, mas minha cabeça estava embalada por algo macio.

"Você pode abrir os olhos?" a voz perguntou, com som rouco


me implorando para tentar.

Eu lentamente consegui abrir minhas pálpebras, permitindo


uma visão do céu entrando em foco. Estendendo a mão para escovar o
cabelo úmido longe do meu rosto, fiquei surpresa quando os meus
dedos ficaram cobertos de sangue.
"Há um corte em sua testa. Não parece muito profundo;
ferimentos na cabeça, mesmo superficiais, sangram muito. Você vai
ficar bem", a voz me assegurou. "Isso vai ser um galo impressionante,
no entanto."

Tentei sentar, imediatamente lamentando a minha decisão


quando o mundo começou a girar em torno de mim. Mãos apertaram
em meus braços, obrigando-me lentamente a voltar a descansar contra
o peito largo do meu salvador.

"Não tente sentar. Você poderia ter uma concussão. Você


precisa ficar parada até que a ambulância chegue."

"Ambulância?!" Resmunguei, minha voz áspera com o pânico.

"Sua amiga, a ruiva, está chamando uma agora."

"Diga a ela para parar", implorei. "Por favor, só preciso ir ao


centro de saúde estudantil. Não preciso de uma ambulância." Virei a
cabeça para cima, finalmente encontrando os olhos escuros do meu
salvador. "Por favor", repeti, meus olhos verdes olhando para o
conjunto mais escuro da íris azuis que já vi. Elas eram a sombra mais
profunda de cobalto, mal se distinguindo de suas pupilas negras.
Olhos incomuns.

"Eu não lido bem com... hospitais", admiti, olhando para


longe de seu olhar penetrante.

"Bem. Se é isso que você diz", concordou um pouco incerto,


franzindo a testa enquanto ele embalou meus ombros com um braço.
Tirando sua jaqueta de couro preta, ele a amassou em uma bola e
gentilmente mudou minha cabeça do seu peito, deitando-me no
travesseiro improvisado.

Movi meus olhos para acompanhá-lo quando ele se levantou,


caminhou até Lexi, e tomou o telefone da mão dela. Ele falou
rapidamente com quem estava do outro lado da linha, olhando para
trás em minha direção várias vezes antes de desligar. No meu estado
sem atordoada, só registrei sua altura e cabelos escuros antes de
deixar os meus olhos se fecharem mais uma vez.

"Ei, você ainda está viva ai embaixo?" Sua voz profunda riu.

Eu gemi evasivamente em resposta.

"Vou pegar você e levá-la para o centro de saúde dos alunos.


É apenas alguns edifícios para baixo a partir daqui. Ok?" ele
perguntou, não esperando uma resposta quando ele suavemente
colocou os braços sob os meus joelhos e me pegou como uma criança.
"Pelo menos você escolheu um local conveniente para se matar." Senti
seu estrondoso riso através de seu corpo quando me levantou,
aparentemente não afetado por meu peso.

Embalada contra seu peito, abri os olhos novamente para


procurar Lexi. Ela estava caminhando diretamente ao nosso lado, com
os olhos treinados no meu rosto. Assim que ela viu meus olhos abertos
as desculpas começaram a fluir dela em uma torrente, fazendo com
que a minha cabeça já doendo triturasse.

"Oh meu Deus, Brooklyn, você está bem? Estou tão, tão, tão,
tão arrependida. Devo-lhe um grande pedido de desculpas. Por favor,
não morra. Vou comprar inúmeros cafés do Starbucks por um mês,
como muitos cafés com leite como você gosta. Eu juro, eu não queria!
Esse hidrante veio do nada. E você simplesmente saiu voando! Meu
Deus, nunca fiquei tão assustada em toda a minha vida. E você tem
um corte em sua cabeça! Não se preocupe, é uma linha fina. Você pode
totalmente cobri-la com a sua franja... Tem certeza que está bem?"

Eu juro que ela sequer respirou. Poderia ter sido


impressionante se eu não estivesse com a cabeça sangrando e muito
possivelmente com uma concussão.
"Tenho certeza que ela vai ficar melhor depois que você parar
de resmungar sem parar para ela", a voz do cara repreendeu por cima
de mim.

"Oh... bem," Lexi sussurrou, olhando de repente com pesar.


"Eu sinto muito, Brookie. Vou ficar quieta agora eu prometo."

"Eu estou bem, Lex", murmurei, virando meu rosto para longe
da luz solar e no ombro do meu salvador. Quando inalei o cheiro de
seu perfume ou loção pós-barba, senti um perfume inebriante de
folhas de outono e maçãs torradas. Ele cheirava a outono, a minha
estação preferida. Ri em voz alta com o pensamento, reconhecendo
quase imediatamente que eu estava delirando e, com toda a certeza,
sofrendo de uma concussão.

De repente, estávamos subindo as escadas e passando pela


porta de vidro. A recepcionista deu uma olhada em nós antes de
chamar uma enfermeira no interfone, simultaneamente nos dirigindo
para uma sala com umas seções separadas por cortinas.
Estabelecendo-me suavemente sobre uma maca, o cara mexeu meu
cabelo para longe dos meus olhos e sorriu para mim, uma covinha
apareceu em um lado do rosto.

"Bem, isso definitivamente preenche minha cota anual de ato-


de-bondade", ele brincou. "Pelo menos, eu acho que ajudar alguém
alheio o suficiente para tropeçar em um hidrante vai contar." Seus
olhos enrugaram quando sorriu brincando às minhas custas.

Rude.

"Cuidado", avisei, sacudindo o dedo para trás e para frente


para ele. "Tirar sarro dos feridos é uma definitiva diminuição dos
pontos de carma."

"Eu vou me arriscar. Agora tenho seu sangue na minha


camisa favorita, a propósito", ele disse, gesticulando tristemente em
direção à mancha de sangue agora estragando a insígnia da banda em
sua camiseta cinza escuro. "Quer dizer, eu sabia que andar e falar ao
mesmo tempo é um desafio para vocês meninas do grêmio, mas, pelo
menos, tente se lembrar de evitar os hidrantes - você sabe, essas
coisas brilhantes vermelhas - no futuro. Você acha que pode lidar com
isso, querida?" ele zombou.

Em um instante, qualquer gratidão que senti por esse


estranho desapareceu, substituída pela raiva e mais do que um pouco
de vergonha. Não só ele tinha insultado a minha inteligência, ele tinha
me igualado, como Lexi diria, a uma Irmanstituta!

"Oh, estou tão arrependida. Da próxima vez que eu estiver


com a cabeça sangrando vou ter a certeza para direcioná-la para outra
pessoa!" Eu retruquei, minha voz tremendo de indignação.

"Eu aprecio isso", ele zombou de volta. "Agora, tão divertido


como isto tem sido, eu realmente preciso ir. Cuidado com os hidrantes,
criança. Da próxima vez eu poderei não estar lá para salvá-la."

Criança?! Quem diabos esse cara acha que ele é?

"Não me lembro de pedir sua ajuda!" Olhei para ele friamente.


"Normalmente iria dizer obrigada, mas neste momento acho que eu
teria preferido ser deixada sangrando na rua!"

"Como quiser", ele sorriu de volta para mim, novamente


mostrando a covinha irritantemente bonita quando ele se retirou para
trás em direção à porta. Quando ele se virou, ele viu Lexi fazendo um
caminho mais curto para a minha maca com uma enfermeira no
reboque.

"Aproveite o seu tempo com a ruiva. Eu não acho que já ouvi


alguém falar tão rápido na minha vida", observou ele, uma
sobrancelha arqueando-se com o pensamento. "Ah, e antes que eu
esqueça - você me deve uma camiseta cinza escuro. Tamanho grande."
Com uma piscadela final para mim, ele girou e caminhou até
a porta da entrada de vidro, desaparecendo ao sair no sol antes que eu
pudesse sequer cogitar rebatê-lo. Eu estava em um silêncio atordoado,
processando lentamente o fato de que ele tinha acabado de sair,
deixando nada além de uma encomenda para uma nova camiseta
cinza.

Que idiota!

O choque do acidente havia passado há vários minutos; na


minha ira, ainda não tinha notado principalmente que a dor na minha
cabeça tinha diminuído. A enfermeira rapidamente decidiu que eu, de
fato, não tive uma concussão - apenas um galo severamente
desinteressante na minha testa e um pequeno corte na minha cabeça.
Com uma eficiência que atestou sua experiência de anos remendando
jovens universitários imprudentes, a enfermeira limpou o sangue do
meu rosto, colocou um pequeno curativo sobre o corte, e enviou-me
prontamente no meu caminho para a aula com uma compressa de gelo
para diminuir o inchaço.

Meu encontro com a morte não me faria sequer me livrar de


uma tarde com a aula de Justiça Criminal.

Droga.

***

Em um raro momento de silêncio, Lexi e eu saímos do centro


de saúde estudantil e lentamente refizemos nossos passos para o local
do acidente. Minha mochila, descartada na pressa da atividade, estava
abandonada na calçada. Quanto me dobrei para recuperá-la, notei que
um pedaço de material escuro tinha sido empurrado para baixo dela.
Joguei a alça da minha mochila sobre um dos ombros e estendi a mão
para o material enrolado, que agora reconheci como a jaqueta de couro
preta.

Merda.

"É a jaqueta do Finn", explicou Lexi. "Ele colocou sob sua


cabeça como um travesseiro depois que você caiu."

"Depois que eu caí? Essa é a história que você acredita?"

"Bem, acho que pode ter sido um pouco de culpa minha", ela
admitiu, suas bochechas rosadas.

"Um pouco? Lexi, você está brincando comigo? Você


completamente... espera. Você acabou de dizer o menino que me
carregava era Finn? Como... o Finn que você quase me matou para
persegui-lo?" perguntei, um pouco chocada.

"Sim", Lexi murmurou com ar sonhador. "Ele não é um


cavalheiro?"

"Eu poderia pensar em alguns outros nomes de escolha para


ele. Como imbecil, babac-"

"Brooklyn!"

"O Quê?! Ele agiu como um otário para mim!"

"Ele salvou a sua vida!" Ela me olhou com indignação, mãos


firmemente plantadas nos quadris, numa demonstração de
intimidação.

"Lex, eu bati minha cabeça. Eu não estava exatamente


morrendo", apontei.

"Você é impossível", ela bufou. "Só você poderia ter sido


literalmente carregada no colo pelo homem mais atraente neste
campus e permanecer completamente inalterada. Sabe, às vezes eu
acho que você é uma extraterrestre."

Ela inclinou a cabeça e olhou para mim com os olhos


entrecerrados, como se tivesse avaliando as chances de que eu era, de
fato, uma extraterrestre. Simplesmente dei de ombros e comecei a
caminhar em direção ao campus, sabendo que ela viria atrás em breve.

Lexi nunca tinha entendido minhas interações com os


meninos; era altamente duvidoso que ela ia começar agora. Para mim,
não valia a pena ficar vulnerável por causa da intimidade. Ou pior,
deixar algum garoto possuir um pedaço de você só para
inevitavelmente quebrá-la. A maioria dos relacionamentos de Lexi
acabou pouco antes de seu menino do mês sacar seu pacote e fazer
xixi em cima dela para marcar seu território. E ainda de alguma forma,
em sua mente, isso era traduzido como romance.

Então, novamente, Lexi sinceramente acreditava em coisas


como almas gêmeas, amor verdadeiro, finais felizes.

Eu não.

Os seres humanos não são destinados a serem criaturas


monogâmicas. A maioria das pessoas provavelmente discordaria, mas,
em seguida, a maioria das pessoas também teria que ver as crescentes
taxas de divórcio e infidelidade. Por que alguém iria escolher correr
para algo com uma chance de 50% de falhar era incompreensível para
mim.

Pessoalmente, eu prefiro ficar com a minha própria definição:

Casamento (substantivo): alguém apostando metade das


suas coisas que alguém vai amá-los para sempre.

No colégio diferentes meninos tinham marcado encontros


comigo e, principalmente para satisfazer Lexi, eu tinha saído com eles.
Mas depois de um tempo, todos eles perceberam que eu nunca poderia
lhes dar o que eles estavam procurando. Eu nunca lhes pertenci -
nunca vestia seus casacos com suas letras, ou dava as mãos no
corredor, ou decorei seus armários no dia do jogo - porque eu nunca
ficaria tentada o suficiente para considerar sequer me tornar
emocionalmente envolvida.

Entendi perfeitamente os benefícios da pura atração física.


Parecia sempre que o destino, ou evolução, tinha jogado uma piada
cruel para mim - eu era provavelmente a única garota no mundo que
não queria compromisso de um menino, no entanto, cada cara que eu
namorei parecia esperar isso de mim.

Eu tentei explicar isso para Lexi muitas vezes, mas ela não
entendeu. Para ela, qualquer perspectiva de amor, não importa o quão
fraca, vale a pena perseguir. Infelizmente para mim, sua mentalidade
era espelhada da maioria do ensino médio, e eu rapidamente ganhei o
apelido encantador de "cadela de gelo" da população masculina. Ou,
pelo menos, de quem havia tentado, sem sucesso, namorar comigo. As
meninas da minha turma tendiam a me chamar por uma enorme
quantidade de nomes menos lisonjeiros, mas eu realmente não dei à
mínima se elas achavam que eu era uma vagabunda.

Lexi ainda estava resmungando baixinho sobre a minha


surpreendente falta de gratidão com Finn quando nos separamos no
edifício de Criminologia. Aparentemente, como a única garota no
campus que não virou massa em suas mãos, eu era uma aberração da
natureza destinada a morrer sozinha com milhares de gatos. Pelo
menos, tenho certeza que é o que Lexi murmurou enquanto ela
caminhou em direção ao estúdio de arte.

Andando para minha primeira aula, percebi que a jaqueta de


couro de Finn ainda estava apertada na minha mão direita. Não
sabendo mais o que fazer com ela, empurrei em minha mochila. Foi
um ajuste apertado, o zíper mal fechando com o casaco volumoso
preso dentro. Examinando-o, suspirei. Sabia que carregando isso eu
parecia uma das calouras estereotipadas, facilmente apanhada no
meio da multidão, com mochilas cheias de livros didáticos no início de
cada semestre.

Depois de pesar os prós e contras desse cenário desagradável,


apressei-me a retirar meus cadernos da mochila, deixando no interior
apenas o casaco. Muito melhor, observei, dando um suspiro de alívio e
sentando em uma cadeira no meio da grande sala de aula.

O resto do meu dia passou sem incidentes. Com a exceção de


um punhado de olhares atraídos pelo curativo na minha testa, eu era
capaz de voar na maior parte das vezes abaixo do radar. Minhas aulas
eram, como se esperava, reiterações chatas de plano de estudos e uma
discussão sobre as expectativas do curso. Justiça Criminal e
Sociologia cada uma tinham várias centenas de alunos inscritos que
foram classificados na média, então elas seriam fáceis para mim.
Oratória seria uma questão diferente - com apenas vinte alunos, a
professora deixou claro que se esconder na fileira de trás não era uma
opção. Ela ainda nos obrigou a fazer placas juvenis com papel
dobrado, exibindo com destaque nossos nomes em nossas mesas como
se estivéssemos na segunda série. Claro, ela imediatamente me notou
e decidiu me torturar na frente da classe. Era só aquele tipo de dia,
depois de tudo.

"Seu nome é Brooklyn?" ela exclamou, com a voz


artificialmente interessada. "Que diferente! Existe algum significado
para ele?"

Esta questão não era nova para mim - ano após ano, de
professores do ensino fundamental ao médio me perguntava a mesma
coisa. De alguma forma, presumi que eu tinha escapado disso quando
fui para a faculdade. Então, novamente, também pensei que havia
escapado de borbulhantes e maternas professoras. Esta mulher era
seriamente uma professora credenciada?

"Oh, sim, eu acho que há," Dei de ombros, desconfortável sob


os olhares ponderados de toda a classe. "Minha mãe me chamou de
Brooklyn, porque foi onde ela e meu pai se conheceram." Tradução: foi
lá que ela engravidou.

Propositadamente lhe dei o mínimo de detalhes possível,


sabendo que era melhor para desencorajar quaisquer outras perguntas
sobre minha filiação. Desapontada, ela franziu a testa ligeiramente
antes de voltar para interrogar outra pessoa. Eu relaxei, olhei para o
relógio em cima da porta, e comecei a contar os minutos até o final da
aula.

***

De volta ao meu apartamento naquela noite, John Mayer


cantarolou através da minha caixa de som enquanto eu dancei e cantei
em meu caminho em torno da cozinha, reunindo os ingredientes para
o jantar. A porta da frente se abriu e Lexi caminhou com um copo de
Starbucks em cada mão.

"Um café com leite, como prometido", disse Lexi, sorrindo


enquanto ela me entregou a xícara fumegante. "Perdoa-me?"

"Perdoada", concordei, bebendo alegremente meu café com


leite.

"O que há para o jantar?"

"Como você se sente sobre lasanha de legumes?"


"Parece perfeito. Como está sua cabeça?" Ela perguntou,
fazendo uma careta ligeiramente.

"Está tudo bem, tomei alguns analgésicos e eu mal posso


sentir isso mais."

"Ótimo! Porque vamos sair hoje à noite," Lexi anunciou.

"É segunda à noite. Tenho duas aulas amanhã, Lex; Não vou
sair."

"Poor favoor", ela reclamou, fazendo olhos de cachorrinho, "Há


uma banda tocando no Styx esta noite que dizem ser incrível! Temos
que ir."

"Você nem mesmo gosta de ir para ver bandas, e você


definitivamente não gosta de Styx", observei, lembrando sua reação ao
escuro clube, lotado a primeira e única vez que já tinha ido lá. "Então,
quem é ele?" Perguntei casualmente, entre goles de café.

"Quem é quem?" ela perguntou, brincando inocente.

"Quem é o cara que falou para você ir lá hoje à noite?" Eu


disse, chamando-a para fora em sua besteira. Sabia que tinha
acertado quando suas bochechas avermelharam para combinar com o
tom exato de seu cabelo.

"Ok, tudo bem! Você me pegou", ela admitiu, não encontrando


meus olhos. "Há esse cara na minha classe de Literatura Americana.
Ele pode ou não pode ter mencionado estar lá hoje à noite."

"Mas por que eu tenho que ir com você?" reclamei.

"Brooklyn Grace Turner! Você sabe que não posso


simplesmente ir sozinha! Você é minha amiga. Além disso, você não
quer que eu volte a pé para casa sozinha, não é?" ela implorou,
batendo os cílios para mim. "Vou te dever um grande favor!"
"Você quase me matou esta manhã! Você já me deve, Lex",
recordei-lhe.

"Sim, mas você já me perdoou por isso! Por favooor vem


comigo, Brooke." Seus olhos azuis bebê estavam praticamente
brilhando com lágrimas falsas.

"Mesmo que eu concordasse a ir - o que eu não concordei. -


Há ainda a questão de haver um hematoma gigante na minha testa".

"O inchaço desapareceu completamente e vou trabalhar a


minha magica em seu cabelo e maquiagem. Ninguém nem vai notar,
uma vez que eu terminar com você", prometeu.

"Tudo bem", murmurei, sabendo que eu estava apenas


prolongando o inevitável. Uma vez que Lexi se decide sobre algo, era
quase impossível de detê-la.

"Sim! Você é absolutamente a melhor", ela gritou, jogando os


braços em volta do meu pescoço. "Você não vai se arrepender, eu juro!"

"Eu sei", concordei, sorrindo quando um pensamento me


ocorreu. "Porque você estará comprando cada rodada de bebida."
Capítulo 03
Pequenas Embalagens

"Qual é o nome desse cara, afinal?" Gritei no ouvido de Lexi,


tentando ser ouvida sobre o som alto.

A banda ainda tinha que fazer sua aparição, e Styx pulsava


com os sons computadorizados de música eletrônica. A pista de dança
estava lotada de corpos, e Lexi e eu empurramos o nosso caminho
através da aglomeração para o bar. O barman estava atolado, correndo
para trás e para frente preenchendo os pedidos de bebida.

"O que você disse?" Lexi gritou de volta para mim, alisando o
cabelo vermelho e ajustando seu decote antes de fazer uma tentativa
de aceno para o barman. Finalmente conseguindo chamar a sua
atenção, ela pediu duas vodca e bateu uma nota de dez para baixo no
balcão.

"Fique com o troco", ela piscou para ele quando ele colocou as
bebidas na frente dela.

Entregando uma para mim, ela liderou o caminho em direção


à frente da pista de dança, o mais perto que podíamos chegar do palco.
Ela se virou quando chegamos ao nosso destino, levantou a bebida
para mim em saudação.

"Saúde, cadela! Pelo segundo ano", declarou ela, brincando


batendo o seu copo no meu.

"E as identidades falsas", concordei rindo. Tomei um gole da


bebida, refrescante no calor úmido do clube, e olhei para cima quando
as luzes do palco começaram a piscar, sinalizando a chegada da
banda.

"Finalmente!" Lexi gritou. "Tyler é o baterista, a propósito."

Ah, então esse era o nome do misterioso homem da aula de


Literatura Americana - e isso explicou a nossa ridícula proximidade
com o palco.

Puxei desconfortavelmente o vestido de renda preto curto que


deixei Lexi me convencer a vestir. Tinha que admitir, porém, que ela
tinha feito maravilhas com o meu cabelo e maquiagem. Minhas ondas
longas foram artisticamente pregadas ao redor da minha cabeça, com
cachos cuidadosamente selecionados pendendo para enquadrar o meu
rosto. Quanto à contusão, Lexi tinha mantido sua palavra e fez
desaparecer sob camadas de base cara. As sombras escuras sob os
meus olhos, os restos permanentes de minhas noites sem dormir, só
seria perceptível sob intenso escrutínio.

As luzes do palco surgiram de repente, iluminando a


plataforma e me cegando temporariamente. Quando minha visão
clareou, vi quatro silhuetas de homens diante do palco iluminado.
Lentamente, as luzes da casa se acenderam, revelando os membros da
banda. Meus olhos seguiram o corpo do cantor – iniciando nas botas
pretas de combate próximas ao nível do olho, passado pelas coxas
vestidas de jeans preto, e finalmente se fixando sobre o peito bem
esculpido preenchido com uma simples camisa V preta. Uma tatuagem
elegante envolvia cuidadosamente um de seus bíceps desaparecendo
sob a sua camisa - uma espiral tribal de padrões indiscerníveis que
imediatamente chamou minha atenção e me fez fantasiar sobre traçar
meus dedos ao longo do labirinto de tinta.

"Oh, merda," ouvi Lexi murmurar ao meu lado;


aparentemente, eu não estava sozinha em meu apreço pela banda, e
minha leitura lenta ainda não tinha atingido o seu rosto ainda. Com
esse pensamento, parei descaradamente cobiçando seus músculos do
ombro e mudei o meu olhar.

Parei de respirar.

Sim, era certamente um rosto atraente - mais do que


simplesmente atraente, se eu fosse honesta comigo mesma. Ele era
lindo, com olhos escuros, um queixo cinzelado, e um sorriso
perversamente sexy tocando no canto da boca.

A mesma boca que havia me insultado menos de 24 horas


atrás.

Porque eu estava olhando para Finn. E Finn estava olhando


diretamente para mim.

Ele quase pareceu surpreso, mas correntes de diversão e


satisfação presunçosas apareceram em seu rosto quando ele me
reconheceu e viu o meu desconforto palpável. O babaca, obviamente,
havia me pegado no processo de despir lentamente seu corpo com os
meus olhos, e ele não poderia estar mais feliz sobre isso.

Porcaria.

Tenho certeza de que ele registrou meu olhar de choque e


confusão antes de conseguir romper com seu olhar presunçoso,
virando-me para encarar Lexi. Ela parecia tão surpreendida quanto eu
me sentia.

"Juro que não tinha ideia de que ele estava na banda,


Brooklyn! Eu nunca ia fazer você vir se eu soubesse". Eu tinha
repreendido Lexi mais cedo, quando ela aplicava a minha maquiagem,
remoendo todas as observações prepotentes que ele tinha feito e,
finalmente, concluindo que ele era um idiota arrogante que não
merecia mais do meu tempo.
"Talvez ele não nos note", menti inutilmente, sabendo que ele
tinha me visto imediatamente.

A voz de Finn crepitava sobre o microfone, levando minha


atenção de volta para o palco.

"Olá a todos, bem-vindo ao Styx. Somos Apiphobic Treason, e


nós estamos aqui para animar sua segunda-feira. Faça algum barulho,
pessoal!"

A multidão gritou de volta para ele.

"EU DISSE PARA FAZER ALGUM BARULHO PORRA!"

Os gritos que eclodiram foram ainda mais alto do que antes.


Sua presença por si só parecia fazer a maioria das meninas na plateia
ficar com calor; elas estavam dando cotoveladas para mais perto do
palco, empurrando para fora seu decote, e gritando o nome de Finn
como se ele fosse Tom Cruise ou algo assim. E não quero dizer isso
porque acho que Tom Cruise fosse atraente – mais ainda porque ele é
um fanático religioso louco, e essas meninas estavam agindo como
umas loucas adoradoras da Cientologia.

Eu revirei os olhos para as suas manobras pateticamente


evidentes de atenção.

"Antes de começarmos o nosso show esta noite, só quero


emitir um pequeno anúncio de serviço público em nome do nossa
amada universidade" ele falou sarcasticamente no microfone. Então,
olhando para baixo diretamente para mim, ele continuou,
"Aparentemente, os hidrantes estiveram em ação hoje, então cuidado
aonde você pisa quando você tropeçar para casa hoje à noite."

A plateia riu como se fosse a coisa mais engraçada que já


tinham ouvido. Não sei por que eles riram, uma vez que não fez
sentido para qualquer pessoa no clube, exceto Lexi e eu. Metade deles
estavam, provavelmente, bêbados demais para perceber, e a outra
metade estava, sem dúvida, muito ocupada imaginando Finn nu para
compreender suas palavras.

Como Finn riu ao microfone de sua própria piada, olhei para


ele. Ele enviou uma piscadela enfurecida para mim antes de se voltar
para a multidão e lançando em um set incrivelmente energético.

"Bem", disse Lexi, engolindo. "Ele definitivamente nos notou."

"Merda".

"Você quer ir embora?"

Sim, eu queria desesperadamente sair. Não tinha vontade de


ficar aqui e ser ridicularizada, pela segunda vez hoje, por um idiota
egoísta. Mas eu tinha certeza de que era exatamente o que ele estava
esperando que eu fizesse - correr para casa, muito envergonhada por
seus comentários para permanecer no Styx.

Bem, eu não estava prestes a lhe dar a satisfação de estar


certo, e com certeza não estava disposta a deixá-lo me afugentar. Além
disso, se eu saísse à noite de Lexi estaria arruinada também. Só não ia
fazer contato visual com ele de novo, resolvi. Isso seria ótimo.

"Não. Vamos ficar, foda-se ele. Talvez só não, hum... tão perto
do palco", respondi, movendo meus ombros e rapidamente tomando o
resto da minha bebida. "E definitivamente vou precisar de outra
rodada."

"Isso pode ser arranjado", Lexi sorriu, agarrando minha mão e


me puxando na direção do bar.

Nós manobramos nosso caminho no meio da multidão, que


agora estava se contorcendo junto em harmonia com a voz de Finn.
Para minha surpresa, ele realmente parecia ótimo cantando uma das
minhas canções favoritas de Dave Matthews, sua voz rouca
complementando as letras perfeitamente.

"Tyler parece tão bonito lá atrás em sua bateria. E não há


nada de ruim sobre um homem que sabe como usar as mãos dessa
forma", Lexi suspirou em adoração assim que chegamos ao balcão,
dobrando seu corpo para olhar para o palco. "Tão habilidoso."

"Esta manhã você estava desesperadamente apaixonada por


Finn", eu a lembrei, pedindo mais uma rodada.

"Ugh, vocalistas são tão egoístas. Eles só querem falar de si o


tempo todo. Quem faz isso?" ela perguntou.

"Oh, posso pensar em algumas pessoas", eu ri, levantando


uma sobrancelha para ela.

"Cale-se! Não falo sobre mim o tempo todo. E isso não vem ao
caso! Nesta manhã, ele foi além de rude comigo. Na verdade, ele tomou
meu telefone da minha mão!"

Continuei rindo, voltando para pegar os nossos drinques do


barman. Segurando uma nota de dez, olhei para ele interrogativamente
quando ele não levou da minha mão.

"Estes são por conta da casa", ele disse, sorrindo para mim.

"Oh, obrigado," respondi, surpresa com o gesto. Peguei as


bebidas e passei uma para Lexi. "Você não tem que fazer isso."

"Eu sei, mas eu queria. Sou Tim, por sinal." Ele estendeu a
mão para mim e sacudiu. Ele era bonito - definitivamente bonito o
suficiente para me distrair da minha vida por algumas horas. Talvez
eu o deixasse me levar para casa quando o bar fechasse.

"Brooklyn", respondi, colocando minha mão na sua.

"Como a cidade?"
"Não, eles na verdade colocaram o nome da cidade depois de
mim", brinquei, revirando os olhos.

"Espere", ele disse, claramente confuso. "Você está falando


sério? É, assim, um nome de família ou algo assim?"

"Obrigado pela bebida, Tim," eu disse, tirando minha mão da


sua mão e tentando desesperadamente manter uma cara séria.

Os risos finalmente explodiram enquanto me afastava do bar,


Lexi a reboque. Ela afastou sua adoração induzida por Tyler tempo
suficiente para olhar para mim.

"O que é tão engraçado? E por que você não está lá trás
flertando com o barman? Ele era bonito e você totalmente poderia ter
ganhado bebidas grátis a noite toda."

"Ele era burro como uma porta, Lex".

"Seus padrões são demasiadamente elevados", queixou-se.

"Lexi, ele pensou que eu estava falando sério quando lhe disse
que um bairro histórico conhecido em Nova York foi nomeado depois
de mim, e não vice-versa."

"Ok, então talvez ele não seja a pessoa mais inteligente, mas
não é como se você estivesse procurando um relacionamento de
qualquer maneira," ela me lembrou, plenamente consciente de minhas
políticas de namoro.

"É verdade, mas eu gosto que eles tenham pelo menos um


nível acima de um quarto de vocabulário e de leitura, se eu vou ter que
gastar qualquer quantidade de tempo com eles."

"Isso é provavelmente uma boa referência", Lexi observou,


rindo.

Por esta altura, fizemos o nosso caminho de volta para a pista


de dança, a uma boa distância do palco, mas ainda perto o suficiente
para Lexi cobiçar descaradamente Tyler. A trilha sonora foi animada e
otimista, um mix de músicas covers bem conhecidas e algumas coisas
desconhecidas que eu assumi eram seus originais. Logo, o nosso álcool
tinha feito efeito e estávamos dançando descontroladamente com o
resto da multidão, quando Finn sussurrou no microfone.

"Baaata em mim", ele cantou.

"Baaaata em mim", a multidão ecoou.

Eu olhei para cima da pista de dança pela primeira vez, em


direção ao palco, e imediatamente senti o olhar pesado de Finn em
mim. Meus olhos se encontraram com o dele do outro lado do mar de
pessoas e minha respiração ficou presa na garganta.

Ele era atraente, e ele sabia disso. Pior, havia uma parte
insensível dele que me disse que ele usava seu rosto como uma arma,
dobrando o mundo à sua vontade, uma menina da irmandade de cada
vez. E quase machucou olhar para ele, era como olhar diretamente
para um eclipse solar - algo que eu sabia que não deveria assistir, que
potencialmente poderia me prejudicar a longo prazo, mas era tão
bonito que eu não conseguia tirar os olhos. Naquele momento, parecia
que ele estava cantando só para mim; toda multidão desapareceu
quando me tornei encantada por seus olhos, as letras, sua profunda
voz grossa.

Droga, ele era bom. Não admira que as irmanstitutas não


tivessem a menor chance.

"Brooklyn! Olá! Volte para a terra, menina", Lexi riu,


puxando-me para fora do meu devaneio.

"Desculpa", eu disse, forçando um sorriso, "devo estar mais


bêbada do que eu pensava."
"Bem, isso só significa que é hora para mais uma rodada!"
Lexi exclamou, indo na direção do bar antes que eu pudesse protestar.

A música terminou apenas quando chegamos ao bar. Durante


o rugido da multidão apreciativa eu fracamente ouvi Finn anunciar
que a banda estava fazendo uma pausa rápida. Tim notou
imediatamente o nosso retorno e caminhou em nossa direção, sorrindo
e ignorando as outras meninas que estavam tentando colocar pedidos
de bebidas.

"De volta?" Ele disse, sorrindo como se eu viesse


exclusivamente para visitá-lo, ao invés de receber um reabastecimento.
Ah sim, Tim, minha decisão de voltar foi baseada em uma necessidade
incontrolável de vê-lo novamente. A prateleira de garrafas de álcool
atrás de você não tinha absolutamente nada a ver com isso.

"Precisamos de mais uma rodada," eu disse, entrando no jogo


e fingindo um sorriso. "Duas doses de tequila, por favor, com sal e
limão, se você tiver."

"Saindo agora, querida."

Querida? Realmente? Havia poucas coisas que eu odiava mais


do que nomes de animais. Engasguei mentalmente antes de me virar e
olhar para Lexi.

"Como esta o meu cabelo? Estão muito crespos?" Ela


sussurrou rapidamente.

"Estão perfeito, como sempre", eu disse, brevemente passando


os olhos em seu cabelo vermelho. "Por que você pergunta?"

"Porque Tyler está andando diretamente em direção a nós.


Não olhe, idiota!" Ela repreendeu, batendo em meu braço quando eu
olhei por cima do ombro para ver o baterista se aproximando.
"Nossa, acalme-se, Lex", eu disse, esfregando o meu braço.
"Você não tem que me bater tão forte!"

Lexi me ignorou, de repente, jogando a cabeça para trás e


rindo histericamente em uma tentativa de chamar a atenção de Tyler.
Sua alta, ainda que falsa, risada teve êxito em atrair seus olhos, e ele
imediatamente caminhou em linha reta em nossa direção.

"Lexi, você veio", ele sorriu, evidentemente feliz em vê-la.

"Oh, sim, quer dizer, Brooklyn queria sair, então eu disse que
eu viria", ela encolheu os ombros, feliz da vida me jogar sob um ônibus
em suas tentativas de parecer indiferente. O olhar de Tyler deslocou
para mim.

"Você é Brooklyn, presumo?" Perguntou Tyler.

"Culpada", disse eu. "E você é?"

Como se Lexi não tivesse jorrado sobre você nas últimas cinco
horas.

"Tyler", ele disse. "Estou na banda. Bateria".

Tim finalmente voltou com fatias de limão e um saleiro,


poupando-me de ter qualquer conversa fiada. Ele derramou quatro
doses em vez das duas que eu tinha solicitado, alinhando-as na frente
de nós.

"Vá com tudo ou vá para casa, senhoras," ele sorriu em


desafio.

"Tim, nós realmente só queríamos a primeira rodada," eu


disse, irritada que estava das duas uma: A) tentando nos embebedar
ou B) incapaz de seguir uma ordem de bebida simples.

"Oh, vamos lá," ele disse, "Não seja tão gatinha."

Oh, não. Ele não me chamou de gatinha.


Peguei minha primeira dose, tomei e rapidamente juntei com
uma das fatias de limão. Colocando o copo vazio de cabeça para baixo
no bar, estendi a mão para a outra dose, totalmente preparada para
jogá-la na cara arrogante de Tim. Tinha suportado mais do que
suficiente de sua besteira por uma noite.

Quando meus dedos roçaram o vidro do copo, uma mão


passou por cima do meu ombro e o arrancou da minha mão. Assisti,
atordoada, quando uma mão carregava a tequila em volta de mim e
fora da minha vista. Confusa e um pouco chateada que meus planos
de lançamento de bebida tinham sidos fracassados, virei-me para
enfrentar o ladrão de bebidas.

Oh, perfeito. Esta noite apenas continua melhorando.

Eu olhei quando Finn bebeu a minha tequila. Ele fez uma


careta e se inclinou para pegar uma fatia de limão do bar, invadindo
completamente o meu espaço pessoal com seu alcance. Seu peito
roçou os meus quando ele colocou o copo e a casca de volta na
bancada.

"Bem, essa certamente não é uma Patrón 4 ", reclamou ele,


ainda de pé perto demais para o meu gosto.

"Essa era minha dose!", eu disse, chocada com sua audácia.

"Tem mais duas bem ali esperando, pelo que eu posso ver",
observou ele com indiferença.

"Essas são da Lexi! E este não é exatamente o meu ponto,


aqui."

"Realmente não é como se Lexi estivesse interessada nelas. Na


verdade, ela está um pouco ocupada no momento." Ele virou a cabeça

4
Marca de tequila
para o lado, em direção a Lexi e Tyler, que estavam ocupados se
beijando a poucos metros de distância.

"Jesus, foi rápido", murmurei.

Finn riu e eu senti o retumbar em seu peito, que ainda estava


pressionado contra o meu. Colocando as duas mãos em sua barriga eu
o empurrei com força, tentando deslocá-lo para longe de mim. Ele não
se mexeu, mesmo quando eu coloco uma força considerável atrás do
empurrão.

"Afaste!" Eu pedi, exasperada com a minha incapacidade de


movê-lo. "Isso não é engraçado."

"Tudo bem, tudo bem", ele riu, colocando as duas mãos em


um gesto submisso e dando um passo para trás. "Não é minha culpa
que você é do tamanho de uma anã."

"Uma anã? O que é isso, a pré-escola?" Revirando os olhos, eu


me virei de volta para o bar e peguei outra dose de tequila.

"Você é sempre tão simpática, ou eu sou um caso especial?"


Ele perguntou sarcasticamente.

"O que posso dizer, idiotas egoístas realmente trazem para


fora o melhor de mim."

"Ai, isso dói", ele falou lentamente, movendo-se ao meu lado


no bar e pegando o outro copo. "Você sabe, eu sou apenas um idiota,
porque estive escondendo minha dor emocional profunda. Você quer
voltar para a minha casa e ouvir sobre isso depois do show? Eu posso
me abrir para você, chorar em seu ombro, e, em seguida você pode me
confortar. De preferência nua."

"Essa merda realmente funciona para você?" Perguntei,


genuinamente curiosa. "As meninas realmente caem no truque do
idiota emocionalmente danificado?"
"Normalmente," ele riu, completamente sem vergonha por
seus métodos. "Minha boa aparência e charme infinito não ofende."

"Charme?" Suspirei, "HA!"

"Eu sou, de fato, muito charmoso", insistiu. "A maior parte do


tempo."

"Então, eu estou apenas diante... do que você o chama? Um


caso especial, então?" Eu ri, preparando para beber minha outra dose.

"Espere, você não quer um pouco de sal para isso? Vou deixar
você lamber minha mão e tudo."

"Passo. Quem sabe onde suas mãos foram?" Eu fiz uma


careta, jogando a cabeça para trás e deixando a tequila queimar seu
caminho na minha garganta. Um calor lento estava começando a se
espalhar pelo meu corpo, girando para fora de meu estômago para
encher cada pedaço do meu corpo.

Finn caiu na gargalhada ao meu comentário.

"Você é engraçada", ele disse, ainda rindo, "E você se basta.


Nós vamos ser grandes amigos, posso dizer."

"Amigos? Eu nem gosto de você."

"Sim, você sabe", ele zombou, bebendo sua tequila. "Todo


mundo gosta de mim."

"Eu não posso imaginar o porquê."

"Tanta insolência em um pacote tão pequeno", ele riu,


olhando para mim.

"Falando de pacote muito pequeno", eu disse, olhando para a


fivela do seu cinto sugestivamente, "Você não tem um show para
terminar?"
Ignorando minha insinuação, Finn, mais uma vez se inclinou
para frente no meu espaço. Imediatamente me afastei, até que a parte
superior das minhas costas roçou no balcão. Seus olhos viajaram
calmamente ao longo do comprimento do meu corpo e, em seguida,
voltaram para encontrar os meus. Estendeu a mão para tocar minha
testa e gentilmente passou o dedo sobre a contusão agora disfarçada.

"Brooklyn", ele sussurrou, seu rosto a centímetros do meu.

"O quê?" Ele estava muito perto, deixando-me sem espaço


para me afastar.

"Você ainda me deve aquela camiseta", ele disse com um


sorriso largo, seu comportamento mudando de ardente para
brincalhão em menos de um segundo.

"Você quer que eu lhe dê uma camiseta da sua própria


banda? Você pode obter uma nova sempre que quiser! Não há
nenhuma maneira no inferno que eu estou pagando por isso",
resmunguei. "E você só bebeu duas das minhas tequilas. Então
estamos quites."

"Você nem mesmo pagou por essas doses", observou ele.


"Então tecnicament-"

"Oh, cale a boca."

Ele riu, se afastando de mim e dando alguns passos em


direção à forma entrelaçada que era Lexi e Tyler.

"Ei, Ty! Temos um show para terminar, homem", ele chamou.


"Acabou a pausa."

Tyler se separou da Lexi e lançou um olhar demorado na


direção de Finn, finalmente, voltando-se para sussurrar algo em seu
ouvido. Seja o que for a teve brilhantemente radiante. Ela deu-lhe um
beijo final, demorado, antes dele se afastar.
"Oh, e Brooklyn," Finn gritou para mim quando ele seguiu
Tyler para o palco, ignorando as meninas desesperadas que se
reuniram em torno dele. "Por que você não compra uma camiseta da
Apiphobic Treason e a usa durante todo o dia de amanhã para
comemorar a nossa nova amizade? Então, podemos chamá-la de
amizade mesmo."

Virei em resposta. Ele riu - como de costume, ele estava


completamente inalterado pelo meu desdém - balançando a cabeça
para trás e para frente enquanto se afastava.

Lexi vagueava, ainda ligeiramente corada de sua sessão de


amasso.

"Bem, vocês dois... pareciam amigáveis", eu ri.

"Oh. Meu. Deus." Lexi sussurrou, um sorriso bobo se


espalhando por todo o rosto. "Eu acho que estou apaixonada."

"Lexi, você conhece o rapaz por menos de 24 horas", observei.

"O tempo não importou para Romeu e Julieta", ela suspirou


sonhadora. "Eles só se conheciam por alguns dias."

"Sim, e olha como isso acabou - ambos acabaram mortos.


Será que aprendemos algo com a história?" Perguntei, incrédula.

"Você é cínica, Brooke", ela disse, "Um dia, alguém vai


quebrar todas aquelas paredes sem-fim que você cercou seu coração.
Então você vai entender."

Optei por ignorar esse comentário. Claramente, Lexi era agora


uma guru certificada do amor. Neste momento, os membros da banda
se reagruparam no palco e se preparavam para concluir o seu show.
Saudei a distração, feliz por um breve intervalo em que eu tinha a
certeza do seria uma noite sem fim de apaixonada adoração-por-Tyler.

"Podemos ir para casa agora?" Perguntei.


"O quê? Não! Temos que ficar para o final do show, Brooke.
Além disso, Tyler disse que ia me ver depois do show."

Neste momento, estava cansada demais para discutir com ela.


A última noite sem dormir estava finalmente se aproximando a mim,
com aquelas duas doses finais. Peguei a mão dela e a levei de volta
para a pista de dança e desviei de vários casais bêbados
descaradamente grudados contra as paredes do clube.

Depois de nos puxar para o coração da multidão, Lexi e eu


começamos a dançar. Dentro de minutos, dois garotos loiros da
fraternidade haviam se juntado a nós. O meu - Jason ou James, que
era difícil de ouvir sobre a música - serpenteava um braço em volta da
minha cintura e puxou meu corpo contra o seu, esfregando os quadris
nos meus. Ele era bonito o suficiente, mas não estava com vontade de
ser atacada na pista de dança esta noite.

Olhei para Lexi com os olhos arregalados, sinalizando para a


sua intervenção. Seus olhos incendiaram em compreensão e ela se
afastou do seu próprio garoto de fraternidade, agarrou a minha mão e
me puxou do aperto do Jason-James. Rapidamente me levando para o
palco, Lexi jogou uma piscadela de despedida e um adeus por cima do
ombro em direção dos garotos.

"Obrigada", eu disse quando estávamos escondidas em


segurança do sua visão.

"Não me agradeça, está na descrição do trabalho de amiga",


ela disse, jogando um braço em volta de mim. "Estou tão feliz que veio
hoje à noite."

"Estou feliz que você esteja se divertindo."

"Você não esta? O que você e Finn estavam falando no bar?"


"Hum, principalmente nós apenas insultamos um ao outro",
eu disse, "estou surpresa que você veio para respirar tempo suficiente
para perceber."

"Muito engraçado", Lexi murmurou.

O resto do show voou. Eu estava sentindo os efeitos da


tequila, e que tudo estava um pouco confuso ao redor. Antes que eu
percebesse, Lexi estava puxando meu braço, acenando com a mão na
frente do meu rosto para captar minha atenção.

"Brooklyn! Quão bêbada você está?" Ela olhou severamente


para mim, com as mãos firmemente plantadas nos quadris.

"Estamos saindo agora. Vamos lá", ela ordenou.

Eu parei atrás dela, uma mão frouxamente entrelaçada na


dela, e nós fomos levadas junto com a multidão à medida que
empurravam para as portas do clube e da noite.

"Vamos, bêbada", Lexi repreendeu quando nós pegamos a


saída, levando-me em torno de um canto e num beco escuro entre os
edifícios.

A alguns metros para o beco, uma porta de saída lateral se


abriu para o corredor estreito. Tyler e os outros membros da banda
estavam rindo enquanto eles andavam para fora, carregando
instrumentos e equipamentos de som em uma van de espera.

"Tyler!" Lexi gritou, anunciando nossa chegada.

Ele terminou de armazenar sua bateria no porta-malas antes


de se virar para nos cumprimentar, mergulhando Lexi em seus braços
e girando em torno dela como uma criança.

"Você gostou do resto do show?" perguntou Tyler, colocando-a


de volta em seus pés.

"Você estava tão bom!" Lexi gritou.


Comecei a ajustar para fora, recostando-me contra a
construção de tijolo e fechando os olhos. Eu não queria nada mais do
que engatinhar na minha cama e dormir, mesmo que só fosse por
algumas poucas horas. Bêbada e exausta, minhas pernas estavam
quase tão pesadas quanto as minhas pálpebras, que tinham começado
a derivar fechando por vontade própria.

"Você parece uma merda", disse uma voz. Abrindo um olho,


eu vi Finn de pé em frente a mim, com um sorriso divertido nos lábios.

"Obrigada", resmunguei, "Esse era a aparência que eu estava


usando hoje à noite."

"Eu quis dizer que você parece exausta. E, possivelmente,


embriagada."

Deixei meus olhos se fecharem novamente, tentando expulsá-


lo. A tequila vibrava nas minhas veias e plantei minhas palmas das
mãos contra o tijolo para me equilibrar.

"Não finja que você me conhece", murmurei, cansada.

"Você precisa de uma carona para casa? Acho que Lexi não
está saindo tão cedo."

Meus olhos se abriram em surpresa, fixando em seu rosto. Eu


esperava o babaca Finn; Eu não tinha certeza do que fazer com uma
oferta do cavalheiresco Finn. Olhei para a van, agora completamente
lotada com equipamentos da banda.

"Onde é que vou sentar, no teto?" Perguntei. "Além disso, você


bebeu. Posso estar bêbada, mas não sou estúpida o suficiente para
subir em um carro com você ao volante no momento."

"Relaxe, não estou dirigindo. É a van do Scott", ele disse,


indicando o baixista encostado na porta do lado do motorista. "Vamos
lá, vamos dizer a Lexi que você está indo."
"Eu não o conheço!"

"Eu não sou um assassino em série, Brooklyn. Promessa de


dedinho", ele riu.

Ele caminhou até Tyler e Lexi, que estavam sentados no para-


choque traseiro, intermitentemente se beijando e olhando
profundamente nos olhos um do outro.

Ah, a verdadeira luxúria, pensei sarcasticamente.

Finn riu, olhando de volta para mim. Merda, eu disse isso em


voz alta?

"Não para DPA5, hein?" perguntou.

Não é realmente um afeto, de modo geral, eu pensei que, desta


vez tinha conseguido manter minhas divagações bêbadas contidas.

Eu apenas dei de ombros e passei por ele, fazendo meu


caminho para Lexi.

"Lex", eu disse, tentando puxar o olhar de Tyler. "Eu quero ir


embora. Estou exausta."

"Ok", ela murmurou, sem se preocupar em olhar para mim:


"Eu estou indo para casa com Ty."

"Tudo bem," eu disse. "Tanto Faz. Você realmente está


fazendo campanha para a amiga do ano, não está Lex?" Minha voz
pingava com sarcasmo.

Ela finalmente olhou para longe de Tyler, assustada com o


meu tom áspero.

"Que diabos, Brooklyn. Não seja uma cadela para mim só


porque você está bêbada e chateada. Vá para casa", disse ela.

5
Demonstração Publica de Afeto
"Você está brincando comigo, Lexi? Eu sou a vadia nesse
cenário?"

Eu estava lívida. Como ela podia mesmo dizer ser minha


amiga? Ela estava me abandonando para ficar com um cara aleatório,
depois de me forçar a sair contra a minha vontade! Eu abri minha
boca para realmente deixa-la saber que - quando uma grande mão
escorregou sobre meus lábios, efetivamente me silenciando. Finn
lentamente me arrastou para o banco do passageiro da frente, e
apenas removeu sua mão quando parei de tentar escapar para fora de
seu alcance e morder seus dedos fora.

"Que diabos, Finn," Eu rebati, olhando para ele. "Quem você


pensa que é?"

"Eu sou o cara que acabou de salvar seu rabo bêbado de dizer
algo que você nunca seria capaz de pegar de volta. Ela é sua melhor
amiga, Brooklyn", ele disse, como se eu precisasse de um lembrete.
"Sim, ela está sendo egoísta hoje à noite. Mas todos nós somos
egoístas às vezes, então deixe para lá. Você tem uma carona para casa;
você não esta presa."

"Tudo bem", suspirei, ainda chateada, mas disposta a não


lutar com mais ninguém esta noite. "Eu só quero ir para casa." Eu não
me senti exatamente confortável em ir com ele, mas era a minha única
opção graças ao abandono de Lexi.

"Então, vamos chegar lá", ele disse, subindo no banco do


passageiro. Scott já estava situado no volante, batendo um ritmo no
painel de instrumentos, enquanto esperava para sair.

"Vamos lá", disse Finn, descendo para pegar meus braços e


me puxando para cima da van aparentemente com pouco esforço.
Antes que pudesse protestar, eu estava firmemente estabelecida em
seu colo e nós estávamos dirigindo para fora do beco. Olhei no espelho
retrovisor quando nos afastamos; Lexi e Tyler estavam caminhando em
direção a um sedan azul, parado a poucos passos.

Bufei com a visão, bêbada demais para me preocupar em ser


elegante, e ouvi Finn dar risada em resposta. Estava sentada sobre os
joelhos, as costas eretas com a tensão. Suas mãos se moveram para
acariciar a área sensível do lado de dentro dos meus cotovelos, e ele
gentilmente me puxou de volta contra seu peito.

"Relaxa", ele sussurrou em meu ouvido: "Eu não mordo - a


menos que você curta esse tipo de coisa - o que eu faria."

Eu lhe dei uma cotovelada nas costelas, rindo baixinho pra


mim mesma. Relutantemente, relaxei nele, deixando minha cabeça
cair para trás para descansar em seu ombro. Eu tinha que admitir, ele
era confortável. E quente.

"Como é que você chegou a Styx hoje à noite? É uma


caminhada muito longe do campus", ele observou.

"Pegamos o ônibus", expliquei, sonolenta, fechando meus


olhos com os meus músculos lentamente relaxando, libertando-se de
um dia inteiro de tensão.

A tequila, minha exaustão, e seu calor radiando se juntaram,


e me arrastaram, embalando-me para dormir.

***

"Ei, Brooklyn, acorda", a voz de Finn sussurrou, assustando-


me de volta à consciência. "Nós estamos em sua casa."

Grogue, levantei minha cabeça da curva de seu pescoço e


olhei para fora da janela do passageiro. Com certeza, estávamos
estacionados fora do apartamento vitoriano.
Os braços de Finn estavam envolvidos em torno do minha
cintura, segurando-me contra o peito. Durante o sono, aconcheguei-
me mais perto do seu calor - o que me deixou em uma situação
extremamente embaraçosa agora que eu estava acordada.

"Oh, ok," murmurei, com certeza minhas bochechas estavam


em chamas. Espero que ele não possa ver isso na escuridão da van.
Meio sem jeito de sair dos braços de Finn, virei-me para Scott.

"Obrigada pela carona, eu realmente apreciei isso."

Ele balançou a cabeça em resposta.

Abri a porta do passageiro e sai do colo de Finn tão


rapidamente quanto meus saltos permitiriam. Para minha surpresa,
ele pulou atrás de mim.

"O que você está fazendo?" Perguntei, nervosa. "Você não pode
entrar."

Finn me ignorou, voltando-se para Scott. "Dê-me cinco


minutos, homem. Já volto", ele disse, fechando a porta do passageiro.
Ele olhou para mim, franzindo a testa. "Estou andando com você até a
sua porta. Prometi que ia lhe levar para casa, e eu não vou deixar você
na calçada vestida desse jeito, tão bêbada como você está."

"Eu estou bem! E o que é que isso quer dizer?" Eu disse,


indicando meu vestido.

"Não se preocupe", ele murmurou, exasperado. "Só vamos lá."


Ele agarrou meu braço e me levou para a escada lateral.

"Você ainda tem a chave?" Ele perguntou, com ar de dúvida.

"Sim, claro", eu disse, voltando para fora de sua visão para


que eu pudesse achar a chave de casa, do seu esconderijo no meu
sutiã.

"Elegante", ele brincou.


"Mais fácil do que carregar uma bolsa", retruquei sem
desculpas, encolhendo os ombros e começando a subir a escada
estreita.

Podia ouvi-lo me seguir, rindo baixinho enquanto subíamos.


Chegando a varanda, abri a porta do pátio e me virei para Finn.

"Obrigada por me entregar em casa com segurança", eu disse,


sinceramente, um pouco surpresa que eu estava agora em dívida com
um idiota - ou talvez que ele esteja se mostrando não ser um idiota
afinal de contas.

"Não tem problema", ele disse, sorrindo como se pudesse ler


meus pensamentos.

"Isso não significa que eu gosto de você", eu decidi. "E nós


definitivamente não somos amigos."

"Oh, sim nós somos", Finn riu. "Vejo você em breve."

"Não é provável," eu discordei.

"Pense o que quiser", ele disse, como se ele soubesse algo que
eu não sabia. "Boa noite, Brooklyn."

"Boa noite," eu repeti, fechando a porta entre nós e fazendo o


meu caminho, finalmente, para o calor reconfortante da minha cama.
Capítulo 04
Grandes Expectativas

Lágrimas desceram lentamente pelo meu rosto, pingando na


minha camiseta rosa da Hello Kitty e estragando-a com pequenas
manchas molhadas. Assisti do banco de trás, quando o homem puxou o
volante bruscamente para o lado, minha cabeça quase batendo na
janela quando o carro derrapou em uma esquina. Eu choraminguei sob a
minha respiração, mas ele não me ouviu.

Tentei não pensar sobre o estacionamento. Sobre mamãe. Mas


eu estava com medo, e eu não queria ficar mais aqui, e para onde
iríamos? E por que tão rápido? Eu tremia e fechei os olhos, rezando
silenciosamente para que tudo fosse um sonho. Apenas um pesadelo.
Mamãe vai entrar e me acordar a qualquer momento.

Ouvi o som de sirenes atrás de nós, e o homem mau disse uma


maldição. Eu sabia que era uma má palavra, porque a mamãe só a
falou quando ela estava realmente chateada ou quando algo se
quebrava, e depois ela sempre me fez prometer nunca repeti-la.

"Porra! Maldição!" O homem estava com muita raiva, e talvez


com medo também. Ele estava suando e o carro continuou indo mais
rápido, mais rápido, mais rápido.

As sirenes foram se aproximando.

De repente, o homem começou a girar o volante


descontroladamente, nos fazendo desviar do trânsito. Ouvi as buzinas
de outros carros e vi um semáforo vermelho voar por cima enquanto nós
corremos por baixo.

Ele estava indo rápido demais. Mamãe nunca dirigia tão


rápido.

Ele ia me machucar, exatamente como ele a tinha machucado.


Lembrei-me do estacionamento - observando mamãe caindo no chão
como uma boneca de pano. Ela não ia levantar; ela nunca ia levantar
novamente.

Minhas mãos pequenas cerraram em punhos. Este homem mau


tinha machucado mamãe.

Eu estava indo para machucá-lo de volta.

Sem outro pensamento, lancei meu pequeno corpo para fora do


meu assento e usei toda a força que eu tinha para lhe bater na cara.

Ele ficou surpreso; ele pensava que estava sozinho no carro.


Quando meu punho bateu em seu rosto, ele gritou e perdeu o controle do
volante. O carro sacudiu, e eu caí para trás em minha cadeira,
segurando as alças do cinto com força.

Algo grande colidiu com a frente do nosso SUV e, depois, nós


estávamos girando, à deriva em círculos. O homem não estava
segurando o volante mais - seus braços estavam cobrindo o rosto
quando as janelas da frente quebraram e os vidros e saíram voando ao
redor de nós. Minha cabeça bateu bruscamente contra minha janela
mais uma vez, e desta vez eu não pude deixar de gritar de dor.

Quando parou de se mover, eu abri meus olhos. O homem


estava sangrando e coberto de vidro, mas ele estava vivo; ele também
estava olhando para mim, sua expressão cheia de choque e descrença.
Minha cabeça doía. Movi a minha mão para tocá-la e solucei.
Quando tirei minha mão, eu vi que estava revestida em sangue
vermelho brilhante. Como o sangue da mamãe, no estacionamento.

Não, não pense sobre isso. Não pense sobre a mamãe.

As sirenes estavam em torno de nós agora. Minha cabeça doía


e eu queria ir para casa. Eu queria a mamãe. O homem tirou alguns dos
cacos de vidro de sua jaqueta antes de chegar até o banco do
passageiro. Ele xingou de novo, então encontrou o que estava
procurando - uma arma. A arma que ele usou na mamãe.

Pegando-a em uma das mãos, ele se virou para olhar para


mim.

"Venha aqui", ele ordenou, "Você vai me ajudar a sair dessa


bagunça garota, está bem? Você me ajuda, eu não vou lhe machucar
entendeu?"

Eu balancei a cabeça e tirei as fivelas do cinto de segurança


com as mãos trêmulas. Puxei minha porta, mas ela não se mexeu, e
antes que eu pudesse rastejar para o lado oposto, o homem caiu para
trás e me agarrou.

Arrastando-me sobre o console no banco da frente com ele,


meus braços nus rasparam contra os cacos de vidro espalhados do lado
do motorista. Eu gritei quando um enorme pedaço, afiado ficou alojado
na minha clavícula, cortando profundamente e liberando uma corrente
de sangue.

"Cale a boca!", Ele rosnou. Seu rosto estava sangrando e ele


estava segurando meu braço com tanta força que eu sabia que ia deixar
para trás um grande hematoma.

Eu soluçava.
"Eu disse para calar a boca! Eu não estaria nessa confusão, se
não fosse por você, sua merdinha. Eu estaria livre, eles não iam me
pegar. Você fodeu tudo. Você me fez bater". Ele me apertou rudemente e
meus dentes batiam juntos com força. Não me atrevi a choramingar
desta vez, no entanto.

Ele abriu a porta devagar, segurando-me na frente dele como


um escudo.

"Eu tenho uma criança aqui", ele gritou para os policiais a


espera. "Vão se foder!"

Ele calmamente saiu do carro, mantendo um aperto em volta


da minha cintura. Meus pés balançando no ar, incapazes de atingir o
chão. Senti algo frio metálico imprensado contra minha cabeça.

Quando estávamos saindo do carro, vi que havia pelo menos


dez carros de polícia estacionados em um círculo em torno de nós, com
suas luzes piscando. A frente da SUV da mamãe foi esmagada onde
tinha batido na estrada.

Foi ficando mais difícil de respirar; seu braço estava


espremendo muito apertado em volta do meu peito. Meus pulmões
queimavam, meu cabelo estava molhado de sangue, e minha camiseta
rosa estava manchada de vermelho brilhante ao redor da minha
clavícula esquerda.

Eu podia ouvir os policiais gritando com o homem mau e ele


gritando de volta, mas não conseguia me concentrar nas palavras. Tudo
se voltou lentamente para preto quando minha visão apagou e eu cai no
esquecimento escuro.

***
O grito rasgou para fora da minha garganta e eu sentei na
cama, ofegante e gelada até o osso. Tomando respirações mais calmas,
corri através da minha rotina típica de pós-pesadelo e gradualmente
diminuí meu forte batimento cardíaco. Um breve olhar sobre o meu
celular me informou que era quase sete horas da manhã. Felizmente, o
pesadelo tinha esperado até o amanhecer desta vez, permitindo-me
algumas horas extras de descanso tão necessário.

Depois de fazer uma xícara de café, peguei minha cópia


esfarrapada de E o Vento Levou e escorei na janela aberta do meu
quarto. A brisa fresca do início da manhã entrava e eu olhei em volta
do meu quarto para achar uma camiseta e vestir antes de sair para o
telhado. Incapaz de encontrar uma no meio de minha pilha de roupas
desordenada e demasiadamente impaciente para procurar mais longe,
peguei a jaqueta de couro de Finn do seu lugar de descanso em minha
cadeira e puxei meus braços através das longas mangas. A jaqueta me
ofuscava com o excesso de material, pendurada até o meio da minha
coxa, mas eu sabia que iria me manter quente na manhã fria de
outono.

Enfiando o meu livro debaixo do braço e equilibrando uma


caneca de café precariamente cheia, manobrei para fora da janela e
deslizei para o telhado. O céu da manhã tingia-se de rosa com a
chegada do sol, e uma leve brisa agitava as folhas dos galhos da
árvore. Dobrei meus joelhos, puxando minhas pernas até meu peito e
envolvendo a jaqueta de Finn confortavelmente em torno delas.
Totalmente encapsulada em sua jaqueta, eu estava envolta pelos
aromas de couro rico e as maçãs frescas de tempo de colheita.
Angustiada com a ideia de Finn invadir os meus sentidos, trouxe a
caneca para o meu nariz e inalei profundamente, deixando o aroma
rico de café empurrá-lo da minha mente.
Tomei um gole e pensei sobre os acontecimentos da noite
anterior. Milagrosamente, eu tinha escapado das sequelas típicas da
tequila e fiquei livre da ressaca. Minhas bochechas inflamaram quando
me lembrava do jeito que eu tinha adormecido no colo de Finn no
caminho de casa. Como era possível que cada interação que tive com
esse rapaz me deixasse constrangida e irritada além da medida?

As pessoas não costumam me irritar tão facilmente. Na


verdade, na verdade, eles raramente até mesmo fazem uma boa
impressão. Perturbava-me que um menino que eu tinha conhecido por
cerca de alguns segundo poderia me deixar me sentindo tão abalada e
vulnerável depois de alguns encontros breves.

Pegando meu livro, traço um dedo para baixo em sua


estrutura desnivelada e folheei as páginas. Eu tinha perdido a noção,
há muito tempo, de quantas vezes eu tinha lido. Havia algo sobre essa
história em particular e da grandeza arrebatadora do velho sul que me
chamava, permitia-me escapar de meu próprio tempo e me perder
completamente dentro das páginas. Livros tinham me dado uma fuga
durante os longos anos em que eu mais precisava esquecer; quando eu
lia, Brooklyn desaparecia, eu me tornava outra menina, em lugar
diferente, em algum outro momento.

O sol se arrastou lentamente ao longo do horizonte,


disparando raios amarelos quentes ao longo dos ramos da árvore
abundantemente folheadas e criando um caleidoscópio de sombras no
meu pequeno poleiro. Lançando a uma página aleatória, eu li até meu
café ter ido embora e eu ouvir a porta da frente bater, anunciando o
retorno de Lexi. Dobrei a cabeça para o céu, deixei o sol da manhã
aquecer meu rosto e esperei que o dia vindouro fosse melhor do que o
de ontem.

***
Vagando pela cozinha, imediatamente encontrei Lexi
esparramada no nosso sofá com um braço jogado sobre os olhos para
bloquear o sol. Depositei minha caneca de café vazia na máquina de
lavar louça e fiz meu caminho até ela, puxando os pés no meu colo
enquanto estava sentada na ponta do sofá.

"Como foi a caminhada da vergonha?" Perguntei, indicando o


vestido vermelho que ela ainda usava desde ontem à noite. Lexi puxou
a mão do rosto e se apoiou nos cotovelos para olhar para mim.

"Na verdade, ele me trouxe para casa, se você quer saber", ela
disse, sorrindo, "E ele disse que ia vir hoje à noite."

"Então você teve uma boa noite, presumo?"

"O boa não chega nem perto", ela gritou, antes de se lançar
em todos os detalhes de sua noite. Sentei com paciência, ouvindo-a
analisar as coisas que Tyler tinha dito e feito por uma boa hora antes
de me levantar para me servir de outra xícara de café. Parecia que eu
iria precisar muito dele pela forma como este dia já estava indo.

"Desculpe-me, eu lhe deixei," Lexi admitiu, "Eu sei que não


deveria ter lhe deixado, mas eu realmente gosto dele, Brooklyn. E eu
sabia que Finn iria levá-la para casa em segurança."

"Você não conhece mesmo Finn, Lex", eu disse, ainda um


pouco irritada com seu egoísmo. "Ele poderia ter se aproveitado
completamente da situação."

"Ele não é um bandido! Você simplesmente não deu a ele uma


chance", ela insistiu. "Você é tão difícil para as pessoas, Brookie. Você
nunca deixa ninguém entrar."

"Isso não é verdade!" Ok, talvez isto fosse uma espécie de


verdade
"Brooklyn, sou a sua melhor amiga e eu não sei praticamente
nada sobre sua vida em casa ou a sua infância. E isso está bom,
porque eu te amo. Mas você tem que deixar alguém entrar,
eventualmente, ou você vai acabar sozinha."

Eu não respondi. Como essa conversa de repente se virou


contra mim?

"Obrigado, Dr. Phil. Eu realmente aprecio isso", retruquei.


"Vou tomar um banho." Empurrei as pernas do meu colo e sai da sala,
sabendo que eu precisava de espaço para esfriar a cabeça e tempo
para me lembrar que ela só estava tentando cuidar de mim.

De volta ao meu quarto, pulei no chuveiro e fiquei sob a água


quase escaldante, esperando que de alguma forma ela pudesse lavar
as emoções que rodavam dentro da minha cabeça.

Algum tempo depois, meu telefone tocou na minha mesa de


cabeceira, enquanto eu estava vestindo um par de jeans. Quase
tropecei em meus próprios pés na minha pressa para atender a
chamada. Na tela apareceu número bloqueado – perguntei-me
vagamente quem poderia ser quando levei o telefone na minha orelha.

"Olá?" Perguntei, um pouco sem fôlego. Quando ninguém


respondeu repeti, desta vez com menos paciência. "Olá? Tem alguém
aí?"

Eu podia ouvir a respiração de alguém do outro lado da linha,


mas ele ainda não respondeu.

"Quem é?" eu perguntei, crescendo a irritação quando um


calafrio correu pela minha espinha. Eu podia sentir o cabelo fino dos
meus braços começarem a formigar em alarme.

A respiração lenta continuou.


"Eu sei que você está ai. Eu posso ouvir você respirar",
apontei.

Ainda sem resposta.

"Não ligue para cá novamente," eu disse para o telefone,


apertando a tela para terminar a chamada.

Primeiro, o pesadelo, depois uma briga com Lexi, e agora um


trote perturbador? Se esta manhã fosse qualquer indicação, ia ser um
longo dia.

***

No fim daquela tarde, caminhei lentamente do campus para


casa debaixo de um aguaceiro implacável. O que começou como um
belo dia de sol tinha rapidamente se transformado em nublado com
ameaçadoras nuvens de tempestade alcançando o céu azul. Saí da
minha última aula e, como se estivesse esperando por mim, o céu se
abriu e enviou baldes de chuva que encharcou meu jeans e camiseta
fina em poucos minutos. Despreparada para lidar com as poças que se
formaram rapidamente, minhas sandálias frágeis continuamente
derrapavam nas calçadas molhadas quando eu andava pelas ruas. De
todos os dias para me esquecer do meu guarda-chuva em casa, é claro
que tinha que ser hoje.

Quando me apressei para virar a esquina da minha rua, eu


comecei a sentir uma presença atrás de mim. Não era como se eu
pudesse ouvir os passos a me seguir, uma vez que a chuva batendo
abafou todos os sons, mas sabia instintivamente que alguém estava
andando atrás de mim.

Assistindo-me.
Sem parar, lancei um olhar furtivo sobre um ombro e tentei
ver quem era. A chuva pesada e espessa formava camadas de nuvens
escuras no céu - pensei que eu poderia identificar a sombra ainda de
pé na calçada a cerca de vinte metros atrás de mim na rua
abandonada.

Quem sai na rua em um tempo assim?

Comecei a andar mais rápido, de repente ansiosa para chegar


em casa por mais razões do que simplesmente a chuva. Sem dúvida,
parecendo um gato afogado, amaldiçoei-me por não verificar a previsão
do tempo nesta manhã e continuei a minha caminhada.

Assim que o prédio vitoriano dilapidado apareceu, corri para


as escadas e voei para dentro, gelada até aos ossos e encharcada. Em
vez de gotejar água por todo o caminho para o meu quarto, eu
imediatamente retirei a camisa sobre a minha cabeça e deslizei para
fora da minha calça jeans encharcada, deixando-os em uma pilha
úmida no chão da cozinha.

Largando minha mochila ao lado da porta, entrei na sala de


estar com apenas minha calcinha e sutiã e corri em direção ao meu
quarto. Meus dentes batiam de frio e meu cabelo estava pingando, os
cachos longos escuros emaranhados e colados em torno do meu corpo.
Eu não poderia chegar ao chuveiro rápido o suficiente, desejando nada
mais do que ficar sob a ducha e deixar que o calor gradualmente
afundasse de volta em meus ossos.

Um assobio alto, apreciativo soou do sofá e me parou no


caminho.

"Você sempre anda por aí assim ou você simplesmente sabia


que eu estava vindo?"

Eu sabia que não deveria ter saído da cama nesta manhã.


Finn descansava no meu sofá, completamente relaxado,
olhando para mim com um sorriso divertido no rosto. Jogando minhas
mãos na frente do meu peito, tentei cobrir minhas mais importantes
partes de menina, reorganizando estrategicamente meu cabelo assim
bloqueava a visão do meu peito. Milagre dos milagres, eu estava
vestindo uma rendada boyshorts, ao invés de um dos meus fios
dentais que deixavam pouco para a imaginação.

"Estava chovendo", gaguejei, completamente mortificada com


a sua presença, mas dane-se, não iria explicar nada. "O que diabos
você está fazendo na minha casa?"

"Eu vim com Ty. Ele e Lexi desapareceram em seu quarto,


há...", ele olhou para o relógio. . "cerca de meia hora atrás". Ele ainda
estava sorrindo para mim, claramente satisfeito consigo mesmo.

"Bem. Tanto Faz. Eu vou tomar banho."

"Isso é um convite aberto?" Ele perguntou, levantando as


sobrancelhas escuras para mim. Um riso involuntário saiu dos meus
lábios antes que eu pudesse impedi-lo.

"Você pode muito bem ser o cara mais arrogante que eu já


conheci", decidi, ainda rindo.

"Obrigado", disse ele com uma risada.

"Não foi um elogio." Balancei a cabeça, exasperada. "Você


percebe que você é ridículo, certo? E isso nunca vai funcionar em
mim?"

"Querida", ele sorriu, "Realmente não importa o que você


pensa, enquanto o resto do corpo estudantil feminino não concordar."
Seus olhos continuaram a vagar para cima e para baixo do meu corpo,
e eu prontamente virei.
"Idiota", murmurei, caminhando para o meu quarto e
firmemente fechando e trancando a porta atrás de mim. Eu não iria
deixar Finn simplesmente abrir e pular no chuveiro comigo.

Como alguém poderia ser seriamente atraída por ele? Sim, eu


admito, era divino para se olhar e sim, ele tinha toda aquela vibração
do músico torturado trabalhando para ele, mas a sua atitude
arrogante era um desvio completo.

Depois de um longo e escaldante chuveiro quente, caminhei


de volta para a sala de estar vestida com meu fiel moletom e uma
camiseta regata. Meu cabelo molhado pendurado solto na minha
cintura enquanto eu passava uma escova por ele, tentando
desembaraçar. Finn, ainda totalmente à vontade no sofá, nem sequer
olhou para cima da televisão quando eu fiz a minha abordagem.

"Você ainda está aqui?" Perguntei, irritada que ele estava


tomando todo o sofá. Os olhos dele brevemente saíram da tela, fazendo
uma avaliação rápida da minha falta de maquiagem e cabelo molhado
antes de retornar ao seu programa de TV.

"Eu lhe disse, estou esperando por Ty", ele disse. "Você é
sempre tão irritada?"

"Só quando meninos aleatórios ficam em minha casa, e em


seguida, tomam todo o espaço no meu sofá", retruquei. "Você pode,
pelo menos, chegar para o lado?"

Ele suspirou, como se meu pedido completamente o


incomodasse, antes de deslocar as pernas para fora das almofadas
para o chão.

"Então, desculpe incomodá-lo", eu disse, sentando no sofá


com um profundo suspiro de resignação.
"Você deveria mesmo se desculpar", ele sorriu, "Eu estava
muito confortável."

"Ugh!", gemi, lançando um travesseiro na cabeça dele. "Você


está além de detestável." Ele facilmente se esquivou do meu lance
antes de voltar para as almofadas, um sorriso divertido puxando o
canto da boca. Bufei, irritada, antes de cruzar os braços sobre o peito e
olhar para ele. Se ele tivesse um super poder, não seria a sua
capacidade de cantar ou até mesmo a sua atração irresistível - seria
sem dúvida sua capacidade de me irritar como ninguém.

"Não faça beicinho", ele zombou, "Ele promove rugas."

Escolhi ignorá-lo, voltando minha atenção para o filme


tentando relaxar. Para minha grande surpresa, fomos capazes de parar
de brigar tempo suficiente para um silêncio confortável aparecer. Além
do riso ocasional ou gemido que vinha da direção do quarto de Lexi, o
apartamento ficou quieto e silencioso. Depois que quase uma hora
tinha se passado, ouvi o ritmo da mudança de respiração de Finn,
crescendo mais profundo e mais estável em cada inspiração. Sabia
quando eu olhei, ele estava dormindo.

Ele parecia calmo, quase infantil. As maçãs do rosto


angulares foram suavizadas pela luz da tarde desvanecendo, seu
cabelo escuro estava despenteado, sua boca – normalmente fixada em
um sorriso arrogante – estava solta com o sono. Eu não podia evitar
sorrir ao vê-lo, enrolado como um menino com o braço aconchegado
sob a sua cabeça.

Ao vê-lo assim, eu podia entender por que ele parecia tão


atraente para as legiões de mulheres que constantemente se perdiam
em seu rastro, disputando um minuto de sua atenção. Inferno, se ele
de repente perdesse a capacidade de falar, eu, provavelmente, estaria
ali com elas. Eu sabia, porém, que o menino doce dormindo na minha
frente era uma ilusão; quando ele acordasse, sua boca rapidamente ia
torcer em um sorriso e ele ia se transformar novamente em um
intitulado, idiota arrogante. Esse ser semelhante a Adônis era um
desperdício total quando vinha embalado com uma personalidade
como a dele.

Pelo menos é isso o que eu tentei dizer a mim mesma.

Desliguei o filme e silenciosamente mudei do sofá para a


cozinha, de modo a não perturbá-lo. Peguei meu iPod fora do balcão,
coloquei meus fones de ouvido e coloquei meu artista favorito. Era
quase impossível para eu cozinhar, limpar, ou fazer qualquer tipo de
trabalho doméstico sem música. Meu estômago roncou quando
comecei a reunir os ingredientes para o jantar. Tendo ignorado o
almoço mais cedo, na minha pressa de ir para a aula - eu estava
desejando italiano - de preferência, um pouco do meu caseiro frango a
parmegiana.

Trinta minutos mais tarde, o aroma de frango recém


empanados e massas cozinhando, flutuavam pela cozinha. Eu tinha
feito mais do que uma única porção, imaginando que Lexi e Tyler
estariam com fome... depois de terem aberto o apetite... a tarde toda.
Rindo em voz baixa com o pensamento, limpei minha bagunça,
carregando a máquina de lavar louça com pratos sujos e limpando a
bancada quando Bon Iver cantarolava em meus ouvidos. Eu pulei
sobre um pé quando finalmente olhei para cima e notei Finn em cima
de uma banqueta, olhando-me com aquele olhar de cobalto inabalável.

"Jesus! Você assustou para caramba!", Exclamei, puxando


meus fones dos ouvidos. Irritada, meu coração estava disparado e
minha respiração estava muito mais rasa do que o normal. Plantei
minhas mãos em meus quadris e franzi o cenho. "Você não pode
simplesmente assustar as pessoas desse jeito."
"Desculpe", Finn bocejou, completamente despreocupado com
a minha angústia. Ele ainda parecia amarrotado e com os olhos
pesados de seu cochilo. "É de frango a parmegiana esse cheiro?" Ele
respirou fundo, claramente capaz de apreciar os cheiros flutuando do
forno. "Eu só acho que me apaixonei por você."

Eu ri, virando para a pia e continuando a lavar os pratos.


Finn roubou meu iPod do balcão, percorrendo minha lista de artistas
e, ocasionalmente, grunhindo no que eu assumi era aprovação
relutante dos meus gostos musicais ecléticos.

