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Memórias e a rua: A rua do comércio e as interseccionalidades das vivências


em São João do Caru 1
João Januário Moreira Lima Neto
João Victor Gonçalves dos Santos 2
Lena Carolina Brandão3

RESUMO
A tese presente tem como objetivo estudar a relação da história local com sua rua e
com a dinâmica dos habitantes. Além disso, o paper visa compreender como eles
fazem uso dela e da sua importância para as relações e experiências existentes,
realizadas (e que ainda serão) ali. O método de pesquisa praticado fora de entrevista
com os habitantes de São João do Caru, residentes da rua do comércio e de estudos
bibliográficos a respeito dos sistemas urbanos. Com base nestas apurações, foi
concluído que as vias são de suma importância para seu município, tal como para
quem vive e reside naquele espaço, em especial a rua do comércio à São João do
Caru. Outro ponto a ser mencionado, é que o estudo realizado é de suma importância
para a valorização de um agradável e sustentável desenvolvimento urbanístico, o qual
precisa constantemente ser reiterado e implementado pelo povo e seu Governo.

Palavras-chave: Interseccionalidades. Urbanismo. Vivências. Rua. Memórias.

1 INTRODUÇÃO

Durante o processo de origem das cidades, a rua é uma das principais


ferramentas de expansão para o desenvolvimento da cidade, além disso, é o palco
central de trocas de informação. De acordo com DA MATTA (1991), a rua é
responsável por recuperar a experiência da diversidade, dando oportunidade para a
presença do forasteiro ou o encontro entre pessoas desconhecidas, a troca entre
dispares, o reconhecimento dos iguais, a variedade de usos e olhares – tudo num

1
Paper apresentado às disciplinas de História das Cidades e Estudo das Cidades do Centro
Universitário Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB.
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Alunos do 4º período do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNDB.
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Professora, Orientadora.
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espaço público e regulado por normas também públicas. Que papéis a rua
desempenha na interseccionalidade de vivências e experiências?
As ruas que compõem o espaço urbano afetam diretamente a imagem e a
leitura da paisagem urbana, que por sua vez impactam nas relações interpessoais na
cidade e a forma como se ver e vivencia a cidade. A rua ainda pode ser experienciada
de diversas formas, dessa maneira podemos considerar que a rua é o campo central
de encontro entre a interseção de ideias, informações e de como se vivencia o espaço
urbano.
O desenvolvimento da cidade se caracterizou pelos caminhos traçados
pelas pessoas que ali trabalham. Deste modo, é necessário se tratar da relevância
que a rua do comércio tem para os seus moradores. É indispensável ressaltar que o
estudo será relevante para entender as dinâmicas sociais entre a rua, o resgate
histórico, os vínculos afetivos e relações do indivíduo com o meio.
Os pesquisadores notaram que o estudo a respeito das relações
desenvolvidas na rua são imprescindíveis para a compreensão da cidade e de como
projetar a cidade, visto que a mesma é responsável por contribuir de forma direta com
os estudos de urbanismo e ainda das dinâmicas sociais dentro do espaço urbano.
Além disto, a pesquisa possui valor afetivo para um dos pesquisadores. Deste modo,
se faz necessário a produção de material cientifico sobre a cidade e ainda agregar
relações, sentimentos e memórias.
A metodologia utilizada no decorrer deste trabalho, é a pesquisa descritiva
e bibliográfica e pesquisa de campo, desenvolvida por meio de entrevistas com
moradores, por meio de artigos e dissertações do Google acadêmico, da Biblioteca
Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) e do google de 2009 até 2021.
Utilizando os termos “rua”, “cidade”.
O seu objetivo principal é compreender como a rua se relaciona com a
história, com as pessoas e com os usos da cidade. E ainda compreender o papel da
rua em relação a cidade. Buscando entender a importância da rua como uma
ferramenta para as relações interpessoais da cidade e como as pessoas experienciam
a cidade em sua totalidade.
Além disso, identificar as principais características da rua como um
elemento da paisagem urbana. E por fim, compreender como rua se torna um lugar
de permanência e troca de vivências.
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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 O papel da rua em relação a cidade