"Bem, eu definitivamente estou surpreso", admitiu depois de


olhar por vários minutos. "Eu tinha pensado em você mais como um
tipo de menina Taylor Swift e Justin Bieber." Bufei abertamente a essa
suposição. "Mas está faltando algumas bandas cruciais aqui. Ou seja,
a minha". Ele observou.

"Quando é que você vai perceber que eu não sou uma de suas
groupies?"

"Provavelmente nunca. Mais importante, quando vamos


comer? Estou morrendo de fome."

"Nós?" Olhei para ele interrogativamente, levantando uma


sobrancelha. "Quem disse que estou alimentando você?"

"Oh, vamos lá. Você está me matando aqui! Tem um cheiro


incrível e eu não tive uma refeição caseira em - deixe-me pensar sobre
isso, eu não sei se eu já tive uma refeição caseira. Meus pais adotivos
eram importantes demais para isso."

Seus olhos estavam distantes, nublados como se ele estivesse


longe através de memórias. Olhei para ele para ver se ele estava
falando sério, mas eu não o conhecia bem o suficiente para dizer. Se
ele estava procurando por piedade de mim, no entanto, ele ficaria
muito desapontado. Sua infância, porém, carente de refeições caseiras
que poderia ter sido, não rivalizaria com a minha educação
disfuncional.

Além disso, eu sempre tive muito pouca tolerância para as


pessoas que usavam a mão de merda oferecida pela vida como uma
muleta perpétua. Ou pior, como uma desculpa para seus fracassos
posteriores. Eu acho que o gene empatia pode ter saltado uma geração
comigo - então, novamente, levando meu pai em conta, pode ter sido
simplesmente inexistente na minha linhagem familiar.

Finn saiu de seu devaneio e virou sua súplica, ele voltou para
sua suplica, com o olhar de cachorro abandonado, para mim.

"Vamos, por favor?"

Fui salva de responder quando o temporizador do forno


apitou, sinalizando que o jantar estava pronto. Com um suspiro, obtive
dois pratos do armário e montei com grandes porções de massas,
molho, frango e coberturas de queijo. Deslizei para o outro lado da ilha
da cozinha para Finn e sentei no banco ao lado dele.

Ele imediatamente atacou, mostrando prazer pela comida


exclusiva para homens de faculdade, e nós comemos em silêncio por
alguns minutos. Acabando em tempo recorde, ele soltou um arroto e
feliz da vida deu um tapinha no seu estômago saliente.

"Quer se casar comigo?" Brincou. "Porque estava delicioso.


Onde aprendeu a cozinhar assim?"

"Bem, existem essas coisas novas chamadas de livros de


receita..." Sorri provocativamente, rodando fios de massa em torno dos
dentes do meu garfo. "Realmente, qualquer um pode cozinhar. Você
apenas tem que saber ler e seguir as instruções básicas."

"Então, você ensinou a si mesma?"


"Meu pai não ficava muito por perto. Eu tinha babás, mas
elas normalmente não ficavam tempo suficiente para me ensinar
alguma coisa."

"Eu aposto que você era toda insolente quando pequena." Ele
sorriu com o pensamento.

"Não exatamente." Eu disse, pegando o prato vazio e


empilhando-o em cima do meu. "Meu pai costuma ficar com elas e
quando ele inevitavelmente ficava entediado, ele contratava uma
substituta. Elas tendiam a ficar mais tempo, quando ele estava
viajando para o exterior a negócios."

Mantendo meu tom monótono e indiferente, uma habilidade


que tinha adquirido após anos de autodisciplina, esperava
desencorajar qualquer questionamento a mais de Finn - ou pior, a sua
piedade. Eu carreguei nossos pratos para a pia, lavando e colocando
na máquina de lavar louça. Transferindo todas as sobras para uma
vasilha, coloquei na geladeira onde Lexi seria capaz de encontrar se ela
saísse do seu quarto. Quando olhei para Finn, ele estava olhando para
mim com um olhar indecifrável em seus olhos.

"O quê?" Eu questionei na defensiva. Este era exatamente o


motivo pelo qual eu não falo sobre a minha infância.

"Nada", ele disse, olhando para longe. "Isso soa... solitário...


eu acho."

Dei de ombros, não tendo outra resposta para lhe oferecer.


Não queria falar sobre o meu passado, especialmente não com um cara
que eu mal conhecia. Eu estava tentando pensar em uma maneira de
mudar de assunto quando Finn, para minha surpresa, fez isso por
mim.

"Vamos lá", disse ele abruptamente, pegando a minha mão e


me rebocando da cozinha.
"Solta-me!" Gritei, tentando puxar minha mão de seu alcance.
"Eu não vou a lugar nenhum com você."

"Você tem problemas reais de confiança, você sabe disso,


certo?" Disse Finn sem perder o passo continuando a me arrastar
junto em seu rastro. "Nós estamos indo obter sobremesa. Você vai me
agradecer mais tarde - tome minhas palavras para você".

"Eu não tenho certeza que sua palavra vale muita coisa,"
resmunguei, permitindo a contragosto que ele me arrastasse.

"Ouch", ele disse. "Eu não sei quanto tempo mais o meu ego
pode aguentar este tipo de abuso."

"Bem, considerando o enorme tamanho dele, deve levar mais


do que alguns dos meus insultos para desabá-lo."

Nós dois estávamos rindo quando saímos para o pátio e


descemos as escadas. Embora a chuva tivesse parado, a umidade
permaneceu fortemente no ar e o sol apareceu atrás das nuvens
escuras, manchando suas extremidades de rosa e laranja na luz fraca.
Chegando ao final das escadas, Finn fez o seu caminho para uma moto
preta estacionada na garagem atrás do sedan de Lexi. Ele olhou para
mim com cautela, como se antecipando uma recusa inflexível de andar
em tal armadilha mortal.

Mordi o lábio para segurar uma risada e agilmente arranquei


as chaves de sua mão. Deslizando no capacete grande demais, montei
na moto, puxando o afogador, e iniciei a ignição. Eu facilmente me
desloquei para virar e olhar para Finn, que estava olhando para mim
de boca aberta.

O olhar de choque absoluto em seu rosto era de valor


inestimável; Finalmente perdi o controle e um fluxo de risos escapou
dos meus lábios. Deslizando a viseira do capacete para baixo, mudei a
marcha e acelerei para fora da garagem, deixando-o na poeira.
A Ducati de Finn era um pouco diferente das vintages que
meu pai mantinha em nossa garagem em casa, mas logo estava
ajustada os seus controles. Tinha sido há vários anos desde que eu
tinha andado. Muitas noites, durante os meus anos de colégio, quando
eu tinha estado desesperada para escapar do meu pai e de sua grande
casa sem alma, eu sorrateiramente pegava um de seus muitos
brinquedos para passear. Às vezes, eu pegava o Lamborghini, Bentley,
ou o Aston Martin, mas nas noites que eu ansiava vento impetuoso e
velocidades perigosas, eu sempre preferia as motos.

Eu fiz uma volta em torno do meu bloco antes de voltar para a


calçada. Finn não se moveu. Seu rosto ainda estava congelado em uma
máscara de surpresa quando arranquei o capacete e o entreguei de
volta para ele, rindo.

"Você... eu... O que... acabou de acontecer?" Ele gaguejou,


olhando para mim com um misto de admiração e espanto. "Eu estou
sonhando? Porque você só cumpriu a fantasia de todos os tempos de
qualquer homem. Exceto que normalmente neste ponto do meu sonho,
você ficaria nua."

"Desculpe desapontar," eu ri.

"Você simplesmente continua me surpreendendo", Finn disse,


balançando a cabeça. "Você é tão diferente do que eu esperava."

"O que isso significa exatamente?" O que ele esperava?

"Não importa. Agora, posso pegar, ou você está planejando me


conduzir e completamente me castrar na minha própria moto?"

Eu ri e deslizei para trás, abrindo espaço para ele assumir o


controle. Hesitante, passei meus braços em torno de seu corpo quando
nós corremos para a noite de outono. O sol se pôs abaixo do horizonte
e as folhas das árvores caídas, agitaram-se em um turbilhão
esvoaçante por nossos pneus, estabelecidos nas ruas sombreadas.
Capítulo 05
Muito Perspicaz

O aniversário do assassinato de minha mãe apareceu diante


de mim. Era inevitável, causando arrepios em mim a cada ano e
lançando meu mundo já sombrio ainda mais em sombras. Era como
estar na base de um arranha-céu incrivelmente alto, eu poderia esticar
meu pescoço em qualquer direção tentando evitá-lo, mas no final a
imponente torre de aço de vidro dominaria ainda a presença do sol e
obstruiria a minha visão do céu completamente.

Meus pesadelos eram sempre piores durante as semanas que


o antecediam. Sua intensidade me deixava abalada e fraca, sem
esforço me transportando de volta há 14 anos para me tornar a garota
de seis anos encharcada de sangue em uma SUV amassada. Algumas
noites eu sonhava com o hospital, em vez disso: médicos e enfermeiros
que conferiam em voz baixa, o zumbido das máquinas, muitos fios e
cateteres enfiados em meu corpo pálido, quebrado para contar. Ficava
mais difícil para abrandar o coração disparado e a soltar a pressão em
meus pulmões - mais difícil de empurrar as lembranças de volta para
as trevas da minha memória.

Funcionando com ainda menos sono do que de costume,


dobrei tanto a minha ingestão de cafeína e minha insônia. Lexi tentou
arrancar informações de mim sobre a minha inesperada tarde de
passeio de moto com Finn, bem como me dar um relato detalhado de
suas últimas escapadas de sexo com Tyler, mas eu não tinha qualquer
paciência para conversar com ela. Eu mal podia tolerar algumas de
suas histórias no meu estado mais descansado, muito menos depois
de uma noite sem dormir. As olheiras que revestiam os meus olhos
eram um testamento perpétuo da minha falta de sono, mas Lexi não
pareceu notar ou escutar a minha advertência para me dar espaço.

Sinceramente, não queria falar com Lexi sobre Finn, porque


eu sabia que nunca iria ouvir o final disso. Ela ia mais do que analisar
e torná-lo um negócio muito maior do que era. E, embora eu pudesse
admitir para mim mesma que eu tinha sido surpreendida pela noite
que passei com ele, nunca iria compartilhar esse fato com Lexi.

Finn tinha me surpreendido. Ele dirigiu para fora do campus


por quase uma hora sem dizer muita coisa, ou me dar qualquer
indicação do local onde estávamos indo. Minha mente sempre cínica
tinha apenas começado a se perguntar se esta ida para as florestas
escurecidas era uma manobra para me matar e esconder o meu corpo
onde ele nunca seria encontrado, quando Finn saiu da estrada sinuosa
em um ponto da estrada. Ele pulou da moto e foi até uma grade
enferrujada fina, onde ele podia olhar para o rio que fluía
preguiçosamente iluminado pelo crepúsculo. Eu desmontei e o segui
com cautela.

"Por que estamos aqui, Finn?" perguntei, curiosa e um pouco


confusa sobre a nossa localização. Este era o último lugar que eu
esperava que um bad boy coberto de couro e tatuado pudesse passar
suas noites. Não havia outro carro na estrada, não havia iluminação
pública, e não havia sinais de civilização; este lugar tinha sido
negligenciado durante anos, se o trilho corroído e pavimento rachado
eram qualquer indicação.

"Shh," Finn sussurrou sem olhar para trás para mim. "Você
ouviu isso?"
Eu não conseguia ouvir muita coisa, exceto o zumbido de um
mosquito nas proximidades, ansioso para fazer uma refeição de mim, e
o gotejamento fraco de água que fluía sobre as pedras cobertas de
musgo na beira do rio.

"O que é que eu deveria ouvir?" Perguntei com ceticismo.

"Nada", ele disse, virando-se para olhar para mim, eu me


juntei a ele no parapeito. "Só o silêncio. Eu venho aqui para pensar às
vezes. Limpar a minha cabeça".

Olhei para longe dele, tentando processar esse pedaço de


informação incongruente. Eu realmente não queria saber se havia
outras partes do homem bonito que estava ao meu lado. Queria que
ele ficasse na caixa denominada idiota narcisista que eu guardada na
minha mente. Ele certamente não precisaria de companhia nessa caixa
em particular.

Mas agora, ele não estava realmente adequado, não importa o


quão duro eu tentasse fechar a tampa sobre ele. Eu não poderia
inteiramente mesclar o imbecil que ele fingiu ser com esse cara quieto
desfrutando da tranquilidade da natureza. O narcisista idiota
normalmente não apreciaria muito, exceto seu próprio reflexo no
espelho. Ele, por outro lado, era complicado. E eu não gostava de
complicado; eu gostava das minhas caixas de armazenamento mental -
claramente identificadas, organizadas e fáceis de manusear.

Embora não tenha sido dito, ficou claro que nós não íamos
sair de lá até que eu tivesse apreciado de forma satisfatória o seu
ponto de vista do rio. Estudei a vista do nosso poleiro, que pairava
cerca de trinta metros acima da margem do rio, e tive de concordar
que era calmante - suavemente belo de uma maneira que apenas a
natureza pode ser.
O fluxo incessante do rio escuro anestesiou minha mente e
quando me concentrei ao meu redor, eu acalmei as preocupações
incessantes da corrida em volta da minha cabeça. Pela primeira vez em
semanas, eu não estava focada no aniversário de morte da minha mãe
se aproximando; minha mente foi alegremente clareada.

Não havia luz aqui, exceto pela lua quase cheia e as estrelas
acima, em números infinitos eram ainda mais bonitas do que pareciam
do meu terraço em casa. Depois de alguns minutos de apreciação em
silêncio, comecei a entender por que este lugar era tão especial para
Finn.

Aqui era seu terraço.

Isso abruptamente levou a outro pensamento - Por que ele me


trouxe aqui, ao seu santuário? Ele mal me conhecia. Como ele poderia
saber que eu poderia desfrutar de algo assim? Certamente não poderia
imaginá-lo trazendo uma de suas groupies todo o caminho até aqui.

"Por que você me trouxe aqui?" sussurrei, relutante em


quebrar o silêncio que havia sido estabelecido sobre nós. Ele olhou
para mim, seus olhos escuros prendendo os meu imediatamente,
quase hipnótico. Longos segundos se arrastaram enquanto seu olhar
queimava no meu, sem pestanejar; Eu queria olhar para longe, para
romper com a intensidade desse olhar, mas de alguma forma eu não
podia. Seus olhos brilharam brevemente para baixo para minha boca
antes de voltar a olhar para os meus olhos. Olhei para trás
cautelosamente, tentando definir suas intenções.

Eu pensei que ele não iria me responder, mas depois de


várias batidas do coração ele limpou a garganta e, finalmente, quebrou
o silêncio.
"Eu só sabia que você iria gostar", ele disse, dando de ombros
e, finalmente, movendo seu olhar penetrante de volta para o rio abaixo.
"Você me compreende."

Não gostava da sua resposta. Implicava um nível de


compreensão, de proximidade, que nós não compartilhamos. Ele não
me conhecia; ninguém conhecia - não a minha amiga mais próxima e,
certamente, não o meu pai. Finn era perigoso, decidi. Percepção não
era uma qualidade que eu incentivei naquele tempo que passei com
ele.

Fiquei inquieta, a tensão que me abandonou quando


chegamos aqui rastejou lentamente de volta pela minha espinha e
recuperou seu aperto. Finn pareceu sentir a minha inquietação
crescente, de repente, apontando para baixo da margem do rio para
desviar minha atenção.

"Vaga-lumes", ele disse, puxando o meu olhar para as esferas


brilhantes lançando-se através da grama que ladeavam a margem do
rio. Um pequeno sorriso curvou um lado de sua boca para cima,
enquanto observava os insetos fosforescentes iluminar o céu. "Eles
irão embora em breve."

"Por quê?" Perguntei.

"Eles ficam apenas nos meses de verão. Esta é provavelmente


uma de suas últimas noites, está ficando muito frio". A risada suave
escorregou entre seus lábios. "Eu costumava pegá-los em frascos de
vidro, quando eu era criança, só para vê-los de perto por alguns
minutos antes de deixá-los saírem. Eu sentava no campo atrás da
minha casa toda a noite, esperando-os aparecerem. Às vezes, eles não
apareciam. Mas quando o faziam, era como mágica, você sabe? Como
um sinal de que havia algo mais lá fora, para mim, e talvez se eu fosse
paciente o suficiente eu poderia tê-lo."
Assisti os vaga-lumes em silêncio por alguns minutos, sem
saber o que dizer. Fiquei espantada que ele estivesse se abrindo para
mim; Eu não tinha lhe pedido, nem pretendo retribuir. Não iria fazer a
coisa de coração-para-coração-que-permite-uma-ligação-sobre-a-
nossa-infância-conturbada. Mas eu estava curiosa.

"Eu não teria achado que você era um amante da natureza",


eu disse, olhando para seu bíceps tatuado.

"Menos sobre a natureza, era mais sobre a fuga, Brooklyn. Eu


imaginava que você entenderia isso melhor do que a maioria". Ele
nivelou o olhar intenso para mim de novo e eu rapidamente desviei o
olhar. Este menino viu infinitamente muito sobre mim, e eu mal tinha
dito uma palavra sobre mim mesma.

Nós não falamos novamente quando fizemos o nosso caminho


de volta para a moto de Finn, e eu não podia deixar de sentir que algo
havia mudado entre nós enquanto estávamos juntos assistindo os
vaga-lumes brilhando uma última vez no fim do calor de agosto.
Quando coloquei meus braços em volta de sua cintura, eu sabia, sem
dúvida, que teria que ficar longe, muito longe dele depois desta noite.
Eu poderia lidar com o despreocupado e zombeteiro Finn que eu tinha
encontrado antes, mas o cara que me trouxe aqui era uma criatura
totalmente diferente. Eu não sabia como era possível, mas ele podia
me ler e me ver de uma forma que ninguém nunca tinha sido capaz de
fazer.

Finn manteve sua promessa inicial de sobremesa, conduzindo


de volta para o campus ele estacionou em uma pequena sorveteria
caseira alguns minutos da minha casa. Nós chupamos os nossos
sorvetes em bancos de piquenique, e ele sem esforço escorregou de
volta para o vocalista excessivamente sexual engraçado que ele tinha
sido antes de nosso tempo no mirante. Nós zombamos facilmente e
rimos sobre a evolução do relacionamento de Lexi e Tyler, afastando
quaisquer memórias da interação que tínhamos compartilhado no rio
escuro. Foi surpreendentemente divertido; Finn foi uma companhia
agradável, tão charmoso quanto o seu status de destruidor de corações
requeria que ele fosse. Mas eu não conseguia esquecer o olhar em seus
olhos quando ele assistiu os vaga-lumes na escuridão, não importa o
quanto eu tentasse.

Ele me deixou em casa, pouco depois, dando-me um abraço


amigo e fazendo piadas inadequadas enquanto eu caminhava em
direção a casa. Era quase como se ele sentisse a minha inquietação e
estava tentando me acalmar, como se eu fosse algum animal selvagem
arisco que ele tinha empurrado para além da sua zona de conforto.

Muito perspicaz, pensei pela centésima vez naquela noite.

Acenei alegremente das escadas, fingindo que estava tudo


bem entre nós antes de firmemente fechar a porta atrás de mim e
deixar um suspiro de alívio sair de meus pulmões. Finn Chambers era
o pior tipo de maravilha - charmoso, atraente, engraçado e
dolorosamente intuitivo.

E eu planejava evitá-lo como uma praga.

***

Passei as duas semanas seguintes a fazer tudo ao meu


alcance para ficar longe de Finn. Quando ele se aproximava de mim no
campus era complicado, mas não impossível, escapar de qualquer tipo
de interação. Evitar contato visual e ignorá-lo não foi suficiente, no
entanto - o cara realmente não poderia pegar a dica, e passou a tentar
falar comigo cada vez que cruzávamos. Tive que recorrer a escorregar
no banheiro das meninas, entrar em salas de aula vazias, e até mesmo
me misturar em grupos aleatório para evitá-lo.

Nas poucas ocasiões em que lidamos com o confronto cara a


cara, eu formulava uma desculpa imediata e praticamente fugia do
local. E minhas desculpas foram sempre frágeis na melhor das
hipóteses; Tenho certeza de que ele sabia que eu estava mentindo
quando disse a ele que tinha que pegar Lexi na aula de tênis, tendo em
conta o fato de que ela nunca pisou voluntariamente em qualquer
espécie de quadra de atletismo em sua vida. Ah, e ele definitivamente
sabia que eu estava de sacanagem com ele quando eu afirmava estar
atrasada para o trabalho - meu trabalho inexistente certamente
ajudou a solidificar esse álibi.

Minha falta de sono definitivamente interferiu em minhas


habilidades cognitivas. Ou isso ou a intensidade de seus olhos escuros
estavam causando um curto-circuito em meu cérebro cada vez que ele
vinha dentro de um raio de três metros, eliminando assim todas as
habilidades enganosas que eu uma vez poderia ter possuído.

Considerando que ele não tinha sequer existido na minha


vida, até poucas semanas atrás, de repente ele parecia estar em
qualquer lugar que eu olhasse. Fiquei convencida de que logo ele
aceitaria minhas evasões incansáveis como uma indicação de que não
éramos amigos e simplesmente perderia o interesse em mim. Depois de
algumas semanas, eu sabia que a minha estratégia estava
funcionando quando eu literalmente tropecei de cabeça em meu
problema durante uma caminhada para a aula, não prestando atenção
quando eu enviava um texto rápido para Lexi sobre nossos planos de
sexta-feira.

"Oh meu Deus, desculpe-me", eu disse, firmando-me no braço


do cara que obviamente tinha caído direto. "Eu sou uma distraída, eu-"
As palavras morreram em minha língua quando olhei para
cima para um conjunto de profundos olhos azuis - olhos tão
singularmente expressivos que eles poderiam realmente só pertencer a
uma pessoa - e percebi o meu erro. Rapidamente recuei do seu espaço
pessoal, de repente desconfortável e temendo qualquer coisa que ele
pudesse dizer. Algo brilhou nos olhos de Finn quando ele olhou para
mim, mas desapareceu muito rapidamente para processar.

Ele não disse uma palavra. Ele simplesmente saiu do meu


caminho, meio se curvando com uma mesura zombeteiramente
cavalheiresca do seu braço, como se quisesse me reverenciar. Evitei
contato com os olhos, andando o mais rápido que minhas pernas
curtas poderiam me levar para longe de sua presença e,
estranhamente, senti a culpa apertando como um punho em volta do
meu coração. A culpa me deixou tanto confusa como apavorada.

Eu não tinha feito nada de errado. Que direito ele tem de


olhar tão magoado? Não era como se fôssemos amigos. Éramos
estranhos, realmente.

E, no entanto, a maneira como ele olhou para mim revelou


que ele tinha sido ferido quando eu o excluí da minha vida. Eu não
entendia isso, ou ele, ou os sentimentos de pesar correndo pelo meu
sangue - e, francamente, eu não queria. Então, fiz o que fazia de
melhor - compartimentei minhas emoções e segui em frente.

Eu sabia que estava fazendo a coisa certa por ficar longe dele.
Ele era um risco que eu não podia me dar ao luxo de tomar, e me
garanti que ele logo esqueceria tudo sobre mim. Afinal, ele tinha muita
adoração das fãs para lhe fazer companhia no mesmo período.

Pelo menos, depois de duas semanas sólidas me esquivando


dele, ele finalmente entendeu que nós nunca seríamos amigos.
Enquanto eu caminhava para casa, percebi que eu tinha acabado de
experimentar provavelmente o meu último encontro com Finn. Tentei
me lembrar de que era o que eu queria, empurrando a pequena voz
gritando 'Você é um idiota Brooklyn', tão longe possível da minha
consciência . Eu poderia lidar com qualquer quantidade de
arrependimento, se isso significasse que eu estava a salvo no final.

***

O aniversário da sua morte, finalmente, chegou. Eu estava


exausta dos pesadelos sem escalas que se instalou na minha cabeça
nas duas últimas semanas, mas eu sabia que precisava escapar deste
dia e ficar sozinha. Peguei emprestado o carro de Lexi e abandonei as
minhas aulas, na esperança de que uma longa viagem sem destino
pudesse fazer algo para acalmar minha mente. Era uma esperança
fútil, mas me agarrei a ela com desespero.

O cartão de simpatia anual, sem dúvidas selecionado e


assinado por um dos secretários do meu pai, tinha sido entregue com
o correio da manhã. Eu não sei por que ele se preocupou em ter um
enviado; ele nunca tinha feito nada para comemorar sua morte no
passado, mesmo quando eu tinha vivido com ele. Quando era pequena,
passava o dia chorando a cada ano, às vezes lhe implorando para falar
sobre a minha mãe - como se conheceram, como ela era, qualquer
coisa para manter sua imagem inalterável na minha memória. Mas ele
não quis, ou não pôde falar dela e, eventualmente, parei de pedir.

Dirigi o carro de Lexi ate ficar sem gasolina, parando para


abastecer em uma cidade sem nome e cheia de pessoas sem rosto. Era
irônico que tudo parecia desfocar hoje, como se estivesse se movendo
muito rápido para processar todos os detalhes, uma vez que cada
minuto se arrastava como se fosse uma hora e cada hora se passava
como um dia.

Minhas semanas de pesadelos tinham a certeza de que as


memórias ferviam logo abaixo da superfície da minha consciência, e
hoje, eu não me incomodei em empurrá-las abaixo, como eu teria em
qualquer outro dia. Em vez disso, eu me alegrava com elas, deixando-
as passar por cima e me consumir enquanto eu revivia cada detalhe
horripilante de sua morte e suas consequências. Quando meus olhos
borraram e eu já não podia ver a estrada diante de mim, estacionei e
finalmente me permitir, só desta vez, ser fraca.

Nunca fui mais grata pelo egocentrismo de Lexi - ela não


tinha sequer questionado a minha necessidade do seu carro ou
perguntado onde eu estava indo. Nunca tinha discutido o meu passado
com ela, embora tivéssemos nos conhecido apenas alguns meses
depois do assassinato da minha mãe, quando eu tinha me mudado da
Califórnia para o outro lado do país para viver com meu pai. Eu não
podia falar sobre a sua morte, e Lexi nunca tinha me empurrado.

Sempre a amei por isso.

Quando fui capaz de me recompor, a noite já tinha caído.


Limpando a umidade do meu rosto manchado de lágrimas e os olhos
inchados, fui para casa no piloto automático. Eu me sentia vazia,
como uma concha no meu estado normal. Tudo dentro de mim tinha
sido espremido e tudo o que restou foi o amontoado de pele e ossos
que parecia e soava como Brooklyn - a casca esvaziada que eu permiti
que o mundo visse.

Enquanto eu percorria as ruas abafadas do meu bairro, meus


faróis iam iluminando a escuridão crescente, meus pensamentos se
foram para o assassino de minha mãe. Raramente me permitia pensar
sobre Ernest "Ernie" Skinner, preso 91872-051 em San Quentin State
Prison Califórnia, mas esta noite eu estava muito emocionalmente
esgotada para empurrar os pensamentos para longe. Seu rosto, o rosto
que assombrava minhas memórias e enchia meus pesadelos, que tinha
queimado meu cérebro com um símbolo da vida que tinha sido
arrancado de mim.

Eu ainda me lembrava de suas palavras desde o dia do


acidente com clareza surpreendente. Como os olhos injetados de
sangue, vidrados de cocaína em suas veias, havia olhado para o meu
rosto como se memorizando cada pequeno característica.

Eu não estaria nessa confusão, se não fosse por você, sua


merdinha. Eu estaria livre, eles não iam me pegar. Você fodeu tudo.
Você me fez bater.

Um tremor passou por mim quando eu me vi, aos seis anos,


tremendo no banco das testemunhas, quando dei o testemunho que o
condenou - selando o seu destino com uma pena de prisão de 25 anos
e anulando seus apelos para uma sentença menor. O ódio brilhando
em seus olhos quando o levaram dali para a prisão em um macacão
laranja, foi dirigido apenas para mim, como se ele pudesse me
incinerar com a força de seu olhar sozinho.

Felizmente, ele tinha dez anos a mais para apodrecer na


prisão. Eu não me permitia pensar sobre o que poderia acontecer no
dia em que ele fosse finalmente liberado de volta à sociedade.

Eu parei na calçada ao lado do antigo prédio vitoriano e tentei


catar meus pedaços antes de ir para dentro. Mesmo Lexi, em todo seu
egocentrismo, iria ver através da minha fachada de normalidade, se eu
entrasse com lagrimas nos olhos e mascara manchada. Baixando o
espelho do carro, retoquei a minha maquiagem e coloquei o rosto que
eu esperava que passasse como minha mascara marcada de legal
indiferença.
Ela teria que servir, por agora.
Capítulo 06
Por Poucos Momentos

Em algum momento durante o meu banho, decidi que a


tequila era a melhor maneira de esquecer a esmagadora tristeza e dor
que estava me sufocando o dia todo. Cabelo molhado e rosto limpo de
todos os vestígios das minhas lágrimas anteriores, pulei em cima do
balcão da cozinha e me servi de uma dose. Desceu queimando
calorosamente pela minha garganta abaixo, uma voz irritante na parte
de trás da minha mente sugeriu que o álcool não era realmente a
melhor maneira para lidar com a minha infinidade de problemas.
Rapidamente silenciei a voz, jogando para trás mais duas doses em
rápida sucessão.

Quando Lexi entrou alguns minutos mais tarde, eu estava me


sentindo melhor do que eu tinha em semanas. Eu não poderia
esquecer que hoje marcou o décimo quarto aniversário da morte de
minha mãe - estava indelevelmente gravado em minha alma, enraizada
no meu DNA - mas a tequila ajudou a aliviar a dor no meu peito e a
embaçar as extremidades das memórias que eu não queria mais ver.

"Ooh, estamos bebendo!" Lexi exclamou, pegando a tequila da


minha mão e tomando um gole direto da garrafa.

"Dê-me de volta, Lex", eu disse, estendendo a mão. "Eu


preciso mais do que você", acrescentei, murmurando baixinho quando
recuperei a garrafa e servi minha quarta dose. Lexi aplaudiu em apoio
quando tomei a dose.
"O que é isso, a propósito?" Perguntei, a tequila queimando
na minha garganta quando peguei a folha de papel que estava na
bancada ao meu lado. Era uma fatura do E.S. Elétrica, um eletricista
com sede em Charlottesville, de acordo com o documento. Eu não
estava ciente que tínhamos necessitado de qualquer religação feita, e
eu com certeza não tinha solicitado.

"Oh, esse cara veio hoje", disse Lexi, arrebatando a garrafa de


novo de mim e tomando outro gole. "Nosso senhorio o mandou. Ele
disse que tinha que consertar nossa fiação ou algo assim. Nem me
pergunte o que ele fez - eu não falo engenharia".

"Elétrica", corrigi.

"Tanto faz!" Lexi revirou os olhos.

"Espere, nosso senhorio mandou? O mesmo proprietário, que


praticamente tivemos que ir ao tribunal quando o nosso banheiro
quebrou, porque ele estava tão relutante em consertar? O próprio cara
que não parecia se importar se as travas em nossas portas e janelas
não trancavam quando nos mudamos?" Olhei para ela em estado de
choque. "Você está tentando me dizer que ele arrumou
voluntariamente alguma coisa e nós nem sequer tínhamos do que
reclamar sobre isso por seis meses em primeiro lugar? E ele pagou por
isso, também?"

"Isso é o que eu estou dizendo a você," Lexi sorriu para mim.

"Bem, se isso não chama para doses comemorativas, eu não


tenho certeza do que faz", eu ri, estendendo a mão novamente para a
tequila.

Dentro de uma hora, Lexi e eu tínhamos tomado metade da


garrafa e fomos descaradamente rodando em torno da cozinha,
pronunciando as nossas palavras e fazendo serenata uma a outra,
juntamente com os mais recentes sucessos da rádio.
"Vamos sair!" Lexi gritou, puxando-me em direção a seu
quarto e me empurrando para baixo em sua cama, enquanto ela ia
para seu armário transbordante.

Muito bêbada para argumentar, eu segurava a garrafa de


tequila no meu peito como uma tábua de salvação e a observava
oscilar fora do jeans e colocando um vestido rosa.

"Coloque isso!" Ela jogou um pedaço vermelho brilhante de


material para o meu rosto, seguido por um par de sapatos de salto alto
pretos peep-toe que quase me arrancou um olho quando eles
passaram raspando no meu rosto e caíram sobre a colcha.

Talvez, se hoje não fosse o que era, e se eu já não tivesse


muita tequila correndo em minhas veias, eu poderia ter resistido às
exigências de Lexi. Então, novamente, era difícil de dissuadi-la mesmo
em minha mais sóbria mentalmente estável mentalidade.

Minha cabeça rodou quando me levantei e tirei minha calça


jeans, inclinando na parede enquanto eu tentava tirar minha camisa.
Lexi riu de mim quando ela avistou minha luta pelo espelho da sua
penteadeira, onde ela foi aplicar maquiagem com a velocidade e
facilidade de um profissional. Quando eu tinha conseguido puxar o
vestido vermelho sem alças, que ficou tão curto em mim que devia ser
uma camisa para a altura de Lexi, ela terminou de aplicar a
maquiagem e começou a atacar o meu rosto com uma infinidade de
pincéis e pós.

Quinze minutos depois, estávamos em um táxi em nosso


caminho para o bar. No meu estado menos do que sóbria, não acho
que perguntei a Lexi onde estávamos indo. Eu sabia que não deveria
ter ficado surpreendida quando chegamos a uma parada no Styx, dado
o interesse de amor recém descoberto de Lexi, mas ainda estava
chocada que ela me trouxe de volta aqui. Até o momento que eu tinha
conseguido formular qualquer tipo de objeção, Lexi tinha jogado uma
nota de vinte para o motorista e me arrancou do banco de trás,
deixando-me de boca aberta enquanto eu observava as luzes traseiras
da cabine desaparecer na esquina.

"Lexi, você tem que estar brincando comigo", eu disse, girando


de frente para ela e quase caindo de cara no chão quando meus saltos
bateram na calçada. Nota para si mesma: girando em stilettos de treze
centímetros embriagada é altamente desaconselhável.

Lexi riu de mim e deu de ombros, claramente sem remorso. "A


banda é ótima, as bebidas são baratas, e não é como se você tivesse
mesmo que falar com Finn. Jesus, Brookie, você faz parecer que o
menino é algum tipo de perseguidor obcecado, que rouba os lenços
usados e fotografa todos os seus movimentos", ela revirou os olhos
com o pensamento. "Sério, ele provavelmente se esqueceu de você
agora. Quero dizer, você viu o menino? Ele não está exatamente
sofrendo por atenção."

Ouch.

Tanto como cruel com Lexi tinha soado, eu tive que


concordar, quando ela colocou tudo para fora, assim, que minhas
ações ao longo das duas últimas semanas pareciam um pouco
ridículas. Era, provavelmente, presunçoso, até arrogante, assumir que
eu tinha sequer cruzado o seu radar – e muito menos que ele queria
ser meu amigo. Provavelmente o evitei por nenhuma razão em tudo. De
repente, senti-me como uma de suas groupies sem cérebro babando.

"Droga, odeio quando você está certa", eu reclamei, ligando o


meu braço através de Lexi quando nós ignoramos a multidão
esperando para entrar e nos aproximamos da entrada.

"Billy!" Lexi gritou em saudação, colocando um beijo rápido


na bochecha do homem obscenamente muscular cuidando da porta.
Eu não tinha ideia de como Lexi o conhecia, mas ele imediatamente
puxou a corda de veludo para nos permitir entrar. Lexi soprou-lhe um
beijo quando atravessando a corda e desapareceu pelas portas. Acenei
de brincadeira para os frequentadores do clube que ainda aguardavam
para entrar, e os seus gemidos de reclamação foram afogados
rapidamente por uma voz amplificada que enviou calafrios pela minha
espinha.

Meus olhos imediatamente encontraram Finn no palco.


Droga, ele parecia bom. A camiseta preta justa colocava em seu peito
bem construído em exibição. Jeans escuro de cintura baixa enfeitava
seus quadris, e seu cabelo escuro caía sobre os olhos que eu sabia ser
da tonalidade mais escura de um azul meia-noite. Não podia negar que
ele era atraente, desejando pela centésima vez que eu pudesse
simplesmente dormir com ele sem quaisquer complicações emocionais.
Tentei me lembrar de que ele era perigoso, que eu não poderia me
envolver, que o sexo não seria suficiente para ele - ele iria querer me
conhecer.

Então, novamente, ele tinha dormido com todos os tipos de


fãs do grêmio sem formar qualquer tipo de ligação - não foi eu
pretensiosa em assumir que ele me trataria de forma diferente?

Lexi me balançou de minhas divagações mentais bêbadas,


levando-me para o bar lotado. Nós fizemos nosso caminho para frente
da fila, sem nos importarmos com os corpos que empurramos. Não foi
nenhuma grande surpresa ver Tim novamente, e ele me reconheceu
assim que me aproximei.

"Brooklyn", ele disse, sorrindo. Pelo menos ele se lembrou do


meu nome. "O que vocês, damas encantadoras, bebem esta noite?"
"Dois Long-Islands 6 , por favor", eu disse, sorrindo
animadamente. Talvez eu ganhasse uma rodada grátis dele. Eu sabia
que ele era sem vergonha e em circunstâncias normais, provavelmente,
sentiria-me mal por encorajá-lo, mas esse cara era um idiota e eu
estava bêbada demais para me importa mais. Sem surpresa, ele me
passou as bebidas e recusou o meu dinheiro. Sorri em agradecimento,
voltando para Lexi e passando um dos copos.

"Saúde, cadela", ela disse, tinindo seu copo no meu e indo


para uma pequena mesa ao lado da pista de dança, onde várias mesas
privadas tinham sido colocadas. A maioria delas estava ocupada, mas
conseguimos encontrar uma vazia perto da parte traseira da seção,
relativamente longe do palco. Lexi, é claro, estava desapontada com a
nossa localização, mas tive o conforto em saber que eu não teria que
lidar com Finn esta noite, uma vez que ele provavelmente não iria me
identificar aqui atrás. Não era um grande clube - estávamos a apenas
cerca de 15 metros do palco - mas ele raramente quebrou o contato
visual com o bando de garotas seminuas se contorcendo na frente da
multidão.

Tomei um gole da bebida e me deixei apreciar o timbre da voz


de Finn, uma vez que correu sobre mim. Era sedutora, profunda e
ligeiramente rouca enquanto cantava no microfone. Lembrei-me da
primeira vez que eu ouvi a voz dele, semiconsciente depois que cai na
calçada. Mesmo naquele dia, quando eu não o conhecia, suas palavras
tinham ressoado em minha mente.

Lexi e eu conversamos ociosamente e observamos multidão


frenética quando terminamos nossa primeira rodada, apenas
interrompendo quando Lexi sentiu a necessidade de comentar sobre
um equipamento particularmente ultrajante ou elogiar a banda entre
as músicas. Nós rimos de nós mesmas durante duas rodadas e
6
Long Island é um coquetel feio com vodca gim tequila e rum
estávamos quase em lágrimas quando a banda anunciou que estava
tendo uma pausa de meia hora.

Apesar das garantias anteriores de Lexi que eu não tinha


nada a temer de Finn, quando ela foi encontrar Tyler, desculpei-me e
fiz meu caminho para o banheiro no canto de trás do clube. Era muito
longe do bar e do palco - um lugar perfeito para esperar o intervalo e
evitar encontros constrangedores.

Para minha surpresa, o banheiro estava quase vazio; como


Lexi, as outras frequentadoras do clube do sexo feminino devem ter
sido seduzidas por pensamentos de ver os músicos durante o intervalo
e optaram por segurar a bexiga. Eu nunca tinha visto um banheiro de
bar tão deserto, e apreciei a calma enquanto tentava retocar a minha
maquiagem borrada no espelho.

Eu estava bêbada. Sabia que eu não deveria ter me deixado


chegar a este nível - eu, normalmente, ficava no controle - mas esta
noite foi uma exceção. Estava muito triste para ser responsável; muito
ferida para viver nas memórias. Eu precisava de uma fuga, e a tequila
tinha me dado uma.

Um benefício adicional: os efeitos do álcool tinham totalmente


anestesiado a dor que eu tinha certeza de que estaria sentindo nos
meus pés usando os altíssimos saltos que Lexi tinha me forçado a
usar.

Eu ri com o pensamento quando tropecei em uma cabine,


levantando meu microvestido sobre meus quadris e esvaziando minha
bexiga. Eu pairava sobre o vaso sanitário quando eu fiz xixi,
precariamente equilibrada sobre meus saltos, quando ouvi o balanço
da porta sendo aberta e alguém entrando no banheiro. Levantei
rapidamente, reajustei meu vestido e fui até a fila de pias.
Tinha acabado de lavar as bolhas de sabão das minhas mãos
quando senti o peso do olhar de alguém no meu pescoço. Olhando
abruptamente no espelho, vi o reflexo de um homem que estava a
poucos metros atrás de mim. Imediatamente gritei, girando rápido
demais em meus calcanhares e agarrando a borda da pia para me
impedir de cair.

"Jesus, você poderia ter gritado mais alto?" uma voz falou
lenta e calmamente.

Lentamente me endireitei e forcei o meu olhar até encontrar


os olhos de Finn. Eles estavam brilhando de alegria, sem dúvida,
divertindo-se com o meu susto.

Eu estava indo para matá-lo.

"JESUS CRISTO DO CARALHO, FINN", gritei, caminhando


para frente e empurrando seu peito com toda a força dos meus braços.
Ele nem sequer deslocou para fora do equilíbrio, o que só serviu para
incitar ainda mais a minha raiva. "Que porra você está fazendo aqui?"
Exigi. Ele abriu a boca para responder, mas eu o interrompi. "Este é o
banheiro feminino, Finn. Você é uma dama?"

Ele estava lutando para segurar sua risada agora, balançando


a cabeça em resposta à minha pergunta, com um sorriso puxando o
canto da boca. A covinha na bochecha direita estava em pleno vigor e,
apesar de como era adorável, no momento eu tinha vontade de chutá-
la direito de seu rosto.

"Então o que diabos você está fazendo aqui?" Exigi,


estreitando os olhos para ele e plantando minhas mãos em meus
quadris. Finn deu vários passos em minha direção, seguindo-me
quando me afastei dele e acabei ficando presa nas pias. Quando eu
não tinha mais para onde ir, ele apoiou os braços na parede em torno
de cada lado do meu corpo, efetivamente me enjaulando. A risada foi
desaparecendo de seus olhos, sua íris escurecendo quando elas foram
preenchidas com emoções sem nome.

"Você tem me evitado", afirmou, segurando meu olhar. "Eu


quero saber por quê."

Era uma afirmação, não uma pergunta - que exigia uma


resposta. Eu não tenho uma para oferecer, porém, assim ele estava
sem sorte se ele achava que poderia me intimidar para explicar.

"Eu não estou evitando você, Finn. Eu só não gosto de você",


olhei para ele, levantando meu queixo com altivez e me recusando a
recuar, apesar de sua proximidade. "E caramba, encurralando uma
menina em um banheiro abandonado é definitivamente o caminho
para conseguir que ela fique em volta de você." Eu praticamente
zombei dele. Ele apenas sorriu.

"Brooklyn, nós dois sabemos que você está mentindo", ele


sussurrou, sua boca na minha orelha. "E nenhum de nós vai sair
daqui até que você me diga por que você está fingindo que eu não
existo."

"Eu não estou mentindo!" Eu deveria ter mentido. "E o seu


ego poderia ser maior? Sério, como você vive com você mesmo?" Eu
estava enrolando um pouco. Droga. De todos os momentos possíveis
que essa conversa poderia ter ocorrido, é claro que tinha que acontecer
enquanto eu estava bêbada.

"Você está se esquivando", ele disse, "Apenas me diga, porque


eu estou perdendo o meu intervalo para isso."

"Ah, sim, o tempo precioso com suas groupies está indo para
o lixo. Mais uma razão para me deixar em paz!"
"Você sabe, pensei que você era bonita quando ficava
zangada, mas você é ainda mais bonita quando está com ciúmes", ele
sorriu.

"E você está delirando." Decidi que eu tive o suficiente,


empurrando seu peito para levá-lo a se afastar de mim. Estava
distraída observando seus músculos do peitoral que estavam sob meus
dedos, minha mente embriagada evocou imagens dele sem camisa,
quando de repente ele pegou minhas mãos firmemente em suas mãos.
Seus dedos grandes totalmente englobaram os meus, seu aperto de
aço me arrastou para mais aperto contra o seu peito. Estávamos
totalmente colados, cada parte do nosso corpo perfeitamente alinhado.
Em meus saltos, o topo da minha cabeça estava quase ao nível da sua
boca, e os meus olhos esmeralda estavam a poucos centímetros dos
seus azuis.

Olhamos um para o outro durante vários segundos, meus


olhos se movendo descaradamente entre seu olhar escuro e os lábios
carnudos quase tocando minha testa. Senti minha respiração acelerar
e reconhecer o desejo revelador no meu estômago.

Merda. A tequila estava causando estragos no meu


autocontrole.

Os olhos de Finn ampliaram quando ele olhou para mim,


aparentemente tão afetado pela nossa proximidade como eu estava.
Ele inclinou a cabeça em direção a minha, movendo-se ainda mais em
meu espaço quando ele trouxe nossos lábios perigosamente mais
próximos um do outro.

"Nós não devemos fazer isso", sussurrei contra sua boca,


sabendo que era tarde demais para parar o que estava prestes a
acontecer entre nós. Pior, sabendo que eu não queria parar.
"Shh", ele respirou, seus lábios beliscaram os meus, enquanto
suas mãos subiam para enrolar em meus cachos soltos na base do
meu pescoço. Assim como nossos lábios finalmente escovaram um no
outro com uma delicadeza que eu não pensei que Finn era capaz, a
porta do banheiro se abriu, batendo contra a parede com um sonoro
estrondo suficiente para quebrar o quase-momento que tínhamos
acabado de experimentar. Nós rapidamente nos separamos, quando
três meninas tropeçaram pela porta.

"Aimeudeus! Você é Finn! Ai meu deus!" A mais loura das três


começou saltando para cima e para baixo de excitação, seus seios
cirurgicamente inflados quase derramando fora de seu top enquanto
ela completamente ignorava minha presença e se focava no vocalista
de suas fantasias.

Eu evitava olhar em sua direção, xingando-me por quase ter


permitido que acontecesse. Eu me assegurei que era só porque eu
estava bêbada, só porque a minha guarda tinha sido baixada após o
dia mais ferrado do meu ano. Isso não aconteceria novamente. Nunca.

Eu me apertei em torno do trio de fãs, quase correndo na


minha pressa de sair do banheiro e para longe de sua presença.

"Isso ainda não acabou, Brooklyn," eu o ouvi chamar


enquanto eu fugia.

***

"Lembre-me de nunca ouvi-la novamente", eu disse,


deslizando para trás em minha cadeira em frente à Lexi. "E para
chutar sua bunda."
"O que eu fiz dessa vez?" Lexi sorriu maliciosamente,
deslizando meu Long Island do outro lado da mesa. Tomei um gole
caprichado, esperando que ele pudesse apagar o que tinha acontecido
no banheiro.

"Lembra-se de como você me garantiu que Finn não tinha


absolutamente nenhum interesse que seja em mim?"

"Talvez?" Os olhos de Lexi se arregalaram de antecipação; o


que quer que seja que ela estivesse esperando que eu dissesse, não era
isso.

"Bem, ele apenas me encurralou no banheiro. E tentou enfiar


a língua na minha garganta."

"E você não deixou?"

"Lexi! Jesus. Eu nem gosto dele."

"Quem se importa? Ele é lindo." Ela disse, olhando para mim


como se eu fosse louca. "E desde quando você se importa se gosta dos
meninos com quem você dorme? Nós duas sabemos que você não é de
relacionamentos. Nem Finn. Em minha opinião, isso poderia ser
absolutamente perfeito."

"Vai ficar complicado. Sempre fica complicado."

"Querida", Lexi suspirou. "Finn não se compromete. Ele é um


namorador em série, se você pode até chamar o que ele faz de namoro.
Vocês são claramente a fim um do outro e vocês são atraentes, por isso
apenas fique com ele e acabe logo com isso. Então você pode ir
embora, como você sempre faz. Uma ruptura limpa".

Lexi fez soar tão simples, tão fácil. Naquele momento, eu


queria ceder. Após a cena que acabara de acontecer entre mim e Finn
no banheiro, duvidava que eu fosse capaz de resistir novamente. A
verdade era que eu o queria. Eu o queria desde a primeira vez que
coloquei os meus olhos sobre ele.

Sexo sem amarras nunca tinha sido um problema para mim


antes. Nunca deixei que as emoções ficassem no caminho, em
qualquer um dos meus relacionamentos; assim que eu sentia que as
coisas estavam ficando muito intensas, eu tinha terminado. Talvez não
fosse diferente com Finn - eu só tenho que ser mais cuidadosa do que
o habitual. Ele tinha um jeito de ficar sob a minha pele como ninguém.
Ele viu coisas em mim que ninguém mais percebia.

Teria que segurá-lo no comprimento dos braços. Eu poderia


considerar dormir com ele, mas certamente nunca consideraria confiar
nele.

"Não penso assim, Lex", eu disse, minha voz convincente até


para aos meus próprios ouvidos.

"Mhmm", Lexi cantarolava apaziguadora, não acreditando em


uma palavra de meus protestos.

Escolhi ignorá-la, virando para o palco para assistir os


membros da banda se prepararem para o seu segundo set. Finn
parecia completamente normal, rindo de algo que Tyler estava dizendo
e claramente não afetado pela nossa interação no banheiro. Era
bobagem ter pensado que significava alguma coisa para um garoto
como esse. Eu era apenas mais um pedaço de bunda para ele – só que,
ao contrário de suas fanáticas, eu ofereci um desafio, porque eu não
abro minhas pernas ao comando. Ele estava interessado na
perseguição, nada mais. Por alguma razão a percepção me atingiu
como um duro golpe no peito.

Ignorando a pontada, tomei mais um gole da minha bebida e


voltei para Lexi, que estava, como de costume, tagarelando sobre as
muitas virtudes de Tyler.
"E o baterista realmente é aquele que detém todo o grupo
junto, sabe? Quero dizer, sem Ty, eles estariam em lugar nenhum.
Então"

Lexi parou no meio da frase, os olhos arregalados quando ela


avistou algo atrás de mim. Antes que eu pudesse virar, fui tirada do
meu banquinho e arrastada de volta contra um peito desconhecido.
Dois braços musculosos cercaram minha cintura, segurando-me com
tanta força que até mesmo a tentativa de lutar era inútil.

Não que isso me impediu de tentar escapar como o inferno.


Meus saltos impulsionaram descontroladamente no ar, tentando fazer
contato com a canela ou, idealmente, a parte do corpo de maior dor e
infinitamente mais preciosa para o meu atacante.

"Calma, baby, só estou brincando com você. Eu sei como você


pode ser nervosinha." De repente, suas mãos largaram o seu poder
sobre mim e eu caí no chão, perdendo o equilíbrio e quase meti a cara
no chão pegajoso do clube. Uma mão enorme disparou e me pegou
pelo braço a tempo, parando minha queda e me deixando cara a cara
com o meu agressor - Gordon O'Brien.

Gordon tinha sido um erro, um induzido por muitas doses de


tequila em uma festa da fraternidade na primavera passada. Ele era
um jogador de futebol aqui, supostamente um bom, mas eu não podia
ter certeza, considerando que eu nunca tinha realmente assistido um
jogo. Um desses caras que você podia dizer que tinham sido criado
com dinheiro e levado a acreditar em sua própria superioridade, ele
era de boa aparência, distinto tipo modelo da Ralph Lauren. A atração
parou por aí.

Gordon era o atleta por excelência de todos os filmes do


ensino médio que eu já assisti e revirei os olhos - sempre o primeiro a
tirar sarro dos não-conformistas que se recusavam a se curvar a sua
panelinha de seguidores. Se tivesse armários na faculdade, os calouros
já teriam sido um recheio para eles.

Ele também parecia ter um problema com a rejeição. Depois


da nossa conexão bêbada, eu tinha fugido do local o mais rápido
possível. Embora ele tentasse me contatar inúmeras vezes desde
então, eu sempre rejeitei suas ofertas para repetir o desempenho.
Quatro impossivelmente longos minutos de um gigante suado
grunhindo em cima de mim tinham sido suficientes de Gordon para
durar uma vida, muito obrigada. Não havia tequila suficiente no
mundo para me convencer do contrário.

"Você não vai me dar um Olá apropriado?" Ele disse, os lábios


franzidos em uma expressão sedutora, tenho certeza de que ele tinha
praticado no espelho.

"Olá, Gordon. Adeus, Gordon", eu disse, girando para


enfrentar uma Lexi de olhos arregalados na minha mesa. Ouvi a banda
lançar sua primeira canção, um cover de Bon Iver que eu amava.

"Não tão rápido, Brooklyn". Suas mãos envolveram a parte


superior dos meus braços mais apertado, desta vez, com força
suficiente para que eu soubesse que provavelmente teria contusões
gêmeas amanhã. Ele aumentou gradualmente a pressão quando ele
me puxou de volta contra o seu peito mais uma vez, fazendo com que
dos meus olhos saíssem lágrimas de dor. Lexi, reconhecendo que esta
situação era mais do que eu poderia lidar, pulou do seu banquinho e
foi direto para a porta, sem dúvida em busca de Billy o segurança.

"Me solta, imbecil," exigi com os dentes cerrados. Meus braços


estavam doendo e minha respiração estava ficando rasa. Eu não
gostava de ser casualmente tocada por ninguém a menos que eu
estivesse no controle da situação, e isso era muito mais do que eu
poderia suportar.
"Brooklyn", ele sussurrou, sua boca no meu ouvido e sua
respiração rápida e quente contra o meu pescoço. Ele estava animado
com isso, por me machucar; ele estava mais doente do que eu tinha
originalmente lhe dado crédito. "Por que não pode ser legal para mim,
baby? Você foi tão legal na primavera passada. Você não se lembra?"
Ele moveu de repente, e eu podia sentir sua ereção pressionando
contra a minha parte inferior das costas.

Olhei desesperadamente por Lexi, mas não a vendo em


qualquer lugar entre a multidão. Todo mundo na minha vizinhança
parecia convenientemente ocupado - ou muito embriagado, com medo,
ou egocêntrico para se envolver. A voz de Finn encheu o ar em volta de
mim, cantando letras sobre correr para casa e ex-amantes. Tentei me
concentrar nele, mas todos os sons do clube foram rapidamente
diminuindo. Tudo parecia de alguma forma distante agora, desfocado
na extremidade. Gordon continuou a sussurrar para mim, mas já não
era a sua voz que ouvi no meu ouvido. Era outra voz, uma voz que eu
tinha tentado esquecer por 14 anos.

Eu vou matá-la porra. Você porra não se aproxime ou ela


morre.

A arma pressionada contra a minha testa. Um aperto tão


apertado que eu não conseguia respirar. Sangue, muito sangue. Gritos
de policiais. Barulho de sirenes.

Baixem as armas porra ou ela morre.

Eu não consegui um sopro de ar para os meus pulmões.


Gordon ainda estava falando, mas eu não estava ouvindo há muito
tempo. Meus olhos fechados com força enquanto eu tentava fazer tudo
ir embora. Ao longe, pensei ouvir o som da musica abruptamente
cortar, mas não tinha certeza de nada nesse momento. Minha cabeça
girava com falta de oxigênio.
Então, tão repentinamente quanto tinha me segurado, o
aperto de Gordon simplesmente desapareceu. Eu caí no chão e nem
sequer tentei levantar, desta vez, sabendo que eu estava fora de
ordem. Ao ouvir o som inconfundível de punhos batendo em carne, eu
levantei minha cabeça o suficiente para ver Finn batendo em Gordon,
dando socos repetidamente em seu rosto.

"Você nunca mais coloque suas mãos sobre ela novamente,


porra." Finn rosnou. Foi-se o seu sorriso normalmente brincalhão; ele
estava feroz, sua brutalidade totalmente liberada no linebacker7 que se
contorcia embaixo dele. Embora Gordon fosse maior em pelo menos 30
quilos, Finn era claramente mais rápido e habilidoso.

"Você está me ouvindo, filho da puta? Se você sequer pensar


em falar com ela de novo, juro que vou ser a última coisa que você vai
ver."

Gordon gemeu em resposta, incapaz de formar palavras.

Abruptamente, Finn parou de dar socos e a raiva se apagou


de seu rosto. Ele saiu de cima do Gordon, que não parecia que estaria
se levantando tão cedo, e estava ao meu lado mais rápido do que eu
teria pensado possível.

Seus braços engancharam sob meus joelhos e em volta dos


meus ombros quanto ele me pegou em seus braços, e não muito
diferente de como ele tinha feito no primeiro dia que nos conhecemos.
Eu imediatamente virei minha cabeça em seu ombro, bloqueando o
resto do mundo enquanto ele me levava para fora do clube.

Quando chegamos a uma caminhonete no estacionamento,


ele abriu a porta e subiu no banco da frente sem nunca soltar seus
braços de mim. Quando a porta se fechou atrás de nós, ele continuou

7
Linebacker – jogador de futebol americano
a me embalar em seus braços, sua boca pressionou no meu cabelo. Ele
ficou em silêncio, exceto por seus ocasionais suspiros.

"Você está bem, Abelhinha. Você está bem. Eu estou com


você. Basta respirar."

Eu ainda estava ofegante. Com esforço consciente eu tentei


retardar a minha respiração.

"Isso é bom, Abelhinha. Você está bem agora."

Minhas mãos estavam agarradas em sua camiseta com um


mortal aperto, e eu estava tremendo com soluços reprimidos. Eu não
choraria. Se eu chorasse agora eu nunca poderia parar.

O tempo passou - poderiam ter sido minutos ou horas. Finn


não parecia que estava com pressa para sair; ele não me empurrou, ou
me disse para parar de chorar, como qualquer outro menino teria. Ele
simplesmente me segurou e me deixou respirar.

Eventualmente, eu parei de tremer e senti o pânico


dissipando do meu sistema. Minha voz estava quase irreconhecível
quando tentei falar, rachada, um sussurro trêmulo que certamente
pertencia a outra pessoa.

"O que..." Eu limpei minha garganta antes de tentar


novamente. "O que aconteceu?"

"Você teve um ataque de pânico", Finn disse simplesmente,


como se isso explicasse tudo.

"Mas... você estava no palco?" Minha voz estava insegura,


pedindo esclarecimentos.

"Eu vi aquele idiota segurando seus braços e então vi seu


rosto. Eu tive que tirá-lo de você."
"Então você só pulou para fora do palco no meio da música?"
eu disse, incrédula, minha voz soando mais como meu estado normal.
"Nossa, você tem um dom para o dramático ou o quê?"

"Você deve estar se sentindo melhor, se você já está de volta


para me insultar", disse Finn. Podia ouvir o sorriso em sua voz e senti
a tensão sair de seus braços.

"Obrigada", eu sussurrei, não sei o que mais dizer.

"Não me agradeça. Acredite em mim, foi um prazer acertá-lo.


Esse cara é um idiota total."

O silêncio desceu mais uma vez. Eu poderia ter - deveria ter -


saído de seus braços, mas não o fiz. Senti-me segura aqui, encasulada
neste par quente de braços, de alguma forma distante de tudo o que
tinha acontecido. Foi uma boa sensação - que não conseguia me
lembrar de experimentar desde que eu era uma garotinha.

Eu não queria quebrar o silêncio entre nós, mas senti que lhe
devia uma explicação das coisas. Com qualquer outra pessoa, eu teria
jogado fora o que tinha acontecido, mas Finn iria ver através de
qualquer mentira que eu falasse. Eu estava melhor poupando o fôlego
e dizendo-lhe pelo menos uma meia verdade.

Obriguei-me a sair do seu abraço e sentei no assento ao lado


dele. Certificando que nenhuma parte dos nossos corpos estava se
tocando, virei-me para encará-lo. Se seus olhos tivessem qualquer
piedade, eu poderia ter simplesmente descido da caminhonete e ter ido
embora, mas eles estavam cuidadosamente guardados contra
quaisquer emoções visíveis. Respirei fundo e comecei.

"Sinto muito se você está procurando algum tipo de


explicação. Realmente não posso dar uma para você." Engoli
nervosamente. "Ele me agarrou com muita força, e às vezes isso
estimula os meus ataques de pânico. Não gosto de estranhos me
tocando. Não posso lidar em ser confinada em um aperto assim. É isso
aí." Olhei para ele, esperando por algum tipo de reação. "Obrigada por
me ajudar", acrescentei, quase como uma reflexão tardia.

Ele ficou em silêncio por um longo tempo.

"Tudo bem", ele disse.

"Só isso?" Perguntei. "Não há dúvidas? Não há exigências para


eu explicar?"

"Brooklyn, você não é o tipo de pessoa que revela alguma


coisa quando não está pronta. Então vou esperar. Enquanto for
preciso, eu vou esperar. Porque quando você estiver pronta, você vai
me dizer." Ele parecia tão confiante, como se fosse inevitável que um
dia fosse colocar minha alma nua para ele.

"Você pode ter que esperar um longo tempo", eu disse, em


dúvida. "Você pode estar esperando para sempre."

Ele deu de ombros, como se a perspectiva não o incomodasse.


"Eu já estive esperando toda a minha vida."

"O que é que isso quer dizer?" perguntei, meus olhos se


estreitando em suspeita.

Ele apenas sorriu um tipo triste de sorriso, ignorando a


minha pergunta, ele se virou para colocar a chave na ignição. O motor
queimou para a vida e nós começamos a sair do estacionamento.

"E quanto a Lexi?"

"Ela está com Ty. Não se preocupe."

"E o seu show?"

"Haverá outros shows", ele deu de ombros.

Com qualquer outra pessoa eu poderia ter exigido saber onde


estávamos indo, mas toda a minha luta estava esgotada. Eu estava
exausta, emocionalmente drenada e pronta para que este dia infernal
finalmente acabasse.

"Minha mãe morreu há 14 anos, no dia de hoje." Isso foi


minha voz? Em voz alta? Para Finn, de todas as pessoas? Eu estava
perdendo isso.

Ele olhou para mim, surpreso. É claro que ele olharia. Afinal
de contas, não tinha sido eu apenas dizendo a ele que eu não dava
explicações? Que ele teria que esperar para sempre?

"A morte é uma porcaria", ele disse. "Ela nunca fica mais fácil.
As pessoas dizem besteira clichês como "o tempo cura todas as feridas"
para se confortarem. Mas qualquer um que tenha experimentado a
verdadeira dor sabe que nunca vai embora. Você só fica melhor em
mentir para si mesmo, em encobrir os sinais, em fingir ser normal."

Ele falou com experiência; ele tinha perdido alguém. Era


reconfortante, de forma distorcida, ao saber que havia alguém que
tinha sentido a perda que eu sofri e ainda estava de pé. Eu não estava
sozinha em minha incessante batalha com a tristeza.

Eu não disse qualquer outra coisa enquanto ele me levou


para casa - não acho que ele esperava. Quando nós paramos fora da
minha casa, hesitei antes de alcançar a maçaneta da porta.

"De quem é a caminhonete?" Eu perguntei, percebendo que


uma vez que não estávamos em sua moto, devíamos estar no carro de
outra pessoa.

"É minha, na verdade. Eu a uso quando o tempo está ruim ou


quando eu tenho que levar os equipamentos da banda nos shows."

"Oh," eu disse, me perguntando como um menino da


faculdade podia pagar não só por uma moto, mas uma relativamente
nova caminhonete também. "Bem, isso é bom."
"Obrigado. Hey Brooklyn?"

"O quê?"

"Só para que conste, somos oficialmente amigos agora. Uma


vez que você entra em uma briga por alguém, não há como voltar
atrás."

Sorri. "Deduzi, que você iria querer algo em troca. Supondo


que cavalheirismo está realmente morto afinal de contas," eu disse
provocando. "Nunca tive um amigo do sexo masculino antes."

Em minhas palavras, uma expressão estranha atravessou seu


rosto, mas ela se foi rápido demais para processar. Seu sorriso estava
de volta, e eu quase pensei que tinha imaginado o olhar sombrio.

"Bem, eu também não fiz exatamente a coisa de amizade


feminina, por isso vai ser novo para nós dois", ele disse.

Pulei para fora da caminhonete e virei para dizer adeus, mas


Finn já estava pulando para baixo do assento do motorista. Chegando
ao redor da caminhonete, ele pegou minha mão e me rebocou para as
escadas que conduziam ao meu apartamento.

"O que você está fazendo?" Perguntei, revirando os olhos.


"Você não tem que me levar até a porta."

"À medida que sou seu amigo, é meu dever lhe trazer em casa
com segurança. É também meu dever salientar que você é a menina
mais teimosa que eu conheço."

"Obrigada, amigo."

"A qualquer hora."

Nós alcançamos o topo da escada, e abri a porta. Virando


para enfrentar Finn, uma última vez, fiz algo que surpreendeu até a
mim mesma.
Na ponta dos pés - um feito, devo acrescentar, em saltos –
coloquei meus braços em volta do seu pescoço e coloquei meu rosto no
oco da sua garganta. Seu queixo veio descansar em cima da minha
cabeça enquanto seus braços vieram em volta da minha cintura.
Estando desta forma, éramos como duas peças de quebra-cabeça que
se juntaram. Um ajuste perfeito.

Um suspiro escorregou dos meus lábios enquanto ele me


segurava. Amigos abraçam, certo? Isso não estava atravessando
quaisquer fronteiras. Este sentimento de segurança total, era uma
reação perfeitamente normal para um amigo. Mas, uma pequena voz
na parte de trás da minha cabeça incomodava, mesmo nas raras
ocasiões em que Lexi e eu tínhamos nos abraçado, eu nunca me senti
assim. Porcaria. "Obrigada mais uma vez", sussurrei, baixando
lentamente meus pés e relaxando meus braços do seu pescoço. Virei
rapidamente para a porta, não querendo olhar em seus olhos - com
medo do que eu poderia ver lá. "Boa Noite."

"Boa noite, Abelhinha." Eu o ouvi dizer em voz baixa,


enquanto fechava a porta entre nós. Eu o vi descer as escadas, subir
em sua caminhonete. Minhas pernas enfraqueceram e deslizei
lentamente para o chão, apoiando as costas contra a porta e me
enrolando em uma bola. Um olhar para o relógio do micro-ondas
iluminado me informou que era 12:03. O aniversário finalmente
acabou. Que dia.
Capítulo 07
Piadas de Mau Gosto

Eu pressionei meus dedos no estofamento de couro preto e


tentei me acomodar. Era uma cadeira agradável, cara - o tipo que eu
imaginava ter no escritório de um empresário rico como o meu pai.
Surpreendeu-me, esta cadeira.

A maioria dos psiquiatras que eu tinha visitado no passado


tinham escritórios destinados a inspirar sentimentos de conforto e
uma vida em casa. Eles estavam recheados com estantes de livros,
cheios de bugigangas, e sempre tinha uma caixa de lenços
convenientemente colocada ao seu alcance. Eu não tenho certeza que
'jovens problemáticos' como eu prefeririam tal ambiente; se era alguma
coisa, era um tapa na cara, lembrando-me em termos inequívocos, que
a moderna e organizada mansão do meu pai nunca seria algo como
uma casa.

Psiquiatras - pelo menos os que eu tive a infelicidade de


conhecer – normalmente não iam para o olhar moderno; era muito
clínico, também estéril para promover qualquer falsa sensação de
camaradagem. Até agora, por suas seleções mobiliárias solitárias, Dra.
Joan Angelini superou minhas expectativas e estava voando em face
da convenção. Então, novamente, nada sobre esta situação era
convencional, considerando que ela foi a primeira psiquiatra que eu já
tinha procurado voluntariamente.
Pela décima vez em poucos minutos lutei contra a vontade de
sair pela porta, lembrando-me que essa tortura foi autoinfligida. Ela
não era uma médica emitida pelo Estado, conferindo-me a mando do
meu pai ou a mando do tribunal; ela estava sentada lá me analisando
estritamente porque eu a pedi. Realmente entreguei várias centenas de
dólares - e um pequeno pedaço da minha alma - e solicitei este
tormento.

E para quê? Um pequeno ataque de pânico que me tinha


correndo com medo.

"Você não deveria me fazer perguntas?" Perguntei, cruzando


os braços sobre o peito e olhando para a mulher na minha frente. Ela
estava em seu final dos quarenta anos e elegantemente vestida, seu
cabelo loiro penteado em um coque elegante e blusa passada com
perfeição.

"Há algo em especial que você quer que eu lhe pergunte?" Ela
respondeu com indiferença praticada, não perturbada por minha
natureza irritável.

"Bem, eu não estou pagando para você olhar para mim por 60
minutos."

"Brooklyn, você me procurou. Por quê? O que fez você decidir


vir aqui?"

"Eu tive um ataque de pânico na noite passada."

"Ok, isso não é nada para se preocupar demais. Quase todo


mundo experimenta um ataque de pânico em um momento ou outro.
Foi este o seu primeiro?"

"Não." Respirei fundo, e preparando para descarregar dignos


14 anos reprimidos de disfunção sobre esta mulher. Eu só esperava
que ela pudesse lidar com isso - que era seu trabalho, afinal de contas.
"Eu tenho tido esporadicamente desde que testemunhei o assassinato
de minha mãe aos seis anos. O viciado em drogas que a matou levou
as chaves e foi embora. Aparentemente, ele estava tão alto que ele não
sabia que havia uma criança no banco de trás."

Vi os olhos do Dr. Angelini ampliar - nem mesmo os


psiquiatras poderiam esconder todas as emoções – e a enxurrada de
sua caneta me garantiu que estava documentando cada detalhe.
Mantive minha voz impassível quando ofereci os fatos - e nada mais.

"Eu bati na cara dele e ele soltou o volante. Nós batemos. Ele
me agarrou e me usou como escudo humano durante um tiroteio com
a polícia, mas não me lembro muito disso. Acho que ele me segurou
tão apertado que eu desmaiei. Lembro-me de perder muito sangue e
não ser capaz de respirar, no entanto."

"O que desencadeou o ataque de pânico na noite passada?"


Ela perguntou.

"Um idiota em um bar me agarrou por trás e me levantou do


chão", eu disse, distraidamente esfregando as contusões escondidas
sob as mangas do meu casaco. "Não conseguia respirar. Ouvi sirenes e
sua voz na minha cabeça".

"Sua?"

"Ernie Skinner. O cara que matou a minha mãe."

"Então você está dizendo que o ataque provocou uma


memória?"

"Acho que sim", dei de ombros. "Eu nunca realmente tentei


me lembrar muito sobre esse momento em minha vida. Na verdade, eu
fiz de tudo ao meu alcance para evitar."

"E agora?"

Eu olhei nos olhos dela. "Agora, acho que eu quero lembrar."


Dr. Angelini sorriu pela primeira vez desde que entrei em seu
escritório.

"Isso é um começo, Brooklyn."

***

Eu entrei pela porta do meu apartamento e joguei as chaves


na ilha de cozinha. Meu encontro com Dra. Angelini não tinha sido tão
ruim quanto eu estava esperando – por alguma razão, tinha me aberto
para ela de maneiras que não tive com nenhum dos meus outros
psiquiatras. Talvez eu não estivesse pronta para falar sobre isso até
agora.

Lexi não estava em casa, o que não me surpreendeu; ela


estava passando a maior parte de seu tempo livre no apartamento de
Tyler nos dias de hoje. Não me importava de estar sozinha, no entanto.
Aprendi a ser autossuficiente com seis anos de idade.

Caminhando para o meu quarto, de imediato, notei duas


coisas: a jaqueta de couro de Finn ainda estava pendurada em um
gancho na porta do meu armário, e um buquê de flores que encontrei
na minha mesa de cabeceira. Elas definitivamente não estavam lá esta
manhã quando saí para a minha consulta com o Dr. Angelini e, que eu
saiba, Lexi não estava em casa durante todo o dia.

Eu rapidamente atravessei a sala e olhei para as flores. Elas


não estavam em um vaso e seu único adorno era uma fita de cetim
preto, que deixava o buquê junto. As flores eram incomuns - uma
dúzia de rosas pretas. Não havia nenhum cartão com elas, nem havia
qualquer indicação de como elas chegaram ao meu quarto. Os cabelos
da minha nuca ficaram instantaneamente em pé e apesar do calor do
dia, arrepios floresceram em toda a minha pele.

Alguém havia entrado no meu quarto.

Eu me virei e verifiquei o espaço procurando por intrusos, um


guarda-chuva apertado na minha mão como uma arma improvisada.
Chequei debaixo da minha cama, no banheiro, no quarto de Lexi, a
cozinha e sala de estar. Eu não era uma investigadora, mas percebi
que assisti episódios suficientes de CSI para saber o que procurar.
Nada parecia ter sido perturbado; Não havia pegadas misteriosas no
tapete, as portas e janelas estavam todas trancadas e não estavam
adulteradas, e não havia uma revista fora do lugar. Era como se as
flores tivessem simplesmente se materializado.

Voltando para o meu quarto, peguei o buquê e o joguei no


pequeno cesto de lixo ao lado de minha mesa. Quando eu liberei as
hastes, espinhos afiados rasgaram as minhas mãos. Estremeci quando
algumas gotas de sangue caíram de meus dedos sobre as pétalas
pretas na lixeira e manchando de vermelho.

Todos os tipos de sinais de alerta foram subindo em minha


mente enquanto eu pensava sobre as flores. Quem as tinha deixado?
Como eles haviam entrado em meu quarto? O que elas significam?
Quem dá a alguém rosas pretas ainda com espinhos?

Enrolei um tecido em torno do pior dos arranhados para


parar o sangramento e abri meu laptop. Uma rápida pesquisa no
Google me disse exatamente o que eu queria saber.

Rosas pretas, que não existem na natureza, são mais


frequentemente usadas para simbolizar o ódio ou a morte intensa,
embora elas também possam dizer adeus, rejuvenescimento,
renascimento, ou o retorno de uma longa viagem em que um não
esperava sobreviver. No folclore, rosas pretas é um prenúncio de morte
no horizonte; uma pessoa que se depara com esta flor sinistra é
susceptível de sofrer em sua morte.

Morte.

Alguém estava me enviando rosas como um prenúncio da


minha morte chegando. O meu coração bateu mais rápido com o
pensamento e senti as paredes se fecharem em torno de mim. Minha
mente começou a folhear uma lista de pessoas que poderiam querer
me matar, ou, no mínimo me dar medo. Gordon veio à mente
imediatamente. Depois da surra que ele levou ontem à noite por causa
de mim, ele pode querer vingança.

Outra possibilidade, um suspeito infinitamente mais mortal


do que Gordon, se escondia nos recessos da minha mente, mas não
me atrevi a examiná-lo ainda. Não queria mesmo considerá-lo como
opção. Além disso, ele foi trancado com segurança em San Quentin. Se
ele tivesse sido colocado em liberdade condicional, eu teria sido
notificada.

Peguei meu telefone e rapidamente disquei o número de Lexi.


Quando ela não atendeu na primeira tentativa, desliguei e
imediatamente redisquei. Ela finalmente respondeu, soando um pouco
sem fôlego.

"Brooklyn? Está tudo bem?"

"Lex, você esteve aqui em hoje?"

"Não, eu estive no Ty desde ontem à noite. O que está


acontecendo?"

"Havia um buquê de rosas negras colocado na minha mesa de


quarto quando cheguei em casa agora. O apartamento estava
trancado. Não sei de onde vieram."
"Você quis dizer rosas negras?" Lexi sussurrou, um tremor em
sua voz.

"Sim."

"Passei por uma grande fase de rosas quando eu estava


ajudando minha irmã a planejar seus arranjos florais de casamento.
Rosas pretas não são boas, Brookie. Eles geralmente dize-"

"Morte", eu a cortei. "Eu sei."

"O que você vai fazer?" Ela perguntou.

"Eu acho que eu vou chamar a polícia", eu disse, sentindo-me


paranoica e tola, mas não sabendo mais o que fazer.

"Estou a caminho", ela disse, desligando a chamada antes


que eu pudesse protestar.

Em poucos minutos, a porta da frente se abriu e passos


correndo de Lexi podiam ser ouvidos quando ela fez seu caminho para
o meu quarto. Abrindo a porta, ela se lançou na minha cama e colocou
os braços em volta de mim. Eu estava tão atordoada que nem sequer
tive tempo para retornar seu abraço antes que ela estivesse me
empurrando para trás para examinar o meu rosto.

"Você está bem?" Ela perguntou, a preocupação cintilando em


seus olhos azuis.

"Eu estou bem", dei de ombros. "Só um pouco assustada, eu


acho."

"Onde elas estão?"

Eu balancei a cabeça na direção da minha lata de lixo, e Lexi


pulou fora da minha cama para investigar o buquê sinistro. Depois de
alguns minutos, ela voltou a sentar na cama.

"Não havia nenhuma nota?"


"Não."

"Você não ligou para a polícia ainda?"

"Eu estava esperando por você", eu menti. Sinceramente,


realmente me questionei em ligar. Provavelmente era apenas uma
brincadeira estúpida. Arrepiante? Sim. Com risco de vida? Não. Além
disso, o que poderia a polícia fazer neste momento?

"Brooklyn Grace Turner," Lexi olhou para mim, facilmente


vendo minha mentira. "Estamos ligando. Agora." Ela pegou seu celular
e discou o número de não-emergência para a polícia local. Assim que
começou a tocar, ela me ofereceu o telefone.

"Delegacia de Polícia de Charlottesville, como posso ajudá-lo?"

"Hum, oi. Meu nome é Brooklyn Turner e eu estou chamando


para relatar... Eu acho que nós tivemos uma invasão."

"Você acha?" O homem parecia exasperado. "Minha senhora,


se isso não é um apelo sério eu vou ter que desligar."

"Bem, eu vim para casa esta tarde e havia um buquê de rosas


pretas no meu quarto. Eu não tenho nenhuma ideia de como elas
chegaram lá, nem minha companheira de quarto. O apartamento
estava trancado. E não havia nenhuma nota."

"Eu vou enviar alguém para verificá-la e falar com você. Qual
é o endereço?"

Após despejar o nome da rua e número da casa, estava certa


de que um oficial chegaria em breve. Entreguei o telefone de Lexi de
volta para ela e ela rapidamente agarrou meu braço e me guiou até a
sala.

Para minha surpresa, Tyler e Finn estavam sentados no sofá,


conversando em voz baixa. A conversa parou assim que nós duas
aparecemos e entramos na sala. Meus olhos encontraram os de Finn e
rapidamente desviei longe. Eu não tinha ideia do que dizer a ele depois
da noite passada. Antes que eu pudesse me mover para dentro da sala,
Finn estava de pé na minha frente, com as mãos delicadamente
segurando meu antebraço e examinando o punhado de contusões
escuras que as mãos de Gordon tinham deixado para trás.

Olhei em seus olhos, que tinham escurecido de raiva. Vendo a


raiva lá, tentei puxar meu braço de sua mão, mas ele segurou firme.

"Eu vou matá-lo", ele rosnou com os dentes cerrados. Nunca o


tinha visto tão furioso e eu definitivamente não gostei.

"Eu estou bem, Finn. Ele não é grande coisa, por isso, relaxa."

"Não é grande coisa? Você está brincando comigo, Brooklyn?"


Finn deixou cair meu braço e começou a andar ao redor da sala. "Ele
colocou as mãos em você. Você tem contusões porra! Por favor,
explique que parte que não é um grande negócio, porra!" Ele estava
gritando agora, passando as mãos pelos cabelos, exasperado. De
repente, ele se virou para me encarar.

"Nunca é bom para alguém que alguém coloque as mãos em


você assim. Por favor, diga-me que você sabe disso."

"Eu sei", eu disse um pouco humildemente. Eu não tinha


percebido o quanto a visão dos meus machucados o perturbava. "Mas,
na verdade, eles não doem mais. E você cuidou dele na noite passada."

"Eu gostaria de fazer muito mais do que atrapalhar seu rosto


bonito", Finn murmurou, evidentemente, contemplando o assassinato
de Gordon. Para acalmá-lo, coloquei minhas duas mãos contra seu
rosto e virando-o para mim. Ele se assustou, claramente surpreso com
o meu toque, mas assim que seus olhos encontraram os meus, ele
pareceu relaxar.
"Obrigada por ontem à noite," eu disse, segurando seu olhar.
"Eu não sei o que teria feito se você não estivesse estado lá."

Ele puxou uma respiração profunda e fechou os olhos. "Você


não precisa me agradecer."

Uma batida soou bem alta na porta e deixei cair minhas mãos
do rosto de Finn. Lexi abriu a porta, revelando um policial de meia-
idade com uma barriga de cerveja, uma barba grisalha e uma calvície.

"Eu sou Oficial Carlson. Eu vou tomar suas declarações e


olhar ao redor do local para detectar quaisquer sinais de uma invasão.
Um de vocês pode me dizer o que aconteceu?"

Lexi deu ao oficial um copo de água e eu me sentei no sofá


com ele para discutir sobre as flores e sua chegada misteriosa. Depois
de anotar meu depoimento em um pequeno caderno preto, ele me
seguiu até meu quarto e examinou o buquê caído na minha lixeira.

"Bem", ele falou, coçando a barriga saliente, "Teria sido


melhor se não tivesse tocado nelas, é claro, mas eu posso levá-los de
volta para a estação e ver se podemos levantar quaisquer impressões.
É duvidoso, porém. Flores não são exatamente ideais para impressões
digitais." Ele bufou, evidentemente, divertindo-se.

Fico feliz que eles enviaram o melhor do Departamento de


Policia de Charlottesville para me ajudar com esta provação.

Depois do ensacamento das flores e tendo um breve olhar


sobre a fechadura da porta da frente, Oficial Carlson foi embora. Ele
prometeu me avisar assim que tivesse quaisquer respostas sobre a
invasão, mas eu certamente não estaria segurando a respiração.
Fechei a porta atrás dele e caminhei lentamente para o meu quarto,
ignorando os olhares idênticos de preocupação estampados no rosto de
Lexi, Tyler e de Finn. Eu precisava ficar sozinha.
Sustentando aberta minha janela, deslizei para fora em meu
terraço e enrolei meus joelhos até meu peito. Coloquei meus braços em
cima dos meus joelhos, encostei minha cabeça, e fechei os olhos,
tentando regular minha respiração. De alguma forma, mesmo no meu
terraço eu não me sentia segura hoje. A entrega das flores
assustadoras tinha me abalado mais do que eu queria admitir - não
para mim e certamente não para as três pessoas no meu sofá.

Na verdade, a única vez que me senti segura em semanas foi


quando Finn tinha me apanhado como um maldito cavaleiro de
armadura brilhante e me levado para longe de Gordon e do pânico
provado na Styx na noite passada. Eu não tinha certeza por que ele
teve um efeito tão calmante sobre mim. Nunca precisei de ninguém
para me salvar antes, e eu, definitivamente, não queria precisar de
alguém agora.

Fiquei alarmada para reconhecer o quanto eu gostava da


companhia de Finn - quantas vezes ele me fez rir, como eu me
encontrava sorrindo contra a minha vontade em sua presença, como
ele reagiu energicamente ao me ver sendo machucada. Apesar de tudo
isso, eu não tinha certeza do que ele sentia por mim, que não fosse o
desejo de me adicionar à longa lista de vadias que ele fodeu.

Não tenho certeza de quanto tempo se passou enquanto eu


estava sentada lá fora no terraço. Sombras tinham começado a descer
e o sol desceu cada vez mais perto do horizonte. Ouvi o som da minha
janela sendo aberta, a maldição abafada de Finn enquanto manobrava
sua altura através da pequena abertura. Não virei minha cabeça para
me certificar quando ele se estabeleceu perto de mim.

Ele estava no meu terraço. Lexi nunca tinha estado aqui


comigo. Eu deveria ter me sentido violada ou irritada com sua intrusão
no meu espaço privado, mas de alguma forma me senti bem em tê-lo
aqui. Ele compartilhou seu mirante da rodovia comigo, afinal.

Esperei que ele falasse, mas ele permaneceu em silêncio.


Depois de alguns minutos, ele enfiou a sua jaqueta de couro, que ele
deve ter encontrado pendurada no meu quarto, em meus ombros e
passou um braço em volta de mim. Eu não tinha percebido o quão frio
estava até ter o seu calor pressionado contra o meu lado.

"Quer ouvir uma piada de mau gosto?" Perguntou Finn.

Virei a cabeça para olhar para ele e levantei uma sobrancelha.


Ele estava falando sério? Ele não parecia ser exatamente do tipo
comediante.

"Eu vou tomar o seu silêncio como uma aprovação tácita", ele
disse, fazendo uma pausa para recolher seus pensamentos. As
sobrancelhas dele se juntaram, como se ele estivesse imerso em
pensamentos. "Como você chama um pônei com uma tosse?"

Olhei para ele fixamente.

"Um pequeno hoarse!8" Finn riu, avaliando minha expressão


menos do que divertida, e se tornou contemplativo mais uma vez.
"Hmm, não tive sorte com essa. Ok, por que a esposa de Drácula não
consegue dormir?"

Mais uma vez, não lhe dei uma reação.

"Porque, Brooklyn, ela esteve à noite toda com o seu caixão."


Ele suspirou dramaticamente. "Essa era óbvia! Se eu não lhe
conhecesse melhor, eu diria que você não estava mesmo tentando
responder esta."

8
Aqui a autora faz uma brincadeira de palavras, uma vez que horse é cavalo, hoarse é rouco, que colocando no
português ficaria sem sentido.
Quando eu ainda não ri, Finn revirou os olhos. "Nossa,
público resistente. Ok esta é a minha última. Principalmente porque
eu não conheço mais nenhuma piada. Baby, você joga Quadribol?"

Acho que a minha boca se abriu em choque. Ele não podia


estar fazendo uma piada do Harry Potter... podia?

"Porque você parece certamente como um Guardião para


mim", completou, com um largo sorriso.

Eu não poderia me ajudar - cai na gargalhada. "Você gosta de


Harry Potter?" Perguntei, incrédula.

"Que tipo de pergunta é essa?" Perguntou Finn, suas


bochechas corando levemente rosadas com constrangimento. "Todo
mundo gosta de Harry Potter", ele resmungou. "Você não?"

"Bem, sim. Nunca ouvi um cara admitir isso antes." Eu


dissolvi em risos com seu desconforto óbvio. "Sério, de onde você tirou
essas piadas? Elas são muito ruins, só para você saber para quaisquer
futuras tentativas de animar meninas emburradas."

"Oh, acredite em mim, eu sei como elas são ruins. Minha irmã
me ensinou um tempo atrás, e agora eu não consigo esquecê-las. Além
disso, elas te fizeram rir... eventualmente." Seus olhos se enrugaram
enquanto ele sorria alegremente para mim.

Ele era lindo o tempo todo, mas ao vê-lo assim, tão alegre, o
deixou ainda mais atraente. Meu coração parecia virar no meu peito
enquanto eu pegava seu perfil: o queixo esculpido, o cabelo escuro
perpetuamente bagunçado, a adorável covinha, e esses deslumbrantes
olhos cobalto. Inclinei-me para o lado e dei um beijo no seu queixo, e
fixei a minha testa no oco de sua garganta, antes que ele tivesse tempo
de reagir.
"Obrigada. Mais uma vez." Eu ri. "Parece que estou sempre
lhe agradecendo por algo nos dias de hoje."

Finn beijou o topo da minha cabeça e deu de ombros. "É o


que fazem os amigos, certo?"

Hmm. Então, nós ainda éramos apenas "amigos" em seus


olhos. Peguei aquela pequena parte de informação para a futura
dissecção.

"Então você tem uma irmã mais nova?"

"Meio-irmã, tecnicamente. Eu fui adotado quando tinha dez


anos".

"Oh." Eu queria saber mais, mas tinha medo de perguntar. Se


ele me contasse a sua história, eu seria obrigada a dizer a minha?

"Sim, meus pais biológicos morreram quando eu tinha oito


anos. Acidente de carro. Passei um punhado de anos em abrigos e
lares adotivos antes dos meus pais adotivos me encontrarem. Eles
salvaram a minha vida." Seu tom era reflexivo. Não havia tristeza nele,
apenas uma aceitação contemplativa do seu passado. Eu não digo que
sinto muito por sua perda, porque as pessoas foram me dizendo o
quanto lamentavam por 14 anos, e isso nunca tinha mudado
absolutamente nada para mim.

"Eu-" Eu parei, limpei minha garganta, e tentei novamente.


"Eu passei algum tempo em uma lares adotivos também." Virando meu
rosto na curva do pescoço de Finn, bloqueei o mundo e minha voz caiu
para um sussurro. "Eventualmente, o meu pai biológico veio e me
levou para casa com ele. Não sei por que ele se preocupou, não é como
se ele tivesse qualquer interesse em me criar."

Nós caímos em silêncio por um tempo, observando as estrelas


lentamente começando a surgir no céu escuro. Nós dois tínhamos
coisas não ditas, mas não nos sentimos estranhos. Era estranhamente
reconfortante saber que ele tinha coisas que não estava pronto para
compartilhar ainda também.

"É bom aqui", Finn sussurrou. "Pacífico".

"Sim", murmurei, fechando os olhos e pensando que nunca


me senti tão segura no meu terraço. Coloquei o incidente da flor para
fora da minha mente, e tentei saborear o sentimento.

Finn e eu finalmente fizemos o nosso caminho de volta para


dentro, nos unindo a Lexi e Tyler para pizza e um estúpido Will Ferrell
no filme que estava passando na TV. Foi um final feliz e normal para
um dia horrível.
Capítulo 08
Medos Que Valem a Pena

A semana seguinte foi incrivelmente chata. Foi uma mudança


refrescante após o drama do meu ataque de pânico e o aparecimento
do buquê sinistro. Lexi e Tyler ainda estavam presos um ao outro, mas
estavam gastando mais do seu tempo no nosso apartamento. Acho que
eles estavam preocupados em me deixar sozinha, o que era doce, mas
completamente desnecessário.

Enchi meus dias com lições de casa e aulas, e ocupei as


minhas noites eliminando alguns livros da minha lista para serem
lidos. Não vi Finn no entanto, e tentei me convencer de que isso não
me incomodava. Entretanto, fui ver Dra. Angelini novamente. Disse a
ela sobre o incidente das flores e como Finn tinha me animado com
piadas depois.

"Você mencionou Finn várias vezes agora. Ele é alguém que


você está interessada romanticamente?" perguntou Dra. Angelini.

"Eu não namoro", respondi imediatamente.

"Essa não foi a minha pergunta, Brooklyn."

"Ele é diferente", eu disse, esforçando-me para encontrar as


palavras certas. "Quando ele olha para mim, é como ele visse através
de todas as barreiras que construí e enxergasse a real Brooklyn –
aquela que ninguém conhece. Aquela que mesmo eu me esqueço que
existe, às vezes."

"Como é que isso te faz sentir?"


"Morrendo de medo, se eu estou sendo honesta", eu disse com
uma careta. "Isso não pode ser saudável, certo?"

"Bem, na minha experiência, são, geralmente, as coisas que


temos mais medo são as que acabam valendo mais a pena", disse o
Dra. Angelini, um pequeno sorriso nos lábios.

"Isso é profundo, doutora", provoquei, caindo em silêncio


enquanto o peso de suas palavras tomava conta de mim. "A coisa que
tenho mais medo é de esquecê-la," murmurei.

"Sua mãe?"

"Sim. Tenho algumas fotos dela, então eu ainda posso ver seu
rosto quando eu quiser. Mas as pequenas coisas - como ela cheirava, o
som de sua risada - essas são as coisas que eu sinto escapulindo."

"Do que você se lembra mais claramente sobre ela?"

"Cantar. Ela era um musicista. Não tenho muitas lembranças


dela estar sem cantarolar baixinho quando ela compunha uma nova
melodia na cabeça dela. Nós costumávamos cantar juntas."

"Você ainda canta?"

"Só em privado, e só quando eu estou me sentindo


particularmente masoquista. Eu tenho um violão velho que encontrei
em uma loja de antiguidades, há alguns anos. Eu me ensinei a tocar
na escola, pensando que poderia me fazer sentir mais ligada à sua
memória."

"Funcionou?" Perguntou Dra. Angelini.

"Eu não sei", respondi honestamente, balançando a cabeça


para trás e para frente. "Eu realmente nunca prossegui com isso."

"Eu acho que você deveria."

"Desculpe?" Perguntei.
"Eu acho que você deve encontrar uma cafeteria ou um bar de
karaokê ou mesmo numa esquina e tocar. Só uma vez, para ver como
se sente. Na verdade, essa é a sua tarefa antes de voltar a me ver."

"Você está me dando uma lição de casa?" Perguntei,


incrédula. "Você é a minha psiquiatra, não minha professora."

Dra. Angelini sorriu abertamente. "Seu tempo para hoje


acabou, Brooklyn. Estou ansiosa para ouvir tudo sobre a sua estreia
musical em nossa próxima sessão." Ela se levantou e me levou para o
corredor, fechando a porta firmemente atrás de mim. Olhei para a
porta fechada, minha boca aberta em choque.

Isso ia ser um desastre.

Eu não tinha certeza se o meu tempo na terapia estava


ajudando ou não, mas pela primeira vez na minha vida eu tinha
alguém com quem poderia discutir os meus problemas e minha
história distorcida. Eu poderia falar livremente porque era confidencial
e Dra. Angelini não era uma amiga - ela estava apenas fazendo seu
trabalho. Eu não iria sobrecarregá-la e ela não me julgaria.

E enquanto eu estava temendo subir em um palco e cantar na


frente de uma multidão, eu sabia que Dra. Angelini não teria me
recomendado a fazer, a menos que servisse a um propósito real.
Chocantemente, confiava nela.

Nossa discussão sobre relacionamentos tinha me feito pensar


em sexo enquanto eu dirigia para casa. Fazia meses desde a minha
última conexão aleatória, muito mais do que eu normalmente
demorava com meninos de farras. Sexo era a derradeira fuga de
entorpecimento mental, reservada para situações em que a tequila, por
si só, não poderia bloquear as minhas emoções.

Eu não poderia evitar, mas pergunto se minhas tendências


puritanas súbitas tinham algo relacionado com um certo novo amigo
homem, que cantava como um anjo e contava piadas de criança de
cinco anos poderia ser o motivo. Eu neguei esse pensamento
inoportuno, estacionando em uma loja de bebidas nas proximidades, e
comecei a fazer planos para uma noite de sexta muito necessária com
Lexi.

***

"Lex?" Chamei, andando em nosso apartamento e despejando


dois sacos cheios de ingredientes na ilha da cozinha. Eu podia ouvir
música batendo em seus alto-falantes, uma música pop que eu nunca
tinha ouvido antes. Lexi e eu não compartilhamos exatamente o
mesmo gosto em artistas.

Ela saiu de seu quarto, quadris girando no ritmo da batida


enquanto ela cantava as letras em uma escova de cabelo.

"Você poderia ser mais clichê?" Perguntei, rindo para ela


enquanto removia várias garrafas de tequila, marguerita mix, e dois
limões frescos das sacolas de supermercado.

"Noite de Margarita?" Lexi gritou, deixando cair seu pseudo-


microfone e puxando o liquidificador de dentro de um armário.

"Sim, eu estava pensando que poderíamos ir ao The Blue Note


daqui a pouco."

"O bar de karaokê?" Lexi perguntou, enrugando o nariz em


confusão. "Mas você nunca quer ir para lá."

"Pensei que nós poderíamos mudar esta noite, tentar algum


lugar novo."
"Funciona para mim", disse Lexi, sempre simpática para uma
noite de devassidão. Ela estava tirando do liquidificador a nossa
primeira rodada de margueritas em dois minutos.

Depois de um breve elogio, sai da cozinha e fui para o meu


quarto para me preparar para a noite. Escolher uma roupa era a
menor das minhas preocupações. De alguma forma, tive que me
convencer de que cantar no palco na frente de uma multidão de
estranhos aleatórios não ia ser um desastre total. Bebendo minha
marguerita, eu esperava um pouco de coragem líquida para que eu
não desistisse no último minuto.

A jaqueta de Finn ainda pairava sobre o gancho do meu


armário - ele deve ter deixado aqui depois da noite da entrega das
flores. Antes que eu pudesse me convencer do contrário, atravessei o
quarto, peguei o couro flexível em minhas mãos, e ergui contra o meu
rosto. Inalei, eu poderia detectar o aroma mais fraco de folhas que
caídas e maçãs torradas - que era exclusivamente outonal, o perfume
masculino que Finn parecia carregar onde quer que fosse. Ignorando a
pontada no meu peito, soltei o casaco no meu edredom e me repreendi
por agir como uma garota.

A verdade era que eu sentia falta dele. Eu tinha me


acostumado com ele por perto, e não vê-lo por mais de uma semana
era uma forma lenta de tortura. Eu não iria procurá-lo, no entanto.
Não era de minha natureza perseguir afeto de ninguém.

Depois de mudar para uma blusa brilhante cinza, jeans


skinny escuro, e um par de botas de couro pretas, puxei meu violão
negligenciado há muito tempo de um canto na parte de trás do meu
armário. Ele estava desafinado. Fazia meses desde que eu tinha tocado
pela última vez.
Depois de fazer alguns ajustes, eu dedilhei alguns acordes
experimentalmente. Para um violão velho, tinha um som agradável.
Sorri quando comecei a tocar a melodia de abertura de uma das
minhas canções favoritas, cantando baixinho quando alcancei o refrão.
Aplausos entusiasmados me cumprimentaram logo que parei, Lexi
estava em pé na minha porta, observando com muita atenção.

"Será que isso significa que você vai tocar hoje à noite?" Ela
gritou, claramente animada com a perspectiva.

"Eu estava pensando sobre isso." Não mencionei a


contribuição da Dra. Angelini, assim não teria a obrigação de dizer a
Lexi que eu estava vendo um psiquiatra.

"Ai meu Deus! Brooklyn, não sei o que inspirou isso, mas
estou tão feliz que você vai tocar! Venho dizendo a você por anos, você
poderia ser uma profissional com a sua voz."

"Eu não sei nada sobre isso", eu disse, tocando suavemente.


"Minha mãe era uma cantora, você sabe."

"Não, eu não sei", Lexi suspirou. "Mas isso é porque você


nunca fala dela. Eu gostaria que você falasse."

Isso tinha a minha atenção. "Você?" Perguntei, surpresa.

"Claro que sim, Brooklyn. Você é minha melhor amiga." Ela


caminhou até sentar ao meu lado na cama. "Eu sei que posso ser
egoísta, acredite. Mas também sei que o meu egocentrismo é a única
razão de você ter me deixado ficar por perto por tanto tempo. Descobri
há muito tempo que, se eu empurrasse você, eu lhe perderia." Seus
olhos se encheram de lágrimas quando ela olhou para mim. "E eu não
posso perdê-la, Brookie. Mas às vezes eu gostaria que você me
deixasse entrar - ou qualquer um - porque você não pode manter tudo
trancado dentro de você sempre. Ninguém é tão forte."
Fiquei chocada sem palavras. Eu queria me sacudir por ser
tão cega. Lexi não era ignorante, egocêntrica, ou totalmente
desinteressada em mim. Na verdade, ela me descobriu há muito
tempo, entendeu como eu funcionava, e decidiu ficar por perto de
qualquer maneira. Pela primeira vez em anos, senti os sinais
reveladores de lágrimas formigando nos meus olhos. Coloquei meu
violão ao meu lado na cama, estendi a mão e puxei Lexi para um
abraço.

"Eu sou meio idiota, hein?" Eu perguntei-lhe depois de alguns


minutos.

"Está tudo bem. Eu sou um tipo de narcisista enfadonha.


Então, tudo se equilibra no final", ela riu em meio às lágrimas. "Ótimo,
agora vou ter que refazer completamente a minha maquiagem! Se você
tem mais alguma besteira sentimental para descarregar, agora é a
hora. Recuso-me a refazê-la novamente depois disso." Lexi piscou para
mim enquanto corria para fora do meu quarto, sem dúvida, se
dirigindo para os inúmeros produtos de beleza que desarrumavam sua
penteadeira.

Revirei os olhos e senti um sorriso no meu rosto. Eu tinha


uma melhor amiga que realmente se importa comigo. E eu estava
pronta para chutar alguns traseiros musicais.

***

No momento em que Lexi e eu entramos no The Blue Note, a


noite do karaokê estava bem encaminhada. Um rapaz vestindo um
colete de pele escura e calça de couro branco gemeu no microfone no
palco, acompanhado por uma menina esguia com dreadlocks até os
ombros que ocasionalmente batia seu pandeiro no ritmo, com o refrão.
Eu imediatamente me senti como se tivesse sido transportada de volta
para a década de 1970; era doloroso de assistir.

Lexi reprimiu uma risada quando nos sentamos em uma


pequena mesa redonda perto do fundo do salão. Estabeleci-me com
meu estojo de violão no chão aos meus pés e examinei o clube. Estava
escuro na plateia, a única luz era lançada por velas cintilantes que
foram colocadas em cada mesa. Lâmpadas iluminavam o palco,
criando um foco em torno do banquinho e do microfone solitário.

Lexi foi ao bar para pegar nossas bebidas enquanto eu


demarcava nossa mesa; mais pessoas foram entrando pela porta da
frente a cada minuto que passava, os assentos eram limitados. O clube
poderia ter uma aparência íntima, mas era maior do que parecia à
primeira vista. Havia provavelmente perto de uma centena de pessoas
espalhadas por todos os lugares diferentes e de pé no bar.

Observando o espaço rapidamente preenchido, comecei a


reconsiderar a vir aqui. Talvez espetáculo não fosse uma boa ideia,
afinal. Eu poderia sempre tentar um café ou - o que tinha sido a outra
sugestão da Dra. Angelini? Ah, certo. A esquina da rua.

Lexi chegou à nossa mesa, assim que o próximo cantor pisou


em cima do palco. Uma menina vestida toda de preto e com vários
piercings no rosto, coberta de tatuagens se aproximou do microfone.
Não foi nenhuma grande surpresa quando ela começou a gritar a letra
de uma canção Alanis Morissette angustiada.

Bebendo um gole de martini de limão que Lexi me entregou,


decidi que não era o local certo para a minha estreia. Eu não tinha
raiva o suficiente do mundo para me encaixar entre esses artistas.
Nem tenho um colete de pele ou dreadlocks.

"Adivinha o quê?" Lexi exclamou, um enorme sorriso se


espalhando por todo o rosto.
Ah Merda. Eu conhecia esse olhar. Senti um peso de chumbo
na boca do estômago, medo em antecipação de tudo o que ela estava
prestes a me dizer.

"O que você fez?"

"Enquanto eu estava pegando nossas bebidas, eu posso ou


não ter inscrito para você tocar! Não é ótimo?" Ela estava rindo
incontrolavelmente, neste ponto, sem dúvida, divertindo-se com a
expressão assassina trovejando no meu rosto.

"Lexi! Por que você faria isso comigo?" Eu gemia.

"Porque eu sabia que você estava a ponto de desistir nesses


dois segundos em que você viu Sonny e Cher lá em cima-" Ela acenou
com a cabeça na direção do casal hippie que tinha acabado de sair do
palco, "- ia reavaliar sua sentença de glória."

Eu não respondi. Eu odiava quando ela estava certa.

Felizmente, vários outros atos foram chamados ao palco antes


do meu nome ser anunciado, dando-me tempo para engolir meu
martini e ligeiramente acalmar meus nervos esfarrapados.

"Vamos todo mundo aplaudir, Brooklyn!" O MC foi um borrão


enquanto eu caminhava para o palco e me estabeleci no banquinho,
segurando meu violão ao meu peito como uma tábua de salvação.
Meus pés não chegaram a atingir o chão, então apoiei no primeiro
degrau. Baixando o pedestal do microfone para ficar ao nível do meu
rosto, eu olhava para a multidão. A sala escura era uma bênção. Eu
não podia ver o rosto de ninguém. Seria quase como se eu estivesse de
volta ao meu quarto, tocando sozinha.

Quase.

"Ei, pessoal, sou Brooklyn. Eu nunca fiz isso antes, então me


dê um desconto, ok?" Havia algumas risadas, elogios da plateia,
ajudando a me colocar à vontade. "Eu vou cantar uma das minhas
músicas favoritas para vocês esta noite. Esta é Blackbird, dos Beatles."

Dedilhei as cordas facilmente. Eu toquei essa música durante


tantos anos que ela estava entranhada na minha alma, uma melodia
que meus dedos tinham memorizado há muito tempo. E ainda que eu
tivesse o maior respeito pelos Beatles, eu não poderia deixar de colocar
o meu próprio estilo sobre a canção.

Reduzi a sua velocidade para se ajustar ao ambiente acústico,


ergui uma oitava, e tentei o meu melhor para infundir em minha voz
com todas as emoções que a letra transmitia. A esperança, tristeza,
amor, renascimento: esta canção encarnou todos eles.

A multidão desapareceu enquanto eu cantava sobre aprender


a voar com asas quebradas, perdendo-me na música. De todas as
músicas do mundo, eu sempre senti que esta se encaixava melhor em
mim. A letra me deu esperança de que talvez eu não fosse a única que
tinha sido abalada pela morte, perda e tristeza. Que talvez todo mundo
seja um pouco quebrado por dentro.

Quando uma menina, lembro-me de assistir Peter Pan uma


noite com todas as outras crianças adotivas no abrigo. As outras
crianças, a maioria das quais estavam com idade para se divertir com
a Disney, estavam tirando sarro do filme ou ignorando completamente.
Eu sentei sozinha calmamente, fascinada pela cena em que Peter
persegue sua sombra ao redor do quarto e tenta dominá-la em
concordância antes de Wendy finalmente costurar a maldita coisa em
seu sapato. Aquela cena sempre repercutia estranhamente comigo, e
depois de um tempo, eu vim a ver que a minha dor era uma espécie de
sombra desobediente. Eu havia sido condenada a arrastar um espectro
de miséria por 14 anos que gritava e chutava o tempo todo, recusando-
se a ser ignorado.
Eu estava cansada, tão cansada de lutar contra a minha
sombra a cada minuto do dia. Minha dor havia se tornado uma
entidade viva, personificada por anos de autoculpa e encarnada pela
minha recusa para enfrentar. Como Peter, eu tinha perseguido meu
espectro por anos e repetidamente o forçado em sua submissão numa
interminável batalha de vontades. Muitas vezes, porém, a dor
conseguiu se libertar - e eu quebrei.

Cantando no palco, eu não diria que senti a presença da


minha mãe, ou vi o seu espírito ou qualquer coisa ridícula como essa.
Era mais como uma onda de calor enchendo minhas veias e fazendo
meu coração expandir - em um momento de clareza percebi que ela
ficaria orgulhosa de me ouvir exercendo o seu legado.

Isso estava feito.

Senti como se tivesse sido afogada em minha dor por anos e


ainda não tinha percebido isso. Como se eu tivesse sem ar por tanto
tempo que me acostumei a mal respirar de qualquer forma. E agora,
eu tinha boia salva vidas me transportando para terra e me dando
uma chance de viver novamente. Imaginei a minha dor, um fantasma
da miséria perpétua, finalmente se estabelecendo dentro do meu
coração. Já não puxava a sua corda, ou sacudia as barras de sua jaula
- ele simplesmente tomou uma respiração profunda de aceitação como
se dissipando em mim e finalmente, finalmente desistindo da luta.

Sorri enquanto me entreguei ao sentimento, rendendo-me


completamente a música que emanava de meus lábios e pontas dos
dedos. Eu ouvi a voz da minha mãe na minha cabeça.

Há uma canção para cada sentimento, Abelhinha. Cada


lágrima, cada sorriso, cada dor e cada vitória. Música incendeia a alma
e nos deixa nua. É a nossa própria essência. Mesmo se você não tiver
ninguém mais a quem recorrer e você se sentir sozinha, lembre-se que
você sempre pode encontrar conforto em baladas e melodias, serenatas
e canções de amor.

Eu sabia que a minha sombra nunca me deixaria totalmente -


não é como a dor funciona. O que tinha acontecido para mim quando
uma menina tinha me mudado, alterando-me em um nível químico,
forjando-me na mulher que estava me tornando. Mas talvez ele não
fosse lutar tão duramente a partir de agora. Talvez fosse estabelecer
residência dentro de minha alma - uma parte cheia de cicatrizes,
nebulosa da minha essência – mas talvez me deixe respirar sem
impedimentos.

Dedilhando a última nota, abri meus olhos, ficando nervosa


quando peguei a multidão em completo silêncio.

Eu estava tão ruim assim? Nossa, eu nem sequer obtive uma


salva de palmas de simpatia.

Então, para minha surpresa, vi pessoas levantando e


aplaudindo de pé freneticamente. Assobios soaram da área do bar e eu
pensei que ouvi Lexi gritando de algum lugar na parte de trás, mas era
difícil dizer sobre todos os aplausos. Sorrindo, pulei para baixo do meu
lugar no banco, meu violão pendurado sobre um ombro e acenei para
os meus novos fãs.

"Obrigada, pessoal!" Falei, saindo do palco para abrir caminho


para a próxima artista. Quando passei no meio da multidão para a
minha mesa, eu fui imediatamente engolida por um enxame de
pessoas ansiosas para me felicitar pelo meu desempenho. Eu ri
quando vários me perguntaram em que local eu tocava, que eles
estavam ansiosos para pegar o meu próximo show.

Finalmente fiz meu caminho de volta para Lexi, que estava


pulando para cima e para baixo em emoção. Espremendo-me tão
apertado que mal podia respirar, ela gritou no meu ouvido.
"Você estava super incrível! Oh meu Deus, Brooklyn. Você
poderia ter ouvido um alfinete cair aqui durante a sua apresentação e
eu juro que vi algumas pessoas chorando. Você é uma estrela do rock!"
Ela exclamou. Liberando-me, ela virou para as pessoas sentadas na
plateia ao nosso redor. "MINHA MELHOR AMIGA É UMA MALDITA
ESTRELA DO ROCK!" Ela gritou em plenos pulmões, inteiramente alto
demais para um local tão relaxado. Eu lhe bati no braço.

"Pare com isso, Lex! Você está me envergonhando. Para não


falar de você mesma," Eu ri.

"Estou me declarando sua agente musical oficial", ela disse,


com os olhos distantes com pensamentos de nossa fama e glória
futura.

"Lexi, você não acha que está ficando um pouco à frente de si


mesma? Você sabe que eu ainda vou me tornar uma advogada, certo?"

Lexi bufou, resmungando baixinho sobre o talento


desperdiçado e oportunidades perdidas. Ah bem. Cantar sempre foi
apenas um hobby e, embora recentemente pudesse ter se tornado uma
saída terapêutica, eu duvidava que alguma vez faria a transição para
um caminho de estrelato. Por mais emocionante e esclarecedor que o
meu desempenho tenha sido, eu não vi dar a lugar algum
profissionalmente.

Uma voz profunda familiar, soou asperamente no microfone,


logo pegando a minha atenção. Borboletas eclodiram em meu
estômago enquanto meus olhos beberam da visão do belo homem de
cabelos negros sentado no banco que eu tinha acabado de desocupar.
Seus olhos percorreram a sala agitada, como se procurasse alguém
especial no meio da multidão escura.

"Bem, não acho que vou ser capaz de superar esse último
desempenho-" Ele quis dizer o meu? "Mas vou fazer o meu melhor.
Esta música é dedicada a uma amiga que eu me preocupava ter
perdido para sempre. Por muito tempo pensei que era impossível que
essas pessoas ainda pudessem existir lá fora", ele fez uma pausa,
limpando a garganta e passando a mão pelo cabelo - um sinal certo de
que ele estava nervoso. "Mas estou feliz em dizer que às vezes temos
segundas chances nessa vida louca. Às vezes, as coisas que perdemos
são devolvidas para nós. Às vezes, temos sorte. Então, sim, tivemos o
suficiente de minhas divagações. Este é The Scientist, do Coldplay."

A voz de Finn era assustadoramente linda quando ele cantou


junto com sua guitarra acústica. Ele nunca pareceu mais atraente,
mas eu podia dizer com apenas um olhar que algo estava errado.
Havia círculos sob seus olhos, escuros o suficiente para rivalizar com
as minhas antes da minha intervenção diária na Sephora; ficou claro
que ele não estava dormindo. Ele parecia totalmente desgastado e isso
me deixou no limite imediatamente.

Quando a letra tomou conta de mim, eu me perguntava sobre


sua estranha dedicatória da canção. De quem ele estava falando? Era
provavelmente irracional para eu sentir ciúmes, considerando que não
havia nada remotamente romântico entre Finn e mim. Ele deixou claro
em mais de uma ocasião que ele era estritamente meu amigo e, com
exceção de um quase-beijo bêbado no banheiro no Styx, ele nunca
sequer deixou implícito que ele me achava atraente.

O homem-prostituto não quer mesmo você. Fale sobre uma


ferida no ego.

Eu não era muito orgulhosa para admitir que a sua falta de


atenção durante a semana passada tinha machucado. Eu não tinha
ouvido falar dele de qualquer maneira, e eu não podia deixar de me
lembrar da forma como eu tinha o evitado no início do semestre. Oh,
como o quadro tinha virado. Como o poderoso tinha caído. Quantos
clichês mais posso usar em uma fila?

Eu estava tomando uma dose do meu próprio remédio - okay,


este foi o último, eu prometo - e, infelizmente para mim, foi o mais
nojento da loja, xarope com sabor de uva para a tosse que minha mãe
adotiva empurrava goela abaixo quando eu não conseguia dormir à
noite.

Era óbvio que Finn tinha escolhido essa música, que clamava
por resgate e segundas chances, propositadamente. Foi igualmente
óbvio por que ele escolheu. As letras eram claramente um pedido de
desculpas, um apelo pelo o perdão de alguém - e eu estava quase
desesperada para descobrir quem. Em algum lugar ao longo do
caminho, ele começou a importar para mim.

Evidentemente, o sentimento não era mútuo.

Mas ele esteve lá para mim na semana passada depois do


meu colapso. Concedendo, suas piadas patéticas que mal podiam ser
consideradas consoladoras. Ainda assim, se ele precisava de alguém
para conversar, eu tentaria não ser uma cadela de coração frio durante
pelo menos cinco minutos e lhe oferecer algum conforto. Gostaria de
ser sua amiga.

Assim que ele saiu do palco, as mulheres com muita


maquiagem e muito pouca roupa o rodeava. Elas me fizeram lembrar
das gaivotas que pulavam em qualquer resíduo esvoaçante de
alimentos nas praias da Califórnia onde minha mãe tinha tantas vezes
me levado quando criança. Ela os chamou de ratos-com-asas, rindo
enquanto ela jogou mais um chip de batata para o céu para aumentar
o seu fervor raivoso. Parando para pensar sobre isso, Finn
provavelmente poderia jogar uma meia suja para este enxame de
meninas e elas matariam umas as outras na corrida animalesca para
ganhá-la.

Ele estava rindo, em seu elemento quando ele absorveu a sua


atenção. A tristeza que tinha sido gravada em seu rosto quando ele se
apresentou tinha recuado para trás de seus olhos e seu sorriso de cair
calcinha apareceu. Ou talvez eu tivesse visto coisas.

Revirei os olhos e voltei para Lexi, que estava me observando


atentamente.

"Você gosta dele", disse ela, surpresa escrita em seu rosto.

"Não, eu não", respondi, forçando uma risada como se ela


estivesse sendo ridícula por pensar uma coisa dessas. "E nós já
discutimos isso, não?"

"Não. Nós conversamos sobre você dormir com ele e o jogar de


lado, como você faz com todos os outros. Não que houve mesmo
qualquer outro ultimamente, mas nós vamos voltar a isso mais tarde."
Ela olhou para mim, como se estivesse tentando decodificar o meu
cérebro com apenas o poder de seus olhos. "Você gosta dele. Por
dentro, você se preocupa com ele. Eu nunca pensei que veria esse dia."
Sua voz estava com algo parecido com admiração enquanto ela
continuava a olhar para mim.

"Eu não sei do que você está falando, Lex. Você sabe melhor
do que ninguém que eu não tenho relações ou compromissos ou
mesmo emoções."

"Então por que você não ficou com ninguém desde que você o
conheceu? Explique isso!" Ela olhou para mim, triunfante.

"Você sabe, você está certa. Tem sido muito longo tempo", eu
disse, empurrando para trás o meu banco e levantando. "Acho que vou
encontrar alguém para ir para casa agora mesmo."
Tristeza e arrependimento brilharam instantaneamente nos
olhos de Lexi. "Desculpe-me, eu não devia ter mencionado nada,
Brookie. Fique comigo", ela implorou. "Não faça isso de novo."

"Pegue o meu violão e leve para casa para mim, ok?" Levantei
meus ombros, ignorando-a quando me virei para ir ao bar. Uma rápida
olhada em direção ao palco me garantiu que Finn ainda estava
ocupado com suas fãs que o rodeavam. Com uma loira em cada braço,
ele certamente não estaria precisando da minha amizade esta noite.
Zombei mentalmente dos meus pensamentos anteriores de confortá-lo;
claramente, eu estava enganada.

Quando cheguei ao bar, eu escolhi o cara que estaria me


levando para casa dentro de trinta segundos. Era um talento que eu
possuía há anos: um olhar me dizia tudo o que eu precisava saber
sobre uma pessoa.

Meu companheiro de cama para a noite foi um alvo fácil. Ele


estava no bar rindo com dois amigos, o que me disse que estava
descontraído e provavelmente sozinho. Ele estava bebendo uma
cerveja, então ele provavelmente não estava tão derrotado que teria
quaisquer problemas atuando no quarto. Sua camisa xadrez verde
desbotoada era casual, mas mostrava os músculos em suas costas
largas e espelhava a cor de seus olhos.

Eu poderia tê-lo de volta em seu apartamento, nu, dentro de


uma hora, se eu jogasse direito.

Aproximando-me lentamente, tive a certeza de ignorá-lo


enquanto caminhava até a banqueta vazia ao lado dele e me inclinei
sobre o bar. Acenei na direção do bartender para sinalizar que eu
estava pronta para pedir, em seguida, empurrei meus cachos escuros
por cima do meu ombro em um gesto projetado para parecer
impaciência. Se minha abordagem sozinha não tinha chamado a
atenção do cara, a fragrância do meu shampoo faria o truque.
Comprei-o na seção especial e cheirava como maçãs e canela - algo
que, aparentemente, atraía os caras. Acho que suas habilidades
masculinas de sedução seria superada apenas pelo shampoo com
cheiro de bacon, e eu tinha certeza que John Frieda não faria isso.

Quando o bartender chegou em mim, eu pedi uma garrafa de


Sam Adams e lhe paguei rapidamente. Virando, enfrentei o palco e
recostei no bar, tomando um gole profundo em minha cerveja. Eu
podia sentir o peso do olhar do cara da camiseta xadrez no meu perfil
quando a garrafa descansou contra os meus lábios e eu engoli
lentamente. A ponta da minha língua levemente traçou a borda do
vidro, e escondi um sorriso enquanto o ouvi limpar a garganta
rudemente e balançar seus pés.

"Ei, eu sou Landon", ele disse, movendo-se na minha frente.


"Você foi muito incrível lá mais cedo." Ele estendeu a mão para eu
cumprimenta-lo, sorrindo de um jeito amigável eu-gostaria-de-ver-qual-
é-a-cor-da-sua-calcinha. Seu cabelo loiro estava levemente
despenteados e seus olhos eram lindos de perto - verdes com manchas
de avelã por toda parte.

Perfeito.

"Brooklyn", eu disse, sorrindo animadamente e colocando


minha mão na sua. Isso ia ser ainda mais fácil do que eu esperava.

"Não sabe que não é uma boa beber sozinha, Brooklyn?" Ele
riu.

Esgueirei um olhar para ele, piscando. "Que bom que você


está aqui para me fazer companhia, então." Ele sorriu e tomei o resto
da minha cerveja.

Duas cervejas - cortesia de Landon - e trinta minutos depois,


eu estava me sentindo tonta e pronta para sair. Estava ansiosa para
fugir das acusações de Lexi e do bando de mulheres do Finn.
Propositadamente evitei olhar em sua direção, em seguida,
imediatamente me repreendi por isso. Se eu não podia nem vê-lo
flertando com outras meninas, ele estava ainda mais profundo sob a
minha pele do que eu tinha percebido antes. Eu precisava de Landon
para ajudar a empurrar Finn da minha mente o mais rápido possível.
Talvez, então, eu poderia finalmente voltar ao normal.

Parte da minha mente estava gritando para mim, assim que


permiti Landon me levar para a saída.

É esta a pessoa que você quer ser, Brooklyn?

Você realmente quer voltar a ser a fechada, egoísta, prostituta


autopreservativa que você era há alguns meses atrás?

E sobre todo o progresso que você fez com a terapia e Lexi e


Finn?

Só de pensar o seu nome empurrei aquela voz interior chata e


estalei de volta à realidade. Foi subitamente fácil entrelaçar meus
dedos aos de Landon e segui-lo até a saída, mais uma vez ansiosa para
partir.

Perto da porta do clube, Landon esbarrou em uma mesa de


seus irmãos de fraternidade e parou brevemente para conversar. Ele
me apresentou, rindo e corando quando seus irmãos fizeram
comentários grosseiros e totalmente banais sobre ele "ter sorte" hoje à
noite. Revirei os olhos e esperei impacientemente para ele seguir em
frente.

Quando quase cinco minutos se passaram, bati no ombro de


Landon e lhe disse que era hora de sair. Voltando para a porta, lancei
um último olhar atrás de mim e, para meu espanto, travei os olhos
com a única pessoa que eu estava determinada a evitar.
Sorri sem entusiasmo para Finn, mas senti a queda do
sorriso do meu rosto quando registrei a raiva em seus olhos. Suas íris
azuis escuras eram inflexíveis com raiva quando ele olhou para
Landon, que tinha acabado de colocar a mão na minha bunda, na
tentativa de me empurrar para fora. Quando não me mexi, Landon se
inclinou e beijou meu pescoço.

"Vamos lá, meu bem, pensei que você queria ir?" Sua
respiração era muito quente e cheirava a cerveja; que fez a minha pele
se arrepiar. Não houve borboletas, ou calafrios, ou batimentos
cardíacos acelerados - apenas um sentido intratável de estar errado.
Ignorei o sentimento, puxei meu pescoço para longe dos lábios de
Landon, e desviei os meus olhos de Finn.

Ele me ignorou por uma semana inteira, e agora ele estava


furioso que eu estava saindo do bar com alguém? Bem ele podia ir
para o inferno, tanto quanto eu estava preocupada. Ou ele tinha algum
tipo de distúrbio de personalidade múltipla, ou estava me faltando
alguma informação crucial.

"Sim, eu estou pronta. Vamos," eu disse, ajustando meus


ombros com determinação e ignorando a dor em meu peito enquanto
eu permitia Landon me puxar pela saída.

Felizmente, não foi uma longa caminhada até o apartamento


de Landon. Ele vivia cerca de três quadras do clube, no mesmo bairro
que eu. Tentei me lembrar do quão quente ele era quando nós
tropeçamos através de sua porta da frente, os seus lábios fundiram
com os meu. Quando sua língua entrou na minha boca, respondi no
piloto automático, incapaz de me envolver em um nível mais profundo.
Gemendo de frustração - que Landon, sem dúvida, assumiu como
paixão - tirei sua camisa e corri minhas mãos sobre seu peito.
Seus músculos definidos eram uma obra de arte esculpida. Se
eu o conhecesse meses atrás, eu teria prazer em passar a noite
traçando a minha língua ao longo de cada musculo em um show do
meu apreço. Mas hoje, eu não ia perder tempo. Eu precisava dele para
limpar minha mente.

Lexi costumava dizer que eu tratava o sexo como uma viagem


para o massagista ou quiropratico - como uma brincadeira entre os
lençóis não era nada mais do que um bom alongamento de costas ou
coluna quebrada. Sempre ri quando ela disse isso, mas no fundo eu
sabia que era verdade. Eu tinha usado o sexo para coçar uma coceira,
nada mais.

Até que eu conheci Finn, e comecei a me importar.

Eu sabia instintivamente que o sexo com ele seria diferente.


Eu também sabia que o que eu estava fazendo com Landon agora não
podia se comparar as fantasias que eu tinha sobre estar com Finn, e
muito menos comparar com como poderia ser realmente dormir com
ele.

Minha blusa cinza caiu no chão, seguida rapidamente por


meu sutiã. As mãos de Landon seguraram meus seios muito
grosseiramente e que nem remotamente me ligou. Ele estava babando
no meu pescoço, murmurando entre beijos de boca aberta.

"Você é quente para caralho, baby."

"Não me chame de baby", eu disse imediatamente, músculos


tensos sob seu toque.

"Ok." O babado continuou enquanto eu estava sem reação,


minhas mãos em meus lados. "Você é tão quente."

Suas mãos alcançaram o botão do meu jeans, e eu sabia que


tinha de pôr um fim a isto antes de ir mais longe. Tristemente, admiti
a derrota - seu tanquinho não poderia colocar Finn fora da minha
mente mais do que o álcool ou a negação podia.

Eu estava fodida. E não literalmente, no bom sentido da


palavra.

"Landon, pare."

Para seu crédito, ele parou imediatamente. Alguns caras


provavelmente teriam sido idiotas sobre o assunto - queixando ou
mesmo tentando me forçar para continuar. Mas Landon foi
compreensivo quando lhe disse que precisava sair.

"Tudo bem", ele disse, sorrindo e passando a mão pelo seu


cabelo loiro bagunçado. "Você sempre pode mudar de ideia, no
entanto, você sabe aonde me encontrar."

Eu ri quando coloquei as minhas roupas de volta e disse


adeus. Ele não era um cara mau. Eu sabia que ele seria um bom
namorado para alguém um dia - apenas não para mim.

Felizmente, o passeio para casa era curto. Eu não tinha


vestido uma jaqueta para o bar e a temperatura havia caído nas horas
desde que eu saí de casa. Esfreguei meus braços com as palmas das
mãos, tentando trabalhar um pouco de calor em meus membros
quando me virei para o meu bloco. Para minha surpresa, uma
caminhonete preta familiar estava estacionada em frente a minha
casa.

Eu me aproximei cautelosamente, observando que a


caminhonete ainda estava parada e que Finn estava provavelmente
sentado lá dentro. Eu tinha parado apenas brevemente na janela do
passageiro quando ouvi o motor ser desligado abruptamente e a porta
do lado do motorista se abrir.
Finn contornou a frente da caminhonete em um borrão,
agarrando-me pelo braço e me empurrando contra a porta do
passageiro antes que eu pudesse formular um protesto. Ele olhou para
mim, com o rosto a poucos centímetros do meu. Um músculo mexeu
em sua mandíbula quando ele tentou obter o controle sobre sua raiva.

"O que você pensa que está fazendo? Deixe-me ir, Finn," olhei
para ele, puxando meu braço de seu aperto. "Eu não sei qual diabos é
o seu problema, mas eu vou gritar se você não recuar."

"Você não sabe qual é o meu problema? Isso é perfeito", ele


soltou uma gargalhada, mas não havia humor nele. Suas mãos
percorreram por seu cabelo em frustração. "Você. Está é a porra do
meu problema, Abelhinha."

Ele me chamou de Abelhinha novamente. Ele só tinha feito


isso uma vez, então eu tinha esquecido - mas ali estava ele, usando
novamente. Ninguém nunca me chamou de Abelhinha. Tinha sido um
apelido especial da minha mãe para mim. Eu decidi deixar passar, por
agora; parecia que eu tinha que escolher minhas batalhas hoje à noite.

"O que diabos isso significa?" Perguntei, incrédula.

"Você fodeu esse cara hoje à noite?"

"Isso não é absolutamente da sua conta! Agora, deixe-me ir!"

"NÃO!" Finn gritou na minha cara, sua raiva atingindo um


novo recorde. "Eu não posso deixar você ir. Eu não posso. E acredite
em mim, eu realmente tentei muito fortemente. É impossível - Você é
impossível." Ele soltou um suspiro duro, e um pouco da raiva apagou
do seu rosto. Ele parecia derrotado, de repente. "Eu não sabia o quão
difícil isso seria. Eu gostaria de poder dizer que, se eu soubesse, teria
ficado longe de você. Mas eu não posso, porque eu sei que não é
verdade. Não há literalmente nada que teria me impedido de voltar
para você, uma vez que eu encontrei você."
Eu não tinha ideia do que ele estava falando neste momento.
Seus olhos estavam selvagens com uma intensidade desesperada que
eu nunca tinha visto antes, e ele parecia um homem perto de seu
ponto de ruptura. Honestamente, ele estava começando a me assustar,
e eu estava perigosamente perto de dar um chute em suas bolas e
fugir.

Quando eu estava pensando em minhas opções de fuga, ele


me assustou colocando suavemente meu rosto em suas mãos. Raiva se
transformou em ternura tão rapidamente que eu não conseguia
identificar o momento exato em que tinha acontecido. Seus olhos azuis
perfuraram os meus com um olhar de determinação inabalável, como
se de repente ele tomasse uma decisão sobre algo, e eu tinha o desejo
incontrolável de correr para longe, muito longe de tudo o que ele
estava prestes a dizer.

"Eu fiquei longe de você durante toda a semana, tentando me


convencer de que eu não preciso de você. Eu sabia que deveria ficar
longe de você, que eu não deveria prosseguir com isto. Mas então eu vi
você sair com esse babaca no The Blue Note e eu perdi. Eu não posso
nem mesmo pensar que-" Ele parou, incapaz até mesmo de dizer as
palavras. "Você.Transou.Com.Ele." Ele rangeu cada palavra para fora,
como se isso lhe causasse dor física para expulsá-las.

"Não", eu disse, olhando em seus olhos azuis escuros. "Não


que isso seja da sua conta. Posso foder quem eu quiser, Finn. Você
certamente faz."

"Eu não estive com ninguém desde que lhe conheci."

O Quê?!

Empurrei o meu choque de lado e zombei. "Sim, certo. E


mesmo se isso fosse verdade, por que me importaria? Não é como se
eu desse a mínima para com quem você transa."
Em um flash, a raiva estava de volta. "Não faça isso. Não
banalize o que há entre nós. Não pense que você pode fingir comigo.
Seu pequeno ato indiferente pôde funcionar com todos os outros em
sua vida, mas eu vejo através dele. E você sabe o que eu vejo,
Abelhinha?" Ele fez uma pausa, inclinando-se tão perto que nossos
narizes encostaram. "Eu vejo o medo. Você está cagando de medo de
que você sinta algo por mim, porque o fodido lance é que você
realmente teve que deixar cair àquelas paredes que você construiu em
torno de si mesma para me deixar entrar."

Minha boca estava aberta como um peixe enquanto eu


tentava evocar uma resposta, uma negação, mesmo uma risada -
qualquer coisa para orientar essa conversa para águas mais seguras.
Minha mente estava cambaleando, embora, eu não podia formar um
único som. Eu simplesmente olhei para ele, à deriva em um estado de
choque. Anos desligando as minhas emoções me deixaram totalmente
incapaz de processar a sua declaração, e muito menos saber como eu
me sentia sobre isso. Talvez Finn reconheceu isso sobre mim, porque
ele continuou a falar, embalado pelo meu silêncio.

"Desde o segundo em que você acordou em meus braços na


calçada naquele dia, era apenas uma questão de tempo até chegarmos
aqui, a este momento. Era inevitável. Você sabe disso. Eu sei isso."

"Você mal me conhece. E se você conhecer... você pode não


gostar tanto mais de mim. Tenho certeza que você já ouviu a minha
reputação..." Eu engoli o meu constrangimento, olhando para qualquer
lugar, menos para ele.

"Isso não importa, Abelhinha."

"Mas-" protestei.

"Olha, eu não posso explicar, ok? Eu não sou bom nisso.


Tudo o que posso dizer é que parece como a coisa mais natural do
mundo para eu estar perto de você - como se fui colocado neste
planeta apenas para respirar o seu ar e lhe dizer como você é linda.
Para fazer você rir das minhas piadas idiotas e segura-la em meus
braços quando você está triste. Não quero controlar você, ou possuir
você, ou mudá-la. Eu só quero você, não importa quem você é ou qual
é o seu passado. Eu não me importo com os outros caras, ou qualquer
coisa que aconteceu antes de nós ficarmos juntos, porque toda essa
merda fez você ser apenas você." Ele respirou fundo. "Estar perto de
você, Brooklyn... é como respirar. Eu não tenho uma escolha sobre
isso; Eu só tenho que fazê-lo ou eu sei que não vou sobreviver por
muito tempo."

Seus olhos eram tão surpreendentemente sinceros enquanto


falava as palavras, que não havia nenhuma maneira que eu poderia
duvidar da verdade por trás delas. Eu pensei que ele tivesse acabado,
mas, aparentemente, ele ainda tinha mais a dizer; quando ele
continuou a falar, seu tom havia suavizado e seu olhar havia ficado
sério.

"Mesmo quando eu não estou com você, eu posso me sentir


sendo puxado para onde quer que esteja, como se uma corda física
estivesse nos conectando. E isso não vai embora; por nada, está
ficando mais forte quanto mais tempo eu passo com você."

Ele engoliu em seco.

"Eu nunca senti nada como isso antes, e eu sei que você
sente isso também", ele disse, em voz baixa. "É inegável - como uma
força magnética. Como a gravidade. E não é algo que eu posso
controlar, ou alterar, ou parar. Apenas é."

Seus olhos se suavizaram quando ele reconheceu o medo cru


no meu. "Não tenha medo, Abelhinha. Você não sabe que eu nunca lhe
machucaria?"
"Eu sei", sussurrei, percebendo que era verdade, assim que as
palavras saíram da minha boca. Ele estava me protegendo desde o dia
em que nos conhecemos. Do hidrante, de Gordon, até de mim mesma.

Ele lentamente se inclinou para mim, apoiando a testa contra


a minha e fechando os olhos. "Acho que eu não posso ficar longe de
você mais", ele admitiu calmamente, exalando um suspiro e tentando
se livrar um pouco da tensão em seus ombros.

"Então não fique", eu disse, simplesmente, a minha boca


torceu em um sorriso, enquanto seus olhos se abriram. Seus olhos
azuis olharam nos meus por uma fração de segundo, avaliando se eu
estava falando sério, e depois sua boca desabou contra a minha.

Seus lábios estavam exigindo, sua língua traçando o contorno


dos meus lábios e buscando entrada quase que imediatamente. Ele me
apoiou ainda mais firmemente contra a caminhonete, seu corpo
pressionado contra o meu. Minhas mãos encontraram o caminho para
seu cabelo escuro despenteado e eu o puxei para perto, de pé nas
pontas dos pés para alcançá-lo.

Ele cheirava deliciosamente como o cair do outono, e o sabor


era ainda melhor. Resmunguei uma queixa quando sua boca deixou a
minha para trilhar beijos ao longo do meu queixo e no meu pescoço.
Ele riu com o som, uma sombria risada sexy que quase incendiou
minha calcinha com desejo. Precisando de mais, enrosquei a perna ao
redor de sua cintura e tentei puxá-lo para mais perto. Ele deve ter
compartilhado meus pensamentos - suas mãos imediatamente
seguraram minha bunda quando ele me levantou do chão, permitindo
que ambas as minhas pernas enrolassem em torno da sua cintura
enquanto ele me segurava presa contra a caminhonete. Puxando seu
cabelo, consegui obter seus lábios do meu pescoço de volta para os
meus.
Normalmente, quando eu beijava alguém pela primeira vez,
havia um período de adaptação - alguns momentos desastrados gastos
na aprendizagem como sua boca se movia para me adaptar a ela.

Não foi assim com Finn. Era como se nossas bocas se


conhecessem, como se os meus lábios tivessem sido projetados para
encaixar exclusivamente com os seus. Eu não era uma pessoa
religiosa; Eu não acreditava em vidas passadas ou reencarnação. Mas
se alguém me perguntasse naquele momento se eu já tinha vivido isso
antes, eu teria dito que sim, porque eu devia ter conhecido Finn antes
desta vida. Beijá-lo era como voltar para casa depois de uma
incrivelmente longa jornada - uma tão longa, que não só tinha
esquecido como casa era, mas como se ela sequer tivesse existido.

Nossas bocas exploravam, uma apaixonada fusão de lábios,


línguas e dentes. Eu queria bebê-lo, engarrafá-lo e levá-lo comigo para
que eu nunca ficasse sem essa sensação de novo - essa sensação de
plenitude, de retidão absoluta - que me fez doer com a necessidade de
rir e chorar e me perder nele.

Engoli em seco quando me movi em seus braços e senti a


força de sua excitação através de seu jeans. Finalmente percebendo
que estávamos em uma posição comprometedora no meio da rua, Finn
puxou o rosto do meu e olhou nos meus olhos enquanto ele tentava
retardar sua respiração. Seus olhos estavam escuros, nebulosos de
desejo e, certamente, combinavam com o meu olhar.

"Nós temos que diminuir o ritmo," ele sussurrou, beijando


minha testa.

Eu gemi em resposta.

Rindo, ele me pôs no chão e passou os braços em volta de


mim. Meus braços enroscaram em seu pescoço e minha cabeça
aninhou na curva do seu pescoço. A sensação de contentamento me
encheu quando seu queixo veio descansar em cima do meu cabelo, e
me lembrei da primeira vez que tínhamos nos abraçado assim.
Lembrei-me de pensar o quão bem nós nos encaixamos, como duas
peças de quebra-cabeça que faltavam. Depois desta noite, esse
sentimento só foi amplificado.

"Vamos lá", ele disse, desembaraçando os nossos membros.


"Deixe-me levá-la à sua porta." Eu abri minha boca para protestar,
mas ele me cortou. "Nem tente. Estou andando até a sua maldita
porta, Abelhinha."

Nós caminhamos em silêncio subindo as escadas, parando


fora da minha porta na varanda.

"Você pode entrar, você sabe", eu disse, estendendo-me nas


pontas dos pés para dar um beijo em seus lábios. Finn gemeu e se
afastou.

"Meu autocontrole está pendurado por um fio, aqui. Por favor,


não me tente."

"Tudo bem," Dei de ombros e me virei para a porta, não


queria que ele visse que sua negação me deixou confusa e me
machucou. Ninguém nunca tinha me recusado antes. "Você que vai
perder."

"Ei," ele disse, virando-me de volta para encará-lo. Inclinando


meu queixo para cima, ele forçou meus olhos para encontrar os dele.
"Acredite em mim, eu não quero nada mais do que ficar com você. Eu
desesperadamente quero você para caralho, se eu estou sendo
honesto. O fato de que você ainda tenha duvidas sobre isso é uma
loucura."

De repente, espantosamente, meus olhos estavam cheios de


lágrimas. "Talvez eu seja. Isto é, louca. Eu estou fodida, ok? Você não
sabe nada sobre mim. E se você soubesse, provavelmente só iria
correr." Tentei me afastar do domínio que ele tinha do meu rosto, mas
ele se manteve firme. "Eu não posso dar o que você quer: um
relacionamento. Mesmo se eu quisesse, eu não posso fazer nenhuma
promessa," eu soluçava.

Finn se inclinou e beijou lentamente cada lágrima do meu


rosto. "Primeiramente, não quero ouvir você se chamar de louca, ou
fodida, ou qualquer coisa assim nunca mais. Em segundo lugar, eu
pedi que você me fizesse alguma promessa? Não." Seus olhos
irradiavam sinceridade e calor. "Nada tem que mudar. Bem, além do
fato de que eu vou lhe beijar quantas vezes você me deixar, porque sua
boca é incrível. Sério, eu tenho que ir para casa e escrever uma música
sobre isso. Vamos colocá-la em nosso próximo show; Vou chamá-la
Tributo a Boca de Brooklyn. Vai estar num instante no Top-40, é só
você esperar."

Eu caí em risos - ele era tão ridículo. "Eu odeio você", afirmei,
minha risada diminuindo gradualmente.

"Impossível", ele sorriu, pressionando um beijo casto em


meus lábios e vendo que abri a porta do meu apartamento. "Eu vou
ligar para você amanhã."

"Eu tenho certeza que é o que você diz a todas as meninas,"


provoquei.

Seu rosto ficou sério. "Abelhinha, não há outras meninas.


Nunca houve alguém real para mim, exceto você." A expressão
melancólica atravessou seu rosto. "Sempre foi você."

Meu coração gaguejou em meu peito com as suas palavras e


eu agarrei o batente da porta para me manter firme.

"Boa noite", sussurrei, oprimida.


"Boa noite, Abelhinha." Ele piscou para mim antes de virar e
descer as escadas. Fechei a porta e levei a mão para traçar meus
lábios levemente inchados, a única prova tangível que eu tinha, do que
tinha acontecido entre nós. Caso contrário, eu poderia ter me perdido
em uma espécie de fantasia equivocada.

Eu poderia fazer isso? Eu poderia me envolver com Finn e


permanecer emocionalmente desapegada? Ele disse que não ia ficar
longe de mim mais, e eu não queria que ele ficasse. Ele era meu amigo
e tudo que eu sabia era que eu tinha sentido falta dele na semana
passada. Mas eu podia dormir com ele, sem deixar todas as minhas
paredes desabarem? Senti como se tivesse me feito essa pergunta por
meses desde que Finn e eu lentamente rodeamos um ao outro. E agora
que nós finalmente colidimos, eu ainda não tinha certeza de qual seria
minha decisão.

Claro, eu estava ficando melhor - ir à terapia, pensando em


minha mãe e encarando meu passado. Isso não quer dizer que eu era
normal, e eu certamente não estava ajustada o suficiente para dar a
outra pessoa um relacionamento sério.

Eu precisava resolver minha própria merda antes que


pudesse considerar dar um salto assim. Como se isso não fosse o
suficiente para um obstáculo, também duvidava que eu conseguisse
chegar a um lugar onde eu poderia ser totalmente honesta com Finn
sobre o meu passado - e ele foi muito insistente que nunca se
contentaria em ser deixado no escuro. Esta relação era um desastre,
uma bomba-relógio prestes a explodir, mesmo em teoria.

Eu estava confusa, e definitivamente precisava de tempo para


pensar em tudo. Eu também estava muito cansada para lidar com a
gama de emoções que lutava pela minha atenção.
Canalizando Scarlett O'Hara, minha senhora de todos os
tempos literários favorita e claramente uma influência formativa sobre
o meu desenvolvimento, decidi que não podia pensar sobre a situação
de Finn agora - eu pensaria sobre isso amanhã.

Afinal... amanhã é outro dia.


Capítulo 09
Paredes Nuas

Eu estava com medo do beliche de cima. Era demasiado alto do


chão.

Em casa, eu tinha uma cama cor de rosa - Mamãe sempre a


chamou de cama de princesa. Ela tinha pintado meu quarto para se
parecer com uma cena de um dos meus contos de fadas favoritos, e as
paredes estavam cobertas de princesas e fadas e cavaleiros e até
mesmo um castelo mágico. O teto foi pintado com estrelas e nuvens e um
dragão verde brilhante. Toda noite, ela lia histórias antes de dormir, e
eu gostava de olhar para as minhas paredes e fingir que estava
saltando pelos caminhos de uma floresta encantada, ou bloqueada no
alto da torre mais alta do castelo. Às vezes, mamãe e eu gostávamos de
ler uma história nova e depois ela pegava seus pincéis e adicionava
novos desenhos em minhas paredes.

Gostaria de saber se outra menina estava dormindo no meu


quarto de princesa agora.

Olhei para a pintura lascada do teto cinza no meu novo quarto,


sujo com manchas marrons e verdes. Minha mãe adotiva não sabia
como pintar castelos ou estrelas ou dragões.

A casa estava em silêncio. Eu estava deitada na minha cama


por horas, mas não conseguia dormir. Estava com medo do que eu sabia
que ia ver quando fechasse meus olhos. Eu perdi o meu quarto. Eu perdi
a mamãe. Eu perdi histórias para dormir e o modo que ela sempre
cantava enquanto pintava.

Deslizando tranquilamente pela escada do beliche, ajustei as


mangas longas demais do meu pijama e sai pelo corredor. Eu dividia o
quarto com outras três meninas, mas eram todas mais velhas do que eu
e que roncavam e babavam enquanto dormiam.

Saí para o corredor na ponta dos pés, tentando não fazer


barulho. Minha mãe adotiva ficava brava quando ela me pegava fora da
cama à noite, mesmo se tivesse tido pesadelos. Eu estava aqui por
algumas semanas agora, mas aprendi na primeira noite que não
haveria histórias antes de dormir ou mãos macias para me colocar na
cama.

Quando cheguei à porta dos fundos, empurrei e abri com


cautela; Eu sabia, por vir aqui quase toda noite, que iria chiar se
movesse muito rápido. Saí para a varanda, meus pés descalços sobre o
piso frio de madeiras irregulares. Saindo na ponta dos pés, dei os
passos que me levaram para o quintal, apoiei minha cabeça em minhas
mãos e olhei para o céu. Não havia estrelas, aqui. Nenhum dragão verde
brilhante, também. Apenas nuvens e toda escuridão.

"Você não deveria estar aqui, você sabe."

Eu me assustei, minha cabeça girando de volta para o canto


escuro da varanda, de onde a voz tinha vindo. Era a voz de um menino,
mais profunda e mais áspera do que a minha. Eu me enrolei em mim
mesma, assustada enquanto o assistia emergir das sombras.

"Você não tem que ter medo de mim", ele disse, sentando-se no
degrau ao meu lado. Próximo, mas não muito perto. "Mas você não
deveria estar aqui fora. Já é tarde e está frio."

Olhei para ele.


"Você é a única que não fala", afirmou, olhando para mim.

Balancei a cabeça.

"Só estou aqui há alguns dias", ele suspirou com tristeza. "Não
posso dormir."

Olhei para o céu novamente, em busca de uma estrela, mas


ainda não havia nenhuma atrás das nuvens. O menino não parecia que
queria me machucar. Ele era mais velho por alguns anos, provavelmente
ele tinha nove ou dez. Fiquei surpresa que ele estava mesmo falando
comigo. A maioria das crianças mais velhas não queria passar mais
tempo com a "pequena aberração muda"

"Você está com medo?" ele perguntou em voz baixa. Quando


olhei para ele, não houve provocação em seus olhos - só bondade e
talvez um pouco de tristeza também. Ele entendeu. Ele não perguntou
do que eu estava com medo, mas isso não importa - o medo é o medo.

Acenei com a cabeça lentamente.

"Quer ouvir uma história?" Ele perguntou, sua voz insegura.

Senti meus lábios transformando em um pequeno sorriso. Eu


acenei com a cabeça novamente, virando para olhar para ele.

"Ok", ele respirou fundo, franzindo a testa enquanto ele


pensava sobre por onde começar. Eu duvidava que sua história fosse
tão boa quanto uma da mamãe, mas toda a história era melhor do que
nenhuma.

O menino olhou para o céu escuro, antes que ele começasse.

"Era uma vez, houve uma linda princesa chamada Andrômeda.


Quando ela nasceu, seus pais, o rei e a rainha, estavam tão orgulhosos
de sua beleza que se gabavam que ela era a garota mais bonita do seu
reino, de seu país, de todo o mundo."
O garoto moreno olhou para mim para se certificar de que eu
estava seguindo a sua história. Observei em silêncio, encantada com as
suas palavras. Fazia semanas que alguém tinha falado comigo -
realmente falado comigo. A terapeuta tinha me visitado a cada semana,
mas ela não disse muita coisa; ela apenas fazia muitas perguntas que
eu não tinha respostas.

"Quando as ninfas do mar ouviram o que o rei e a rainha


estavam dizendo sobre a beleza de Andrômeda, elas ficaram furiosas;
até então, elas tinham sido as mais belas criaturas na terra, e elas não
estavam prontas para desistir de seu título. As ninfas ciumentas
imploraram a Poseidon, o deus do mar, para enviar um monstro terrível
para a terra natal de Andrômeda e destruir o reino."

Sentei na borda do meu assento, meus olhos arregalados


enquanto observava o menino e ouvia seu conto fascinante.

"O mau monstro do mar destruiu vilas e matou moradores, e o


rei e a rainha estavam desesperados para acabar com o sofrimento de
seu povo. Eles perguntaram ao Oráculo - o homem mais sábio do reino -
como eles poderiam parar os ataques violentos do monstro". Ele olhou
para as estrelas suspensas. "O Oráculo disse a eles que a única
maneira de acabar com a violência era sacrificar a sua bela filha
Andrômeda ao monstro do mar."

Engoli em seco.

"Eles não tinham escolha, se eles queriam salvar seu povo.


Então, eles a acorrentaram a uma rocha no meio do oceano e a
deixaram lá - sozinha e indefesa. Quando o monstro apareceu, com seus
dentes afiados, barba e os olhos vermelhos do mal, Andrômeda sabia
que ela ia morrer."

O menino olhou para mim, seus olhos azuis intensos.


"De repente, do céu, o herói Perseu apareceu, voando em seu
cavalo alado Pégasus. Ele deu uma olhada na bela Andrômeda,
imediatamente se apaixonou por ela, e matou o monstro do mal antes
que ele pudesse até mesmo tocá-la". O menino sorriu suavemente. "A
princesa se reuniu com seus pais, que ficaram emocionados de ter sua
filha de volta. No dia seguinte, Andrômeda e Perseu se casaram, e
daquele momento em diante eles viveram felizes para sempre."

O menino ficou em silêncio, sua história acabou. Eu nunca


tinha ouvido uma história como essa antes, e fiquei fascinada. Mamãe
nunca tinha contado histórias sobre monstros do mar, cavalos voadores,
ninfas ou deuses!

Tinha tantas perguntas que eu queria fazer a este menino -


onde ele tinha ouvido tal história, e se ele sabia mais. Eu queria
agradecê-lo por compartilhar sua história surpreendente, mas eu ainda
não tinha falado com ninguém desde que mamãe tinha...

Estendi a mão e toquei o corte perto do meu ombro. Apesar de


ter sido envolvido com curativo e o médico ter dado pontos, ainda doía.
Ele não sangrava mais, pelo menos. O resto dos meus cortes e
contusões havia desaparecido; era a única marca que tinha deixado
para me lembrar daquele dia.

Virei para o menino e o peguei olhando para mim.

"Você deveria ir para a cama. Seu nome é Brooklyn, certo?"

Assenti com a cabeça, ficando de pé. O menino se levantou


também, e ele parecia chocado quando estendi o braço e agarrei sua
mão. Apertei com força, esperando que fosse o suficiente para dizer a
ele o que eu não podia dizer em voz alta.

Obrigada.
Ele olhou para os meus pequenos dedos em volta do seu e
pressionou suavemente para trás.

"De nada."

Sorri, o meu primeiro sorriso verdadeiro em semanas, e


desapareci de volta para dentro da casa, deixando o garoto solitário
estranho no escuro.

***

Acordei com um sobressalto.

Nunca tive um sonho tão vívido sobre o meu tempo no


orfanato antes. Ele me pegou de surpresa, surpreendendo-me com a
sua clareza. Claro, eu tinha vagas lembranças do menino que tinha me
contado histórias à noite. Mas nada nunca tinha sido tão específico.
Nunca tinha sentido tão real - como se eu tivesse realmente estado lá,
de pé naquela varanda na escuridão.

Distraidamente passei o dedo sobre a cicatriz irregular na


minha clavícula. Era quase imperceptível, apenas uma linha tênue de
pigmentação mais clara. A marca permanente, ligeiramente alteada do
meu passado era a única marca física que eu carregava daquele dia
terrível. Felizmente, minhas cicatrizes emocionais não eram tão
visíveis.

Eu agrupei meu edredom ao redor de mim da forma mais


segura enquanto olhava para o meu teto branco e liso, em vez disso
imaginando uma tela de ciano e cobalto, pontilhada com estrelas
amarelas brilhantes e um dragão verde-jade luminescente. Eu quase
permiti esquecer o mundo de conto de fadas que minha mãe tinha
criado dentro das quatro paredes do meu minúsculo quarto de
infância. O sonho trouxe tudo de volta.

De repente, as paredes do meu quarto pareciam muito nuas.


Eu não tinha imagens, não havia cartazes, nem uma única obra de
arte - apenas paredes brancas simples sem enfeites como no dia em
que eu tinha assinado meu contrato de aluguel.

Elas nunca me incomodaram antes, ou talvez eu


simplesmente não tinha notado a natureza sombria, impessoal do local
onde vivia. Minhas roupas penduradas perfeitamente no meu armário,
meticulosamente organizadas por cor e estação. Meu laptop estava
apoiado em uma mesa livre de desordem. Meu tapete foi aspirado e
não havia pilhas de roupas ou papéis descartados em qualquer lugar.
Parecia que um fantasma vivia aqui, não deixando nenhuma pegada
enquanto ele se movia ao longo da vida.

E depois de tudo, não era aquilo que eu me tornei? Uma


menina sem família, sem amigos verdadeiros, sem emoções para falar.
Eu me permiti desaparecer? Eu abandonei aquela menina que tinha
acreditado em contos de fadas e felizes para sempre?

Sim. Porque tinha sido mais fácil.

Mas eu não iria mais fazer isso. Gostaria de encontrar aquela


menina de novo, de alguma forma. Gostaria de ter minha vida de volta
do fantasma que eu havia me tornado.

Pela primeira vez em anos, eu estava grata por um dos meus


pesadelos. E quando fechei os olhos e voltei a dormir, eu sorri.

***
Eu acordei na manhã seguinte, quase ao amanhecer,
sentindo-me mais revigorada do que eu estive em semanas. Depois de
fazer o café, sentei no telhado e estudei por algumas horas. Eu tinha
vários exames chegando, e entre Finn, terapia e entregas de flores
misteriosas, eu não tinha tido muito tempo para me concentrar em
minhas aulas.

Quando deram dez horas, entrei no quarto de Lexi e agarrei a


moldura que eu estava procurando da sua mesa. Um pé pendia para o
lado do seu colchão e uma auréola difusa de ondas vermelhas
desapareceu rapidamente quando ela puxou o edredom para bloquear
a luz que deixei entrar. Rosnando, ela cegamente jogou um travesseiro
por todo o quarto para mim, evidentemente irritada por tê-la acordado.
Eu ri e fechei a porta suavemente no meu caminho para fora.

Olhando para a foto em minhas mãos, eu sorri. Ela havia sido


tirada no ano passado em uma festa de Halloween. Lex e eu tínhamos
nos vestido como Mario e Luigi, e nós parecíamos despreocupadas e
felizes na foto - sorrindo tão forte que nosso torto bigode preto
ameaçava cair do nossos rostos.

Voltando para o meu quarto, abri uma gaveta na minha mesa


e afastei vários cadernos bem empilhados. No fundo da gaveta, eu
finalmente encontrei o que eu estava procurando. Duas fotos
pequenas, desvanecidas da minha mãe eram tudo que eu tinha. Elas
estavam gastas e esfarrapadas, mas elas eram preciosas para mim. Ela
estava linda nelas - jovem e feliz enquanto ela sorria para quem tinha
tirado as fotos.