De acordo com Holston (1981), A convenção principal que diferencia e que


estabelece a rua como um elemento de percepção é a assimetria entre sólido e vazio.
Nota-se a rua tradicional como vazio e também como um volume, ela se torna e toma
a forma daquilo que possui ao redor, e enquanto um vazio, ela expõe esses sólidos;
A rua faz parte de um tipo especial de espaço vazio, isto é, um espaço vazio que tem
um feitio definido, comumente, retangular. Por meio do contexto dos sólidos que a
contêm, a rua surge como uma figura dissemelhante e cognoscível, vazia, mas com
um formato.
Holston (1981), pontua ainda que na medida que o conjunto de circulação
das ruas constitui a anatomia da cidade, a sua representativa estrutura caracteriza a
ordem urbana em sua totalidade. Na cidade, a contraposição das relações entre
cheios e vazios, isto é, as edificações enquanto massas sólidas e as ruas e praças
como vazios, produzem um esquema de percepções das relações de figura e fundo.

2.2 A importância da rua como um lugar de permanência, troca de vivências


e ferramenta para as relações interpessoais na cidade
No livro “O mágico de Oz” do autor Baum (2013), a personagem Dorothy
sofre de uma tragédia repentina que a transporta para outro mundo. Ao aterrissar em
um lugar estranho, a garota é orientada que deve seguir um caminho de tijolos
amarelos para chegar à sua casa:
Pouco depois, já caminhava a passos firmes na direção da Cidade das
Esmeraldas, com os Sapatos de Prata produzindo um tinido alegre no leite
duro e amarelo da rua. O sol brilhava, os passarinhos cantavam lindamente
e Dorothy nem se sentia tão quanto seria de se esperar de uma garota de
repente arrancada do lugar onde vivia e transportada para uma terra
desconhecida. (BAUM, 2013, p.33 e p. 34)

A partir do trecho supracitado de uma obra infantil, é possível perceber que


a percepção, até mesmo de uma criança em aflição, sobre uma rua é diferenciada ao
se valorizar o apego emocional do indivíduo com o contexto. Neste caso, de uma
garota querendo fugir de uma terra estranha e voltar para casa. E, mesmo
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estranhamente, o caminho realizado por Dorothy se provou reconfortante perante à


sua situação.
De acordo com o livro “morte e vida das grandes cidades” da autora Jane
Jacobs (2011), as ruas das cidades desempenham vários papéis, além de comportar
veículos; e as calçadas, isto é, a parte das ruas que cabe aos transeuntes – exercem
muitas funções além de abrigar pedestres. A calçada intrinsicamente não é nada, é
apenas uma abstração, só passa a significar alguma coisa quando é associada a
edifícios e os outros usos limítrofes a ela ou a calçadas próximas.
Entretanto, para o autor, a calçada não difere dos demais elementos que
compõem a rua. Visto que, o valor emocional deve ser levado em consideração. Na
rua do comércio, tal ponto é perceptível ao se notar socialização, realização de
eventos e brincadeiras de criança sendo feitas naquele espaço, mesmo que se trate
de um simples elemento de uma rua.
Por mais que os nossos lares sejam tristes e cinzentos, nós, as pessoas de
carne e osso, preferimos viver neles do que em qualquer outro lugar, mesmo
o mais lindo do mundo. Não existe lugar igual à casa da gente. (BAUM, 2013,
p. 43)
Deste modo, é inquestionável a afirmação de que as ruas, possuem apego
com seus visitantes, sejam eles constantes ou temporários.
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Figura 1 - calçada em frente à Praça

Fonte: Acervo pessoal

Neste sentido, pode -se dizer o mesmo da rua, em relação aos seus usos
para além de suportar somente o trânsito. Jacobs (2011), pontua ainda sobre a rua e
calçadas serem os órgãos mais vitais de uma cidade. Se as ruas de uma cidade forem
atrativas, a cidade certamente também será; desta maneira, se as ruas aparentarem
um aspecto enfadonho, a cidade também será.
Figura 2: Praça