Uma delas era um retrato dela sozinha, inclinando-se contra


o vento em um cais na Califórnia. Os braços dela foram jogados para
cima enquanto corria pelo spray do oceano para o fotógrafo. A segunda
era uma foto de nós duas. Eu era jovem, provavelmente, três ou
quatro, e ela me segurava suspensa nos braços. Ela estava olhando
para mim com puro amor, que só uma mãe pode dar, e eu estava
olhando para ela como se ela fosse todo o meu universo. Porque ela
tinha sido.

Lágrimas encheram os meus olhos, mas elas foram de


felicidade. Eu tinha sido amada - Eu tinha a prova aqui em minhas
mãos. E tinha sido negligenciada em uma gaveta, juntando poeira, por
muito tempo. Secando a umidade dos meus olhos, peguei as três fotos
que eu havia coletado e fiz meu caminho para o estacionamento. Pulei
no carro de Lexi e fui direto para a loja mais próxima de fotografia,
onde eu sabia que poderia ter as impressões ampliadas e melhoradas.

Depois de explicar exatamente o que eu queria, eu deixei as


fotos nas mãos capazes do dono da loja e dirigi toda a cidade para a
Andler, a única loja de ferramentas local, que ainda estava aberta. A
maioria dos outros tinham fechado por dificuldades financeiras na
recente recessão, incapaz de competir quando uma super loja de
cadeia nacional para itens de casa que tinha aberto nos arredores da
cidade. Eu não era muito DYI9, mas sempre que eu precisava comprar
substituição de lâmpadas ou fita adesiva, eu ia para Andler. Eu
gostava de pensar que estava apoiando o rapaz.

Considerando a hora e o fato de que era sábado de manhã, eu


não estava surpresa ao descobrir que eu era a mais nova cliente da
loja, pelo menos em três décadas. E também era a única mulher.

Quando entrei, seis homens giraram e realizaram uma


avaliação franca de mim. Igualmente rápido, eles me deixaram e
voltaram sua atenção para os itens que eles estavam comprando, sem
dúvida, supondo que eu era uma menina de fraternidade perdida que
9
DIY é uma abreviação de Do It Yourself (do inglês faça você mesmo) é uma sigla usada para denotar que
determinada banda faz todo o trabalho pelas suas próprias mãos. A atitude DIY é assentada no pressuposto de
que uma pessoa sozinha pode muito bem fazer um trabalho com originalidade e de vários "profissionais"
excessivamente bem pagos e por vezes incompetentes.
tinha entrado por acidente. Normalmente teria ficado irritada, mas um
olhar para o meu traje me fez engolir a minha indignação; minha blusa
vermelha, mergulhando num decote v, com as palavras em preto
'Renda-se Dorothy' em meu peito, estava muito longe do tipo lenhador
xadrez que a maioria destes homens estavam ostentando. As tiras da
sandália vermelha e calça capri preta justa que eu estava usando,
provavelmente não estavam ajudando a minha credibilidade como uma
'DIY'.

Eu, obviamente, não tinha dado muita atenção à seleção da


roupa apropriada quando corri para sair esta manhã.

Cabeça erguida, eu vagava na loja tranquila, olhando para a


secção de pintura. Levei alguns minutos, mas eu finalmente encontrei
as cores que eu estava procurando em meio o que parecia ser milhares
de paletas de amostra cardstock10. Peguei os dois que eu precisava e
fiz meu caminho para o balcão da frente, onde um magro e calvo
homem de meia-idade estava misturando tintas.

"Você pode misturar um litro de cada um destes, por favor?"


Perguntei, entregando as duas amostras de tinta e tentando mudar
sutilmente minha camisa mais para cima para ocultar o decote que ele
tinha começado a olhar com bastante entusiasmo. Seus dedos
pousaram sobre os meus quando ele pegou o cardstock de mim, e eu
reprimi um estremecimento. O homem, cujo crachá se lia Hank, riu de
mim com um sorriso sugestivo aonde faltava mais do que alguns
dentes antes de desaparecer no quarto dos fundos. Presumivelmente
para misturar minha pintura. Ou foi apanhar alguns laços e cordas
que ele poderia usar para me conter e raptar. Foi praticamente um
lance acima, neste momento.

10
O Cardstock é o papel liso geralmente usado como base em páginas de scrapbooking, cartões ou outros
projetos.
Eu estava calculando mentalmente a probabilidade de eu ser
capaz de unhar Hank com a minha frágil - mas oh tão bonita - unhas
quando ele reapareceu, com uma lata de tinta em cada mão. Quando
ele me disse o total, eu joguei algumas notas sobre a bancada e
rapidamente peguei as latas pelas alças. Fui para a porta, nem mesmo
esperando pelo meu troco na minha pressa para fugir do Hank, dos
clientes menos amigáveis, e da atmosfera da loja desconfortável.

"Volte novamente em breve, querida!" Hank chamou atrás de


mim, enquanto eu encostava um quadril para abrir a porta.

"Não nessa vida", murmurei sob a minha respiração. Isso é


demais para o meu plano de apoiar pequenas empresas locais. Da
próxima vez, eu estava indo totalmente ao Home Depot 11, com seus
corredores bem iluminados e infinidade de bonitos meninos
universitários vestidos com macacões laranja, ansiosos para preencher
todas as minhas necessidades. Ok, talvez não todas as necessidades.
Mas, pelo menos aquelas que envolviam pintura e ferramentas.

Eu finalmente consegui empurrar a porta aberta, dando uma


cotovelada em meu caminho para fora e lutando para equilibrar tanto
as tintas e minha bolsa ao puxar as chaves do carro. Eu estava
olhando para baixo, xingando baixinho, quando uma grande mão
fechou sobre a minha e agarrou ambas as latas de tinta antes que eu
pudesse reagir. Assustada, pulei cerca de 30 centímetros no ar e
minha bolsa caiu no chão, explodindo no impacto e enviando tudo, de
absorventes ao meu celular, voando em direções diferentes. Assisti
quando meu brilho labial favorito rolou para debaixo do meu carro e
fora da vista. Os buracos do estacionamento continham várias formas
indistinguíveis e pilhas de lixo, garantindo que eu nunca mais seria
capaz de colocar esse tubo em qualquer lugar perto dos meus lábios.

11
A Home Depot, Inc. é uma companhia varejista norte-americana que vende produtos para o lar (embora não
venda móveis) e construção civil.
"Bem, pelo menos você não gritou desta vez," uma voz rouca e
familiar riu atrás de mim. Cada músculo do meu corpo ficou tenso
com raiva e congelei, ainda de frente para o carro. "Mas falando sério,
Abelhinha, precisamos trabalhar em seus reflexos se você vai para
fazer xixi nas calças de medo cada vez que me aproximar de você. É
isso ou você começa a usar fraldas para adultos, e eu não acho que
isso vai dar certo para mim". Sua voz foi passada com diversão.

Virei, extremamente devagar, para enfrentá-lo. Ou, mais


precisamente, para encará-lo. Desencadeei o meu olhar gelado, aquele
tipicamente reservado para agarradores burros e estupradores que
ficavam um pouco amigáveis demais na pista de dança.

É claro que não teve nenhum efeito sobre ele.

Ele ficou ali, sorrindo como um idiota para mim, parecendo


mais lindo do que nunca. Seus olhos enrugados com humor e algo
menos definido. Os músculos dos braços tonificados estavam em
exposição enquanto segurava as latas de tinta no ar, a pele tatuada de
seu bíceps direito se destacando proeminentemente. Lembrei da
primeira vez que eu vi os espirais pintadas em volta do seu braço -
como eu queria traçar meus dedos ao longo dos padrões. Seguido por
minha língua.

Brooklyn! Recomponha-se! Jesus Cristo.

Tomei uma respiração dura para banir esses pensamentos e


me reorientar para irritada com estava, esperando como o inferno que
ele não tivesse reconhecido a luxúria, que sem dúvida, apenas cintilou
pelo meu rosto.

"Bem, talvez se você PARASSE DE ME ASSUSTAR", eu gritei,


lançando-me em seu espaço, então eu estava quase pressionada
contra ele e repreendendo indignada com uma a sandália: "Eu não iria
gritar ou deixar cair todas as minhas coisas ou perder o MEU BRILHO
LABIAL FAVORITO. Eu amava esse brilho labial, Finn. E agora, ele
está em uma sarjeta. Uma pegajosa, grudenta, sarjeta. E por que você
está aqui? Por que você está sempre aqui? Você está me perseguindo
ou algo assim?"

Seus lábios tremeram com diversão e eu podia dizer que ele


estava tentando desesperadamente não rir. "Você acabou de bater o pé
para mim?" Ele perguntou, os ombros tremendo de alegria mal
contida.

Olhei para ele e puxei meu queixo para cima. Eu não iria
deixá-lo me envergonhar. Eu não iria recuar. E eu definitivamente não
iria continuar a fantasiar sobre beijá-lo até que eu ficasse com falta de
ar e desmaiasse em seus braços.

Merda.

"Eu não acho que já vi alguém com mais de cinco anos de


idade fazer isso", ele engasgou, rompendo finalmente e jogando a
cabeça para trás rindo de mim. Eu lhe bati com força no braço, girei e
inclinei para recuperar alguns dos meus pertences espalhados.

Finn estava enxugando as lágrimas de seus olhos e ainda


rindo quando eu o senti se agachando ao meu lado. Depois foi a minha
vez de segurar o riso, enquanto eu observava Finn Chambers - 'o
próprio deus do sexo mítico e lendário durão - pegando meus
absorventes e os empurrando em minha bolsa como se estivessem em
chamas ou gotejando arsênico. Quando tudo - com a exceção de um
tubo de Sexy Mother Pucker - estava de volta na minha bolsa,
levantamos e nos encaramos.

Eu ainda estava murmurando baixinho sobre caras rudes e a


perda do meu gloss, quando Finn avançou no meu espaço e inclinou
meu queixo para cima, então eu estava olhando em seus olhos.
Palavras morreram na minha língua, meu cérebro ficou em frangalhos,
e tudo que eu conseguia pensar era na noite passada. Minhas pernas
em volta de sua cintura enquanto ele me pressionava na lateral da sua
caminhonete, seus lábios no meu pescoço, sua boca beijando as
lágrimas que caíam pelo meu rosto.

Seus olhos capturaram os meus e os manteve, o desejo


latente que vi queimando neles me disseram que ele estava pensando
sobre a noite passada também. Uma mão lentamente levantou e
acariciou meu rosto, seus dedos deslizando sobre minha bochecha em
uma carícia suave, quase reverente. A outra mão enfiou no meu rabo
de cavalo longo e, com um leve puxão, ele me puxou para mais perto.
Eu fui de bom grado, a minha raiva há muito esquecida.

Sua cabeça abaixou até que sua testa estava descansando na


curva do meu pescoço. Ele respirou fundo e soltou um gemido. "Deus,
você tem um cheiro incrível. Como canela e torta de maçã. Deveria ser
ilegal cheirar do jeito que você cheira."

Deixei escapar uma risada ofegante, que cortei abruptamente


quando senti a língua de Finn lentamente traçar meu pescoço. Tremi
quando seus lábios atingiram meu ouvido e ele puxou o lóbulo com os
dentes. Suas mãos se moveram para os meus quadris e ele me
empurrou lentamente para trás, até que fui pressionada entre seu
corpo e o lado do carro de Lexi.

"O que há com você e carros?" Eu soprei provocando.

Sua cabeça se levantou abruptamente de sua lasciva


apreciação da minha orelha e ele olhou para mim, com os olhos
subitamente sérios. "Tem muito pouco a ver com os carros, e tudo a
ver com você. Não importa onde - Eu sempre vou querer você,
Abelhinha. Toda vez que vejo você, é preciso tudo em mim para não
arrastá-la contra a parede mais próxima e provar sua boca rosa
perfeita." Seu olhar caiu para meus lábios.
Suas palavras enviaram outro arrepio através de mim, e eu
tinha uma súbita compreensão de que, se ele era tão sensual em um
estacionamento público, ele seria uma criatura totalmente
impressionante se - ok, quando - nós estivermos com as portas
fechadas. Minhas coxas se apertaram com esse pensamento e eu me
contorci um pouco sob o seu olhar aquecido.

"Meu próprio homem das cavernas", eu disse lentamente em


um, muito ensaiado, sotaque sulista perfeito que faria Vivien Leigh12
orgulhosa. Ele sorriu maliciosamente e, em seguida, antes que eu
pudesse reagir, sua boca capturou a minha.

Suas mãos suavemente seguraram meu rosto com uma


ternura que desmentia as demandas de seus lábios. Minha boca se
abriu em um suspiro e sua língua procurou a minha imediatamente.
Comecei a responder ao seu beijo, minhas mãos entrelaçando-se para
abraçar seus ombros largos. Quando minha língua acariciou
delicadamente contra a sua em troca, Finn gemeu e se afastou, a
respiração ofegante. Descansando sua testa contra a minha, seus
olhos azuis estavam cheios de paixão.

Ele fechou os olhos e puxou uma respiração profunda através


do seu nariz, tentando se acalmar. Eu sorri, apreciando o efeito que eu
tinha sobre ele, e ele deu um passo atrás para colocar algum espaço
entre nós, como se a nossa proximidade fosse tentadora demais para
ele permanecer no controle.

"O que há com as tintas?" Ele perguntou, a voz áspera


quando ele fez um gesto em direção às latas de tinta esquecida nos
meus pés.

"Eu vou pintar o meu quarto", respondi com um encolher de


ombros casual, como se não fosse grande coisa, como algo que eu

12
Vivien Leigh Atriz inglesa, considerada uma das 50 maiores lendas do cinema.
fizesse todas as semanas. Como se eu fosse uma daquelas garotas -
como Lexi - que passou horas no Pinterest olhando para receitas, a
ideias de artesanato, e as 99 maneiras que você pode "reciclar" jornais
velhos em sua própria linha de moda. Eu nunca fui e nunca seria essa
garota – de planejar meu casamento imaginário com 12 anos de
antecedência e escolhendo paletas de cores para a minha casa de
sonho. Nunca.

Finn levantou uma sobrancelha questionadora para mim,


mas não fez comentários sobre o meu desejo repentino de redecorar.

"Você tem rolos?" Perguntou.

Olhei para ele fixamente por um minuto, em seguida, olhei


para o lado um pouco envergonhada quando percebi que, na minha
pressa para sair do Andler, eu tinha esquecido de pegar pincéis e
rolos. Imaginei que estaria fazendo essa viagem a Home Depot afinal.

"Não", eu disse, cruzando os braços defensivamente sobre o


meu peito, desafiando-o mentalmente a não tirar sarro de mim.
Definitivamente não haveria mais sessões de amassos comigo, se ele o
fizesse, e tenho a certeza que meu olhar lhe disse exatamente isso.

Ele sorriu como se pudesse ler meus pensamentos e, pela


primeira, não me provocou.

Escolha inteligente.

"E sobre escovas? Macacão? Fita adesiva? Panos? Um


aparador? Cartilha?" Ele continuou a recitar materiais para a pintura -
nenhum dos quais eu tinha comprado - até que eu não conseguia nem
lembrar de todos eles. Olhei para ele, perplexa, um pouco surpresa.
Quem sabia que para pintar eram necessários tantos materiais?
"Ok, então talvez eu tenha esquecido algumas coisas",
murmurei, sem olhar para ele. Seu riso abafado trouxe meus olhos de
volta para seu rosto.

"Eu vou encontrá-la em sua casa em poucas horas", ele


suspirou. "Tenho que ir pegar alguns suprimentos."

"Eu não preciso de sua ajuda", respondi automaticamente,


tentando cobrir o flash de ansiedade que tinha rastejado através de
mim com suas palavras. "Você não é meu namorado. E eu não vou lhe
foder como uma recompensa, se é isso que você está pensando."

"Eu ajudei a Ty pintar seu quarto no mês passado e


surpreendentemente, não transei com ele depois", ele rosnou
ameaçadoramente. Seus olhos, que haviam sido cheios de calor
apenas alguns segundos atrás, eram agora cheios de raiva. "E não, não
sou seu namorado. Mas da última vez que verifiquei, eu era seu amigo.
Amigos ajudam uns aos outros - especialmente quando um amigo não
sabe nada no que diz respeito a pintura."

"Tudo bem", concordei, lançando um sorriso mordaz para ele.


"Você pode ajudar."

"Você é a mais enfure-" Ele parou e tomou outra respiração


calmante. Parecia que ele tinha que fazer isso em intervalos quase
constantes quando ele estava ao meu redor. "Eu não sei por que me
preocupo", ele murmurou.

"Por causa da minha personalidade cintilante?" perguntei,


rindo um pouco de sua frustração flagrante comigo.

"De alguma forma, eu não acho que seja isso", disse ele com
ar de dúvida. "Eu estarei em sua casa em duas horas."
Balancei a cabeça em aceitação. Ele estava certo - eu não
sabia nada do que diz respeito à melhoria da casa. Eu poderia usar
toda a ajuda que eu podia receber.

"O que você estava fazendo aqui, afinal?" Perguntei, olhando


ao redor do estacionamento quase vazio. Sua moto estava estacionada
a poucos metros de distancia do carro de Lexi.

"Estava indo para o café", disse ele com um aceno de cabeça


na direção de Maria's, o pequeno lugar que ficava perto de Andler e
que não tinha sido redecorado desde o início da década de 1970. O
estilo retrô caracterizava o restaurante, e acabou por ser um local
popular para as pessoas de ressaca depois de uma longa noite de
festa. As panquecas de abóbora eram lendárias durante a temporada
de outono.

Meu estômago roncou com o pensamento e, lançando um


último olhar de desejo no restaurante, olhei de volta para Finn. Se ele
não estivesse lá, eu teria alegremente comido uma pilha de panquecas
envolta em chantilly e calda. Do jeito que estava agora eu teria cortado
meu pé esquerdo antes de ir para lá agora e comer com ele na frente
da metade do corpo estudantil. Se eu fosse, poderia muito bem pintar
um sinal em toda a minha bunda que dizia "FINN CHAMBERS FODEU
NISSO ONTEM À NOITE," dado todas as fofocas de que nossa aparição
juntos nesta manhã levaria.

Se nós iríamos nos envolver, eu queria um contrato assinado


- possivelmente com sangue - afirmando que ninguém iria descobrir
sobre nós. Minha reputação era suficientemente manchada sem a
adição de um encontro com Finn na lista.

Seus lábios se contraíram em diversão enquanto ele me


avaliava.
"Suponho que você não queira obter panquecas comigo?" Ele
perguntou, com um sorriso jogador em seu rosto.

"Não!" Soltei, minha resposta rápida, denunciando o meu


horror por sugestão de tal encontro. "Quero dizer, eu tenho coisas para
fazer", murmurei, mais suave.

"Certo", ele disse, lábios se curvando em um sombrio sorriso


sexy. Eu queria lançar sobre ele e socá-lo ao mesmo tempo. Ele tinha
plena consciência do efeito que tinha sobre mim. Ele estava me
amarrando em nós - e ele estava gostando, o bastardo presunçoso. "Eu
então vou aproveitar minhas panquecas sozinho. Vou ver você em
poucas horas". Ele piscou, então se virou e entrou no Maria's,
deixando-me com fome, mais do que apenas de café da manhã. Caí
para trás contra o carro de Lexi, drenada da interação.

Porcaria.

Tremendo, coloquei as latas de tinta no banco traseiro e fiquei


atrás do volante. Respirando profundamente, estava determinada a
não deixar Finn ficar sob minha pele. Talvez eu o deixasse sob minha
calcinha, no entanto.

Porra, sou uma vagabunda.

Eu me senti emocionalmente como um yo-yo, rejeitando Finn


um minuto e o beijando no próximo. Queria colocar algum sentido em
mim. Em vez disso, fiz o que faço de melhor empurrei os pensamentos
da minha mente. Liguei o motor, puxei para Main Street e dirigi toda a
cidade para o supermercado. Eu tinha que pegar algumas coisas para
fazer os jantares da semana, repus meu controle de natalidade na
farmácia, e retornei para a loja de fotos para pegar minhas cópias,
antes de Finn chegar ao meu apartamento as duas.

Um olhar para o relógio no painel me informou que já era


meio-dia. Pisei no pedal do acelerador, acelerando o carro de Lexi por
várias luzes amarelas na minha pressa. Eu não queria que ele
chegasse antes de mim em casa. Algo me dizia que ter Finn Chambers
sem supervisão no meu quarto não era uma boa ideia.

***

Eu estava conduzindo meu carrinho pelo corredor do


supermercado, recolhendo itens para a semana, quando meu celular
tocou.

"Olá?"

A única resposta que recebi foi na forma de pesada e


perturbadora respiração.

"Pare. De. Ligar." Rosnei no telefone. "É Gordon?"

Mais respiração.

"Eu não sei o que diabos é isso, mas se você continuar


fazendo ligação eu vou chamar a polícia. Entendeu?"

A respiração parou por um minuto e pensei que a linha tinha


ido caído, mas um rápido olhar para a tela mostrou que ainda estava
ligado. Pouco antes de desligar, ouvi o que parecia ser o riso fraco do
outro lado da linha.

Não era o riso alegre de um menino brincalhão de 12 anos de


idade, sem nada melhor para fazer por diversão; era uma risada
sinistra, ameaçadora e cheia de promessas escuras. A risada de um
homem que eu não conhecia e definitivamente não queria conhecer.

Desliguei a chamada e fiquei congelada no meio do


supermercado. Esta foi a segunda chamada que eu havia recebido. Em
seguida, houve o arranjo de flores mortais que tinha sido entregue no
meu quarto. Poderiam estar conectados? Quem queria me assustar
tanto assim? Poderia ser Gordon, mas eu duvidava que ele levaria as
coisas tão longe. E ele provavelmente não possuía inteligência
suficiente para invadir meu apartamento, sem deixar rastros.

Fiz uma chamada rápida para a delegacia de polícia, pedindo


para falar com o Oficial Carlson. Quando ele respondeu, ele me
garantiu que, por enquanto eles tinham feito tudo ao seu alcance para
descobrir quem tinha deixado as flores, mas que não tinha respostas
para mim neste momento. Depois me dizendo para tomar precauções
extras no bloqueio das portas e janelas, e para chamar se qualquer
entrega mais suspeita aparecesse, ele desligou. Eu deveria contar
sobre os telefonemas, mas rapidamente desisti. Não era como se
houvesse alguma coisa que pudesse fazer para ajudar; De alguma
forma eu duvidava que o oficial barrigudo amante de rosquinha já
tivesse resolvido um caso em sua carreira.

Não quero pensar sobre o meu perseguidor telefônico agora.


Eu tinha o suficiente na minha mente, como o motoqueiro-sexy
chegando na minha casa em - eu olhei para o meu celular - menos de
uma hora.

Porcaria!

Telefonema esquecido, eu corria para frente da loja, pagando


pela minha compra, e estava no meu caminho para a farmácia em
poucos minutos. Agarrando a minha receita, eu fui até a loja de fotos
que era, felizmente, localizada na mesma praça. Minhas fotos estavam
prontas, e pareciam perfeitas. Eu as tinha ampliado para grandes telas
de 24x36 polegadas que enfeitariam minhas paredes recém-pintadas.
Agradeci ao proprietário da loja inúmeras vezes antes de pagar e
arrastar as três grandes telas de fotos para o carro, onde as coloquei
delicadamente no banco traseiro. Sorrindo, corri para casa, ansiosa
para encontrar Finn lá e começar a redecorar.

Embora já fosse tarde quando eu comecei a arrumar as


compras, Lexi ainda estava dormindo profundamente em seu quarto.
Não fiquei surpresa. Se cochilar fosse um esporte nas olimpíadas, a
menina iria levar o ouro para casa cada vez.

Eu carreguei as duas latas de tinta e as três fotos ampliadas


para meu quarto e lancei um olhar avaliador ao redor do quarto. As
únicas peças de mobília eram a minha mesa, cadeira, mesa de
cabeceira, e a cama. Eu lutava para mover a mesa de carvalho pesada
para o corredor por vários minutos até que Lexi apareceu na minha
porta, caneca de café na mão e os olhos arregalados.

"O que você está fazendo?" Ela perguntou, seu olhar se


movendo do mobiliário deslocado para as latas de tinta.

"Estou redecorando."

Ela olhou para mim como se eu tivesse dito que estava


planejando tatuar uma swastika 13 na testa e me juntar a uma seita
que adorava bonecas Cabbage Patch14. "Desculpe? Eu devo ter ouvido
mal. Pensei que você acabou de dizer que, Brooklyn Turner, estava
redecorando seu quarto. A mesma garota que me disse que eu era
proibida, sob pena de morte, de colocar papel de parede e decoração
bonita na sala de estar."

Revirei os olhos. "Você estava querendo colocar uma citação


de parede que dizia ‘viva, ria, ame’ em vermelho, um metro e meio de
altura de letras na parede sobre o nosso sofá. Você seriamente não
previu que eu vetaria essa ideia?"

13
A suástica ou cruz gamada é um símbolo místico encontrado em muitas culturas em tempos diferentes,
como as cruz que representava o nazismo.
14
Cabbage Patch Kids é linha de produção de bonecas de tecidos famosa. Originalmente foram criadas para
serem adotadas e não vendidas, cada uma ia como sua própria certidão de adoção e nascimento.
Ela pigarreou em frustração, tomando outro gole de café e
percebendo que ela não venceria com este argumento.

"Então, como foi a sua noite com o boneco Ken?" Ela


perguntou, mudando de assunto. "Foi tudo o que você sonhou e
mais?" Ela bufou em sua caneca.

"O sarcasmo não é assim... o seu forte, Lex", eu disse,


sorrindo. Voltei para a mesa e comecei a arrastá-la em direção à porta
mais uma vez. "E, na verdade, nada aconteceu com Landon. Voltei
para casa."

"O quê?" Ela exclamou, surpresa evidente em sua voz. "Por


que a mudança de atitude?"

Eu suspirei. "Você vai me ajudar a mover esta mesa?"

"Só se você me disser o que aconteceu com Landon."

"Cadela", murmurei. "Bem. Eu só não era para ele, ok? Ele


era quente, mas eu não podia limpar a minha mente o suficiente para
apreciá-lo."

"Limpar sua mente do que? Ou, eu deveria estar perguntando


de quem?" Ela pressionou.

Eu me virei para olhar para ela. "Antes mesmo de começar,


isso não tem nada a ver com Finn," eu menti.

"Oh, você é tão cheia de merda! Brooklyn Turner tem uma


paixão! Eu não posso acreditar que isso esta acontecendo!" Ela gritou,
dançando no meu quarto e atirando um braço sobre o meu ombro. "Eu
estive esperando anos para que isso acontecesse. E isso é perfeito!
Sempre sonhei de nós namorarmos melhores amigos! Ai meu Deus!
Todos nós devemos ir a esta festa aman-"

"LEXI!", gritei, cortando-a antes que ela pudesse começar a


planejar o nosso casamento duplo, induzindo assim um dos meus
ataques de pânico. "Não há nada acontecendo entre Finn e eu. Nós
somos amigos. A-M-I-G-O-S." Eu soletrei enfaticamente, esperando
que ela me escutasse pela primeira vez.

"Você deixa todos os seus amigos prendê-la contra a lateral de


sua caminhonete e beijá-la como a beijei?" A voz profunda de Finn
perguntou da porta.

Deus caramba. O homem era incapaz de apenas anunciar sua


presença como uma pessoa normal?

Eu gemia.

Lexi girou, espiando-o apoiado casualmente na porta e gritou


feliz. Acho que ela, na verdade, pode ter começado a pular de alegria,
mas eu estava muito ocupada olhando em volta a procura de uma
corda para me enforcar para ter certeza. O pequeno relógio digital na
minha mesa lia 02:05 - ele estava na hora certa, por isso eu não
conseguia nem ficar brava com ele por espionar.

"Sua puta! Não posso acreditar que você estava me vendendo


o essa baboseira de 'apenas amigos'!" Ela bateu no meu braço e olhou
para mim.

"Você não pode bater?" Perguntei, ignorando Lexi e


explodindo um olhar gelado na direção de Finn.

"Eu bati. Ninguém respondeu," ele disse, olhando de volta


para mim. Sua voz era calma, mas seus olhos eram tão tempestuosos
quando perfuraram os meus.

Não, ele definitivamente não estava feliz com o meu comentário


de 'apenas amigos'.

"Você. Detalhes. Mais tarde" Lexi pediu, ainda olhando para


mim. Virando-se para Finn, um sorriso ensolarado atravessou seu
rosto e ela suspirou. "Seja paciente com ela. Ela é emocionalmente
retardada".

Deixei escapar um gemido mortificada e Finn tentou - e não


conseguiu - conter seu riso quando Lexi desapareceu no corredor.
Quando ela se foi, um silêncio pesado caiu sobre o quarto. O peso
parecia elevar no ar quando Finn e olhamos um para o outro, o riso
morreu lentamente de seus olhos. Ele deu um passo em minha direção
para o quarto e eu imediatamente dei um passo atrás, mantendo o
espaço entre nós. Um olhar sombrio atravessou seu rosto e seus olhos
se estreitaram.

Avançando por todo o quarto, ele estava na minha frente em


segundos. Eu tinha recuado até que estava encostada na parede, sem
lugar mais para recuar, e ele imediatamente me enjaulou com os
braços.

"Vamos esclarecer uma coisa", ele sussurrou, o tom sombrio


com algo possessivo e um pouco assustador. "Nós não somos 'apenas
amigos'. Nós nunca fomos e nunca seremos 'apenas amigos'. Então,
pare de distorcer isto em torno da sua cabeça tornando em algo que
não é."

"Você disse que nada tinha que mudar", eu disse


desafiadoramente me recusando a aceitar suas palavras.

"Eu sempre quis foder com você. Você sempre quis foder
comigo. Nada mudou, tanto quanto eu posso dizer", ele disse, com um
sorriso presunçoso cruzando seu rosto.

"Eu não quero foder com você! Você é o mais pretensioso,


presunçoso, arrogante idiota que já conheci. Eu não iria dormir com
você, nem que você fosse o último homem deixado na terra e nós
fossemos sozinhos responsáveis por repovoar o planeta." Meu discurso
inflamado foi cortado abruptamente quando sua boca desceu sobre a
minha.

Eu respondi ao seu beijo instantaneamente, ansiosamente,


em total contradição com as minhas palavras.

Porra! O que eu estava fazendo?

Eu cambaleei para trás e antes que eu pudesse me parar,


minha mão disparou e deu um tapa no seu rosto. Congelei, atordoada
com minhas próprias ações. Era como se a minha mão tivesse agido de
forma independente do meu cérebro. Meu rosto era uma máscara de
choque, meus olhos arregalaram enquanto eu olhava para a marca
carmesim que florescia em sua bochecha. Eu não tinha a intenção de
atingi-lo; Eu queria desesperadamente acabar com o beijo e retomar
algum controle.

Respirando com dificuldade, eu ainda estava a poucos


centímetros do rosto de Finn. Ele parecia igualmente surpreso, mas
seu rosto rapidamente se transformou em algo mais sombrio. "Só por
isso, eu vou fazer você implorar por isso antes de beijá-la de novo",
prometeu, esfregando uma mão para trás e para frente ao longo de sua
bochecha.

"Você vai ficar esperando para sempre."

"Eu já ouvi isso antes", ele disse, um pequeno sorriso


aparecendo no canto da boca. Lembrei-me de repente de outra
conversa que tivemos, depois que ele me salvou de Gordon, quando eu
lhe disse que ele estaria esperando para sempre por respostas sobre o
meu passado. Ele olhou simplesmente para mim e sussurrou: ‘Eu já
estive esperando toda a minha vida.'

Ainda não sabia o que aquilo significava.


"Desculpe-me, por eu dar um tapa em você", murmurei,
levantando uma mão para traçar a mancha vermelha na bochecha.
Sua mão subiu para cobrir a minha, segurando suavemente contra
seu rosto. "Eu realmente estou sendo emocionalmente retardada às
vezes," relutantemente admiti.

"Às vezes?" Finn levantou uma sobrancelha cética para mim.

"Ok, tudo bem, o tempo todo," resmunguei. "Podemos pintar


agora?"

"Claro", ele concordou, saindo do meu espaço. Enquanto eu


caminhava ao redor dele para chegar à mesa, levantei na ponta dos
pés e inusitadamente dei um beijo suave na marca vermelha e irritada
em sua bochecha. Senti que ele sorria quando me afastei e comecei a
puxar a mesa.

Felizmente, Finn era muito mais forte do que eu, e ele fez um
rápido trabalho de mover todos os meus móveis para o corredor.
Minha cama era grande demais para mover, por isso, empurramos
para o meio do quarto, tiramos o colchão, e espalhamos um dos panos
que Finn tinha trazido com ele. Ele também trouxe vários rolos,
primer15 branco, fita de pintura, e macacões brancos que ele insistiu
que ambos vestíssemos.

"Você não pode pintar com isso", ele disse, indicando minha
blusa vermelha em v e capri. Eu já tinha trocado minhas sandálias
para um par de surrados tênis velho.

"Tudo bem", eu disse, agarrando o macacão, uma camiseta


regata e shorts de algodão antes de ir para o banheiro para mudar.
Depois de vestir a regata e os shorts, entrei no enorme macacão
branco. Ele foi projetado para um homem adulto, e era ridiculamente
grande no meu pequeno corpo. A enorme quantidade de tecido, com

15
Spray para acabamento de pintura.
pelo menos 30 centímetros de material extra pendurado para baixo em
cada mão e reunindo mais nos meus pés. Eu enrolei puxando para
cima as mangas e me esforçando para fechar a frente do macacão.
Assim que as minhas mãos caíram para os lados, o tecido extra caiu
de volta para baixo e cobriu minhas mãos.

Isso era inútil; Eu não seria capaz de manobrar meus braços,


e muito menos pintar um quarto inteiro. Marchei de volta para o
quarto, concentrando em não tropeçar no material extra em torno dos
meus pés. Ao ouvir o som do riso sufocado de Finn, fiz uma parada e
dei de ombros.

"Isso não vai funcionar", eu disse, movendo meus braços em


volta do tecido e fazendo círculos no ar. "Eu pareço uma idiota."

"Você está adorável," disse Finn, um olhar suave em seus


olhos quando ele me viu engolida pelo enorme macacão. "Venha aqui",
ele sussurrou, curvando um dedo para eu me aproximar dele.

Atravessando o quarto, tropecei com o tecido agrupado e caí


para frente. Os braços de Finn dispararam para frente ele me pegou
antes de eu bater no chão, equilibrando-me com suas grandes mãos
apoiadas sobre os meus ombros.

"Vamos acertar você", ele disse, agachando-se na frente de


mim e habilmente rolando cada perna da calça longa para eu não
tropeçar. Ele repetiu isso com o material extra de cada manga,
certificando-se que eu tinha completo movimento antes de me liberar.
Um sentimento engraçado construiu em meu peito enquanto ele
ajustava as mangas tão meticulosamente. Havia algo íntimo sobre ele
me vestir, algo que ia além de apenas amigos ou até mesmo amigos
com benefícios. Olhei para o topo de sua cabeça e percebi algo.

Finn realmente se importava comigo.


Não apenas de forma amigável, ou um que do tipo ‘eu gostaria
de saber qual a cor de sua calcinha’. Ele realmente se importava. E isso
não parecia impossível, ou ridículo, ou mesmo aterrorizante. Para ser
honesta, senti-me muito, muito bem.
Capítulo 10
Pintura a Dedo

Nós pintamos.

Liguei The Civil Wars, um dueto indie cuja música ambos


gostamos, e cobrimos as paredes com o primer. A repetição do rolo
atingindo a parede era calmante, e eu me sentia relaxando a cada
minuto que passava, encontrando conforto na monotonia.

Finn começou a cantar junto com a parte vocal masculina e


em pouco tempo, eu, inconscientemente, peguei o verso feminino.
Cantamos e pintamos até que não havia mais paredes na esquerda e o
nobre CD player havia se calado após a faixa final.

"Não sabia que você podia cantar até que eu a vi lá em cima


no palco na noite passada. Pensei que estava tendo alucinações no
início", Finn riu, quebrando o silêncio que havia se estabelecido sobre
nós.

"Nem eu, realmente", respondi, girando em um círculo lento


para ver se tínhamos perdido algum ponto com o primer. Nós teríamos
que esperar um tempo para secar antes de podermos começar cobrir
com os tons de azul que eu escolhi.

"Isso não é o como soava ontem à noite, ou apenas agora",


Finn observou com ceticismo. "Você tem talento. Por que não o usa?"

"Cantar é algo que eu faço só para mim. Eu não faço pelo


aplauso, ou para o público, ou para ser o centro das atenções", eu
tentei explicar. "É como uma saída para mim, eu acho."
Finn assentiu. Isso, ele conseguia entender.

"Por que você estava lá?" Perguntei. Não havia escapado de


meu conhecimento que ele tinha sua própria banda, com fãs reais e
performances regulares; ele não precisava estar cantando em um
microfone aberto à noite. "Não é exatamente como Styx."

"Styx é ótimo para quando eu estou tocando com os caras,


perdendo a compostura", Finn disse, caminhando até encostar em
minha cama tampada. "Mas às vezes, quando eu preciso de um
lembrete do que é importante na minha vida, preciso tocar sozinho e
cantar para mim mesmo. Música é uma das coisas que pode clarear
minha mente."

"Uma das? O que mais funciona?" perguntei, genuinamente


curiosa.

"Sexo". Um dos lados de sua boca se curvou em um sorriso


escuro, e ele balançou as sobrancelhas para mim, brincando. "Não
suponho que você queira me ajudar com esse método?"

Olhei para ele, mas não havia nenhum calor por trás dele.
Seu sorriso se tornou um sorriso amplo, completo com covinha.

"O que é tudo isso? A súbita vontade de pintar?" Ele


perguntou, abruptamente mudando de assunto e apontando para as
paredes pintadas de branco.

"Eu precisava de uma mudança", eu disse, encolhendo os


ombros. "Olhei em volta esta manhã e percebi o quão nua minhas
paredes eram - como vazia minha vida parecia."

Finn largou o rolo e tirou as luvas de plástico de pintura que


cobriam suas mãos. Fazendo o seu caminho até a minha mesa, que
estava no corredor do lado de fora da porta do meu quarto, ele
levantou suavemente uma das telas que eu havia imprimido
anteriormente - a foto de Lexi e eu - e examinou.

"Você está feliz aqui", ele disse, sorrindo enquanto olhava


para a foto. Pegando a segunda tela, a da minha mãe no cais, ele se
calou e seu rosto ficou sério. "Esta é a sua mãe?" Ele perguntou em
voz baixa.

"Como você sabe?"

"Você se parece com ela", ele disse. "Os olhos, o sorriso - nas
raras ocasiões em que você mostra o seu - até mesmo o cabelo. Eles
são iguais."

O calor explodiu em meu peito com o pensamento de que eu


poderia parecer um pouco como a minha mãe. Eu não era como ela de
outras maneiras - não talentosa, ou clemente, ou bondosa. Eu não
possuía o coração aberto ou sua capacidade de amar. Mas se eu
parecia com ela fisicamente, talvez isso significasse que, no fundo,
enterrado sob o meu cinismo, problemas de confiança, o cansaço, eu
tinha um pouco dela dentro de mim depois de tudo. Talvez, se eu
procurasse o suficiente, eu poderia encontrar pedaços seus dentro de
mim.

Finn tinha se mudado para examinar a terceira foto, e ele


parecia triste quando percebeu a visão da menina que eu tinha sido
uma vez, envolvida nos braços da minha mãe. Seus olhos se voltaram
para mim, onde eu me inclinava contra a minha cama olhando para
ele.

"Você não fala sobre ela." Não era uma pergunta.

"Não."

"Eu não quis falar sobre os meus pais por um longo tempo."

"O que mudou?" Perguntei, genuinamente curiosa.


"Eu conheci você."

Isso me deu um tapa. "O que quer dizer, você me conheceu?"

"Você foi a primeira pessoa que eu realmente conversei sobre


a morte dos meus pais."

Minha mente estava cambaleando. Como isso seria possível


se Finn nunca tinha discutido sobre seus pais antes da outra noite no
meu terraço? Tinha certeza, eu nunca falei sobre a minha mãe
também, mas ele parecia muito mais convencido e normal do que eu
jamais esperava ser.

"Você quer - precisa? Conversar, sobre isso?" Perguntei,


tentando acalmar minha difícil respiração. Nossa, eu era terrível nisso.
Eu não sabia como lidar corretamente com a minha própria dor, para
não falar da dor dos outros.

"E você?" Ele devolveu minha própria pergunta, prendendo-


me no lugar com o peso de seu olhar intenso.

Será que eu queria?

"Eu não sei. Às vezes, acho que se eu não falar sobre ela, vai
ser como se ela nunca tivesse existido. Como se ela fosse apenas
alguma invenção idealizada da minha psique, ou um amigo imaginário
que sonhei durante a minha infância. E outras vezes, acho que eu
prefiro não me lembrar de nada sobre ela em tudo, porque, então, não
doeria para caramba. Eu seria livre, normal, como qualquer outra
garota da faculdade. Preocupada com as coisas normais, como
meninos e lição de casa e se vou ser convidada para a festa Sig Ep no
próximo fim de semana."

"Mas eu não penso sobre essas coisas. Eu penso sobre a


morte, perda e dor de cabeça. Eu me pergunto por que as pessoas se
preocupam em se apaixonar, quando elas sabem desde o início que
elas vão se separar um dia - Se por infidelidade ou por distância ou
morte". Respirei fundo, um pouco chocada que eu tinha acabado de
admitir tudo isso em voz alta. "Eu nunca tive o luxo de ser normal,
Finn."

"Normal é chato, Abelhinha. Não é algo que eu desejo para


você." Ele atravessou o quarto até mim, trazendo uma mão para traçar
suavemente a linha da minha mandíbula. "O luto é um chute no peito.
Ele rouba o fôlego, bate com tanta força que você acha que nunca vai
ficar de pé novamente. E não é só porque você está de luto com a
morte ou desgostoso com a perda - você está sofrendo mudanças. Você
está de luto pela vida que poderia ter tido, se ele não tivesse
conseguido foder tudo ao longo do caminho."

Sua outra mão se juntou segurando meu queixo, então ele


estava cobrindo meu rosto com as mãos. Fechei os olhos e virei meu
rosto para descansar em uma das palmas das mãos.

"Você poderia ficar para sempre pensando nas coisas que


você nunca vai experimentar com a sua mãe - infinitamente
contemplando as memórias que ela nunca vai fazer parte. Mas em
algum momento, você tem que deixar a vida que você deveria ter tido
ir, e começar a viver a que você tem", Finn sussurrou.

Lágrimas derramaram sob meus cílios e ele pegou com as


pontas dos dedos antes que elas pudessem cair. Ignorando o fato de
que eu era uma bagunça salpicada de tinta, ele me segurou contra o
peito e os seus lábios vieram descansar no meu cabelo, trazendo-me
conforto enquanto eu tremia em seus braços.

"Deixe ir", ele sussurrou.

E eu fiz.

Depois de um tempo, as minhas lágrimas diminuíram e eu


fiquei muito ciente do fato de que eu tinha acabado de ter um colapso
completo nos braços de Finn. Eu queria correr. Um mês atrás, teria
corrido; Eu teria fugido tão rápido e tão longe quanto possível. Mas
agora, só dei um passo para trás para fora do círculo de seus braços e
limpei as lágrimas dos meus olhos.

"Não sei o que há de errado comigo. Não sou essa pessoa.


Chorei mais nos últimos dois meses do que eu tenho chorado nos
últimos 14 anos seguidos", eu disse, forçando uma risada. "Sinto
muito por desmoronar assim."

"Você não tem que pedir desculpas."

"Eu acho que o primer está seco o suficiente para nós


pintarmos agora", eu disse com uma fungada, caminhando até as latas
de tinta que descansavam no canto do meu quarto. Finn seguiu, em
silêncio, e se agachou ao meu lado enquanto eu balançava a pintura
azul escuro. Ele pegou o tom mais claro de azul e, depois de agitar
completamente, ele usou uma chave de fenda para estourar a tampa e
abrir.

"Então, estava pensando que iria pintar as paredes do azul


cor céu, e em seguida, fazer o teto do azul marinho no crepúsculo," eu
disse, explicando o que tinha imaginado quando retirei o meu esquema
de cores. "Como o céu ao anoitecer."

"Trazer a vista do seu telhado para dentro," Finn murmurou


intuitivamente.

"Algo parecido com isso", eu disse, sorrindo suavemente para


ele. Foi estranho o quão bem ele entendeu meu desarrumado cérebro -
como se estivéssemos na mesma sintonia o tempo todo.

Pintamos as paredes em primeiro lugar. A cor que eu tinha


escolhido era perfeita, como o céu sem nuvens em uma tarde de
outono. Demorou quase duas horas, tempo suficiente para nós
ouvirmos mais dois álbuns completos. Cantamos juntos novamente, e
eu podia sentir a tensão e tristeza residual do meu colapso derretendo.

Estar com Finn era tão natural como respirar. Ele não exige
nada de mim, não queria que eu fosse alguém que não fosse eu
mesma. O tempo passou rapidamente, e eu estava em silêncio grata
por sua insistência mandona de ajudar; teria sido um processo muito
mais lento se eu tivesse que fazer tudo por conta própria.

Enquanto Finn fez uma viagem de volta à sua casa para pegar
uma escada para que pudéssemos pintar o teto, entrei na cozinha, fiz
rapidamente alguns sanduíches de queijo grelhado, e peguei um saco
de salgadinhos de milho. Era bem depois da hora do jantar; já tinha
anoitecido lá fora, e nós tínhamos trabalhado arduamente durante
horas. O mínimo que eu podia fazer era alimentar o menino, depois de
tudo que ele fez por mim hoje.

Nós fizemos uma pausa para o jantar, quando ele voltou com
a escada, mas rapidamente retomamos com a pintura. Lexi tinha
desaparecido, foi ao apartamento de Tyler, e eu nunca fui mais
consciente do fato de que eu estava completamente sozinha com Finn,
no meu quarto. Certo, isto era mais um desastre de local no momento
– mas ainda assim – estar de pé em um espaço fechado, semiescuro
com Finn Chambers e minha cama era quase mais do que eu poderia
lidar.

Não pense sobre ele nu.

Definitivamente não pense sobre nós dois nus.

Definitivamente, definitivamente não pense em nós dois nus na


minha cama.

Quanto mais tempo passava com ele naquele quarto, mais


difícil era para me concentrar na tarefa em mãos. Estar próxima a ele
por horas e completamente incapaz de tocá-lo foi torturante para mim,
mas ele parecia completamente indiferente. Talvez eu fosse a única
que sentiu a tensão crescendo entre nós, enchendo o ar com
promessas não ditas e desejos não expresso.

Ele pintou com uma determinação obstinada que eu não


poderia lidar, evidentemente, com a intenção de terminar o projeto
antes do dia terminar. Meus braços estavam doendo, meus pés
estavam doloridos de ficar em pé durante todo o dia, e eu estava
pronta para chamá-lo para encerrar horas atrás. Entre a escuridão do
quarto, as horas de trabalho manual, e a batalha desgastante que eu
estava tendo com a minha vadia interior - que não queria nada mais
do que atacá-lo e mostrar a minha eterna gratidão por tudo o que ele
tinha feito - eu estava pronta para parar.

"Faça uma pausa", Finn sugeriu calmamente.

"Eu sou assim tão óbvia?" Perguntei. Pensei que eu tinha sido
bem sucedida em esconder meu cansaço crescente, mas,
aparentemente, ele estava mais em sintonia com meu corpo do que eu
tinha imaginado.

"Brooklyn, você está balançando em seus pés. O teto está


praticamente pronto, tudo o que resta a fazer é retocar as
extremidades. Deite-se", ele ordenou, puxando o pano para fora da
minha cama expondo meu edredom. Movi-me para a cama em uma
pressa, realmente exausta. Já passava das dez - estávamos pintando
por quase sete horas.

"Espere", ele disse, deixando cair o pano que estava


segurando e caminhando até mim. Eu parei, estava a vários passos de
distância da minha cama e o vi se aproximando. Ele tinha uma
mancha de tinta em sua testa e outra em seu queixo, lugares que ele
provavelmente tocou distraidamente com as mãos cobertas de tinta.
Seu cabelo escuro estava apontando para cima em mechas rebeldes e
parecia um pouco suado; por alguma razão, achei incrivelmente sexy.
Ele geralmente é tão organizado, seguro de si - Finn parecendo um
pouco desgrenhado era algo que aposto que muitas pessoas não
tinham testemunhado.

Eu sorri com o pensamento.

"Você vai arruinar a sua cama, se você deitar como isso", ele
sussurrou, parando a centímetros de mim. Ele estendeu a mão e
puxou o zíper da frente do meu macacão, arrastando tão lentamente,
minha respiração ficou presa no meu peito. Não sei como ele fez a
remoção do macacão folgado em algo sensual, mas eu não deveria ter
ficado surpreendida. Este era Finn, afinal - ele poderia fazer qualquer
coisa ficar sexy.

Exceto Crocs. Ninguém pode fazer Crocs ficar sexy.

Quando o zíper chegou ao fim de sua jornada, Finn levantou


as mãos e empurrou o material dos meus ombros. Ele deslizou para
fora rapidamente, reunindo em torno de meus pés em uma nuvem
branca e azul-salpicado e me deixando com apenas minha blusa e
bermuda.

"Saia," ele murmurou, tomando uma das minhas mãos em


cada uma dele e me guiando em direção a ele. Meu coração acelerou
no meu peito e senti um enxame de borboletas explodirem em voo no
meu estômago. Olhando fixamente em seus olhos escuros, minhas
mãos encontraram seu caminho até descansar em seus ombros largos.

Seus olhos estavam encapuzados, e imediatamente vi o desejo


que giravam em suas profundezas. Minhas mãos deslizaram de seus
ombros para frente do seu macacão, os resíduos de tinta sobre ele
deixando listras azuis em seu rastro. Quando meus dedos
encontraram o zíper, eles tremeram.
Finn se inclinou lentamente e deu um beijo no oco de minha
garganta. Minhas mãos começaram a se mover, flutuando para baixo e
arrastando o zíper junto com eles. Quando meus dedos traçaram
lentamente a sua barriga, senti os músculos de lá se contraindo e um
sopro de ar involuntário saiu de entre seus lábios.

Quando acabei de deslizar o zíper, coloquei minhas mãos


levemente atrás de seus ombros, tomando o meu tempo para passar
em cada músculo tenso de seu abdômen e no peito. Sua cabeça
levantou da curva do meu pescoço e ele olhou nos meus olhos
enquanto eu gentilmente empurrei o material de seu macacão de seus
ombros. Seus olhos escureceram ainda mais, as íris azul quase
desaparecendo pelo preto de sua pupila.

O material caiu ao redor de seus pés, revelando uma blusa


em v preta apertada e desbotada calça jeans cinza que parecia que
tinha sido lavado um milhão de vezes e se encaixava nele como um
sonho. Ele estava totalmente imóvel, observando-me. Esperando para
ver o que eu faria em seguida.

"Saia", sussurrei, ecoando seu comando anterior.

Com minhas palavras, deu um passo a frente e estava em


mim, invadindo meu espaço completamente e me puxando contra seu
peito. Sua boca caiu contra a minha e levantei automaticamente na
ponta dos pés, determinada para atender ao seu beijo. Eu derramei
todas as minhas frustrações reprimidas desde o dia em que ele me
beijou, deixando meus lábios lhe dizer em termos inequívocos, o que
eu nunca admitiria em voz alta - que eu tinha sofrido sem o seu toque
por horas e não, não podia, ficar mais um minuto sem ter as suas
mãos na minha pele.

Ele gemeu em minha boca, um som que me fez querer fazer


cambalhotas ao redor do quarto, porque me disse que ele estava
sofrendo muito - ele era apenas melhor em esconder isso,
aparentemente. Suas mãos estavam por toda parte, roçando os meus
quadris para cima do meu lado, apenas passando na parte inferior dos
meus seios antes de se afastar para explorar as minhas costas. Seus
dedos levemente traçaram a pele exposta entre o meu top e o elástico
do meu short de algodão fino; e os meus estavam totalmente abrigados
no seu cabelo rebelde na nuca de seu pescoço.

Seus lábios estavam implacáveis, sua língua sem hesitação e


com posse uma vez que entrou em minha boca, como se estivesse
recuperando algo que já era dele. Eu puxei seu cabelo, tentando puxá-
lo ainda mais perto - para aprofundar o beijo.

Eu queria mais.

Suas mãos deslizaram por baixo do meu top e traçaram ao


longo da minha espinha, provocando arrepios que irradiavam através
de todos os meus membros. Eu nunca me senti assim - tão fora de
controle na minha necessidade de possuir alguém. E eu certamente
nunca antes quis ser possuída por sua vez. Mas agora, eu tive que
empurrar todos os meus pensamentos normais sobre o sexo da minha
mente, porque Finn estava invadindo os meus sentidos completamente
e usando toda a minha inteligência. Quando ele estava na minha
cabeça, simplesmente não havia espaço para qualquer um, qualquer
outra coisa.

Eu não era virgem há tempos. Eu gostava de sexo, muito - era


a minha droga escolhida, depois da tequila. Mas isso era diferente. Era
tudo que me consumia. A necessidade, como eu nunca tinha
experimentado, correndo pelas minhas veias e exigindo mais dele.
Suas mãos se moveram novamente, e então minha blusa estava no
chão, e eu estava em pé diante dele, apenas com meu sutiã e short.
Graças a Deus eu tive clarividência suficiente para colocar o
meu sutiã bonito com laço da Victoria Secrets quando me vesti esta
manhã.

"Linda", Finn sussurrou, olhando para mim e arrastando o


dedo em meu lábio inferior. Antes que ele pudesse se afastar, eu dei-
lhe uma mordida brincalhona com os dentes e, em seguida, tracei
minha língua levemente no seu dedo.

Ele soltou outro gemido gutural, e me puxou contra ele


novamente com o meu peito quase nu alinhado com o seu. Minhas
mãos deslizaram para baixo de seus lados e encontrei a barra inferior
da sua camisa, puxei com impaciência quando percebi que eu era
muito pequena para levantá-la sobre sua cabeça.

Ele riu sombriamente e se inclinou levemente na cintura,


levantando seus braços para que assim a camisa pudesse deslizar
para fora. Descuidadamente a joguei ao meu lado sem me importar
com meu alvo, e vi como a blusa em v preta caiu em uma lata de tinta.

"Essa é a segunda camisa minha que você arruinou", ele


resmungou no meu ouvido, pressionando beijos ao longo do meu
queixo.

"Tenho certeza que vou pensar em uma maneira de fazer as


pazes com você", eu sussurrei, ofegando quando sua boca se moveu
sobre um ponto particularmente sensível debaixo da minha orelha.

Antes que eu pudesse reagir, fui levantada no ar, embalada


nos braços de Finn como se não pesasse mais que uma pena, e
gentilmente colocada em um dos panos manchado de tinta que
cobriam meu piso de madeira. Eu podia sentir um pouco da umidade
da tinta deslizando sobre minhas costas nuas quanto ele me deitou,
mas rapidamente me esqueci, quando ele se estabeleceu em cima de
mim, com um braço apoiado em ambos os lados da minha cabeça e as
pernas nas minhas.

Ele me beijou de novo, e eu me pressionei nele para que os


nossos copos estivessem se tocando, pele com pele. Minhas mãos
envolveram em torno de suas costas e explorei seus músculos sólidos,
traçando seus movimentos fluidos com as pontas dos meus dedos. Eu
usei o meu domínio sobre suas costas para alavancar a mim mesma,
sentada embaixo dele. Ele levantou-se comigo, inclinando-se de joelhos
e de alguma forma nunca separando a boca da minha quando nós
mudamos.

Nós estávamos olho no olho, a nossa respiração irregular


quando olhamos um para o outro. Ele se acalmou quando seus olhos
piscaram para baixo e ele notou a cicatriz que manchava minha
clavícula, seus olhos nublaram com mais emoções do que apenas
luxúria; algo mais sombrio, mais forte, mais assustador encheu seus
olhos quando viu a marca que a minha infância tinha deixado para
trás, mas foi temperada por uma ternura que fez meu coração parar.
Ele estava com raiva de quem tinha me machucado. Ele não sabia
quem, ou o quê, ou quando tinha acontecido, mas eu podia dizer
baseada na tempestade por trás daqueles olhos azuis lindos que ele
odiava a ideia de me ver sangrar por qualquer motivo.

Alguém examinando minhas imperfeições tão intimamente


deveria ter me envergonhado, e provavelmente teria - exceto que era
Finn. Ele não olhou para mim com pena ou nojo; ele não vacilou ou fez
perguntas de sondagem. Em vez disso, ele se inclinou e beijou
delicadamente a cicatriz, como se traçando com os lábios faria
desaparecer, e tiraria as memórias dolorosas que eram um tributo
permanente.
Eu queria chorar. Nenhum dos caras que eu dormi no
passado, já tinha notado a minha cicatriz, e muito menos tentou beijá-
la para tornar isso melhor para mim. Uma pontada de saudade
atravessou o meu peito, que eu não entendia e não queria entender
naquele momento - não quando havia um belo, seminu Finn ajoelhado
a centímetros de distância.

Tomando-o de surpresa, eu me lancei em seu peito e o


derrubei para trás. Ele caiu de costas comigo esparramada por todo o
seu corpo, minhas mãos plantadas em seus ombros. Nosso
deslocamento tinha derrubado uma das latas de tinta que tínhamos
usado antes, e houve uma súbita onda de líquido vazando em todo o
pano e em nossos membros emaranhados.

Eu ri quando Finn percebeu o que tinha acontecido,


mergulhei minha mão direita em uma poça de tinta perto de sua
cabeça e, em seguida, espalhei meus dedos em seu largo peito nu.
Quando puxei minha mão, havia uma marca de mão azul perfeita
sobre o seu coração, como algumas pinturas de guerra tribal louca. Eu
ri com o olhar surpreso que surgiu em seus olhos, mas o meu riso
interrompeu-se abruptamente quando seus olhos se estreitaram em
uma promessa de retribuição.

"Não", meio que implorei, tentando segurar mais risadinhas


enquanto o observava examinar seu peito decorado. Seus olhos se
voltaram para os meus e num piscar de olhos, ele estava sentado, com
as minhas pernas montando seu colo. Estávamos pressionados perto,
nariz com nariz.

"Oh, você me pediu isso", ele disse, sorrindo maliciosamente


enquanto uma mão sorrateiramente foi nas minhas costas e tirou meu
sutiã com uma rapidez que só era possível com anos de prática.
Estava tão preocupada com meu sutiã desaparecendo, que
não tinha percebido o que sua outra mão estava fazendo até que fosse
tarde demais. Quando sua mão direita puxou cada alça do meu sutiã
para baixo do comprimento dos meus braços e o jogou no chão ao meu
lado, a esquerda – tinha tinta gotejando – arrastou em toda a minha
clavícula e entre o vale dos meus seios agora expostos.

Assisti, hipnotizada, seus longos dedos habilmente rodando a


pintura em padrões azuis em toda a minha pele. Os dedos dele
correram para baixo para o meu estômago, circulando suavemente e
desenhando um anel azul perfeito ao redor do meu umbigo. Teria rido
se eu não estivesse tão incrivelmente excitada.

Isso dá um novo significado para pintura a dedo.

Meus próprios dedos mergulharam de volta na tinta ao meu


lado, e eu comecei a pintar o seu corpo em espirais de cor enquanto eu
explorava em contrapartida, criando um labirinto de azul que
combinava com o meu próprio.

Seus dedos pareciam fogo, pois elas arrastaram ao longo da


minha pele, queimando um caminho do meu estômago até o topo da
minha bermuda. Minhas mãos se acalmaram em seu peito e minha
barriga vibrou quando as pontas dos dedos deslizaram sob o elástico,
seguindo a faixa ao redor das minhas costas. Com as mãos
enganchadas meio dentro do meu short, ele me puxou contra ele. Senti
o ar deixar meus pulmões em um assobio quando o ápice das minhas
coxas roçou sua excitação pela primeira vez - mesmo através de seu
jeans, eu podia sentir o quanto duro ele estava por mim. Um som que
podia ter sido um gemido escapou antes que eu pudesse impedir.

Eu nunca tinha estado tão fora de controle antes; sexo


sempre foi uma dança bem coreografada, uma sequência pré-
determinada de ações com uma conclusão estabelecida. Isso era
diferente - era selvagem, espontâneo. Finn não estava jogando por
qualquer das minhas regras; ele tinha abandonado as etapas
completamente.

E eu adorei.

Minhas mãos tremiam enquanto eu procurava o botão da sua


calça jeans, e ele as capturou dentro de sua própria, travando o meu
progresso.

"Ei," ele sussurrou, usando seu nariz para cutucar o meu


rosto, até então estávamos olhando nos olhos um do outro. "Nós não
temos que fazer isso, você sabe."

Esperei um instante, vendo a sinceridade que irradia do seu


olhar e sabendo que se eu pedisse, ele iria esperar o tempo que
demorasse para eu estar pronta.

"Nós realmente temos", eu disse resolutamente, estendendo a


mão para o zíper de sua calça jeans novamente.

"Eu estava esperando que dissesse isso", ele sorriu contra a


minha boca; Eu não pude responder por que ele estava me beijando
novamente.

Em poucos segundos, ele me livrou dos meus shorts e


calcinha, e eu estava lutando para puxar sua calça jeans e boxers para
baixo de suas pernas. Ele chutou para fora com impaciência, e então
ele estava em cima de mim de novo, sua boca fundida com a minha.
Com um joelho, ele cutucou delicadamente minhas pernas e se
estabeleceu no espaço entre elas.

Eu sabia que, naquele momento, a minha vida estava prestes


a mudar de forma irrevogável. Eu vi a mudança que vinha - eu estava
de pé no meio dos trilhos assistindo enquanto o trem se abatia sobre
mim. Eu podia ter saltado da pista. Eu até poderia ter tentado fugir da
maldita coisa, sabendo que isso era inútil, mas ainda concentrada em
fazer uma tentativa de escapar.

Eu não fiz nenhuma dessas coisas.

Olhei para Finn e eu sabia que isso iria mudar tudo, não só
entre nós, mas para mim como pessoa. Por anos, eu tinha usado o
sexo como nada mais do que uma tática de evasão - uma maneira de
calar a meu luto e enterrar a dor. Era uma fuga; com o meu corpo
envolvido, minha mente estava, pela primeira vez, em repouso.

Isso era diferente - eu sabia em minha alma, profundamente


no âmago dos meus ossos, na essência do meu próprio ser.

As palavras de Finn de mais cedo voltaram para mim.

Em algum momento, você tem que deixar a vida que você


deveria ter tido ir, e começar a viver a que você tem.

Ele estava certo.

Agora, quando ele traçou suavemente meu rosto com as


pontas dos dedos - deixando sem qualquer dúvida listras azuis ao
longo de minha maçã do rosto - percebi que eu estava pronta para
começar a viver.

Eu me inclinei e o beijei, tentando lhe dizer isso com meus


lábios.

Ele sempre foi bom em ler minha mente.

Engoli em seco quando ele deslizou para dentro de mim,


todos os pensamentos fugiram enquanto eu tentava me ambientar à
sensação do toque dele. Conforme ele balançava em mim, os olhos dele
presos nos meus, eu me encontrei com ele impulso por impulso e
espiralei lentamente em direção ao esquecimento, meu mundo ficou
difuso em torno da borda. A única coisa em foco era o homem coberto
de tatuagens por cima de mim, que estava olhando em meus olhos de
esmeralda com um olhar de incredulidade arrebatadora, como se ele
não conseguisse acreditar que aquilo estava acontecendo.

Minha própria mente rodou com o mesmo êxtase turbulento,


cambaleando na intimidade absoluta do momento. Eu quase queria
desviar o olhar de seus olhos, para quebrar a conexão emocional entre
nós, para voltar a fingir que isso não significava nada. Mas eu não
podia - Finn não me deixou. E mais importante, eu não iria me deixar.

Com nossos olhos espelhando pensamentos que nenhum de


nós nunca tinha manifestado, deixamos o mundo desaparecer e
caímos totalmente um no outro.

Nós estávamos cobertos de tinta - vivendo, respirando arte -


entrelaçados e sem fôlego e pesos um no outro. Cobertos em azul da
cabeça aos pés, uma obra-prima de membros, ficamos deitados
entrelaçados no meu chão e por um único momento no tempo, as
criaturas individuais chamadas Finn e Brooklyn deixaram de existir.
Nós simplesmente não éramos mais nós, éramos uma forma, um ser,
ligado nas mais primitivas das danças. Nossas defesas destruídas em
uma elegante concessão, uma troca igual de respirações e carícias e
pensamentos e vulnerabilidade, que iria alterar tudo.

Depois disso, ficamos abraçados sem falar - como se nós dois


temêssemos o que poderia vir em seguida e não sabíamos bem como
quebrar o silêncio. Tinha sido íntimo - chocante assim. Eu nunca
tinha experimentado nada como isso antes, então eu realmente não
entendo o protocolo. Normalmente neste momento minhas roupas
estariam meio caminho de volta e eu estaria andando lentamente em
direção à porta, preparando-me para uma partida rápida e sem deixar
endereço de encaminhamento no meu despertar. Mas, por enquanto,
eu apenas deixei Finn me segurar no círculo de seus braços e tentando
não ficar tensa ou fugir.
Eu nunca me importei muito com o que um cara podia estar
pensando depois do sexo - geralmente, eu simplesmente presumia que
ele estava feliz por ter conseguido um pouco de ação e não queria falar
mais do que eu fiz. Mas naquele momento, eu teria desistido de cafeína
por um mês - ok, não um mês, que seria torturante... talvez uma
semana - para saber o que estava passando pela cabeça de Finn.

Eu realmente não queria ser aquela garota - você sabe, a


única que não saberia desfrutar direito sua aventura pós-orgástica,
por que ela é tão ocupada dissecando o que o sexo significa, ou como
isso muda as coisas? O pós-coito, o excesso de análise, bagunça
neurótica?

Porcaria. Eu estou me tornando essa menina.

E o que devemos fazer agora? Abraçar? O pensamento era tão


incompreensível, tão estranho, que eu não sabia o que fazer com ele.
Então, por costume, empurrei de minha mente e decidi não mais
pensar. Tentei forçar meu corpo a relaxar no peito de Finn e deixei
meus olhos derivarem fechados

Eles rapidamente abriram quando senti o peito de Finn


estrondar debaixo da minha bochecha. Ele estava rindo?

Risadas agora estavam escapando dele.

O bastardo estava rindo!

Apoiei-me em um cotovelo e olhei para baixo em seu rosto.

"Você está se divertindo com isso?" Eu acusei mordazmente.


Nenhum cara nunca tinha rido depois de fazer sexo comigo.
Aconteceram desentendimentos "acidentais" em lugares que eles
sabiam que eu estaria? Sim. Riram de mim? Não. Eu era boa na cama
- isso era inédito.
Sua risada diminuiu um pouco, e ele conseguiu dizer para
fora: "Sim, a quantidade de analise que está fazendo agora em sua
mente é muito divertido. Se o seu cérebro estiver prestes a implodir ou
algo assim, um aviso seria bom."

"Desculpe?" Olhei para ele um pouco mais. Ele parou de rir e


trouxe uma mão para passar na minha testa, seus olhos azuis se
encontraram com os meus.

"Eu posso literalmente sentir você surtando e se preparando


para fazer uma corrida", ele disse, rolando para o lado, para deitarmos
cara a cara.

"Como?" Eu não gostei do fato de que ele podia me ler tão


bem.

"Porque todos os músculos do seu corpo estão tensos e seu


rosto se parece exatamente como o meu depois que eu durmo com
uma garota e estou tentando pensar a forma mais eficaz, menos
dramática para eu sair de sua cama."

Eu lhe bati no braço e empurrei minha cabeça para fora de


seu alcance, recusando a encontrar seus olhos depois do comentário.
Era realmente como meu rosto parecia? Pior, era esse o olhar em seu
rosto agora? Eu não conseguia olhar para ele - eu iria felizmente viver
no escuro, sem saber a resposta a essa questão, desde que isso
significasse que a particular insegurança não fosse confirmada.

"Brooklyn", ele disse, virando meu rosto relutante para trás


para olhar para ele. Tentei lutar contra seu alcance, mas lhe negar
qualquer coisa era quase impossível quando aqueles olhos azuis
estavam trancados em mim. "Você não conseguiria ficar de pé antes de
eu ter você de volta aqui comigo."

"Isso é ridículo! É o meu quarto!" Eu bufei. "Se alguém está


saindo, é você."
"Abelhinha, faça-me um favor?" Perguntou Finn, ignorando as
minhas queixas. "Pare de pensar."

Abri a boca preparada para resmungar. O babaca arrogante


não só falou sobre as outras meninas que ele tinha pegado no
passado, quando tínhamos acabado de fazer sexo - que violou apenas
cada regra de menina no planeta - mas também falou sobre o pânico
iminente – o que violou apenas cada regra de Brooklyn no planeta. Eu
odiava que ele estava certo.

Antes que eu pudesse dizer uma única palavra, no entanto,


ele se inclinou e me beijou com firmeza - um beijo sem sentido, o tipo
deliberado de beijo que me disse que ele sabia tudo o que estava
acontecendo em minha mente e não dava a mínima para isso. O beijo
foi mais curto do que eu gostaria; assim que eu estava começando a
beijá-lo de volta, ele se afastou e deu um rápido beijo na minha testa.

"Olhe para nós", ele murmurou, os olhos cheios de alegria


quando ele lentamente examinou nossos corpos cobertos de tinta.
Olhei para as manchas de tinta revestidas em nossos membros e não
pude deixar de rir. Pequenas impressões digitais redondas azuis em
seus antebraços, marcando os lugares que eu tinha agarrado; havia
marcas de mãos sujas em torno de meus quadris e coxas, onde ele
segurou meu corpo contra o dele.

"Uma obra de arte", ele sussurrou, traçando um dedo azul ao


longo da curva do meu peito.

Meus olhos encontraram os dele e de repente eu não


conseguia respirar, vendo as emoções trancadas em suas profundezas.
Era notável a forma como eles eram expressivos, a rapidez com que
eles poderiam variar de lúdico para sensual para afetuoso, e agora,
eles estavam cheios de um olhar tão suave, tão amoroso, quase tive
um ataque de pânico ao vê-los.
Não era um olhar que você dá a um caso de uma noite. Não
era um olhar de 'apenas sexo'. Era uma espécie de olhar 'para sempre'.
Desesperada para voltar para as águas mais seguras, eu deslizei em
seu peito e comecei a levantar.

"Vamos lá", eu disse, pegando sua mão e tentando puxá-lo


comigo. Com um puxão, ele me puxou de volta para baixo e eu deitei
em seu peito com um grito de protesto.

"Onde você pensa que está indo?" Perguntou.

"Bem, caramba, homem das cavernas - Eu ia sugerir em


tomar um banho e limpar um ao outro..." Eu falei. "Mas se você
preferir ficar aqui sozinho, isso está bom para mim, eu acho." Eu sorri
maliciosamente para ele, nossos rostos apenas centímetros de
distância.

Ele sentou mais rápido do que eu teria pensado possível e de


repente me pegou em seus braços, caminhando em direção a porta do
meu banheiro. Eu ri de sua impaciência quando ele mais ou menos
abriu a minha cortina do chuveiro e entrou na banheira. Em poucos
segundos, a água estava caindo sobre nós, e eu ofegava, tanto pela
temperatura gelada quanto pelas torrentes de tinta azul que foram
saindo da nossa pele e que caíam para baixo no ralo do chuveiro.

"Finn! Vire a alavanca! Está congelando!" Eu pedi, tremendo


enquanto a água ártica caía sobre nós. "Não, vire para a esquerda!
Jesus!"

Ele estava rindo, aninhando-me em seu peito com um braço e


brincando com os controles de chuveiro com o outro.

"Isto era pra ser supostamente sexy", resmunguei, rindo com


a situação ridícula. "Nos filmes, a água nunca é muito fria, o chuveiro
é sempre grande o suficiente para duas pessoas, e eles nunca estão
cobertos de tanta tinta que a banheira terá um leve brilho azul por
toda a eternidade."

Finn finalmente encontrou a alavanca certa e a água começou


a esquentar. Seu outro braço voltou a me segurar contra ele, e os seus
lábios roçaram os meus. Eu podia sentir cada contorno de seu corpo
pressionado duramente contra mim, e de repente percebi que
estávamos, de fato, muito nus. Parei de falar quando seus lábios
capturaram minha boca, e depois de alguns momentos tentadores ele
se afastou para olhar a minha expressão atordoada.

"Você estava dizendo?" Ele sussurrou, divertido.

Eu não conseguia lembrar o meu próprio nome, e muito


menos qualquer que seja o absurdo eu estivesse jorrando menos de
um minuto antes. Claramente, eu não tinha ideia do que eu estava
falando – banho com Finn nunca poderia ser qualquer coisa menos
que sexy.

Colocando-me para baixo para ficar em meus próprios pés,


ele gentilmente esfregou minha pele com meu sabonete corporal,
removendo todos os vestígios da tinta do meu corpo em uma lenta
leitura sensual. Depois de ele ter lavado meus cabelos, massageando
meticulosamente cada onda escura até que eu estava quase
ronronando como um gatinho, eu o obriguei a curvar-se para que eu
pudesse retribuir o favor e lavar o seu cabelo indisciplinado. Nós
relutantemente saímos do chuveiro apenas quando a nossa pele não
estava mais cheia de tinta e a água tinha ficado tão fria que eu tinha
começado a tremer.

Finn desligou a água e agarrou uma das minhas grandes e


macias toalhas verdes, colocou em torno de mim como uma mortalha
antes de me pegar em seus braços e me levar para fora do banheiro.
Ele me deixou sem a menor cerimônia na minha cama e deslizou atrás
de mim. Puxando o edredom por cima de nós, Finn ajustou meu corpo,
então ficamos de conchinha, minhas costas pressionadas totalmente
contra sua frente e cada curva do nosso corpo ainda molhado
perfeitamente alinhado.

"Estamos seriamente de conchinha agora? Conchinha com


Finn Chambers?" Eu provoquei.

Finn ficou em silêncio por um minuto, respirando


tranquilamente no meu cabelo úmido, e eu mais uma vez me encontrei
desejando que eu pudesse saber o que ele estava pensando, ou mesmo
ver a expressão em seu rosto. Quando ele finalmente falou, sua voz
falhou com emoção contida.

"O Finn Chambers não fica de conchinha a menos que seja


com Abelhinha Turner," ele sussurrou, tão baixinho que eu quase não
o ouvi. Eu não poderia evitar - meu coração parou no meu peito com
as suas palavras. Ele me fez sentir especial, como se tudo isso fosse
uma primeira vez para ele também. Como se ele me quisesse para algo
mais do que apenas o meu corpo.

Quando ele dizia coisas assim, era impossível afastá-lo -


mesmo que uma grande parte de mim ainda quisesse. Normalmente,
eu teria travado uma luta sobre um cara tentando ficar de conchinha
comigo - era demasiado íntimo, muito carinhoso, para o meu gosto. No
passado, eu nunca sequer trouxe um cara de volta para o meu
apartamento, e muito menos lhe permitia dormir na minha cama
depois. Eu sempre escolhia especificamente acompanhar os caras para
as suas casas para o sexo, ao invés de trazê-los aqui.

Eu não queria que eles soubessem onde eu morava, como o


meu quarto parecia. Eu não queria que eles me conhecessem, de
forma alguma, exceto a forma mais básica, física como duas pessoas
podem conhecer um ao outro. Como regra geral, eu tinha feito todo o
possível para desencorajar a futura interação de carinho.

No momento, porém, eu estava muito cansada e muito


satisfeita para discutir com Finn sobre o nosso arranjo para dormir.
Silenciando a pequena parte do meu cérebro que estava gritando sobre
os limites e os perigos de compromisso, eu sorri e fechei os olhos.
Derretendo no caloroso abraço de Finn, eu estava dormindo dentro de
minutos.
Capítulo 11
Imbecil Narcisista

Saindo para a varanda, a minha pequena mão escorregou em


sua maior imediatamente. Ele estava lá nos degraus, assim como ele
tinha estado todas as noites desde a primeira vez que nos conhecemos -
a noite em que ele me contou a lenda de Andrômeda.

Meus olhos procuraram o dele, e quando eles se encontraram


eu fui consolada pela primeira vez durante todo o dia. Ele era a única
coisa que tornou o abrigo suportável; quando ele me contava histórias ou
simplesmente segurava minha mão e falava comigo, eu podia esquecer
as meninas mais velhas e os comentários provocantes. Eu podia
esquecer sobre o homem mau, os policiais, o hospital, e até mesmo sobre
a mamãe.

Não é que eu queria esquecê-la. Eu perdi tanto dela - muito.


Quando ele me contou histórias, porém, eu podia fingir que nada tinha
acontecido. Quando eu saía do meu quarto, com medo depois de um
pesadelo, ele estava sempre lá para me fazer sentir melhor. Nessas
noites, ele me contava histórias tolas, contos para me fazer rir ou sorrir,
e eu não era uma órfã mais; Eu estava de volta no meu quarto de
princesa, cercada por bravos cavaleiros e fadas mágicas. Eu estava em
um mundo de magia e finais felizes, onde coisas como assassinato e
morte eram impossíveis. Onde mamães não eram levadas para o céu
quando suas meninas precisavam delas.
"Oi, Brooklyn", ele disse, um pequeno sorriso em seus olhos
tristes.

Não respondi, simplesmente olhei para ele. Eu ainda não


estava falando - não com a minha mãe de criação, não com as outras
crianças, nem mesmo com a senhora que se chamava "terapeuta" e
vinha duas vezes por semana para me ver.

Eu sabia que eles queriam. Às vezes, os adultos ficavam com


raiva de mim - embora houvesse sorrisos em seus rostos, eu podia ver a
frustração em seus olhos e a ouvia em sua voz quando falavam comigo.
As outras crianças não ficam com raiva – elas apenas diziam.

Exceto por ele.

Ele nunca gritou, ou provocou, ou tentou me fazer falar. Ele só


me contava suas histórias, eu segurava sua mão e esquecia. Às vezes a
gente apenas sentava na escuridão, olhando para o quintal ou para o
céu a noite toda juntos.

"Brooklyn, olhe" ele sussurrou, apontando para a escuridão,


em direção à grama alta na parte inferior do quintal.

Olhei para ele interrogativamente; Eu não vi nada de anormal


no quintal.

"Vaga-lumes."

Eu me virei e olhei para a noite, tentando pegar um vislumbre


deles. Eu só tinha visto uma vez antes, no início do verão. Mamãe e eu
tínhamos ido a um piquenique no nosso parque favorito, uma noite, e
quando o sol começou a descer tínhamos visto centenas de pontos
incandescentes voando ao redor de nós. Mamãe tinha rido e disse que
talvez eles fossem realmente fadas, como Tinkerbell, e se alguns de
seus pós de fadas caíssem sobre nós poderíamos voar para longe
também.
Mamãe tinha voado para longe, depois de tudo - mas ela não
tinha me levado com ela.

O menino começou a me contar uma história sobre o momento


em que o herói Perseu matou um monstro chamado Medusa - uma
mulher tão feia que seu cabelo era feito de cobras e seu olhar
transformava as pessoas em pedra. Eu gostava de ouvir o som de sua
voz. Ele ainda era um menino, mas sua voz era mais profunda do que
das outras crianças do lar adotivo - um pouco rouca e tão diferente da
mamãe. Sua voz soava como música o tempo todo, se ela estava
cantando ou falando ou gritando.

Eu esperei até que ele terminasse sua história, observando os


vaga-lumes como eles teciam entre as ervas altas. Quando ele se calou,
eu olhei para ele com expectativa.

"O quê?" Ele me perguntou, como se ele não soubesse


exatamente o que eu queria. Ele sabia, ele só queria que eu perguntasse
para ele. Olhei para ele, esperando - assim como eu tinha feito todas as
outras vezes que ele esqueceu de dizer o final.

"Ah, tudo bem", ele suspirou. "'E assim, depois de Perseu


decapitar Medusa, houve celebração em toda a terra e todos viveram
felizes para sempre.’ Feliz agora?" O rapaz revirou os olhos para mim.

Eu estava feliz. As histórias não eram terminadas sem os


felizes para sempre, todo mundo sabia disso. Mamãe sempre disse que
era a parte mais importante de qualquer conto de fadas.

Eu sorri.

"A vida real não é como as histórias, Brooklyn", disse o menino,


com um triste olhar por trás de seus olhos. Às vezes, quando ele estava
me contando uma história, seus olhos se perdiam nesse olhar - mas
sempre voltavam eventualmente. "Não existe nenhum cavaleiro de
cavalo branco ou sapatos de vidro ou uma segunda chance", ele
sussurrou para a noite, sem olhar para mim. "As pessoas não acordam
depois de comer maçãs envenenadas. Elas não vivem de novo depois de
uma bruxa mal amaldiçoa-las. Elas simplesmente morrerem."

Olhei para o garoto com os tristes olhos azuis, e eu o vi - ele


não era mais uma criança. O que quer que tenha acontecido com ele,
tudo o que o trouxe aqui para viver no lar adotivo, o fez parar de
acreditar em felizes para sempre.

Queria dizer a ele que eu entendia. Reconheci o olhar triste em


seus olhos - eu tinha visto isso no meu próprio olhar cada vez que me
olhei no espelho. Eu sabia por que ele pensava dessa forma; ele estava
protegendo a si mesmo.

Às vezes, era fácil me sentir triste ou irritada sobre o que tinha


acontecido com a mamãe, mas então eu pensava em todos os contos de
fadas que ela me contou. Em todas essas histórias, as princesas
tiveram momentos em que pensou que nunca iriam conseguir os seus
finais felizes, ou os bandidos que ganhariam. Mas, eventualmente, os
dragões tinham morrido, os príncipes chegaram para o resgate, e as
princesas conseguiam seus felizes para sempre.

Eu queria dizer a ele que Cinderela não tinha acreditado tanto,


até que sua fada madrinha apareceu na noite do baile. E, claro, a
Branca de Neve teria ficado morta, se o Príncipe Encantado não
acreditasse no poder do beijo do amor verdadeiro.

Eu queria fazê-lo acreditar que poderíamos ter finais felizes


novamente, mesmo em um mundo sem as mamães ou papais para
cuidar de nós.

Mamãe costumava me dizer, "Abelhinha, um homem muito


inteligente chamado John Lennon disse uma vez: 'Tudo vai ficar bem no
final. Se não está tudo bem, não é o fim'. Lembre-se, querida. Guarde e
mantenha isso com você quando você tiver um dia ruim." Então ela
beijava minha testa e me abraçava, seus longos dedos fazendo cócegas
no meu lado e provocando uma risada.

Escorreguei uma mão para trás na sua e apertei.

"Você pode me chamar de Abelhinha", sussurrei, minha voz


trêmula quando eu a usei pela primeira vez em meses.

Não era o que eu queria dizer, mas era um começo.

Sua cabeça virou ao som da minha voz e quando ele olhou


para mim, houve surpresa, não tristeza, em seus olhos.

"Abelhinha", ele sussurrou de volta, sorrindo.

***

"Abelhinha", Finn sussurrou, balançando-me acordada.


"Vamos lá, amor, acorda. Você está tremendo. Acho que você está
tendo um pesadelo."

Abri os olhos e olhei para ele. Ele estava debruçado sobre


mim, lindo com o luar fraco escorrendo pela janela no final da minha
cama. Seu cabelo estava desgrenhado, sua voz era áspera com o sono,
e os olhos cansados foram lentamente limpando e ficando alerta.
Nossos membros ainda estavam entrelaçados; durante o sono eu tinha
virado para descansar minha cabeça em seu peito, com um braço
jogado em seu abdômen e perna direita ligada sobre sua coxa. Ele
tinha uma mão enrolada ao redor minhas das costas, segurando-me
firmemente contra o seu lado, e a outra descansando no meu quadril.

Normalmente eu era uma dorminhoca ativa. Meus pesadelos


eram sempre vivos e eu me arremessava e virava enquanto estava
presa em meus pesadelos, acordando sempre com meus lençóis em
um emaranhado nas minhas pernas. Parecia que hoje à noite com
Finn, porém, eu estava felizmente imóvel, pressionada contra seu calor
até que ele me acordou.

Quando meu olhar encontrou o dele, um olhar suave


substituiu a ansiedade que encheu seus olhos e as linhas de tensão
começaram a diminuir do seu rosto.

"Ei," ele sussurrou, trazendo uma mão para tocar meu rosto.
"Você está bem?"

Lembrei-me do meu sonho - não era assustador, apenas


confuso. Eu não tinha certeza aonde essas memórias foram
armazenadas, ou por que elas tinham começado a ressurgir agora,
tantos anos depois. Talvez entre as minhas sessões de terapia com
Dra. Angelini e tocar música de novo, eu tinha agitado as coisas que
eu tinha reprimindo há mais de uma década. Enquanto eu estava feliz
por estar recuperando algumas memórias daquele tempo distorcido da
minha vida, ainda era uma experiência inquietante; parecia que minha
mente estava desenrolando como um carretel de linha, revelando
pessoas e eventos há muito enterrados que eu nem sabia que existia.
Finn estava certo - eu estava tremendo.

"Oi", eu sussurrei de volta.

Finn tirou um cacho do meu rosto e colocou atrás da minha


orelha. "Foi um pesadelo?" Perguntou.

Concorde, não querendo explicar ou não sabendo como


começar.

"Você quer falar sobre isso?" O olhar gentil nos seus olhos me
disse que eu podia compartilhar qualquer coisa com ele naquele
momento, até mesmo a história de morte da minha mãe e do caminho
tortuoso que minha vida tinha seguido desde então. Mas eu sabia que,
uma vez que dissesse a ele, o olhar gentil deixaria seus olhos -
substituído por simpatia ou, pior, pena.
Eu balancei a cabeça negativamente. Eu não estava
preparada para ver aquele olhar em seus olhos. Eu não acho que eu
alguma vez estarei pronta para isso.

"Tudo bem", ele disse, inclinando-se para beijar a minha testa


suavemente. Aconcheguei ao seu lado e senti seus braços apertarem
em torno de mim. Quando suas mãos começaram a passear pelo meu
corpo e sua boca encontrou a minha, permiti que a minha mente
ficasse em branco e esqueci tudo sobre meu sonho peculiarmente
vívido. E quando Finn fez lento e dolorosamente doce amor comigo, o
menino com os olhos tristes, que tinha me dado os finais felizes que
ele estava muito além de acreditar, desapareceu da minha mente por
completo.

***

Quando acordei, a primeira coisa a entrar na minha


consciência foi o aroma inconfundível de tinta. Abrindo um olho, eu vi
que já estava no meio da manhã e os raios brilhantes de luz do outono
espalhavam em minha colcha. A segunda coisa que minha mente
turva registrou foi o fato de que eu ainda estava nua, e Finn já não
estava na cama ao meu lado.

Então ele saiu. Isso é bom - ótimo, mesmo. Isto era o que eu
sempre quis.

Não era?

Minha voz interior soou convincente nem mesmo para mim, e


eu não conseguia conter a decepção que estava começando a florescer
no meu peito como um câncer - uma dor aguda irradiando
rapidamente do meu coração para fora através de meus membros.
Eu era uma idiota.

Sexo com Finn tinha sido tão diferente para mim - mais
íntimo e tão distante do que eu tinha experimentado no passado - que
eu simplesmente presumi que ele tinha sentido isso também.
Aparentemente, ele não tinha. Talvez a noite passada tivesse sido nada
para ele; talvez eu tivesse sido nada para ele. Não fui diferente de
qualquer outra garota que ele - como Lexi tinha classificado de forma
tão eloquente? – Usa e joga fora.

Isso é bom. Isto é o melhor, na verdade. Agora, as coisas


podem voltar ao normal e eu vou esquecer tudo sobre o emocional,
meses de lágrimas oprimidas que eu tive com Finn na minha vida. Eu
vou voltar a me divertir – quem quer chorar o tempo todo, de qualquer
maneira? Ele é apenas um menino, nada de especial. Não é como se ele
tivesse tomado a minha virgindade, pelo amor de Deus. Isso não será
diferente de qualquer uma das minhas outras conexões. Saia dessa,
Brooklyn.

Eram meras consolações, mas era tudo o que eu tinha.


Agarrei-me a elas desesperadamente, a minha tábua de salvação em
uma tempestade - não querendo ser arrastada para o oceano infinito
de minhas esperanças frustradas. Respirei profundamente no
travesseiro, agarrei com força no meu peito, as lágrimas
imediatamente formigaram em meus olhos quando o cheiro de Finn
tomou conta de mim. Eu me perguntava quantos travesseiros vazios
de outras meninas estúpidas tinham cheirado como a brisa quente de
um dia de outono, e por quanto tempo elas esperaram para lavar
depois que ele saiu. Um dia? Uma semana?

Gemi com o pensamento ridículo. Eu estava sendo uma


garota - o que diabos estava acontecendo comigo?
Não me interpretem mal, eu estava plenamente consciente de
quão hipócrita eu era por me sentir desse jeito. Afinal de contas, não
tinha eu mesma usado essa manobra exata em inúmeros encontros de
uma noite? Eu era a especialista nisso; tão boa, que eu provavelmente
poderia dar aulas na universidade - Como escapar de sua Estranha
Manhã-Seguinte: Evitando a caminhada da vergonha e esgueirando
sobre a janela 101. Eu não tinha o direito de esperar nada diferente de
Finn; na verdade, eu era ingênua por pensar que poderia ter
significado algo mais para ele do que apenas sexo. Ele era Finn
Chambers, afinal de contas.

Há dois meses, eu já havia rejeitado a ideia de que sexo


significava outra coisa senão a realização de limpeza da mente que só
um orgasmo pode ter. Agora, lá estava eu, derrubada pela ideia de que
o sexo não foi significativo - que eu tinha sido usada e jogada fora.

Porra, carma é realmente uma cadela repugnante peluda.

Tomei uma respiração profunda, através da minha boca desta


vez, e decidi parar de ser uma menina chorona, patética, com olhos de
corça. Eu tinha coisas para fazer, como o acabamento de pintura no
meu quarto.

Quando as lembranças da pintura com ele-que-não-deve-ser-


nomeado começaram a jorrar em minha mente em cores vívidas de alta
definição, eu fiz o meu melhor para empurrá-las dentro de minha caixa
mental reforçada marcada como idiota narcisista. Elas finalmente
couberam na caixa, eu percebi com desanimo, em particular aceitação
- uma vitória de Pirro16, se alguma vez houve uma.

Capotando sobre minhas costas, eu assustei quando avistei o


teto azul intenso acima de mim. Quando finalmente adormeci,

16
Uma vitória que é acompanhada de perdas. Faz alusão a Vitória de Pirro, que derrotou os romanos em 279
a.C. em Asculum, mas perdeu seus melhores oficiais e muitas de suas tropas. Pirro, em seguida, teria dito:
"Outra vitória como esta e estaremos perdidos."
completamente dizimada depois que Finn e eu tínhamos acabado de
transar, pela terceira vez, o teto era de um tom puro da meia-noite.
Agora, ele estava cheio de uma galáxia de estrelas brancas, tão
detalhadas e meticulosamente trabalhada que elas devem ter tomado
várias horas de pintura a mão.

Finn.

Como se pensar em seu nome o evocava, a porta do quarto se


abriu e Finn entrou, parecendo irritantemente com os olhos brilhantes
e alegres, vestido outra vez com seu macacão manchado de tinta. Ele
claramente não tinha acabado de passar por um redemoinho
ligeiramente embaraçoso, absolutamente espantoso para a terra de
insegurança e rejeição.

Porcaria.

Apoiada em meus cotovelos, um lençol cobria o meu peito, eu


cautelosamente o assisti entrar, sem saber o que esperar.

"A Bela Adormecida desperta", ele disse, sorrindo torto para


mim, fazendo uma parada no final da minha cama.

Ele ainda estava aqui. Ele não tinha ido embora.

Meu coração gaguejou no meu peito, em seguida, começou a


correr o que parecia ser duas vezes a sua taxa normal. As paredes da
caixa de idiota narcisista começaram a chacoalhar, violentamente, a
madeira sofrendo com a pressão até que a tampa explodiu
completamente e Finn Chambers escapou de volta para frente da
minha mente. Reconheci mentalmente que ele nunca iria caber
naquela caixa maldita novamente - não que ele já tinha realmente
pertencido a ela em primeiro lugar.

Eu deveria ter ficado com raiva que ele causou o meu


pequeno - okay... maior - surto, mas eu estava esmagada por partes
iguais de vertigem que ele ainda estava aqui e terror paralisante na
fixação inegável do que eu sentia por ele. A raiva teria que esperar por
enquanto - eu só poderia lidar com um colapso mental de cada vez
antes do café.

Encobrindo minha angústia interna extrema, optei pela


indiferença - revirando os olhos para ele e me jogando para trás no
meu travesseiro, meu olhar se alternava entre o universo pintado de
estrelas para o homem diante de mim. Ele parecia completamente à
vontade e seguro de si, como se fosse a coisa mais natural do mundo
para ele acordar no meu apartamento e fazer Deus sabe o que
enquanto eu ainda estava dormindo.

"Há quanto tempo você está acordado?" Perguntei um tanto


irritada. Eu não estava preparada para essa conversa, neste dia, sem
ter meu primeiro café. Meu cérebro nem sequer começava a funcionar
normalmente até depois do copo número dois. Na verdade, que dor
debilitante era essa que tinha lançado através do meu peito quando eu
tinha pensado que Finn tinha me deixado? Talvez tivesse sido apenas
a privação da cafeína.

Só se podia esperar.

"Poucas horas", ele disse, dando de ombros e caminhando


para perto de mim. Inclinando sobre a cama, com cuidado para não
deixar nenhuma tinta no meu edredom, ele me beijou. Apesar de
nossas bocas serem o nosso único ponto de contato, este não era o
beijo de bom dia gentil que eu tinha previsto. O beijo de Finn era
consumidor, quase doloroso em seu desejo irrefutável - um lembrete
do que a noite passada tinha sido, e uma promessa de mais noites por
vir.

"Como você dormiu?" Ele perguntou, afastando-se.


Eu tentei diminuir minha respiração, então não soaria como
uma asmática que tivesse acabado de correr uma meia-maratona,
quando lhe respondi. Limpei a garganta e puxei uma respiração
profunda em meus pulmões, rezando para que eu não fosse tão
transparente como me sentia. Pelo amor de Deus, eu estava quase
ofegante.

"Como os mortos, aparentemente," eu disse, olhando para o


teto. "Eu nem sequer ouvi você fazendo tudo isso."

"Eu estava em silêncio. Furtivo. Alguns podem até dizer como


ninja", ele sorriu para mim, seus olhos azuis quentes em mim.

"Quem? Quem pode dizer isso?" perguntei, levantando uma


sobrancelha.

"Eu."

"Não conta se você é o único a dizer isso", eu sorri de volta


para ele e revirei os olhos para o seu absurdo. "E eu estava tão
cansada que eu poderia ter dormido durante um terremoto."

"Isso é você admitindo que eu acabei com você na noite


passada?" Ele perguntou, levantando as sobrancelhas sugestivamente.

"Arrogante".

"Confiante", ele respondeu, soltando um leve beijo na ponta


do meu nariz. Eu enruguei em resposta, observando quando ele fez o
seu caminho de volta para a escada no canto do meu quarto. "Então,
você gostou?" ele perguntou, a voz enganosamente casual enquanto ele
gesticulava para as estrelas em meu teto azul intenso. Apesar de seu
tom blasé, acho que detectei uma corrente de nervosismo na sua
pergunta, como se ele tivesse genuinamente preocupado com a minha
reação.
"Eu amei", sussurrei honestamente, olhando para qualquer
lugar, mas não para ele. Era o suficiente que ele pudesse ouvir a
emoção tornando a minha voz quebrada desagradável; Eu não preciso
dele para ver a umidade em meus olhos também. Este gesto foi mais
do que alguém tinha feito por mim em todos esses anos desde que
minha mãe morreu, e eu estava totalmente impressionada com isso.

Era como se ele tivesse, de alguma forma, mergulhado em


minhas memórias e soubesse exatamente como as minhas paredes de
infância tinham sido pintadas; como se ele tivesse percebido que este
seria o complemento perfeito para o meu novo quarto. Era estranho o
quão bem ele parecia saber das minhas preferências, para reconhecer
e antecipar os meus gostos e desgostos - quase como se ele tivesse em
sintonia com todos os meus pensamentos e sentimentos.

Quando fiquei confiante de que minhas lágrimas estavam sob


controle, virei-me para olhar para ele. Ele estava parado na base da
escada, olhando diretamente para mim. Eu sabia que ele podia ler
meu rosto como um livro aberto, observando enquanto eu lutava para
resistir à tempestade de emoções se formando dentro de mim.
Felizmente, ele não me empurrou para falar sobre isso.

"Estou feliz que você gostou, princesa", ele respondeu, um


pequeno sorriso torcendo em um dos lados da boca.

"Princesa?" perguntei. A única vez que já tinha ouvido o


apelido de "princesa" ser utilizado, foi dito com sarcasmo ou
condescendente. Finn disse isso carinhosamente, embora - de um jeito
sincero, carinhoso e reverente que não tinha certeza de como
processar. Ele sorriu para mim, falhando em elaborar algo mais.
Aparentemente, eu ia ter que arrancar isso para fora dele.

"Por que princesa?" Não pensei que ele estava tirando sarro de
mim, mas considerando como base algumas das minhas suposições
sobre como Finn tinha sido no passado, decidi que era mais seguro
simplesmente perguntar a ele.

"Você parecia tão pequena na grande cama branca, engolida


por todos esses travesseiros e cobertores macios. E quando você estava
dormindo, com todo aquele cabelo escuro derramado em todo o seu
travesseiro, e seu rosto tão calmo... Você estava linda. Você é linda."
Ele engoliu em seco, os olhos intensos, enquanto olhava para o meu
rosto como se puxando todas essas características da memória.
"Angelical. Como alguma porra de fantasia inatingível que sonhei."

Ele deixou a escada e se aproximou da cama, inclinando-se


para que sua boca roçasse a concha da minha orelha. Eu tremia, e
senti a curva de seus lábios em um sorriso enquanto roçava o lóbulo.
"Você sem dúvida, é a garota mais bonita que já vi, Abelhinha", ele
sussurrou. "Às vezes, olho para você e queria saber se você é mesmo
real. Meninas como você não deveriam existir na vida real - você é a
matéria-prima de lendas e histórias de ninar. Então, não, eu não dou a
mínima se você pensar que é ridículo como o inferno - Você é minha
princesa".

Ok. Ele poderia me chamar de princesa. Ele poderia me


chamar de tudo o que ele queria se ele continuasse a falar assim
comigo.

Eu não disse nada. Em vez disso, joguei as cobertas para fora


da cama e lancei o meu corpo contra o dele. Quando minhas pernas
nuas enrolaram e sua cintura, minha boca encontrou a sua e as
minhas mãos escorregaram em seu cabelo enquanto eu deixava meu
corpo fazer e falar.

Muito mais tarde, saímos do chuveiro e Finn levou o seu


tempo para me secar, usando uma toalha para limpar cuidadosamente
cada gota de água do meu corpo. Mais uma vez tivemos de nos
esfregar da tinta azul, quando nossas atividades anteriores no chão do
meu quarto ficaram involuntariamente criativas e terminamos
parecendo candidatos a membros do Blue Man Group17. Mais uma vez.

Finn finalmente me permitiu deixar o meu quarto e eu


avidamente consumi metade de um pote de café, logo que entrei na
cozinha. Ele riu de mim, tendo apenas um único copo para si e
completamente preto.

Eca. O que seria café sem creme e sem açúcar!?

Lexi ainda estava no apartamento de Tyler, por isso era


apenas Finn e eu. Eu não devia ter ficado surpresa que não houve
uma manhã constrangedora, mas eu estava. Acho que, apesar de tudo
que Finn tinha dito e feito nas últimas 24 horas, eu ainda estava
insegura sobre onde essa coisa toda estava indo. Eu poderia
finalmente admitir para mim mesma que sim, definitivamente eu tinha
sentimentos por ele. E sim, o sexo tinha sido incrível - melhor do que
eu alguma vez imaginei que o sexo poderia ser. Mas eu ainda não
estava nem perto de pronta ou ansiosa para um relacionamento. A
ideia de Brooklyn Turner, a irrefutável ‘cadela de gelo', como a
namorada de alguém era risível. A ideia de ser a namorada de alguém
como Finn Chambers, no entanto, era francamente assustadora.

"Pare", Finn ordenou, sacudindo-me para fora do meu


devaneio.

"Parar o quê?" Eu olhei para ele, confusa.

"Pensar demais em nós."

Nós?

Ele pousou o copo vazio na ilha da cozinha e fez o seu


caminho de volta para o banco que eu estava sentada. Subindo uma
17
Blue Man Group é uma companhia de conteúdo e entretenimento fundada em 1987 por Phil Stanton, Chris
Wink e Matt Goldman.
das mãos, ele levemente traçou um dedo através das linhas de tensão
que foram juntando minhas sobrancelhas.

"Princesa, posso perguntar uma coisa?"

Concordei com relutância, antecipando, automaticamente, o


pior.

"Você se divertiu comigo ontem à noite? Esta manhã?"

Eu acenei novamente, esperando para ver onde ele estava


indo com isso.

"Bem, eu também. Na verdade, eu me diverti muito mais


ontem à noite do que me diverti em um longo, longo tempo. Então, por
favor, não fique estranha e menininha. Não torne isso em algo ruim,
porque o que nós tivemos nos últimos dias é lindo. Você sabe disso lá
no fundo, princesa. E se eu conheço você do jeito que eu acho que
faço, então eu aposto que isso assusta o inferno fora de você".

Respirei fundo, encontrei seus olhos, e acenei com a cabeça


novamente. Ele se enrugou em diversão.

"Eu não me importo com o tratamento do silêncio", ele sorriu.


"Se eu tivesse conhecimento de que o sexo era tudo o que seria
necessário para você parar de ser tão atrevida o tempo todo, eu teria
feito a minha jogada muito mais cedo. Dei à esta menina um orgasmo
e ela está finalmente complacente."

"Complacente? Esta sua palavra de ordem saiu do calendário


do dia, homem das cavernas?" Sorri, golpeando um cotovelo afiado em
seu estômago. Ele deixou escapar um pequeno Aff quando eu bati,
embora meu braço provavelmente levasse a maior parte do impacto ao
colidir com o seu abdome de aço. Lutei contra a vontade de me
esfregar nele, não querendo parecer a fraca, que eu era totalmente.
"Você vai ter que vir ao meu apartamento e ver", disse ele com
uma piscadela. Eu nunca tinha ido ao apartamento de Finn - Eu
realmente não tinha me permitido pensar sobre o fato de que este
espécime de Deus feito homem, na verdade, tinha uma cama e uma
escova de dente e talvez até mesmo um maldito calendário do dia em
algum lugar lá fora. O pensamento era impressionante.

"Talvez algum dia," murmurei sem me comprometer.

"Depois do meu show hoje à noite", Finn rebateu


decididamente. Ele não tinha me convidado ou perguntado se eu iria -
ele simplesmente me informou que eu estaria lá, como se meus planos
para a noite fossem pré-determinados, sem qualquer consentimento
necessário da minha parte.

Homem das cavernas arrogante.

Lançando um olhar para o relógio no micro-ondas, ele


estremeceu. "Falando nisso, tenho que ir. Já passa das três e temos
um ensaio antes do show. Entramos às nove."

"No Styx, certo?" Confirmei desnecessariamente. Apiphobic


Treason raramente tocava em qualquer outro local no campus porque
Styx era um dos poucos lugares que poderiam acomodar uma grande
multidão. Em uma boa noite, seus shows atraiam mais de duzentas
pessoas.

Finn assentiu, então se inclinou para baixo, para os nossos


rostos estarem alinhados e trouxe as duas mãos para segurar meu
rosto. Olhando nos meus olhos, ele sacudiu a cabeça para trás e para
frente para que nossos narizes roçassem levemente antes de inclinar a
cabeça e me dar um beijo de adeus.

"Eu vou ver você hoje à noite, princesa", ele sussurrou contra
os meus lábios.
"Se você tiver sorte, homem das cavernas."

"Oh, eu tenho sorte, com certeza", ele responder com os olhos


brilhando quando ele, sem dúvida, se lembrou da muita sorte que ele
tinha conseguido tanto ontem à noite quanto esta manhã. Revirei os
olhos quando o vi sair da cozinha, mas mesmo a minha exasperação
com ele estava começando a parecer forçada. Se eu estivesse sendo
honesta comigo mesma - que, vamos combinar, era uma ocorrência
rara - tinha que admitir o quão feliz eu estava me sentindo naquele
exato momento. Eu era a sortuda - e "sortuda" definitivamente não era
algo que já tinha me considerado até agora.

Meu coração literalmente vibrou em meu peito quando eu


ouvi o clique distante da porta da frente se fechando, marcando a
saída de Finn. Ele tinha acabado de sair, mas eu já me encontrei
verificando o tempo e contando as horas até o seu show hoje à noite,
quando eu iria vê-lo novamente.

Eu mal reconhecia essa garota que eu estava sendo, e eu


sabia que era tudo por causa de Finn.

Em que lugar do inferno eu fui me meter?


Capítulo 12
Na Beira do Penhasco

"E você não tem lembranças deste menino, que não seja nos
seus sonhos?" Perguntou Dra. Angelini.

Se eu estivesse esperando ela expressar choque ou surpresa


ainda que leve em minha revelação do menino de olhos tristes nos
meus sonhos, eu teria sido sinceramente decepcionada - seu rosto era
totalmente indiferente quando ela me analisa com seu olhar clínico.

"Eu não tenho muitas lembranças claras do meu tempo no


sistema de adoção", admiti. "Até agora, tem sido principalmente
imagens distorcidas. Às vezes, um cheiro particular ou um gosto
desencadeia uma vaga lembrança, mas nada nunca foi tão vívido
antes."

"Quando você diz vivido..." Dra. Angelini começou, pedindo


esclarecimentos.

"Quando eu tenho um dos sonhos, é como se eu tivesse seis


anos de novo, revivendo as coisas em tempo real. É tão real - mais real
do que qualquer coisa que já senti."

Minha mente cambaleou através de uma série de imagens: as


mãos de duas crianças perdidas cruzadas com força; um enxame de
vaga-lumes sinuosos através de samambaia indomável; o céu escuro
da noite, rodeado com estrelas muito além do nosso alcance.
Desviei do seu olhar inflexível, dirigindo o olhar para fora das
grandes janelas por cima do ombro dela. Ela tinha uma excelente vista
- eu me perguntei distraidamente se ela já teve tempo para apreciá-la.
Era difícil imaginar Dra. Angelini olhando para qualquer lugar que não
fosse dentro dos crânios de seus pacientes.

"Será que os sonhos a incomodam?" Ela perguntou.

Meus olhos se voltaram para o rosto dela, que, obviamente,


estava em branco de qualquer emoção verdadeira. Apesar de sua
serenidade imperturbável, eu podia ver o estado de alerta em seus
olhos e soube que ela estava muito focada em tudo o que eu estava
dizendo. A mente escondida embaixo do cabeleira loira lisa estava
constantemente analisando e avaliando, escolhendo distintamente
tudo o que eu disse e as coisas que eu tinha deixado propositadamente
de fora. Mais de uma vez, eu tive que me lembrar que essa tortura era
autoimposta - que era bom para mim.

"Às vezes," admiti. "Mas não por causa do que acontece neles.
É mais perturbador porque sinto como se eu nem soubesse da minha
própria mente. De repente, eu tenho todas essas recordações, que eu
nunca soube sobre elas, apenas trancadas no meu subconsciente -
isso me faz pensar o que mais me esqueci ou bloqueei".

"A mente humana é uma coisa complexa, Brooklyn. Mesmo


depois de décadas de pesquisa e, apesar do desenvolvimento
revolucionário de máquinas de imagem cerebral, praticamente ainda
estamos longe de entender como o cérebro funciona, e muito menos
por que ele funciona da maneira que faz."

Eu balancei a cabeça em concordância; Eu tinha estudado


psicanálise no primeiro ano - nada disso era novidade para mim.

"E a memória é um dos processos mentais mais misteriosos e


complexos de todos", continuou ela. "Nós realmente não sabemos como
o cérebro armazena e recorda as informações, tudo que sabemos é
que, as memórias raramente são trazidas a tona aleatoriamente,
normalmente, há um gatilho de algum tipo, o que cria uma associação
mental entre um estímulo sensorial atual, e aquele que foi guardado
na mente".

"Então, você está dizendo que algo que eu estou


experimentando agora desenterrou minhas memórias desse menino?"

"É possível", Dr. Angelini disse sem se comprometer.

Psiquiatras malditos e sua incapacidade de dar uma resposta


definitiva a uma única pergunta.

"Você quer se lembra?" Ela perguntou. "Ou você prefere que


estas memórias permaneçam enterradas?"

"Não tem nada a ver com se eu quero lembrar ou não", eu


disse. "Eu não tenho controle sobre isso."

"Brooklyn, você já pensou que talvez você esteja simplesmente


lembrando agora, porque você está finalmente pronta?" Ela perguntou.

Eu não sei a resposta para essa pergunta.

Mudamos de assunto, passamos o resto da sessão discutindo


o meu desempenho no meu projeto de pintura. Não mencionei o papel
de Finn em todo o processo, nem lhe disse que nós finalmente
atravessamos a fronteira da amizade.

Havia ainda uma parte significativa de mim que não queria


admitir que algo havia mudado entre nós dois. Houve também uma
menor, mas igualmente vocal, parte de mim que estava com medo,
que, se eu admitisse a nossa relação em voz alta para Dra. Angelini,
iria azarar a coisa toda, e isso iria desmoronar antes que tivéssemos
tido uma mudança total.
Quando me levantei para sair, Dra. Angelini levantou de trás
de sua mesa e me acalmou, colocando uma mão bem cuidada
levemente no meu antebraço.

"Se isso importa, Brooklyn, eu acho que você mostrou um


tremendo progresso nos últimos meses", ela disse, seus olhos
emocionalmente compassivos de um jeito meio clinico. "O fato de que
você está finalmente se abrindo e permitindo abraçar o passado é
extremamente corajoso, para não mencionar muito mais saudável do
que as suas estratégias de enfrentamento anteriores."

"O que, doutora, você não aprova o sexo e a tequila sem


sentido?" Perguntei de brincadeira, desconfortável com a séria virada
que a nossa conversa tinha tomado.

Ela estava sendo cortês - apoiando, mesmo - e imediatamente


me deixou inquieta. Eu sabia que estava sendo cínica, mas na minha
experiência, as pessoas raramente eram genuínas, e elogios sinceros
eram poucos e raros. Desde que eu também nunca recebi muitos -
meu pai não tinha sido exatamente material de Brady Bunch 18 - eu
estava cautelosa com o olhar nos olhos da Dra. Angelini, o qual
poderia ser facilmente classificado como orgulho.

"Brooklyn", Dr. Angelini disse, puxando-me de volta ao


presente. "Até mesmo você não aprovava suas atividades sexuais ou
abuso de álcool." Uma sobrancelha levantou com ironia por trás de
seus óculos Chanel quando ela olhou para mim.

"Como você descobriu isso, doutora?" Perguntei.

"Você não estaria aqui no meu escritório se você o fizesse."

***

18
A Família Sol-Lá-Si-Dó no Brasil.
Após a sessão, eu fui para Maria's e pedi duas saladas gregas
- jantar para Lexi e eu. Felizmente, ninguém que eu conhecia estava
na fila, então não tive que fazer conversa fiada. Havia poucas coisas
que eu odiava mais do que a fútil conversa fiada: a torrente insana de
palavras sem sentido, nada mais do que preencher um silêncio que de
outra forma seria desconfortável.

Uma das muitas coisas que eu não conseguia entender sobre


as chamadas pessoas "normais" era a sua incapacidade de apenas
desfrutar do silencio. Eles estavam com tanto medo do julgamento dos
outros que eles sentiam a necessidade de tagarelar indefinidamente,
na esperança de manter a conversa superficial e segura? Ou será que
eles estavam com medo de olhar, mesmo que por um curto período de
tempo, para as profundezas de sua própria mente - examinar
verdadeiramente seus próprios pensamentos - com medo de não
gostarem do que veriam?

Eu não sabia.

Tudo o que eu sabia era que nove em cada dez pessoas que
eu encontrava não tinha noção do valor de simplesmente compartilhar
um silêncio. E acho que era uma pena para eles, porque havia certo
tipo de pureza, até mesmo intimidade, em apenas sentar com alguém e
não sentir a necessidade de falar.

Uma das únicas pessoas que eu já senti essa sagacidade era


Finn.

Eu não tinha ouvido falar dele desde que ele tinha deixado
meu apartamento há várias horas, mas estava feliz por ter um tempo
sozinha. Ele me conhecia bem o suficiente para entender que eu
precisava de espaço suficiente para processar tudo o que aconteceu
entre nós na noite passada - mas não tanto espaço para que eu
pudesse ter tempo de me convencer a não me envolver com ele
completamente.

Mesmo que Finn não tenha dito isso em tantas palavras, eu


estava relativamente certa de que ele queria "nós" para ser algo a longo
prazo do que uma única festa do pijama. Foram suas ações que
falaram para mim mais alto - suas leves carícias quando ele tinha feito
amor comigo, a constelação de estrelas que ele pintou à mão no meu
teto na manhã seguinte, até o seu estúpido apelido de 'princesa'. Tudo
isso aponta para uma coisa: algum tipo de relacionamento.

Eu sabia que eu ia pirar se analisasse sobre isso, então eu


não estava me deixando pensar em tudo. Bem, isso não é inteiramente
verdade - eu estava pensando sobre o sexo, não estava realmente me
concentrando no aspecto das coisas do relacionamento...
Possivelmente porque eu estava tão focada em como bom o sexo tinha
sido. E quanto tempo tinha que esperar até que pudéssemos fazê-lo
novamente.

Uma rápida olhada no meu relógio mostrou que eram 06:15, e


o show de Finn provavelmente iria até quase meia-noite. Gemi
interiormente; seis horas parecia uma vida inteira de distância.

Depois de pagar pelas nossas saladas, corri porta afora e fui


para casa. Enviei a Lexi um texto rápido dizendo a ela que estava no
meu caminho, e ela respondeu instantaneamente.

Aqui esperando ansiosamente pelo jantar e detalhes. Anda


logo! :p

Ótimo, então eu estava andando para uma emboscada.

Eu não tinha sido ingênua o suficiente para esperar que Lexi


simplesmente se esquecesse de perguntar sobre Finn e eu, mas estava
esperando evitar um pouco mais. Eu não poderia contornar o assunto
com ela como eu tinha feito com a Dra. Angelini - Lex já sabia que algo
estava acontecendo entre nós. Mas isso não significava que eu tinha
que lhe dar todos os detalhes, certo?

Quem eu estava enganando?

Esta era Lexi - ela me amarraria a uma cadeira e colocaria


lascas de bambu sob minhas unhas até que lhe desse um relato
detalhado de cada minuto que passei com Finn. A menina era
irritantemente persistente quando queria alguma coisa; Sempre pensei
que a carreira na CIA, uma interrogadora de terroristas, poderia
encaixar melhor do que moda.

Entrando pela nossa porta da frente, coloquei o saco


contendo as nossas saladas na ilha de cozinha e olhei em volta
cautelosamente. Logo em seguida, ouvi a porta do quarto dela voando
aberta e batendo contra a parede oposta, seguindo-se o som de pés
descalços correndo entre os pisos de madeira. Eu vi quando ela ficou à
vista; dobrando a esquina do corredor a toda a velocidade, seu cabelo
vermelho chicoteando em torno de seu rosto, ela derrapou até parar
em minha frente.

"Diga-me", ela exigiu, um pouco sem fôlego.

"Ok, ok, vamos comer o jantar e, em seguida, eu vou. Com


calma-"

"Não!" Lexi me cortou. "Você vai me dizer imediatamente.


Tenho sido sua melhor amiga desde a porra do segunda série e essa é
a primeira vez que você já teve qualquer coisa remotamente romântica
acontecendo com você. Tenho sido totalmente enganada no
departamento amiga até agora!" Lexi bufou, como se a minha falta de
relacionamentos anteriores fosse um ataque direto contra ela.

"Puxa, obrigada Lex!"


"Oh, cale-se, você sabe o que quero dizer", ela disse, batendo-
me de leve no braço. "Não posso ficar animada, Brookie? Tudo o que
eu sempre quis foi ver você feliz."

Eu bufei. Sim, como se esse fosse seu único motivo aqui.

"Oh, muito bem!" Ela olhou para mim, mas eu podia dizer que
ela estava tentando não rir. "E acontece que também estou animada
com a perspectiva de encontros duplos. Então, processe-me!"

Comecei a rir e ela imediatamente se juntou, jogando os


braços em volta de mim e me apertando com força por quase um
minuto inteiro.

"Hum, Lex?"

"O quê?" ela perguntou, com os braços ainda enrolados no


meu corpo.

"Não é possível... respirar..."

"Oh!" Lexi engasgou, soltando de uma só vez. Agradeci


engolindo oxigênio em meus pulmões. "Desculpa", ela murmurou. "Às
vezes eu esqueço o quão pequena você é."

Revirei os olhos e voltei a puxar as nossas saladas para fora


do saco. Enquanto agarrei talheres e pratos, Lexi pegou uma garrafa
de refrigerante de limão da geladeira, derramou um pouco em dois
copos altos, e cobriu cada um com uma saudável dose de vodca e
Xarope de romã.

"Dirty Shirleys 19 ", ela disse, sorrindo em antecipação


enquanto mexia gelo nos copos e entregou um para mim.

"Saúde", eu disse.

19
Bebida composta por suco de limão, soda limonada, vodca, xarope de romã e cerejas.
"Aos melhores amigos e namorados", Lexi brindou com uma
piscadela para mim.

"E realmente ao ótimo sexo", acrescentei, rindo no meu copo


quando Lexi bufou a bebida para fora de seu nariz.

"Detalhes. Direito. Agora", Lexi exigiu, enxugando o rosto com


um guardanapo.

Tomei um grande gole da minha bebida - Eu ia precisar dela


para essa conversa.

***

Algumas horas mais tarde, eu tinha consumido metade da


salada grega e três Dirty Shirleys e meia, e Lexi estava olhando para
mim com a boca escancarada. Eu tinha acabado de lhe dizer tudo
sobre Finn e eu, desde a noite que eu tinha saído com Landon, pintar
meu quarto juntos, e, é claro, a maratona de sexo que tivemos depois.
Ela tinha ficado em silêncio durante toda a história, sua única
expressão era de espanto enquanto ela absorvia todas as palavras que
saía da minha boca com muita atenção.

Quando terminei, ela não falou por um longo tempo,


enquanto os minutos passavam lentamente comecei a ficar inquieta.
Então, abruptamente pulando para baixo de seu banquinho na ilha de
cozinha, ela saiu da sala sem dizer uma palavra para mim. A segui,
porque bem, o que mais eu poderia fazer?

Lexi virou para o corredor para os nossos quartos, ignorando


a sua própria porta, e abriu a minha sem hesitação. Esperei na porta,
vendo quando ela entrou no quarto e girou em um círculo lento,
absorvendo tudo. Depois que Finn havia saído esta tarde eu passei
algum tempo limpando os pincéis e panos cobertos de tintas,
empurrando meus móveis de volta no lugar e, por último, pendurei as
imagens na parede em frente a minha cama. Colocadas contra a
pintura de céu azul, as fotos estavam lindas.

Lexi fez seu caminho até elas, parando para examinar cada
uma individualmente antes de levemente traçar as pontas dos dedos
nos três rostos sorridentes ampliados sobre as tela; seu próprio rosto,
então o meu, e, finalmente, a minha mãe.

Os rostos da minha família.

Lexi se afastou das imagens e, quando seus olhos


encontraram os meus, eles estavam cheios de lágrimas não
derramadas.

"Brookie", ela sussurrou, a voz embargada de emoção.

"Olhe para cima", eu disse, apontando para o teto.

Ela fez o que eu disse a ela; inclinando a cabeça para trás


para examinar, seus olhos se arregalaram de surpresa, depois
maravilhados. Quando ela viu a constelação de estrelas no teto, vi as
comportas finalmente se abrindo e vi quando as lágrimas caíram pelo
seu rosto. Ela não se moveu para enxugá-las; ela simplesmente as
deixou cair enquanto ela girou em um círculo lento, olhando para a
beleza que Finn havia criado para mim com um simples pincel.

Eu teria a abraçado, mas sabia por experiência própria que


Lexi só iria chorar ainda mais se eu tentasse consolá-la. Neste
momento, ela simplesmente precisava de um tempo tranquilo para
processar seus pensamentos - de modo que foi exatamente o que eu
lhe dei. Eu não deixei o meu lugar na soleira da porta ou tentei falar
com ela, e em poucos minutos as lágrimas secaram. Ela mudou para
sentar na minha cama, parecendo um pouco sobrecarregada e em
estado de choque. Não podia culpá-la - eu me senti assim na maior
parte do dia.

Afastando do quarto, eu caminhei de volta para a cozinha,


peguei as nossas bebidas, e levei de volta para o meu quarto. Sem
dizer uma palavra, entreguei a Lexi seu copo, e ela engoliu um gole
caprichado. Ela mal tinha dito uma palavra, com exceção do meu
nome, nas últimas três horas. Isso tinha que ser algum tipo de
recorde, considerando que Lexi normalmente tinha mais dificuldade
para ficar quieta que a maioria das crianças de cinco anos de idade.

Eu sabia que não ia durar muito tempo.

Seu rosto sem expressão começou a se transformar em um


sorriso presunçoso inconfundível se espalhando por todo o rosto. "Ele
fez isso", disse ela, apontando para o teto.

Eu balancei a cabeça.

"Você o deixou passar a noite", ela observou.

"Sim", eu dei de ombros, tomando um gole da minha bebida.

"Você gosta dele", ela continuou, seu sorriso ainda no lugar.

"Sim", dei de ombros novamente, tomando um gole ainda


maior do meu Dirty Shirley.

"Você gosta, realmente, realmente, gosta dele", ela gritou,


batendo palmas e começou a saltar para cima e para baixo em seu
assento. Eu decidi que não respondê-la era o meu rumo de ação mais
seguro neste momento. Quaisquer confissões a mais ela poderia entrar
em combustão espontânea.

"Você quer ir a encontros com ele, e deixá-lo segurar sua mão,


e ter um lindo bebê BrookFinns- FinnLyn? - com ele!"

Bem, isso se intensificou rapidamente.


Olhei para Lexi horrorizada e lutei para controlar a náusea
instantânea que tinha se agarrado a mim tão logo essas palavras
saíram de sua boca. Eu nunca quis ter filhos. Eu não podia - não
podia - trazer uma criança em um mundo como este.

Nunca.

Mas, a menos que eu quisesse que esses três Dirty Shirleys


que eu tinha consumido surtissem efeito, eu precisava obter o controle
de mim mesma. Empurrei para fora o meu próximo ataque de
ansiedade e me lembrei que Lexi estava brincando.

"FinnLyn? Você seriamente apenas combinou os nossos


nomes?" Perguntei, forçando uma risada.

"Eu gosto mais de BrookFinn, é melhor", Lexi murmurou


contemplativamente. Seus olhos estavam vidrados e distantes como se
sua mente conjurasse imagens de coisas aterrorizantes - vestidos de
dama de honra e casas com cercas brancas e bebês com cabelo e olhos
azuis escuros. Estremeci e tentei ignorá-la, apenas resistindo à
vontade de tapar os ouvidos e gritar la-la-la-la uma e outra vez até que
ela me deixasse sozinha.

"Você tem sorte de ainda ter nomes que entrelaçam. Esta


menina Kylee na minha classe de Literatura Americana está
namorando um rapaz chamado Kyle - desastre total".

"Totalmente", concordei, bufando na minha bebida.

"Não há necessidade de ser sarcástica, Brookie", Lexi disse,


saindo de sua terra de sonhos e cavalos brancos e me observando com
um olhar avaliativo.

Uh oh. Eu conhecia esse olhar.

"Você tem que parecer epicamente quente esta noite", ela


decidiu. "Cara, eu tenho o trabalho ideal para mim."
"Puta!", protestei, batendo no braço.

"Oh, cala-se, eu só estava brincando", disse Lexi. "Você não é


tão ruim assim."

Olhei para ela. Ela deu uma risadinha.

"Você é linda, e você sabe disso", Lexi revirou os olhos para


mim como se eu fosse uma ridícula, diante de mim, antes de soprar
um beijo no ar que eu fingi golpear para longe do meu rosto. "Eu ainda
estou puxando as grandes armas, apesar de tudo."

Eu levantei uma sobrancelha para ela, com medo de


perguntar o que implicava a Lexi "grandes armas".

"O vestido", Lexi disse, como se isso explicasse tudo.

"Isso realmente não esclarece nada para mim, Lex".

"Apenas confie em mim. Quando você ver o vestido - na


verdade, quando Finn ver o vestido - tudo vai ficar claro como o dia".

Quando ela pegou minha mão e me puxou para o quarto dela


eu não lutei, principalmente porque eu estava bêbada, mas também
em parte porque Lexi estava certa - eu queria parecer quente esta
noite. Pela primeira vez na minha vida, eu realmente me preocupava
em impressionar um menino.

Lexi me levou para o quarto dela e imediatamente ajoelhou


para recuperar uma caixa elegante envolta em papel branco e ouro
ornamentado no espaço debaixo de sua cama. Ela entregou para mim,
um sorriso animado estampado no seu rosto e seus olhos brilhando
com antecipação.

"O que é isso?" Perguntei, hesitante com a caixa dela.

"Antecipando o presente de aniversário", Lexi deu de ombros.


"Eu estava guardando para a próxima semana, mas esta noite pede
épico, e o vestido é épico."
Fiquei olhando para a caixa em minhas mãos, em seguida, de
volta para o minha melhor amiga. Deixei o presente suavemente em
sua cama, fechei a distância entre nós e passei meus braços em torno
de seu corpo alto.

"Amo você, Lex".

Eu a senti enrijecer com surpresa, então suspirou enquanto


seu corpo relaxou e seus braços vieram ao meu redor. "Eu também
amo você, Brookie." Ela sussurrou, apertando-me com força. "Agora,
abra seu maldito presente!"

Eu ri, afastando-me e pegando a caixa. Rasguei o papel de


embrulho ansiosamente, abri a tampa e encontrei o vestido aninhado
em um casulo de papel de seda branco.

Lexi tinha razão - era épico.

O vestido era de um verde esmeralda profundo, quase o tom


exato dos meus olhos, e sem alças, com um corte baixo ousado que
faria o melhor para o meu colo. Tinha um estilo top-corpete apertado,
primorosamente bordado com pequenas pérolas em torno das
extremidades, que se encaixava ao meu corpo como uma luva da
cintura para cima. A parte inferior do vestido era curto - a saia batia
no topos das minhas coxas - mas foi feito de material transparente, da
mesma tonalidade verde-escuro, que flutuaria em torno de mim
enquanto eu caminhava.

Eu amei instantaneamente.

Pela primeira vez eu era grata por ter uma melhor amiga
estudando moda, e enquanto eu segurava o vestido no meu peito eu
levantei meus olhos para olhar para Lexi.

"O vestido é malditamente épico. Você é maravilhosamente


épica."
"Eu sei", Lexi concordou, sorrindo bastante. "Agora senta sua
bunda para baixo para que eu possa fazer o seu cabelo e maquiagem."

Revirei os olhos e fiz o que ela disse.

***

Quando passamos pelas portas do Styx, Finn e a banda já


estavam bem em seu primeiro set e o lugar estava tão cheio de pessoas
que devia ter bem mais da sua capacidade legal. Meus olhos foram
direto através da multidão pulsante, caindo imediatamente sobre Finn.

Vestido com uma camiseta azul-escuro e jeans desgastados,


ele estava se inclinando para a plateia com ambas as mãos em volta do
suporte do microfone. Seus olhos estavam fechados enquanto cantava
a nota final da música de Red Hot Chili Peppers, o rosto esculpido e
bonito sob as brilhantes luzes do palco.

Deus, ele era quente.

Ficou claro que eu não era a única que pensava assim; suas
vadias fãs residentes estavam presente as dúzias, pressionadas
firmemente contra o palco e piscando as seus cílios para ele em todas
as chances que tinham.

Contenha as garras, Brooklyn.

Desviei meus olhos e fiz uma análise rápida do salão. Quando


meu olhar passou por cima do bar, notei Gordon e vários de seus
companheiros de equipe de futebol bebendo cervejas. Ele notou a
nossa entrada e estava olhando diretamente para mim, seus olhos se
estreitaram e sua boca torceu em um sorriso cruel. Nossos olhos se
encontraram brevemente antes do seu olhar baixar para percorrer o
comprimento do meu corpo, tão lento e profundamente que todos os
meus pelos do meu corpo ficaram de pé em desconforto.

Eu esperava que ele não fosse estúpido o suficiente para se


aproximar de mim, depois do que aconteceu da última vez. Se Finn
tiver que tirá-lo de cima de mim novamente, não tinha certeza se seria
capaz de parar a si mesmo antes de enviar Gordon ao pronto-socorro.

Ou ao necrotério.

Mantive meu rosto inexpressivo, sabendo que idiotas como


Gordon começam assustando e manipulando as mulheres. Enquanto
projetava mentalmente um vai se foder para ele, eu guiei Lexi em
direção ao lado oposto do bar, tão longe dele como poderíamos ir. Finn
tinha começado uma nova canção, e me concentrei em sua voz, em vez
de presença assustadora de Gordon.

Inclinei meus ombros. Estava usando "O" vestido, eu tinha


tido sexo fantástico com um cara que era tão incrível que me assustou,
e minha melhor amiga era muito possivelmente a garota mais legal do
planeta - nada, nem mesmo Gordon Babaca O'Brien, ia arruinar esta
noite para mim.

Depois de algumas rodadas no bar, eu era quase capaz de


esquecê-lo completamente. Lexi e eu estávamos bêbadas e felizes,
dançando à margem da pista de dança com bebidas na mão, enquanto
assistíamos a banda - ou, mais especificamente, o baterista e vocalista
- tocarem seu set.

De vez em quando, eu via o olhar de Finn varrendo a multidão


como se estivesse à procura de alguém. Minha respiração ficava presa
quando a esperança guerreava com o medo dentro de mim; mais do
que tudo, eu queria ser aquela que ele estava procurando nesse mar
de rostos. Várias vezes, recusei as tentativas de Lexi para nos arrastar
para mais perto do palco, onde Finn seria capaz de nos identificar; eu
não estava pronta para ter os meus receios confirmados, de um jeito
ou de outro.

Quando a banda anunciou que estaria fazendo a sua primeira


pausa, assisti como Finn, Ty, Scott, e Trent - o membro final da
banda, que eu ainda não encontrei - pularam do palco e foram
imediatamente cercados por groupies. Tentei enrolar o ciúme
desconhecido e infundado que eu estava sentindo. Finn não era meu
namorado; claro, a gente teve um ótimo sexo - mas nós nunca
conversamos sobre o que aquilo significava. Nós certamente nunca
dissemos nada sobre a exclusividade ou rótulos.

Finn estava fazendo lentamente seu caminho em direção ao


bar; eu podia apenas notar a sua forma em meio à multidão de
meninas que penduravam nele. Nunca tinha me sentido assim antes,
nunca me importei muito com isso antes, e por um momento fiquei
enraizada no chão, observando e sentindo como se tivesse tido um
chute no estômago por uma bota Timberland com ponta de aço. Os
olhos de Lexi estavam balançando de mim, para Finn, então de volta
para mim, sua expressão ao mesmo tempo simpática e cuidadosa com
a minha reação.

De repente, tive a forte vontade de me dar um tapa no rosto.


Quem era essa menina, de pé nas sombras assistindo um cara que ela
tinha sentimentos ser rasgado por putas groupies? Quem era ela,
esperando pelos lados, porque ela estava com muito medo de sair e
enfrentar a música? Eu com certeza não a reconheci.

Ela não era a pessoa que minha mãe tinha sido. E ela
definitivamente não era a pessoa que minha mãe me criou para ser.
Fechando os olhos, quase podia ouvir o sussurro de suas palavras no
meu ouvido; quase podia sentir o calor do seu corpo pressionado ao
meu lado, quando nós nos deitamos na minha cama de infância
olhando para o meu teto de conto de fadas.

Brooklyn, algumas pessoas vivem suas vidas inteiras em pé no


limite do penhasco, à espera de alguma garantia de que quando elas
finalmente derem esse salto para o desconhecido, vai haver uma rede
de segurança lá para pegá-los. Mas essas pessoas, Abelhinha? Elas
nunca realmente vivem. Elas observam suas vidas passarem por elas, à
espera de algo que não existe.

Porque você nunca vai ter cem por cento de certeza de nada.
Você vai dar chances às pessoas, e elas vão lhe machucar. Você vai
experimentar algumas coisas, e você vai falhar com elas. E isso é bom,
Abelhinha - é a vida. Você não pode parar de viver, porque você está
com medo. Você não pode esperar na beira do penhasco para sempre,
só porque é seguro.

Você tem que saltar.

Eu tive que pular.

De repente, antes que eu tivesse tempo para pensar sobre o


que estava fazendo, eu estava em movimento - empurrando através da
multidão para chegar até ele. Assumidamente dei cotoveladas no meu
caminho através da multidão de meninas, ignorando seus gritos
agudos de protesto e, finalmente, rompendo o círculo que rodeava
Finn. Eu parei há cerca de um metro de distância dele.

Seus olhos encontraram os meus imediatamente, como se ele


estivesse esperando por mim para me materializar na multidão a
qualquer momento. Nós dois ficamos congelados com vários metros
entre nós e simplesmente ficamos olhando um para o outro. Quando
os nossos olhares se encontraram, esmeralda colidindo com cobalto,
senti novamente a força indescritível que parecia me dar um puxão em
sua direção sempre que estávamos perto, como dois ímãs ligados por
apenas alguns centímetros - sua atração irrefutável e infinita. O olhar
em seus olhos me disse duas coisas: em primeiro lugar, que ele sentiu
isso também, e em segundo lugar, que tinha sido eu que ele estava
procurando na multidão durante toda a noite.

Saltar.

Dei um passo em sua direção e, em seguida, tão rápido que a


minha mente ainda não tinha registrado que ele estava se movendo,
ele fechou a distância e estava ali na minha frente, sem fôlego.

"Princesa", ele sussurrou, uma mão subindo para acariciar


um lado do meu rosto.

"Homem das cavernas", eu sussurrei, apoiando em seu toque.

Senti seu sorriso contra os meus lábios no instante anterior


de sua boca estar na minha, entrelaçando os braços em torno de mim
ao mesmo tempo. Agarrei-me a ele com força enquanto nossas bocas
devoraram uma a outra, como se tivesse sido meses em vez de horas
desde que tínhamos passado tempo juntos. Suas mãos estavam em
todos os lugares: emaranhado no meu cabelo, acariciando meus
ombros, deslizando pelas minhas costas para descansar em meus
quadris e me puxando apertado contra sua frente, para cada parte de
nossos corpos se fundirem.

E eu me perdi em seu toque, não me importava com as outras


meninas ou o fato de que nós nunca falamos sobre rótulos ou
sentimentos ou termos. Porque ele era Finn, e eu era Brooklyn, e nesse
momento nada mais importava.

Eu estava em casa.

Eu não sei quanto tempo ficamos ali, agarrados em nosso


próprio mundinho, antes dos assobios e sussurros da multidão em
torno de nós invadirem a minha consciência.
"Eu acho que ele a engravidou," A voz de Lexi chamou de
algum lugar atrás de mim. Meus lábios se separaram de Finn e eu
torci para olhar por cima do ombro para ela.

"Quero dizer, sério, essa foi a coisa mais quente que já vi",
continuou ela, sua expressão reflexiva. "Eu posso ter tido um orgasmo
apenas observando."

Tyler, que estava de pé ao seu lado, começou a rir e a puxou


em seus braços.

"Lex", eu disse, rindo. "Você precisa sair mais."

Eu desembaracei minhas mãos, de onde elas estavam


envolvidas em torno do pescoço de Finn e olhei em seus olhos.

"Ei," eu disse, sorrindo.

"Você veio", ele sorriu de volta para mim.

"Eu disse que vinha."

"Eu sei", ele deu de ombros. "Eu só imaginei que você teria
encontrado uma maneira de evitar de vir aqui agora."

"Bem, bem," eu bufei. "Eu só vou sair, se isso o que você


estava esperando."

Tentei me afastar dele. Seus braços, ainda envolto em torno


de mim do nosso beijo, não cederam ou até mesmo soltaram enquanto
eu lutava contra o seu aperto.

"Pare de lutar contra mim, princesa", disse Finn, em voz


baixa. "Vai ser muito mais fácil para nós dois, se você parar de correr
para longe disso e de inventar razões para estar com raiva de mim."

"Eu não estou correndo e não estou inventando nada", rebati,


embora eu meio que estava.

"Abelhinha".
"O que." Eu vociferei a expressão, olhando para o seu queixo
para não ter que ver o olhar em seus olhos.

"Estou feliz que você veio."

Suspirei e, só assim, a raiva que eu estava tentando tão


dificilmente agarrar, escapuliu. Raiva era fácil - eu poderia lidar com
raiva, ou ódio, ou indiferença. Eram essas novas emoções, as que eu
estava com muito medo até mesmo de colocar um nome, que eu estava
lutando para lidar.

Levantando os olhos, encontrei seu olhar, que estava quente e


cheio de diversão.

"Isso não vai ser fácil, você sabe," eu disse a ele.

Ele levantou uma sobrancelha. "Isso?"

"Nós", eu botei para fora, quase gaguejando sobre a palavra.

Ele sorriu e a covinha na bochecha direita apareceu.

"As coisas boas - as coisas que realmente valem a pena -


geralmente nunca são", ele respondeu, enganchando um braço em
volta do meu ombro e nos guiando em direção ao bar. "Agora, vamos
pegar uma bebida."

"Ou cinco," eu adicionei sob a minha respiração, nervosa.

Finn riu e me apertou um pouco mais forte quando ele me


levou para onde Lexi e Tyler estavam sentados.
Capítulo 13
Em Queda Livre

Finn e Tyler estavam de volta ao palco, açoitando a multidão


em um estado frenético com a sua segundo set da noite avançado. Eles
tinham passado sua pausa rindo no bar com Lexi e eu, e - não que
fosse admitir para Lexi - tinha sido tão divertido que eu estava
realmente ansiosa com a possibilidade de encontros duplos no futuro.

Depois que eles nos deixaram para ir tocar, Lexi e eu


tínhamos reivindicado uma pequena mesa alta ao lado da multidão
que tinha um ponto de vista privilegiado para cobiçar a banda e ver as
pessoas se contorcendo na pista de dança. Estávamos rindo com a
visão de um casal bêbado tropeçando em torno de uma coluna de
sustentação, quando a voz de Finn cortou o ruído do clube e
imediatamente chamou minha atenção.

"Tudo bem, tudo bem, tudo bem!" Finn gritou no microfone.


"Vocês estão curtindo o show?"

A multidão gritou sua aprovação.

"Nós vamos um pouco mais devagar agora, portanto


aguentem conosco. Essa próxima música é realmente importante para
mim, porque ela diz tudo o que eu nunca serei capaz de encontrar
palavras certas para expressar". Finn sorriu enquanto olhava para a
multidão, com os olhos vindo descansar em mim. "Esta vai para a
minha garota especial - ela sabe quem ela é." Ele piscou para mim.
Houve um suspiro coletivo das mulheres na plateia; era óbvio
que 99,9% delas acreditavam que ele estava falando sobre elas.

"E, na verdade, eu vou precisar da ajuda dela para cantar",


Finn disse à plateia. "Ela provavelmente vai me matar por fazer isso,
então eu vou precisar da ajuda de vocês para que ela venha aqui em
cima. Vamos lhe dar algum incentivo! Façam barulho para
BROOKLYN!" Ele estendeu os braços ao lado do corpo e acenou para
cima e para baixo, bombeando o volume da multidão para um decibel
ensurdecedor.

"Vocês chamam isso de alto?" Finn gritou no microfone.

A multidão gritou ainda mais alto. Isso foi sem precedentes;


nem uma única vez na história a Apiphobic Treason’s chamou alguém
da plateia para o palco.

"Vamos, princesa, traga seu traseiro aqui em cima!"

Ele estava rindo no microfone, sem dúvida, divertindo-se com


o olhar de fúria assassina que estava radiando dos meus olhos.
Comecei vigorosamente balançando a cabeça de um lado para o outro
para que ele pudesse entender que não havia nenhuma maneira no
inferno que eu estava indo parar naquele palco.

"Ele quer dizer você, idiota!" Lexi empurrou meu braço.


"Anda!"

Eu olhei para ela com horror. "Eu não vou lá em cima! De que
lado você está?" Eu gritei, horrorizada.

"Finn!"

Traidora!

Neste momento a multidão começou a virar, curiosa sobre a


identidade da 'garota especial’ de Finn Chambers. Em seguida, o canto
começou - uma crescente construção lenta de meu nome, gritando em
uníssono por quase três centenas de pessoas.

"BROOK-LYN, BROOK-LYN", gritavam incessantemente, o


espaço vibrando com o som.

Quem estava trabalhando nas luzes do palco me localizou no


meio da multidão - Finn provavelmente tinha apontado de antemão
para que eles soubessem exatamente onde eu estava - e de repente eu
me encontrei iluminada por todos os lados por um holofote.

Bem, lá se vai o meu plano para escapar despercebida pela


porta dos fundos.

"Vamos, princesa, não se acanhe," a voz de Finn brincou,


crescendo através dos alto-falantes para mim.

"BROOK-LYN, BROOK-LYN, BROOK-LYN", a multidão gritava.

"Anda!" Lexi persuadiu, dando-me um empurrão por trás e


derrubando-me de minha cadeira em direção do palco.

Porra.

Passei no meio da multidão densa, os holofotes seguindo cada


passo meu, os frequentadores do clube se afastaram em torno de mim
como se eu fosse Moisés navegando no Mar Vermelho. Mantive meus
olhos fixos em Finn enquanto me aproximava do palco, senti a
presença de Lexi pairando perto atrás de mim, apertando sua mão ao
redor minha.

Traidora ou não, a menina sempre esteve do meu lado.

Enquanto subíamos as escadas e nos encontramos no palco,


Lexi se inclinou para frente para que sua boca roçasse minha orelha.
"Graças a Deus levei um tempo para enrolar o cabelo. E você queria
usá-lo em um rabo de cavalo, de todas as coisas! Você pode
imaginar?!"
A voz dela estava afetuosa e provocando, cheia de confiança
de que eu tanto precisava para acalmar o nervoso e as borboletas que
voavam no meu estômago. Meus nervos aliviaram um pouco enquanto
ria dela, e lhe mandei um olhar afetuoso quando ela me deu um aperto
de mão em apoio. Ela piscou quando nos separamos, deixando cair a
minha mão para que eu pudesse fazer meu caminho até Finn
enquanto ela ia em direção a bateria de Tyler.

O afeto imediatamente desapareceu da minha expressão


quando me virei para olhar para Finn. Ele estava esperando por mim,
despreocupado com minha ira e com uma mão estendida. Enfiei minha
mão na sua e cravei minhas unhas duramente na palma da sua mão.

Ele nem sequer se preocupou em recuar, o bastardo.

"O que diabos você está fazendo, Finn!", sussurrei, cuidando


para não projetar no microfone. Ele piscou para mim, em seguida,
virou-se para a multidão.

"Senhoras, senhores, aqui está ela - Eu lhes apresento


Brooklyn Turner, pessoal! Façam barulho para ela!"

Ótimo, ele estava me ignorando.

A multidão, no entanto, não estava; pelo barulho, assobios e


gritos elogiosos masculinos que ouvi, emanando do grupo, estava claro
que o vestido não foi apenas apreciado, mas uma mudança muito
bem-vinda ao entretenimento masculino que Styx normalmente se
gabava. Eu não pude evitar de sorrir um pouco.

"Agora, como eu disse anteriormente, essa música é especial


para mim e Brooklyn. Você pode até dizer que é a nossa música", ele
disse, sorrindo para mim. "Certo, princesa?"

"Não temos uma canção," murmurei, horrorizada. Eu


realmente não gostava de onde isso estava indo. "Nós nem mesmo
somos um casal!" Apesar do meu crescente alarme, consegui manter
minha voz baixa o suficiente para que o microfone não projetasse
meus protestos em todo o clube. Finn me ignorou, colocando um braço
em volta do meu ombro e me puxou para perto de seu lado.

"Nós não podemos ouvi-la!" Gritou uma voz na multidão.

"Sim, o que ela disse?" Gritou outro.

"Ela concordou comigo", Finn disse à multidão, seu corpo


movendo-se com o riso reprimido. "Então, sem mais delongas, para a
nossa primeira apresentação como um casal... Esta é a Home de
Edward Sharpe e os Magnetic Zeros!"

Casal? O que... o que?!

Antes que eu pudesse protestar ou até mesmo processar


totalmente a bomba que ele acabou de jogar sobre mim - e cerca de
três centenas de estranhos aleatórios - Scott, Trent, e Ty começaram a
tocar as notas de introdução. Minha deixa para cantar estava se
aproximando rápido demais para me mover, pensar ou mesmo respirar
- tudo o que eu podia fazer era reagir.

Agradecendo a minha estrela da sorte que - devido a


inúmeras práticas em meu chuveiro - eu sabia todas as palavras desta
canção, dei um passo para fora do braço de Finn e agarrei o pedestal
do microfone. Se eu fosse fazer isso, então eu estava indo para fazê-lo
direito; você não pode apenas cantar meia-boca uma canção como
"Home".

Olhando para a multidão gritando, esqueci de ficar com raiva


de Finn. Minha mente apagou completamente, e tudo o que restou foi
a sensação do microfone apertado em minha mão e a corrida absoluta
da adrenalina percorrendo em minhas veias.
Então, até isso se foi; eu estava vazia de tudo, exceto da letra,
e eu estava cantando com meu coração.

Finn e eu negociamos os versos perfeitamente, como se


tivéssemos praticado esta música juntos milhões de vezes. Na
realidade, nós só tínhamos cantado uma vez - quando tínhamos
pintado meu quarto ontem.

O tom da canção era brincalhão, e nós rimos enquanto


cantávamos e rodeávamos um ao outro no palco, os olhos fixos um no
outro, em vez de no público. Apesar da leveza do nosso desempenho,
as letras transmitiram uma mensagem mais profunda e infinitamente
mais significativa. Não deixei de notar o que Finn estava me dizendo,
selecionando essa música em particular.

Casa.

É onde quer que eu esteja com você.

Era uma declaração forte para se fazer a alguém, mas era


especialmente poderosa para mim - uma menina que não tinha tido
um verdadeiro lar pela maior parte de sua vida. Sua escolha não tinha
sido acidental; ele sabia melhor do que ninguém o que minha vida
crescendo tinha sido. Partes do que eu revelei a ele tinha pintado uma
imagem muito boa de como minha infância foi, mesmo que ainda
estivesse faltando alguns dos detalhes mais vitais.

Então ele escolheu essa música? Não foi uma coincidência, ou


um descuido, ou um erro.

Era uma declaração. Era uma confirmação que nunca antes


foi me oferecido. Era uma promessa de que, mesmo que eu não tenha
tido uma casa tradicional, com dois pais amorosos, uma cerca branca
e um golden retriever no jardim da frente, isso não importa.

Ele seria a minha casa.


Foi naquele instante que eu me apaixonei por ele.

Sei que as pessoas sempre falam sobre o amor como se ele


fosse uma realização que você tem um dia - um momento repentino de
clareza em que você percebe que está lentamente se apaixonando por
essa pessoa por dias ou semanas ou meses. As pessoas falam como se
elas não tivessem realmente caindo, afinal, mas em vez disso, aparecia
um reconhecimento gentil que você já atingia o chão.

Não foi assim para mim.

Não foi uma epifania lenta, ou uma tomada de consciência


que me lançou para dentro do amor há semanas atrás, sem nunca
perceber.

Foi tão repentino quanto um clarão, tão violento e


aterrorizante como um mergulho de cabeça para fora de um arranha-
céu. Eu não tinha caído; Não, eu estava em queda livre – em espiral
para baixo em um abismo à espera do chão para avançar e encontrar-
me.

Eu nem sequer me preocupei em me preparar para o impacto,


porque o minha aterrissagem era inevitável. A gravidade estava me
empurrando para baixo, acelerando minha descida. Mais rápido, mais
rápido, mais rápido, eu desabei no amor, sem esperança de alguma
vez puxar a mim mesma de volta até ao lado do edifício e tentar me
salvar.

Quando o pavimento abaixo apareceu, eu vi uma calçada de


giz com corações quebrados e esmagados pelas expectativas, eu
esperei para a próxima dor do impacto. Meus braços não falharam,
minhas pernas não fizeram bicicleta no ar. Com a aceitação destacada,
eu antecipei o golpe; a fragmentação dos ossos, a projeção da carne e
medula no concreto com o amor - a força destrutiva horrível, imóvel -
destruindo cada átomo e partícula de meu ser.
Então, quando esse acidente inevitável aconteceu - quando
aterrissei tão duro contra a realização de que eu amava Finn, isso
roubou meu fôlego e quase me fez parar de cantar - fiquei chocada que
não haviam partes de mim quebradas.

Meus ossos não quebraram, meu sangue não derramou, o


meu coração não foi pulverizado. Em vez disso, senti o
desmoronamento revelador de todos os muros que eu já tinha
construído no meu coração, a medida que eles fraturavam em poeira
contra o chão.

Quando os escombros se estabeleceram, e eu me vi de pé ilesa


na parte inferior de um arranha-céu incrivelmente alto, percebi que eu
tinha feito isso.

Eu pulei. E, mais importante, eu tinha sobrevivido à queda.

As paredes que eu tão meticulosamente construí para manter


todos fora tinham amenizado a minha queda e agora estavam
simplesmente desaparecendo, como se nunca tivessem existido, em
primeiro lugar.

Eu amei Finn Chambers – eu o amava loucamente - e não


havia uma única barreira que o manteria fora do meu coração.

Meu rosto deve ter registrado temor ou medo, ou uma mistura


de ambos, porque quando voltei para a realidade, percebi que Finn
estava olhando para mim, estranhamente, com perguntas acesas em
seus olhos. Felizmente, mesmo durante o desafio que eu tinha
acabado de experimentar, eu gostava de pensar que podia manter uma
boa cara de pôquer. Desde que eu nunca parei de cantar, era provável
que Finn e Lexi fossem os únicos que tinha reconhecido o olhar
vidrado de pânico eufórico em meus olhos.

Com uma piscadela tranquilizante na direção de Finn, virei-


me para a multidão e terminei a música com um sorriso secreto no
meu rosto. Quando Scott e Ty tocaram as notas finais, sorri enquanto
a multidão aos nossos pés saltava para cima e para baixo, aplaudindo
e gritando loucamente sua aprovação. Finn acenou para a multidão
antes de pegar a minha mão e me puxar em direção a ele. Sem me
importar com as centenas de pessoas nos assistindo, ele pressionou
seus lábios nos meus e me deu um beijo ardente.

Os assovios, se possível, cresceram ainda mais alto.

"Brooklyn Turner, pessoal!" Tyler gritou no microfone que


usava para backing vocal, sua voz tirando Finn e eu fora do nosso
momento particular. Tentei me afastar, mas Finn não me deixou ir
muito longe; mantendo seus braços firmemente travados em torno das
minhas costas, ele descansou sua testa contra a minha. Ele nem
sequer se preocupou em olhar para a multidão - ele só tinha olhos
para mim.

"Você é tão incrivelmente talentosa que realmente me


surpreende", ele disse, seu olhar intenso. "Isto é o que você está
destinada a fazer com sua vida, Abelhinha."

"Cantar?" Perguntei, incrédula.

"Sim", ele sussurrou, se afastando para que ele pudesse beijar


a minha testa. "Só me prometa que vai, pelo menos, pensar sobre isso.
De acordo?"

"De acordo", sussurrei de volta, pressionando meus lábios


contra os dele para selar o acordo. Quando nos separamos, Finn se
virou para a multidão, mantendo uma mão entrelaçada com a minha.

"Vocês podem ver porque eu sou louco por essa garota?" Ele
perguntou à plateia, segurando nossas mãos unidas sobre a minha
cabeça e me girando em um círculo lento. Houve aplausos dos homens
na plateia; as fãs mulheres, no entanto, estavam estranhamente
quietas.
Eu quase podia ouvir o som de milhares de corações partindo
em todo o campus quando as meninas mandassem mensagem,
twittassem e blogassem a notícia de que Finn Chambers estava
oficialmente, inconcebivelmente, fora do mercado. As meninas mais
próximas do palco ou me olhavam com inveja velada e ódio, ou
olhavam ansiosamente para Finn, como se a qualquer momento ele
fosse anunciar que era tudo uma grande brincadeira e chamá-las no
palco em meu lugar.

Acenei para elas alegremente enquanto caminhava para fora


do palco com Lexi nos meus calcanhares.

Mal intencionada? Pode Ser. Satisfeita como o inferno?


Definitivamente.

Lexi e eu éramos as destinatárias de mais do que alguns


olhares julgadores quando fizemos o nosso caminho para o bar para
pegar mais uma rodada. Nós decididamente os ignoramos, pagamos
pelas nossas bebidas, e caminhamos de volta para recuperar a nossa
pequena mesa perto do palco.

"Garota, se você não bloquear essa merda, eu vou. Esse


menino é tão gostoso, que cada garota nesta sala mataria para ser
você agora", Lexi disse, seus olhos azuis claros se ampliando enquanto
ela olhou para mim de cima. "Falando sério, porém, olhe a sua volta.
Algumas dessas cadelas não piscariam por cortar sua garganta com a
unha letalmente cuidada e deixariam seu corpo para apodrecer no lixo
do lado de fora".

"Isso é reconfortante, Lex. Muito obrigada."

"Eu tento", ela sorriu.

"Eu acho que eu o amo", eu soltei.

Mentira. Eu totalmente sabia que eu o amava.


"Sim", Lexi assentiu sabiamente. "Você era um caso perdido
no minuto que o menino passeou por sua vida."

"Ele não passeou," eu indiquei, bebendo a minha bebida.

"Você está certa. Você era um caso perdido no minuto em que


ele te resgatou do chão quando você caiu do hidrante."

"Depois que eu caí?" perguntei. Parecia que Lexi lembrava dos


acontecimentos daquele dia muito, muito diferente de mim.

"Sim", Lexi deu uma risadinha.

Eu lancei um olhar em sua direção.

"Você o ama", ela suspirou feliz, um olhar sonhador à deriva


sobre o rosto.

"Lex", eu disse, em advertência. Admitir isso em voz alta era


uma coisa; discuti-lo casualmente tomando bebidas era outra.

"Eu sei, eu sei", ela resmungou. "Você não quer falar sobre
isso."

"Vou correndo ao banheiro," eu disse a ela, levantando do


meu assento. Eu precisava limpar a minha cabeça. "Volto em um
segundo."