Fonte: Acervo pessoal


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Segundo Gehl (2013), a versatilidade e a complexidade de atividades, ou


seja, mudanças frequentes entre caminhadas, paradas, descansos, permanências e
conversas. Isso de maneira espontânea e que constituem as movimentações e
permanências no espaço da cidade.
Figura 3 - Representação da praça

Fonte: Acervo pessoal


A partir disto, é possível entender que o conceito de lar é relativo. Aos
olhares externos um lugar pode ser seco e cinzento, como um personagem fala à
protagonista da obra “O mágico de Oz”, entretanto, a opinião de um indivíduo externo
não diz respeito a quem convive naquele espaço. Desta forma, a criação de espaços
insalubres e apáticos em função de uma falsa ideia de ajuda, tal como é feita nos
tempos presentes, ao invés de ajudar, fere os habitantes que são obrigados a serem
inseridos em contextos completamente diferentes.

E ah, tia Em, como estou feliz por ter voltado para casa! (BAUM, 2013, p. 223)

3 DISCUSSÃO DO TEMA
A rua pode ser lida de diversas maneiras, para Dona Maria G. dos Santos,
senhora de 72 anos e aposentada que residiu na rua do comercio de São João do
Caru aproximadamente, 30 anos, a rua era percebida como um caos, isso se dava
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pelo grande fluxo de pessoas e pela proximidade com o hospital municipal, mas
também era percebida como fonte de renda para a mesma, que criou filhos e neto
vendendo comida em sua casa.
Dona Maria relata ainda que, a rua foi um lugar de memorias e onde tudo
acontecia e ainda acontece, viu seus filhos crescerem, se tornarem pais, viu seus
netos se machucarem nas ruas de terra e pedra (piçarra) que eram comuns na cidade
nos anos 2000. A mesma, conta que há uma lembrança vivida em sua memória de
quando somente a sua vizinha tinha tv na redondeza e diz:

“Nos finais da tarde sentávamos todos no terreiro da vizinha, colocávamos a


televisão na janela e assistíamos as novelas. “(SANTOS, 2021).

As percepções da rua para Antônia conceição, baseadas em memorias de


sua infância e adolescência são bem próximas com o relato de dona maria. Antônia
relata que a rua tinha um aspecto caótico, e que possuía grande desprezo em relação
a estrutura física da rua, ainda que a mesma fosse a única via na época.
Segundo Jane Jacobs (2011), James Boswell escreveu "Sempre me
diverti" em 1791, e diz "pensando em como Londres deveria parecer diferente para
pessoas diferentes. Aquelas cuja mente limitada concentra-se num único propósito
veem-na apenas sob esse único prisma (…). Mas o intelectual fica impressionado com
ela, pois apreende a totalidade da vida humana em sua imensa variedade, cuja
contemplação é inexaurível." Para Jane, Boswell conseguiu expressar uma ótima
definição para cidade, como também expôs uma de suas principais adversidades.
Facilmente pode -se cair na armadilha de perscrutar os usos da cidade de maneira
única, por categorias. Entretanto, para entender as cidades, se faz necessário admitir
de maneira instantânea, e como um acontecimento fundamental, as cooperações ou
as mesclas de usos, não os usos separados.
Enquanto para Ávila Beatriz, jovem de 22 anos, a rua é relembrada com
saudosismo e ainda com a ingenuidade de uma infância tranquila em uma cidade
interiorana. Ávila relata inúmeros memórias com seus amigos de mesma idade, e
entra essas memórias, a mesma ressalta uma que vivenciou com seu primo e conta:

“Lembro com bastante clareza o dia em que eu e meu primo estávamos


brincando de pega-pega na praça, quando de maneira repentina e em um
momento de descuido, ele bateu a cabeça no banco e cortou, corremos para
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o hospital que ficava próximo e ele levou 3 pontos no corte”(CONCEIÇÃO,


2021)