"Quer que eu vá?" Ela ofereceu, com os olhos fixos no palco.

"Não, fique aqui e guarde a mesa. Eu não vou demorar


muito."

"Huhum", ela murmurou, praticamente babando enquanto


observava Tyler executar um solo de bateria. Lancei um último olhar
para Finn, que estava totalmente concentrado em sua performance,
seus olhos fechados em concentração, e eu senti meu coração inchar
com tanto sentimento que pensei que minhas costelas pudessem
rachar sob a tensão.
Rasgando meus olhos, eu me virei e fui para o corredor de
volta aonde os banheiros eram localizados. Quando eu abri a porta do
banheiro das mulheres, eu congelei na porta quando vi que todas as
cabines estavam ocupadas, com várias garotas esperando na fila. Cada
cabeça virou para olhar para mim quando a porta se abriu, e eu de
repente percebi que nunca seria capaz de pensar cercada por tanta
hostilidade feminina.

Deixando a porta se fechar novamente, eu virei de costas para


o banheiro e olhei para o corredor escuro. As paredes eram sombrias,
cobertas de descamação de tinta cinza e de manchas cujas origens eu
não tinha vontade de descobrir. Uma única lâmpada piscava oscilando
de um fio no teto, e as outras duas portas do corredor ofereciam
passagem ou para o banheiro masculino ou para fora no beco estreito
ao lado Styx.

Não era exatamente um ambiente adequado para procurar a


calma interior.

Em menos de um segundo a minha decisão foi tomada e os


meus pés estavam se movendo, levando-me para a porta do beco. Eu
precisava respirar o ar da noite, para ver o sempre presente céu
noturno e recuperar um pingo de controle sobre as partes de mim que
eu sentia em redemoinho descontrolado.

A porta foi construída pesadamente, de metal à prova de som


e, a julgar por sua aparência desgastada, oxidada, ela não parecia ser
usada frequentemente. Ela rangeu em suas dobradiças quando eu
empurrei aberta, manchas de ferrugem caindo como cinzas no beco
escuro. Aos meus pés estava um bloco de cimento solitário,
empurrando contra a parede segurando a porta improvisada.
Inclinando, eu usei uma mão para agarrar e arrastar o bloco a fim de
sustentar a porta aberta.
A luz amarela do corredor derramou para o beco, iluminando
uma pequena parte da passagem escura. Pisando para fora da porta e
descendo dois degraus no concreto, agi em um instinto tão arraigado
que eu não conseguia lembrar as suas origens; minha cabeça se
inclinou e olhei para o céu noturno, e quando as estrelas lentamente
entraram em foco, fui tomada por um sentimento de infinita calma.

Eu ansiava a serenidade da ligação à terra das estrelas tanto


que eu conseguia lembrar; a imensidão das galáxias acima sempre fez
meus problemas parecerem de alguma forma menor ou mais
gerenciável - se era do meu local no telhado vitoriano, da varanda de
estilo francês do meu quarto na propriedade do meu pai, ou de um
alpendre da varanda dilapidada em um lar adotivo, há muito
esquecido. Agora, graças a Finn, eu podia ver as estrelas da minha
cama enquanto eu olhava para o meu teto. O pensamento me fez sorrir
na noite escura.

Encostei à parede de tijolo fresco em frente à porta do clube, a


cabeça inclinada para as constelações acima. Com uma eficiência
nascida a partir de anos de prática, recitei seus nomes na minha
mente.

Andrômeda.

Peixes.

Aquário.

Pégasus.

Eventualmente, senti minha mente clarear e permiti que os


meus olhos se fechassem. Os minutos passavam enquanto ouvia a
música abafada vazando pela porta escorada para o beco, tentando
trabalhar a coragem de voltar para dentro. Não era que eu estava com
medo de ver Finn. Na verdade, era o oposto; eu estava tão ansiosa para
ficar sozinha com ele, que estava tomando todo o meu autocontrole
para não atacá-lo no palco e forçosamente arrastá-lo para o meu
apartamento.

Meus olhos se abriram ao som inconfundível do metal


batendo com portas fechadas com um boom retumbante que sacudiu
meu âmago. Ainda mais surpreendente foi o súbito silêncio, como se a
escuridão tivesse jogado um cobertor de lã grosso sobre cada som - a
música, o riso, a conversa de clientes desordeiros comprando bebidas.
Desapareceu tudo agora, deixando-me sozinha no silêncio absoluto.

E no escuro.

Todo vestígio de calma no meu sistema havia fugido junto


com a luz, e minha mente estava abruptamente cheia de pensamentos
apavorantes que gotejavam em torno do interior da minha mente mais
rápido do que eu poderia acompanhar.

Será que alguém fechou a porta, ou foi o vento?

Você é uma idiota? Não há qualquer vento, Brooklyn.

Ok, então alguém fechou.

Eles sabem que eu estou aqui fora?

Merda, alguém sabe que eu estou aqui fora?

Ou, pior... tem alguém aqui comigo?

Obriguei-me a parar de pensar nesse sentido antes de eu


induzir um ataque de pânico. Meus olhos, não ajustados à escuridão
repentina, cambalearam descontroladamente enquanto procurava por
algo, qualquer coisa, no beco escuro como breu. Cada músculo do meu
corpo ficou tenso quando eu me preparava para um ataque de algum
tipo. Eu fiz um balanço da situação, minhas mãos em punhos e meu
corpo equilibrado na ponta dos meus pés enquanto eu me preparava
para decolar em um piscar de olhos.
Eu tinha duas opções: ou tentar cautelosamente o meu
caminho de volta para a porta e tentar abri-la - o que eu não tinha
certeza de que era possível, dado o fato de que eu não tinha visto uma
maçaneta do lado de fora - ou seguir ao longo da parede que estava
encostada até ela me levar para a rua na frente de Styx. O beco era
provavelmente apenas de algumas centenas de metros de comprimento
- que teria me levado não mais do que alguns segundos para encontrar
meu caminho, em circunstâncias normais.

Agora, no entanto, apenas com as minhas mãos e ouvidos


para me guiar, meus pés amarrados a um par de sandálias de salto
mais alto que Lexi tinha, e o medo correndo pelas minhas veias, eu
sabia que ia levar muito mais tempo para chegar à rua. Especialmente
se eu estava batendo em lixões e vagueando e parando todo o
caminho.

Amaldiçoei minha própria estupidez. Eu tinha quebrado todas


as regras do manual das meninas que não querem ser assassinadas, ir
para fora sozinha e não trazer Lexi ou até mesmo meu celular comigo
para essa aventura estúpida.

Decidi que minhas chances de abrir a porta pesada eram


melhores do que tentar vaguear em um beco de paralelepípedo cheio
de lixo em saltos de treze centímetros. Com a minha sorte, eu
provavelmente iria acabar tropeçando em um vagabundo ou caindo de
cabeça em uma caçamba de lixo.

Dando um passo hesitante para frente na escuridão, eu


mantive uma mão encostada contra a parede atrás de mim, a
superfície do tijolo áspera sob minha palma. Apesar da fraca luz
lançada pelas estrelas no céu, o beco permaneceu escuro demais para
fazer qualquer coisa em tudo. Inicialmente, eu estava otimista que os
meus olhos se ajustariam às sombras, mas depois de quase um
minuto passado com pouca mudança, minhas esperanças tinham
diminuído.

Sem meus olhos, os meus outros sentidos estavam todos em


estado de alerta; Eu podia sentir o cheiro enjoativo que emanava dos
lixos e, se um rato tivesse correndo em qualquer lugar dentro de um
raio de um quilometro, tinha certeza que eu o ouviria. Então, a cada
minuto que passava permanecendo absolutamente tranquilo, cresceu
mais minha confiança de que eu estava sozinha.

Senti um pouco da tensão desenrolando dos meus ombros.


Embora ainda estivesse desconfortável com a situação, estava
começando a pensar que a porta batendo fechada foi o trabalho de
uma fã feminina ciumenta, ao invés de algum tipo de idiota-
estuprador-mostro-zumbi.

Mais segura, dei mais um passo em frente na escuridão,


levando-me mais longe da parede nas minhas costas e deixando
apenas as pontas dos dedos da minha mão esquerda sobre os tijolos.
Eu estava relutante em abandonar essa conexão tátil final com o
mundo, irracionalmente preocupada que, se eu fizesse, eu poderia me
encontrar perdida na escuridão.

O beco era relativamente estreito; em pé diretamente no


centro, eu pensei que poderia ser capaz de atingir ambas as paredes
com os braços estendidos para os lados. Ansiosa para chegar à porta e
voltar para a segurança do clube, balancei minha mão direita para a
escuridão, esperando que meus dedos achassem o metal frio da porta,
ou o concreto duro das paredes.

Eles não o fizeram.

Em vez disso, elas entraram em contato com algo


infinitamente mais assustador.
Algo que fez meu coração parar no meu peito e meus pulmões
se contraírem com uma perda súbita de ar. Algo que gelou meu sangue
nas veias.

Porque essa coisa que meus dedos tinham tocado?

Era o peito de um homem.


Capítulo 14
Lutar ou fugir

Eu gritei.

Foi um grito de desespero - um lamento estridente nascido do


puro terror. Era o desamparo personificado, ecoando fora das paredes
do beco. E assim que o grito saiu da minha boca eu sabia, no fundo de
meus ossos, que era inútil; ninguém jamais seria capaz de ouvi-lo
sobre a música batendo dentro do clube.

Meu último pensamento, antes das suas mãos apertarem


sobre os meus ombros em um aperto inquebrável, era que eu não era
melhor do que as meninas do grêmio que eu constantemente zombei.
Eu tinha me jogado direto em suas mãos.

Quem quer que fosse.

As pessoas sempre falam sobre o nosso inato instinto de luta


ou fuga humana. Supostamente, algumas pessoas simplesmente têm -
a vontade de viver, para escapar, para continuar, apesar do medo. E
outros simplesmente não. Elas não têm esse desejo ardente de
sobreviver acima de tudo.

Dizem que esses momentos em nossas vidas, essas frações de


segundos em que temos de decidir se queremos ficar e lutar ou virar e
fugir, nos define quem realmente somos.

Eu sempre pensei que era um monte de besteira.


É claro, que ter vontade de viver é importante - até mesmo
vital. Ela pode fazer a diferença entre a vida e a morte, entre tomar
mais uma respiração ou sucumbir a um fim rápido.

Mas também pode ser um par de sapatos de salto agulha de


treze centímetros.

Depois disso, sempre quis saber, como um senso de


curiosidade mórbida, se as coisas teriam sido diferentes se eu
estivesse usando sapatos diferentes; se o terreno tivesse sido
pavimentado, ao invés de paralelepípedos; se a luz lançada por minhas
favoritas constelações do alto fossem apenas um pouco mais brilhante,
para que eu pudesse ver quem estava ali no escuro comigo. Ganhando
o tempo. Esperando por mim para fazer meu movimento em direção à
porta.

Isto teria mudado as coisas? Imaginei que nunca realmente


saberia.

O grito morreu em minha garganta, voltando para um suspiro


de dor quando seu aperto feriu duramente em meus músculos do
bíceps e ele me levantou na ponta dos pés. Lutando contra ele, usei
toda a força em meus braços para tentar me libertar. Eu podia sentir
meus músculos enfraquecendo, a minha energia diminuindo quanto
mais lutava. Seu hálito quente soprou no meu rosto - rajadas curtas,
rápidas de ar que traíram sua excitação.

Ele estava gostando disso.

Ele começou a se mover, em seguida, empurrando-me para


trás com a facilidade de um marionetista puxando as cordas de uma
marionete infeliz. Eu não tinha controle sobre o meu corpo quando ele
me deixou, presa entre a parede de tijolo nas minhas costas e o
monstro pressionado duramente contra a minha frente.
Quando ele esmagou seu corpo no meu e eu senti sua dureza
inegável entre as pernas, meu estômago começou a se agitar com
antecipação nauseante com o pensamento do que ele planejava fazer
comigo. Soube então, com clareza surpreendente, que se eu não
lutasse eu ia morrer aqui neste beco - mas não antes de eu sofrer um
destino quase pior que a morte.

"Solta-" Eu gritei, puxando meus braços. Seu controle era


inabalável.

"Me-" Tentei com as minhas pernas, chutar para fora com


meus saltos, mas nunca conseguindo fazer contato com as canelas.

"ANDA!" Eu gritei, minha voz quase embargada de histeria


quando bati em seus braços. Seu aperto era muito forte, embora; eu
podia sentir isso chegando, assim como aconteceu com Gordon no
clube aquelas semanas atrás. A ansiedade esmagadora, caindo como
uma onda através do meu sistema e tirando o pouco controle que
ainda estava na minha posse. Minando a minha vontade de lutar.

Eu podia ver isso agora, passando na minha mente em


perfeita cor, som em alta definição: eu ia ter um ataque de pânico e,
em seguida, indefesa, ele estaria livre para fazer o que quisesse - bater,
estuprar, e me matar. Aqui jaz Brooklyn Turner, vitima no campus em
autentica particular depois da escola.

Eu não ia deixar isso acontecer. Não estava pronta para


acabar com a minha vida - e não agora quando eu estava finalmente
ficando boa.

Tomei respirações profundas e tentei desesperadamente


conter a ansiedade e medo oprimidos que tinham tomado conta, eu fiz
a única coisa que me restava que eu podia pensar - um último esforço,
realmente. Eu inclinei minha cabeça para trás, tanto quanto ela iria, e
bati a cabeça no rosto dele com tanta força quanto eu podia reunir.
Minha testa bateu em seu nariz, e eu ouvi um ruído doentio quando
fizemos contato. Algo molhado - eu achava que era sangue -
derramado de seu nariz em uma corrente e pingou sobre minha testa.

Eu tinha quebrado seu nariz.

Ele soltou uma maldição abafada, e, por uma pequena fração


de tempo, seu aperto afrouxou o suficiente para eu escapar. Não perdi
a minha oportunidade; assim que meus pés se estabeleceram nos
paralelepípedos, eu abaixei e corri para fora de seu alcance.

Sabendo que ele não podia me ver no escuro, eu permaneci


agachada, movendo tão rapidamente quanto possível, sem fazer muito
barulho. Apesar de todos os instintos no meu corpo estar gritando
para eu correr, e correr para a segurança o mais rápido que minhas
pernas pudessem me levar, eu sabia que tinha que ser mais esperta do
que isso. Em um espaço tão confinado, até o menor som iria me dar de
presente.

Lentamente me arrastei para longe, estremecendo a cada


passo como os meus saltos clicando contra os paralelepípedos.
Coração e mente correndo, tentei bloquear as perguntas que foram
chocalhando em volta da minha mente. Eu não tive tempo para saber
quem ele era, ou por que ele estava fazendo isso. Não importava agora
- a única coisa real, neste momento, era a sobrevivência.

Calma, não se mova muito rápido.

Não o deixe a ouvir.

Respire devagar, tome pequenas respirações.

Mãos no chão, com as palmas espalhadas no chão para


equilibrar.

Passo, estremecer, congelar, ouvir.

É isso aí. Devagar, bem devagar.


Eu estava ganhando terreno. Ele estava atrás de mim, se
debatendo no escuro enquanto ele procurava. Eu podia ouvir sua
respiração irregular e sentir sua presença nas sombras a vários metros
de distância. Eu também podia sentir a sua fúria, totalmente liberada
por ter me perdido.

Eu sabia que se ele me pegasse de novo, ele não iria mostrar


a pouca moderação que ele teve antes. Ele estava com raiva agora,
descontrolado – verdadeiramente imprevisível. Se eu tivesse alguma
chance de viver por isso, eu não podia deixar que ele me encontrasse
na escuridão.

Foi o paralelepípedo que me arruinou.

Uma pedra solta, entortou o suficiente para me colocar fora


do equilíbrio. Quando meu peso deslocou para frente, a pedra debaixo
do meu calcanhar escorregou e antes que eu pudesse me travar, eu
estava cambaleando para frente, de cara no chão.

Senti a pele rasgar meus cotovelos e joelhos enquanto eu


deslizava entre os paralelepípedos desgastados e ásperos, pequenas
pedras e sujeira do chão do beco beliscavam minha pele desfiada.
Minha testa rachou dolorosamente contra a superfície da pedra fria o
suficiente para fazer a minha cabeça girar vertiginosamente, e um
pequeno grito involuntário escapou dos meus lábios.

Imediatamente, colei minha boca fechada para parar o som,


mordendo meu lábio inferior com força suficiente para tirar sangue.
Por favor, por favor, por favor, eu cantava, um mantra em minha
cabeça. Não deixe que ele me ouça.

Por um momento parado no tempo meus ouvidos se


esforçaram para ouvir seus movimentos, mas estava totalmente
tranquilo, mais uma vez, no beco. Sua respiração irregular foi
silenciada. Eu quase podia imaginá-lo, de pé completamente imóvel
enquanto ele tentava me localizar nas sombras - tentando ouvir tão
bem quanto eu, enquanto chegava mais perto.

Eu sabia que tinha que me mover; no entanto, permaneci


congelada, deitada no meu estômago e paralisada pela indecisão. Será
que os sons produzidos por meus movimentos só iriam atraí-lo mais
perto? Será que eu ficaria melhor simplesmente fazendo uma corrida
em meus calcanhares rumo a saída? Ou, se eu ficasse abaixada e
tentasse rastejar para a saída?

Antes que eu pudesse fazer qualquer tipo de decisão, a


escolha foi arrancada de mim.

Punhos se fecharam em torno dos meus tornozelos,


arrastando-me para trás. Minhas mãos, estavam no chão em frente a
mim, desesperadamente corri em busca de algo para agarrar. Meu
vestido estava em volta da minha cintura enquanto eu estava sendo
rebocada pelos tornozelos, o chão do beco áspero raspou minhas coxas
nuas dentro de segundos. Enquanto ele me arrastava para trás,
consegui agarrar uma pedra do paralelepípedo solto, projetando
ligeiramente para cima - provavelmente o pedaço de pedra rachada
que eu tropecei. Minhas unhas quase se soltaram dos meus dedos
enquanto eu puxava o fragmento da rocha, porém, ela finalmente se
soltou em minhas mãos.

Eu tinha uma arma.

Ele parou de me arrastar, suas mãos se moveram para cima


dos meus tornozelos para prender a base das minhas coxas, onde meu
vestido tinha subido. Seu aperto não era áspero, era quase gentil -
mais semelhante a uma carícia de um amante do que de um sádico
assassino.

Estremeci, medo e nojo me superando por um momento,


antes que eles fossem empurrados para fora - substituídos por uma
intensa raiva consumidora desse homem, esse desconhecido, que ia
tirar tudo de mim.

Eu não estava com raiva; eu estava enfurecida, eu estava


irritada.

Eu estava furiosa.

Dobrando meu joelho direito, eu enrolei minha perna para


cima e mandei um potente chute na direção do meu agressor. No meu
primeiro golpe de sorte durante toda a noite, meu salto conseguiu um
golpe perfeito para o que acreditava ser seu rosto e suas mãos me
liberaram imediatamente. Se o grito de dor que ele emitiu fosse
qualquer indicação, eu tinha causado algum dano significativo.

Eu estava distraída me perguntando se eu tinha perfurado


um dos olhos com o salto afiado do meu sapato, quando eu voltei em
meus sentidos e saltei para os meus pés. Jogando para fora uma mão,
então eu estava tocando a parede de tijolos, eu corri , ignorando a dor
ardente em meus joelhos devastados. A parede embaixo da minha mão
foi a minha única guia, me mantendo em pé quando eu corri para a
fraca luz que emanava no final do beco.

Eu podia ouvi-lo atrás de mim, xingando ruidosamente


clamando para seus pés. Em seguida, o barulho de seus passos ecoava
na noite quando ele estava atrás de mim, ganhando terreno a cada
segundo.

Eu estava ficando mais perto da segurança. Eu podia


finalmente ver a rua na entrada do beco, onde as pessoas estavam
esperando para entrar no Styx, fracamente clareado pela iluminação
dos postes amarelo em cima. Enquanto eu corria, tropecei duas vezes
no paralelepípedo e quase caí. Teria sido um caso perdido, se eu não
tivesse uma mão na parede para me segurar. Minha outra mão estava
ocupada, ainda segurando apertado em torno do fragmento da pedra
que eu tinha erguido do chão.

Ele foi mais rápido do que eu, mesmo com as lesões que eu
tinha causado nele. Eu queria desesperadamente parar e tirar os
saltos, consciente de que estavam me atrasando, mas eu estava com
muito medo de fazer uma pausa por um momento sequer. Eu sabia
que cada vez que eu tinha tropeçado, eu tinha perdido um pouco da
minha vantagem e ele ia me pegar de novo se eu não fizesse alguma
coisa para retardar o seu progresso. Embora eu pudesse ver as
pessoas à frente na rua, eu sabia que ainda havia uma boa chance de
que elas não seriam capazes de ouvir meus gritos a esta distância - ou,
pior, que elas não iriam me ajudar, mesmo se ouvisse meus gritos.

Quando senti que ele estava perto - a menos de dez metros de


distância, se a minha percepção era precisa - Virei e arremessei meu
pedaço afiado de pedra no que eu pensei que era o sua direção geral.
Eu ouvi um baque quando fez o impacto, e eu rezava para que
houvesse atingido na cabeça - ou, pelo menos em algum lugar
doloroso.

Se eu pudesse sair do beco, fora da escuridão, eu estaria


segura. Ele não seria estúpido o suficiente para me acompanhar com
uma multidão de pessoas.

Eu esperava.

Corri para a rua com cada grama de energia que eu tinha


deixado no meu corpo. Pernas latejando, pulmões doendo, cabeça
nadando com o esforço, corri até a minha visão nublar com manchas
pretas.

Não o ouvi atrás de mim. Eu não gritei por socorro. Eu nem


sequer respirava.

Eu corri.
Finalmente, milagrosamente, eu rompi através da entrada do
beco e para a rua semi-povoada. Minhas pernas cederam e eu desabei
de joelhos, com as mãos estendidas para bloquear a minha queda. No
chão de quatro, levantei a cabeça para olhar para a multidão de
pessoas em pé na fila para o clube.

Elas ficaram ali em suas roupas de festa, olhando para mim


com a boca entreaberta em estado de choque. Seus rostos eram um
caleidoscópio de emoções, que vão desde a confusão, a descrença, a
compreensão horrorizada.

Eu supunha, com meu vestido rasgado e joelhos


ensanguentados, que eu parecia uma bagunça.

"Ajude-me", sussurrei, pouco antes de meus membros


cederam completamente e eu cair no pavimento. "Por favor, ajude-me."

Foi quando tudo ficou escuro.

***

Foi o som das sirenes que me trouxe de volta a consciência.

Uma bochecha pressionada no frio pavimento, abri um olho e


olhei para o céu. Duas meninas, ambas com muita maquiagem e
vestidos idênticos, estavam olhando para mim com expressões
preocupadas em seus rostos. Pelo menos, pensei que elas pareciam
preocupadas - foi um pouco difícil dizer, debaixo de toda essa base e
bronzeado.

Pela aparência delas, elas estavam montando guarda - em


seus sapatos de plataforma, não menos - sobre a minha forma de
bruços. Aparentemente, elas também teriam chamado a polícia e uma
ambulância.
"Você está bem?" uma das garotas perguntou, com os olhos
arregalados quando ela olhou para o meu corpo, vindo a parar no
vestido outrora glorioso, que agora estava em frangalhos. Ignorei as
perguntas em seus olhos.

Eu estava bem? Não.

Estava horrorizada, traumatizada, atordoada - ela poderia


escolher seu veneno.

Eu não sabia se eu estaria bem novamente.

"Sim", resmunguei, com uma tosse. Minha garganta estava


crua, de gritar ou correr, eu não sabia.

"A ambulância está a caminho", a outra garota me informou,


como se eu não pudesse ouvir o lamento sempre crescente da sirene.
"Nós não sabemos mais o que fazer."

Olharam incertas, como se elas achassem que eu poderia


ficar com raiva por elas chamarem a cavalaria.

"Você fez a coisa certa. Obrigada", sussurrei, em um tom que


eu esperava que transmitisse a gratidão que eu tinha. "De verdade."

Eu não cheguei a dizer qualquer outra coisa ou até mesmo


pedir seus nomes, porque a ambulância chegou e, de repente, eu
estava cercada por um mar de paramédicos e policiais.

Com eficiência tranquila, os paramédicos me rolaram de


costas e examinaram as minhas pernas e braços raspados. Nenhuma
das feridas era profunda o suficiente para precisar de pontos, eles
aplicaram um antisséptico ardido e envolveram o pior deles
firmemente em gaze branca. Acho que eles tentaram me dizer alguma
coisa ou talvez perguntar o que tinha acontecido comigo, mas eu
estava à deriva na minha própria bolha privada; suas vozes soavam
distantes, abafadas como se estivessem falando comigo através de uma
parede de acrílico transparente.

Eu sintonizei o suficiente para pegar uma palavra de vez em


quando.

"...Em choque... traumatismo craniano... possivelmente...


múltiplas contusões..."

Depois que eles verificaram minhas pupilas com uma caneta


brilhante diretamente em cada olho, houve uma conferência mais
abafada entre os paramédicos. Algo que tinham visto na resposta das
minhas pupilas devem ter os preocupado, porque em algum momento
todos eles rodearam sobre uma maca e gentilmente me levantaram
para ela.

"... Mulher não identificada... atacada... concussão...".

Quando minhas costas bateram suavemente na almofada,


olhei automaticamente para as estrelas.

Andrômeda.

Peixes.

Aquários.

Pégasus.

Fechei os olhos e tentei deixá-los de fora, para desligar as


imagens que vê-las tinha provocado, mas já era tarde demais.

A porta bate. É escuro, tão escuro que não posso nem ver
minha mão na frente do meu rosto. Totalmente silencioso,
irremediavelmente sozinha. Minha mão toca um peito estranho. Seu
aperto nos meus ombros. Apertado, tão apertado. Suspiro de dor. Gritos,
ninguém pode ouvir o eco no meio da noite. Estou encurralada. Estou
impotente. Eu vou morrer.
O som de uma luta me bateu de volta para o presente. Meus
olhos seguiram as vozes altas, até que eu o encontrei no meio da
multidão. Ele parecia desesperado para chegar a mim, seu rosto ficou
vermelho e seus profundos olhos azuis piscaram perigosamente
quando ele gritava para a dupla de policiais que o impedia. Ele estava
apontando para mim, claramente tentando explicar alguma coisa para
os oficiais, quando seus olhos trancaram nos meus e ele percebeu que
eu estava consciente.

"Abelhinha!" Finn gritou, com a voz embargada, quebrada.


"Diga-lhes para me deixar passar, Abelhinha. Diga, princesa. Eles não
me deixam chegar até você."

Ainda flutuando no entorpecimento, olhei para ele,


hipnotizada pelo olhar assombrado em seu rosto. Ele parecia quase
enlouquecido com sua preocupação pela minha condição, como se o
que tivesse acontecido para mim era mais do que podia suportar.
Quase parecia que ele tinha sido o único a estar sozinho naquele beco,
quando um monstro tinha deslizado das sombras.

Queria dizer que estava tudo bem - que eu estava bem.


Queria tirar esse olhar atormentado de seus olhos. Não fiz isso, no
entanto. Em vez disso, eu virei minha cabeça para longe dele, não
querendo ver a expressão em seu rosto mais e muito preocupada com
os meus próprios demônios para gastar quaisquer pensamentos nele.

Talvez eu possa ficar assim para sempre. Confortavelmente


entorpecida para o mundo. À deriva - muito possivelmente
desequilibrada - mas segura. Sozinha na minha bolha. Intocável.
Talvez seja melhor assim.

Por mais que eu quisesse agarrar minha catatonia particular,


sabia que isso não poderia ser saudável. E era, provavelmente, um
bilhete só de ida para uma cela acolchoada com um suprimento
vitalício de tudo-o-que-você-pode-comer-é-gelatina.

Foi então que eu percebi que havia uma paramédica falando


comigo em um tom baixo e suave, com a boca perto do meu ouvido.
Voltando os olhos para seu rosto, era como se um botão de mudo
tivesse sido abruptamente pressionado; todos os sons voltaram
correndo, quase esmagador em seu volume.

Sirenes ligadas. Rádios da polícia crepitante. Curiosos


sussurrando. Uma voz de homem, gritando meu nome.

"Você pode me ouvir, querida? Precisamos saber o seu nome,


para que possamos cuidar de você."

"Br-Brooklyn", gaguejei, minha voz soando frágil. Limpando


minha garganta eu tentei de novo, "Brooklyn Turner."

"Ok, Brooklyn, isso é bom. Sou Shannon." Ela me olhou nos


olhos inquisitivamente, procurando respostas para a montanha de
perguntas que tinham sido empilhadas independente de quanto tempo
tinha se passado desde que emergi do beco. "Você se lembra o que
aconteceu?" ela me perguntou.

Eu balancei a cabeça.

"Isso é bom, Brooklyn," Shannon sorriu encorajadoramente.

"Eu estava... Eu fui atacada", sussurrei, de uma só vez com


uma confissão e um apelo para entendimento. Seus olhos eram de um
marrom quente, como caramelo derretido, e no momento eles estavam
cheios de simpatia e preocupação.

"Os policiais vão ter algumas perguntas para você daqui a


pouco, você entende?" Shannon me perguntou. "Seus ferimentos são
pequenos. Você tem alguns arranhões que precisará de ataduras
limpas e antisséptico diariamente, mas nada muito sério. Eles não
devem deixar cicatrizes, mas você vai ter um pouco de dor e
desconforto pelos próximos dias. Você pode ter uma costela quebrada,
e sua testa está ligeiramente ferida, assim como os seus braços."

"Você também precisa estar ciente do fato de que você tem


uma concussão menor. É importante que você fique acordada durante
a próxima hora ou mais, e quando você finalmente for dormir a noite,
alguém precisa acordá-la a cada poucas horas para verificar o seu
estado. Você tem alguém que pode ajudar a cuidar de você? Os seus
pais?"

Eu balancei minha cabeça.

"Que tal um companheiro de quarto? Um namorado, talvez?"

Meus olhos deixaram seu rosto e mais uma vez encontrei


Finn no meio da multidão. Ele ainda estava de frente para os policiais,
tentando chegar até mim, mas ele parecia estar perdendo a esperança.
O olhar de tristeza e derrota em seu rosto teria me deixado em meus
joelhos – se eu estivesse de pé e já não tivesse meus joelhos rasgado
em pedaços.

"Oficiais," chamei para fora, com o máximo de força que


poderia colocar na minha voz; esperava que fosse suficiente para que
eles me ouvissem acima do barulho das sirenes e da multidão que se
reunia. "Por favor, deixe-o passar. Ele é meu namorado."

Os oficiais - um dos quais eu reconheci como Oficial Carlson,


o policial sem rechonchudo que tinha investigado o arrombamento no
meu apartamento - virou-se para mim e acenou com a cabeça.
Soltando os braços para permitir que Finn passasse, ele estava ao meu
lado em um instante. Seus braços cruzaram em volta de mim
suavemente, como se ele tivesse medo de me quebrar se ele me tocasse
muito bruscamente.
Trazendo a sua testa para descansar contra a minha, ele me
olhou nos olhos. Seus próprios estavam cheios de lágrimas não
derramadas.

"Você vai me dizer o que aconteceu", ele sussurrou


asperamente. "Tudo. Cada detalhe. E quando você tiver acabado, eu
vou encontrar quem fez isso com você e me certificar que ele nunca
verá outro maldito nascer do sol."

Suas palavras eram vingativas, mas suas mãos eram gentis


quando elas vieram até meu rosto. Quando ele apertou os olhos
fechados, tentando recuperar o controle sobre suas emoções, uma
lágrima solitária saiu debaixo da pálpebra e rastreou seu rosto.
Inclinei-me para beijá-la para fora de seu rosto, e seus olhos se
abriram para olhar para mim mais uma vez.

"Você está bem?" ele me perguntou.

Eu balancei a cabeça.

"Você assustou a merda fora de mim, você sabe disso?"

Balancei a cabeça novamente, meus olhos fixos nos dele.

"Eu vi você sair para o banheiro. Cantei duas músicas


inteiras, e você ainda não tinha voltado. Eu sabia que algo não estava
certo - eu podia sentir. Então parei de cantar, encontrei Lexi, e
perguntei onde diabos você estava". Seus olhos pressionaram fechados
novamente e vi o tremor de um músculo de seu rosto enquanto ele
tentava moderar sua raiva. "Ela não tinha ideia. Ela estava muito
ocupada fodendo Ty com os olhos até mesmo para perceber que você já
tinha saído por um tempo muito longo."

"Ela não sabia", sussurrei, indo em defesa de Lexi. Eu tinha


sido a idiota que tinha ido lá fora sozinha, sem meu celular. Isso era
tudo por minha conta. "Não é culpa dela, é minha."
"Ela deveria ter pensado mais, porra", ele rosnou, claramente
não estando disposto a perdoar Lexi esta noite. Decidi deixar esta
batalha ir. Por agora, Finn precisava de alguém para culpar - alguém
para levar sua raiva adiante. Sua frustração com ela iria desaparecer
uma vez que a polícia encontrasse quem me atacou. Pelo menos, eu
esperava isso.

"Finn", eu sussurrei. "Eu preciso falar com a polícia. Dar a


minha declaração."

"Eu vou ficar com você", ele me disse, seu tom de voz não
deixando nenhum espaço para discussão. Suspirei. Eu não o queria
exatamente ouvindo todos os detalhes, mas eu não tinha nenhum
espirito de luta em mim. Eu tinha usado tudo no beco.

O Oficial Carlson e outro policial - um homem magro, de


barba grisalha e de forma paternal que se apresentou como Oficial
O'Callahan - se aproximaram, sentei devagar e Finn se moveu para
ficar ao lado da maca. Ele manteve seus dedos entrelaçados com os
meus, dando em minha mão um aperto tranquilizador sempre que a
minha voz falhava ou eu lutava para encontrar as palavras para
explicar o que tinha acontecido durante o ataque.

Quando cheguei ao ponto do meu depoimento que eu tive que


descrever a excitação sexual do meu atacante, o aperto de Finn
cresceu perigosamente forte. Eu podia dizer, sem sequer olhar em sua
direção, que ele estava travando uma batalha interna para manter a
compostura - em guerra com seus instintos para descontar sua raiva.
De alguma maneira ele conseguiu manter-se em silêncio para que eu
pudesse terminar dando a minha declaração. Os policiais ouviram com
rostos de pedra, suas expressões endurecidas por anos de experiência
com as vítimas cujos destinos eram muito piores do que o meu.
Quando finalmente tinha acabado de falar, sentindo-me
abalada por reviver cada momento do ataque, foi a minha vez de
responder as perguntas. Eles me bombardearam, pergunta após
pergunta, querendo saber sobre cada instante, detalhes
aparentemente insignificantes. Para sua decepção, e minha própria
frustração, eu não tinha respostas para muitas de suas perguntas.

Será que ele tem alguma marca ou características que


distinguem?

Estava tão escuro; eu não sabia.

Você poderia estimar sua idade?

Talvez em algum lugar entre vinte e quarenta anos? Eu não


podia ter certeza.

Ele mencionou qualquer tipo de motivo?

Ele não tinha dito nada, mesmo quando eu tinha quebrado


seu nariz ou destruído meu salto alto em seu rosto.

Você acredita que isto está relacionado com o incidente da


invasão em sua casa no mês passado?

Era possível, eu supunha.

Você pode pensar em quem iria querer assustá-la ou prejudicá-


la?

Por fim, uma pergunta que eu pudesse responder.

"Há esse cara. Gordon O'Brien. Ele esteve me ameaçando


antes." Eu engoli com força, falando em torno do grande nó na
garganta. "Acho que ele sai assustando as meninas. E ele
definitivamente estava no clube hoje à noite - Reparei nele quando eu
entrei."
"Quando você diz que ele estava ameaçando-a no passado, o
que você quer dizer?" perguntou o policial Carlson.

"Ele mais ou menos me agarrou na última vez que cruzei com


ele no Styx - ele me levantou fora do chão", expliquei. "Implorei para
ele parar, mas ele não largava. Acabei por ter um ataque de pânico ali
no clube."

"E você não relatou o incidente à polícia?" Oficial O'Callahan


fez um falou com firmeza, a desaprovação evidente em seu tom.

"É minha culpa", Finn saltou, seu rosto nublado com raiva e
arrependimento. "Eu pensei que eu tinha lidado com a situação.
Aparentemente eu não tinha."

Oficial Carlson levantou uma sobrancelha quando ele voltou


sua atenção para Finn. "E como exatamente você lidou com 'a
situação'?"

"Eu dei um soco na cara dele, senhor", respondeu Finn, sem


rodeios. Na verdade, pensei que eu poderia ter detectado uma nota de
orgulho em sua voz.

Oficial Carlson olhou como se estivesse lutando contra um


sorriso. Oficial O'Callahan riu abertamente, evidentemente, divertindo-
se com a natureza direta de Finn.

Depois de fazer mais algumas perguntas que eu não podia


responder, anotaram todas as informações que sabia sobre Gordon, e
prometendo que eles entrariam em contato assim que eles tivessem
alguma pista, os policiais me deixaram e foram examinar o beco mais
profundamente. Aparentemente, logo que eles chegaram ao local, os
policiais tinham verificado o beco para ver se o meu atacante ainda
estava à espreita nas sombras.

Sem surpresa, ele não estava.


Agora, eles explicaram, uma equipe forense iria analisar a
cena do crime em busca de qualquer tipo de prova que possa ajudá-los
a descobrir a sua identidade: sangue, tecido de sua roupa, mesmo
digitais e pegadas deixadas para trás nos paralelepípedos. Eu poderia
ter que ir até a delegacia em algum momento para responder a mais
perguntas, mas por enquanto estava livre para ir.

Antes que eu pudesse fazer um movimento para descer da


maca, Finn mais uma vez estava na minha frente. Ele retirou a
camiseta por cima da cabeça, deixando-o com o peito nu no ar da noite
de outono.

"Braços para cima", ele ordenou suavemente.

"Mas você vai sentir frio." Comecei a protestar, mas parei


quando eu vi o olhar em seu rosto. Resistir era definitivamente inútil, e
sinceramente estava grata que eu não teria que andar até o
estacionamento estando exposta e indecente, com o meu vestido
esfarrapado em exposição para o público. Obediente, levantei minhas
mãos para o céu e o permiti escorregar a camisa cinza desbotada sobre
a minha cabeça e nos braços.

Ignorando meus protestos, Finn me arrebatou em seus braços


e insistiu em me levar para sua caminhonete. Assim que saímos do
escudo protetor da polícia e da ambulância, estávamos cercados por
curiosos. O olhar de Finn os manteve à distância e, na maioria das
vezes, eles nos deram amplo espaço enquanto fizemos o nosso
caminho para o estacionamento onde Finn havia deixado a sua
caminhonete.

Não houve Lexi se mantendo afastada, no entanto.

Ela não falou enquanto nos arrastou por entre a multidão, de


alguma forma, mantendo o ritmo com os passos rápidos de Finn. Eu
podia ver os traços de lágrimas em seu rosto, seus olhos azuis
normalmente claros estavam avermelhados. Ela ficou em silêncio,
mesmo quando nossos olhos se encontraram, mas eu podia ver o
pedido de desculpas em seu olhar.

Eu pisquei para ela, para que ela soubesse que eu estava bem
e que eu não a culpava. Se qualquer coisa, eu estava grata que Lexi
não tinha ido naquele beco comigo; se ela tivesse se machucado, eu
teria ficado devastada.

Era estranho, embora - a forte sensação de déjà vu que me


encheu com Finn me segurando em seus braços, com uma Lexi com
remorso pairando nas proximidades. Assim como no primeiro dia que
nos conhecemos, antes que eu soubesse a grande parte da minha vida,
que ele se tornaria. Ele era apenas um cara aleatório então - um mané
idiota que tinha me insultado e me irritado além da medida.

E agora eu estava apaixonada por ele. A vida era engraçada


assim.

A viagem para o apartamento de Finn foi um borrão. Finn


estava em silêncio, perdido em seus próprios pensamentos, e eu
mantive minha testa encostada no vidro frio da janela do passageiro,
permitindo que a minha mente ficasse em branco enquanto eu
observava as esferas nebulosas dos postes enquanto ele acelerava.
Aparentemente em algum momento, nós tínhamos puxado para dentro
de uma garagem de um modesto condomínio de dois andares.

Dizer que isto não era o que eu esperava ser a casa de Finn
foi quase certamente o maior eufemismo do século. Vagabunda
semireformada que eu era, eu estive nas casas, apartamentos e
quartos de mais caras do que eu sempre quis contar. Eu tinha sido
preparada para o pior - latas de cerveja espalhadas pelo gramado da
frente, coberturas de mato, pintura lascada, e alpendre que estava
caindo aos pedaços.
O que eu não esperava era um gramado bem cuidado na
frente, telhas brancas imaculadas, e uma varanda completa com
vários canteiros de flores - cada uma delas transbordando com alegres,
flores multicoloridas.

Esta era a casa de Finn? Eu realmente tive que me beliscar,


porque eu tinha quase certeza que eu tinha entrado em um universo
paralelo. Ou talvez eu bati com a cabeça tão duro naquele
paralelepípedo que eu estava realmente no hospital passando por
algum tipo estranho de alucinação induzida pelo coma.

Fosse o que fosse, porém, não era páreo para o choque que
senti pisando dentro do próprio condomínio. Ausência dos posters
típicos de garotas de biquíni em motocicletas e carros esportivos. Não
havia copos de cerveja no balcão, nem havia uma montanha de caixas
de pizza vazias empilhadas a metros de altura ao lado da lata de lixo.

"Então, esta é minha casa", Finn explicou calmamente, como


se não fosse totalmente surpreendente que ele morava em um belo
condomínio com bancada de mármore, uma ilha na cozinha, e uma
geladeira tão grande que provavelmente poderia caber todo o meu
corpo no congelador.

Eu continuei a girar em círculos lentos no seu espaço


minimalista organizado. O sofá foi rebaixado, elegantemente
trabalhado em couro preto. Tanto a mesa de café quanto o sistema de
entretenimento – que abrigava uma grande televisão de tela plana e
vários consoles de jogos – foram construídos elegantemente de madeira
escura. O local gritava riqueza sem esforço. Inferno, ele ainda cheirava
a masculinidade culta.

Sim, eu definitivamente estou deitada em um coma em algum


lugar.
"Abelhinha?" A voz de Finn soava estranhamente nervosa. "O
que você acha?"

"Você tem porta copos".

"Então?" Perguntou Finn, um olhar perplexo cruzando seu


rosto.

"Porta-copos, Finn."

"Eu não entendo", Finn murmurou, olhando de mim para os


porta-copos com um olhar cauteloso em seus olhos.

"Você também tem pia com torneiras de cobre," apontei.

"Eu acho que sim?" Finn deu de ombros, olhando para a pia
como se ele nunca tivesse notado antes.

"Você é rico", eu disse em tom de acusação.

"E isso é um problema, por que...?" Perguntou Finn. Suas


sobrancelhas levantaram tão alto em sua testa que tinham quase
desaparecido sob seu cabelo bagunçado.

Abruptamente, desabei em seu sofá de couro. Era


obscenamente confortável. Claro que é, eu pensei amargamente. Ele
provavelmente custava mais do que o meu aluguel.

"Abelhinha, você tem este olhar assustador em seus olhos


agora", disse Finn, de joelhos na minha frente para que ele pudesse
olhar nos meus olhos. "O que é isso? Por que importa que eu tenha
dinheiro?"

"Não faz", eu respondi.

"Isso é sobre seu pai?" Finn perguntou em voz baixa.

"Não!" Eu praticamente gritei na cara dele.

Muito defensivo? Bela maneira de jogar com calma, Brooklyn.


Finn me olhou com ceticismo.

"Bem. Talvez seja um pouco sobre ele", eu timidamente


admiti. Apertei meus olhos fechados. "Sinto muito. Eu já estou tão
emocional de mais cedo, e depois eu entrei aqui e foi simplesmente...
não o que eu estava esperando, eu acho. Eu senti como se eu estivesse
de volta a casa do meu pai, e esse lugar..." Eu tomei uma profunda e
tranquilizadora respiração. "É o último lugar que eu quero estar
quando eu estou me sentindo vulnerável."

"Isso é compreensível", Finn disse, inclinando-se para roçar


um beijo suave em meus lábios. "Mas não desconte em Henry."

"Henry?"

"Meu sofá", Finn disse, carinhosamente acariciando o couro


ao lado da minha coxa.

"Você nomeou seu sofá?" Eu bufei. "Isso é triste."

"Não desrespeite Henry assim", Finn olhou para mim com


falsa indignação.

"Você está demasiadamente ligado a um objeto inanimado,"


eu disse, revirando os olhos.

"Espere até você encontrar Betty", Finn disse, puxando-me


para os meus pés.

Levantei uma sobrancelha em questionamento.

"A minha cama", ele sorriu, balançando as sobrancelhas para


mim em troca.

"Não diga!" Eu bati nele de brincadeira no braço. "Como se eu


fosse para a cama com um maluco que coloca nomes em seus móveis."
"Você não gosta das minhas piadas, você não gosta do meu
apartamento... Existe alguma coisa que você gosta em mim?" ele disse,
rindo.

"Não!" Eu ri.

Com um rosnado irritado falso, Finn levantou-me em seus


braços e me levou para o banheiro, cuidando para não colocar pressão
sobre qualquer um dos meus ferimentos. Parecia abençoadamente
normal simplesmente rir depois de uma noite como esta. Por esse
breve momento no tempo, eu estava livre, leve com risos e capaz de
esquecer o medo e incerteza. Era bom saber que eu ainda possuía a
capacidade de rir, depois do que tinha acontecido.

Nosso clima brincalhão novamente ficou sombrio uma vez que


Finn me pôs para baixo, no piso frio do banheiro debaixo dos meus pés
descalços. Eu tinha abandonado a camiseta cinza de Finn junto com
meus saltos mais cedo em sua caminhonete e eu queria olhar nunca
para os sapatos malditos novamente, se eu pudesse evitar. Eu não
conseguia decidir se eles teriam sido minha salvação ou a minha ruína
no beco, e pensar muito sobre isso fazia minha cabeça girar.

Mal tive tempo para apreciar o belo banheiro, com os seus


armários embutidos, pia com pedestal, e banheira de imersão, porque
meus olhos deslizaram sobre o espelho e peguei a imagem da menina
esfarrapada, desgastada pela luta refletida de volta para mim.

O vestido estava arruinado – despojado das pérolas


intrincadas, a saia uma vez flutuante agora era um pano desfiado, o
corpete rasgado e sujo. Hematomas roxos irritados já escureciam a
pele dos meus ombros nus, onde as mãos do meu atacante tinham
agarrado tão fortemente. A pele das minhas mãos, cotovelos, joelhos,
coxas estavam em carne viva, ficando latejando, feridas abertas
vermelhas atrás.
Mas foram meus olhos que me prenderam mais. Eles
pareciam enormes, grande demais para o meu rosto. Grandes
esmeraldas vidradas em choque, medo e, pior de tudo, o
reconhecimento.

Porque eu reconhecia essa menina no espelho - essa sombra


quebrada, cheia de terror e incerteza. Eu tinha sido como ela uma vez
antes, considerando este olhar olhando de volta para mim a partir dos
seus olhos verdes profundos. Os anos podem ter passado, mas eu a
reconheci em um piscar de olhos, não importava quanto tempo
passou.

Assustada. Traumatizada. Sozinha.

Havia uma diferença crucial, agora, no entanto.

Desta vez, havia um menino refletido no espelho também, de


pé atrás da menina com as mãos levemente em torno de sua cintura.
Seu firme olhar azul mostrava confiança, proteção, e algo que parecia
muito com amor.

Eu não estava mais sozinha. Não desta vez.

Recostada no peito de Finn, fechei meus olhos e senti as


lágrimas finalmente se reunindo em meus olhos. Não podia detê-las;
eu nem sequer tentei. Apenas deixei Finn me segurar enquanto eu
chorava pelas coisas horríveis que tinham acontecido comigo, e para
todas as outras coisas ainda mais terríveis que tão facilmente
poderiam ter acontecido.

Quando as lágrimas desaceleraram, abri os olhos e mais uma


vez encontrei o olhar da menina no espelho. Agora, seu rosto estava
manchado, a maquiagem estava escorrendo pelo rosto em manchas
pretas, e seus olhos estavam vermelhos - mas, pelo menos, a maior
parte desse olhar assombrado havia desaparecido de sua expressão.
"O que você está pensando?" perguntou Finn suavemente, seu
olhar encontrando o meu enquanto eu olhava para o nosso reflexo
entrelaçados.

"Quanto eu odeio meninas que choram sem se borrar. Sério,


como aquelas meninas choram uma lagrima sem borrar seu rímel ou
ficar com todo o seu rosto vermelho? Besteira total". Forcei uma
risada, tentando aliviar o clima.

"Vamos lá", Finn disse, revirando os olhos enquanto ele me


guiava em direção ao seu chuveiro. Era grande o suficiente para, pelo
menos, quatro pessoas, cercado por um muro de blocos de vidro
opaco. Depois de ligar a água, Finn voltou para mim e,
cuidadosamente, abriu o zíper do vestido. Deixando cair para os meus
pés, ele se ajoelhou na minha frente e eu coloquei minhas mãos em
seus ombros para me equilibrar quando eu saí do tecido. Finn atirou-o
em uma lata de lixo nas proximidades, sem um segundo olhar.

Tchau, tchau, lindo vestido.

Ainda ajoelhado aos meus pés, Finn deu um beijo suave e


quente no meu umbigo. Suas mãos se moveram levemente sobre a
minha pele devastada quando ele puxou a minha calcinha e soltou
meu sutiã, deixando-me nua diante dele. Eu me sentia feia, exposta -
machucada, quebrada, e desnudada de uma forma que eu nunca
estive.

Quando mudei minhas mãos para me cobrir, Finn me parou.


Travando meus dedos, ele começou o processo meticuloso de beijar
cada arranhão e hematoma no meu corpo, como ele tinha feito com a
cicatriz na minha clavícula a primeira vez que tínhamos dormido
juntos - como se sua boca pudesse tirar um pouco da dor que havia
sido infligido.
Ele pode não ter sido capaz de remover as minhas lesões, mas
ele acabou por apagar qualquer insegurança que eu sentia. Depois que
ele beijou cada corte, ele tirou suas próprias roupas e nos guiou para
dentro do chuveiro. A água quente era calmante contra a minha pele, a
poeira e sujeira que haviam me revestido saíram em torrentes marrons
e pretas.

Finn derramou um pouco de seu sabonete corporal em uma


toalha molhada e cuidadosamente esfregou limpando minha pele. Ele
tomou seu tempo, garantindo que não houvesse vestígios do beco
deixado para trás no meu corpo. Depois, ele lavou meus cabelos e a
sensação de seus fortes dedos massageando meu couro cabeludo foi
tão relaxante que quase me colocou para dormir. A cada segundo que
passava, eu podia sentir a fadiga rastejando em meus ossos, o cansaço
dos meus ferimentos físicos, bem como a tensão mental da noite
ameaçando me alcançar.

Eu estava totalmente drenada - esgotada e precisava de pelo


menos um dia inteiro de descanso. Finn, perceptivo, como de costume,
pareceu sentir meu colapso iminente. Assim que meus joelhos
começaram a dobrar, ele passou um braço em volta dos meus ombros
para tirar mais do meu peso e usou a outra mão para desligar a água.

Agarrando duas grandes macias toalhas pretas de um rack na


parede, ele me envolveu em uma e a outra envolveu em torno de sua
própria cintura. Ele segurou minha mão e me levou, tropeçando e com
os olhos turvos, do banheiro para o quarto dele - que, em
circunstâncias normais, eu estaria além de curiosa para examinar.

Agora, no entanto, eu nem sequer olhei em torno enquanto


seguia Finn para a enorme cama que dominava o ambiente. Desmaiei
em um edredom cinza, vagamente registrei Finn subindo ao meu lado
e puxando os lençóis ao redor de nossos corpos.
Eu estava dormindo antes da minha cabeça deitar no
travesseiro.
Capítulo 15
Missão Cumprida

"Vê essa estrela, Abelhinha?" O menino perguntou, apontando


para uma especialmente brilhante no céu noturno acima de nossas
cabeças. Meu olhar seguiu a direção de seu dedo. Quando a encontrei,
sorri; eu estava ficando melhor em descobrir constelações todas as
noites.

Estávamos sentados na varanda de novo, e a noite era mais


fria do que o habitual. Estávamos em novembro agora. Estive aqui no lar
adotivo por quase três meses, e o inverno estava chegando rápido. Eu
tinha que trazer o cobertor fino da minha cama comigo quando eu saia
para a varanda dos fundos a cada noite.

Esperava não estar aqui na época do Natal.

"É lindo", sussurrei, meus lábios formando as palavras, mas


quase nenhum som escapou. O menino me ouviu, no entanto, olhando
para longe da sua estrela para olhar para mim. Apesar de quase um
mês se passar desde a primeira noite que eu disse a ele o meu nome,
ele ainda parecia sempre feliz e surpreso quando eu falava com ele,
como se ele tivesse acabado de abrir um presente realmente
impressionante de Natal ou obtido um sundae de chocolate triplo com o
seu favorito sabor de sorvete.

Talvez fosse porque eu ainda não estava falando com ninguém.

"Essa estrela é parte de uma constelação chamada


Cassiopeia", disse o menino. "Vê aquelas quatro estrelas, em forma de
W desleixado?" Ele apontou de uma estrela para outra, traçando um
mapa da constelação com o dedo.

Eu olhava, num primeiro momento não conseguindo vê-lo. Para


mim, as estrelas pareciam uma bagunça brilhante, confusa - algo como
os fios emaranhados de luzes de Natal que mamãe puxava para baixo
das caixas no sótão quando era hora de decorar a árvore a cada ano.
Era difícil imaginar alguma vez classificar um padrão de dentro do caos.

Mas então, como se algo estalasse na minha mente, eu o vi.

Cassiopeia: a bagunça desleixada, em forma de W de estrelas,


brilhando tão fortemente que eu me perguntava como eu nunca tinha
notado antes.

"Lembra-se da lenda da Princesa Andrômeda?" perguntou o


menino.

Balancei a cabeça. Eu amei essa história - foi a primeira que


ele já tinha me contado.

"Cassiopeia era a rainha - mãe de Andrômeda. Todos os


personagens da história têm a sua própria constelação: Pégasus,
Perseu, Andrômeda, Cassiopéia... Eles estão todos lá em cima."

Eu assisti, fascinada, enquanto o menino apontava aglomerado


após aglomerado de estrelas.

"Mostre-me outro," eu exigi em tranquilamente, encantada.

"Tudo bem", disse o rapaz, um olhar de concentração cruzando


seu rosto. "Vê aquele? Esse é Peixes. É suposto olhar como dois peixes
nadando, mas eu acho que se parece mais com a letra V."

Meus olhos seguiram a direção que ele apontava e, embora


esta tenha sido mais difícil, eu finalmente encontrei. Quando ela ficou
em foco sorri, um sorriso de verdade pela primeira vez em meses.
"Como é que você sabe sobre isso?" Perguntei, minha voz cheia
de admiração.

"Meu pai me ensinou sobre elas." A voz do menino estava triste.

Decidi que não iria pedir para me mostrar mais nesta noite,
não quando ele parecia tão chateado. Mas eu sabia que amanhã à noite,
eu ia perguntar novamente. E a próxima. E a depois disso.

Eu ia perguntar até que ele ficasse sem estrelas.

Meu fascínio não era exatamente novo – eu sempre gostei de


olhar para o céu, especialmente depois que a mamãe tinha pintado
estrelas em meu teto. Mas agora, elas pareciam encantadoras,
misteriosas e quase irresistíveis. Era como se ele tivesse aberto um novo
mundo para explorar, e eu queria – necessitava – aprender tudo sobre
as constelações flutuando na escuridão muito acima de mim.

"Abelhinha, posso perguntar uma coisa?" A voz do menino


interrompeu meus pensamentos.

Balancei a cabeça, arrancando os olhos das estrelas e olhei


para o rosto dele.

"Por que eu?" ele perguntou, sua voz calma e seus olhos se
afastaram de mim.

"O que você quer dizer?"

O menino engoliu em seco, seu pequeno pomo de adão pulando


em sua garganta como se tivesse uma bola de chiclete presa lá embaixo.
Eu quase ri quando o assisti de cima para baixo, mas sua voz soou tão
séria, que eu segurei.

"Por que você fala comigo e com mais ninguém?"

Fiquei em silêncio por um tempo, pensando em sua pergunta. A


verdade era que eu não sabia plenamente porque eu me sentia tão
confortável com ele e não com os médicos ou psiquiatras ou as outras
crianças adotivas.

"Eu acho que..." Minha voz vacilou. "Eu acho que é porque você
me faz sentir segura."

"Segura?"

"Sim." Dei de ombros, olhando para o céu. Eu sabia que o


menino estava olhando para mim, mas eu não conseguia olhar para ele
ainda. "No início, suas histórias... fizeram me lembrar da minha mãe.
Ela adorava contos de fadas. Ela me contava um todas as noites antes
de ir dormir."

O menino não respondeu. Depois de um minuto de silêncio,


senti seus dedos maiores nos meus quando ele atou nossas mãos
juntas.

"Conte-me uma história", sussurrei, apertando-lhe a mão com


força. "Um com um final feliz."

"Ok, Abelhinha", disse o menino, devolvendo o meu aperto de


mão. Respirando fundo, ele começou.

"Era uma vez..."

***

Acordei com o som de um violão tocando suavemente. Ainda


era noite e o luar estava fluindo através das claraboias, iluminando o
edredom macio que eu estava envolvida. Depois de um breve momento
de desorientação, percebi que eu estava na cama de Finn.

Fechei os olhos, uma vez que tudo voltou correndo ao mesmo


tempo: o ataque, a minha fuga, conversa com os paramédicos e
policiais, todo o desamparo e medo. Comecei a tremer, abracei mais
perto os cobertores ao redor do meu corpo.

Obriguei-me a pensar nas coisas boas que aconteceram esta


noite, em vez disso: o olhar no rosto de Finn quando cantamos juntos
no palco, a minha percepção de que eu o amava, o jeito que ele tinha
me limpado e cuidado de mim quando voltamos para o apartamento
dele.

Uma vez que eu tinha começado a tremer controladamente,


abri meus olhos e olhei ao redor do quarto para Finn. Ele não foi difícil
de encontrar.

Vestido apenas com um par desbotado de calça jeans, ele


estava sentado em uma cadeira de frente para a janela do outro lado
da sala, com seu violão equilibrado em seu colo. Eu não tenho certeza
se ele estava ciente de que ele tinha me acordado, sua maneira de
tocar era tão suave. Eu vagamente reconheci a melodia que ele
dedilhava, mas não poderia colocar um nome para ela, até que ele
começou a cantar baixinho.

A melodia era de arrepiar, as palavras inesquecíveis.

Brooklyn, Brooklyn, me tome...

Quando ele chegou ao refrão, as letras imploravam para eu


chegar nele e dar-lhe abrigo, finalmente lembrei o nome da música e
meus olhos se encheram de lágrimas.

Ele estava tocando I and Love and You do Avett Brothers20. E


era perfeito.

Quando sua voz foi sumindo com as palavras finais, o 'eu


amo você' suspenso no ar como um espectro, estava totalmente
silencioso no quarto, exceto pelo som da nossa respiração tranquila.

20
http://www.vagalume.com.br/avett-brothers/i-and-love-and-you-traducao.html
Eu me sentia como uma intrusa - como se eu tivesse testemunhado
algo que ele não queria que eu visse.

Será que finjo estar dormindo? Agir como se eu não o tivesse


ouvido, como se suas palavras não tivessem chegado ao meu peito e
me pegado pelo coração? Eu não tinha certeza.

Antes que eu pudesse decidir, sua voz cortou o silêncio.

"Como está sua cabeça?" ele perguntou, sem camisa e ainda


de costas para mim.

Bem, acho que isso significa que ele sabe que eu estou
acordada.

"Está tudo bem", sussurrei.

Ele se levantou da cadeira, colocou seu violão no chão e virou


o rosto para mim do outro lado da sala escura. A visão dele fez a
minha respiração parar na minha garganta. Seu cabelo era uma
bagunça, como se ele tivesse passando as mãos. Peito nu, seus
músculos e tatuagens nunca tinham parecido mais atraentes - e ele
nunca pareceu mais sexy. Com metade de seu rosto na sombra e a
outra metade iluminado por um raio de luar errante, ele era de outro
mundo lindo, como uma espécie de anjo negro enviado para me salvar
e me destruir de uma vez.

Ele se aproximou da cama com seu ágil passo inerentemente


gracioso, e eu não conseguia tirar os olhos dele. Eu estava encantada
com a maneira que ele se movia em direção a mim, obcecada pelo jeito
fluído que seus músculos se contraíam sob a pele. Seus olhos eram
intensos nos meus quando chegou ao lado da cama, parando a um
metro de distância - apenas fora do alcance. Eu não tinha certeza o
que ele estava esperando, mas eu podia ver a indecisão em seus olhos
e não gostei.
"Eu preciso dizer uma coisa a você", sua voz soou mais grave
do que já ouvi. Imediatamente senti um suor frio sair pelo meu corpo,
meu coração começando a martelar no meu peito enquanto minha
mente corria com as possibilidades.

"O que é?" Perguntei. "Será que a polícia ligou?"

Finn expeliu uma respiração dura através de seus lábios e


arrastou as mãos pelo seu cabelo; o que quer que fosse, ele
definitivamente não queria me contar sobre isso.

"Finn?" eu solicitei.

Ele finalmente encontrou meus olhos. Eles estavam


queimando com frustração, raiva e simpatia. Minha frequência
cardíaca aumentou ainda mais.

"O Oficial Carlson ligou. Eles checaram o álibi de Gordon", ele


respirou fundo, e vi suas mãos em punhos. "Ele esta limpo. Eles dizem
que não poderia ter sido ele."

Finn apertou o punho direito com raiva na palma da sua mão


esquerda, com o rosto muito nublado com raiva e seus olhos distantes;
não era difícil adivinhar exatamente qual o rosto ele estava imaginando
o punho esmagando. Na verdade, parte de mim estava preocupada que
ele estava a segundos de distância de rastrear Gordon e extrair sua
própria versão de vigilante da justiça.

"Venha aqui", eu disse, estendendo a mão para ele. Quando


seus dedos entrelaçaram com os meus, dei um puxão forte em sua
mão, pegando-o fora de equilíbrio e o trazendo a tropeços sobre a
cama. Depois de recuperar o equilíbrio, ele se estabeleceu ao meu lado,
embora sua expressão permanecesse distante com pensamentos em
Gordon e vingança.
"Finn", eu disse, passando um dedo na frente de seu rosto.
Seus olhos voaram para os meus. "Você não pode matá-lo, homem das
cavernas. Você não ouviu? Meninos bonitos como você não se dão bem
na prisão."

Seus lábios se transformaram em um pequeno sorriso


involuntário. Eu estava o pegando.

"Você ia acabar com um companheiro de quarto de centro e


cinquenta quilos chamado 'Tiny', que ia pegar totalmente o beliche
superior e ia fazer você de sua cadela."

Seus olhos se estreitaram, mas eu podia dizer que ele estava


lutando contra uma risada.

"Oh, ei, você sabe o que um prisioneiro usa para entrar em


contato com outra cela?" perguntei a ele.

Ele levantou uma sobrancelha escura para mim com


ceticismo.

"Os telefones celulares. Entendeu?" Eu lhe dei uma


cotovelada no estômago para dar ênfase.

A covinha apareceu, e sabia que eu o tinha pegado. Logo, seu


pequeno sorriso se transformou em uma risada, e em seguida, uma
gargalhada explodiu enquanto processava o meu trocadilho.

"E você disse que minhas piadas eram terríveis..." ele disse
ofegante, tentando recuperar o fôlego.

"Seja como for", dei de ombros. "Missão cumprida".

"E que a missão seria essa?"

"Bem, já que você ainda não saiu para ir matar Gordon, diria
que os meus esforços para detê-lo estão tendo sucesso."
"Eu não sei nada sobre isso", ele murmurou, o sorriso
desaparecendo da sua expressão. "É melhor aquele cara rezar para
que ele não atravesse o meu caminho. Eu estive pensando sobre isso a
noite toda."

"Bem, só terei que tirar sua mente dele, então", eu disse,


sentando abruptamente na cama e permitindo que o edredom caísse
em torno da minha cintura. Finn evidentemente havia esquecido o fato
de que eu estava completamente nua por baixo das cobertas; seus
olhos imediatamente fixaram nos meus seios e assisti com mais do que
um pouco de satisfação, enquanto seus olhos dilataram com a visão
deles.

"Missão cumprida", ele repetiu baixinho, aproximando-se de


mim na cama. Estendendo suas mãos, ele espalmou suavemente meus
seios, e eu quase gemi com a sensação de seus dedos calejados da
guitarra contra a minha pele. Arqueando em seu contato, fechei os
olhos e senti o toque suave dos lábios de Finn em toda a minha pele.

Quando ele capturou a minha boca com a sua, a necessidade


queimou quente entre nós. Enquanto ele usava suas mãos em mim, eu
coloquei a minha própria para baixo sobre seu peito musculoso,
deliciando-me com a sensação de seu abdômen ondulando contra
meus dedos. Puxando minha boca longe da sua, meus olhos se
abriram e eu comecei a traçar meus dedos ao longo dos espirais de
tribais de tinta em seu bíceps e ombro. Quando meus dedos tinham
traçado totalmente o labirinto de sua tatuagem, abaixei minha boca
para o desenho e comecei a seguir o mesmo caminho com a minha
língua, como há muito tempo queria.

Finn rosnou baixo em sua garganta, evidentemente


desfrutando da minha exploração da sua arte em seu corpo. Quando
eu tinha terminado com o braço, minha boca viajou por cima do ombro
e clavícula, descendo a encosta do seu peito, e, finalmente, para o
estômago, deixando um rastro de umidade, beijos de boca aberta para
trás. Quando meus lábios se aproximaram do cós da calça de brim de
Finn, ele gentilmente abaixou-se e me puxou de volta até ao nível dos
olhos.

Depois de um prolongado beijo feroz, ele olhou nos meus


olhos. "Você tem certeza que quer fazer isso?" perguntou.

Eu sabia o que ele queria dizer. Depois do que quase


aconteceu comigo esta noite, provavelmente era estranho eu sentir
essa necessidade que me consumia para estar com Finn. Eu não
queria pensar demais, no entanto. Não queria pensar nesse episódio.
Só queria sentir.

Olhei nos olhos de Finn, esperando que a minha resposta


levasse embora as dúvidas dele. "Eu tenho certeza", eu disse. "Eu
quero apagar isso, Finn. Eu preciso de você."

Em minhas palavras, um olhar terno surgiu em seus olhos.


"Eu vou, princesa. Eu prometo."

Beijando-me docemente, ele usou suas mãos e sua boca sobre


cada parte de mim, erradicando todos os pensamentos de meu
agressor, mesmo dos cantos mais escuros da minha mente. Quando
ele finalmente se livrou da calça jeans e deitou sobre o meu corpo,
Finn olhou para mim como se ele nunca tivesse visto nada mais
bonito.

"Eu amo você, Brooklyn", ele respirou, quando deslizou


lentamente dentro de mim. "Eu sempre amei."

Eu ofeguei, tanto pelo sentimento dele como nas suas


palavras. Tão firme como eu poderia envolvi meus braços e pernas ao
redor dele, combinando com seu ritmo. Nós estávamos em perfeita
sincronia, movendo juntos como um só, e eu podia sentir algo dentro
de mim, mais poderoso do que qualquer coisa que eu já tinha
experimentado.

Ele me ama.

Meus quadris levantaram de encontro ao seu, cada vez mais


rápido à medida que subíamos em direção a libertação.

Ele me ama.

Minhas unhas cravaram em suas costas enquanto eu tentava


nos pressionar ainda mais perto ainda.

Ele me ama.

Minhas costas arquearam para fora da cama e um grito


construiu em minha garganta.

Quando explodi em meu orgasmo, gritei tão alto que teria


ficado constrangida se Finn não estivesse ali comigo, gritando o meu
nome quando ele gozou. Juntos, em um poderoso e apaixonado
clímax, que eu sabia, pelo tempo que vivesse, eu nunca esqueceria.

Depois disso, Finn me puxou para cima contra seu peito para
que ele não estivesse me esmagando ou colocando qualquer peso sobre
minhas lesões. Com os seus calorosos braços fortes envolvidos em
torno de mim, eu estava segura. Eu era amada. E eu estava mais feliz
do que jamais poderia me lembrar de estar.

"Eu também amo você", sussurrei, sorrindo contra seu peito.


Seu corpo ficou completamente imóvel sob o meu, e eu ouvi a
respiração presa em sua garganta com as minhas palavras. Uma de
suas mãos segurou meu queixo e ele inclinou a cabeça para trás para
que eu fosse capaz de ver o rosto dele.

"Tem certeza?" ele sussurrou, olhando nos meus olhos.


"Porque uma vez que você me diga que me ama, é isso, Abelhinha.
Você é minha. E eu não nunca vou desistir de você."
"Hmmm, bem, nesse caso..." provoquei, sorrindo alegremente
para ele.

Ele não gostou de minha piada; seu rosto permaneceu


totalmente sério, enquanto esperava pela minha resposta.

"Oh, seu idiota!" Bati em seu braço. "Sim, eu amo você. Eu


preciso ter isso tatuado na minha bunda e assinar um documento
jurídico vinculativo, ou será que uma confirmação verbal será
suficiente?" revirei os olhos.

"Você é uma espertalhona", ele disse, agarrando meus quadris


e me estabelecendo em cima dele, então eu estava montada nele. "Mas
eu amo você de qualquer maneira."

Eu tive apenas tempo suficiente para ver a adorável covinha


em sua bochecha direita antes que seus lábios estivessem novamente
nos meus, tão feroz, parecia que ele estava me marcando como dele, e
ele estava deslizando de volta para dentro de mim.

***

"Então, muita coisa aconteceu desde a nossa última sessão."

O tom normal da Dra. Angelini de autocontrole e compostura


estava ligeiramente ausente hoje. Eu não podia culpá-la, eu supunha;
provavelmente não era todo dia que um de seus pacientes divagava
sobre uma série de memórias recuperadas, um ataque sexual quase
fatal em um beco, e uma incursão em um saudável relacionamento
romântico pela primeira vez – tudo em uma única sessão de sessenta
minutos, devo acrescentar.

Apenas descarregar todos os detalhes de tudo o que


aconteceu na semana passada tinha consumido a maior parte do
nosso tempo juntas. Eu não tinha certeza de quanta psicanálise ela
poderia fazer em 20 minutos, mas eu não classifiquei a boa doutora
como uma desistente.

"Como você se sente sobre o ataque?" Ela perguntou. "Você


mencionou que falou com a polícia novamente esta manhã."

"Eles dizem que não é Gordon", eu dei de ombros. "E eu


realmente não sei o que estou sentindo. Existe uma emoção certa para
essa situação que eu deveria estar enfrentando? Porque, com exceção
da hora logo depois que aconteceu, quando eu chorei, eu tenho me
sentido geralmente normal. Não tenho medo de sair à noite, ou a pé
até o meu carro sozinha. Não quero subir as minhas janelas e me
isolar pelas próximas décadas, com vinte e sete gatos", expliquei. "Eu
me sinto como eu - apenas com alguns cortes e hematomas extras."

"Não há uma única emoção certa ou errada, Brooklyn. Você


não precisa necessariamente se sentir traumatizada, simplesmente
porque você já experimentou um trauma." Dra. Angelini olhou para
mim através de sua mesa de vidro intocada. Perguntava-me vagamente
como ela a mantinha tão limpa; não havia um circulo de café ou uma
mancha de impressão digital na maldita coisa.

"Brooklyn, você ainda está comigo?" perguntou Dra. Angelini,


uma sobrancelha levantada questionando.

Balancei a cabeça, forçando-me a parar com o processo de


pensar a respeito de seus hábitos de limpeza e me concentrar em suas
palavras. Elas estavam me custando várias centenas de dólares por
hora, afinal.

"Eu acho que também é possível, por este não ser o primeiro
trauma que você já experimentou, que você possa ser um pouco
insensível aos incidentes de risco ou potencialmente fatais", continuou
ela.
"Então, eu sou insensível ao perigo", pensei, imitando golpes
de karatê no ar enquanto eu matava inimigos invisíveis. "Será que isso
conta como um superpoder?"

"Brooklyn", ela repreendeu, sua voz dura. "Por favor, leve isso
a sério."

"Eu levo! Foi só uma brincadeira", eu zombei. Ela estava


exagerando, demasiadamente.

"Eu admito que sua insensibilidade ao trauma poderia ser um


trunfo em determinadas situações de risco, como quando você
precisava se defender naquele beco e manter o seu juízo sobre você",
ela explicou.

Eu balancei a cabeça, sentindo um grande "mas" vindo aí.

"Mas," aí está. "Ele também pode ser um risco, porque ele


pode fazer você ser imprudente. Você não tem nenhum sentido real de
medo, e você está completamente sem medo de ultrapassar os limites
de sua segurança pessoal – seja com encontros sexuais casuais, beber
em excesso, ou sair para um beco escuro sozinha, sem nenhuma
forma viável de comunicação na mão."

Pensei sobre suas palavras por um momento. Achei que havia


alguma verdade no que ela estava dizendo, mas não era exatamente
algo que eu seria capaz de corrigir. Como eu vi, eu estive fodida por
tanto tempo que já não era uma característica mutável, mas uma
parte intrínseca da minha natureza. Claro, eu poderia ficar melhor
para gerir o meu passado fodido, mas - vamos encarar os fatos aqui -
eu nunca seria completamente normal.

"Eu não acho que há uma pílula mágica que você pode
prescrever para resolver este pequeno problema meu, certo?" brinquei.
"Você não precisa de medicação, Brooklyn. Basta manter o
seu celular com você da próxima vez", Dra. Angelini sorriu.

Eu ri. "Você acabou de fazer uma piada, doutora?"

"Definitivamente não", ela negou, provocando um revirar de


olhos de mim quase que instantaneamente. "Agora, eu quero discutir
seus sonhos nos poucos minutos que nos restam. Você teve mais
algum desde que conversamos pela última vez?"

"Sim, e eles parecem estar ficando mais frequente; eles


praticamente tomaram o lugar dos meus pesadelos regulares - o que é
bom, porque meus pesadelos eram uma merda e meus olhos estão
muito melhores sem as escuras olheiras". Se eu não a conhecesse
melhor, eu pensaria que Dra. Angelini estava segurando o riso.

"Eu sonhei com o lar adotivo e o menino três noites esta


semana", continuei. "E eu acho que você está certa sobre eles serem
memórias acionadas - não há como meus sonhos serem tão específicos
se eles não tivessem realmente acontecido comigo em algum momento.
Então agora eu acho que tudo o que tenho a fazer é encontrar o seu
gatilho."

"Eu não acredito que é algo que você deve, necessariamente,


ir a procura. Quando sua mente estiver pronta, você pode
simplesmente lembrar naturalmente", Dra. Angelini encolheu os
ombros delicadamente. "E como eu disse antes, não há nenhuma
ciência exata de como nossas memórias trabalham, Brooklyn. Meu
conselho seria para viver a sua vida e não se aprofundar muito no
passado. Parece que, pela primeira vez em muito tempo, você está
gostando muito de apenas estar no seu presente."

"Você está certa", concordei, sorrindo melancolicamente


enquanto pensava em Finn. "Finalmente tenho algo que me deixa
animada para sair da cama de manhã."
Nosso tempo estava oficialmente acabado, e nós quase não
arranhamos a superfície de tudo o que estava acontecendo em minha
novela de vida. Dra. Angelini se levantou e me levou até a porta,
chegando no último segundo pressionou um cartão de visita na minha
mão.

"Tem o meu número de celular pessoal nele. Eu não costumo


dar aos pacientes", explicou. "Mas quero que você saiba que estou
sempre aqui se precisar de mim, Brooklyn – mesmo que não for para
uma sessão agendada."

Ficou claro que a preocupação dela para o meu bem-estar era


mais extenso do que o de um relacionamento normal entre médico e
paciente, e seu gesto maternal fez meu coração doer. Gostaria de saber
se a Dra. Angelini tinha filhos e uma família própria; ela não usava um
anel de casamento, então assumi que ela não era casada, e ela não
dava exatamente uma vibração maternal. De repente eu estava
impressionada com o pensamento de que ela poderia ser um pouco
solitária, também.

De alguma forma, me encantei com ela ainda mais.

Embora eu definitivamente não fosse uma pessoa de abraços


– e eu tenho a sensação de que a Dra. Angelini não era uma também –
eu timidamente passei meus braços em torno de sua estrutura
pequena e levemente a abracei. Ela se assustou no começo, mas se
recuperou rapidamente, com os braços chegando para me apertar
igualmente hesitante. Depois do que foi, talvez, o abraço mais estranho
na história da humanidade, dei um passo apressado para fora de seu
espaço.

Limpando a garganta, fiz o meu melhor para descartar a


exibição atípica de afeto que eu tinha apenas iniciado como se não
fosse grande coisa. "Bem, doutora obrigada. Eu não posso fazer
nenhuma promessa que o seu número não vai acabar em um anúncio
de jornal para disque sexo, embora", provoquei.

"Bem, Brooklyn", ela riu o sorriso mais verdadeiro que eu já vi


dela, empurrando-me para o corredor. "Suponho que se isso acontecer,
eu não posso prometer que não vou recomendá-la para uma vida
inteira de institucionalização em um dos melhores hospícios estaduais
de Virgínia."

Eu ri enquanto caminhava pelo corredor, virando-me para


lançar um adeus por cima do meu ombro. "Até a próxima semana,
doutora".

"Até então, Brooklyn", ela voltou, e eu podia ouvir o sorriso


em sua voz. Talvez fosse triste, porque eu estava pagando ela e tudo,
mas eu tinha certeza que minha psiquiatra era uma das melhores
amigas que já tive.

Ou, talvez eu fosse louca, afinal.


Capítulo 16
Pegos de Surpresa

Uma semana se passou em silêncio, e eu tive o luxo de agir


como uma estudante universitária normal por um breve espaço de
tempo. Não houve mais ataques, entregas misteriosas, ou telefonemas
enigmáticos. Eu fui para minhas aulas todos os dias, que
notavelmente pareciam apenas estar ficando mais chatas e sem
desafios enquanto o semestre progredia e meus professores perderam
sua veia acadêmica entusiasmada. Eu fiz minha lição de casa a cada
noite, o que me levou uma hora, no máximo, e, ocasionalmente, eu
retirei meus livros e me forcei a estudar até que meus olhos estavam à
deriva fechando; memorizar os nomes e detalhes de cada grande caso
da Suprema Corte nas últimas cinco décadas era o suficiente para
colocar alguém para dormir. Principalmente, eu apenas tentei seguir o
conselho da Dra. Angelini para desfrutar da facilidade de êxtase de
viver no presente.

Com o tempo, minhas contusões desbotaram, e depois


desapareceram completamente. Os arranhões levaram mais tempo,
mas a cada dia Finn me ajudou a aplicar antisséptico e mudar suas
ataduras; ele também era um crente firme que seu beijo era a melhor
abordagem, que tinha propriedades curativas reais, e ele insistia em
passar a boca sobre cada um dos meus ferimentos, pelo menos uma
vez por dia.

Eu acho que, na verdade, que tinha mais a ver com ele me


despindo, mas eu não estava exatamente reclamando.
A polícia tinha completamente descartado o envolvimento de
Gordon no meu ataque, deixando-me um pouco inquieta e mais do que
um pouco confusa sobre a identidade do meu misterioso atacante. Eu
estava totalmente propensa a acreditar que era ele – para amarrar um
lacinho em torno do caso e remover todo o mal-estar que acompanha
conhecer a pessoa que tentou me estuprar - ou talvez até mesmo
matar – mas o homem daquela noite ainda estava andando por aí,
livre.

Aparentemente, Gordon tinha estado ocupado – muito


publicamente - no exato momento em que eu estava lutando pela
minha vida no beco, sua língua estava presa na garganta de uma líder
de torcida em plena vista de inúmeros clientes Styx. Não havia
nenhuma maneira que poderia ter sido ele, a menos que tivesse um
superpoder que lhe permitisse estar em dois lugares ao mesmo tempo.

De alguma forma, eu duvidava que fosse o caso.

Desde o ataque, um constante ar de instabilidade tinha


permanecido em torno de mim, e eu fiquei com a nítida sensação de
que eu não era uma boa vítima - não que havia alguma coisa de bom
sobre ser uma vítima, mas sim que eu não estava processando meu
trauma de maneira normal e saudável. Pensei muito sobre o que Dra.
Angelini tinha me dito, e fui forçada a aceitar o fato de que eu estava,
provavelmente, caminhando pela vida mais do que um pouco
dormente de tudo que eu tinha experimentado em meus relativamente
curtos vinte - quase vinte e um anos - no planeta.

Vinte e um: um dos maiores ritos de passagem para qualquer


jovem adulto, especialmente em um campus universitário. De alguma
forma, isso não tinha nenhum apelo para mim. Eu realmente não
tinha comemorado um aniversário em anos e eu não planejei sequer
mencionar a chegada de um agora para Finn.
Talvez uma parte fosse porque eu tinha uma identidade falsa
desde que eu tinha dezessete anos. Ou talvez fosse porque eu nunca
tinha gostado ou mesmo entendido o conceito de aniversário. Eles
sempre pareciam bastante inúteis para mim – apenas outra
demarcação sem sentido do valor da vida; a forma da sociedade de
retratar nossa marcha em direção ao túmulo como algum grande
presente, ao invés de uma inevitabilidade.

Quero dizer, quando você realmente pensa sobre isso, não são
aniversários apenas um sopro para a mortalidade? Nossa maneira de
dizer: Parabéns! Você sobreviveu a mais um ano nessa confusão que
chamamos de vida. Aqui um pedaço de bolo e alguns balões para o seu
problema.

Provavelmente me sentia diferente quando pequena. Voltando


para quando minha mãe estava viva, aniversários tinham sido o
destaque do meu ano - cheio de cor e riso, glacê e presentes. Piñatas21
suspensas no quintal quando o tempo estava bom. Um bolo de
princesa rosa ligeiramente torto, polvilhado com perfeição. Presentes
empilhados sobre a mesa da cozinha. A voz da minha mãe que se
sobressaía do resto, quando os participantes cantavam no tempo.

Feliz aniversário, querida Brooklyn...

Esses dias tinham chegado a um fim rápido depois que ela


morreu. Eu não conseguia lembrar do meu sétimo aniversário. Eu
sabia que tinha sido passado no lar adotivo, mas como muitas das
minhas lembranças desse tempo, ela estava trancada em algum lugar
profundo e inavegável na minha psique.

Dr. Angelini me disse que eu não podia forçar as memórias a


se revelar, mas isso não me impediu de tentar. Quando fecho meus

21
Consiste em uma panela, recheada de doces, totalmente coberta por papel crepon, suspensa no ar a uma
altura média de dois metros, onde o participante, vendado, tenta quebra-la com um bastão e,
consequentemente, liberar os doces.
olhos e transporto meus pensamentos para dentro, eu podia sentir as
memórias lá - como se elas estivessem escondidas nas sombras da
minha mente por trás de uma densa translucida cortina. As respostas
que eu queria espreitavam fora do meu alcance, e às vezes eu até
pensei que tinha um vislumbre de uma por trás dessa cortina mental,
opaca - um flash de cor, um cheiro que lembra vagamente um rosto
vagamente familiar.

Eu queria chegar na minha cabeça e derrubar essa cortina.


Inferno, eu teria tomado uma alavanca para as minhas memórias para
colocá-las para fora, se eu pensasse que iria me fazer algum bem. Mas,
desde que não parece ser uma opção viável, elas permaneceram
frustrantemente inacessíveis para mim.

Eu tinha feito um curso de biologia durante o meu primeiro


semestre da faculdade - uma exigência odiosa e inescapável de ciência
– e me lembrei dos dias que passei pairando sobre o microscópio,
girando seletores e ajustando intensidades de luz enquanto eu tentava
trazer os micro-organismos em meus slides a vista. As outras crianças
a minha turma não tinham colocado um olho na tarefa, sem esforço
iluminavam suas amostras. Por mais que tentasse, porém, eu nunca
poderia obter a maldita coisa para me concentrar.

Infelizmente, olhando para o conteúdo do meu próprio cérebro


estranhamente me lembrava daqueles dias irritantes no laboratório de
biologia.

Finn teria entendido - se eu disse a ele, claro. Eu acho que ele


sabia que havia algo acontecendo comigo, algo mais do que apenas o
ataque ou a suposta inocência de Gordon.

Ele teria sido gentil. Simpático. Útil, mesmo.

Mas como você diz isso a pessoa que você ama, se você nem
sequer sabe disso em sua própria mente? Que existem partes de si
mesma, aspectos de sua alma – seus pensamentos e memórias mais
íntimos – que você já bloqueou ou simplesmente esqueceu? Que seu
cérebro não funciona normalmente – e que talvez nunca o faça?

As coisas estavam bem entre nós – ótimas, na verdade. Eu


estava feliz. Ainda mais chocante, eu parecia fazer Finn feliz também.
E, talvez, de forma egoísta, eu não queria prejudicar essa felicidade.
Eu não queria que ele olhasse para mim de forma diferente, que me
tratasse de maneira diferente. Então eu recuei.

Pelo menos, essa é a razão que eu dei a mim mesma como


desculpa pelo meu sigilo.

Porque, apenas talvez, se eu estivesse realmente sendo


honesta, havia o fato inevitável de que eu mesma não estava pronta
para enfrentar as questões obscuras que tinham começado a girar em
minha mente – um redemoinho violento de suspeitas e possibilidades,
pressentimento inconcebíveis.

Às vezes, a mente coloca as coisas em conjunto em um


instante; centenas de peças do quebra-cabeça que foram espalhadas
deitadas pelo chão de repente encaixam como mágica e todo o quadro
vem rapidamente claro. Até esse momento de clareza, porém, você olha
para essas peças malditas tanto tempo que elas começam a se diluir
para fora de foco, sentindo como se devessem estar faltando as peças
vitais que possuem todas as respostas.

A verdade é que, em todas aquelas noites tranquilas de


normalidade, minha mente começou a vagar sobre todas as coisas que
estavam acontecendo comigo recentemente. Olhei para todas as peças
do quebra-cabeça, deitadas no meu tapete com arestas aparentemente
não encaixáveis ou mesmo um padrão discernível entre elas. Eu pensei
sobre as coisas que eu tinha julgado como nada na época, dei de
ombros como se não fosse grande coisa ou coloquei para baixo nos
cantos da minha mente, evitando olhar muito de perto, por medo de
seus conteúdos.

Mas eu não podia ignorar o fato de que tinham acontecido


muitos incidentes estranhos ultimamente para serem mera
coincidência. Não mais.

Eu estava sentada no meu terraço olhando para as estrelas -


constelações de outono atrasadas que sempre foram o minhas
favoritas, embora eu não tenha certeza do por que - e pensei sobre o
ataque. E então, quase involuntariamente, minha mente deslocou para
examinar todos os telefonemas anônimos que eu tinha recebido.

Em seguida, a sensação estranha que eu tinha experimentado


mais do que algumas vezes de estar sendo vigiada enquanto eu
caminhava para casa ou fazendo meu caminho pelo campus sozinha.

Em seguida, as rosas pretas bizarras e ainda inexplicadas -


um prenúncio aparente de minha morte.

Então, finalmente, coisas que eu nunca sequer passei para


um segundo pensamento começaram a aparecer na minha cabeça,
como se meu cérebro estivesse fazendo saltos quânticos de uma
ocorrência aparentemente aleatória para outra, muito rápido para eu
acompanhar ou conscientemente procurando a próxima parte do
quebra-cabeça.

Estalo, estalo, estalo, as peças voaram juntas, e uma imagem


começou a se formar...

O tempo que eu chegava em casa da aula a cerca de um mês


atrás, para encontrar os livros na minha mesa um pouco tortos, como
se alguém tivesse batido no mobiliário e, acidentalmente, os deixado
fora do lugar.
A forma como a minha agenda, onde eu meticulosamente
escrevia todas as minhas tarefas acadêmicas, convites sociais e
pensamentos aleatórios, tinha desaparecido da minha mochila,
enquanto eu estava no centro de estudante matando o tempo entre as
aulas, há algumas semanas.

E, por fim, um homem de pé no escuro, inclinando contra a


sua moto e fumando um cigarro. Observando-me enquanto eu estava
sentada no meu terraço nas horas antes do amanhecer em uma noite
fria de agosto.

Poderia tudo isso estar ligado?

Sozinhas, nenhuma dessas ocorrências parecia um grande


negócio, mas juntas? Se eu olhasse para o quadro inteiro, se eu as
considerasse uma série encadeada de eventos, em vez de, incidentes
isolados e sozinhos...

Ainda faltavam algumas peças vitais do quebra-cabeça, mas


estava começando a se unir como uma única imagem, clara: Alguém
estava me perseguindo. Assistindo-me. Tentando me machucar.

Eu era louca e exagerada? Eu estava paranoica?

Provavelmente.

Mas uma vez que eu abri meus olhos para a possibilidade de


que isso era todo o trabalho de uma pessoa, uma pessoa que poderia
querer me machucar ou me assustar, eu não podia deixar de ver as
conexões que minha mente tinha forjado. Eu não podia escapar a essa
construção, a crença inabalável de que eu estava em perigo. Eu podia
sentir isso em meus ossos, como um sexto sentido ou algum
mecanismo de defesa inato; cada átomo do meu corpo estava gritando
para eu correr, esconder-me, abrigar-me em algum lugar distante.
Eu não sabia do que - ou de quem - eu deveria estar fugindo,
mas a partir desse momento, comecei a viver a minha vida esperando
que algo fosse acontecer de verdade. Finn sabia; ele podia me ler muito
bem. Estávamos deitados na minha cama uma noite, cerca de uma
semana depois do ataque. Os lençóis eram um emaranhado em torno
de nossos corpos e ele estava dedilhando seu violão suavemente,
cantarolando baixinho enquanto ele tocava.

"Você está bem?" ele perguntou quando seus dedos haviam se


estabelecido em uma quietude.

"Tudo bem", eu menti, olhando para as estrelas pintadas no


meu teto.

"Você pode me dizer, você sabe." Ele deixou de lado seu


violão, rolando para perto, assim estávamos deitados cara a cara.
"Qualquer coisa."

"Eu sei", eu me inclinei para beijá-lo suavemente,


possessivamente, como estava se tornando o meu hábito. Nunca tinha
tido a oportunidade de ser suave, sem pressa, com alguém antes;
nunca experimentei essa suave intimidade e familiar de rotina. Era tão
novo, beijar apenas por uma questão de beijar; um beijo que não leva a
nada, sem outras intenções mais do que para atender os lábios
daquela pessoa com os seus próprios, simplesmente porque você pode.

"Eu vou lhe dizer em breve. Prometo", assegurei a ele. Não


adiantava mentir e fingir que estava tudo bem. Ele veria diretamente
através de mim, como sempre fez.

Ele franziu o cenho e abriu a boca, como se estivesse se


preparando para dizer algo importante. Ele olhou para o meu rosto tão
intensamente que comecei a ficar inquieta. Depois de uma pequena
infinidade de silêncio, no entanto, sua boca se fechou e ele engoliu em
seco, e seus olhos ficaram tão distante como os seus pensamentos.
Tudo o que ele estava prestes a me dizer, ele evidentemente
decidiu manter para si mesmo. E por mais que eu tivesse gostado de
tirar os pensamentos de seus lábios, eu sabia que seria absolutamente
hipócrita. Afinal, eu estava mantendo meus próprios segredos - quem
era eu para forçá-lo a partilhar o seu próprio antes que ele estivesse
pronto?

"Tenho uma surpresa para você", ele disse, no entanto,


estendendo a mão para pegar um envelope do criado-mudo. A luz
brincalhona voltou aos olhos e o momento de tensão passou logo que
ele colocou em minhas mãos.

A surpresa de Finn consistia em dois ingressos para o


Charlottesville County Fair, um parque anual de barracas de comida e
brinquedos que ficava na área por duas semanas todo mês de
novembro. Os passes eram para amanhã - meu aniversário.

Ele sabia, sendo que eu nunca mencionei alguma coisa. Eu


não deveria ter mesmo ficado surpreendida.

"Lexi?" perguntei, arqueando uma sobrancelha para ele.

Ele riu. "Sim, ela fez a honra de me informar que a minha


namorada tem fobia a aniversários. Mas eu já sabia que era seu
aniversário". Sua voz era presunçosa.

"Como?" Eu perguntei com ceticismo.

Ele deu de ombros, sorrindo de forma irritantemente bonita.


"Eu sei tudo."

Apertei os olhos para ele, mas não conseguindo segurar


minha raiva simulada quando ele pulou sobre mim e começou a
agredir os meus lados com implacáveis torturas de cócegas. Eu me
contorcia na cama, desesperada para escapar do seu ataque. Apenas
quando as lágrimas estavam vazando dos cantos dos meus olhos e
ameaças tinham progredido além de simples lesões corporais, para a
promessa de vingança fatal que ele me liberou.

"Eu... odeio... você", recuperei o fôlego entre cada palavra,


rolando o mais longe dele na cama como eu podia conseguir.

"Mentirosa", ele riu, rolando em cima de mim, então eu estava


presa embaixo dele. Olhei para ele, meu peito ainda arfando enquanto
eu puxava trago de ar.

Ele olhou para mim e beijou a ponta do meu nariz.

"Feliz aniversário, Abelhinha", ele murmurou, antes que seus


lábios descessem sobre os meus e eu esquecesse tudo sobre estar
brava com ele.

***

"Vamos lá", eu implorei.

"Não."

"Finn!" Eu bufei.

"Absolutamente não."

"Por favor." Tentei com meus melhores olhos suplicantes de


cachorrinho.

"Não."

"Mas é o meu aniversário."

"Você odeia seu aniversário."

Claramente, as minhas tentativas de apelar para o seu lado


agradável não estavam funcionando.
"Não sabia que eu estava namorando uma mocinha", eu
zombei, mudando de tática. Pondo em dúvida, ameaçando a
masculinidade; eles se desfazem toda vez.

"Você acabou de me chamar de mocinha?" Ele perguntou,


incrédulo. "Pensei que nós estávamos comemorando seu vigésimo
primeiro aniversário, não o seu quinto."

"HA! Se alguém é um bebê, é você. Você é o único que não


quer mesmo ir na roda gigante!"

"Eu não gosto de alturas". O tom conclusivo de sua voz era


inconfundível.

"Uau, eu estou vendo todo um novo lado do valentão Finn


Chambers", eu ri.

Ele olhou para mim, em seguida, virou-se para olhar para a


roda-gigante enorme, com apreensão clara em seu rosto. Ela
provavelmente não estava ajudando meu caso, uma vez que a maquina
parecia que tinha sido construída cerca de um século atrás, com
ferrugem nas vigas metálicas e parafusos que guinchava em cada
rotação da roda.

"Ok, tudo bem", suspirei, conformada. "Eu vou sozinha. Você


pode me ver."

Subindo na ponta dos pés, dei um beijo rápido na bochecha


de Finn, antes de virar e ir para a entrada. Entregando três ingressos
para o homem na entrada, eu estava na plataforma na base da roda
gigante, esperando a minha vez para entrar em um dos carrinhos de
passageiros. Admito, eu estava um pouco decepcionada que Finn tinha
se recusado a ir comigo, mas eu não ia perder meu passeio favorito só
porque eu tinha que fazer um voo solo.

Eu sempre amei a roda-gigante.


Desde os dezesseis anos, a cada outono Lexi e eu tínhamos
feito a nossa missão de encontrar um parque de diversões local, onde
poderíamos ver cabras e lhamas no zoológico, sobrecarregar no
algodão doce açucarado e bolos funil, e andar nos carrinhos, em
estruturas questionáveis nos brinquedos do parque até que nós
estivéssemos prontas para vomitar. Eu sempre amei a descarga de
adrenalina em um parque de diversões ou a que a montanha russa
traz; eles eram quase tão emocionantes quanto os meus passeios de
motocicleta de fim de noite.

Eu não conseguia me lembrar da primeira vez que eu tinha


subido em uma roda-gigante. Eu sabia que meu amor pelas
engenhocas eram mais antigas do que as minhas viagens com Lexi,
mas na minha existência, eu não conseguia lembrar os detalhes exatos
da viagem inaugural para as alturas. Eu era jovem, isso eu sabia.

Eu sempre achava apenas que tinha sido com a minha mãe.

Independentemente disso, a perspectiva de voltar no tempo


era muito tentadora para deixar passar, com ou sem o meu - frouxo -
namorado comigo. E, apesar da minha decepção, eu não poderia ficar
chateada com ele depois de tudo que ele fez por mim hoje.

Eu tinha acordado mais tarde do que o habitual; o sol que


fluía através das minhas janelas estava brilhante, indicando que era
bem no meio da manhã. A primeira coisa que minha mente
semiadormecidas havia registrado eram as pétalas de rosa espalhadas
por todo o travesseiro ao lado da minha cabeça, seu aroma floral
penetrando em minha consciência e me puxando totalmente desperta.

Rosa, vermelho, branco - havia pétalas em toda parte,


espalhadas em um caminho que levou toda a minha colcha para o
chão, e para fora através da minha porta. Tropeçando da minha cama
e esfregando o sono dos meus olhos turvos, eu segui a trilha de pétalas
para o corredor e, finalmente, para a cozinha.

A sala tinha sido totalmente transformada.

Centenas de balões coloridos foram amarrados no teto e


cobriram o piso de madeira. Flâmulas vermelhas e brancas tinham
sido penduradas de um canto da sala para o outro, tão espessos que
eu não conseguia distinguir as claraboias acima da minha cabeça. Um
grande cartaz estava colado em toda a parede em frente ao fogão, lendo
'FELIZ ANIVERSARIO BROOKLYN' numa letra familiar, masculina. A
ilha da cozinha estava repleta de caixas, desleixados embrulhados em
papel azul listrado com pedaços de fita translúcida saindo em todas as
direções - um sinal claro de que eles tinham sido envolvidos por dedos
inexperientes de um homem.

Um incontrolável, incandescente sorriso havia se espalhado


pelo meu rosto com a visão, mesmo quando as lágrimas começaram a
formigar os meus olhos; era mais do que alguém tinha feito para o
meu aniversário.

"Feliz aniversário, princesa."

Ele estava em pé ao lado do fogão, inclinando-se casualmente


contra a ilha da cozinha. Seu sorriso quase tinha correspondido ao
meu - como se a emoção e sentimento quase infantil de alegria que
emanava de mim fosse contagiante.

"Você fez tudo isso?" Perguntei, caminhando em direção a ele.

Eu sabia que ele deveria ter levado várias horas para colocar
todas as decorações, além do fato de que ele obviamente passou um
tempo escolhendo presentes e - tentado, pelo menos, embrulhá-los.

"É o seu aniversário", ele deu de ombros, como se não fosse


grande coisa; como se fosse algum tipo coisa que ele faria
simplesmente porque mais um ano da minha vida tinha passado. Ele
não entendeu que isso não era de nenhuma forma semelhante ao que
eu estava acostumada nos últimos 14 anos. Ele estava quebrando
minha tradição anual de solitária, celebração semi bêbada –
desviando-se da norma e transformando um dia que eu normalmente
temia em algo mágico e romântico.

Ele não sabia que a ideia do meu pai de um presente de


aniversário era um cartão dolorosamente genérico, recheado de
palavras vazias, sem sentido, escritas por um funcionário da Hallmark,
e um cheque robusto. Os anos que ele tinha lembrado até mesmo de
colocar sua assinatura na parte inferior do cartão foram os mais
memoráveis; normalmente, ele teve suas secretarias cuidando de tal
negócio trivial, como se não pudesse ser incomodado para lidar com
assuntos sem importância, como o dia do nascimento de sua única
filha.

Quando eu tinha saído de casa no ano passado para chegar a


Charlottesville, eu não tinha recebido um telefonema dele - não que eu
realmente estava esperando um. Lexi tinha me comprado um cupcake
e uma garrafa de tequila, então me levou para fora e fiquei bêbada o
suficiente para esquecer por que eu odiava este dia.

Então, eu achei que seria repetitivo dizer as minhas


expectativas, no que diz respeito a este ano? Nada, nada, nada.

Eu tinha imaginado que vinte e um anos não seria muito


diferente de vinte; a julgar pelo estado da minha cozinha, esta manhã,
no entanto, eu estaria admitindo bastante confortavelmente que eu
estava errada.

"Eu te amo", sussurrei, olhando em volta para a sala com


espanto, antes de arquear a cabeça para trás para escovar um beijo
nos lábios sorridentes de Finn.
Eu estava saindo do meu devaneio quando um carinho de
passageiros finalmente desceu e foi a minha vez de subir a bordo da
roda-gigante. Uma mão apareceu a minha frente e um dos
trabalhadores do parque ajudou a levantar o compartimento.

"Obrigada", eu disse, soltando a mão dele e virando para


encará-lo depois de eu ter sentado no banco.

"Eu não faria isso por qualquer outra pessoa, você sabe." Ao
som da sua voz, meus olhos voaram para longe da barra de segurança
que eu estava preparando no meu colo para examinar seu rosto. Para
minha surpresa, Finn estava ali, parecendo um pouco verde enquanto
ele olhava para a roda sobre as nossas cabeças. Tinha sido sua mão
que eu peguei para apoio.

"Você mudou de ideia?" Perguntei, tentando subjugar minha


súbita excitação.

"Foram os olhos de filhote de cachorro", ele deu de ombros,


subindo para a cabine ficando ao meu lado. "Eles me ganharam o
tempo todo."

Eu ri quando ele puxou a barra apertada em nossa volta,


sacudindo várias vezes para verificar se estava devidamente fechada.

"...Provavelmente passou cerca de dez minutos no total


colocando estar armadilha mortal junto ... completamente perigoso..."
Finn estava murmurando baixinho sobre a roda gigante, olhando para
todos os lados enquanto levantamos do chão a vários metros para que
o casal na fila atrás de nós pudesse embarcar em seu próprio carro.

"Hmmm? Você disse alguma coisa, homem das cavernas?"


perguntei docemente, colocando uma mão em volta da minha orelha.

"Apenas o quanto eu te amo por me convencer a montar


nessa coisa", ele respondeu sarcasticamente.
Bati no braço dele.

Ele riu, mas estava nervoso com a tensão. Seus nós dos dedos
estavam brancos na barra de segurança traindo sua ansiedade, que só
apertava mais enquanto subíamos no ar.

"Você realmente não tinha que vir," eu disse a ele, sentindo-


me um pouco envergonhada. "Sinto muito por incomodar você sobre
isso."

"Não sinta", ele disse, olhando para as luzes do parque de


diversões abaixo.

O parque realmente vinha a vida à noite. Era o pôr do sol


agora, e a maioria das crianças pequenas tinham ido para casa horas
atrás, substituídas por muitos casais para contar. A música country
soou nos alto-falantes de quase todos os estandes de jogo, gritos
soaram de frequentadores em busca de aventura, cabeças foram
giradas para baixo pelos brinquedos mais assustadores do outro lado
do parque, e os vendedores de alimentos chamando atenção dos
transeuntes para sua mercadoria. A maioria das vozes associadas em
uma mistura distinta: a trilha sonora noturna de outono de cada
parque em todo o país.

Barulhento, movimentado, brilhante; apenas respirar o ar faz


você se sentir mais vivo.

"A vista é tão bonita daqui de cima," suspirei.

"Isso realmente é", ele concordou. Quando olhei para ele, no


entanto, era para mim que ele estava olhando, ao invés do parque
espalhado abaixo de nós.

"Brega", acusei, acotovelando-o de leve no estômago.


Secretamente, eu estava gostando da onda de calor que suas palavras
enviavam em espiral através do meu peito. Finn envolveu um braço em
volta dos meus ombros e me puxou para mais perto, então eu estava
aconchegada contra o seu lado.

"Você me ama mesmo assim", ele sussurrou em meu ouvido,


sua boca se movendo mais baixo para pressionar um beijo no ponto
sensível atrás do meu lóbulo. Estremeci com a sensação, inclinando a
cabeça para lhe dar melhor acesso. Com o rosto enterrado em meu
pescoço, ele não percebeu as crianças no carro de passageiros acima
de nós, mas eu fiz.

Havia duas crianças pequenas em torno de oito ou nove anos


– irmãos mais provavelmente – no compartimento. O menino era
maior, e ele estava encontrando prazer no medo de sua irmã; ele soltou
seu corpo para trás e para frente, até que o carro ganhou força própria
e estava balançando descontroladamente. Sua irmã estava claramente
aterrorizada, pairando sobre a barra de segurança e suplicando para
parar. Ele estava rindo dela.

Aconteceu tão rápido.

Às vezes você vê a mudança chegando. Você pode não querer


isso, pode não estar pronta para abraçar o novo curso da sua vida que
está prestes a partir, mas pelo menos você pode se preparar para ela.
Ajustar as suas expectativas. Formular um novo plano.

Outras vezes, a mudança é tão repentina, tão inesperada, que


bate diretamente no seu rabo e deixa você querendo saber como
chegou a este lugar – pego de surpresa, com suas expectativas e
esperanças e sonhos como irrecuperáveis como uma casquinha de
sorvete que caiu no chão do parque, derretendo lentamente na estrada
de terra.

Se eu soubesse, naquele momento, que entrar nessa viagem


de diversões maldita seria irrevogavelmente mudar as coisas entre
Finn e eu, eu nunca teria subido a bordo. Nós éramos jovens e
apaixonados; éramos invencíveis – ou assim eu pensava. Se eu
soubesse que tudo isso seria arrancado de mim, talvez eu o tivesse
abraçado mais apertado, diria a ele que o amava pela última vez.

Eu não tive essa oportunidade.

Um minuto, eu estava olhando para os irmãos no carrinho


acima de nós, e no próximo, eu estava em algum lugar profundo
dentro da minha própria cabeça. Foi desorientador, a rapidez com que
a memória tomou conta dos meus sentidos, arrastando-me de volta
exatamente 14 anos em um único instante.

Nossa mãe adotiva, Eva, havia concordado em nos levar para o


Festival de Outono, os oito de nós crianças divididas em duas minivans,
com a luta dos mais velhos para ficarem nos bancos da frente. Havia
duas acompanhantes com o nosso grupo - mulheres que eu nunca tinha
conhecido antes - mas elas ficaram mais entre si mesmas, conversando
uma com a outra em vez das crianças. Eu acho que elas eram amigas
de Eva - às vezes elas andavam com ela na nossa casa de adoção - mas
eu não estava realmente certa.

Como de costume, meu corpo magro foi empurrado na fila de


trás, entre duas das crianças maiores. Eu mantive meus olhos fechados
pelo maior parte do passeio, recontando-me a lenda de Andrômeda mais
e mais na minha cabeça para calar o barulho na van desconfortável, no
banco traseiro apertado.

O menino se sentou na fileira à minha frente e não olhou para


trás. Uma parte de mim queria que ele virasse, mas eu sabia que era o
melhor - nós nunca conversamos um com o outro na frente das outras
crianças. Tanto quanto eles sabiam, eu ainda era a menina muda que
se manteve para si mesma.

A varanda de trás durante a noite – era o nosso lugar, um


espaço na casa que eu sempre me sentia segura o suficiente para ser eu
mesma. Segura o suficiente para falar. Todos os dias eu temia que uma
das outras crianças fosse nos descobrir lá fora, e descobrir o meu
segredo. Mas, por agora, no meu caminho para um parque, com a
promessa de açúcar e diversão suspensa no ar em volta de mim,
empurrei meus medos e determinei que ia ter um bom tempo. Era meu
aniversário, afinal.

Eu tinha sete anos. Eu não sentia nada de diferente - eu não


parecia maior também.

Eu não tinha contado a ninguém que era meu aniversário, nem


mesmo para o menino. Minha mãe adotiva tinha me dado um raro,
abraço inesperado quando entrei na cozinha para o café da manhã, mas
para as outras crianças não havia o conhecimento de que eu era um ano
mais velha.

Se minha mãe estivesse aqui, teria havido bolo e presentes e


muito risos até que minhas bochechas doessem pelos próximos três
dias. O fato de que era meu aniversário e ela não estava aqui fez
parecer mais real, mais definitivo do que nunca – ela tinha ido embora, e
ela nunca ia voltar.

Mesmo com meus olhos pressionado fechados, eu podia dizer


que estávamos nos aproximando da área do festival. As vozes de outras
crianças ficaram mais altas, enquanto conversavam sobre quais
passeios eles iriam primeiro e apontavam para as diferentes atrações
pelas janelas do nosso carro quando entramos lentamente em fila para
o estacionamento.

Espremendo meus olhos fechados ainda mais apertados, eu fiz


um desejo de aniversário. Não foi feito sobre um bolo, e eu não tinha
assoprado quaisquer velas, mas eu esperava que fosse contar de
qualquer maneira.
Eu não queria presentes. Eu não queria que o meu pai me
encontrasse. Eu não queria ser adotada. Eu nem sequer desejei minha
mãe de volta.

Em vez disso, eu desejei a todas as estrelas no céu à noite, em


todas essas constelações que o menino tinha me ensinado a encontrar e
o nome, para que não fossemos separados. Que, acontecesse o que
acontecesse, ficássemos juntos. Por que o menino com os olhos tristes?
Ele tinha se tornado minha estrela mais brilhante; a que me levou em
segurança a cada noite, quando os pesadelos e a dor se tornavam
demais. Ele me guiou da escuridão - a minha Estrela do Norte nas
sombras intermináveis.

E eu não queria perdê-lo, nunca.

Nossa mãe adotiva estacionou a van e o resto das crianças


saltou imediatamente para fora e correram para a entrada do parque.
Eu segui lentamente atrás, sabendo que eu nunca seria capaz de evitar
de qualquer maneira. Quando foram entregues os nossos bilhetes e
fomos autorizados a entrar no parque, o grupo se espalhou em todas as
direções.

As meninas mais velhas que eu dividia o quarto, Mary e Katie,


decolaram para a comida que ficava do outro lado do parque. Um bando
de meninos mais velhos correu para os brinquedos de emoções fortes,
que viravam de cabeça para baixo e faziam você vomitar. O resto foi
para o lance do anel e dardo.

Eu não vi onde o menino tinha ido.

Minha mãe adotiva e as outras duas acompanhantes estavam


ocupadas com Bobbie, de três anos de idade, a criança que tinha
chegado à casa de adoção há duas semanas. Ele era o mais novo de
longe, e ele usava quase toda a sua atenção. Ao resto de nós tinha sido
dado um subsídio de vinte bilhetes cada, e enviado para gastá-los o
tanto que queríamos. Eu acho que Eva estava feliz que ela não tinha que
lidar com os outros sete de nós pelas próximas horas.

Decidi ficar sozinha, ao invés de correr atrás de um grupo de


crianças mais velhas que não queria que eu ficasse por perto de
qualquer maneira. Fiquei vagando por alguns minutos, tendo na mira os
cheiros, e, eventualmente, separando três dos meus bilhetes em troca de
um pedaço de algodão doce tão pegajoso que eu tinha que chupar cada
um dos meus dedos por alguns segundos para obtê-los limpos.

Quando eu vi a roda-gigante – vermelha brilhante e iluminada


com centenas de pequenas luzes brilhantes – parecia mágica, como algo
saído de um livro de histórias. Era encantador, totalmente diferente de
qualquer brinquedo que eu já vi antes, eu queria instantaneamente
entrar nela e ir para cima, para cima, para o céu. Eu sabia que a visão
das estrelas do alto seria incrível.

Entrei na fila e tentei ignorar os três rapazes que estavam a


vários metros à minha frente. Eles viviam na casa de adoção, e eu sabia
por experiência que eles iriam me provocar impiedosamente se me
descobrissem de pé em qualquer lugar perto deles. Eu deveria ter saído
da fila assim que os vi – Eu quase fiz – mas a atração da roda-gigante
era muito forte, e eu percebi que havia uma boa chance de que eles não
me notassem de qualquer maneira.

Eu estava errada.

Estávamos nos aproximando da frente da fila quando Eugene,


o mais antigo – e mais malvado – dos meninos se virou e me viu. Com
treze anos, com cabelos loiros e uma estrutura alta, Eugene era um
valentão. Eu sempre pensei que era porque ele odiava o seu nome idiota
tanto, que ele sentia como se tivesse que provar o quão duro ele era a
cada minuto do dia.
"Hey, aberração!", ele gritou, a excitação e malícia clara em
seus olhos.

Eu, como de costume, não respondi.

"O que, o gato comeu sua língua, aberração?" Eugene zombou.

Os outros garotos se viraram para olhar para mim, bem como,


rindo e brincando entre si. Passei meus braços firmemente em torno do
meu peito, tentando me segurar, fiz o meu melhor para ignorá-los.

Não deixe que eles lhe vejam chorando, Brooklyn. Nunca lhes
mostre fraqueza.

O menino tinha me dito há várias semanas, depois de um dia


particularmente brutal de provocação à mesa de jantar quando Eugene
tinha "acidentalmente" esbarrado em mim, fazendo com que todo o meu
prato de nuggets de frango e purê de batatas caísse no chão. Eva tinha
me culpado por ser desajeitada e me mandou para a cama sem jantar
como punição.

Um alvo que não luta de volta, que nem sequer se defende com
palavras, é a vítima mais fácil do mundo.

"Subindo sozinha?" perguntou Eugene, estendendo a mão para


pegar o meu braço com força. "Nós não podemos permitir isso. Eu sou
seu irmão mais velho afinal, obviamente, não pelo sangue. Como se eu
estaria relacionado a uma perdedora", ele riu histericamente.

Os outros meninos riram ao ouvir suas palavras.

"Vamos, Brooklyn. Vamos andar juntos. Assim como irmãos de


verdade."

Esta não era uma sugestão inocente; Eu podia ouvir a ameaça


enterrada dentro de suas palavras. A última coisa que eu queria no
mundo era arruinar a magia da roda-gigante por andar com Eugene,
mas eu não parecia ter uma escolha.
O que eu tinha era um mau, mau pressentimento sobre isso.

Olhei para ele e tentei puxar meu braço longe de seu aperto,
mas ele era muito maior, mais forte, mais resistente que eu. Não foi uma
luta justa; mas então, nunca foi quando vinha de Eugene.

Antes que eu percebesse, todos os meus ingressos restantes


haviam sido arrancados das minhas mãos e eu estava sendo conduzida
em um carro da roda-gigante com Eugene pairando nas minhas costas.
Os outros garotos estavam de pé atrás de nós, esperando para
embarcar em seu próprio carrinho, impedindo a saída; qualquer
tentativa de fuga seria interrompida antes que eu desse dois passos. Eu
tentei pegar o olho do homem verificando nossa barra de segurança,
mas ele não olhou na minha direção uma vez.

E então já era tarde demais; estávamos no ar.

Eugene gritou em voz alta, vitorioso, e os meninos no carro


abaixo responderam com seus próprios gritos. Fiz-me pequena,
apertando o mais longe possível dele dentro do compartimento
minúsculo.

Quando estávamos sobre o meio do caminho da subida, ele


começou a balançar.

Inclinando seu corpo para frente sobre a barra, em seguida,


batendo abruptamente contra o encosto, Eugene fez todo o carro
balançar para trás e perigosamente rápido. Em questão de segundos eu
fiquei tonta e comecei a tremer de medo; algumas vezes nós inclinamos
tão drasticamente que eu tinha certeza que eu ia deslizar para a direita
para fora sob a barra e cair para a morte no chão duro muito abaixo de
nós.

Eu não gritei, não chorei; recusei-me a dar muita satisfação.


Mas eu estava com medo da minha mente, lamentando
internamente a injustiça disso. Ele tinha tirado toda e qualquer emoção
que eu tive quando vi pela primeira vez este enorme brinquedo. No
momento em que finalmente voltei para o chão, eu não estava apenas
pronta para vomitar o meu algodão doce, mas tinha jurado que eu
nunca entraria numa roda-gigante de novo, enquanto eu vivesse.

Os meninos me deixaram - sem tickets, com náuseas, e


sozinha - na base do brinquedo. Eles riram ao correr para fora, gritando
alto um com o outro e planejando que brinquedo eles iam na próxima.
Sentei-me no chão e tentei muito, muito fortemente não ter pena de mim
mesma.

Foi lá que o menino me encontrou.

"Hey, Abelhinha", ele disse, estendendo uma mão para me


ajudar a levantar.

"Oi", eu sussurrei, minha voz pequena.

"Você está bem?" Ele perguntou.

Então, ele tinha visto o que Eugene fez. Eu balancei a cabeça.

"Não os deixe chegar até você. Não em seu aniversário."

Olhei para o rosto dele, surpreendida que ele soubesse que era
o meu dia especial, e ele piscou para mim. "Vamos lá", ele disse,
pegando a minha mão e me puxando para trás em direção à roda-
gigante. Ele parou quando sentiu a minha resistência.

"Eu não quero voltar para lá", eu insisti, puxando minha mão.

"É exatamente por isso que você tem que ir, Abelhinha. Você
nunca ouviu a frase, ‘voltar para o cavalo que te derrubou?’", perguntou

Eu balancei a cabeça negativamente, olhando para ele


interrogativamente.
"Bem, é a verdade. Não deixe que um idiota como Eugene
arruíne rodas-gigantes para você. Eu vi seu rosto antes, quando você
chegou primeiro na fila... Você parecia tão animada. Você não estava?"

"Sim", eu admiti. "Eu realmente queria andar antes. Mas


agora..." Eu parei.

"Vai ser diferente, Abelhinha. Eu prometo. Você não confia em


mim?"

Eu pensei sobre isso por alguns segundos. "Claro."

"Então, vamos."

Esperamos na fila por um curto período de tempo, e o menino


compartilhou alguns de seus bilhetes comigo desde que Eugene tinha
tomado todos os meus. Eu estava nervosa quando subi a bordo, mas
logo me dei conta de que o menino estava certo - era diferente desta vez.

A única coisa que o garoto não tinha mencionado era que ele
tinha medo de altura, o que eu descobri cerca de vinte segundos depois
que saímos do chão. Ele estava respirando mais pesado do que o
habitual, e sua pele estava pálida e úmida de medo.

Quando a roda-gigante parou de girar, fomos deixados no alto


do parque e eu podia ver a galáxia inteira iluminada como um milhão de
vaga-lumes minúsculos congelados no céu noturno. Comecei a apontar
constelações pata o menino, nomeando-as facilmente agora, depois de
semanas de prática, e mesmo recontar algumas de suas histórias em
voz alta.

Eu acho que o acalmou um pouco, porque o controle sobre a


barra de segurança se soltou e ele se virou para olhar para mim
enquanto nós começamos nossa descida de volta para o chão.

"Feliz aniversário, Abelhinha", ele disse, apertando a minha


mão com a sua.
Pensei de novo sobre o meu desejo de aniversário mais cedo, e
orei ainda mais forte para que ele se tornasse realidade.

"Obrigada, Finn," respondi, sorrindo para ele.


Capítulo 17
Ponto de Ruptura

"Abelhinha? Abelhinha, o que é?" Perguntou Finn. Ele puxou


sua cabeça para cima da curva do meu pescoço, e estava olhando para
mim com um olhar preocupado no rosto. "O que está errado?"

Sua voz me puxou de volta à realidade. Nosso carrinho estava


posicionado no alto da roda-gigante, sem duvidas, uma vista
deslumbrante e panorâmica da feira abaixo e um pôr do sol incrível –
uma bola de fogo vermelha fazendo a sua descida no céu ocidental. No
momento, porém, era tudo um borrão. Eu olhava para frente, incapaz
de olhar para ele. Completamente indisposta a acreditar no que minha
mente tinha acabado de me revelar.

Meu primeiro instinto foi para rejeitá-la completamente.


Negação absoluta. Porque simplesmente não havia maneira possível
que o garoto de olhos tristes que assombrava minhas memórias era
Finn. Meu Finn. Era absurdo demais para sequer cogitar.

Meu próximo pensamento foi que tudo isso era algum tipo de
coincidência; uma grande piada cósmica, jogada por fatalidade ou o
destino pelos deuses existentes lá em cima. Talvez um dia eles, em
toda a sua onipotência infinita, estivessem entediados o suficiente
para estender a mão e mexer a panela; mexer conosco, meros mortais
aqui na terra, para que no momento que nós finalmente
percebêssemos o que estava acontecendo, já fosse tarde demais.
Então, quando nós estávamos correndo por aí como galinhas com as
cabeças decepadas, tentando desesperadamente fazer o controle de
danos em nossas vidas bagunçadas, eles poderiam simplesmente
relaxar e assistir, assumidamente entretidos por nossa falta de poder e
de sabedoria.

Eu rapidamente rejeitei essa ideia, em parte porque eu


gostava de pensar que eu tinha pelo menos uma aparência de controle
sobre o meu próprio destino e, por outro, porque isso seria um inferno
de uma coincidência improvável.

Isso deixou uma opção final - a única explicação verdadeira


do que realmente tinha sido. Eu não queria enfrentá-lo. Eu não queria
nem pensar nisso. Tudo o que eu queria fazer era retroceder o relógio
15 minutos para trás, antes de eu escalar nesta roda gigante maldita e
tudo tivesse mudado.

Foi apenas há quinze minutos que tudo era perfeito? Que eu


tinha sido feliz? Que eu acreditava que eu, pela primeira vez na minha
vida, tive sorte?

Parecia uma memória distante agora, superficial e fugaz;


desaparecendo com o vento com asas leves, tão rapidamente que era
como se nunca tivesse sido real em tudo.

A verdade era, no entanto, que uma parte de mim suspeitava


todo o tempo disso, que ele não podia ser feito para mim. No fundo, eu
sabia que eu não estava destinada a fazer coisas boas - alegria e amor.
Ele só não estava nas cartas para mim, e que tola eu tinha sido,
mesmo que apenas por um breve espaço de tempo, por pensar o
contrário.

Mesmo com esse conhecimento firmemente na minha cabeça,


não foi nada fácil aceitar como verdade. E, contra toda a lógica, eu
desesperadamente queria qualquer outra explicação.
Porque se fosse verdade, isso significava não só que Finn e o
menino dos olhos tristes serem o mesmo... também significava que
Finn era um mentiroso.

Ele sabia exatamente quem eu era desde o momento em que


nos conhecemos.

Ele sabia sobre o meu passado.

Ele sabia sobre a minha mãe.

E ele usou esse conhecimento para me quebrar e me colocar


de volta junto novamente do jeito que ele queria. Ele havia se infiltrado
em minha vida, se inserido em cada faceta da minha existência, até
que eu me sentisse tão profundamente apaixonada por ele que não
saberia onde ele terminava e eu começava mais.

E ele nunca tinha dito uma palavra maldita.

Eu tinha confiado nele; que era monumental para mim. Pior,


eu deixaria todas as minhas paredes desmoronarem, e para quê?
Algum garoto que encantou em seu caminho para as minhas boas
graças e, em seguida, encontraria seu caminho em meu coração e
minhas calças.

O que eu era para ele? O que era essa paródia de um


relacionamento? Algum tipo fodido de retribuição pela nossa infância
compartilhada?

Ele realmente acha que ele poderia apenas passear de volta


para minha vida e... o quê? Corrigir-me?

Ele ainda me ama?

Como você poderia realmente amar alguém, se tudo o que


você já disse a ela foi uma mentira?

Havia perguntas intermináveis, e não há respostas simples.


Mas a conclusão era de que ele estava mentindo.
Ele era um mentiroso.

E ele definitivamente, sem dúvida, não era o homem que eu


achava que conhecia. O homem que eu tinha pensado que amava.

Eu nunca tinha entendido antes o termo ponto de ruptura. As


pessoas sempre falam sobre como eles foram empurrados para aquele
lugar onde o estresse e medo são tão intensos em sua mente que
simplesmente não aguentam mais. Eu pensei que era um monte de
bobagem, um conceito pensado por pessoas que são ou muito
emocionalmente incapazes ou muito cognitivamente preguiçosas para
classificar através das suas ideias mentais e enfrentar a realidade.

Eu entendi agora.

Eu poderia literalmente sentir minha mente quebrando –


fragmentando em pedaços enquanto ela tentava desesperadamente
conciliar as coisas que pensei que eu sabia sobre Finn Chambers com
o que eu tinha acabado de descobrir. Era uma espécie de como olhar
para um Picasso - todas as partes essenciais estavam lá, mas dane-se
se eles não estavam fodidos e colocados completamente nos lugares
errados.

Minha mente não estava sozinha, porém, porque o meu


coração – meu coração estúpido, cego, sem proteção – foi quebrado em
pedaços também.

"Abelhinha?" Finn repetiu, preocupação evidente em seu tom.


"O que está acontecendo?"

Eu não respondi, mas tenho certeza que o olhar horrorizado


se espalhando por todo o meu rosto quando a compreensão afundou e
tomou conta de mim falando alto.

Eu não poderia fazer isso agora – eu não estava prestes a


resolver as coisas aqui, em uma roda-gigante em pânico pairando
quarenta metros acima do solo. Na verdade, eu não acho que eu queria
resolver as coisas em tudo. Nunca. Eu só queria fugir e esquecer o que
aconteceu nos últimos três meses da minha vida. Mas, primeiro, eu
precisava ficar longe dele. E eu não podia deixar transparecer que eu
me lembrava, que eu sabia, ou ele nunca ia me deixa ir embora sem
falar as coisas.

E eu definitivamente não queria falar. Eu queria fugir. Eu


queria dar um soco na cara dele, e depois dormir com cada homem
bonito que atravessasse o meu caminho até seu cheiro e seu toque
fossem removidos permanentemente da minha memória. Eu queria
pintar minhas paredes, queimar minha cama até ela se transformar
em cinzas, e jogar meu violão em uma sarjeta em algum lugar.

Fique firme, Brooklyn.

"Eu me sinto mal," menti por entre os dentes, meu tom plano
e totalmente desprovido de emoção. "Eu esqueci o quanto eu odeio
rodas gigantes." Essa parte, pelo menos, era verdade – depois disso,
elas estariam para sempre arruinadas para mim.

"Ah, desculpe-me, princesa", a voz de Finn era gentil,


compreensivo, amoroso; escutá-lo assim era como se tivesse jogado sal
em uma ferida aberta. "Você me deixou preocupado."

Quando ele passou os braços em volta de mim, eu não


poderia evitar – eu fiquei completamente tensa. Levou tudo que eu
tinha para não me afastar.

"Abelhinha?" Finn questionou, confusão evidente em sua voz.

Eu estava realmente estragando o meu plano para agir como


se nada estivesse errado; Eu precisava me recompor. Um músculo de
cada vez, forcei meu corpo relaxar em seus braços.
"Desculpa. Eu realmente estou bem", eu engoli a mentira. "Só
estou tentando não vomitar."

Infelizmente, essa segunda parte era verdade. Eu estava


lutando contra a náusea desde que eu retornei da minha excursão
involuntária pela estrada da memória, mas não tinha nada a ver com a
enjoo do movimento ou altura.

"Não se preocupe", ele me disse. "Estamos quase de volta no


chão."

Ele estava certo; fomos o próximo carrinho a desembarcar. Eu


ainda não tinha olhado para ele, por medo de que ele pudesse ler nos
meus olhos.

Eu não podia olhar para ele.

Inferno, eu quase não seria capaz de digerir me olhando no


espelho.

Eu me senti usada, suja, perdida, traída. Mas, pior, eu me


senti como uma criança. Completamente enganada e ingênua. E essas
foram palavras que ninguém jamais, na história da minha existência,
tinha usado para descrever Brooklyn Turner.

As emoções estavam ameaçando me oprimir, e eu sabia que


se eu começasse a chorar agora, eu nunca conseguiria parar; Eu
precisava estar longe, muito longe dele, quando as imposições
inevitavelmente quebraram.

Fique firme, Brooklyn. Você pode fazer isso. Apenas um pouco


mais.

Quando tocamos o chão e saímos do nosso carrinho,


imediatamente evitei Finn, então eu estava a vários metros de
distância. Ele percebeu minha distância imediatamente – como não
podia? Nos meses desde que nos conhecemos, mesmo quando não
estávamos namorando oficialmente, nós sempre invadimos totalmente
o espaço um do outro, gravitando tão perto um do outro que
estávamos quase nos tocando em todos os momentos.

"Eu tenho que ir ao banheiro", eu disse, voltando para


examinar a multidão para o banheiro mais próximo. Quando avistei o
concreto verde maçante construído a vários metros de distância, eu
virei meu calcanhar sem dizer uma palavra e comecei a dar passos
largos em direção a ela. Andei metade do caminho para lá antes que
Finn me alcançasse, agarrando o meu braço para me levar a uma
parada.

"Ei, você precisa de mim para entrar com você? Segurar o seu
cabelo para trás ou... alguma coisa?" Sua voz era uma mistura de
confusão e preocupação, a sinceridade em suas palavras queimou em
meus ouvidos como ácido.

"Não", eu disse, puxando meu braço com força. "Eu preciso


vomitar, Finn. As meninas não gostam de seu namorado-". Eu quase
engasguei sobre a palavra "vendo-as assim, ok? Então me deixe ir. Eu
vou ficar bem. Mas se eu ficar aqui mais um momento, você vai ser
coberto de massa frita e algodão doce."

"Tudo bem... Eu sinto muito", ele disse em voz baixa. "Eu vou
esperar por você lá fora. Apenas... deixe-me saber se você precisar de
mim." Ele parecia chateado, e por um momento senti pena que eu
estava sendo tão desagradável com ele; apenas por um momento, no
entanto, porque eu me lembrei rapidamente que ele era um bastardo
mentiroso que estava brincando comigo só Deus sabia por quanto
tempo.

Eu corri para o banheiro, desta vez sozinha, eu tinha um


pensamento ainda mais aterrorizante: E se Finn não era apenas um
mentiroso... e se ele era psicótico?
Até então eu tinha ficado preocupada se todos os telefonemas
assustadores eram obra de um stalker ou algum tipo de sociopata
desconhecido que estava lá fora para me pegar. Mas e se eu tivesse
mais perto de meu agressor do que jamais imaginei ser possível... tão
perto, que eu o tinha convidado para a minha cama e jogado ao chão
um maldito tapete de boas-vindas na porta do meu coração?

Eu rejeitei esse pensamento tão rápido que mal tive tempo


para formar totalmente, expulsando-o da minha mente com uma
contundência violenta que surpreendeu até a mim mesmo. Não
importa o que – Finn Chambers era, ele nunca ia me machucar. Eu
sabia tão claramente quanto eu sabia que o sol se levantava todos os
dias no leste, que o meu nome do meio era Grace, e que sete doses de
tequila eram o suficiente para me fazer esquecer que ano era.

Eu nunca tive um coração partido antes, mas agora eu


entendia totalmente o termo. Não é apenas uma dor emocional, é um
física – como se alguém tivesse, literalmente, enfiado a mão dentro de
seu peito e rasgado o seu coração para fora, deixando uma dor, a
cavidade aberta para trás, para que você soubesse que não tinha
esperança de um dia totalmente curar.

Comilona por punição do jeito que eu sou, quando cheguei


nas portas do banheiro me virei para um último olhar para Finn,
sabendo que, com toda a probabilidade, era a última visão que eu teria
dele. As lágrimas que eu estava segurando finalmente se liberaram,
construindo nos meus olhos e derramando quando eu o encontrei no
meio da multidão. Ele estava parado exatamente onde eu tinha
deixado; seus olhos voltados para aquela roda gigante maldita com um
olhar contemplativo em seu rosto, como se estivesse buscando a
resposta a uma equação particularmente difícil.
Ele era a perfeição, da raiz de seu cabelo escuro desarrumado
até os dedos dos pés ligeiramente arranhados da suas favoritas botas
pretas de motoqueiro. E, mesmo que eu devesse odiá-lo, naquele
momento tudo o que eu podia fazer era beber à sua imagem - como
uma mulher morrendo de sede no meio de um deserto, olhando para o
oásis que ela nunca chegaria.

Quando as lágrimas começaram correr rápido demais para


ver em linha reta, eu me virei e corri para o banheiro. Puxando meu
celular do meu bolso, chamei Lexi. Felizmente, ela atendeu no segundo
toque.

"Brookie! Como está indo seu aniversário, baby?"

"Lexi." Minha voz estava quebrada. Eu não tinha mais nada -


nem mais vontade de fingir que eu estava remotamente bem. "Por
favor. Eu preciso que você venha me pegar."

"Ok", ela concordou imediatamente, sem perguntas. Isso em


si já falou muito sobre o desespero que ela ouviu na minha voz
destruída. "Onde você está?"

Eu disse a ela, e ela concordou em me encontrar pela entrada


lateral em dez minutos. Quando eu a fiz prometer não contar Ty onde
estava indo, eu sabia que ela pegou que o motivo era Finn, mas ela
não disse nada.

Saí pela porta de trás dos banheiros, olhando por cima do


meu ombro para me certificar de que Finn não tinha me visto, e
desapareci na multidão. Eu me perdi na multidão de alegres
frequentadores, lentamente em direção à saída leste do parque, eu
deixei minhas lágrimas caírem no chão e desejei, com tudo o que eu
tinha deixado em mim, que eu pudesse esquecer Finn Chambers e
seguir em frente com minha vida.
Eu provavelmente teria tido melhor sorte desejando um
suprimento vitalício de chocolate sem calorias ou uma viagem com
tudo pago de ida e volta para a lua.

***

Ele foi muito mais rápido do que eu tinha previsto.

As chamadas tinham começado tão logo eu encontrei com


Lexi. Eu desliguei meu telefone, incapaz de até mesmo ver seu nome
aparecer na tela sem me sentir doente.

Eu tinha chegado em casa há cinco minutos, quando a batida


na porta da frente começou, em voz alta o suficiente para que ele
pudesse ser ouvido atrás da porta fechada do meu quarto. Lexi olhou
para mim com uma expressão perplexa quando entrei na cozinha e
disse-lhe em termos inequívocos, que ela não tinha permissão para
deixá-lo entrar. Eu não ligo para o que ele diz, o que ele fez. Sob
nenhuma circunstância eu queria ver ou falar com ele.

"Abelhinha!", ele gritou, com os punhos batendo contra a


porta de madeira tão forte que sacudira o batente. "O que diabos esta
acontecendo?"

Encostei-me no balcão da cozinha de apoio.

"Diga-me o que eu fiz." Sua voz estava desesperada, abalada.


Lexi olhou de mim para a porta e voltou, um olhar de horror em seu
rosto.

"Brooklyn! Por Favor!"

Fechei meus olhos para que não tivesse que ver sua
expressão de julgamento.
"Princesa, só falar comigo. Nós podemos consertar isso, por
favor, só não se cale."

Ele continuou assim durante quase uma hora, até que sua
voz ficou rouca e ele ficou sem ar. Quando ele finalmente desistiu, abri
os olhos, dei uma olhada para Lexi, e fui para o quarto.

"Não tão rápido!", ela gritou, correndo atrás de mim e jogando


os braços para me impedir de fechar a porta do quarto na cara dela.
"Você me deve o inferno de uma explicação. Em primeiro lugar, você
me faz buscá-la em feira, em lágrimas e quase sem respirar, e agora
Finn está aqui, batendo na nossa porta como um lunático, e eu não
posso deixá-lo entrar?". Ela olhou para mim, os olhos arregalados.
"Que. Porra. Aconteceu. Hoje?"

"Ele não é quem eu pensei que ele era, ok?" Minha voz soou
como a de um estranho.

"Uh, não. Não está bem", disse Lexi, empurrando minha porta
todo o caminho aberta e me forçando para trás da porta enquanto ela
invadiu meu quarto. Ela se sentou na cama, cruzou os braços sobre o
peito de forma ameaçadora, e me dirigiu enfaticamente o seu melhor
olhar. "Agora explique, ou eu não vou ajudar você mais. O que significa
que posso atender a porta para quem quer que venha a bater."

Olhei para ela.

Ela bateu o pé, impaciente.

"Ele mentiu para mim. Sobre como nós nos conhecíamos,


sobre como nos conhecemos. Sobre tudo. Ele está mentindo para mim
desde aquele dia que eu tropecei no hidrante, Lex. E eu não posso
falar sobre isso", eu disse, minha voz embargada quando implorei com
ela para entender. "Não é porque estou sendo uma cadela, e não é
porque quero fecha-la para fora. Porque eu literalmente não posso
falar sobre isso. Dói muito, caramba." Respirei fundo e inclinei a
cabeça para cima para afastar as lágrimas se construindo.

"Oh, Brooklyn," Lexi sussurrou, lágrimas enchendo seus


próprios olhos. "Venha aqui." Ela me puxou para baixo em um abraço
esmagador, e, de repente, eu estava chorando nos seus braços,
tentando recuperar o fôlego enquanto nadava rio acima em uma onda
de tristeza e mágoa e traição.

Eu não sei quanto tempo nós nos sentamos lá na minha


cama, ambas chorando, mas quando finalmente parei com as lágrimas
estava escuro lá fora em minhas janelas; a noite inteira tinha caído
horas atrás. Lexi beijou meu rosto e disse boa noite, enxugando os
olhos enquanto se dirigia para o corredor. Quando a porta se fechou
atrás dela, eu desmoronei na minha cama, enrolando-me em uma bola
de miséria.

Devo ter adormecido em algum momento, exausta da minha


crise de choro.

Eu sobressaltei acordada ao som da minha janela deslizando


aberta. Sentando na minha cama, peguei meu celular na mesa de
cabeceira e freneticamente apertei o botão para ligá-lo novamente. Eu
podia ouvir alguém manobrando através da janela, assim que o meu
telefone ligou.

Eu estava no meio da digitação de 911 quando vi que os pés


descendo pela minha janela aberta eram familiares botas de
motoqueiro pretas, conhecendo seus sapatos até mesmo no quarto
escuro.

Resignada, desliguei a tela do meu telefone e guardei de volta


na minha mesa de cabeceira. Sentei na cama, os braços cruzados, e vi
como Finn tombou pela janela, perdendo o equilíbrio e quase caindo de
rosto no processo.
Quando ele se endireitou, seus olhos cruzaram
instantaneamente através do quarto e trancaram no meu.

"Oi", ele disse, enfiando as mãos nos bolsos da calça jeans, e


não fazendo nenhum movimento para se aproximar.

"O que você está fazendo aqui?" Perguntei, meu tom hostil e
meu comportamento frígido.

"Bem, eu escalei a árvores...", ele começou.

"Eu perguntei o que não como," eu disse, interrompendo.

"Eu tinha que ver você, Abelhinha", ele disse, olhando para
mim com um olhar desesperado em seus olhos. "Eu não sei o que está
acontecendo. Não é justo que você esteja claramente tão brava, quando
você nem sequer me disse o que eu fiz para chatear você."

"Não é justo? Não é justo?" Eu perguntei, minha voz mordaz.


"Essa é boa - você está falando sobre o que é justo."

"O quê?"

"Não se faça de idiota, Finn. Se você vai estar aqui, perdendo


meu tempo, o mínimo que você pode fazer é ser honesto."

"Brooklyn..." Ele estendeu as mãos em sinal de rendição,


como se ele estivesse tentando me acalmar. Como se eu pudesse ser
acalmada, neste momento.

Será que ele está de sacanagem comigo?

Pensei que eu tinha tudo sob controle, pensei que poderia


passar por este confronto sem perder, mas era muita coisa. Ao vê-lo
aqui assim... ainda mentindo para mim, ainda fingindo...

Eu atirei.
"Conte-me uma história, Finn", eu disse, minha voz sombria.
Seu rosto drenou de cor quando registrou as palavras familiares, e ele
percebeu que eu sabia.

Que eu tinha me lembrado.

Atravessei a sala, aproximando-se dele, onde ele ficou


completamente imóvel. Eu podia ver a veia no pescoço pulsando com
cada batimento cardíaco, o pescoço e os ombros rígidos com a tensão
enquanto ele se segurava imobilizado. Seus olhos estavam levemente
estreitos, cheios de cautela, indecisão, e o que se parecia muito com
medo, enquanto esperava para ver o que eu faria.

Quando cheguei perto dele eu fui direto para o seu rosto,


afastando a minha dor, canalizando todas as emoções rodando de
dentro de mim em um sentimento singular: traição.

"CONTE-ME UMA HISTÓRIA", eu gritei na cara dele, o meu


controle quebrando em pedaços.

Ele se encolheu, mas permaneceu imóvel e em silêncio, com o


olhar fixo no meu.

"Tudo bem", eu disse, minha respiração ofegante enquanto


olhava em seus olhos escuros. Eles estavam fortemente protegidos,
escondendo o que ele estava sentindo de mim. "Então vou lhe contar
uma história. É sobre uma menina que perdeu tudo, que não tinha
mais nada. Nada e ninguém para chamar de seu. Até que ela conheceu
um rapaz, e por um tempo, ele se tornou seu tudo." Minha voz se
quebrou na última palavra e eu amaldiçoei interiormente, determinada
a me recompor por isso.

Havia coisas que precisavam ser ditas, e desde que ele tinha
forçado este confronto, elas estavam indo para ser ditas com certo
pânico agora.
Transportando uma respiração para meus pulmões, eu
continuei adiante. "Mas aquele rapaz, aquele que lhe deu de volta um
pedaço de si mesma? Ele é um mentiroso. Ele é um manipulador.
Então, mesmo que aquela menina, que não era mais tão pequena,
tivesse confiado nele para colar novamente juntos seus fragmentos
quebrados... mesmo que ela pensasse que ele poderia fazê-la acreditar
em finais felizes novamente... mesmo que ela pensasse que ele seria o
único a apagar todas as suas cicatrizes..."

Lágrimas estavam escorrendo dos meus olhos agora, e minha


voz ficou mais frágil com cada frase que eu forçava a sair.

"A menina estava errada. O menino não era de confiança, não


mais do que todos os outros homens da sua vida que a tinha
decepcionado. Ele a enganou até que ela não podia mais distinguir a
realidade das mentiras; até que ela sabia que não haveria felizes para
sempre para ela. Nem agora, nem nunca. Porque ela estava quebrada,
irremediavelmente, pela segunda vez em sua vida. A cola que o menino
tinha usado para colar as peças dela de volta não era forte o suficiente,
não era verdadeira o suficiente para segurar tudo junto. Ela
escorregou e se desintegrou, e todas as suas peças caíram e
quebraram pior do que elas tinham sido antes"

Eu tinha perdido todo o controle neste momento; as lágrimas


escorrendo pelo meu rosto e Finn parecia uma sombra do homem que
eu conheci; ele parecia tão assombrado como eu me sentia por dentro.

"Acho que eu deveria agradecer a você", eu disse, um riso


amargo deslizando através de meus lábios.

Ele manteve seu silêncio por um instante, em seguida,


sussurrou: "Agradecer-me?" Sua voz era mais áspera do que eu já
tinha ouvido dele, devastada e desprovida de qualquer da sua típica
autoconfiança.
Bom. Ele deve estar quebrado também.

"Eu pensei que eu fosse forte, que minhas paredes eram


impenetráveis, até que você entrou na minha vida e provou o quão
fraca eu realmente era. Na verdade, eu pensei que estava segura com
você", eu ri sem alegria, olhando para as estrelas pintadas em meu
teto. "Então, obrigado, Finn, por me mostrar a minha própria
fragilidade. Vou ter certeza de não cometer os mesmos erros no
futuro."

"Abelhinha-", ele começou.

Eu o interrompi. "Não. Você não me chame assim de novo."

Seus olhos estavam vidrados com lágrimas não derramadas,


cheios de resignação e sem esperança.

Balançando a cabeça, ele deu um passo para trás, fora do


meu espaço, e virou os olhos para olhar para o chão. "Eu sinto muito,
Brooklyn," ele sussurrou. "Você não tem ideia de quantas vezes eu
tentei lhe dizer... o quão perto eu cheguei-"

"Só pensar em fazer e não fazer não conta, Finn."

"Eu sei", ele disse, chegando a passar as mãos pelo cabelo.


"Mas como você encontra as palavras para algo assim? Como você diz
a alguém que você passou a vida inteira procurando por ela?" Ele riu,
um som amargo escapando de seus lábios. "Brooklyn, desde que fomos
separados quando éramos crianças, venho tentando localizá-la.
Implorei aos meus pais adotivos para voltar para você, para me deixar
ligar ou até mesmo escrever para você. No momento em que eles
cederam e eu liguei na casa do grupo, você já tinha ido embora. Eva
não quis me dizer nada. Seus arquivos de adoção foram selados;
Nunca pensei que eu realmente ia encontrá-la. E então, uma terça à
tarde qualquer, há dois anos, eu digitei seu nome na busca no
Facebook e bam! Lá estava você."
Eu pensei sobre a conta da rede social há muito adormecida
que Lexi tinha insistido que eu fizesse quando tinha sido aceita na
universidade. Ela postou uma foto de nós duas vestindo novos
moletons universitários combinando que continham o logotipo da
universidade em laranja orgulhoso na frente. Eu me perguntava se era
assim que Finn havia me rastreado.

Desde que nunca tinha usado o perfil, eu tinha assumido que


iria desativar depois de um longo período de inatividade.
Aparentemente, todas os sermões que meus professores fizeram sobre
pegadas permanentes na Internet realmente eram verdade, afinal de
contas; Facebook é para sempre.

"Eu soube que era você imediatamente - você era linda


quando pequena, e você está ainda mais linda agora... aqueles olhos,
aquele sorriso. Não havia como negar que era você", continuou Finn.
"Mas eu ainda precisava ver que você estava bem, Brooklyn. Eu me
preocupei com você por anos. Você tem que entender, quando fui
adotado, quando deixei você... Eu senti como se tivesse a abandonado.
E eu sabia que nunca iria descansar até que eu tivesse visto você de
novo, cara a cara."

"Então, quando você me encontrou, o que então? Era o plano


para me ferrar de volta ao normal? Para me consertar com a força de
vontade do seu pênis?" Coloquei para fora. "Você poderia ter me
verificado e ido embora, sem falar uma única palavra para mim. Eu
estava bem antes de conhecer você. A única coisa que você fez foi me
foder ainda pior do que eu era antes."

"Não foi nada disso, Brooklyn", disse Finn, raiva infundindo


seu tom. "Nunca planejei isso – nós. Não queria me apaixonar por
você, mais do que você esperava se apaixonar por mim. Eu me
transferi para cá no outono passado quando soube que você estaria
aqui. Mas você me viu por aí, em todo o seu primeiro ano? Não. Eu
não me aproximei de você. Eu não me meti em sua vida. Eu estive lá,
na expectativa de que um dia você precisaria de ajuda – que você
precisasse de mim. Eu não ia falhar de novo, independentemente se
você nem mesmo soubesse que eu existia."

Eu não sabia o que dizer sobre isso. Ele havia se transferido


para cá por mim? Isso era louco. Não o tipo bom de louco – o tipo
perseguidor, obsessivo de louco, eu não queria nada com ele.

"Eu acho que você deveria sair agora", eu disse, afastando-me


dele.

"Abelhinha... Puta que pariu!" Ele enterrou suas mãos em seu


cabelo. "Por favor, não tenha medo de mim. Estou tão arrependido que
não lhe disse mais cedo. Tentei muitas vezes. Eu simplesmente não
conseguia encontrar as palavras. Naquele dia, quando você caiu no
hidrante e bateu a cabeça – pareceu como destino. Você estava lá na
minha frente, ferida e precisando de ajuda. Pensei que talvez pudesse
chegar perto de você, só para ser seu amigo. Eu juro que minhas
intenções nunca foram mais longe do que isso."

"Mas eu me apaixonei por você, Brooklyn. Eu não posso falar


o momento exato que percebi que você era tudo que faltava na minha
vida, mas eu sabia que – assim como eu soube quando eu era um
garoto de 10 anos - que eu não poderia mais ficar sem você. Ainda
assim, eu tentei empurrá-la para longe, tentei manter os limites entre
nós, quando percebi que você não se lembrava de mim... eu
simplesmente não conseguia ficar longe de você."
"Finn, isto... É tão confuso", eu sussurrei. Eu estava muito,
muito fora de minha profundeza emocional. Eu não estava apenas
nadando no fundo do poço, aqui – isto era o maldito Mariana Trench22.

"Eu sei, ok? Eu sei como fodido somos. Com você, é um passo
para frente, e três monumentalmente voltas para traz, caralho. Mas eu
também sei que você pode ser incrivelmente doce quando você não
está muito ocupada me esbofeteando, ou olhando para mim, ou
odiando minha entranha."

Com isso, olhei para ele e cruzei os braços sobre o peito.

"Você não quer alguém para cuidar de você – eu entendo. Eu


respeito isso, mesmo", continuou ele, sem se importar com o meu
olhar. "Mas às vezes, por trás dessa gelada, impenetrável mascara que
você mostra ao resto do mundo, peguei um vislumbre da garotinha
ferozmente vulnerável, de coração partido que ainda precisa de mim. E
gosto que eu sou o único que consegue vê-la e protegê-la."

"Eu sei que isso é muita coisa para se pensar – eu sei que
você provavelmente me odeia. E talvez isso me faça um bastardo total,
mas você deve saber que eu não me arrependo de um único segundo
de nosso tempo juntos, Brooklyn. Com ou sem as mentiras, essa
relação foi – e sempre será – a parte mais importante, bonita e sagrada
da porra da minha vida. E eu vou esperar por você – quanto tempo for
preciso, eu vou esperar."

Eu já estive esperando toda a minha vida. Ele disse essas


palavras antes e eu não tinha entendido no momento, mas eu
compreendia perfeitamente agora.

"Eu preciso de tempo, Finn", eu disse. "Eu me sinto quebrada,


traída, confusa, e, francamente, só... esgotada por isso. Eu não quero

22
Mariana Trench - é a parte mais profunda dos oceanos do mundo. Ele está localizado no oeste do Oceano
Pacífico, a leste das Ilhas Marianas.
mentir para você ou lhe dar falsas promessas de que tudo está bem
entre nós. Nada disto está bem – Eu não estou bem" arrastei uma
profunda, calmante respiração pelo nariz. "Eu preciso ficar sozinha
agora."

"Eu posso entender isso", ele disse, balançando a cabeça. Eu


pensei ver um lampejo de esperança através de seus olhos, enquanto
olhava para mim.

"Eu não estou dizendo isso para magoar você, porque, quão
louco quanto parece, eu acredito na sua história. Mas isso não muda
nada. Por agora não quero ver você. Não quero ouvir falar de você. E
não posso prometer que alguma vez vou estar pronta para estar com
você de novo."

Ele balançou a cabeça, sua mandíbula apertada e a


esperança em seus olhos extinta.

"Boa noite, Finn", eu disse, caminhando até a porta do quarto


e abrindo. "Use a porta da frente desta vez? Suas mãos estão rasgadas
em pedaços."

Entre bater a minha porta da frente mais cedo e escalar a


casca áspera da árvore gigante para dentro da minha janela, ele
causou estragos em suas mãos e dedos; os nós dos dedos estavam
inchados e sangrando e, pelo menos dois estavam virando uma cor
roxa raivosa, o que significava que provavelmente foram quebrados.

Ele fez o seu caminho até a porta, parando na armação por


quase um minuto inteiro. Mantendo as costas para mim, ele sussurrou
para o corredor escuro tão baixinho que eu mal podia escutar suas
palavras.

"Eu amo você, Brooklyn Grace Turner. Eu sempre amei, e eu


sempre amarei. Levei quase 13 anos para encontrá-la; eu não estou
prestes a lhe perder agora. E se você decidir que não vai querer me ver
de novo, eu vou tentar viver com essa decisão; mas você deve saber
que o que eu sinto por você? Tem sido uma constante em minha vida.
Isto é permanente para mim. Você é permanente para mim."

Com essas palavras pairando no ar, ele desapareceu no


corredor. Ouvi a porta da frente fechando, então andei através do
quarto para fechar minha janela.

Pensei que eu chorei todas as minhas lágrimas antes, mas


enquanto eu subia na cama e abraçava meu travesseiro no meu peito,
ainda havia mais para ser lançado.
Capítulo 18
100% de Garantia

Fundo do poço: Eu pensei que eu ia bater lá na noite que


Finn saiu.

Não é engraçado que quando você acha que simplesmente


não é possível para a vida ficar pior - que, não importa o que a vida
jogasse no seu futuro, você vai ser capaz de lidar com isso, porque não
há nenhuma maneira que sempre poderia ser tão ruim quanto a dor
que você está enfrentando naquele exato momento - a vida dá uma boa
olhar para você e diz: "Sua idiota, você não sabe até agora? As coisas
podem sempre, sempre, sempre piorar. Assista, eu vou provar isso."

Dias se passaram com uma lentidão excruciante que me fez


sentir como se eu estivesse perdendo a cabeça.

Deixei meu quarto apenas para ir ao banheiro e à cozinha. Eu


faltei minhas aulas, cancelei minhas sessões com Dra. Angelini, e me
recusei a falar com Lexi quando ela entrava para me ver. Eu não tinha
apetite. Eu não me incomodei mesmo em tomar banho. Pior, no
entanto, eu não estava dormindo. Nada.

Eu estava com medo que eu iria vê-lo em meus sonhos, seja


como um menino ou como o homem que ele se tornou, e essa
perspectiva era o suficiente para me manter acordada para o resto da
minha vida. Depois de dois dias inteiros sem dormir, porém, o meu
corpo tinha ideias diferentes. Eu tinha que estar em guarda em todos
os momentos - se a minha mente vagasse mesmo por um minuto, eu
me encontrava à beira da inconsciência, forçada a me beliscar ou me
dar um tapa para me impedir de mergulhar na terra dos sonhos.

Eu me tornei obcecada com despertadores – meus próprios


redutos pessoais contra a ameaça de sono. Passei horas no meu
laptop, lendo sobre os ciclos de sono e estágios REM 23. A concessão
por necessidades do meu corpo, eu me tornei mestre de sestas,
cochilando em intervalos exatos de 90 minutos antes que eu pudesse
cair no sono profundo, onde ocorre o sonho. Em algum nível, eu sabia
que nada disso era racional ou remotamente saudável, mas eu
realmente não me importava. Assim que Finn tinha saído pela minha
porta naquela noite, eu tinha aceitado o fato de que meu coração
nunca mais seria o mesmo; tudo o que eu poderia fazer agora era
tentar costurar os retalhos esfarrapados da minha alma de volta
juntos - e se isso levar semanas de reclusão ou o comportamento
semelhante de Howard Hughes24 para chegar lá, que assim seja.

Fiquei esperando pelo momento em que as coisas iriam


começar a melhorar. Não podia continuar assim para sempre,
raciocinei; pessoas todos os dias, em todo o mundo, saíam da cama e
enfrentar seus próprios desgostos. Um dia, eles acordavam, abriam os
olhos, e decidiam que a dor tinha passado - talvez não muito, talvez
nem mesmo o suficiente para fazer uma diferença tangível na
devastação agarrada a elas como uma nuvem escura, mas o suficiente
para dar-lhes esperança. Espero que um dia, em semanas ou meses
ou anos ou décadas, a dor se dissipa a tal ponto que já não pulsaria
como uma ferida física, com cada batida do coração doendo um
lembrete do que havia sido perdido.