De acordo com Jacobs (2011), no entanto, é fácil descobrir as situações


que formam a diversidade urbana, basta observarmos os lugares em que a
diversidade se desenvolve e pesquisarmos as razões econômicas que facilitam seu
surgimento nesses locais. Existem quatro condições imprescindíveis para criar uma
diversidade fascinantes em ruas e distritos (neste caso em cidades estadunidenses),
entre tanto podem ser aplicados a São João do Caru.
1. O bairro, deve atender as mais variadas funções principais, no mínimo
e de preferência, a mais de duas funções. As mesmas devem assegurar a presença
de pessoas que possam ir e vir em horários diferentes e façam uso dos lugares por
motivos diferentes, mas que possam ser capazes de usufruir de boa parte da
infraestrutura.
2. As quadras devem ser compactas, isto é, as ruas e as possibilidades de
virar esquinas devem ser regulares.
3. O bairro deve possuir uma combinação de edifícios com idades e
estados de conservação diferentes, e incluir uma porcentagem considerável de
prédios antigos, e que possa gerar rendimento econômico variado. A mistura deve ser
bem compacta.
4.A densidade de pessoas deve ser suficientemente alta,
independentemente de seus propósitos. E isso inclui uma alta concentração de
pessoas com o propósito de morar lá.

4 CONCLUSÃO
Destarte, o objetivo deste trabalho fora de, em suma, elucidar a relação da
rua com a história local, com sua população e com sua cidade. Além disto, expor a
importância daquele composto urbano para a organização social local. Isto, por meio
do estudo sobre espaço urbano e de pesquisas com habitantes da rua do comércio.
Fora especulado que a rua possui o papel de compor visualmente a
imagem de sua cidade e, também, de permitir a intersecção entre a vivência e a
experiência local. Ambas, são evidenciadas nas entrevistas feitas com moradores
locais, os quais apontam o apego emocional que possuem pela localidade. Deste
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modo, é possível afirmar que as hipóteses postuladas foram certificadas com base no
estudo de pesquisas e relatos locais.
De acordo com as apurações realizadas em grupo para a formação do
paper, a rua do comércio realiza com sua população dinâmicas sociais
imprescindíveis para o desenvolvimento urbano. Tal fato, é comprovado ao se analisar
a relação que a rua cria entre as atividades comerciais e com a praça. Ambos,
permitem a realização de variadas atividades sociais que impulsionam a economia
local e favorecem todos os habitantes.
Por fim, é interessante pesquisar, além do que fora apurado neste paper, a
respeito do desenvolvimento histórico da cidade, desde as primeiras moradias à
formação de ruas, praças e bairros. De como a população cooperara e participara
deste processo, das necessidades do desenvolvimento e das razões de forma
aprofundada.

REFERÊNCIAS

BAUM, L. Frank. O mágico de Oz. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora Clássicos


Zahar, 201/3.

DAMATTA, Roberto. A casa e a rua. Rio de janeiro: Guanabara KOOGAN, 1991.

GEHL, Jan. CIDADE PARA PESSOAS; tradução Anita Di Marco. 2. Ed. São Paulo: Editora Pers
2013.

HOLSTON, James. A linguagem das ruas: o discurso político em dois modelos de


urbanismo. Anuário antropológico, v. 5, n. 1, p. 151-183, 1981.

Jacobs, Jane. Morte e vida de grandes cidades / Jane Jacobs; tradução Carlos S.
Mendes Rosa; revisão da tradução Maria Estela Heider Cavalheiro; revisão técnica
Cheila Aparecida Gomes Bailão. – 3 ed. – São Paulo: Editora WMF Martins Fontes,
2011. – (Coleção cidades).

SUMÁRIO
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1 INTRODUÇÃO ............................................................................................1
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................3
2.1 O papel da rua em relação a cidade ......................................................3
2.2 A importância da rua como um lugar de permanência, troca de
vivências e ferramenta para as relações interpessoais na cidade
..............................................................................................3
3 DISCUSSÃO DO TEMA..............................................................................6
4 CONCLUSÃO .............................................................................................8
REFERÊNCIAS..............................................................................................9

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