23
O sono R.E.M., ou Rapid Eye Movement ("movimento rápido dos olhos"), é a fase do sono na qual ocorrem
os sonhos mais vívidos. Durante esta fase, os olhos movem-se rapidamente e a atividade cerebral é similar
àquela que se passa nas horas em que se está acordado.
24
Howard Hughes foi um aviador, engenheiro aeronáutico, industrial, produtor de cinema, diretor
cinematográfico e um dos homens mais ricos do mundo. Em 1944, Hughes começou a exibir um
comportamento alarmante e uma fobia, levando-o a um esgotamento nervoso.
Talvez, se eu ficasse na cama por muito tempo, olhando para
as constelações que ele tinha deixado para trás no meu teto, eu
finalmente me sentiria melhor.

Ou pior. Era cara ou coroa, realmente.

Na primeira manhã que eu acordei sem ele, assim que abri os


olhos e vi o teto pulei da cama e conduzi direto para o mais próximo
Home Depot. Peguei a primeira lata de tinta branca que minhas mãos
tinham agarrado, joguei dentro do meu carrinho, fui para o balcão, e
comprei sem pensar duas vezes.

Quando cheguei em casa, porém, fiquei sentada no chão do


meu quarto olhando para aquela lata de tinta por quase duas horas
incapaz de, até mesmo, quebrar a tampa. Com um grito frustrado, eu,
eventualmente, apenas empurrei a tinta fechada na parte de trás do
meu armário, juntamente com a jaqueta de couro de Finn, onde não
tinha que olhar para elas.

Para o primeiro dia ou assim, eu tentei não pensar sobre ele


em tudo. Então percebi o quão insanamente inútil e contraproducente
que era, assim eu desisti e comecei a agir como uma menina - ou, em
outras palavras, comecei a ficar obcecada com tudo o que ele já tinha
dito ou feito nos meses desde que nos conhecemos.

Comecei a perceber que, em muitos aspectos, Finn, na


verdade, tinha tentado me dizer – talvez não com palavras, mas
certamente com ações...

A noite que ele me levou para fora para olhar os vaga-lumes em


seu mirante.

Sua dedicatória estranha da musica quando ele cantou no The


Blue Note.

Como ele sempre, desde o início, chamou-me de Abelhinha.


Como protetor ele sempre foi.

Até mesmo a forma como ele disse certas coisas...

Nunca houve alguém real para mim, exceto você.

Sempre foi você.

Você é tão diferente do que eu esperava.

Eu amo você, Brooklyn. Eu sempre amei.

A lista ia aumentando, até que meus olhos estavam cheios de


lagrimas e eu me forcei a parar de procurar em minhas memórias.

Acho que foi o sétimo dia de pós-Finn, quando a porta do meu


quarto foi abruptamente aberta, batendo contra a parede oposta tão
duramente que as fotos penduradas lá se abalaram e ameaçaram cair.
Lexi invadiu, seus olhos azuis piscando com determinação, e
caminhou até a cama onde eu estava encolhida sob uma montanha de
cobertores. Com um empurrão de seu braço, ela puxou o edredom da
cama e o jogou para o chão.

"Brooklyn Grace Turner. Isso é patético. Olhe para si mesma!"


Ela exigiu, apontando para o meu moletom surrado e o short rasgado
do pijama. "Mais importante, porém, cheire-se. Sério, você pode pelo
menos se lembrar da última vez que você tomou banho?"

Meus lábios tremeram traiçoeiramente no começo de um


sorriso.

"Levante-se!" Lexi gritou. "Na porra deste instante!"

"Vá embora, Lexi", retruquei, cansada, rolando para a parede.


Eu definitivamente não estava com vontade de jogar.

De repente, minha cama deslocou com o peso de um corpo


aterrissando solidamente no meu colchão. Assustada, rolei para ver
Lexi em pé em cima de mim na cama, com as mãos plantadas nos
quadris. Abri minha boca para perguntar o que diabos ela pensava que
ela estava fazendo, mas ficou fechada, batendo meus dentes juntos
dolorosamente, quando ela começou a saltar para cima e para baixo
como uma pessoa louca.

Todo o colchão estava pulando com ela - cada vez que seus
pés faziam contato com a cama, eu fui lançada a vários centímetros no
ar, agarrando freneticamente na estrutura da cama, de modo que eu
não seria lançada diretamente no chão.

"EU DISSE PARA LEVANTAR!" Lexi gritou, pulando ainda


mais duro. Quando seus pés chegaram perigosamente perto de pousar
em meus órgãos internos, eu não tinha escolha a não ser abandonar o
navio.

Mergulhei no chão, corri vários metros de distância da cama,


e girei para enfrentar a louca que era minha melhor amiga. Ela parou
de pular assim que eu tinha saído da cama, mas permaneceu de pé lá,
fumegando para mim.

Sem dizer nada, ela pulou da cama, atravessou a sala e me


encurralou em um canto até que estava pressionada firmemente
contra a parede. Inclinando-se, ela segurou meu rosto entre as mãos e
me olhou nos olhos.

"Faz sete dias, Brooklyn. Eu dei-lhe uma semana inteira para


chafurdar. E, acredite em mim, tem sido difícil de assistir." Ela fez
uma cara de nojo. "Eu sei que você está passando por um momento
difícil agora. Percebo que é a coisa mais difícil do mundo para sequer
imaginar sair da cama de manhã e fingir que está tudo normal. Eu
estive lá."

Comecei a interromper, mas ela me cortou antes que eu


pudesse ter uma palavra.
"Mas essa não é você, Brooklyn. Eu não ligo para o que ele fez
– nenhum menino vale a pena submeter-se a isso".

Era Lexi falando?

"Eu sei o que você está pensando. Quem sou eu, rainha da
porta giratória de namorados, para dizer alguma coisa sobre
relacionamentos, certo?"

Wow, tinha sido quase o meu pensamento exato.

"E você estaria certa; Eu tive mais do que o meu quinhão de


namorados e vários relacionamentos. Mas por causa disso, eu também
tive a minha quota de mágoas". Um pequeno sorriso triste enfeitou
seus lábios. "Se há uma coisa que eu sou realmente boa, é me livrar
mais de idiotas e seguir em frente com a minha vida. Talvez eu não
passe pelas pessoas certas, mas esse não é o ponto... A coisa é,
Brooklyn, que realmente tudo o que você pode fazer – é só seguir em
frente. Apesar da dor, apesar de tudo, você continua respirando. E um
dia, eu prometo, vai ficar melhor."

Eu supunha que ela tinha razão.

"Eu realmente tenho o cheiro tão ruim assim?" Perguntei em


voz baixa.

"Literalmente, eu podia sentir seu cheiro da cozinha", Lexi


deu uma risadinha. "Acho que você está começando a mofar."

"Eca!" Eu disse, franzindo o nariz. "Não estou tão ruim


assim."

"Tudo o que você diz." Ela revirou os olhos. "Basta tomar


banho, tá bom? Temos lugares para ir, pessoas para ver."

"Onde?" Eu perguntei.

"Apenas confie em mim."


***

"Ok", Lexi sorriu para mim. "Você pode me agradecer agora."

"Sem registros?" Eu perguntei.

"Uh-huh, o que você quiser."

"Tudo bem, eu admito. Você estava certa."

"Isso é tudo que eu ganho? Após a tempestade de merda que


você esperneou ao longo disso?! Nem mesmo um 'Obrigada Lexi, por
ser a mais maravilhosa, atenciosa, belíssima, incrivelmente perspicaz –
e eu fiz menção de boa aparência? – melhor amiga do planeta, e por
me forçar, contra a minha vontade, obter um novo corte de cabelo,
incrivelmente sexy?'"

Eu revirei os olhos e caminhei até o carro sem ela.

"Oh, anima-se!" Ela disse, correndo para me acompanhar.


"Ele realmente está ótimo, afinal."

Por mais que eu odiasse admitir, Lexi estava certa sobre o


corte de cabelo; era exatamente o que eu precisava para sacudir a
melancolia que tinha me afogado a semana passada. O cabelereiro
tinha sido ministrado a fundo por Lexi por quinze minutos antes
mesmo de levantar uma escova - na verdade, fiquei surpresa Lexi não
ter apenas agarrado a tesoura e começado a cortar as mechas do meu
próprio cabelo.

Felizmente, isso não chegou tão longe com sua explicação e


não se encaminhou para mutilação real.

O cabelereiro, seguindo as instruções de Lexi ao pé da letra,


tinha cortado vários centímetros do meu longo cabelo, deixando-o
apenas o suficiente para roçar a parte de cima dos meus seios. Ela
tinha acrescentado camadas e aparado as mechas ao redor do meu
rosto para melhor acentuar minhas características. Por fim, ela tinha
feito luzes chocolates por todo o meu cabelo, um visual que eu nunca
tinha tentado antes em meus cabelos escuros.

Tinha ficado inicialmente preocupada sobre como ele ficaria,


mas assim que eu tinha visto o cabelo finalizado no espelho, eu me
apaixonei por ele. O corte foi lisonjeiro, mostrando meus traços
pequenos e enquadrando o rosto de uma forma que fez a minha boca
parecer mais suave, minhas bochechas mais elevadas. O verde escuro
das minhas íris, tornando-se destacado de forma mais proeminente e
lisonjeiro no meu tom de pele.

Em suma, eu parecia- e me sentia - como uma nova mulher.

Depois da nossa parada no cabeleireiro, eu compreendi que


tinha sido apenas o primeiro de uma longa agenda de atividades que
Lexi havia planejado para o dia.

Em seguida, dirigimos pela rua até a manicure favorita de


Lexi, onde nossas unhas foram bem cuidadas, polidas, e revestida com
perfeição. Em seguida, fomos ao shopping local para alguma terapia de
varejo de qualidade, para compra de alguns novos vestidos e tops. Eu
mesma encontrei um par lindo de botas de salto alto Chanel vintage
em um brechó, comprada por uma fração do seu preço original.

Depois da nossa maratona de compras eu tinha certeza de


que tínhamos acabado, mas em vez de ir para casa, Lexi me guiou em
direção à sala de cinema local. Nós comemos pipoca velha com muita
manteiga e rimos com as palhaçadas na tela da nossa favorita comédia
feminina.

No momento em que, finalmente, paramos em casa, já era


bem depois da meia-noite e eu estava exausta do dia repleto de coisas
de menina. Nós nos sentamos na calçada, olhando para o prédio
victoriano, e eu percebi que mal tinha pensado em Finn durante todo o
dia – Lexi me manteve ocupada.

Tinha sido tão bom rir – sair do quarto, longe de todas as


memórias. Eu quase não queria voltar para dentro para enfrentar
tudo.

"Hey", disse Lexi, quebrando o silêncio. "Há mais uma coisa


em nosso itinerário."

"O quê?" Perguntei.

"Festa do pijama. Assim como quando tínhamos treze anos;


vamos comer sorvete do pote e falar sobre como eu vou me casar com
Lance Bass e você vai ter dezessete bebês com Justin Timberlake. Só
que agora temos os benefícios adicionais da vodca."

"Em primeiro lugar, nós nunca estaremos revisitando a fase


N'Sync, não importa o quão bêbada você me pegar. Em segundo lugar,
Lace Bass é abertamente gay, então boa sorte com esse plano de vocês.
E em terceiro lugar, muito obrigada."

"Euzinha? Pelo quê?" Lexi sorriu.

"Por ser você", dei de ombros. "Nós não temos que fazer o
abraço brega, certo?"

"Mas..." Lexi piscou, então começou a cantar. "IT’S TEARING


UP MY HEA-"

"Pare!" Eu a interrompi. "Não haverá nenhum canto, qualquer


um!"

Duas horas depois, nós duas estávamos na metade da


garrafa, cantando Backstreet Boys no alto de nossos pulmões com a
escova de cabelo como microfones.

Quando finalmente caí no sono, encolhida como uma


menininha na cama de Lexi, uma lágrima solitária caiu do meu olho e
rolou pelo travesseiro. Pensei que tinha perdido tudo, quando eu o
perdi, mas estava errada. Eu ainda tinha Lexi. E, mais importante, eu
me tinha.

Tinha sido uma semana difícil, mas eu sabia que no fundo


Lexi tinha razão – não importa que você foi derrubado.

É como você volta por cima e continua é o que importa.

***

Depois daquele dia, eu me forcei a começar a viver


novamente. Comi refeições regulares, dormi horas de sono
seminormais. Peça por peça, eu peguei os fragmentos descartados da
minha vida e tentei me encontrar dentro do caos.

Atirei-me em meus trabalhos escolares, que era uma coisa


boa, considerando quantas aulas e trabalhos que eu tinha perdido
durante a minha semana de hibernação. Eu tinha um monte de
trabalho para fazer academicamente, especialmente com as finais do
semestre se aproximando. Pelo menos meus professores tinham sido
compreensivos.

Dra. Angelini foi uma história diferente.

Dizer que ela estava frustrada comigo seria um eufemismo.


Não que ela mostrou isso, ou qualquer coisa – exteriormente, ela
aparentava calma e serena como sempre. Mas a tempestade de emoção
violenta por trás de seus olhos a entregou.

Assim, para apaziguá-la, eu lhe disse tudo.

"Eu encontrei o gatilho", eu disse assim que me sentei em seu


escritório.
"Perdoe-me?"

"O gatilho. Era Finn". Eu engoli. "Ele é o garoto dos meus


sonhos."

"Finn é o menino dos seus sonhos?"

"Isso foi o que eu disse, não foi?" perguntei, ficando frustrada.

"Não, você disse: 'ele é o garoto dos meus sonhos', que tem
uma conotação completamente diferente."

"Que Deus me ajude, doutora, se você pelo menos falar as


palavras 'Freud explica' vou deixar esse consultório e nunca mais
voltar", resmunguei.

Dra. Angelini escondeu um sorriso por trás de sua xícara de


café antes de tomar um gole.

"Então, Finn é o gatilho", ela solicitou, gesticulando para que


eu continuasse.

Contei tudo, então – sobre os sonhos que eu tive, as


memórias que eu tinha descoberto na roda-gigante, e nossa separação
depois. Eu contei detalhadamente sobre minhas atividades da semana
passada, pedi desculpas por pular as nossas sessões, e me preparava
para sair. Quando me levantei, Dra. Angelini me parou.

"Então é isso?" Ela perguntou o mais próximo possível de


incrédula que eu já tinha visto nela.

"Isso o quê?" Eu estava confusa.

"Você só vai desistir de Finn? E todo o progresso que você fez?


Em si mesma?"

"O que você quer dizer?"

"Quatro meses atrás, se você tivesse um problema, você ia


enterrar a cabeça na areia como um avestruz, e esperar por ele ir
embora por conta própria, ou correr como o inferno, até que fosse um
minúsculo ponto no seu retrovisor," disse a Dra. Angelini. "Isso não é
exatamente o que você está fazendo agora?"

"Você seriamente acabou de me igualar a um avestruz?"


perguntei.

"Olha, eu vou provavelmente ultrapassar meus limites como


sua terapeuta aqui, mas não posso deixar de sentir que você vai se
arrepender para o resto da sua vida se você não lidar com isso.
Naquele momento as pessoas olham para trás, quando elas estão
deitadas em seus leitos de morte, desejando que elas tivessem
escolhido de forma diferente? Este é o momento".

"Ele mentiu para mim!" Apontei na defensiva.

"Eu sei, Brooklyn", disse Dra. Angelini calmamente. "Mas não


existem coisas que você guarda dele também?"

É claro que havia, mas eu não estava prestes a confessar pra


ela.

"Os seres humanos são criaturas imperfeitas – egoístas e


covardes a maior parte do tempo. Nós mentimos, enganamos e
roubamos melhor do que qualquer outra coisa. Nós machucamos uns
aos outros com palavras, ações e omissões", Dra. Angelini suspirou.
"Não há uma garantia de cem por cento que as pessoas que mais
amamos não vão nos decepcionar. Esse é o risco que você corre,
quando você abre o seu coração". Dra. Angelini parou por um
momento e se inclinou sobre a mesa de café para me olhar
atentamente.

"Mas, em algum momento, você tem que decidir o que importa


mais do que a dor, e perdoar por seus erros". Ela colocou uma mão na
minha. "Então, se você o ama, eu acho que a única questão real que
você tem que perguntar a si mesma, a única pergunta que importa é
que, no final do dia, é se ele vale a pena o sofrimento?"

***

Pelo resto do dia, eu vaguei em transe, pensando sobre as


palavras da Dr. Angelini. Eu dirigi até o mirante que Finn tinha me
levado em agosto, é triste ver que ele havia sido atingido pelo inverno.
A geada agarrou-se as folhas e ervas perto do leito do rio, e o fluxo foi
fluindo lentamente sob uma fina camada de gelo. Não havia vaga-
lumes; não havia vida em tudo, aqui - não mais. Era difícil acreditar
que o duro solo congelado alguma vez iria trazer novas flores; que as
árvores floresceriam de novo; que os animais voltariam a esse lugar
inóspito.

Eu não tinha certeza do que eu estava procurando, quando


decidi vir para cá - respostas, eu acho - mas eu definitivamente não
tinha encontrado.

Eu virei para ir embora, deprimida pela paisagem muito


mudada, quando um cardeal-vermelho majestoso, desafiando o frio
invernal no ar, uma vez quando subiu entre as árvores amortecidas –
estourou em um arbusto próximo, assustando-me. Segurando a mão
no meu peito, meus olhos seguiram o voo do pássaro e um sorriso
genuíno floresceu no meu rosto. Era estranho, não natural em meus
lábios depois de semanas de testa franzida, e provavelmente parecia
mais com uma careta do que um sorriso real – mas pelo menos estava
lá.

Havia vida aqui fora depois de tudo.


Mesmo no lugar mais desolado, quando apareceu que nada
voltaria a ser o mesmo – havia esperança.

Peguei meu telefone e deslizei através de meus contatos para


um nome que eu não tinha pressionado nas últimas semanas.
Digitando uma mensagem rápida, meus dedos rapidamente ficaram
dormentes no ar frio.

Você se lembra de quando éramos crianças, e você me contou a


história da Princesa Andrômeda? Como seus pais a sacrificaram para o
monstro do mar para salvar seu país?

Sua resposta foi instantânea, como se ele estivesse esperando


em seu telefone.

Claro que sim.

Eu digitei de volta rapidamente, com medo que se eu não


dissesse isso agora, eu nunca ia encontrar a coragem de novo.

Eu nunca entendi como Andrômeda poderia perdoar seus pais


tão facilmente, depois que Perseu a salvou. Toda a minha vida eu pensei
sobre esse mito, pensava que não fazia qualquer sentido e me
perguntava o que estava faltando. Mas acho que finalmente entendo
agora.

Entendeu o que, princesa? Ele perguntou.

Segurando minha respiração, eu apertei enviar.

Quando você ama alguém, ama-o verdadeiramente – mais do


que o seu orgulho, mais do que a si mesmo – você pode perdoar
qualquer coisa, não importa o quanto eles o machuquem. E talvez eu
seja uma idiota, mas eu ainda amo você. Eu amei você desde que eu
tinha seis anos de idade.

Meu telefone tocou.

"Oi", eu ri para o receptor.


"Estou chegando", Finn disse sem hesitação, com a voz
exigente. Eu podia ouvir ruídos em segundo plano, como se estivesse
puxando suas botas e jaqueta.

"Não", eu disse a ele. "Não agora de qualquer maneira. Eu não


estou em casa."

"Bem, onde está você? Vou encontrá-la em algum lugar. Em


qualquer lugar". Ouvir a voz dele foi um bálsamo para a minha alma
desesperada; deixei o som me banhar, deleitando-me com isso como
algum tipo de viciado que tinha sido negado sua dose por muito
tempo.

"Eu estarei em casa esta noite. Venha mais tarde – digamos


as oito? Podemos conversar então", eu disse. Eu podia ouvir o sorriso
em minha própria voz.

"Mas são apenas três horas, agora", ele resmungou.

"Tem sido duas semanas" Dei de ombros, embora não


pudesse vê-lo. "Mais algumas horas vai matá-lo?"

"Sim", disse ele imediatamente. "Eu ficarei andando na minha


sala de estar pelas próximas quatro horas e 47 minutos."

"Não que você esteja contando", eu ri. "E não ande – você tem
um bom carpete. Seria uma vergonha arruiná-lo."

"Vejo você em breve, princesa. Não faça quaisquer outros


planos. Hoje à noite, você é minha". Sua voz tinha uma promessa
sombria que enviou uma emoção correndo através de mim.

"Contando os minutos", respirei, antes de desligar.

Corri de volta para o prédio vitoriano, ansiosa para tomar


banho e limpar o apartamento um pouco antes da chegada de Finn.
Parei no caminho de casa para pegar alguns mantimentos para o
jantar, sentindo-me leve e feliz pela primeira vez em semanas.
Eu não podia esperar para vê-lo. Claro, havia coisas que
ainda precisávamos discutir. Mas agora que eu tinha decidido perdoá-
lo, tudo parecia mais fácil – como se um peso gigante tivesse saído de
meus ombros e caído no chão aos meus pés.

Eu andei pela porta da frente, assobiando baixinho com os


braços carregados, cheios de mantimentos. O apartamento estava
calmo - Lexi e Ty foram passar o fim de semana esquiando com outro
casal em uma cadeia de montanhas a três horas de distância.
Convenientemente, Finn e eu gostaríamos de ter o apartamento para
nos readaptarmos. Corei com a expectativa, esperando que todas as
histórias que eu tinha ouvido falar sobre as maravilhas do sexo de
reconciliação fossem verdadeiras.

Não notei nada fora do comum. Eu não tive um mau


pressentimento, ou a sensação de que algo estava profundamente
errado. Estava feliz, com um sorriso pateta colado no meu rosto,
quando entrei no meu quarto.

Dei dois passos alegremente inconsciente para o quarto, antes


que as imagens na frente dos meus olhos registrassem e cheguei a
uma parada abrupta.

Horror - essa era a única palavra que podia usar para


descrever o que eu senti quando estava congelada no lugar,
explorando as paredes do meu quarto.

Havia fotos que cobriam toda a superfície do quarto. Elas


rebocavam as paredes, uma colagem mórbida de imagens; pendiam de
cordas no teto; cobriam o chão e a superfície da cama.

E cada uma era uma foto minha.

Havia fotografias tiradas de longe, enquanto eu saía da minha


aula ou comendo no centro estudantil do campus. Aqui, uma imagem
de mim rindo com um colega de classe, quando nós entramos em
nosso salão da leitura de Justiça Criminal. Lá, uma foto minha
sentada sob uma árvore na quadra, mastigando uma maçã enquanto
estudava para a Lei de Imprensa.

Havia closes do meu rosto, várias fotos tiradas de todos os


ângulos e em cada luz. Sua lente tinha capturado cada emoção -
felicidade, alegria, tristeza, sofrimento, frustração, dúvida, ansiedade,
medo. Ele tinha conseguido fotos de expressões que eu nem sabia que
meu rosto poderia fazer.

Nenhuma estava tão assustadora quanto as que haviam sido


tiradas dentro deste apartamento. Eu não tinha certeza de como ele
tinha conseguido entrar sem Lexi ou eu tomar conhecimento, mas lá
estavam elas - a prova inquestionável de que ele não só tinha acesso
ao nosso espaço de vida, ele se fez totalmente em casa.

Havia fotos minhas na cozinha, cantando junto com o rádio


enquanto eu mexia as massas ou verificava o forno. Havia imagens de
Lexi e eu tomando doses de tequila. Rindo colocando a maquiagem e
ficando pronta para a noite fora. Abraçando com força, combinando
com sorrisos em nossos rostos.

Elas só pioravam, quanto mais eu olhava.

Centenas de fotos minhas nua, eu trocando de roupa no meu


quarto. Mais imagens do que eu queria contar que me descreviam no
chuveiro, totalmente exposta e vulnerável.

Eu tinha sido objeto desconhecido e sem vontade de cada


imagem capturada por sua lente da câmera.

As fotos mais terríveis foram as de Finn e eu. Em cada uma


dessas, o rosto de Finn tinha sido duramente arranhado com mais
força ou cortado com uma tesoura. Várias delas mostraram seu rosto
como um grande alvo com uma arma na mão em seu rosto.
Atordoada, empurrei as fotografias penduradas fora do meu
caminho enquanto caminhava até a cama, meus pés deslizando
enquanto procurava tração nas fotos escorregadias cobrindo o chão.
Havia uma caixa em cima do meu edredom no meio de uma pilha de
imagens, embrulhado em papel preto brilhante. A tampa foi fixada com
um arco preto fosco; Eu puxei levemente e ele caiu solto com
facilidade.

Estendi a mão para levantar a tampa da caixa, preparando-


me com o conhecimento de que tudo o que estava dentro,
provavelmente, era ainda mais assustador do que as fotos em minhas
paredes.

Prendi a respiração quando lancei um olhar de volta a tampa,


os olhos analisando o conteúdo incrédula.

Ele tinha planejado isso com cuidado, sem dúvida, querendo


que tivesse um impacto máximo sobre as minhas emoções. Para me
aterrorizar simultaneamente e confirmar que todas as minhas
suspeitas estavam corretas.

Ele foi bem sucedido.

A caixa estava cheia até a borda com pétalas de rosa pretas.


Descansando em cima do mar de flores macabras, havia um bilhete.
Ela havia sido escrito na caligrafia formal, a rotulação de preto fluindo
bonito em um tipo arcaico, intemporal no caminho. Ela havia sido
escrita em um pedaço de cartolina quase branco, o tipo utilizado pelos
ricos nos dias de festa, quando eles enviam convites escritos à mão
para as suas reuniões e galas.

Senti pesado na minha mão quando levantei da caixa e li a


mensagem inclinada.

Um presente para você, já que eu arruinei o seu último.


Abaixo da nota e das pétalas, havia um lindo vestido dobrado
dentro da caixa. Eu reconheci o corpete verde elegante imediatamente;
este não era qualquer vestido, era o vestido. Uma réplica exata do que
eu tinha usado na noite em que fui atacada fora do Styx – recém-
adquirido e, espantosamente, no tamanho correto.

Voltei a olhar para a nota; que foi assinada no canto inferior


direito, com apenas duas iniciais:

E.S

E então eu soube.

Lá estava, em preto e branco. Inegável.

Ele iria voltar para mim.

Virei para enfrentar a porta, para encontrar meu telefone,


para fazer alguma coisa, qualquer coisa, para parar o que estava
prestes a acontecer. Mas eu sabia, assim quando girei e o avistei na
porta – seu rosto, o rosto dos meus pesadelos, inalterado pelo tempo
ou anos atrás das grades – que já era tarde demais para isso.

A mesa estava posta, primeiro prato foi servido.

De alguma forma, eu não acho que eu tinha que fazer a


sobremesa.
Capítulo 19
Revelações

Eu tinha lutado.

Ele deve ter me atingido com algo que me deixou fora do ar


por um tempo, porque quando acordei eu já não estava no meu
quarto. Meus braços doíam, formigamento pelos meus dedos, devido à
falta de circulação.

Pensei que era estranho, até que percebi por que o sangue
não estava fluindo aos meus membros: as minhas mãos haviam sido
amarradas juntas com uma corda grossa de espessura, e pendurada
acima da minha cabeça. O resto do meu corpo balançou no ar, com a
ponta dos pés mal tocando o chão e tomando uma fração pobre do
meu peso dos meus pulsos.

Havia fita adesiva em toda a minha boca, bloqueando a minha


via aérea e meus gritos de socorro. Onde quer que eu olhasse, estava
completamente tranquilo. Eu não me movi por vários minutos,
esperando que eu estivesse sozinha, e fazendo um balanço do meu
inventário corporal.

Ainda estava vestindo meu jeans e minha camiseta verde


escuro de mais cedo, mas meus sapatos tinham sido removidos; meus
dedos dos pés descalços rasparam contra o áspero, frio chão de
cimento. Já não podia sentir o peso do meu celular no bolso de trás.
Meu cabelo caiu como uma cortina na frente do meu rosto,
bloqueando minha visão da sala em torno de mim. Não era possível
usar as minhas mãos para empurrá-lo para fora dos meus olhos,
inclinei minha cabeça em direção ao teto e a joguei para todos os lados
até que o cabelo amontoou para trás sobre os meus ombros.

"Bom, você está acordada." Ele estava aqui o tempo todo,


estava do outro lado da sala me assistindo recuperar lentamente a
consciência. Sua voz poderia estar repleta de cortesia educada,
aquelas que usamos quando discutimos opiniões sobre políticas
opostas no chá, mas sua hostilidade subjacente era visível sob a
máscara de compostura que ele usava.

Ernest "Ernie" Skinner, em carne e osso.

Seu rosto tinha mais linhas agora e seu cabelo castanho


turvo tinha alguns fios cinza misturados com ele, mas os olhos eram
os mesmos. Sombrios, buracos insondáveis de castanho escuro, que
olhavam para mim sarcasticamente vitoriosos. A única diferença era
que agora eles não estavam vidrados com os efeitos colaterais do
excesso de cocaína - agora estavam completamente lúcidos e cheios de
triunfo divertido.

Olhei para ele com cautela, sem responder. Minha mente


estava cambaleando enquanto eu tentava juntar as peças de onde eu
estava, e como eu iria sair daqui. A alternativa, de que eu não ia
escapar, era muito aterrorizante para sequer considerar.

As paredes eram cinza escuro sem brilho, e pareciam ser


feitas de concreto ou outro material parecido. Não havia móveis, com
exceção de um conjunto de cadeiras dobráveis de metal e uma
condenada mesa enferrujada. Correntes pendiam de vigas de aço no
teto; Eu não tinha dúvida de que minhas mãos estavam atadas numa
dessas diretamente acima da minha cabeça. Uma lâmpada
desprotegida pendia de um fio, iluminando a sala escura em um tom
amarelado.
Se eu tivesse que adivinhar, diria que eu estava em um porão
em algum lugar.

"É bom finalmente vê-la, Brooklyn. Frente a frente, isto é", ele
riu, um som brutalmente áspero vindo de seus lábios. "Agora que você
já viu a minha pequena galeria, nós dois sabemos que eu tenho vigiado
você por um longo tempo."

Ele estava de pé cerca de dez metros de distância de mim,


mas agora ele começou a andar mais perto com os braços cruzados
atrás das costas. Eu puxei meus pulsos, tentando manobrar para
longe dele, mas as cordas nos meus braços tinham sido amarradas
com tanta força que eu não poderia balançar mais do que alguns
centímetros.

"Você sabe, Brooklyn, você não parece muito confortável". Ele


sorriu. "Gostaria de colocá-la para baixo, mas algo me diz que você
seria menos receptiva a nossa pequena conversa."

Ele parou em minha frente, um sorriso sereno colado em seus


lábios quando ele estendeu a mão para ternamente passar ao lado do
meu rosto. Tentei empurrar minha cabeça para longe de seu toque,
mas sua mão agarrou ao redor da minha mandíbula com um aperto de
morte, me deixando quieta. Sua súbita demonstração de violência
estava em desacordo completo com o seu comportamento calmo.

Agora que ele estava mais perto de mim, eu podia ver que ele
tinha um corte aberto em sua testa, logo acima do olho direito. Era
uma cicatriz, como se tivesse sido curada cerca de um mês atrás, e eu
soube imediatamente que tinha sido colocada lá por meu salto naquela
noite no beco.

Com uma mão ainda enrolada no meu maxilar, ele trouxe sua
outra mão até puxar a fita adesiva da minha boca. Eu gritei quando o
adesivo dilacerou os meus lábios, rachando a parte inferior aberta e
enviando um fio de sangue escorrendo por meu queixo. Ofeguei por ar,
assisti suas pupilas dilatando em emoção – ele definitivamente sentia
prazer em me machucar.

Seu polegar roçou a ferida, espalhando o sangue por todo o


meu queixo e lábios antes que ele me soltasse e desse um passo para
trás. Ele olhou para as listras brilhantes de vermelho manchando os
dedos e sorriu suavemente.

Eu soluçava com medo.

Assim que ele recuou, comecei a gritar por socorro, rezando


para que alguém acima do solo me ouvisse e pedisse ajuda. Seu
sorriso permaneceu no local enquanto meus gritos cresceram
desesperados, minha voz ficou desesperada e rouca com o uso. Ele
estava sereno - sem pressa e indiferente, como se tivesse todo o tempo
do mundo para brincar comigo. Isso em si me disse várias coisas: ou
ele era louco o suficiente para não temer ser descoberto por vizinhos e
transeuntes, ou estávamos em um local tão isolado, tão distante da
civilização, que ninguém podia me ouvir por milhas.

"Vá em frente, Brooklyn", ele disse. "Grite o quanto quiser.


Não há ninguém por perto para ouvi-la."

Um calafrio correu pela minha espinha quando foram


confirmadas minhas suspeitas.

Eu estava sozinha. Ajuda não estava vindo.

"Lexi." Minha voz soava fraca; limpando a garganta, tentei


novamente. "Lexi vai notar se eu não voltar para casa", eu disse,
tentando argumentar com ele. "Se você me deixar ir, eu prometo que
não vou contar a ninguém sobre isso. Vai ser o nosso segredo."
"Oh, Brooklyn", ele disse, balançando a cabeça em um show
de decepção. "Eu queria que você não tivesse mentido para mim. Há
um preço para a mentira, você sabe."

"Eu não estou mentindo", sussurrei.

De repente, o braço voou para fora de trás de suas costas e


ele me bateu com tudo no rosto. A força do golpe balançou todo o meu
corpo para trás, e o movimento só parou pela corda que prendiam as
minhas mãos. Estrelas nadaram em frente aos meus olhos e lágrimas
vazaram pelo meu rosto quando a dor ricocheteou da minha bochecha
ardendo para meus pulsos devastados de voltou novamente. Meus
ossos do pulso tinham quase estalado sob a tensão do golpe; a pele
estava em carne viva sob as cordas, irritada, sangrando, e ardendo
dolorosamente.

"Há um preço para a mentira", ele repetiu categoricamente,


retornando as mãos cruzadas à sua posição. "Agora, onde estávamos?
Ah, sim. Eu estava prestes a discutir nossos planos para a tarde. Você
não tem nada agendado, não é?". Ele riu.

Não respondi.

"Suponho que você não tenha, dado o fato de que Lexi está
fora com o namorado para o fim de semana e você colocou um fim ao
seu próprio namorico com Finn." Ele zombou o nome de Finn com
desprezo, com mais emoção que eu já tinha visto nele; mesmo quando
ele me bateu no rosto, ele parecia apenas friamente interessado, sua
natureza impassível intocável.

Ele falou com anunciada perfeição e dedicação, a sua perfeita


gramática e seu tom praticado, como se tivesse ensaiado estas
palavras inúmeras vezes. Ele provavelmente tinha, eu percebi. Ele
estava planejando isso há anos.
"Devo dizer, Brooklyn, que me fez muito feliz quando você
rompeu esse relacionamento."

Bem, ele poderia ter pensado que sabia tudo sobre mim, mas
pelo menos ele não sabia que Finn e eu estávamos juntos novamente.

Espere... Finn!

Eu tinha estado tão preocupada, sendo sequestrada e


amarrada por um psicopata, que tinha esquecido completamente que
ele estava vindo as oito. Esperança queimou para a vida em meu peito.
Eu não tinha ideia de que horas eram agora, embora eu suspeitasse
que fosse o meio da tarde; oito horas provavelmente ainda estava a
horas de distância, mas se eu pudesse me segurar até lá...

Por que eu não tinha concordado em deixá-lo vir


imediatamente? Eu lamentei internamente, odiando-me por dizer para
esperar. No momento em que ele chegasse ao meu apartamento, visse
as fotos, percebido que eu tinha sido sequestrada, e chamasse a
polícia, poderia muito bem ser tarde demais para mim.

Além disso, havia o fato de que eu nem sabia onde estava.

A esperança diminuiu a cinzas, depois morreu.

Neste momento eu percebi que ele não tinha apenas


simplesmente me vigiado ou me espionado; ele estava escutando,
aprendendo, pegando cada pedaço de informação que pudesse
encontrar. Ele provavelmente grampeou meu apartamento com
aparelhos de escuta e câmeras – certamente explicaria como ele tinha
conseguido as fotos de mim no chuveiro e no meu quarto.

O que eu não entendi foi o porquê. Então eu perguntei a ele.

"Por quê?" ele repetiu, como se a pergunta fosse


incompreensível para ele. Eu podia ver, debaixo dessa aparência
calma, que eu o tinha jogado para fora do equilíbrio. Eu não entendi;
devia ter sido a pergunta mais simples do mundo para uma pessoa
normal responder.

Foi quando percebi: eu não estava lidando com uma pessoa


normal.

Eu estava lidando com um sociopata.

Esta não era uma missão de represália, movida pela paixão


ou vingança ou quase duas décadas de raiva. Era uma fria e calculada
distribuição de justiça; sua maneira de finalizar o placar. E ele me
eliminaria tão facilmente quanto um rei levando uma torre para fora
do tabuleiro de xadrez – com concentração meticulosa e movimentos
bem planejados que tinham sido pensados com muita antecedência.

Meu sentimento de desesperança cresceu quando percebi o


que isso significava.

Ele provavelmente não tinha sido negligente ao colocar esse


plano em prática, garantindo que nada seria deixado para trás.
Emoções não iam dirigi-lo, e, portanto, não podiam ser usadas para
manipulá-lo para cometer erros. E ele não teria nenhum escrúpulo
quando chegasse a hora de me matar.

"Você pode acreditar que eu só cumpri 12 anos antes de me


deixarem sair? Vejo pelo seu rosto que você não pode". Ele riu. "Você
tem que amar o bom e velho sistema legal da Califórnia. Bom
comportamento faz com que você ganhe caminho com os guardas. E
quando eu fui diante do conselho de liberdade condicional, com
lágrimas nos meus olhos e lhes disse tudo sobre como eu tinha
encontrado o Senhor e Salvador Jesus Cristo, e ele me orientou a sair
do caminho escuro de abuso de drogas e da violência, para a luz?
Bem, devo dizer, quase todos os malditos ficaram com os olhos
marejados."
Olhei em frente, impassível, tentando mostrar nenhuma
reação a suas palavras.

"Eu deveria ter ganhado um Oscar pelo desempenho", ele


disse, sorrindo com a lembrança. "Em vez disso, eu tive a liberdade
condicional e fui enviado de volta para o mundo, um homem mudado.
Isso é o que eles queriam acreditar, você sabe – que a prisão nos
corrige, tira todas as más tendências e as troca por ‘ bondade e um
saudável respeito pela autoridade’. É o que eles têm de acreditar, caso
contrário não iriam dormir à noite – mas não é a verdade."

Engoli nervosamente, vendo como ele se aproximava de mim


mais uma vez.

"A verdade é, doce Brooklyn, que todo o tempo na prisão me


ofereceu muito tempo para pensar", ele sussurrou, seu hálito quente
no meu rosto. "Você consegue adivinhar em quem eu pensei?"

Comecei a tremer.

"É isso mesmo", disse ele em voz baixa, traçando um dedo no


meu rosto, em toda a minha clavícula, e para o decote revelado pela
minha blusa em V. Ele parou no meio do caminho pelo meu peito, com
o dedo deslizando lentamente para trás e para frente em toda a curva
dos meus seios. "Eu pensei em você."

***

Ele desapareceu por um tempo, deixando-me sozinha com


meus pensamentos.

Braços doloridos, em mantive minhas costas inclinadas


contra a fadiga e tentei imaginar que eu estava em outro lugar do
mundo. Fechando meus olhos, apaguei mentalmente as paredes de
concreto em volta de mim, e imaginei uma noite diferente – a noite em
que era para eu supostamente ter.

Finn iria chegar, entrando pela porta e para os meus braços.


Ele iria me abraçar, beijar-me, e tudo ficaria bem no meu mundo
novamente.

Eu acho que cerca de uma hora se passou. Devia ser perto da


hora do jantar a essa altura – cerca de seis ou sete horas mais
provavelmente – porque meu estômago começou a roncar de fome.

Quando Skinner retornou, emergindo de uma escadaria


localizada em algum lugar atrás de mim, ele estava segurando o
vestido verde em uma das mãos. Uma grande faca da cozinha
perversamente afiada estava apertada na outra. Ele se aproximou de
mim e um desamparado, involuntário choramingo estourou na parte
de trás da minha garganta. Eu tinha começado a tremer assim que ele
apareceu.

"Agora, agora, Brooklyn", ele disse, fazendo um som tsk. "Eu


não vou machucar você antes do jantar. Isso não seria muito
educado."

Como se sutilezas sociais fossem um fator quando você tem


uma menina pendurada no teto do porão. Ele realmente é um louco.

"Nós estaremos juntos por um longo tempo, minha querida.


Tudo que é negócio desagradável certamente pode esperar até depois
de comermos."

Minha mente correu enquanto eu me perguntava o que


constituía um "longo tempo" em seu cérebro deformado. Minutos?
Horas? Dias? Anos? Eu mal podia sobreviver à tensão mental de três
horas com o homem – se ele me fizesse de seu brinquedo, mantendo-
me aqui durante semanas a fio...
Bem, vamos apenas dizer, que acho que eu escolheria o fim
rápido mais cedo com a faca afiada.

Fiel à sua palavra, ele a usou agora só para cortar as cordas.


Os laços em torno dos meus pulsos permaneceram prendendo
apertado, mas pelo menos eles já não eram forçados por cima da
minha cabeça. Assim que ele cortou a corda me segurando, minhas
pernas cederam e eu caí no chão duro como uma boneca de pano.

Meus braços pareciam como se estivessem pegando fogo,


como se chamas físicas estivessem lambendo meus braços junto com o
sangue que retornava enchendo meus vasos. Eu sabia que esse era o
momento – você sabe em todos os filmes, quando a heroína finalmente
tem sua chance de fugir, de se salvar, de lutar para trás?

Senti que o momento ia escapar enquanto eu estava deitada


no cimento, incapacitada e totalmente incapaz de lutar por qualquer
coisa, exceto as respirações trêmulas que eu me esforçava para drenar
para os meus pulmões.

"Vamos agora, querida, você não parece toda animada para o


jantar". Sua voz era baixa com diversão. Ele ficou em cima de mim,
apreciando a vista de mim derrotada. Por duas vezes, tentei me
esforçar para sair do chão; cada vez, meus braços cederam abaixo de
mim e eu caí de volta para o piso de cimento.

Ele me deixou lutar por cinco minutos ou mais, antes de


chegar com a mão para baixo e me puxar mais ou menos na posição
vertical. Colocando um braço em volta de mim, ele me arrastou para
as cadeiras de metal no canto da sala e me jogou para baixo em uma
delas. Quando ele me soltou eu quase escorreguei de volta para o
chão, mas consegui me equilibrar com minhas mãos amarradas no
último minuto.
Ele se sentou na outra cadeira de metal, observando-me
enquanto eu tentava reunir a pouca força que eu tinha deixado no
meu corpo. Minha respiração finalmente diminuiu e meus membros
começaram a recuperar a maior parte do seu sentido. Eu estava
balançando os dedos das mãos e pés, testando a sensação neles,
quando ele de repente se levantou e me puxou me colocando de pé.

"Venha".

Caminhamos – felizmente, eu não precisava de sua ajuda


neste momento – através do porão até um conjunto de degraus de
madeira encaixados contra a parede oposta. Emergimos em uma
cozinha mal iluminada, fiquei chocada ao descobrir que eu sabia
exatamente onde eu estava.

O esboço era um pouco diferente, mas todos os aparelhos,


madeira e móveis eram os mesmos. Inferno, as paredes foram pintadas
no mesmo amarelo pálido inconfundível.

Este era o apartamento do primeiro andar do antigo prédio


vitoriano.

Estávamos diretamente sob meu apartamento - eu apostaria


minha vida nisso. Ele vivia aqui durante todo o ano, tão perto de mim
todo esse tempo? O pensamento me fez estremecer.

Ele me levou através da cozinha e sala de estar. Este era


claramente seu covil: as paredes estavam cobertas não apenas com
fotos minha, mas também em recortes de jornais. As manchetes eram
variadas, abrangendo anos e ocasiões, mas tudo centrado em torno de
uma coisa: Eu.

Mulher Morre no local em roubo de carro, filha sobrevive para


contar a história.
Criança de sete anos de idade dá testemunho a condenando em
Tribunal

Ladrão de carro assassino condenado há 25 anos em San


Quentin

Capitã Brooklyn Turner lidera a equipe do time do colégio de


hóquei em campo para a vitória

Caloura da UVA, Brooklyn Turner, Faz Lista do reitor

Ele não havia apenas me seguido por meses - ele estava me


observando há anos. Obriguei-me a parar de olhar, mas meus olhos
logo travaram em algo ainda mais perturbador. Havia pelo menos seis
monitores de computador presos ao longo da parede, com cada tela
dividida para mostrar vários ângulos de câmeras. Elas faziam
transmissões ao vivo, vídeo de dentro do meu apartamento no andar
de cima.

Cada quarto tinha sido grampeado.

Tentei ignorar o monitor na esquerda, que foi dedicado ao


meu quarto. Ou, mais especificamente, para a minha cama. Havia
uma câmera apontada para todos os lados, capturando todos os
ângulos. Quando pensei em todos os momentos que Finn e eu
estivemos juntos lá, todas as coisas que Skinner havia testemunhado,
tive de sufocar o vômito que estava trabalhando o seu caminho até a
minha garganta. Ele tinha violado um espaço que eu pensava ser
sagrado, totalmente privado, e eu tinha o desejo insuportável de ir
para o chuveiro – como se eu pudesse me esfregar para limpar do
sentimento de seus olhos na minha pele.

Eu me senti suja, vulnerável.

Ele finalmente me afastou, um sorriso de satisfação no rosto.


Ele queria que eu visse aquilo - para entender o quão profundamente
ele estava incorporado em minha vida. Para saber que ele tinha visto
tudo, ouviu tudo.

"Você não vai perguntar como eu fiz isso?" Ele disse, seu tom
de antecipação.

Isto é o que ele quer, eu percebi. Ele é um ego-maníaco. Ele


quer – ele precisa – para me impressionar. Para me assustar. E pensar
que ele é o mestre de marionetes, puxando minhas cordas e controlando
todos os aspectos da minha vida.

Essa é a sua fraqueza, pensei. Orgulho.

"Não", eu disse, fazendo a minha voz desinteressada só para


provocá-lo.

Ele fumegou em silêncio por um minuto, em seguida,


continuou como se eu não tivesse falado.

"Não é surpreendente o que a Internet pode fazer hoje em dia?


Você nunca vai adivinhar como foi fácil de encontrar a sua página no
facebook e rastrear seu endereço de apartamento através do diretório
da universidade. Tudo o que eu precisava saber sobre você estava bem
ali na ponta dos meus dedos – para não falar como foi fácil para eu
pedir todo este equipamento eletrônico útil. Frete grátis e transporte de
dois dias para esses bebês", ele riu, apontando para sua configuração
elaborada de monitores de computador. "Nenhuma verificação de
antecedentes ou a identificação necessária."

Eu olhei para a parede, tentando bloquear suas palavras.


"Há tutoriais no YouTube para tudo; há ainda um guia de
como fazer para instalar câmeras na casa de alguém, ali mesmo on-
line para que todos possam ver". Ele riu loucamente, quase vertiginoso
de seu próprio sucesso.

Puxando-me para a sala de jantar ao lado. A mesa foi posta


para dois, e eu teria rido se eu tivesse estômago para isso: uma toalha
de mesa branca brilhava sob a luz ambiente acolhedora com várias
velas altas. Guardanapos de pano vermelho, dobrados em triângulos
graciosos, colocados em cima de pratos ornamentado em ouro. Rosas
frescas – vermelhas, desta vez – foram dispostas em um vaso de cristal
lindo. Vários reachaud colocados no centro da mesa, cobertos por
tampas de prata.

Ele criou a atmosfera romântica perfeita para um jantar para


dois.

Ao invés de me levar a minha cadeira na mesa, ele me


empurrou em direção ao pequeno sofá no canto da sala. Quando eu
caí nas almofadas de pelúcia, ele jogou o vestido verde para o meu
colo.

"Mude para o jantar", ordenou, estabelecendo a faca sobre a


mesa. Ele não precisava agir como um louco – a sua presença por si só
era uma ameaça implícita, e suficiente para me manter complacente.

Eu olhei para minhas mãos amarradas. "Eu não posso."

Ele me deu um tapa no rosto tão forte que a minha cabeça


girou. Pelo menos ele bateu do outro lado desta vez; Vou ter contusões
correspondentes, pensei, desorientada. Piscando longe as manchas
escuras que dançavam na frente dos meus olhos, olhei para ele.

"Você vai fazer o que eu digo sem pergunta alguma, cadela",


ele disse, com a voz tensa. O pensamento de que eu iria desobedecer
era quase o suficiente para perturbá-lo.
"Claro", concordei, tentando infundir minha voz com
humildade. "Eu só queria saber se você seria generoso-" Eu forcei as
palavras. "-para desatar minhas mãos pela primeira vez."

Seu rosto era insensível, contemplativo.

"Só por um minuto", acrescentei apressadamente. "Então, eu


posso colocar o vestido. É lindo."

A última coisa que eu queria fazer era ficar nua na frente dele
e colocar algum vestido que tinha comprado para mim, como se
estivéssemos jogando algum jogo doentio, distorcido em casa. Mas com
minhas mãos amarradas, eu não tinha a menor chance de escapar.

Se eu conseguisse chegar com minhas mãos na faca...

Tentei não pensar com muita antecedência. Eu estava


tomando um passo cuidadoso de cada vez, sentindo as suas fraquezas
e jogando inteligentemente.

"Você gostou do vestido?" ele perguntou, com ceticismo.

"Eu amei", concordei imediatamente. "Obrigada por comprar


para mim."

Ele assentiu com a cabeça. "Vou tirar as cordas enquanto


você muda. Mas vou ficar na sala o tempo todo, e se você fizer alguma
coisa tola haverá consequências."

Eu poderia muito facilmente adivinhar o que ele quis dizer


com 'consequências', vendo como ele pegou a faca e avançou em
minha direção. Ele rapidamente cortou as cordas, permitindo que a
corda caísse no chão debaixo do sofá, e se retirou para o outro lado da
sala. Sentando-se nas cadeiras da mesa, ele manteve a faca em sua
mão e seus olhos em mim.

Tremendo, lancei os meus olhos em direção o chão e tirei meu


suéter por cima da minha cabeça. Levantei-me e deslizei para fora da
calça, observando como elas batiam no chão. Eu resisti todo desejo
que eu tinha para me cobrir de seus olhos, para pôr fim a este strip-
tease depravado e degradante, sabendo que ele ficaria zangado se eu
fizesse.

Com as mãos trêmulas, puxei o tecido do vestido sobre a


minha cabeça colocando ao redor do meu corpo. Alisando a saia com
as palmas das mãos, puxei o zíper lateral e rapidamente subi o decote
para cobrir a maior parte de carne do meu corpo possível.

Quando terminei, olhei para cima e encontrei seus olhos


escuros do outro lado da sala.

Ele parecia tanto excitado quanto fortalecido pelo meu show


recatado, seu olhar seguindo cada movimento meu.

"Sente-se", ele disse, apontando para a cadeira à sua


esquerda. "Você pode comer sem as mãos amarradas, por agora."

Uma pequena vitória, mas uma vitória, no entanto.

Sentei-me e vi quando ele colocou uma porção de frango e


batatas para ambos os nossos pratos. Ele cheirava bem, mas o
pensamento de comer qualquer coisa virou meu estômago – qualquer
coisa que eu consumisse provavelmente apenas voltaria para cima
novamente.

"Coma", ordenou, levantando uma garfada de batatas à boca.

Estendi a mão para o meu copo de água.

Nós dois paramos, minha mão congelou no meio do caminho


de seu alcance e seu garfo parou no ar, quando o som indiscutível de
um motor de motocicleta rugiu pela rua e parou do lado de fora da
casa.

Nossos olhares se encontraram e eu poderia dizer que


estávamos ambos pensando a mesma coisa.
Finn estava aqui.
Capítulo 20
Escolha-me

Skinner ficou de pé e roldeou a mesa em um flash, uma mão


cobrindo minha boca e a outra segurando a faca apertado contra a
minha garganta.

"Shhh", ele respirou no meu ouvido.

Ouvimos o motor sendo desligado, e o som de passos ecoando


nas escadas que sobem para o meu apartamento. Nós o ouvimos bater
na minha porta da frente durante vários minutos, chamando por mim.
Imaginei-o de pé ali, confuso e se perguntando onde eu estava.

O carro de Lexi estava na garagem. Eu não estava


respondendo meu celular.

Ele vai saber que algo está errado. Ele vai chamar a polícia.

Minha garantia foi rapidamente atingida por uma enxurrada


de dúvidas: será que Finn pensaria que eu tinha mudado de ideia
sobre o encontro com ele? E se ele achasse que eu não queria voltar a
ficar junto? E se ele desistisse e saísse, sem nunca entrar no
apartamento?

Então, eu percebi que se tratava de Finn - ele não aceitava


um não como resposta. Eu estava surpresa que ele mesmo havia
concordar em me dar uma semana de espaço; chocada que ele
concordou em esperar até as oito para vir hoje à noite. Quando aquele
menino queria algo, ele ia atrás com tudo o que tinha.
E ele me queria.

Eu lutei com um sorriso quando ouvi o som inegável da porta


do meu apartamento sendo arrombada aberta. Tão homem das
cavernas.

Skinner amaldiçoou, arrastando-me para fora da minha


cadeira e entrando na sala de estar, com a faca ainda pressionada no
meu pescoço. Ele observou os monitores quando Finn entrou no
apartamento, explorando a cozinha procurando por qualquer coisa
fora do lugar. Finn caminhou até as sacolas de mantimentos que eu
tinha abandonado no balcão mais cedo, um olhar especulativo
estragando sua testa.

Alcançando uma mão na bolsa mais próxima dele, ele tirou o


bloco de queijo que eu tinha comprado e segurou em sua mão por um
minuto. No início, não entendia o que ele estava fazendo, mas eu
rapidamente entendi – ele estava medindo sua temperatura, tentando
ver quanto tempo ele havia sido deixado sem refrigeração.

A partir do olhar ansioso no seu rosto eu achava que estava


agora morno, o que dizia a ele que eu tinha ido embora há muito
tempo. Colocando de volta na bancada, Finn atravessou o apartamento
e verificou cada quarto, movendo-se da cozinha, através das áreas de
estar e jantar, no quarto de Lexi e, finalmente, para o meu quarto.

Eu poderia passar horas tentando descrever todas as emoções


que passaram em seu rosto quando ele entrou no meu quarto e não
viu apenas a colagem de fotos, mas também sinais claros de luta que
tinha ocorrido. Minha cadeira da escrivaninha foi derrubada, minha
colcha estava torta, as imagens espalhadas pelo chão estavam
amassadas e bagunçadas onde eu eventualmente caí no chão.

Ele pareceu chocado, horrorizado, irritado, e apavorado ao


mesmo tempo.
Skinner estava falando em voz baixa, claramente descontente
com o rumo dos acontecimentos. Agarrando um rolo de fita adesiva da
prateleira, ele arrancou um pedaço e apertou sobre a minha boca. Ele
puxou minhas mãos na minha frente, enrolando as pressas fita
adesiva em torno delas, e me empurrou para baixo na cadeira de frente
para as telas.

Girando ao redor, voltando para verificar os monitores,


Skinner observou enquanto Finn pegou seu telefone celular e ligou
para o 911.

"Foda-se!", ele rosnou, inclinando-se para a tela e olhando


para Finn enquanto falava rapidamente em seu telefone. "Eu vou
matar aquele idiota."

Não era uma ameaça; era uma promessa. Seu controle de


antes tinha evaporado juntamente com seus planos cuidadosamente
definidos. Com a chegada de Finn, o foco de Skinner tinha deslocado
para longe de mim, e eu sabia que ele não iria parar até que Finn
estivesse morto, ou ele.

Skinner virou o rosto para mim, seus olhos selvagens, a faca


piscando perigosamente em seu aperto. "Fique aqui", ele gritou. "Eu
estou indo para lidar com isso."

Este era o homem que tinha tirado tudo de mim. Quem


matou a minha mãe a sangue frio, como eu tinha visto. Quem tinha
assombrado os meus pesadelos por todos estes anos. Quem me fez ter
medo de amar, por medo de que ele poderia ser arrancado de mim
novamente.

Ele tinha levado minha inocência; Ele não estava prestes a


tomar o amor da minha vida, também.
Quando ele começou a correr do quarto, cheguei com minhas
mãos amarradas e usei as pontas dos meus dedos para arrancar a fita
adesiva cobrindo minha boca.

"Pare!" Eu gritei atrás dele.

Ele parou na porta, escutando, mas não se virou para me


encarar. Ele não era um homem estúpido – ele deve ter percebido que
ele não tinha tempo suficiente antes que a polícia chegasse para lidar
com nós dois.

Se eu quisesse que Finn vivesse, eu tinha que fazer Skinner


me escolher.

Sabia que não iria sobreviver se eu continuasse com isso; eu


entendi com uma clareza inabalável. Eu podia ver exatamente como a
minha morte iria acontecer nos próximos minutos e, embora eu não
gostasse exatamente dessa imagem, valeria a pena se Finn vivesse.

Eu não pude salvar a minha mãe, mas eu iria salvá-lo.

"Isso é realmente o melhor que você pode fazer?" Zombei de


Skinner. Seu ego estava no coração de cada decisão que ele tomava –
talvez, se eu empurrasse os botões certos, ele perderia todo o freio e
direcionaria sua raiva em mim. "Você teve 15 anos para planejar esta
noite, e isso é tudo o que você trouxe?" Forcei uma risada e fiquei
trêmula aos meus pés.

Eu assisti sua coluna endurecer, seus músculos tencionarem;


estava funcionando. Eu o estava pegando.

"Pensei que você faria melhor, Ernie." Eu fiz um som tsk de


desaprovação, como ele tinha feito antes – propositalmente jogando a
isca para ele. Ele se virou para olhar para mim, cara vermelha e
ofegante de raiva.
Eu podia ouvir sirenes se aproximando agora. Um olhar sobre
os monitores mostraram Finn fazendo o seu caminho de volta pelo
apartamento, indo para a porta da frente para que ele pudesse
cumprimentar os oficiais que chegavam.

"O que você disse para mim, menina?" Skinner rosnou.

"Não se esqueça que foi esta menina que enviou você para a
prisão, Ernie. Foi essa menina que fez com que o carro falhasse e o
conduziu para os braços da polícia", eu disse, tentando
desesperadamente manter minha voz firme e segurar minhas lágrimas.

Ele deu um passo em minha direção, segurando a faca.

"Cale a boca, vadia", ele gritou. "Eu sei o que você está
tentando fazer."

"Sou eu quem você quer", eu o lembrei. "Você me assistiu


todos esses anos, é obcecado, fantasiou. É a mim que você tentou
assustar, destruir. Mas sabe de uma coisa, Ernie?" perguntei,
afastando-me dele para a mesa que estava entre nós. "Você falhou. Eu
vivi, e amei, apesar de você. Estou feliz. E isso é certamente mais do
que eu posso dizer para você, parceiro".

E aconteceu.

Ele se lançou para mim com um grito primitivo, a faca


erguida sobre sua cabeça enquanto se preparava para me atacar.
Antecipando o seu ataque, lancei as minhas mãos atadas, agarrando o
topo da cadeira em minha frente, e joguei em sua direção. Ela não foi
muito longe, mas foi em seu caminho, retardando-o.

Ele me perseguiu em círculos ao redor do perímetro da mesa –


um jogo mortal de gato e rato. Em uma de minhas passagens,
consegui agarrar uma extremidade pendurada da toalha de mesa e
arrancá-la um pouco. O movimento abrupto enviou os pratos e
travessas voando, fazendo barulho ao cair no chão, alto o suficiente
para que o barulho ferisse meus ouvidos. O vaso de rosas caiu e
quebrou, e enviando milhões de fragmentos afiados de vidro
arremessados em todas as direções. Ouvi Skinner gritar quando ele
cortou seus pés e pernas.

Virei a tempo de vê-lo tropeçar em um dos pratos soltos e cair


no chão, sua faca tinindo entre os pisos de madeira e parando debaixo
da mesa do outro lado da sala.

Olhei freneticamente para a porta, esperando que eu pudesse


correr para a salvação, mas imediatamente descartei o plano quando vi
que Skinner estava reclamando pelos seus pés no espaço entre eu e a
saída. Mesmo em seu estado desarmado, eu não podia lutar contra ele
com minhas mãos atadas.

Sem ideias, sem opções, sem tempo – eu mergulhei para a


faca.

Caí de joelhos, os braços estendidos e alcançando a faca, o


tempo passando devagar, como se tudo tivesse de repente se deslocado
em câmera lenta. Ouvi Skinner gritar, seus passos alto enquanto eles
batiam por toda a sala para me alcançar.

Meus dedos se fecharam em torno do cabo da faca, e eu


agarrei com força entre as duas mãos. Era desconfortável com meus
pulsos ainda amarrados, mas era o melhor que eu podia fazer no
momento.

Tudo aconteceu de uma vez.

Eu virei de costas no exato momento que Skinner saltou no


ar, na esperança de me atacar por trás. Eu acho que ele sabia, assim
que seus pés saíram do chão, ele ia morrer. Estava lá em seus olhos
quando ele viu a faca em minhas mãos, suspensa sobre o meu
estômago e apontando para cima em direção ao teto.
Ele tentou recuar, para alterar seu curso enquanto estava
pulando, mas já era tarde demais. Seu peso pousou em mim, retirando
o ar dos meus pulmões, e eu senti a pressão da faca quando ela
deslizou na carne macia de seu abdômen, cortando profundamente
seus órgãos vitais.

Ele engasgou com a dor, seu rosto a centímetros do meu.


Seus olhos perfuraram os meus, queimando com ódio, e quando ele
abriu a boca para falar, um cuspe vermelho espumoso voou entre os
lábios e pousou no meu rosto.

"Sua puta do caralho!", ele gritou, erguendo as mãos para


cima para fechar em torno da minha garganta. Ele estava morrendo,
sua força diminuindo à medida que a força vital escorregava de suas
veias, mas ele estava tentando usar as suas ultimas energias para me
levar com ele. Suas mãos estavam perigosamente apertadas quando
ele sufocou a vida fora de mim, cortando a minha alimentação de ar
completamente. Minhas mãos, amarradas e presas inutilmente entre
os nossos corpos, eram impotentes para detê-lo.

As coisas começaram a ficarem escuras. O rosto de Skinner


foi desaparecendo de foco enquanto eu olhava para ele, às vezes
incapaz de distinguir seus traços. Pensei ter ouvido os sons distantes
de uma porta batendo aberta, uma voz de homem gritando, e passos
trovejando através do piso, mas minha mente estava muito nebulosa
para ter certeza de alguma coisa.

Eu pensei sobre Finn, nesses últimos momentos. Eu fechei


meus olhos para que eu não tivesse que olhar para o homem morrendo
em cima de mim, e concentrei meus pensamentos sobre o homem pelo
qual eu faria qualquer coisa.

Lá estava ele – uma covinha aparecendo em sua bochecha


direita, ele jogando a cabeça para trás e rindo de alguma coisa que eu
disse; seu cabelo escuro despenteado, e o início de uma barba mal
feita escurecendo seu queixo. Aqueles olhos, tão azuis e cheios de
emoção, encarando-me – olhando diretamente para a minha alma.

Minha cabeça estava nadando com a falta de oxigênio, e eu


sabia que eu tinha apenas um minuto – talvez menos – antes de perder
a consciência. Eu usei esses preciosos segundos para viver a vida que
deveríamos ter tido juntos.

Eu o vi se formando, sorrindo com orgulho e torcendo até que


minha garganta estivesse carne viva, enquanto cruzava o palco e
recebia seu diploma.

Eu jogava meus braços em torno dele e gritando SIM! quando


ele ficava de joelhos em uma poça, tirando um anel em uma esquina
numa tarde chuvosa.

Andando até o altar, vestida com um vestido branco cliché e


segurando meu buquê como uma tábua de salvação, enquanto eu
caminhava, sorridente, para o meu futuro.

Eu sorrindo, cansada na sala de parto, observando Finn com


nosso bebê em seus braços pela primeira vez.

Imagem por imagem, eu vivi a nossa vida, enquanto eu senti a


minha própria se esvaindo. Eu não podia sentir as mãos de Skinner
sobre minha garganta mais; Eu não conseguia sentir muita coisa mais.

Eu tinha ficado dormente.

Em algum lugar lá no fundo, registrei que alguém estava me


balançando, dizendo coisas para mim, mas eu estava muito distante
para sentir e ouvir alguma coisa.

Meus olhos ficaram abertos e a última coisa que vi foi o rosto


de Finn, sua expressão desesperada enquanto seus lábios diziam meu
nome mais e mais.
Tentei sorrir para ele, para que ele soubesse que estava tudo
bem, porque ele sobreviveu – ele teria um futuro, mesmo se eu não
estivesse por perto para compartilhá-lo.

Eu tentei colocar um eu amo você nos meus olhos, antes que


o escuro me abraçasse.

Ele me apertou contra o peito, as lágrimas caindo como chuva


no meu rosto.

E eu morri.
Epílogo
Em Seguida

A vida nem sempre sai da maneira que a gente acha que será.

Não é um conto de fadas, e nem sempre há um final feliz. Às


vezes, não há um começo feliz ou um meio feliz, tampouco.

Mas aqui está a coisa: não importa.

Porque quando você está deitada, asfixiada e sem vida, sua


vida não passa diante de seus olhos como um rolo de filme em
execução de arrependimentos. Não é a grande imagem que você vê -
todas as coisas que deram errado, todos os erros que você fez, todas as
experiências que você perdeu.

O que você vê são momentos.

Flashes de momentos, não importa quão efêmero, de quando


você estava feliz.

O que você vê são rostos.

Vislumbres das pessoas que se importaram, que amava você,


apesar de todo o seu lixo.

O que você vê é você mesmo.

As coisas que você fez certo. As vezes que você estava


orgulhosa olhando aos seus próprios olhos no espelho. Os momentos
que você sabia exatamente quem você era, e onde pertencia.
Então, eu acho quando me dei conta disso, vi que a minha
história foi realmente uma história de amor. Não é o que você
esperaria – não aquela sobre Finn e eu.

Era uma história sobre uma garota que se apaixona por ela
mesma. Era sobre aprender a aceitar a mulher que me tornei, com
falhas e tudo. Porque todo mundo é um pouco fodido - é a vida. E
talvez não haja qualquer felizes para sempre, ou cavaleiros brancos
que montam em cavalos valentes para salvar o dia. Talvez, na vida
real, o Príncipe Encantado não seja sempre perfeito – ele é tão falho
como todos os outros no conto.

E essa princesa, sozinha em sua torre? Ela não é perfeita


também. Os pássaros não trançam seus cabelos todos os dias, ela não
faz serenata com as criaturas selvagens da floresta, e ela nem sequer
possui um vestido de baile. Mas ela também é inteligente o suficiente
para saber que não deve aceitar maçãs envenenadas de estranhos, ou
picar o dedo em agulhas mortais.

Ela não espera por um príncipe para matar o dragão. Talvez


ela se salva, e no final, vai embora em seu próprio maldito pôr do sol.

Eu não sei, é só uma teoria.

E, felizmente, eu não tenho que ter tudo planejado ainda; Eu


tenho toda a minha vida diante de mim para fazer isso.

Quando acordei no hospital, Finn estava lá. Estive fora por


quase 24 horas, e por um tempo eles achavam que eu poderia nunca
recuperar a consciência. Finn tinha salvado minha vida, fazendo
massagem cardíaca até que os paramédicos chegaram.

Meu coração parou duas vezes naquele dia; Tive a sorte de


ficar viva.

Ernie Skinner não teve tanta sorte.


O ferimento a faca tinha cortado profundamente, rompendo
muitos órgãos internos para corrigir. Ele quase sangrou até a morte
quando os paramédicos chegaram, e foi declarado morto no hospital.

Desde que eu tinha acordado, eu tinha tido um desfile quase


constante de visitantes, a começar pela polícia. Oficiais Carlson e
O'Callahan receberam a minha declaração, agradecendo-me, em nome
da Charlottesville PD pelo meu serviço à comunidade na remoção de
não só um violador de liberdade condicional, mas também um
criminoso perigoso da área. Em seu caminho para fora do quarto,
Oficial Carlson tinha me desejado uma rápida recuperação,
acrescentando: "Brooklyn, para o seu bem, espero que este seja o
nosso último encontro."

Eu ri e me despedi, compartilhando seus sentimentos


completamente.

Lexi e Ty haviam retornado no início de sua viagem de esqui


assim que ouviram falar sobre o que aconteceu. O rosto de Lexi foi o
primeiro que eu tinha visto quando acordei; descobrir mais tarde que
ela e Finn quase tinham entrado em conflito sobre quem iria receber o
assento mais próximo da minha cama – aparentemente, ela ganhou.
Eu não poderia dizer que fiquei surpresa com isso, no entanto.

Ela me perguntou se eu queria ligar para o meu pai, e eu


acho que ela ficou surpresa quando eu disse que sim. Depois de me
trazer o seu celular, Lexi, Tyler, e Finn se moveram em direção à porta.
Eu disse a eles para ficarem, no entanto, sabendo que seria uma breve
conversa.

Seu telefone tocou três vezes antes dele pegar.

"É Daniel Turner," ele disse, sua voz severa inalterada.

Por que ele não pode simplesmente dizer 'Olá' como uma
pessoa normal?
Fazia quase dois anos desde que eu tinha falado com meu
pai; Eu não sabia por onde começar.

"Olá? Tem alguém aí?" Sua voz estava impaciente.

"Oi, pai."

"Brooklyn?" Ele perguntou, surpresa colorindo seu tom. "O


que aconteceu? Você foi expulsa?"

"Por que esta é sempre a sua primeira pergunta?" perguntei,


irritada e já me preparando para desligar.

"Porque a última vez que você me chamou, você tinha sido


expulsa do seu terceiro internato por colocar meninos sorrateiramente
em seu dormitório."

Ok, eu acho que foi um ponto válido.

"Bem, eu não estou em apuros". Respirei fundo. "Estou no


hospital."

"Eu preciso enviar um cheque?" Ele perguntou, seu tom


acusatório. Não há perguntas sobre por que sua filha estava no
hospital. Nenhuma preocupação de pai sobre o meu bem-estar.

"Isso não será necessário", eu respondi, apertando meu


queixo para não gritar. "Eu só preciso de você para responder a uma
pergunta, em seguida, isso pode acabar."

"Sim?" Sua voz estava cansada, como se uma conversa de


dois minutos comigo a cada dois anos fosse o suficiente para cansá-lo
completamente.

"Você sabia?" eu perguntei, minha voz quebrando na última


palavra. "Será que eles ligaram para você e disseram que ele foi solto?
Eu não conseguia descobrir por que eu não tinha sido informada pelo
seu conselho de liberdade condicional, até que eu finalmente percebi –
eu era menor de idade na época. Eu ainda estava vivendo sob seu
teto."

Respirei fundo e fechei os olhos para as lágrimas não


poderem escapar.

"Então, pai, eu estou perguntando. Você sabia que Ernie


Skinner, o monstro que matou a minha mãe na frente dos meus olhos,
tinha sido solto no início de sua sentença, e realmente optou por não
me dizer sobre isso?"

Houve um silêncio carregado no telefone. Eu pensei que ele


não ia responder, mas ele finalmente respondeu, e sua voz era mais
tensa do que eu já tinha ouvido. "Sim. Eu sabia", admitiu. "Chamaram
há três anos para me informar."

"Como é que você pode não me dizer!?" eu explodi.

"Não achei que fosse necessário. Você estava lutando com os


seus estudos, já. E não era algo que você precisava para se preocupar."

"Não era algo que eu precisava me preocupar" eu ecoei


amargamente. "Perfeito."

"Brooklyn, se eu cometi um erro, eu sinto muito", ele disse,


hesitante. Meu pai não era um homem que pedia desculpas – não
sempre - e ele não fazia bem.

"Ele quase me matou. É por isso que eu estou no hospital", eu


disse a ele, minha voz impassível. "Então eu o matei, em vez disso – dei
uma facada em seu intestino e o assistir morrer."

"Meu Deus, Brooklyn... o que pode-"

"Não importa", eu disse, interrompendo-o. "Eu não preciso de


nada de você. Eu certamente não quero nada de você. Eu só tinha que
saber. E, tanto quanto eu estou interessada, você e eu? Nós estamos
acabados."
Desliguei o telefone.

Quando abri os olhos, Finn, Lexi e Tyler estavam olhando


para mim com expressões idênticas – uma mistura única de simpatia e
apreensão.

"Eu estou bem", eu menti. "Podemos ir para casa agora?"

***

Como se viu, eu não teria permissão para ir para casa por


mais 48 horas. Eles estavam me mantendo sob observação rigorosa.
Enfermeiros entravam para me verificar, em intervalos regulares, e,
ocasionalmente, o médico iria voltar a dar um relatório.

Quando Dra. Angelini atravessou as portas segurando um


buquê de flores, eu sorri.

"Será que eles me mudaram para a ala psiquiátrica durante o


meu cochilo?" perguntei.

Um breve sorriso atravessou seu rosto, mas rapidamente se


desvaneceu quando ela conseguiu um melhor olhar para mim. Eu
sabia que as contusões coloridas em cada maçã do rosto eram
claramente visíveis, apesar das tentativas magistrais de Lexi com o
corretivo esta manhã.

Sentando-se na cadeira ao lado da minha cama, Dra. Angelini


depositou as flores na mesa de cabeceira, pegou minha mão na sua, e
apertou com força.

"Whoa, doutora, não está violando algum tipo de relação


médico-paciente de não se tocar está permitidos agora?" eu brinquei,
tentando fazê-la rir.

"Oh, cale a boca, Brooklyn, você poderia?" Ela disse, lágrimas


enchendo seus olhos. "E me chame de Joan, pelo amor de Deus." Eu ri
e lhe devolvi o aperto de mão.
E pela primeira vez, nós não falamos. Ela apenas segurou
minha mão em silêncio, olhando para mim do jeito que eu imagino que
uma mãe olha para uma filha que foi ferida.

Quando ela saiu, ela deu um beijo na minha testa e colocou


os braços em volta de mim. Felizmente, foi menos estranho do que a
nossa primeira tentativa de abraço, há várias semanas.

Eu tinha a sensação de que ficaríamos melhor a medida que


tempo fosse passando.

Finn, que tinha graciosamente saído quando Dr. Angelini -


Joan - tinha chegado, voltou para o quarto. Foi a primeira vez que
ficamos sozinhos depois que tudo tinha acontecido; Tyler tinha
finalmente arrastado Lexi esta tarde, insistindo para que ela comesse e
dormisse, pelo menos por um tempo.

Eu sabia que ela estaria de volta em pouco tempo.

Mesmo que o horário de visitas estivesse terminando, Finn


tinha de alguma forma encantado as enfermeiras que lhe permitiram
passar a noite. Fechando a porta do meu quarto de hospital, ele tirou
os sapatos e subiu na cama comigo. Movendo-se suavemente, de modo
a não perturbar qualquer um das minhas IVs ou fios, ele me colocou
contra seu peito e envolveu os braços em volta de mim.

"Você está bem?" ele perguntou, sua boca contra meu cabelo.

"Agora eu estou", eu disse, recostando contra ele.

"Eu amo você, você sabe." Sua boca se abaixou para beijar
meu ombro exposto onde o vestido do hospital tinha escorregado.
"Quando eu pensei que tinha perdido você-" Ele parou. "Você morreu...
você morreu nos meus braços. Não acho que eu alguma vez vou ser o
mesmo depois disso."
Eu balancei a cabeça, sabendo exatamente o que ele quis
dizer. Eu nunca seria a mesma também.

"Nunca mais faça isso de novo", ele rosnou contra a minha


orelha.

Eu ri. "Eu vou fazer o meu melhor", eu prometi. "E Finn?"

"Sim?"

"Eu também amo você."

Eu relaxei contra seu peito, ouvindo a batida de seu coração


debaixo da minha orelha. Eu podia sentir meu corpo se aproximando
do sono, ainda exausto depois de tudo o que eu tinha passado nos
últimos dias.

Algumas semanas.

Alguns meses.

Tinha sido um inferno de um percurso, desde que eu conheci


Finn Chambers. E eu não me arrependo um minuto.

"Finn?" Eu perguntei, minha voz arrastada com o sono.

"O que é, princesa?"

"Conta-me uma história?"

Senti seus lábios se curvarem em um sorriso contra o meu


cabelo.

"Era uma vez, havia duas crianças pequenas, que se


apaixonaram..."

Eu caí no sono, a voz de Finn como uma canção de ninar, eu


sonhava com uma jovem que pensava que tinha perdido tudo, até que
ela conheceu um rapaz que lhe mostrou que o amor é a única coisa
que nunca pode ser tirado.
Playlist
A música é um tema importante durante todo Like Gravity.
Estas são as músicas que mais inspiraram a história de Brooklyn e
Finn:

Crash Into Me – Dave Matthews

Head Over Feet – Alanis Morrissette

Blackbird – The Beatles

The Scientist – Coldplay

The Only Exception - Paramore

In My Veins – Andrew Belle

Skinny Love – Birdy

Love, Love, Love – Of Monsters and Men

Home – Edward Sharpe & the Magnetic Zeros

I and Love and You – The Avett Brothers

Can’t Help Falling in Love – Ingrid Michaelson

Fix You – Coldplay

The One The Got Away – The Civil Wars

Slow Dancing in a Burning Room – John Mayer

Same Old, Same Old – The Civil Wars

Gravity – Sara Bareilles

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